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Draft já balançou a NBA antes do mercado de agentes livres
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Giancarlo Giampietro

Pat Riley, Miami, Winslow

Vejam o sorriso plácido de Pat Riley. Ele venceu de novo

No final das contas, foi mais ou menos como Danny Ainge temia. Muita, muita conversa e especulação, mas sem a movimentação que ele esperava. O que não quer dizer que a NBA tenha passado pelo Draft sem se mexer.

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Basta perguntar ao Luke Ridnour que, em 24 horas, foi jogador de quatro times diferentes. Seguir a trajetória do experiente armador nos ajuda a entender as negociações que foram concretizadas durante a semana. Vamos lá, no passo a passo para descobrir Aonde Está o Luke:

– Ridnour acordou na quarta-feira, 24 de junho, como jogador do Orlando Magic. Até ser informado pelo clube, ou por seus agentes, de que estava sendo enviado para o Memphis Grizzlies.  Em troca, o clube da Flórida recebeu os direitos sobre o ala letão Janis Timma.

– Na quinta, pela manhã, ele foi repassado pelo Grizzlies para o Charlotte Hornets, em troca por Matt Barnes.

– Na sequência, o Hornets fechou, então, um acordo com o Oklahoma City Thunder, que despachou ao ala Jeremy “Soneca” Lamb e ainda recebeu uma uma escolha de segunda rodada de Draft.

– Ridnour sabe que não vai ficar em OKC – a franquia que herdou a estrutura do Seattle SuperSonics, sua primeira equipe na liga. Seu contrato para a próxima temporada não tem garantia e será dispensado (ou, quiçá, trocado mais uma vez!), para que o Thunder abra uma vaga em seu elenco para o armador Cameron Payne e poupe alguns caraminguás na tentativa de renovar com Enes Kanter e Kyle Singler.

Atualizado às 23h20: – meia hora depois de sair de casa e entrar no metrô paulistano, o que acontece? O armador foi trocado mais uma vez! Agora, seu ‘passe’ pertence ao Toronto Raptors, que o adquiriu, dando em contrapartida os direitos do ala-pivô croata Tomislav Zubicic. O que o Raptors quer? Tentar aproveitar o contrato de US$ 2,7 milhões em nova negociação – mais uma! Se não conseguir até 11 de julho, vai dispensá-lo, antes que seu salário fique garantido.

Fazendo as contas, temos três negociações distintas já listadas. O Charlotte, como se percebe, é o time mais inquieto do momento, tendo acertado com Nicolas Batum e se livrado de Lance Stephenson, antes. O Milwaukee Bucks e o Portland Trail Blazers aparecem logo atrás na lista de transações, reponsáveis pelos agitos na noite de Draft.

O Bucks, que já havia mandado Ersan Ilyasova para Detroit, pelos dispensáveis contratos de Caron Butler e Shawne Williams, foi atrás de mais um armador de estatura elevada para fazer companhia a Michael Carter-Williams: Greivis Vasquez, intensificando os esforços de Jason Kidd por um time de troca total na defesa. Para tirar o venezuelano do Toronto Raptors, o gerente geral John Hammond concordou em pagar uma escolha de primeira rodada em 2017  e outra de segunda rodada no recrutamento passado (o ala-armador Norman Powell, de UCLA). Um preço salgado para um atleta que vai virar agente livre. Vasquez, que nunca joga mal em lugar nenhum, agora parte para seu quinto time na liga americana. Vai entender. De todo modo, Masai Ujiri se deu bem nessa, ganhando uma moeda de troca valiosa para tentar reformular o plantel canadense.

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Já o Blazers segue numa linha um tanto confusa. Para um clube que havia acabado de abrir mão de um jogador como Batum, é difícil de entender a razão para se escolher um substituto como Rondae Hollis-Jefferson na 22ª posição e, minutos depois, cedê-lo ao Brooklyn Nets. Neste caso, não foi uma seleção pré-combinada. O Nets queria o ala de Arizona de qualquer jeito e insistiu até levá-lo. Está certo que conseguiu um pivô competente, atlético e ágil como Mason Plumlee. Mas o jogador de Duke está prestes a entrar em seu segundo ano de contrato – e vai querer uma boa grana por isso –, enquanto Jefferson teria um salário bem mais baixo e estaria seguro por mais temporadas. Guardar dólares e preservar teto salarial seria o melhor para se fazer num momento em que LaMarcus Aldridge vai se tornar agente livre. Para deixar claro: Plumlee, hoje, ainda é um jogador barato. Sua contratação significa provavelmente que Robin Lopez não será mantido, caso peça muita grana. Em breve, porém, o clube terá de negociar com o reforço.

Se a ideia era seguir competitivo, confiando numa renovação com Aldridge, aí a saída de Batum faz pouco sentido. A não ser que o francês tenha dado muito mais trabalho que se tornou público no campeonato passado – no qual apresentou boa melhora em sua segunda metade. Henderson tem um bom chute de média distância, é competitivo, mas seria um bom reserva para o clube. De Noah Vonleh, muitos esperam grandes coisas. Mas não para agora. A partir da decisão de seu ala-pivô que essas transações todas poderão ser compreendidas da melhor forma.

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Imagino o sorriso sarcástico no rosto de Ainge ao ver tantos negócios assim, e ele de fora da festa. Ainda mais quando tomou nota de tantas trocas que a turma de Michael Jordan fez em Charlotte. Justo o time que teria rejeitado uma oferta supostamente irrecusável de Boston pela nona escolha do Draft. Chegou u a oferecer um pacote com seis picks para ter o direito de selecionar o ala Justise Winslow, que inesperadamente havia passado batido por Orlando, Sacramento, Denver e Detroit. Encantado por Frank Kaminsky, Jordan mandou dizer não. Sem conseguir fechar nenhum negócio, o chefão do Celtics teve de se contentar e se concentrar em seus calouros. E tomou decisões um tanto estranhas, pensando no plano geral.

Então aqui chegamos ao balanço do recrutamento de novatos deste ano. Dar nota para o que foi feito seria um exercício de plena futilidade, uma vez que não dá para julgar apostas para o futuro antes mesmo que elas se manifestem em quadra, né? A maior parte dos atletas inscritos no Draft é qualificada demais. Mas seu desenvolvimento vai depender diversos pontos, que muitas vezes escapam do seu controle: estrutura do clube, sintonia entre diretores e técnicos, bons treinadores, encaixe no time, pressão por resultados, o rendimento dos concorrentes diretos, saúde etc.

O que dá para se avaliar é, de acordo com o que estava na mesa, quem se aproveitou ao máximo? Quais são os clubes que estão mais confiantes em seus projetos? E os que estão com mais dúvidas do que respostas? Quais personagens saem de cabeça erguida? E os cabisbaixos? Todos eles não terão nem muito tempo para respirar, já que, a partir da meia-noite desta quarta-feira, os clubes estão autorizados a negociar com os agentes livre.

NUMA BOA

Calipari e seus garotos. E seus tentátuclos

Calipari e seus garotos. E seus tentátuclos

John Calipari: sua aura de todo poderoso nos Estados Unidos só aumenta. Desta vez, ele emplacou seis jogadores de Kentucky no Draft, sendo quatro deles na primeira rodada, e quatro entre os 13 primeiros (este, um recorde). As consequências? Ele seguirá recrutando os talentos mais promissores do high school para os Wildcats. Quanto mais talentos de ponta, maiores as chances de ele ter jogadores de NBA. Quanto mais caras de NBA, maior sua influência. Quanto mais influência, maior a probabilidade de ele retornar à liga pela porta da frente, com controle total de uma franquia. Parece questão de tempo. Atualizado às 23h20: meio que simultaneamente à notícia de Ridnour, Adrian Wojnarowski, o superfurão do Yahoo!, noticiou que o Sacramento Kings estaria interessado em dar a coroa a Calipari, oferecendo controle total sobre as operações de basquete e o comando do time em quadra. O técnico desmentiu.

– Miami Heat e Justise Winslow: hors concours, gente. Pat Riley foi premiado, na décima posição, com Justise Winslow, um jogador que poderia ter saído até mesmo em quarto, via Knicks. Quer saber o quanto Riley ficou animado com esse ato da sorte – ou divino? Vejam o que ele disse: “Ele acabou caindo para nós de um jeito, creio, muito abençoado”. O rapaz tem, no mínimo, vocação vencedora, direcionada aos pequenos detalhes de uma partida de basquete, sendo, apesar de jovem, um complemento perfeito para um time que pretende reencontrar os playoffs (e muito mais que isso…) na próxima temporada. Resta saber se Dwyane Wade estará lá para ver isso de perto. Na pior das hipóteses, Riley tem um talento para nutrir e, quiçá, transformá-lo em sua própria versão de Kawhi Leonard. Se Wade e Dragic continuarem, melhor ainda. O espaçamento da quadra pode ficar um pouco apertado, mas, por outro lado, ele terá tranquilidade para dar seus primeiros passos em quadra, sem muitas responsabilidades no ataque, setor no qual a NBA pedirá uma série de ajustes.

– Denver Nuggets: outro que conseguiu selecionar um jogador antes cotado para o topo do Draft, Emmanuel Mudiay. Maduro, forte, atlético e cheio de potencial, o armador encontra uma situação ideal: uma equipe em reformulação que está pronta para lhe entregar as chaves de casa e do carro, para que ele os lidere daqui para a frente. No caso, uma equipe que pretende correr a quadra de modo desenfreado, favorecendo suas características. Mais um excepcional recrutamento para o Nuggets, que vai se remontando aos poucos. Num mercado de apelo reduzido, fincado na Conferência Oeste, esse é o melhor jeito, mesmo.

Kevon Looney: mas como assim? O ala-pivô que um dia foi cotado até mesmo como top 15 e acabou saindo apenas na 30ª posição? Venceu como? De fato foi uma queda e tanto para o garoto revelado pela UCLA. Mas pensem assim: devido a exames médicos preocupantes (e a possibilidade de passar por cirurgia no quadril e nas costas), Looney poderia ter passado direto pela primeira rodada. Agora, ao menos tem um contrato garantido por dois anos. Mas o ponto principal é que ele foi escolhido pelo Warriors, um time que é grande dentro e fora de quadra. Com excelente estrutura, digo. Não é acaso que tenha sido o clube que menos perdeu jogadores por lesões na temporada passada, podendo dar todo o melhor amparo possível para que o garoto desabroche.

Juan Pablo Vaulet: no final das contas, parece que o interesse maior era do Brooklyn Nets, que atravessou o Spurs. Obviamente que, para qualquer estrangeiro, San Antonio era um destino mais acolhedor. Ainda mais para um argentino de Bahía Blanca. Por outro lado, qualquer jogador que consiga sair diretamente de uma liga sul-americana para o Draft da NBA conseguiu uma façanha, e tanto. Temos aqui o Bruno Caboclo argentino, que está se salvando em meio ao fraco desempenho de nossos hermanos no Mundial Sub-19 e vai jogar as ligas de verão pela franquia nova-iorquina. Dificilmente terá um contrato para o próximo campeonato, porém.

Los Angeles Lakers: é complicado de cravar, pois não sabemos, em cinco anos, como estarão D’Angelo Russell e Jahlil Okafor. De repente Russell não será a estrela que todos imaginam. De repente, Okafor será um pivô dominante que vá punir o small ball. Podemos projetar, mas simplesmente não sabemos. De qualquer forma, a repercussão da escolha de Russell foi amplamente positiva e injeta na franquia californiana um senso de renovação e esperança. (Que bonito, né?) O encaixe do armador é ainda melhor se formos ver os alvos da franquia californiana no mercado de agentes livres. LaMarcus, DeAndre, Monroe… Os pirulões.

– Minnesota Timberwolves: esse já tinha saído vencedor desde que tirou a sorte grande na loteria. Com Karl Towns e Andrew Wiggins, duas primeiras escolhas em sequência, os caras têm agora duas das maiores promessas da NBA para trabalhar com paciência. Dois caras que se completam em quadra e que têm personalidade semelhante. Low profile, ideal para quem está morando em Minneapolis, mas assessorados por um Big Ticket como Kevin Garnett. Flip Saunders ainda deu um jeito de selecionar Tyus Jones, que é como se fosse um Derrick Rose da região (em termos de apelo público e sucesso na quadra, registre-se), para aumentar o amontoado de jovens jogadores. Se tiver paciência, desenvolvendo a rapaziada e esperando um grande negócio, poderá fazer desta versão do Wolves algo ainda maior que a de um KG no ápice.

CB Sevilla: enfrentando graves problemas financeiros, o clube espanhol viu três de seus jogadores escolhidos no Draft. A metade de Kentucky e a mesma quantia de Duke. Foram eles: Kristaps Porzingis e Willy Hernangómez (Knicks) e Nikola Radicevic, armador escolhido pelo Denver Nuggets. Apenas Porzingis vai fazer a transição imediata para os Estados Unidos agora, mas sua saída já vai render uma boa graninha para ajudar na sobrevivência em mais uma temporada da Liga ACB. Outros dois clubes europeus já haviam colocado um trio de atletas num mesmo recrutamento: o Buducnost, de Montenegro, com Zarko Cabarkapa, Sasha Pavlovic e Slavko Vranes em 2003, e o Mega Vizura, da Sérvia, com Nikola Jokic, Vasilije Micic e Nemanja Dangubic no ano passado.

POKER FACE

Os holofotes de NYC para Porzingis

Os holofotes de NYC para Porzingis

New York Knicks: a escolha de Porzingis soa como uma grande tacada de Phil Jackson. Dos que estavam disponíveis, talvez só Mudiay tenha tanto talento natural para ser explorado e desenvolvido. Que o Mestre Zen tenha pensado em longo prazo, em vez de se limitar a um calouro que talvez esteja mais preparado para produzir em novembro, foi uma grande notícia para o torcedor mais consciente do Knicks. O problema é a pressão em torno do clube. Em anos bons, a cobrança já é grande, com um batalhão de jornalistas visitando diariamente suas instalações. Depois da pior campanha da história do time, porém, os tabloides estão sedentos. Assim como Carmelo Anthony, que já fez questão de passar um recado indireto ao dirigente de que não aprovaria a chegada do letão, tendo em mente o tempo necessário para que ele fique pronto. Jackson gosta de dizer que sua função em Manhattan é presidir. Não pega o telefone para ligar para os demais cartolas e pouco entra em quadra para ajudar Derik Fisher. Seria uma sombra, e tanto, é verdade. No caso de sua grande aposta, porém, o melhor que ele teria a fazer era entrar em cena para valer, para proteger e guiar o rapaz.

Boston Celtics: é, não dá para acusar Danny Ainge que ele não tenha tentado. Mas foi mais um recrutamento em que o dirigente sonhou alto e teve de se contentar com as simples escolhas de Draft que vem acumulando nos últimos anos. Não faz mal adicionar sangue jovem a um time ainda em formação, com um técnico que se mostra especial em tirar o melhor de seus jogadores. Mas não chega uma hora em que se pode ter jovens demais? Principalmente quando eles dividem a mesma posição de alguns de seus atletas mais promissores? Terry Rozier e RJ Hunter não eram unanimidades, mas conquistaram muitos fãs durante o processo de workouts e chegam a Boston para congestionar a rotação de perímetro de Brad Stevens. “Obviamente que temos muitos guards. E nós gostamos de todos eles. E vamos descobrir o que fazer. Vamos ter de tomar algumas decisões difíceis, mas nós realmente gostamos de todos esses caras”, disse o gerente geral. Ao acumular jogadores similares, Ainge só deu mais trabalho, correndo o risco de dispensar um ou outro jogador de contrato garantido devido a um elenco novamente inchado, como foi o caso de Vitor Faverani no ano passado.

BICO FECHADO
– Philadelphia 76ers, Jahlil Okafor e Joel Embiid: para os que não estão por dentro do culto que se tornou “O Processo” em Philly, é o seguinte: o gerente geral Sam Hinkie insiste em dizer a seus torcedores que sua visão só vai se materializar daqui a alguns anos. Quantos? Claro que ele não vai cravar. Enquanto isso, é preciso confiar no processo. Na ideia de que ele sabe exatamente o que está fazendo. A contratação do técnico Brett Brown, a extorsão de diversas escolhas de Draft em negociações oportunistas indicam que o cara é esperto, e não há dúvida disso. O grande problema, ao meu ver: o Sixers depende basicamente da sorte para que esse plano se concretize. A sorte. Que, por enquanto, não sorriu tanto assim para o clube. Se o Wolves tem Wiggins e Towns, Hinkie está com a posição de pivô encavalada com Noel, Joel Embiid (cujos problemas físicos geram enormes questões) e Okafor. O que o time vai conseguir tirar desses atletas? Embiid vai jogar? Se for, há espaço para três jovens que sonham em ser estrelas na liga? E quem vai passar a bola para eles? E quem vai abrir na zona morta para o chute de três? Mais: quando o clube vai atacar o mercado de agentes livres? Haja paciência?

– Atlanta Hawks: a troca de uma escolha de primeira rodada por Tim Hardaway Jr., aliás, deve ter chamado a atenção de Hinkie. Afinal, imagina-se que não seja esse o tipo de retorno a que o dirigente almeja ao acumular tantos picks em seu cofre. Danny Ferry havia fechado uma excepcional negociação ao mandar Joe Johnson para o Brooklyn Nets, se livrando de seu contrato oneroso e, ao mesmo tempo, conseguindo extrair alguns trunfos de um time desesperado para fazer barulho. Acontece que um desses trunfos, a 15ª escolha do Draft deste ano, já foi queimada. Alguns dos calouros disponíveis para Mike Budenholzer selecionar eram projetos de longo prazo. Outros estariam mais prontos para jogar agora. O lance é que o agora técnico-dirigente tinha diversos caminhos a seguir. Optou por um ala que teve um ano pouco produtivo. Talvez esteja esperando que Hardaway Jr. tenha um salto de produção pós-Knicks ainda maior que o de JR Smith em Cleveland.

Ty Lawson: o zum-zum-zum começou por volta do All-Star Weekend. Ao final da temporada, porém, já virou um fato que o Denver Nuggets está doido para repassar o talentoso – e baladeiro – baixinho. Algo que ele mesmo disse em redes sociais, depois da escolha de Mudiay. O duro agora é encontrar um bom negócio por um jogador que está com o filme queimado publicamente.

Aaron Harrison: um dos irmãos gêmeos badalados desde a adolescência mas que, em Kentucky, não conseguiram repetir a trajetória de John Wall, Brandon Knight, Eric Bledsoe ou Devin Booker. Os garotos já foram uma anomalia no sentido de prolongar sua estadia no campus para além da temporada de calouro. Após um segundo ano de pouca evolução, a cotação da dupla era baixa. Andrew ao menos foi escolhido pelo Memphis Grizzlies na segunda rodada. Aaron, um chutador irregular, passou batido e agora tenta impressionar o Hornets nas ligas de verão. É duro individualizar uma questão mais ampla. Mas o caso dos irmãos Harrison serve como alerta para a promoção desmedida de jovens atletas, elevados a estrela muito antes de jogos que realmente valem alguma coisa.

 CAOS TOTAL

"Agora é nóis, Divac", diz Ranadive

“Agora é nóis, Divac”, diz Ranadive

– Sacramento Kings: Vivek Ranadive demitiu o primeiro técnico, desde Rick Adelman, que conseguiu deixar o time praticamente competitivo, numa Conferência Oeste massacrante (Mike Malone). Mesmo que DeMarcus Cousins, seu principal jogador estivesse afastado de quadra por conta de uma meningite. Além disso, o indiano esperava que o Kings jogasse de modo acelerado, na correria, a despeito de seu plantel não ter tantos chutadores e de que Cousins arrebenta defesas em meia quadra. Detalhe: esse técnico havia sido contratado pessoalmente por Ranadive, antes mesmo de um gerente geral, pois o conhecia dos tempos de Warriors. Para o lugar de Malone, ele primeiro tentou coagir o consultor Chris Mullin a ir para o banco. Mullin até estava animado em dirigir o time, mas desde que na temporada 2015-16, para ter um training camp completo e o devido tempo para botar em prática suas ideias. Então, Tyrone Corbin, aquele que tinha tudo para se tornar o sucessor de Jerry Sloan em Utah e acabou demitido, foi promovido. Era melhor tocar o barco e esperar por Mullin, não?

Claro que não. O acúmulo de derrotas deixou o bilionário maluco. E aí que eles foram atrás de George Karl, um renomado treinador, mas que gosta de dar seus pitacos na confecção do elenco e já bateu de frente com muitos dirigentes e jogadores. Em questão de semanas, a relação entre ele e o temperamental Cousins era classificada como irreconciliável. Karl ganhou um contrato de três anos. Ainda durante o campeonato, Ranadive contratou também o ídolo do clube Vlade Divac para ser o chefe do departamento de basquete, passando por cima do gerente geral Pete D’Alessandro. Mullin se mandou para St. John’s para iniciar a carreira de treinador em sua alma mater. D’Alessandro está de volta a Denver. Karl, do seu lado, vazou para quem quisesse ouvir a história de que, com Boogie no time, não daria certo. O jogador e seus agentes então responderam que ele estava pronto para ser trocado. O Lakers abriu conversas, algo que agradava ao pivô. Perdido no fogo cruzado, Divac ao menos resistiu até o momento, tentando se fixar como o cacique do pedaço. A questão agora é o que fazer com o astro e o técnico. Calipari chegaria para tentar controlar o pivô. O problema? Os dois não se deram bem nos tempos de Kentucky. Então… Tudo muito confuso? Pois é, mesmo.

