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Brasil escapa com vitória na prorrogação contra Eslovênia. E aí?
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Giancarlo Giampietro

Splitter arrebentou novamente: 18 pontos, 6 rebotes e 3 assistências em 26 minutos

Splitter arrebentou novamente: 18 pontos, 6 rebotes e 3 assistências em 26 minutos

Em termos de dinâmica de placar, as coisas foram bem parecidas. Brasil abre baita vantagem no primeiro tempo e perde o controle da situação no segundo. Foi assim contra a Lituânia na véspera e contra a Eslovênia nesta sexta-feira.

Dessa vez, porém, a seleção brasileira escapou de quadra com uma vitória por 88 a 84, na prorrogação. Na casa do adversário, diga-se.

Os rapazes de Magnano chegaram a ter 19 pontos de vantagem no princípio do terceiro período, mais precisamente com 49 segundos jogados na parcial, com uma cesta de Anderson Varejão (48 a 29). Com 2min33s jogados, o placar era de 48 a 32. Ao final do período, a diferença já havia praticamente evaporado: 52 a 47.

A história, nesse sentido, foi praticamente a mesma. Mas o modo como chegamos a esse drama todo.

Contra lituanos, o Brasil construiu uma boa vantagem com base num ataque balanceado e nos disparos de longa distância de Rafael Hettsheimeir. Contra eslovenos, foi a vez da blitz. Aquela marcação bastante pressionada que Magnano instaurou na equipe há uns dois Carnavais e que, estranhamente, não vinha sendo muito aplicada neste giro de amistosos.

Larry Taylor foi o destaque aqui, infernizando a vida dos reservas anfitriões e até mesmo de Goran Dragic. O norte-americano forçou uma série de turnovers dos adversários, fez desarmes e desvios que certamente não lhe foram computados na tábua de estatísticas, mas que desestabilizaram o rival. Diversas cestas fáceis em contra-ataque resultaram deste abafa.

Raulzinho também teve um papel importante nesse abafa – e aqui cabe uma destaque: os melhores momentos brasileiros em Ljubljana até agora vieram com a dupla de armadores em quadra.

Nenê foi dominante na primeira etapa, fazendo um pouco de tudo em quadra no ataque e na defesa

Nenê foi dominante na primeira etapa, fazendo um pouco de tudo em quadra no ataque e na defesa

Os dois baixinhos mordiam, mais adiantados, e Nenê se movimentava de modo excepcional na cobertura, fechando corredores. Foram computados três tocos para o pivô no jogo, mas sua influência também foi muito além do que mostra a linha estatística. No primeiro tempo, sua atuação foi verdadeiramente primorosa.

No segundo, contudo, essa pegada não viria a se repetir – e também nem dá para esperar/cobrar que ela se sustente por uma longa sequência. O que é bom também. Para mostrar que mais e mais ajustes são necessários a pouco mais de uma semana da estreia no Mundial.

Dessa vez, a defesa brasileira permitiu que a Eslovênia trovejasse em quadra com suas cestas de três pontos. Depois de anular os donos da casa no primeiro tempo neste quesito, levando apenas um disparo em 11 tentativas, no segundo tempo foi permitido uma farra daquelas.

A Eslovênia terminou a partida com 13/28 (43%), que, por si só, já é um número bastante elevado. Descontadas as falhas dos primeiros 20 minutos, os caras mataram 12/17 nos 25 minutos restantes, para um 70% de embasbacar e atormentar – algo diferente do que aconteceu contra a Lituânia também, que usou muito mais os movimentos interiores.

Algumas bolas foram contestas, é verdade. Outras foram para trás da linha da NBA. Mas em geral a marcação chegou muito atrasada, isso quando chegou. Os esloveno se liberavam com corta-luzes simples em cima da bola ou com movimentação no lado contrário. Destaque para Klemen Prepelic (21 anos e espevitado que só), que converteu por conta própria 6 em 8 para liderar a remontada. Prepelic é uma figura emergente no basquete europeu, mas já vem chamando a atenção por sua seleção. Parece que os brasileiros não o conheciam muito bem.

E o mais preocupante, na verdade, foi a demora para tirar o ala de ação – e a demora em geral para a equipe reagir ao que se passava em quadra. Foi apenas na prorrogação que ele passou a ser vigiado de modo adequado, a ponto de ser sacado da partida.

Nesse ponto, vale aprofundar:

– Foi o segundo jogo consecutivo em que o Brasil tomou um vareio a partir do intervalo; isto é, a partir do momento em que o treinador adversário teve a chance de conversar com seus atletas e refazer sua estratégia diante do que viu na etapa inicial;

– Magnano simplesmente não conseguiu estancar as coisas a partir daí; a Eslovênia venceu o terceiro período por 21 a 9. Num intervalo de nove minutos, o time local marcou 21 pontos e levou apenas quatro. Se estendermos a contagem até os primeiros quatro minutos do quarto final, a contagem ficaria em 33 a 8, quando os eslovenos abriram oito pontos de vantagem no marcador (62 a 54). O ataque era sofrível, novamente sem inventividade nenhuma, num problema recorrente;

– o time brasileiro é um dos mais experientes daqueles que vão entrar no Mundial; vai estar muito provavelmente entre os cinco, ou talvez até entre os três mais velhos do torneio.

Pois bem: se os eslovenos abriram oito pontos e ainda perderam, quer dizer ao menos que o Brasil não se perdeu por completo no sentido emocional e soube batalhar de volta a partida. E como?

Fazendo aquilo que nunca deve perder de vista: explorar seu jogo de pivôs. Esse é o ponto forte de um time que pode revezar Splitter, Varejão e Nenê (aquele que saiu do banco desta feita). E não adianta usá-los em abordagens simples de costas para a cesta. Tem de se usar sua mobilidade e inteligência, aproveitá-los em movimento para fazer estragos. Ainda mais contra um time que definitivamente não tem pivôs de ponta.

Juntos, nos seis minutos finais, Splitter e Varejão fizeram 13 dos 18 pontos da seleção. Os últimos deles num tapinha salvador do capixaba a um segundo do fim.

Aliás, uma cesta merecida em diversos sentidos: não só premiar o jogo interno, como também para premiar um o basquete de Varejão, daqueles caras que fazem de tudo para levar um time ao triunfo, mesmo que não brilhe tanto assim para as câmeras. O pivô havia desperdiçado dois lances livres com 19 segundos para o fim, mas deu um jeito de recuperar a bola duas vezes e garantir a porrogação.

No tempo extra, o time soube proteger sua cesta de maneira coesa e abriu seis pontos em 1min27s de ação (80 a 74). Marcelinho Machado foi para a linha de lances livres em diversas ocasiões e ainda acertou um raríssimo chute de longe para anotar seis pontos.

O Brasil tem agora quatro vitórias em sete jogos preparatórios. Neste sábado, vai testar sua inconstância contra o Irã, ainda na Eslovênia.

*  *  *

A Eslovênia é um time de respeito, mas, sinceramente, corre muito por fora no Mundial se formos falar em medalha. Desfalcado (para variar…), o time está uns dois degraus abaixo da Lituânia, por exemplo. Depende muito da criatividade e agressividade de Goran Dragic e dos disparos de três. Sem Erazem Lorbek e Gasper Vidmar, seu jogo de pivôs inexiste. Splitter e Varejão os esculhambaram com 34 pontos e 14 rebotes. Ponha os números de Nenê aí, e os três pivôs brasileiros tiveram 42 pontos e 17 rebotes.

*   *  *

Dragic, aliás, vem sendo poupado em alguns amistosos. Entrou em quadra com uma comprida proteção no braço esquerdo. Em determinado momento, depois de ser desarmado em seguidas ocasiões por Larry e após um pedido de tempo, voltou para quadra sem a braçadeira. No segundo tempo, foi muito melhor. Não parece estar 100% indo para o Mundial. O que não tira os méritos da pressão estabelecida pelo armador bauruense.

*  *  *

Ah, Leandrinho não jogou, por conta de uma inflamação na garganta. Sem o ligeirinho, a relevância de Machado na rotação de perímetro de Magnano cresceu. É algo para o qual a seleção está preparada para o Mundial, numa eventualidade? O veterano flamenguista não teve a tarde dos sonhos nos arremessos mais uma vez (4/11, só 2/7 para três), mas terminou com 13 pontos, sendo importante na prorrogação. O tipo de atuação que deve justificar, na cabeça do argentino, sua convocação. Giovannoni estava “fardado”, mas não foi utilizado novamente.

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Huertas elevou um pouco seu padrão, comparando com a péssima partida da véspera, mas ainda está aquém do que se espera, da segurança que ele oferecia em temporadas anteriores. Foram 6 pontos, 6 assistências e mais 3 turnovers para o armador, em 32 minutos.


A 11ª vitória seguida da Lituânia. E uma dúvida sobre o Brasil
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Giancarlo Giampietro

Naquele que foi seu melhor jogo, Larry mal foi usado no segundo tempo. E aí?

Naquele que foi seu melhor jogo, Larry mal foi usado no segundo tempo. E aí?

Por 18 minutos, o Brasil foi soberano em quadra com sua defesa, mas também aproveitando bem seus ataques. Restando precisamente 1min57s no cronômetro do primeiro tempo, o time vencia por 38 a 21, numa exibição verdadeiramente impressionante contra uma fortíssima Lituânia. Um rival que havia vencido seus dez primeiros amistosos rumo ao Mundial.

Acontece que, dali para a frente, os vice-campeões europeus foram paulatinamente entrando no jogo. Do instante em que Tiago Splitter anotou dois pontos em uma bandeja em diante, os caras venceram por 43 a 23 e chegaram a uma poderosa marca de 11 vitórias em 11 partidas-teste. Foi 64 a 61 o placar final.

São só amistosos, é verdade. Mas vá falar isso para os lituanos. Com 100% de aproveitamento – tendo batido Austrália, Eslovênia, Grécia e Finlândia (duas vezes) –, caminham para lá de confiantes em suas possibilidades.

Para a seleção de Magnano?

