Rose, Ibaka e as trocas da semana – incluindo aquela que não aconteceu
Giancarlo Giampietro
Pois é, conforme avisado, a temporada dos gerentes gerais e scouts da NBA definitivamente não acabou no momento em que LeBron, comovido, desabou na quadra da Oracle Arena para comemorar o terceiro título de sua carreira e o primeiro de Cleveland em mais de 50 anos. Preparando-se para o Draft desta quinta-feira e para o mercado de agentes livres que será aberto a partir do primeiro segundo do dia 1º de julho, os dirigentes já deram uma boa agitada nesta semana, antes mesmo de o recrutamento de calouros começar.
Neste post, vamos nos concentrar mais nos negócios que envolveram veteranos da liga, sem entrar no mérito sobre quem saiu ganhando ou perdendo do Draft ainda:
Derrick Rose agora é um Knickerbocker
Este foi o negócio de maior repercussão da semana, pelas cidades e franquias envolvidas e, principalmente, por selar o fim da era Derrick Rose em Chicago. Os torcedores do Bulls viveram grandes momentos com o armador, xodó da cidade, desde 2008, quando foi selecionado. Foram os melhores anos da franquia desde a saída de Michael Jordan. Devido a suas constantes lesões e cirurgias, porém, hoje podemos dizer que durou pouco. Considerando todos os desencontros dos últimos dois, três anos, desde a desgraçada ruptura de ligamento em 2012, quando ele, Thibs e uma valente equipe achavam que poderiam derrubar os LeBrons de Miami, talvez fosse a hora, mesmo.
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Mas…
Se o Bulls pensava em reformular seu elenco, talvez fosse o caso de esperar mais uma temporada. O mais interessante aqui não seria dar mais uma chance a Rose para ver o que pode sair dali – isso seria um bônus –, mas simplesmente deixar que seu contrato de US$ 20 milhões expirasse. Desta forma, a dupla John Paxson/Gar Forman poderia abrir espaço para investir num mercado muito mais bombado. Talvez fosse possível encontrar gente mais talentosa que Robin Lopez e Jerian Grant, cujos contratos se estendem para além de 2017 – ainda assim, o clube pode ter mais de US$ 40 milhões para distribuir. Ao que parece, porém, a prioridade era virar a página agora, mesmo. Se a ordem da preferência começa pelo temor de perder Rose por nada e ou de se livrar do jogador, pensando em química do elenco, ninguém vai dizer abertamente.
Lopez fez uma grande segunda metade de temporada em NYC, é daqueles que entrega muito mais do que os números mostram, já havia feito boas campanhas por Suns, Pelicans e Blazers, mas simplesmente não consegue se fixar em um lugar. É estranho demais. Vai acontecer em Chicago? Com média de US$ 14 milhões anuais, por mais três anos, seu salário não é dos mais caros, de fato. Agora cabe ao técnico Fred Hoiberg utilizá-lo da melhor forma, pensando neste custo x benefício. Jerian Grant não mostrou muita coisa pelo Knicks, sendo castigado por Derek Fisher nos primeiros meses, mas tem potencial evidente. Se pode ser um titular, veremos.
Com a chegada do pivô, está claro que o clube também se prepara para dizer adeus a Pau Gasol e, especialmente, Joakim Noah. Ao anunciar a negociação, de todo modo, Forman se referiu ao grandalhão como um “titular”. Considerando a frustração de JoJo por ter ficado no banco durante o campeonato, acho que meia palavra já bastaria. Além disso, Noah vai receber diversas propostas no mercado. Aliás, não ficaria nem pum pouco surpreso se ele não parasse justamente no Knicks.
Do ponto de vista de Phil Jackson, James Dolan e Jeff Hornacek, o que vale aqui, de primeira, é a aposta em Rose, mesmo. Eles estavam buscando um armador mais experiente para comandar o ataque acelerado de Hornacek, e não havia tantos agentes livres disponíveis para tanto. OK.
