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Mercado da Divisão Noroeste: o enigma OKC e um monte de moleque
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Giancarlo Giampietro

Quem já leu os textos sobre a Divisão Central, a Divisão Pacífico e/ou a Divisão Sudeste, pode pular os parágrafos abaixo, que estão repetidos, indo direto para os comentários clube a clube. Só vale colar aqui novamente para o marujo de primeira viagem, como contexto ao que se vê de loucura por aí no mercado de agentes livres da NBA

Kris Dunn (d) e Jamal Murray: mais caras novas e jovens no Noroeste

Kris Dunn (d) e Jamal Murray: mais caras novas e jovens no Noroeste

As equipes da NBA já se comprometeram em pagar algo em torno de US$ 3 bilhões em novos contratos com os jogadores, desde o dia 1º de julho, quando o mercado de agentes livres foi aberto. Na real, juntos, os 30 clubes da liga já devem ter passado dessa marca. Cá entre nós: quando os caras chegam a uma cifra dessas, nem carece mais de ser tão preciso aqui. Para se ter uma ideia, na terça-feira passada, quarto dia de contratações, o gasto estava na média de US$ 9 mil por segundo.

É muita grana.

O orçamento da liga cresceu consideravelmente devido ao novo contrato de TV. O teto salarial subiu junto. Se, em 2014, o teto era de US$ 63 milhões, agora pode bater a marca de US$ 94 milhões. Um aumento de 50%. Então é natural que os contratos acertados a partir de 1o de julho sejam fomentados desta maneira.

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Vem daí o acordo acachapante fechado entre Mike Conley Jr. e Memphis Grizzlies, de US$ 152 milhões por cinco anos de duração, o maior já assinado na história. Na média anual, é também o mais caro da liga. O que não quer dizer que o clube o considere mais valioso que Durant e LeBron. É só que Robert Pera concordou em pagar ao armador o máximo que a franquia podia (no seu caso, com nove anos de carreira, 30% do teto salarial), de acordo com as novas regras do jogo.

Então é isto: não adianta ficar comparando o salário assinado em 2012 com os de agora. Se Stephen Curry, com US$ 12 milhões, ganha menos da metade de Conley, é por cruel e bem particular conjuntura. Quando o MVP definiu seu vínculo, estava ameaçado por lesões aparentemente crônicas e num contexto financeiro com limites muito mais apertados. Numa liga com toda a sua economia regulamentada, acontece.

O injusto não é Kent Bazemore e Evan Turner ganharem US$ 17 milhões anuais. O novo cenário oferece isso aos jogadores. O que bagunça a cabeça é o fato de que LeBron e afins não ganham muito mais do que essa dupla, justamente por estarem presos ao salário máximo. Esses caras estão amarrados de um modo que nunca vão ganhar aquilo que verdadeiramente merecem segundo as regras vigentes, embora haja boas sugestões para se driblar isso.

Feito esse registro, não significa que não exista mais o conceito de maus contratos. Claro que não. Alguns contratos absurdos já foram apalavrados. O Lakers está aí para comprovar isso. Durante a tarde de sexta-feira, recebi esta mensagem de um vice-presidente de um dos clubes do Oeste, envolvido ativamente em negociações: “Mozgov…  Turner…  Solomon… Sem palavras”. A nova economia da liga bagunça quem está por dentro também. As escorregadas têm a ver com grana, sim, mas pondo em conta o talento dos atletas, a forma como eles se encaixam no time, além da duração do contrato.

Então o que aconteceu de melhor até aqui?

Para constar: o blog ficou um pouco parado nas últimas semanas por motivo de frila, mas a conta do Twitter esteve bastante ativa (há muita coisa que entra lá que não vai se repetir aqui). De qualquer forma, também é preciso entender que, neste período de Draft e mercado aberto, a não ser que você possa processar informações como um robô de última geração como Kevin Pelton, do ESPN.com,  o recomendável não é sair escrevendo qualquer bobagem a cada anúncio do Wojnarowski no Vertical. Uma transação de um clube específico pode ser apenas o primeiro passo num movimento maior, mais planejado. A contratação de Rajon Rondo pelo Chicago Bulls no final de semana muda de figura quando o clube surpreende ao fechar com Dwyane Wade, por exemplo. No caso, fica ainda pior.

Agora, com mais de dez dias de mercado, muita coisa aconteceu, tendo sobrado poucos agentes livres que realmente podem fazer a diferença na temporada, deixando o momento mais propício para comentários:

– Denver Nuggets
Quem chegou: Jamal Murray e Malik Beasley.
Quem ficou: Darrell Arthur.
Quem saiu: DJ Augustin (Magic).

Juancho vai ficar em Denver? Já vale muito, independentemente

Juancho vai ficar em Denver? Já vale muito, independentemente

É como se o Denver Nuggets fosse o Boston Celtics do Oeste, mas como se o ano fosse 2014, sem um técnico chamado Brad Stevens. Com todo o respeito a Mike Malone. Em termos de at jovens jogadores promissores e moedas de troca, porém, o clube do Colorado está abarrotado. Uma hora, vão usar estes ativos em alguma negociação de impacto. Por ora, só precisam de um pouco de paciência. O flerte com Dwyane Wade só valeu para a franquia ao menos se anunciar ao mercado.

O gerente geral Tim Connely explorou novamente os mares abertos para adicionar mais revelações estrangeiras, seguindo a trilha que vem dando tão certo nos últimos dois anos, com Joffrey Lauvergne, Jusuf Nurkic e, principalmente, Nikola Jokic. Mesmo que Juancho Hernángomez (mais preparado) e Petr Cornelie sigam na Europa, são desde já atletas de valor na liga.

Enquanto isso, o canadense Jamal Murray vai reforçar a rotação de armadores de Malone, como ótimo reserva para a dupla Emanuel Mudiay-Gary Harris, podendo os três revezar tranquilamente. Malik Beasley também pode entrar na rotação, dependendo de sua recuperação de cirurgia e do seu aproveitamento nos arremessos de fora.

A diferença para Boston é que Denver está no Oeste, em uma conferência em que a vida para se reconstruir é um pouco mais ingrata. Imagino que o cenário da temporada passada, com o Rockets se classificando aos playoffs com 42 vitórias, foi só uma exceção. E não sei bem como Gallinari e a garotada poderão bater essa meta para entrar na briga.

– Minnesota Timberwolves
Quem chegou: Kris Dunn, Cole Aldrich, Jordan Hill e Brandon Rush.
Quem saiu: Greg Smith (dispensado).

Cole Aldrich: reforço e torcedor para Minnesota

Cole Aldrich: reforço e torcedor para Minnesota

Thibs vai dirigir um elenco de base muito jovem, à qual foi adicionado mais um talento (aparente) de ponta: Kris Dunn. O armador é mais velho que Towns e Wiggins, aos 22. Mas tem um potencial fantástico para se explorar. Como ele vai jogar ao lado de Ricky Rubio, é a grande questão.

Há muito barulho em torno de uma possível troca do espanhol, mas acho que seria um erro. Rubio é um arma quase perfeito para fazer a molecada jogar com sua visão 6D (sim, ele enxerga muito mais dimensões do que a física pode conceber em quadra). Só não é perfeito porque ainda não se tornou um chutador nem mesmo razoável. Mas não é que Dunn seja um Kyrie Irving também. Longe disso.

O que o novato tem de mais especial são suas infiltrações agressividas e explosivas, que botam muita pressão na defesa. De todo modo, a prioridade do ataque do Wolves serão as mais diversas habilidades de Towns. Durante a Summer League de Vegas, Dunn não se mostrou muito preocupado em acionar seus companheiros. Se Rubio ficar, o calouro deve ser usado como um sexto homem pontuador, então.

Em termos de veteranos, com dois pivôs, Thibs dá a entender algumas coisas: a) Kevin Garnett realmente não deu nenhum indício ao clube de que vá jogar; b) o que vier de Nikola Pekovic e seus frágeis pezões seria lucro; c) Gorgui Dieng deve ser mantido no time titular ao lado de Towns; d) Nemanja Bjelica não é muito bem visto pela nova diretoria – o que é uma pena.

A história de Aldrich é muito bacana. O pivô é realmente torcedor fanático do Wolves e retorna à casa com US$ 21 milhões garantidos. Uma baita grana para o cidadão normal americano, mas uma barganha e tanto neste mercado inflacionado. Será um pivô útil para jogar com Towns eventualmente e para consolidar a defesa da segunda unidade.  (Quem diria que essa frase faria sentido três anos atrás?! A lição aqui: nunca é tarde, especialmente para pivôs. Mais: se Sam Presti selecionou um atleta, e, por alguma razão, OKC o dispensou, o restante da liga deve ficar antenado. É o mesmo raciocínio em torno do Spurs, com Ian Mahinmi, George Hill e Cory Joseph podem provar. Então fiquemos de olho em Mitch McGary.)

– Oklahoma City Thunder

E aí, mano?

E aí, mano?

Quem chegou: Victor Oladipo, Domantas Sabonis, Ersan Ilyasova e Alejandro Abrines.
Quem saiu: Kevin Durant (Warriors), Serge Ibaka (Magic) e Randy Foye (Nets).

É, que dureza. Não há nem muito o que escrever sobre OKC sem desafiar a depressão. Também pode ser um exercício desnecessário, enquanto o clube não tomar uma decisão sobre o que fazer com Russell Westbrook. O cara será agente livre ao final do ano. Eles vão correr o risco de perdê-lo por nada, assim com aconteceu com Durant. O Boston Celtics está esperando. Na verdade, pode colocar ao menos um terço da liga nessa. Mesmo com apenas um ano de contrato, ele ainda renderia boas peças para uma reconstrução mais profunda, iniciada já com a saída de Ibaka.

Com Wess, o Thunder ainda vai brigar para chegar aos playoffs. Aconteceu em 2014, quando Durant estava fora de ação e o próprio armador perdeu algumas partidas. O elenco de hoje é melhor que o da época – Steven Adams se tornou uma força no garrafão, Ersan Ilyasova vai poder chutar como Ibaka e Domantas Sabonis chega pronto para brigar no garrafão. Seria interessante, ainda, ver Oladipo ao seu lado, como dois maníacos atléticos agredindo os adversários.

Em tempo: David Pick informa que o clube está contratando o espanhol Alejandro Abrines, um excelente arremessador de 22 anos que já tem sete temporadas como profissional na Europa e já foi aprovado em jogos de Euroliga. ‘Álex’ é a última peça que vem do legado James Harden. Foi com uma uma escolha de segunda rodada adquirida na megatroca do barbudo que Presti o selecionou. O jovem ala seria um baita companheiro de ataque para A Dupla Que Não Foi Campeã – bem melhor que Dion Waiters, creiam. Ainda assim, vale a aposta da franquia em seu basquete. A dinâmica da NBA deve fazer bem a um atleta que ficou por muito tempo de mãos atadas sob a direção de Xavier Pascual em Barcelona.

– Portland Trail Blazers

Um dos contratos mais questionáveis deste mercado

Um dos contratos mais questionáveis deste mercado

Quem chegou: Evan Turner, Festus Ezeli, Shabazz Napier e Jake Layman.
Quem ficou: Allen Crabbe e Meyers Leonard.
Quem saiu: Gerald Henderson (Sixers) e Brian Roberts (Hornets).

Depois de surpreender e causar boa impressão, o Blazers estava numa situação curiosa, com espaço de sobra em sua folha salarial para oferecer mundos e fundos para quem quisesse, tentando adicionar talento em torno da dupla Damian Lillard e CJ McCollum. Seu alvo primordial foi Chandler Parsons, que acabou preferindo fechar com o Memphis Grizzlies. Dependendo do estado de seus joelhos, talvez não tenha sido algo tão ruim assim.

Num mercado que não era dos mais animadores, porém, a dúvida era o que fazer com tanta grana. Esperar uma oportunidade melhor para investir? Quando foi informado que Parsons não estaria a abordo, Neil Olshey preferiu direcionar esforços rapidamente para a contratação de Evan Turner, que vai receber salário de US$ 17 milhões anuais. Hã… sério? Mesmo o melhor basquete de sua carreira, sob o comando de Brad Stevens, foi algo que justifique tanta grana e a promessa de que será titular no Oregon.

Turner é um desses casos exemplares em que os números realmente não dizem tudo. Acumula rebotes e assistências, mas seu volume de jogo não se traduz em eficiência. O ala é polivalente, faz de tudo um pouco – menos arremessar de três pontos, o que só atrapalha, aliás (30,5% na carreira, 24,1% na temporada passada). Não que seja um jogador ruim. Só não é alguém para ser titular numa equipe que tenha muitas pretensões. Em Boston, ele se encaixou por jogar ao lado de caras como Marcus Smart e Avery Bradley, que ainda não conseguem produzir por conta própria. Então a bola ficava com ele, especialmente nos momentos em que Isaiah Thomas ia para o banco. Em Portland, você não vai tirá-la das mãos de Lillard e McCollum. Não é que a dupla estivesse precisando de ajuda para criar jogadas. Na defesa, ao menos suas contribuições ao lado da dupla serão mais positivas.

As implicações financeiras desse acordo ficaram ainda mais delicadas quando o Brooklyn Nets topou pagar US$ 74 milhões pelo ala reserva Allen Crabbe, um dos poucos chutadores que o Blazers tem para assessorar seus fantásticos armadores. Olshey se viu pressionado a cobrir a oferta, com o receio de perder um jovem jogador sem ganhar nada em troca. Logo mais, chegará a hora de renovar com McCollum e,  possivelmente, Mason Plumlee. Saiu tudo muito mais caro do que poderiam imaginar.

Por outro lado, Festus Ezeli, por US$ 16 milhões e dois anos, é uma boa aposta. O nigeriano chega para dar cobertura a Plumlee e Ed Davis, sendo o melhor dos três para proteger o aro. A rotação interior fica mais forte e atlética, por um preço que hoje é uma pechincha. Se o pivô voltar a sentir o joelho, o clube não sentirá tanto, devido ao curto período de duração de seu contrato.

Shabazz Napier? A essa altura, acho que nem LeBron mais acredita nele como opção viável de NBA.

– Utah Jazz

É, Joe Johnson, o tempo passou

É, Joe Johnson, o tempo passou

Quem chegou: George Hill, Joe Johnson e Boris Diaw.
Quem saiu: Trey Burke (Wizards) e Trevor Booker (Nets).