PS: demorou um pouco mais do que o previsto esse texto, devido a dois causos: 1) o resgate complicado de 18 gatos num bairro da zona sul de São Paulo (sim, gatos abandonados, o que pediu uma logística muito mais complicada do que se imagina e, se tiver alguém interessado, favor contatar via Facebook ou Twitter); 2) um contrato de freelancer que começa nesta semana que deixará a atualização do blog um pouco intermitente durante a disputa dos Jogos Pan-Americanos.


Draft da NBA: as 30 escolhas da 1ª rodada comentadas
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Giancarlo Giampietro

Os jogadores mais bem cotados reunidos no palco do Barclays Center, em NYC

Os jogadores mais bem cotados reunidos no palco do Barclays Center, em NYC

Galera, um breve comentário sobre cada um dos 30 calouros escolhidos na primeira rodada do #NBADraft. Com a cabeça fritando, deixo para fazer logo, no sábado, um balanço sobre quem saiu ganhando e quem saiu com mais dúvidas. Abaixo de cada seleção, um panorama histórico do que rolou nos últimos 20 anos nesta posição específica:

1 – Minnesota Timberwolves: Karl Towns (pivô, Kentucky, 19 anos)
Andrew Wiggins chegou primeiro. Agora, ele tem um pivô de igual potencial com quem brincar. Será, Minnesota? Será? A última vez que o clube teve um núcleo jovem tão promissor assim foi há 20 anos, com Garnett e Marbury. KG que provavelmente vai estender sua carreira para ajudar no progresso dessa dupla. O Wolves é o primeiro clube na história a unir três escolhas número de Draft seguidas, contando Anthony Bennett. Mas o ala-pivô, segundo os rumores, já estão de saída.

Ponto de vista histórico: Allen Iverson (1996), Tim Duncan (1997), LeBron James (2003), Dwight Howard (2004), Derrick Rose (2008), Blake Griffin (2009), John Wall (2010), Anthony Davis (2012)… Esses são os tipos que você sonha quando tem uma primeira escolha. Mas, cuidado, também pode dar nisto aqui: Michael Olowokandi (1998), Kwame Brown (2001), Greg Oden (2007), Andrea Bargnani (2006), Anthony Bennett (2011).

Towns é o quarto dos últimos oito jogadores número 1 do Draft a jogar por John Calipari na universidade (Derrick Rose, John Wall e Anthony Davis)

Towns é o quarto dos últimos oito jogadores número 1 do Draft a jogar por John Calipari na universidade (Derrick Rose, John Wall e Anthony Davis)

2 – Los Angeles Lakers: D’Angelo Russell (armador, Ohio state, 19 anos)
Mikan. Chamberlain. Jabbar. Shaq. Gasol… E sabe-se lá quem agora para o bola ao alto do time californiano. Mitch Kupchak surpreendeu a maioria dos especialistas ao escolher o armador que foi comparado por muita gente a James Harden em sua primeira e única temporada de universitário. Canhoto de excelente visão de quadra, criatividade no trato de jogadas e excelente arremesso, Russell é o tipo de jogador que a liga pede hoje. Agora é esperar que Kobe seja um bom mentor para o garoto. Com essa, o Lakers quebrou a banca de Sam Hinkie, o gerente geral do Philadelphia 76ers que esperava realmente contar com Russell para pilotar seu time em experimento.

Ponto de vista histórico: considerando que é a segunda posição, afe. Fujam! O torcedor do Lakers espera que Russell lembre muito mais um LaMarcus Aldridge (2006) ou um Kevin Durant (2007). Pelo menos, vai, um Tyson Chandler (2001). Agora, esse posto já rendeu gente como Stromile Swift (2000), Darko Milicic (2002),Michael Beasley (2008), Hasheem Thabeet (2009), Derrick Williams (2011). E ainda outra série de decepções em outra escala como Marvin Williams, Evan Turner e Jay Williams. Toc-toc-toc.

Magic aprovou:

3 – Philadelphia 76ers: Jahlil Okafor (pivô, Duke, 19 anos)
O Lakers simplesmente deu um enquadro em Philly. Sam Hinkie se viu, então, obrigado a pegar um pivô pelo terceiro ano ano seguido. Okafor vai para o mercado? Ou Embiid? O camaronês ainda lida com problemas de saúde, e o badalado calouro ao menos pode servir como uma apólice de seguro. De qualquer forma, é muito difícil de imaginar um ataque fucional com Okafor e Nerlens Noel em quadra. Nenhum deles tem chute de média para longa distância. O cultuado “Processo” fica em uma situação de constrangimento e ainda mais nebuloso.  

Ponto de vista histórico: Chauncey Billups (1997), Baron Davis (1999), Pau Gasol (2001), Carmelo Anthony (2003), Deron Williams (2006), Al Horford (2007), James Harden (2009)… Alguns dos excelentes nomes que saíram com o bronze. A verdade é que temos aqui uma lista bem sólida. Tirando Adam Morrison (2006), não há nenhum fiaaasco daqueles. Darius Milles foi uma tremenda decepção em 2000, com problemas fora de quadra e lesões, mas o fato é que aquela relação inteira daquele ano é horrorosa. OJ Mayo (2008) aparece aqui pelo simples fato de ter sido trocado por Kevin Love (o quinto) na noite do Draft. Memphis deixou passar essa. Ops.  

Nunca é demais, todavia, postar esta foto aqui, das mãos do “Big Jah”:  

Jahlil Okafor, hands, mãos, Duke

De novo: não é uma bola mirim

 

4 – New York Knicks: Kristaps Porzingis (ala-pivô, Letônia, 19 anos)
O jogador letão é um supertalento, já com duas temporadas de experiência como profissional na Liga ACB, a segunda maior liga nacional do mundo, o que rende maturidade. Mas vai encarar uma pressão enorme no Garden, e a primeira prova foram as pesadas vaias da torcida do Knicks presente no Barclays Center. Porzingis precisa ser visto como um projeto de médio prazo, especialmente do ponto de vista físico, num clube em que a expectativa é de reviravolta imediata. Como Carmelo Anthony vai reagir? E James Dolan? Ao menos o garoto encarou o chiado do público com muita personalidade de cara, dizendo ser um sonho jogar pela franquia, que entende a razão pelo descontentamento e que vai conquistá-los em quadra. Palavra de ordem: paciência.  

Ponto de vista histórico:  as coisas já ficam mais irregulares neste posto, mas ainda temos bons frutos. Chris Bosh (2003), Chris Paul (2005) e Russell Westbrook (2009) foram grandes achados. Lamar Odom (1999) abandonou o Clippers, mas seria uma peça importantíssima em títulos para o, hã, outro Los Angeles no futuro. Stephon Marbury (1996) e Antawn Jamison (1999) viraram All-Stars.

Porzingis, na fogueira. Phil Jackson vai ajudá-lo?

Porzingis, na fogueira. Phil Jackson vai ajudá-lo?

  5 – Orlando Magic: Mario Hezonja (ala, Croácia, 20 anos)
Dois europeus em sequência no Draft, e o encaixe de Hezonja com o clube da Flórida é praticamente perfeito. Aaron Gordon, Elfrid Payton e Victor Oladipo estão cheios de energia e pegada defensiva. O croata, de personalidade. O ala chega para oferecer chute de longa distância, arrojo e explosão no ataque. O vexame, aqui, fica por conta do Barcelona, que agendou um treino para a manhã desta quinta-feira, mesmo depois de a temporada ter se encerrado na quarta, sofrendo uma varrida do Real Madrid, e impediu que o garoto viajasse para Nova York. Adam Silver não teve quem cumprimentar.  

Ponto de vista histórico: mais ou menos o mesmo padrão, com Ray Allen (1996), Vince Carter (1999), Dwyane Wade (2003) e Kevin Love (2008) elevando o padrão, mas muito mais por conta de terem sido selecionados em anos de excelente safra. Nikoloz Tskitshvili (2002) e Shelden Williams (2005) foram grandes bombas.  

Alguns highlights da estadia de Hezonja em Barcelona:

6 – Sacramento Kings: Willie Cauley-Stein (pivô, Kentucky, 21 anos)
A segunda surpresa da noite. Cauley-Stein aparecia como um possível alvo do clube californiano, mas dois jogadores mais jovens e de maior potencial estavam disponíveis (Justise Winslow e Emmanuel Mudiay). Stein é visto pelos scouts como o melhor defensor deste Draft e vai dar cobertura a DeMarcus Cousins no setor. Isso, claro, se Boogie permanecer na capital californiana, numa franquia em desarranjo estarrecedor.  Caso Vlade Divac consiga contornar a crise entre o pivô e George Karl, ainda restará uma dúvida também em torno da parceria dos dois gigantes. O espaço para ação no ataque tende a ficar muito apertado. Por mais que Boogie tenha bom chute de média distância, é perto da cesta que vai fazer mais estragos e desestabilizar uma defesa. Outro ponto para acompanhar: Cauley-Stein, segundo consta, pensa (bem) fora da casinha e fala o que quer. Um jogador muito inteligente, de personalidade marcante. A ver se consegue se aproximar do igualmente veterano revelado por Kentucky.

Ponto de vista histórico: rapaz, que dureza. Wally Szczerbiak (1999), de alguma forma, foi eleito para o All-Star de 2002. Antoine Walker (1996) jogou em três. O brilho de Brandon Roy (2006) durou por quatro temporadas, até que seus joelhos disseram chega. Damian Lillard (2012) ao menos apareceu para o resgate seis anos depois. De resto, boas peças de apoio (Shane Battier, Danilo Gallinari, Chris Kaman) ou diversas bombas (Jonny Flynn, Epke Udoh, Robert Traylor, DeMarr Johnson…).

Está aqui o maluco beleza:  

7 – Denver Nuggets: Emmanuel Mudiay (armador, Guandong/China, 19 anos)
Imagine os pulos de alegria na base do Nuggets. O time deve encarar como uma dádiva essa escolha. Mudiay, há um ano, era cotado como o principal concorrente de Okafor a número um do Draft. Um armador alto, explosivo e agressivo, muito mais maduro do que a idade sugere –  maturidade turbinada pela experiência incomum que ganhou em um ano de profissional na China. Em vez de jogar por Larry Brown na NCAA, o garoto escolheu a rota chinesa para ajudar sua família financeiramente. Há uma forte especulação de que Ty Lawson esteja com os dias contados nas Montanhas Rochosas. Poderiam jogar juntos, mas a presença de Mudiay deixa o tampinha ainda mais disponível no mercado – algo que ele próprio reconheceu, se oferecendo imediatamente para Sacramento, aonde poderia reencontrar George Karl.

Mudiay, refugiado congolês que já jogou na China. Agora, em Denver

Mudiay, refugiado congolês que já jogou na China. Agora, em Denver

Ponto de vista histórico: vamos avançando, e, naturalmente, a quantidade de estrelas, diminuindo. Stephen Curry é a exceção em 2009, graças a David Kahn, que escolheu dois armadores antes dele. Rip Hamilton (1999) também foi longe. Assim como Luol Deng e Nenê, se formos compará-los com Chris Mihm, Charlie Villanueva, Randy Foye, Tim Thomas e, infelizmente, o falecido Eddie Griffin.

8 – Detroit Pistons: Stanley Johnson (ala, Arizona, 19 anos)
Mais uma surpresa. Com Justise Winslow disponível, o Pistons vai de Stanley Johnson. É preciso dizer que, durante boa parte do processo de avaliação para o Draft, havia dúvida para os scouts sobre quem seria o ala mais promissor desta fornada. Winslow conseguiu se distanciar de seus pares com um desfecho sensacional de temporada por Duke, enquanto Johnson teve problemas um tanto alarmantes no ataque para alguém já de corpanzil formado jogando contra amadores Há, de todo modo, uma vaga clara no perímetro do Pistons para ser preenchida. Agora o novato vai trabalhar com um excelente treinador como Stan Van Gundy para tentar preenchê-la.

Ponto de vista histórico: hã… Nenhum jogador deste grupo chegou a um All-Star. Nem mesmo Andre Miller, provavelmente o armador mais esnobado de sua geração. Rudy Gay (2006) e Larry Hughes (1998) foram outros que talvez tenham sonhado um dia. O mesmo não se pode dizer do brasileiro Rafael “Baby” Araújo, que foi colocado numa fria pelo Toronto Raptors em 2004.

9 – Charlotte Hornets: Frank Kaminsky (ala-pivô, Winsconsin, 22 anos)
A escolha pessoal de Michael Jordan. O que, historicamente, em termos de Draft, não quer dizer boa coisa. Kaminsky, por outros motivos, deve ser o calouro observado com maior curiosidade nesta temporada, pelo fato de ser um senior, um formando, algo que equivale a um idoso nos tempos de hoje. O grandalhão se desenvolveu ano após ano no Winsconsin até se tornar o principal jogador da NCAA nesta temporada. Pacote completo no ataque: chute, visão de quadra, mobilidade (para alguém de 2,13m…) e passe. Suas habilidades vão se traduzir para um cenário muito mais competitivo e atlético?

Ponto de vista histórico: se os gerentes gerais não conseguiram encontrar ouro no oitavo lugar, quem escolheu na posição seguinte se esbaldou. Olha que maravilha: Tracy McGrady (1997), Dirk Nowitzki (1998), Shawn Marion (1999), Amar’e Stoudemire (2002) e Andre Iguodala (2003). Isso para não falar de Andre Drummond em 2012 e Gordon Hayward em 2012. O nono lugar do Draft é mágico! Então a gente nem se importa com Ed O’Bannon (1997), Rodney White (2001), Mike Sweetney (2002), Ike Diogu (2005), Patrick O’Bryant (2006).

Frank, the Thank. Ele, mesmo

Frank, the Thank. Ele, mesmo

10 – Miami Heat: Justise Winslow (ala, Duke, 19 anos)
Pat Riley é um vencedor e, também, um cara de sorte. Muuuuita sorte. Um talento como Winslow caiu de modo totalmente inesperado em seu colo. O ala foi o motor por trás da conquista de Duke no Torneio Nacional da NCAA neste ano, jogando com atenção aos pequenos detalhes de um jogo, energia desmedida e um espírito contagiante. Excelente marcador, ainda um projeto em desenvolvimento no ataque, mas com um perfil que, sem dúvida, combina com a cultura interna da franquia da Flórida.

Ponto de vista histórico: Paul Pierce (1999), vocês sabem, vai para o Hall da Fama. Joe Johnson (2001) tinha tudo para seguir os seus passos, ganhou um caminhão de dinheiro, mas duvido que tenha virado pôster preferido de alguém. Aos 17 anos, Andrew Bynum foi uma aposta de risco do Lakers em 2005, de quem o clube tirou tudo o que podia e se livrou na hora certa. Brook Lopez (2008) e Paul George (2010) ainda têm história para escrever.

11 – Indiana Pacers: Myles Turner (pivô, Texas, 19 anos)
Larry Bird vem falando publicamente nas últimas semanas que chegou a hora de reformular o seu time. Dá todos os indícios de que deve abrir mão de Roy Hibbert. Nesta quarta, viu notícias locais dando conta de que David West vai exercer uma cláusula contratual para se tornar agente livre – nada oficial, por ora. Entra em cena Turner, um dos jogadores mais prestigiados de sua geração desde os tempos de colegial? O pivô tem tamanho, agilidade e tino para proteger o aro. No ataque, potencial para o chute de média e longa distância. Mas ainda é cru e precisa de tempo para segurar a bronca na liga.

Principais achados (relativo ao posto): Klay Thompson (2011), e só.

12 – Utah Jazz: Trey Lyles (ala-pivô, Kentucky, 19 anos)
A invasão canadense continua, ainda que Lyles tenha crescido em Indiana. Jogou o último ano inteiro fora de posição por Kentucky, devido ao excesso de pivôs qualificados dos Wildcats. Não é dos atletas mais impressionantes, mas tem muito fundamento, lembrando caras como Juwan Howard e Carlos Boozer. Vai compor uma rotação interessante de pivôs com Gobert e Favors e deixa o núcleo jovem do Utah ainda mais forte. É um jogador que já esteve em ação no Brasil, mais especificamente em São Sebastião do Paraíso, pela Copa América Sub-18 de 2012, ao lado de Andrew Wiggins.

Principais achados: ––

13 – Phoenix Suns: Devin Booker (ala, Kentucky, 18 anos)
O jogador mais jovem do Draft e considerado pelos olheiros como o arremessador de longa distância mais perigoso. Fundamento que é uma carência óbvia no elenco de Jeff Hornacek, especialmente para um ataque que tem o chute de três pontos como ingrediente fundamental. Booker é o quarto atleta de Kentucky selecionado entre os 13 primeiros, deixando a influência de John Calipari no basquete americano ainda mais abrangente. Curiosamente, o plantel do Suns deve contar com outros três atletas que passaram pelas mãos do Coach Cal. Eric Bledsoe, Brandon Kight (agente livre restrito) e Archie Goodwin jogaram lá no ano passado. Na segunda rodada, em 44º, o clube ainda optou por Andrew Harrison, um armador marrento de 1,95 m que não progrediu tanto assim pelos Wildcats, depois de muita badalação nos tempos de colegial. Parecia piada, mas, na verdade, a escolha foi feita a mando do Memphis Grizzlies, em troca do pivô Jon Leuer, que não tem contrato garantido.

Vejam a cara de garoto de Booker:

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Principais achados: Kobe Bryant (1996) (risos), Richard Jefferson (2001).

14 – Oklahoma City Thunder: Cameron Payne (armador, Murray State, 20 anos)
A cada processo de Draft surgem boatos sobre supostas promessas dos clubes a determinado jogador. O clube conta, informalmente, ao atleta que deles não vai passar. Aconteceu este ano com OKC e Payne, e aqui está o acordo confirmado. O jogador foi quem mais elevou sua cotação durante a temporada, mesmo atuando por uma universidade pequena, de pouca exposição. Considerado um armador completo, ainda que inexperiente, que deve brigar por espaço imediatamente com DJ Augustin na rotação de Billy Donovan.

Principais achados: Peja Stojakovic (1996).

15 – Washington Wizards: Kelly Oubre (ala, Kansas, 19 anos)
A primeira troca da noite, envolvendo escolhas do Draft! O Atlanta Hawks estava posicionado aqui, mas recebeu do Wizards o pick 19 e mais dois futuros de segunda rodada. De certa forma, uma escolha surpreendente para o Wizards, que já tem Otto Porter Jr. em seu plantel. Oubre é mais um jogador encarado como projeto de médio prazo (pacote atlético perfeito, o técnico nem tanto), depois de ter decepcionado em sua campanha por Kansas. Durante o período de testes privados pelos clubes, foi a grande estrela das entrevistas. Basicamente disse que faria pagar caro todos os que o criticaram e o ignoraram no Draft. O detalhe é que Oubre parece ser um dos queridinhos de Kevin Durant, aquele com quem o Wizards sonha contar em 2016. Espertinhos. Na cerimônia, de todo modo, o jovem ala calçou isto aqui:

Sem palavras?

Sem palavras?

Principais achados: Steve Nash (1996) (coff! coff!), Al Jefferson (2004), Kawhi Leonard (2011).

 16 – Boston Celtics: Terry Rozier (armador, Louisville, 21 anos)
A seleção que deixou todo mundo confuso tinha de pertencer a Danny Ainge, claro. Brad Stevens já conta com Isaiah Thomas, Marcus Smart e Avery Bradley. Todos baixinhos que não necessariamente armadores puros e gostam de advogar em causa própria no ataque. Dos três, apenas Thomas tem bom chute. Rozier vai para Boston com os mesmos moldesa, sendo um baixinho agressivo com a bola e também agindo feito pitbull na defesa, veloz em transição e duro na queda. Redundante, no final?

Principais achados: Ron Artest (1999), Hedo Turkoglu (2000), Nikola Vucevic (2011).

 17 – Milwaukee Bucks: Rashad Vaughn (ala-armador, UNLV, 18 anos)
Vaughn foi um jogador que fez sucesso durante o circuito de workouts para catapultar sua cotação para a metade da primeira rodada. Talentoso, teve alguns problemas no joelho e também com o restante da equipe em Vegas, acusado de fominha. Seu jogo se assemelha ao de OJ Mayo, como um ala-armador de bom arremesso, que pode criar individualmente. Mais uma promessa de um clube especulada pela mídia americana. O destaque da noite do Bucks, porém, foi a aquisição do venezuelano Greivis Vasquez em troca com o Toronto Raptors, cedendo uma escolha para o Draft de 2017 (com proteção para a loteria), além da 46ª neste recrutamento. Pagaram caro para ter um armador reserva.

Principais achados: Principais achados: Jermaine O’Neal (1996) (mais um!), Danny Granger (2005), Roy Hibbert (2008).

