Vinte Um

Arquivo : Minas Tênis

Demétrius, e a difícil missão de substituir Guerrinha. Mais uma vez
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Demétrius volta a Bauru. Jogou pela cidade quando garoto de base

Demétrius volta a Bauru. Jogou pela cidade quando garoto de base

Depois de muitas conversas Bauru afora, o que dá para se dizer sobre a demissão de Guerrinha: ele não caiu exatamente pelo volume de três pontos em seu ataque. O problema tinha muito mais a ver com relações fora de quadra – algo que, pela enésima vez, repetimos: vale tanto ou mais do que rabisco em prancheta e currículo de jogadores. É a famosa química, gente. “Desgaste” e “oxigenada” foram alguns dos termos mais ouvidos e discutidos. O clube acreditava que, mantido o rumo das coisas, não conseguiria o que pretende no NBB. Que é o título, ou o título.

Demétrius não teve nem dez dias de trabalho com seu estrelado grupo antes de estrear contra o Flamengo, e não vai ser num período desses em que a equipe ganhará nova cara. Pede-se um tempo para tanto. Por isso, natural que nesse primeiro confronto, o time ainda tenha, por exemplo, feito mais disparos de longa distância do que dois pontos (31 a 28), por exemplo. Se esse é um hábito que o técnico queira revisitar – e parece que é o caso, dadas as inúmeras vezes em que ele pedia calma na lateral da quadra, enquanto um atleta atirava –, ainda vai demorar um tico para acontecer. O que já vimos foi um Rafael Hettsheimeir operando mais próximo da cesta, tentando apenas três bolas de três.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

O jovem treinador agora encara o maior desafio de sua carreira. É como suceder Lula Ferreira em Ribeirão Preto (algo que nunca aconteceu, com o encerramento das atividades do clube local) ou Hélio Rubens em Franca. Guerrinha se tornou um ícone na cidade. A gritaria depois de sua surpreendente demissão foi impressionante, e se justifica pelos resultados que obteve em tempos recentes e pelo projeto que ajudou a edificar. O curioso é que não é a primeira vez que isso acontece, de herdar um time das mãos de Jorge Guerra. A diferença é que, antes, foi em quadra.

De qualquer forma, aqui está o novo treinador bauruense, assumindo uma empreitada imensa, mas que ao mesmo tempo se mostrava irrecusável. Se há pressão em Bauru, é porque ele assume um time de potencial imenso:

21: Estava pensando: não é a primeira vez que você substitui o Guerrinha, não? Já havia acontecido quando vocês jogavam, herdando a armação de Franca e da seleção, não? Como é encarar essa missão agora?
Demétrius: Nós jogamos juntos em Franca. Acho que a última vez que ele defendeu a seleção foi na Olimpíada de Barcelona, em 1992, e eu cheguei em 1993. É um técnico vencedor, respeito muito o que ele conseguiu aqui. Quando soube que ele saiu, liguei para para conversar, para dar uma força, e também porque meu nome estava sendo envolvido em especulações. Mas foi algo que sempre fiz, pois somos amigos, então ligava seja nas vitórias ou nas derrotas. Quando saí de Limeira, foi numa situação muito semelhante e que foi muito difícil para mim e inesperada. Foi uma dessas ironias do destino que tenha chegado a isso. Ao aceitar a proposta, falei com ele, sempre num sentido de lealdade e amizade, e ele entendeu que eu não tinha participação naquela decisão e desejou sorte. Para mim, aumenta mais a responsabilidade, mas sempre fui de assumir desafios, e o mais importante é você estar preparado para enfrentá-los.

É o maior desafio de sua carreira?
Sem dúvida, o maior. É um time que está num ciclo vencedor, e chego para tentar novas conquistas, defendendo o título da Liga das Américas e buscando também o NBB. Não é simples, mas temos condição de fazer.

>> Alguém pode impedir uma final entre Bauru e Flamengo?
>> As primeiras impressões sobre o Flamengo 2015-2016

Foi um convite que te surpreendeu?
Fiquei surpreso, sim, já estava praticamente tudo acertado aqui em Bauru, enquanto eu tinha minha situação em Minas consolidada. Acabou sendo uma surpresa grande, mas é uma oportunidade incrível para a minha carreira.

Ao mesmo tempo, como é deixar o trabalho que começou tão bem no ano passado?
Minha conversa com o Minas foi muito aberta. O Victinho (Victor Jacob, gestor do Bauru) me ligou, perguntou se eu tinha interesse, eu disse que sim, mas que ele precisaria falar com meu clube primeiro. Ele falou com a diretoria, que abriu as portas, entendeu que era uma grande oportunidade para mim, e que, se eu quisesse conversar, não teria problema nenhum. Foi uma conversa muito sincera. Agradeço muito o entendimento da parte do Minas. Depois fiz uma reunião com os jogadores e expus minha situação. Eles entenderam o quanto essa oportunidade pode ser importante e que isso pode acontecer com eles no futuro.

Em Minas, você tinha um clube majoritariamente jovem, com alguns veteranos. Aqui, em Bauru, é o contrário. O quanto isso muda a abordagem do treinador no trato diário?
Minha filosofia segue a mesma. A maneira de trabalhar é a mesma: temos de treinar o mais próximo possível do modo como jogamos. É fazer uma defesa com intensidade, sair em transição, procurar as melhores escolhas no ataque. Mas o trato é o mesmo. Vamos procurar encaixar os mais jovens no time também, dar chances a todos, sabendo que a caminhada é loga. Para nós, o importante é chegar bem aos playoffs.

O Bauru venceu quase tudo que disputou no ano passado. Teve momentos em que passou por cima dos adversários, mas acabou perdendo fôlego no final. Essa é uma preocupação, então? Mais: em relação ao que você viu do time, quais os pontos que acha que pode melhorar no time?
Foi pouco tempo de trabalho até aqui, mas já estou passando o que espero, aos poucos. O importante é preciso chegar bem aos playoffs. Por dois anos consecutivos  minha equipe teve a melhor defesa do campeonato, e espero colocar essa filosofia aqui, com chegada forte de transição. Tomar só 73 pontos de uma equipe como a do Flamengo já foi um passo importante. A meta vai ser esta (defesa perto dos 70 pontos). Se conseguirmos isso, vamos ficar em boa condição, por termos um volume de jogo alto. Acredito também que vamos ter muitas opções tática, diversidade.

Quanto ao ataque, um tópico obrigatório é a questão dos arremessos de três pontos. Bauru teve o chute de fora como arma que foi marcante em sua campanha, com um volume difícil de se ver por aqui. É algo que divide muita gente: jogadores de gerações passadas a defendem, estatísticos da NBA também a abraçam com fé. A outra corrente entende que é um desperdício de energia, que se ignora bolas mais fáceis e que apela-se um pouco para a sorte. Como você encara toda essa discussão e o que espera do time nesse sentido?
É lógico que temos muitos jogadores no time com essa característica, e não se pode pedir para que eles mudem isso. Precisamos analisar como foram chutadas essas bolas. Se de 30 bolas, 25 foram livres, porque o sistema deu isso, nós temos de chutar. Como vai falar para jogadores como Robert Day não chutar, se estiver livre? Acho que o mais importante não é a quantidade, mas a qualidade da decisão e como criamos essa oportunidade de decisão. Se estiver livre, tem de chutar, é o que a defesa está te proporcionando. Lógico que temos de ter a inteligência de variar o jogo, de jogar no poste baixo, de buscar a infiltração e variar. Com isso, a gente ganha um domínio maior do jogo.


Temporada brasileira começa com urgência no desenvolvimento de talentos
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Georginho já está de volta à LDB e agora ao time adulto do Pinheiros

Georginho já está de volta à LDB e agora ao time adulto do Pinheiros

Antes de embarcar para os Estados Unidos e iniciar seus treinamentos para os Estados Unidos, aquele veloz garoto estava impressionando a todos aqui no Brasil. Leandro Mateus Barbosa ralava de igual para igual com veteranos da seleção. Ralava? Esqueça: aos 20 anos, o armador já era um dos melhores jogadores do país, com média de 28,2 pontos por partida, abaixo apenas de um Mão Santa e acima de Charles Byrd, Rogério, Vanderlei e outros da velha guarda. Isso foi em 2003, ano em que o ligeirinho se candidatou ao Draft da NBA.

Era uma época diferente. Hoje, a partir do momento em que um jogador se declara para a liga americana, entra forçosamente no radar de todos os clubes (sérios). Ainda é possível que aconteça um caso como o de Bruno Caboclo, que foi tratado até mesmo com certo desdém no momento de sua inscrição no ano passado para, depois, a menos de um mês antes do evento, gerar um pandemônio na busca por informações. Acho que nunca telefonaram tanto para o Brasil. Há 12 anos, Leandrinho precisou usar o circuito de treinos privados com os clubes para fazer seu nome nos Estados Unidos, jogando duro para valer, a ponto de tirar Dwyane Wade do sério em um teste pelo Memphis Grizzlies, para deleite de Jerry West.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

Agora isso já é quase impossível. Estar no radar da NBA significa ser escrutinado pelos olheiros. Esses caras querem assistir ao garoto máximo que puderem, seja na ‘fita’, ou, de preferência, in loco. Neste ano, a revelação mais estudada foi o armador Georginho, do Pinheiros, que, sob muitos aspectos, remete a Caboclo como prospecto: muito jovem (nascido em 1996), atributos físicos impressionantes e o tanto de projeção que se pode fazer a partir daí. Os olheiros vieram para cá para conferi-lo de perto, para que não se repetisse a loucura do ano passado, para que seus clubes não fossem pegos desprevenidos. Foram pelo menos dez franquias na área. Desta forma, passaram a conviver com outras dezenas de garotos daqui e com a LDB como um todo. Os que não cruzaram a linha do Equador tiveram a oportunidade de ver George em quatro cenários diferentes: o Nike Hoop Summit, o Draft Combine, o adidas Eurocamp e workouts particulares. Lucas Dias, Humberto Gomes e Danilo Siqueira foram os outros que se inscreveram e também passaram pela lupa, mas com menos exposição lá fora.

O Leandrinho de 20 anos: segundo cestinha brasileiro e pouco avaliado pelos scouts

O Leandrinho de 20 anos: segundo cestinha brasileiro e pouco avaliado pelos scouts

Todos eles foram avaliados, no fim, mas preferiram adiar o sonho de encarar o Draft, retirando o nome da lista. Qual o veredicto? Bem, a opinião de um ou outro scout ouvidos pelo VinteUm varia em relação ao futuro dos jogadores. Natural. De qualquer forma, houve um tópico que era consenso entre as vozes divergentes: para os olhos da NBA, os garotos deveriam sair do Brasil o quanto antes em busca de melhor desenvolvimento.

