Vinte Um

Arquivo : CBB

CBB divulga time do Pan, rodeada por questões financeiras e políticas
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Um dos treinadores da seleção no Pan está na foto

Um dos treinadores da seleção no Pan está na foto

Começou, e daquele jeito.

ACBB divulgou nesta segunda-feira a primeira lista de Rubén Magnano para a temporada 2015 da seleção brasileira. Foram 12 atletas relacionados para a disputa do Pan de Toronto, a partir do dia 21 de julho. Não consta nenhum  nome da NBA. Em relação ao time da Copa América do ano passado, são apenas três caras. Até aí tudo normal, compreensível. O inacreditável, mesmo, é que, a menos de dois meses para a competição, o argentino não sabe se vai para o Canadá, ou não, já que a Fiba ainda não se posicionou de modo definitivo a respeito de uma vaga para o Brasil no torneio olímpico do Rio 2016.

Para quem está por fora do ba-fa-fá, é isso aí: a federação internacional faz jogo duro e ameaça acabar com essa história de posto automático para o país-anfitrião nos Jogos. Algo com que até mesmo a Grã-Bretanha, sem tradição alguma, com um catado de jogadores, foi agraciada em 2012. Por quê? Pelo simples fato de a CBB enfrentar problemas para pagar uma dívida com a entidade, conforme relatam Fabio Balassiano e Fabio Aleixo. Dívida que decorre do pagamento de US$ 1 milhão por um humilhante convite para a disputa da Copa, depois de um fracasso na Copa América de 2013, no qual a seleção saiu sem nenhuma vitória e com derrotas até para Jamaica e Uruguai. Lembrando que faz tempo que a confederação nacional está no vermelho e hoje faz um apelo em Brasília por algum patrocínio estatal para complemento de renda.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

Quer dizer: nos bastidores, o Brasil já está sendo derrotado, e isso não ajuda em nada a vida de um técnico. Seja um campeão olímpico que nem Magnano ou um bicampeão do NBB, como José Neto, a quem caberia o comando da seleção pan-americana caso o argentino precise concentrar esforços na equipe da Copa América, o torneio que classifica as equipes do continente para as Olimpíadas. Ambos os técnicos trabalham juntos há anos, e, numa eventual divisão de esforços, supõe-se que não haverá problema de choque de gestão. Mas, claro, não é um cenário ideal.

Escritório de Carlos Nunes ainda aguarda o fax da Fiba

Escritório de Carlos Nunes ainda aguarda o fax da Fiba

Há dois meses, assistindo a embate entre Flamengo e Mogi, numa de suas raras aparições públicas durante a temporada 2014-15, o treinador principal da CBB  julgou que havia “muita possibilidade” de que não iria para o Pan.  O torneio de basquete dos Jogos de Toronto vai ser disputado entre os dias 21 e 25 de julho. Já a Copa América vai ser realizada no México a partir de 31 de agosto. “As datas de preparação batem e não posso me descuidar. O foco está na classificação para os Jogos Olímpicos”, afirmou.

Caçulas da NBA estão fora
Outro conflito de agenda ligado à metrópole canadense resultou na exclusão de dois nomes da lista pan-americana: Bruno Caboclo e Lucas Bebê. No caso, a restrição é da parte do Raptors, a única franquia canadense da NBA, que solicita a presença do ala e do pivô no time que vai disputar a Liga de Verão de Las Vegas de 10 a 20 de julho. Os dois estavam nos planos para esse time mais jovem, mas nem foram convocados. Ao menos este foi um avanço, para se evitar o desgaste de uma convocação que certamente resultaria num pedido de dispensa.

“Quero agradecer ao Magnano por ter sido compreensivo e continuar acreditando em mim. É uma decisão difícil, deixar de disputar um campeonato como o Pan, especialmente na cidade em que eu moro atualmente, mas é um investimento que estou fazendo na minha carreira, preciso me dedicar ao Toronto nesse verão”, disse Bebê, em comunicado. “Ele entendeu meus motivos e agradeço. Deixei claro que pode contar comigo, mas que esse era um momento de mostrar meu basquete e buscar meu lugar no Raptors para a próxima temporada. Quero que o meu futuro seja na Seleção Brasileira, ter a minha história com a camisa do Brasil, e vou fazer o meu máximo para que isso aconteça”, completou Caboclo, no mesmo despacho.

Temporada teve mais atividades extraquadra do que em jogos oficiais

Temporada teve mais atividades extraquadra do que em jogos oficiais

Aqui vale uma observação: o Raptors investiu muito para contratar os brasileiros, e a liga de verão é encarada pela diretoria como um evento importantíssimo para o estabelecimento de ambos os jogadores, que tiveram pouquíssimo tempo de jogo em uma temporada cheia de percalços na liga americana. Ambos precisam mostrar serviço, ainda mais depois do frustrante desempenho que o time teve nos últimos meses, até ser varrido pelo Washington Wizards nos playoffs. Mais: se os dois mal jogaram durante o ano, não dá para dizer que mereciam um lugar automático na seleção. Devido ao potencial, poderiam ser chamados, mas o  justo era que lutassem por uma vaga durante o período de treinos.

Os caras do Pan
Até porque a lista divulgada sob a capitania por Magnano é forte, com alguns nomes jovens, mas já de boa rodagem internacional. O destaque da convocação fica por conta do pivô Augusto Lima, um dos atletas que mais se valorizou na temporada europeia, arrebentando pelo Murcia, da Liga ACB. Raulzinho, seu companheiro de clube, e Rafa Luz, também muito elogiado pelo campeonato que fez pelo Obradoiro, são os demais estrangeiros. De resto, nove caras do NBB, divididos entre os finalistas Bauru (três) e Flamengo (dois), além de Franca, Limeira, Mogi e Pinheiros, com um cada. São eles: Ricardo Fischer, Larry Taylor, Vitor Benite, Leo Meindl, Marcus Toledo, Olivinha, Rafael Mineiro, Rafael Hettsheimeir e Gerson do Espírito Santo.

Rafael, Augusto e Raul: boa temporada na Espanha e entrosamento

Rafael, Augusto e Raul: boa temporada na Espanha e entrosamento

Oito desses atletas disputaram o Sul-Americano de 2014, em Isla Margarita, na Venezuela: os três ‘espanhóis’, Benite, Meindl, Olivinha, Mineiro e Hettsheimeir – ficaram fora Gegê, Arthur, Jefferson William e Cristiano Felício. O que supõe uma continuidade de trabalho. Sob a orientação de José Neto, terminaram u com a medalha de bronze, derrotados pela Argentina na primeira fase e pelos anfitriões na semifinal. Foram partidas equilibradas e inconsistentes de um time com potencial para ser campeão. Fischer estava na lista preliminar, mas foi cortado por lesão. Gerson, uma das boas novidades do NBB, é estreante de tudo. Marcus retorna a uma lista oficial pela primeira vez desde a era Moncho, se não falha a memória. Embora, no meu entender, não tenha feito um grande NBB, Larry aparece como uma espécie de homem de confiança da seleção, tendo participado de todas as principais competições desde 2012.

É um grupo com muito talento, de qualquer forma, com jogadores versáteis e um bom equilíbrio entre velocidade, força física e capacidade atlética. “Formamos um grupo de trabalho que mescla jogadores experientes e jovens que vão atuar pela primeira vez na seleção adulta. O importante é que temos um bom tempo de preparação. Posso garantir que é uma equipe bastante sólida e alguns atletas poderão ser convocados para a Copa América”, disse Magnano, que começará a trabalhar com os atletas no dia 14 de junho, em São Paulo, tanto no Paulistano como no Sírio. Resta saber apenas se ele vai estar no Canadá, ou não. Era para ser uma reposta simples, mas, quando o assunto é a confederação nacional, isso tem se tornado cada vez mais raro.

Boi na linha
Se Magnano não compareceu ao fim de semana do Jogo das Estrelas do NBB, em Franca, em março, o presidente da CBB, Carlos Nunes, ao menos esteve por lá. Em entrevista à repórter Karla Torralba, o dirigente já havia descartado a presença do argentino no Pan. Bom, parece que ele se antecipou um tanto, né? Na ocasião, afirmara que um problema relacionado à mudança do treinador para o Rio de Janeiro seria uma barreira para tanto. Não fazia o menor sentido a declaração. Agora, como vemos, a questão era mais complicada. No mesmo texto, para constar, tivemos mais esta frase aqui: “Vamos ter todos os melhores jogadores. Ainda temos que conversar a liberação dos atletas da NBA, mas a intenção é mandar todos”. Também não foi bem isso o que aconteceu. Havia uma preocupação política: agradar ao COB, lutando por medalha no Pan, para fortalecer o currículo desportivo brasileiro às vésperas de uma Olimpíada em casa. Ainda não sabemos qual o nível das equipes que vai para o torneio. O Canadá promete ser forte – Andrew Wiggins e Kelly Olynyk já sinalizaram que vão participar. Os Estados Unidos, por outro lado, vão com um time alternativo. Mark Few, técnico de Gonzaga, deve mesclar universitários e profissionais, mas não gente da NBA. Talvez atletas da D-League ou do mercado europeu.


Sumido dos ginásios, de mudança, Magnano reaparece em entrevista. E aí?
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Magnano pode ir ao ginásio sem ter de dar treino

Magnano pode ir ao ginásio sem ter de dar treino

A LDB se encerrou nesta terça-feira, em Fortaleza, com o Basquete Cearense sendo campeão, e nada. Ainda pelo mesmo campeonato, foram realizados, na semana passada, dois quadrangulares em São Paulo, e ninguém viu também. Durante transmissões do NBB e da Liga das Américas, nenhuma câmera conseguiu registrar sua presença também.

Rubén Magnano, o treinador da seleção brasileira, está sumido dos ginásios e também andava desaparecido do noticiário. Ao menos agora reaparece para quebrar o silêncio em entrevista para o site da CBB, para explicar o que anda fazendo até chegar o momento de bolar duas convocações para uma Copa América/Pré-Olímpico e o Pan de Toronto.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

Segundo a assessoria da confederação, Magnano compareceu a alguns jogos em São Paulo, sim, no ano passado e tem acompanhado tudo de casa pela TV e também por um programa que lhe permite assistir a todas ligas – muito provavelmente o Synergy. “Felizmente hoje temos à disposição na internet praticamente todos os jogos da Liga de Desenvolvimento e da Liga Nacional. Temos na CBB um programa que nos permite estar muito perto dos nossos jogadores nas ligas pelo mundo”, disse o treinador.

