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Arquivo : Bauru

A conquista sul-americana de Bauru em números
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Giancarlo Giampietro

Festa em Bauru. Já está virando recorrente

Festa em Bauru. Já está virando recorrente

Vamos com um apanhado estatístico do primeiro título continental da história de Bauru, que arrasou Mogi das Cruzes na final da #LSB2014 nesta quinta-feira, para termos uma ideia do quanto os caras sobraram nessa campanha:

281 – Os arremessos de três pontos em oito jornadas, com média assustadora de 35,1 por jogo. O aproveitamento foi de 38,1%. Para comparar, eles tentaram 23 chutes de fora a mais do que as bolas dentro do perímetro, zona em que tiveram aproveitamento de 62%. Em lances livres, foram 134 no geral, média de 16,7 por jogo.

169 – O saldo de pontos de Bauru no torneio, com média impressionante de 21,12 por partida. Avassalador. A maior diferença foi estabelecida na semifinal contra o Malvin, do Uruguai: 46 pontos. O jogo mais ‘apertado’? Triunfo sobre Brasília na abertura da segunda fase, com 95 a 87. Se for para contar apenas o Final Four, Bauru venceu os últimos dois jogos por uma média de 36 pontos. Para comparar, o vice-campeão Mogi terminou a competição com 40 pontos de saldo.

Bauru movimentou bem a bola; Larry virou sexto homem

Bauru movimentou bem a bola; Larry virou sexto homem

164 – O total de assistências da equipe em toda a campanha, em média superior a 20 por jogo. Excelente: 61,4% de suas cestas de quadra foram assistidas. Isso sem contar os passes que resultam em faltas e lances livres.

93,5 – A impressionante média de pontos por jogo. Apenas em uma ocasião o time ficou abaixo dos 80 pontos: na decisão contra Mogi, na qual também fez sua melhor defesa, limitando o adversário a 53 pontos. Mogi teve média de 78,3 pontos.

Gui, num raro momento de ataque agressivo em direção ao garrafão; Bauru priorizou o chute de fora

Gui, num raro momento de ataque agressivo em direção ao garrafão; Bauru priorizou o chute de fora

70,2% – Quando jogou perto da cesta, Rafael Hettsheimeir foi um terror para os adversários, matando 33 de 47 bolas de dois pontos. Em arremessos exteriores, ficou num 33,3% que não impressiona (12/36), mesmo sendo ele um pivô. Jefferson foi outro grandalhão que, no fim, não teve uma média tão boa assim lá fora: 32,7% (18/55).

57 – Os valiosos minutos recebidos pelo jovem pivô Wesley Sena, se aproveitando das sacoladas que sua equipe dava para entrar na festa. O promissor pivô tem apenas 18 anos e disputou sua primeira competição internacional adulta. Somou 25 pontos e sete rebotes, convertendo 10 de 19 arremessos (52,6%), com 1/3 de longa distância. O armador Carioca, de 21 anos, extremamente atlético, mas enfezado demais, ficou em quadra por 36 minutos.

56,9% – O aproveitamento de Robert Day em chutes de três no torneio. O gringo contemplado pelo Bolsa Atleta e que nada tem a declarar a respeito foi o único que, entre os que tiveram maior volume de jogo, superou sua pontaria de dois pontos com os pombos sem asa  (56,9% x 53,8%).

Murilo nem jogou direito a Sul-Americana, e Bauru atropelou mesmo assim

Murilo nem jogou direito a Sul-Americana, e Bauru atropelou mesmo assim

32 – Um jogador do calibre de Murilo disputou apenas 32 minutos no torneio, ainda limitado por problemas no joelho. Em cinco partidas no geral, ele marcou só 9 pontos, com… três arremessos de longa distância, em três tentativas. Fora isso, foram três arremessos de dois, todos errados.

5 – Todos os cinco titulares na maior parte da campanha terminaram com média de pontos superior a 10 por jogo. De cima para baixo: Robert Day (16,6), Rafael Hettsheimeir (16,5), Alex (13,3), Jefferson William (11,0) e Ricardo Fischer (10,8). Larry Taylor, que integrou o quinteto inicial na decisão contra Mogi, no lugar de seu compatriota norte-americano, terminou com 9,0. Gui Deodato teve 7,8.

2 – O atlético Gui Deodato tentou duas vezes mais arremessos de três do que de dois pontos: 30 x 15. Se levarmos em conta que ele matou módicos 30% dos disparos exteriores, é uma pena, mesmo, que ele não tenha expandido seu jogo. Ainda são raras as ocasiões em que vai por a bola no chão e partir para a cesta, sem explorar sua velocidade, agilidade e impulsão. No geral, ele cobrou apenas 14 lances livres em 163 minutos.


Bauru arrasa Mogi e avança com sua missão de títulos
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Giancarlo Giampietro

Campeões sul-americanos, e o projeto não pára

Campeões sul-americanos, e o projeto não pára

Já havia alguns atletas jovens bastante chamativos em seu elenco, escoltados por americanos e um americano bauruense, o Larry, mais o Murilo. Mas isso não era o suficiente ainda. Enquanto a cidade se envolvia com a coisa, aparece um investidor disposto a colocar grana e comprar, turbinar um projeto. E, a partir do momento em que Bauru começou a por dinheiro, muito dinheiro no mercado, não havia como ignorá-los. Alex, Hettsheimeir, Robert Day,  Jefferson. Muitas contratações, a formação de um supertime.

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Tudo muito legal. Agora, como nossos exemplos da NBA demonstram, com Anderson Varejão podendo dizer uma coisa ou outra a respeito do que se passa em Cleveland agora, a montagem de um elenco estrelado, badalado não vai ser garantia de nada. Tem de ir para a quadra e justificar o tal do hype. O frisson, o burburinho. Não adianta só ter a fama, o nome. Esse fator isolado, na verdade, só atrapalha. Precisa ir para a quadra, então, e ratificar. Mostrar na prática que são os bons, os melhores.