Vasquez vai jogar pelo seu quinto time diferente na NBA

Vasquez vai jogar pelo seu quinto time diferente na NBA

18 – Houston Rockets: Sam Dekker (ala, Winsconsin, 21 anos)
Um dos calouros mais experimentados do Draft, seguindo uma tradição nas seleções do Rockets. Dekker é um ala que chega para compor o banco de reservas, já pronto para entrar na rotação substituindo Ariza e, eventualmente, fazer o papel de ala-pivô aberto ao lado de Dwight Howard e Clint Capela. Muito inteligente no deslocamento fora da bola, forte fisicamente e com arremesso questionável. Se progredir como Chandler Parsons entre os profissionais, o Rockets ganha uma peça bem valiosa.

Principais achados: David West (2003), Ty Lawson (2009), Eric Bledsoe (2010).

19 – New York Knicks: Jerian Grant (armador, Notre Dame, 22 anos)
Então: lembra que o Atlanta Hawks havia descido para esta posição em negociação com o Wizards? Pois bem. O time resolveu sair de vez da primeira rodada ao repassar o pick ao New York Knicks, de Phil Jackson, que, depois do projeto Porzingis, anuncia um calouro mais preparado para entrar em quadra. Grant fez um grande campeonato por Notre Dame e quase ajudou o time a derrubar a poderosa Kentucky nos mata-matas. Filho do ex-jogador Harvey Grant. Para tê-lo, o Mestre Zen cedeu Tim Hardaway Jr. O ala vai disputar posição com Kent Bazemore (e, talvez, Thabo Sefolosha, dependendo da rapidez de sua recuperação) no banco de Mike Budenholzer.

Principais achados: Zach Randolph (2001), Jeff Teague (2009).

Delon Wright vai armar o Raptors de verão para Bruno Caboclo e Lucas Bebê

Delon Wright vai armar o Raptors de verão para Bruno Caboclo e Lucas Bebê

20 – Toronto Raptors: Delon Wright (armador, Utah, 23 anos)
O jogador mais velho selecionado até o momento. Para se ter uma ideia, Wright (irmão de Dorell, ala do Blazers) tem quatro anos a mais que Bruno Caboclo. Armador alto, especialista em combinações de pick-and-roll que vem para ser reserva de Lowry, ainda mais depois da troca de Vasquez para Milwaukee. Mais uma tacada esperta de Masai Ujiri, que enxugou sua folha salarial e conseguiu uma escolha extra de primeira rodada nessa, se municiando para um verão que promete ser movimentado para a franquia canadense.

Principais achados: Zydrunas Ilgauskas (1996) (abarrotado!), Jameer Nelson (2004).

21 – Dallas Mavericks: Justin Anderson (ala, Virginia, 21 anos)
A expectativa era a de que o clube texano escolhesse um armador para o lugar de Rajon Rondo – também levando em conta a iminência da saída de Monta Ellis. Tyus Jones, campeão por Duke, estava disponível, mas passou batido em detrimento de Anderson, um ala que supostamente apresenta um dos perfis mais visados da liga, o do “3 & D” – bom chute de três, pela zona morta, e capacidade para defender. Tipo o que Richard Jefferson tenta fazer hoje. Alternativa para Chandler Parsons no banco.

Principais achados: Boris Diaw (2003), Rajon Rondo (2006), Ryan Anderson (2008).

22 – Chicago Bulls: Bobby Portis (ala-pivô, Arkansas, 20 anos)
Um jogador que esperava ser escolhido pelo menos cinco posições antes e que, agora, deve ter ainda mais motivação para mostrar serviço em Chicago. Como se precisasse: não é dos pirulões que mais salta ou mais velozes, mas joga duro e deixa tudo o que tem em quadra. Tende a virar um dos preferidos da torcida do Bulls, que gosta desse estilo. A questão é: com Gasol, Noah, Gibson e Mirotic, vai jogar como? A não ser que venha troca pela frente.

Principais achados: –

23 – Broolyn: Rondae Hollis-Jefferson (ala, Arizona, 20 anos)
Alerta: troca! Alerta: troca! Hollis-Jefferson fazia todo o sentido para o Portland, que havia perdido Nicolas Batum na véspera e precisava de um ala defensivo para ajudar Lillard e McCollum. Mas o Brooklyn Nets simplesmente estava babando pelo jogador, considerado um dos melhores marcadores do Draft, e particularmente um dos meus prediletos deste recrutamento. Para ter o jogador de Arizona, a equipe nova-iorquina assimilou o contrato de Steve Blake e enviou ao Oregon um pivô do porte de Mason Plumlee, além do ala Pat Connaughton (escolha 41, via Notre Dame). Quer dizer: custou caro. Beeeem caro. Com Plumlee, o Blazers provavelmente não deve renovar com Robin Lopez. O quanto isso pode influenciar no destino do futuro de LaMarcus é difícil de dizer.

Principais achados: Tayshaun Prince (2002).

Mason Plumlee, campeão mundial, vai para Portland

Mason Plumlee, campeão mundial, vai para Portland

24 – Minnesota Timberwolves: Tyus Jones (armador, Duke, 19 anos)
Mais uma troca:  a escolha pertencia ao Cleveland Cavaliers, que vai receber as 31ª (Cedi Osman, ala-armador turco de 20 anos que tem mais dois anos de contrato com o Anadolu Efes) e 36ª (Rakeem Christmas, pivô formado em Syracuse, patrulheiro de garrafão), já pela segunda rodada . Jones impressionou a todos no torneio da NCAA por sua maturidade, coragem e controle de jogo, mas seu perfil (nada!) atlético parece ter desencorajado os dirigentes. Vai ser um ótimo reserva para Ricky Rubio – e um plano B interessante, no caso de o espanhol sofrer mais alguma lesão. Com tanto potencial físico em seu elenco, Flip Saunders poderia “arriscar” nessa.

Principais achados: Andrei Kirilenko (1999), Kyle Lowry (2006), Serge Ibaka (2008).

25 – Memphis Grizzlies: Jarell Martin (ala-pivô, LSU, 21 anos)
Um terceiro caso de promessa que já havia vazado. Um jogador muito atlético, de características diferentes às dos demais pivôs do elenco, com impulsão, velocidade, bom controle de bola para correr em transição, mas que não tem tanta habilidade assim para finalizar. Há quem especule que possa ser deslocado para o perímetro,  mas essa não seria uma mudança tão simples

Principais achados: Tony Allen (2004) (?)

26 – San Antonio Spurs: Nikola Milutinov (pivô, Sérvia, 20 anos)
O batalhão de revelações internacionais do Spurs não tem fim. Milutinov é um espigão de 2,13 m de altura e já de boa rodagem pelo time principal do Partizan Belgrado, com ótima mobilidade e impulsão. O ponto-chave  para o clube texano, contudo, é a possibilidade de deixá-lo em desenvolvimento na Sérvia, preservando desta forma um precioso espaço na folha de pagamento. Cada dólar pode fazer a diferença nos planos de atacar alguns dos principais agentes livres do mercado.

Principais achados: Kevin Martin (2004), George Hill (2008), Taj Gibson (2009) (?).

27 – Los Angeles Lakers: Larry Nance Jr (ala-pivô, Wyoming, 22 anos)
Uma escolha surpreendente do clube angelino. Nance estava cotado para a segunda rodada, mas impressionou os olheiros em sua preparação final para o Draft – o que é meio inusitado, considerando que eles já haviam tido a oportunidade de acompanhar o jogador por quatro anos na NCAA. Ah, sim, seu nome entrega uma obviedade: filho do ala-pivô que fez bela carreira por Phoenix Suns e Cleveland Cavaliers entre os anos 80 e 90, de quem herdou a capacidade atlética, estrelando muitas jogadas de efeito em sua carreira, concluídas com cravadas. A explosão seguiu inabalada mesmo depois de uma cirurgia no joelho sofrida em fevereiro de 2014. Outro problema de saúde: Nance precisa conviver com a chamada Doença de Crohn, que pode resultar, entre tantos efeitos colaterais, a perda de peso, fadiga, ou mesmo artrite. Bom arremessador de média distância com os pés plantados, deve compor a rotação de Byron Scott.

Principais achados:  Kendrick Perkins (2003) (?), Arron Afflalo (2007) (?), Rudy Gobert (2013) (ao que tudo indica).

28 – Boston Celtics: RJ Hunter (ala, Georgia State, 21 anos)
Tido depois de Devin Booker como o segundo melhor chutador do Draft. Curiosamente, a maior parte dos especialistas esperavam que ele saísse entre os 20 principais prospectos, enquanto Rozier supostamente estaria endereçado para esta faixa. Danny Ainge inverteu as coisas, mas consegue um jogador fogoso para seu grupo de perímetro. De qualquer forma, a backcourt de Brad Stevens fica bastante congestionada. Uma dupla estranha para o Celtics.

Principais achados: Leandrinho (2003), Tiago Splitter (2007).

29 – Brooklyn Nets: Chris McCullough (ala-pivô, Syracuse, 20 anos)
A temporada de McCullough por Syracuse prometia bastante até que ser encerrada por conta de uma lesão no ligamento cruzado anterior em janeiro. Antes, no colegial, vagou de um lugar para o outro, frustrando técnicos e olheiros pela falta de consistência em quadra. Ainda assim, seu potencial, com bom chute de média distância, instintos defensivos e muita impulsão, faz o Brooklyn Nets, desesperado por jovens talentos, apostar em sua seleção.

Principais achados: Josh Howard (2003).

Looney: sozinho na green room. Mas salvo pelo Warriors no final

Looney: sozinho na green room. Mas salvo pelo Warriors no final

30 – Golden State Warrors: Kevon Looney (ala, UCLA, 19 anos)
Não por coincidência, mais um prospecto que teve sua cotação prejudicada por questões físicas. Looney pode ter de passar por uma cirurgia nas costas no futuro e também tem problemas no quadril. O mais cruel, neste caso, é que o jovem versátil ala foi convidado para a liga para tomar parte da famosa “sala verde”, a região mais próxima ao palco, que reúne os calouros com maior probabilidade de sair entre os primeiros colocados. Dentre os relacionados este ano, o garoto foi o último, tendo ouvido seu nome quando já estava deixando a área. O consolo foi ser resgatado pelo atual campeão. Looney também se enquadra na categoria de projeto a longo prazo (seu melhor fundamento hoje é o rebote, mas também tem lampejos como condutor de bola e arremessador) e terá liberdade para se desenvolver sem cobrança alguma.

Principais achados: Gilbert Arenas (2001), Anderson Varejão (2004), David Lee (2005), Jimmy Butler (2011).


Prepare-se para o Draft da NBA. A loucura continua
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Giancarlo Giampietro

O Draft está marcado para as 20h (horário de Brasília, com transmissão gratuita via League Pass), mas, para quem está chegando só agora, a balada já começou faz tempo, gente. É como se fosse uma rave da NBA, com mais de 24 horas de negociações, rumores, blefes, contra-espionagem e tudo o mais. Nesta quarta-feira, três trocas foram fechadas – ou quase. Admito que me precipitei em escrever sobre Jeremy Lamb ao lado de Kemba Walker em Charlotte, pois restavam detalhes para que a transação fosse concluída, o que não aconteceu. O Memphis entrou na jogada e acabou interceptando Matt Barnes, que agora vai fazer uma dupla assustadora com Tony Allen. Quer dizer: a terceira troca aconteceu, mas foi fechada nesta quinta, com outras peças, o que não é o fim do mundo. Pois a liga toda está na pista, com  Danny Ainge, Sam Hinkie e Daryl Morey numa vibe que só. Imaginem os caras soltando aquele “U-RUUU” característico. Mas de terno e gravata.

A especulação mais instigante do momento envolve Sacramento Kings, Los Angeles Lakers e DeMarcus Cousins. Chegamos àquele ponto bastante instrutivo, aliás, para os torcedores em geral: o de que a palavra oficial de seus dirigentes não vale tanto assim. Vlade Divac e qualquer fonte ligada à diretoria asseguram que não têm a menor intenção de despachar o pivô. Essa é uma meia-verdade. Os caras prefeririam segurar o jovem campeão mundial. O que não os impede de já estarem em conversações adiantadas com o Lakers, discutindo nomes, e tudo o mais, além de manterem contato com qualquer outro clube interessado.

Acompanhe a cobertura do 21 para o NBA Draft:
>> 4 brasileiros retiram candidatura. O que houve?
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>> Promessa argentina pode repetir Caboclo neste ano
>> Georginho conclui Nike Hoop Summit com status no ar
>> Técnico americano avalia o potencial de pinheirenses
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>> Lucas Dias e preparação para encarar mais um teste

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Segundo o superfurão Adrian Wojnarowski, o Kings pede a escolha número dois do recrutamento desta quinta, Julius Randle e Jordan Clarkson, solicitando que o rival californiano ainda pegue o contrato de Carl Landry. O Lakers, segundo o mesmo artigo, não está interessado em envolver Randle neste negócio. O que é curioso, considerando que o ala-pivô número 7 do Draft passado fraturou a perna logo na primeira partida da temporada. O rapaz estaria rendendo muito nos treinos em El Segundo. Mas, se Sacramento estiver realmente disposto a aceitar um pacote desses, não há motivo para não entregá-lo. Cousins tem seus problemas de temperamento, mas jogou uma barbaridade nos últimos dois campeonatos e tem apenas 24 anos. É um cara em torno do qual você pode construir uma grande equipe. Mesmo no Oeste.

Por que Divac e seus comparsas aceitariam algo nessa linha? É que a classe deste ano vem sendo bastante elogiada pelos scouts em geral, com ótimas opções para as primeiras seis, sete escolha. Com o segundo pick do Lakers, porém, a esmagadora opinião é a de que você pode contratar um futuro All-Star. De resto, os scouts apostam em um bom volume de jogadores até a faixa de 20 a 25 do Draft. A partir daí, o consenso é de que a qualidade despenca sensivelmente, num nível muito inferior ao de anos anteriores. Então há muitos clubes que pretendem subir na lista, enquanto outros times topam até mesmo abrir mão de suas escolhas, de olho em veteranos ou em ativos para o futuro.

Quais são as possibilidades? Vamos apresentá-los aqui brevemente, oferecendo links mais detalhados (em inglês). Também vale desde já discutir qual o impacto que a geração pode ter como um todo e, depois, apresentar os pontos básicos para se entender como funciona o Draft – percebo que este processo ainda não está muito claro para muita gente. Claro que o leitor  viciado no noticiário do Draft provavelmente já até decorou tudo isso. Mas, simbora.

– Os espigões

Karl Towns pode se juntar a Duncan, LeBron, Monocelha e Olowakandi e Kwame como escolha número um de Draft

Karl Towns pode se juntar a Duncan, LeBron, Monocelha e Olowakandi e Kwame como escolha número um de Draft

A fornada deste ano está cheia de grandalhões promissores. O mais bem cotado é o dominicano Karl Towns, que já enfrentou a seleção brasileira enquanto adolescente. O jogador ficou um ano em Kentucky e progrediu bastante sob a orientação de John Calipari. Quando o vi pela primeira vez em amistosos e competições da Fiba, se mostrava mais como um ala-pivô flutuante, atuando longe da cesta, confiante em seu arremesso de média distância. O porte físico era um fator para isso. Em Lexington, no entanto, foi empurrado para o garrafão e teve seu jogo perimetral praticamente ignorado. Não que não pudesse produzir deste jeito. O objetivo era a expansão de seu arsenal – veja um vídeo de um de seus treinamentos regulares. Deu certo. Hoje não tem problema em encarar o contato perto da cesta e desenvolveu um bom gancho e jogo de pés. É bastante ágil para alguém de seu tamanho e protege o aro com destreza. Faz um pouco de tudo e, por isso, tem um potencial enorme e não deve passar do Minnesota Timberwolves, o primeiro. Leia o scout completo do dominicano feito por Rafael Uehara, que já colaborou aqui para enriquecer o blog.

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Por dividir espaço com uma série de prospectos muito prestigiados, Towns elevou aos poucos sua cotação entre os scouts. Durante boa parte da temporada, o pivô Jahlil Okafor, campeão universitário por Duke, foi considerado como o candidato número um. É um garoto com jogo de velha escola, extremamente talentoso de costas para a cesta, com um conjunto de movimentos talvez precocemente mais criativo que o de Al Jefferson, por exemplo, e mãos gi-gan-tes-cas. Quanto mais o observaram, porém, mais os olheiros se preocupam com sua mobilidade reduzida e o quanto isso pode lhe deixar exposto na defesa, especialmente numa NBA cada vez mais veloz. Também, por isso, questionam o quão motivado o jogador estaria para trabalhar e se tornar uma superestrela. O DraftExpress aborda essas questões. Seu perfil tem toda a identificação com a história do Lakers, clube habituado a jogar com pivôs dominantes. O Knicks, com o sistema de triângulos, também seria uma excelente pedida. Não deve passar daí.

Jahlil Okafor e uma bola que não é mirim

Jahlil Okafor e uma bola que não é mirim

Outros espigões bem cotados: Frank Kaminsky, já com 22 anos (dois anos mais jovem que Boogie Cousins, por exemplo), eleito o melhor jogador da NCAA por Winconsin, de 2,13 m de altura, mas com fundamentos de ala no ataque e um arremesso infalível, despertando interesse do Knicks, do Hornets, do Heat e do Pacers; Trey Lyles, companheiro de Towns e Kentucky, mas que jogou deslocado no perímetro o ano todo, também muito bem fundamentado, com um jogo comparado ao de Juwan Howard e Carlos Boozer,; Myles Turner, da Universidade do Texas, que une chute de longe e habilidade de tocos, uma combinação bastante cobiçada na liga de hoje; e Willie Cauley-Stein, mais um de Kentucky, um pivô de 21 anos e considerado o melhor defensor do Draft, capaz até de brecar armadores no perímetro. Esses atletas não devem sair entre os 4º e 17º lugares.

Se boa parte desses garotos realizarem seu potencial, a tese de que a NBA é hoje uma liga de armadores pode ser revisada.

– Os europeus
Apenas dois jogadores do Velho Continente estão projetados para as dez primeiras escolhas. Um deles também engrossa a categoria acima: o letão Kristaps Porzingis, que, de certa forma, tem a candidatura mais complexa, controversa deste Draft. Muito por se chamar Kristaps Porzingis, claro. Mesmo que tenha jogado duas temproas completas pelo Sevilla na Liga ACB, a liga nacional mais forte do mundo Fiba, e que haja dezenas de vídeos do ala-pivô disponíveis basicamente em qualquer lugar na rede, muitos nos Estados Unidos insistiram em chamá-lo de “homem misterioso”. Suas características de chutador nato, homem ágil e magro também ajudam e não ajudam. Muitos salivam ao assisti-lo, exagerando como sempre ao falar de Dirk Nowitzki e Andrei Kirilenko, enquanto outros fazem questão de lembrar de Andrea Bargnani, Nikoloz Tskitishvili e diversos jovens europeus que fracassaram na liga. Com quase 3.000 palavras, Rafael Uehara nos conta que o melhor, mesmo, é sempre o meio termo.

Porzingis fez um treino individual em Las Vegas, no dia 12, assistido por Phil Jakcson e muitos outros dirigentes. Teve um rendimento espetacular, inflando sua cotação. Mas qualquer dirigente mais dedicado já poderia ter assistido ao letão em diversas partidas em Sevilha

Porzingis fez um treino individual em Las Vegas, no dia 12, assistido por Phil Jakcson e muitos outros dirigentes. Teve um rendimento espetacular, inflando sua cotação. Mas qualquer dirigente mais dedicado já poderia ter assistido ao letão em diversas partidas em Sevilha

O outro? Mario Hezonja, o croata companheiro de Marcelinho Huertas no Barcelona, um gatilho excepcional, atlético, cheio de confiança, mas que não conseguiu mostrar tudo o que podia nos últimos anos, devido a uma concorrência muito forte no elenco do clube catalão – e também por certa implicância do técnico Xavier Pascual e dos dirigentes locais, que esperavam aproveitá-lo no futuro e deram um jeito de boicotar sua candidatura. Uma anedota bastante desagradável neste sentido? Hezonja tinha voo marcado de Barcelona para Nova York na noite de quarta-feira, caso seu time fosse varrido pelo Real Madrid nas finais da ACB. Aconteceu. E o que a diretoria fez? Marcou um treino para esta quinta, mesmo que a temporada tenha acabado. Totalmente bizarro, como se fossem um grupo de juvenis que precisassem de uma lição. Seria melhor ter praticado melhor antes de apanhar do Real, não? Claro que não era esse o caso. O objetivo implícito aqui era impedir que o croata comparecesse à cerimônia. O fato de ele não estar no Brooklyn não altera nada o seu status, diga-se. O garoto só foi privado do prazer de subir ao palco, tirar uma foto com Adam Silver e sorrir como jogador de NBA nesta quinta. Infantilidade é pouco.

Hezonja teve lampejos pelo Barcelona, mas não foi aproveitado da melhor forma

Hezonja teve lampejos pelo Barcelona, mas não foi aproveitado da melhor forma

Se os jogadores estrangeiros foram uma coqueluche no início da década passada, com o sucesso de Dirk, Gasol, Parker, Ginóbili, no momento enfrentam uma dura resistência, até pela falta de resultados. Desde o Draft de Yao Ming em 2002, nenhum atleta de fora dos Estados Unidos escolhido entre os dez primeiros se tornou um All-Star. Desta forma, o preconceito voltou e reforçado. Porzingis e Hezonja têm talento para enfrentar essa questão.