OK, isso é ótimo. Mas, ao mesmo tempo, não passa de dever da profissão, né? E mais: acredito que 10 a cada 10 scouts/técnicos/dirigentes vão dizer que nada substitui a experiência de ver uma partida in loco. Daí o estranhamento por esse chá de sumiço. Até porque Magnano, sabemos, é um junkie de basquete. “Não sei qual o contrato dele com a CBB, mas acho que é um cara que acrescentaria um técnico desse nível assistir ao nosso All-Star Game. Valorizaria o evento”, disse Guerrinha, comandante do Bauru e ex-assistente da seleção, ao VinteUm.

Pedrocão, envelopado e lotado, nove anos depois do fundo do poço

Muita gente foi ao Pedrocão para ver o Jogo das Estrelas

Detalhe: ao site da CBB, Magnano afirma que vai viajar aos Estados Unidos em abril para falar com a legião nacional da NBA. Esse é um assunto interessante que vale uma abordagem mais detalhada mais adiante. Só fica o registro: a liga americana vai se encerrar em maio para a maioria dos brasileiros que lá estão. Vale a pena mesmo conversar eles de modo antecipado, sem saber o que vai acontecer adiante? Enfim, sigamos em frente. E por que a distinção? Por que a turma em atividade nos Estados Unidos (e Toronto) precisa de um bate-papo, e quem está no interior paulista ou Brasil afora não? Já se sabe absolutamente tudo sobre quem está em quadras nacionais? O que eles estejam sentindo não importa?

“Aqui está a maioria dos jogadores que vai trabalhar com ele, para trocar uma ideia”, afirma Guerrinha. “Também sinto falta dos assistentes dele. É muito importante essa troca. Pois também haveria o diálogo com os treinadores, para saber sobre o que está acontecendo, perguntar sobre o Ricardo, o que estou achando do Alex etc. Ninguém fala nada, ninguém conversa nada.”

Ex-treinador principal da seleção, hoje em Franca, Lula Ferreira foi um pouco mais diplomático quando questionado sobre o assunto: “Para poder emitir uma opinião, eu teria de saber o motivo de ele não ter vindo (ao Jogo das Estrelas). Claro que, analisando teoricamente, você espera que num evento desses ou em jogos do NBB, por ser uma pessoa de peso que pode ajudar no crescimento, como tem ajudado. Mas eu não posso julgar sem saber o motivo. Seria leviano da minha parte”.

O Rio de Janeiro acolhe Magnano

O Rio de Janeiro acolhe Magnano

Do seu lado, a CBB dá a entender que esse período de distanciamento em específico tem a ver com a mudança do argentino para o Rio de Janeiro. Em sua entrevista, o técnico afirma que estava em seu país natal até dias atrás. “Eu vim na semana passada da Argentina, cheguei em São Paulo, peguei o carro e vim para o Rio”, afirmou. Aliás, o presidente da CBB, Carlos Nunes, disse à colega Karla Torralba, aqui do UOL Esporte, que essa mesma mudança seria um entrave para a participação do treinador nos Jogos Pan-Americanos de Toronto. Em julho, no caso – meio longinho, não? Ao site da confederação, Magnano dá uma resposta mais plausível, claro. “Hoje, infelizmente, não tenho como falar onde vou estar, dizer o que vai acontecer com a comissão técnica. A possibilidade é grande de eu não ir ao Pan porque bate com as datas de treinos para o Pré-Olímpico. Mas não posso afirmar porque depois posso ter de desdizer. Essa situação de não ter resposta pode mudar muito nossa maneira de encarar cada torneio. Minha ideia é levar a melhor equipe em cada um. No momento que um torneio bate com a preparação de outro você precisa montar times diferente.”

Para quem não está por dentro, vale o esclarecimento: a CBB ainda nem sabe direito como planejar a vida de suas seleções masculinas para esta temporada, uma vez que a Fiba faz um interessantíssimo jogo duro com a confederação. E aí: vai ter vaga olímpica direta, ou não? A lógica diz que sim: se até a Grã-Bretanha ganhou, por que o Brasil, quinto em Londres 2012, não levaria? O problema, meus amigos, é que há claramente coisas pendentes no bastidor, ainda mais depois que o time de Magnano dependeu de um favor/convite/venda por parte da entidade internacional para evitar um vexame de apenas assistir ao Mundial da Espanha. Aí, sim, da TV, mesmo.

Essa pendenga, porém, não influencia, ou não deveria influenciar no afastamento de Magnano dos ginásios brasileiro. Nem mesmo a mudança, creio. Sabemos que essa história de empacotar as coisas torra a paciência, com todos os detalhes e os cuidados a serem tomados. A correria. Ainda mais quando você está saindo de uma cidade para a outra, e organizando as coisas de um país diferente. Porém, é de se perguntar o quanto demorou tal trâmite. Questão de meses?

Outro ponto que merece o debate: por mais que a confederação esteja sediada no Rio de Janeiro, não seria mais produtivo que o técnico permanecesse em São Paulo, cidade que tem três clubes do NBB e está muito mais próxima de outras tantas no interior do estado? “Quando vim para o Brasil decidi ficar em São Paulo porque era mais conveniente”, diz Magnano.

Agora, ao que parece, a conveniência mudou de lado. “Foi uma decisão (a de mudar-se pessoal combinada com a CBB, focada basicamente em nossas necessidades futuras. Hoje é necessário estar mais perto da CBB e do COB. Tenho um calendário de palestras com o COB muito interessante.”

Palestras com o COB? Epa. Não custa lembrar que é o comitê olímpico nacional que paga o salário do argentino. E não paga pouco. Quer dizer… Há uma gama de interesses aqui a serem atendidos. Como se fosse uma dívida, mesmo. Mas tudo bem: dependendo da agenda do argentino, sobra mais que o tempo necessário para acompanhar a temporada nacional, que já entrou em sua fase decisiva.

Na hora de falar está se passando em quadra, Magnano foi bastante genérico em suas respostas. Da turma da NBA: “Infelizmente o Anderson Varejão se machucou. Havia feito uma Copa do Mundo muito boa. Nenê está jogando em um nível bom. Tiago Splitter voltou bem. Leandrinho não começou bem, mas já melhorou muito”. Do que temos na Europa, registrou que “Augusto Lima está fazendo uma grande Liga ACB na Espanha eRaulzinho e Rafael Luz também” – Augusto já era um dos melhores pivôs da Espanha na temporada passada, diga-se. “E o Marcelinho Huertas é o armador do Barcelona. A equipe está com altos e baixos, mas ele continua sendo o armador de uma grande equipe”, completou, sem dizer que o brasileiro, no momento, perdeu o posto de titular para o jovem tcheco Tomas Satoransky.

Ao menos Magnano sabe que não é preciso um contato com Varejão, certo?

Ao menos Magnano sabe que não é preciso um contato com Varejão, lesionado, certo?

Sobre a garotada da LDB ou os mais jovens em geral, o argentino se entusiasmou mais um pouco em sua explanação:” Temos muitos jovens fazendo bons trabalhos. O Davi (Rossetto), do Basquete Cearense, é o garoto que mais evoluiu. É um exemplo para muitos jovens que, com trabalho, você consegue chegar ou ficar perto das suas metas. (Henrique), Coelho, do Minas. Gostei muito do que está fazendo nos últimos 50 dias o Cristiano Felício. Melhorou muito. Também tem o Lucas Mariano, Leo Meindl, Ricardo Fischer. O Sualison (Tavares, também do Basquete Cearense) também vem bem. E não podemos esquecer do Bruno Caboclo. Um jogador de futuro na Seleção. Pena que não está jogando tudo que eu gostaria por conta dos poucos minutos em quadra”.

Na hora de abordar os veteranos em atividade no NBB, foi mais evasivo. Disse que “Marquinhos está fazendo um trabalho interessante”. Até aí é o mesmo que dissermos que o Corinthians do Tite “tem defendido bem”. Qual a novidade? O mais preocupante, contudo, foi mencionar logo depois que “Marcelinho Machado “segue como um grande arremessador de três”. Sim, o cara é o bicampeão do torneio de chutes de longa distância, por sinal.

Mas… hã… Estaria o treinador pensando seriamente em mais uma convocação para o veterano ala, hoje reserva flamenguista? De novo: nada contra o camisa 4 num âmbito pessoal, mas levá-lo para mais um torneio não seria uma perda de tempo valioso no desenvolvimento de novas opções, dois anos depois de o veterano ter anunciado que se aposentaria da seleção (só para ser convencido a retornar na temporada passada, depois de ganhar o prêmio de MVP do Final Four da Liga das Américas)?

Para ser justo, Magnano talvez esteja apenas citando um fato corriqueiro para dizer que tem acompanhado as coisas. Ou pode dar a entender também de que as coisas não mudaram tanto assim de um ano para o outro. E, se for essa última alternativa, aí acho que temos um problema. Afinal, a tabela do NBB mostra algumas boas surpresas na parte de cima, assim como o Jogo das Estrelas também já ofereceu alguns nomes um pouco diferentes dos habituais. Nada disso valeria uma citação?

Coelho, mencionado por Magnano. Não poderia ver mais de perto?

Coelho, mencionado por Magnano. Não poderia vê-lo mais de perto?

De qualquer forma, há mais uma possibilidade que pode atenuar um eventual julgamento precipitado: o argentino obviamente não nasceu ontem e provavelmente não entregaria nenhuma bomba em uma entrevista ao veículo oficial da entidade, assim tão cedo, em março, para não interferir no desempenho de um alvo, digamos, alternativo. Aquela coisa de não mexer na cabeça de jogador e também para não alertar os adversários. Ainda mais se o Brasil tiver de jogar por uma vaga olímpica.