“Não me parece um caminho muito bom”, diz o vice-presidente de um clube da Conferência Oeste ao blog, ao ser questionado sobre a decisão do quarteto de retornar ao país. “Deixar o Draft não é uma decisão ruim. George muito provavelmente seria selecionado. Mas não é essa a questão. Esperava que eles levassem a carreira adiante em outro cenário.”

Esse vice-presidente acreditava que o melhor caminho era tentar uma vaga em um clube na Europa. A opinião foi compartilhada por um scout de um time da Divisão Sudoeste, no que se refere ao armador. “Acho que o ajudaria ficar no Draft e deixar o Brasil. O time da NBA que o escolhesse encontraria para ele uma boa situação na Europa, onde ele pudesse dominar o inglês. Depois, teria a D-League. E aí a NBA.”

Pessoalmente, não acho que a transição para o basquete europeu fosse tão simples assim: na idade deles, os técnicos, sempre pressionados por resultados, já esperam contar com um atleta mais preparado para render em alto nível. A busca por um clube mais paciente não seria tão simples. Com o que concorda um olheiro de um time da Divisão Noroeste, em declaração já publicada aqui. “Jogar na Europa não faz sentido para ele. Afinal, precisa de um programa de desenvolvimento e de jogar aprendendo com seus erros. Os clubes na Europa têm a mentalidade de vencer para já. Seria uma perda de tempo para ele, na minha honesta opinião”, disse. “Em primeiro lugar, a prioridade geral, para mim, era sair do Brasil. O mais rápido possível.”

Quando você lê esse tipo de declaração, o que vai pensar? Pode bater um certo desespero, não?

Lucas vem novamente dominando a LDB: é o bastante?

Lucas vem novamente dominando a LDB: é o bastante?

Mas elas precisam ser relativizadas também: os scouts da NBA estão, na grande maioria, procurando produtos prontos ou semiprontos, para chegar aos Estados Unidos (ou Canadá) agora e já oferecer algo. O nível de exigência dos dirigentes e treinadores é, em geral, elevado. A aposta do Toronto Raptors em Caboclo no ano passado foi algo raro. O clube estava consciente de que, ao contratá-lo, cru toda a vida, deveria preparar um projeto de longo prazo, sem se importar em trabalhar com o caçula por um ano inteiro em que o principal objetivo era deixá-lo mais forte e fluente em inglês. Era este o tipo de comprometimento que os agentes Eduardo Resende e Alex Saratsis, que trabalhavam com o ala até este ano, esperavam para George ou Lucas, para que eles ficassem no Draft. Não aconteceu.

Por outro lado, os scouts internacionais assistem centenas de jogos de todos os países, algo cada vez mais fácil devido a softwares como o Synergy, hoje presente no cotidiano do NBB. Provavelmente não haja público mais bem informado do que essa classe na hora de falar sobre garotos mundo afora. Em suma, eles têm um ponto de vista que não pode ser ignorado.

Além do mais, a despeito de termos reunido duas seleções neste ano, cheias de jovens, para o Pan e a Universíade, não acho que seja necessário aparecer um empregado da liga americana para afirmar que a produção de base como um todo é duvidosa, especialmente quando se leva em conta o potencial atlético do país. Nas declarações dos olheiros, o que preocupa, mesmo, é o tom alarmista das respostas.

 O que acontece?

Uma chance
Existe, claro, um problema de origem macro. A massificação parece uma utopia, sem contribuição estratégica alguma da CBB e com o investimento federal imediatista. Gasta-se muito, hoje. São bilhões. Mas os programas são massivamente direcionados ao Rio 2016, com pouco impacto a longo prazo. Além disso, mesmo a grana que sai diretamente do Ministério do Esporte para a confederação acaba sendo aproveitada da forma mais bizarra possível. Seus convênios milagrosos recentes, como os R$ 7 milhões cedidos este ano, tinham como finalidade tão somente que uma ou outra seleção pudesse treinar para uma competição específica.

A LDB dá a um jogador como Arthur Pecos a chance de assumir maior protagonismo, é verdade

A LDB dá a um jogador como Arthur Pecos a chance de assumir maior protagonismo, é verdade

Para ser justo, também não dá para esquecer que a pasta também libera a grana da LDB, uma das poucas iniciativas realmente promissoras e consistentes que temos em termos de base no país, graças à administração da liga nacional. A competição, que já iniciou sua nova edição, tem boa repercussão. Em março, em viagem para Mogi das Cruzes para assistir a jogos da quarta etapa da LDB, tive a oportunidade de rever Lisandro Miranda, um argentino que trabalha para o Dallas Mavericks há mais de dez anos. Entre os que já tive contato, é hoje o único scout sul-americano oficial da liga e está mais que habituado a visitar as quadras brasileiras. Numa conversa informal, elogiou muito o progresso que nossa principal competição para jovens vinha apresentando. Em termos de estrutura, deixava claro, para que os garotos pudessem jogar e deslanchar.

Que o campeonato representa um avanço enorme, não há dúvidas. É uma competição que ajuda a dar rodagem aos atletas que estão na iminência de sair do juvenil, ou que já estouraram a categoria. Acontece que, em termos de evolução técnica, a liga não oferece tantos desafios aos talentos de ponta do país. Eles dominam nesse nível, mas a tradução desse rendimento para um nível maior de competitividade não é tão simples assim, até pelo desnível técnico que se testemunha entre algumas equipes da primeira fase.

Está claro que, tecnicamente, é preciso mais que a LDB para fomentar uma modalidade. Para sustentar todos os clubes, porém, não há verba do governo que dê conta. É preciso que o setor privado entre em quadra. Com crise ou estagnação econômica (como preferirem…), o dinheiro, que já não era tão volumoso assim, voltou a encurtar. Qualquer real investido tende a vir, então, com uma cobrança forte por vitórias, empurrando dirigentes e técnicos para estratégias conservadoras. Neste cenário, o desenvolvimento de jovens atletas fica bem complicado. Pode treinar o quanto e com quem for, mas nada substitui a experiência em quadra em jogos para valer. A questão não é exatamente de infraestrutura. Até porque, com um jovem jogador, o quanto mais é preciso do que uma bola, duas tabelas e uma boa cabeça para aplicar treinos? Com a palavra, Tiago Splitter, que saiu do país muito cedo e se formou como jogador na Espanha: “Tinha o preparador físico, nutrição, mas nada que não vá ter no Brasil num clube de ponta. A grande diferença foi a competição. Cheguei com 15 anos lá e já comecei a jogar adulto, na terceira divisão. Fui subindo, até a primeira. Foi essa competição que me ajudou a ser um bom jogador”.

Yuri Sena, Tiago Splitter e Guilherme Santos em NYC

Yuri Sena, Tiago Splitter e Guilherme Santos em NYC

No NBB 7, apenas dez atletas sub-22 (nascidos a partir de 1993) tiveram um mínimo de 20 partidas com média de minutos superior a 10 por jogo. Dez! Ou dois quintetos, entre 16 equipes inscritas. Se for para filtrar por 20 partidas e 20 minutos em média, apenas quatro passariam no corte: Danilo, Leo Meindl, Deryk Ramos e Henrique Coelho, todos, não por coincidência, convocados por Magnano ou Gustavo de Conti. Eles eram os únicos jogadores de fato preparados para encarar o NBB? Não jogam mais por que não estão preparados, ou não estão preparados por que não jogam mais? A resposta para essa pergunta seria a mais fácil: sim e não. Aí não tem como errar, né? Na verdade, a combinação de um assentimento e negativa indica que ela é bem mais complicada.

Fundamentalismo
Rumo ao Draft, Georginho, Lucas e Danilo saíram do país para passar por curtos períodos de treinamento nos Estados Unidos, em academias prestigiadas como a IMG, da Flórida, e a Impact, de Las Vegas. Mesmo que não tenham ficado na lista final de recrutamento da NBA, esse tipo de experiência foi valiosa para abrir os olhos dos garotos em relação ao tipo de preparação que existe lá fora. Os três rapazes foram uníssonos ao comentar os diferentes treinamentos que receberam: nunca haviam visto nada parecido.

Um ponto em comum atentava à “intensidade”. Que saíam esgotados de quadra e, quando achavam que havia acabado, eram chamados para mais uma sessão. E mais uma. E mais uma. O regime espartano, de todo modo, serve mais para prepará-los aeróbica e emocionalmente para os testes que os desgastantes treinos que eventualmente pudessem fazer pelos clubes americanos. Pensando longe, o legado maior está no refinamento de habilidades.

Em meio a treinos puxados, ainda pode rolar um mimo ou outro para George e Lucas

Em meio a treinos puxados, ainda pode rolar um mimo ou outro para George e Lucas

Quando estava em Vegas, Danilo disse o seguinte ao blog: “Estou treinando bem forte, para ver se consigo esse objetivo. É um treino muito mais puxado em termos de fundamento, algo que não fazemos muito no Brasil. Já sinto que melhorei em menos de uma semana. Só tive treinamento de contato, um contra um, uma vez só. O resto foi muito de fundamento, bandejas, floaters e outras, com intensidade”.

Na volta a São Paulo, Lucas afirmou em longa entrevista: “Foi pauleira. Você aprende umas coisas diferentes, uns detalhes que nunca percebe de movimento de perna, em seu arremesso, seu corte, bloqueio, tomar posição no pivô, jogar lá dentro etc. Uns detalhezinhos que você acha que já estão certos, mas que podem ser corrigidos. Ali aprendi muito. Que preciso melhorar demais, mas que posso chegar a um nível alto, que tenho capacidade, o talento e o físico. Você não pára nunca, é o tempo inteiro com eles cutucando. Na primeira noite nem consegui levantar da cama direito, algo que nunca havia sentido. A intensidade muito alta. Se treinar com aquela intensidade, sei que posso melhorar muito. Acho que minha cabeça voltou diferente nesse sentido: posso pegar o treino que aprendi lá e fazer aqui. Não preciso que alguém me coloque no colo e leve para treinar. Só preciso fazer”.