Há o que se pensar, sem poder tirar muitas conclusões. Sinto dizer.

Essa derrota poderia muito bem entrar na lista daquelas do “como” – em “Como diabos eles perderam (também) esse jogo?!”, numa pergunta já um tanto disseminada por estas bandas.

Seria uma conclusão fácil, mas um tanto precipitada.

Antes de se concentrar no que se passou em quadra, é preciso entender que a Lituânia deve aparecer acima do Brasil em cada oito ou nove listas de favoritos ao pódio desta Copa do Mundo. Na minha está, e isso apenas quer dizer que é uma seleção forte pacas, com uma rotação robusta, cheia de gente que atua nas grandes ligas europeias há muito, muito tempo, com extensa rodagem experiência e fundamentos excelentes.

Além do mais, não foi um jogo típico da fase do bumba-meu-boi brasileiro, com altos e baixos alternados a cada cinco minutos. Não sei se serve de consolo, mas o Brasil teve nesta quinta 18 grandes minutos e outros 22 não muito bons, mas sem oscilações dentro desses períodos.

Então o que acontece, para levar uma virada dessas?

Acredito que ela ocorreu por dois motivos (fora o fato de eles, do “1 ao 11” – ou, do 4 a 15, pra ficar na numeração Fiba, são tecnicamente superiores):

1) sinceramente, parece que a Lituânia foi pega de modo desprevenido pela intensidade do Brasil na primeira etapa. Não quer dizer que estavam de corpo mole. Mas talvez não estivessem exatamente preparados para o adversário. E aí a gente pode ir longe também: os jogadores brasileiros não são nada desconhecidos. A base é a mesma de Londres 2012. E foram os rapazes tupiniquins que tiveram de viajar para a Europa, se adaptando ao fuso. Então que história é essa de ser pego de calça curta? São pontos todos válidos. Mas, bem, por outro lado, se tratava de um amistoso, né? Neste caso, para um time que já disputara dez partidas – o dobro de seu adversário. Poderiam não estar cansados, mas talvez relaxados? E que talvez nem conheçam tão bem assim, em detalhes, o funcionamento da seleção nacional, embora saibam muito bem como um Tiago Splitter, por exemplo, gosta de atuar? Enfim, foi essa minha impressão. Que, após o intervalo, eles entraram prontos para responder – e conseguiram.

2) O próprio conceito de amistosos e fase de testes em si: até que comecem os jogos para valer, você nunca sabe ao certo quem está escondendo cartas e, ao mesmo tempo, experimentando, ou não. Acreditar nesse tipo de situação também depende de algumas questões levantadas acima: o quanto times tão em evidência como Brasil e Lituânia têm para esconder? Uma ou outra jogada marota? Propostas inteiras de jogo? Não sei bem. Mas o Brasil, por exemplo, não acelerou muito seu ataque em transição, mesmo sendo um time mais veloz em basicamente todas os confrontos particulares, de jogador com jogador. Além disso, Magnano em nenhum momento do segundo tempo repetiu a formação que havia dado mais certo no segundo quarto, justamente quando sua equipe abriu larga vantagem. Ao passo que, do outro lado, a Lituânia também só colocou um quinteto efetivamente fortíssimo nos chutes de três pontos, com Simas Jasaitis, Jonas Maciulis e Ksystof Lavrinovic (ou “Lavrinovic-K”, daqui para a frente) no terceiro quarto – e, vejam só, foi quando cortaram a diferença para mais da metade. Mesmo que as bombas não tenham vindo, eles já representavam uma ameaça a ponto de espaçar a defesa interior brasileira.

Magnano, segurando cartas, ou jogando tudo de uma vez?

Magnano, segurando cartas, ou jogando tudo de uma vez?

Do ponto de vista brasileiro, é uma dúvida que já julgo crucial. O técnico segue rodando bastante seus atletas, com diversas combinações aplicadas no decorrer dos quatro períodos. Não chega a ser absurdo, pois ainda vivem uma fase preliminar. Mas, por tudo que já li e ouvi sobre construção de rotações, um time geralmente responde com muito mais eficiência quando os atletas passam a saber exatamente seu papel em quadra, o que se espera deles. Da mesma forma que a repetição dos exercícios, da prática desenvolve melhor coesão, entrosamento entre eles, para, aí, sim, se transformarem em unidades. Com o rodízio intenso, vamos atingir esse ponto? Estaria o argentino confiante o bastante com o resultado dos treinos para mexer, mexer, e mexer mais um pouco sem o temor de perder consistência?

Contra a Lituânia, Magnano começou com Huertas, Leandro, Alex, Nenê e Splitter. Aos poucos, foi inserindo os reservas, para iniciar o segundo período com aquela que seria a segunda “unidade”, formada por Raul, Larry, Machado, Hettsheimeir e Varejão. Talvez seja esse o esboço de rotação que vá ser oficializado no Mundial, com a perspectiva de uma troca entre Marquinhos e Machado. Nesse sexto jogo, Marcus foi o último reserva a entrar em quadra. Giovannoni ficou fora o tempo todo.

Fato é que, no segundo tempo, Marquinhos já começava ao lado de Huertas, Leandro, Hettsheimeir e Splitter, num misto do que havia sido utilizado até então. Larry, que havia jogado tão bem o segundo período, foi chamado de volta apenas a quatro minutos do fim. Machado nem foi mais acionado. Isso quer dizer que o comandante ainda está avaliando as suas possibilidades? Provavelmente. Mas não custa lembrar: restam apenas dois amistosos antes do Mundial. E, de tanto que já trabalhou com esse núcleo desde que assinou com a CBB, é de se perguntar o que falta para firmar terreno? O temor: que, na verdade, o padrão no Mundial será não ter padrão, um problema (ao menos aqui na base 21, lê-se como “problema”, sim) que já ocorreu em outras campanhas.

Obviamente você não vai ser rígido ao extremo com seu elenco. Cada adversário pede, ou no mínimo sugere ajustes. Você desenvolve um plano tático, tenta se impor com ele, mas precisa ter jogo de cintura para se adaptar. Agora, esperava mesmo ver um pouco mais de estabilidade nessa perna europeia de amistosos. Perder um jogo não é o fim do mundo, ainda que o time agora tenha 50% de aproveitamento em seis testes. Jogar de igual para igual com a Lituânia é bom sinal, na verdade. Dependendo da sua expectativa – e de quais são os planos concretos de Magnano.

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Esse quinteto (?) reserva do qual Larry fez parte executou uma defesa que foi de deixar qualquer um orgulhoso – mesmo com alguém lento como Machado na formação. Compensa aqui a agilidade e inteligência de um pivô como Varejão, para fazer as dobras e recompor e a explosão física de Larry, que entrou em quadra ligado no 220 V. Mesmo Hettsheimeir movimentou seus pés como raramente se vê, bloqueando armadores que vinham em sua direção, desviando vários passes. A porta estava fechada na cara dos lituanos, que demoraram 4min26s para anotarem os três primeiros pontos na parcial, com um chute de te Maciulis. Esses seguiram os três únicos pontos até a marca de 18min03s. No geral, a parcial foi vencida por 16 a 7.

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Um parêntese sobre Machado, contudo. E, sim, vai parecer um contrasenso, uma vez que ele esteve em quadra no melhor momento da seleção. Mas… há de se tomar cuidado com a forma como ele será usado. No reencontro com algum chapa de Zalgiris Kaunas, não demorou um minuto para que ele fosse atacado no mano a mano por Maciulis, com o lituano usando sua força física para dominar o veterano brasileiro de costas para a cesta, sofrendo a falta para dois lances livres. Foi automático. De modo que ficou difícil de entender porque esse tipo de movimento não foi repetido. Talvez tenha a ver com pressão que Larry colocou em cima da bola e o pandemônio de sempre que Varejão apronta. De qualquer forma, o que temos é o seguinte: contra times que façam bem seu scout, o ala tende a ser atacado. Seja por oponentes mais altos/fortes ou mais baixos/rápidos. Se ele não estiver convertendo as bolinhas de fora (0/3 desta feita…), imagino que será muito difícil mantê-lo em quadra com o jogo valendo classificação.

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Sobre Rafael Hettsheimeir: ele foi o cestinha brasileiro, com 14 pontos em 21 minutos. Depois da badalada exibição contra os Estados Unidos, ele repetiu a dose na Eslovênia ao acertar 4 de seus 7 disparos do perímetro, incluindo os três primeiros. Foi com essas bombas de três, consecutivas, que o Brasil saiu de um placar de 19 a 18 com 9min18s de jogo para 28 a 18 com 11min20s. O oponente não estava realmente pronto para lidar com isso. O assunto já ganhou proporção que pede um texto próprio a respeito. Mas registre-se que, no segundo tempo, os lituanos cuidaram para que o pivô não lhes causasse mais tantos estragos.

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Leandrinho, entrando em forma

Leandrinho, entrando em forma

Os números de Leandrinho não saltam aos olhos: 6 pontos (com 2/7 nos arremessos), 3 assistências, 3 rebotes, 1 roubo de bola. Ainda mais em 25min33s, sendo o brasileiro que mais ficou em quadra neste amistoso. Mas o ala-armador fez uma boa partida, colocando sua capacidade atlética a serviço da defesa, sendo bastante competitivo, recuperando bolas eventualmente perdidas e tudo o mais que leva um time adiante.

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Um lance em especial do segundo período chamou a atenção no ataque brasileiro: Huertas driblava pela zona morta, na direita. Marquinhos cortou em parábola por baixo da cesta, rente ao fundo da quadra e recebeu um passe por trás das costas do armador. Em vez de girar com a bola e partir para o chutinho usual – e a munheca deve ter coçado… –, o ala teve paciência e visão de jogo para ver Anderson, cortando no garrafão, completamente livre. Dois pontos para o pivô, que abriria 15 no marcador (36 a 21), num momento em que o adversário parecia grogue em quadra. Foi o tipo de jogada que evidencia a importância dos deslocamentos sem a bola que tanto se cobra no time.

