Vinte Um

Arquivo : Marquinhos

Vitória dramática sobre Espanha é decidida, literalmente, por detalhes
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Giancarlo Giampietro

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Sabe esse papo de que, no esporte de alto nível, os detalhes decidem o jogo? Pois é: na vitória dramática-haja-coração do Brasil sobre a Espanha nesta terça-feira, por 66 a 65, foi literalmente decida em sua cesta final por um detalhe no tapinha providencial de Marquinhos – ou pelo menos pela combinação de dois, três, ou quatro destes chamados detalhes.

Vejam o lance:

Primeiro, o que o clipe não mostra: Marcelinho Huertas deu uma boa chacoalhada em Sergio Llull até contar com um corta-luz de Nenê lá depois da linha de três pontos, para poder ganhar o garrafão. A partir daí, feita a troca, Pau Gasol foi obrigado a contestar seu sempre perigoso chute em flutação de média distância. Isso tirou das imediações do aro o principal reboteiro espanhol (detalhe 1).

Aí, a bola pode não ter caído, mas foi pelo menos amortecida por dois toques no aro, resultado num rebote mais suave, em vez daqueles espirrados. Deu tempo para que Marquinhos saísse da zona morta para alcançar a bola. Mais do que seu toque na bola, o mais bonito aqui foi seu arranque rumo ao garrafão, em vez de ficar estacionado no canto da quadra. Este tipo de posicionamento é uma regra básica de qualquer ataque moderno, para o chamado “corner three”, ou a nossa bem mais charmosa “zona morta”. Um chutador se posiciona ali como opção de desafogo e, no mínimo, para distrair alargar a defesa em quadra.  Isso obrigou que Nikola Mirotic não se aproximasse tanto assim da tabela para cobrir a lacuna aberta por Gasol (detalhe 2).

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Para um ala de 2,05m de altura (ou mais…), a gente espera que Marquinhos seja sempre esse ala agressivo, que parta sempre para ataque, e isso não significa se limitar apenas a chutes de três. Ele tem maleabilidade e tamanho para se impor contra 95% dos laterais do mundo Fiba se decidir jogar perto da cesta. Seu mergulho ao garrafão mostra isso. Ele não só foi esperto, oportunista. Sua passada larga e envergadura o ajudaram a chegar primeiro ao rebote para dar o tapinha (detalhe 3).

De todo modo, mesmo que não estivesse grudado ao brasileiro ou perto da tábua para fazer a coleta, Mirotic cometeu um erro absurdo de atenção e fundamento. Simplesmente virou as costas para Marquinhos e não fez o bloqueio mais básico de rebote. Tivesse fechado o corredor, e Victor Claver (camisa 10) provavelmente teria assegurado a posse de bola para deixar a Espanha em grandes condições (detalhe 4).

A passividade de Claver também deve incomodar o torcedor espanhol. Ele estava bem posicionado, de frente para a bola e o aro. Tem impulsão – na verdade, é um dos jogadores mais atléticos de sua seleção. Mas ficou pregado no chão, observando sabe-se lá quantas borboletas voavam pelos arredores. Com Augusto afastado, se quisesse, o rebote era dele (detalhe 5).

Se ficarmos vendo o lance por mais uns 30 minutos, diversos outros detalhes vão surgir. É um lance que vai perturbar Gasol, Mirotic, Claver e muito mais que a linha de frente espanhola. O time vice-campeão olímpico nas últimas duas edições dos Jogos tem agora duas derrotas em duas rodadas neste grupo complicadíssimo e estão muito pressionados. A seleção brasileira se recupera de uma atordoante derrota para a Lituânia na estreia e segue em frente, ainda com possibilidades de terminar na liderança. Esperem, no entanto, mais partidas como essas, decididas nos últimos lances, frame a frame.

(Mais tarde no blog, um post mais amplo sobre a partida. Até.)

Guia olímpico 21
>> A seleção brasileira jogador por jogador e suas questões
>> Estados Unidos estão desfalcados. E quem se importa?
>> Espanha ainda depende de Pau Gasol. O que não é ruim
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Rendimento nos amistosos deixa até Magnano feliz. Mas são só testes ainda
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Giancarlo Giampietro

Marquinhos esquentou contra a Lituânia. Crédito: Gaspar Nóbrega/Inovafoto

Marquinhos esquentou contra a Lituânia. Crédito: Gaspar Nóbrega/Inovafoto

Os amistosos vão passando, e a seleção brasileira, vencendo. São cinco jogos-teste até o momento e cinco triunfos,  restando mais uma “pelada” contra a China antes de a coisa ficar séria, seríssima ao chegar o #Rio2016.

Até enfrentar dificuldades contra a Lituânia neste domingo, com uma vitória por 64 a 62 em Mogi das Cruzes, a equipe de Rubén Magnano vinha atropelando a concorrência, com placares de 90 a 45 e 96 a 50 contra a Romênia,  96 a 67 contra a Austrália e 91 a 50 contra a China. Podem fazer as contas aí, que vai dar 42,7 pontos de saldo. Num estalo, não tem como não se empolgar com esse rendimento, certo? Até que chegaram os bálticos, adversários da estreia olímpica, para complicar um pouco as coisas.

Agora, independentemente do que se passou neste penúltimo amistoso em Mogi, não é para se deixar levar por euforia ou preocupação. Sim, testes contra Romênia e China só servem para exercitar a seleção e não provam nada. Austrália e Lituânia são obviamente muito mais competitivas. Ainda assim, estamos falando apenas de partidas preparatórias. Amistosos podem ser traiçoeiros, dependendo do nível de concentração e dedicação dos adversários. Por um lado,  a equipe nacional não tirou o pé e fez jogaram o máximo e atropelaram, sem considerações maiores. Vale dizer que dois dos melhores jogadores chineses, o armador Ailun Guo e o pivô Jianlian Yi, mal jogaram. Ninguém é campeão antes de o torneio começar. Talvez só os Estados Unidos.

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Neste domingo, também vimos claramente a seleção do Leste europeu medindo esforços. Onde estavam Jonas Valanciunas e Mantas Kalnietis no quarto período? E desde quando Jonas Maciulis se transformou num Linas Kleiza para querer arremessar e partir para a cesta toda vez que pegava na bola? Enfim. Naturalmente, Magnano também não mostrou  todas as suas cartas. E por que ele e Kazlauskas o fariam, a poucos dias de se enfrentarem pelas Olimpíadas, num grupo em que cada rodada será basicamente uma decisão? Não é querer ser chato ou desconfiado demais, embora esse seja mais ou menos um pré-requisito jornalístico.

O time tem se apresentado bem. A dúvida que fica é apenas sobre o nível de seriedade que a seleção teve em seus amistosos, comparando com o que os australianos e lituanos mostraram, mesmo que, contra estes, o pau tenha quebrado nas disputas do garrafão. O placar contra o  time da Oceania, por outro lado, impressiona bastante, por mais que não estivessem a todo o vapor.

Os sinais positivos? A pegada defensiva ainda está ali, algo que Magnano reforçou no momento em que chegou. O mais importante também é ver que o elenco, no geral, está muito bem fisicamente, mesmo, voando em quadra, pressionando a bola, saindo em velocidade. No ataque, como aponta Magnano, estamos vendo poucos arremessos forçados e a bola compartilhada. Existe todo um mistério, ou até mesmo drama em torno de quem seria o “go-to guy” da equipe, aquele cara de referência. Como Gasol na Espanha, Bojan Bogdanovic na Croácia, Nando De Colo/Tony Parker na França etc. Se essa fosse uma condição obrigatória, Marquinhos seria meu candidato. Mas, se o Brasil mantiver essa abordagem que vem mostrando nos amistosos, talvez simplesmente não seja necessário. A equipe conta com diversos jogadores talentosos em diferentes posições, que podem partir para o ataque quando chamados, dependendo de quem é o marcador do outro lado. E eles não têm forçado a barra. No final, o arremesso de três está irregular, então também foi bom ver o ala flamenguista despertar em Mogi.

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“Como treinador, tenho que tentar fazer com que os jogadores atinjam a excelência. Alguma coisa sempre falta, mas vimos, por exemplo, 14 assistências, o que quer dizer que a bola rodou, que os jogadores passaram a bola. A solidariedade está presente no jogo, tanto no aspecto ofensivo, quanto no defensivo. Estou muito contente”, afirmou o treinador da seleção, após o triunfo de domingo.

Agora, precisa ver como tudo isso vai ser aplicado quando o jogo estiver valendo. E valendo muito. Magnano, da sua parte, acredita que a partida contra os lituanos serviu para se avaliar isso também.  “Foi um jogo muito interessante porque nos colocou em situações de adversidade. Quatro pontos atrás, três pontos, quatro de novo. E recuperamos. Isso nos dá confiança. Alguns acham que, quando o Brasil cai no buraco, não é capaz de sair. Não é assim. Já mostramos isso em outras situações, e neste jogo aconteceu novamente. Parecia que a Lituânia ia disparar, mas fomos capazes de suportar isso, continuar jogando e passar à frente. Então isso não me preocupa muito porque acho que estamos bem.”

É difícil ver o argentino solto deste jeito. Ainda assim, é mais recomendável ainda evitar o termo “empolgar” ao falar sobre os amistosos e os placares obtidos pela seleção. Se quiser usar “animar”, com o aval do costumeiramente exigente treinador brasileiro, acho que aí fica tudo bem.

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Guia olímpico 21: a seleção brasileira, as questões e os 12 jogadores
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Giancarlo Giampietro

A partir da definição dos 12 jogadores da seleção brasileira nesta quarta-feira, iniciamos aqui uma série sobre as equipes do torenio masculino das Olimpíadas do #Rio2016.

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– O grupo
Qualquer corte deve ser muito complicado para cada treinador, ainda mais para um cara como Rubén Magnano, que dá claro valor aos atletas que o acompanharam nos últimos anos pela seleção brasileira. Na hora de definir um grupo olímpico, em casa ainda, era para ser uma tremenda dor-de-cabeça.

Mas, devido a circunstâncias diversas, o sacrifício não foi tão grande. Inicialmente, o técnico pretendia convocar 16 jogadores. Cristiano Felício, porém, recusou, enquanto Tiago Splitter estava se recuperando de uma cirurgia nas costas. Depois, foi a vez de Vitor Faverani abortar a missão, devido a uma lesão no joelho, praticamente definindo o garrafão. Aí restou apenas um atleta para ser excluído. Ficou entre os armadores Rafael Luz e Larry Taylor. Sobrou para Taylor, com o anúncio nesta quarta-feira.

O americano de Bauru (ou seria brasileiro de Chicago) não fez a temporada que Mogi esperava. Teve alguns lampejos, mas lhe faltou a consistência de alguns anos atrás. Física e atleticamente ele não é mais o mesmo. Ainda marca bem, pressiona a bola, e talvez isso fosse o suficiente para um 12º homem. Mas é provável que Rafael dê conta disso da mesma maneira, sendo ainda mais alto e mais forte. Além disso, o ex-flamenguista tem um jogo mais cadenciado, faz a bola rodar mais, oferecendo algo de diferente para o time. Por fim, ainda é jovem e segue como um prospecto para a equipe para o futuro.

E aí que temos esses 12 caras aqui relacionados para o #Rio2016: Huertas, Raulzinho, Rafael, Benite, Leandrinho, Alex, Marquinhos, Giovannoni, Varejão, Hettsheimeir, Augusto e Nenê.

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– Rodagem
É um grupo de vasta experiência. Todos os atletas ou estão no exterior, ou já tiveram experiência significativa lá fora, seja na Europa ou nos Estados Unidos, incluindo os cinco que jogaram o último NBB (Rafael, Alex, Marquinhos, Givoannoni e Hettsheimeir, sendo que o armador já está de contrato assinado com o Baskonia, de volta ao basquete espanhol).

Não pensem que isso é uma coincidência. Uma das coisas evidentes que o convívio com o Magnano desde 2009 nos passa é que ele infelizmente não bota muitas fichas em atletas que disputam o campeonato nacional, ao passo que valoriza demais quem já passou um bom tempo nas principais ligas.

– Para acreditar
Não há nenhuma novidade aqui. Todos os 12 jogadores foram listados competiram por Magnano em pelo menos duas competições anteriores. Se, por um lado, o argentino talvez não estivesse tão disposto a dar chances ou a fazer apostas em gente mais nova, por outro temos como consequência o entrosamento de uma base, a despeito da eventual ausência de um ou outro atleta.

No final, a média de idade é de 30,3 anos, certamente uma das mais altas do torneio olímpico, se não a mais alta. Isso deveria valer para afastar o suposto fator “pressão”. É aquilo: quem joga em casa tem motivações adicionais, tem a torcida a seu favor, mas também precisa manipular essa turma a seu favor. Mesmo os jogadores mais jovens do time – Raulzinho, Rafael e Augusto – têm extensa quilometragem de basquete europeu e já vestiram muitas vezes a camisa da seleção para, em tese, não se impressionarem tanto assim.

Nos últimos dois grandes torneios, Olimpíada e Copa, a seleção jogou de igual para igual com grandes equipes, venceu times como França e Sérvia, e mostrou que dá para brigar.