Os comentários coincidem, não? E estamos falando de dois jovens talentos brasileiros de ponta, que trabalharam nos últimos anos em dois clubes que realmente investiram no trabalho de base, com o Minas Tênis colhendo antes do Pinheiros os frutos por projeto, com um grupo que soube mesclar revelações e veteranos para fazer sucesso no NBB. Neste ano, por diversas circunstâncias, o clube de São Paulo tenta repetir essa trajetória. Vamos falar mais a respeito na semana que vem.

A Copa América Sub-16 pôs EUA, Canadá, Argentina, Rep. Dominicana e Porto Rico à frente do Brasil

A Copa América Sub-16 pôs EUA, Canadá, Argentina, República Dominicana e Porto Rico à frente do Brasil

Mas temos aí Lucas e Danilo maravilhados pelos exercícios de fundamentos básicos que fizeram em um curto período. O que tirar dessa avaliação? É por essas e outras que causa admiração geral o fato de o Brasil ainda encontrar um jeito de produzir mão-de-obra, mesmo que as estruturas do esporte no país não sejam das mais confiáveis. Como Splitter disse durante sua visita ao Basketball without Borders, camp conduzido pela NBA e pela Fiba, em sua edição global, realizada em fevereiro deste ano em Nova York: “Nós vemos jogadores surgindo, mas não por sermos bem organizados. Eles simplesmente aparecem”.

Nem sempre depende-se do acaso ou da sorte. Se Lucas e Danilo chegam a flertar com a NBA hoje, é porque seus clubes também lhes permitiram isso. Mas é inegável que, no processo atual de formação do basquete brasileiro, há uma lacuna muito grande entre projeções e realizações. Durante o mesmo camp nova-iorquino, em nota já dada aqui no blog, me lembro de ter sido questionado por um importante dirigente de um clube da Conferência Oeste, sobre a discrepância que se nota entre o nível de potencial atlético das revelações brasileiras e os seus fundamentos básicos. A mesma tecla. Se ela for batida muitas vezes, complica demais.

Peguem o fiasco da Copa América sub-16 deste ano. Mais um desastre: o Brasil agora terminou em quinto, ficando muito longe de brigar por uma vaga no Mundial sub-17 desta temporada. Na primeira fase, três derrotas em três jogos. Depois, pelo torneio de consolação, saíram dois triunfos para evitar a fossa geral da molecada. É complicado entender de longe o que aconteceu. Afinal, o técnico do time, Cristiano Grama, foi um personagem fundamental para a composição justamente do Minas, a jovial sensação do último NBB. É um cara antenado, bem conectado, envolvido com a base brasileira. Sem ter assistido aos jogos, fica difícil avaliar, mas os resultados estão aí para comprovar ques as coisas não saíram nada bem. Um dado que chamou a atenção, antes mesmo do torneio, era que, talvez pela primeira vez na história, a equipe brasileira tinha média de altura mais baixa que a da Argentina. Nossos vizinhos comemoravam isso, para se ter uma ideia. Conversando com agentes, creiam: no país de Nenê, Splitter, Augusto, Varejão, Bebê, Faverani, Felício, Morro, Caio, Mariano, Paulão, Murilo, Hettsheimeir, parece que anda realmente difícil de encontrar pirulões promissores nas competições de base vigentes. Ao que parece, a safra para daqui mais alguns anos não deve oferecer tantos “surgimentos”.

E aí o que fazer quando a fonte seca? O basquete feminino, infelizmente, está aí para contar essa história. É nessa hora que entra a autocrítica. E, nesse sentido, ao menos faz bem ler uma carta de Alexandre Póvoa, vice-presidente de esportes olímpicos do Flamengo, o tricampeão do NBB, na qual ele escreve: “Somos totalmente conscientes que estamos longe da plena satisfação acerca do que alcançamos até agora. Por exemplo, precisamos melhorar MUITO o nosso trabalho nas categorias de base, atualmente muito aquém da história do Flamengo formador de atletas (aliás, situação comum em todos os esportes olímpicos do clube e que estamos lutando dia-a-dia para ajustar)”. O rubro-negro foi vice-campeão da última LDB, mas é honesto ao assumir suas deficiências de formação. Até porque a principal figura do time, Felício, é produto da base do Minas.

Sem fazer muito alarde, em termos de mídia, uma potência nacional que tem investido muito na base é o Bauru, estruturando seu departamento e fazendo a rapa na coleta de talentos, até mesmo em países vizinhos. Diversos jogadores talentosos têm sido recrutados recentemente, como o ala-pivô Gabriel Galvanini, o pivô Michael Uchendu (brasileiro filho de nigerianos), o armador Guilherme Santos, entre outros.  Com um patrocinador forte, o clube montou um timaço que ganhou o Paulista, a Liga Sul-Americana e a Liga das Américas na temporada passada. Poderia se dar por satisfeito com esses resultados, mas, em tempos de vacas gordas, é melhor preparar o terreno para o que vem pela frente e de um modo muito mais razoável e sustentável. É um projeto para se monitorar de perto.

Curiosamente, é o mesmo Bauru que escalava Leandrinho nos idos de 2003, quando o Nacional ainda era organizado pela CBB, muito antes da grave crise com os clubes que quase levou tudo para o buraco. Não seria prudente esperar que, dos garotos garimpados pelo clube, alguém vá chegar em breve ao estágio de competir com David Jackson, Marquinhos ou Shamell pelo título de cestinha do NBB, como, lá atrás, fez o armador, um caso excepcional de quem que já fez mais de 18 pontos em média nos Estados Unidos. O que dá para cobrar, mesmo, é que ao menos tentem, ainda mais para um clube em que o dinheiro não é problema. Entre esses jovens atletas, é natural que o sonho seja a NBA. Pode ser que alguns deles até se veja com condições de, no futuro, inscrever no Draft, tentar a sorte. Se vai dar certo ou não, impossível dizer agora. Só esperemos que, em caso de retirada e retorno ao país, a resposta dos olheiros norte-americanos seja mais amena.


Brasileiros retiraram a candidatura ao Draft da NBA. O que houve?
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Georginho, agora em Treviso: longo período de testes para o armador

Georginho em Treviso, e os scouts da NBA atrás

O que houve?

Bem, respondendo: não é que tenha sido algo anormal, para começo de conversa. Foram quatro os jogadores daqui que se declararam ao Draft da NBA deste ano e, no final, acharam por melhor retirar retirar a candidatura. Foram os três pinheirenses Georginho, Humberto e Lucas Dias, mais o mineiro Danilo Siqueira.

Todos os jogadores de fora dos Estados Unidos, que não completam 22 neste ano, tinham até esta segunda-feira para decidir se continuariam, ou não, no páreo para a cerimônia que será realizada no dia 25, em Nova York. Cada um saiu por seus motivos. Isso significa que não sejam bons jogadores, que não tenham talento e que não possam mais flertar com o recrutamento de calouros da liga americana no futuro. Danilo será um candidato automático em 2016, por  chegar aos 22. Para constar, qualquer jogador brasileiro nascido em 1993, como Leo Meindl e Henrique Coelho, ainda pode ser escolhido este ano – mas seria uma grande surpresa. Lucas e Humberto têm pelo menos mais dois anos para participar do processo. Georginho, mais três.

O mais jovem do quarteto de ex-candidatos, aliás, era o que tinha a melhor cotação. De quatro clubes consultados pelo blog na segunda-feira, três disseram que tinham 100% de certeza de que ele seria selecionado no Draft, enquanto o outro acreditava que isso não seria possível, já por acreditar que o armador não ficaria na lista. Mesmo que esta seja uma pequena amostra no contexto da liga (4 de 30 clubes opinando), dificilmente o caçulinha passaria em branco na lista, devido aos seus atributos físicos incomuns e a tenra idade. Então por que abrir mão disso?

Acompanhe a cobertura do 21 para o NBA Draft:
>> Qual o cenário para os quatro brasileiros inscritos?
>> Georginho conclui Nike Hoop Summit com status no ar
>> Técnico americano avalia o potencial de pinheirenses
>> Apresentando Georginho, o próximo alvo da NBA
>> Lucas Dias e preparação para encarar mais um teste

>> Danilo Siqueira: muita energia em trilha promissora

Existe uma diferença entre ser selecionado e ser pinçado especialmente por uma franquia que esteja disposta a elaborar um projeto detalhado, paciente, de longo prazo para um atleta de enorme potencial, mas muito jovem, longe de estar preparado para  encarar uma temporada regular – como nos moldes do Toronto Raptors com Bruno Caboclo, independentemente do sucesso dessa empreitada. Que ele fosse escolhido na segunda rodada do Draft e enviado ao basquete europeu estava descartado. Não seria nada fácil encontrar um clube disposto a investir num garoto que seria enquadrado já como adulto e não tem dupla cidadania. “Jogar na Europa não faz sentido para ele”, afirma um scout internacional ao VinteUm. “Ele precisa de um programa de desenvolvimento e de jogar aprendendo com seus erros. Os clubes na Europa têm a mentalidade de vencer para já. Seria uma perda de tempo para ele, na minha honesta opinião. A D-League provavelmente seria o melhor caminho, mas aí você tem de ter um time com afiliação única.”

Pois é: até para evitar a situação desconfortável que Caboclo enfrentou durante a temporada, jogando por um time que não tinha obrigação alguma de lhe dar minutos e oportunidades, o ideal era encontrar um dos 17 clubes com filial exclusiva na liga de desenvolvimento. Com um eventual contrato de quatro anos. E que tenha um histórico saudável no trato com atletas mais jovens. Você vai peneirando e peneirando, e os cenários fiam reduzidos. Os clubes ligaram para a base da poderosa Octagon nesta segunda-feira em Chicago, mas, no fim, não apareceu nada de concreto em relação ao tipo de comprometimento que esperavam.  Os agentes Eduardo Resende e Alex Saratsis decidiram, então, pela cautela e por mantê-lo no Pinheiros, com a perspectiva de receber muito mais tempo de quadra entre a elite nacional. “O projeto do clube para a próxima temporada é muito bom para os garotos. Optamos por este projeto”, disse Resende.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

O mesmo raciocínio se aplica ao ala Lucas Dias, que deve virar um ponto de referência para o técnico Claudio Mortari. Em relação a Humberto, os agentes declararam seu nome para que ganhasse evidência internacional e se fixasse no radar da liga para os próximos anos. Nem saiu do país, então. A diferença é que tanto George como Lucas já haviam tido mais exposição em quadras estrangeiras, devido ao currículo maior com a seleção brasileira. Eram mais comentados pelos scouts e também tiveram um papel de maior protagonismo na última LDB.