A primeira questão é saber se Rose pode realmente voltar a ser um jogador consistente e, depois, minimamente decente em quadra. Pois não dá para tratar tudo com memória seletiva. O MVP de 2011 não consegue jogar há tempos, sem a menor eficiência por trás de seus 16,4 pontos por partida desta última temporada. As consequências de tantas lesões foram graves para seu jogo. Ele não consegue mais forçar faltas e lances livres e, mesmo sem tanta agressividade, segue cometendo turnovers. Mais: por mais que tenha maneirado nos arremessos de três pontos (entre suas tentativas, o volume de longa distância baixou de 32,5% para 14,3%), seu aproveitamento de quadra foi ainda de 42,7%. Sua produção por minuto foi menor, assim como a qualidade de jogo como um todo, dando menos assistências. Seu impacto foi negativo tanto na defesa como no ataque, inclusive. Enfim, o Knicks só espera que este recomeço faça bem ao jogador. Que a draga que o arrastava em Chicago tinha mais a ver com psicológico, emocional, e que ele tenha muito mais o que render em um novo cenário.
A segunda questão é se Rose e Carmelo vão conviver bem. Supostamente, eles se dão bem fora de quadra, e o armador até mesmo tentou recrutar ala em 2012 – atividade que ele se recusara a fazer no passado. Conhecendo o histórico dos dois astros, algo que os jornais de Nova York e Chicago escancararam nos últimos anos, é de se imaginar se o convívio mais próximo vai fazer bem para a relação. Em quadra, uma bola será o bastante? A mentalidade de Carmelo vai e volta quando o assunto é acionar os companheiros. Rose só está acostumado a uma abordagem: atacar e atacar, a despeito duas limitações de hoje. Fora de quadra, fica ainda mais intrigante a dinâmica. Melo não está tão acostumado assim a dividir as luzes de Manhattan – Amar’e Stoudemire e Jeremy Lin podem falar a respeito. Para ser justo, Kristaps Porzingis foi bem acolhido pelo veterano, teve suas semanas de coqueluche por lá, mas, aos olhos do capitão do time, nunca representou uma, digamos, ameaça. Rose, por seu lado, já demonstrou que valoriza bastante seu cultivo de imagem. Agora imaginem colocar um Dwight Howard neste caldeirão? Afe.
Serge Ibaka agora é do Orlando
Havia algum zunido a respeito. Aconteceu bem mais rápido do que poderíamos imaginar. Pressionado enquanto Kevin Durant não se decide sobre seu futuro, o gerente geral Sam Presti agiu à revelia do que vai acontecer com o astro ao despachar Serge Ibaka para o mundo mágico da Disney, recebendo em troca Victor Oladipo, Ersan Ilyasova e um Sabonis, o Domantas, que jogou muito por Gonzaga nos últimos dois anos e foi escolhido em 11º neste Draft.
O lado de OKC é o mais interessante aqui. Pode causar espanto a decisão, a princípio. Mas a verdade é que o Ibaka de 2015-16 quase não lembra em nada o de quatro anos atrás, quando Presti optou pelos seus serviços, deixando James Harden ir embora. O congolês teve a pior temporada de sua carreira na NBA, perdendo a precisão nos arremessos de perímetro e contribuindo cada vez menos na defesa. Durante os playoffs, ele foi apenas o quinto jogador mais produtivo da equipe e ficou totalmente alienado no ataque. O quanto que é a causa e o que é o efeito fica difícil de dizer: mas que Ibaka andava um tanto confuso e desmotivado, não há como negar.
Ao se distanciar o pivô, o Thunder também evita a dor-de-cabeça de ter de negociar com ele um novo contrato daqui a um ano. Dependendo do que Durant e Westbrook quiserem, imaginando que eles vão renovar prontamente o contrato de Adams, ficaria praticamente inviável a permanência do veterano. A não ser que o clube encontrasse um novo lar para Enes Kanter.
Para a sua vaga, Ilyasova e Saboninhos podem fazer um pouco de tudo. Inicialmente, acreditava que o experiente turco seria dispensado, valendo uma economia de cerca de US$ 8 milhões na folha salarial. Mas o gerente geral já disse que ele fica, oferecendo chute de longa distância, bom posicionamento defensivo e flexibilidade. Já o calouro lituano tem como principais recursos a capacidade como reboteiro e a garra para brigar muito no garrafão, nas duas tábuas. A expectativa dos scouts também é de que ele possa desenvolver um bom arremesso de média para longa distância também. Com experiência no basquete espanhol e dois torneios da NCAA nas costas, vindo de uma linhagem real do basquete europeu, Domantas estaria mais preparado do que um novato qualquer para chegar e jogar já.