Felício, Fischer, Meindl e Mariano, convenhamos, não são mais segredo para ninguém, nem mesmo para o treinador que já os havia chamado para compor elenco de grupo em jornadas anteriores. Assim como Caboclo, já com seleo NBA. A menção a Coelho e a Davi, por outro lado, é algo que já anima um pouco mais. Não só pelo fato de o os armadores estarem fazendo uma ótima temporada, mas por serem caras que ainda não foram incluídos em nenhuma lista de seleção até aqui – se merecem, ou não, uma vaga, essa é outra discussão, que valeria outro texto, mais trocentas palavras. Os dois seriam de fato novidades e uma prova de que, mesmo distante, o argentino estaria antenado.

Precisa estar, mesmo: num piscar de olhos, a temporada dos clubes vai estar encerrada, e será o momento de anunciar as convocações. Fazer uma lista podendo chamar a cavalaria da NBA é algo relativamente fácil. Quando os caras não se apresentam, porém, pode dar num vexame como o da Copa América de 2013 – formando uma equipe sem equilíbrio nenhum e da qual, de modo absurdo, Magnano procurou se distanciar, lavando as mãos, acusando falta de talento.

Com seu currículo e salário elevado, esperava-se muito mais. Ao menos foi o que o VinteUm cobrou insistentemente na época, sem cair nessa de que só dá para montar uma boa seleção com Splitter & Cia. Isso tudo, claro, pode ser debatido tranquilamente. A ausência do argentino dos ginásios e principais eventos já é outra história. Com o Final Four da Liga das Américas programado para o fim de semana, se apresenta uma chance para retomar o contato com o basquete nacional. E olha que está fácil: os jogos serão disputados no Rio de Janeiro.


Agora veterano, Splitter ainda se admira com revelações brasileiras
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Splitter, agora mentor, conversa com revelações do mundo todo

Splitter, agora mentor, conversa com revelações do mundo todo, ao lado de Ron Harper

Sabe quando você percebe que está ficando velho? Quando Tiago Splitter, com todo o respeito, também está passando pelo mesmo problema pela mesma experiência, tendo batido na casa dos 30 agora na virada de ano. ; )

Parece que foi ontem que ele se apresentou a Hélio Rubens aos 17 anos para fazer sua aguardadíssima estreia pela seleção brasileira adulta num Mundial de basquete. Hã… OK, 2002 nem foi tão ontem assim. Já se foram 12 anos desde aquele campeonato. E cá está o pivô catarinense, hoje uma referência para garotos não só do Brasil, como do mundo inteiro, campeão da NBA, escolhido pela organização do Basketball without Borders para fazer o discurso de encerramento da mais recente edição de um camp que vai crescendo em prestígio, em Nova York.

Sim, Splitter fala, hoje, como veterano, para garotos que em sua maioria tinham exatamente sua mesma idade naquele campeonato em Indianápolis, quando Sandro Varejão, Demétrius, Rogério  e Vanderlei eram as figuras de referência. Por isso perguntei ao catarinense quando foi o momento em que ele se deu conta de que o jogo havia virado para ele. Riu e respondeu ao VinteUm: “Foi ultimamente, mesmo. Já me sinto um dos mais velhos. Com certeza passou bastante tempo, mas é bom também, né? Mudando um pouco, passando um pouco da experiência, conversar com o pessoal mais novo. Agora mesmo tive a oportunidade de falar com o Lucas (Bebê) e o Bruno (Caboclo), que estão numa situação não tão boa, mas que é normal e que precisam estar com a cabeça no lugar, treinando, que é muito importante neste momento.”

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa
>> O VinteUm está no All-Star Game

Depois de se encontrar com a dupla de compatriotas em Toronto durante a semana, o pivô agora cruzou em Manhattan com mais duas promessas nacionais, do Bauru: o armador Guilherme Santos e o pivô Yuri Sena, ambos de 17 anos. Com Guilherme, foi seu segundo encontro, depois de terem se conhecido em um evento de 3×3 da NBA realizado em Baureri, no ano passado. O pivô o elogiou, e posso confirmar que o jovem atleta – que jogava pelo Barueri até o ano passado, ressalte-se – deixou boa impressão entre os scouts que lotaram um pequeno, mas muito bem ajeitado ginásio do Baruch College.

Guilherme Santos e Tiago Splitter: 13 anos de diferença

Guilherme Santos e Tiago Splitter: 13 anos de diferença

O que causa admiração geral, não? O Brasil ainda encontra um jeito de produzir mão-de-obra, mesmo que as estruturas do esporte no país não sejam das mais confiáveis. Como Splitter disse a um jornalista canadense em sua interessante entrevista coletiva: “Bem, vemos jogadores surgindo, mas não por sermos bem organizados. Eles simplesmente aparecem”.

Em 2002, Nenê havia acabado de ser selecionado pelo Denver Nuggets na sétima posição do Draft. Ali, estava aberta uma porta para a molecada brasileira. Dois anos antes, porém, aos 15, quando deixou Blumenau para se estabelecer em Vitoria-Gastez, no País Basco, Tiago também havia apontado outra direção: a Europa, especialmente a Espanha. “No Baskonia, fui uma aposta que eles fizeram na época, junto com vários garotos. Lembro que na época eles levaram outro brasileiro – o Thiago da Luz, um grandão de 2,16 m –, um dominicano, dois espanhóis etc. Claro que não foram todos que se tornaram jogadores. Mas era uma boa estrutura. Tinha o preparador físico, nutrição, mas nada que não vá ter no Brasil num clube de ponta. A grande diferença foi a competição. Cheguei com 15 anos lá e já comecei a jogar adulto, na terceira divisão. Fui subindo, até a primeira. Foi essa competição que me fez ser um bom jogador.”

Yuri Sena, Tiago Splitter e Guilherme Santos em NYC

Yuri Sena, Tiago Splitter e Guilherme Santos em NYC

O sucesso que o pivô obteve por lá, todavia, resultou na migração de diversos talentos nacionais para a Espanha, apostando no amadurecimento e na construção de uma carreira por lá. Diversos jovens tentaram a sorte da mesma forma. Alguns vingaram, como vemos agora acontecendo com Augusto Lima e Rafael Luz. Outros ainda tiveram tempo de voltar para casa e prosperar (Luis Gruber, por exemplo). Mas muitos caíram no anonimato, no esquecimento.

E o problema, para Splitter, é justamente o fato de o país depender de um ou outro nome que desponte aqui e acolá, com a massificação da modalidade parecendo mais uma utopia – algo sobre o que já discutimos aqui após a eliminação para a Sérvia na Copa do Mundo passada. Ele só defende que as cobranças não se limitem apenas à CBB, mas que se estendam à política nacional para o esporte. Faz todo o sentido, claro – mas não exime a confederação de suas responsabilidades. “Para mim, a gente fala muito da confederação, e eu sei que vocês gostam de colar na confederação, mas para mim é uma questão de ministério da Educação. É de botar o basquete nas escolas”, diz. “Se não fizermos isso, não vamos ter quantidade. Se ficar só com clubes, beleza: vai ter 20 meninos aqui e ali, e só. Mas não é o suficiente. Realmente é uma coisa de política, mesmo. Se não mudar isso, não vai melhorar.”

Nem tudo são trevas na visão do pivô, de qualquer forma. Comparando com o cenário que viu há oito, nove anos, ele acredita que houve evolução. “Na minha época, se você não fosse juvenil ou adulto, estava fora. Agora tem uma liga (em referência à LDB) para esses garotos e muito mais investimento. Uma grande diferença. Quando era bem novo, a liga era decente. De repente, virou uma m… E agora vai crescendo e está bem. A gente sabe que tem coisa para melhorar, mas vejo no caminho certo. A liga privada foi um acerto. Temos jogos quase todos os dias na TV, um escritório da NBA no Brasil e um acordo com a liga. O que quer dizer que mais pessoas vão assistir ao basquete, o que é ótimo. Espero que, num futuro próximo, possamos ser um grande país para o basquete.”

Esse processo todo ainda pode soar muito vago, em estágio prematuro – ele pode mudar drasticamente, dependendo dos resultados da parceria LNB-NBA ou de qualquer conjuntura econômica mais sufocante. Por enquanto, é como ele mesmo diz: as coisas vão acontecendo meio ao acaso. Os jogadores vão surgindo, cheios de potencial, encantando a comunidade internacional. Durante o Basketball Without Borders, fui questionado por um importante dirigente de um clube da Conferência Oeste sobre a discrepância que se nota entre o nível de potencial atlético das revelações brasileiras e os seus fundamentos básicos. Só o passar do tempo vai nos dizer, mesmo, o que sairá de tudo isso. As respostas vão aparecer apenas quando Splitter já tiver se aposentado das quadras. Até lá, resta saber aonde estarão Guilherme e Yuri.


A parceria NBB e NBA: otimismo, mas com os pés no chão
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

nba-lnb-nbb-parceria-basquete

Em momentos de anúncio de grandes eventos, grandes notícias, o jornalista nunca se pode esquecer que não está ali como torcedor. Ele é uma testemunha, sim, como todos, mas tem de obrigatoriamente dar um passo para trás sempre, se permitindo a chance de avaliar o que está acontecendo e fazer questionamentos.

O anúncio da parceria entre a LNB e a NBA é um desses acontecimentos que pede um pouco de parcimônia. Neste caso, porém, para qualquer um daqueles que estiveram presentes ao clube Pinheiros para a coletiva que ratificou o acordo, o mais interessante foi reparar que não houve nenhum arroubo ufanista, nenhum acesso a hipérboles, nem nada. O que configura um cenário extremamente positivo.

Não se enganem: não é que os dirigentes que ajudaram a viabilizar o NBB estivessem cabisbaixos ou com uma atitude blasé. Pelo contrário: o presidente Cássio Roque, o vice-presidente João Fernando Rossi e Kouros Monadjemi estavam todos empolgados, sorridentes, relembrando histórias da construção do novo campeonato nacional.  Mas sem se empolgar demais, sem prometer mundos e fundos. Os representantes da NBA tinham a mesma postura. Em comum, de metas anuncias, tivemos apenas a ideia de que o basquete volte a ser o esporte número dois no país.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa
>> 30 times, 30 fichas sobre a NBA 2014-2015

(Parêntese: isso foi na véspera de o Banco do Brasil anunciar a interrupção no repasse de verbas para a CBV; independentemente da lamentável crise vivida pelo vôlei nestes dias, é de se perguntar se o basquete já não é o segundo… afinal, segundo dados do ministério do Esporte, ela já é a segunda modalidade mais praticada no país; a questão é traduzir esse interesse em números e negócios concretos.)