Nesta Liga Sul-Americana 2014, Bauru não deixou dúvidas sobre qual seria o melhor clube. Na final inédita continental, os caras derrotaram Mogi das Cruzes por 79 a 53, nesta quinta-feira, para não deixar dúvidas sobre quem é a bola da vez. O primeiro tempo terminou com uma parcial de 45 a 22 já. É muito. É algo para a concorrência estudar e se precaver. Vão ter de se virar com o que vem por aí.

Festa em Bauru. Já está virando recorrente

Festa em Bauru. Já está virando recorrente

Bauru novamente arremessou mais de três pontos do que de dois. Muito mais, na verdade. Dos 62 chutes, foram 38 de longa distância, o que vale por 61,2%. Para quem é mais purista, isso representa realmente um pesadelo. Mas há fatores complicadores, que podem complicar essas noções. No duelo com Mogi, os bauruenses arriscaram 10 tiros de fora a mais que Mogi. Ainda assim, superaram o adversário em pontos na zona pintada (22 a 20). Um empate que se pode considerar técnico, ok. Mas que, diante do volume de três pontos imposto pelo time da casa, acaba ganhando outro peso.

Em termos de lances livres, no entanto, o volume foi baixíssimo para ambos os lados: apenas 12 para Mogi e módicos 9 para Bauru. Sim, somente 21 lances livres chutados em 40 minutos, num reflexo de um jogo que priorizou a batalha externa à interna. Importante ressaltar: na onda internacional que dá bastante atenção ao jogo fora da linha perimetral, não se descarta as bolas de dois pontos. Pelo contrário: bandejas, enterradas e lances livres são muito bem-vindos por sua eficiência.

Na final, Alex mais passou que finalizou e, com 8 assistências, foi eleito MVP

Na final, Alex mais passou que finalizou e, com 8 assistências, foi eleito MVP

Para derrubar a artilharia de Bauru, então, os adversários estão avisados: muito provavelmente não vai adiantar competir com eles em chutinhos de três. É preciso encontrar outras alternativas ofensivas. Além, claro, da obrigação de combatê-los lá fora como prioridade absoluta . A defesa tem de estar adiantada e bem comunicativa, não pode dar brechas. Do outro lado, a agressividade tem de ser mantida, acompanhada de boa movimentação de bola, de criatividade.

Mogi claramente não conseguiu fazer nada disso na final continental e acabou derrotado de modo inconteste – nem mesmo os minutos reduzidos para Paulão e uma promoção para Thoma Gehrke, com a tentativa de ganhar mais velocidade na cobertura defensiva. Seu ataque promoveu míseras 18 cestas. De novo: foram apenas 18 cestas de quadra em 40 minutos para os visitantes, num aproveitamento de quadra de 25%. O mesmo rendimento que tiveram nos arremessos de fora. Contra Bauru, essa conta não vai fechar nunca – e aí não se pode ignorar a atividade defensiva dos adversários também.

Enfim, não houve nada que Mogi tenha tentado para reverter o curso do favoritismo de seu oponente. Pelo contrário, foi Bauru que se mexeu, com Guerrinha escalando Larry de titular, puxando Day, aquele da Bolsa-Atleta, vindo do banco. Dá muito mais pegada na defesa. E ainda há muito mais o que ser feito nesse time: Fischer e Gui têm o que aprender em fundamentos defensivos e desenvolver em movimentos complementares no ataque, para além de uma primeira bola sugerida;  o antes dominante Murilo ainda precisa esquentar o motor e deixar os problemas no joelho para trás; mesmo os mais jovens com Wesley e Carioca têm potencial para serem aproveitados.

Enquanto a turma ainda vai se ajeitando, Bauru segue em frente em sua trilha de conquistas. Depois de dois Paulistas, agora asseguraram um título sul-americano inédito, e todo o alarde causado por suas contratações vai se justificando com resultados.


Clubes brasileiros asseguram domínio inédito nas Américas
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Giancarlo Giampietro

A loucura de Mogi continua. Final inédita para eles

A loucura de Mogi continua. Final inédita para eles

Já contamos aqui como Bauru e Mogi vão disputar nesta quinta-feira o título da Liga Sul-Americana. Um dado relevante, porém, estava escapando: pela primeira vez na história, um país das Américas – o Brasil, no caso – conseguiu dominar por dois anos seguidos as duas principais competições do continente*. Para aqueles que estão antenados só com a NBA, tem #LSB e a Liga das Américas. De 2013 para cá, ambas têm pertencido a clubes brasileiros.

*Asterisco 1: obviamente estamos tratando do continente da Fiba, né? Sem os irmãos ao Norte da fronteira do México. Caímos naquela mesma discussão de Mundial de Clubes x Copa Intercontinental etc.

*Asterisco 2: só entram na conta aqui os torneios organizados pela Fiba desde 1996, de modo consistente. Desde, então, a Liga Sul-Americana só não foi disputada em 2003; em 2009, houve duas edições. A Liga das Américas passou a ser disputada anualmente desde 2007-08.

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De toda forma, os fatos são estes. Quatro títulos brasileiros em sequência. Não faz muito tempo que as mazelas da seleção nacional contra argentinos caminhavam em simbiose com o âmbito clubístico. “Até quando os times daqui vão perder para os de lá?” – era a incômoda indagação que se fazia, e que agora entrou em desuso.

Jay Jay agora já se acostumou com os clubes brasileiros. Todo respeitoso

Jay Jay agora já se acostumou com os clubes brasileiros. Todo respeitoso

O quanto isso tem a ver com uma evolução do basquete brasileiro e/ou a piora do argentino? Pesa mais o que está dentro ou fora de quadra? O quão determinante são os maiores orçamentos dos clubes nacionais para essa virada? O quanto disso é decorrente da estruturação do NBB? Houve alguma guinada/derrocada atlética de um dos lados?

Enfim, o mais fácil é dizer que o cenário econômico é realmente decisivo. Mas há tantos outros tópicos a serem investigados. Tudo isso exige mais parcimônia na ponderação e também mais tempo para ver se esses resultados serão realmente sustentáveis. Afinal, ainda estamos rodeados de problemas, de bastidor ou refinamento técnico.