Vejam só quem decidiu dar um passo à frente. O Utah primeiro se atrapalhou com lesões de seus pivôs titulares e, depois, sentiu a pressão na luta pelos playoffs nas semanas derradeiras de temporada. No final, entre 2014 e 2015, sem muito investimento, seu número de vitórias subiu apenas de 38 para 40. A evolução natural de sua jovem base não foi o bastante, nem mesmo num ano em que muitos dos concorrentes não jogaram o que a NBA esperava. Então chegou a hora de o clube de Salt Lake City se mexer para valer, contratando três jogadores bastante experientes, que devem, salvo algo muito grave, enfim, fazer a diferença e levar esse time à casa de 50 vitórias – ou algo muito perto disso – e aos mata-matas.

Sobre George Hill, que custou a 12ª escolha do Draft, escrevi aqui. Ele reforça a defesa da equipe e, no ataque, se não é a figura brilhante que agradava Larry Bird ao máximo, representa uma evolução em relação a Shelvin Mack e Raulzinho, como condutor secundário, ao lado de Gordon Hayward, Rodney Hood e, quiçá, Alec Burks. Enquanto Dante Exum se recupera e vai crescendo, está ótimo.

O segundo alvo foi Joe Johnson, que vai entrar no revezamento com Hood e Hayward, deixando o time sempre com uma boa opção de arremesso nas alas, podendo também fazer as vezes de ala-pivô aberto, dependendo de quem estiverem enfrentando. Com o jovem Trey Lyles progredindo rapidamente, talvez nem seja necessário.

Já Boris Diaw foi quase que um presente de San Antonio. Assim como aconteceu com Tiago Splitter e Atlanta no ano passado, RC Buford e Gregg Popovich tinham de encontrar um clube para assimilar o contrato de Boris Diaw, de olho em Pau Gasol. Ajuda muito ter diversos ex-companheiros de trabalho espalhados pela liga, como Dennis Lindsey, gerente geral do Utah. Se Diaw vai se comportar em Salt Lake e se manter em forma minimamente razoável, não dá para apostar – se decepcionar, o time está muito bem preparado, não há problema. Ele ao menos curte Rudy Gobert.

Muitos questionam a capacidade da franquia para atrair agentes livres. É uma preocupação real, mas Johnson topou. Sem alarde, porém, usando o espaço em sua folha salarial e sem pagar quase nada.

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Quando o prêmio da NBA vem na hora certa. Ou não
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Giancarlo Giampietro

Duas vezes Chef Curry

Duas vezes Chef Curry

Stephen Curry foi aclamado nesta terça-feira como o MVP da NBA 2015-16 de modo unânime. Foi a primeira vez na história que isso aconteceu. Ao receber todos os 131 votos dos jornalistas americanos que participaram da eleição, o astro do Golden State Warriors sobrou mais que o dobro de pontos do segundo colocado, Kawhi Leonard. Michael Jordan, em 1995-96, não por coincidência o ano das 72 vitórias, foi quem mais chegou perto dos 100% de votos: 96,5%.

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Curry também foi o MVP que mais aumentou seu índice de eficiência de uma temporada para a outra, subindo em 3,5 pontos, para alcançar a marca de 31,56 — para comparar, Kevin Durant foi o segundo nesse quesito, com 28,25. Até este ano, o legendário Larry Bird foi quem havia mais crescido, entre 1984 e 85, no auge, quando ganhou 2,3 pontos de eficiência. Quer dizer: não teve título ou fama que fizesse o astro do Warriors se acomodar. Não é tudo o que se espera de um jogador profissional e tal? Nem cabe polêmica aqui, gente. Deixemos de chatice, por mais que aquela célebre frase de Nelson Rodrigues seja engraçada e instigadora.

Dito isso, então não houve melhor data para que Steph tivesse seu prêmio confirmado pela liga americana, já que isso aconteceu apenas algumas horas depois de mais uma exibição incrível do armador. Voltando de uma contusão no joelho e de um baita susto, ele retornou em Portland para livrar o Golden State de um aperto desnecessário antes da final do Oeste. Depois de levar uma bronca de Steve Kerr pelo empenho abaixo do nível pelo Jogo 3, o time surpreendentemente não deu a resposta de imediato na partida seguinte, tomando uma surra do Trail Blazers nos primeiros minutos. E aí que o técnico se viu obrigado a lançar seu principal atleta um pouco mais cedo do que esperava.

Inicialmente, o plano era que Curry ficasse em quadra aproximadamente por 25 minutos. Mas aí aconteceram o péssimo início de partida e, pior, a exclusão de Shaun Livingston (quem diria?!) ao final do primeiro tempo, se o Warriors quisesse fazer frente aos anfitriões e retornar a Oakland em condição confortável, não teria como limitar os minutos d’O Cara assim. Jogou por 37 minutos e, vocês sabem, anotou 40 pontos, 17 dos quais na prorrogação. Foi um soco no estômago dos jovens valentes do Blazers e mais uma atuação mágica do armador nesta temporada. Mais uma na lista encabeçada por aquela exibição inacreditável em OKC.

Acontece que, por alguns minutos, a cerimônia de entrega do prêmio poderia ter ficado um pouco estranha. Não que uma derrota em Portland fosse desmerecer o conjunto da obra. Claro que não. Mas é que o armador estava encontrando dificuldade em seu retorno às quadras, em busca de ritmo de jogo. Ele chegou a errar nove arremessos de três pontos consecutivos, algo impensável neste ano em condições normais, mas muito natural para quem havia parado por tanto tempo. Então imagine se ele não tivesse reencontrado o rumo? Imagine se não houvesse aquela prorrogação incrível? Enfim. Curry ainda seria o MVP unânime, merecidamente. Mas seria chato, ainda assim.

Muito pior, sem dúvida, foi a experiência que Dirk Nowitzki viveu em 2007, quando seu Dallas Mavericks fez a melhor campanha da temporada regular, liderado pelo craque alemão em seu auge técnico-atlético, atingindo invejável marca de 67 vitórias. Só para, durante os playoffs, se tornar um dos casos raros de cabeça-de-chave número um a cair logo na primeira rodada, eliminado pelo Golden State Warriors por 4 a 2. O Mavs foi derrotado por um elenco de atletas explosivos (em todos os sentidos) como Baron Davis, Monta Ellis, Stephen Jackson, Jason Richardson, liderados pelas traquinagens de Don Nelson, seu antigo mentor.

Quando a NBA programou a entrega do troféu para Dirk, o time texano já havia sido eliminado, e a repercussão da época foi humilhante. Lembremos que isso foi quatro anos antes de chegarem ao título. Até 2011, a verdade é que o ala-pivô era visto por muitos como um tremendo de um amarelão (argh!!!), leão de temporada regular que morria sempre na praia. Acho que LeBron James e Dwyane Wade não concordariam com essa versão hoje. De qualquer forma, esta lenda viva do basquete estava simplesmente desmoralizada na hora de dar a coletiva. Foi um episódio deprimente.

*   *   *

O prêmio de MVP é aquele que recebe mais atenção em uma temporada. Muito mais que o de Executivo do Ano, que R.C. Buford recebeu este ano, claro. O gerente geral do San Antonio Spurs, que trabalha em parceria com Gregg Popovich (o presidente do clube) ganhou seu troféu na segunda-feira, um dia antes de Curry e um dia depois da derrota de sua equipe para o Oklahoma City Thunder pelo Jogo 4 das semifinais. A série estava empatada naquele momento. Hoje, depois de mais um jogo muito equilibrado e nervoso, Russell Westbrook e Kevin Durant conseguiram a virada e voltam para casa com a chance de fechar o confronto nesta quinta.

A ameaça da derrota perante OKC não tira o brilho das operações que Buford conseguiu realizar em julho do ano passado, arrumando espaço em sua folha salarial para contratar LaMarcus Aldridge, o principal agente livre no mercado. Ao fechar o negócio, Buford não só deu a Tim Duncan a chance de reeditar essa história de Torres Gêmeas em San Antonio, fazendo do time um candidato ainda mais forte ao título, como também já garantiu ao clube a composição de um núcleo para o futuro, emparelhando o pivô e Kawhi Leonard. A visão de futuro, aliás, é algo que diferencia a celebração do Executivo do Ano das demais votações, que avaliam estritamente a relevância mais urgente dos fatos.

Na temporada regular, em termos imediatistas, o novo San Antonio já foi um sucesso, conseguindo 67 vitórias. Dá para dizer que só não atingiram a marca de 70 triunfos porque, na cabeça de Gregg Popovich, há coisas mais importantes que um números simbólico. Em termos de estatísticas, valoriza-se mais o fato de terem combinado a melhor defesa com o terceiro melhor ataque. Em casa, a equipe sofreu apenas uma derrota em 41 partidas. Tudo redondinho, e não seria o combalido Esquadrão Suicida do Memphis Grizzlies que os incomodaria na primeira rodada dos playoffs. Até que chegou a hora de mais um duelo com o Okalhoma City Thunder…

Negócio surte efeito de curto a longo prazo

Negócio surte efeito de curto a longo prazo

Não tem o que apagar aqui: admito que não imaginava chegar ao dia 11 de maio com o Spurs a uma derrota da eliminação. Um time foi uma máquina e fez uma campanha memorável. O outro tinha dois dos melhores atletas da liga, mas foi bastante inconsistente na temporada, especialmente na hora de proteger sua cesta. Com atletas de alto nível como Serge Ibaka, Steven Adams, Andre Roberson, Kevin Durant, Russell Westbrook e Dion Waiters, Billy Donovan não conseguiu forjar mais do que o 12o. sistema defensivo mais eficiente da liga. O mesmo sistema que deu ao Dallas algumas chances pela primeira rodada.

Acontece que o Thunder apertou os ponteiros. Pensando assim, a vitória arrasadora do Spurs pode ter sido um divisor para este elenco. Basta recuperar as declarações de Durant e Westbrook para ver o impacto. Foi vergonhoso, ainda mais pensando em todo o histórico recente compartilhado por estes núcleos. Excluindo este primeiro resultado, temos um saldo geral de 15 pontos para o Thunder. Está muito parelho, e que OKC tenha vencido três dessas quatro partidas é algo inesperado, mas que nos diz muito sobre a virada de uma equipe, já que, pela primeira fase, esses caras se notabilizaram pela derrocada nos minutos finais. É verdade que a arbitragem cometeu erros absurdos na segunda partida e também nesta terça-feira, ao deixar dr marcar falta de Kawhi Leonard em Russell Westbrook na última posse do adversário. Mas San Antonio teve chances em ambos os casos para triunfar antes e depois dos deslizes e não as aproveitou.

Dos Jogos 2 ao 5, tivemos partidas com dinâmica bastante parecida. O Spurs abrindo alguma vantagem mas primeiras parciais, e o Thunder zerando consistentemente esse prejuízo, e não só por ter dois cestinhas que aterrorizam qualquer marcador. Até o momento, o elenco de apoio a Durant e Wess tem sido determinante. Steven Adams e Enes Kanter têm trucidado seus oponentes na disputa por rebotes. Dion Waiters também está acabando com Manu Ginóbili, a despeito da barbaridade que cometeu no Jogo 2. Randy Foye também pode incomodar quando aberto na zona morta e compete muito mais que Anthony Morrow.

A novidade aqui é o ganho coletivo de OKC. Demorou, precisou que levassem uma sova, mas o time se encaixou. Quando a química funciona, jogadores tendem a se soltar e crescer. Do lado de San Antonio, porém, Buford e Popovich não podem se declarar inteiramente surpreendidos. À parte de LaMarcus, a dupla formou um elenco bastante velho, e o risco de que pudessem penar física e atleticamente, contra o Thunder — ou Warriors, Clippers, Rockets etc. Até o caçula de San Antonio, o ala Kyle Anderson, de apenas 22 anos, fica devendo, por ironia.

Não está fácil a vida de West contra OKC

Não está fácil a vida de West contra OKC

Para diminuir essa possibilidade, Pop administrou mais uma vez muito bem seus minutos. Beirando os 40 anos, Duncan ficou fora de 21 jogos e não poderia passar dos 25 minutos em média, mesmo. LaMarcus tromba mais, mas ficou em 30,6 minutos. Diaw e West receberam 18 minutos. Tony Parker, 27. Danny Green, 26. Eles chegaram descansados, gente. Mas nem isso foi o bastante para que possam equilibrar a disputa com o Thunder. Uma hora a idade poderia pesar, e infelizmente, para Duncan e West, isso parece ter acontecido na pior hora. O resultado: o time tem simplesmente uma enorme defasagem em termos de capacidade atlética, e isso tem interferido diretamente na técnica também. Por vezes parece que Kawhi está lutando sozinho em quadra — que ele, ainda assim, consiga incomodar os caras, só mostra o quanto é excepcional.

Peguem o Jogo 5 novamente. Juntos, Duncan, Diaw e West somaram míseros nove pontos e sete rebotes. Três jogadores para isso. Steven Adams saiu de quadra com 12 pontos e 11 rebotes. Enes Kanter teve 8 pontos e 13 rebotes. Westbrook pegou mais rebotes que Duncan, West e Kawhi juntos, ou mais que LaMarcus e West. Em 19 minutos, Ginóbili só tentou quatro arremessos e anotou três pontos. Waiters anotou o triplo. Por aí vai, saca? Num estalo, tudo o que San Antonio construiu na temporada vai ruindo.  O torcedor e os treinadores da fantástica franquia texana sabem que seu time não vai rejuvenescer em dois dias. Podem sempre jogar mais animados, concentrados, preparados. Mas está complicado.

Se o que vimos até aqui é tudo o que seus veteranos podem oferecer, mesmo, talvez seja a hora de Popovich tentar uma cartada mais ousada nesta quinta-feira. Mesmo que não tenha tantas opções assim. Daí que não dava para entender bem a contratação de Andre Miller durante o campeonato. O que um armador de 39 anos poderia acrescentar a este time de diferente? Kevin Martin ao menos representava uma apólice de seguro para Ginóbili. Miller não teria condições de fazer nada se Tony Parker se lesionasse. Seria improvável que um jogador de D-League pudesse fazer a diferença neste nível. Mas tivemos vários casos recentes de atletas que conseguiram ajudar os times que os valorizaram, nem que tenha sido de modo pontual. Troy Daniels, ex-Rockets, hoje do Hornets, foi um. Tyler Johnson, do Heat, é outro. Mesmo James Michael McAdoo, pelo Golden State, oferece algo de diferente a Steve Kerr.