Do meu cantinho aqui na Vila Guarani, acho tudo isso muito apropriado. O otimismo se faz até obrigatório, mas sem prenunciar milagres. O projeto é inédito, pode ser revolucionário/histórico para o basquete brasileiro, mas tem longo prazo – não deve e nem tem como ser avaliado agora. Além do mais, a LNB já fez bastante do seu lado para dizer que este seria um “recomeço”. Isso já aconteceu há seis anos, quando a liga nacional foi criada finalmente, depois de “momentos bélicos”, como disse o presidente Cássio Roque. A liga já representa uma bonança após um biênio 2006-2007 para lá de tempestuoso, com campeonato oficial que não terminava e competições paralelas que não decolaram.

Os novos parceiros ainda estão em fase de conversação. As reuniões, admitem, já vinham acontecendo há semanas, antes mesmo da assinatura do contrato. As partes estão se conhecendo. Para a NBA, é preciso um tempo de adaptação, para se conhecer uma nova realidade. Por mais que a marca já tenha estabelecido um escritório no Rio de Janeiro e feito avanços significativos por estas bandas, a gestão de uma competição nacional é um tipo de desafio completamente diferente.

Na hora de avaliar os pontos a serem atacados, a prioridade é o setor comercial. O diretor executivo da liga americana no Brasil, Arnon de Mello, abriu a coletiva tocando precisamente neste ponto. Para depois falar em como sua organização pode colaborar com expertise também em outras áreas. As coisas vão avançando paralelamente, com esses diversos departamentos envolvidos, mas o pontapé inicial, mesmo, é a captação de recursos. De grana, mesmo, seja por conquista de patrocinadores, licenciamento de produtos e ações de marketing. Algo em que são campeões.

A NBA conta hoje com mais duas dezenas de parceiros comerciais em suas operações globais. Algumas dessas corporações já teriam feito sondagens sobre possíveis negócios no Brasil. Pode não sair nada daí, mas a liga americana vai à caça de patrocinadores para o campeonato que já está em andamento. A ideia, todavia, é encontrar marcas dispostas a se envolver com o NBB a longo prazo, para gerar a cobiçadíssima sustentabilidade. Lembrando que o campeonato hoje não conta com nenhum patrocínio master.

Faz sentido. Primeiro é importante estabelecer essa base, os alicerces para o campeonato prosperar. Estabilidade financeira para que os dirigentes nacionais, com ajuda do know-how norte-americano, então, se concentrem em melhorias nas outras áreas administrativas, especialmente em infraestrutura. Uma coisa não exclui a outra também: não é porque o foco é comercial, que um intercâmbio na área técnica não possa acontecer, claro. Mas ainda não há planos declarados. (PS: Para o lado de gestão operacional e de infra, é possível que já haja novidades no fim de semana do Jogo das Estrelas ou mesmo na decisão, que nesta temporada será disputada em série melhor-de-três.)

O que a NBA ganha com isso tudo? Como disse Jason Cahilly, responsável pelo departamento estratégico e financeiro da liga, a ideia é desenvolver um “ecossistema favorável” ao basquete no Brasil, no qual, obviamente, 0 NBB não seria o único a encontrar mais dinheiro e possibilidades. A liga americana, nas palavras de Arnon de Mello, detecta um mercado “maduro” para esse crescimento.

Mas o ideal, mesmo, é expandir esse mercado, e, não, contar apenas com os atuais simpatizantes do bola-ao-cesto. Para tanto, é preciso mais promoção para o jogo e incentivo à prática. Se a CBB colabora pouco, ou quase nada faz para a massificação da modalidade no país, a parceria LNB/NBA assume parte essa empreitada. Cahily, mesmo, citou o termo grassroots em seu discurso de apresentação (todo em português, aliás).

Do ponto de vista mais prático, se as duas siglas conseguirem avançar comercialmente, gerando recursos, é de se esperar que os clubes nacionais tenham mais autonomia para agir. Que refinem suas próprias estrutura de gestão, podendo coordenar as categorias de base com mais zelo, contratarem melhor etc. Este é um cenário ainda muito distante, porém. Antes de tudo, eles precisam cumprir com suas obrigações financeiras. Coisa que até mesmo o supercampeão Flamengo não vem fazendo, enquanto um clube como Franca faz vaquinha virtual, correndo o risco de fechar as portas. “Há muito o que ser feito”: foi uma das frases mais ouvidas no anúncio do acordo na semana passada.

De qualquer forma, a aproximação da NBA já vale como um baita reconhecimento ao trabalho da liga nacional. Serve como um gesto de aprovação ao trabalho feito até aqui, que pegou um esporte no buraco e o transformou num produto que atraiu o interesse estrangeiro, contando antes com aporte do ministério do Esporte e de uma patrocinadora estatal. No que vai resultar esse envolvimento, ninguém sabe ainda. “Ficam me perguntando o que esperar disso? Digo que não sei”, afirma Cássio Roque, o presidente da LNB. “Só sei que estamos ao lado da companhia certa.”

Tags : CBB NBA NBB


Ainda sobre a Bolsa Atleta de Robert Day e a conivência da CBB
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

robert-day-bolsa-atleta

Já publiquei aqui a nota de esclarecimento da CBB a respeito de seu envolvimento, ou não, com a Bolsa Atleta de R$ 925,00 entregue ao ala Robert Day, norte-americano titular do time de Bauru. Mas vale retomar o caso depois de um pouco de ponderação.

A entidade afirma que não tem poder de veto ou indicação sobre os atletas beneficiados pelo programa, fornecendo apenas a documentação requisitada: “A concessão do benefício segue legislação própria, a que todos estamos submetidos, e não há como a CBB indicar, facilitar, favorecer ou ajudar de qualquer forma nenhum atleta a receber o benefício”.

Por isso, não poderia dar “uma forcinha” ao atleta, conforme escrevi no meu primeiro artigo. Talvez o termo “forcinha” tenha sido um termo propositalmente ambíguo e capcioso para abordar um tema que claramente pede um tratamento bem longe do preto e branco da lei. Afinal, o que está no papel não se discute mais? É a letra fria, e pronto?

O que temos aqui é uma situação em que a CBB simplesmente lava as mãos diante de um absurdo desses. A mesma entidade que está – ou deveria estar – ciente da penúria que ainda domina o basquete brasileiro, a despeito de um celebradíssimo sexto lugar na Copa do Mundo e dos avanços promovidos exclusivamente pela Liga Nacional do seu lado. Como prova a arrecadação de fundos virtual promovida por Franca, o basquete brasileiro não está em condições de descartar os 900 e poucos reais endereçados a Robert Day.

Obviamente que o que mais causa vergonha nessa história toda é a cara-de-pau e o jeitinho brasileiro muito bem assimilado pelo atleta, além do buraco na lei federal que permite a solicitação de recursos públicos por e para a conta de um estrangeiro já muito bem pago. Mas realmente não cabia nenhuma ação da turma de Carlos Nunes nesse caso? Não havia absolutamente nada que pudessem fazer a respeito?

Sabemos bem que há um diálogo constante entre CBB e Ministério. Até porque, se não houvesse, a entidade muito provavelmente não teria condições de operar de uma forma minimamente respeitável, considerando o aporte que recebeu da Esplanada nos últimos anos e seu amontoado de dívidas.

Sem a documentação oficial, o americano não conseguiria se candidatar ao Bolsa Atleta. Aí a confederação simplesmente diz que não pode negar um pedido que, infelizmente, é legítimo.”A CBB cumpre o que lhe é imposto”, afirma em nota. “São meras, óbvias e inegáveis informações solicitadas pelos atletas, que os enquadrarão ou não nos critérios estabelecidos para solicitação do benefício, que não proíbem a participação de estrangeiros. A solicitação do benefício somente pode ser feita por cada atleta interessado, nunca pelas entidades de administração esportiva. À CBB não cabe vetar ou indicar atletas.”

Reparem que o “infelizmente” é um termo empregado pelo próprio blogueiro. Pois, em sua nota de es-cla-re-ci-men-to, em nenhum momento a entidade lamenta ou dá sua posição sobre o episódio. “São meras, óbvias e inegáveis informações solicitadas pelos atletas, que os enquadrarão ou não nos critérios estabelecidos para solicitação do benefício, que não proíbem a participação de estrangeiros. A solicitação do benefício somente pode ser feita por cada atleta interessado, nunca pelas entidades de administração esportiva. À CBB não cabe vetar ou indicar atletas.”

Mas, espere um pouco. Vale atentar para mais um fato. O Ministério informou ao companheiro Daniel Brito, do UOL Esporte, que “o processo de divulgação dos contemplados também passa pela confederação de cada modalidade, que avaliza os nomes antes de serem divulgados no Diário Oficial da União”.

A CBB avalizou o nome de, hã, Roberto Dias? Talvez não pudesse, de acordo com a lei, dizer “não”. Talvez o avalizar aqui se trate apenas de uma última checagem para ver se o Atleta X está regular, ou não. Pode ser, mesmo. Esteve aí, porém, mais uma oportunidade para apontar o desatino.

Agora, para que criar rusga com o órgão que lhe sustenta?

Politicamente, é o movimento correto.

E eticamente, como guardiã do basquete no país?

Tirem suas próprias conclusões.


Depois da eliminação, as pérolas de Carlos Nunes
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

"Aqui não é futebol", afirma Carlos Nunes. E...?

“Aqui não é futebol”, afirma Carlos Nunes. E…?