Nesta terça-feira, enquanto Bauru e Mogi venciam pelas semifinais da Liga Sul-Americana, Flamengo e Pinheiros não conseguiam entrar em quadra para disputar mais uma rodada do NBB7. Quer dizer, eles até entraram em quadra para se aquecer até que veio uma bomba inesperada: o ginásio do Tijuca ainda não estava liberado para receber o duelo. O jogo, que já não contaria nem com público, foi adiado. Não dá para esquecer a situação triste por que passa Franca. Justo Franca.

Orçamento do Bauru de Guerrinha nesta temporada ainda é coisa rara

Orçamento do Bauru de Guerrinha nesta temporada ainda é coisa rara

Um ponto interessante, todavia, vale destaque: são quatro troféus para quatro clubes diferentes nestas duas temporadas, independentemente do desfecho do duelo Bauru x Mogi. Pinheiros e Flamengo ficaram com a Liga das Américas. Brasília faturou a última Liga Sul-Americana. Agora vai ter um campeão continental inédito.

Brasília já viveu seu período de hegemonia por aqui. No momento, o Flamengo é o time a ser batido – não poderia ter conquistado a #LSB2014, aliás, pelo simples fato de não tê-la disputado. Se mantiver o investimento, Bauru tem tudo para assumir a tocha. Citar esses três clubes em sequência já comprova uma alternância de poder bem-vinda e uma independência de uma eventual superpotência.

Como nos mostra Mogi, subindo um degrau depois do outro, partindo de um torneio Novo Milênio em São Paulo até uma decisão continental, com maior aporte financeiro e retorno de público. Mais um exemplo de que dá para fazer, bastando ter paciência e um projeto sólido. Um pouco de sorte no meio da escalada nunca faz mal. Mesmo que o clube não ganhe o título na quinta-feira, trata-se da história mais saudável nessa ascensão brasileira, significando chances maiores de sucesso duradouro.

*  *  *

Para a Argentina, no biênio 2010-11, para completar quatro títulos continentais seguidos, faltou uma Sul-Americana, a de 2010, que ficou com Brasília, em final brasileira contra o Flamengo. Em 2007-08, faltou aos argentinos uma Liga das Américas, a de 2007. Que não existia ainda, na verdade. Nesse período, conquistaram três títulos com três times diferentes: Libertad de Sunchales e Regatas Corrientes com a Sul-Americana e Peñarol de Mar del Plata com a primeira Liga das Américas.

*  *  *

O Brasil vai subir para sete títulos da #LSB nesta quinta. Ainda faltam cinco para alcançar a Argentina. Nenhum outro país foi campeão do torneio. Na Liga das Américas, são três títulos para cada. A Argentina tem um vice-campeão a mais (2 a 1). O México tem um título, com o Pioneros de Quintana Roo em 2012.


Bauru e Mogi agendam final de modo bem diferente
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Giancarlo Giampietro

Enquanto o Mogi sofreu (e comemorou) muito em sua semifinal...

Enquanto o Mogi sofreu (e comemorou) muito em sua semifinal…

A final da Liga Sul-Americana é toda brasileira, depois que Mogi das Cruzes e os anfitriões de Bauru venceram nesta terça-feira suas semifinais. Pois a classificação de ambos não poderia ter acontecido do modo mais diferente possível.

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Equanto o time de Mogi precisou de uma prorrogação num jogo extremamente tenso contra o Boca Juniors (87 a 85), daqueles do oficial “sofreu-mas-venceu”, com direito a 16 trocas de liderança e sete empates, a equipe da casa deu uma surra incontestável nos uruguaios do Malvin no jogo de fundo: 103 a 57.

Esta será a terceira final brasileira na Liga Sul-Americana, depois de Uberlândia x Ajax em 2005 e Brasília x Flamengo, em 2010, com títulos para  os mineiros e os brasilienses. A diferença dos placares e do desenvolvimento das partidas confirma, sim, o Bauru como o grande favorito ao título na quinta-feira.

Mas cada jogo é uma história, né?

(De modo que nem vale analisar o que se passou no último duelo entre ambos, pela segunda fase da competição, uma vez que ambos os treinadores usaram rotações muito mais relaxadas.)

O que Mogi precisa fazer de diferente em relação ao que apresentou nesta semifinal), e urgentemente, é melhorar sua defesa exterior, que foi um horror no segundo tempo (especialmente no quarto período) contra os argentinos. Se repetirem a dose diante dos bauruenses, a coisa vai ficar bem feia. De modo que, a despeito de todo o sufoco passado, não só a vitória dá um pouco mais de confiança para o time de Paco Garcia, como também serviu como um treino para o que vem por aí.

O Bauru de Alex sobrou em quadra, num massacre

O Bauru de Alex sobrou em quadra…

O Boca se sentiu confortável pacas no interior paulista e, vejam só, tal como o Bauru vem fazendo em toda a temporada, arremessou mais de três pontos do que de dois: 35 x 30. Nos tiros de longa distância, converteu 37%, o que não chega a impressionar tanto assim, olhando friamente. Mas os adversários conseguiram uma reação na parcial final justamente com um festival de chutes de fora, quando passaram a jogar em tempo integral com cinco homens abertos. O pivô Pedro Calderón, velho conhecido do basquete brasileiro, inclusive ex-jogador de Mogi, estava entre eles, matando duas em quatro tentativas, a caminho de um double-double surpreendente de 18 pontos e 12 rebotes.

Do lado mogiano, Shamell foi o, hã, herói do dia, do jeito que ele gosta, anotando 29 pontos, “chamando a responsabilidade”, mas também alienando muitos de seus companheiros no processo (10-23 nos arremessos em 39 minutos). Por outro lado, diga-se, muitos de seus parceiros também o procuravam desesperadamente nos momentos decisivos – e ele teve duas chances de matar o jogo no tempo regular, mas falhou em tiros forçados. Já Tyrone Curnell estava novamente por todos os lados, com 16 pontos, 15 rebotes e 3 assistências.