Quem sabe Boban Marjanovic? Por mais que o gigante tenha ficado mais famoso em seu primeiro ano de NBA como figura cult, ou até uma mascote, não dá para esquecer que ele que ele foi muito produtivo nos poucos minutos que recebeu. Também é um calouro só por nomenclatura. Obviamente que não seria o caso de por o sérvio de titular e para jogar por 40 minutos. Mas vindo do banco no lugar de um dos veteranos?  Por que não? Com 2,22m de altura, pesado, ficará vulnerável em situações de pick-and-roll, e não é que os pivôs utilizados possam impedir infiltrações de Westbrook e Durant, mesmo. Mas Boban pode ao menos bloquear Enes Kanter nos rebotes. Em caso de problema de faltas para Danny Green, talvez valha tentar Jonathon Simmons na vaga de Anderson?  Você abre mão de chute de média distância e passe, mas ganha muito em vigor e explosão.

Seriam as alterações possíveis em relação ao que Pop vem tentando. O fato de todos os últimos quatro jogos terem sido equilibrados talvez pese na cabeça do técnico. De não é momento para chacoalhar a rotação, nem necessário. Pode muito bem ser isso, mesmo. Decisão difícil.

Pelo fato de ter assegurado contrato de LaMarcus para os próximos três anos, perder agora não seria um desastre para o Spurs. Porém, com a possível aposentadoria de Duncan e Ginóbili, o envelhecimento também de Parker e a campanha que fizeram até aqui seria uma dura derrota, maior que qualquer prêmio individual.

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Campanha sem Curry mostra várias razões que tornam o Warriors especial
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Giancarlo Giampietro

Klay Thompson, estrelando "Prenda-me Se for Capaz"

Klay Thompson, estrelando “Prenda-Me Se for Capaz”

Pode tirar o asterisco, vai, depois do que o Golden State Warriors fez nesta madrugada contra o Portland Trail Blazers. Para quem dormiu mais cedo achando que já era, para quem não checou o Twitter, o HoopsHype, o ESPN.com, ou qualquer outra fonte factual, foi o seguinte: os atuais campeões entraram no quarto final com desvantagem de 11 pontos, a maior que encarou por estes playoffs em três parciais — no primeiro tempo, o déficit chegou a 17; daí que venceu o restante da partida por 22 pontos de diferença (34 a 12) para triunfar por 110 a 99. Foi o melhor saldo no quarto período de um jogo do mata-mata desde 1987. Apenas outros dois times haviam entrado no quarto com um déficit de dígitos duplos e terminaram com uma folga sob as mesmas condições. O segundo desses times? O Houston Rockets, contra o Clippers, pelas semis do Oeste no ano passado. Sim, aquela virada incrível, com -12 ao fim de três períodos e saldo de +13 para colocar seu adversário em choque.

Tá. Sensacional, né?

Tudo isso, sem Stephen Curry.

O que não quer dizer, de modo nenhum, que Curry não faça diferença, como tenho certeza que muitos críticos persistentes ao armador gostarão de apontar como argumento para desvalorizar o que o MVP da liga fez pelos últimos dois campeonatos. Curry é parte integral do sucesso do Warriors. Mas o que a gente aprende, ou deveria aprender, com o passar dos jogos e dos dias, é tentar não simplificar tudo. O Warriors não era um timaço só porque tinha Curry, nem Curry é irrelevante só porque o Warriors segue um timaço durante a sua ausência — até porque, por mais que esteja enfrentando um Blazers que é muito mais forte, hoje, que o Rockets, mas não é um candidato ao título. Para além do desfecho tranquilo da primeira fase, nestes dois primeiros jogos pelas semifinais, em especial nestes 12 minutos demolidores, o que a equipe de Steve Kerr nos mostra são as diversas partes que, somadas, a tornam especial.

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Peguem, por exemplo, Klay Thompson. Depois de acertar sete bolas de longa distância em suas últimas três partidas, decepcionou pelo Jogo 2 em Oakland: matou apenas cinco. Ele foi novamente o cestinha, com 27 pontos no total, em 20 arremessos. Não foi a jornada mais eficiente de sua carreira, mas não ouse falar isso para ele ou levantar a questão como algo importante.  Pois é um pouquinho complicado ficar o tempo todo marcando o melhor jogador do adversário (esse tal de Damian Lillard) e, do outro, ter a obrigação de, se não carregar, produzir muito para fomentar um ataque que está carente de seu melhor armador. Sem Curry, as defesas se concentram mais no ala, claro. Ainda assim, ele está se virando muito bem, obrigado. Sua cotação na NBA só sobe, enquanto Kerr e Jerry West se sentem cada vez mais felizes com o veto a uma possível troca por Kevin Love dois anos atrás.

Não dá mais para falar só de sua mecânica extremamente rápida. É preciso valorizar o quanto ele se desloca no ataque, de um lado para o outro da quadra, para a frente e para trás, buscando os corta-luzes ferozes de seus grandalhões, que abrem linhas de passe que, um segundo antes, não estavam apresentadas, nem sugeridas. Incansável, como neste vídeo abaixo. O Coach Nick, do Basketball Breakdow (conta obrigatória para as jornadas de NBA), dá uma cornetada em Maurice Harkless, mas seu clipe em flash não mostra o tanto que o jovem ala do Blazers teve de se movimentar para acompanhá-lo durante o quarto período. Chega uma hora que você se perde, mesmo, ou que quer abreviar a maratona e tentar um bote infeliz:

(E Harkless havia marcado Thompson muito bem no primeiro tempo, sendo um dos grandes responsáveis para que o ala tenha desperdiçado 13 de seus 20 arremessos. Era um belo ajuste de Terry Stotts, que não poderia mais conviver com a ideia de ver o gatilho abusar de Lillard ou CJ McCollum, e que colocou Portland em situação tão favorável ao final de três períodos.)

E quem faz o passe para Klay matar? Draymond Green, claro, com uma de suas sete assistências. E, sim, ele foi o armador do time durante a virada, por mais que, na escalação oficial, Shaun Livingston recebesse tal denominação. O ala-pivô-armador-faz-tudo soma agora, em duas partidas da série, 40 pontos, 27 rebotes e 18 assistências. Nos últimos dez anos, apenas LeBron James e Blake Griffin, justamente pelo último playoff, conseguiram esse tipo de soma.

Green ficou todos os 12 minutos do quarto final em quadra. O cara talvez se sentisse endividado com os companheiros, depois de um primeiro tempo, hã, tímido — se é que esse termo pode ser associado a uma figuraça, que é a mais abusada da NBA hoje e, ainda assim, só não vem para o #Rio2016 se não quiser. Ou talvez Steve Kerr soubesse que não poderia tirá-lo de jeito nenhum, mesmo. Pois o cara se tornou um monstro de jogador, para surpresa geral. “Assisti a VÁRIOS jogos de Draymond na universidade. Achava que haveria um lugar para ele na liga. Mas não pensava que ele iria CRIAR um lugar só dele”, observou o repórter Vincent Goodwill, repórter nativo de Detroit e cobriu o basquete local por muito tempo, incluindo Michigan State, antes de se mudar para Chicago. Ele é um jogador único, mesmo:

Mas não vamos ficar aqui falando de mais individualidades como a dupla de All-Stars do Warriors quando dizemos que o time não é feito só de Steph Curry. Na verdade, é a combinação desses diversos talentos que funciona. Colocando na conta a presença física e inteligente de Andrew Bogut perto da tabela, os ganchinhos hoje aparentemente imarcáveis de Shaun Livingston, a ameaça que Harrison Barnes representa como chutador do lado contrário, o combate e versatilidade de Andre Iguodala etc. E, ainda assim, a soma de todas essas habilidades dá tão certo assim porque Steve Kerr soube criar um sistema para aproveitá-las ao máximo. Num ataque mais estático, apostando em isolamento, Thompson seria tão efetivo? Green teria espaço para infiltrar vindo de trás da linha de três pontos?

Mais: não fosse o controle de minutos mais rígido que o Warriors pratica durante a temporada regular, Thompson, com 33,3 minutos, teria condições para correr tanto no ataque e ao mesmo tempo pressionar um cara como Lillard do outro lado? O mesmo raciocínio vale para Draymond Green, que jogou um pouquinho mais (34,7 minutos, o líder da equipe nesse quesito). Andre Iguodala, que, aos 32 anos, é o mais velho dos jogadores fixos na rotação, se beneficiou ainda mais, limitado a apenas 26,6 minutos por partida. Estão todos descansados, ou relativamente descansados para assimilar mais responsabilidades enquanto Curry não retorna. Para os machões de plantão que acham que o controle de minutos não influencia nada nos mata-matas, é só perguntar a Popovich, Duncan, Ginóbili e Parker o que eles pensam disso. Acho que o Spurs até que foi bem nos últimos anos ao adotar esse tipo de estratégia, né?

Curry, retorno pode esperar

Curry, retorno pode esperar

Com pernas e confiança bem elevada, o Warriors promoveu uma blitz para cima do Blazers no quarto final do Jogo 2, com uma defesa realmente assustadora. No quarto período, os visitantes tiveram o mesmo número de turnovers e cestas de quadra: cinco. “Pensar em buscar uma virada sem Steph é diferente. Tivemos de contar com nossa marcação”, disse Kerr. Isso só mostra mais uma vez que tem muito mais do que um ataque potente. Para virar o placar, na real, eles contaram com sua defesa, que foi a quarta mais eficiente da temporada, empatada com a do Celtics e a do Clippers. Na temporada passada, eles haviam sustentado a melhor defesa da liga também — não custa repetir essa informação aqui, pois ainda há muita gente que pensa que o sucesso do time se deve apenas a sua artilharia exterior. (Aliás, em noite em que acertou apenas 33,3% de seus arremessos de fora, levando 15 pontos de prejuízo na comparação com o Blazers, a equipe venceu o jogo pontuando no garrafão, área em que fez exatamente o dobro do oponente: 56 a 28).

Quem via o jogo poderia até estranhar o que Mason Plumlee estava fazendo tanto com a bola em mãos, desperdiçando a bola sem parar, seja em desarmes em ataques ao garrafão, ou tomando algumas raquetadas na hora de buscar a cesta: foram seis turnovers para ele em toda a partida e três tocos sofridos. Não é que Mason P tenha ficado maluco. (Mason P?! Sim, uma licença poética, tá? Imaginemos todos os irmãos Plumlee como MCs. Miles P. Mason P. E Marshall P, o caçula.) O Plumlee de Portland até pode dar assistências em movimento contra um time desprevenido — tem 5,5 em oito partidas destes playoffs e é o líder da equipe, acreditem. Acontece que dessa vez o Warriors estava preparado pressioná-lo, forçando o adversário a jogar com seu pivô, tirando a bola das mãos de Lillard com sucesso.

No terceiro período, a estrela do Blazers havia anotado 17 pontos, com quatro bolas de três em cinco tentativas. Para tanto, foi fundamental a substituição de Andrew Bogut por Festus Ezeli, em vez de Anderson Varejão, registre-se — o pivô brasileiro ainda não se encontrou no time. O gigante australiano não tem condições de se manter à frente de um armador no perímetro, quando o oponente força a troca da marcação com um corta-luz (algo que Plumlee faz muito bem, registre-se). Ezeli, também imenso ao seu modo, tem mais agilidade no deslocamento lateral e conseguiu impedir ações rápidas de Lillard, até que Klay Thompson também se aproximasse para fazer o abafa. Deu muito certo. Depois de voltar de um breve descanso, o armador não conseguiu mais pontuar. Saiu zerado naquela parcial, tendo tentado apenas três arremessos.

Mason P penou no segundo tempo contra o Warriors

Mason P penou no segundo tempo contra o Warriors

Ezeli, que topou defender a Nigéria no #Rio2016, só foi substituído a 3min16s do final, quando Warriors já havia assumido a liderança (98 a 95). Harrison Barnes veio para o seu lugar e se juntou a Livingston, Thompson, Iguodala e Green. Esse é o Kerr controlando sua rotação perfeitamente, e estava formada, então, uma versão alternativa da “escalação da morte” dos atuais campeões, e aí virou espanco, como diria o chapa Maurício Bonato, aumentando a intensidade defensiva. Foi estonteante até. O Portland, tão bem dirigido por Terry Stotts e guiado em quadra por dois armadores excepcionais, mal conseguia completar suas jogadas.

Ao completar a virada, o Golden State pode, de certa forma, ficar um pouco mais relaxado. Por ter defendido seu mando de quadra e para impedir um ganho de confiança de um time jovem e perigoso. Pensando mais longe, porém, o mais importante é o reflexo que a vitória tem para tirar pressão de Steph Curry e do departamento médico. Não há porque apressar seu retorno. O Jogo 3 será apenas no sábado, mas sua presença não se faz mais tão urgente assim na série. Segunda-feira, para o Jogo 4? De novo: só ele estiver totalmente liberado. Para lesões de ligamento no joelho, cautela e preparação nunca é demais. O retrospecto histórico dos playoffs mostra que o time que tenha vencido os dois primeiros jogos em casa avançou em 94% das vezes. Dependendo do desempenho em Portland, então, sem menosprezar o Blazers, o Warriors poderia até mesmo se dar ao luxo de guardar seu MVP para as finais da conferência. Eles ganharam, em quadra, esse direito.

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Quando os playoffs da NBA chacoalham algumas certezas
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Giancarlo Giampietro

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Dá para escrever sobre qualquer coisa sem ter muitas certezas? Nem que seja sobre basquete?

Pensem bem: é uma pergunta realmente difícil de encarar, e não apenas retórica. Ainda mais nestes tempos em que, a julgar pela Associação dos Comentaristas Online Desunidos, o mundo talvez nunca tenha vivido uma era de tantas absolutas convicções assim. Pelo menos não desde os tempos em que se convencionava que a Terra era plana e o centro do Universo. (E se for para falar de política brasileira contemporânea, pior ainda. Aí o que tenho para recomendar apenas é este artigo, hã, definitivo da Eliane Brum no El País, esse acontecimento surpreendente da mídia tupi-guarani.)

Se a galera toda está cheia de si, ou de saber, como você vai marcar sua opinião? Vai encarar o espírito Alborghetti e bater literalmente o pau na mesa? Deve ser a via mais fácil, mesmo, e a mais usual. Descobrir sua ira e celebridade interiores para babar e brilhar muito. Um outro caminho é assumir que você não sabe de nada. Você, no caso, valendo como “nós todos”. Que a gente deva fuçar, estudar, observar e esperar pela eventual contradição dos fatos com sua opinião. Entendendo que opinião pode variar desde um palpite, uma desconfiança até a tal da certeza irremediável.

Agora, para encurtar essa conversa de louco — como são todas as conversas de butiquim, afinal –, vamos associar o devaneio ao tem de mais tópicos agitados por aí, depois de 1) Dilma x Temer, 2) Audax e 3) Leicester: os playoffs da NBA, claro.