Outros talentos internacionais já estabelecidos em alto nível na Europa e que devem ser selecionados, provavelmente na segunda rodada: Willy Hernangómez, pivô do Sevilla de 21 anos, de jogo forte e maduro no garrafão, superprodutivo, mas com capacidade atlética limitada, Cedi Osman, fogoso ala-armador tratado como príncipe na Turquia, Arturas Gudaitis, trombador do Zalgiris Kaunas, Mouhammadou Jaiteh, mais um paredão francês, e Nikola Milutinov, mais um pivô grande e habilidoso da Sérvia.

De um modo geral, a safra de gringos é considerada bem fraca este ano. O que nos leva a crer que Georginho, caso tivesse mantido seu nome na lista, seria selecionado. Os agentes do armador do Pinheiros, porém, não se contentavam com isso. Queriam o comprometimento de um clube com o jovem brasileiro, com um plano detalhado para seu desenvolvimento. Por isso, optaram por sua retirada, ao lado de Danilo Fuzaro, Humberto Gomes e Lucas Dias.

– No perímetro
Entre os armadores, as opções são bem escassas.

A canhota de D'Angelo tem muitos fãs

A canhota de D’Angelo tem muitos fãs

Toda comparação é natural e inevitável para os scouts. É a forma mais fácil de eles se localizarem. Nesse processo, porém, os paralelos podem soar forçados também. Para D’Angelo Russell, já deu para se acostumar a ler os nomes de gente como James Harden e Stephen Curry. Só. O caso do armador de Ohio State é curioso, pelo fato de ele ter surpreendido os olheiros em sua temporada. O jogador recebia elogios ao entrar no basquete universitário, mas não me recordo de ser cotado como um talento de ponta. Isso mudou rapidamente, quando puderam ver que sua combinação de arremesso, visão de quadra, inteligência e maturidade já o destacavam em meio a uma concorrência muito mais forte do que a dos tempos de universitário. Há quem questione sua defesa e a falta de explosão em seu jogo. Não é o suficiente para lhe tirar do grupo dos quatro primeiros.

Seu principal concorrente é o explosivo Emmanuel Mudiay, que optou por ignorar a NCAA e jogar na China, na última temporada. Os clubes obviamente enviaram olheiros para lá, para avaliá-lo, mas o distanciamento resultou em menor exposição para o jogador que, um ano atrás, era considerado a grande ameaça a Okafor pelo topo do Draft. O potencial atlético é o mesmo de antes, todavia.

Cameron Payne, de Weber State, Tyus Jones, eleito o destaque do torneio nacional da NCAA por Duke, Jerian Grant, de Notre Dame, Delon Wright, de Utah, com perfis e idades diferentes, têm seus admiradores, mas não são vistos como jogadores que cheguem para serem titulares. Payne é o mais bem cotado, chamando atenção de Pacers, Suns e Thunder. Os outros quatro devem sair na segunda metade da primeira rodada.

Winslow, espírito e jogo vencedor

Winslow, espírito e jogo vencedor

A safra de alas é liderada por Justise Winslow, o motor por trás da conquista de Duke. Winslow tem um espírito que contagia e não deve passar do Detroit Pistons, em oitavo. Ele concorre diretamente com Hezonja. Num degrau abaixo estão Sam Dekker, vice-campeão por Winsconsin, Stanley Johnson e Rondae Hollis-Jefferson, de Arizona, e Kelly Oubre Jr., de Kansas. Deste grupo, Hollis-Jefferson é o meu preferido. Um trator aos moldes de Michael Kidd-Gilchrist.

O Utah Jazz recebeu 101 atletas (!!!) para atletas em seus testes pré-Draft. Georginho e Lucas Dias entre eles

O Utah Jazz recebeu 101 atletas (!!!) para atletas em seus testes pré-Draft. Georginho e Lucas Dias entre eles

– Mais links
O básico Mock Draft do DraftExpress, que tem o maior índice de acerto no recrutamento de calouros. Chad Ford, do ESPN.com, oferece outra perspectiva.

O guia do Bball Breakdown é um absurdo, com uma planilha em didática para especificar as qualidades de cada prospecto e as carências de cada clube.

Para perfis detalhados dos jogadores estrangeiros, recomendo, além do DX, o Eurohopes, cuja equipe já revelou até mesmo três scouts para a NBA.

Kevin Pelton, analista do ESPN.com com enfoque estatístico, produziu material bem interessante nas últimas semanas: as projeções numéricas dos candidatosuma defesa a Kristaps Porzingis e a produção positiva do talento internacional (ainda que sem produzir muitas estrelas).

– O Draft
É o recrutamento oficial de calouros da NBA. Hoje, são duas rodadas de seleção, com 60 escolhas no geral. Supostamente, cada clube deveria ter duas cada – mas eles podem envolvê-las em negociações, gerando um desequilíbrio ano após ano. O Philadelphia 76ers, por exemplo, tem seis picks nesta quinta-feira, sendo cinco na segunda rodada. Dificilmente vai aproveitar todas, então podem esperar que Sam Hinkie bagunce tudo mais tarde. Para variar.

Quais jogadores podem ser escolhidos? Apenas atletas de fora dos Estados Unidos que completem de 19 a 22 anos na temporada do Draft. Para aqueles que tenham estudado nos Estados Unidos, as regras mudam. Eles precisam ter pelo menos um ano de rodagem depois do high school, seja na NCAA ou no basquete profissional – em ligas estrangeiras, como Emmanuel Mudiay na China, ou na própria D-League da NBA, como aconteceu com PJ Hairston, Glen Rice Jr. e Latavious Williams no passado. Para os universitários, não há limite de idade. O pivô Bernard James, de Florida State, foi escolhido pelo Dallas Mavericks em 2012 aos 27, depois de ter servido ao Exército americano.

O fato de o jogador ser draftado não é garantia de que vá para a NBA. Os brasileiros Paulão Prestes e Raulzinho, por exemplo, já foram escolhidos por Minnesota Timberwolves e Utah Jazz, respectivamente, em 2010 e 2013, mas só foram aproveitados até agora em jogos de liga de verão, que não são oficiais. Cada caso é um caso. Paulão dificilmente vai jogar pelo Wolves, enquanto Raul ainda toca sua carreira na Europa em um ambiente mais propício ao seu desenvolvimento, seguido de perto pelos cartolas de Salt Lake City. Houve casos de atletas, porém, que simplesmente se recusaram a jogar nos Estados Unidos. Lá atrás, nos anos 80, foram vários, com Oscar Schmidt entre eles. Dejan Bodiroga é outro craque célebre que nunca teve interesse. Mais recentemente, tivemos o espanhol Fran Vázquez, selecionado pelo Orlando Magic na 11ª posição em 2005. Fechou a porta na cara do ex-gerente geral Otis Smith.


Promessa argentina pode repetir Bruno Caboclo no Draft da NBA
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Giancarlo Giampietro

As cravadas de Vaulet chamam a atenção na Argentina

As cravadas de Vaulet chamam a atenção na Argentina

Vocês se lembram como foi a história de Bruno Caboclo antes do Draft da NBA no ano passado, né? Um grande ponto de interrogação na cabeça de muita gente que não imaginava que o garoto revelado pelo Barueri e pelo Pinheiros estivesse realmente na mira dos scouts americanos, até que decidiu manter seu nome na lista final de candidatos, e não demorou para que surgisse a informação de que ele teria uma promessa. Pois bem: agora é a vez de a Argentina passar por essa.

Existe uma forte suspeita nos bastidores da liga indicam de que ala Juan Pablo Vaulet, de apenas 19 anos, teria um acerto informal com o San Antonio Spurs para ser escolhido no próximo recrutamento de calouros da liga americana, na quinta-feira. O clube texano tem as 26ª e 55ª escolhas.

Acompanhe a cobertura do 21 para o NBA Draft:
>> 4 brasileiros retiram candidatura. O que houve?
>> Qual o cenário para os quatro brasileiros inscritos?
>> Georginho conclui Nike Hoop Summit com status no ar
>> Técnico americano avalia o potencial de pinheirenses
>> Apresentando Georginho, o próximo alvo da NBA
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>> Danilo Siqueira: muita energia em trilha promissora

Tal como ocorreu com Caboclo, Vaulet vem sendo solenemente ignorado pelos sites especializados na cobertura do Draft. Seu nome não consta em nenhuma projeção (os chamados “Mock Drafts”) e nem mesmo é discutido como um prospecto com ambições sérias de seleção. O fato de ter mantido sua inscrição na segunda-feira passada, enquanto os quatro brasileiros preferiram retirar, porém, fez muita gente se mexer para entender o que estava acontecendo. Foi aí que as atenções se voltaram para o Spurs. Por quê?

Bem, Vaulet jogou a última temporada pelo Bahía Blanca, da liga argentina. Que tem como treinador um membro da família Ginóbili como técnico. Estamos falando de Sebastián, seu irmão mais velho, que já enfrentou os clubes brasileiros em diversas competições continentais. É uma conexão muito forte para ser ignorada. Mas a intriga não se encerra com isso. Vaulet está convocado para disputar o Mundial Sub-19 a partir do fim de semana – e Seb Ginóbili é o técnico da seleção, inclusive, enquanto o Brasil, claro, vê tudo de fora, novamente. Durante a fase de preparação, o ala foi liberado para viajar aos Estados Unidos para realizar uma consulta médica, que, segundo a CABB, estava previamente marcada.

Os exames se fariam necessários pelo fato de o jovem atleta já ter encarado uma séria lesão em 2013. Chegou a ficar um ano e meio fora de ação, devido a um tratamento inicialmente equivocado. Então toda a precaução é pouca. Acontece que o jogador já estava em atividade há pelo menos seis meses em solo argentino. Não sofreu nenhuma lesão grave durante o campeonato. Foi convocado e se apresentou ao time nacional para jogar, sem nenhum problema. Então que consulta foi essa? E ela obrigatoriamente deveria ser realizada nos Estados Unidos? Não havia nenhum médico em casa capacitado para avaliá-lo? Ou na Europa, aonde a seleção estava disputando amistosos?

Depois de uma breve passagem por solo norte-americano, Vaulet se reuniu com seus companheiros em Belgrado, para amistosos contra a Sérvia. Depois, ainda disputariam mais duas partidas em Getxo, na Espanha, na região do País Basco. Para os clubes que não tenham feito a devida lição de casa, era a chance de observá-lo. No primeiro duelo, porém, ficou em quadra por apenas cinco minutos. Na Espanha, foi poupado, devido a uma torção leve de tornozelo, segundo a confederação. Você pode imaginar, então, o quanto os dirigentes e scouts estão ouriçados agora.

Vaulet, de volta ao basquete após 16 meses

Vaulet, de volta ao basquete após 16 meses

Na Argentina, o rumor da promessa do Spurs também já circula com força. Oficialmente, claro, ninguém se pronuncia. Quer dizer, não especificamente sobre um interesse do time de Manu. Sobre o garoto em si, o que está óbvio é que ele é tido como uma grande aposta, talvez o primeiro grande prospecto de nossos vizinhos desde a incomparável geração dourada. Com a palavra, o ex-armador Pepe Sánchez, campeão olímpico e hoje presidente do Bahía Blanca: “Ele é o melhor atleta que já vi desde que jogo basquete na Argentina”.

Que tal? Estamos falando do condutor de um time que tinha Manu e Nocioni atacando o aro com muita explosão física e categoria.  Pois Sánchez deu entrevista ao jornal “Mundo D” e foi muito contundente em suas declarações (leia aqui na íntegra). Aqui, um resumo do que disse ao jornalista Gabriel Rosenbaun sobre o ala nascido em Córdoba: “É um garoto que nasceu para jogar isto. Não há dúvida. Anatomicamente, foi feito para jogar basquete, sobretudo o basquete norte-americano. É o seu destino inevitável. Juan Pablo vai jogar na NBA. A NBA é para superatletas, e Juan Pablo é um superatleta. De qualquer outro jogador, não diria isso, ou me calaria. Mas se tem a sorte de ser um atleta de primeiro nível, tem de se desfrutar de sua qualidade e seu talento”.

Só quando questionado especificamente sobre as chances de Vaulet no próximo Draft que Sánchez foi mais evasivo. “Sua decisão foi manter o nome entre os jogadores elegíveis. Nada que eu possa dizer vai melhorar ou piorar sua situação. Na quinta, saberemos”, afirmou.

A entrevista contundente de Pepe Sánchez

A entrevista contundente de Pepe Sánchez

De qualquer forma, na visão do ex-armador e dirigente, o ideal (e surpreendente) era que o jovem atleta se mandasse o quanto antes para os Estados Unidos. “É uma opinião muito pessoal, mas grande parte do aprendizado que ele poderia ter para se desenvolver em nossa liga jogaria contra seu crescimento. Ele necessita de espaço para poder expressar o quão longilíneo. A NBA é o lugar em que vai se sentir mais cômodo, por ser um jogador que se expressa melhor de uma maneira vertical. Acima de tudo, com a disciplina que ele tem para treinar, é evidente que seu crescimento se volta para outros horizontes. Já disse isso a ele. Ele precisa assumir isso o quanto antes. Juan Pablo está formado como pessoa e como jogador para dar o salto rumo ao seu destino.”

Impressiona, não? Como Sánchez diz, é a apenas uma opinião. Mas são frases que fazem os olhos arregalarem, mesmo. Por mais empolgação que a temporada 2013-2014 de Caboclo tivesse gerado, hã… Não houve quem se referisse ao ala desta maneira. Nem mesmo a turma do Toronto Raptors, que pregou paciência, muita paciência a todos quando apontou o brasileiro como o 20º do último Draft.

Uma coisa que separa os dois garotos é o fato de Vaulet já ter ganhado boa rodagem na liga principal argentina em sua campanha de estreia. Nesta temporada, disputou 34 partidas pelo Bahía Blanca, com 589 minutos no total (17,3 em média). Produziu 7,2 pontos, 4,1 rebotes e aproveitamento de 50,5% nos arremessos. Lembrem-se: completou 19 anos em março – é apenas dois meses mais velho que Georginho, que teve 4,4 minutos em apenas seis partidas pelo Pinheiros no NBB 7.

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Os números em si são uma vitória para o ala. Mas a sensação de satisfação é maior pelo simples fato de ter podido jogar, e não apenas pela pouca idade. É que Vaulet sofreu no Sul-Americano Sub-17 de 2013 uma grave lesão no tornozelo que o tirou de quadra por 16 meses. Só retornou em dezembro do ano passado, depois de duas cirurgias. “Foi muito difícil ficar afastado. O mais difícil era ficar assistindo, sem poder participar. Aprendi a ser paciente e disciplinado e seguir todos os passos que precisava para ficar saudável novamente. Depois de uma longa recuperação, foi espetacular retornar. Eu me senti aliviado por deixar tudo aquilo para trás”, disse em entrevista ao site da Fiba.

Sua participação naquele campeonato continental em Salto, no Uruguai (competição em que Georginho defendeu a seleção brasileira pela primeira vez), foi espetacular, ainda que breve, somando 42 pontos, 18 rebotes e 7 tocos em partidas contra Peru e os donos da casa. Em 2013, mesmo dois anos mais jovem, também já havia disputado o Mundial Sub-19, com médias de 8,5 pontos e 4,0 rebotes.

Beirando os 2,00m de altura, o ala tem braços compridos e, como enfatizou Pepe Sánchez, muita capacidade atlética. Um salto vertical e longitudinal muito acima da média sul-americana, digamos. Boa leitura de jogo, com movimentação perigosa fora da bola, sabendo a hora de atacar o aro. É um jogador aguerrido, que joga com intensidade o tempo todo e, por isso, também tem tremendo potencial defensivo. Em geral, a principal carência é o arremesso, ainda muito irregular, especialmente de longa distância, tendo acertado apenas duas bolas em 20 tentativas de três pontos na temporada. Vejam o moleque em ação:


No YouTube, é possível encontrar diversos dos seus jogos na íntegra, em vídeos disponibilizados pela liga argentina. Certamente muito visados pelos olheiros americanos e pelos basqueteiros argentinos, que não escondem a esperança de que um novo craque esteja surgindo, a despeito do grande susto que já levaram devido a sua lesão. Isso seria uma pressão? “Não sei se pressão, mas isso me causa uma sensação de dizer que tenho de melhorar isso ou aquilo. Mas não dá para conseguir tudo de um dia para o outro. Leva tempo. Você tem de se precuopar em treinar e fazer as coisas bem todos os dias. E aí vai acontecendo. Já cheguei a fica rum pouco louco por isso tudo, mas agora trato de desfrutar e fazer as coisas bem dia a dia”, afirmou em longa entrevista ao Básquet Plus, na qual mostra que não é dos garotos mais deslumbrados ou eloquentes, não.

De qualquer forma, é muito difícil de avaliar um atleta nesse contexto e fazer projeções para a NBA. A tarefa dos scouts nem sempre é fácil. Ainda mais quando o garoto ficou tanto tempo parado. Um ano e meio sem jogar, nessa idade, é algo um tanto assustador. Mas Vaulet se inscreveu no Draft (que, no Brasil, terá transmissão gratuita pelo League Pass) e manteve seu nome. Criou, desta forma, um redemoinho para a liga americana. Aqueles que duvidam de uma promessa do Spurs levantam a possibilidade de os agentes do argentino querem que ele não seja selecionado. Desta forma, apostariam que, num futuro breve – caso confirme as expectativas em torno de seu nome em quadra, eventualmente na Europa –, teria mais autonomia para negociar um bom contrato em seus termos. Seria uma aposta arriscada e arrojada. Já aconteceu isso antes, mas não é tão normal. Faltam só dois dias mesmo para se tirar a prova, e as especulações só devem aumentar.


Brasileiros retiraram a candidatura ao Draft da NBA. O que houve?
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Giancarlo Giampietro

Georginho, agora em Treviso: longo período de testes para o armador

Georginho em Treviso, e os scouts da NBA atrás

O que houve?

Bem, respondendo: não é que tenha sido algo anormal, para começo de conversa. Foram quatro os jogadores daqui que se declararam ao Draft da NBA deste ano e, no final, acharam por melhor retirar retirar a candidatura. Foram os três pinheirenses Georginho, Humberto e Lucas Dias, mais o mineiro Danilo Siqueira.

Todos os jogadores de fora dos Estados Unidos, que não completam 22 neste ano, tinham até esta segunda-feira para decidir se continuariam, ou não, no páreo para a cerimônia que será realizada no dia 25, em Nova York. Cada um saiu por seus motivos. Isso significa que não sejam bons jogadores, que não tenham talento e que não possam mais flertar com o recrutamento de calouros da liga americana no futuro. Danilo será um candidato automático em 2016, por  chegar aos 22. Para constar, qualquer jogador brasileiro nascido em 1993, como Leo Meindl e Henrique Coelho, ainda pode ser escolhido este ano – mas seria uma grande surpresa. Lucas e Humberto têm pelo menos mais dois anos para participar do processo. Georginho, mais três.

O mais jovem do quarteto de ex-candidatos, aliás, era o que tinha a melhor cotação. De quatro clubes consultados pelo blog na segunda-feira, três disseram que tinham 100% de certeza de que ele seria selecionado no Draft, enquanto o outro acreditava que isso não seria possível, já por acreditar que o armador não ficaria na lista. Mesmo que esta seja uma pequena amostra no contexto da liga (4 de 30 clubes opinando), dificilmente o caçulinha passaria em branco na lista, devido aos seus atributos físicos incomuns e a tenra idade. Então por que abrir mão disso?

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Existe uma diferença entre ser selecionado e ser pinçado especialmente por uma franquia que esteja disposta a elaborar um projeto detalhado, paciente, de longo prazo para um atleta de enorme potencial, mas muito jovem, longe de estar preparado para  encarar uma temporada regular – como nos moldes do Toronto Raptors com Bruno Caboclo, independentemente do sucesso dessa empreitada. Que ele fosse escolhido na segunda rodada do Draft e enviado ao basquete europeu estava descartado. Não seria nada fácil encontrar um clube disposto a investir num garoto que seria enquadrado já como adulto e não tem dupla cidadania. “Jogar na Europa não faz sentido para ele”, afirma um scout internacional ao VinteUm. “Ele precisa de um programa de desenvolvimento e de jogar aprendendo com seus erros. Os clubes na Europa têm a mentalidade de vencer para já. Seria uma perda de tempo para ele, na minha honesta opinião. A D-League provavelmente seria o melhor caminho, mas aí você tem de ter um time com afiliação única.”

Pois é: até para evitar a situação desconfortável que Caboclo enfrentou durante a temporada, jogando por um time que não tinha obrigação alguma de lhe dar minutos e oportunidades, o ideal era encontrar um dos 17 clubes com filial exclusiva na liga de desenvolvimento. Com um eventual contrato de quatro anos. E que tenha um histórico saudável no trato com atletas mais jovens. Você vai peneirando e peneirando, e os cenários fiam reduzidos. Os clubes ligaram para a base da poderosa Octagon nesta segunda-feira em Chicago, mas, no fim, não apareceu nada de concreto em relação ao tipo de comprometimento que esperavam.  Os agentes Eduardo Resende e Alex Saratsis decidiram, então, pela cautela e por mantê-lo no Pinheiros, com a perspectiva de receber muito mais tempo de quadra entre a elite nacional. “O projeto do clube para a próxima temporada é muito bom para os garotos. Optamos por este projeto”, disse Resende.