– Questões
A que mais me preocupa, há um tempo já: se na hora de definir sua rotação, Magnano iria/vai priorizar nomes e currículos, em vez do que está acontecendo em quadra agora, em julho, agosto de 2016. Ao separar alguns veteranos do NBB para o Sul-Americano e fazer uma convocação enxuta, o argentino meio que deu uma resposta parcial. Que ficou ainda mais facilitada devido aos desfalques de Felício e Faverani. Ainda assim, entre os 12 que sobraram, pode haver um encontro de forças, entre jogadores em ascensão e estrelas em declínio. Como o argentino vai encarar esse choque natural é algo vital para as chances do grupo, pensando em produção dentro de quadra e química fora.

De 2012 (Londres) ou mesmo de 2014 (Copa do Mundo) para cá, o tempo que se passou aparentemente valeu mais do que quatro ou dois anos. Hã… Como assim? Calma, explico. Não se trata exatamente de uma aplicação da Teoria da Relatividade. Mas também não é apenas um mero exercício de se virar as folhinhas do calendário. Nesse período, muita coisa aconteceu em torno do núcleo central de Magnano. Foram anos intensos, por assim dizer, em termos de mudança. Peguem, por exemplo, nossos pivôs.

Houve um tempo em que Varejão e Nenê eram dois dos pivôs mais ágeis que a gente poderia encontrar por aí. Os dois grandalhões não têm a impulsão de um Dwight Howard ou um Anthony Davis, mas foram atletas bastante especiais quando no auge, devido à mobilidade e à agilidade fora do comum. Hoje, em 2016, já não é mais o caso, devido ao desgaste de longas, milionárias e vitoriosas carreiras de NBA, além do acúmulo de diversos problemas físicos.

Esse desgaste gera dilemas. A combinação da dupla de pivôs não me parece tão simples assim; quando foram lançados no início da década passada, a gente poderia imaginar Nenê e Varejão formando uma parceria que duraria anos e anos. Mais de 16 anos depois dos Goodwill Games na Austrália, cá estamos. Por diversas razões, essa combinação não foi realizada muitas vezes assim pela seleção. Não sei se é o caso de repeti-la agora, tanto por razões ofensivas como por defensivas.

No ataque, nenhum deles desenvolveu um chute de três pontos confiável, embora possam matar bolas de média distância tranquilamente. Isso interfere no espaçamento, podendo obstruir infiltrações dos armadores e dos alas. Há coisa de cinco, seis anos atrás, o dinamismo dos pivôs poderia compensar a falta de chute, desde que o sistema brasileiro não fosse modorrento e incentivasse a movimentação de todas as peças. Esse deslocamento está agora mais arrastado. O que, de novo, não é uma crítica: é apenas uma consequência natural do esporte.

Depois tem a defesa: se Nenê e Varejão foram premiados com tanta grana assim nos Estados Unidos, a capacidade de cada um deles de conter jogadas em pick-and-roll foi dos principais motivos para tanto. Os dois brasileiros eram casos raros de pivôs que poderiam aceitar a troca de marcação num corta-luz e lidar muito bem, obrigado, com esse teórico impasse. A movimentação lateral dos dois era quase implacável. O pick-and-roll vem sendo cada vez mais e mais utilizado mundo afora, especialmente quando as seleções não conseguem treinar tanto assim. Os dois serão inevitavelmente atacados a partir do perímetro, assim como acontecerá com Gasol na Espanha, Gobert na França, Cousins nos EUA etc. Como será o desempenho neste caso? Para Augusto Lima, para quem o acompanhou bem nos últimos anos de Liga ACB, isso não seria um problema.

De resto, para esse capítulo sozinho não tomar proporções bíblicas, vamos em pílulas: 1) a aposta ainda será na marcação alta, com abafa, e saída em velocidade em transição? 2) em meia quadra, a bola vai girar no ataque, certo? Tal como aconteceu no Pan. Ou vamos ver investidas óbvias e/ou forçadas como as da Copa América? 3) Magnano pensa em eventualmente usar Marquinhos como um stretch four, para ganhar em agilidade, mesmo que os demais alas da seleção não sejam tão altos assim, podendo o rebote ficar vulnerável?

>> OS ELEITOS

Marcelinho Huertas
Armador, 33 anos
Clube: Lakers
Torneios: Olimpíadas 2012; Copa do Mundo 2006, 2010, 2014; Copa Améria 2005, 07, 09, 11, 13; Sul-Americano 2004; Pan 2007.

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Magnano não escondeu sua preocupação com a situação que Huertas enfrentava em Los Angeles, perdido em meio ao caos da gestão Byron Scott. O armador não conseguia entrar em quadra, enquanto Lou Williams e Nick Young alienavam os atletas mais jovens e promissores do elenco. De março em diante, porém, para alívio do argentino, ele participou das últimas 21 partidas do time californiano, o que dá dois terços de uma temporada de Liga ACB, por exemplo. No final das contas, em termos de preparo físico, talvez o chá de cadeira que levou no início tenha vindo para o bem. Sua média ficou em 16,4 minutos.

Em sua primeira temporada de NBA, em meio aos grandes atletas da modalidade, o brasileiro ficou basicamente dentro do esperado. Visão de quadra não foi um problema para ele, se envolvendo em alguns highlights próprios com belas assistências – por mais que as redes sociais tenham valorizado muito mais os lances desfavoráveis. Huertas sabe ditar o ritmo de jogo e funciona muito mais no pick and roll ou em transição. Mas teve dificuldades para pontuar, indo poucas vezes ao lance livre e acertando apenas 26,2% dos tiros exteriores numa linha de três pontos mais distante. Por outro lado, quando se aproximou da cesta, usando seu clássico arremesso em flutuação, o brasileiro ao menos teve um aproveitamento de acordo com a média da liga. Na defesa, foi agressivo, mas vulnerável.

Veja suas estatísticas no mundo Fiba e na NBA.

Raulzinho
Armador, 24 anos
Clube: Utah Jazz
Torneios: Olimpíadas 2012; Copa do Mundo 2010, 2014; Copa América 2013; Sul-Americano 2014.

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Também um estreante na NBA, mas em estágio completamente diferente na carreira. A princípio, Raul chegaria a Salt Lake City para brigar por espaço na rotação. A lesão do australiano Dante Exum, porém, mudou tudo. Para surpresa geral, o calouro começou a temporada como titular. E não foi necessariamente devido ao seu senso de organização de jogo, mas, sim, por sua presença defensiva, que conquistou o técnico Quin Snyder, desbancando a decepção chamada Trey Burke.

Como armador, porém, o jogador não teve a oportunidade de se soltar muito. As ações do ataque do Jazz ficavam concentradas nos alas Gordon Hayward e Rodney Hood, com o brasileiro jogando afastado da bola. Ao menos cumpriu seu papel quando chamado, ao converter 39,5% de seus chutes de três e 44,4% de média para longa distância. No meio do campeonato, ainda assim, viu o clube contratar o competente, mas inexpressivo Shelvin Mack para assumir seu posto.

Na seleção, é de se esperar que sua criatividade com a bola será mais exigida. Depois de fazer boa Copa do Mundo em 2014, não competiu no ano passado pela equipe, naquela que poderia ser uma campanha de afirmação.

Veja suas estatísticas no mundo Fiba e na NBA

Rafael Luz
Armador, 24 anos
Clube: Baskonia/ESP (saindo do Flamengo)
Torneios: Copa América 2011, 13 e 15; Sul-Americano 2012 e 14; e Pan 2015.

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Se você for se apegar apenas aos VTs de melhores momentos, aos lances de Vine etc., dificilmente vai apreciar o que Rafael traz para a quadra, como um armador de jogo controlado no ataque e forte pegada defensiva, usando sua envergadura para causar impacto nas linhas defensivas e para pressionar o oponente. São características que justificam a escolha por ele, em detrimento de Larry. Como peça complementar, oferece algo a mais para Magnano, considerando que não deva ser um dos primeiros a sair do banco de reservas durante os Jogos.

Sua participação com a seleção na temporada passada deve ter sido decisiva também para sua manutenção no elenco olímpico. Confira um scout detalhado sobre o que o armador fez na conquista do ouro pan-americano. Foi muito bem como o condutor de um ataque poderoso.

Depois, a passagem pelo Flamengo foi de altos e baixos – como os duríssimos playoffs contra Mogi e Bauru mostraram –, talvez por jogar num time cujos preceitos táticos não lhe favoreciam tanto assim. Ainda assim, participou da conquista do NBB antes de receber boa oferta para defender um clube de ponta como o Baskonia, pela Euroliga e pela Liga ACB.

Veja suas estatísticas no mundo Fiba e pelo NBB

Vitor Benite
Armador, 26 anos
Clube: Murcia/ESP
Torneios: Copa América 2011, 13, 15; Pan 2015; Sul-Americano 2012, 14.

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A transição do NBB para a Liga ACB foi um tanto custosa a Benite, principalmente a serviço de um clube pequeno que se meteu a brigar por uma vaga nos playoffs espanhóis, o que seria uma façanha e tanto para o Murcia. Seu tempo de quadra basicamente flutuou de acordo com sua pontaria nos tiros exteriores. Quando teve bom aproveitamento, seus minutos dispararam. No geral, acertou 35% de seus disparos, o que não foi o suficiente para lhe dar mais que 17 minutos, na avaliação do ótimo técnico grego Fotios Katsikaris, que registrou as dificuldades de adaptação do atleta, tanto do ponto de vista defensivo como na tomada de decisões no ataque.

Ainda assim, os serviços prestados em 2015 lhe garantem um posto na seleção, quando foi o cestinha no Pan e na Copa América, sendo uma ameaça na linha perimetral. O importante é que ele entre com confiança e agressividade, sem pedir passagem, mas também ciente da melhor oportunidade para atacar.

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Leandrinho
Ala, 33 anos
Clube: Phoenix Suns (saindo do Warriors)
Torneios: Olimpíadas 2012; Copa do Mundo 2002, 06, 10 e 14; Copa América 2003, 05, 07, 09; Pan 2003.

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O ligeirinho teve seus minutos limitados num timaço como o do Golden State Warriros. Ainda assim, quando foi chamado por Steve Kerr, correspondeu, quanto mais no momento mais crítico: a decisão da NBA. Jogou tão bem, com tanta confiança que o treinador foi justamente questionado por não lhe dar mais tempo de quadra no derradeiro Jogo 7 em Oakland.

Está aqui um cara que desafiou o Passar do Tempo. Aos 33, depois de uma cirurgia no joelho, Leandrinho segue como um dos caras mais velozes da NBA de uma ponta da quadra à outra. Também rende muito bem em cortes em linha reta para a cesta quando não precisa se esgueirar entre defensores, abusando da tabela com finalizações em arcos improváveis.

De todo modo, a cancha que ganhou em 13 anos de liga também não fez dele um melhor preparador, armador ou criador. Leandrinho ainda pode ser um pontuador de mão cheia, mas apenas em determinadas situações, sem que lhe deva ser entregue a bola em momentos de desespero, para que ele crie uma situação no mano mano, sem nenhuma jogada trabalhada – uma armadilha que ele assumiu, ou que lhe foi sugerida em diversas passagens pela seleção.

Veja suas estatísticas pelo mundo Fiba e pela NBA

Alex
Ala, 36 anos
Clube: Bauru
Torneios: Olimpíadas 2012; Copa do Mundo 2002, 06, 10, 14; Copa América 2003, 05, 07, 09, 11, 13; Pan 2003, 07; Sul-Americano 2003.

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Alex é o jogador mais velho da seleção, com três meses a mais que Giovannoni. Se for para se concentrar em vigor físico e capacidade atlética, porém, ninguém vai acreditar nisso. O condicionamento do veterano ainda é veterano. Pensem que, com 1,92m, ele ainda teve média de 5,0 rebotes na última temporada do NBB, que é basicamente aquela de sua carreira.

Também estamos falando ainda do melhor marcador individual do país ainda, dando conta de segurar toda sorte de oponente, incluindo alas-pivôs bem mais altos. Tudo isso é uma prova de sua seriedade, ou da notória “brabeza” pela qual é conhecido desde os tempos em que era uma revelação por Ribeirão Preto.

Em alguns aspectos, o Alex de hoje é bem melhor que o de dez anos atrás. Sua visão de jogo se aprimorou de acordo com o que se espera da idade, a ponto de ele se tornar efetivamente um segundo armador em quadra. Sem Ricardo Fischer, assumiu as rédeas do ataque do Bauru neste ano, e o time alcançou as decisões da liga nacional e da Liga das Américas novamente.

A ausência de Fischer – e do sistema espaçado e criativo de Guerrinha – só interferiu em seu arremesso de três pontos. Alex não sobrou mais tão inconteste no perímetro, e seu percentual caiu de 40,8% para 31,2%, que é basicamente o normal para ele. Esse chute pode fazer falta.

