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Arquivo : Marquinhos

A final não é brasileira, mas o Bauru ainda é o favorito
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Giancarlo Giampietro

Alex, perto de mais um título continental

Alex, perto de mais um título continental

Não há como negar: o Bauru vai entrar em quadra neste domingo como o grande favorito ao título da Liga das Américas, no Rio de Janeiro. Tem grandes chances, sim, de estender a sequência de títulos do Brasil no torneio continental para três. Afinal, o time de Guerrinha já soma 15 vitórias consecutivas em partidas internacionais nesta temporada, somando aqui aquelas que fez para ganhar a Liga Sul-Americana. E não só isso. O clube paulista vem simplesmente arrasando os concorrentes que enfrenta pelo caminho, com uma margem de pontos superior a 27 pontos em média, tendo batido o Peñarol de Mar del Plata por 88 a 61, de modo incontestável.

Agora, uma coisa é o jogo falado, outra é o jogado, como diria qualquer um neste sábado, após o Pioneros de Quintana Roo, do México, ter derrubado o Flamengo e impedido uma decisão 100% nacional. Para frustrar o Maracanãzinho e a organização do Final Four da LDA como um todo, os caras batalharam, por vezes literalmente, contra o Flamengo, vencendo por 81 a 80. Já aprontaram uma, agora vão tentar outra.

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Sim, por mais que a mesma equipe mexicana tenha vencido o torneio em 2012 e tenha chegado ao Rio de Janeiro com cinco triunfos e apenas uma derrota, foi uma surpresa o resultado da segunda partida do dia. No papel, o elenco rubro-negro é muito mais qualificado. Acontece que os visitantes não permitiram que esse talento fizesse a diferença, jogando um basquete muito combativo, físico para desestabilizar um ataque geralmente potente.

Não teve bicampeonato para Neto e o Flamengo

Não teve bicampeonato para Neto e o Flamengo

Foram 25 faltas cometidas, com direito a dois jogadores excluídos. Um estilo que gera, obviamente, muitos lances livres – e o Flamengo, como um todo, falhou nos tiros de um ponto, (19-28, 68%). Mas as falhas na linha não foram a única razão isso para explicar o resultado. A defesa agressiva  também forçou 17 turnovers, cinco deles pelas mãos de Nícolas Laprovíttola. Marquinhos foi o único jogador de perímetro brasileiro que conseguiu enfrentar esses caras e prevalecer, com uma grande atuação (27 pontos, 8-10 nos lances livres, 8-13 nos arremessos, em 41 minutos).

Com ou sem porrete, os mexicanos defenderam muito bem o jogo exterior de seu adversário, limitando o time da casa a míseras 6 bolas de três pontos em 28 tentativas, para um aproveitamento de 21%. Isso, na real, não chega a ser uma novidade, uma vez que, no duelo entre ambos no dia 25 de janeiro, o Fla já havia acertado apenas 10 em 32 (31%). Junte os dois, e temos 16-60. Fica difícil de vencer assim, e aí faltou procurar outros – e melhores – caminhos para explorar Jerome Meyinsse, muito mais explosivo que seus oponentes, debaixo do aro. O pivô acertou sete de oito tentativas de cesta, mas também cometeu cinco desperdícios de posse de bola, somando 16 pontos em 39 minutos. Cristiano Felício ficou apenas cinco minutos em quadra e também poderia ter ajudado.

Na defesa, o que matou foi a dificuldade em marcar o pivô Justin Keenan, pesadão, mas com bom arremesso, se desmarcando em jogadas de pick and roll ou pick and pop para matar tiros de média para longa distância ou descolar faltas (25 pontos, 8-15 de quadra e 7-9 nos lances livres). A comissão técnica do Bauru certamente tomou nota disso, que o grandalhão tem de ser respeitado e contestado, até porque o armador Brody Manjarres não finaliza tão bem assim quando mais perto da cesta.

Ao ver estes números, Manuel Cintrón, ex-treinador de Porto Rico que diz ter ficado dois anos em fase de “reciclagem”, poderia se sentir até mais confortável ao caminhar para o embate com o Bauru na decisão. Afinal, sabemos bem que o clube paulista investe bastante nos chutes de longa distância também. Acontece que seu poderio ofensivo é tão grande que, mesmo numa jornada em que essas bolas não caem (8-36, 22% contra o Peñarol), os bauruenses podem chegar a 80 pontos.

Murilo, diferente de Jefferson, mas igualmente perigoso. Novas possibilidades no ataque

Murilo, diferente de Jefferson, mas igualmente perigoso. Novas possibilidades no ataque

Jefferson William faz falta no espaçamento de quadra, mas a dupla Murilo-Hettsheimeir oferece um jogo interior muito interessante para Guerrinha e um problema para qualquer oponente (somaram 34 pontos, 12 rebotes e 13-23 nos arremessos, com Rafael novamente exagerando na dose de três, errando sete de nove disparos). Outra: não é segredo que o eterno Alex adora uma partida de muito contato físico, batendo para dentro, desafiando gente muito maior. Na semifinal, fez um pouco de tudo, com 18 pontos, 6 assistências e 7 rebotes, 4-10 nos arremessos e 8-9 nos lances livres, em 31 minutos. Sua intensidade será importantíssima neste domingo.

Bauru e Pioneros também já se enfrentaram pela Liga das Américas, 22 de fevereiro. A equipe brasileira venceu por 92 a 79. Os 13 pontos, porém, foram abertos apenas no quarto final, com uma parcial de 28 a 15. Naquela ocasião, curiosamente, Manjarres anotou 17 pontos, mas foi o intempestivo Romel Beck Castro o cestinha, com 28 pontos e 6-10 nos tiros de fora – o restante do time ficou em 3-14. Do outro lado, os campeões paulistas mataram 13-35 e mais de 50% nos arremessos gerais. Ricardo Fischer jogou demais, com 19 pontos, 8 assistências e 6 rebotes (8-11), mas pode esperar algumas bordoadas neste domingo. A ver se essa dinâmica vai se repetir.

Antes de o torneio começar, Cintrón resumiu bem o estado de espírito de seu time: “Não temos nada a perder. Não havíamos traçado esta meta, de chegar ao Final Four, e a conseguimos. Vamos jogar como se fora um partido a mais e com a tranquilidade de saber que o trabalho deu resultados”. Resultado por resultado, o Bauru tem um retrospecto recente muito mais relevante. Agora resta confirmar isso em quadra.


Sumido dos ginásios, de mudança, Magnano reaparece em entrevista. E aí?
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Giancarlo Giampietro

Magnano pode ir ao ginásio sem ter de dar treino

Magnano pode ir ao ginásio sem ter de dar treino

A LDB se encerrou nesta terça-feira, em Fortaleza, com o Basquete Cearense sendo campeão, e nada. Ainda pelo mesmo campeonato, foram realizados, na semana passada, dois quadrangulares em São Paulo, e ninguém viu também. Durante transmissões do NBB e da Liga das Américas, nenhuma câmera conseguiu registrar sua presença também.

Rubén Magnano, o treinador da seleção brasileira, está sumido dos ginásios e também andava desaparecido do noticiário. Ao menos agora reaparece para quebrar o silêncio em entrevista para o site da CBB, para explicar o que anda fazendo até chegar o momento de bolar duas convocações para uma Copa América/Pré-Olímpico e o Pan de Toronto.

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Segundo a assessoria da confederação, Magnano compareceu a alguns jogos em São Paulo, sim, no ano passado e tem acompanhado tudo de casa pela TV e também por um programa que lhe permite assistir a todas ligas – muito provavelmente o Synergy. “Felizmente hoje temos à disposição na internet praticamente todos os jogos da Liga de Desenvolvimento e da Liga Nacional. Temos na CBB um programa que nos permite estar muito perto dos nossos jogadores nas ligas pelo mundo”, disse o treinador.

OK, isso é ótimo. Mas, ao mesmo tempo, não passa de dever da profissão, né? E mais: acredito que 10 a cada 10 scouts/técnicos/dirigentes vão dizer que nada substitui a experiência de ver uma partida in loco. Daí o estranhamento por esse chá de sumiço. Até porque Magnano, sabemos, é um junkie de basquete. “Não sei qual o contrato dele com a CBB, mas acho que é um cara que acrescentaria um técnico desse nível assistir ao nosso All-Star Game. Valorizaria o evento”, disse Guerrinha, comandante do Bauru e ex-assistente da seleção, ao VinteUm.

Pedrocão, envelopado e lotado, nove anos depois do fundo do poço

Muita gente foi ao Pedrocão para ver o Jogo das Estrelas

Detalhe: ao site da CBB, Magnano afirma que vai viajar aos Estados Unidos em abril para falar com a legião nacional da NBA. Esse é um assunto interessante que vale uma abordagem mais detalhada mais adiante. Só fica o registro: a liga americana vai se encerrar em maio para a maioria dos brasileiros que lá estão. Vale a pena mesmo conversar eles de modo antecipado, sem saber o que vai acontecer adiante? Enfim, sigamos em frente. E por que a distinção? Por que a turma em atividade nos Estados Unidos (e Toronto) precisa de um bate-papo, e quem está no interior paulista ou Brasil afora não? Já se sabe absolutamente tudo sobre quem está em quadras nacionais? O que eles estejam sentindo não importa?

“Aqui está a maioria dos jogadores que vai trabalhar com ele, para trocar uma ideia”, afirma Guerrinha. “Também sinto falta dos assistentes dele. É muito importante essa troca. Pois também haveria o diálogo com os treinadores, para saber sobre o que está acontecendo, perguntar sobre o Ricardo, o que estou achando do Alex etc. Ninguém fala nada, ninguém conversa nada.”

Ex-treinador principal da seleção, hoje em Franca, Lula Ferreira foi um pouco mais diplomático quando questionado sobre o assunto: “Para poder emitir uma opinião, eu teria de saber o motivo de ele não ter vindo (ao Jogo das Estrelas). Claro que, analisando teoricamente, você espera que num evento desses ou em jogos do NBB, por ser uma pessoa de peso que pode ajudar no crescimento, como tem ajudado. Mas eu não posso julgar sem saber o motivo. Seria leviano da minha parte”.