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Por falar em Huertas… O condutor da seleção fez mais uma partida fraca, no mínimo. Já chegamos a um estágio que é para se preocupar? O titular do Barcelona hoje somou, em 25 minutos, 4 pontos, 4 assistências e 4 desperdícios de posse de bola e a pior marca no saldo de cestas da seleção: 11 pontos negativos. Mais do que os números, chamou a atenção seu desempenho um tanto aerado. De seus quatro turnovers, três foram cometidos de forma incrível, com o experiente atleta saltando com a bola sem ter um destino claro (não sabia bem se passava ou arremessava, entregando-a nas mãos dos adversários). O terceiro erro dessa linha foi no quarto período, em momento crucial. Chegou a reclamar da arbitragem, mas sem muita convicção. Estranho, bem estranho.

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A arbitragem, aliás, foi bastante confusa e, vamos lá, nada mesquinha. Interferiu demais no andamento de um amistoso, apitando 44 faltas. Quem levou a pior nessa foi Splitter, o melhor jogador brasileiro e o único a ficar pendurado com cinco infrações. Em 18 minutos, o catarinense terminou com 11 pontos, 6 rebotes e 2 assistências.


Com bons hábitos, Brasil passeia contra Angola em 1º amistoso
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Giancarlo Giampietro

A visão de jogo de Splitter ficou explícita no primeiro teste. Quanto mais, melhor

Visão de jogo de Splitter explícita no 1º teste. Quanto mais, melhor. Crédito: Gaspar Nobrega/inovafoto

Nenê puxa o contra-ataque e dá um passe quicado para um Tiago Splliter já bastante adiantado. Recepção feita, dois pontos na conta. Splitter é acionado de costas para a cesta, dribla e passa para Huertas. Mais um toque, e Alex está livre na quina para matar de três pontos. Splitter vê o corte de Rafa Luz fora da bola e faz a assistência para o jovem armador. De dentro para fora, de dentro para fora, de dentro para fora. Com muito sucesso.

Foi só um amistoso. O primeiro na preparação para a Copa do Mundo de basquete. Mas a proposta de jogo que a seleção brasileira apresentou na vitória sobre Angola, por 98 a 60, no Maracanãzinho, foi bastante salutar. Esperemos que seja mantida e – por que não? – intensificada.

Como há muito não  se via, era um time se aproveitando daquilo que tem de melhor: a agilidade e a habilidade de seus pivôs. A trinca Splitter-Nenê-Varejão é de fato o diferencial que o Brasil tem para oferecer hoje, em termos de técnica. E eles precisam ser explorados, tal como aconteceu no Rio.

Os grandalhões saíram constantemente em velocidade, sendo os primeiros a chegar ao ataque e foram municiados. Passes de entrada rápido, e a partir daí a bola girava, em busca de um arremessador em boa condição.  Aí dá gosto, tem de se aplaudir, não importando a fragilidade, preparo ou concentração do adversário. Porque um bom time você constrói por hábitos, por repetição de um bom basquete. E a seleção em boa parte do tempo foi por essa linha.

Foram 7 pontos, 5 rebotes (e 5 faltas) em 14min56s de jogo para o ex-vascaíno Nenê no retorno ao Maracanãzinho

Foram 7 pontos, 5 rebotes (e 5 faltas) em 14min56s de jogo para o ex-vascaíno Nenê no retorno ao Maracanãzinho

Alguns números do primeiro tempo, por exemplo, vencido por 48 a 27: das dez assistências brasileiras, cinco foram de seus grandalhões (três de Splitter, duas de Nenê). No geral, o time tentou apenas seis chutes de três pontos, convertendo três, contra 27 arremessos de dois. Desnecessário dizer que a eficiência foi muito maior. É disso que esse elenco precisa: um jogo coletivo, explorando seus pivôs multitalentosos, reduzindo ao máximo os arroubos heróicos no perímetro – e que Larry, Marcus, Marcelo & cia. peguem leve, mesmo. A bola rodou com muito mais leveza.

Vamos ver no sábado, diante de uma Argentina muito mais tarimbada e qualificada, se o plano de jogo será mantido, com disciplina e frieza. No segundo tempo contra os patrícios, a proporção de três para dois pontos já diminuiu: foram 13 chutes de fora, contra 19 bolas internas. No geral, foram 10/19 de três pontos (52,6%) e 28/46 de dois (60,9%).

O show de Splitter assistente continuou na segunda etapa. O catarinense terminou com cinco passes para cesta (mais 10 pontos, mais 8 rebotes, em apenas 20min11s). Essa coisa de jogar pelo San Antonio Spurs é contagiante, não?

O quinteto inicial foi composto por Huertas, Alex, Marquinhos, Nenê e Splitter. O primeiro reserva a sair do banco foi Leandrinho no lugar de Marquinhos. Depois vieram, em seqüência, Larry, Varejão, Machado e Hettsheimeir. Rafael Luz veio no meio do segundo quarto – e foi bem novamente. Cristiano Felício entrou com sete minutos restando no quarto período.

Agora, os descontos obrigatórios: Angola foi pega de certa forma desprevenida no primeiro quarto, perdendo por 26 a 8. É um time em reformulação, tradicionalíssimo na África, mas de pouca expressão internacional – e dois de seus melhores atletas, listados pela Fiba ainda, não foram para o jogo (o ala Carlos Morais e o pivô Joaquim Gomes). Seus pivôs não poderiam fazer frente aos brasileiros. A ver como se saem nesta sexta de tarde contra a Argentina, para efeito de comparação.

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Magnano tirou o bigode. Daí liberou o microfone para o SporTV acompanhar suas explanações durante os pedidos de tempo. Um novo homem, afinal! : )

(Mas o detalhe aqui foi o primeiro pedido de tempo: não gostou nada que um dos atletas não estivesse prestando a devida atenção em suas instruções e falou grosso: “Eu. Estou. Falando”. Shhhhhhiu. Controle total por parte do argentino, em contraponto aos tempos anárquicos que vemos durante o NBB. Nem tão diferente assim, o que nesse caso é para o bem.)

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O que se tem de observar agora são os padrões de rotação de Magnano, um ponto bastante questionável de seu trabalho, mesmo durante as Olimpíadas. A idéia é ter pernas firmes o tempo todo em quadra para executar na defesa. A continuidade no ataque é que acaba sofrendo um pouco.

Por exemplo: nos jogos para valer, é de esperar que a seleção tenha o máximo possível dois entre Varejão, Splitter e Nenê em quadra. Dependendo do adversário, Marquinhos ou Giovannoni podem ser o pivô mais aberto. No segundo quarto de hoje, tínhamos Varejão fazendo dupla com Hettsheimeir. Giovannoni não jogou, recuperando-se de uma entorse de tornozelo.

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Individualmente, os amistosos serão muito importantes para Leandrinho. Lembrem-se que este foi o primeiro jogo do ligeirinho desde 4 de março, quando se despediu da temporada da NBA pelo Phoenix Suns devido a uma fratura na mão esquerda. Pediu cirurgia. O gesso só foi tirado no início de abril. Com seu time eliminado numa duríssima disputa pelas últimas vagas do Oeste, não teve a chance regressar durante a temporada. Contra os angolanos, só arriscou seu primeiro chute de três quando faltavam pouco menos de seis minutos de jogo, algo memorável. Sua primeira cesta de quadra saiu com apenas 5min18s, sofrendo falta e cesta no meio do garrafão. No caso de alguém fora de ritmo, nada melhor do que buscar uma bandeja. A bola cai, a confiança aumenta. Terminou com 9 pontos (2/9) no FG, 2 assistências, 2 rebotes e cinco faltas recebidas (ainda é difícil parar em sua frente). Foi quem mais ficou em quadra, com 24 minutos.


Brasil ganha na raça sua vaga na Copa de basquete. Comemorem!
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Giancarlo Giampietro

Convites Fiba, Mundial, Brasil, Finlândia

Primeiro o post… Hã… Quase sério. Que jornalismo é isso.

Sobre os convites da Fiba para completar sua Copa do Mundo de basquete. Para quem não sabe, deu Brasil na cabeça! Acompanhados de Grécia, Turquia e Finlândia, estamos todos juntos nessa! A Copa é nossa e com brasileiro não há quem possa. Num só dia, derrotamos Alemanha, Canadá, Itália, Rússia e Venezuela.

Aliás, agora precisamos atualizar a contagem. Quem disse que não ganhamos de ninguém nas Américas? Depois de quatro derrotas seguidas no último torneio continental, batemos canadenses e venezuelanos neste sábado. Então a campanha de 2-4 até que não fica tão vexatória assim. Estamos progredindo, no caminho certo.

E, bem, pelo tom dos parágrafos acima, você já pode imaginar como foi despertar com essa fabulosa notícia aqui na base do conglomerado 21, nos cafundós da Vila Bugrão.

Euforia mil!

Que o Brasil tenha ganhado seu convite, com muita persistência, suor e trabalho sério, não chega a ser uma surpresa. Durante a semana, fortíssimos candidatos foram anunciando, um a um, suas desistências. Devem ter tentado negociar com os poderosos da Fiba até a última hora possível, mas terminaram por refugar.

Vejam só: esses sujeitos simplesmente se recusaram a pagar a quantia de R$ 2.660.745,80 (para quem tem dificuldade com os números como eu, aqui vai a tradução: dois milhões + seiscentos e sessenta mil + setecentos e quarenta e cinco reais + oitenta centavos) para a federação internacional. Podiam pagar a merreca de um milhão de francos suíços (o mínimo necessário, segundo o Fábio Aleixo, do Lance!, nos conta) e passaram a vez.  São todos fracos, entreguistas, de visão míope.

Pois todo mundo já está careca de saber: só se constrói uma forte modalidade participando de uma Copa do Mundo. Sem isso, não há como montar uma estrutura de base decente, como popularizar um esporte já popular etc. Esse é o alicerce de tudo, e, por sorte, temos na gestão Carlos Nunes da CBB gente visionária o bastante para dar conta disso.

O Brasil encaminha, assim, seu projeto pujante. E quero ver quem segura.

É taça na raça, Brasil!