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A primeira certeza balançada foi a da candidatura do Golden State Warriors ao bicampeonato, mas por motivo fortuito, de azar: o escorregão de Steph Curry. De todo modo, no momento em que o Clippers também ruiu com lesões, a trilha do Warriors ficou menos congestionada, ou menos pedregosa. Além disso, Steve Kerr fala com otimismo sobre o retorno de Curry. É possível que aconteça já no próximo sábado, para o Jogo 3 (e a NBA obviamente deu uma forcinha para estender o calendário). Então pode ser que o susto já tenha passado, e nada como topar com o corroído Houston Rockets para apaziguar os ânimos. De resto nada do que aconteceu até agora tira de San Antonio e Cleveland o status de favoritos, ao lado dos atuais campeões.

Mas há outros pontos que podem muito bem ser questionados depois das primeiras semanas de mata-mata:

– Kemba Walker, darling universitário
Olha, dependendo do quanto você valoriza a experiência da NCAA, não há como alterar essa percepção. Se vai valorizar o suposto romantismo do basquete universitário, a pressão de render em tenra idade em rede nacional, ou se não vai conseguir relevar o baixo nível em geral da esvaziada competição em anos recentes, crendo que qualquer jogo de NBA vale mais.

Enfim, depois do que fez por Connecticut em 2011, seria bem difícil para Walker ser mais conhecido pelos seus feitos profissionais. Mas entre usar o título pelos Huskies como principal referência e descartá-lo como séria ameaça na NBA, tem um grande intervalo. Aqui, admito que pendia muito para este segundo grupo. Por mais desconcertante que possa ser seu gingado, estamos falando de um armador tinha dificuldade séria para chegar aos 40% nos arremessos de quadra. Tem limite para assimilar ineficiência. O que mudou este ano é que, por mais que os 42,7% não empolguem tanto, ele passou pela primeira vez da casa dos 34% nos chutes de fora (37,5%). Aí que os defensores, enfim, tinham de grudar nele no perímetro, em vez de recuar e pagar para ver. Isso ajuda demais na hora de bater para a cesta, algo fundamental para alguém que está com a taxa de uso mais alta dos playoffs até o momento (34% das posses do Hornets terminam com uma definição dele, em arremesso ou passe). Contra o Miami, teve dificuldade no início. Mas,  partir do momento em que reencontrou espaços, amparado por uma boa defesa, conseguiu colocar seu time no páreo.

– Jeremy Lin era uma mentira insana
Tão rápido como a NBA abraçou o armador naquelas semanas mágicas de 2012, muita gente também se prontificou a descartá-lo, como uma espécie de one hit wonder. Obviamente, Lin não virou o All-Star que muitos nova-iorquinos pirados cravavam. Mas deu provas em Charlotte que seu jogo físico e corajoso pode muito bem ajudar um time que se declama para os playoffs.

Dá para dizer que, depois das lesões de Kidd-Gilchrist, Batum e Jefferson, antes da chegada de Lee, o armador ajudou a salvar a temporada de uma equipe muito bem preparada e competitiva. Sob a orientação de Clifford, Lin nunca criou tão pouco para os companheiros. Também teve seu pior campeonato no aproveitamento de quadra, mas não pára de atacar, substituindo Kemba ou jogando ao seu lado em quartos períodos. Agredir as defesas parece ser a ordem. Juntos, os dois armadores já bateram 71 lances livres em seis partidas, sendo que 38 estão na conta do jogador de ascendência asiática. Em playoff, isso alivia bastante, ainda mais contra uma defesa que estava visivelmente preocupada em marcar os chutes de três. Ao que parece, deu resultado a reclamação pública sobre arbitragens menos criteriosas quando ele era o atacante. No Jogo 6, ele não foi bem, mas em geral sua contribuição é bastante positiva.

– Whiteside e os grandalhões que não sabem converter lances livres
O pivô do Miami Heat não é nenhum Mark Price. Mas, gente, faz muita diferente quando uma força da natureza como Whiteside beira a marca dos 60% parado diante da linha, ainda mais quando comparado com os indesculpáveis 35,5% de Andre Drummond. Com um rendimento desses, não há como SVG manter seu gigante em quadra num final de jogo equilibrado, ou mesmo quando a vantagem do Detroit é grande e os adversários começam a descer o porrete. Whiteside saltou de 50% pela temporada passada para 65% nesta. Pela série contra o Hornets, vem com 59,3%. Se ele só fica 29,3 minutos em quadra, é porque tem se carregado de faltas, justamente pelos ataques constantes de Kemba e Lin.

Esquisito assim, mas está funcionando

Esquisito assim, mas está funcionando

– Austin, filho do homem
Bom, no ano passado, o jogador já havia vivido bons momentos. O conjunto da obra ainda não justifica exatamente a fama que tinha como colegial, visto como um dos melhores prospectos de sua geração. Ainda assim, sua exibição no derradeiro Jogo 6 em Portland foi mais um indício de que há espaço para ele na liga. O mistão do Clippers deu uma canseira no jovem Blazers, liderado pelo ímpeto do Rivers filho e de Jamal Crawford. Mais que somar 21 pontos e 8 assistências em 31 minutos, impressiona mais a imagem. Quando voltou para a quadra com o olho esquerdo cerrado feito boxer que topou com Mike Tyson no auge e seguiu atacando.

– Myles Turner: novatos não têm vez em playoffs.
(Bônus: o Indiana queria aderir ao small ball)
Aos 19 anos, Turner ainda está aprendendo exatamente como contestar bandejas sem se pendurar em faltas e sem perder o posicionamento adequado à frente do aro. Também está com o corpo claramente em formação e ainda se movimenta com uma postura um tanto estranha.

Com um treinador de orientação mais conservadora, é provável que ele não fosse lançado em uma série tão equilibrada e tensa como esta contra o Toronto Raptors. Mas Frank Vogel, durante a temporada já havia visto bastante: não só não podia barrar seu jovem pivô como afirmou que o Pacers iria até onde ele pudesse levá-lo. Não, ele não é mais jogador que Paul George e George Hill hoje. Mas virou o tal do “x-factor” devido ao impacto que causa em seus melhores dias, tanto na proteção de cesta (ajudando um combalido Ian Mahinmi) como com seu sutil toque perto da cesta e nos chutes elevados, rápidos e impressionantes de média distância. O talento e o desempenho precoce de Turner, aliás, abreviaram a estratégia de Larry Bird e Vogel de usar uma formação mais baixa nesta campanha. O time, na real, ficou com a linha de frente ainda mais alta, mesmo após a saída de Hibbert.

– Vince Carter: amarelão; Matt Barnes: só bravata, encrenqueiro
Sim, já faz tempo que Carter saiu de Toronto pela porta dos fundos, com o filme queimado, especialmente por sua viagem de graduação para a Carolina do Norte em dia de Jogo 7 contra Iverson e o Sixers. As passagens frustradas por Jersey (acompanhando Kidd) e Orlando (com Howard) reforçaram a imagem de que ele seria mais um desses astros desinteressados. Não se atrevam a repetir isso à frente de Dave Joerger.

Carter e Barnes foram as forças por trás do Esquadrão Suicida do Grizzlies, que, francamente, não era para ter chegado aos playoffs de modo algum. Foi o nome de ambos que o treinador citou em uma emocionante coletiva em Memphis, depois de varrida contra o Spurs. Se não pela questão técnica — mesmo que tenham feito o possível depois de o time perder seus dois principais criadores em Gasol e Conley –, mas essencialmente pela liderança durante período em que o time poderia ter basicamente virado um caótico Sacramento Kings.

– Continuidade é tudo na NBA
O gerente geral do Portland Trail Blazers e o técnico Terry Stotts podem erguer o braço para se gabar. Perderam quatro titulares supeevalorizados e ainda abocanharam o quinto lugar do Oeste. Está certo que o Rockets entrou em colapso. Que o Grizzlies e o Pelicans se arrebentaram. Que o Mavs não tinha pernas. E daí?  Utah, Sacramento e Phoenix não souberam aproveitar nada disso, enquanto o Blazers curtia. A comparação com o Utah é interessante. A equipe de Quin Snyder inseriu dois calouros em sua rotação (Raulzinho e Trey Lyles) e, no meio do caminho, foi atrás de Shelvin Mack. Ok. Mas Gordon Hayward, Derrick Favors, Rudy Gobert, Rodney Hood, Joe Ingles, Trey Burke, Trevor Booker e Alec Burks eram os mesmos. Lesões e mudanças na rotação à parte, o Utah largava com vantagem. Foi atropelado no caminho.

Cada série pode ter apresentado suas surpresas (ou quase isso), dependendo do ponto de vista.

Agora chegamos às semifinais de conferência. Depois do massacre que foi o Jogo 1, a cabeça quer pensar que nem vai ter série: 124 a 92? Uau. A última vez que um time conseguiu reverter um prejuízo desse num mata-mata? O Los Angeles Lakers sobre o Boston Celtics na final de 1985, depois de perder fora de casa por 148 a 114. Faz tempo. Da minha parte, não chegou a ser tão assustadora assim assim, considerando o que havíamos acabado de assistir pela primeira rodada. Claro que Durant e Westbrook não vão arremessar sempre tão mal assim (11-34). É de se imaginar que, sozinho, LaMarcus não vá superar a dupla também daqui para a frente (38 a 30), ou que Ibaka (19) será o cestinha da equipe? Mas, se OKC teve suas dificuldades contra Dallas, que se defendia no perímetro com Felton, Deron, Barea e Harris acompanhando de Matthews ou o do novato Anderson, o que aconteceria contra um time dez vezes melhor, com a dupla Kawhi e Green? Billy Donovan e seus astros têm um problemaço para resolver, cheios de incertezas.

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Lesão de Curry: não é o pior dos cenários, mas aflige o Warriors
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Giancarlo Giampietro

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Pegue aí qualquer uma dessas frases prontas, de efeito, que você provavelmente ouviu primeiro de seu avô, do coordenador pedagógico do ginásio ou no balcão da padaria, enquanto o sanduba não sai da chapa: “A vida é injusta”, “nada dura para sempre”, “na vida, você tem de brigar por aquilo que é seu”, e por aí vamos.

Quando um jogador como Stephen Curry se lesiona, talvez seja o caso de se apegar a este tipo de mensagem, mesmo, já que “a vida não pode parar”. Depois de escorregar em quadra em Houston e torcer o joelho, o MVP da temporada 2015-16 da NBA foi submetido a uma ressonância magnética nesta segunda-feira, e o diagnóstico tem efeito, no mínimo, ambíguo. Não foi o pior dos cenários para o Golden State Warriors. Mas foi o suficiente para ameaçar seriamente a campanha rumo ao bicampeonato. O que deu? Uma distensão no ligamento colateral medial do joelho direito, que liga o osso da coxa ao da canela. Como foi de primeiro grau, isso geralmente significa que houve dano mínimo a algumas fibras do ligamento — a de terceiro grau significaria a ruptura total. Você em geral nem sente dor quando se aperta, mas há inchaço e incômodo, uma falta de estabilidade. Haja compressa de gelo, almofada, anti-inflamatório e afins.

De acordo com o anúncio oficial, estima-se que Curry precise de aproximadamente de duas semanas para ser reavaliado. Uma pessoa se recupera em ritmo diferente da outra, mas é preciso cuidado, para que o jogador não volte de modo precoce às quadras, com o risco de sofrer algum dano permanente. Zeloso do jeito que o Golden State Warriors é, difícil que aconteça, mesmo que numa situação de angústia e pressão como essa. Ainda mais quando estamos falando de uma figura transcendental como Steph. A NBA não vai encerrar suas atividades em junho. Por outro lado, existe a vontade do jogador, que não quer virar as costas para seus “irmãos”, que acredita que qualquer lesão é superável e que talvez até mesmo dependa dessa autoconfiança para atingir o nível que atingiu, depois de duas cirurgias de tornozelo. Complicado julgar qualquer coisa, mas a cautela, quando o assunto é saúde, parece sempre o melhor caminho, mesmo que o duelo sorte x azar sempre esteja por aí, não importando o quão competente é o seu departamento de basquete.

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Alheios, de momento, a essas questões, o gerente geral Bob Myers, o técnico Steve Kerr e cada membro do estafe e do elenco obviamente torcem para que sua reabilitação seja rápida. Também há toda uma estrutura e um orgulho dentro da franquia para que isso não vire uma enorme distração ou uma desculpa. Agora, claro, quanto mais demorar a série entre o Los Angeles Clippers e o Portland Trail Blazers, melhor. Embora ninguém vá dizer isso em público, Jogo 7 no confronto é o que há, para Golden State.

Dois All-Stars, pré-convocados para o Team USA, com bom retrospecto como dupla na temporada regular. Mas serão testados

Dois All-Stars, pré-convocados para o Team USA, com bom retrospecto como dupla na temporada regular, quando Curry esteve fora. Mas serão testados para valer nas próximas semanas

De qualquer forma, para muitos dos jogadores do Warriors, esse infeliz deslize de Curry representa mais uma oportunidade para provarem seu valor, de tanto que se sentiram desrespeitados antes de o campeonato começar. Não pensem que Draymond Green não está martelando esse conceito na cabeça de seus companheiros, a cada intervalo de treino ou de análise de análise de vídeo. Eles têm mais dois All-Stars, afinal, para assumir mais responsabilidades, e um elenco de apoio que se alternou em diversos momentos salvadores desde 2014. E muito mais:

– Andre Iguodala não vai poder mais ser um sexto homem de luxo, marcando o principal jogador adversário sabendo que vai respirar no ataque. No domingo, contra Houston, já deu uma espécie de resposta, anotando 22 pontos, 5 rebotes e 4 assistências, convertendo 9 de 11 arremessos. Mas, de novo, era o Rockets do outro lado, com um esforço patético. Em abril, voltando após 13 jogos, anotou, no total,  19 pontos no total, em cinco jogos. Durante a temporada, chegou aos 20 pontos em apenas três rodadas. A questão não é exatamente pontuar, mas também criar para os companheiros. “Play-making” geral.

– Shaun Livingston terá sua eficiência testada, com maior volume de jogo e mais atenção de defensores mais gabaritados que os de segunda unidade que se acostumou a encarar. Nestes playoffs, já vem com média de 9,5 arremessos por confronto, quase o dobro dos 4,9 que teve pela temporada, e segue com aproveitamento altíssimo (52,6% — de novo, contra o Rockets).