Em Las Vegas

Danilo em Las Vegas: uma semana de trabalho com fundamento

O caso de Danilo Siqueira está à parte. O ala-armador, representado pelo agente Vinícius Fontana, foi para os Estados Unidos passar por um período de treinamentos na academia Impact, em Las Vegas, a dez dias da data-limite para retirada do nome da lista. Na sexta passada, fez um workout em frente a uma plateia cheia de dirigentes, até mesmo com Phil Jackson presente. Os cartolas estavam lá para assistir ao letão Kristaps Porzingis, e Danilo pôde pegar carona nessa, num trabalho em conjunto com o superagente Andy Miller. Os planos em torno do atleta do Minas Tênis estavam voltados para o Draft de 2016 – ou para uma transferência para a Europa ao final de seu contrato.

(Aliás, existe um consenso entre as quatro fontes da NBA consultadas e que é  preocupante: eles acreditam que os jovens deveriam sair do Brasil “o quanto antes“, para acelerar sua curva de aprendizado. É um tema espinhoso, mas obrigatório de se abordar aqui no blog, mas em outro texto. Nos próximos dias, prometo.)

Georginho e Lucas encararam um périplo nas última semanas. Primeiro, passara duas semanas treinando na academia IMG, na Flórida e voltaram ao Brasil. Em abril, o armador participou do Nike Hoop Summit, em Portland. Depois, em maio, foi a vez do Draft Combine em Chicago – que o ala perdeu por conta de uma torção no tornozelo. Por fim, neste mês, viajaram até Treviso, na Itália, para disputar o adidas Eurocamp. Em volta disso, muitos workouts particulares nos Estados Unidos.

Lucas: não teve muitas chances para mostrar seu arremesso em Treviso

Lucas: não teve muitas chances para mostrar seu arremesso em Treviso

É raro que um prospecto, no caso de George, ganhe esse tipo de exposição rumo ao Draft. O brasileiro alternou boas e más partidas, algo natural para alguém tão inexperiente, que ainda está aprendendo inglês (e avançou bastante nesse sentido), ficou na estrada por um bom tempo e está habituado a um nível de concorrência muito inferior em quadras brasileiras (e aqui obviamente fez falta uma rodagem maior no NBB…). Em Chicago e Treviso ele jogou contra caras até cinco anos mais velhos. “Nos dois casos, não é um ambiente fácil para se jogar, devido ao fator competitivo entre os atletas, que querem nos impressionar”, afirmou um executivo de um clube da Conferência Oeste. “E pode anotar: não é fácil também para avaliar os jogadores nesse tipo de atividade.”

Para Lucas, o evento na Itália era essencial, mas no qual existe essa complicação para se afirmar, acentuada no caso de um ala-pivô, que depende dos companheiros para entrar em ação. “Ele não conseguiu fazer muita coisa nos dois primeiros dias. Não encontrou o seu nicho neste tipo de configuração, com tantos atletas que dominam a bola”, diz o scout internacional aqui já mencionado. “Ele foi ok. Teve alguns bons momentos no fim. Mas não me impressionou  muito com seu arremesso”, afirmou outro olheiro.

Para muitos avaliadores, os camps foram a primeira oportunidade de ver os brasileiros ao vivo. Nos treinos, o cenário já era outro. A maior parte das franquias que os convidaram foi de times que vieram ao Brasil para observá-los – caso de San Antonio, que compareceu duas vezes, Dallas e Portland, por exemplo. Em duas escalas em que a dupla visitou, ouvi de dirigentes que eles “competiram” muito bem, jogando de igual para igual com atletas já formados na NCAA. A tendência é que esses clubes que os acompanharam seu habitat os tenham em melhor conta. Foram avistados no mínimo dez times diferentes em ginásios brasileiros.

Houve quem se encantasse pelo garoto (como no caso de um dos clubes consultados pelo blog), outros que acreditavam que levaria muito tempo para que ele se desenvolvesse e se tornasse um atleta de NBA (dois clubes) e também os que não vinham nele as qualidades necessárias para se investir (o clube que não acreditava que ele fosse selecionado). Aqui é importante ressaltar a complexidade do universo dos scouts. Cada franquia tem um batalhão de observadores. Haverá conflitos naturais de opinião, gente com todo o tipo de ponto de vista possível.  Além disso, nem sempre o apreço de um scout signfique que seja possível a escolha do atleta. Como está a configuração do elenco? Eles já têm muitos jovens com quem trabalhar? Precisam reservar espaço no plantel para fechar uma troca? Precisam poupar dinheiro para não pagar multas? Etc.

E é aqui que fica uma lição para o blog, que repasso agora: esqueçam as projeções sobre o Draft dos sites especializados. Quer dizer: podem consultar, mas não é para levar ao pé-da-letra. Servem como indicativos, mas de uma forma bem flexível, digamos, e com a influência de muitos fatores externos. Haja lobby. O próprio Jonathan Givony, do DraftExpress, já disse que, se não desse tanta audiência, nem as faria, por achar bobagem. O esforço dele e de boa parte dos analistas dedicados a esta cobertura está quase todo voltado para a primeira rodada do recrutamento. O que já é difícil de acertar – e cujos palpites só tendem a se tornar mais precisos na véspera do evento, quando os times estão realmente encaminhados. Para a segunda rodada, então, com vendas e trocas de picks, então, não há como prever. Basta lembrar o que aconteceu com Bruno Caboclo no ano passado. O VinteUm até ouviu de múltiplas fontes que o ala tinha uma promessa do Toronto Raptors ou do Indiana Pacers. A informação estava circulando. Mas ninguém imaginava que o clube canadense fosse escolhê-lo em 20º. O plano nem era esse.

Caboclo só ficou no último Draft porque o Raptors, basicamente, pediu. Dessa vez, nenhum time se comprometeu, ou fez uma promessa desse tipo. As conjunturas mudam. E o que os quatro brasileiros têm ao seu lado, além do talento natural, é o tempo. Todos eles vão trabalhar com o técnico Gustavo de Conti, em Rio Claro, nos próximos dias para disputar a Universíade, na Coreia do Sul. Segue o jogo. Retornam provavelmente um tanto frustrados, mas certamente com mais bagagem e lições para serem revisadas durante a próxima temporada para, quiçá, tentar mais uma vez.


Danilo Siqueira, cheio de energia em trajetória promissora
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Eram três irmãos, a escadinha básica. Correndo para lá e para cá, dando aquele trabalho quando não estavam na escola em Uberlândia. É nessa hora que entra o esporte para tentar distrair a meninada. Danilo Fuzaro Siqueira, então, ia para o tatame, testar alguns golpes precoces como um carateca mirim.

Foi por influência do irmão mais velho, Nilton, que o basquete entrou em sua vida. O fato, de qualquer forma, era que os três estavam envolvidos desde cedo com o esporte em geral. Não que os pais sonhassem com medalhistas olímpicos ou qualquer coisa do tipo. “Não era uma preocupação deles em iniciar a gente como atleta”, afirma Danilo ao VinteUm, rindo. “Acho que a gente tinha muita energia, mesmo. Então era para gastar, e aí começamos a brincar. Sempre gostamos.”

Em Las Vegas

Em Las Vegas

Para quem acompanhou o progresso do ala-armador do Minas Tênis na temporada 2014-2015, chega-se a uma conclusão: o plano inicial da família Siqueira não deu tão certo assim. Afinal, energia é o que não falta em seu impressionante jogo atlético. Aos 21, anos tal como faz em suas infiltrações explosivas, deu passos largos para se fixar como uma das apostas mais promissoras. Ficou entre os três finalistas em duas categorias do NBB 7: destaque entre os jovens e jogador que mais evoluiu. Também foi convocado pelo técnico Gustavo de Conti para disputar a Universíade de Gwangju, na Coreia do Sul, ao lado de outros jovens talentosos.

Que bom, então, que as atividades recreativas não tenham aplacado o pique de infância. Pelo contrário, o levaram longe. Pegando este embalo todo, Danilo agora se vê numa posição talvez impensável quando estava de quimono: candidato ao Draft da NBA, está em Las Vegas para tentar impressionar os scouts americanos, realizando nesta sexta-feira um treinamento com garantia de ginásio cheio.

Mudanças
No começo, é tudo brincadeira, mesmo. Mas tudo evoluiu rapidamente para os irmãos basqueteiros, motivados até pela concorrência interna. “Jogávamos direto, tínhamos uma cesta na parte de trás de casa. E tinha aquela história de não gostar de perder”, conta. Imagine o quanto eles não estavam vidrados, para que os pais concordassem, em 2007, levá-los para Uberlândia para fazer peneira.

Acompanhe a cobertura do 21 para o NBA Draft:
>> Qual o cenário para os quatro brasileiros inscritos?
>> Georginho conclui Nike Hoop Summit com status no ar
>> Técnico americano avalia o potencial de pinheirenses
>> Apresentando Georginho, o próximo alvo da NBA
>> Lucas Dias e preparação para encarar mais um teste

>> Georginho e Lucas Dias vão declarar nome no Draft

Danilo foi aprovado e entrou no time sub-13. Os irmãos também ficaram. “Fui passando de categoria em categoria, comecei a jogar bem e as coisas ficaram mais sérias”, conta. E aí como faz? Chegou uma hora, então, que a família toda resolveu fazer a mudança, num deslocamento de cerca de 100 km, mesmo que o pai ainda trabalhasse em Uberaba. Essa fase durou relativamente pouco, no entanto.

Aos 16 anos, com Cristiano Grama em Ruvo

Aos 16 anos, com Cristiano Grama em Ruvo

O progresso do caçula foi tamanho que a troca de cidades no Triângulo Mineiro foi fichinha perto do que aconteceu em 2010, quando aproveitou a dupla cidadania e se mandou muito jovem para a Itália, enquanto Nilton, que começou tarde, cinco anos mais velho, já procurava outros caminhos fora do esporte.

O destino foi Ruvo di Puglia, uma cidadezinha (ou “comuna”) localizada na região de Bari, ao sul do país, um pouco acima do salto da belíssima Bota. Uma área muito mais conhecida por sua cultura vinícola do que por glórias esportivas, convenhamos. Jogando pelo clube local, da terceira divisão (Serie C), o brasileiro afirma que cresceu bastante – dentro de quadra, mas principalmente como pessoa. Natural, não? Mas não da forma que o bambino esperava. Ele passou por poucas e boas.