Carlos Nunes ataca novamente! Numa rara aparição pública, o presidente da CBB topou falar ao GloboEsporte.com depois da eliminação da seleção brasileira na Copa do Mundo. Suas respostas, para manter a coerência, beiram ou atravessam a linha do trágica. Um ou outra resposta você entende de onde saem: Nunes é um político e vai falar como tal, na pior acepção da palavra. Vai distorcer fatos, ignorar os percalços gerais de sua administração e encher a boca para garantir uma série de coisas que estão fora de sua alçada. A não ser que ele resolva endividar ainda mais a confederação, pegar empréstimos, passar o chapéu em Brasília de novo e de novo para assinar cheques de um milhão de euros para fazer valer qualquer discurso. Aí, meus amigos, até eu. Então, sem mais delongas, aqui estão as declarações para o repórter Fábio Leme seguidas de comentários:

País-sede vai ter de disputar vaga olímpica?
“Estamos absolutamente tranquilos. O Brasil, como país-sede das Olimpíadas, não vai ter basquete? Isso não existe. Evidente que há uma especulação, pois o regulamento é omisso nesse assunto, mas não tenho dúvida. Veja só nas Olimpíadas de Londres quem participou? Não foi a Inglaterra, foi a Grã-Bretanha, e o time deles não chega nem aos pés do nosso, com o perdão da expressão.”
>> Comentário: e quanto foi Brasil x Grã-Bretanha nas últimas Olimpíadas? Só 67 a 62? Ah, tá… Agora, sim, todos sabemos que o Brasil tem mais tradição que os britânicos nessa brincadeira toda, tem mais jogadores disponíveis, mercado etc. Só não dá para alguém intelectualmente honesto se referir ao atual basquete brasileiro com essa soberba toda. Simplesmente não dá: pelo que a CBB faz, não cabe expressão espirituosa nenhuma. Além do mais, não sei se o presidente sabe, a Inglaterra não disputa os Jogos Olímpicos, mesmo. Nem no futebol, em que os inventores do esporte dividiram time com galeses e vizinhos.

Com Marcelinho, Giovannoni, Benite, Murilo e jovens atletas, o Brasil caiu na 1ª fase do Pan de 2011, perdendo inclusive para uma seleção norte-americana composta por veteranos da D-League

Com Marcelinho, Giovannoni, Benite, Murilo e jovens atletas, o Brasil caiu na 1ª fase do Pan de 2011, perdendo inclusive para uma seleção norte-americana composta por veteranos da D-League

Calendário 2015: Pan + Copa América
“Eu acho que temos equipe para cumprir os dois eventos. Não vamos com a equipe A nos dois, vamos fazer uma mescla. Estamos avaliando qual a nossa prioridade agora, mas, a princípio, é o Pan-Americano, porque a vaga olímpica nós temos, apesar de a Fiba nunca ter dado essa segurança. No Pan, nós não vamos com os jogadores da NBA, mas vamos com uma equipe forte, com o objetivo de ganhar medalha. Acho que não teremos problemas para ter os atletas que atuam no basquete europeu. Isso tudo vai ser discutido pelo departamento técnico, eu estou dando as informações de algo que discutimos mais ou menos. No Pré-Olímpico, nós vamos com os da NBA.”
>> Discutir “mais ou menos” não é a cara da CBB? Mas tudo bem, né? Está cedo para fazer plano para o ano que vem. Acabamos de jogar um Mundial, gente. Vamos deixar de chatice. Deixa primeiro aproveitar o resto da estadia em Madri. O futuro fica para amanhã. De longo prazo, só vive gente séria. Além do mais, obviamente que o Brasil tem dois times fortes para disputar medalhas o tempo todo. Como a Copa América do ano passado comprovou, com as derrotas para Jamaica e Uruguai. Da mesma forma em que ocorreu no Pan de Guadalajara 2011, em que ficou fora das semifinais. O fato até agora é um só: quando Rubén Magnano não teve nenhum representante da NBA em seu time, se lascou.

E tem mais: Carlos Nunes por acaso sabe quem são os atletas brasileiros hoje na Europa? Vamos contar: Huertas, Rafael Luz, Raulzinho, Augusto, JP Batista, Tavernari e quem mais? De repente ele esteja se referindo aos meninos de 1996 (Daniel Bordignon, do Baskonia) ou mesmo de 1998 (Felipe dos Anjos, o espigão do Real Madrid, ou Gabriel Galvanini, do Fuenlabrada)? Pode ser.

Lembrando que a seleção brasileira de base europeia, junto com os veteranos de sempre do NBB, foi a que naufragou na Copa América. Em 2011, no Pré-Olímpico em que o Brasil derrotou a Argentina, sabe quantos de NBA estavam lá? Só Splitter. Então como ele pode garantir que todos estarão no ano que vem? Isso representaria três anos seguidos de convocação desses caras, que já não são os mais jovens do mercado. Como eles chegarão ao Rio 2016? Enfim, há muito o que ser discutido, especulado. Mas depois a gente fala mais a respeito.

Quando o dever com o COB te chama
“Quanto ao Pan-Americano, nós também queremos medalha, até porque o COB está nos dando um apoio muito grande. Então, nós temos que honrar esse apoio conseguindo uma medalha no Pan.”
>> O repórter traz uma informação que desconhecia (se estava amplamente divulgado, podem me espezinhar): a de que o Comitê Olímpico Brasileiro está bancando o salário da comissão técnica da seleção. Ajuda providencial, depois dos R$ 3 milhões que gastamos apenas para entrar no Mundial a “convite” – sem contar a grana torrada com a delegação de 2013, no fiasco que foi a campanha na Venezuela. Aí a CBB se vê de mãos atadas: se a Fiba por um acaso optar por ferrar o basquete brasileiro e deixar o país-sede sem vaga olímpica definida, como faz? Vai jogar com dois times “fortes” no Pan e Pré-Olímpico? Em tempo: sinceramente, acho possível ter duas equipes competitivas, mesmo só com atletas do NBB. Desde quem bem preparados. Infelizmente não aconteceu nas últimas oportunidades, com críticas cabíveis ao trabalho do argentino, que simplesmente lavou as mãos e afirmou que, sem os melhores, não havia o que se fazer.

Magnano, tem salário pago pelo COB. Aqui, o Pan de 2011 novamente. Crédito: Vipcomm

Magnano, tem salário pago pelo COB. Aqui, o Pan de 2011 novamente. Crédito: Vipcomm

A derrota para a Sérvia e a Copa em geral
“Nós não precisávamos de um resultado acachapante como foi, no caso mais de 30 pontos, mas, no total da campanha, foi ótimo. Quebramos um tabu, recuperamos a hegemonia sul-americana diante de nosso mais assíduo inimigo, comprovamos ter um time forte e ganhamos do campeão europeu. O Brasil mostrou que tem condições. Nosso planejamento está correto, estamos vendo 2016 e seria importantíssimo chegar ao pódio. Nossos atletas demonstraram que têm amor pelo Brasil, pois vieram todos. Da outra vez, não vieram por problemas de saúde ou porque os clubes não liberaram, como foi na Venezuela.”
>> Amor pelo Brasil. Carlos Nunes tem? E ele conversou sobre esse amor com Rubén Magnano quando o argentino saiu disparando para todos os lados, no ano passado? Entendo que o argentino tinha alvos específicos, que deve ter revelado em conversas posteriores aos veteranos, mas vocês se lembram do fuzuê que foi, não? Com Oscar e outros detonando o time, o discurso do treinador serviu como gasolina. As coisas foram contornadas, ainda bem, mas o ponto aqui é: a CBB falha, e muito, em sua comunicação corporativa.

Faverani, 26 anos, um novo talento que acaba de despontar para os olhares de Nunes

Faverani, 26 anos, um novo talento que acaba de despontar para os olhares de Nunes

Rio 2016: pódio?
“A pressão vai ter, sempre vai. Mas a equipe está madura, acho que a pressão não vai influenciar. Nós vamos chegar fortes, aliás, temos de chegar fortes. No nosso país, as Olimpíadas nos exigem uma medalha. Aqui, nosso time deu o recado e essa derrota em nada vai nos abalar. Sempre costumo dizer que aqui não é futebol. Temos um planejamento com o Rubén (Magnano) até 2017 e ele só não vai cumprir se não quiser. Se depender de nós, ele está confirmadíssimo.”
>> De novo o descuido com as palavras: “exige”. A seleção brasileira não tem condição de falar nesses termos. No Mundial, o time estava mais uma vez completo e não conseguiu se posicionar para disputar medalhas, caindo novamente nas quartas. Poderiam ter avançado? Claro que sim. Mas é tudo muito equilibrado e, por consequência, incerto, que não dá para falar em garantias ou exigências. De modo que o basquete em diversos sentidos “é futebol”, sim, com uma penca de times competitivos que sonham com um pódio olímpico. Sobre a CBB ter planejamento e tal, melhor nem comentar. Tou limpando as lágrimas aqui.

Renovação na seleção?
“Essa avaliação quem vai fazer é o Rubén, mas eu entendo que a maioria tem condições de chegar em 2016. Também existem novos valores despontando como o Bebê, o Caboclo e o Faverani, que não pôde vir porque estava machucado. Nós vamos ter uma equipe forte e preparada.”
>> Faverani é um novo valor, que está despontando. Ele, que vai fazer 28 anos em 2016.

 Eu não recebi a informação de que estaríamos garantidos desde que jogássemos com um time forte no Pré-Olímpico mas, se isso for o que a Fiba decidir, nós vamos cumprir


6º lugar no Mundial: é o que tem para hoje. E depois?
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

(Atualização: com a derrota da Espanha para a França, o Brasil perde uma colocação na classificação geral, caindo de quinto pra sexto. Que fase!)

Brasl derrotado, Sérvia vence, Copa do Mundo, basquete, crise, CBB

A frase não vai parecer genial, mas é precisa ser dita: o Brasil tanto podia ganhar da Sérvia nesta quarta-feira, como poderia perder. E perdeu. Era um duelo equilibrado, sem favoritos, pelas quartas de final de uma Copa do Mundo de basquete. Alguns detalhes aqui e ali poderiam ter se corrigido, mas o fato é que o time brasileiro, desde a sua composição ao que executava em quadra, estava longe de ser perfeito. Era competitivo, estava na briga pelo pódio, mas não tinha direito adquirido nenhum ali. Estava metido em um jogo enroscado, se descontrolou emocionalmente na volta do intervalo e, pumba!, quando passou, já era. Vitória sérvia.

Isso tudo se refere a 10 de setembro de 2014 e a um geração de jogadores que, em geral,  está em seu auge, descontando uma ou outra peças periféricas de sua rotação, que já se veem mais perto da aposentadoria. Quer dizer, uma pequena retificação: essa competitividade da seleção brasileira passa por 10 de setembro e deve se estender até os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro 2016. A seleção vai receber uma Olimpíada com as mesmas chances, se as coisas correrem normalmente.

Agora, e o que vem depois disso?