Quer dizer, sozinhos, os americanos foram responsáveis por mais de 50% dos pontos da equipe, contra um rival que não tinha nenhum estrangeiro. Mas, se for para deixar o patriotismo assumir o controle aqui, vale destacar também a atuação do pivô Gerson, com seus 11 pontos e 8 rebotes em 25 minutos, com um impacto na partida que vai além das estatísticas. Muito, mas muito, muito, muito mais ágil que Paulão, ajudou mais nas coberturas defensivas e também foi uma arma muito mais eficiente no ataque com seus deslocamentos de pick-and-roll, ferindo a defesa argentina perto da cesta. Olho nesse jovem pivô, formado pela Universidade de Colorado State. Prometo mais a respeito dele daqui para a frente.

Com sua velocidade e capacidade atlética, estava mais capacitado para lidar com um time mais baixo. De qualquer forma, a despeito das broncas pesadas do espanhol no banco de reservas, sua equipe não conseguiu se ajustar nos minutos finais e falhava demais na contestação dos arremessos longos. Faltou coordenação, comunicação, perna e tudo o mais que você poderia pedir. O desarranjo era tanto que, mesmo quando os oponentes erravam, conseguiam coletar rebotes ofensivos, se aproveitando do mal posicionamento defensivo.

Se o mesmo acontecer contra Bauru, não terão chances na decisão. A equipe de Guerrinha está jogando em casa e tem jogadores/arremessadores melhores, ainda que contra o Malvin tenha terminado com aproveitamento praticamente idêntico (13-34, para 38%). Com uma parcial de 28 a 12 no segundo período, os anfitriões tinham quase o dobro de vantagem (59 a 30) e a partida resolvida, num massacre. Normal que no segundo tempo tenham relaxado e desacelerado. Um luxo de que Mogi adoraria ter desfrutado nesta terça.

 


Ainda sobre a Bolsa Atleta de Robert Day e a conivência da CBB
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Giancarlo Giampietro

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Já publiquei aqui a nota de esclarecimento da CBB a respeito de seu envolvimento, ou não, com a Bolsa Atleta de R$ 925,00 entregue ao ala Robert Day, norte-americano titular do time de Bauru. Mas vale retomar o caso depois de um pouco de ponderação.

A entidade afirma que não tem poder de veto ou indicação sobre os atletas beneficiados pelo programa, fornecendo apenas a documentação requisitada: “A concessão do benefício segue legislação própria, a que todos estamos submetidos, e não há como a CBB indicar, facilitar, favorecer ou ajudar de qualquer forma nenhum atleta a receber o benefício”.

Por isso, não poderia dar “uma forcinha” ao atleta, conforme escrevi no meu primeiro artigo. Talvez o termo “forcinha” tenha sido um termo propositalmente ambíguo e capcioso para abordar um tema que claramente pede um tratamento bem longe do preto e branco da lei. Afinal, o que está no papel não se discute mais? É a letra fria, e pronto?

O que temos aqui é uma situação em que a CBB simplesmente lava as mãos diante de um absurdo desses. A mesma entidade que está – ou deveria estar – ciente da penúria que ainda domina o basquete brasileiro, a despeito de um celebradíssimo sexto lugar na Copa do Mundo e dos avanços promovidos exclusivamente pela Liga Nacional do seu lado. Como prova a arrecadação de fundos virtual promovida por Franca, o basquete brasileiro não está em condições de descartar os 900 e poucos reais endereçados a Robert Day.

Obviamente que o que mais causa vergonha nessa história toda é a cara-de-pau e o jeitinho brasileiro muito bem assimilado pelo atleta, além do buraco na lei federal que permite a solicitação de recursos públicos por e para a conta de um estrangeiro já muito bem pago. Mas realmente não cabia nenhuma ação da turma de Carlos Nunes nesse caso? Não havia absolutamente nada que pudessem fazer a respeito?

Sabemos bem que há um diálogo constante entre CBB e Ministério. Até porque, se não houvesse, a entidade muito provavelmente não teria condições de operar de uma forma minimamente respeitável, considerando o aporte que recebeu da Esplanada nos últimos anos e seu amontoado de dívidas.

Sem a documentação oficial, o americano não conseguiria se candidatar ao Bolsa Atleta. Aí a confederação simplesmente diz que não pode negar um pedido que, infelizmente, é legítimo.”A CBB cumpre o que lhe é imposto”, afirma em nota. “São meras, óbvias e inegáveis informações solicitadas pelos atletas, que os enquadrarão ou não nos critérios estabelecidos para solicitação do benefício, que não proíbem a participação de estrangeiros. A solicitação do benefício somente pode ser feita por cada atleta interessado, nunca pelas entidades de administração esportiva. À CBB não cabe vetar ou indicar atletas.”

Reparem que o “infelizmente” é um termo empregado pelo próprio blogueiro. Pois, em sua nota de es-cla-re-ci-men-to, em nenhum momento a entidade lamenta ou dá sua posição sobre o episódio. “São meras, óbvias e inegáveis informações solicitadas pelos atletas, que os enquadrarão ou não nos critérios estabelecidos para solicitação do benefício, que não proíbem a participação de estrangeiros. A solicitação do benefício somente pode ser feita por cada atleta interessado, nunca pelas entidades de administração esportiva. À CBB não cabe vetar ou indicar atletas.”

Mas, espere um pouco. Vale atentar para mais um fato. O Ministério informou ao companheiro Daniel Brito, do UOL Esporte, que “o processo de divulgação dos contemplados também passa pela confederação de cada modalidade, que avaliza os nomes antes de serem divulgados no Diário Oficial da União”.

A CBB avalizou o nome de, hã, Roberto Dias? Talvez não pudesse, de acordo com a lei, dizer “não”. Talvez o avalizar aqui se trate apenas de uma última checagem para ver se o Atleta X está regular, ou não. Pode ser, mesmo. Esteve aí, porém, mais uma oportunidade para apontar o desatino.

Agora, para que criar rusga com o órgão que lhe sustenta?