“Para mim foi um aprendizado fundamental, em muitos sentidos”, diz. “Tive dificuldade, ficando sem dinheiro, pois o clube não pagava direito. Almoço e jantar nunca faltou. Também pagavam o apartamento, que dividia com mais três garotos. Mas para coisas como café da manhã e outros gastos tive sorte de contar com a ajuda de companheiros muito legais e até mesmo de gente da cidade, que passava a conhecer. São as vantagens de estar em uma cidade pequena, hospitaleira.”

Ao contar o caso, Danilo fala com maturidade, com firmeza. É um aspecto que chama a atenção em sua entrevista, e parece claro que essa experiência que não teve nada de conto de fadas foi fundamental para isso. Pode até mesmo ter funcionado como um teste. Era isso que queria, mesmo? “Já tinha o objetivo, estava convencido de virar jogador. Sempre soube o que queria, sempre levei a sério. Ter passado pela Europa não mudava nada para mim. Tinha de treinar muito, com humildade.”

O jogador teve de se virar então como dava, o que ao menos forçou o aprendizado da língua italiana rapidamente. O bom é que, para amenizar os dias de pindaíba, o ala-armador podia ficar muito tempo dentro do ginásio, enfornado. “Passava em torno de seis horas no clube, no ginásio. O técnico Giulio Cadeo, que chegou a trabalhar com times da primeira divisão, foi muito importante. Eles me ensinaram muito. Ficava treinando com adulto, mas sem poder jogar com eles.”

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

Os problemas fora de quadra, no entanto, motivou o retorno ao Brasil em 2012. “Estava sem receber e tinha medo de que pudesse acontecer a mesma situação em outro clube”, explica. Nesse período, já estava em contato constante com o treinador Cristiano Grama, do Minas Tênis, com quem já havia trabalhado em Uberlândia. O garoto voltou, então, mas não necessariamente para casa, parando em Belo Horizonte.

Passo a passo
Antes de jogar pelo Minas, Danilo teve sua primeira oportunidade com a camisa da seleção, na disputa da Copa América Sub-18, em São Sebastião do Paraíso. Uma campanha que foi um sucesso para a equipe, terminando com vice-campeonato, vencendo o Canadá de Andrew Wiggins no meio do caminho, perdendo para os Estados Unidos. Já contamos essa história com mais detalhes num perfil de Lucas Dias, o destaque aquele time de geração 1994/1995 que acabou decepcionando no Mundial de 2013.

Vibração de sempre, mas com resultados ruins para a seleção sub-19 em Praga

Vibração de sempre, mas com resultados ruins para a seleção sub-19 em Praga

“Primeiro, foi única para nós. Naquela idade que estávamos, eles tinham uma vitrine muito maior. Foi bom para sentir que não era nada de outro mundo jogar contra eles. Claro que no aspecto físico eles sobram e que a gente tinha de treinar muito, mas foi bom. Hoje a gente vê muitos daqueles jogadores já na NBA”, afirma. “Depois, o Mundial foi chato para todo mundo. A expectativa era muito boa, mas jogou bem. Perdemos a oportunidade de jogar bem e sermos cogitados para ligas melhores. Foi muito frustrante, não saiu nada do jeito que queríamos.”

Nestas campanhas, Danilo trabalhou pela primeira vez com Demétrius Ferraciu, o ex-armador da seleção brasileira e com quem, duas temporadas depois, conseguiu deslanchar na edição passada do NBB. Até chegar lá, precisou de paciência. Em seu primeiro ano clube mineiro, teve apenas sete minutos em média. Depois, sob a orientação do argentino Carlos Romano, recebeu mais que o dobro de rodagem, beirando os 20 minutos. Agora, se o tempo de quadra não progrediu tanto, o que aumentou, mesmo, foi sua produção. O jovem ala-armador obteve seus melhores índices nos arremessos de dois e três pontos, por exemplo. Numa medição mais avançada, foi o segundo jogador mais eficiente do campeonato entre os atletas sub-22, atrás apenas de seu companheiro de equipe, Henrique Coelho.

O Minas, aliás, foi um dos poucos times que verdadeiramente abriu as portas de seu time para a garotada, aproveitando-se de uma base talentosa e entrosada. “Querendo ou não, nossa equipe jogava junta há muito tempo. Pegaram essa base e adicionaram alguns veteranos que agregaram muito. O (americano Robby) Collum, o (pivô) Shilton e o (ala) Alex, com uma presença que fez muito bem ao time.”

O fato raro de ter uma base jovem no campeonato ‘adulto’ gera ansiedade, expectativa, claro. “A gente sabia que tinha de provar muito, e o caminho foi jogar com base na nossa capacidade atlética, velocidade, tirar proveito do que tínhamos de melhor”, afirma. Demétrius soube usar a vitalidade de seu elenco em torno de um excelente marcador domo Shilton para construir a terceira melhor defesa do NBB, atrás apenas dos finalistas Flamengo e Bauru.

Perdas e ganhos
A temporada, todavia, não terminou da forma que esperavam. O Minas foi a vítima da zebra da vez, o Macaé, clube que chegou aos playoffs na última posição e passou pelo cabeca-de-chave por 3 a 1, ignorando o mando de quadra. Sem a liderança tática e técnica de Robby Collum de um lado, e com outro americano, Jamaal Smith, arrebentando do outro.

A série contra Macaé e um nível elevado de produção

A série contra Macaé e um nível elevado de produção

“Para nós foi uma decepção. Perdemos nosso principal arremessador, o Collum, um cara que puxava bastante a defesa e deixava o jogo mais aberto. Foi difícil jogar em Macaé, com a torcida deles e uma quadra que não é muito boa, na qual eles estavam muito mais acostumados. O Jogo 2, que perdemos na prorrogação, em casa, foi decisivo. Creio que se tivéssemos vencido aquele, ganharíamos a série. O Jamaal fez a diferença também. Teve um aproveitamento absurdo, bem diferente do que havia feito na temporada contra a gente.”

A ausência de Collum, no entanto, abriu as portas para Danilo atestar sua evolução durante o campeonato, com grandes exibições, contribuindo nos momentos decisivos. Teve médias de 19,5 pontos, 3,2 assistências e 2,2 roubos de bola, em 30 minutos arredondados. “Individualmente foi um momento muito bom. Consegui pontuar bem e teve alguns momentos em que o time estava trabalhando para mim, algo que nunca havia acontecido antes na minha carreira. Ser o foco ofensivo, ver a bola chegando e a coisa fluir. Soube aproveitar.”

A produção não vem ao acaso. Tem a ver com as habilidades do jogador – ambidestro, excelente finalizador perto do aro, com impulsão impressionante, mãos largas, criativo em nas infiltrações até pela imprevisibilidade do lado do corte e força para trombar –, mas também com a chance de ele desenvolver esses recursos na prática. O que mais? Aos 21 anos, já tem uma boa noção em combinações de pick-and-roll, sabendo servir aos companheiros (seja o pivô mergulhando no garrafão, ou o chutador no lado contrário). Com os pés plantados, até pela estatura e envergadura, consegue passar por cima da primeira linha defensiva, com boa visão de quadra. Na defesa, porém, pode se distrair nas movimentações longe da bola, permitindo a escapada de seus adversários e também pode ser muito agressivo no combate individual, perdendo o equilíbrio. De qualquer forma, o simples fato de estar na quadra ajuda bastante a lidar com eventuais problemas. Natural, e é algo que faz falta para qualquer atleta, especialmente aos mais jovens.

Porém, quando desembarcou em Las Vegas na semana passada, no entanto, para um período curto de treinamentos na academia Impact, de Joe Abunassar, Danilo arregalou os olhos. Fez um tipo de trabalho que, de modo alarmante, julga estar em falta em quadras brasileiras. “Estou treinando bem forte, para ver se consigo esse objetivo. É um treino muito mais puxado em termos de fundamento, algo que não fazemos muito no Brasil. Já sinto que melhorei em menos de uma semana. Só tive treinamento de contato, um contra um, uma vez só. O resto foi muito de fundamento, bandejas, floaters e outras, com intensidade.”

Aqui, um vídeo de Mike Schmitz, do Draft Express, que acompanhou uma sessão na quinta-feira, em exercício de chutes de três pontos. Danilo aparece com uma mecânica muito mais regular e equilibrada em seu arremesso, comparando como o que pudemos ver há algumas semanas no playoff contra Macaé:

A companhia mais badalada no momento nestas hora de treino em Vegas é de Kristaps Porzingis, ala-pivô do Sevilla que é cotado como um escolha top 10 para o Draft da NBA deste ano. Para muitos dirigentes, ele tem potencial, mesmo, para ser o melhor dessa safra, e seu pacote de altura, agilidade e refinamento é realmente único. A presença do letão é muito benéfica para o brasileiro, que se exibe nesta sexta para diversos olheiros que vão à academia primordialmente para avaliar o europeu. Foi uma jogada do agente Vinícius Fontana, em parceria com o americano Andy Miller, dono de uma cartela respeitável de clientes.

Em seu primeiro dia no ginásio, como um alerta para se dar conta da situação especial que vive, Danilo deu de cara com o enigmático Lance Stephenson. Foi a primeira vez que encontrou um atleta da liga ao vivo. Confiante, ele espera que esse tipo de contato possa se repetir no futuro. Sua missão é exibir o mínimo de habilidades em uma sessão em torno de 40 minutos para que possa instigar o convite para um treinamento em privado, com datas muito apertadas. “Estou bem tranquilo quanto a isso. Sou bem religioso, deixo nas mão de Deus. Estou fazendo a minha parte. Com meu agente, o Vinícius, vimos essa oportunidade e tentamos. Não tenho nada a perder.”

Danilo e Lance Stephenson. Cuidado! : )

Danilo e Lance Stephenson. Cuidado! : )

Ele tem até o dia 15 para decidir se mantém seu nome na lista de inscritos. Dallas, Memphis, New Orleans, Portland e Dallas foram os primeiros times a manifestar interesse preliminar. A boa rodagem do ala-armador pelo Minas ajuda em sua avaliação, uma vez que seus clipes estão disponíveis no software Synergy, que catalogou o campeonato em parceria com a liga nacional nesta temporada.

Pensando em ligas maiores, seja na Europa ou na NBA, a projeção ideal, segundo os olheiros, é a de que Danilo se desenvolva como um armador, algo que não conseguiu cumprir por tantos minutos assim pelo Minas, até pela evolução de Coelho e pela contratação do argentino Enzo Cafferata, um jogador errático que não controla tão bem assim as partidas. “O que preciso melhorar é na hora de levar o ataque, saber comandar um time. Falta esse comando. O mais importante é ter a mente aberta para aprender”, disse Danilo. “Hoje me veem como o combo guard, como dizem aqui. E, se formos pensar, essa coisa de jogo de 1 e 2 é quase a mesma coisa hoje.”