Veja suas estatísticas pelo mundo Fiba e pelo NBB

Marquinhos
Ala, 32 anos
Clube: Flamengo
Torneios: Olimpíadas 2012; Copa do Mundo 2010, 14; Copa América 2007, 11 e 15; Pan 2007.

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MVP de um NBB em ano em que a concorrência foi forte, livre de lesões, habituado a ser campeão pelo Flamengo, liderando a equipe em quadra… Por mais que Magnano não dê tanta abertura assim a atletas do campeonato brasileiro, acho que não há muita dúvida que, em termos de protagonismo e momento técnico, o ala se apresenta na melhor forma.

O veterano é hoje a melhor opção de criação brasileira, com opção tanto para finalizar como servir aos companheiros, sem egoísmo. É um ala alto e habilidoso, cujos fundamentos se impõem até mesmo em nível internacional. Se quisesse, Marquinhos poderia estar frequentando as grandes ligas europeias há anos. Mas fez suas escolhas, optando pelo conforto do lar, e talvez seja subestimado por isso.

Em momentos de aperto, vai aceitar assumir maior parcela de responsabilidade? É a hora para tal, em comparação aos últimos dois torneios, pelos quais invariavelmente deu um passo atrás, deixando as decisões para seus companheiros mais prestigiados. De todo modo, essa não é uma pregação para que o time seja de Marquinhos. A seleção só vai a algum lugar realmente se jogar bem coletivamente, assim como aconteceu em alguns momentos da Copa do Mundo, especialmente a partir da defesa. Na hora do aperto, porém, que o flamenguista pode ser mais bem explorado.

Veja suas estatísticas pelo mundo Fiba e pelo NBB

Guilherme Giovannoni
Ala-pivô, 36 anos
Clube: Brasília
Torneios: Olimpíadas 2012; Copa do Mundo 2002, 06, 10, 14; Copa América 2003, 05, 07, 09, 11, 13, 15; Pan 2003, 11.

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É uma pergunta que se escuta muito por aí: Guilherme ainda é jogador de seleção brasileira? Aos 36 anos, a resposta segue a mesma: sim.

Havia outros concorrentes para a posição, como Rafael Mineiro e Olivinha. Cada um deles poderia ser bastante valioso por características singulares: Mineiro é um excelente defensor em sua posição, com agilidade nos pés e verticalidade, enquanto Olivinha é o guerreiro que a torcida rubro-negro venera, daqueles que não desiste da bola nunca, botando em prática também sua inteligência para ajudar nesse tipo de empreitada.

Mas Giovannoni concede ao grupo uma habilidade que, como vimos até aqui, está em falta: arremesso. Algo, digamos, importante num jogo de basquete, certo? Chutadores nunca são demais. E o experiente ala-pivô converte 40,3% em sua carreira no NBB, chegando aos 42,9% na última temporada, assessorado pela dupla Fúlvio-Deryk.

Agora, não é que ele se reduza a isso. Acho curioso como o empenho de Olivinha pelos rebotes é justamente elogiado, mesmo com suas limitações atléticas, enquanto Giovannoni ainda segue dando duro nas duas tabelas e seja visto só como um gatilho. No basquete nacional, ao lado de Alex e Marquinhos, ele vem sendo um dos jogadores mais consistentemente produtivos.

Veja suas estatísticas pelo mundo Fiba e pelo NBB

Rafael Hettsheimeir
Pivô, 30 anos
Clube: Bauru
Torneios: Copa do Mundo 2014; Copa América 2005, 11, 13; Pan 2015; Sul-Americano 2014.

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A efetividade de Hettsheimeir hoje em jogos de alto nível está diretamente ligada à sua eficácia nos disparos de longa distância. O pivô até pode pontuar mais próximo da cesta com seu gancho de direita, mas, na atual configuração da seleção, este espaço estará ocupado.

Desde que passou a se dedicar ao fundamento com mais ênfase na Espanha, os resultados têm sido inconsistentes a serviço da seleção. Só lembrar o que aconteceu em 2014, quando o grandalhão arrebentou em jogos amistosos, mas foi anulado durante a Copa do Mundo. Rafael precisa de um certo espaço para matar. Durante a campanha do Pan, com ótima movimentação de bola, seu rendimento foi de 46,2% em mais de 5 tentativas por partida. Excelente. Magna o obviamente conta com esse chute em seu plano tático.

O problema está do outro lado, quando o pivô, forte que só, pode ser desafiado por alas-pivôs muito mais ágeis e flexíveis – enquanto pelo Bauru e pela seleção pan-americana, lhe restaram alguns “cincões” (ou qualquer coisa perto disso no atual cenário da modalidade), nas imediações do garrafão, tarefa para a qual está mais bem equipado.

Veja suas estatísticas pelo mundo Fiba aqui e aqui e pelo NBB

Anderson Varejão
Pivô, 33 anos
Clube: Golden State Warriors
Torneios: Olimpíadas 2012; Copa do Mundo 2002, 06, 10, 14; Copa América 2003, 05, 09; Pan 2003.

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Varejão é, para mim, a grande incógnita desse grupo, devido ao tempo bastante limitado de quadra que teve durante a temporada. Se teve seus momentos positivos na série contra OKC, seu desempenho no geral, pontuado pela última partida, não foi dos melhores. Pelo Jogo 7 das finais contra o Cavs, o capixaba parecia disposto tão somente a tentar cavar faltas, sem que a arbitragem caísse na sua, causando impacto lamentavelmente negativo para seu time.

Será que, depois de tantas dificuldades físicas e de saúde que enfrentou nos últimos cinco anos, restaram somente as artimanhas para o cabeleira? Seu corpo quebrou? Ou o que vimos por Cleveland e Golden State é apenas fruto dos minutos reduzidos, causando certa ferrugem? É o que estamos prestes a descobrir nas próximas semanas. Se estiver em forma, ninguém duvida do que Anderson pode entregar a uma equipe: domínio dos rebotes, flexibilidade defensiva, arremesso de média distância, boa movimentação ofensiva e passes espertos e precisos.

Se o Cavas não hesitou em dispensá-lo durante o campeonato, ao menos o Warriors agora concordou em contratá-lo por mais um ano, n numa prova de confiança do técnico Steve Kerr. Ficamos no aguardo ansiosamente por uma resposta positiva, então.

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Augusto Lima
Pivô, 24 anos
Clube: Real Madrid
Torneios: Copa América 2011, 15; Pan 2015; Sul-Americano 2012, 14.

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Augusto estourou pela seleção no ano passado, com um perfil muito semelhante ao de Anderson Varejão em diversos quesitos, como agilidade, empenho e feeling para os rebotes. É um finalizador mais atlético perto do aro, mas não passa tão bem a bola. Fazendo as contas, temos um ótimo contribuinte para anos e anos – e já preparado para receber seus minutos olímpicos. Em termos de marcação contra o pick-and-roll, é provavelmente a melhor opção de Magnano.

Em termos de ritmo de jogo, porém, sua temporada também sofreu um certo acidente. De tão bem que atuou pelo Murcia nas últimas campanhas, foi contratado neste ano pelo Real Madrid, time que certamente poderia usar todas as suas ferramentas defensivas. Em meio a Felipes Reyes, Gustavos Ayóns e Andrés Nocionis, não foi tão utilizado.

Pior: no mercado, a superpotência espanhola ainda contratou mais dois homens de garrafão (Anthony Randolph e Othello Hunter), de modo que o destino do brasileiro parece ser um empréstimo. Isso não quer dizer necessariamente que ele tenha desagradado. Talvez só não tenha recebido uma devida chance. Com milhões de euros para investir, o Real faz disso. Acontece com a equipe de futebol direto. A vantagem de Augusto é a sua juventude para a retomada de um condicionamento ideal para encarar uma Olimpíada.

Confira um scout detalhado do pivô depois de sua participação decisiva na conquista do ouro pan-americano.

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Nenê
Pivô, 33 anos
Clube: Houston Rockets (saindo do Wizards)
Torneios: Olimpíadas 2012; Copa do Mundo 2014; Copa América 2003, 07; Pan 2003.

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Por diversos anos, os semiganchos de Tiago Splitter foram uma espécie de bola de segurança da seleção. Já suas tramas no pick-and-roll com Huertas eram um verdadeiro carro-chefe. Além de sua liderança e serenidade, seus recursos técnicos são uma referência em quadra. Pois, num ato cruel, quis o destino que o catarinense não jogasse o torneio olímpico em casa.

Entra em cena Nenê. O pivô injustamente vaiado pela torcida antes de amistoso contra Chicago no Rio de Janeiro e perseguido por figuras como Oscar. A reposta pode vir agora – não que ele precise provar nada para ninguém. Sua carreira na NBA não foi a de um All-Star, mas foi de imenso sucesso, recompensado por dezenas de milhões de dólares. Somente as fossem as desafortunadas lesões e sua abordagem por vezes altruísta ao extremo o desviam de uma aclamação crítica.

Seu físico acaba se tornando hoje um dos fatores vitais para as pretensões da seleção. O grandalhão tem todos múltiplos recursos acima da média (munheca, força, arranque, bloqueio, passe e mãos e pés ágeis) para desafiar a maioria de seus adversários de garrafão, passando por Luis Scola e Jonas Valanciunas.

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Jukebox NBA 2015-16: a maldição do pelicano
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Giancarlo Giampietro

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Em frente: a temporada da NBA caminha para o fim, e o blog passa da malfadada tentativa de fazer uma série de prévias para uma de panorama sobre as 30 franquias da liga, ainda  apelando a músicas, fingindo que está tudo bem. A gente se esbalda com o YouTube para botar em prática uma ideia pouco original, mas que pode ser divertida: misturar música e esporte, com uma canção servindo de trilha para cada clube. Tem hora em que apenas o título pode dizer algo. Há casos em que os assuntos parecem casar perfeitamente. A ver (e ouvir) no que dá. Não vai ter música de uma banda indie da Letônia, por mais que Kristaps Porzingis já mereça, mas também dificilmente vai rolar algo das paradas de sucesso atuais. Se é que essa parada existe ainda, com o perdão do linguajar e do trocadilho. Para mim, escrever escutando alguma coisa ao fundo costuma render um bocado. É o efeito completamente oposto ao da TV ligada. Então que essas diferentes vozes nos ajudem na empreitada, dando contribuição completamente inesperada ao contexto de uma equipe profissional de basquete:

A trilha: “Season of the Witch”, por Donovan

Você abre o HoopsHype numa manhã quente de princípio de (?) outono como outra qualquer e, depois do mais recente ba-fa-fá do Lakers, desce a barrinha e alcança aquilo que parece um boletim médico todo dedicado ao New Orleans Pelicans:

– Jrue Holiday foi diagnosticado com uma fratura de órbita ocular inferior. Ele vai perder o restante da temporada. A lesão ocorreu com 56s1 restando no quarto período da partida contra o New York Knicks.

– Alonzo Gee sofreu uma ruptura Ruptura completa do músculo reto femural  direito e vai perder o restante da temporada.

– Ryan Anderson foi diagnosticado com uma hérnia do atleta. Ele vai procurar uma segunda opinião de um especialista da Filadélfia ainda nesta semana. Detalhes adicionais serão anunciados de modo apropriado após a avaliação.

– Norris Cole está com um desconforto nas costas e vem sendo avaliado diariamente.

E aí? Já tomou seu remedinho hoje? É, ou não é de se contorcer todo na cadeira?

As ocorrências foram todas divulgadas num dos releases mais deprimentes da história. Isso depois de o técnico Alvin Gentry dar uma das entrevistas coletivas mais engraçadas (e desesperadas) da história da NBA, mesmo depois de um triunfo sobre o Knicks, em casa, por 99 a 91. Pudera: quando Holiday foi atingido por Kristaps Porzingis e teve de ser retirado de quadra, o treinador olhou para o banco de reservas e não soube o que fazer. “Queria colocar alguém capaz de levar a bola, e lá estavam Omer, Perkins e Alexis”, lembrou. “Não me senti confortável em usar nenhum deles para essa função”, completou. “É assustador.”

O sarcasmo parece ser a única escapatória para Gentry. Imagine a cabeça do cara: seu ex-clube, o Warriors, flerta com a marca de 73 vitórias. Já o Pelicans está fora dos playoffs, com uma das campanhas mais decepcionantes da temporada, enfrentando uma urucubaca que parece não ter fim.

Davis, de volta ao banco. Podendo levar um grande prejuízo

Davis, de volta ao banco. Podendo levar um grande prejuízo

Lembremos que, além dos quatro desfalques acima, o time já não podia contar mais com seu craque, Anthony Davis, além do ala-armador Tyerke Evans e dos alas Quincy Pondexter, Eric Gordon e Bryce Dejean-Jones, o calouro que foi contratado da D-League justamente para preencher a lacuna na rotação de perímetro. Depois dessa atualização, até mesmo Dave Joerger, do Grizzlies, pode se sentir protegido por forças superiores.

“Vou mandar um boletim detalhado para todo mundo no French Quarter, ou em qualquer lugar. Precisamos de um médico de vudu, ou alguma coisa desse tipo aqui. Temos de encontrar os ossos enterrados debaixo desse ginásio. Temos de fazer algo, porque isso já virou até cômico”, disse Gentry. “No momento, todos os caras da D-League estão sentados olhando para seus telefones achando que a chance deles chegou.”