O Rio de Janeiro acolhe Magnano

O Rio de Janeiro acolhe Magnano

Do seu lado, a CBB dá a entender que esse período de distanciamento em específico tem a ver com a mudança do argentino para o Rio de Janeiro. Em sua entrevista, o técnico afirma que estava em seu país natal até dias atrás. “Eu vim na semana passada da Argentina, cheguei em São Paulo, peguei o carro e vim para o Rio”, afirmou. Aliás, o presidente da CBB, Carlos Nunes, disse à colega Karla Torralba, aqui do UOL Esporte, que essa mesma mudança seria um entrave para a participação do treinador nos Jogos Pan-Americanos de Toronto. Em julho, no caso – meio longinho, não? Ao site da confederação, Magnano dá uma resposta mais plausível, claro. “Hoje, infelizmente, não tenho como falar onde vou estar, dizer o que vai acontecer com a comissão técnica. A possibilidade é grande de eu não ir ao Pan porque bate com as datas de treinos para o Pré-Olímpico. Mas não posso afirmar porque depois posso ter de desdizer. Essa situação de não ter resposta pode mudar muito nossa maneira de encarar cada torneio. Minha ideia é levar a melhor equipe em cada um. No momento que um torneio bate com a preparação de outro você precisa montar times diferente.”

Para quem não está por dentro, vale o esclarecimento: a CBB ainda nem sabe direito como planejar a vida de suas seleções masculinas para esta temporada, uma vez que a Fiba faz um interessantíssimo jogo duro com a confederação. E aí: vai ter vaga olímpica direta, ou não? A lógica diz que sim: se até a Grã-Bretanha ganhou, por que o Brasil, quinto em Londres 2012, não levaria? O problema, meus amigos, é que há claramente coisas pendentes no bastidor, ainda mais depois que o time de Magnano dependeu de um favor/convite/venda por parte da entidade internacional para evitar um vexame de apenas assistir ao Mundial da Espanha. Aí, sim, da TV, mesmo.

Essa pendenga, porém, não influencia, ou não deveria influenciar no afastamento de Magnano dos ginásios brasileiro. Nem mesmo a mudança, creio. Sabemos que essa história de empacotar as coisas torra a paciência, com todos os detalhes e os cuidados a serem tomados. A correria. Ainda mais quando você está saindo de uma cidade para a outra, e organizando as coisas de um país diferente. Porém, é de se perguntar o quanto demorou tal trâmite. Questão de meses?

Outro ponto que merece o debate: por mais que a confederação esteja sediada no Rio de Janeiro, não seria mais produtivo que o técnico permanecesse em São Paulo, cidade que tem três clubes do NBB e está muito mais próxima de outras tantas no interior do estado? “Quando vim para o Brasil decidi ficar em São Paulo porque era mais conveniente”, diz Magnano.

Agora, ao que parece, a conveniência mudou de lado. “Foi uma decisão (a de mudar-se pessoal combinada com a CBB, focada basicamente em nossas necessidades futuras. Hoje é necessário estar mais perto da CBB e do COB. Tenho um calendário de palestras com o COB muito interessante.”

Palestras com o COB? Epa. Não custa lembrar que é o comitê olímpico nacional que paga o salário do argentino. E não paga pouco. Quer dizer… Há uma gama de interesses aqui a serem atendidos. Como se fosse uma dívida, mesmo. Mas tudo bem: dependendo da agenda do argentino, sobra mais que o tempo necessário para acompanhar a temporada nacional, que já entrou em sua fase decisiva.

Na hora de falar está se passando em quadra, Magnano foi bastante genérico em suas respostas. Da turma da NBA: “Infelizmente o Anderson Varejão se machucou. Havia feito uma Copa do Mundo muito boa. Nenê está jogando em um nível bom. Tiago Splitter voltou bem. Leandrinho não começou bem, mas já melhorou muito”. Do que temos na Europa, registrou que “Augusto Lima está fazendo uma grande Liga ACB na Espanha eRaulzinho e Rafael Luz também” – Augusto já era um dos melhores pivôs da Espanha na temporada passada, diga-se. “E o Marcelinho Huertas é o armador do Barcelona. A equipe está com altos e baixos, mas ele continua sendo o armador de uma grande equipe”, completou, sem dizer que o brasileiro, no momento, perdeu o posto de titular para o jovem tcheco Tomas Satoransky.

Ao menos Magnano sabe que não é preciso um contato com Varejão, certo?

Ao menos Magnano sabe que não é preciso um contato com Varejão, lesionado, certo?

Sobre a garotada da LDB ou os mais jovens em geral, o argentino se entusiasmou mais um pouco em sua explanação:” Temos muitos jovens fazendo bons trabalhos. O Davi (Rossetto), do Basquete Cearense, é o garoto que mais evoluiu. É um exemplo para muitos jovens que, com trabalho, você consegue chegar ou ficar perto das suas metas. (Henrique), Coelho, do Minas. Gostei muito do que está fazendo nos últimos 50 dias o Cristiano Felício. Melhorou muito. Também tem o Lucas Mariano, Leo Meindl, Ricardo Fischer. O Sualison (Tavares, também do Basquete Cearense) também vem bem. E não podemos esquecer do Bruno Caboclo. Um jogador de futuro na Seleção. Pena que não está jogando tudo que eu gostaria por conta dos poucos minutos em quadra”.

Na hora de abordar os veteranos em atividade no NBB, foi mais evasivo. Disse que “Marquinhos está fazendo um trabalho interessante”. Até aí é o mesmo que dissermos que o Corinthians do Tite “tem defendido bem”. Qual a novidade? O mais preocupante, contudo, foi mencionar logo depois que “Marcelinho Machado “segue como um grande arremessador de três”. Sim, o cara é o bicampeão do torneio de chutes de longa distância, por sinal.

Mas… hã… Estaria o treinador pensando seriamente em mais uma convocação para o veterano ala, hoje reserva flamenguista? De novo: nada contra o camisa 4 num âmbito pessoal, mas levá-lo para mais um torneio não seria uma perda de tempo valioso no desenvolvimento de novas opções, dois anos depois de o veterano ter anunciado que se aposentaria da seleção (só para ser convencido a retornar na temporada passada, depois de ganhar o prêmio de MVP do Final Four da Liga das Américas)?

Para ser justo, Magnano talvez esteja apenas citando um fato corriqueiro para dizer que tem acompanhado as coisas. Ou pode dar a entender também de que as coisas não mudaram tanto assim de um ano para o outro. E, se for essa última alternativa, aí acho que temos um problema. Afinal, a tabela do NBB mostra algumas boas surpresas na parte de cima, assim como o Jogo das Estrelas também já ofereceu alguns nomes um pouco diferentes dos habituais. Nada disso valeria uma citação?

Coelho, mencionado por Magnano. Não poderia ver mais de perto?

Coelho, mencionado por Magnano. Não poderia vê-lo mais de perto?

De qualquer forma, há mais uma possibilidade que pode atenuar um eventual julgamento precipitado: o argentino obviamente não nasceu ontem e provavelmente não entregaria nenhuma bomba em uma entrevista ao veículo oficial da entidade, assim tão cedo, em março, para não interferir no desempenho de um alvo, digamos, alternativo. Aquela coisa de não mexer na cabeça de jogador e também para não alertar os adversários. Ainda mais se o Brasil tiver de jogar por uma vaga olímpica.

Felício, Fischer, Meindl e Mariano, convenhamos, não são mais segredo para ninguém, nem mesmo para o treinador que já os havia chamado para compor elenco de grupo em jornadas anteriores. Assim como Caboclo, já com seleo NBA. A menção a Coelho e a Davi, por outro lado, é algo que já anima um pouco mais. Não só pelo fato de o os armadores estarem fazendo uma ótima temporada, mas por serem caras que ainda não foram incluídos em nenhuma lista de seleção até aqui – se merecem, ou não, uma vaga, essa é outra discussão, que valeria outro texto, mais trocentas palavras. Os dois seriam de fato novidades e uma prova de que, mesmo distante, o argentino estaria antenado.

Precisa estar, mesmo: num piscar de olhos, a temporada dos clubes vai estar encerrada, e será o momento de anunciar as convocações. Fazer uma lista podendo chamar a cavalaria da NBA é algo relativamente fácil. Quando os caras não se apresentam, porém, pode dar num vexame como o da Copa América de 2013 – formando uma equipe sem equilíbrio nenhum e da qual, de modo absurdo, Magnano procurou se distanciar, lavando as mãos, acusando falta de talento.

Com seu currículo e salário elevado, esperava-se muito mais. Ao menos foi o que o VinteUm cobrou insistentemente na época, sem cair nessa de que só dá para montar uma boa seleção com Splitter & Cia. Isso tudo, claro, pode ser debatido tranquilamente. A ausência do argentino dos ginásios e principais eventos já é outra história. Com o Final Four da Liga das Américas programado para o fim de semana, se apresenta uma chance para retomar o contato com o basquete nacional. E olha que está fácil: os jogos serão disputados no Rio de Janeiro.


Impropérios, afastamento e… o fim da linha para Marcelinho?
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Giancarlo Giampietro

Campeão contra o Maccabi, ainda idolatrado... E não é o bastante?

Campeão contra o Maccabi, ainda idolatrado… E não é o bastante?

Na mesma semana em que demos destaque aqui a Márcio Dornelles, um dos três basqueteiros nacionais que vão chegar ao clube dos quarentões neste ano, sai diretamente do vestiário do Flamengo uma notícia deprimente envolvendo o mais velho deles, Marcelinho Machado.

Segundo apuração dos companheiros de casa, Fábio Aleixo e Pedro Ivo Almeida, o camisa 4 basicamente já não estava nada contente com a redução dos seus minutos na temporada. Aí que ter começado os últimos jogos no banco de reservas foi o fim. No vestiário, depois de vitória sobre o Minas Tênis na terça-feira, partiu, então, para o confronto verbal com o técnico José Neto, usando de toda a sorte de impropérios para manifestar seu descontentamento. A diretoria intercedeu, protegendo seu treinador, e afastou Marcelinho do jogo contra o Uberlândia. Para vermos como não se tratou de uma discussão corriqueira.