*  *  *

Tá, agora da maneira mais direta possível:

1) a CBB está endividada, devendo até as calças no mercado.

2) a Fiba cobrou mais de R$ 2 milhões por uma vaga no Mundial.

3) a China, aquela de PIB de mais e US$ 1 trilhão, multinacionais de material esportiva voltadas quase que exclusivamente para o basquete, mais de 1,3 bilhão de habitantes, pulou fora.

4) Não a CBB. Para manter viva a sequência histórica de participações no Mundial de basquete, a combalida entidade passou o chapéu por aí e conseguiu se bancar (financeiramente, importante que se ressalte mais uma vez, e, não tecnicamente) na competição. De quebra, conta que a fraca memória nacional, daqui a décadas – ou meses, a gente nunca sabe… –, vá olhar para a lista de inscritos do Mundial 2014 e acreditar que e era nada mais lógico que o Brasil ali estivesse, uma vez que nunca havíamos perdido essa. Só o Brail e os Estados Unidos jogaram todas as edições.

5) Faça as contas… E me diga: você vai realmente co-me-mo-rar essa “classificação”? Pagamos R$ 2 milhões para nos livrarmos a cara. De quem é a conta?

6) Na real, a conta não fecha.

*  *  *

Aos pragmáticos: obviamente é importante que o Brasil jogue uma Copa do Mundo de basquete. Assim como os Jogos Olímpicos. Mas uso aqui uma expressão clássica, já surrada de tanto usada, mas que não perde o charme: “tapar o sol com a peneira”. O Brasil joga o Mundial desde sempre, e o impacto financeiro disso para a modalidade não está nada claro, para mim. É um dos itens para levar as coisas adiante? Sem dúvida. Mas já passou do tempo – se é que esse tempo um dia existiu – de que o desempenho da seleção adulta de qualquer esporte seria a principal força motriz para o progresso.

*  *  *

E, por falar em seleção, adulta, já fica a dúvida desde já sobre quem são aqueles que vão se apresentar. Para quem não se recorda, entre a relação (fictícia?) de itens que a Fiba jurouque seriam analisados para definir os quatro convidados, contava algo como “comprometimento de seus principais jogadores com o projeto”. Leia-se: a turma da NBA topa ou não topa?

Será que, no conclave do basquete, realmente se exigiu um comunicado por escrito, com cópia de RG registrada, em que os nossos principais jogadores garantiram presença no Mundial?

E o Rubén Magnano, como está se preparando? Vai nessa de que “só-com-os-que-estão-nos-EUA-temos-alguma-chance”? Está assistindo para valer o NBB para tentar fazer uma convocação mais competente, no caso de precisar ser criativo para fechar o grupo final? Existe algum tipo de ressentimento por parte de nossos jogadores depois das críticas públicas do treinador argentino?

Percebam que, além do disparate financeiro, há diversos pontos técnicos a serem resolvidos.

E se o Brasil for para o Mundial, pagando R$ 2 milhões, e passar mais um vexame? É provável, possível?

Independentemente da resposta – que vai depender muito da lista de perguntas acima –, qualquer que seja o time convocado, a pressão existe desde já.


Onda de eliminações surpreendentes atinge Europa; Finlândia passa, Rússia e Turquia ficam
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Giancarlo Giampietro

Koponen e o expresso finlandês

A Finlândia de Petteri Koponen (d) apronta no EuroBasket

A Copa América ainda realiza nesta terça e quarta-feira sua disputa por medalhas. O EuroBasket ainda caminha para sua segunda rodada. De qualquer forma, com o AfroBasket e o Campeonato Asiático já encerrados, um cenário nesta temporada 2013 já fica bem claro: as seleções desfalcadas e, antes de tudo, despreparadas tendem a ficar pelo caminho, não importando seu histórico ou potencial.

Para quem ainda não juntou tudo o que vem acontecendo nessas últimas agitadas semanas, segue uma lista das principais seleções habituadas a frequentar a Copa do Mundo, mas que já estão eliminadas, dependendo agora exclusivamente de um dos quatro convites disponibilizados pela Fiba para entrar na festa:

Europa
Alemanha, Rússia e Turquia (a lista vai acrescer ainda, pois ainda temos 12 times vivos disputando seis vagas).

Américas
Brasil e Canadá.

África
Nigéria e Tunísia.

Ásia
China.

Nesse apanhado de times, em termos de elenco, há de tudo: extremamente desfalcados (Brasil, Alemanha, Rússia), moderadamente desfalcados (Canadá) e os que tinham basicamente o que têm de melhor em quadra e, ainda assim, fracassaram (Turquia, Nigéria e China). Então não é que tenha uma explicação única por trás dessas surpresas.

Nem mesmo no caso das ausências. Por exemplo a Rússia. Ficar sem Andrei Kirilenko ou Viktor Khryapa já seria ruim – ainda mais AK, Kirilenko, cuja escalação tem feito toda a diferença nos últimos anos, ganhando bronze olímpico em Londres ou conquistando um EuroBasket batendo a Espanha lá. Agora, perder os dois ao mesmo tempo? A coisa complica, mesmo. Mas o que teria pesado mais para o fiasco de uma eliminação na primeira fase do campeonato continental? Não contar com seus dois principais jogadores (+ os gigantescos Timofey Mozgov e Sasha Kaun) ou o fato de não terem mais o inventivo David Blatt no comando? Ou que seu substituto, o grego Fotios Katsikaris, tenha pedido demissão agora em julho e a bomba, caído no colo de Vasily Karasev, ex-armador da seleção nacional que virou técnico em 2010 e só assumiu um time adulto pela primeira vez em 2012?

Sim, foi dessa forma que os caras chegaram ao torneio continental, em frangalhos, com um treinador jovem e, pior, interino. Aí não há Aleksey Shved, Vitaly Fridzon ou Sergey Monya que deem conta e evitem uma campanha de apenas uma vitória em cinco partidas, perdendo para Finlândia e Suécia.

E sobre quem foi esse único triunfo?

A Turquia. Sim, a Turquia de Ersan Ilyasova, Omer Asik, Hedo Turkoglu, Semih Erden, Emir Preldzic e outros. Que também venceu apenas um jogo, contra os suecos, igualmente eliminados. Que também definiu seu treinador de última hora, ainda que  este não fosse uma novidade: o experiente e vencedor Bogdan Tanjević, com quem foram vice-campeões mundiais em 2010 (jogando em casa, diga-se).

Foi aquela boa e velha baderna: dificuldade para definir o grupo final, um monte de grandalhões no mínimo competentes, mas armação falha, Turkoglu se comportando como o craque nunca foi e amassando o aro (indesculpável  aproveitamento 17,9% nos arremessos de quadra), atletas desinteressados durante pedidos de tempo, o ignorado Enes Kanter dando risada no Twitter depois da eliminação em uma derrota para os arquirrivais da Grécia para, depois, decidir que não era a melhor ideia, apagando o post… Enfim, tudo o que de caótico você pode esperar, ainda que dinheiro não seja problema para a federação local e que suas principais estrelas estivessem fardadas.

Hahahaha, Kanter

Turkoglu sozinho deve ganhar mais que todo o elenco finlandês, mas isso não foi o suficiente para evitar o revés por 61 a 55 na estreia diante dos nórdicos, que lideraram o confronto de ponta a ponta. Quem podemos destacar nesse time? O armador Petteri Koponen é o mais conhecido e talentoso. Aos 25 anos, ele defende o endividado Khimki Moscou, tendo sido selecionado na 30ª posição do Draft de 2007 pelo Portland Trali Blazers, mas cujos direitos foram repassados mais tarde ao Dallas Mavericks. Um jogador corajoso e atlético, que vem liderando sua equipe com 14 pontos, 4,8 assistências e 3,8 rebotes no torneio. Para os torcedores mais saudosistas do Atlanta Hawks, listamos também o pivô Hanno Mottola, aparentemente um imortal aos 37 anos, que jogou na NBA entre 2000 e 2002 e voltou a jogar depois de ter anunciado a aposentadoria em 2008!

Pois é. Estamos numa temporada em que avança a Finlândia, enquanto Rússia e Turquia ficam pelo caminho, não importando quem tenha se apresentado.

Ter Ike Diogu e Al-Farouq Aminu também não livrou a Nigéria de uma derrota para Senegal nas quartas de final na África. A Tunísia caiu ainda mais cedo, nas oitavas, diante do Egito, mesmo apresentando a base campeã continental em 2011. Na Ásia, da mesma forma precoce dançou a acomodada China, com Yi Jianlian e tudo, em uma derrota para Taiwan. Num início de trabalho com Steve Nash atuando como dirigente, o Canadá conseguiu juntar boa parte de sua molecada talentosa da NBA, mas lhe faltou experiência na luta pela vaga no hexagonal americano.

A distância entre as supostas potências (ou “favoritos”) e os (não mais) eternos sacos de pancada diminuiu consideravelmente. Entrar com credenciais já não serve de mais nada. Esses vão ter de jogar, e jogar bem, para vencer, como os jamaicanos deixaram claro para brasileiros e argentinos.

Daí vem a frustração com o trabalho de Rubén Magnano este ano – especificamente neste ano. Com o time completo talvez a campanha brasileira na Copa América tivesse sido completamente diferente, muito provavelmente sim, mas, considerando o que vem acontecendo em todo o globo, nem mesmo essa hipótese pode ser mais encarada como uma garantia. E, de qualquer forma, essa hipótese, de time completo, já estava  aparentemente descartada para todos, menos o treinador.

Num contexto em que todos se veem no mesmo balaio, o argentino era para ser um trunfo da seleção brasileira, alguém que pudesse fazer a diferença, deixando-a bem preparada para as batalhas que viriam. Obviamente não aconteceu dessa vez. Difícil aceitar isso, até para ele, e daí saem os ataques aos que não embarcaram, de pura frustração. Que ele se acostume a partir de agora.

No mundo Fiba versão 2013, de fácil, mesmo, só a vida de Austrália e Nova Zelândia, que só precisa cumprir tabela em dois amistosos no (coff! coff!) Campeonato da Oceania para garantirem suas vaguinhas.