Depois de assimilada a eliminação – que poderia ser evitada, mas acontece –, muito do que se ouviu em tempo real foi sobre “o bom trabalho” executado, que é algo que não pode ser descartado prontamente, e bla-bla-blá. Obviamente que não. Aliás, quem estaria argumentando de modo contrário? O Brasil se despede do Mundial com o quinto sexto lugar, o mesmo posto de Londres 2012. O basquete internacional não é para qualquer um, mesmo num cenário em que boa parte dos grandes concorrentes estava seriamente desfalcada.

Mas só precisamos ter cuidado com a generalização: se for falar em bom trabalho, que fiquemos com Rubén Magnano e seu grupo de veteranos. Não que o argentino deva ser ou esteja blindado de críticas. O ataque brasileiro não funcionou como poderia, tendo muita dificuldade para produzir de modo eficiente em situações de meia quadra. Sua convocação final se mostrou redundante. Ele não pediu mais um tempo naquele fatídico terceiro período. Etc. Entre os atletas, houve surpresas e decepções. Agora, me parece que esse é o tipo de discussão que toda equipe vai ter ao final de uma campanha. Vai acontecer até mesmo nos Estados Unidos. Não existem times perfeitos. Existem times que reconhecem suas deficiências e procuram amenizá-las. Pode ser que tenha faltado isso? Sim, certamente faltou. A verdade, porém, é que a seleção caiu, com suas virtudes e limitações.

Seleção brasileira, banco, 2014, basquete

O que não dá para fazer é ficar jogando confete para cima depois de um quinto sexto lugar e deixar que muitos penetras entrem nessa festa (inexistente). Não dá para incluir os cartolas da CBB (a inoperante Confederação Brasileira de Basquete) nessa. Sua diretoria – e até mesmo os manifestos opositores aos atuais gestores – devem ser barrados na porta. Porque, entre as limitações que temos, dá para falar de fundamentos e minúcias de jogadores e de alguns nomes convocados, mas o buraco, mesmo, está ao redor desta seleção.

O basquete brasileiro foi para um Mundial com sua força máxima – pelo menos segundo o gosto de seu treinador, com americano naturalizado, e tudo – e com média de 31 anos, a mais elevada da competição. A Sérvia tem média de 26 anos. Entre seus protagonistas, apenas um está acima dos 30 anos, o pivô Nenad Krstic. O ala Bogdan Bogdanovic, autor de 12 pontos, tem apenas 22 anos, mesma idade do titular Nikola Kalinic. Milos Teodosic tem 27. Nemanja Bjelica, 26, assim como Miroslav Raduljica e Stefan Markovic. Já deu para entender, né? O time balcânico que deu uma surra hoje pode pensar até mesmo nas Olimpíadas de 2020.

Bogdan-Bogdan tem 22 anos. Está entre os protagonistas sérvios

Bogdan-Bogdan tem 22 anos. Está entre os protagonistas sérvios

A verdade, contudo, é que eles nem precisam, já que não sabem nem ao certo se estarão no Rio 2016. As coisas na Sérvia funcionam de outro jeito, devido à alta competitividade para se entrar naquela seleção. Eles trocam de geração a cada dois anos, é algo impressionante. Estão aí para comprovar Marko Keselj e Milan Macvan, dois semifinalistas de 2010, atletas bem pagos de Euroliga e que não chegaram nem perto de jogar este Mundial. Os esquecidos e os eleitos para o time de hoje que se cuidem, aliás, porque a fornada de 1994 e 95 também já é boa o bastante para sonhar com as grandes competições, vindo de um vice-campeonato mundial em 2013. O armador Vasilje Micic e os pivôs Nikola Jokic e Nikola Milutinov jajá estarão por aí – dois deles já foram draftados pela NBA neste ano.

Do Brasil, se formos recuperar as últimas campanhas com algum sucesso em torneios internacionais de base, temos a galera que terminou o Mundial Sub-19 de 2007 (1988/89) em quarto, além da equipe que deu um sufoco danado nos Estados Unidos na Copa América Sub-18 de San Antonio, em 2010 (galera de 1992/93).  Se a turma de Raulzinho, Felício e Bebê já se aproxima, perigosa e precocemente do ostracismo, o que dizer daqueles quatro ou cinco anos mais velhos? Antes da partida desta quarta, já havia passado por esse caso alarmante. Dessa geração, apenas dois atletas hoje estariam no radar da seleção principal – mas com chances remotas de aproveitamento: Rafael Mineiro e Paulão. Entre os sérvios, dois saíram triunfantes em Madri (Raduljica e Markovic), enquanto Macvan e Keselj já haviam disputado a edição de 2010, conforme citado.

Para não falar apenas de Sérvia, fica o registro: a Argentina, a Austrália, os Estados Unidos, a Lituânia, a Croácia e muitas outras equipes já apresentaram bases renovadas para esta Copa. O grau de protagonismo dos atletas mais jovens variou de uma equipe para a outra, mas pelo menos eles estavam na Espanha, vivendo a experiência intensa que é disputar um torneio de elite desses. Do lado brasileiro, dos mais jovens, apenas Raulzinho pode falar a respeito do assunto, já com duas edições em seu currículo.

Não é que não existam opções. O armador Rafael Luz e o pivô Augusto Lima já são realidades no basquete europeu, jogadores produtivos no campeonato nacional mais difícil do continente – a Liga ACB espanhola. Augusto, aliás, foi um dos destaques individuais na temporada passada – e mal teve chance para mostrar serviço na seleção “b” que ficou com um (?) honroso bronze no Sul-Americano. O pivô Lucas Mariano e o ala Leo Meindl (Franca) e o armador Ricardo Ficher (Bauru) também aparecem num grupo de revelações lembradas por Magnano nos últimos anos. Para não falar de Bruno Caboclo, ala surpreendentemente escolhido pelo Toronto Raptors no Draft da NBA, o atleta de maior potencial nessa lista, sem dúvida. Em seu ex-clube, o Pinheiros, também há pelo menos mais três garotos para serem monitorados.

Daí que… Ué? Então de que trevas você está falando, meu chapa? Olha aí o tanto de jogador jovem aí que você acabou de citara. Para um comentário desses, reverteria o jogo: mas o simples fato de nos apegarmos a cinco, seis, sete nomes já não diz muito sobre a quantas anda a produção de talentos nacional? Digo, se todo mundo sabe de cor quais são as apostas para o próximo ciclo olímpico, acho que isso significa justamente como as coisas andam errado. Já se comprova o número bastante limitado de alternativas, num país com 200 milhões de habitantes, cujo Ministério dos Esportes aponta a modalidade como a segunda mais praticada.

Além do mais, não é brincando de apostar em garotos, como se o desenvolvimento seguisse a lógica do mercado futuro, que os problemas de constituição de um time – e do basquete – brasileiro serão solucionados. A carreira dessa molecada não está nem mesmo garantida, de modo que soa absurdo depositar em seus ombros carências de uma estrutura toda deficitária. Em setembro de 2014, eles são apenas promessas, que precisam jogar e  treinar em paz, seguindo sua rotina, quiçá com a melhor orientação disponível. Não é hora de ficar buscando nomes – mas, sim, de trabalhar pra ter um maior número de nomes possível.

Só com uma confederação que trabalhe desta maneira, com essa mentalidade, que não dependa de milagres – o advento de do Grande Jogador da Silva –, que se pode exigir mais do que o atual time conseguiu. De novo: a despeito de toda a precariedade estrutural lamentada, os veteranos de Magnano tinham plenas condições de ir adiante neste Mundial. Mas não foram. Goste ou não, é uma seleção brasileira se afirma como a quinta/sexta melhor do mundo. É o que tem para hoje.

Brasil perde, CBB, Copa do Mundo, Sérvia

*   *   *

Em tempo, e algo que não pode ser esquecido jamais: depois do fiasco que foi a participação na Copa América, na qual, sem seus melhores jogadores, Magnano naufragou, perdendo para Jamaica e Uruguai, a CBB teve de desembolsar um milhão de euros para ser “convidada” para jogar o Mundial. Arredondando: 3 milhões de reais. Então, do ponto de vista administrativo, é um fiasco ficar fora do pódio. Um quinto lugar não vale 3 milhões de verdinhas. Os patrocinadores ganharam alguma visibilidade em TV aberta, ainda mais depois da vitória sobre a Argentina, mas o prejuízo da confederação é brabo. Ainda mais para quem já está endividado.

*   *   *

Acho que vale reforçar: o Brasil levou aquilo que seu técnico julga de melhor para o Mundial, inclusive naturalizando o Larry. Com o grupo que levou, Magnano foi para o tudo ou nada. Contra muitos adversários desfalcados. E terminou em quinto. Isso diz muito sobre a dureza que é lutar por uma medalha no basquete de hoje, mas também sobre o nível atual da seleção. É de se ponderar, mesmo.


Brasil ganha na raça sua vaga na Copa de basquete. Comemorem!
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Convites Fiba, Mundial, Brasil, Finlândia

Primeiro o post… Hã… Quase sério. Que jornalismo é isso.

Sobre os convites da Fiba para completar sua Copa do Mundo de basquete. Para quem não sabe, deu Brasil na cabeça! Acompanhados de Grécia, Turquia e Finlândia, estamos todos juntos nessa! A Copa é nossa e com brasileiro não há quem possa. Num só dia, derrotamos Alemanha, Canadá, Itália, Rússia e Venezuela.

Aliás, agora precisamos atualizar a contagem. Quem disse que não ganhamos de ninguém nas Américas? Depois de quatro derrotas seguidas no último torneio continental, batemos canadenses e venezuelanos neste sábado. Então a campanha de 2-4 até que não fica tão vexatória assim. Estamos progredindo, no caminho certo.

E, bem, pelo tom dos parágrafos acima, você já pode imaginar como foi despertar com essa fabulosa notícia aqui na base do conglomerado 21, nos cafundós da Vila Bugrão.

Euforia mil!

Que o Brasil tenha ganhado seu convite, com muita persistência, suor e trabalho sério, não chega a ser uma surpresa. Durante a semana, fortíssimos candidatos foram anunciando, um a um, suas desistências. Devem ter tentado negociar com os poderosos da Fiba até a última hora possível, mas terminaram por refugar.