A gente poderia apelar aqui ao politicamente correto e dizer que Machado, que vai completar 40 anos em abril, deveria ser justamente aquele a dar o exemplo. Não só pela idade, mas também por seu currículo, de diversas competições de seleção e histórico recente riquíssimo pelo Flamengo. Pontos válidos, claro. Mas o que me chama mais a atenção, mesmo, é o fato de o ala não entender ou não querer aceitar o que se passa ao seu redor. Uma situação que serve como a metáfora perfeita de uma carreira para qual o adjetivo “polêmica” soa como eufemismo.

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A habilidade de Marcelinho com a bola é inegável, em que pese aqui o ranço de anos e anos de campanhas frustradas da seleção que serviram para elegê-lo como o principal alvo de críticas da torcida. Só mesmo a ausência de Nenê aqui e ali para desviar o foco dos chutes de três contestados do veterano.

Sim, ele exagerou muitas vezes com a bola em mãos. Ao mesmo tempo, porém, poderia surpreender a todos com passes que demonstravam uma visão de quadra fora do normal. O problema era (é!?) justamente este: nem sempre o carioca entendia ou – creio mais nisto – queria entender, enxergar todas as movimentações possíveis em quadra. Partia ele para a definição, e que o time e os companheiros se virassem com as consequências. Pois ele, confiante que só, não temia nenhum desfecho. E o Técnico X observando, talvez refém de seu talento.

(Antes que os mais enfezados cuspam marimbondos, favor entender que estou me referindo a um Marcelinho de dez anos atrás, quando a marca que ele se aproximava era a dos 30 anos. Uma época em que ele sobrava quando competia com o segundo escalão das Américas – em 2005, liderou o Brasil a um título continental com 23,4 pontos, 5,2 rebotes e 5,6 assistências em média. Era um torneio sem EUA e sem geração dourada argentina? Sim. Só não se esqueçam do que aconteceu na edição 2013, na qual, com as mesmas condições, já foi possível perder para Jamaica e Uruguai.)

Acontece que Marcelinho comprou uma boa briga agora. Neto ganhou poder e respaldo nos bastidores rubro-negros depois do bicampeonato nacional e das conquistas inéditas da Liga das Américas e da Copa Intercontinental. Se Machado estivesse fazendo chover dentro da Arena da Barra ou do ginásio do Tijuca, já seria difícil o ‘embate’. Agora, quando o cara vem de uma sequência horrorosa em quadra, na qual marcou apenas 14 pontos em três partidas, vai falar o quê? Contra Liga Sorocabana, Bauru e Minas, ele arriscou 17 arremessos e converteu o grande total de dois. Sim, dois chutes certos, de longa distância, em 17 tentativas. O restante dos pontos veio apenas na linha de lance livre.

Azedou

Azedou

Embora fosse alto, com boa envergadura e inteligente, nem mesmo no auge dá para dizer que o camisa 4 foi um marcador minimamente atento e dedicado. A essa altura da vida, sabemos que ele não causa impacto algum pelo Flamengo na hora de defender. Se a bola não cai do outro lado da quadra, é só fazer as contas…

Nas primeiras 16 partidas da temporada, o mínimo que Marcelinho havia jogado foram os 17 minutos que recebera contra Limeira, jogo no qual teve participação praticamente nula em quadra: 3 pontos, 2 assistências, 1 rebote e 1/3 nos arremessos. De resto, seu tempo de quadra havia flutuado entre 20 e os 33 minutos que teve contra Macaé, no dia 22 de dezembro.

Nos últimos dois jogos, contra Bauru e Minas, a mudança: ficou em 19 e 17 minutos, respectivamente. No confronto com a atual melhor equipe do Brasil, saiu de quadra com cinco pontos de lance livre e nenhum nos arremessos de quadra. Contra o time de Demétrius, teve a chance de arriscar uma bola de longa distância e só.

Em termos de médias, são 12,6 pontos, 2,4 rebotes e 2,1 assistências na temporada, já computando as últimas partidas sôfregas. É um bom rendimento para um coadjuvante. Mas esse papel parece não agradar, não ser o bastante para Marcelinho, que tem médias no NBB de 22,4 pontos 4,7 reboes e 3,0 assistências.

Não me recordo de momento algum de sua carreira no Brasil em que estivesse tão, digamos, discreto em quadra como nesses últimos dias. Ele, também, muito provavelmente não se lembra. Vem daí o choque. Mas só é choque se for para acreditar, mesmo, que ainda tem fôlego e recursos técnicos para se manter como um sério protagonista do time.

Rodeado de bons jogadores, Marcelinho ainda ganhou um prêmio de MVP na Liga das Américas do ano passado

Rodeado de bons jogadores, Marcelinho ainda ganhou um prêmio de MVP na Liga das Américas do ano passado

Desde a chegada de Marquinhos ao time, sabemos bem quem tem ou deveria ter a prioridade como força criativa. São raríssimos os casos de defensores do NBB que consigam frear o ala quando ele está decidido a bater para a cesta, devido a seu controle de bola e atributos físicos.

Obviamente, não são apenas os dois para dividir a bola. Olivinha trabalhou duro o bastante para se tornar uma arma perigosa dentro-e-fora. Nícolas Laprovíttola tem facilidade para buscar as infiltrações. Jerome Meyinsse domina a tábua ofensiva. Foi esse o Flamengo que encheu a sala de troféus. Para esta temporada, ainda chegou um Walter Herrmann para contar boas histórias. Ah, e Vitor Benite estava plenamente recuperado de sua cirurgia no joelho.

São muitas alternativas. Num time desses, o coitado do Felício só ganha 12 minutos por jogo (um desperdício absurdo de um potencial enorme, aliás). Que tipo de números e envolvimento Marcelinho esperava? Aos 39 anos, rodeado por tanto talento? O Fla não esperava e,mais importante, não precisava de um ano heróico do veterano, que desfruta, mesmo assim, de um ótimo salário (quando ele cai na conta, claro).

Existe a possibilidade, agora, de ele ser dispensado, dependendo do quão desconfortável a diretoria se sinta. É uma decisão delicada, e a química do vestiário, dependendo de como as coisas forem feitas, pode se esvair. Como se, com a bola quicando, o time já não tivesse problemas o bastante para resolver.

Se formos nos teletransportar para mais uma cidade praiana, mas bem lá para cima, chegando a Los Angeles, temos o ocaso de um combalido Kobe Bryant, estrela solitária num Lakers que luta contra os pesos pesados da Conferência Oeste da NBA. Enquanto aguentou, o astro conseguiu seus números, bateu seus recordes e tal, mas com uma ineficiência alarmante e, pior, perdendo uma atrás da outra.

Marcelinho tem o luxo, na Gávea, de ser escoltado por gente que pode muito bem, obrigado, assumir maior carga e responsabilidades. De estar perto da aposentadoria brigando por troféus, sendo ainda uma figura adorada por uma torcida tão apaixonada e apaixonante como a rubro-negra.

A não ser que surjam outras informações que contextualizem a ira do veterano, virar as costas para um cenário desses parece bem mais grave do que ignorar um pivô livre debaixo da cesta. Seria o arremesso mais errado que ele poderia arriscar.


20 votos para o Jogo das Estrelas do NBB 2015
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Giancarlo Giampietro

Cabem quantos do Bauru no Jogo das Estrelas?

Cabem quantos do Bauru no Jogo das Estrelas?

A assessoria de comunicação da Liga Nacional de Basquete cometeu a loucura de me estender um convite para participar da votação para o Jogo das Estrelas do NBB7, que vai ser disputado entre os dias 6 e 7 de março, com sede ainda para ser anunciada.

Ao menos essa responsabilidade foi divida entre diversos companheiros de imprensa, assim como os técnicos – e seus assistentes –, capitães e (!) árbitros envolvidos com a competição, além de outras “personalidades” da modalidade. Cada um dos eleitores teve a chance de escolher dez nomes para o time brasileiro e outros dez para a equipe estrangeira. Você precisa dividir cada grupo entre titulares e reservas, e os votos dedicados aos titulares ganham peso maior.  Essa é uma novidade no processo que, creio, ajuda a diminuir a chance de injustiças.

Mas, prepare-se, elas podem acontecer. Veja a repercussão, na NBA, para a exclusão de um enfezado Damian Lillard, que não conseguiu nem mesmo a 13ª vaga e foi ao Instagram protestar, lembrando que havia sido ignorado por torcedores, técnicos e até pelo comissário Adam Silver. Ele merecia a vaga de Kevin Durant? Para mim, sim, levando em conta o fato de que o ala de OKC perdeu metade da temporada norte-americana.

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Esse tipo de polêmica certamente vai aparecer aqui neste espaço, agora que abro minhas 20 escolhas. Inevitável. Mas boa parte das discussões depende de quais critérios cada um vai adotar para escolher sua seleção. Pesa mais o sucesso da equipe ou o rendimento individual de cada atleta? Na dúvida, preferi a solução mais fácil: dosar um pouco de cada caminho. Privilegiei os destaques das melhores campanhas, mas também tentei abrir espaço para caras que estejam numa ótima temporada, ainda que seus clubes decepcionem. Só procurei pensar apenas no que acontece neste ano, e, não, ignorando o conjunto da obra – se o cara é o cestinha histórico do NBB, se é medalhista olímpico, se já passou pela NBA etc.

Mais: você vai segmentar, estratificar os jogadores por posição? Na planilha encaminhada pela LNB, era preciso escolher um armador, dois alas e dois pivôs. Esses conceitos são todos meio relativos, não? Pegue um time como Limeira, uma das gratas notícias do campeonato. Nezinho, Ronald Ramon e Deryk estão revezando constantemente, dividindo a quadra, escoltados pelo gatilho de David Jackson, do jeito que o Paulo Murilo pregou sempre em seu Basquete Brasil – e quando dirigiu o Saldanha da Gama. Tentei ir um pouco além da nomenclatura clássica.