– Draymond Green também vai ter de operar muitas vezes com o condutor primário de bola, dessa vez sem a distração que Curry representa. Conseguirá ser um passador tão eficaz assim se as linhas estiverem mais congestionadas, ou se seu drible for atacado mais vezes por marcação dupla? Sem contar a energia que obrigatoriamente gasta do outro lado, algo necessário mesmo diante do Houston, para segurar um cara do porte físico de Dwight Howard.

– Klay Thompson não vai poder se contentar apenas com os chutes de fora. Também vai precisar botar a bola no chão e atacar as defesas. Tentar, no mínimo, sacudi-las, desequilibrá-las, e, para tanto, vai contar com a ajuda de um sistema que flui por conta própria, mesmo, com a bola girando rapidamente e sucessivos corta-luzes.

– Harrison Barnes poderia provar que, no ataque, é mais do que um chutador do lado contrário? Dois anos atrás, sob o comando de Mark Jackson, quando era acionado em diversas situações de isolamento, não deu muito certo. Conseguiu expandir seus movimentos, ou simplesmente curte a vida com a rebarba dos Splash Brothers?

Para os pivôs, não dá para pedir muito mais do que executam hoje. Bogut e Ezeli estão limitados a cestas de rebote ofensivo, mesmo, ou eventuais assistências na cara da cesta. Marreese Speights oferece chute, mas precisa de espaço para encaçapar. Vindo do banco, Leandrinho ainda pode produzir por conta própria em situações específicas, mais do que Ian Clark, mas o americano vem ganhando espaço com Kerr e tem sido ligeiramente mais eficiente.

Há números que apontam que o Warriors se saiu bem — muito bem, na verdade — nos  minutos que teve Draymond e Thompson em quadra, com Curry fora. Mas é muito complicado mergulhar nestes números. É trabalho para um analista muito mais capacitado e experiente no assunto, como Kevin Pelton, do ESPN.com. Foram 6,3 pontos por 100 posses de bola para esse tipo de combinação. Para comparar, isso é mais do que o Cavs conseguiu pela temporada regular e quase se equivale ao rendimento de OKC. O problema: estamos falando de 296 minutos, o que dá coisa de 6 jogos. Antes disso, mais importante é que aconteceu em temporada regular, algo totalmente diferente de um cenário de playoffs, com jogadores, jogadas e sistemas dissecados por cada vasta comissão técnica. Por fim, nem sempre eles estavam enfrentando os melhores quintetos adversários.

Um escorregão

Um escorregão

Também não dá para fazer muito mais drama. Está certo que é difícil encontrar paralelos com o drama que Golden State vive agora, já que estamos tratando do atual bi-MVP, o símbolo da franquia e de uma revolução, que acabou de concluir uma das campanhas mais espetaculares da história da franquia. Sim, Curry é tudo isso, e não há como, racionalmente, ser do contra aqui. Mas esta lesão acaba sendo só mais uma lista muito longa de desfalques na pior hora possível. Aqui está uma relação de dez casos do tipo, passando pela quase trágica ruptura de ligamento que Derrick Rose sofreu em 2012, numa série supostamente fácil, molezinha contra Philly, assim como é a do Warriors contra o Rockets hoje. Não precisa nem recuar tanto no tempo assim. O mesmo Warriors enfrentou um Cavs todo desfalcado no ano passado – ainda que não haja como comparar Curry com Irving e Love… Seria o mesmo que o Cavs ir para a final com estes dois (valendo por Draymond e Klay, em tese), mas sem LeBron.

 Agora, antes de qualquer outra coisa, os atuais campeões precisam eliminar o Rockets nesta quarta-feira. Houve quem sugerisse que o próprio time pudesse prolongar sua série. Praticantes do lunatismo, claro, por diversos motivos, sendo os principais deles a mera possibilidade de se abrir uma porta para James Harden e o desgaste desnecessário de Draymond, Klay e demais titulares. Além do mais, se estiverem na pior, um retorno de Curry, a essa altura, não é garantia de que ele possa salvar a equipe — como bem observou Tim Grover, “trainer” de Jordan, Kobe e Wade –, é possível que o armador volte, mas muito longe de sua forma ideal. “Na recuperação de Curry, o condicionamento físico vai importar porque seu jogo passa muito pela rápida mudança de direção. Uma fraqueza no tornozelo também pode ser um fator”, afirmou.

Não deixa de ser curiosa a espera, para ver como este timaço vai se comportar sem o melhor jogador do campeonato. Por mais cruel que seja escrever isto, também não deixa de ser irônico, depois que o proprietário do clube, Joe Lacob, teve a infeliz ideia de dizer à revista do New York Times que sua gestão estava “anos-luz à frente” da concorrência em termos de estrutura e estilo de jogo. Num perfil bastante elogioso, em que se gaba de muitas coisas, Lacob chegou muito perto de dizer que Curry seria um mero detalhe para o sucesso do time, algo que não pegou bem com o jogador, claro. Arrependido, o magnata se mexeu e, antes mesmo da publicação de grande reportagem, entrou em contato com o superastro para tentar se explicar. Agora, sua tese vai ser testada.

Nessa linha de colocações infelizes e eventualmente irônicas, também lembramos o que Doc Rivers disse no ano passado ao avaliar o título do Warriors. Basicamente, disse que eles haviam tido muita “sorte” não só por terem evitado lesões como por terem visto sua chave de playoff se enfraquecer sensivelmente devido à eliminação precoce dos times que mais os ameaçavam — como se a virada vexatória que o Clippers tomou Rockets fosse um acidente, e, não, incompetência de sua parte. Agora, desde que façam sua parte contra Portland, em uma série que não está nada definida, este núcleo terá uma boa chance para justificar parte da lógica de seu técnico-presidente. Do contrário, com uma hipotética derrota nesse ainda hipotético confronto num hipotético cenário sem Curry, reclamariam, chorariam do quê?

Aqui, a ideia não é censurar a liberdade de expressão e defender aquilo que é de mais extremo e chato dentro do universo politicamente correto. Acontece que, numa liga tão competitiva e exigente como a NBA, há momentos em que você deve medir suas palavras. Quem sabe a melhor saída não é apelar ao ditado popular da vez, do tipo: “A vida é longa. Nunca se sabe o dia de amanhã”?

: )

E vida que segue.

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Jukebox NBA 2015-16: Blazers e quando não é necessário fazer tudo sozinho
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Giancarlo Giampietro

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Em frente: a temporada da NBA caminha para o fim, e o blog passa da malfadada tentativa de fazer uma série de prévias para uma de panorama sobre as 30 franquias da liga, ainda  apelando a músicas, fingindo que está tudo bem. A gente se esbalda com o YouTube para botar em prática uma ideia pouco original, mas que pode ser divertida: misturar música e esporte, com uma canção servindo de trilha para cada clube. Tem hora em que apenas o título pode dizer algo. Há casos em que os assuntos parecem casar perfeitamente. A ver (e ouvir) no que dá. Não vai ter música de uma banda indie da Letônia, por mais que Kristaps Porzingis já mereça, mas também dificilmente vai rolar algo das paradas de sucesso atuais. Se é que essa parada existe ainda, com o perdão do linguajar e do trocadilho. Para mim, escrever escutando alguma coisa ao fundo costuma render um bocado. É o efeito completamente oposto ao da TV ligada. Então que essas diferentes vozes nos ajudem na empreitada, dando contribuição completamente inesperada ao contexto de uma equipe profissional de basquete:

A trilha: “Don’t Carry It All”, por The Decemberists

Quando Terry Stotts reuniu seu grupo no dia 29 de setembro no Moda Center, para o início do training camp, deve ter achado tudo muito estranho, sem quatro dos cinco titulares da temporada passada. Só havia restado Damian Lillard, depois da partida, de uma só vez, de Robin Lopez, Nicolas Batum, Wesley Matthews e, principalmente, LaMarcus Aldridge.

Com diversos pontos de interrogação rondando a cabeça, sem saber exatamente o que aconteceria em um período de treinos tão importante devido ao acúmulo de peças novas, os torcedores do Blazers talvez imaginassem que a equipe chegaria ao campeonato com um Lillard incumbido de responsabilidade excessiva. Não que o armador não pudesse liderar essa reformulação. Estamos falando de um raro caso de franchise player jovem, com talento e cabeça para encarar a missão. Mas será que não ficaria sobrecarregado?

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Então aperte o “play” e deixe o Decemberists cantar: “Don’t Carry It All” – não carregue tudo isso, algo que Damian de fato não precisou fazer, com um elenco cheio de jovens jogadores que estão se entendendo muito bem e de forma muito mais rápida do que o esperado para estrelar a história mais legal da temporada. Essa ascensão lembra o que aconteceu com Phoenix dois anos atrás. Um time em reconstrução, subestimado, mas que já entrou na luta por uma vaga nos playoffs. Agora a questão é se eles vão conseguir aquilo em que o Suns falhou.

O paralelo com o time do Arizona de 2013-14, aliás, se estende. Se a chave daquele time foi a parceria entre Goran Dragic e Eric Bledsoe, o Blazers também usa uma dupla de armadores para incomodar seus adversários. A diferença é que Dragic e Bledsoe partiam com tudo para a cesta, precisando de chutadores ao seu redor. Hoje, em Portland, o bombardeio é efetuado por Lillard e um ultraconfiante CJ McCollum, cujo salto de produção não se explica somente pela maior carga de minutos. Ele tem sido mais eficiente em sua pontaria, mesmo chamando mais atenção dos marcadores. O cara realmente tem feito cestas como se fosse máquina, de todos os cantos da quadra (veja abaixo). Também é um caso raro de atleta que acerta mais a partir do drible do que com os pés plantados, recepcionando um passe. Um problemaço para qualquer defesa.

Partido verde: acima da média em quase toda a quadra

Partido verde: acima da média em quase toda a quadra

Lillard é menos eficiente (veja abaixo), mas não dá para comparar um com o outro, por diversos fatores. O esnobado All-Star tem muito mais responsabilidades na criação de jogadas, algo que se verifica claramente a cada jogo do Blazers e também pelos números,   como a taxa de uso do time e o percentual de assistências por posses de bola. Lillard agride mais o aro, tem mais fundamentos e, claro, é mais visado pela concorrência. Ainda assim, é capaz de marcar 51 pontos contra uma forte defesa como a do Warriors.

Estranhamente, Lillard está abaixo da liga em finalizações próximas da cesta, para alguém tão explosivo e forte

Estranhamente, Lillard está abaixo da liga em finalizações próximas da cesta, para alguém tão explosivo e forte

Assim como Lillard, McCollum entrou na NBA vindo de uma universidade pouco badalada. Devido a lesões antes mesmo de sua campanha de novato começar, demorou um pouco para deixar sua marca. Dois campeonatos depois, confirma a evolução demonstrada na reta final da temporada passada e, ao seu lado, forma uma das “back courts”, mais explosivas da NBA. Juntos, somam 46,2 pontos por partida – para comparar, Steph Curry e e Klay Thompson produzem 51,8 pontos. Em média, a dupla é responsável por mais de 38 arremessos por partida. A habilidade dos dois armadores empurra o sistema ofensivo do Blazers, o sétimo mais eficiente da liga, atrás de times como Warriors, Thunder, Spurs, Cavs, Raptors e Clippers. Só a elite, num trabalho magistral de Stotts, que merece séria consideração ao prêmio de técnico do ano.

Lillard é um terror para qualquer defesa

Lillard é um terror para qualquer defesa

De volta à canção do Decemberists, para constar, em sua letra o compositor e cantor Colin Meloy fala sobre a aventura de tentar cuidar de seis hortas, em sua casa com a mulher. Seis hortas, imaginem! Pois são essas as experiências típicas que um cidadão comum de Portland, casa da banda (tcha-ram!), pode ter.

A cidade é como se fosse Brooklyn no Noroeste dos Estados Unidos, mas ainda mais hipster/indie/natureba, conforme documentado no seriado Portlandia. Para quem gosta de música ao vivo, cervejas artesanais, ciclovias (dizem que as de lá são exemplares) e/ou correr por aí sem o receio de ser atropelado ou de tropeçar na calçada, este é o seu lugar. Não à toa, a Nike vem de lá.

Se o compositor gasta parte de seu tempo longe do violão para se dedicar ao cultivo, isso tem tudo a ver com as preocupações que possam passar pela cabeça do gerente geral Neil Olshey. O próprio exemplo do Phoenix Suns vem a calhar. No Arizona, o processo de reformulação foi acelerado e se confundiu com uma colheita proveitosa e imediata. Para tentar chegar ao topo, torcida e diretoria vão precisar de calma passa, com a busca por uma nova identidade e o desenvolvimento de seus jovens jogadores. Mais training camps serão realizados, com Stotts recebendo mais caras novas para fazer companhia a Lillard e dividir o peso.

A pedida? Playoffs! Ainda. No início da temporada, com cautela, diretores e técnicos de Portland demonstravam certo otimismo. Mesmo que boa parte da liga esperasse que o clube saísse da cena dos playoffs e fosse até mesmo direcionado para a ingrata luta por uma alta posição no Draft. Não que confiassem em uma classificação. Mas a projeção que faziam era que, em quadra, o time flertasse com o aproveitamento de 50%, mesmo. No Oeste, isso não seria o suficiente. Acontece que estamos falando de um ano um pouco anormal da conferência nesta década. A escorregada de Houston e New Orleans e as muitas lesões em Utah abriram uma brecha.

A gestão: Neil Olshey é o encarregado de cuidar desse cultivo, e isso só deve deixar o torcedor mais encorajado de que a equipe vai se desenvolver com segurança. Cedo ou tarde, é de se esperar que este nome seja cada vez mais comentado tanto nos bastidores e como nas análises da liga, como candidato a executivo do ano. O Trail Blazers está nas mãos de uma figura para lá de competente – e prudente.

Em Portland, sua primeira cesta foi conquistar o bilionário Paul Allen, proprietário da franquia, que por anos interferiu ou deixou que alguns de seus aspones interferissem na condução do departamento de basquete. Algo que é não tão simples assim, por mais que Allen o tenha tirado do Clippers sorrateiramente, em 2012, quando a franquia californiana acreditava estar prestes a renovar o contrato do executivo. Que ele tenha saído de um clube que tinha Chris Paul e Blake Griffin dessas diz muito sobre o temeroso Donald Sterling.