A peça principal, todavia, é Oladipo. Sua parceria com Russell Westbrook promete ser um inferno para qualquer oponente. Os duelos com os Splahs Brotheres prometem ser eletrizantes desde já. Para alguém que foi escolhido como o segundo do Draft de 2012, o ala-armador está longe de se transformar em um franchise player. Para OKC, tendo dois atletas deste quilate em seu elenco, não há pressão ou necessidade para que ele evolua tanto assim. Se continuar com sua constante curva ascendente, já será o suficiente. Oladipo vem melhorando gradativamente nos tiros exteriores e diminuindo o número de turnovers, sem perder a intensidade em quadra. Com ele, a diretoria agora fica bem mais confortável em lidar com Dion Waiters, um agente livre restrito. Por melhor que tenha defendido contra Spurs e Warriors e controlado suas loucuras, o conjunto da obra ainda desperta muita rejeição e certamente não vale um contrato acima de US$ 10 milhões.
Em Orlando, fica uma sensação estranha. Suas principais apostas ainda são muito jovens – os alas Aaron Gordon e Mario Hezonja. Mas a família DeVos não está mais tão disposta assim para esperar o desenvolvimento da rapaziada e tem forçado o gerente geral Rob Hennigan, ex-funcionário de Presti, a se mexer. Nesse contexto, a contratação de Ibaka é positiva. Pensemos assim: poderia ser bem pior. Em um novo contexto, o congolês deve resgatar o ímpeto defensivo e a agressividade no ataque e proteção ao aro. Ao contrário de Rose, ele ainda não sofreu nenhuma lesão grave, estrutural. Sob o comando de Vogel, promete. A dúvida que fica aqui: sua chegada vai resultar em menos minutos para Gordon? Ou Vogel estaria disposto a emparelhá-los por mais tempo, numa rotação com Nikola Vucevic? O suíço-montenegrino é quem se beneficia bastante, tendo a companhia de um pivô superatlético que pode limpar muitas das duas falhas na defesa. Sabonis talvez não fizesse tanta diferença nesse sentido, enquanto Elfrid Payton ganha um voto de confiança, com a saída de Oladipo.
Atlanta enfim despacha Teague, e Utah se sai ainda melhor em troca tripla
Essa conversa vem desde fevereiro. O Atlanta nunca demonstrou muita confiança no jogo de Jeff Teague, mesmo nos dias em que Danny Ferry dava as cartas por lá. Não custa lembrar que o armador chegou a assinar com o Milwaukee Bucks como agente livre restrito, para ver a oferta coberta. Teague chegou ao All-Star em 2015, atingiu a marca de 40% nos arremessos de longa distância na última temporada e, ainda assim, se viu novamente envolto por rumores. O Hawks estava disposto a negociá-lo pelo preço certo, e, meses mais tarde, a 12ª escolha do Draft deste ano, via Utah Jazz, foi o suficiente.
O ganho, na cabeça de Mike Budenholzer, presidente e técnico da equipe, é o de dois em um: a promoção de Dennis Schröder a titular e a mais de 30 minutos por partida e o experimento com o ala Taurean Prince, de Baylor. O novato tem um quê de DeMarre Carroll, mas não só por causa do cabelão. Ele tem basicamente o mesmo porte físico e é igualmente atlético, para fortalecer a defesa no perímetro. O arremesso de três está se desenvolvendo ainda, mas não é que Carroll tenha entrado na NBA como um grande gatilho. O Coach Bud deve entender que seu estafe está mais do que preparado para fazer o mesmo tipo de trabalho com Prince. Traumatizado pelos choques com LeBron James nos últimos anos, podendo perder Kent Bazemore no mercado, vale a tentativa.
Teague foi para Indiana, sua terra natal. Lá, terá a missão de acelerar o ataque, algo que Larry Bird queria ver já durante a campanha que acabou com uma derrota para Toronto pela primeira rodada dos playoffs, em sete partidas. Para esse tipo de proposta, as qualidades de Teague são bem mais favoráveis que as de George Hill, que foi parar em Utah. É mais criativo com a bola, mais agressivo e, sim, muuuuito mais rápido. Sua parceria com Monta Ellis, no entanto, é bastante questionável do ponto de vista defensivo.