Vamos aos votos do VinteUm, então, seguidos por breves explicações. Os quintetos titulares vão ser escolhidos pelos torcedores:

NBB – Brasil
Titulares
Nezinho (Limeira)
Alex Garcia (Bauru)
Marquinhos (Flamengo)
Jefferson William (Bauru)
Rafael Hettsheimeir

Reservas
Coelho (Minas)
Leo Meindl (Franca)
Giovannoni (Brasília)
Gerson (Mogi das Cruzes)
Caio Torres (reservas)

Jefferson merece o posto de titular: influência tática e técnica

Jefferson merece o posto de titular: influência tática e técnica

O desafio aqui foi evitar de escalar todo o elenco do Bauru, né? Tendo apenas 10 vagas em cada seleção, achei o mais correta a distribuição entre mais clubes, impondo um limite de três atletas para cada agremiação. E aí Ricardo Fischer acabou sendo sacrificado, em detrimento de seus companheiros bauruenses escalados entre os titulares (Alex segue influenciando o jogo dos dois lados da quadra, resistindo ao tempo, Jefferson William é fundamental no sistema de Guerrinha por sua mobilidade e poder de execução, além de um bem-vindo nível de atividade na briga por rebotes e na defesa, e Rafael Hettsheimeir, ainda que deveras enamorado pelo chute de fora, vem sendo bastante produtivo em seu retorno ao país). Nezinho assume a vaga de Fischer, sendo um dos líderes do Limeira, pontuando com muito mais eficiência do que na temporada passada, ainda que frequente menos a linha de lance livre. Para completar, Marquinhos, que ainda não recuperou o ritmo de seu sensacional NBB5, mas tem números que igualam ou superam sua última campanha, em menos minutos, e ainda é um pesadelo para qualquer defesa nacional conter. O Flamengo também não tem sido o mesmo, mas, da mesma forma, continua sendo um time de respeito

Marquinhos: os números não são os do auge, mas a ameaça é a mesma

Marquinhos: os números não são os do auge, mas a ameaça é a mesma

No banco, o jovem Coelho merece reconhecimento: ganhou autonomia em Belo Horizonte e respondeu muito bem, obrigado. Em termos de produção, é o jogador mais eficiente de sua posição entre os brasileiros, com 14,59 por jogo, mais que o dobro de sua carreira – e o mais interessante pode melhorar muito ainda como um armador forte, veloz e agressivo. Confesso: foi uma dúvida brutal optar entre ele e Nezinho na vaga de titular, mas pesou a maior propensão ao passe e o recorde da equipe do veterano. Leo Meindl vem numa curva ascendente em sua carreira, ajudando o Franca a se manter entre os seis primeiros, a despeito dos problemas financeiros. Talvez não no ritmo esperado, mas está subindo enquanto se distancia de uma complicada lesão no joelho. Seu arremesso de três pontos o abandonou nesse campeonato, e talvez fosse mais interessante que ele usasse sua habilidade no drible e o jogo de média distância para buscar a cesta. Giovannoni faz uma temporada que o colocaria na discussão para MVP, mas o fato de o Brasília ser a grande decepção da temporada impede que isso aconteça.  Foi cruel deixar Lucas Cipolini fora, mas não havia como eleger dois atletas do time candango, a despeito de seu ótimo rendimento estatístico. No garrafão, temos então o jovem e hiperatlético Gérson, que faz Mogi crescer cada vez que vai para quadra com seu energia e dedicação extrema, e Caio Torres, em boa forma, vai fazendo a melhor temporada de sua carreira nos rebotes e como referência interior do time que menos arremessa de três no campeonato. Entre ele e Rafael, a dúvida também é grande. Seus números são superiores, mas o bauruense divide a bola com mais gente. A campanha abaixo de 50% do São José também não ajuda.

NBB – Mundo
Titulares
Jamaal Smith (Macaé)
David Jackson (Limeira)
Marcos Mata (Franca)
Tyrone Curnell (Mogi das Cruzes)
Jerome Meyinsse (Flamengo)

Reservas
Kenny Dawkins (Paulistano)
Ronald Ramón (Limeira)
Jimmy Baxter (São José)
Shamell (Mogi das Cruzes)
Steven Toyloy (Palmeiras)

Jamaal, decisivo nas poucas vitórias do Macaé

Jamaal, decisivo nas poucas vitórias do Macaé

A posição de armador estrangeiro, gente, é a mais concorrida de todo o campeonato. Não encontrei lugar aqui para Caleb Brown, limitado a apenas oito jogos em Uberlândia devido a dores lombares), para o jogo clássico do baixinho Maxi Stanic, do Palmeiras, e nem para Nícolas Laprovíttola, que anda muito inconstante. David Jackson, creio, é uma unanimidade como um arremessador letal de todos os cantos da quadra. Já Mata e Tyrone servem como influência mais que positiva para os jovens companheiros devido ao tino para cuidar de pequenas coisas e a conduta exemplar em quadra. Curiosamente, de tanto fundamento que tem, o argentino vira uma arma ofensiva em quadras brasileiras, assim como aconteceu com seu compatriota Frederico Kammerichs. Curnell pode não ser o jogaodor mais refinado, mas seu vigor físico e seu empenho contagiam. Quando faz dupla com Gérson, é melhor sair da frente – uma dupla que representa bem a identidade vibrante do Mogi. Meyinsse é hoje o pivô mais completo em atividade no país, dosando força física e agilidade acima da média.

Toyloy, uma fortaleza difícil de se combater no garrafão

Toyloy, uma fortaleza difícil de se combater no garrafão

Ramón ganha uma vaga pela consistência que dá ao trio de armadores de Limeira, clube cujo rendimento pede também três indicados. Seus números caíram em quantidade, mas subiram em qualidade, ocupando uma vaga que, em nome e números poderia ser do jovem Desmond Holloway. O Paulistano, porém, insere o explosivo Dawkins no quinteto reserva, mesmo que não repita a química obtida no campeonato passado. Baxter tem números inferiores aos de Robbie Collum (em menos minutos também), uma figura importante para o Minas, mas se sobressai pela postura defensiva. Shamell tem passado bem menos a bola, mas ainda se sustenta como um cestinha decisivo nas quadras brasileiras, enquanto Steven Toyloy voltou a ser uma rocha no garrafão depois de um ano em que foi subaproveitado pelo Pinheiros, levando um Palmeiras a uma honrosa sétima posição.
Estão aí. Se for para xingar, que seja com educação, tá?


Fla abre luta pelo tri com números inflados de ataque (e defesa)
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Giancarlo Giampietro

Vigiar o Flamengo lá na linha de três: é necessário

Vigiar o Flamengo lá na linha de três: é necessário

A concorrência do Flamengo que fique atenta no NBB7: os atuais bicampeões vão se garantindo, por ora, com base em seu poderio ofensivo. Uma artilharia. Em duas partidas, os rubro-negros flertaram com a marca centenária, tendo média de 98 pontos por partida para vencer Paulistano e Liga Sorocabana, fora de casa.

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Um detalhe: nesses dois triunfos, a equipe carioca matou 25 bolas de longa distância. Somou, então 75 pontos, ou 38,2% do seu total com bombas a partir do perímetro – para quem arremessou da linha da NBA em três amistosos da pré-temporada, parece que ficou mais fácil o fundamento, né? Quem quiser derrubar os caras, então, vai ter de fiscalizar bem no perímetro.

Agora, será que o Fla consegue manter um ritmo assim? Difícil, bem difícil. O mais razoável, na briga por um terceiro título consecutivo, seria encontrar um equilíbrio, ainda mais priorizando uma evolução considerável em sua defesa, que também cedeu mais de 90 pontos para a dupla paulista. Na temporada passada, para constar, o time carioca teve médias de 84,7 pontos pró e 76 contra.

Olho no campeão olímpico trintão...

Olho no campeão olímpico trintão…

Ao menos na contenção dos chutes de longa distância a equipe de José Neto vem bem. Somados, Paulistano e LSB acertaram apenas 15/54 (6/24 e 9/30, respectivamente), para um aproveitamento de 27,7%. Neste caso, não valeu a premissa do toma lá, dá cá.

O cestinha flamenguista nessas duas primeiras partidas foi Walter Herrmann, com 38 pontos no total, contra 33 de Marquinhos e 32 de  Marcelinho. O veterano argentino, ainda um craque ao seu modo, é quem vem mais fazendo estragos nos arremessos de fora, com 8/13 (61,5%). Sua habilidade para puxar um dos pivôs para fora do garrafão vem sendo um problema, então, para os adversários, que vão precisar estudá-lo com mais atenção.

Um detalhe: da parte dos sorocabanos, o ataque também vai funcionando, com média de 94 pontos, acima dos 75,9 do campeonato passado. Mas tem muita coisa para rolar ainda.

Sem conclusões precipitadas, é só um registro de duas contagens anormais para o basquete brasileiro neste princípio de campeonato.

*   *   *

Idem para o Bauru e Jefferson William

Idem para o Bauru e Jefferson William

Assim como Herrmann, outro strecht four que fez chover* bolas de três na segunda rodada foi Jefferson William, pelo Bauru. O ala-pivô anotou 30 pontos, dos quais 15 foram em tiros de fora (em nove tentativas). Eitalaiá. Os scouts ligados ao movimento de estatísticas avançadas da NBA ficariam malucos por aqui. Não é segredo que Jefferson gosta desse tipo de jogada. Mas também não foi marcado: seu aproveitamento é de 52,9%, com 9/17. Não deve ser algo sustentável, porém. Em sua carreira no NBB, a média é de 36,9%. Vamos monitorar, uma vez que o time de Guerrinha não faz questão nenhuma de esconder sua predisposição pelos chutes de longa distância, com até cinco atletas abertos em quadra. Na vitória sobre o Basquete Cearense, eles tentaram 29 bolas de três pontos e 30 de dois. Um (des)equilíbrio ao qual não chegaria perto nem mesmo um time maluco por esse tipo de jogo como o Houston Rockets. Em média, o time texano vem com 73,5 arremessos por partida nesta temporada 2014-2015, com 31,3 tentativas exteriores.

(*Sim, uma indireta ao problema com goteiras no ginásio Panela de Pressão, que fez a partida ser adiada. Algo que acontece, sabemos, não pode deveria mais, né? Da parte da cidade, clube e liga.)