Em seu momento mais frágil, Magnano reforça ofensiva contra jogadores. Entendam o que quiser…
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Giancarlo Giampietro

(Atualização: 15h50, com declarações ao programa Arena SporTV)

Magnano e Splitter, antes ou depois do churrasco?

Magnano e Splitter em abril nos Estados Unidos: sorrisos

É difícil entender aonde Rubén Magnano quer chegar com tudo isso. Se a meta é atingir um suicídio político – intencional ou não –, está encaminhando as coisas muito bem, obrigado.

Na pior hora possível, depois de conduzir um trabalho lamentável na Copa América, o argentino resolveu contestar, bater de frente com os jogadores que pediram dispensa do torneio continental. Está claro que se sente traído por “três ou quatro” desses atletas, que teriam dito que se apresentariam e, depois, mudaram de posição.

“Nem para elogiar nem para criticar sou uma pessoa que cita nomes. Mas em três ou quatro dispensas, eles haviam falado ‘sim’ para mim. Achava que a presença desses três ou quatro jogadores me dava uma condição de segurança interior, de que poderiam pegar a equipe em suas mãos. Não aconteceu assim, por isso fiquei um pouco abatido com isso. São caras que decepcionaram muito a gente”, afirmou durante o desembarque da seleção em São Paulo.

Ainda de cabeça quente e, principalmente, com o orgulho de campeão olímpico duramente ferido por derrotas que não poderia imaginar de forma alguma, o argentino resolveu que seria de bom tom fazer esse tipo de  ataque no saguão de um aeroporto – e, ainda por cima, sem levar sua ofensiva até as últimas consequências. Digo: se é para continuar colocando o dedo na ferida, que falasse, sim, quem seriam aqueles que julga traidores, em vez de generalizar.

Mas, a despeito do mistério, pudor, cuidado, reserva ou “ética” do treinador, eu, você e toda a torcida do Flamengo sabemos que Tiago Splitter é um desses alvos, se não o principal deles. Afinal, o treinador, mesmo, já havia se dito surpreso com sua ausência. Detesto esse tipo de marketing pessoal, da panca de sabe-tudo, mas, ao ler as declarações do técnico na época, a sensação de estranheza foi enorme. Daí a motivação para escrever este post. Ou este aqui: quando chegou a hora de se desentender também publicamente com Marquinhos.

Não pegou nada bem esse tipo de bate-boca naquela ocasião. Agora, depois do vexame que foi a campanha na Venezuela, repetir esse tipo de discurso é de deixar qualquer um pasmo. Inclusive o próprio Splitter, geralmente muito discreto, mas que se sentiu impelido a redigir uma carta pública para rebater “críticas” sem identificar em quem mirava. Em quem será?

“Alguns falaram que a culpa foi dos jogadores que não foram. Lembro que, quando não estava na minha melhor forma e totalmente no sacrifício, fui criticado por jogar abaixo do que podia. Quando nasceu meu filho, fui diretamente aos treinamentos e passei os primeiros dois meses longe da família. Quando minha irmã estava vivendo seus últimos dias de vida, lá estava eu representando meu país”, escreveu Splitter.

E aí temos este  trecho de abrir os olhos: “Na derrota é onde nos conhecemos melhor e nunca qualquer um de nós apontou o dedo para o outro , ao contrário, nos uníamos mais ainda”.

Mensagem recebida.

Anderson Varejão, divulgando seu comunicado em pílulas de 140 caracteres no Twitter, foi um pouco mais brando em sua intervenção. Recuperando-se de uma embolia pulmonar e de mais uma lesão gravíssima, suponho que não era uma atitude tão necessária assim. Mas lá foi ele se justificar. Em sua explanação, contudo, não só contemporizou, como defendeu a continuidade do trabalho. “O momento é de reflexão, de pensar o que se pode tirar de lições dessa campanha ruim e olhar para frente, seguir trabalhando. O Brasil vinha crescendo e esse resultado não pode interromper nossa evolução”, escreveu. “Não pode interromper” é o ponto-chave aqui, atentem.

De qualquer forma, Varejão falou isso ontem. E foi hoje que Magnano veio com sua marreta em punho. Que tipo de situação ele esperava criar com estes comentários? Direcionar as críticas ao seu trabalho para aqueles que não se apresentaram? Está tentando jogar lenha na fogueira para incentivar sua demissão? Ou simplesmente se atrapalha todo quando o momento requer um mínimo de cuidado político?

Sinceramente, difícil julgar agora. Ainda mais quando, na mesma entrevista no saguão de um aeroporto, Magnano afirmou o seguinte:  “Não adianta rancor, a seleção brasileira está acima de todos nós. Não tenho nenhum problema com eles, não temos que criar muito mais polêmica. Temos que trabalhar sobre isso e buscar uma maneira dos jogadores se comprometerem mais. São caras que ainda vão representar em muitas ocasiões a seleção brasileira”.

E quem entende uma coisa dessas? Esse morde e assopra: primeiro detona os caras e, depois, como que se a vida seguisse normalmente, fala em “trabalhar sobre isso e buscar maneiras”, que “não adianta criar muito mais polêmica”. Que loucura. E mais: sabe aquele papo de que não cita nomes e tal? Leiam esta declaração: “Sabia que seria difícil de alguns jogadores que convoquei virem, como o Leandrinho. Fisicamente seria muito difícil ir à competição, mas ele ainda tentou. A convocação foi para que os caras falem ‘não’ e expliquem isso também, porque não iriam”. Hã… O que ele acabou de fazer?

Em meio a essa saraivada, o diretor de seleções Vanderlei não emite nenhum comunicado sequer, não chama a responsabilidade. Muito menos o Carlos Nunes, o presidente Carlinhos da CBB, o mais fiel partidário daquela boa e velha tática da raposa política que só aparece para falar nas vitórias.

Mas não é de se estranhar: numa terra de cegos, Magnano, com seu histórico, fez o que bem entendeu na administração da seleção durante anos e anos, sem tem com quem debater ou quem o controlasse. Por que agora seria diferente?

O problema é que, na sua intempérie e em seu discurso incoerente (ou não…),  o treinador, um cara digno, competente, dos melhores no ramo, derrama mais um balde de óleo numa situação pronta para fritura.

Atualização: Em participação inócua no programa Arena SporTV, Carlos Nunes ao menos afirmou que Magnano segue na seleção até 2016 – e, se quiser, ainda mais. Esqueceu-se que não tem mandato eterno no cargo. De qualquer forma, mesmo que não do modo mais firme, garantiu que não vai ter demissão. Antes, em entrevista gravada, quando questionado se havia pensado em sair, o argentino arregalou os olhos, meio que indicando: “Jamais”. E aí lembrou então o seguinte ditado: “O que não te mata, te endurece”… Quando perguntado se há chance de jogar por medalha no Rio 2016, disse: “Se o Brasil fizer um trabalho mediano e se houver um comprometimento importante, o time tem condições de brigar por medalha”.

Conclusão: que esteja mantido no cargo é uma rara decisão sensata da atual gestão da CBB – mas isso não serve, não pode servir como que estejam assinando embaixo de tudo o que o treinador fez e tem feito. O fiasco esportivo na Copa América não pode ser ignorado de modo algum.

Sobre o fator NBA: obviamente apenas com a equipe completa que a seleção terá chance de brigar por resultados expressivos no futuro imediato. Transferir, porém, toda a responsabilidade para o comprometimento – ou amor – destes atletas ao país não pega nada bem. Aliás, lembremos: em 2011 a vaga olímpica foi conquistada com o vice-campeonato na Copa América, e, de diferente, lá estavam apenas Tiago Splitter (arrebentado e fora de forma), Marquinhos e Marcelinho Machado.

Não obstante, fica ainda mais deslocada sua ofensiva contra os jogadores. Se eles são tão fundamentais assim, Magnano vai precisar de um esforço diplomático nos próximos meses e temporadas com a mesma energia e verve que gastou nas últimas 48 horas, quando partiu para o ataque.

*  *  *

Em seu rompante, Magnano também cometeu um equívoco, ou, no mínimo, uma injustiça histórica ao falar sobre como era mais fácil contar com seus principais jogadores na época de Argentina. Não dá para comparar uma coisa com a outra – e não só pelo distanciamento de 10, 14 anos atrás. “Tive a felicidade treinando a Argentina de, em quatro anos, não ter nenhum pedido de dispensa. Aqui você vê que é muito difícil, temos que trabalhar muito para criar uma consciência de seleção, um orgulho”, afirmou.

Só faltou completar que, no ciclo que o consagrou como campeão olímpico, na base Argentina apenas Manu Ginóbili estava na NBA, tendo chegado ao San Antonio Spurs em 2005. Andrés Nocioni e Carlos Delfino? Fecharam com Chicago Bulls e Detroit Pistons depois dos Jogos de Atenas 2004. Fabricio Oberto se juntou a Manu em 2005. Luis Scola? Assinou com o Houston Rockets apenas em 2007. Por que então eles pediriam dispensa se não havia impedimento algum?

E, lembrem-se: uma vez de contrato assinado nos Estados Unidos, Ginóbili se tornou uma presença bissexta na seleção, assim como Nocioni e, agora, no mais recente caso, Pablo Prigioni.

*  *  *

Fica um registro obrigatório: sem que ninguém divulgasse nada em Caracas, a seleção sofreu com problemas internos de saúde durante a Copa América. “Pouca gente falou nisso [virose], mas nos afetou demais. Isso não é uma desculpa, mas quando um time está em uma situação limite, a ausência de dois ou três jogadores afeta realmente a produção”, disse Magnano. Foi uma crise de virose que abalou, no mínimo, Larry Taylor, Alex, Cristiano Felício e Rafael Luz. Resta saber quantos quilos eles perderam, se estavam febris na hora de ir para quadra etc. E se isso por acaso afetou alguma outra delegação na capital venezuelana.