Para constar, o armador Tim Frazier (ex-Blazers) já teve seu contrato efetivado até o final da temporada, enquanto o ala Jordan Hamilton (ex-Nuggets) cumpre um contrato temporário de dez dias. Então pode ser que as vagas já estejam fechadas. Mas a piada de Genry foi muito boa para ser ignorada. “Não sei, acho que você tem de rir dessas coisas. Não sei mais o que podemos fazer. Agora temos mais de 100 pontos por jogo sentados lá fora. Se fizermos só sete pontos na próxima partida, apenas considere isso.”

Para ser mais preciso, somando as médias de todos os desfalques do Pelicans, o time está perdendo 109,2 pontos. Claro que o número de cada jogador seria diferente, se o time estivesse inteirinho do início ao fim, mas dá para ter uma ideia do tamanho do estrago. E do prejuízo também: em termos de salário, a enfermaria do Pelicas hoje está tratando de mais de US$ 60 milhões em investimentos (contando os holerites dos jogadores apenas desta temporada).

Show do Monocelha agora é o show do Tim Frazier. Só o torcedor do Blazers sabe o que isso quer dizer

Show do Monocelha agora é o show do Tim Frazier. Só o torcedor do Blazers sabe o que isso quer dizer

Agora, na hora de preparar seu time, Gentry vai ter de imaginar jogadas para Frazier e o andarilho Tony Douglas decidirem. Ou Hamilton, que sempre teve tino para pontuar, ainda que de forma irregular. Ou Luke Babbitt, que mal foi utilizado entre dezembro e janeiro e, de repente, nos últimos cinco jogos, tem média superior a 28 minutos por confronto. Se tiver uma propensão ao sadismo, também pode tentar jogadas de postup com Omer Asik e Kendrick Perkins.

Sim, esta foi uma temporada com a bruxa solta em New Orleans, para citarmos a canção de Donovan, o compositor escocês que começou rotulado como “folk”, mas arriscou de tudo um pouco. Entre tantas opções de canções impregnadas pelo ocultismo, seja com reverência ou com a zoeira, esta ao menos tem uma das letras mais, digamos, pueris. De desgraça o Pelicans já está farto.

De time emergente no Oeste, pensando em até mesmo ir longe nos playoffs, já estão fora da disputa e agora concentrados no próximo Draft, com 27 vitórias e 46 derrotas, com aproveitamento de 37%. Um baque daqueles para uma equipe que havia melhorado seu rendimento por quatro campanhas consecutivas, dos 31,8% de 2012 aos 54,9% do ano passado, quando conseguiu superar forte concorrência para chegar aos mata-matas pela primeira vez num mundo pós-Chris Paul.

Gentry, Monocelha e o vudu

Gentry, Monocelha e o vudu

Agora não tem jeito. É virar a página e ao menos se contentar com o fato de que terão mais uma escolha alta de Draft, ainda que num recrutamento considerado fraco para a maioria dos scouts da liga. Se acertarem o alvo, poderão adicionar um jogador jovem, talentoso e barato para tentar contra-atacar no próximo campeonato, provavelmente ainda sob o comando de Alvin Gentry, um cara de currículo irregular e bastante rodado na liga, mas que nunca viu nada parecido com isso.

O técnico vem sendo bastante criticado e, de fato, não esteve tão inspirado assim em seus ajustes, ainda mais se compararmos com o que Joerger conseguiu em Memphis, em circunstâncias semelhantes. Insistiu por muito tempo com Asik, sacrificando o ataque sem melhorar a defesa. Assim como Fred Hoiberg, insistiu com um sistema mesmo quando não tinha mais peças para fazer a máquina andar ao seu modo. De qualquer forma, é injusto avaliar qualquer trabalho sob essas condições. Em vez de demitir um treinador pelo segundo ano consecutivo, o mais certo talvez fosse torcer por melhor sorte e saúde no training camp deste ano. Ou contratar logo uma benzedeira.

A pedida? A… sorte grande no próximo Draft. De repente Ben Simmons ou Brandon Ingram como parceiros do Monocelha?

A gestão: pois é. Aqui a coisa fica mais feia.

Que a sucessão de lesões tem a ver com azar, não há dúvida. Mas é inegável também que o gerente geral Dell Demps, mais um ano do Instituto Spursiano Popovich & Buford de basquete, contratou uma série de jogadores com histórico médico duvidoso para formar uma base em torno de Anthony Davis. Tyerke Evans e Ryan Anderson nunca foram reconhecidos como ironmen. Muito menos Eric Gordon, que poderia ter saído para o Phoenix Suns em 2012, mas teve seu contrato renovado, na marra.

(O armador Jrue Holiday parece ter se contagiado e também virou desfalque constante, depois de ter custado ao time duas escolhas de primeira rodada – que resultaram em Nerlens Noel e Dario Saric. Desde que chegou a N’awlins, ainda não conseguiu bater a marca de 70 partidas, sendo que as 65 desta temporada são um recorde.)

Loomis e Demps: quem manda? Quem fica?

Loomis e Demps: quem manda? Quem fica?

O que pode ser dito em defesa do gerente geral é que a franquia tem uma situação instável no andar de cima. Também proprietário do New Orleans Saints, Tom Benson, 88 anos, se envolveu em uma disputa judicial com sua família sobre o controle dos dois clubes. Pela idade avançada, Benson teria exercido forte pressão para que Demps apressasse o processo de reconstrução em torno do Monocelha, exigindo que o time voltasse aos playoffs o quanto antes.

Para isso, conta com os serviços do gestor Mickey Loomis, um cara que, de modo improvável, acumula as funções de vice-presidente executivo e gerente geral do Saints, assim como vice-presidente executivo do departamento de basquete do Pelicans. Sim, acreditem: a confiança de Benson em Loomis é tamanha que ele acredita ser possível supervisionar uma equipe de basquete e outra de futebol americano ao mesmo tempo. Existe nos bastidores da NBA, então, uma dúvida sobre quem estaria dando as cartas, mesmo. Em princípio, as negociações ainda são responsabilidade de Demps, incluindo a estranha demissão de Monty Williams no ano passado, depois de suposta disputa interna entre o cartola e o treinador.

A despeito dos caprichos de Benson, o tópico mais urgente para a franquia é deixar Anthony Davis satisfeito. A acidentada temporada do Pelicans pode custar ao ala-pivô uma grana considerável, algo em torno de US$ 24 milhões em bônus contratual. Com médias de 24,3 pontos, 10,3 rebotes, 2,0 tocos, 1,3 roubo e 1,9 assistência, é provável que o jovem astro conseguisse uma vaguinha na eleição dos três quintetos ideais da liga (All-NBA) nesta temporada. A péssima campanha da equipe, porém, pode tirá-lo do páreo.

Publicamente, ao menos, Davis vem dizendo todas as coisas certas. Que seria egoísta da parte dele seguir jogando, mesmo com o ombro e o joelho comprometidos, para tentar buscar essa premiação. “Ainda é muito dinheiro o que vou receber: US$ 125 milhões. Mas não há nada que se possa fazer a respeito. É um contrato, não tenho controle sobre isso. Você só controla aquilo que pode, que é o que acontece em quadra”, afirmou o ala-pivô, que vai ficar fora de quadra por três a quatro meses, ficando fora também do #Rio2016.

Por outro lado, para se ter em conta: Davis já perdeu 68 partidas em suas primeiras quatro temporadas. Quase um campeonato inteiro.

Olho nele: Alexis Ajinça

No ano passado, Ajinça marcou 24 pontos em vitória em Toronto, sem Monocelha

No ano passado, todo espichado, Ajinça fez 24 pontos em vitória em Toronto, sem Monocelha

Não, não estamos falando de um craque. Mas, sem Anthony Davis e Ryan Anderson, alguém que sobrou na linha de frente do time precisa pontuar, certo? E não dá para esperar que esses pontos venham de Asik e Perk. Entra em cena o espigão, que, perto da dupla, parece um superatleta até. Isso passou, de certa forma, despercebido, mas o pivô fez um bom campeonato em 2014-15, confirmando seu potencial, merecendo uma extensão contratual de US$ 20 milhões por quatro anos. O negócio só merece críticas quando somado ao de Omer Asik. Não havia por que gastar tanto nos dois, e o preço do francês saiu muito mais em conta.

Seu momento mais produtivo aconteceu num período em que Davis estava fora de combate, entre fevereiro e março. Em seis partidas, teve médias de 13,8 pontos, 8,3 rebotes e 1,5 toco, em 23 minutos. Agora tem nova oportunidade para mostrar que tem jogo, desde que maneire nas faltas – em sua carreira, comete 6,3 faltas numa projeção por 36 minutos. Quer dizer, não conseguiria completar uma partida sem ser excluído. A questão é saber se Tim Frazier e Toney Douglas conseguirão acioná-lo de modo apropriado.

marquinhos-new-orleansUm card do passado: Marquinhos. Olha ele aí! Já faz tanto tempo, que corremos o risco de nos esquecer que, dez anos atrás, o ala dava sequência à trilha de jogadores brasileiros no Draft, inaugurada por Nenê em 2002. Inserido nos registros históricos da liga como “Marcus Vinícius”, ele  ficou uma temporada e meia no clube, após ser selecionado na 43ª colocação do recrutamento de novatos.

É interessante relembrar a curta passagem de Marquinhos por lá por dois motivos. Primeiro que até hoje o clube o acompanha de alguma forma.  Depois de sua ótima participação na Copa de 2014, fez sondagens para uma possível repatriação. Um ala alto com chute e versatilidade é do que se tem mais de cobiçado na NBA. Mas é improvável que uma proposta seja formalizada.

O segundo item que chama a atenção aqui é o nome do time gravado no card: NO/OK Hornets. Como consequência do devastador furacão Katrina, a franquia se viu obrigada a dividir suas operações com Oklahoma City, que a acolheu de modo caloroso. Foi um gesto que impressionou tanto o antigo comissário David Stern, aliás, que valeu como semente para o sequestro do Seattle Supersonics pela cidade, pouco depois.

A nomenclatura ficou ainda mais estranha quando o apelido Hornets foi devolvido a Charlotte, enquanto New Orleans adotou a atual alcunha. É uma confusão, do ponto de vista administrativo, digna dos primeiros anos instáveis da liga.


As primeiras impressões sobre o Flamengo 2015-2016
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Giancarlo Giampietro

Marquinhos já está voando pelo Fla. Nova configuração do time exige isso

Marquinhos já se candidata a MVP pelo Fla. Nova configuração do time exige isso

Algumas notas com base do que vi dos jogos contra o Orlando Magic e Bauru. Vamos lá:

Quem já está acelerando, voando em quadra? Marquinhos. Entre o basquete que pôde apresentar pela seleção pela Copa América e o que já ofereceu nesta segunda em Bauru, são dois mundos completamente diferentes. Descendo a ladeira da Panela (veja só as frases absurdas que alguém pode construir…), o veterano ala lembrou novamente a força que pode ser em quadras nacionais.

Contra Bauru, mesmo que seu aproveitamento de quadra não tenha sido o mais eficiente, com 17 pontos em 16 arremessos (2/7 de três), a notícia que fica é a volta de seu arranque com a bola, batendo até mesmo os armadores que tentavam cercá-lo. A defesa bauruense, em geral, só conseguiu pará-lo com faltas (foram cinco recebidas). Também deu oito passes para a cesta e apanhou sete rebotes. Acreditem: nos grandes jogos, a atual configuração do Flamengo vai precisar dessa agressividade e desse tipo de rendimento.

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Ao blog, o ala disse que durante as férias fez um trabalho específico com personal trainer e ganhou mais massa muscular, com a ideia de chegar na melhor forma na reta final da competição. Que será a hora de brigar por troféus e, além disso, principalmente, se apresentar a Magnano tinindo.

*    *    *

José Neto não quis dizer que sim, nem que não após a derrota para o Bauru. Na verdade, o técnico não estava com cara de quem topava discutir muita coisa com nenhum jornalista na segunda-feira, apelando a respostas cada vez mais evasivas, seja por esconder o jogo, para preservar seus atletas ou por entender que o interlocutor não está preparado para assimilar sua carga tática. Vai saber.

Então, diante de um silêncio efetivo, nos resta fazer deduções, que já vêm desde o fechamento do elenco rubro-negro para a temporada 2015-2016. Ainda que o comandante seja o mesmo, o time tende a mudar bastante.

O treinador rubro-negro talvez tenha de rever conceitos neste ano

O treinador rubro-negro talvez tenha de rever conceitos neste ano

É claro que eles ainda vão pontuar em transição. As cestas no contragolpe são em geral aquelas mais visadas, mais fáceis, depois dos lances livres.  Mas suas peças novas sugerem que essas escapadas serão mais esporádicas e só na boa, na certa, especialmente contra adversários mais qualificados.