*   *   *

Na estreia do técnico Marcel em um NBB, seu Pinheiros venceu o Rio Claro, fora de casa, por 84 a 70, num jogo um tanto maluco. Também uma novidade neste campeonato nacional, os rioclarenses chegaram a virar a partida no segundo tempo e abrir nove pontos no placar, só para tomar um 24 a 11 na última parcial. Não vi a partida. De todo modo, chama a atenção o quinteto titular usado por Marcel: Paulinho teve a companhia dos irmãos Smith, formação com três armadores bastante agressivos. Eles eram protegidos, digamos assim, por dois atletas muito físicos na linha de frente Marcus Toledo e Douglas Kurtz. O trio Paulo-Joe-Jason terminou com 52 pontos –61,9% do total do time da capital. Não só: foram mais 11 assistências, de 15, para o trio, e oito roubos de bola (sete por parte dos americanos). Epa.


NBB7 tem Flamengo favorito ao tri, mas com nova ameaça
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Giancarlo Giampietro

flamengo-2014-carioca-basquete

O NBB que começa nesta sexta-feira promete o melhor nível técnico do campeonato em sete edições. São ao todo dez atletas que disputaram a última Copa do Mundo, algumas importações de talento interessantes e jovens promissores – sim, eles ainda existem, mesmo que dependam da boa vontade de seus técnicos para jogarem. Fazer um bolão para adivinhar os quatro semifinalistas também será uma tarefa complicada, com muita gente se achando no direito de entrar nessa parada, o que é extremamente saudável. Resta saber o que todos os técnicos por trás dessas forças poderão aprontar, para fazer suas equipes se diferenciarem e subirem na tabela, tirando o máximo da técnica que tiveram à disposição.

De todo modo, em meio a essa crença de imprevisiblidade, uma tese é difícil de se evitar. Nem há muito como escondê-la: por tudo o que conquistou na última temporada – e no início desta –, o Flamengo é o grande favorito, principalmente depois que as negociações de Marquinhos com a NBA não foram adiante. Um jogador único dentro da liga nacional.

Se o time rubro-negro confirmar essa condição, chegará a um tricampeonato, repetindo o feito de seu rival Brasília, que ganhou três taças consecutivas entre 2010 e 2012. Se, para enfrentar adversários da liga norte-americana, em partidas de mais longas, o elenco de José Neto se mostrou reduzido, em cenário nacional, com os 40 minutos regulares da Fiba e uma concorrência mais justa, plantel não será um problema. Nem mesmo o tão sonhado pivô extra, que poderia ter sido JP Batista, parece necessário.

Dessa vez ele terá Vitor Benite desde o início da campanha – em vez de apenas na partida final –, ganhando  mais poder de fogo. Mas o grande chamariz, mesmo, em termos de novidade fica por conta de Walter Herrmann, que, aos 35 anos, tem muito o que render em quadra:

Demais, né? É o tipo de lance que você não cansa de rever. De tão sofisticado que foi o movimento, a cada reprise pode-se reparar em um novo detalhe: nada como fazer da bola de basquete uma bolinha de tênis. Herrmann, Marquinhos e Olivinha formam um trio de atletas intercambiáveis, que podem exercer múltiplas funções, entregando um pacote de características diversas que facilitam muito qualquer riscado de prancheta. A linha de frente é complementada pelo excelente Jerome Meyinsse, que comprovou contra Maccabi e NBA que não é só forte e atlético para os padrões sul-americanos, e Cristiano Felício, que já provou merecer seus minutos em sua turnê pelos EUA.

Não fica só nisso. Nícolas Laprovíttola é o melhor armador em atividade no país hoje, com um arsenal de fintas para entrar no garrafão quando bem entender. O que facilita a conexão com Olivinha, Herrmann, Meyinsse e Felício e, ao mesmo tempo, abre espaço para os chutes de fora de seus companheiros. Se o argentino maneirar um pouco no ímpeto e desistir dessa ideia de chutes de três em movimento, a partir do drible, sua eficiência vai decolar, impulsionando toda a equipe. Sim, há sempre detalhes para corrigir e o que melhorar, mesmo para os campeões. Mesmo para um time com o luxo de contar com um Gegê em constante evolução, saindo do banco. Enfim, um esquadrão, que deve imprimir um estilo de jogo agressivo, de velocidade e combativa defesa.

Uma nova ameaça
O Fla tem três quatro (1, 2, 3, 4) jogadores que disputaram a última Copa do Mundo. O único clube que repete essa marca é justamente aquele que, em teoria, desponta como a maior ameaça ao seu reinado: o Bauru. Campeã nacional em 2002, com os veteranos Raul, Vanderlei e Josuel, um emergente Leandrinho e os adolescentes Marquinhos e Murilo, a cidade só se viu entre os quatro melhores do NBB na edição retrasada, quando terminou em terceiro lugar.

Rafael e Larry, dois selecionáveis

Rafael e Larry, dois selecionáveis em Bauru

Para esta sétima edição, porém, a equipe do interior paulista foi a que mais se reforçou. Num projeto bastante ambicioso, a diretoria entregou a Guerrinha quatro grandes nomes: Alex, Rafael Hettsheimeir, Jefferson William e Robert Day, que se juntam a um núcleo já bastante forte.  As contratações do veterano Alex, que aos 34 ainda tem um vigor físico assustador, e de Hettsheimeir são as que chamam mais a atenção, e não necessariamente pela grife de seleção brasileira. Tirar o ala-armador de Brasília foi uma surpresa, um negócio que causa impacto em duas equipes de ponta de uma vez. Já o pivô passou os últimos nove anos na Espanha, estava em clubes de ponta do campeonato nacional mais forte da Europa e que poucos imaginavam que poderia voltar aos 28. Pois ele queria faz tempo, como revelou ao VinteUm.

O Bauru tem todas as peças que precisa para montar um ataque poderosíssimo. São três pivôs versáteis com Murilo, Hettsheimeir e Jefferson. Larry Taylor e Ricardo Fischer dividem a armação. Guilherme Deodato, o americano Day e Alex rodam nas alas. Esperem trovejadas de três pontos aqui. Constam também os caçulas Wesley Sena (se conseguir bater Thiago Mathias, já será ótimo sinal), Carioca (um tanque em direção ao aro), Vezaro e Gabriel para completar a rotação. As interrogações ficam por conta do joelho de Murilo, que vem dando trabalho, e da consistência defensiva de um time que é baixo no perímetro e vai depender de muita pressão em cima da bola para se proteger – algo que Alex, Larry, Fischer e Gui podem muito bem fazer.

É um plantel mais volumoso e com mais apelo que o do velho candidato Brasília, que tem José Vidal novamente na beirada da quadra. Giovannoni é um sério candidato ao prêmio de MVP do ano, agora com ainda mais responsabilidades ofensivas, enquanto Arthur vai correr ao redor das defesas, se desmarcar e converter seus chutes. Fúlvio é o tipo de armador que vai satisfazê-los em sua sede de pontos. Para a equipe candanga voltar ao top 4, porém, dois pontos são importantes: que o americano Darington Hobson se encaixe e se adapte – já ouvi por aí que ele tem um senso de grandeza um pouco desproporcional ao que produz… – e que Ronald e Isaac esteja prontos para carregar uma carga maior. A defesa vai depender muito dos três.

Mais que o CV
Esses são evidentemente os times mais estrelados da competição. Considerando a divisão de títulos bipolar dos seis primeiros campeonatos, sabemos que isso tende a fazer diferença por estas bandas. Por outro lado, a lista de vice-campeões nos permite pensar, sim, em mais candidatos, ou surpresas. Não é que Flamengo e Brasília tenham chegado a todas as decisões. Nos últimos quatro anos, a equipe derrotada foi diferente.

O Paulistano entra como vice-campeão, sem Mineiro (d), com Hardin

O Paulistano entra como vice-campeão, sem Mineiro (d), com Hardin

O Paulistano, segundo colocado do ano passado, fez por merecer o respeito de todos e também mantém seu núcleo, com um elenco bastante homogêneo em que os americanos Kenny Dawkins e Desmond Holloway carregam a pontuação e uma série de companheiros os ajudam com defesa, movimentação de bola e espaçamento. Para este ano, chegaram o experiente Fernando Penna (um jogador de que gosto, mas que não sei bem o quanto era necessário num elenco que já tinha o jovem Arthur Pecos para ajudar Dawkins e Manteiguinha) e o americano DeVon Hardin, um gigante extremamente atlético que chega para substituir um Rafael Mineiro, que foi para o São José. O pivô havia feito ótimo campeonato na temporada passada patrulhando o garrafão, ocupando espaços na defesa. Para isso, Hardin, que já foi selecionado no Draft da NBA de 2008, vai ter de mostrar que é muito mais que um campeão de enterradas. E, sim, Fabrício Melo poderia estar aqui, mas acabou dispensado por questões extraquadra. Gustavo de Conti vai tentar fazer dessa turma uma nova encrenca para os adversários.

E, se for para falar em surpresa, não há como ignorar o que o Mogi das Cruzes também balançou o NBB6. Honestamente, talvez nem mesmo o técnico Paco Garcia esperasse que sua equipe poderia alcançar a semifinal e endurecer contra o Flamengo numa série melhor-de-cinco. O problema do sucesso é o desmonte. Quatro de seus atletas migraram para o próximo clube dessa lista. Em contrapartida, chegaram caras de ponta como Shamell e Paulão, além do ala Tyrone Curnell, referência do Palmeiras no campeonato passado, do armador Elinho e do jovem pivô Gerson Espírito Santo, formado em Colorado State. O Mogi pode manter a pegada de  um garrafão pesado, massacrante que o levou  longe, mas também conta hoje com mais alternativas para acelerar o jogo. Tantas trocas, porém, pedem tempo para o acerto. O que não deve mudar é o apoio de sua torcida. Lá o mando de quadra faz realmente diferença.

Tyrone Curnell crava: do Palmeiras para o reformulado Mogi

Tyrone Curnell crava: do Palmeiras para o reformulado Mogi

Também semifinalista, mesmo numa temporada conturbada em que contou com três técnicos, o São José é outro que tem algumas caras novas para entrosar. E pior: algumas delas chegando de última hora, perdendo a fase de preparação, a ponto de faltar contingente para o técnico Zanon – recém-egresso do Mundial feminino, diga-se – realizar coletivos. Além disso, Caio Torres vem sofrendo com uma tendinite no joelhor direito. A contratação de Mineiro ganha relevância por isso. Valtinho é quem assume a direção agora – Manny Quezada, o homem dos 50 pontos, foi embora. Nas alas, Betinho vai ter a companhia de dois americanos: Andre Laws, que está de volta (e nem dá para entender por que havia sido liberado), e Jimmy Baxter, mais um que vem da Argentina.