Jamaica é o auge do vexame que mina principal trunfo político da CBB: Rubén Magnano
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Giancarlo Giampietro

O floater de Huertas

Na Copa América, a seleção atirou tudo para o alto , mesmo. Para ver se caía

Um desempenho surpreendentemente horripilante. Como nunca antes vista na história deste país. Desgovernado, chocantemente desgovernado, o Brasil se despediu nesta terça-feira da Copa América de basquete com quatro derrotas em quatro partidas. A gota da d’água: uma revés pelas mãos da caçulinha Jamaica. Sim, até a Jamaica.

E este é o pior pesadelo para o presidente da CBB, Carlos Nunes. Com uma gestão esculhambada, atolado em dívidas e juros, testemunhou um torneio no qual, além do fracasso como um todo, acabou por expor aquele que é o seu principal trunfo político para  se sustentar no cargo: Rubén Magnano, o campeão olímpico antes inabalável, mas que não foi nada bem nesta temporada com a seleção.

Na última rodada do Grupo B, com o maior drama do mundo e as mesmas deficiências de sempre, os jamaicanos venceram por 78 a 76 e completaram a lista de classificados para a segunda fase ao lado de Porto Rico, Canadá e Uruguai.

Copa do Mundo para os brasileiros agora? Apenas se a Fiba levar em conta os milhõe$ de bra$ileiro$ hipoteticamente intere$$ado$ em ver um Mundial depois de um vexame desse. Além do supo$to argumento econômico que algum gênio do marketing po$$a vender – afinal, o jogo não anda muito rentável por aqui… –, também podem pesar dois outros pontos: o histórico do país na modalidade e o fato de estarmos falando da próxima sede das Olimpíadas.

É o que resta, mesmo: porque, no quesito técnico, esportivo, terminamos a Copa América ao lado do Paraguai como saco de pancada. Foi mais ou menos como se, nas eliminatórias para a Copa (de futebol), terminássemos ao lado da Bolívia e atrás do Peru. E tem gente que ainda acha que a crônica basqueteira pega pesado. Tivesse essa campanha ocorrido nos gramados, muito provavelmente as metrópoles nacionais estariam novamente paradas, (re)tomadas por passeatas.

A seleção brasileira se despediu da competição apresentando um saldo negativo de  pontos e uma média de arremessos de quadra de envergonhar qualquer indigente. Desnecessário detalhar os números. Nada funcionou: nem defesa, muito menos ataque. Já é muito difícil sustentar um time equilibrado se um desses aspectos não vai bem. Quando, em cinco dias de torneio, nossos convocados não conseguem chegar perto da decência em nenhuma das tábuas, o barco afunda, mesmo.

Posto isso, o que fazer agora?

Respirar fundo, ter calma.

Magnano coordenou um trabalho lastimável nas últimas semanas: algo que vinha sido apontado desde a fase de amistosos, mas que, confesso, não esperava que pudesse ficar tão ruim assim num torneio oficial. O time, em vez de progredir, retrocedeu com o passar dos jogos, caindo numa espiral de descontrole, despedaçado, descarrilado. O comandante precisa responder a respeito, com humildade e poder de reflexão: alguém de seu gabarito não pode conseguir bons resultados apenas com a tropa de choque. Esperava-se que, num momento de dificuldade, sua experiência e conhecimentos pudessem fazer um grupo desvalorizado render mais. É por isso, entre outras razões, que ganha uma boa grana.

Agora, na esteira de uma campanha pífia, não se deve esquecer, jogar pela janela o que vinha sendo feito na equipe – evolução defensiva, um jogo relativamente mais solidário, mais vitórias do que derrotas. O argentino, com seu currículo, merece mais chances, bem mais. Seu saldo é positivo. Por outro lado, precisa se fazer muito mais presente nas quadras brasileiras, vendo tudo que é partida – Paulista, NBB, LDB, Sul-Americana, Liga das Américas, mas tudo mesmo. Faltou isso durante a temporada – e, se não faltou, ele deve ter visto os jogos errados. Do contrário, como justificar uma convocação tão desconexa como essa? Quantos jogadores estavam numa pré-lista geral coerente, planejada? Esperava mesmo o treinador que a turma da NBA fosse se apresentar? Foi pego desprevenido? E a diretoria nessa, como fica? Que tipo de controle há sobre suas operações?

A impressão que ficou do último ano é que Magnano foi usado muito mais como um cabo eleitoral do atual presidente da CBB – com viagens para cima e para baixo, “aparições” aqui e ali – do que como alguém da área técnica. E aí chegamos a um ponto crucial, que vai valer toda a atenção para os bastidores.

Com uma situação calamitosa em termos administrativos, devendo até as calças, Carlos Nunes se bancou não só com o corriqueiro jogo de favores em qualquer eleição de confederação brasileira, mas com o suposto êxito esportivo: “Ficamos com o quinto lugar nas Olimpíadas! Voltamos!”. Agora como fica? Provavelmente os presidentes de federações estaduais descontentes vão cair matando. Vai ter gente doida, doida para se livrar do “ar-gen-ti-no”, pedindo cabeças.

Terá jogo de cintura, estofo e personalidade e, mais importante, lealdade o presidente Carlinhos para contornar isso?

Muitos vão falar de Caio, Splitter, Benite, Nenê, Hettsheimeir, Marquinhos, Larry, ausências, baixo nível etc. E até de Jamaica. Mas esta parece a pergunta mais impoirtante a ser respondida nas próximas semanas.


Derrota desmoralizante para o Canadá deixa Brasil extremamente pressionado na Copa América
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Giancarlo Giampietro

(Atualizado: 16h30, com aspas de Magnano e Huertas.)

Giovannoni e o Brasil encaixotados pelo Canadá

Giovannoni, sem reserva na Copa América, encaixotado pelos canadenses

Depois de uma derrota por 29 pontos de diferença, 91 x 62 para o Canadá, podemos fazer, sim, um esforço hercúleo e tentar enxergar algum ponto positivo nesta história toda, mesmo sendo este o dia em que o Brasil viveu sua jornada de Paraguai no basquete.

Rebobinemos a fita para 2 de setembro de 2011, quando a seleção brasileira saía de quadra em Mar del Plata tentando digerir uma derrota para a República Dominicana, ainda pela primeira fase do Pré-Olímpico. Uma derrota que deixava sua tão sonhada classificação bastante ameaçada. O time não estava bem, sem consistência alguma, mas, a partir daquele revés, conseguiu se ajeitar com uma ajudinha da tabela, engatando uma sequência de três vitórias até chegar ao grande clássico do continente, contra a Argentina. Vocês, aí, se lembram do que aconteceu, né? Hettsheimeir.

Para recuperar a confiança de sua equipe naquele torneio, Magnano teve a sorte de poder preparar sua equipe para jogos contra Cuba, Uruguai e Panamá. Três sacos de pancada usuais. Agora, no nosso tenebroso presente, a situação mais ou menos se repete nesta Copa América, com o Uruguai e a Jamaica pela frente, os dois times (supostamente, em teoria…) mais fracos do Grupo A.

Mas os paralelos se encerram, infelizmente, por aí.

Já que…

1) O Brasil havia perdido por apenas cinco pontos para os dominicanos, e, não, por 29.

2) É difícil encontrar time mais frágil que Cuba neste tipo de competição para poder elevar o moral.

3) Na primeira rodada da segunda fase, um time mais forte que o Panamá vai surgir, sendo muito provavelmente a Argentina – ferida por sua própria derrota na estreia, fazendo deste confronto algo ainda mais alucinante.

4) Aquela seleção tinha um elenco muito superior que esta.

Daí que Magnano tem, agora, duas partidas (supostamente, em teoria…) mais fáceis para tentar juntar os cacos, os fragmentos da seleção se ainda tiver esperança de conseguir a classificação para a Copa América na quadra e quiser, de algum jeito, lutar pelo título continental em Caracas, na semana que vem.

Ao ser humilhado pelo Canadá, numa exibição que não animou em nada o almoço da família brasileira, a seleção se vê numa situação extremamente incômoda.  Vai jogar a segunda fase, contra os quatro melhores times do Grupo B, já com duas derrotas, se vendo em desvantagem diante de porto-riquenhos e dominicanos (que, confirmando o favoritismo, avançariam sem nenhum revés), além de argentinos e canadenses (hipoteticamente com um revés cada). Se for esse, mesmo, o cenário para a próxima fase, a calculadora vai ser bem gasta pela comissão técnica – e a lavada deste domingo pode fazer uma baita diferença em qualquer conta necessária para definir os quatro classificados. Serão necessários no mínimo cinco triunfos nos próximos seis jogos.

Sobre a quadra? Se na Tuto Marchand  o Brasil levou uma surra da cerebral Argentina e agora foi a vez de ser destroçado de um time hiperatlético como o Canadá – comparem as estatísticas gerais novamente para constatar que os norte-americanos foram superiores em TODOS os quesitos disponíveis. Duas equipes completamente diferentes e que impuseram vitórias acachapantes num intervalo de menos de dez dias, em mais uma prova que temos problemas muito sérios em andamento. “O time veio para baixo quando a diferença foi subindo. Não tivemos força para reagir. Eles estavam jogando com muita facilidade. A defesa, que sempre foi ponto chave desde que o Rubén está no time, não funcionou, Estávamos perdidos. Tentamos e não conseguimos”, disse Huertas ao repórter Fábio Aleixo, do Lance.

De resto, não há muito o que colocar que fuja do que tem sido apontado desde a fase de amistosos. A convocação do argentino foi péssima. Seu time não tem senso coletivo algum em quadra. Harmonia, coesão, unidade, equilíbrio… Escolha o termo: é tudo o que tem faltado a esta equipe, com peças desconexas, que não se encaixam à medida que o treinador precisa utilizar seu banco e tocar sua rotação adiante. Apenas um quinteto com Giovannoni e Hettsheimeir de pivôs vem tendo alguma consistência, por ser essa a formação mais atlética (ou menos defasada, menos arrastada) que se pode usar com este grupo, uma vez que Felício parece descartado. De qualquer forma, seria extremamente injusto exigir 40 minutos intensos, impecáveis, sem faltas por jogo de Guilherme, que também nunca foi reconhecido como o melhor defensor.