Não importa e nem tem por que estratificar um talento desses, mesmo. O certo é que, sem importar a nomenclatura e a cidade que for. Uberlândia, Ruvo, BH, energia não vai faltar.


Qual o cenário para os candidatos brasileiros ao Draft?
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Humberto (e) e Georginho estão inscritos

Humberto (e) e Georginho estão inscritos

A NBA divulgou nesta semana a lista de inscritos em seu processo de recrutamento de novatos, o Draft. Quatro brasileiros apareceram nela como candidatos: o trio pinheirense Georginho, Lucas Dias e Humberto Gomes, além do armador Danilo Fuzaro, do Minas Tênis.

O curioso é que lista poderia ter sido maior. Scouts da NBA me procuraram para coletar informações sobre Wesley Sena, aposta do Bauru para longo prazo, e Adriano Alves Júnior, um pivô do Minas Tênis que não jogou tanto pela última LDB, mas tem um físico impressionante. Os dois foram especulados nas últimas semanas nos Estados Unidos – seriam representados pelo poderoso WMG (Wasserman Media Group), do superagente Arn Tellem. O grupo avaliou os atletas e abriu discussão com os olheiros e dirigentes da liga. No final, ficaram fora. Ainda assim, quatro é um número elevado de brasileiros, numa espécie de ‘efeito Bruno Caboclo’ – apenas potências como Espanha e França têm mais apostas, com cinco cada.

Acompanhe a cobertura do 21:
>> Georginho conclui Nike Hoop Summit com status no ar
>> Semana crucial, enquanto a concorrência cresce
>> Apresentando Georginho, o próximo alvo da NBA
>> Lucas Dias: da impaciência ao desenvolvimento
>> Georginho e Lucas Dias vão declarar nome no Draft

>> Técnico americano avalia o potencial da dupla

Antes de prosseguir avaliando os planos e chances dos quatro brasileiros inscritos, é importante esclarecer três pontos específicos sobre o evento, para não dar confusão:

– Só vai se declarar para o Draft aqueles que não são automaticamente inscritos. No caso de jogadores nascidos fora dos Estados Unidos, sem passagem pelo basquete universitário, a faixa etária para candidatura neste ano envolve os atletas nascidos entre 1994 e 1996. A idade mínima, portanto, é de garotos que vão completar 19 anos em 2015, como o caso de Georginho.

– E quem entra no processo automaticamente? Entre os estrangeiros (de novo: sem passagem pela NCAA), são aqueles nascidos em 1993, que já completaram ou vão  22 anos, como o caso de Leo Meindl, Henrique Coelho e outros tantos jovens talentos do NBB – só não podem incluir Lucas Mariano nessa, uma vez que o pivô de Franca se inscreveu no ano passado e não foi selecionado. Uma vez que você passa batido, perde a chance. A diferença aqui é de terminologia: Meindl, Coelho e os rapazes de sua geração não precisam declarar seus nomes. São elegíveis naturalmente. Jogadores nascidos até 1992, como Augusto Lima, só podem entrar na liga como agentes livres.

Leo Meindl já faz parte automaticamente da lista de selecionáveis no Draft, pela idade

Leo Meindl já faz parte automaticamente da lista de selecionáveis no Draft, pela idade

– Uma exceção brasileira consta na lista: o ala-armador Ricardo Barbosa, sobrinho de Leandrinho. Seu caso é o seguinte: o garoto nascido em 1994 passou pelo Draft da D-League no ano passado, fazendo a pré-temporada pelo Bakersfield Jam, a filial do Phoenix Suns. Mesmo que tenha sido dispensado precocemente, acaba inscrito incluído na lista de “draftáveis” também de modo automático. É o mesmo que acontece com o armador Emmanuel Mudiay, do Congo, que jogou no High School americano e atuou na liga chinesa como profissional.

Posto isso, qual o cenário que temos hoje para os brasileiros?

A lista publicada pela NBA aponta um número de 91 candidatos chamados underclassmen, aqueles que entraram na seletiva antes do limite para eles. Foram 43 estrangeiros e 48 universitários no total. Sabemos que o número de posições no Draft é de 60, então já há muita gente sobrando. A conta fica ainda mais excessiva quando levamos em conta os atletas que concorrem automaticamente, como o caso dos formandos da NCAA e estrangeiros nascidos em 1993. Gente como Mudiay, Frank Kaminsky (vice-campeão por Winsconsin), Jerian Grant (armador que foi a estrela de Notre Dame), Delon Wright (armador de Utah) e o ala espanhol Daniel Diez (revelado pelo Real Madrid, hoje no Gizpuoka San Sebastián).

Agora, desse número inicial, muitos já podem ser descartados. Especialmente no caso das revelações de fora dos Estados Unidos que entram na lista para ganhar exposição no mercado internacional e, depois, retiram seus nomes na última hora para manter elegibilidade para as próximas edições. Cada gringo pode se candidatar até três vezes – comparando com os americanos, eles têm outra vantagem: podem tomar uma decisão até 15 de junho deste ano, 10 dias antes do Draft, enquanto os pratas-da-casa que declaram já abriram mão por completo de sua carreira na NCAA.

Danilo: uma rara revelação nacional que teve tempo de quadra no NBB

Danilo: uma rara revelação nacional que teve tempo de quadra no NBB

A não ser que algo de imprevisto ocorra daqui até essa data-limite, podemos incluir nesse grupo de jogadores tanto Humberto, o armador do Pinheiros, como Danilo, armador do Minas. A ideia é realmente chamar a atenção de olheiros e dirigentes para acompanhamento futuro. Caso permaneçam com seus nomes na lista final, podem suspeitar que tenha coisa aí. Leia-se: a famosa promessa.

Por ser companheiro de clube de Georginho, o prospecto nacional mais visado nesta temporada, Humberto já foi avaliado por um número considerável de franquias. Ao menos 10 clubes estiveram persentes em quadras brasileiras durante a última LDB para assistir a jogos do Pinheiros. Fora a observação in loco, sempre mais valiosa para os empregados da NBA, outra ferramenta que facilita o estudo dos atletas é o sistema Synergy, que tem em seu catálogo horas e horas de filme dos jogos do NBB 7, no qual Danilo teve muito mais rodagem que os pinheirenses – e já vem sendo avaliado por alguns clubes espanhóis de ponta. Os dois, por ora, não aparecem com intensidade no radar da liga americana. Como é o caso de dezenas dos estrangeiros declarados, claro.

Georginho, por outro lado, tem, hoje, maiores chances. O armador hoje aparece cotado pelo DraftExpress, de Jonathan Givony, referência no ramo, como o 29º melhor prospecto. Já Chad Ford, do ESPN.com, o projeta como o 52º prospecto. Essas projeções são feitas com base no que os especialistas ouvem de dirigentes e scouts, mas também com base em suas impressões pessoais. O polivalente atleta de apenas 18 anos tem status incerto depois de uma participação irregular no Nike Hoop Summit, mas desperta muito interesse devido ao seu potencial de longo prazo, com atributos físicos impressionantes e movimentos interessantes com a bola. Olheiros ouvidos pelo VinteUm enxergam o garoto hoje como uma possível escolha de primeira rodada, no terço final, ou na segunda. Creem que dificilmente ele não seria selecionado por uma franquia na segunda ronda. A questão é saber se o clube interessado gostaria de contá-lo para agora, ou se o mandaria para a D-League e/ou Europa. De qualquer forma, a simples exclusão dos armadores Kris Dunn e Demetrius Jackson (Notre Dame) e do ala-armador Caris LaVert (Michigan) lhe abre caminho.

Quanto mais for estudado, tendência é que Lucas suba: potencial ofensivo e muito jovem

Quanto mais for estudado, tendência é que Lucas suba: potencial ofensivo e muito jovem

Já Lucas Dias é um nome que começa a ser mais comentado, e o reflexo disso aparece nas listas do DX e da ESPN. Há questão de cerca de 20 dias, o talento cestinha estava fora de ambas as relações. Hoje, já é o 69º para Givony e o número 80 para Ford. Fora os armadores citados acima, o austríaco Jakob Poeltl (Utah), os alas Nigel Hayes (Winsconsin) e Justin Jackson (North Carolina), o lituano Domantas Sabonis (Gonzaga) e o turco Egemen Guven (Karsiyaka) eram alguns dos prospectos que tinham praticamente certeza de que seriam selecionados, mas optaram por não se candidatar, pacientes. Isso também ajuda.

A segunda rodada do Draft parece mais realista para o ala, enfrentando, de qualquer forma, uma concorrência dura, especialmente de outros talentos estrangeiros como o ala-armador turco Cedi Osman, o pivô francês Mouhammadou Jaiteh, o pivô sérvio Nikola Milotinov, o ala búlgaro/cipriota Aleksandar Vezenkov e o pivô espanhol Guillhermo Hernángomez, todos mais experientes e mais badalados hoje. Não são necessariamente concorrentes diretos de posição, mas que podem atrair equipes propensas à seleção de um calouro que não precisa ser aproveitado de imediato.

Tanto George como Lucas aguardam um convite para disputar o adidas Eurocamp de Treviso, na qual dividiram quadra com a elite dos prospectos europeus, de diferentes idades. Seria um ambiente mais propício para mostrarem serviço, com mais jogos e atividades com bola. Existe a possibilidade de eles serem chamados também para jogar no Draft combine em Chicago, evento oficial da liga, no qual os principais prospectos geralmente só se apresentam para serem avaliados física e atleticamente e serem entrevistados pelos dirigentes, fugindo da ação em quadra com receio de que possam derrubar sua cotação.

O aviso de sempre: com quase dois meses restando ainda até o Draft, ainda está muito cedo para se apegar a essas projeções. Quano mais avançam os playoffs da liga, mais equipes terão sido eliminadas, o que significa mais e mais gente se voltando para o recrutamento de calouros. Os debates internos dos clubes começam a esquenta, uma vez que os técnicos também começam a dar seus palpites, depois de assistirem a jogos da molecada e, principalmente, depois de aplicarem os chamados workouts, os treinos privados das próximas semanas. Os índices atléticos, as entrevistas com os dirigentes, o desempenho nesses treinos – enfrentando concorrentes diretos de posição –, o trabalho dos agentes, o exame médico… Todos fatores que influenciam na tomada de decisão.


NBB 7 termina 1ª fase com líderes mais poderosos e nota de corte menor
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

É, amigos, chegamos.