Agora vai?
O continente paulista, aliás, talvez chegue com sua maior força ao campeonato nacional, desde que ele passou a ser organizado pela LNB. O estado, maior polo produtor do país, ainda não conquistou o título do NBB, tendo de se contentar com três vice-campeonatos, quatro terceiros lugares e três quatro lugares. Tem mais gente querendo entrar nessa briga.

O Pinheiros estoca as revelações mais tentadoras do basquete brasileiro, com o novato Georginho chegando para a festa, mas tem na contratação do técnico Marcel de Souza seu ponto mais intrigante, que promete algo de diferente no plano tático, encerrando seu exílio. A receita na montagem do elenco é semelhante à de seu rival da capital: nomes não muito badalados, mas com bons jogadores em quantidade (são quatro armadores que pedem tempo de quadra, por exemplo: os irmãos Smith, Paulinho e Jéfferson Campos, sem contar Humberto). Subestimem o quanto quiserem um trator como Marcus Vinícius Toledo, que isso não costuma sair bem. Os resultados recentes do time, campeão da Liga das Américas 2013, também o credenciam.

De volta ao interior, armadores também não faltam a Limeira, agora com Nezinho ao lado de Ronald Ramon e Deryk. A presença de um cestinha como David Jackson e de Rafael Mineiro, Teichmann e Fiorotto também encoraja muito. E quanto a Franca? O time da capital basqueteira dosa, entre seus protagonistas, a cancha de Helinho, que está de volta para trabalhar, veja só, com Lula Ferreira, e dos argentinos Juan Figueroa e estreante Marcos Mata (candidato a MVP?) dois alguns prospectos para a seleção brasileira como Leo Meindl e Lucas Mariano – mas talvez que talvez só sejam aproveitados com maior frequência no outro ciclo olímpico, a julgar pelo progresso deles e o conservadorismo de Rubén Magnano. A rotação, porém, é enxuta.

David Jackson, candidato a cestinha do NBB por Limeira

David Jackson, candidato a cestinha do NBB por Limeira

São todos ótimos times, com muito potencial para ser explorado por seus treinadores. Depois do que Paulistano, São José e Mogi fizeram no NBB6, cada um ao seu modo, com trilhas diferentes, está claro que o equilíbrio da competição permite diversos desdobramentos. O maior orçamento, os nomes mais consagrados…  Essas coisas talvez não importem mais. Vai pesar o melhor trabalho de quadra, mesmo.

No Rio, pensando nisso, o Flamengo tem algo que costuma fazer a diferença no basquete: química e continuidade, como o Spurs demonstra na NBA. No caso do gigante carioca, a diferença é que, em seu elenco, estão muitos dos melhores jogadores da liga também. Uma combinação dura de derrubar.


Corra, Flamengo, corra: o desafio do 1º jogo nos EUA
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Giancarlo Giampietro

O pequenino Isaiah Thomas é um dos que vão acelerar contra o Flamengo

O pequenino Isaiah Thomas é um dos que vão acelerar contra o Flamengo

Encarar um time de NBA já é um baita desafio do ponto de vista técnico. Quando o Flamengo entrar em quadra nesta terça, em Phoenix, é melhor que respirem fundo. Não só para controlar a ansiedade, mas guardar o fôlego, mesmo, que o Suns promete correr muito. Correr demais, mesmo, atendendo aos pedidos do técnico Jeff Hornacek.

Quem diria, né?

Para esmagadora parte da audiência brasileira, Hornacek foi apresentado como uma das peças metódicas do ultracontrolado Utah Jazz de Jerry Sloan dos anos 90. Era o principal coadjuvante da dupla Stockton-Malone, num time de abordagem bastante sistemática no ataque. No início de sua carreira na liga, porém, Hornacek era um veloz ala-armador a serviço do Suns, um clube que tem tradição no basquete de correria.

Em seu retorno ao Arizona, num dos melhores trabalhos da temporada passada, o treinador insistiu que seu time fizesse da aceleração seu modos operandi. A equipe acabou liderando a tabela de pontuação no contra-ataque, com 18,7 em média por jogo, subindo da 14ª posição que teve em 2012-13. Um progresso e tanto, mas não o bastante para satisfazer o comandante.

Hornacek, sádico, nem sua

Hornacek, sádico, nem sua. Aí é fácil, professor

De certa forma, Hornacek tem razão. O Suns pode ter apresentado um ataque em transição bastante eficiente, mas, em linhas gerais, não foi o time que mais correu na campanha passada. No cálculo de posses de bola por partida, o ritmo de jogo, seu time terminou em oitavo. Para o traning camp deste ano, então, o treinador levou a rapaziada para a altitude de mais de 2.100 m de Flagstaff, no norte do estado, forçando naturalmente a melhora do condicionamento físico de seus atletas.

“Queremos estar entre os três primeiros. A ideia é realmente repor a bola e partir com ela. Colocar pressão nas outras equipes. Temos um elenco grande, então sentimos que é possível. Então é isto: estamos forçando esses caras a alcançar o nível de forma física necessário para que possam correr”, afirmou. “Quando pegamos a bola depois de uma cesta, somos um pouco lentos ao sair para oa taque.

O Suns treinou por dois períodos ao dia em Flagstaff até a realização de um coletivo aberto para os torcedores no sábado. Deram uma palhinha do que podem fazer, embora Hornacek espere mais. “Não acho que eles foram tão rápidos como eu queria. Mas, para um training camp, foi  muito bom.”

Para o primeiro teste do time de Phoenix na pré-temporada, a ideia do treinador é usar diferentes escalações a cada cinco ou seis minutos, para manter o ritmo desejado. Preservar as pernas de Goran Dragic, Eric Bledsoe e do reforço Isaiah Thomas, todos muito velozes com a bola.

Ele espera usar todos os 17 atletas que estão disponíveis, incluindo os jogadores convidados para a fase de treinamento, como o pivô Earl Barron (já de boa rodagem na NBA) e os calouros Joe Jackson, Casey Prather e Jamil Wils. A conferir. O pivô Alex Len, com mais uma fratura na mão, e o ala-pivô Anthony Tolliver, também com a mão lesionada, são desfalques.

Os flamenguistas estão, então, avisados. O amistoso promete ser intenso em muitos sentidos.

*   *   *

Para contextualizar: desde que foi derrotado pelo Fla no Rio de Janeiro, perdendo a Copa Intercontinental, o Maccabi Tel Aviv já disputou dois amistosos contra adversários da NBA. Perdeu ambos. Nesta terça-feira, enquanto Bruno Caboclo fazia das duas pelo Toronto Raptors, o clube israelense perdia para o Brooklyn Nets: 111 a 94. No primeiro jogo, mais uma surra: 107 a 80 contra o Cleveland Cavaliers de seu ex-treinador, David Blatt.

Em ambos os jogos, o armador Jeremy Pargo, grande destaque individual dos embates no Rio, mostrou que a defesa rubro-negra não precisa se avexar pela dificuldade que passou. Contra o Cavs, o americano somou 18 pontos, 5 assistências e 4 rebotes. Contra o Nets, brilhou com 27 pontos, 7 assistências e 6 rebotes. A Euroliga promete para o jogador.

*    *    *

Três flamenguistas têm experiência de NBA no currículo: Marquinhos, Walter Herrmann e Derrick Caracter. O pivô americano, que só tem mais três jogos previstos pela equipe carioca, foi o último a jogar na grande liga, em 2011, pelo Los Angeles Lakers. Juntos, eles somam 2.326 minutos de experiência (o equivalente a 48 partidas na íntegra). Herrmann foi responsável por 1.939 desses minutos. No elenco do Phoenix Suns, o trio não vai encontrar nenhum de seus ex-companheiros.

*   *   *

Leandrinho é ponto comum entre Flamengo e Phoenix. Durante o lo(u)caute da NBA, o ala-armador disputou seis partidas do NBB vestido de vermelho e preto. No Arizona, vocês sabem, ele se tornou um atleta bastante popular. Em oito temporadas pelo clube do Arizona, o ligeirinho acumulou 486 minutos, 12.072 minutos (média de 24,8) e 6.024 pontos (12,4).


A ciranda de Marquinhos, Flamengo e Wizards. Como faz agora?
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Giancarlo Giampietro

Caracter e Herrmann, os que não conhecem tão bem o Flamengo

Caracter e Herrmann, os que não conhecem tão bem o Flamengo

Primeiro foi tratado como “rumor”. Depois, como furada. Mas agora parece que está acontecendo mesmo: os repórteres Fábio Aleixo e Pedro Ivo Almeida, parceiros aqui do UOL Esporte, acabam de noticiar que Marquinhos está, mesmo, em negociações avançadíssimas para assinar com o Washington Wizards.

De modo que este é um post complicado de escrever, mas importante, já que tem a ver com o universo do basquete e o do jornalismo, com notícias (ou boatos?), desmentidos (ou dissimulações?)… Enfim, todas as artimanhas que a profissão sempre ofereceu para repórteres e fontes, que ficam ainda mais complicadas em tempos de Internet. Vamos lá, então, relatar o que está acontecendo, em ordem cronológica:

Quinta-feira
O jornalista italiano Emiliano Carchia, que pilota o site Sportando, referência em notícias do basquete europeu e que também mete a colher aqui e ali no mundo da NBA, soltou uma bomba que agitou o basqueteiro brasileiro – e o flamenguista em particular. Emiliano cravou: Marquinhos havia acertado um contrato de um ano com o Washington Wizards e estaria pronto para viajar no mesmo dia.