Politicamente, é o movimento correto.

E eticamente, como guardiã do basquete no país?

Tirem suas próprias conclusões.


Tyrone para todo lado, e Mogi elimina campeão Brasília
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Giancarlo Giampietro

Acelera, Tyrone. Seja no NBB, ou na Sul-Americana. Ou no rahttps://vinteum.blogosfera.uol.com.br/wp-admin/post.php?post=7819&action=edit#chão no parque...

Acelera, Tyrone. Seja no NBB, ou na Sul-Americana. Ou no rachão no parque…

É comum aqui no blog convidar o leitor para respirar um pouco antes de se eleger o destaque de uma partida, já que a tradição nacional é correr sempre em direção ao cestinha. Na vitória do Mogi sobre o Brasília, por 92 a 70, nesta quarta-feira, para definir a classificação da equipe da casa e também do Bauru à fase final da Liga Sul-Americana, porém, isso certamente não foi necessário.

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Para quem viu o jogo, não há como apontar outra figura que não o norte-americano Tyrone Curnell, um ala-pivô que botou fogo na partida, para deixar a torcida mogiana ainda mais empolgada. É aquilo: eles animam os jogadores, mas os atletas também podem fazer sua parte neste ciclo e fazer as coisas pegarem fogo de vez.

Ao ataque, mais uma vez

Ao ataque, mais uma vez

Foi Tyrone para todo lado. Ele fez tudo o que era esportivamente possível para isso, como suas estatísticas comprovam. Mais do que os 19 pontos (mesma quantia de Filipin, quatro abaixo de Shamell), o que impressiona são os sete roubos de bola, os cinco rebotes e as cinco assistências. Foram 33 minutos de pura energia para o nova-iorquino.

Diante de um Brasília sem pernas, com rotação novamente enxuta devido aos problemas físicos, foi quase injusto o quanto o camisa 88, ex-queridinho da torcida do Palmeiras, correu e incomodou demais seus adversários. Nas suas recuperações, chegou a desarmá-los em embate frontal, mano a mano, mesmo, atacando o drible de um Guilherme Giovannoni ou de um Darington Hobson com voracidade, impulsionando o o jogo em transição. Em outras ocasiões, ele saía em disparada para evitar o contragolpe.

Na imprensa americana, eles costumam usar um termo bem legal para definir esse tipo de comportamento: “motor”. Quando o atleta se empenha tanto em quadra, tem o motor potente. Nesta quarta, Tyrone jogou com um V8 bem barulhento, arrancando com tudo mesmo em meia quadra, para apanhar rebotes ofensivos e forçar muitas faltas (nove lances livres no total foram batidos).

Acelera, Tyrone. Seja no NBB, ou na Sul-Americana. Ou no rachão no parque...

No NBB, correria de Tyrone agora é de Mogi

O que não quer dizer também que ele seja o melhor dos carros, um Mustang em quadra. Tanta dedicação serve também para compensar a falta de refinamento em seu jogo. A mão esquerda é praticamente inexistente. O arremesso de longa distância tem mecânica estranha e não é dos mais confiáveis, ainda que ele esteja trabalhando em cima disso. Entre suas primeira e segunda temporadas pelo Palmeiras, subiu de 58,1% nos lances livres para 79,4% e de 27,2% nos arremessos de três para 36,9%. Em duas rodadas pelo Mogi no NBB7, tem respectivamente 80% e 50% – mas é muito cedo ainda para constatar um novo e significativo salto desses. No Paulista, por exemplo, em 14 partidas, teve 73,7% e 37,5%.

Para ficar em números do estadual, porém, o que mais chama a atenção são os 6 rebotes por jogo e as 2,14 roubadas. Que seguem, vá lá, o padrão de sua carreira no NBB: 5 e 1,5, respectivamente. Esses são dados que reforçam o estilo do americano, uma pegada que vai conquistar sua nova torcida claramente.

Essa entrega e sua capacidade atlética propiciam ao técnico Paco García também uma bem-vinda versatilidade. “Gosto muito assim”, disse ao VinteUm, durante a cerimônia de apresentação do campeonato nacional. “No ano passado, já construímos o time desta forma. Com exceção do Gustavinho, que é um armador-armador, e do Paulão, que é um cinco-cinco, o resto são todos jogadores polivalentes. O Filipin, o Tyrone, o Alemão, o Gerson e outros… São jogadores que nos dão muitas opções. Se você quer um time grande e forte, pode jogar com atletas de mais de 2,00 m. Se quer um time pequeno e rápido, dá para jogar com o Tyrone como 4. Pois cada jogo é um jogo, e você tem de se adaptar à situação. Se vai pedir mais pressão, mais posse e acho que o nosso time  pode ser forte desse jeito.”

O interessante é que, com Tyrone em quadra, num time mais baixo ou alto, o espanhol sabe que aceleração não vai faltar.

*   *   *

Shamell: e o joelho não era o que mais doía

Shamell: e o joelho não era o que mais doía

O cestinha do Mogi, de todo modo, também mereceria uma atenção especial pelo que aconteceu em quadra também além de seus 23 pontos. O veterano ex-Pinheiros deu um susto danado na torcida quando caiu em quadra com seu pé esquerdo em cima de um adversário, virando a perna num ângulo preocupante. Ficou estendido sobre o tablado por um tempinho, recebeu atendimento e saiu mancando. A equipe médica detectou uma hiperextensão no joelho, mas nada grave. Quando voltou do vestiário, o ala subiu, então, numa bicicleta, para se manter quente. Voltou a jogar no quarto período.

Já seria o suficiente para render manchetes. Aí que, ao final da partida, em entrevista ao SporTV, Shamell se mostrava bastante emocionado. Mas não tinha nada a ver com a questão médica que havia acabado de superar. Ele revelou que, na noite anterior, havia perdido seu sogro, falecido. “Fiquei com meus filhos chorando a noite toda. Mas nessas horas tem de vir para cá, jogar”, disse. No fim, o jogo era para extravasar. Com a vaga assegurada.