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O mesmo raciocínio se aplica ao ala Lucas Dias, que deve virar um ponto de referência para o técnico Claudio Mortari. Em relação a Humberto, os agentes declararam seu nome para que ganhasse evidência internacional e se fixasse no radar da liga para os próximos anos. Nem saiu do país, então. A diferença é que tanto George como Lucas já haviam tido mais exposição em quadras estrangeiras, devido ao currículo maior com a seleção brasileira. Eram mais comentados pelos scouts e também tiveram um papel de maior protagonismo na última LDB.

Em Las Vegas

Danilo em Las Vegas: uma semana de trabalho com fundamento

O caso de Danilo Siqueira está à parte. O ala-armador, representado pelo agente Vinícius Fontana, foi para os Estados Unidos passar por um período de treinamentos na academia Impact, em Las Vegas, a dez dias da data-limite para retirada do nome da lista. Na sexta passada, fez um workout em frente a uma plateia cheia de dirigentes, até mesmo com Phil Jackson presente. Os cartolas estavam lá para assistir ao letão Kristaps Porzingis, e Danilo pôde pegar carona nessa, num trabalho em conjunto com o superagente Andy Miller. Os planos em torno do atleta do Minas Tênis estavam voltados para o Draft de 2016 – ou para uma transferência para a Europa ao final de seu contrato.

(Aliás, existe um consenso entre as quatro fontes da NBA consultadas e que é  preocupante: eles acreditam que os jovens deveriam sair do Brasil “o quanto antes“, para acelerar sua curva de aprendizado. É um tema espinhoso, mas obrigatório de se abordar aqui no blog, mas em outro texto. Nos próximos dias, prometo.)

Georginho e Lucas encararam um périplo nas última semanas. Primeiro, passara duas semanas treinando na academia IMG, na Flórida e voltaram ao Brasil. Em abril, o armador participou do Nike Hoop Summit, em Portland. Depois, em maio, foi a vez do Draft Combine em Chicago – que o ala perdeu por conta de uma torção no tornozelo. Por fim, neste mês, viajaram até Treviso, na Itália, para disputar o adidas Eurocamp. Em volta disso, muitos workouts particulares nos Estados Unidos.

Lucas: não teve muitas chances para mostrar seu arremesso em Treviso

Lucas: não teve muitas chances para mostrar seu arremesso em Treviso

É raro que um prospecto, no caso de George, ganhe esse tipo de exposição rumo ao Draft. O brasileiro alternou boas e más partidas, algo natural para alguém tão inexperiente, que ainda está aprendendo inglês (e avançou bastante nesse sentido), ficou na estrada por um bom tempo e está habituado a um nível de concorrência muito inferior em quadras brasileiras (e aqui obviamente fez falta uma rodagem maior no NBB…). Em Chicago e Treviso ele jogou contra caras até cinco anos mais velhos. “Nos dois casos, não é um ambiente fácil para se jogar, devido ao fator competitivo entre os atletas, que querem nos impressionar”, afirmou um executivo de um clube da Conferência Oeste. “E pode anotar: não é fácil também para avaliar os jogadores nesse tipo de atividade.”

Para Lucas, o evento na Itália era essencial, mas no qual existe essa complicação para se afirmar, acentuada no caso de um ala-pivô, que depende dos companheiros para entrar em ação. “Ele não conseguiu fazer muita coisa nos dois primeiros dias. Não encontrou o seu nicho neste tipo de configuração, com tantos atletas que dominam a bola”, diz o scout internacional aqui já mencionado. “Ele foi ok. Teve alguns bons momentos no fim. Mas não me impressionou  muito com seu arremesso”, afirmou outro olheiro.

Para muitos avaliadores, os camps foram a primeira oportunidade de ver os brasileiros ao vivo. Nos treinos, o cenário já era outro. A maior parte das franquias que os convidaram foi de times que vieram ao Brasil para observá-los – caso de San Antonio, que compareceu duas vezes, Dallas e Portland, por exemplo. Em duas escalas em que a dupla visitou, ouvi de dirigentes que eles “competiram” muito bem, jogando de igual para igual com atletas já formados na NCAA. A tendência é que esses clubes que os acompanharam seu habitat os tenham em melhor conta. Foram avistados no mínimo dez times diferentes em ginásios brasileiros.

Houve quem se encantasse pelo garoto (como no caso de um dos clubes consultados pelo blog), outros que acreditavam que levaria muito tempo para que ele se desenvolvesse e se tornasse um atleta de NBA (dois clubes) e também os que não vinham nele as qualidades necessárias para se investir (o clube que não acreditava que ele fosse selecionado). Aqui é importante ressaltar a complexidade do universo dos scouts. Cada franquia tem um batalhão de observadores. Haverá conflitos naturais de opinião, gente com todo o tipo de ponto de vista possível.  Além disso, nem sempre o apreço de um scout signfique que seja possível a escolha do atleta. Como está a configuração do elenco? Eles já têm muitos jovens com quem trabalhar? Precisam reservar espaço no plantel para fechar uma troca? Precisam poupar dinheiro para não pagar multas? Etc.

E é aqui que fica uma lição para o blog, que repasso agora: esqueçam as projeções sobre o Draft dos sites especializados. Quer dizer: podem consultar, mas não é para levar ao pé-da-letra. Servem como indicativos, mas de uma forma bem flexível, digamos, e com a influência de muitos fatores externos. Haja lobby. O próprio Jonathan Givony, do DraftExpress, já disse que, se não desse tanta audiência, nem as faria, por achar bobagem. O esforço dele e de boa parte dos analistas dedicados a esta cobertura está quase todo voltado para a primeira rodada do recrutamento. O que já é difícil de acertar – e cujos palpites só tendem a se tornar mais precisos na véspera do evento, quando os times estão realmente encaminhados. Para a segunda rodada, então, com vendas e trocas de picks, então, não há como prever. Basta lembrar o que aconteceu com Bruno Caboclo no ano passado. O VinteUm até ouviu de múltiplas fontes que o ala tinha uma promessa do Toronto Raptors ou do Indiana Pacers. A informação estava circulando. Mas ninguém imaginava que o clube canadense fosse escolhê-lo em 20º. O plano nem era esse.

Caboclo só ficou no último Draft porque o Raptors, basicamente, pediu. Dessa vez, nenhum time se comprometeu, ou fez uma promessa desse tipo. As conjunturas mudam. E o que os quatro brasileiros têm ao seu lado, além do talento natural, é o tempo. Todos eles vão trabalhar com o técnico Gustavo de Conti, em Rio Claro, nos próximos dias para disputar a Universíade, na Coreia do Sul. Segue o jogo. Retornam provavelmente um tanto frustrados, mas certamente com mais bagagem e lições para serem revisadas durante a próxima temporada para, quiçá, tentar mais uma vez.


Danilo Siqueira, cheio de energia em trajetória promissora
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Giancarlo Giampietro

Eram três irmãos, a escadinha básica. Correndo para lá e para cá, dando aquele trabalho quando não estavam na escola em Uberlândia. É nessa hora que entra o esporte para tentar distrair a meninada. Danilo Fuzaro Siqueira, então, ia para o tatame, testar alguns golpes precoces como um carateca mirim.

Foi por influência do irmão mais velho, Nilton, que o basquete entrou em sua vida. O fato, de qualquer forma, era que os três estavam envolvidos desde cedo com o esporte em geral. Não que os pais sonhassem com medalhistas olímpicos ou qualquer coisa do tipo. “Não era uma preocupação deles em iniciar a gente como atleta”, afirma Danilo ao VinteUm, rindo. “Acho que a gente tinha muita energia, mesmo. Então era para gastar, e aí começamos a brincar. Sempre gostamos.”

Em Las Vegas

Em Las Vegas

Para quem acompanhou o progresso do ala-armador do Minas Tênis na temporada 2014-2015, chega-se a uma conclusão: o plano inicial da família Siqueira não deu tão certo assim. Afinal, energia é o que não falta em seu impressionante jogo atlético. Aos 21, anos tal como faz em suas infiltrações explosivas, deu passos largos para se fixar como uma das apostas mais promissoras. Ficou entre os três finalistas em duas categorias do NBB 7: destaque entre os jovens e jogador que mais evoluiu. Também foi convocado pelo técnico Gustavo de Conti para disputar a Universíade de Gwangju, na Coreia do Sul, ao lado de outros jovens talentosos.

Que bom, então, que as atividades recreativas não tenham aplacado o pique de infância. Pelo contrário, o levaram longe. Pegando este embalo todo, Danilo agora se vê numa posição talvez impensável quando estava de quimono: candidato ao Draft da NBA, está em Las Vegas para tentar impressionar os scouts americanos, realizando nesta sexta-feira um treinamento com garantia de ginásio cheio.

Mudanças
No começo, é tudo brincadeira, mesmo. Mas tudo evoluiu rapidamente para os irmãos basqueteiros, motivados até pela concorrência interna. “Jogávamos direto, tínhamos uma cesta na parte de trás de casa. E tinha aquela história de não gostar de perder”, conta. Imagine o quanto eles não estavam vidrados, para que os pais concordassem, em 2007, levá-los para Uberlândia para fazer peneira.

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>> Georginho e Lucas Dias vão declarar nome no Draft

Danilo foi aprovado e entrou no time sub-13. Os irmãos também ficaram. “Fui passando de categoria em categoria, comecei a jogar bem e as coisas ficaram mais sérias”, conta. E aí como faz? Chegou uma hora, então, que a família toda resolveu fazer a mudança, num deslocamento de cerca de 100 km, mesmo que o pai ainda trabalhasse em Uberaba. Essa fase durou relativamente pouco, no entanto.

Aos 16 anos, com Cristiano Grama em Ruvo

Aos 16 anos, com Cristiano Grama em Ruvo

O progresso do caçula foi tamanho que a troca de cidades no Triângulo Mineiro foi fichinha perto do que aconteceu em 2010, quando aproveitou a dupla cidadania e se mandou muito jovem para a Itália, enquanto Nilton, que começou tarde, cinco anos mais velho, já procurava outros caminhos fora do esporte.

O destino foi Ruvo di Puglia, uma cidadezinha (ou “comuna”) localizada na região de Bari, ao sul do país, um pouco acima do salto da belíssima Bota. Uma área muito mais conhecida por sua cultura vinícola do que por glórias esportivas, convenhamos. Jogando pelo clube local, da terceira divisão (Serie C), o brasileiro afirma que cresceu bastante – dentro de quadra, mas principalmente como pessoa. Natural, não? Mas não da forma que o bambino esperava. Ele passou por poucas e boas.

“Para mim foi um aprendizado fundamental, em muitos sentidos”, diz. “Tive dificuldade, ficando sem dinheiro, pois o clube não pagava direito. Almoço e jantar nunca faltou. Também pagavam o apartamento, que dividia com mais três garotos. Mas para coisas como café da manhã e outros gastos tive sorte de contar com a ajuda de companheiros muito legais e até mesmo de gente da cidade, que passava a conhecer. São as vantagens de estar em uma cidade pequena, hospitaleira.”

Ao contar o caso, Danilo fala com maturidade, com firmeza. É um aspecto que chama a atenção em sua entrevista, e parece claro que essa experiência que não teve nada de conto de fadas foi fundamental para isso. Pode até mesmo ter funcionado como um teste. Era isso que queria, mesmo? “Já tinha o objetivo, estava convencido de virar jogador. Sempre soube o que queria, sempre levei a sério. Ter passado pela Europa não mudava nada para mim. Tinha de treinar muito, com humildade.”

O jogador teve de se virar então como dava, o que ao menos forçou o aprendizado da língua italiana rapidamente. O bom é que, para amenizar os dias de pindaíba, o ala-armador podia ficar muito tempo dentro do ginásio, enfornado. “Passava em torno de seis horas no clube, no ginásio. O técnico Giulio Cadeo, que chegou a trabalhar com times da primeira divisão, foi muito importante. Eles me ensinaram muito. Ficava treinando com adulto, mas sem poder jogar com eles.”

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Os problemas fora de quadra, no entanto, motivou o retorno ao Brasil em 2012. “Estava sem receber e tinha medo de que pudesse acontecer a mesma situação em outro clube”, explica. Nesse período, já estava em contato constante com o treinador Cristiano Grama, do Minas Tênis, com quem já havia trabalhado em Uberlândia. O garoto voltou, então, mas não necessariamente para casa, parando em Belo Horizonte.

Passo a passo
Antes de jogar pelo Minas, Danilo teve sua primeira oportunidade com a camisa da seleção, na disputa da Copa América Sub-18, em São Sebastião do Paraíso. Uma campanha que foi um sucesso para a equipe, terminando com vice-campeonato, vencendo o Canadá de Andrew Wiggins no meio do caminho, perdendo para os Estados Unidos. Já contamos essa história com mais detalhes num perfil de Lucas Dias, o destaque aquele time de geração 1994/1995 que acabou decepcionando no Mundial de 2013.

Vibração de sempre, mas com resultados ruins para a seleção sub-19 em Praga

Vibração de sempre, mas com resultados ruins para a seleção sub-19 em Praga

“Primeiro, foi única para nós. Naquela idade que estávamos, eles tinham uma vitrine muito maior. Foi bom para sentir que não era nada de outro mundo jogar contra eles. Claro que no aspecto físico eles sobram e que a gente tinha de treinar muito, mas foi bom. Hoje a gente vê muitos daqueles jogadores já na NBA”, afirma. “Depois, o Mundial foi chato para todo mundo. A expectativa era muito boa, mas jogou bem. Perdemos a oportunidade de jogar bem e sermos cogitados para ligas melhores. Foi muito frustrante, não saiu nada do jeito que queríamos.”

Nestas campanhas, Danilo trabalhou pela primeira vez com Demétrius Ferraciu, o ex-armador da seleção brasileira e com quem, duas temporadas depois, conseguiu deslanchar na edição passada do NBB. Até chegar lá, precisou de paciência. Em seu primeiro ano clube mineiro, teve apenas sete minutos em média. Depois, sob a orientação do argentino Carlos Romano, recebeu mais que o dobro de rodagem, beirando os 20 minutos. Agora, se o tempo de quadra não progrediu tanto, o que aumentou, mesmo, foi sua produção. O jovem ala-armador obteve seus melhores índices nos arremessos de dois e três pontos, por exemplo. Numa medição mais avançada, foi o segundo jogador mais eficiente do campeonato entre os atletas sub-22, atrás apenas de seu companheiro de equipe, Henrique Coelho.

O Minas, aliás, foi um dos poucos times que verdadeiramente abriu as portas de seu time para a garotada, aproveitando-se de uma base talentosa e entrosada. “Querendo ou não, nossa equipe jogava junta há muito tempo. Pegaram essa base e adicionaram alguns veteranos que agregaram muito. O (americano Robby) Collum, o (pivô) Shilton e o (ala) Alex, com uma presença que fez muito bem ao time.”

O fato raro de ter uma base jovem no campeonato ‘adulto’ gera ansiedade, expectativa, claro. “A gente sabia que tinha de provar muito, e o caminho foi jogar com base na nossa capacidade atlética, velocidade, tirar proveito do que tínhamos de melhor”, afirma. Demétrius soube usar a vitalidade de seu elenco em torno de um excelente marcador domo Shilton para construir a terceira melhor defesa do NBB, atrás apenas dos finalistas Flamengo e Bauru.

Perdas e ganhos
A temporada, todavia, não terminou da forma que esperavam. O Minas foi a vítima da zebra da vez, o Macaé, clube que chegou aos playoffs na última posição e passou pelo cabeca-de-chave por 3 a 1, ignorando o mando de quadra. Sem a liderança tática e técnica de Robby Collum de um lado, e com outro americano, Jamaal Smith, arrebentando do outro.

A série contra Macaé e um nível elevado de produção

A série contra Macaé e um nível elevado de produção

“Para nós foi uma decepção. Perdemos nosso principal arremessador, o Collum, um cara que puxava bastante a defesa e deixava o jogo mais aberto. Foi difícil jogar em Macaé, com a torcida deles e uma quadra que não é muito boa, na qual eles estavam muito mais acostumados. O Jogo 2, que perdemos na prorrogação, em casa, foi decisivo. Creio que se tivéssemos vencido aquele, ganharíamos a série. O Jamaal fez a diferença também. Teve um aproveitamento absurdo, bem diferente do que havia feito na temporada contra a gente.”

A ausência de Collum, no entanto, abriu as portas para Danilo atestar sua evolução durante o campeonato, com grandes exibições, contribuindo nos momentos decisivos. Teve médias de 19,5 pontos, 3,2 assistências e 2,2 roubos de bola, em 30 minutos arredondados. “Individualmente foi um momento muito bom. Consegui pontuar bem e teve alguns momentos em que o time estava trabalhando para mim, algo que nunca havia acontecido antes na minha carreira. Ser o foco ofensivo, ver a bola chegando e a coisa fluir. Soube aproveitar.”

A produção não vem ao acaso. Tem a ver com as habilidades do jogador – ambidestro, excelente finalizador perto do aro, com impulsão impressionante, mãos largas, criativo em nas infiltrações até pela imprevisibilidade do lado do corte e força para trombar –, mas também com a chance de ele desenvolver esses recursos na prática. O que mais? Aos 21 anos, já tem uma boa noção em combinações de pick-and-roll, sabendo servir aos companheiros (seja o pivô mergulhando no garrafão, ou o chutador no lado contrário). Com os pés plantados, até pela estatura e envergadura, consegue passar por cima da primeira linha defensiva, com boa visão de quadra. Na defesa, porém, pode se distrair nas movimentações longe da bola, permitindo a escapada de seus adversários e também pode ser muito agressivo no combate individual, perdendo o equilíbrio. De qualquer forma, o simples fato de estar na quadra ajuda bastante a lidar com eventuais problemas. Natural, e é algo que faz falta para qualquer atleta, especialmente aos mais jovens.

Porém, quando desembarcou em Las Vegas na semana passada, no entanto, para um período curto de treinamentos na academia Impact, de Joe Abunassar, Danilo arregalou os olhos. Fez um tipo de trabalho que, de modo alarmante, julga estar em falta em quadras brasileiras. “Estou treinando bem forte, para ver se consigo esse objetivo. É um treino muito mais puxado em termos de fundamento, algo que não fazemos muito no Brasil. Já sinto que melhorei em menos de uma semana. Só tive treinamento de contato, um contra um, uma vez só. O resto foi muito de fundamento, bandejas, floaters e outras, com intensidade.”

Aqui, um vídeo de Mike Schmitz, do Draft Express, que acompanhou uma sessão na quinta-feira, em exercício de chutes de três pontos. Danilo aparece com uma mecânica muito mais regular e equilibrada em seu arremesso, comparando como o que pudemos ver há algumas semanas no playoff contra Macaé:

A companhia mais badalada no momento nestas hora de treino em Vegas é de Kristaps Porzingis, ala-pivô do Sevilla que é cotado como um escolha top 10 para o Draft da NBA deste ano. Para muitos dirigentes, ele tem potencial, mesmo, para ser o melhor dessa safra, e seu pacote de altura, agilidade e refinamento é realmente único. A presença do letão é muito benéfica para o brasileiro, que se exibe nesta sexta para diversos olheiros que vão à academia primordialmente para avaliar o europeu. Foi uma jogada do agente Vinícius Fontana, em parceria com o americano Andy Miller, dono de uma cartela respeitável de clientes.

Em seu primeiro dia no ginásio, como um alerta para se dar conta da situação especial que vive, Danilo deu de cara com o enigmático Lance Stephenson. Foi a primeira vez que encontrou um atleta da liga ao vivo. Confiante, ele espera que esse tipo de contato possa se repetir no futuro. Sua missão é exibir o mínimo de habilidades em uma sessão em torno de 40 minutos para que possa instigar o convite para um treinamento em privado, com datas muito apertadas. “Estou bem tranquilo quanto a isso. Sou bem religioso, deixo nas mão de Deus. Estou fazendo a minha parte. Com meu agente, o Vinícius, vimos essa oportunidade e tentamos. Não tenho nada a perder.”

Danilo e Lance Stephenson. Cuidado! : )

Danilo e Lance Stephenson. Cuidado! : )

Ele tem até o dia 15 para decidir se mantém seu nome na lista de inscritos. Dallas, Memphis, New Orleans, Portland e Dallas foram os primeiros times a manifestar interesse preliminar. A boa rodagem do ala-armador pelo Minas ajuda em sua avaliação, uma vez que seus clipes estão disponíveis no software Synergy, que catalogou o campeonato em parceria com a liga nacional nesta temporada.

Pensando em ligas maiores, seja na Europa ou na NBA, a projeção ideal, segundo os olheiros, é a de que Danilo se desenvolva como um armador, algo que não conseguiu cumprir por tantos minutos assim pelo Minas, até pela evolução de Coelho e pela contratação do argentino Enzo Cafferata, um jogador errático que não controla tão bem assim as partidas. “O que preciso melhorar é na hora de levar o ataque, saber comandar um time. Falta esse comando. O mais importante é ter a mente aberta para aprender”, disse Danilo. “Hoje me veem como o combo guard, como dizem aqui. E, se formos pensar, essa coisa de jogo de 1 e 2 é quase a mesma coisa hoje.”