Acontece que, naquele exato momento, o Flamengo estava treinando na Arena HSBC no Rio de Janeiro, na véspera da disputa da Copa Intercontinental contra o Maccabi Tel Aviv. Que hora, hein? Finalizada a sessão, Marquinhos desmentiu, disse que não tinha assinado contrato nenhum. O Flamengo não estava sabendo de nada. O agente do atleta, em contato com o jornalista italiano, reforçou as negativas, pedindo um desmentido no site. Emiliano seguiu a linha de ouvir o outro lado e publicou sua nota de noite. O pequeno texto, porém, se encerrava com a informação de que uma fonte sua assegurava que o ala brasileiro e o time da capital norte-americana tinham um acordo acertado.

Sexta-feira
Marquinhos vai para a quadra normalmente com o Flamengo, escalado no time titular ao lado de Laprovíttola, Marcelinho e Walter Herrmann, trio que também participou da Copa do Mundo. Torneio no qual o lateral jogou muita bola, apresentando uma intensidade bastante rara para quem acompanha sua carreira desde os tempos de Vasco da Gama, Mogi etc. Obviamente que o desempenho chamaria a atenção de olheiros – o atleta sempre foi um prospecto de nível internacional, descolando contrato com o então fortíssimo basquete italiano cedo em sua carreira, sendo draftado pelo New Orleans Pelicans-então-Hornets e tal. Poderia estar no basquete europeu há tempos, em clubes de ponta, mas, devido aos filhos, preferiu o conforto de casa, fazendo boas campanhas por Pinheiros e, agora, Fla.

Contra o Maccabi, o ala não teve o desempenho mais eficiente (4-12 nos arremessos, 11 pontos, 4 rebotes, 2 roubos de bola, 2 turnovers em 29 minutos), mas jogou duro, com a mesma pegada que havia demonstrado na Espanha. Não foi sua melhor partida, mas jogou bem, passando aquela impressão (de sempre) de que pode ser muito mais utilizado, ainda mais quando está empenhado em partir para a cesta.

Ao final da partida, uma derrota por 69 a 66, Marquinhos foi o escolhido pelo repórter Guido Nunes, do SporTV, para fazer os primeiros comentários sobre o jogo. Quando questionado sobre os reforços rubro-negros para a competição – especificamente o argentino Walter Herrmann, que vem para disputar toda a temporada, e o norte-americano Derrick Caracter, contratado especificamente para o Intercontinental e os amistosos nos Estados Unidos –, o brasileiro não dobrou a língua e foi crítico. Disse que os gringos não jogaram bem e que o técnico José Neto deveria ter usado um “time que se conhece”. Assim, na lata. Essa coisa de contratação pontual, para um punhado de jogos, tem histórico bastante duvidoso. Os cruzeirenses que o digam.

O que nos leva ao grande hit da banda sueca The Hives, que já tem mais de dez anos:

Sábado
Lá vêm Fábio Aleixo e Pedro Ivo Almeida para basicamente confirmarem a bomba que Emiliano Carchia havia soltado na quinta: sim, Marquinhos está negociando com o Washington Wizards. Nenê teria reforçado a indicação de seu companheiro de seleção, que está inclusive pesquisando sobre escolas na capital norte-americana para inscrever as filhas. Quer dizer: o Sportando pode ter meio que errado ao dizer que o contrato estava assinado e que já viajaria na quinta. Mas também estava meio certo, no sentido de que parece que está tudo acertado entre as partes, restando apenas a tinta no papel.

Domingo
E aí? Faz como?

Lembrando que não é a primeira vez que Marquinhos se envolve nesse tipo de tiroteio público. Como sabem Guerrinha e Flávio Davis, assistentes da seleção na gestão de Lula Ferreira. Por falar nesta fase da equipe nacional, mais especificamente de 2007, nem sempre o que acontece em Las Vegas fica em Las Vegas, né? Além do mais, até Rubén Magnano, um entusiasta do jogador, teve suas rusgas e lamúrias. O que não quer dizer que ele seja um atleta problemático. Marquinhos é simplesmente um atleta que não se importa com o microfone e costuma falar o que dá na telha.

O ala está falando por conta própria? Sua opinião foi, digamos, pontual? No sentido de que só fez uma crítica ao basquete apresentado pelo(s?) reforço(s?) naquela sexta-feira específica e que seu treinador deveria se ater a um time mais bem entrosado? Ou seu comentário tem a ver com algum ressentimento pela contratação de última hora de Caracter? E isso reflete de algum modo a opinião geral do vestiário, ou pelo menos de alguns companheiros? Se há um desconforto, isso o teria motivado a abrir o bico em rede nacional, uma vez que seu compromisso com o clube já está chegando ao fim?

São as questões que precisam ser respondidas agora.

O Flamengo, basicamente, precisa vencer o Maccabi por quatro pontos para ganhar um título histórico. É mais do que plausível isso. O time israelense comprovou na primeira partida sua vulnerabilidade, sua falta de entrosamento. Foi salvo pelo caminhão de chutes de três desperdiçados pelo adversário e pelas estripulias de Jeremy Pargo.

Agora, porém, as dificuldades cresceram. E o que será mais complicado de se resolver: lavar a roupa suja com Marquinhos, treinar os chutes de três pontos ou anular Pargo?


Flamengo erra um caminhão de bolas de 3 e perde 1ª final
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Giancarlo Giampietro

Maccabi fecha a porta para Laprovíttola: única saída foi o tiro de fora, então?

Maccabi fecha a porta para Laprovíttola: única saída foi o tiro de fora, então?

Foi apenas por  três pontos: 69 a 66. O Flamengo perdeu para o Maccabi Tel Aviv por um placar reduzido desse, nesta sexta-feira, no Rio de Janeiro, na primeira final da Copa Intercontinental. Quer dizer: a equipe carioca tem totais condições de virar o resultado na segunda partida, domingo, com base no saldo de pontos – numa fórmula de competição esdrúxula, independentemente das limitações do calendário internacional, convenhamos.

Então, tudo bem. Acontece, né?

Hm… Nem tanto: as condições poderiam ser muito mais favoráveis para o time rubro-negro no segundo jogo não fosse uma jornada completamente equivocada, desastrada e inexplicável nos arremessos de longa distância.

Pois, que coisa: se, na defesa, a equipe de José Neto fez o dever de casa, fiscalizando da maneira devida, exemplarmente, os arremessos de três pontos de seu adversário, no ataque ela se entregou desta forma. Para deixar mais claro contra-senso: de um lado, trabalhou seriamente para limitar os chutes de fora; do outro, achou que poderia resolver a partida do mesmo jeito.

Olivinha foi uma raridade nesta sexta: não arremessou nenhuma bola de longa distância e terminou com 13 pontos e 7 rebotes em 24 minutos. Inteligência, preparo e determinação fazem a diferença em qualquer nível

Olivinha foi uma raridade nesta sexta: não arremessou nenhuma bola de longa distância e terminou com 13 pontos e 7 rebotes em 24 minutos. Inteligência, preparo e determinação fazem a diferença em qualquer nível

E não é que o Maccabi tenha repetido a dose de seu rival e contestado as tentativas de longa distância flamenguistas. Em diversas ocasiões, principalmente no primeiro tempo, os donos da casa simplesmente se contentaram em brecar na linha perimetral  para mandar ver. Sem sucesso: o aproveitamento geral na noite foi de apenas 4-31 neste tipo de bola. Apenas 12,9%. Com um rendimento desse, não vamos falar de azar ou detalhes, vamos? Sinceramente.

“A verdade é que o time deles fechou muito o garrafão e não tivemos muita saídas. Agora é assistir ao vídeo e ver no que pode melhorar”, afirmou Marquinhos, ao SporTV, que anotou 11 pontos em 29 minutos, convertendo 4 de 12 arremessos, em 29 minutos. Titular da seleção brasileira na Copa do Mundo, o ala foi um pouco mais comedido em seus disparos: 1-4 de longa distância.

Já o Maccabi terminou também com pífios 24% nos arremessos de três pontos, matando apenas 5-21, algo que não valeria nunca um título de Euroliga. Quer dizer: José Neto conseguiu passar a mensagem aos seus atletas de que esse jogo exterior precisaria ser contido. O que deixa perplexo é o fato de, na outra faceta, seus ateltas se perderem justamente da mesma maneira.

Que o Maccabi tenha forçado o Flamengo para os arremessos de fora não é uma surpresa. É um time que não tem tanta estatura ou envergadura, mas que preenche seu garrafão da maneira apropriada. O problema? O time brasileiro se perdeu em uma avalanche de arremessos sem a menor paciência para trabalhar a bola, nem mesmo quando tinha vantagem no placar.

Neste quesito, um jogador com a experiência de Marcelinho Machado precisaria ser um líder, para acalmar a situação. Acabou tendo uma atuação ainda mais lamentável no Rio, errando todos os seus nove chutes, incluindo todos os oito de três, em 19 minutos. Mas não dá para falar apenas do camisa 4. O armador argentino Nicolás Laprovíttola também se atrapalhou todo com apenas uma cesta de longa distância em nove que tentou (2-12 no geral). Vitor Benite, muito mais jovem, explosivo e habilidoso que seu veterano capitão, ficou com 0-5 (fez 9 pontos em 16 minutos, sendo muito mais eficiente quando partiu para os chutes mais de perto (3-3 nas bolas de dois…).

Aqui, cabe o devido parêntese: ambos os times estão em fase de pré-temporada. Estão desenferrujando, recuperando o melhor ritmo de jogo, buscando um melhor entrosamento. O jogo teve, mesmo, cara de amistoso, algo que pode mudar no domingo, com expectativa de público maior no ginásio da Barra. Mas, se for para falar disso, os próprios flamenguistas admitem que isso seria uma vantagem ao seu favor, uma vez que têm apenas dois atletas para assimilarem – Walter Herrmann e a contratação pontual Derrick Caracter –, enquanto, do outro lado, os europeus mudaram mais da metade de sua rotação e ainda estão assimilando os conceitos de um novo treinador. Uma combinação de fatores que abre incógnitas sobre o desenvolvimento do time israelense, dando mais chances para o Flamengo.

Essas chances ficaram evidentes no jogo desta sexta-feira. O campeão brasileiro e latino-americano vencia ao final do terceiro quarto por cinco pontos. A vantagem chegou à casa de duplos dígitos na etapa inicial, mas as precipitações no ataque permitiram que o Maccabi se mantivesse no jogo. Algo que se mostrou fatal no último quarto, quando a boa e velha combinação de um armador explosivo e matreiro com um pivô atlético fazendo a limpa na tábua ofensiva voltou a funcionar.