E aí, para piorar, vemos o próprio campeão olímpico, logo ele, perder as estribeiras a ponto de ser excluído no quarto período, enquanto contestava diversas marcações do trio de arbitragem, querendo acreditar em alguma conspiração contra o Brasil neste torneio, uma conspiração pró-Caribe, ou algo assim.

Se há conspiração, isso é coisa para os diretores remunerados da CBB resolverem nos bastidores.

Em quadra, foi Magnano, mesmo, que se colocou em uma enrascada.

E ele sabe: “Sou o primeiro preocupado e o primeiro responsável. Este Brasil não tem nada a ver com o Brasil que se preparou para esta competição”, disse o argentino, incluindo que foi ainda a pior partida de toda a sua gestão.

De uma coisa discordamos, no entanto: a preparação já não havia sido nada boa.

*  *  *

Estamos falando de uma situação pontual. Uma seleção enrascada na Copa América. E, não, sobre o currículo de Magnano.

*  *  *

Nas duas primeiras partidas nesta Copa América, o Brasil acertou apenas 45 de seus 125 arremessos de quadra. Acredite: 36%, incluindo arremessos de dois pontos. Na linha de três pontos, o rendimento é de  10-35, bom para 28%.

*  *  *

Se as estatísticas da Fiba estão corretas – e precisam estar, já que são nossa única fonte –, a seleção só fez dez pontos de contra-ataque nas duas primeiras rodadas. Para um time que deve correr a toda hora, com base nos berros da comissão técnica na lateral da quadra, é um número muito alarmante. A estratégia não conseguiu ser colocada em prática. E, sim, este número está totalmente ligado ao anterior.

*  *  *

Quando receber as informações sobre a vitória arrasadora do Canadá, Gregg Popovich será um homem feliz: não só vai se lembrar que Tiago Splitter está tirando todo o verão de férias pela primeira vez desde que chegou a San Antonio, como tomará nota dos 28 pontos em 33 minutos que marcou Cory Joseph, o reserva do Parker. Acertou 10 de 15 arremessos, ainda bateu oito lances livres e não cometeu sequer um turnover durante a partida, fazendo Larry Taylor de gato e sapato. Superagressivo em quadra, como se fosse um Allen Iverson, e ainda com a maior tranquilidade. Foi a feia a coisa, mesmo.

*  *  *

Desfalque por desfalque, o Canadá tem hoje Steve Nash como gerente geral e, não, como armador. Andrew Wiggins, uma das maiores promessas do basquete mundial, também não se apresentou, assim como o ala-pivô Kelly Olynyk, calouro do Boston Celtics. Carl English, cestinha da Liga ACB, é outro que ficou fora.


Talento porto-riquenho pesa na estreia. Mas a derrota deixa lição coletiva importante para a seleção
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Giancarlo Giampietro

Renaldo x JP Batista

Renaldo Balkman, de novo, acabou com o jogo a favor de Porto Rico

“EQUIPO!!! EQUIPO!!”, era o que berrava, com a voz estridente, mesmo, Rubén Magnano num pedido de tempo no segundo período. Num raro flagra televisivo,  provavelmente equipada com um microfone “boom” daqueles que captam tudo ao seu redor, até pensamento, a equipe de TV da Fiba conseguiu registrar um pedido de tempo da seleção brasileira, para ouvir o argentino.

E o técnico reclamava daquilo que era evidente: a seleção brasileira insistindo de modo irritante nas jogadas individuais, com um ataque novamente estagnado, pouco criativo. A partir da chamada, se não testemunhamos uma revolução, ao menos o padrão mudou o suficiente para mudar o ritmo do embate. Aos poucos, seus comandados foram voltando ao jogo. Só não foi o suficiente na derrota para Porto Rico por 72 a 65, pela rodada de abertura da Copa América em Caracas.

Era o que faltava ao time brasileiro, mesmo. Um mínimo de organização, de cabeça erguida e altruísmo, mas um pouquinho mesmo para fazer a diferença contra os bons e velhos parceiros de Porto Rico. Ah, Porto Rico! Os sabores porto-riquenhos, a leveza, a cultura caribenha. Individualmente muito mais talentosos nesta competição, mas ainda indisciplinados o bastante para fazer de qualquer partida uma emoção.

Também pesou na recuperação, como o próprio Wlamir alertou durante a transmissão da ESPN, uma ajudinha do técnico Paco Olmos. O espanhol não só tirou seus melhores nomes de quadra como chamar jogadas em sequência para o decadente já totalmente caído Larry Ayuso, o eterno nêmesis de Marcelinho Machado. Bem coberto por Vitor Benite, forçou seus chutes e investidas e, num piscar, o Brasil diminuiu uma desvantagem de dez pontos para dois ao final do primeiro tempo (31 a 29).

Do seu lado, além da bronca, Magnano também pôde consertar um próprio erro. Em vez de capengar com a dupla Caio e João Paulo, lançouum quinteto muito mais coeso por ser beeeeeem mais leve, com Larry-Benite-Arthur-Giovannoni-Hettsheimeir. Na volta do intervalo, eram Huertas e Alex no lugar de Benite e Arthur, mantendo a agilidade. Com esse tipo de formação, conseguiram pular cinco pontos à frente. O terceiro quarto foi vencido por 22 a 17 – isto é, dois pivôs pesados ao mesmo tempo em quadra não pode.

No quarto período, porém, Porto Rico enfim se acertou em quadra, lendo melhor o que se passava na partida. Diminuíram o bumbameuboi, aproveitando inclusive uma falha estratégica do técnico da seleção brasileira.

Ok, o velhaco Daniel Santiago estava dando um trabalhão danado, de modo que o técnico tirou Caio Torres de seu banco para combatê-lo. Deu certo por algumas posses de bola. Daí que Olmos tirou, então, seu grandalhão, e o argentino não o acompanhou nesse jogo de xadrez. Sem tem com quem trombar em seus custosos minutos a mais em quadra, no sacrifício e, por isso, com a mobilidade ainda mais comprometida,  sobrou para o novo pivô de São José perseguir sem a menor chance o hiperativo Renaldo Balkman.

Uma das figuras desta Copa América, o ala-pivô andava quieto ofensivamente, mas foi muito bem acionado por Barea nessa ocasião e acabou com o jogo, no fim. Operário toda a vida, terminou o duelo com os brasileiros novamente com uma linha estatística de superestrela: 24 pontos, oito rebotes e quatro tocos, com 70% de acerto nos arremessos. Uma ou duas posses de bola de sucesso para o cabeludo, e os adversários abriram uma vantagem mínima. Conta cada detalhe, não?

A essa altura, ao menos a seleção ao menos tinha uma abordagem mais razoável, menos egoísta – ainda que, no ímpeto de querer resolver jogo rapidamente, os alas brasileiros tenham novamente se precipitado a arremessar com muitos segundos no cronômetro, achando que aquela era A HORA de matar os caribenhos.

Se tivessem trabalhado um pouco mais o ataque durante os primeiros 15 minutos do primeiro tempo, quando Porto Rico estava todo atrapalhado, perdido em seus devaneios, talvez o desfecho pude ser diferente? Pode ser. De qualquer forma, ficou evidente que as investidas no mano-a-mano não são o que apregoam Magnano. O técnico agora tem de dar um jeito de passar a mensagem de maneira ainda mais clara para as próximas rodadas. Com muitos desfalques e uma convocação deficiente, seu time não tem margem de erro alguma. Cada minutinho de um jogo coletivo que possa amplificar as qualidades de seus atletas.

Precisa-se, realmente, de uma equipe.

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O Brasil teve chance. A derrota incomoda, claro. Mas era um resultado, digamos, que já poderia entrar na conta. Não muda muito o planejamento da equipe na busca de uma das quatro vagas do torneio. Depois da folga neste sábado, voltam aí, sim, para um confronto direto com o Canadá no domingo, ao meio-dia (horário de Brasília). Os canadenses venceram a Jamaica com facilidade na primeira partida do torneio: 85 a 64, com excepcional partida de Cory Joseph (17  pontos, 9 assistências e 8 rebotes).

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Marcar Barea é complicado. Explosivo, maroto, tende a conseguir aquilo que pretende fazer no ataque. Larry bem que tentou, num esforço louvável, mas seu oponente tende a levar a melhor mesmo no um contra um ou no uso de pick-and-rolls. E o que fazer, então, para amenizar essa situação? Atacar, literalmente, sua deficiência. Leia-se: sua defesa. Ele só joga de um lado da quadra. Então Huertas adotou uma estratégia correta: antes de serem agredidos, foi ele para cima. O brasileiro terminou o jogo com 16 pontos, contra 12 de seu oponente. E o saldo positivo não se resume apenas aos quatro pontos de uma conta básica, mas, antes de tudo, na grande conta tática do jogo, minimizando o impacto gerado pelo tampinha.

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Situação hipotética: se Magnano fosse o treinador de Arroyo e Ayuso, precisaria muito mais de uma equipe de paramédicos ao seu lado do que de Fernando Duró liderando um grupo de escudeiros. As chances de um piripaque seriam altíssimas. De acompanhar os caras há anos, sabemos bem, né? Mas não deixa de impressionar a cada confronto: os dois são talentosos, obviamente, mas, juntos, têm uma malemolência incontrolável. Agem como se fossem matar o jogo a cada momento.

É até engraçado, no caso de Arroyo, comparar sua postura quando serve ao time nacional com a que tem em clubes. Duas figuras completamente diferentes. Em Porto Rico, é como se ele fosse o chefão, um scarface prestes a dominar a situação. Daí o seu orgulho ferido pela ascensão de um Barea igualmente tinhoso, mas muito mais produtivo. Não que o armador não consiga mais perturbar uma defesa ou seu marcador em específico. Tem ginga, drible e chute para isso. Mas, em geral, o modo como enxerga o jogo e como se comporta não é nada saudável para nenhuma equipe.