*   *   *

Mais cedo, o Bauru venceu o Comunikt, do Equador, por 110 a 83. Foi uma partida relativamente equilibrada até o início do terceiro período, quando a equipe paulista desgarrou, assim como havia acontecido na véspera, fazendo 27 a 10. A equipe de Guerrinha apostou novamente num volume altíssimo nos arremessos de longa distância, com 37 de 69 tentativas. Novamente mais do que a metade do total (53,6%). O aproveitamento foi de 54% no geral, com 20 cestas.

O pivô Rafael Hettsheimeir marcou 34 pontos em 32 minutos, na sua melhor atuação desde que retornou da Espanha, com 13-19 (68%) nos arremessos de quadra, sendo que, nas bolas de dois pontos foi praticamente impecável, com 10-12. Todos os cinco titulares anotaram um mínimo de 12 pontos. Outro dado: para as 38 cestas de quadra bauruenses, ocorreram 31 assistências – 13 na conta de Ricardo Fischer.


Bolsa Atleta e Bolsa 3 pontos: o dia do Robert
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Giancarlo Giampietro

O dia do Robert

O dia foi do Robert, com muito ou quase nada o que se falar

Brasileiros e brasileiras, vocês vão desculpar o trocadilho infame, mas é inevitável: o dia 11 de novembro de 2014 do basquete nacional pertenceu a Robert Day. Pela manhã, fora de quadra, o ala norte-americano do Bauru foi o protagonista de uma dessas matérias que só nosso país pode te oferecer. Ao final da tarde, em ação, também fez questão de roubar a pauta para ele em vitória sobre o Brasília pelo quadrangular semifinal da Liga Sul-Americana.

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Brasília? Opa, e veio do Distrito Federal, mesmo, a reportagem do intrépido Daniel Brito que abriu a jornada basqueteira deste blogueiro nesta terça-feira: “Bolsa Atleta do governo federal paga jogador de basquete dos Estados Unidos“. É o tipo de manchete que te faz levantar do sofá, ir ao banheiro novamente e jogar água no rosto. Para ver se despertou direito. Era o caso.

Acontece, mesmo, que Day se cadastrou no programa de beneficiários do Ministério do Esporte, foi aprovado e vem sendo agraciado com a quantia de R$ 925 mensais. Dinheiro público embolsado pelo jogador estrangeiro, que não está nos planos da seleção brasileira, nem nada perto disso.

Nascido em Portland, terra do amável Trail Blazers, há quatro anos no Brasil, o jogador teve seu nome publicado no Diário Oficial no último dia 1º de julho. Os demais detalhes você confere no texto do próprio Daniel. Só adiantamos aqui um dado importante: um dos reforços do badalado elenco de Bauru para esta temporada, o jogador está ganhando algo em torno de R$ 30 mil mensais. Ah, vá. O jeitinho brasileiro contagia.

Segundo o Ministério, a concessão para Day “segue a legislação em vigor”. Consta que o atleta tem enviar sua documentação obrigatória, mas também tem de contar com uma forcinha da CBB, a confederação (ir)responsável pelo esportista. Isto é, não se trata de uma operação ilegal – e tampouco algo sorrateiro. Day contou com a anuência da entidade e de sabe-se lá quantos burocratas. Ninguém que pudesse apelar ao bom senso. Impagável, não? Quer dizer: é pagável, sim. A cada 30 dias.

O que o jogador teria a dizer a respeito? “Nada a declarar”.

Horas depois da publicação da notícia, Day falou, sim, todo sorridente com a reportagem do SporTV. Disse qualquer coisa sobre estar feliz de ter ajudado o time numa vitória importante. Nada sobre a graninha extra. O americano havia acabado de marcar 32 pontos em uma vitória de virada, incrível, do Bauru sobre os atuais campeões sul-americanos: 95 a 87.

Day anotou 32 pontos na partida. Até aí, quase normal. O que pega é que foram 30 pontos só em arremessos de longa distância. Sim, ele matou 10 chutes de fora contra Brasília, em 12 tentativas. Sete delas aconteceram apenas no terceiro período, o da reação, em sequência. Foi como se o americano tivesse ganhado também uma Bolsa de 3 pontos.

Robert Day, e sua Bolsa de 3 pontos entregue por Brasília

Robert Day, e sua Bolsa de 3 pontos entregue por Brasília

Uma façanha, é verdade. De ambas as partes: do cestinha da partida e da defesa adversária, em desatino, perdidinha, vendo o adversário fazer uma arruaça que só na linha perimetral.  A equipe de Guerrinha como um todo acertou dez de suas 15 tentativas no período – 30 de seus 40 pontos no geral. No geral, foram 19 em 43, com 44% de rendimento e 57 pontos.

De novo: inacreditável, aproveitando-se da gritante falta de comunicação dos candangos. A defesa era a maior preocupação de José Carlos Vidal antes de o NBB7 começar e vai seguir um problema difícil de se resolver, enquanto seus gringos ainda buscam entrosamento com os novos companheiros e se adaptam ao estilo praticado aqui.

Muitas das cestas de longe aconteceram com os atletas completamente livres, seja em descida em transição ou em jogadas de pura desatenção em que os comandados de Vidal partiam para o jogo de transição quando a bola não havia nem sido recuperada  no rebote. Resultado: um paulista a tomava e encontrava um companheiro sozinho para o disparo.

O time bauruense se aproveitou: no geral, eles tentaram 43 arremessos de três, contra apenas 35 de dois pontos. Uma loucura, mas o torcedor brasileiro que se acostume. Essa é claramente a proposta de jogo da equipe para a temporada. Nas duas primeiras rodadas do NBB, foram 63 arremessos de fora, contra 62 de dois pontos. Detalhe que, na primeira rodada, já havia enfrentado Brasília, mas com números mais modestos. Foram, na ocasião, 34 bolas de três para 32 de dois e aproveitamento de 32,4%. Na Liga Sul-Americana, o placar de quatro jogos soma 130 bolas de três contra 142 de dois, com 36,2% de acerto.