Não importa e nem tem por que estratificar um talento desses, mesmo. O certo é que, sem importar a nomenclatura e a cidade que for. Uberlândia, Ruvo, BH, energia não vai faltar.


Brasileiros caem na estrada antes de tomar decisão sobre o Draft
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Giancarlo Giampietro

Georginho, agora em Treviso: longo período de testes para o armador

Georginho, agora em Treviso: longo período de testes para o armador

Enquanto dirigentes, técnicos e torcedores de Golden State Warriors e Cleveland Cavaliers ainda estão concentrados neste ínfimo evento que são as #NBAFinals, o restante da liga se concentra no processo do Draft. Aquele que, por ora, envolve alguns jovens talentos brasileiros que têm até o dia 15 de junho para decidir se permanecem, ou não, inscritos na lista de recrutamento de calouros.

Estamos, então, nos últimos dias para que mostrem serviço aos olheiros americanos. Para tanto, é preciso cair na estrada, mesmo que muitos scouts tenham viajado para ver o que se passa por estas bandas in loco – pelo menos dez times por aqui para ver partidas da LDB, por exemplo. Os pinheirenses Georginho e Lucas Dias estão, neste momento, em Treviso, para a disputa do adidas EuroCamp, reunindo garotos de diferentes idades e nacionalidades. Já Danilo Siqueira (ou “Fuzaro”, para os estrangeiros) começou seu período de treinamentos na academia Impact, em Las Vegas, entrando no giro dos workouts. Humberto Gomes, outra talentosa revelação do Pinheiros, segue treinando em São Paulo e muito provavelmente vai retirar seu nome no dia 15, a não ser que surja algum time empenhado em lhe prometer uma seleção de modo surpreendente.

Acompanhe a cobertura do 21 para o NBA Draft:
>> Qual o cenário para os quatro brasileiros inscritos?
>> Georginho conclui Nike Hoop Summit com status no ar
>> Técnico americano avalia o potencial de pinheirenses
>> Apresentando Georginho, o próximo alvo da NBA
>> Lucas Dias e preparação para encarar mais um teste

>> Georginho e Lucas Dias vão declarar nome no Draft

Pegar a estrada se tornou rotina para George e Lucas, que já passaram, ao todo, por pelo menos sete cidades nos Estados Unidos para fazerem testes privados – em algumas delas juntos, na maioria separados. O armador esteve em Los Angeles, por exemplo, sendo testado pelo Lakers, em Boston e Portland, enquanto o ala teve seu check in em Salt Lake City anunciado pelo Utah Jazz. Encerrada a participação na Itália, os dois retornarão a solo norte-americano para mais duas sessões cada, sendo que a última vai reunir ambos nas dependências do Brooklyn Nets.

Um pique logo ali em El Segundo para Georginho

Um pique logo ali em El Segundo para Georginho

Os dois chegaram a Treviso na sexta-feira, depois de um voo realmente longo a partir de Portland, no extremo Noroeste dos EUA. No sábado, dia de abertura do camp, a despeito do cansaço, Georginho viveu um bom dia, segundo dois avaliadores de times da Conferência Oeste da NBA que consultei – só está cedo para publicar as opiniões deles, já que as atividades vão até segunda-feira. Para muitos, esta é a primeira chance de avaliar os garotos ao vivo. Para outros times, que já os acompanham há um tempo, a experiência serve para acúmulo de informações, mas acaba não sendo decisiva na avaliação.

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O armador está agrupado num time que ganhou o nome de San Antonio Spurs, curiosamente um time que o assistiu duas vezes aqui no Brasil. Mas isto é realmente só uma coincidência, gente. A equipe só leva este nome por ser dirigida por Jim Boylan, assistente de Gregg Popovich. Assim como o ‘Phoenix Suns’ de Lucas assim é chamado por ter Mike Longabardi, assistente de Jeff Hornacek, como técnico. Confira todos os elencos e o calendário de jogos e treinos. Jogar em Treviso não é algo inédito para os brasileiros, ainda que a maioria dos convocados tenha origem europeia. No ano passado, Rafael Luz, Cristiano Felício e Lucas Mariano estiveram por lá. Em 2013, Raulzinho e Lucas Bebê brilharam por lá, ao lado de Augusto Lima. É no mínimo uma ótima oportunidade para os garotos se testarem contra talentos de ponta.

Danilo Siqueira foi um dos poucos jovens com tempo regular de quadra no último NBB

Danilo Siqueira foi um dos poucos jovens com tempo regular de quadra no último NBB

Do outro lado do Atlântico – e bem distante da Costa Leste –, Danilo chegou a Las Vegas na sexta-feira para trabalhar com o prestigiado treinador Joe Abunassar, coordenador da Impact, uma academia que trabalha ou já trabalhou com dezenas de célebres figuras da NBA, com destaque para Kevin Garnett, Chauncey Billups, Kawhi Leonard, Kyle Lowry, Rudy Gay, Ricky Rubio, entre outros.

O explosivo ala-armador do Minas Tênis vai ter uma semana para se preparar para mostrar suas habilidades diante de dezenas de scouts durante um workout na próxima sexta, dia 12. O brasileiro vai acompanhar o letão Kristaps Porzingis, jovem ala-pivô do Sevilla que é tido por muitos como um dos cinco candidatos mais promissores do Draft. O pivô Myles Turner, da Universidade do Texas, também será apresentado. São dois calouros bem cobiçados, o que garante uma exposição tremenda ao jogador.


Golden State supera décadas de trapalhadas para voltar à final
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Giancarlo Giampietro

Seu time está no centro das chacotas por anos e anos? Você não tem coragem de assumir para quem torce e, no final, tenta escapar dizendo ser um “admirador profundo do estilo de basquetebol do San Antonio Spurs”? Você nem, mesmo, veste a camisa para bater, casualmente, uma bola na praça? Calma, gente. Isso não te obriga a jogar fora o uniforme. Pode ser que ainda dê tempo de reutilizá-lo – desde que não perca de vista a balança, claro. Os finalistas da NBA 2014-2015 nos ensinam que, das profundezas, após muitas trapalhadas no Draft, desmandos da diretoria, conflitos entre jogador e técnico, pode emergir um candidato ao título. Mesmo que demore um pouco. Aqui, vamos listar dez episódios marcantes da história do Golden State Warriors, que nos ajudam como demorou tanto – precisamente 40 anos – para que a franquia retornasse a uma decisão:

Para chegar a Curry e os playoffs de 2025, teve muita história

Para chegar a Curry e os playoffs de 2015, teve muita história

Se transparência é um termo que anda em voga no noticiário esportivo, então não dá para esconder que este artigo não existiria sem este aqui de Bill Simmons, o ex-editor-chefe do Grantland: “Como perturbar uma base de torcedores em 60 passos fáceis”. Sim, com seus conhecimentos verdadeiramente bíblicos sobre a NBA, o cara teve a manha de listar seis dezenas de bobagens que o clube californiano cometeu desde que Ricky Barry os liderou para o título em 1975. Em vez de meramente traduzir o antigo Sports Guy (e quem sai perdendo nessa é só você, meu amigo, já que estamos falando de um dos textos mais divertidos da Internet), filtramos os tropeços em apenas uma dezena, tentando interligá-los ou dar mais contexto para cada um deles.

1) Vai que é sua, Boston
E se o esquadrão de All Attles de 40 anos atrás pudesse ter sido sucedido por uma linha de frente composta por Larry Bird, Kevin McHale e Robert Parish? Sim, acreditem. Não se trata de revisionismo barato. O Golden State Warriors teve todas as chances de formar esta trinca que resgataria os tempos de glória do Boston nos anos 80. O que pegou, então?

Bem, comecemos pelo fato de o time ter selecionado Parish no Draft de 1976. Foi apenas em oitavo, um golaço. Entre os sete primeiros da lista, só um atleta seria eleito para o Hall da Fama ou mesmo para um All-Star Game: o ala Adrian Dantley, cestinha ex-Detroit, Utah e Dallas. O pivô jogaria apenas quatro anos pela equipe, porém, até ser enviado para o Boston em 1980, acoplado a uma escolha de Draft, que seria a terceira geral. Em troca vieram outras duas escolhas daquele mesmo ano: a 1ª e a 13ª. Quem saiu em terceiro? McHale, um dos melhores alas-pivôs da história. E nas outras? Joe Barry Carroll e Rickey Brown.

Bird, Parish e McHale

Bird, Parish e McHale, do Boston

Quem!? Cumé!?

Bem, não precisa se sentir mal se não os conhece. Carroll era um pivô de 2,13 m de altura, vindo da Universidade de Perdue, considerado uma grande promessa. Só assim para o Warriors abrir mão de um pivô já estabelecido como o Chief Parish. No final das contas, ganharia um dos melhores (ou piores) apelidos da liga: “Joe Barely Cares” – trocadilho que dizia que ele pouco se importava com o que acontecia em quadra. A média de 20,1 pontos em seus primeiros quatro anos não parece tão ruim, mas não conta tudo: nos rebotes, foram apenas 8,5 por jogo. Cometia um elevado número de turnovers e não amedrontava defesas a ponto de chamar a marcação dupla no garrafão. O fato é que ele não se encontrou por lá, sendo perseguido por torcedores e jornalistas. Em 1984, para espanto geral, virou as costas para o time assinou um contrato com o Olimpia Milano. Em Boston, o Celtics já havia conquistado dois troféus.

Depois de conhecer a Itália, Carroll retornou em 1985, e, sob o comando de George Karl, viveu seu melhor momento. Em 1987, foi eleito para o All-Star Game e ainda estreou nos playoffs. Um ano depois, porém, viu sua produção despencar, a ponto de ser trocado para o Houston Rockets. Rodaria ainda por New Jersey, Denver e Phoenix até se aposentar em 1991, aos 32 anos, considerado um grande fiasco.

Quanto a Rickey Brown… Hã… O ala-pivô de 2,08 m, de Mississippi State, jogou apenas cinco anos na NBA. Em 1983, foi negociado com o Atlanta Hawks, em troca de uma escolha futura de segunda rodada, que resultaria em alguém de nome mais interessante, pelo menos: Othell Wilson. Pois é.

E onde é que Larry Bird entra nessa história? O Golden State tinha a quinta escolha do Draft de 1978. Optou pelo ala Purvis Short, que teria médias de 17,3 pontos, 4,3 rebotes e 2,5 assistências em sua carreira. O legendário camisa 33 do Celtics saiu em sexto. Oooops. (E aqui não importa que Bird fosse ficar mais um ano em Indiana State. Né?!)

2) Cestas e drogas
A NBA teve de lidar nos anos 70 e 80 com um séria questão: o preocupante uso de drogas por um elevado número de seus atletas, nem sempre flagrados. O ala Bernard King foi um dos atletas que chegou a ser detido por posse de maconha e cocaína em duas ocasiões, entre 1977 e 78, enquanto tinha contrato com o New Jersey Nets. Cansado dos problemas, mandou King para Utah em 1979. Pouco utilizado em Salt Lake City – aliás, não dá saber o que King faria na cidade naquela época. Um ano depois, seria despachado para o Golden State, em troca do pivô Wayne Cooper (um bom defensor, que viveria bons momentos no futuro pelo Blazers e pelo Nuggets). Na Califórnia, o ala reencontraria o rumo e seria eleito para o All-Star Game em 1982, com 23,2 pontos, 5,9 rebotes e 3,6 assistências.

Bernard King, cestinha que durou pouco em Oakland

Bernard King, cestinha que durou pouco em Oakland

Mas seria mais um craque que a franquia deixaria escapar: ao final do campeonato, King assinou um pré-acordo com o New York Knicks. Foi liberado, em troca do armador Michael Ray Richardson. Nos próximos quatro anos, o ala se tornaria o grande ídolo do Madison Square Garden, com algumas atuações eletrizantes (coisa de 50 pontos em jogos consecutivos e também 60 pontos em outra ocasião). No auge, porém, sofreu uma gravíssima lesão no joelho, que impediu que fizesse uma dupla potencialmente devastadora com Patrick Ewing, até ser dispensado. Acabado? Nada disso. Batalhou e concluiu uma recuperação até então inédita na liga. Em Washington, jogaria muito pelo Bullets ainda, com médias de 22 pontos, 4,7 rebotes, 3,9 assistências por quatro temporadas, sendo eleito pela quarta vez um All-Star em 1991.

Vai saber: talvez, em Oakland, as coisas pudessem ter desandado. Talvez King ainda estivesse dando trabalho fora de quadra, quando negociado. O que pega é que Richardson também tinha um histórico problemático e público. Não duraria nem quatro meses com o Warriors, sendo repassado para o Nets. Um caso triste de desperdício de talento – era um jogador tão veloz com a bola quanto John Wall no auge, segundo consta –, o armador passou pelo programa de reabilitação da liga e ainda assim foi pego, depois, em três testes pelo exame de cocaína. Foi banido e acabou conduzindo sua carreira na Europa.

3) Run TMC, e poderia ser melhor
Se, na NBA, há um consolo para times que fracassam em negociações e, por consequência, não se cansam de perder em quadra é que eles têm oportunidades melhores de se reforçar via Draft. E, na virada dos anos 80 para os 90, a franquia até caprichou em seu recrutamento, escolhendo Tim Hardaway, Mitch Richmond e Tyronne Hill por três temporadas seguidas. Em 1992, ainda conseguiriam Latrell Sprewell. Os dois primeiros se juntariam a Chris Mullin para formar o cébre trio Run TMC, sob o comando de Don Nelson, com um basquete vistoso, empolgante e competitivo. Até por isso foi difícil de entender duas trocas que o clube fechou com o Seattle Supersonics em 1989.

Alô? É do Warriors?

Alô? É do Warriors?

No recrutamento daquele ano, o Warriors cedeu os direitos sobre Dana Barros, o 16º calouro, em troca de uma escolha de primeira rodada, em 199 . Tudo bem. Já tinham Hardaway garantido. Um mês e meio depois, no entanto, eles devolveram o pick a Seattle para contratar o pivô Alton Lister. Era um grandalhão de 2,13 m que vinha de médias de 8,0 pontos, 6,6 rebotes, 2,2 tocos em 22 minutos. Tinha boa presença defensiva, algo de que a equipe carecia no garrafão, mas era muito limitado. Pior: faria apenas três jogos naquela temporada, devido a uma lesão. Em quatro temporadas em Oakland, devido aos problemas físicos, disputaria apenas 126 de 328 partidas possíveis. E que fim levou a escolha de Draft? Foi a segunda geral em 1990, rendendo Gary Payton ao Sonics. (OK, jogar com dois armadores naquela época não era algo tão usual, por mais que Payton pudesse marcar ala-armadores tranquilamente. No mínimo, viraria uma bela moeda de troca. Em 1992, ao lado de Shawn Kemp, Payton eliminaria o Warriors nos playoffs da Conferência Oeste, por ironia.

Em 1991, Nelson inexplicavelmente mandou Mitch Richmond para Sacramento, em troca do ala novato Billy Owens, o quinto do Draft. Owens era versátil, mas não gostava de treinar muito. Em 1995, já estaria defendendo o Miami Heat, numa negociação pelo pivô Rony Seikaly – o time da Flórida ainda receberia os direitos sobre o sérvio Sasha Danilovic (que seria um excepcional substituto para Richmond…). O libanês estava alguns degraus abaixo dos superpivôs da época, mas era competente. Sofreu com lesões, porém, em dois anos e foi repassado ao Orlando Magic.

4) A novela Chris Webber
Em 1993, Orlando Magic e Golden State Warriors fecharam uma troca  para lá de intrigante e que fazia muito sentido: uma inversão entre as primeira e terceira escolhas do Draft. O melhor novato disponível era o ala-pivô Chris Webber – muito badalado vindo da Universida de Michigan. Ele poderia jogar ao lado de Shaquille O’Neal? Certamente. Mas o Orlando estava de olho no armador Anfernee Hardaway. Quando o Philadelphia 76ers optou pelo espigão Shawn Bradley em segundo, “Penny” sobrou para o Golden State, que já tinha um Hardaway talentoso do seu lado. Para compensar, o Warriors ainda mandou três escolhas futuras de primeira rodada. C-Webb fez uma primeira campanha estrondosa em Oakland ao lado de um time tão ou mais divertido que o Run TMC. Caíram na primeira rodada contra o Phoenix Suns, atual campeão do Oeste, mas tinham uma base promissora para se desenvolver, tendo Gregg Popovich como assistente técnico.

Acontece que Webber arrumou confusão. Disse que não queria mais jogar como pivô (o nominal “5”, mesmo que o sistema de Nelson ignorasse essas convenções) e exigiu uma troca. O detalhe é que o jovem astro tinha como pressionar o clube, pois havia conseguido incluir uma cláusula de rescisão contratual para o final da temporada de calouro. Inacreditável. Foi aí que Nelson fechou a troca por Seikaly, para tentar acalmar as coisas – mas não sem antes entrar num bate-boca público. O ala-pivô manteve sua decisão até forçar uma negociação com o Washington Bullets, por Tom Gugliotta e três escolhas futuras, nenhuma das quais seria devidamente aproveitada. “Googs” jogou apenas um ano e meio pelo Golden State, até ser mandado para o Minnesota Timberwolves em troca de Donyell Marshall. O ala defendeu o Warriors até 2000, com médias de 11,1 pontos e 6,8 rebotes, quando foi trocado por Danny Fortson e Adam Keefe. Que tal?

5) O estrangulamento
Sprewell entrou em um timaço. Mullin, Hardaway, Webber, Nelson como técnico. Após o fiasco nas negociações com Webber, no entanto, o técnico e gerente geral pediu demissão. Ele fracassaria em Nova York, mas ainda teria muito sucesso como comandante do Dallas Mavericks, que seria reerguido como potência do Oeste ao final da década. Se ao menos Gregg Popovich estivesse por ali…. Mas o assistente se mandou em 1994 para San Antonio. Rick Adelman, que havia sido duas vezes vice-campeão pelo Portland Trail Blazers, assumiu o time, mas a depressão nos bastidores do clube era grande. Em dois anos, com um elenco em frangalhos (Hardaway foi trocado para Miami, Mullin já estava quebrado), ainda conseguiu um aproveitamento de 40%, até se mandar e reinventar o Sacramento Kings, ao lado de Webber. Em 1997, foi a vez de PJ Carlesimo ser contratado como treinador, mais um vindo de Portland.

Carlesimo e Sprewell: um dos incidentes mais absurdos da história da NBA

Carlesimo e Sprewell: um dos incidentes mais absurdos da história da NBA

A essa altura, Sprewell, um sujeito introspectivo e intempestivo, já estava para lá de frustrado e não aceitou bem o estilo exigente, mandão do novo técnico. Na primeira pré-temporada em que trabalharam juntos, em um dia em que alegou estar sem paciência, o ala simplesmente estrangulou o treinador por volta de 10 a 15 segundos. Segundo relata a Sports Illustrated, “alguns jogadores não tiveram pressa alguma” para interferir. O jogador foi, então, levado para o vestiário, para, 20 minutos depois, tentar atacar novamente o técnico. O Golden State suspendeu o ala por 10 dias e, depois, optou por romper o contrato. Na Justiça, Sprewell validou seu contrato. Obviamente, não havia como segurá-lo no time, e aí em 1999, ao retornar de suspensão, foi trocado para o New York Knicks, por John Starks, Chris Mills e Terry Cummings. No Madison Square Garden, também virou ídolo e seria campeão do Leste de imediato.

Obviamente não há negociação errada, comportamento de um técnico que justifique o ato de Sprewell. Mas a agressão simbolizava o caos por que passava a franquia.

6) Gangorra
Vocês se lembram a troca de Penny Hardaway por Chris Webber, certo? No Draft de 1999, o Golden State Warriors tentou repetir o movimento, numa transação envolvendo Antawn Jamison e Vince Carter. Seguido o exemplo de seis anos atrás, era de se imaginar a diretoria liderada por Gary St. Jean estivesse adquirindo Carter em troca de seu ex-companheiro da Universidade da Carolina do Norte, certo? Errado. O acrobático e explosivo Carter caiu no colo da franquia na quinta colocação, mas eles estavam interessados em Jamison, fechando então um negócio com o Toronto Raptors. O impacto que o ala causou no clube canadense é hoje considerado um fator primordial na explosão de talento de primeiro nível no país de Andrew Wiggins.

Jamison era um cestinha de jogo vistoso, classudo, mas de eficiência questionável e que não justificava sua deficiência nos rebotes e defesa. Ainda assim, teve seu contrato renovado em 2001 por US$ 85 milhões e seis temporadas. Não chegou ao final do vínculo, claro, sendo enviado ao Dallas Mavericks em 2003, rendendo em contrapartida o acabado Nick Van Exel e outros veteranos que só foram incluídos para validar o negócio financeiramente (Avery Johnson, Evan Eschmeyer, Popeye Jones e o francês Antoine Rigaudeu, que nem nos Estados Unidos estava mais). Um desastre.