Chegamos à aquela fase do ano em que você fica maluco. Tem muita coisa acontecendo, é difícil dar conta. É mata-mata para tudo que é lado – algo que já vem, claro, das Loucuras de Março. NBA, NBB, Euroliga, Liga ACB, brasileiros se preparando para o Draft… Se o namorado ou a namorada forem novos, melhor avisar com cuidado. Se a relação é de longa data, bem, a fiel companhia, presume-se, sabe o que lhe espera. É um período de reclusão social, conversa com a TV, que provavelmente faz mal à saúde. Ao menos para o coração. No caso de jornalistas, a incidência de tendinite tem um aumento de 870%. Salve-se quem puder.

Então é hora de respirar fundo. Aqui, vamos nos concentrar um pouco no que se passa com o NBB.

O Bauru, de Hettsheimeir, terminou na ponta, com a melhor campanha da história do NBB

O Bauru, de Hettsheimeir, terminou na ponta, com a melhor campanha da história do NBB

A rapaziada ao menos tem, imagino, o resto do feriadão para descansar um pouquinho. Aí é usar a semana para treinar e estudar o adversário. Que, no fim de semana, começam os playoffs, com a interessante forma de dar uma folga prolongada aos quatro melhores da tabela, ao passo que mais times têm sua temporada estendida: os confrontos decisivos começam com cruzamento entre os times situados entre as 5ª e 12ª posições, pela ordem: Minas, Paulistano, Pinheiros, Franca, Palmeiras, Brasília, São José e Macaé. Bauru, Limeira, Flamengo e Mogi das Cruzes vão assistir a tudo.

Ao batermos o olho na classificação final, nota-se, primeiro de tudo, que a nota de corte caiu. O Macaé, com um projeto bonito, que vai muito além adulto, tem de comemorar muito a chance de participar da fase final do NBB pela primeira vez. Mas a verdade é que avançou um aproveitamento baixo, de 30%, com 21 derrotas em 30 jogos. Na edição passada, foram eliminados em 13º, mas 40,6%. Se tivesse mantido o ritmo, neste ano, teriam terminado acima do Brasília, em 10º.

Essa queda de rendimento acompanha os três clubes que estão acima da tabela, aqueles que, num formato mais tradicional, nem teriam jogado a fase decisiva. Os nomes mudaram, mas os 9º, 10º e 11º lugares passaram, respectivamente, de 46,9% para 43,3% e 40% no caso dos últimos dois. Juntos, esses caras haviam conseguido 45 triunfos na sexta edição do campeonato nacional. Dessa vez, ficaram em 37. E, ok: sabe-se que a temporada 2013-2014 teve um clube a mais – por tanto, um adversário a mais para ser batido. Se formos descontar, então, eventualmente, uma derrota de cada um desses três classificados, ainda seriam 42.

Para onde foram essas vitórias? Naturalmente, lá para o topo da tabela. Os ponteiros ficaram mais fortes, capitaneados pela campanha incrível do Bauru, a melhor da história do NBB, com 28 vitórias e 2 derrotas (93,3%). Aliás, aqui também cabe um asterisco: uma dessas derrotas aconteceu na rodada de estreia, para o Brasília, aconteceu com o elenco de ressaca pela conquista da Liga Sul-Americana. Não obstante, o time de Guerrinha ainda estabeleceu um recorde de 25 vitórias seguidas pela competição. Contando a conquista da Liga das Américas, são, na real, 33 jogos de invencibilidade.

O Flamengo viu a concorrência no topo aumentar. Limeira termina em 2º. Crédito: Gilvan de Souza

O Flamengo viu a concorrência no topo aumentar. Limeira termina em 2º. Crédito: Gilvan de Souza

Mas não foram apenas os bauruenses a elevar o patamar. O Limeira, segundo colocado e a segunda equipe a ter batido os líderes, encerrou sua primeira fase com 83,3%, acima dos 71,9% do Paulistano do ano passado. O terceiro lugar subiu de 65,6% do Brasília para 76,7%, do Flamengo, enquanto o quarto foi também dos 65,6% do Limeira para 70% do Mogi. O que isso dá a entender? Que as equipes que passarem pelas oitavas de final vão ter vida muito complicada na fase seguinte.

Esta é uma boa hora, aliás, para  registrar aqueles que mais cresceram de uma temporada para a outra. Reforçado, com excelente química em quadra, o Bauru elevou em 37% seu aproveitamento (para constar: estou comparando aqui diretamente o número final das campanhas, subtraindo 56,3% de 93,3%. Também com um orçamento muito mais robusto, Mogi deu um salto significativo, de 26,2%. O time de Paco García até foi um dos semifinalistas do ano passado, mas lembrem-se que isso aconteceu de modo surpreendente, derrubando favoritos nos mata-matas, para o qual havia se classificado na última posição. Já o Minas retorna aos playoffs com um ganho de 25,4%.

E quais foram os clubes que caíram? O Brasília, tricampeão, despencou 25,6%. O São José, semifinalista do NBB 6, perdeu 19,4%. O Paulistano, 15,2%. Ainda assim, avançaram. O Basquete Cearense, porém, com menos verba, perdeu 20,2 pontos percentuais e flertou com o rebaixamento – o que seria um duro golpe para o campeonato, levando em consideração seu posicionamento estratégico no Nordeste.

O Brasília de Giovannoni se viu numa incômoda posição. Crédito: Brito Júnior

O Brasília de Giovannoni se viu numa incômoda posição. Crédito: Brito Júnior

Em termos de localização geográfica, a galera de São Paulo prevaleceu, assegurando seis dos primeiros oito lugares, com Flamengo e Minas sendo os penetras, e três dos quatro primeiros. Por outro lado, viu a Liga Sorocabana rebaixada. É bom lembrar que nunca um clube paulista foi campeão nacional na fase do NBB, tendo amargado três vices com Franca, São José e Paulistano, respectivamente, em 2011, 2012 e 2014. Nas versões anteriores do campeonato nacional, o estado havia conseguido mais que o dobro de todos os seus concorrentes juntos, com 33 x 15. O último título foi o de Ribeirão Preto, em 2003. Agora vai?

O Bauru é claramente o favorito agora e tem grandes chances de acabar com esse jejum, ainda mais com a final sendo disputada em uma série melhor-de-cinco, em vez de um jogo único. Mas vocês sabem, né? O jogo é jogado, como já disseram os outros. Até lá, tem muita coisa pela frente. Em breve voltamos com uma passarada sobre as primeiras séries.

Isso se a Senhora 21 e a tendinite permitirem.


20 votos para o Jogo das Estrelas do NBB 2015
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Cabem quantos do Bauru no Jogo das Estrelas?

Cabem quantos do Bauru no Jogo das Estrelas?

A assessoria de comunicação da Liga Nacional de Basquete cometeu a loucura de me estender um convite para participar da votação para o Jogo das Estrelas do NBB7, que vai ser disputado entre os dias 6 e 7 de março, com sede ainda para ser anunciada.

Ao menos essa responsabilidade foi divida entre diversos companheiros de imprensa, assim como os técnicos – e seus assistentes –, capitães e (!) árbitros envolvidos com a competição, além de outras “personalidades” da modalidade. Cada um dos eleitores teve a chance de escolher dez nomes para o time brasileiro e outros dez para a equipe estrangeira. Você precisa dividir cada grupo entre titulares e reservas, e os votos dedicados aos titulares ganham peso maior.  Essa é uma novidade no processo que, creio, ajuda a diminuir a chance de injustiças.

Mas, prepare-se, elas podem acontecer. Veja a repercussão, na NBA, para a exclusão de um enfezado Damian Lillard, que não conseguiu nem mesmo a 13ª vaga e foi ao Instagram protestar, lembrando que havia sido ignorado por torcedores, técnicos e até pelo comissário Adam Silver. Ele merecia a vaga de Kevin Durant? Para mim, sim, levando em conta o fato de que o ala de OKC perdeu metade da temporada norte-americana.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

Esse tipo de polêmica certamente vai aparecer aqui neste espaço, agora que abro minhas 20 escolhas. Inevitável. Mas boa parte das discussões depende de quais critérios cada um vai adotar para escolher sua seleção. Pesa mais o sucesso da equipe ou o rendimento individual de cada atleta? Na dúvida, preferi a solução mais fácil: dosar um pouco de cada caminho. Privilegiei os destaques das melhores campanhas, mas também tentei abrir espaço para caras que estejam numa ótima temporada, ainda que seus clubes decepcionem. Só procurei pensar apenas no que acontece neste ano, e, não, ignorando o conjunto da obra – se o cara é o cestinha histórico do NBB, se é medalhista olímpico, se já passou pela NBA etc.

Mais: você vai segmentar, estratificar os jogadores por posição? Na planilha encaminhada pela LNB, era preciso escolher um armador, dois alas e dois pivôs. Esses conceitos são todos meio relativos, não? Pegue um time como Limeira, uma das gratas notícias do campeonato. Nezinho, Ronald Ramon e Deryk estão revezando constantemente, dividindo a quadra, escoltados pelo gatilho de David Jackson, do jeito que o Paulo Murilo pregou sempre em seu Basquete Brasil – e quando dirigiu o Saldanha da Gama. Tentei ir um pouco além da nomenclatura clássica.