É uma abordagem ofensiva que vai favorecer, e muito, as qualidades de Robert Day. O americano havia chegado a esta quarta partida do torneio continental com 8 cestas de fora em 18 chutes, um ótimo 44%. Agora elevou sua pontaria para 60% no perímetro e chegou a uma média de 17,5 pontos. São números que justificam o Bolsa Atleta, no fim, não?

Nada a declarar.

*  *  *

A CBB se pronunciou a respeito da Bolsa Atleta recebida por Robert Day. Em seu site, publica uma nota a respeito, na qual afirma que não tem poder de veto ou indicação sobre os atletas beneficiados pelo programa, fornecendo apenas a documentação requisitada: “A concessão do benefício segue legislação própria, a que todos estamos submetidos, e não há como a CBB indicar, facilitar, favorecer ou ajudar de qualquer forma nenhum atleta a receber o benefício. São meras, óbvias e inegáveis informações solicitadas pelos atletas, que os enquadrarão ou não nos critérios estabelecidos para solicitação do benefício, que não proíbem a participação de estrangeiros. A solicitação do benefício somente pode ser feita por cada atleta interessado, nunca pelas entidades de administração esportiva. À CBB não cabe vetar ou indicar atletas”.


Fla abre luta pelo tri com números inflados de ataque (e defesa)
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Giancarlo Giampietro

Vigiar o Flamengo lá na linha de três: é necessário

Vigiar o Flamengo lá na linha de três: é necessário

A concorrência do Flamengo que fique atenta no NBB7: os atuais bicampeões vão se garantindo, por ora, com base em seu poderio ofensivo. Uma artilharia. Em duas partidas, os rubro-negros flertaram com a marca centenária, tendo média de 98 pontos por partida para vencer Paulistano e Liga Sorocabana, fora de casa.

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Um detalhe: nesses dois triunfos, a equipe carioca matou 25 bolas de longa distância. Somou, então 75 pontos, ou 38,2% do seu total com bombas a partir do perímetro – para quem arremessou da linha da NBA em três amistosos da pré-temporada, parece que ficou mais fácil o fundamento, né? Quem quiser derrubar os caras, então, vai ter de fiscalizar bem no perímetro.

Agora, será que o Fla consegue manter um ritmo assim? Difícil, bem difícil. O mais razoável, na briga por um terceiro título consecutivo, seria encontrar um equilíbrio, ainda mais priorizando uma evolução considerável em sua defesa, que também cedeu mais de 90 pontos para a dupla paulista. Na temporada passada, para constar, o time carioca teve médias de 84,7 pontos pró e 76 contra.

Olho no campeão olímpico trintão...

Olho no campeão olímpico trintão…

Ao menos na contenção dos chutes de longa distância a equipe de José Neto vem bem. Somados, Paulistano e LSB acertaram apenas 15/54 (6/24 e 9/30, respectivamente), para um aproveitamento de 27,7%. Neste caso, não valeu a premissa do toma lá, dá cá.

O cestinha flamenguista nessas duas primeiras partidas foi Walter Herrmann, com 38 pontos no total, contra 33 de Marquinhos e 32 de  Marcelinho. O veterano argentino, ainda um craque ao seu modo, é quem vem mais fazendo estragos nos arremessos de fora, com 8/13 (61,5%). Sua habilidade para puxar um dos pivôs para fora do garrafão vem sendo um problema, então, para os adversários, que vão precisar estudá-lo com mais atenção.

Um detalhe: da parte dos sorocabanos, o ataque também vai funcionando, com média de 94 pontos, acima dos 75,9 do campeonato passado. Mas tem muita coisa para rolar ainda.

Sem conclusões precipitadas, é só um registro de duas contagens anormais para o basquete brasileiro neste princípio de campeonato.

*   *   *

Idem para o Bauru e Jefferson William

Idem para o Bauru e Jefferson William

Assim como Herrmann, outro strecht four que fez chover* bolas de três na segunda rodada foi Jefferson William, pelo Bauru. O ala-pivô anotou 30 pontos, dos quais 15 foram em tiros de fora (em nove tentativas). Eitalaiá. Os scouts ligados ao movimento de estatísticas avançadas da NBA ficariam malucos por aqui. Não é segredo que Jefferson gosta desse tipo de jogada. Mas também não foi marcado: seu aproveitamento é de 52,9%, com 9/17. Não deve ser algo sustentável, porém. Em sua carreira no NBB, a média é de 36,9%. Vamos monitorar, uma vez que o time de Guerrinha não faz questão nenhuma de esconder sua predisposição pelos chutes de longa distância, com até cinco atletas abertos em quadra. Na vitória sobre o Basquete Cearense, eles tentaram 29 bolas de três pontos e 30 de dois. Um (des)equilíbrio ao qual não chegaria perto nem mesmo um time maluco por esse tipo de jogo como o Houston Rockets. Em média, o time texano vem com 73,5 arremessos por partida nesta temporada 2014-2015, com 31,3 tentativas exteriores.

(*Sim, uma indireta ao problema com goteiras no ginásio Panela de Pressão, que fez a partida ser adiada. Algo que acontece, sabemos, não pode deveria mais, né? Da parte da cidade, clube e liga.)

*   *   *

Na estreia do técnico Marcel em um NBB, seu Pinheiros venceu o Rio Claro, fora de casa, por 84 a 70, num jogo um tanto maluco. Também uma novidade neste campeonato nacional, os rioclarenses chegaram a virar a partida no segundo tempo e abrir nove pontos no placar, só para tomar um 24 a 11 na última parcial. Não vi a partida. De todo modo, chama a atenção o quinteto titular usado por Marcel: Paulinho teve a companhia dos irmãos Smith, formação com três armadores bastante agressivos. Eles eram protegidos, digamos assim, por dois atletas muito físicos na linha de frente Marcus Toledo e Douglas Kurtz. O trio Paulo-Joe-Jason terminou com 52 pontos –61,9% do total do time da capital. Não só: foram mais 11 assistências, de 15, para o trio, e oito roubos de bola (sete por parte dos americanos). Epa.