Olshey, melhor atuação da carreira foi como gerente geral do Clippers

Olshey, melhor atuação da carreira foi como gerente geral do Clippers

Ser cobiçado no mercado foi uma grande reviravolta para o dirigente. Quando promovido ao cargo de gerente geral dos antigos primos pobres de L.A., na sucessão de Mike Dunleavy, muitos acharam graça. Pois, ao fazer uma pesquisa sobre o novo chefão, o reportariado descobriu um fato pouco usual em seu currículo: a profissão de ator, dando as caras em muitos comerciais e até de novelas americanas. Era piada pronta para um clube de passado folclórico. Em pouco tempo, porém, poucos estavam rindo. Sob suas instruções e com uma visão de ave de rapina para caça de talentos, o Clippers virou o time que é hoje. Muito antes de Doc Rivers, que tenta ficar com a fama.

Que o cartola deu sorte, não há dúvida. Griffin caiu em seu colo em 2009. Mas uma só estrela não garante nada, e a história da franquia californiana, aliás, está dominada por diversos jovens talentosos que não vingaram, ou que vingariam em outros ares. Via Draft, o gerente geral teve desempenho impressionante por lá: além de Griffin, selecionou Eric Gordon, Al-Farouq Aminu e Eric Bledsoe. Também soube administrar a folha salarial e, desta forma, conseguiu arquitetar a supertroca por Chris Paul, mudando definitivamente o rumo do Clippers. Sua única bola fora talvez tenha sido a negociação que mandou Baron Davis para Cleveland, para se livrar de seu salário. Pagou, por isso, uma escolha de Draft, que resultou em Kyrie Irving. Considerando que CP3 chegou logo depois, não havia muito do que reclamar.

Em Portland, ele já selecionou Lillard (na sexta posição, o que significa que, para os dirigentes da época, não se tratava de um superastro garantido), Meyers Leonard e CJ McCollum na primeira rodada e Will Barton, Allen Crabbe (uma grata surpresa nesta temporada, colocando mais pressão na defesa com sua versatilidade como cestinha) e Jeff Withey na segunda. Apenas Leonard pode ser considerado uma relativa decepção, embora seja muito jovem ainda e tenha potencial inegável. Quer dizer: para encontrar reforços, o cara não precisa de uma escolha top 3 (algo que dificilmente vai acontecer com um time já competitivo). Mesmo que não chegue lá, existe a  confiança de que mais alguns bons calouros devem pintar por aí.

Crabbe é mais uma aposta certeira de Olshey. Não em questão estética, claro

Crabbe é mais uma aposta certeira de Olshey. Não em questão estética, claro

Olshey também tem insistido que uma das marcas de sua diretoria será o trabalho interno de desenvolvimento dos jogadores, atividade na qual San Antonio, Oklahoma City e Golden State são exemplares e aque deveria ser praxe, mas nem sempre acontece por aí. Não basta identificar talentos se você não vai ajudá-los depois. Poucos chegam prontos como Lillard.

E ainda há a oportunidade de chamar agentes livres para o baile, depois de já se dar bem com Aminu e Ed Davis, caras com muito basquete pela frente ainda. Para a temporada que vem, Olshey pode ter espaço salarial para adicionar até dois jogadores com salário máximo, dependendo do que quiser fazer com Leonard e Maurice Harkless. Se Portland vai conseguir atrair algum astro, não há certeza alguma. Mas é inegável que a campanha promissora desta temporada ajuda na hora de recrutar.

Olho nele: Mason Plumlee

Plumlee sabe o que fazer com a bola se for para passá-la

Plumlee sabe o que fazer com a bola se for para passá-la

Pois é. Com a bola na mão em situações de um contra um, Mason P vai fazer Robin Lopez parecer Arvydas Sabonis. Ele nunca vai ser um pivô de referência ofensiva. Do outro lado da quadra, ele não tem a mesma estatura e presença intimidante debaixo do aro. Sim, ele tem suas limitações. Mas o ‘alemão’ compensa essas deficiências de outras maneiras, sendo um dos atletas mais desenvoltos da NBA em sua posição. Ele tem os pés muito ágeis, salta bastante e, por isso, é um defensor valioso, podendo tanto proteger o aro como atuar na cobertura eficaz do pick-and-roll, fechando a porta na cara de armadores ou alas. Também tem os músculos para batalhar. Mas não é só de atributos atléticos que o grandalhão vive. Os quatro anos com o Coach K em Duke certamente foram importantes para seu desenvolvimento como jogador, e o apreço que desperta em seu mentor é inegável, a ponto de ser convocado para a seleção americana. Seu posicionamento defensivo é impecável,  enquanto no ataque ele tem boa visão de quadra e dificilmente vai tentar algo além de suas capacidades. São cravadas, bandejas e nada mais que isso na hora de finalizar. Mas ele é eficiente, produtivo e ainda passa a impressão de que está em pleno desenvolvimento. Se é o titular do futuro? Improvável. Mas é um jogador útil e que terá longa e lucrativa carreira na liga.

geoff-petrie-blazers-1971-trading-cardUm card do passado: Geoff Petrie. Damian Lillard vem de cinco partidas com ao menos 30 pontos anotados. Ele é o primeiro Trail Blazer a conseguir esse feito desde o armador na temporada… 1970-71, quando o clube estreou na liga. Sim, nem mesmo Clyde Drexler conseguiu. E, sim, também: é o mesmo Petrie que foi gerente geral do Sacramento Kings por longa data e montou o time de C-Webb, Peja, Divac e Bibby – e, depois, só se atrapalhou, ajudando o Kings a virar essa bagunça que dura até hoje.

Pois bem. Há mais de 40 anos, era um cestinha com largo alcance em seu arremesso, mesmo que não existisse linha de três pontos. Formado na badalada Princeton, Petrie foi a primeira grande esperança basqueteira em Portland, com média de 24,8 pontos em sua campanha de novato, muito antes da contratação de Bill Walton. Para constar, os dois foram parceiros por dois anos. Todavia,sSofregamente, num tema que é recorrente na franquia do Oregon, Petrie também viu sua estelar carreira ser abreviada muito cedo por conta de uma lesão no joelho, em 1976, um ano antes de um dos times mais inspiradores da liga ganhar o campeonato.

Para saber mais sobre essa história e as idas e vindas de uma equipe de NBA, existe uma leitura obrigatória: o livro “The Breaks of the Game”, de David Hallberstam, um jornalista que marcou época na imprensa americana primeiro na cobertura de guerras e política e, mais tarde, foi para cima do esporte, com um faro único para encontrar histórias e um texto implacável para contá-las.


Golden State inicia trecho mais difícil da tabela e apanha em Portland
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Giancarlo Giampietro

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De modo prudente, os jogadores do Golden State Warriors relutaram por muito tempo em falar sobre o supostamente inalcançável recorde de 72 vitórias do Chicago Bulls de 1996. Mas, à medida que os bons resultados foram se acumulando num ritmo impressionante, ficou impossível de fugir do tema. Eles abraçaram a causa. Estão mais que certos: é uma oportunidade única que o time tem, afinal.

Pois, na volta do All-Star, o Warriors vai encarar o trecho mais complicado de sua tabela. Os desafios serão realmente mais significativos, a começar por uma série de seis partidas fora de casa entre os dias 19 e 27. Haja embarque, haja check out, haja calmante. Ao final desta sequência, vamos ter uma boa noção se aquela legendária equipe de Jordan, Pippen e Rodman ganhará companhia.

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Acontece que, nesta sexta-feira, essa turnê “coast to coast” rasgando a América – indo do Noroeste de Portland até o Sudeste da Flórida – começou da pior maneira possível. Ou melhor, com a pior derrota da equipe nesta temporada: uma surra de 32 pontos de diferença contra o Trail Blazers, levando 137 pontos em 48 minutos.

Por sua consistência assustadora desde as primeiras semanas do campeonato, o Warriors exige mais que um voto de confiança. Obviamente ninguém precisa fazer tempestade em copo d’água após esse deslize – são apenas cinco derrotas em 53 rodadas. Jogar em Portland nunca é fácil. Damian Lillard, 51 pontos, estava enfezado pacas, por conta da esnobada que tomou da liga (assista abaixo, numa exibição de técnica espetacular). O intervalo do All-Star também pode ter deixado os atuais campeões um tanto relaxados.

Além disso, se formos recuperar outra derrota surpreendente do time (digo surpreendente pela diferença no plcar…), foi o revés por 113 a 95 aconteceu em Detroit, em janeiro, dois dias antes de um compromisso com um certo Cleveland Cavaliers. E quem o Warriors enfrenta neste sábado, num “back-to-back”? O Los Angeles Clippers, rival que desperta algo entre o asco e o ódio no vestiário de Golden State. Talvez tenham subestimado o tinhoso Blazers, a equipe que, contra todas as previsões, se intromete de forma valente e precoce na briga por vaga nos playoffs no Oeste, jogando enorme pressão para cima de Houston, Utah e, coitados, Sacramento. A ver como eles respondem contra o Clippers, que vem jogando seu melhor basquete da temporada, sem se importar com a ausência de Blake Griffin – uma bizarrice um tanto complicada de se explicar.

Para alcançar e superar o recorde do Bulls, o Golden State, na volta do All-Star, precisa de uma campanha de 25 vitórias e 5 derrotas. Pois bem, a primeira dessas cinco já aconteceu. Que eles consigam 25-4 daqui para a frente é, em tese, algo totalmente plausível. Mas se você for examinar o tipo de calendário que esses caras vão encarar, vai perceber que o time vai ter de jogar ainda mais bola para se colocar na história. Lá vem pedreira, gente, mesmo para Stephen Curry. O departamento de estatísticas da ESPN americana nos brinda com os seguinte detalhes:

– Terão sete confrontos com o trio de pretensos usurpadores do Oeste: Spurs, Thunder e Clippers.

– Sete dobradinhas de dois jogos em duas noites.

– Nesses sete “back-to-backs”, todos serão contra adversários com pelo menos um dia de descanso.

– Seis estas dobradinhas exigem viagem de um dia para o outro.

– Como se não fosse o suficiente, três destes jogos serão contra Spurs e Clippers. E fora de casa!

Outro dado interessante que eles separaram é que, até o momento, o Warriors tem um aproveitamento de oito vitórias em nove partidas decididas por cinco pontos ou menos. Nas três vezes que foram para a prorrogação, saíram vencedores. Isso significa que eles contaram com um pouco de sorte também, em meio a tanta competência. Assim como fôlego e resistência, tendo vencido seis de dez partidas nas quais chegaram a ficar com dez pontos ou mais de desvantagem no placar, ou triunfado em 10 de 14 jogos em que estavam perdendo nos cinco minutos finais. Sim, grandes equipes sabem enfrentar a adversidade. A teoria de probabilidades, porém, indica que uma hora o time pode perder mais deste tipo de partida.

Com uma tabela desgastante e outros objetivos no caderninho – algo ser bicampeão da NBA, aliás –, não seria de se estranhar que Steve Kerr comece a poupar um ou outro atleta pontualmente, independentemente do apelo que tem a busca por um marco antes visto como inatingível. É um baita dilema, mesmo, para o técnico, seus atletas e diretoria. Chegar a 72 ou 73 vitórias seria uma façanha, sem para dizer o mínimo. Levando em conta o tanto de obstáculos que terão de enfrentar, seria algo ainda mais incrível, difícil de compreender.

Boa sorte.


Varejão está sem clube: ok, quais são os próximos passos?
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Giancarlo Giampietro

Varejão vai para o mercado de "buyouts". Seria Hibbert um concorrente?

Varejão vai para o mercado de “buyouts”. Seria Hibbert um concorrente?

São negócios. O mundo da NBA sabe. E, no mundo da liga americana, esses negócios são duros e bastante complicados também, cheios de pormenores, que os diretores são obrigados a dominar, para entender direitinho os passos a se seguir e, também, as brechas que eles podem aproveitar para lucrar em uma negociação, ganhar flexibilidade na gestão etc. A troca de Anderson Varejão é uma prova disso.  A partir do momento em que o Portland mal absorveu seu contrato e já o dispensou, é natural que muitas dúvidas surjam em relação ao futuro do brasileiro. Há particulares que precisam ser atendidas para que ele retorne à liga ainda nesta temporada. Pensando nisso, segue uma básica bateria de perguntas e respostas para tentar sacar deve ser sua próxima jogada. Se for para entender as motivações de Cavs e Blazers nesta negociação, as explicações estão no texto da véspera, mesmo.

1 – Varejão foi dispensado pelo Trail Blazers. Ainda pode jogar neste campeonato?
Sim, não há impedimento. Ele apenas fica sem contrato, com a franquia do Oregon sendo responsável por pagar o restante de seu salário: para constar, o bilionário Paul Allen, fundador da Microsoft, vai arcar com o restante do pagamento do brasileiro nesta temporada e ainda pagar mais US$ 9,3 milhões que estavam garantidos em seu vínculo com o Cavs referentes a 2016-17. Havia um quarto ano de contrato, valendo US$ 10 milhões, mas que não tinham garantia alguma. As informações são de Brian Windhorst, do ESPN.com, repórter que cobriu o Cavs durante praticamente toda a carreira de Anderson.

2 – O pivô já pode assinar com uma equipe nesta sexta?
Não. O que poderia acontecer era que um clube se candidatasse a receber seu contrato num intervalo de 48 horas desde o momento em que ele foi dispensado. Aproximadamente até umas 18h, 19h de sábado, no horário de Brasília), Varejão está sob moratória. (PS: E aqui corrijo uma informação que escrevi ontem: são 48 horas, mesmo, e em vez de 72 horas, que era o prazo do penúltimo acordo trabalhista da liga). Na terminologia da NBA, é o período de “waiver”. Nessas 48h, só podem se candidatar a seus serviços as equipes com espaço suficiente em suas folhas salariais para assumir o contrato de Varejão ou aquelas que tenham “exceções de trocas” acima deste valor. Mais detalhes no site do especialista Larry Coon, a bíblia em assuntos dos regulamentos de cap da liga. No momento – excluindo, por motivos óbvios, Portland, que ainda tem espaço em sua folha –, não há nenhum clube em condições de adquiri-lo desta forma. Aqui estão todas as “exceções de troca” disponíveis no início da temporada.

Chris Kaman ocupa a vaga de pivô veterano em Portland

Chris Kaman já ocupava a vaga de pivô veterano em Portland

3 – Tá, mas e depois de 48 horas? Como fica sua situação contratual?
Aí Anderson vai virar um agente livre novamente. O Portland seguirá pagando seu salário pelo vínculo anterior, mas ele está liberado para fazer um novo contrato com uma nova franquia.