A saída de Laprovíttola, Benite, Felício e até mesmo de Herrmann (versão ala-pivô) resultou numa grande perda de velocidade e arrojo. Dos quatro novos protagonistas, apenas Rafael Mineiro tem velocidade e/ou predisposição para correr quadra inteira e atacar. Rafael Luz, jovem, obviamente também daria conta, mas sua vocação é para um jogo mais controlado, pelo que pudemos ver em seus jogos pelo Obradoiro e pela seleção brasileira pan-americana. Também oriundo do basquete espanhol, Jason Robinson, por ora, está no mesmo ritmo. Sobre João Paulo Batista, nem precisamos nos estender.

>> Alguém pode impedir uma final entre Bauru e Flamengo?

Sobraria, então, para Marquinhos ser esse propulsor. Agora: se correr é uma forma de evitar o choque físico, gera tanto ou mais desgaste, e não sei bem se você vai querer sobrecarregar seu melhor jogador, por mais que ele se apresente em excelente forma e que a preparação física do flamenguista seja a melhor do país.

De volta ao país após mais de 10 anos, JP vai chamar constantes marcações duplas

De volta ao país após mais de 10 anos, JP vai chamar constantes marcações duplas

Se o Flamengo não vai correr tanto, precisa compensar na execução de meia quadra, com um basquete mais bem engendrado e de imposição técnica e física. E eles têm jogadores inteligentes e talentosos para tanto. Cabeça por cabeça, talvez seja o coletivo de maior QI do NBB.

O jogo interior tem tudo para ser o mais poderoso do liga, e de longe. JP é um dos cestinhas mais eficientes e oportunistas da liga, podendo render tanto com o chute de média distância como de costas para a cesta em isolamento, bem como em deslocamentos sorrateiros a partir do corta-luz. Rafael Mineiro é elástico e ágil demais para alguém de sua estatura e, se ganhar a confiança da comissão técnica e dos companheiros, pode render em diversos pontos de ataque. Meyinsse ainda é uma dor-de-cabeça (e de costelas, baço, rim e tudo o mais) perto da cesta, enquanto Olivinha vai trazer a energia e o faro de bola de sempre. Ao redor deles, Marquinhos, Robinson e Marcelinho vão arremessar de três pontos com prazer. É de se esperar que Mineiro e Olivinha também subam para chutar.

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Rafael Luz vai botar esses caras para jogar. Para lidar com o armador, é preciso entender as diferenças entre seu jogo e toda a criatividade de Laprovíttola. O novo armador não vai entrar em quadra pensando em marcar 20, 15 ou mesmo dez pontos. Mas talvez termine com sete assistências, seis rebotes e quatro roubos de bola. Poderia olhar mais para a cesta, certamente. Houve um lance no segundo tempo contra Bauru em que ele pegou o rebote ofensivo a dois passos do garrafão, pela direita, no fundo da quadra, e, se o pensamento de arremessar passou por sua cabeça, foi bem rápido, pois ele virou a cabeça automaticamente para a direção contrária e fez o passe para fora. O técnico Neto, figura sempre agitada ao lado da quadra, não conseguiu esconder sua frustração com o lance. O mesmo aconteceu quando Rafael errou um passe bobo para um desatento Marquinhos a 3min52s do fim, resultando em turnover e sua quarta falta, para cima de Fischer, brecando o contra-ataque, quando a partida pegava fogo (foi uma das tantas chances de empate que o Flamengo desperdiçou no quarto período, diga-se).

Parece sem confiança na hora de finalizar, no momento. Mas há muito o que ele pode oferecer a um time com sua pegada defensiva (é um armador alto, forte e combativo) e senso de organização. Um passe pode fazer mais bem que o arremesso. Quanto mais entrosado estiver com os novos companheiros, mais influência positiva ele vai exercer sobre eles. Só é preciso um pouco de paciência e que se evite comparações entre jogadores completamente diferentes.

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Sósia de Iguodala, Robinson é um veterano de 35 anos reforçando o Flamengo

Sósia de Iguodala, Robinson é um veterano de 35 anos reforçando o Flamengo

Jason Robinson é uma incógnita.O americano tem 35 anos e, em 2013, chegou a pensar em se aposentar. Quanto estendeu a carreira, viveu talvez sua melhor temporada em 2013-2014, pelo San Sebastián, sendo o segundo principal cestinha da Liga ACB. Isso não é para qualquer um, mas foi um tanto bizarro para um jogador que por grande parte de sua trajetória frequentou as divisões menores da Espanha ou até mesmo de Portugal. Pelo Zaragoza, no ano passado, seu rendimento já não foi mais o mesmo. Ainda assim, é um cara experiente, rodado para compor a rotação flamenguista no perímetro. Mas também alguém beeeeeeem diferente de Vitor Benite.

Está claro que o jogo de transição não é para ele. No segundo tempo, durante a reação flamenguista, ele abriu mão de várias chances de contra-ataque, preferindo ir com calma. Está muito cedo para avaliar o ala. Em um primeiro momento, parece um atleta complementar, que sabe fazer um pouco de tudo no ataque e está respeitando e conhecendo os companheiros, enquanto assimila aquilo que o cerca. Na defesa, fez um bom papel contra Alex nas ocasiões em que estiveram duelando.

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É por isso que não estranharia se, no decorrer da temporada, o mundo desse mais uma volta, e Marcelinho Machado, aos 40 anos, se torne uma peça fundamental para o Fla mais uma vez, como um parceiro de Marquinhos na agressão e criação de jogadas.

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Mineiro causa impacto na defesa com sua mobilidade

Mineiro causa impacto na defesa com sua mobilidade

Rafael Mineiro saiu de reforço do Mundial para inimigo público em Bauru, sendo o jogador mais *homenageado* pela torcida legal. Claro que, na esportiva, dá para entender, já que ele saiu de um clube para o outro. A verdade é que o pivô flamenguista passou por uma sequência de trocas de camisa que dificilmente vai ser replicada por algum jogador brasileiro. Vejamos: em agosto, ele estava a serviço da seleção. Quando voltou do México para casa, defendeu o Limeira brevemente pelo Paulista, até o time ser eliminado e o clube anunciar que estava fora da temporada, mesmo. Aí ele encontrou no Bauru um lar temporário, reforçando a rotação interior que trombaria com astros de Real Madrid, New York Knicks e Washington Wizards. Foram duas semaninhas de treino, jogos e viagens até que, por fim, assinasse com o Fla. Pura loucura. Mas é um jogador de fácil encaixe, devido a sua versatilidade e habilidade defensiva.


O Pan não vale? Fadiga? Questão sobre Magnano? Entendendo o vexame
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Giancarlo Giampietro

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Segundo o pai de todos, antes de “vergonha”, vexame significa “aquilo que vexa“. Vexar, seria “afligir, atormentar, molestar, oprimir“. No caso da segunda eliminação seguida do Brasil ainda pela primeira fase de uma Copa América, essa hierarquia faz muito sentido, ainda que no jargão esportivo a segunda acepção seja a usual.

Acredito que os profissionais envolvidos com a pífia campanha na Cidade do México, dentro e fora de quadra, estejam realmente mais atordoados do que envergonhados depois de somarem três derrotas em quatro jogos — “vergonha” é um termo muito forte, mas dá para sentir que, do ponto de vista do público, foi o sentimento que ficou, de todo modo. Com direito a uma assustadora surra panamenha nesta sexta-feira que pôs fim a uma longa temporada da seleção que começou tão bem em Toronto e termina de modo aflitivo, atormentador, molestador e, também, opressor.

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Eram dez times inscritos, divididos em dois grupos, e apenas dois em cada chave ficariam fora da segunda etapa. O cenário se repetiu. Em 2013, a equipe dirigida por Rubén Magnano caiu acompanhada pelo Paraguai. Agora, fez par com Cuba. E aqui precisamos ser justos com os cubanos: eles caíram numa chave mais complicada com a nossa, com três candidatos sérios à vaga olímpica: Canadá, o grande favorito, Argentina, com Scola, Nocioni e uma rapaziada pilhada que faz o time correr como nunca, e Porto Rico, bastante mambembe depois de mais um show de desorganização nos bastidores, vitimando um técnico do porte de Rick Pitino, mas que ainda tem Barea e Balkman, dois dos melhores atletas da competição. Além da Venezuela, que, mesmo sem Greivis Vasquez, vem se mostrando muito competitiva num trabalho louvável de outro técnico argentino, Nestor Garcia.

Num cenário desses, é fácil lançar a caça às bruxas, até por conta da reincidência. Mesmo que já tenha acontecido em Caracas, não deixou de ser uma surpresa lastimável o péssimo desempenho coletivo na capital mexicana, especialmente depois do basquete de primeiro nível praticado em Toronto. Aqui não tem como aliviar: em nenhuma de suas quatro partidas, a equipe conseguiu acertar mais de 40% de seus arremessos de quadra (35% contra o Uruguai, 39% na única vitória sobre a República Dominicana, 35% contra o México e 33% contra o Panamá. Sinceramente, não há como relativizar estes números. O que acabe é tentar entender o que aconteceu. Seja para os que estão aqui, assistindo, como, principalmente, para os que estão do lado de lá, participando.

Brasil x Panamá, Copa América

Na volta da Venezuela, dois anos atrás, dois assuntos predominaram: um mal-estar (físico), provocado por virose, que teria abalado mais de meio time. Ainda é um mistério para mim porque diabos, na ocasião, a confederação, a comissão técnica, ou os jogadores não foram mais incisivos ao bater nessa tecla. Talvez achassem que fosse pegar como mera desculpa, depois da queda. Antes, obviamente que não se podia abrir o jogo, para não avisar o oponente. Mas o simples fato de não terem falado mais a respeito acaba minando um pouco a seriedade do episódio. Além do mais, antes que a virose virasse assunto, a metralhadora giratória de Rubén Magnano acabou roubando e destroçando a cena.

Vamos ver o que o argentino tem a dizer dessa vez. De 2012 para cá, entre campanhas sólidas nos últimos Mundiais e em Londres 2012, mas longe de medalhas, a seleção penou para valer no campo continental, com apenas uma mísera derrota em oito jogos. Em nenhuma dessas campanhas, o time contou com força máxima. Daí a dedução mais óbvia é a de que, sem a cavalaria da NBA, não dá pé. Aqui, do meu canto, não compro essa tese. “É o que temos, é o o nível do basquete brasileiro etc.”. Não acredito que os 12 atletas levados por Magnano ao México não fossem capazes de, juntos, acertar 40% de seus arremessos ou que não pudessem impedir uma média superior a 15 rebotes ofensivos a garrafões que não incluem a elite do basquete mundial, Gustavo Ayón à parte.

Posto isso, segue, então, alguns palpites sobre o que pode ter acontecido, com base no que vimos em quadra e em conversas com pessoas próximas ao grupo, levando em conta o que já ouvi também de carnavais passados:

O que significava a Copa América?
A despeito da semana de pesadelo em quadra, a memória coletiva do basquete brasileiro não pode se esquecer do episódio que antecedeu a participação no torneio. Até um mês atrás, a trinca Rubén Magnano, Vanderlei e Carlos Nunes simplesmente não sabia se a sequer disputaria a Copa América — quanto mais se precisaria lutar pela vaga olímpica. As reuniões em que o pires foi passado e o acordo, costurado davam todos os indícios de que a pendenga havia sido resolvida. Mas, enquanto o conselho da Fiba não votasse o tema em Tóquio, não dava para ter certeza absoluta de nada. A CBB, afinal, a entidade que deve até as cuecas na praça, não havia quitado sua dívida. Só havia sinalizado com um compromisso de que não daria calote, com o respaldo bem mais confiável de seus dois patrocinadores.

O trabalho de Magnano foi horroroso durante a semana, mas, em sua defesa, é inegável que a impossibilidade de se fazer um planejamento já minava o técnico. A não ser que ele já tivesse garantias, nos bastidores, de que o torneio serviria como a chance de testar alguns atletas, mais alternativas dentro de seu sistema de jogo e, sem pressão, de repente, a tentativa de uma segunda conquista, que encheria a seleção de moral rumo ao Rio 2016.

magnano-brasil-tecnico-basquete

Fadiga
O núcleo desta seleção brasileira se apresentou em São Paulo para iniciar os trabalhos em 14 de junho. Foram, então, de dois meses e meio a três meses juntos. Pensando de modo isolado, não é muito tempo. Levando em conta que alguns deles mal puderam descansar ao final da temporada 2014-2015, esse período ganha outro significado.  Com um agravante: o jogo na altitude da Cidade do México, que pede até mesmo o auxílio de balões de oxigênio. E aí, novamente, o drama pela vaga olímpica atrapalha. Se houvesse, em junho, um caminho já definido, talvez o Brasil pudesse ir ao México realmente com um grupo de garotos, formar dois grupos separados, assim como fez a maioria das seleções que estão na segunda fase da Copa América. Perder por perder, apanhar por apanhar, ao menos dava rodagem aos caras que vão carregar o bastão no próximo ciclo olímpico.