Jerome Meyinssie não foi bem no 1º jogo: 2 pontos e 5 rebotes em 18 minutos (1-5). Mas seus companheiros também desistiram facilmente do americano, que viu seu companheiro de universidade, Sylven Landesberg, marcar 10 pontos

Jerome Meyinssie não foi bem no 1º jogo: 2 pontos e 5 rebotes em 18 minutos (1-5). Mas seus companheiros também desistiram facilmente do americano, que viu seu companheiro de universidade, Sylven Landesberg, marcar 10 pontos

Com Tyrese Rice infernizando a defesa de seus adversários e Alex Tyus desequilibrando na rebarba, o time israelense faturou a Euroliga de modo surpreendente em Milão, derrubando o CSKA pela semifinal e o grande favorito Real Madri pela final. Na troca de temporada, com o mercado russo interferindo, Rice se mandou, mas Pargo retornou para assumir sua vaga. Único jogador com experiência de NBA no elenco de Tel Aviv, o armador foi um terror em quadra, com 21 pontos em 30 minutos, matando 8-14 chutes de quadra, castigando a defesa do Fla tanto dentro como fora. Tyus se viu mais limitado, com apenas 23 minutos, mas contribuiu com 9 pontos e 5 rebotes, dois deles ofensivos.

Com o norte-americano ao centro e quatro atletas abertos, o Maccabi lembrou em muito mais o time que levou o título europeu na temporada passada, ao contrário da formação tradicional que usou no início do confronto, com o pesado e nada efetivo Aleks Maric tendo a companhia de Brian Randle no garrafão. No segundo tempo, o australiano Maric ficou grudado no banco de reservas, e os israelenses ganharam em agilidade e mobilidade para fazer uma defesa mais compacta e também pontuarem de modo mais diversificado. Saiu um poste e entrou outro atleta capaz de criar a partir do perímetro, espaçando a retaguarda flamenguista.

Os times foram se estudando, entendendo. Por melhor que seja o scout feito na véspera, nada melhor do que ver o embate empírico de suas peças, ainda mais com a distância geográfica e esportiva que existe entre a Liga das Américas e a Euroliga. Levando este ponto em consideração, o deslize do Flamengo é ainda maior, considerando o cenário propício para desbancar os favoritos.

Também ao SporTV, ao final do jogo, o armador MarQuez Haynes, que anotou 5 pontos em 13 minutos, reconheceu que cada time agora conhece melhor o seu oponente. Se formos pensar assim, o destempero rubro-negro da linha de fora talvez até possa, enfim, jogar ao seu favor. Capaz de o Maccabi não votar mais fé nenhuma neste fundamento. Aí, de repente, a sorte vira de lado. Foram apenas três pontos de vantagem para os israelenses no primeiro jogo. Três pontos não são nada no basquete.

*  *  *

Em sua entrevista pós-jogo, Marquinhos também disse o seguinte: “O Neto tem que colocar em quadra quem ele conhece”. Sem explanar muito, fora de contexto, parece um jab de direita em direção ao americano Caracter, contratado de última hora para a Copa Intercontinental e os amistosos nos Estados Unidos contra a galera da NBA. O pivô jogou por quase 22 minutos e somou 10 pontos e 11 rebotes, sendo, ao lado de Olivinha, um dos atletas mais eficazes do Fla. Talvez não seja uma crítica, então. Mas tem a história do Cruzeiro, no futebol, sempre para ser contada.


A contribuição vibrante de Marquinhos para a seleção avançar
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Giancarlo Giampietro

Marquinhos, vibrante

Já falamos aqui de um Leandrinho que anda mais contido, e, ao mesmo tempo, mais eficiente como pontuador nesta Copa do Mundo. Não é a única mudança notada em alguns dos personagens que tentam reconduzir a seleção brasileira a um pódio neste nível de competição. Na vitória contra a Argentina neste domingo, tão comemorada,  o armador Raulzinho roubou a cena, enquanto os pivôs esmigalhavam os argentinos no garrafão. Agora, se você for reparar bem, houve outro jogador que deu contribuição importantíssima na batalha mais próxima da cesta: Marquinhos. Sim, o Marcus Vinícius Vieira de Souza, mesmo, jogador que sempre teve seu talento ressaltado por estas quadras, mas que dificilmente foi confundido por um cara vibrante.

O ala da seleção brasileira apanhou oito rebotes no triunfo pelas oitavas de final, algo bastante incomum em sua carreira. Basta olhar os números proporcionados pela Fiba para perceber isso:

Marquinhos, números do Mundial, 2014, seleção

O senhor Tuto Marchand que nos perdoe, mas recomenda-se nem dar bola para as linhas estatísticas de 2007 e 2011 do torneio que carrega seu nome. A Fiba pode assumi-lo como algo oficial, mas sua conotação é muito mais de amistoso, um quadrangular preparatório para a Copa América, do que um troféu internacional que os times participantes estejam doidos para conquistar. Em suma: o nível de competitividade diminui. Não conta. Posto isso, Marquinhos então chega às quartas do Mundial com sua maior média de rebotes em jogos internacionais: 4,8.

Para alguém de 2,07 m de altura, não é exatamente uma façanha, é verdade, mas representa um avanço sensível se comparado com suas outras campanhas. Ainda mais que sua quantidade de minutos no Mundial não anda tão elevada assim (apenas 21 por jogo). Numa projeção por 30 minutos  por partida, seu rendimento subiria para 6,8.

Marquinhos, atacando também lá dentro – ainda que a preferência da casa ainda seja os tiros de fora, mesmo: são 4 por jogo em apenas 21 minutos, mas fundamentais para espaçar a quadra e dar um pouco de liberdade para os pivôs

Marquinhos, atacando também lá dentro – ainda que a preferência da casa ainda seja os tiros de fora, mesmo: são 4 por jogo em apenas 21 minutos, mas fundamentais para espaçar a quadra e dar um pouco de liberdade para os pivôs

No NBB, a média de sua carreira é de 4,3 rebotes por jogo, mas em praticamente 33 minutos de ação. Em seu melhor ano no fundamento, apanhou 5,5 por rodada vestindo a camisa do Pinheiros em 2008-09, mas em 38 minutos – no atual ritmo pela seleção, se tivesse esse tempo de quadra, sua média subiria para 8,6 rebotes, algo impressionante.

Até porque cabe uma diferença: Marquinhos tem altura e agilidade, mas fica muito menos próximo da cesta do que um Varejão ou um Nenê, por exemplo. Em atividade pelo Flamengo, diga-se, está quase sempre com a bola nas mãos, criando no perímetro, tentando uma avalanche de arremessos de três pontos (5,1 e 5,7 nos últimos dois campeonatos). Esse posicionamento se repete na seleção, com o ala bastante aberto. – de modo que os rebotes ofensivos são praticamente impossíveis de acontecer. O que não o impede de dar apoio aos pivôs na defesa.

Contra uma Argentina que puxava seus pivôs (ou falsos pivôs, digamos) para a cabeça do garrafão e a linha de três pontos, era imperativo que Marquinhos fizesse um bom trabalho de cobertura e na briga pelas rebarbas na tabela brasileira, ainda mais brigando com gente como Andrés Nocioni e Marcos Mata, que são ferozes e oportunistas ao atacar a tábua ofensiva. O ala brasileiro segurou o tranco, com 8 rebotes em 32 minutos, assim como havia feito na estreia contra uma França igualmente desafiadora, com Batum e Gelabale, assegurando 6 rebotes em 27 minutos.

Marquinhos x Marcos Mata

Marquinhos x Marcos Mata

Ter Marquinhos – e os alas em geral – mais próximos dos pivôs é uma carência constatada há tempos na seleção. Ironicamente, foi algo que um argentino, mesmo, apontou antes do clássico deste domingo. O ex-armador argentino Pepe Sánchez, hoje comentarista, via um ruído na comunicação entre a turma de fora e os pivôs. “Em todos estes anos, o time não tem mostrado entre  o jogo interior e o perímetro. Ou é perimetral, ou é interior. Talvez agora Marquinhos esteja fazendo um pouco isso”, afirmou. Bem-vindo seja o apetite.

A tendência do majoritária do torcedor brasileiro é valorizar o ataque e do “esporte-arte”, não importando a modalidade. No basquete, isso quer dizer que os holofotes geralmente estão dedicados aos cestinhas. A enterradas de levantar a torcida, bandejas acrobáticas e, claro, arrremessos de três pontos salvadores. São lances muito bonitos, claro. Natural, então, que o jogador brasileiro em geral esteja muito mais propenso a abraçar essa causa. Jogar pelo show.

Não dá para ser chato e condenar todo e qualquer lance que se enquadre nessa linha. Nem todo mundo precisa ser Ucrânia nessa vida. Atenção também, por favor, aos termos “majoritária” e “em geral”. Obviamente há diversas exceções para serem destacadas, como um Varejão, que sempre teve tino para lutar por rebotes, perseguir armadores na defesa e trazer o caos para a quadra. Alex Garcia sempre foi um exemplo. O cavalar Marcus Toledo, do Pinheiros, o Mineiro, do Paulistano, Daniel Alemão, do Mogi, e mais, e mais, e mais. Mas, bem, sabemos que a vocação de nossa base é direcionada para o aspecto ofensivo. E, ok, vence quem acerta mais bolas numa cesta, mesmo. Só não dá para achar o esporte é feito disso, como a atual guinada vivida pela seleção na Copa do Mundo nos evidencia.

É uma equipe combativa, que vai limitando seus adversários a apenas 68 pontos por jogo. Vencendo muito mais por seu comprometimento defensivo do que por iluminação ofensiva. Para sustentar uma boa retaguarda, obviamente é importante ter princípios, coordenação, comunicação, boa análise dos adversários e muitos outros fatores. Dentre eles, porém, nada supera o empenho. Não adianta o técnico cantar tudo em treinos e ao lado da quadra durante os jogos, se os atletas não estiverem dispostos a lutar pela bola. De modo intenso, como vem sendo o gratificante caso de Marquinhos.