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Tão eficiente na fase de amistosos, o tiro de três pontos foi uma lástima no jogo de estreia: os brasileiros converteram apenas 24% de seus arremessos de fora, com 13 erros em 17 tentativas. Ai. No geral, porém, a coisa foi ainda mais feia: 36% no aproveitamento de quadra, contra 41% dos porto-riquenhos, num jogo feio de doer.

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 Rafael Hettsheimeir: completamente enferrujado. Na hora de avaliar o pivô brasileiro, favor não esquecer a temporada perdida que ele teve na Espanha. Ele ficou muito tempo no banco de reservas do Real Madrid, e isso atrapalha demais, para qualquer um. Ou não lembramos mais das dificuldades que até mesmo um Tiago Splitter teve ao se apresentar em 2011 após um ano de banco pelo Spurs também?

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Raulzinho e Rafael Luz nem jogaram. Passaram a partida inteira com camisa de manga comprida no banco. Nem um minutinho sequer? A ver se a situação se mantém para o decorrer do torneio.


Seleção vence Canadá no último teste e vai para a Copa América vulnerável, mas na briga
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Giancarlo Giampietro

Magnano orienta. E vai precisar de mais

Rubén Magnano é um ótimo treinador.

Vamos lá, de novo. O Rubén Magnano? Um baita treinador.

Sabia? Campeão olímpico e tudo. Com a Argentina! Vice-campeão mundial, operado na final contra o Bodiroga, o Peja e o Divac. Deu uma cara nova para a seleção brasileira! Conseguiu o quinto lugar nos Jogos Olímpicos de Londres. Ganhou da mesma Argentina lá dentro. Com tantas façanhas, tem o respeito, imagino, irrestrito por parte de seus jogadores. Não há como não confiar num técnico desses.

Satisfeitos?

Se não, vai mais uma vez, sem cinismo algum: Rubén Magnano é um treinador que qualquer time deveria pensar em contratar.

Pronto, acho que deu.

Talvez agora possamos falar sobre a seleção brasileira livres da paranoia. E sem ter background algum no assunto.

A delegação tupiniquim desembarca nesta terça-feira já em Carcas, com a Copa América começando já na sexta. Em sua despedida da Copa Tuto Marchand, uma noite depois de ter sofrido uma derrota apertada contra Porto Rico, o time de – vejam só, ele mesmo! – Magnano venceu a jovem seleção canadense por 77 a 70, terminando sua campanha com dois triunfos e dois reveses. Ao menos, depois do vexame passado contra a Argentina, a intensidade defensiva foi resgatada.

Se, no torneio continental, a equipe conseguir manter esse padrão, essa tocada e evitar tropeços calamitosos, vai se meter entre os quatro primeiros e vai conquistar, na quadra, sua vaga para a Copa do Mundo da Espanha 2014. É simples: na teoria, basta ficar acima de um entre Argentina, Canadá, Porto Rico e República Dominicana. Que se tome cuidado com México, reforçado com Ayón, e a Venezuela, um time doido, jogando em casa, e pronto.

Posto isso, vai ser extremamente difícil me convencer de que Magnano tenha feito uma boa convocação para a temporada. Houve um sério erro de cálculo, e isso está escancarado na quadra. Metade de nosso elenco é baixa e veloz. A outra, nem tão alta assim, mas extremamente pesada. Para fazer isso conectar não vem sendo nada fácil, se é que vai acontecer. Esse descompasso só não vê quem realmente não quiser ou quem realmente ache que, no mundo, é tudo uma questão de “ame” ou “odeie”, preto e branco, e que ou se é “pró”, ou “contra”. Ou talvez esses estejam com a bandeira tapando a cara, distraídos ao tirar do saquinho um punhado de confetes ou qualquer coisa do tipo. Pode ser também.

De qualquer forma, independentemente de ideologia política, educação ou credo, acho que todos concordamos que Facundo Campazzo e José Juan Barea são dois tampinhas muito difíceis de se marcar. Vocês devem se lembrar, por exemplo, do que o porto-riquenho fez contra uma defesa hiperatlética como a do Miami Heat, né? Ele continua o mesmo, embora escondido no Minnesota Timberwolves e sem a companhia de um Jason Kidd para escoltá-lo. Se o Brasil estivesse com Varejão, Splitter e Nenê, três grandalhões de excelente movimentação lateral, a coordenação da defesa de um pick-and-roll já teria de ser perfeitinha, para afastá-lo da cesta.

Agora, quando você está tentando frear Barea numa jogada dessas com Rafael Hettsheimeir envolvido na troca, fica mais difícil. Com JP Batista, apesar de sua inteligência em quadra, não muda muito. Se a segunda ou terceira opção é Caio Torres, ainda mais pesado, complica bastante. E, se o treinador não está confortável em dar mais minutos para o único pivô atlético que tem no elenco, danou-se. É exatamente este o cenário que temos na seleção hoje. Simples. Nossos quatro pivôs experientes são extremamente vulneráveis quando estão afastados da cesta.

Tendo pela frente gente como Luis Scola, Ricky Sánchez, Andrew Nicholson, Hector Romero, Gustavo Ayón e, por vezes, até Jack Martínez e Esteban Batista, o que acha que vai acontecer, e muitas vezes? Os pivôs vão precisar subir e marcar – e importante considerar aqui que não estamos falando apenas de contestar arremessos na linha de três. São raros, bem raros, aliás, o caso de “cincões” que joguem de costas para a cesta, plantados próximos do aro neste torneio. Mas, nem mesmo a presença desses gigantões como Eloy Vargas, dos dominicanos, ou o bom e velho Daniel Santiago anima muito. Por quê? É só ver o impacto que Santiago teve no quarto período, com corta-luzes imensos que garantiam a Barea um posicionamento cara a cara com um pivô/uma avenida. Resultado: bandeja. Neste ponto, fazem falta também jogadores mais atléticos para fazer a cobertura.

Desde que assumiu o cargo, Magnano procurou imprimir na seleção a ideia de que, se quisessem deixar para trás os dias de derrota após derrota, teriam de aceitar e aplicar seu ritmo defensivo extremamente exigente. Por isso a estranheza da lista que ele próprio compôs, com jogadores que não atendem exatamente aos seus princípios, incluindo aqui os dois que chamou a partir do momento em que os comunicados com pedidos de dispensa começaram a se empilhar. Lembram? Antes de João Paulo Batista o argentino já havia chamado Paulão, mais um que nunca foi conhecido por sua explosão em quadra. Veja bem: não é que sejam, individualmente, separados, jogadores ruins. O problema é que eles não batem com as necessidades deste grupo em específico.

Essas questões defensivas ficam ainda mais custosas quando combinadas com a ineficiência dos pivôs também apresentada do outro lado da quadra. Mesmo o talentoso Hettshimeir está com enorme dificuldade para produzir, enferrujado depois de uma temporada inteira no banco do Real Madrid. Caio só vem matando quando completamente livre – sem muita mobilidade, tem sido presa fácil para quem estiver ao seu lado disposto a combater. João Paulo é uma peça complementar, que deve ser mais usada dentro de um sistema do que como referência. Cristiano Felício deveria ter sido mais usado no torneio amistoso, mas não foi o caso.

Desta forma, a seleção fica extremamente dependente dos tiros de fora, que caíram com uma frequência saudável em Porto Rico (em geral, sem forçação de barra), e dos contra-ataques, que saem a partir da pressão na bola que Larry e Alex podem fazer por conta, a despeito da falta de cobertura. Se esses contragolpes não forem concluídos necessariamente com bandejas em linha reta, ao menos o jogo em transição pode proporcionar situações de desequilíbrio para serem aproveitadas com um ou dois passes a mais antes de as defesas se recomporem. Passes esses que, contra Porto Rico e Canadá, começaram a aparecer com maior frequência, ainda que numa frequência tímida. Espera-se que esse movimento ganhe mais força para o torneio que vale.

De resto, temos um Larry mais agressivo com a bola, procurando infiltrar mais do que brecar para os tiros ineficientes de média distância – fundamento o qual não domina. Alex vai fazendo de tudo um pouco. Giovannoni, adorando essa vida de cestinha designado, saindo do banco. Benite parece ter perdido o espaço na rotação – em seu lugar, faz muita falta um jogador vigoroso como Marcus Vinícius Toledo, de Mogi. Raulzinho fica estabelecido como o armador vindo do banco, preocupado mais em melhorar a pegada defensiva da equipe, já que Huertas vem se mostrando bastante frágil quando atacando no um contra um e está, para variar, sobrecarregado em suas responsabilidades ofensivas. Arthur vai ganhar uns minutos aqui e ali, dependendo do excesso de faltas dos companheiros.

Sim, essa seleção tem problemas e sérios. Que talvez pudessem ter sido remediados com uma lista melhor – e, por “melhor”, não é preciso pensar necessariamente em nomes, mas, sim, em características que fossem mais produtivas num coletivo.

Mas o time de – tcha-ram! – Magnano não é o único cheio de pendências para resolver. Porto Rico depende do estado de humor de seus talentosíssimos mas geniais armadores. A República Dominicana tem um banco ainda menor que o brasileiro. O Canadá, com seus talentos de NBA, está apenas em seu estágio inicial de evolução, como se fosse o Brasil de 2003. A Argentina parece mais azeitada, mas, por mais que seu elenco de apoio esteja surpreendendo, ainda estamos diante de um time que depende de Scola para avançar. E todos eles sofrem com os famigerados “desfalques”.

Fato é que, no momento, o Brasil está no meio do bolo. Vai ter de lutar, jogo a jogo, ciente disso, preparada psicologicamente para suportar a pressão. Para lidar com isso, é preciso contar com um comandante renomado e tarimbado.

Inicialmente, Magnano foi contratado com uma missão urgente: encerrar o jejum olímpico de qualquer maneira. Cumprida essa etapa, o basquete nacional pode pedir mais – e que os favores fiquem mais com a parte esportiva da coisa, a despeito de seu status de trunfo político numa gestão totalmente destrambelhada.

Entre o que se espera, está fazer do grupo limitado que ele próprio convocou uma unidade mais forte.

Afinal, é um excelente treinador.

Quem duvida?