E aí, amigos, entro num tema espinhoso, que, em termos jornalísticos, valeria o “lead”. É uma informação que tem circulado há um tempão por trás das cortinas e que, com o microfone ligado, as câmeras acesas, ninguém vai confirmar. Pelo menos não até que seja disputado o torneio olímpico. Mas, se for para falar de cansaço, chega a hora de compartilhá-la: dez, 11 semanas de treino com Magnano podem ser mais desgastantes que o normal, tanto do ponto de vista de condicionamento como do mental. Sim, do mental.

O técnico é daqueles que não tira o pé em nenhum momento, exigindo intensidade máxima o tempo todo. O tem-po to-do, enfatizando. O resultado disso é positivo em diversas maneiras, como se vê obviamente na defesa. Essa abordagem, porém, levanta questões a longo prazo: o quanto ela é efetiva se os jogadores estiverem de saco cheio? Não exatamente pela falta de fôlego, mas pela pressão, pela cobrança constante.

magnano-brasil-uruguai

Já ouvi muitas fontes, de origens e filiações distintas, mas sempre bem próximas aos atletas, corroborar essa história: por mais que respeitem, não é que os principais jogadores da seleção morram de amores pelo técnico. Não existe confiança plena da parte deles com o argentino, e esse pé atrás tem muito a ver com o comportamento do comandante. Estão cansados do discurso de que “nós vencemos”, “eles perderam”. Aí você as declarações de 2013, com um enxame de marimbondos cuspidos, e a situação ser agrava.

Para deixar claro: não sei se aconteceu com o atual grupo, depois do ótimo Pan-Americano (início de trabalho).

E não é que essa indisposição dos medalhões chegue a um nível em que estejam tentando ou já tenham tentado derrubar o treinador. Não foi por conta disso que perderam para a Argentina em 2010 e 2012 e para a Sérvia no ano passado. Mas dá para se dizer que a relação entre ambos poderia ser muito mais saudável, amigável. E, aos amigos comentaristas anônimos, que adoram ler o que não está escrito: essa é a informação que vem de gente próxima dos atletas, e não minha opinião. Não estou dando razão a ninguém ao reportar isso. Não estou defendendo a queda de Magnano, advogando a favor da “classe brasileira”. Por outro lado, seu currículo e o ouro no Pan não podem blindá-los contra tudo e todos, certo? Não dá para usar dois pesos e duas medidas.

A convocação
Não dá para discutir o grupo formado para a Copa América sem levar em conta o tópico acima. Se for para bancar o detetive, no momento em que o treinador convocou Marquinhos e, na sequência, Guilherme Giovannoni, a impressão é de que Magnano não tinha certeza de nada sobre suas obrigações para a competição. Daí a opção por dois veteranos com os quais trabalhou constantemente nos últimos anos. Seriam duas apólices de seguro para ele, para o caso de o bicho pegar na busca por uma vaga olímpica. Isso e mais isto: levou para a Cidade do México uma equipe que, em sua cabeça, iria competir para valer no torneio. Do contrário, faria muito mais sentido escalar Danilo Siqueira e um Lucas Mariano, ou qualquer outro jogador mais jovem do NBB para se ganhar cancha*. De resto, pode-se discutir um ou outro nome, mas o grupo listado era basicamente aquele seria reunido pela maioria dos técnicos, levando em conta a ausência de Splitter, Varejão & Cia. Dez desses caras haviam acabado de ganhar o Pan jogando muita bola. Essa discussão vai longe e pede outro texto, pois este aqui já vai ficar longo o bastante.

(*Sobre a dupla do Raptors: 1) precisaria ver o que o clube sentiria a respeito: por os dois jogadores em quadra neste cenário talvez ajudasse muito em seu desenvolvimento; por outro lado, a diretoria tem se mostrado bastante superprotetora quanto à dupla e talvez preferisse trabalhar com eles em casa. Mas aí você ouve falar que Caboclo andou por São Paulo por esses dias, então fica em dúvida. 2) Planos do Raptors à parte, não sei bem qual recado, exemplo seria dado ao se convocar dois atletas que mal jogaram durante a temporada e que, ainda por cima, deram trabalho nos bastidores.)

seleção brasileira campeã do Pan de Toronto

O Pan
Sim, o nível de competição era inferior ao que estamos assistindo na Copa América, no geral. Agora, no que diz respeito aos jogos da seleção brasileira, a concorrência não foi tão inferior assim. Cuidado com a generalização e a orelhada. Vamos lá:

– Na Cidade do México, o Brasil enfrentou Scola e Nocioni? Barea e Balkman? Wiggins, Olynyk, Joseph? Não. Mas enfrentou, por exemplo, um Francisco Garcia, dominicano totalmente fora de forma, que não esteve nos Jogos de Toronto, aliás, e cujo time foi o que mais deu trabalho aos eventuais campeões, na semifinal. Em termos práticos, no Grupo A, só o México, devido à presença de Ayón e Jorge Gutiérrez, se apresentou com um elenco claramente superior.

Ou o Uruguai, com sua população inferior à de Salvador, agora virou uma superpotência, a ponto de ser temido mesmo quando não escala Esteban Batista, Jayson Granger e Leandro Garcia Morales? E o que dizer do Panamá, que faz uma turnê de despedida para Michael Hicks, Jaime Lloreda, Rubén Garces (41 anos!!!) e, talvez, nosso pequenino e velho amigo Joel Muñoz? No papel, são times mais fortes que os Estados Unidos de Bobby Brown, Keith Langford, Anthony Randolph, Damien Wilkins, Ryan Hollins e uma série de futuros profissionais de ponta? Ou mais fortes que o núcleo composto por Anthony Bennett, Andrew Nicholson, Carl English, Brady Heslip, Jamal Murray, Melvim Ejim e Aaron Doornekamp? Não creio.

Anthony Bennett, Canadá, Pan Am

(Aliás, um parêntese: não quero menosprezar aqui uruguaios e panamenhos. Dizer que eles não estão na elite da modalidade não significa que eles sejam “lixos” de equipes, para empregar o vocábulo que é muito provavelmente mais utilizado pelo irado comentarista online brasileiro. Peguem Hicks como exemplo. Hoje com 39 anos, o ala fez uma bela carreira na Europa, jogando na Itália por dez temporadas. Em competições Fiba, tem média superior a 17 pontos por partida. Lloreda e Garces deram trabalho e causaram hematomas em muita gente nos últimos 10, 15 anos. Esses caras não são galinhas mortas. Mesmo envelhecidos, deram uma surra em todos os sentidos numa fragilizada equipe.)

Sabe em qual aspecto os uruguaios e os panamenhos foram melhores que o Canadá ou os Estados Unidos? Como equipe, como unidades coletivas, vindo de preparação mais extensa voltada exclusivamente à Copa América, enquanto os norte-americanos formaram seus grupos do Pan em cima da hora. A seleção brasileira, por outro lado, regrediu.

Tá, mas e aí? O que diabos aconteceu?
Pelo que ouvi entre sexta-feira e este sábado, não há teoria da conspiração que se encaixe aqui. O clima entre os atletas esteve bom do início ao fim. Não houve motim contra Carlos Nunes, gripe suína, interferência externa, nem nada fora do normal além de questões dentro de quadra.

A seleção em quadra
Do grupo pan-americano, dois jogadores saíram: Rafael Hettsheimeir e Larry. Já escrevi aqui após a derrota para o Uruguai (a segunda consecutiva em Copas Américas). A troca por Giovannoni e Marquinhos gerou desequilíbrio. São atletas  de perfil muito diferentes, tanto do ponto de vista técnico como do físico, sem contar que estavam vindo de férias e foram inseridos num time que estava montado. Não quer dizer que os dois que saíram sejam superiores aos dois que chegaram. Acontece que, entre uma habilidade perdida e outra somada, a rotação se descarrilou.

Sem Larry, Magnano perdeu uma alternativa de dupla armação, levando em conta os recursos defensivos que o norte-americano, mesmo já um ou dois passos mais lento, pode oferecer. Para piorar, o jovem Deryk ficou no grupo final, mas foi retirado da rotação, enquanto Rafael Luz voltou de uma contusão que o tirou de quadra da Copa Tuto Marchand.

Panamá x Brasil, Copa América, basquete

A baixa maior, porém, foi a de Hettsheimeir, que hoje representa um fator tático claramente importante para o ataque de Magnano. Historicamente, Guilherme é um chutador mais temido, mas Rafael vem trabalhando exaustivamente no fundamento e teve aproveitamento superior no último NBB. Em competições internacionais, desconfio também de que hoje chame mais a atenção das defesas adversárias. De qualquer forma, fico me perguntando se, num ataque devagar-quase-parando desses, a presença do pivô no perímetro faria alguma diferença, uma vez que os oponentes mais atentos adiantaram suas defesas e contestaram para valer os arremessos brasileiros. De longa distância, o aproveitamento foi de apenas 22,1% na Copa América, uma calamidade. Haveria espaço para ele chutar?

Mas no que o pivô faz mais falta? Por conta de seu perfil singular. Se hoje se caracteriza como um chutador no ataque, na defesa tem porte físico para aguentar o tranco. Não é nenhum Roy Hibbert, não tem verticalidade e mal protege o aro, mas ocupa espaço no garrafão e é pelo menos mais alto que João Paulo. Contra os massudos panamenhos certamente teria feito diferença, ajudando um sobrecarregado Augusto Lima.

Por outro lado, Marquinhos e Giovannoni não conseguiram atingir seu melhor nível na Cidade do México. Para os veteranos, demora um pouco mais para chegar ao ápice físico, e os dois estavam visivelmente fora de ritmo, vindo de férias. Mas por que os velhacos panamenhos estavam se impondo fisicamente e como é possível que Luis Scola dê uma aula na molecada canadense, sendo da mesma idade de Guilherme? Bem, eles começaram a treinar para o torneio bem antes.

Marquinhos, Copa América, Brasil x República Dominicana

São apenas dois jogadores? Sim, mas dois que teriam papel importante para Magnano, com bons minutos em quadra e cuja presença em quadra não foi bem administrada. Em meio às constantes trocas que levam o Wlamir à loucura, o treinador se perdeu em suas rotações. No jogo derradeiro contra os panamenhos, nem mesmo quando mandou contra os panamenhos para a quadra uma formação mais “ofensiva” o time conseguiu render, enquanto a defesa sofreu. Os problemas que via em quadra não eram contornados. Esse, aliás, parece um ponto no qual o argentino campeão olímpica fica aquém: os ajustes durante as partidas. Qual foi último jogo que a seleção conseguiu virar quando estava atrás do placar por muito? Sinceramente, não lembro. A impressão é de que, quando desandam as coisas, não tem volta.

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Aqui, realmente parece que há uma divergência na hora de assimilar o que aconteceu na Copa América: que os problemas sejam estruturais, de formação dos jogadores, e não há santo de casa que dê um jeito nisso, ou que Magnano, mais uma vez, não conseguiu tirar o melhor que podia de seus atletas? Minha colher: mesmo que se aceite que o time seja limitado, não é função do treinador elevar o seu jogo? O grupo brasileiro não era o mais forte, mas jogou o máximo que podia. Na verdade, não creio que tenha jogado nem perto de seu potencial pleno.

Custo
Se não dá para esquecer toda a novela que foi a confirmação da seleção nas Olimpíadas, expondo a CBB ao ridículo no noticiário internacional, também há outra conta que não pode faltar nunca ao se avaliar os resultados obtidos: os R$ 7 milhões que o ministério do Esporte concordou em pagar para custear apenas para sustentar as operações da equipe brasileira masculina. Ou, pelo menos, é o que dizem, é o que consta no texto de descrição do convênio. Entre viagem para Brasília, Buenos Aires, San Juan, escala em Miami, e o desembarque na Cidade do México, delegação de 24 pessoas e tal, quanto custou esse fiasco na Copa América? Lembrando que, apenas para lavanderia, foram gastos R$ 149.760,00.


Brasil ‘iguala’ Cuba em novo revés. Mais: Marquinhos, Ayón e Gutiérrez
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Giancarlo Giampietro

Ayón, um craque quase, digamos, Scolístico para o México

Ayón, um craque quase, digamos, Scolístico para o México

O Brasil sofreu sua segunda derrota em três jogos pela Copa América, nesta quarta-feira. Perdeu para o México, num ginásio pegando fogo. Vou quebrar um pouco o padrão aqui até para não ser muito repetitivo. O placar meio que já diz tudo: 66 a 58. Pela segunda vez, então, a equipe de Rubén Magnano não conseguiu passar da casa dos 60 pontos.

Isso até quer dizer que podem estar enfrentando defesas fortes, combativas num torneio em que, para o resto do continente, estão valendo duas vagas olímpicas. Natural que ofereçam resistência. Mas… Aí a gente dá uma conferida na tabela completa da competição e faz umas contas. Sabe qual a outra equipe que teve duas partidas com ataque tão anêmico no torneio até aqui?

Cuba.

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Sim, Cuba, que até apresentou alguns talentos interessantes nesta semana (depois de um loooongo inverno), mas é o único time amador em quadra. Literalmente.