Vejam só: esses sujeitos simplesmente se recusaram a pagar a quantia de R$ 2.660.745,80 (para quem tem dificuldade com os números como eu, aqui vai a tradução: dois milhões + seiscentos e sessenta mil + setecentos e quarenta e cinco reais + oitenta centavos) para a federação internacional. Podiam pagar a merreca de um milhão de francos suíços (o mínimo necessário, segundo o Fábio Aleixo, do Lance!, nos conta) e passaram a vez.  São todos fracos, entreguistas, de visão míope.

Pois todo mundo já está careca de saber: só se constrói uma forte modalidade participando de uma Copa do Mundo. Sem isso, não há como montar uma estrutura de base decente, como popularizar um esporte já popular etc. Esse é o alicerce de tudo, e, por sorte, temos na gestão Carlos Nunes da CBB gente visionária o bastante para dar conta disso.

O Brasil encaminha, assim, seu projeto pujante. E quero ver quem segura.

É taça na raça, Brasil!

*  *  *

Tá, agora da maneira mais direta possível:

1) a CBB está endividada, devendo até as calças no mercado.

2) a Fiba cobrou mais de R$ 2 milhões por uma vaga no Mundial.

3) a China, aquela de PIB de mais e US$ 1 trilhão, multinacionais de material esportiva voltadas quase que exclusivamente para o basquete, mais de 1,3 bilhão de habitantes, pulou fora.

4) Não a CBB. Para manter viva a sequência histórica de participações no Mundial de basquete, a combalida entidade passou o chapéu por aí e conseguiu se bancar (financeiramente, importante que se ressalte mais uma vez, e, não tecnicamente) na competição. De quebra, conta que a fraca memória nacional, daqui a décadas – ou meses, a gente nunca sabe… –, vá olhar para a lista de inscritos do Mundial 2014 e acreditar que e era nada mais lógico que o Brasil ali estivesse, uma vez que nunca havíamos perdido essa. Só o Brail e os Estados Unidos jogaram todas as edições.

5) Faça as contas… E me diga: você vai realmente co-me-mo-rar essa “classificação”? Pagamos R$ 2 milhões para nos livrarmos a cara. De quem é a conta?

6) Na real, a conta não fecha.

*  *  *

Aos pragmáticos: obviamente é importante que o Brasil jogue uma Copa do Mundo de basquete. Assim como os Jogos Olímpicos. Mas uso aqui uma expressão clássica, já surrada de tanto usada, mas que não perde o charme: “tapar o sol com a peneira”. O Brasil joga o Mundial desde sempre, e o impacto financeiro disso para a modalidade não está nada claro, para mim. É um dos itens para levar as coisas adiante? Sem dúvida. Mas já passou do tempo – se é que esse tempo um dia existiu – de que o desempenho da seleção adulta de qualquer esporte seria a principal força motriz para o progresso.

*  *  *

E, por falar em seleção, adulta, já fica a dúvida desde já sobre quem são aqueles que vão se apresentar. Para quem não se recorda, entre a relação (fictícia?) de itens que a Fiba jurouque seriam analisados para definir os quatro convidados, contava algo como “comprometimento de seus principais jogadores com o projeto”. Leia-se: a turma da NBA topa ou não topa?

Será que, no conclave do basquete, realmente se exigiu um comunicado por escrito, com cópia de RG registrada, em que os nossos principais jogadores garantiram presença no Mundial?

E o Rubén Magnano, como está se preparando? Vai nessa de que “só-com-os-que-estão-nos-EUA-temos-alguma-chance”? Está assistindo para valer o NBB para tentar fazer uma convocação mais competente, no caso de precisar ser criativo para fechar o grupo final? Existe algum tipo de ressentimento por parte de nossos jogadores depois das críticas públicas do treinador argentino?

Percebam que, além do disparate financeiro, há diversos pontos técnicos a serem resolvidos.

E se o Brasil for para o Mundial, pagando R$ 2 milhões, e passar mais um vexame? É provável, possível?

Independentemente da resposta – que vai depender muito da lista de perguntas acima –, qualquer que seja o time convocado, a pressão existe desde já.


Uma saudável entrevista para tentar decifrar Nenê
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Nenê meio que abre o jogo em entrevista nos EUA

Nenê meio que abre o jogo em entrevista nos EUA

Numa cortesia do jornalista que faz a melhor cobertura da NBA nestes dias (Zach Lowe, do Grantland) –, temos a melhor entrevista de Nenê em muito tempo. Isso se não for a melhor de todas – até porque o acesso ao pivô do Washington Wizards nunca foi dos mais fáceis para quem tenta daqui do Brasil.

Corra para ler.

(…)

Já voltou?

Bem, são vários os pontos para serem destacados:

Nenê x Magnano, Washingotn, CBB, seleção

Seleção: Segundo o jornalista, Nenê supostamente afirma que a CBB não imagina o que seja disputar uma temporada da NBA e do desgaste que isso gera. Digo “supostamente” porque as palavras não estão precisamente saindo da boca do pivô, mas, sim, num complemento do próprio Lowe.

“Você vai disputar a Copa do Mundo da FIBA em 2014 se o Brasil ganhar um convite?” – esta foi a pergunta.

Ao que o grandão responde: “Não sei. Tive lesões no passado, e isso deu a oportunidade para que outros jogassem, para que pudessem se desenvolver um pouco e ganhar experiência. A temporada aqui, na NBA, tem quase 115 jogos se você vai para os playoffs. (A Confederação Brasileira de Basquete) não tem ideia do que é isso. Ao final da temporada, você precisa de descanso. Te de parar e acalmar um pouco”.

Dá para ler este trecho e já fazer a manchete chocante, não? “Nenê ataca a CBB: ‘Não tem noção sobre o que é a NBA'”.

Fica a tentação. Mas, a partir do momento em que a entidade não é mencionada na pergunta e a referência sai do jornalista, não parece correto. Após as lamentáveis vaias que tomou no Rio de Janeiro, é bem provável que o pivô esteja falando sobre o país como um todo, sobre a falta de compreensão do que se passa numa campanha na liga.

Ele admite que os clubes (Nuggets e Wizards) fazem pressão para que os jogadores recusem as convocações. “Mas quando você está lidando com a seleção nacional, não dá para controlar muito. Você sabe como é. Espero que eles mudem a cabeça sobre jogadores que estão na NBA. Temos muitos jogos, muita pancadaria aqui.”

– Mentor: O papel de liderança, de exemplo que o paulista de São Carlos desempenha no time. Saíram dois exemplos interessantes sobre os quais os brasileiros em geral não têm acesso, sem poder acompanhar de perto o cotidiano do Washington Wizards – a não ser que você, torcedor sofredor do ex-Bullets, abra o Post e blogs locais religiosamente:

Nenê e o ex-companheiro Danilo Gallinari: figura respeitada no vestiário

Nenê e o ex-companheiro Danilo Gallinari: figura respeitada no vestiário

1) De acordo com os relatos de gente de dentro do clube, Nenê é desses raros caras que dizem não liga para estatísticas e que realmente age desta maneira, sem se importar com sua produção em quadra. “Só olho mais quando perdemos, para ver o que posso fazer melhor”, diz o jogador.Esse tipo de postura, numa liga tomada pelos mais diversos egomaníacos, faz um bem danado em qualquer vestiário. Envergonha os mais aparecidos e estabelece uma boa referência aos mais jovens.

2) O ala-armador Bradley Beal, segundanista, revelou que, quando algum de seus companheiros falha no posicionamento em quadra, no ângulo ou no timing de um corte para a cesta, ele pode se preparar: lá vem berro do pivô. “Ah, mano, não grito tão duro assim”, defende-se Nenê.

O brasileiro, então, discorre sobr seu entendimento do jogo e afirma que ter jogado futebol na infância o ajudou nisso. “Tem a ver com a visualização das jogadas. Quando um jogador corre em campo, e você quer passar a bola, é preciso enxergar dois pontos (a trajetória). Você tem de enxergar a conexão. É a mesma coisa no basquete”.

Simples assim: o famoso ponto futuro de Cláudio Coutinho!

E, para constar, o francês Kevin Seraphin é quem fica de orelha mais quente. “Ah, sim! Ele pode ser um pouco lento. Aí vou gritar!”, sorri

Lesões: Sem se incomodar em ter fama de bichado, Nenê fala dos diversos problemas físicos que teve na carreira. “Aprendi sobre meu corpo. Sei que alguma coisa vai acontecer. Mas tem vezes que você não consegue controlar. Tem vezes que você precisa jogar e você vai lá e faz. Tento pensar de modos como evitar as lesões, mas estou recebendo um salário alto”. Aí o pivô diz que tudo isso aconteceria por uma razão, num determinismo religioso. “Não está no meu controle, tudo acontece por uma razão”, diz. Ok, não sou o maior fã desse tipo de discurso, mas cada um se guia pelo que quer. Depois, ele dá a entender que os planos de se aposentar em 2016 podem ser revistos. Mas tudo dependendo dos planos de uma entidade suprema.

Rebotes: Para alguém com sua agilidade, tamanho, envergadura e inteligência de quadra, Nenê tem uma média um tanto ridícula de 6,9 rebotes na carreira. Mas Lowe destaca em uma de suas questões que, quando o brasileiro está jogando, seus times tendem a ter um dos melhores aproveitamentos na coleta de arremessos errados. O atleta explica: “Se eu não fizer o bloqueio de rebote, se tentar roubar a bola de meus companheiros, poderia ter média de 13 ou 14 por jogo. Mas eu aprendi do jeito certo. Aprendi a bloquear, respeitar cada lado da cesta. Há uma razão para termos um rebote melhor quando jogo, porque sei os fundamentos. Você precisa bloquear não só perto da cesta, mas no garrafão inteiro. Os caras de fora também, para que os baixinhos não nos surpreendam lá embaixo”. Para os que veem o brasileiro jogar há tempos, não há o que se questionar aqui: estes pequenos detalhes são evidentes.

Wizards x playoffs: no finalzinho da entrevista, Nenê evita em prometer qualquer coisa aos torcedores. Mas todo mundo sabe que é playoff ou nada para a equipe da capital neste ano. “Se eu for dizer que vamos terminar em tal lugar e não acontecer, então será tudo contra minhas palavras. Mas nosso time é muito, muito bom quando jogamos do jeito certo, quando exploramos nosso talento. O céu é o limite. As pessoas sempre perguntam se podemos ir para os playoffs. E eu digo que que sim. Essa é a resposta honesta. Mas temos de trabalhar.”

