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A parceria NBB e NBA: otimismo, mas com os pés no chão

Giancarlo Giampietro

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Em momentos de anúncio de grandes eventos, grandes notícias, o jornalista nunca se pode esquecer que não está ali como torcedor. Ele é uma testemunha, sim, como todos, mas tem de obrigatoriamente dar um passo para trás sempre, se permitindo a chance de avaliar o que está acontecendo e fazer questionamentos.

O anúncio da parceria entre a LNB e a NBA é um desses acontecimentos que pede um pouco de parcimônia. Neste caso, porém, para qualquer um daqueles que estiveram presentes ao clube Pinheiros para a coletiva que ratificou o acordo, o mais interessante foi reparar que não houve nenhum arroubo ufanista, nenhum acesso a hipérboles, nem nada. O que configura um cenário extremamente positivo.

Não se enganem: não é que os dirigentes que ajudaram a viabilizar o NBB estivessem cabisbaixos ou com uma atitude blasé. Pelo contrário: o presidente Cássio Roque, o vice-presidente João Fernando Rossi e Kouros Monadjemi estavam todos empolgados, sorridentes, relembrando histórias da construção do novo campeonato nacional.  Mas sem se empolgar demais, sem prometer mundos e fundos. Os representantes da NBA tinham a mesma postura. Em comum, de metas anuncias, tivemos apenas a ideia de que o basquete volte a ser o esporte número dois no país.

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(Parêntese: isso foi na véspera de o Banco do Brasil anunciar a interrupção no repasse de verbas para a CBV; independentemente da lamentável crise vivida pelo vôlei nestes dias, é de se perguntar se o basquete já não é o segundo… afinal, segundo dados do ministério do Esporte, ela já é a segunda modalidade mais praticada no país; a questão é traduzir esse interesse em números e negócios concretos.)

Do meu cantinho aqui na Vila Guarani, acho tudo isso muito apropriado. O otimismo se faz até obrigatório, mas sem prenunciar milagres. O projeto é inédito, pode ser revolucionário/histórico para o basquete brasileiro, mas tem longo prazo – não deve e nem tem como ser avaliado agora. Além do mais, a LNB já fez bastante do seu lado para dizer que este seria um ''recomeço''. Isso já aconteceu há seis anos, quando a liga nacional foi criada finalmente, depois de ''momentos bélicos'', como disse o presidente Cássio Roque. A liga já representa uma bonança após um biênio 2006-2007 para lá de tempestuoso, com campeonato oficial que não terminava e competições paralelas que não decolaram.

Os novos parceiros ainda estão em fase de conversação. As reuniões, admitem, já vinham acontecendo há semanas, antes mesmo da assinatura do contrato. As partes estão se conhecendo. Para a NBA, é preciso um tempo de adaptação, para se conhecer uma nova realidade. Por mais que a marca já tenha estabelecido um escritório no Rio de Janeiro e feito avanços significativos por estas bandas, a gestão de uma competição nacional é um tipo de desafio completamente diferente.

Na hora de avaliar os pontos a serem atacados, a prioridade é o setor comercial. O diretor executivo da liga americana no Brasil, Arnon de Mello, abriu a coletiva tocando precisamente neste ponto. Para depois falar em como sua organização pode colaborar com expertise também em outras áreas. As coisas vão avançando paralelamente, com esses diversos departamentos envolvidos, mas o pontapé inicial, mesmo, é a captação de recursos. De grana, mesmo, seja por conquista de patrocinadores, licenciamento de produtos e ações de marketing. Algo em que são campeões.

A NBA conta hoje com mais duas dezenas de parceiros comerciais em suas operações globais. Algumas dessas corporações já teriam feito sondagens sobre possíveis negócios no Brasil. Pode não sair nada daí, mas a liga americana vai à caça de patrocinadores para o campeonato que já está em andamento. A ideia, todavia, é encontrar marcas dispostas a se envolver com o NBB a longo prazo, para gerar a cobiçadíssima sustentabilidade. Lembrando que o campeonato hoje não conta com nenhum patrocínio master.

Faz sentido. Primeiro é importante estabelecer essa base, os alicerces para o campeonato prosperar. Estabilidade financeira para que os dirigentes nacionais, com ajuda do know-how norte-americano, então, se concentrem em melhorias nas outras áreas administrativas, especialmente em infraestrutura. Uma coisa não exclui a outra também: não é porque o foco é comercial, que um intercâmbio na área técnica não possa acontecer, claro. Mas ainda não há planos declarados. (PS: Para o lado de gestão operacional e de infra, é possível que já haja novidades no fim de semana do Jogo das Estrelas ou mesmo na decisão, que nesta temporada será disputada em série melhor-de-três.)

O que a NBA ganha com isso tudo? Como disse Jason Cahilly, responsável pelo departamento estratégico e financeiro da liga, a ideia é desenvolver um ''ecossistema favorável'' ao basquete no Brasil, no qual, obviamente, 0 NBB não seria o único a encontrar mais dinheiro e possibilidades. A liga americana, nas palavras de Arnon de Mello, detecta um mercado ''maduro'' para esse crescimento.

Mas o ideal, mesmo, é expandir esse mercado, e, não, contar apenas com os atuais simpatizantes do bola-ao-cesto. Para tanto, é preciso mais promoção para o jogo e incentivo à prática. Se a CBB colabora pouco, ou quase nada faz para a massificação da modalidade no país, a parceria LNB/NBA assume parte essa empreitada. Cahily, mesmo, citou o termo grassroots em seu discurso de apresentação (todo em português, aliás).

Do ponto de vista mais prático, se as duas siglas conseguirem avançar comercialmente, gerando recursos, é de se esperar que os clubes nacionais tenham mais autonomia para agir. Que refinem suas próprias estrutura de gestão, podendo coordenar as categorias de base com mais zelo, contratarem melhor etc. Este é um cenário ainda muito distante, porém. Antes de tudo, eles precisam cumprir com suas obrigações financeiras. Coisa que até mesmo o supercampeão Flamengo não vem fazendo, enquanto um clube como Franca faz vaquinha virtual, correndo o risco de fechar as portas. ''Há muito o que ser feito'': foi uma das frases mais ouvidas no anúncio do acordo na semana passada.

De qualquer forma, a aproximação da NBA já vale como um baita reconhecimento ao trabalho da liga nacional. Serve como um gesto de aprovação ao trabalho feito até aqui, que pegou um esporte no buraco e o transformou num produto que atraiu o interesse estrangeiro, contando antes com aporte do ministério do Esporte e de uma patrocinadora estatal. No que vai resultar esse envolvimento, ninguém sabe ainda. ''Ficam me perguntando o que esperar disso? Digo que não sei'', afirma Cássio Roque, o presidente da LNB. ''Só sei que estamos ao lado da companhia certa.''

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