Foi uma pesquisa simples de se fazer. Não pediu muito tempo para checar dados de arremesso da zona morta, da cabeça do garrafão, cesta assistidas, média de turnovers por troca de passe etc. Então não é querer me vangloriar, nem nada. Mas acho que, fora o visual, fora o que temos visto nos últimos dias, não vai ter dado mais preocupante que esse. Que, num filtro ofensivo, estejam os brasileiros ao lado dos cubanos. Não rola.

Mineiro, aqui e ali, mostra lampejos de seu talento. É um jogador muito interessante, com diversas qualidades raras para alguém de sua estatura e que podem ser mais exploradas. Mortari sabe

Mineiro, aqui e ali, mostra lampejos de seu talento. É um jogador muito interessante, com diversas qualidades raras para alguém de sua estatura e que podem ser mais exploradas. Mortari sabe

A preocupação maior aqui é que as questões sobre o sistema ofensivo brasileiro vêm de longe (*). Contra a Sérvia, ao ser eliminada nas quartas de final da Copa do Mundo, a seleção, não por acaso, também ficou abaixo dos 60 pontos, terminando em 56. Entender por que isso acontece vai muito além de frases como “a bola não roda”, “o chute não caiu”, “já estão classificados”, “não estão com força máxima”, embora todas elas possam fazer parte da explicação. Como a promessa era de não se estender muito aqui, vamos divagar a respeito desse tópico ao final do torneio. Contra os mexicanos, o Brasil fez mais um jogo amarrado, controlado. Partindo para o trabalho de meia quadra pouquíssimo sucesso: 35% nos arremessos de quadra, mais turnovers (14) do que assistências (12), falha nos tiros de fora 4-13 (o volume reduzido, pelo menos).

(*PS: atualizando, de acordo com a observação pertinente “Hugo X” — só não entendo o anonimato obrigatório dos comentários, mas tudo bem. Vamos lá: vêm de longe os problemas, pensando na Copa América de 2013, a Copa do Mundo do ano passado. O Pan? Vai ser enquadrado na categoria de exceção, se a seleção se classificar para a próxima fase e mantiver o nível de jogo que temos visto aqui. E pode ser que eu simplesmente esteja errado quanto ao nível técnico da competição, que talvez este Brasil fosse muito superior àqueles rivais? Pode muito bem ser isso. Mas também começo a pensar se esse time não está simplesmente cansado. É um elenco mais jovem do que o principal, mas também não é um plantel sub-22. Alguns desses caras vararam a temporada, por assim dizer. Eles se reuniram no dia 14 de junho. Ao final do torneio, serão três meses de seleção. Um período muito mais longo que o normal de anos anteriores. Não há nunca uma só resposta para entender uma equipe de esporte, futebol, vôlei ou bocha. Como disse: vamos voltar a esses tópicos ao final do torneio. É preciso também conversar com os jogadores e treinadores para ver qual a opinião deles, uma vez que a cobertura brasileira na Cidade do México no momento é quase nula.)

Em termos pontuais, sem trocadilho, o que é necessário registrar é que Marquinhos dessa vez teve um volume de jogo bem menor. Partimos de um extremo em que ele estava usando quase 30% das posses de bola da equipe, segundo as contas sempre valiosas do MondoBasket, para outro: o ala flamenguista, que era o segundo cestinha da competição, arriscou apenas três arremessos em 26 minutos, marcou dois pontos e deu uma assistência. Resta saber se isso também foi algo programado, ou se o jogador estava muito preocupado em não parecer um fominha. A abordagem foi totalmente diferente, talvez por reflexo direto do que se passou nas duas primeiras rodadas. O jogo vinha sendo canalizado nele, mas não por uma tentativa de ato heroico da sua parte. Era simplesmente a consequência de um sistema que não funciona e que, por isso, apela ao seu atleta mais talentoso. Um jogador que tem visão de quadra, gosta de envolver seus companheiros e, num ataque mais fluido, pode render horrores.

Vitor Benite, por outro lado, conseguiu produzir, dessa vez conseguindo atacar a cesta, escapando dos bloqueios no perímetro, para marcar 23 pontos, tendo feito mais nos lances livres (10) do que em bolas de três (9). Outro dado chamativo, que quase tira o Everaldo do sério (imagine o Magnano, então…), diz respeito aos rebotes ofensivos. A proteção brasileira inexistiu, permitindo 17 coletas na tábua de ataque para os anfitriões. Comparando: foram 23 defensivos para os caras, enquanto a seleção nacional teve apenas 28 no total.

De resto, não há como não falar sobre o talento de Gustavo Ayón. Para quem acompanha o blog desde a encarnação passada, sabe que é um dos queridinhos desse espaço, ao lado de Andrés Nocioni e Andrei Kirilenko. De todo modo, pelo fato de não ter conseguido encontrar estabilidade na NBA, talvez ainda seja um cara desconhecido pelo público geral. Para os corajosos que se aventuraram na calada da noite para ver esta pelada, o cartão de visitas foi entregue. Pensando no mundo Fiba, o pivô mexicano talvez seja aquele que mais se aproxime de Luis Scola em termos de relevância para a sua seleção. Não estou comparando habilidades, que fique claro, até por serem dois caras que se complementariam muito bem. Foram 27 pontos e 13 rebotes para o cabrón, com impressionantes 12-19 nos arremessos de quadra (63%). Reparem em como ele se desloca dentro do perímetro, criando situações de cesta mesmo quando não está com a bola dominada. Isso é também um talento, e talvez mais difícil ainda de se ensinar, por estar diretamente ligado à visão de jogo. Craque, guiando o time às conquistas da Copa América e do CentroBasket.

Por fim, um destaque também para Jorge Gutiérrez, um jogador para o qual o selo NBA faz justiça. Fosse ele armador do Capitanes, do Peñarol ou do Trotamundos, e talvez não lhe dessem muito valor internacionalmente. Até por ser mexicano, um país que não tem tanta tradição assim na exportação de talentos de ponta. Gutiérrez é um belíssimo armador, grande em muitos sentidos. Alto, bem fundamentado e com explosão que pega as defesas desprevenidas. Há tipos que correm, correm e correm e não chegam a lugar nenhum. Para o apadrinhado de Jason Kidd, funciona de outro modo: com seu ritmo maneiro, deixa para explodir rumo ao garrafão só quando percebe a brecha à sua frente. Terminou com 14 pontos, 7 rebotes e 4 assistências em 28 minutos.


Brasil vence. Foram nove minutos de ótimo basquete, antes da complacência
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Giancarlo Giampietro

Foram 17 pontos para Marquinhos. Mas o time dessa vez procurou diversificar seu ataque por um tempo

Foram 17 pontos para Marquinhos. Mas o time dessa vez procurou diversificar seu ataque por um tempo

Voltando do trabalho (o outro), cheguei atrasado para o jogo, admito. No caminho, apressado depois de tantas baldeações no lamentável metrô paulistano, restava recorrer ao Twitter e às estatísticas oficiais, já que o sinal de celular não permitia o acesso regular à Fiba TV. Por um bom tempo, achei que, para ajudar, o “tempo real” estava com pau. Afinal, passavam-se as estações, e o Brasil não saía do cinco. Atualizei por conta o link, e nada. Até me dar conta de que estava tudo correndo normalmente. Era só a dificuldade (de sempre?) para se fazer cestas, mesmo. Entre uma bola de três de Marquinhos e um lance livre de Rafael Luz, correram mais de quatro minutos de partida sem nenhum pontinho. Dali até o final sairiam mais dez, diga-se.

Ao menos isso: consegui escapar do período de draga total desta terça-feira, em vitória por 71 a 65. Quando o sofá já se mostrava acolhedor o bastante, a seleção brasileira estava mais solta em quadra, se aproveitando da pouca resistência que a República Dominicana oferecia para construir vantagem no placar. Quando restavam 4min20s para o fim do primeiro tempo, vencia por 31 a 26. A 5min37s do final do terceiro quarto, a parcial já apontava 54-34. Ou seja, em nove minutos, abriu-se 15 pontos.

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E aí há os dois lados, como sempre: os dominicanos parecem desmembrados neste torneio, para alívio geral de argentinos, mexicanos, porto-riquenhos e, opa!, dos canadenses. Tiveram uma postura muito mais frouxa que a dos uruguaios na véspera. Certo. Os brasileiros, de qualquer maneira, souberam se aproveitar desses lapsos de um modo apropriado. Foi uma bela sequência, mesmo. O ataque voltou a ficar, digamos, elástico, no ritmo do Pan, com todos participando. A bola rodou muito mais, indo para o garrafão, voltando para o perímetro, cruzando de um lado para o outro. Fugiram daquele sistema básico de toca-para-o-Marquinhos-que-tudo-bem – o ala flamenguista foi o cestinha novamente, com 17 pontos. Ricardo Fischer marcou todos os seus 10 pontos, João Paulista fez a festa no garrafão (10 pontos e 9 rebotes em 24 minutos), Augusto cravou e até o jovem Leo Meindl, que andava bem travado, esteve agressivo e relativamente produtivo (5 pontos, 3 rebotes, 3 assistências em 18 minutos).

(Parêntese para a revelação francana: o ala apareceu bem, em cortes pelo lado contrário que ele faz tão bem e que deveria usar muito mais, diversificando seu arsenal. E se faz imperativo também que o reforço bauruense trabalhe sua c ondição atlética. Nem todo mundo precisa ser Kobe Bryant nessa vida, mas Leo pode muito bem perder alguns quilos e ganhar em arranque e agilidade, sem perder a força que lhe ajuda em suas ainda raras incursões no garrafão. Ele tem muito talento para ser explorado, e o tempo ainda está o seu favor. Duro é se acomodar em quadras nacionais. Não pode.)

>> E o professor Scola deu uma aula para a molecada canadense da NBA

O jogo meio que se decidiu, então, de modo precoce, e aí voltou a complacência. É meio injusto destacar isso, pois o placar não estava saindo do zero, mas vamos lá: os caribenhos venceram os últimos 15 minutos de jogo por 14 pontos, com direito a um 20-13 no quarto final. Período em que, durante um pedido de tempo, Magnano perguntou aos atletas: “Por que vocês não estão respeitando o que estou falando?”, com ar de perplexidade, depois de tantos arremessos de três pontos forçados. É, pois é. Nada como o áudio liberado no banco de reservas, um reflexo de uma condução mais light do argentino nesta temporada ajuda.

Todo treinador é responsável por sua equipe. Desde a convocação à condução dos treinos, à preparação para os jogos e ao comando na partida. Por mais supercontrolador que seja, porém, todo profissional nesse cargo tem um limite de ação — e, cá entre nós entre marmanjos não me agrada muito o estilo autoritário. Chega uma hora que o desenvolvimento da equipe vai depender da execução dos atletas. Por que os jogadores não estavam cumprindo o recomendado, então, se torna uma boa pergunta. Voltamos aqui ao relaxamento, a um descompromisso com a competição? Os maus hábitos liberados (por quem?) devido ao placar largo? Vai saber.

Por isso, nessa acompanho o Wlamir: não dá para comemorar tanto o resultado, porque não é que o Brasil tenha jogado muito bem, ou melhor: consistentemente bem. E foi contra um adversário que parece destinado à eliminação bem antes da disputa das medalhas. Nesta quarta-feira, é a vez de enfrentar o México, com jogadores  melhores, ginásio bombando e a perspectiva de um embate bem mais complicado.


Brasil faz péssima apresentação e perde para o Uruguai pela estreia
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Giancarlo Giampietro

magnano-brasil-uruguai

É, a seleção brasileira tem sempre a chance de reagir. Restam mais três partidas pela primeira fase da Copa América. Mais três oportunidades para o time apagar a péssima impressão deixada por sua estreia desta segunda-feira contra o Uruguai. Três chances também para tentar resgatar a fagulha que vimos durante o Pan. Numa derrota por 71 a 57, com uma péssima apresentação, muito pouco, ou quase nada deu certo. Foi uma derrota de certa forma acachapante.

Nos amistosos e na Copa Tuto Marchand, você dá um desconto. Pode-se bater o pé e dizer que, quando uma seleção vai para a quadra, não existe essa de teste e de observação. Mas, nas últimas temporadas de Fiba Américas, vimos que os jogos preparatórios não serviram de bom parâmetro para o que aconteceria no torneio para valer. E aí chegamos a um ponto: para os uruguaios, o torneio na Cidade do México vale muito. Para o Brasil já classificado, nem tanto. Mas, agora, com jogos oficiais, não há desculpa para apatia ou para uma apresentação como a que acabamos de ver.

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Não que tudo o que aconteça numa quadra de basquete possa se explicar por esforço, obviamente. Isso não justifica os sete lances livres a mais que os uruguaios bateram (e converteram) e até mesmo o fato raro de que tenham conseguido equilibrar a disputa de rebotes com os brasileiros (perdendo por 39 a 37). Mas ajuda a entender o fato de o Brasil ter cometido 20 desperdícios de posse de bola e acertado apenas 35% dos arremessos de quadra.

uruguai-brasil-copa-americaQuando você se depara com números calamitosos como esses, tem de ponderar o quanto o mérito está do outro lado, ou o problema está no seu próprio colo. O nível de competição é bem superior ao do Pan, individualmente, mas, no caso dessa estreia, por mais estruturado que esteja, não podemos dizer que o Uruguai sem Esteban Batista, Jayson Granger e Leandro Garcia Morales seja uma potência continental. As derrapadas vêm da combinação dos dois fatores, queda no rendimento e oposição mais dura. Fato é que o Brasil jogou de modo emperrado novamente, mantendo o padrão das últimas partidas. No ataque, os atletas até se movimentam de lá para cá em jogadas ensaiadas, mas a bola estaciona.