O problema: Nenê já perdeu sete partidas este ano, das 24 que o time fez até aqui. E o Wizards depende muito de suas habilidades e de seu jogo estabilizador. Segundo Lowe, o time venceu apenas 7 de 39 partidas sem o brasileiro. Com ele, são 42 triunfos e 46 derrotas.


Em seu momento mais frágil, Magnano reforça ofensiva contra jogadores. Entendam o que quiser…
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

(Atualização: 15h50, com declarações ao programa Arena SporTV)

Magnano e Splitter, antes ou depois do churrasco?

Magnano e Splitter em abril nos Estados Unidos: sorrisos

É difícil entender aonde Rubén Magnano quer chegar com tudo isso. Se a meta é atingir um suicídio político – intencional ou não –, está encaminhando as coisas muito bem, obrigado.

Na pior hora possível, depois de conduzir um trabalho lamentável na Copa América, o argentino resolveu contestar, bater de frente com os jogadores que pediram dispensa do torneio continental. Está claro que se sente traído por “três ou quatro” desses atletas, que teriam dito que se apresentariam e, depois, mudaram de posição.

“Nem para elogiar nem para criticar sou uma pessoa que cita nomes. Mas em três ou quatro dispensas, eles haviam falado ‘sim’ para mim. Achava que a presença desses três ou quatro jogadores me dava uma condição de segurança interior, de que poderiam pegar a equipe em suas mãos. Não aconteceu assim, por isso fiquei um pouco abatido com isso. São caras que decepcionaram muito a gente”, afirmou durante o desembarque da seleção em São Paulo.

Ainda de cabeça quente e, principalmente, com o orgulho de campeão olímpico duramente ferido por derrotas que não poderia imaginar de forma alguma, o argentino resolveu que seria de bom tom fazer esse tipo de  ataque no saguão de um aeroporto – e, ainda por cima, sem levar sua ofensiva até as últimas consequências. Digo: se é para continuar colocando o dedo na ferida, que falasse, sim, quem seriam aqueles que julga traidores, em vez de generalizar.

Mas, a despeito do mistério, pudor, cuidado, reserva ou “ética” do treinador, eu, você e toda a torcida do Flamengo sabemos que Tiago Splitter é um desses alvos, se não o principal deles. Afinal, o treinador, mesmo, já havia se dito surpreso com sua ausência. Detesto esse tipo de marketing pessoal, da panca de sabe-tudo, mas, ao ler as declarações do técnico na época, a sensação de estranheza foi enorme. Daí a motivação para escrever este post. Ou este aqui: quando chegou a hora de se desentender também publicamente com Marquinhos.

Não pegou nada bem esse tipo de bate-boca naquela ocasião. Agora, depois do vexame que foi a campanha na Venezuela, repetir esse tipo de discurso é de deixar qualquer um pasmo. Inclusive o próprio Splitter, geralmente muito discreto, mas que se sentiu impelido a redigir uma carta pública para rebater “críticas” sem identificar em quem mirava. Em quem será?

“Alguns falaram que a culpa foi dos jogadores que não foram. Lembro que, quando não estava na minha melhor forma e totalmente no sacrifício, fui criticado por jogar abaixo do que podia. Quando nasceu meu filho, fui diretamente aos treinamentos e passei os primeiros dois meses longe da família. Quando minha irmã estava vivendo seus últimos dias de vida, lá estava eu representando meu país”, escreveu Splitter.

E aí temos este  trecho de abrir os olhos: “Na derrota é onde nos conhecemos melhor e nunca qualquer um de nós apontou o dedo para o outro , ao contrário, nos uníamos mais ainda”.

Mensagem recebida.

Anderson Varejão, divulgando seu comunicado em pílulas de 140 caracteres no Twitter, foi um pouco mais brando em sua intervenção. Recuperando-se de uma embolia pulmonar e de mais uma lesão gravíssima, suponho que não era uma atitude tão necessária assim. Mas lá foi ele se justificar. Em sua explanação, contudo, não só contemporizou, como defendeu a continuidade do trabalho. “O momento é de reflexão, de pensar o que se pode tirar de lições dessa campanha ruim e olhar para frente, seguir trabalhando. O Brasil vinha crescendo e esse resultado não pode interromper nossa evolução”, escreveu. “Não pode interromper” é o ponto-chave aqui, atentem.

De qualquer forma, Varejão falou isso ontem. E foi hoje que Magnano veio com sua marreta em punho. Que tipo de situação ele esperava criar com estes comentários? Direcionar as críticas ao seu trabalho para aqueles que não se apresentaram? Está tentando jogar lenha na fogueira para incentivar sua demissão? Ou simplesmente se atrapalha todo quando o momento requer um mínimo de cuidado político?

Sinceramente, difícil julgar agora. Ainda mais quando, na mesma entrevista no saguão de um aeroporto, Magnano afirmou o seguinte:  “Não adianta rancor, a seleção brasileira está acima de todos nós. Não tenho nenhum problema com eles, não temos que criar muito mais polêmica. Temos que trabalhar sobre isso e buscar uma maneira dos jogadores se comprometerem mais. São caras que ainda vão representar em muitas ocasiões a seleção brasileira”.

E quem entende uma coisa dessas? Esse morde e assopra: primeiro detona os caras e, depois, como que se a vida seguisse normalmente, fala em “trabalhar sobre isso e buscar maneiras”, que “não adianta criar muito mais polêmica”. Que loucura. E mais: sabe aquele papo de que não cita nomes e tal? Leiam esta declaração: “Sabia que seria difícil de alguns jogadores que convoquei virem, como o Leandrinho. Fisicamente seria muito difícil ir à competição, mas ele ainda tentou. A convocação foi para que os caras falem ‘não’ e expliquem isso também, porque não iriam”. Hã… O que ele acabou de fazer?

Em meio a essa saraivada, o diretor de seleções Vanderlei não emite nenhum comunicado sequer, não chama a responsabilidade. Muito menos o Carlos Nunes, o presidente Carlinhos da CBB, o mais fiel partidário daquela boa e velha tática da raposa política que só aparece para falar nas vitórias.

Mas não é de se estranhar: numa terra de cegos, Magnano, com seu histórico, fez o que bem entendeu na administração da seleção durante anos e anos, sem tem com quem debater ou quem o controlasse. Por que agora seria diferente?

O problema é que, na sua intempérie e em seu discurso incoerente (ou não…),  o treinador, um cara digno, competente, dos melhores no ramo, derrama mais um balde de óleo numa situação pronta para fritura.

Atualização: Em participação inócua no programa Arena SporTV, Carlos Nunes ao menos afirmou que Magnano segue na seleção até 2016 – e, se quiser, ainda mais. Esqueceu-se que não tem mandato eterno no cargo. De qualquer forma, mesmo que não do modo mais firme, garantiu que não vai ter demissão. Antes, em entrevista gravada, quando questionado se havia pensado em sair, o argentino arregalou os olhos, meio que indicando: “Jamais”. E aí lembrou então o seguinte ditado: “O que não te mata, te endurece”… Quando perguntado se há chance de jogar por medalha no Rio 2016, disse: “Se o Brasil fizer um trabalho mediano e se houver um comprometimento importante, o time tem condições de brigar por medalha”.

Conclusão: que esteja mantido no cargo é uma rara decisão sensata da atual gestão da CBB – mas isso não serve, não pode servir como que estejam assinando embaixo de tudo o que o treinador fez e tem feito. O fiasco esportivo na Copa América não pode ser ignorado de modo algum.

Sobre o fator NBA: obviamente apenas com a equipe completa que a seleção terá chance de brigar por resultados expressivos no futuro imediato. Transferir, porém, toda a responsabilidade para o comprometimento – ou amor – destes atletas ao país não pega nada bem. Aliás, lembremos: em 2011 a vaga olímpica foi conquistada com o vice-campeonato na Copa América, e, de diferente, lá estavam apenas Tiago Splitter (arrebentado e fora de forma), Marquinhos e Marcelinho Machado.

Não obstante, fica ainda mais deslocada sua ofensiva contra os jogadores. Se eles são tão fundamentais assim, Magnano vai precisar de um esforço diplomático nos próximos meses e temporadas com a mesma energia e verve que gastou nas últimas 48 horas, quando partiu para o ataque.

*  *  *

Em seu rompante, Magnano também cometeu um equívoco, ou, no mínimo, uma injustiça histórica ao falar sobre como era mais fácil contar com seus principais jogadores na época de Argentina. Não dá para comparar uma coisa com a outra – e não só pelo distanciamento de 10, 14 anos atrás. “Tive a felicidade treinando a Argentina de, em quatro anos, não ter nenhum pedido de dispensa. Aqui você vê que é muito difícil, temos que trabalhar muito para criar uma consciência de seleção, um orgulho”, afirmou.

Só faltou completar que, no ciclo que o consagrou como campeão olímpico, na base Argentina apenas Manu Ginóbili estava na NBA, tendo chegado ao San Antonio Spurs em 2005. Andrés Nocioni e Carlos Delfino? Fecharam com Chicago Bulls e Detroit Pistons depois dos Jogos de Atenas 2004. Fabricio Oberto se juntou a Manu em 2005. Luis Scola? Assinou com o Houston Rockets apenas em 2007. Por que então eles pediriam dispensa se não havia impedimento algum?

E, lembrem-se: uma vez de contrato assinado nos Estados Unidos, Ginóbili se tornou uma presença bissexta na seleção, assim como Nocioni e, agora, no mais recente caso, Pablo Prigioni.

*  *  *

Fica um registro obrigatório: sem que ninguém divulgasse nada em Caracas, a seleção sofreu com problemas internos de saúde durante a Copa América. “Pouca gente falou nisso [virose], mas nos afetou demais. Isso não é uma desculpa, mas quando um time está em uma situação limite, a ausência de dois ou três jogadores afeta realmente a produção”, disse Magnano. Foi uma crise de virose que abalou, no mínimo, Larry Taylor, Alex, Cristiano Felício e Rafael Luz. Resta saber quantos quilos eles perderam, se estavam febris na hora de ir para quadra etc. E se isso por acaso afetou alguma outra delegação na capital venezuelana.