Vinte Um

A temporada não acabou para Anthony Davis: restam R$ 90 mi para resgate

Giancarlo Giampietro

Não seria Aron Baynes quem pararia o Monocelhano domingo

Não seria Aron Baynes quem pararia o Monocelhano domingo

Vamos interromper momentaneamente o noticiário, digamos, 'Varejista', para falar um pouquinho que seja sobre Anthony Davis.

Sim, vocês se lembram dele? Aquele que foi apontado por muita gente (oi!) como um candidato ao prêmio de MVP desta temporada da NBA, mas que nem, mesmo, para o All-Star Game foi eleito? Neste domingo, o New Orleans Pelicans visitou a ''Motown'' neste domingo e, de clube esquecido na temporada, virou notícia, graças ao despertar do Monocelha.

Existe a relação entre linhas estatísticas e fanfarra, mas também existe uma combinação de 59 pontos e 20 rebotes em 43 minutos de ação para o ala-pivô de N'awlins. Nos últimos 40 anos, a liga só viu acontecer duas vezes um atleta somar 55 pontos e 20 rebotes. A última tinha sido com um tal de Shaquille.

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Foi a maior exibição do atual calendário da liga, levando o time a um triunfo por 111 a 106 sobre o Pistons. Ele anotou, sozinho, 53% dos pontos e coletou 39% dos rebotes de sua equipe – ou, respectivamente, 27% dos pontos da partida e 21% dos rebotes que estiveram em jogo.  Ele errou apenas 10 de 34 arremessos de quadra, tendo acertado também 9 em 10 lances livres. Haja:

É muito recurso, né? ''Já viu algo assim? Eu nunca'', disse o técnico Alvin Gentry, . ''Não por um grandão, tão habilidoso assim.''

O esforço não foi à toa. O Pelicans ocupa hoje a 11ª colocação na Conferência Oeste e ainda sonha com uma vaguinha. Mas vai ser difícil. Muito difícil. O aproveitamento da equipe é de 40% (22 vitórias e 33 derrotas), enquanto o oitavo, o Houston Rockets, tem 50%, com 28 vitórias e 28 derrotas, margeando a zona de classificação para os mata-matas.

São cinco derrotas a mais. Restam 27 partidas no calendário. Dallas e Portland também não estão tão longe assim. Não é impossível de correr atrás disso, mas não é que o momento do time no campeonato seja dos mais esplendorosos, vindo de cinco vitórias e cinco reveses nos últimos dez compromissos. Além disso, não é que a disputa seja apenas com o Rockets. Entre eles estão Utah Jazz e Sacramento Kings também. E o Utah tem muito mais garrafas para vender no momento. Veremos, já que Tyreke Evans está fora da temporada e Eric Gordon, para variar, ainda precisará de uma semaninha para retornar.

Se o êxito coletivo parece mais complicado – o que deixa o gerente geral Dell Demps a perigo, diante de proprietários que acreditavam que o clube estava pronto para avançar no Oeste –, ao menos Davis tem também uma causa pessoal pela qual brigar, e uma que diz respeito a sua conta bancária, valendo mais de R$ 90 milhões.

Quando fechou no ano passado uma extensão contratual com a franquia, podendo valer até US$ 145 milhões, vindo de seu vínculo de novato, o estimado Monocelha estava sujeito a um bônus pelo que se convencionou chamar de a ''Regra Rose'', em nome de Derrick Rose (valendo a citação trocadilhesca a Umberto Eco, a-ham). Apelamos novamente ao guru Larry Coon, que destrinchou o acordo trabalhista da liga. No caso de jogadores que assinam pelo salário máximo anual em seu segundo contrato, a quantia a ser recebida pode saltar de 25% para 30% do teto salarial estipulado do ano desde que este atleta a) seja nomeado ao menos duas vezes para os quintetos ideais da liga ao final da temporada (primeiro, segundo ou terceiro, tanto faz), b) seja eleito titular do All-Star Game ao menos duas vezes, ou c) seja eleito o MVP uma vez.

Como ficou fora do All-Star e não está na discussão para o prêmio que já pertence a Stephen Curry (e o qual Rose ganhou em 2012), Davis agora precisa entrar no grupo dos 15 melhores da liga, valendo algo em torno de US$ 23 a 24 milhões em seu contrato. Antes de se apelar ao purismo, dizendo que dinheiro não é tudo nesta vida,  basta converter esse montante para a cotação brasileira, chegando a mais de R$ 90 milhões, para se encerrar a discussão..

É claro que perder  essa grana toda não seria o fim do mundo para alguém que, de qualquer maneira, já vai faturar mais de US$ 120 milhões na pior (coff! coff! das hipóteses). Aos 22 anos, o ala-pivô também pode voltar ao mercado de agentes livres em 2020, caso exerça uma cláusula em seu contrato para abrir mão do quinto ano. Ainda está muito longe para se pensar nisso, mas o Pelicans também precisa se cuidar.

Drummond ficou para trás

Drummond ficou para trás

Em que pese o excesso de lesões que dificultou o trabalho de Gentry desde a pré-temporada, o técnico não faz um bom trabalho até o momento. Mas também é preciso dizer que Demps não reuniu tantas peças assim que favoreça o estilo de jogo que o treinador gostaria de colocar em prática. Falta arremesso e velocidade.

A campanha frustrante acabou tirando Davis da pauta. Até que ele veio com essa atuação estrondosa para, como Adrian Wojnarowski registrou de imediato, para relembrar a NBA de sua existência. Em entrevista ao chefão do Vertical, o rapaz falou com franqueza sobre a pressão de, em seu quarto ano na liga, carregar um time nas costas, lidando com as mais elevadas expectativas.

''É duro. Você ouve o barulho todo. Nosso time perde três em sequência, e é culpa do Anthony Davis. A culpa chega a você. É claro que há outros fatores que caminham juntos, como os elogios quando você está vencendo. Mas lidar com isso quando você é tão jovem, e ainda não conquistou nada, é difícil, especialmente quando as pessoas o colocam num pedestal. Especialmente quando ficam dizendo o que deveria fazer. É frustrante'', afirmou.

Calma, Monocelha, não é hora para ficar pilhado assim. Aí é a hora de nos lembrarmos que, com 22 anos e 11 meses, Davis é mais jovem que Lucas Bebê e Cristiano Felício. Sua pontuação de domingo foi a maior para um jogador sub-23 na história da NBA. Ele foi o mais jovem da liga a somar 50 pontos e 20 rebotes desde Bob McAdoo em 1973-74.

Anthony Davis existe, e a gente não pode se esquecer.