O retorno de Rafael Luz, que está se recuperando de uma lesão que sofreu em treinamento na Argentina, era uma esperança por maior lucidez no ataque, mas talvez seja injusto pedir muito do novo armador do Flamengo, que vai ter de recuperar o ritmo de jogo em plena competição. Contra os uruguaios, Rafael cometeu cinco turnovers e deu quatro assistências. Marquinhos, o cestinha com 21 pontos, também perdeu a posse de bola em cinco ocasiões. O ala centralizou muito o ataque brasileiro, e aí também fica a questão se isso tem mais a ver com a evidente confiança de Magnano em suas habilidades — isto é, se isso está designado –, ou se é mero produto de um time que saiu dos trilhos e acaba dependendo de iniciativas individuais lutando não só contra uma defesa adversária, mas também contra o cronômetro.

Coletivamente, a seleção se mostra incapaz de buscar cestas fáceis em transição ou próximo ao aro. Por ironia, até mesmo quando os pivôs escaparam e se colocaram em boa para finalização, acabaram falhando em conclusões individuais. O que também podemos notar é um desequilíbrio no modo como dois pivôs tão contrastantes como Augusto e João Paulo foram utilizados em determinados momentos. JP foi acionado diversas vezes em pick-and-rolls, enquanto para Lima a bola foi pingada em post-ups, de costas para a cesta — quando os dois são notoriamente mais produtivos justamente em situações inversas. Trocaram as bolas na hora de jogar com eles, o que é difícil de entender depois de tantas semanas de treino.

>> Canadá: Olynyk, Rick Fox e assistente do Raptors falam sobre a invasão

Magnano também não conseguiu encontrar uma rotação que ganhe coesão ofensiva e defensiva com Marquinhos e Giovannoni, por exemplo. Os dois mais experientes, por exemplo, estavam fechando este primeiro jogo ao lado de João Paulo na linha de frente e de Rafael, voltando de lesão, e Benite no perímetro. Ok, estava difícil fazer cestas. Beeeem difícil, que era uma tristeza. Mas esse quarteto não inspira confiança nenhuma na retaguarda, por outro lado. Não seria o caso de usar Augusto com os dois alas-pivôs abertos? Coisas desse tipo vêm acontecendo em meio às diversas trocas à procura do time ideal.

Como acontece isso? Como o time pode ter rendido tão bem no Pan e agora esteja capengando? O fator motivacional não deveria, mas influencia, embora, queiramos crer, de novo, que não diz tudo. A próxima dedução apontaria para o desequilíbrio troca por Hettsheimeir e Larry por Giovannoni e Marquinhos. São atletas  de perfil muito diferentes, tanto do ponto de vista técnico como do físico, aliás. sem contar que os dois alas-pivôs estavam vindo de férias e sendo encaixados num time que estava pronto. Não quer dizer que os dois que saíram sejam superiores aos dois que chegaram. Acontece que, entre uma habilidade perdida e outra somada, a rotação entrou em desequilíbrio, fato. Sem Larry, a tendência era de que o Brasil diminuiria os minutos com dois armadores em conjunto — daí que o corte de Danilo Siqueira machuca um pouco mais, de uma outra forma que vai além da simples oportunidade desperdiçada de se dar rodagem a um jovem talento.

Para compensar, Magnano estende os minutos de Benite, que ficou em quadra por 33 minutos. Isso implica em naus desgaste para o agora jogador do Murcia, que já está cercado de enorme responsabilidade no ataque, como a segunda opção de desafogo, logo depois de Marquinhos. Benite não cria muitas situações por conta própria e precisa da ajuda dos corta-luzes e de movimentação de bola mais inteligente e precisa para receber em movimento e agredir. Não vem acontecendo, exigindo um tromba-tromba incessante para ele. Pois, depois de sua ótima exibição em Toronto, as defesas simplesmente vão fazer de tudo para tirá-lo de uma zona de conforto. Benite está sendo contestado sem parar (3-15 nos arremessos, 0-6 nos três pontos). Mas não só ele. O perímetro em geral está supercongestionado, como prioridade de qualquer adversário brasileiro. E o time de Magnano não está conseguindo buscar outras alternativas, deixando no ar já uma série de questões que podem ser respondidas durante a semana. A ver.


Porto Rico vence Brasil: notas sobre o amistoso
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Giancarlo Giampietro

Balkman, sempre dando trabalho à defesa brasileira

Balkman, sempre dando trabalho à defesa brasileira

A Copa Tuto Marchand é um evento meio estranho. Tem estatísticas da Fiba, nome de torneio, banca de oficial, mas não passa de um conjunto de amistosos que serve para seus participantes dar uma espiada nos adversários às vésperas de uma Copa América, embora todos saibam que nem tudo está sendo mostrado. Só uma coisa ou outra. Pegue a partida entre Brasil e Porto Rico pela primeira rodada desta edição 2015, neste domingo. Em um pedido de tempo no quarto período, com o jogo praticamente descarrilado já, Rubén Magnano abriu espaço para Gustavo de Conti passar uma jogada. Planejaram uma conexão direta em ponte aérea. O tipo de jogada para buscar uma cesta decisiva ao final da partida. Não deu certo, mas era uma cartada ali.

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Esse é um exemplo de situação que mostra como essas partidas em San Juan não devem ser levadas muito a sério, e não só pelo fato de a seleção ter sido derrotada pelo time da casa por 79 a 66. De qualquer forma, os jogos apresentam alguns indícios. Sem TV para registrar os acontecimentos, o canal oficial para se acompanhar o torneio é a LiveBasketball.TV, pagando por assinatura. Com base no que pudemos ver contra os porto-riquenhos, seguem algumas notas.

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Foi uma partida beeeem diferente em relação ao que aconteceu no Pan-Americano. Porto Rico jogou com muito mais pegada e estrutura, já devidamente influenciado por Rick Pitino. Imagino o célebre técnico da Universidade de Louisville tenha usado a surra histórica que a equipe tomou em Toronto a seu favor para pilhar seus atletas — e também para amainar um pouco o orgulho ferido. Os brasileiros conseguiram fazer apenas três pontos de contra-ataque, diante de uma defesa em transição muito atenta. Foi claramente uma prioridade para o treinador que é um mestre nesse tipo de lance.

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É preciso dizer que, a despeito do desfalque de José Juan Barea, John Holland e Maurice Harkless — supostamente o trio titular no perímetro –, esta já era uma seleção porto-riquenha também distinta daquela de semanas atrás, especialmente pela presença sempre energética de Renaldo Balkman no quinteto titular. O cabeleira é uma figura muito influente quando o basquete Fiba está em quadra.

Balkman deu muito trabalho a qualquer defensor que estivesse à sua frente. Com agilidade e vigor, passou facilmente por Giovannoni e Olivinha, para acumular 16 pontos, 4 rebotes, 3 assistências, 2 roubos de bola e 2 tocos em 26 minutos, batendo seis lances livres. Ele basicamente fez o que quis em quadra, iludindo os brasileiros com fintas para um chute suspeito do perímetro. Botava a bola no chão, e aí era um abraço, com ataques rápidos em direção à cesta. Fora da rotação, Marcus Toledo não teve a chance de bater de frente com o veterano. Seria um duelo muito interessante.

Esse aspecto de rapidez e velocidade chamou a atenção: mesmo quando o ala-pivô ex-Knicks e Nuggets estava no banco, os caribenhos em geral tiveram o time mais leve em ação, com Devon Collier e Ramon Clemente também prevalecendo em seus movimentos. Concentrando-se em propósitos defensivos, é provável que Rafael Mineiro tenha de ficar mais tempo em quadra durante a Copa América, ao lado de Augusto.

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Augusto Lima, do outro lado da quadra, fez das suas. Sem Daniel Santiago e Peter John Ramos, Porto Rico tem alas-pivôs móveis, mas pode enfrentar dificuldade na hora de proteger a cesta na busca por uma vaga olímpica, pelo menos a julgar por esta partida. Tanto o pivô do Murcia, extremamente atlético e voluntarioso, como JP Batista, mais lento, mas inteligente em seus cortes e com excelente munheca, se deslocaram muito bem pela área pintada e pontuaram com eficiência perto da tabela, enfrentando pouca resistência na cobertura. Foram 14 pontos e 4 rebotes ofensivos para Augusto, em 17 minutos (6-11 de FG) e 18 pontos em 20 minutos para João Paulo (com 8-12). Foram os dois jogadores mais lúcidos do Brasil.

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Os dois pivôs brasileiros tiveram atuação eficiente e arriscaram juntos 35% dos arremessos da seleção e tiveram boa assessoria da turma de fora.  No geral, porém, o time não movimentou bem a bola. Foi um nível bem abaixo de rapidez em relação ao que vimos em Toronto, isso é certo. E aqui não estamos falando só de contra-ataque, de transição. Mas de ritmo de jogo, mesmo, de movimentação de bola. É nesses detalhes — e, não, nos números — que vocês devem notar a diferença que um armador com a cancha e vocação de passe de Rafael Luz pode fazer, gente.

Parte disso se justifica pela postura mais combativa dos caribenhos, claro. Outra parte da resposta vem do fato de Magnano ter promovido uma rotação claramente alternativa, na qual Rafael jogou apenas oito minutos, Benite ficou com 17, enquanto os caçulas Deryk Ramos e Danilo Siqueira jogaram, respectivamente, 15 e 16 minutos. Mas por vezes os atletas parecem muito acomodados e confiantes em dar a bola para Marquinhos e deixar o veterano ala resolver as coisas em jogadas individuais. Isso já havia acontecido bastante nos amistosos em Brasília e não é saudável.

Não que o ala flamenguista não tenha bola para isso. É difícil encontrar um marcador no mundo Fiba que consiga freá-lo quando ataca a cesta. De toda forma, quando servido em movimento, em progressão em direção ao aro, ele fica ainda mais perigoso. Essa é uma opção para finais de jogada, lances mais apertados, claro. Talvez a preocupação aqui seja dar mais ritmo a Marquinhos, que está voltando de férias. Não à toa, foi o brasileiro que mais jogou, com 27 minutos (sete a mais que JP). Quando o torneio para valer começar, espera-se que o ala esteja mais entrosado e afiado. Com seu pacote de mobilidade, altura, visão de quadra e habilidade, é uma peça mais que bem-vinda, que cai como uma luva, caso a equipe repita o padrão de jogo que a levou à conquista do ouro na metrópole canadense.

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Outro ponto a ser considerado no ataque: , Giovannoni, Olivinha e Marquinhos vão precisar acertar seus disparos ou ao menos representar alguma ameaça nesse sentido. Do contrário, o espaçamento de quadra vai para o buraco, e os ângulos de infiltração serão tapados. De modo que as defesas poderão se dedicar muito mais à fiscalização de Benite, deslocando adversários para cobrir sua trilha longe da bola. Goste-se ou não de ver Rafael Hettsheimeir chutando de três pontos, o fato é que um pivô com chute hoje faz parte integral do plano tático de Magnano.

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Entre os mais jovens, Danilo teve seus momentos. Sua primeira passada é algo que pode ser explorado mais em movimentações fora da bola, ou em ataques após as tradicionais parábolas pelo fundo da quadra. Pode render bem como reserva de Benite, mostrando visão de jogo para distribuir a bola. Deryk foi um pouco mais comedido. Melhorou bem no segundo tempo, procurou buscar a bola em rebotes longos para tentar dar um pouco mais de velocidade à transição ofensiva, mas não conseguiu quebrar a primeira linha defensiva de Porto Rico, terminando com quatro assistências e quatro turnovers. Merece mais chances, de qualquer forma, contra Canadá e Argentina.

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No primeiro jogo da noite, a jovem seleção canadense, cercada de imensa expectativa, venceu os argentinos por por 85 a 80. Foi também um duelo de altos e baixos. Facundo Campazzo  ficou fora de um lado e Corey Joseph do outro. Sem o tampinha, a equipe de Sergio Hernández perde em velocidade e criatividade, dependendo ainda mais dos veteranos e infalíveis Scola e Nocioni. Os campeões olímpicos marcaram 23 pontos cada, em 57 minutos. Nicolás Laprovíttola anotou 16 pontos e deu 4 assistências, em 31 minutos. O caminho para os hermanos é ter o barbudo ex-Fla, agora no Lietuvos Rytas, ao lado de Campazzo. Do lado do Canadá, a linha de frente titular teve Anthony Bennett, que fez ótimo Pan, ao lado de Kelly Olynyk, o jogador de NBA deles mais experiente em competições Fiba. Andrew Wiggins marcou 18 pontos em 26 minutos.