4 – E Varejão pode assinar com qualquer clube?
Não, há uma restrição aqui. A primeira de todas diz respeito ao Cavs. Depois de um jogador ser trocado e dispensado, ele não pode voltar ao clube de origem tão cedo. Há restrições. No caso de Cleveland, se LeBron desejar um retorno do velho companheiro, vai ter de esperar por um ano até que ele seja liberado. Até fevereiro de 2017, em vez dos seis meses que escrevi ontem. Há uma certa confusão aqui pelo fato de a regra ser um pouco flexível. Se o contrato original do capixaba estivesse em sua última temporada, aí ele poderia retornar ao Cavs já em julho, quando a janela se reabre. Mas o vínculo se estendia até junho de 2018. Então, o que vale é um ano de calendário cheio para que as partes possam negociar algo. Larry Coon explica novamente.

De resto, o pivô só pode fechar com algum clube que tenha uma vaga em seu elenco. Durante a temporada regular, cada time só pode ter 15 jogadores sob contrato. Hoje, diversos times interessantes para o brasileiro estão abaixo do limite: Atlanta Hawks, Charlotte Hornets, Houston Rockets, Miami Heat, Oklahoma City Thunder, New York Knicks e Washington Wizards. O Clippers também pode ser adicionado a esta lista pelo fato de ter 14 contratos garantidos no elenco, com a 15ª sendo preenchida pelo contrato temporário de Jeff Ayres, ex-Pacers e Spurs. Todos os clubes aqui citados têm aspiração de jogar os playoffs. Resta saber se algum deles teria o interesse de fechar com o brasileiro. Ele seria contratado ou pelo salário mínimo da liga (recebendo o proporcional pelos dias de vínculo), ou por alguma “exceção contratual” (as exceções “mid level” ou “mini mid level”).

5 – Então ele pode jogar os playoffs?
Pode, totalmente liberado, por ter sido dispensado antes de março. Qualquer jogador que rescinda seu contrato até o fim de fevereiro fica elegível para jogar os mata-matas.

*    *    *

Estas são as perguntas de respostas factuais. Agora vem a parte subjetiva do negócio, sobre a qual já expus algumas coisas no texto de quinta (segue o link novamente). A decisão que Anderson será extremamente relevante para os planos de Rubén Magnano.

Qual seria o melhor clube para Varejão? Se for para pensar em tempo de quadra, espiando a lista acima, talvez as melhores opções sejam Atlanta, Houston e Miami.

O Hawks perdeu seu pivô reserva. Ironicamente, Tiago Splitter. Por mais intimidador e longilíneo que seja nosso primo cabo-verdiano Walter Tavares, não acredito que Mike Bundeholzer esteja preparado para lhe dar mais minutos. Ainda mais na reta final da temporada. Mike Muscala terá suas chances, arremessa bem de média distância, é um pouco mais rodado, mas não serve como solução se o assunto for defesa. Varejão sabe passar a bola como poucos entre os pivôs e não seria um entrave no sistema de Bud. Que tal?

Poderia o Hawks tentar contratar um segundo pivô brasileiro?

Poderia o Hawks tentar contratar um segundo pivô brasileiro?

Os outros dois times ainda estão na briga por vaga nos mata-matas e precisam de ajuda no garrafão. O Rockets conta com um quebradiço (e descontente) Dwight Howard, o jovem extremamente promissor Clint Capela e os versáteis e inconstantes Terrence Jones e Josh Smith. Em tese, os quatro comporiam a rotação. Se Howard mantiver a concentração e a forma, fica mais difícil de jogar. Mas, se as lesões permitirem e se Varejão estiver confiante em sua capacidade física e atlética, há uma clara necessidade no elenco de mais um pivô que cuide da defesa, até para dar descanso ao antigo All-Star.

Já o Heat vive um novo drama com Chris Bosh. O ala-pivô está afastado por tempo indeterminado das quadras, depois de médicos detectarem novos coágulos sanguíneos, agora em sua panturrilha. Há o temor de que ele não possa mais jogar nesta temporada ou – toc, toc, toc – que tenha de se aposentar das quadras. Isso deixaria Erik Spoelstra com Hassan Whiteside, Amar’e Stoudemire, Josh McRoberts e Udois Haslem. Os três últimos são rodados e não são conhecidos pela durabilidade.

Do restante, o Clippers, a princípio, pareceria interessante. Mas Doc Rivers prioriza as formações mais baixas quando DeAndre Jordan vai para o banco, tendo Blake Griffin disponível, ou não. Com a chegada de Jeff Green, essa tendência só é reforçada. Varejão teria disputar, então, minutos com Cole Aldrich. Imagino que muita gente vá engasgar ao ler esta frase. Mas, a despeito do jeitão molenga do cara, de ser um refugo de OKC, a verdade é que ele tem sido superprodutivo na reserva de Jordan e vem sendo constantemente elogiado por um enamorado técnico e chefão.  O mesmo raciocínio tático vale para o Wizards, de Gortat e Nenê. Já o Thunder tem pivôs para dar e vender, assim como Hornets e Knicks.

Peja foi dispensado pelo Raptors em 20 de janeiro 2011. Quatro dias depois, assinou com o Mavs. Ao lado de Nowitzki, conquistou naquele mesmo ano um tão aguardado título, depois de tantas decepções pelo Sacramento Kings

Peja foi dispensado pelo Raptors em 20 de janeiro 2011. Quatro dias depois, assinou com o Mavs. Ao lado de Nowitzki, conquistou naquele mesmo ano um tão aguardado título, depois de tantas decepções pelo Sacramento Kings

Mas, a despeito de tanta matutação, primeiro, vai depender de quem vá mostrar interesse, né? Conforme dito acima, os clubes mais precavidos vão aguardar a chegada de março para saber qual exatamente é o menu de jogadores que ficarão disponíveis para contratação. Lembro de dois casos bem-sucedidos de parcerias improvisadas, de última hora, que deram muito certo: Peja Stojakovic deu uma boa mão ao Dallas na campanha do título em 2011, enquanto Boris Diaw se encaixou como uma luva no sistema do Spurs no momento em que Michael Jordan se cansou de seus caprichos.

Há muitos nomes especulados neste ano para este mercado paralelo. São atletas esperam mostrar serviço para conseguir um novo contrato vantajoso em julho. Os mais cogitados são:

David Lee:  É provável que ele rescinda com Boston ainda nesta sexta. Aí temos um concorrente direto em termos de posição. No pacote técnico, porém, são beeeem diferentes. Qualquer equipe que pense em contratar Lee vai precisar de um sistema defensivo forte para assimilar um jogador desatento e de pouca mobilidade, esperando que, eventualmente, seu repertório ofensivo compense. , que Consistente tiro de média distância, ótima visão de quadra e boa munheca perto da cesta são seus principais atributos. Pouco utilizado na campanha do título do Warriors (mas com um papel importante na hora da virada sobre o Cavs, diga-se), o pivô sucumbiu na sangrenta batalha por minutos no Celtics de Brad Stevens. Todavia, ainda acredita que pode contribuir para um time de ponta.

JJ Hickson: outro concorrente, e ex-companheiro de Cleveland. Tudo leva a crer que o Denver vai abrir mão desse cavalo, contente que está com seus jovens pivôs europeus. Hickson oferece vigor físico, capacidade atlética e muita briga pelos rebotes em abas as tábuas. Um trombador. Boa arma no pick-and-roll. Só não esperem dele criatividade com a bola. Precisa ser acionado em situações de tomada fácil de decisão. Também costuma tirar o sono dos treinadores pelo entendimento limitado de rotações e coberturas defensivas.

Roy Hibbert/Brandon Bass: a única missão dessa dupla até o final da temporada seria cuidar da garotada. Nesse caso, Bass parece ser um cara mais influente no dia a dia de um time, devido ao profissionalismo exemplar. Creio que ele seria o agente livre mais cobiçado entre os pivôs aqui citados, por estar evidentemente em forma e por ter um estilo de jogo fácil de se encaixar em qualquer rotação: não compromete na defesa, já que é um veterano que entende suas limitações e está habituado a ser um operário. Em suma: ele vai bem sem querer aparecer. É bastante eficiente no ataque com seus tiros de média distância e presença perto da tabela. Perdido em meio ao caos angelino, faz uma das melhores temporadas de sua carreira.

Hibbert, por sua vez, é um enigma: um sujeito difícil de se motivar, ainda que esse contexto caótico do Lakers não seja favorável a ninguém. A dúvida é saber se, na NBA de hoje, ainda há espaço para alguém que se movimenta tão devagar. Em minutos limitados, como pivô reserva, imagino que dê para encaixá-lo, como um protetor de aro respeitável.

Martin tem opção de mais um ano de contrato em Minnesota. Vai topar sair?

Martin tem opção de mais um ano de contrato em Minnesota. Vai topar sair?

– Kevin Martin: o ala já foi uma máquina de fazer cestas. Mas as diversas lesões que sofreu durante sua carreira parecem, enfim, estar cobrando um preço caro, lhe roubando muito de sua legendária eficiência como cestinha. Martin lida com dores crônicas no pulso direito. Para piorar, sofreu uma torção na região, que o tirou de quadra nas partidas que antecederam ao All-Star. De qualquer forma, ainda tem acertado 36,4% de seus arremessos de três pontos num time que não tem quase nenhum chutador ao seu lado e cava faltas com boa frequência, iludindo os defensores. Seu papel também seria claro: reforçar o ataque de uma segunda unidade. O que pega é que ele tem mais uma temporada em seu contrato com Minnesota. Será que daria um desconto ao clube em seu salário de US$ 7 milhões para sair?

Ty Lawson: sua contratação pelo Rockets acabou se mostrando um desastre. Lawson passou por sérios problemas fora de quadra nos últimos meses em Denver e saiu dos trilhos. Se a expectativa era viver um recomeço em Houston, se vê constantemente frustrado em quadra, já que sobram poucos minutos para jogar sem a companhia de James Harden. Pois, quando o barbudo está em quadra, a bola não sai das mãos dele, fazendo do tampinha um mero chutador na zona morta (um desperdício para alguém tão veloz e explosivo no drible). Dispensar o armador poderia ser um tiro pela culatra? O outro lado da questão é que, se Lawson estiver descontente, reclamando de tudo no vestiário, só vai deixar o problemático vestiário do time ainda mais conturbado.

Joe Johnson: por fim… o nome mais badalado. JJ pode ter envelhecido e se deprimido em Brooklyn, mas, sem a responsabilidade de carregar um ataque, muito provavelmente ainda pode ser bastante efetivo. Ele ainda pode matar os chutes de fora e fazer a bola girar. O problema é a defesa, deixando todo mundo passar. Se revigorado, talvez possa ao menos tentar brigar por posição. Se ele vai para o mercado, ou não, é que ninguém sabe. As notícias em torno do tema são muito conflitantes até o momento.

Em relação a Varejão, a questão é se ele ainda pode ser efetivo como defensor e reboteiro, depois de tantas lesões, em especial a ruptura no tendão de Aquiles. O brasileiro sempre foi um jogador especial na execução defensiva, com empenho, agilidade e inteligência acima da média. Disso ninguém duvida. A questão sincera e justa se volta apenas ao aspecto físico.

Por outro lado, joga a seu favor o fato de ser uma figura carismática, com excelente reputação no vestiário e muita experiência em jogos decisivos. Também não é dos caras que vai exigir atenção em quadra e é uma figura amada por seus técnicos. Além disso, não seria uma contratação de risco. Não estaria chegando para salvar a temporada de ninguém, mas, sim, para ser uma peça complementar que possa ajudar a elevar o nível de qualquer clube interessado.


Após 12 anos, Varejão diz tchau para o Cavs. Qual o impacto da troca?
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Giancarlo Giampietro

Anderson Varejão, Cavs

A data final para trocas da temporada 2015-16 da NBA não teve o frenesi do ano passado. Ainda assim, durante a semana, entre terça e esta quinta-feira, mais da metade dos clubes esteve envolvidas em 12 negociações no total, com brasileiro envolvido. Para conferir todas as transações efetuadas, clique aqui. Abaixo, um apanhado do que aconteceu de mais importante. Hoje, vamos nos concentrar no adeus de Anderson Varejão ao Cleveland Cavaliers, certo? Nesta sexta, expandimos o assunto.

Entre os candidatos ao título, o Cavs foi o mais ativo, e de longe, como se esperava. Sobrou para o pivô capixaba, que foi envolvido em um negócio triplo com Orlando Magic (que mandou Channing Frye para Cleveland e recebeu uma escolha de Draft de segunda rodada e o ala-armador Jared Cunningham) e Portland Trail Blazers, sendo enviado para a o Noroeste dos Estados Unidos, para supostamente dar um alô a Damian Lillard. Mas não foi o caso. Ele foi dispensado imediatamente.

Antes de falar do Blazers, porém, vale falar sobre a saída do Cavs. Com 12 anos no clube de Ohio, o pivô era um dos jogadores há mais tempo vestindo uma só camisa. Somente Kobe, Dirk, o trio dourado de San Antonio, Wade e Haslem passaram mais temporadas que ele nessa condição. Por maior que tenha sido o número de lesões e questões médicas de Anderson nas últimas campanhas, o respeito que ele conquistou em Cleveland é dessas coisas únicas nestes dias. Deem uma espiada neste fórum (dica do Flávio Izhaki). Agora, esses torcedores não poderão mais fazer aquela zoeira na famigerada noite das perucas, com todo mundo cabeludo no ginásio – a não ser que a franquia decida fazer a promoção na noite em que o veterano revisitar a cidade.

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Mas como assim ser dispensado? Para um clube que se vê inesperadamente na briga por uma vaga nos playoffs do Oeste, Varejão poderia dar sua contribuição, nem que fosse como uma figura experiente de vestiário. Como um tutor que fosse – ainda que Chris Kaman já esteja por lá para isso. Pois, pensando em quadra, a verdade é que o jogo do brasileiro é uma incógnita hoje. Ele estava sendo pouco utilizado pelo Cavs. Não sabemos se era devido ao excesso de pivôs qualificados da equipe, ou se por ele não ser mais o mesmo, depois de uma lesão no tendão de Aquiles e de tanto desgaste. Ou por um pouco de um e do outro.

Em Portland, Varejão enfrentaria uma concorrência menos prestigiada, mas não são simples assim de se desmontar. Por um motivo: Terry Stotts elaborou uma rotação de grandalhões que se ajeitou bem, tendo Mason Plumlee e o promissor Noah Vonleh no quinteto titular e a dupla Ed Davis (sempre produtivo). Se arranjasse um espaço e produzisse, Anderson teria tudo para conquistar os fãs do Blazers, devido a sua entrega e seu carisma.