Vamos aos votos do VinteUm, então, seguidos por breves explicações. Os quintetos titulares vão ser escolhidos pelos torcedores:

NBB – Brasil
Titulares
Nezinho (Limeira)
Alex Garcia (Bauru)
Marquinhos (Flamengo)
Jefferson William (Bauru)
Rafael Hettsheimeir

Reservas
Coelho (Minas)
Leo Meindl (Franca)
Giovannoni (Brasília)
Gerson (Mogi das Cruzes)
Caio Torres (reservas)

Jefferson merece o posto de titular: influência tática e técnica

Jefferson merece o posto de titular: influência tática e técnica

O desafio aqui foi evitar de escalar todo o elenco do Bauru, né? Tendo apenas 10 vagas em cada seleção, achei o mais correta a distribuição entre mais clubes, impondo um limite de três atletas para cada agremiação. E aí Ricardo Fischer acabou sendo sacrificado, em detrimento de seus companheiros bauruenses escalados entre os titulares (Alex segue influenciando o jogo dos dois lados da quadra, resistindo ao tempo, Jefferson William é fundamental no sistema de Guerrinha por sua mobilidade e poder de execução, além de um bem-vindo nível de atividade na briga por rebotes e na defesa, e Rafael Hettsheimeir, ainda que deveras enamorado pelo chute de fora, vem sendo bastante produtivo em seu retorno ao país). Nezinho assume a vaga de Fischer, sendo um dos líderes do Limeira, pontuando com muito mais eficiência do que na temporada passada, ainda que frequente menos a linha de lance livre. Para completar, Marquinhos, que ainda não recuperou o ritmo de seu sensacional NBB5, mas tem números que igualam ou superam sua última campanha, em menos minutos, e ainda é um pesadelo para qualquer defesa nacional conter. O Flamengo também não tem sido o mesmo, mas, da mesma forma, continua sendo um time de respeito

Marquinhos: os números não são os do auge, mas a ameaça é a mesma

Marquinhos: os números não são os do auge, mas a ameaça é a mesma

No banco, o jovem Coelho merece reconhecimento: ganhou autonomia em Belo Horizonte e respondeu muito bem, obrigado. Em termos de produção, é o jogador mais eficiente de sua posição entre os brasileiros, com 14,59 por jogo, mais que o dobro de sua carreira – e o mais interessante pode melhorar muito ainda como um armador forte, veloz e agressivo. Confesso: foi uma dúvida brutal optar entre ele e Nezinho na vaga de titular, mas pesou a maior propensão ao passe e o recorde da equipe do veterano. Leo Meindl vem numa curva ascendente em sua carreira, ajudando o Franca a se manter entre os seis primeiros, a despeito dos problemas financeiros. Talvez não no ritmo esperado, mas está subindo enquanto se distancia de uma complicada lesão no joelho. Seu arremesso de três pontos o abandonou nesse campeonato, e talvez fosse mais interessante que ele usasse sua habilidade no drible e o jogo de média distância para buscar a cesta. Giovannoni faz uma temporada que o colocaria na discussão para MVP, mas o fato de o Brasília ser a grande decepção da temporada impede que isso aconteça.  Foi cruel deixar Lucas Cipolini fora, mas não havia como eleger dois atletas do time candango, a despeito de seu ótimo rendimento estatístico. No garrafão, temos então o jovem e hiperatlético Gérson, que faz Mogi crescer cada vez que vai para quadra com seu energia e dedicação extrema, e Caio Torres, em boa forma, vai fazendo a melhor temporada de sua carreira nos rebotes e como referência interior do time que menos arremessa de três no campeonato. Entre ele e Rafael, a dúvida também é grande. Seus números são superiores, mas o bauruense divide a bola com mais gente. A campanha abaixo de 50% do São José também não ajuda.

NBB – Mundo
Titulares
Jamaal Smith (Macaé)
David Jackson (Limeira)
Marcos Mata (Franca)
Tyrone Curnell (Mogi das Cruzes)
Jerome Meyinsse (Flamengo)

Reservas
Kenny Dawkins (Paulistano)
Ronald Ramón (Limeira)
Jimmy Baxter (São José)
Shamell (Mogi das Cruzes)
Steven Toyloy (Palmeiras)

Jamaal, decisivo nas poucas vitórias do Macaé

Jamaal, decisivo nas poucas vitórias do Macaé

A posição de armador estrangeiro, gente, é a mais concorrida de todo o campeonato. Não encontrei lugar aqui para Caleb Brown, limitado a apenas oito jogos em Uberlândia devido a dores lombares), para o jogo clássico do baixinho Maxi Stanic, do Palmeiras, e nem para Nícolas Laprovíttola, que anda muito inconstante. David Jackson, creio, é uma unanimidade como um arremessador letal de todos os cantos da quadra. Já Mata e Tyrone servem como influência mais que positiva para os jovens companheiros devido ao tino para cuidar de pequenas coisas e a conduta exemplar em quadra. Curiosamente, de tanto fundamento que tem, o argentino vira uma arma ofensiva em quadras brasileiras, assim como aconteceu com seu compatriota Frederico Kammerichs. Curnell pode não ser o jogaodor mais refinado, mas seu vigor físico e seu empenho contagiam. Quando faz dupla com Gérson, é melhor sair da frente – uma dupla que representa bem a identidade vibrante do Mogi. Meyinsse é hoje o pivô mais completo em atividade no país, dosando força física e agilidade acima da média.

Toyloy, uma fortaleza difícil de se combater no garrafão

Toyloy, uma fortaleza difícil de se combater no garrafão

Ramón ganha uma vaga pela consistência que dá ao trio de armadores de Limeira, clube cujo rendimento pede também três indicados. Seus números caíram em quantidade, mas subiram em qualidade, ocupando uma vaga que, em nome e números poderia ser do jovem Desmond Holloway. O Paulistano, porém, insere o explosivo Dawkins no quinteto reserva, mesmo que não repita a química obtida no campeonato passado. Baxter tem números inferiores aos de Robbie Collum (em menos minutos também), uma figura importante para o Minas, mas se sobressai pela postura defensiva. Shamell tem passado bem menos a bola, mas ainda se sustenta como um cestinha decisivo nas quadras brasileiras, enquanto Steven Toyloy voltou a ser uma rocha no garrafão depois de um ano em que foi subaproveitado pelo Pinheiros, levando um Palmeiras a uma honrosa sétima posição.
Estão aí. Se for para xingar, que seja com educação, tá?


Período pré-NBB expõe o basquete brasileiro que agoniza rumo a eleição na confederação
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Quando chegar o mês de março de 2013, Carlos Nunes, atual mandatário, e Gerasime Bozikis, nosso presente de grego, estarão completando quase um ano de campanha, tendo corrido todo o país para tentar convencer seus eleitores, os presidentes das federações estaduais, de que são a melhor opção é o que temos mesmo para presidir a CBB, e paciência.

A esta altura, espera-se que o NBB esteja pegando fogo, com o auxílio de sua principal parceira, os jogadores brasileiros na Espanha e nos Estados Unidos estarão na reta final das temporadas regulares desgastantes, e o basquete pode, superficialmente, apresentar como um produto atraente para o mercado.

O presidente talvez tenha a cara-de-pau de usar estes elementos em seu discurso, como se tivesse algum dedo seu nessa história. Já o candidato de oposição (? – fica a interrogação aqui, já que ele tinha ‘Carlinhos’ como um de seus principais articuladores) poderia resgatar como arma eleitoral o período que estamos vivendo agora, primeira semana de novembro, nestes dias de vacas magérrimas pré-campeonato nacional, não fosse ele também um dos principais responsáveis por este cenário arruinado.

Festa de Campo Mourão

Campo Mourão desbancou o Joinville de Vecchi

A trajetória do Joinville rumo ao NBB 2012-2013 serve como uma amostra do que acontece na modalidade longe da TV, aquele cenário que não tem a ver com a capacidade de Rubén Magnano como treinador ou com o dons naturais de alguns de nossos superatletas. O basquete que agoniza longe de qualquer falácia eleitoral, de propostas mirabolantes e, talvez, utópicas, considerando nosso material humano em termos de cartolagem.

Para não preparar sua equipe dependendo apenas de um Campeonato Catarinense limitado a cinco participantes (confiram o primor de regulamento), o Joinville participou do Campeonato Sul Brasileiro neste último final de semana.Seria uma bela ideia de competição, não? Um jeito de movimentar estados com potencial incrível para revelar talentos.

Mas aí você vai checar a tabela e fica sabendo que estamos falando de quatro competidores. E dale “apenas”, “só” no texto. Trata-se, então, na verdade, de um Quadrangular Sul Brasileiro – para constar, o Campo Mourão, do Paraná, venceu o time de Ênio Vecchi na última rodada e foi campeão. Não que fosse também um quadrangular extremamente equilibrado. Um dos inscritos, Caxias do Sul  terminou com saldo de 120 pontos negativos. Em três jogos.

Agora siga a pista:

1) Caxias fica no Rio Grande do Sul.

2) O presidente Carlos Nunes vem de lá.

3) Logo…

(Pausa para os comerciais.)

(Já voltamos!)

Este é apenas um caso. O Campeonato Carioca de basquete, pela participação do Flamengo e pela riquíssima tradição do estado e de sua capital na modalidade, é o que acaba sendo mais exposto ao ridículo com seus quatro participantes, dois deles figurantes. Mas o que dizer do Campeonato Mineiro, que conta com cinco integrantes só porque o Minas Tênis decidiu inscrever seu time principal e sua equipe sub-22 ao mesmo tempo? E o que dizer do Campeonato Capixaba? Cliquem aqui, vejam a classificação e tentem entendê-la. Para não falar da Liga de Basquete Feminina,  em que, com a saída de Blumenau, apenas seis clubes estão no páreo. É a liga nacional feminina, gente. Tenha dó.

Reforço via Cuba

O ala-armador cubano Allen Jemmott é um dos reforços que o novo técnico de Vila Velha tem para entrosar com poucas semanas de treino

Os problemas não se resumem também ao mundo além das fronteiras do NBB. O Cetaf/Vila Velha anunciou como reforço há pouco o pivô Rodrigo César, ex-Minas e Uberlândia. Ele é o nono jogador a ser contratado visando o campeonato nacional. O que quer dizer que ainda faltam três semanas para o início da competição, e a equipe não tem um elenco formado para o técnico Daniel Wattfy, outro recém-contratado, dirigir. “Nunca trabalhei com nenhum dos jogadores já contratados pelo Vila Velha. Então o desconhecimento é geral. Mas vamos tentar dar um mínimo padrão de jogo até a estreia. O time terá de se ajustar ao longo do campeonato, não tem jeito”, diz o treinador.

“Os jogadores precisam estar empenhados, cada treino precisa ser útil. O fundamental é fazer o simples nos primeiros jogos, dentro da nossa capacidade. Temos que ver como está a adaptação dos estrangeiros. Sabemos que a última temporada foi dura para o clube, mas vamos tentar subir alguns degraus, encarando as equipes intermediárias, porque as líderes já seria mais difícil. Venho de um trabalho semelhante no América (de São José do Rio Preto), em que também enfrentamos equipes de muito mais investimento e fomos competitivos”, prossegue. “Mas estamos otimistas, com uma expectativa boa.”

Nas entrelinhas, o discurso oferece um contexto bem adverso para justificar qualquer otimismo por parte do treinador. Mas Wattfy é o comandante do barco, precisa confiar em seu trabalho e tem de motivar seus jogadores de alguma maneira. Não dá para entrar numa luta já com o discurso derrotista, ué.

Difícil, mesmo, é encontrar otimismo para rever as questões de ordem maior.


< Anterior | Voltar à página inicial | Próximo>