7) Arenas, mais um a partir
A história se repete. Quando Gilbert Arenas saiu da Universidade do Arizona em 2001, não era um jogador bem cotado pelos scouts e dirigentes. Eles questionavam seu comportamento excessivamente infantil e acreditavam que ele não tinha uma posição definida, perdido entre um armador e um ala. A maioria dos observadores se equivocou profundamente. A habilidade do futuro Agente Zero com a bola se impôs rapidamente na liga. O sucesso foi tamanho que… complicou a vida do clube.

O melhor (e pior) do Agente Zero ficou para o Washington Wizards, mesmo

O melhor (e pior) do Agente Zero ficou para o Washington Wizards, mesmo

Sem apostar tanto assim no calouro, o Warriors firmou com ele um contrato de apenas dois anos. O jovem astro se tornou um agente livre restrito rapidamente, então. Seu potencial era evidente, de modo que recebeu uma proposta fabulosa do Washington Wizards. O Warriors não tinha condições de cobrir a oferta, mesmo que quisesse, devido ao estado precário de sua folha salarial (caríssima, congestionada, cheia de jogadores pouco atrativos que pudessem ser trocados para abrir espaço). Apesar das loucuras que cometeria anos mais tarde, Arenas foi superprodutivo em seus primeiros anos na capital americana e ajudou a revitalizar o clube na Conferência Leste, ao lado de Larry Hughes, outro talento do Golden State que havia sido surrupiado.

8) Custo x benefício
Para um time que só teve duas temporadas com aproveitamento acima de 50% nos anos 2000 (42-40 em 2007 e 48-34 em 2008), chegando aos playoffs uma única vez, o Golden State Warriors arcou com alguns dos contratos mais absurdos do período. Se você juntar os salários de gente como Jamison, Erick Dampier, Adonal Foyle, Derek Fisher, Corey Magette, Andris Biedrins, dava mais de US$ 310 milhões no total. Só em seis jogadores que eles procuraram no mercado na década passada. Os gastos gerais, obviamente, são muito maiores.

9) Atirando para todos os lados
Mullin, Hardaway, Richmond, Sprewell… Grandes acertos no Draft, na certa. Em 2001, conseguiram de uma vez só Jason Richardson, Troy Murphy e Gilbert Arenas. Monta Ellis 40º em 2005. Para aplaudir, novamente. Stephen Curry foi um presente do Minnesota Timberwolves em 2007. Agora, a lista de fiascos do Golden State Warriors no Draft é clamorosa, como diria o Carsughi, principalmente para um time que esteve tantas vezes presente na loteria. Não vamos nem contar aqui as escolhas trocadas, como a de Payton em 1990, mas apenas as efetuadas pelo clube, levando em conta os outros nomes que estavam disponíveis. Confira:

O'Bryant fez apenas 40 jogos e 60 pontos pelo Warriors

Sensação do torneio da NCAA, O’Bryant fez apenas 40 jogos e 60 pontos pelo Warriors

1995 – 1º –  Joe Smith – Kevin Garnett, Rasheed Wallace, Antonio McDyess, Jerry Stackhouse e Michael Finley foram escolhidos depois
1996 – 11º – Todd Fuller – Kobe Bryant, Steve Nash, Jermaine O’Neal, Peja Stojakovic, Zydrunas Ilgauskas e Derek Fisher vieram depois
1997 – 8º – Adonal Foyle – Tracy McGrady saiu em nono
2003 – 11º – Mickael Pietrus – Boris Diaw, David West, Josh Howard, Leandrinho, Nick Collison disponíveis
2005 – 9º – Ike Diogu – Andrew Bynum saiu em décimo; Danny Granger disponível
2006 – 9º – Patrick O’Bryant – Rajon Rondo, Kyle Lowry, JJ Redick,
2007 – 8º – Brandan Wright – Joakim Noah saiu em nono…
2008 – 14º – Anthony Randolph – Serge Ibaka, Ryan Anderson, Roy Hibbert, Robin Lopez, Nicolas Batum, Kosta Koufos na pinta
2010 – 6º – Epke Udoh – Greg Monroe saiu em sétimo… Gordon Hayward, em nono e Paul George, em décimo.

10) Vaias, vaias e mais vaias
Joe Lacob, se você for pensar, não tinha nada com isso. Ele comprou a equipe de Chris Cohan em julho de 2010. Sua gestão não tomou parte dos nove tópicos acima. Mas, em 2012, quando ele foi para o centro da quadra na Oracle Arena para fazer uma homenagem a Chris Mullin, foi vaiado pelos torcedores de modo inclemente. A galera simplesmente não deixava o discurso ir adiante. A coisa só parou quando o próprio Mullin, com a ajuda de Rick Barry, pediu para que se acalmassem. Era muita mágoa represada, é verdade, mas também havia uma frustração clara com o novo proprietário, que, antes de aquela temporada começar, havia prometido (ao vivo e a cores e por e-mail) que o clube voltaria aos playoffs. Mesmo que sua base fosse jovem e ainda estivesse no início de sua evolução defensiva sob o comando de Mark Jackson. Em março, estava claro que era mera bravata de Lacob, e que o Warriors não tinha como sonhar com uma vaga nos playoffs, e que, para piorar, era obrigado a entregar jogos na reta final com o intuito de preservar sua escolha de Draft: caso ficasse fora do top 7, ela seria destinada ao Utah Jazz – reflexo de mais uma transação atrapalhada do passado, dessa vez pelo armador Marcus Williams, que disputou apenas seis partidas pelo time e hoje está na Europa.

O interessante é isto: o artigo de Simmons foi publicada em 21 de março de 2012, repercutindo justamente essas vaias. Três anos depois, cá estamos diante do time mais badalado da liga americana, com uma das campanhas mais impressionantes da história. Lacob pode ter cometido uma gafe daquelas ao anunciar um time competitivo naquele ano, mas, logo no campeonato seguinte, veria seu projeto bem encaminhado. Como conseguiram isso?

Com um pouco de sorte, algo que não dá para se relevar nunca. se David Kahn tivesse preferido Steph Curry a Jonny Flynn, qual seria o curso da história? Mas também com decisões práticas e inteligentes, como na montagem de uma diretoria plural, com diversas personalidades fortes, mas de formações diferentes, gerenciada por Bob Myers, um dos tantos agentes que viraram a casaca nos últimos anos. Entre as cabeças pensantes, destaque também para um vencedor como Jerry West, a quem convenceu que deixasse a aposentadoria de lado para ser con$ultor. Tudo o que ele toca vira ouro, gente.

O aproveitamento no Draft tem sido excelente. De 2011 para cá, o Warriors apostou em Klay Thompson (11º em 2011, numa cotação acima do que os especialistas previam) e fez a rapa em 2012, com Harrison Barnes (a sétima escolha, que quase foi do Utah), Draymond Green (um hoje inacreditável 35º lugar) e mesmo Festus Ezeli (bastante útil para quem foi selecionado em 30º). Apenas o sérvio Nemanja Nedovic, 30º em 2013, não vingou – o clube abriu mão do jovem armador muito cedo, mas foi mais uma decisão financeira, para evitar multas e permitir a contratação de atletas prontos para completar a rotação agora. No ano passado, não tinha escolhas.

Isso pelo fato de ela ter sido enviada para o Utah Jazz, mas não pela transação de Barnes – e, sim, em outro rolo mais ambicioso, numa troca tripla que resultou na chegada de Andre Iguodala. Foi um movimento surpreendente do Warriors, que se desfez dos salários de Richard Jefferson, Andris Biedrins e Brandon Rush para criar o espaço necessário para a absorção do volumoso contrato do talentoso ala. Outro jogador caro que foram buscar, mais desacreditado no mercado, é verdade, foi Andrew Bogut, o pivô ‘xerifão’ que buscavam desde, hã, 1994, assumindo um risco, devido ao seu histórico hospitalar preocupante. De qualquer forma, não dá para ignorar o fato de que também se desfizeram nessa de Monta Ellis, figura que limitaria o progresso de Thompson e, principalmente, Curry, com quem também assinaram um acordo  questionável em 2012: uma extensão contratual de quatro anos por US$ 44 milhões. Hoje, esse vínculo talvez seja a maior pechincha da NBA.

Os movimentos mais importantes da gestão, contudo, parecem ser aqueles que eles não fizeram. Para começar, deixaram que valiosos reservas como Jarret Jack e Carl Landry partissem, depois de eles terem se valorizado excessivamente em Oakland. Até que, no ano passado, resistiram bravamente à tentação de enviar Thompson para Minnesota, em troca de Kevin Love. Aqui não tem nada de sorte. Houve intensos debates a respeito, com Lacob pressionando para que levassem o negócio adiante, enquanto Jerry West era veemente contra, assim como Steve Kerr.

Kerr, aliás, é outra história. O estreante treinador estava apalavrado com Phil Jackson e o New York Knicks, mas o Warriors se movimentou apressadamente, com um certo desespero, para demitir Mark Jackson, apenas quatro dias após a derrota para o Los Angeles Clippers, pela primeira rodada dos playoffs. Jackson havia acumulado 121 vitórias e 109 derrotas no cargo. Era o treinador mais bem-sucedido do clube desde a primeira era Don Nelson. Uma decisão complicada, mas motivada pela quebra de confiança na relação entre a comissão técnica e a direção, mas também pelo feeling de que Kerr seria o homem certo para dar o próximo passo. Adiantando a fita um ano, não há muito o que contestar. A maré virou para o Golden State, e o torcedor mais fanático pode dizer que este é um karma dos bons, mais que merecido. Espiem novamente a lista acima e ousem discordar.

PS: Nesta quinta, a trajetória do Cleveland Cavaliers em torno de LeBron James.


Loteria da NBA sorri para o torcedor do Lakers (e de Minnesota)
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Giancarlo Giampietro

Roda a roda! Bingo! Quem dá mais?

Parece gincana até, mas a loteria da NBA é coisa séria. Ou melhor, a liga americana conseguiu transformar até mesmo o sorteio da ordem de seu recrutamento de calouros num grande evento para TV. Um trabalho de marketing, de valorização do produto incomparável, fale a verdade. A audiência desta terça teve a maior audiência desde que a ESPN passou a transmitir a cerimônia, com um aumento de 10% em relação ao ano passado. Ajuda, claro, que Los Angeles Lakers e New York Knicks estivessem envolvidos no processo.

Para quem não viu, a ordem dos dez primeiros ficou a seguinte:

NBA Draft order, 2015

Pois é. O Minnesota Timberwolves, a pior campanha da temporada, conseguiu, hã, defender sua posição no topo da tabela, enquanto o Knicks, vice-lanterna, caiu para quarto. O Los Angeles Lakers, numa condição extremamente preocupante, poderia se ver obrigado a ceder sua escolha para o Philadelphia 76ers, caso ficasse fora do Top 5. Acabou, para alívio geral de Byron Scott, pulando para segundo. Enquanto o Philadelphia 76ers, que no final das contas não conseguiu ter nem mesmo o maior número de derrotas em seu questionado projeto, continuou em terceiro.

Alguns comentários, então, a respeito:

– Caso Flip Saunders não tente fazer nenhuma loucura, o Minnesota Timberwolves vai ter em seu elenco o número um dos últimos três Drafts. Isso jamais aconteceu na história da liga. E quem deve ser o primeiro colocado, o escolhido? A esmagadora maioria dos scouts aponta o jovem pivô Karl-Anthony Towns, de Kentucky, como o melhor prospecto. O torcedor brasileiro mais antenado vai lembrar que Towns já enfrentou a seleção brasileira vestindo a camisa da República Dominicana. É um talento formidável, mesmo, com muita versatilidade no ataque e uma presença defensiva respeitável. Tem apenas 19 anos e talvez só não esteja pronto para causar impacto imediato. Mas é visto como uma aposta segura em seu desenvolvimento. Acontece que, segundo as especulações de bastidores, entre todos os principais candidatos ao topo do Draft, o Wolves seria o único na dúvida entre Towns e o imenso Jahlil Okafor, de Duke. Saunders e seu estafe não estariam tão preocupados assim com as supostas deficiências do pivô (a falta de mobilidade ou interesse na defesa e o lance livre deficitário). Lembramos que Okafor começou a temporada por Duke como o candidato mais badalado, mesmo.

– Os dois são os favoritos a primeira e segunda escolhas. O que quer dizer que estariam dividos entre os lagos de Minnesota e os Lakers de Los Angeles.

Minneapolis_lakers_logo(…)

Sacou?

(Tu-tu-tun-tá!)

Para quem não pegou, o trocadilho vem do apelido Lakers. Não existem lagos em Los Angeles, gente. Essa foi apenas uma herança de uma franquia que saiu dos arredores da geralmente gélida Minneapolis para se basear em Hollywood, perto da praia. Uma mudança pouco estratégia, não é verdade? Aliás, a contraposição dessas duas cidades já gerou logo na noite do Draft a especulação de que os agentes dos novatos mais bem cotados possam fazer jogo duro com o Wolves, tentando empurrar seus clientes para o Lakers, que, além de qualquer fator geográfico ou climático, ainda é a segunda franquia mais vitoriosa da liga, a despeito dos fracassos recentes.

E aí? Quem está disposto a ser maltratado por Kobe?

– Só para ficar no clima piadístico ainda, talvez o fato mais comentado  que a própria definição do Wolves como o primeiro colocado – e a do Lakers, como segundo – tenha sido o de que Jahlil Okafor conseguiria segurar até 13 bolas de tênis em uma de suas mãos. Sim, mais de uma dúzia. Ver para crer:

A brincadeira aconteceu em um estúdio de gravação do Bleacher Report

A brincadeira aconteceu em um estúdio de gravação do Bleacher Report

Com a seguinte imagem, fica mais fácil de entender como é bem possível essa quantia:

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 – Sobre o Knicks: Phil Jackson não compareceu ao evento, que, talvez para os padrões vencedores do Mestre Zen, pode parecer humilhante. Os jornalistas mais combativos de Nova York, porém, relembraram o fato de Pat Riley ter subido ao palco no ano em que o Miami Heat teve a pior campanha de sua história. Fato é que, antes de tentar seduzir agentes livres para jogar ao lado de Carmelo Anthony e aceitar o sistema de triângulos, Jackson vai ter de se concentrar no Draft e caprichar na quarta escolha – ou trabalhar com o telefone sem parar para encontrar alguma proposta que lhe agrade. Seria uma bobagem o Knicks trocar o pick. Afinal, vai ter a chance de adicionar um jovem, barato e provavelmente talentoso jogador ao seu elenco. Caso queira fazer uma troca, vai ser obrigado a assimilar um salário muito provavelmente bem maior e que poderia interferir até mesmo nos planos a partir de julho. Sim, o técnico mais vencedor da liga, mas um executivo inexperiente ainda, está sob pressão, depois de uma campanha ridícula em Manhattan.

– A lista dos representantes dos clubes na loteria contou com gente como Larry Bird, Russell Westbrook, Byron Scott, Vlade Divac, Alonzo Mourning e Nerlens Noel. Cabia, então, para o Knicks um Jackson ou um Carmelo, não? Pelo menos alguém mais carismático – e que tenha muito mais responsabilidade sobre os problemas nova-iorquinos – do que o gerente geral Steve Mills. “Acho que estamos abertos a muitas coisas”, disse Mills, após a decepção do quarto lugar. “Sabemos que podemos conseguir um bom jogador nessa escolha, mas estamos abertos a conversas com os outros times e avaliar opções diferentes.”Se o Knicks mantiver seu posto no Draft, deve se dividir entre os armadores D’Angelo Russell (mais técnico, chutador, comparado a James Harden) e Emmanuel Mudiay (atlético, explosivo, no estilo de um Derrick Rose), dependendo de quem sobrar. O ala Justise Winslow, campeão por Duke, também correria por fora. Dia desses, inclusive, foi a um jogo do Yankees com Carmelo.

– Ficar em terceiro talvez tenha evitado mais dor-de-cabeça ao torcedor do Philadelphia 76ers. Sim, estamos cientes que os mais fanáticos abraçaram o projeto de Sam Hinkie com ardor, confiando naquilo que já se chama de O Processo, com caixa alta. O Processo é como se fosse uma pessoa já, sempre presente na tomada de decisão do dirigente. De qualquer forma, voltando ao ponto: a não ser que Wolves e Lakers sobrevivam, não vai passar nenhum pivô por eles, o que empurraria Philly para a seleção de Russell ou Mudiay, que cobririam a lacuna deixada por Michael Carter-Williams. Empilhar Okafor com Joel Embiid e Nerlens Noel não faria o menor sentido, ainda que o discurso seria o de que Hinkie não se importa com o entrosamento do time agora e esteja pensando no futuro.

– No final das contas, não teve nenhum susto. Do tipo: o Utah Jazz saltar da 12ª posição para a terceira. Se fosse o caso, a torcida do blog ficaria para Indiana Pacers e Oklahoma City Thunder, dois clubes que não tinham a menor intenção de participar da loteria, mas se viram forçados a entrar na roda devido a uma sucessão de graves lesões. Um novato de ponta seria uma bela recompensa. Não rolou: continua, respectivamente, em 10º e 14º. Vestido desta maneira, porém, não havia como Wess dar sorte ao seu clube:

Mais uma edição da Russell Fashion Week

Mais uma edição da Russell Fashion Week

– Uma atualização sobre Georginho e Lucas Dias: os dois estão treinando numa academia no Arizona neste momento, se preparando para um giro de treinos/testes individuais com os clubes americanos. A procura está grande, e pelo menos seis convites já foram feitos. Ambos estão listados para participar do adidas Eurocamp em Treviso, entre os dias 6 e 8 de junho. Danilo Fuzaro, que passa a ser discutido com mais frequência e aparecer nas projeções pré-Draft, também aguarda um convite para o evento, que dá exposição boa não só para os times americanos como também para grandes clubes europeus.


Lucas Dias no Draft, pronto para mais um teste
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Giancarlo Giampietro

Lucas Dias, NBA Draft, Pinheiros, 1995

É algo que, confesso, sempre me admira. Quando você vai conversar com um jogador jovem, é preciso todo o cuidado na hora de elaborar as perguntas, deixar bem claro o que está abordando, o que seria minha própria opinião e aquilo que tomo como fatos, o que você ouve a respeito de determinado assunto ou caso que possa ter envolvido o garoto.

Quando começa a entrevista, então, também não é raro que o dono do microfone se veja surpreendido: por mais tenra idade, muitos desses atletas já têm boas histórias para contar. Aconteceu em muitos casos comigo em coberturas de Mundiais Sub-Alguma-Coisa de futebol. A galera do atletismo. Do vôlei. Etc. Especialmente quando falamos de um país como o Brasil, com toda a sua dimensão e seus problemas, causos geralmente não faltam em suas trajetórias. Lembro de um papo agradável e revelador, por exemplo, com o volante Rômulo, ex-Vasco, saindo de Picos, no Piauí, para, hoje, morar na Rússia. Mas, enfim, obviamente não é sobre o meio-campista o artigo.

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Lucas Dias não veio de tão longe assim para um jornalista baseado em São Paulo, tendo saído de Bauru. Mas o ala do Pinheiros, um dos quatro candidatos brasileiros ao Draft da NBA, já tem realmente uma trajetória que deu e dá o que falar, estando a dois meses de completar 20 anos de idade. A pressão desmedida que uma das grandes apostas do basquete nacional enfrentou em temporadas anteriores já foi abordada aqui. Agora, é hora de abrir espaço para o ala falar a respeito do peso que lhe foi atribuído, mas decididamente não apenas sobre esse tema em – aquela que era para ser uma entrevista de 15, 2o minutos acabou durando exatos 54min05s, nas vizinhanças do clube Pinheiros. Isso, claro, com o atleta se dizendo “tímido” durante a gravação.

É interessante notar como ele já foi submetido a bons testes durante a adolescência. Mas nem é preciso fazer muito drama aqui, por mais que seja mais uma história de alguém que saiu bem cedo de casa, foi para a capital, vindo de origem humilde. Não é dessa forma que Lucas encara as coisas, mesmo. Sabe que enfrentou alguns momentos difíceis, mas não os glamoriza. Gosta de repassá-los em sua cabeça, é verdade, mas muito mais como fatores de motivação e também por força do hábito. “Sou daqueles que vai deitar e não tira a história da cabeça”, afirma ao VinteUm.

Mais agressivo pela LDB 2014

Mais agressivo pela LDB 2014

Para o repórter, então, fica mais fácil de retransmitir:

Teste 1: vida de atleta, em São Paulo, aos 14 anos
Lucas Dias Silva não foi o primeiro a deixar a família, em Bauru, para tentar dar um salto com suas pretensões basqueteiras. O irmão Diego (ou Diegão), pivô, embarcou para Belo Horizonte um tempo antes, para jogar na base do Minas Tênis. A mãe, Neia, já havia chorado quando ele saiu. Mas comigo foi mais. Ele já era mais velho, tinha sua confiança. Não que eu não tivesse, mas eu era muito novo na época, só com 14 anos”, afirma. De qualquer forma, quando estava preparado para se mudar para São Paulo, o irmão retornou, o que acabou compensando, de alguma forma. “Foi uma coincidência boa”, diz.