Para receber Varejão – e seu salário, de US$ 9,3 milhões na próxima temporada –,  o gerente geral Neil Olshey exigiu uma escolha de primeira rodada do Cavs, de 2018. Pouco? Pelo contrário, na NBA de hoje, a oportunidade de se contratar um jogador jovem e de salário baixo é muito atraente para a construção de um elenco. As escolhas, mesmo no escuro, valem muito na cabeça dos dirigentes. Para Olshey, o preço nem é tão salgado, na verdade, pois o clube tinha uma folha de pagamento tão barata que estava até mesmo abaixo do piso estabelecido pela liga. Se tivessem chegado ao final da campanha “devendo”, teriam de completar a diferença para o piso, dividindo esse montante entre todos do elenco. Isto é: o bilionário Paul Allen teria de assinar um cheque de qualquer maneira, independentemente da chegada e saída do brasileiro.

Varejão ficará disponível por um período de “waiver”, de três dias 48 horas. Dificilmente alguém vai abraçá-lo desta maneira, para não ter de arcar com o restante de seu contrato. Então é muito provável que ele vire um agente livre. A essa altura da carreira, talvez seja o melhor, mesmo. Poderá olhar para o mercado e procurar a melhor situação. Ou a situação que melhor se encaixe com seus objetivos.

Em tese, para um atleta de seu gabarito e rodagem na liga, o mais comum seria assinar com uma equipe com ambição de chegar bem aos playoffs e que também tenha uma vaga no elenco. Lembrando sempre: cada franquia só pode ter 15 jogadores sob contrato. Após a rodada de trocas, clubes como Clippers, Hawks (com a lacuna aberta pelo afastamento de Tiago Splitter, por ironia), Heat e Rockets se enquadram nessa condição. Assim como o Cavs, mas esqueçam um retorno imediato: a regra da NBA afirma que ele só poderia assinar um novato contrato com o clube daqui a seis meses um ano, segundo o acordo trabalhista da liga e a interpretação do especialista Larry Coon. Agora, se for para fechar com um time de ponta, será que ele teria tempo de quadra? Será que não se meteria na mesma situação que estava vivendo em Cleveland? O ideal seria aliar dois fatores: seguir em um time vencedor e ganhar ritmo para as Olimpíadas. Mas e se uma alternativa excluir a outra?

Rubén Magnano, sabemos, prefere que Varejão vá para quadra, que jogue, não importando onde, para ganhar ritmo. Por isso, já havia admitido ao UOL Esporte ter sugerido ao pivô – e a Huertas – que procurasse um novo clube. De alguma forma, teve seu pedido atendido. Mas o desfecho ainda não está 100% de acordo com os seus interesses. O argentino obviamente está com o radar ligado agora, ainda mais depois de ter perdido Splitter (uma baixa imensa para a seleção, em muitos sentidos, assunto o qual tentarei abordar no final de semana, mais em tom de reverência ao catarinense, com calma).

A NBA é assim: interfere, direta ou indiretamente, no cotidiano de seleções, e muito mais. São negócios, afinal, e Varejão foi lembrado a respeito, depois de ter sido adquirido pelo próprio Cavs em uma troca em 2004. Faz tempo. Desde então, marcou época, escoltando LeBron James ao período mais vitorioso do clube, se tornando imensamente popular na cidade. Agora a vida segue, e o capixaba tem decisões importantíssimas para tomar.

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Ele vai chegar para isto

Ele vai chegar para isto

Em tempo: Frye não é o mesmo jogador dos tempos de Phoenix Suns. Em Orlando, sem um armador que realmente chamasse a atenção no pick-and-roll, não conseguiu se encontrar. Não teve consistência. No conjunto da obra, também tem uma carreira inferior à do brasileiro, ao meu ver. Mas, hoje, é uma peça mais proveitosa para o Cavs, devido principalmente à habilidade para acertar os arremessos de longa distância. Sua presença em um quinteto com Love, LeBron, JR e Irving resultaria e estragos gravíssimos às defesas adversárias. E não é que contribua só com o chute: é bom defensor no post up, tem experiência e, segundo todos os relatos que ouvi, exerce excelente influência no vestiário, algo que só pode fazer bem ao time, como David Blatt pode sublinhar.

O Cavs sai ganhando tática e tecnicamente aqui, mesmo tendo pagado por uma peça complementar um preço caro, mas hoje irrelevante para um clube que só pensa, obsessivamente, no sucesso a curto prazo, enquanto LeBron ainda tem perna. Uma observação, no entanto, precisa ser feita em relação ao Warriors. Sempre o Warriors. Numa eventual revanche com Golden State, não sei muito bem como Frye poderia ser útil, uma vez que não poderia marcar de modo nenhum um jogador como Draymond Green, muito menos Andre Iguodala ou Harrison Barnes. Enfim. Por outro lado, a pergunta mais justa talvez seja: quem consegue marcá-los também? Se o adversário for o San Antonio, aí a coisa muda de figura. Antes, porém, precisam chegar lá, claro – mas é inegável que toda e qualquer decisão que a franquia toma nesta temporada tem como objetivo o título, ciente de que, nas finais, o desafio será muito maior. E, com Mozgov caminhando para o mercado de agentes livres, o veterano também serve como uma apólice de seguro.

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Atualizando nesta sexta de manhã: faltou mencionar que, com a troca, Cleveland poupa U$ 9,8 milhões entre salário e multas nesta temporada. É uma boa grana, mesmo para outro bilionário como Dan Gilbert. Vários clubes reduziram seus gastos nesta quinta, aliás.

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Por fim, declaração do gerente geral do Cavs, David Griffin, sobre Varejão, dizendo que foi difícil telefonar para o brasileiro: “Anderson é especial como jogador, companheiro e pessoa. Poucos jogadores conquistaram este respeito, apoio e admiração de toda uma organização, de sua torcida e da comunidade como Andy fez aqui. Tudo isso tornou esta negociação muito difícil de se fazer. Ao mesmo tempo, temos uma obrigação prfounda de fazer aquilo que podemos para alcançar nosso objetivo final, e acreditamos que este negócio melhora nossa equipe e nossa posição para o futuro também. Agradecemos a Andy por seu trabalho duro, dedicação e contribuições ao Cavaliers e nossa comunidade e desejamos a ele e sua mulher, Marcelle, o melhor, realmente o melhor”.

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Desnecessário dizer o quanto LeBron admirava Anderson? O brasileiro chegou a Cleveland apenas um ano depois de o ala ser selecionado como o grande Messias da franquia. Após a vitória sobre o Bulls nesta quinta-feira, o craque admitiu que ainda não havia conversado com o capixaba, porém. “Eu aposto que várias pessoas estão entrando em contato com ele agora. Vou deixar assim, não gosto de procurar imediatamente. Prefiro deixar cozinhar um pouco. Nossa amizade não precisa de uma mensagem de texto”, disse. “Você perde um irmão. Esta é a pior parte do negócio.”

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Um comentário sarcástico inevitável: se o Cavs despachou, num só dia, Varejão e Cunningham (que, segundo os setoristas do Cavs, foi adotado por LeBron nesta temporada), está claro que David Griffin tem autonomia total para conduzir o departamento de basquete e que o camisa 23 não apita nada. Agora não precisa mais de nenhuma prova nesse sentido.

Né?


LaMarcus é do Spurs; DeAndre, do Dallas. Por que demorou tanto?
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Giancarlo Giampietro

LaMarcus Aldridge é do San Antonio Spurs, e o Golden State Warriors já sabe que a campanha em busca do bicampeonato ficou, desde já, muito mais complicada. É o tipo de acordo que balança novamente as estruturas de poder da liga, embora não possa ser considerado bombástico, pelo fato de ser algo relativamente esperado por boa parte dos concorrentes. Segundo consta, o pivô ainda havia ido para a cama indeciso. Comunicou o Portland que estava, mesmo, de saída, mas ainda pensava no Phoenix Suns. Repetindo: o Phoenix Suns!

Pois é. De um lado, um clube que conquistou cinco títulos de 1999 para cá. Com Tim Duncan e Gregg Popovich garantidos. Com Kawhi Leonard de contrato novíssimo. Do outro, um clube que foi duas vezes vice-campeão na história e que não joga os playoffs desde 2010. Que tem alguns jogadores jovens interessantes, mas nem mesmo conta com a base mais promissora em uma conferência brutal (Utah Jazz acho que leva esse título, enquanto o Minnesota Timberwolves parece o destino ideal para daqui a alguns anos).

LaMarcus, Pop e Ime Idoka dão uma volta em Los Angeles durante namoro cheio de dúvidas para o pivô

LaMarcus, Pop e Ime Idoka dão uma volta em Los Angeles durante namoro cheio de dúvidas para o pivô

Então, pera lá: qual é exatamente a dúvida aqui?! Foi natural questionar o que se passava pela cabeça de LaMarcus nos últimos dias. Aparentemente, não havia o menor sentido titubear entre Spurs e Suns.

Mas aí é que é importante compreender que a decisão de um jogador pode estar cercada pelas mesmas incertezas de qualquer profissional. A diferença é que, na hora de eu ou você trocarmos de emprego, não vai ter uma #WojBomb para anunciar e nem mesmo cinco pessoas interessadas no que você vai fazer no dia seguinte a0 de limpeza da mesa.

Ao que tudo indica, a apresentação da diretoria e técnicos do clube do Arizona foi surpreendente e tentadora, a ponto de balançar o pivô.  Como eles conseguiram se conectar com Aldridge, ao contrário do prestigioso Los Angeles Lakers, descartado imediatamente? Entender a oferta do Suns seria, então, um meio de desvendar o que se passava pela cabeça do atleta durante esse processo.

Aí entrou em cena o jornalista John Gambadoro, da rádio Arizona Sports, um cara bem informado sobre os bastidores da franquia local, para dar algumas pistas: 1) Aldridge tem aversão à posição 5, de patrulheiro de garrafão, e acreditava que, em San Antonio, pode ficar encarregado desse serviço sujo, enquanto o Suns havia acabado de contratar Tyson Chandler, presença inesperada na reunião com o clube; 2) em Phoenix, ele seria a referência indiscutível em quadra, podendo manter sua produção estatística (e a satisfação de ser o cara); 3) estaria também em um time bem competitivo — se não para conquistar o caneco, mas ao menos num patamar semelhante ao do Blazers, com chancds –, o que o livraria da imagem de “mercenário” e “caça-título”; 4) por fim, o fator extraquadra, no qual ele também seria tratado como a grande estrela, recebendo mensagens inclusive do prefeito de Phoenix nesta sexta-feira, um mimo que lhe fez falta nos últimos anos em Portland, depois da ascensão de Damian Lillard.

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Esses quatro pontos podem ser facilmente rebatidos, claro. Mas não podemos dizer se está certo ou errado ponderá-los. Teria LaMarcus exagerado em seu ciúmes quanto a Lillard? Talvez, até porque essa coisa de carisma é um tanto inerente, não? Quem tem, tem. Para atingir a popularidade, nem tudo se projeta e se constrói. Sobre sua questão em ser denominado pivô e ter a atribuição de trombar com os jogadores mais pesados: o talentoso cestinha poderia se questionar se esse conceito de cincão ainda existe, mesmo, ou se vá ser duradouro. Ok, bater de frente com Bogut e Asik deve doer uma barbaridade. Mas esses já são casos raros.

Nessa categoria mastodôntica, todavia, ainda se enquadra DeAndre Jordan, outro agente livre texano que tinha suas questões pessoais para matutar ao decidir se trocaria o Los Angeles Clippers pelo Dallas Mavericks. Sua mágoa com Chris Paul é realmente do tamanho que muita gente especulou durante a temporada. Nas palavras oficiais, claro, todos desmentiam. Até que chegou o momento de negociar um novo contrato, com o pivô virando as costas até mesmo para seu melhor amigo, Blake Griffin, de tanto desgosto que tinha pelas intensas cobranças do armador. Além disso, sonhava com um papel de maior destaque no ataque, em vez de apenas colher as rebarbas de CP3 e Griffin. Estava convicto de que poderia causar estragos no jogo de costas para a cesta e em mais situações de pick and roll.

Simbolismo puro

Simbolismo puro

Será? Doc Rivers, na tentativa de segurar o grandalhão que ele tanto ajudou a evoluir nos últimos dois anos, segundo consta, não prometeu nada nesse sentido. Teria menosprezado as habilidades do jogador, ou apenas constatado suas limitações? O Mavs se aproveitou dessa brecha e, em sua apresentação, usou a prancheta de Rick Carlisle para mostrar de que modo eles planejavam envolvê-lo no sistema ofensivo. Além disso, trouxe Dirk Nowitzki para a reunião. Fez o pivô se sentir mais querido.

No final, Aldridge tomou a decisão aparentemente mais lógica e fechou com o Spurs. Vai ter a chance de dividir a quadra com uma lenda como Tim Duncan pelo menos por um ano e carregar a tocha a partir daí, com a ajuda de uma estrutura incrível nos bastidores, a orientação de Gregg Popovich e uma força emergente como Kawhi. O que o clube texano não lhe proporciona é a visibilidade e o tratamento de estrela — não pelo fato de ser um mercado pequeno (Kevin Durant joga em OKC, e seu rosto está por todos os lados), mas simplesmente porque, em San Antonio, as coisas simplesmente funcionam de um modo diferente. As preocupações são outras. Jordan, por outro lado, foi com o coração e agora vai se testar seus limites sem a assessoria de Paul e Griffin, também de volta ao Texas, mais próximo de casa. Foi uma bobagem deixar um time que seria automaticamente candidato ao título por uma equipe que nem armador titular tem? Esportivamente, dá para dizer que sim. Só não dá para ignorar esse componente emocional.

Durante o flerte desses com outras equipes, Aldridge e Jordan expuseram suas preocupações, aflições e predileções. Você pode entender isso tudo como um capricho de jogadores mimados, e tal. Recomenda-se, todavia, dar sempre um passo para trás e tentar entender o que está acontecendo, em vez de simplificar as coisas com adjetivos chulos. Algo que anda em falta no mundo de hoje, a julgar pelas seções de comentários inflamadas em qualquer www. Independentemente da interpretação aos fatos, o que se constata depois das negociações dos pivôs, o que eles nos ensinam, uma vez mais, é sobre a complexidade do dia a dia da NBA — e de qualquer grande liga esportiva, afinal de contas. Eles jogam, nós cornetamos. Eles vivem, e nós também.

PS: um contrato de freelancer que começou neste mês deixará a atualização do blog um pouco intermitente durante a disputa dos Jogos Pan-Americanos.