Em Salt Lake City, o encaixe de Hill tem tudo para devolver o Jazz, enfim, aos playoffs, se a saúde de seus atletas mais jovens assim permitir. Com Gordon Hayward, Rodney Hood e, eventualmente, Alec Burks e Dante Exum, o técnico Quin Snyder conta com atletas versáteis e bastante ofensivos, mas jovens. Em momentos decisivos de sua fracassada campanha, faltou uma liderança em quadra. Hill não é necessariamente este cara. Mas vai ajudar a dar estabilidade ao time, sem dúvida, sem precisar fazer mais do que sabe. Se Pau George era a referência em Indiana, agora ele faz o papel de escudeiro para Hayward. Por outro lado, a defesa, que já conta com uma parede imensa formada por Rudy Gobert e Derrick Favors, fica ainda mais forte no perímetro.
Thaddeus Young também vai correr em Indiana
Dando sequência ao seu movimento de aceleração de partículas (waka-waka-waka), Bird também acertou uma transação com o Brooklyn Nets, por Young. O ala-pivô é uma peça interessante para a linha de frente do Pacers, ao lado de Paul George e Myles Turner. A equipe ganha em transição ofensiva desde já e, em meia quadra, terá uma dinâmica promissora: Turner pode agir tranquilamente na cabeça do garrafão, com seu belíssimo arremesso, liberado o garrafão para os cortes com ou sem a bola de George e Young. Em Brooklyn, o novo gerente geral Sean Marks dá início ao seu processo de minirreforma. Com um elenco todo arrebentado, não havia muito o que fazer, mesmo. Young era das poucas peças que poderia atrair a concorrência, e ele ganhou a 20ª escolha o Draft nessa, aproveitada com o ala Caris LeVert, de Michigan. LeVert é um talento especial, com mil e uma utilidades, mas está vindo de uma fratura no pé. A ver no que dá. Fato é que Rondae Hollis-Jefferson, um defensor implacável, com vigor físico absurdo, e o ala-pivô Chris McCullough também terão mais chances para jogar ao lado de Brook Lopez. Isso se Lopez ficar por lá, mesmo.
Mais: A Troca Que Não Foi
É… o Chicago Bulls ficou muito perto de apertar o botão de implosão, mesmo. Não só deixaram Rose no passado como quase mandaram Jimmy Butler ao (re)encontro de Tom Thibodeau em Minnesota. Com nova gestão, o Wolves ofereceu um pacote de Kris Dunn, o armador selecionado em quinto neste Draft, e Zach LaVine pelo ala, que é um dos jogadores mais completos da liga. Depois de maturarem, Paxson e Forman recusaram, com razão, ao meu ver, por mais talentoso que Dunn receba dos scouts. A não ser que Butler tenha se tornado realmente uma figura asquerosa nos bastidores, não há motivo para se apressar em uma negociação dessas.
Sem Rose e Noah pelas redondezas, talvez o ala assuma de vez o comando do time, mas de uma maneira positiva. Resta saber como ele vai reagir a uma negociação que vazou por todos os lados e não dá mais para ser negada. Veja o esforço de Forman para tratar do assunto: “Nós nunca fez nenhuma ligação sobre Jimmy Butler. Nós já conversamos sobre isso, valorizamos Jimmy Butler, estamos muito felizes de ter Jimmy Butler. Nós temos um jogador fenomenal, que é um All-Star e um defensor All-NBA, ainda jovem. Obviamente nós o temos sob contrato de longo prazo, e esses são todos positivos. Ele, novamente, é o que queremos para o time. Dissemos isso o tempo todo. Nós gostamos Jimmy Butler, não o colocamos à venda. Se vamos atender o telefone? Claro que sim. Esse é o nosso trabalho, ouvir as chamadas. Recebemos ligações sobre muitos dos nossos jogadores, e isso é coisa que acontece durante todo o campeonato”.
Thibs, agora, precisa ser criativo para fazer uso de dois armadores como Rubio e Dunn, que defendem muito, mas não têm arremesso. A função dos dois é deixar o jogo mais fácil para o fantástico Karl-Anthony Towns e para Andrew Wiggins. Com a quadra mais apertada, não é o caso. (E não que Butler seja um grande chutado também. Se o negócio estivesse fechado, o Wolves precisaria correr atrás de novas peças complementares.)
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