Federado : )

Federado : )

A mãe passou duas semanas com o filho na capital para facilitar a transição. Isso era janeiro de 2010, depois de o então pivô ter sido aprovado em testes em julho do ano anterior. A mudança levou um tempo para ser realizada, enquanto jogava pelo time da Associação Luso Brasileira em sua cidade natal – enquanto os primeiros treinos haviam sido pelo Greb (Grêmio Recreativo Energético de Bauru).  “Comecei com meu irmão. A gente trabalhava na rua entregando folheto. De repente, parou uma técnica do lado dele, dizendo que tinha potencial para jogar. Ele estava com 14 anos e foi treinar. Ficou lá umas duas semanas, enquanto eu estava na minha, estudando, brincando, jogando futebol, essas coisas. Ele cuidava de mim naquela época e perguntou seu eu queria treinar. Minha mãe trabalhava, também meu pai. Topei e comecei a gostar do basquete. Tinha nove anos”, relembra.

O progresso foi rápido e, cinco anos depois, era indicado para a base do Pinheiros, coordenada por Telma Tavernari. Impressionou a todos prontamente, entre eles o técnico Danilo Padovani. “Logo no primeiro dia já disseram que gostaram muito de mim perguntaram se eu queria ficar para assistir ao jogo do adulto”, conta, rindo. “Quando voltei, eles deram a maior força para mim e cuidaram da minha família também. Foram pessoas que entraram na minha vida, assim como meu técnico em Bauru, o Marco Aurélio, que não me forçou ficar.”

Assim como a mãe não ficou na metrópole. “Na primeira semana que ela foi embora, o primeiro fim de semana sem ela… Foi uma sensação muito ruim. Em Bauru, tem uma feirinha que a gente gosta ir aos finais de semana. Todo o domingo, era o passeio da família. Ficar sem isso, sem esse tipo de coisa, a ida à igreja com ela. Foi difícil”, diz. Hoje, o contato com a mãe acontece quando consegue viajar para sua cidade. Quando tem jogo pelo NBB ou pelo Paulista, tem torcida infiltrada entre os bauruenses.

Avançando com a carreira, Lucas teve de se virar para concluir os estudos. No primeiro ano, tudo corria bem. “Não tinha seleção, não era conhecido, conseguia manter. Mas no ano seguinte comecei a fazer parte daquela seleção  permanente, ficando seis meses com eles (em São Sebastião do Paraíso, em Minas Gerais). Lá não consegui. Era para ser à noite, mas tinha treino de manhã e de tarde. Não dava para descansar. Fui levando não sei como, não só eu, mas os outros também. Quando voltei, retomei a escola anterior. Treinava em duas categorias aqui no Pinheiros, e aí o adulto também me chamou. Era sair 10h da escola para vir ao clube. Foram dois anos para terminar a escola. Houve também as viagens. Mas o bom é que a escola (estadual Ministro Costa Manso) teve muita paciência, a Costa Manso. Deram trabalho para eu fazer, provas em dias diferentes, abonaram minhas faltas por causa da seleção, o que não eram obrigados a fazer. Graças a Deus terminei. Era algo que minha mãe cobrava muito. A faculdade ela também quer que eu faça, mas sabe que não tenho tempo hoje. A escola era obrigação. De qualquer forma, se fosse passar por tudo de novo, passaria”, afirma.

Acompanhe a cobertura do 21 para o NBA Draft:
>> Qual o cenário para os quatro brasileiros inscritos?
>> Georginho conclui Nike Hoop Summit com status no ar
>> Técnico americano avalia o potencial de pinheirenses
>> Apresentando Georginho, o próximo alvo da NBA
>> Lucas Dias: da impaciência ao desenvolvimento

Teste 2: a fama precoce e as cobranças
Em 2011, Lucas foi disputar seu primeiro torneio internacional: o Sul-Americano, sendo um ou dois anos mais jovem que a maioria de seus companheiros. Foram campeões de forma invicta, vencendo a Argentina duas vezes. Algo raríssimo em tempos recentes de competições de base. Logo… Chamaram a atenção. “Todo mundo falava que nossa seleção era fraca, que não ia chegar a lugar nenhum. Quando vencemos a Argentina, invictos, começaram a assediar um pouco”.

Lucas, nos treinos para o Sul-Americano em Cúcuta, na Colômbia

Lucas, nos treinos para o Sul-Americano em Cúcuta, na Colômbia

No ano seguinte, veio uma convocação surpreendente para a disputa do amistoso internacional do Jordan Brand Classic, evento que reúne, nos Estados Unidos, alguns dos jovens mais promissores do mundo. Quando questionado a respeito daquela experiência, os olhos do garoto brilham. “Vou falar para você”, anuncia. (Então deixe ele contar… Que a história é divertida. Está nas notas abaixo). Fato é que, com 18 pontos e 12 rebotes, o brasileiro foi eleito MVP da sua equipe, num evento do qual participou, entre outros, Domantas Sabonis, filho do legendário pivô lituano e hoje destaque da Universidade de Gonzaga, nos EUA.

Aí você imagina a repercussão. Para uma modalidade há muito carente de conquistas internacionais, o bafafá foi grande. Para completar, veio a Copa América Sub-18 em São Sebastião do Paraíso. A seleção foi vice-campeã, perdendo para os Estados Unidos na final. No meio do caminho, bateram um Canadá fortíssimo, com direito a Andrew Wiggins, Tyler Ennis e Trey Lyles em quadra. Definitivamente não é pouco. O elenco americano tinha: Marcus Smart, Julius Randle, Jerami Grant e Jarnell Stokes, todos já na NBA, e Sam Dekker e Montrezl Harrel, a caminho. Lucas brilhou, com médias de 15,6 pontos, 8,4 rebotes e 1,4 toco, convertendo 52,9% de seus arremessos de três pontos. Combinava envergadura e faro para a cesta.

De novo: era um ano mais jovem que a grande maioria dos adversários. Então você pode imaginar como as coisas ficaram. “Nossa seleção mostrou que podia competir com aqueles caras, chegando junto no jogo, correndo de igual para igual, e até mesmo com um jogo de contato. Só não deu para manter o ritmo na final. “Foi uma experiência legal, de ver onde a gente poderia chegar e conferir meu nível também”, diz Lucas.

Foi nessa época que o garoto passou a conviver com nós, abelhudos da mídia. Teve de aprender a se comportar diante dos jornalistas na marra, depois de um ou outro tropeço natural. As expectativas em torno do jogador basicamente saíram do controle. Quando chegou o Mundial Sub-19 em 2013, e o time venceu apenas três de seis partidas, contra China, Irã e Senegal e terminou em nono, uma posição frustrante. Um tremendo baque, e as primeiras críticas mais pesadas.  Do ponto de vista pessoal, foi difícil assimilar um rendimento de 6,4 pontos, 3,8 rebotes e, principalmente, os poucos minutos que teve (22,5). “Toda a seleção jogou mal”, afirma. “Ali comecei a me sentir mais pressionado. Todos esperavam um desempenho bom de nós, e o foco estava em mim. Acho que não estava preparado para isso.”

Lucas Dias x Domantas Sabonis no Jordan Brand Classic

Lucas Dias x Domantas Sabonis no Jordan Brand Classic

Teste 3: a fossa e a concorrência interna
“Quando voltei para o Pinheiros, não acreditava no que havia acontecido, justo naquele campeonato”, diz Lucas. O semblante muda nitidamente ao falar sobre a campanha. É difícil saber o que machucou mais: o que se falava pela rede, ou o que se passava pela cabeça do jovem que completara 18 anos durante a competição em Praga. “Comecei a me cobrar bastante. Eu mesmo me sentia pressionado. Aqui no Pinheiros nunca ninguém chegou cobrando dessa forma. Mas fiquei muito chateado. Foram uns quatro meses pensando na mesma coisa. A gente jogando aqui, mas minha cabeça não estava boa.”

Se houve algum ponto positivo para ser tirado, era o simples fato de ter saído um pouco do radar depois daquela tremenda decepção. Acontece em muitos lugares, mas no Brasil, sabemos bem, caprichamos: com a mesma rapidez que se infla uma história, facilmente pode-se virar as costas para ela. Para o jogador, depois de curtida a fossa, o evento acaba valendo como um marco pessoal, de toda forma. “Depois, entendi que aquele momento de decepção poderia ter acontecido para o bem. De que se aquele Mundial não correu bem, se eu tivesse um próximo Mundial, ou qualquer campeonato grande desses, que não ia deixar isso acontecer de novo. Comigo, não”, assegura. “Foi um momento de decepção para todo mundo. Se formos ver, muitos daqueles jogadores estão se destacando hoje: Deryk (Ramos) em Limeira, o Danilo (Fuzaro) em Minas, cada um subindo de pouquinho e pouquinho, se lembrando daquele Mundial, fazendo o que não mostrou naquela época. Foi bom para a gente. Não foi bom para o Brasil, mas, no pessoal, teve uma boa repercussão.”

Da Copa América (foto) para o Mundial, queda geral de rendimento

Da Copa América (foto) para o Mundial, queda geral de rendimento

Enquanto colocava a as coisas em ordem, começava a despontar em seu clube outra sensação. Mais uma contratação pontual do Pinheiros, vindo de uma cidade com nome até parecido: Barueri. Sim, estamos falando de Bruno Caboclo. Só mesmo o basqueteiro nacional mais hardcore o conhecia. Mas isso mudaria rapidamente, depois de suas exibições pela LDB. O ala, hoje coqueluche em Toronto, era o dono do time juvenil que competia na liga de base. Ainda que tivesse a mesma idade, Lucas, a essa altura, treinava em tempo integral com o adulto, ao lado do comparsa Humberto. (“É o companheiro que vou levar para a vida inteira. Podemos até brigar em quadra, mas estamos sempre juntos.”)

“Depois do Mundial, deu acalmada, e comecei a trabalhar mais empenhado no Pinheiros. Aí chegou o Bruno também, e o foco foi totalmente. Fiquei treinando mais duro ainda. Isso também foi outro motivo pessoal para mim, ver o Bruno treinando ali forte. Éramos amigos, mas cada um fazia o seu”, afirma. “No começo foi um pouco difícil. Quando está treinando no adulto, sem muitas chances, enquanto o time juvenil estava na LDB, ganhando destaque. Você queria fazer parte daquele conjunto, ficava meio triste com isso. Todo mundo subindo, e ficávamos eu e o Humberto aqui, sabe? Treinando, enquanto eles estavam jogando, se divertindo, fazendo com que o time crescesse.”

Em 2013, maior rodagem com o time adulto: 14 minutos em média

Em 2013, maior rodagem com o time adulto: 14 minutos em média

Na fase final, Lucas e Humberto reforçaram o Pinheiros na fase final da LDB e integram o time que conquistou o terceiro lugar: “Eu ficava pensando sobre como seria nossa seria chegada. Se ia piorar, se ia melhorar. O time comigo, Humberto, Bruno e George seria diferente. Fui para lá para ajudar a equipe, fiz bons jogos, mas não foi a LDB que eu esperava para mim. Isso foi, então, outra motivação para voltar melhor na (edição) seguinte. Não via a hora que começasse outra”. Um consolo foi retornar ao time principal para os playoffs do NBB 6 e ganhar minutos no playoff contra Mogi, produzindo. “Consegui botar em prática o que estava encontrando em meu jogo. Fomos eliminados, outra sensação ruim, mas estava me preparado já para a próxima temporada.”

Teste 4: a retomada
Ainda que estivesse jogando com o juvenil e curtindo a boa fase daquele time, não quer dizer que Lucas não se divertia do seu jeito. Nos treinos do adulto, era o alvo prioritário dos veteranos, sempre pontos para desafiá-lo. Pode pensar aí em Shamell e Márcio Dornelles… “Nossa, eles estavam sempre pegando no meu pé (risos)”, conta, bem-humorado. “Olha, só quem viu para poder falar. Tinha dia que eu saía bravo com eles, com um bico para o lado. Mas eles me chamavam e diziam que era para o meu bem. No coletivo era mais o Márcio, que batia. Depois do treino, era mais o Shamell, no um contra um, por várias horas.”

Título da LDB ficou com o Basquete Cearense; Lucas terminou como cestinha

Título da LDB ficou com o Basquete Cearense; Lucas terminou como cestinha

Depois de tantos treinos e aulas práticas dessa, Lucas se sentia pronto para arrebentar em quadra. Houve uma diferença, no entanto: dessa vez ele teria muito mais minutos com as equipes menores do que no adulto. “Foi um pouco desgastante no fim. Tinha dia que treinávamos com o adulto, jogar com o juvenil ou LDB. Teve uma semana que jogamos em Osasco com o Juvenil e voltamos para disputar a LDB, ainda treinando com o adulto. Mas foi uma temporada de colher o que se plantou durante todos os treinos, com muita paciência depois daquele Mundial.”

Na liga de desenvolvimento, foi o principal jogador, com médias de 20,8 pontos,  9,4 rebotes, 1,9 roubo, 1,5 assistência, em 32,1 minutos. Estabeleceu o recorde histórico de pontos (44) e de índices de eficiência do campeonato. “Consegui jogar em alto nível, foram jogos maravilhosos, para quebrar alguns recordes. Também fui eleito o melhor jogador da categoria juvenil no país. Fico quieto no meu canto. Os caras podem falar o que achar de mim, mas vou ficar no meu canto fazendo o que preciso. E o time fez uma grande LDB, mesmo que não tenha ficado entre os três primeiros.”

A frustração mais significativa da temporada 2013-2014 acabou sendo o papel limitado que teve na equipe de Marcel de Souza no NBB 7 – algo, aliás, cobrado por muita gente nos bastidores. Mas as chances reduzidas aos mais jovens não foi algo específico, particular ao Pinheiros. Poucos jogadores sub-23 tiveram espaço, ou, pior ainda, protagonismo em seus clubes. Lucas entrava e saía do time.

“No caso de nós três (Lucas, Georginho e Humberto), fiquei um pouco pensativo a respeito, de não termos jogado. Nunca critiquei. O Marcel era quem decidia. Acho que, pelo trabalho que vinha fazendo, merecia um pouco mais de tempo e que poderia ajudar a equipe. Mas nunca vou chegar no técnico e falar que tenho de jogar. Talvez fosse medo de não prejudicar a gente. Não tenho nada contra”, afirma o ala. “O mais curioso é que, para mim, o time do ano passado era muito mais forte que o deste ano, tinha mais investimento, e eu recebi mais minutos, mesmo achando que neste ano eu estava muito melhor. Chegando em casa bravo, minha namorada (Larissa) podia ver. (Risos)”

No final, Lucas teve médias de 11,3 minutos por jogo, depois de 14,1 minutos na campanha anterior. “Todo mundo esperava que eu talvez jogasse pelo menos uns dez minutos regularmente, mas nem isso. O Humberto apareceu agora só no finalzinho, nos playoffs, por causa da defesa”, afirma. “Acabou a temporada, não posso ficar remoendo o que já passou, mas agora tenho objetivos maiores.”

Lucas Dias: foi difícil de pará-lo na última LDB

Lucas Dias: foi difícil de pará-lo na última LDB

Teste 5: aqui estamos
O próximo passo é o Draft da NBA. O fato de o ala ter sido convidado para participar do Combine em Chicago mostra que desperta o interesse dos dirigentes. O que não signifique que tenha escolha garantida no dia 25 de junho, em Nova York. Nas próximas semanas é que as discussões vão esquentar. No momento, Georginho é o atleta nacional mais comentado. Humberto também está inscrito, assim como Danilo Fuzaro – mas ambos devem retirar seus nomes da lista até o dia 15 de junho, prazo para que uma decisão seja tomada.

Quanto mais os scouts avaliarem os jogos do Pinheiros na temporada, a tendência é que seu nome surja com mais força, devido a uma combinação de estatura (2,11 m, segundo as medições recentes do Pinheiros) e capricho nos arremessos de média para longa distância. “No final das contas, é provável que ele seja o mais habilidoso do trio do Pinheiros”, afirmou um olheiro da Conferência Oeste ao o VinteUm. Sua grande chance para impressioná-los vai acontecer em junho, no adidas Eurocamp em Treviso, o camp que reúne boa parte dos melhores jogadores até 22 anos fora dos Estados Unidos.

Versátil, Lucas será propagandeado como um possível “strecht four”, o ala-pivô aberto, uma função tática em voga no basquete internacional. É algo que os treinadores da IMG identificaram e que assimila o talento para chute e rebote do brasileiro. “Vai depender da ocasião, não tenho preferências. Na Copa América Sub-18, no nosso time sub-22, falavam também em me usar como um três, para o time ficar mais alto, forte no rebote. Não tem posição fixa. Acho que depende do jogo, cada um pede uma coisa. Entre as duas posições, acho que consigo render da mesma forma.”

“Tomara que aconteçam algumas coisas melhores para a minha vida agora. Estou torcendo muito para isso. É o objetivo maior. Acho que cada jogador de basquete que pega uma bola começa a sonhar com a NBA. Seria uma satisfação fechar esse ciclo com uma grande notícia, de estar lá. Aí começaria um novo ciclo, lembrando o que passei”, diz. “Agora, se não for para este ano também, não vou me decepciona. Vou ficar pensando uns três meses nisso, claro mas depois segue em frente.”

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Lucas Dias relembra sua participação no Jordan Brand Classic de 2012, em Charlotte:

“Naquela seleção permanente, tinha um moleque da minha idade que já havia sido chamado para este jogo, o Guilherme Saad. Fiquei interessado, vendo que ele foi chamado, sabendo que havia  participar de um evento desse. Depois disso aí esse Jordan não tinha saído da minha cabeça. Seria uma oportunidade legal para mostrar meu jogo para todo mundo. Passou um tempão até o (então diretor de basquete pinheirense, João Fernando) Rossi chegar e falar do convite. Fiquei umas duas semanas só pensando nisso, no Jordan, no Jordan… Aí quando deu uns dois dias antes de viajar para o evento, liguei meia noite para o Rossi e disse que não queria ir. Não sei o que aconteceu comigo, mas não queria mais”.

Ele conversou comigo, perguntou o que tinha, falei que estava com medo de jogar mal lá. Mas me convenceu e mandou o Brenno (Blassioli, ex-técnico da base) comigo. A experiência foi toda diferente, mesmo, de tudo o que havia feito, até da seleção. Antes do jogo teve uma palestra, para pegar o diplominha do evento. Falei para o Brenno que estava ansioso, mas confiante para mostrar o que podia. Até brinquei com ele que, se Deus quisesse, poderia até rolar um MVP (risos). Ele: ‘Pára de pensar isso, só pense em fazer seu jogo’. Sempre quando boto uma coisa na mente, quando deito a cabeça no travesseiro, fico pensando. E foi isso: ‘Amanhã é o dia, amanhã é o dia’…”

“Entrei no ônibus, achando que as pessoas estavam olhando estranho para mim, aquela paranoia. Quando entrei na quadra para aquecer, já senti que era o dia. Sobe dois, e foi uma sensação muito gostosa. Ginásio cheio, parecia que minha família estava do meu lado. Se algo dava errado em quadra, era como se algum deles estivesse me apoiando.. Cada lance eu lembrava das primeiras semanas aqui em São Paulo, da minha mãe, da minha namorada (Larissa) dando força. Quando chegou a premiação, foi a melhor coisa. Não sabia o que fazer. Se ficava em quadra, se ia pro vestiário, se ia falar com o Brenno, se ligava para a minha mãe, se ia para a arquibancada. Na hora de comer, não acreditava, não estava lúcido. Era uma coisa gigantesca para mim. Ali foi o começo, cara. Uma gratificação muito boa.”

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Lucas hoje está treinando no Pinheiros, em sua preparação para o recrutamento de calouros da NBA, dia 25 de junho. A ideia era que ele estivesse bem distante dali, em Chicago, onde está sendo realizado o Draft Combine. O ala recebeu o convite da liga, mas teve de recusar devido a uma torção de tornozelo que sofreu contra o Brasília, pelos playoffs do NBB. Já está recuperado, mas não viajaria nas melhores condições para ser, hã, testado contra jogadores muito mais experimentados, aos olhos de centenas de dirigentes e scouts.

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Lucas também fala sobre os treinos que teve no mês passado na academia IMG, na Flórida, ao lado de Georginho: “Foi pauleira. Você aprende umas coisas diferentes, uns detalhes que nunca percebe de movimento de perna, em seu arremesso, seu corte, bloqueio, tomar posição no pivô, jogar lá dentro etc. Uns detalhezinhos que você acha que já estão certos, mas que podem ser corrigidos. Ali aprendi muito. Que preciso melhorar demais, mas que posso chegar a um nível alto, que tenho capacidade, o talento e o físico. Você não pára nunca, é o tempo inteiro com eles cutucando. Na primeira noite nem consegui levantar da cama direito, algo que nunca havia sentido. A intensidade muito alta. Se treinar com aquela intensidade, sei que posso melhorar muito. Acho que minha cabeça voltou diferente nesse sentido: posso pegar o treino que aprendi lá e fazer aqui. Não preciso que alguém me coloque no colo e leve para treinar. Só preciso fazer. Comecei a fazer isso na primeira semana, nas no primeiro jogo contra Brasília torci o pé. Nada grave. Nada grave. Tenho de agradecer ao Edu (Eduardo Resende, seu agente) por proporcionar isso para a gente.  Ele é o que tem mais paciência com a gente.”