“Era a hora de mudar”, diz Vidal, agora sem Alex e Nezinho
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Giancarlo Giampietro

Vidal, novamente dirigindo o Brasília. Mas agora é outro Brasília

Vidal, novamente dirigindo o Brasília. Mas agora é outro Brasília

Não foi a primeira vez que Alex ou Nezinho deixaram a capital federal. O ala, por exemplo, havia saído até mesmo do país em 2007 para jogar pelo Maccabi Tel Aviv. Nezinho, por sua vez, já havia pegado a estrada para Limeira em 2008. Os dois retornaram, claro, e encheram a gaveta de medalhas. Muitas medalhas conquistadas.  Mas agora parece que é para valer. Que chegou a hora de Brasília seguir em frente com seu basquete sem a veterana dupla paulista.

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Pelo menos é a sensação que o blogueiro teve em um papo agradável com o técnico José Carlos Vidal na cerimônia de abertura do NBB7, na última quinta-feira, no Paulistano – um grande evento, por sinal, muito bem organizado, de deixar qualquer competição brasileira com inveja, e prato cheio para os jornalistas, de tantas as fontes para serem consultadas. No decorrer dos próximos dias e semanas, vamos divulgar esse material coletado.

Começamos com Vidal, ele mesmo que entra no lugar do argentino Sérgio Hernández e vai para sua terceira passagem no comando técnico da equipe candanga, que faz sua estreia no campeonato nacional nesta terça-feira contra o Bauru, às 20h, na Panela de Pressão do interior paulista. Já mais um reencontro com Alex marcado, afinal, com transmissão oficial no site da LNB. É difícil para qualquer clube substituir um jogador como o ala da seleção, ou Nezinho. Especialmente no caso de um Brasília que havia se habituado a conquistar tudo com o núcleo construído em torno da dupla, além de Guilherme Giovannoni e Arthur. Mas, para o treinador, era chegada a hora. “Já havia um desgaste natural de todos esses anos”, afirma. “cho que a saída dos dois foi de 50% para cada lado (clube e jogador).”

Eles chegam: Fúlvio, Hobson e Cipolini

Eles chegam: Fúlvio, Hobson e Cipolini

Giovannoni e Arthur ficaram, agora com a companhia de Lucas Cipolini, o dinâmico pivô ex-Uberlândia, do armador Fúlvio e do americano Darington Hobson, que chega com a marca NBA em seu currículo. Os dois últimos, aliás, oferecem ao time um perfil completamente diferente, se comparados com os que partiram. A expectativa é que a equipe tenha mais movimentação de bola como resultado. “Na meia quadra, a gente aumentou nossa qualidade, de visão, de inclusão de todos no jogo”, diz Vidal. Para ele, no entanto, a prioridade ainda é o jogo de transição, a partir do momento em que o time solucionar algumas questões defensivas, hoje sua maior preocupação.

Foi algo, aliás, preocupante, mesmo, durante a primeira fase da Liga Sul-Americana que o clube disputou há algumas semanas em Bauru, sofrendo para eliminar o Defensor, do Uruguai, e conseguir a classificação. De todo modo, para Vidal, essa não é hora de pensar em renovação, no sentido de abrir espaço para juventude em seu elenco. Jovens como Ronald e Isaac estão nos planos, mas precisam assumir seus papéis. O próprio treinador lembra que ainda tem duas vagas de estrangeiros para serem preenchidas. E sua vontade é que venham atletas para decidir, para levar o clube de volta ao topo.

Após ter disputado as primeiras quatro decisões do NBB, os candangos ficaram fora da festa nas últimas duas edições, abrindo espaço para o Flamengo equilibrar o tabuleiro histórico. “É um momento de reestruturação, para poder atingir os resultados de que o Brasília precisa. Conseguir títulos e manter o basquete forte”, afirma. “Não estamos num momento de queda. Vamos reestruturar, mas pensando para cima. Ninguém vai ficar batendo palma para um time em renovação. Já vi isso acontecer com alguns times, quando dá essa abaixada e que uso como exemplo. Você estava levando duas, três quatro mil pessoas e depois abaixa para 400, 500. Não quero que isso aconteça em Brasília. Que continuemos com um time competitivo.”

Confira a entrevista completa:

Vidal: Brasília joga por títulos, e para agora

Vidal: Brasília joga por títulos, e para agora

21: Bom, a primeira pergunta é inevitável: o núcleo de seu time sofreu uma boa reformulação, com a saída de figuras como Alex e Nezinho, que haviam criado uma forte identidade. Quais as perspectivas para esta nova equipe?
José Carlos Vidal: É uma reconstrução difícil, um recomeço. No basquete você tem cinco jogadores titulares e os sete no banco. Quando você perde dois titulares, e importantes, tem uma reconstrução que sabemos que vai demorar um tempo e que estamos tentando fazer da melhor maneira possível. Por outro lado, acho que com aquele grupo já havia um desgaste natural de todos esses anos. O que o Flamengo fez anteriormente, o Brasília também precisava fazer.

Sentia, então, que era era mesmo a hora de mudar?
Era. Os resultados não foram ruins. Nessa última fase, em quatro anos com UniCEUB, ganhamos quatro títulos. Foram duas Ligas Sul-Americanas e dois nacionais. Acho que o que ficou de má impressão foi a derrota do NBB do ano passado, que não foi bom para a equipe e também para os patrocinadores. E aí decidimos mudar por bem ver com quais jogadores queríamos ficar e também quais jogadores queriam sair. Acho que a saída dos dois foi de 50% para cada lado. Acho que eles queriam sair, e a direção do clube também achou que era o momento. Conseguimos manter o Guilherme como um protagonista.

Pelo que vimos da primeira etapa da Liga Sul-Americana, o Giovannoni já foi bastante exigido. O time agora será reconstruído ao redor dele, como um pilar?
Isso, ele acaba sendo esse pilar, o que é importante. Também, perder três jogadores desse nível de uma vez seria complicado (risos). Haja busca por americano. A imprensa de Brasília, então, depois da saída dos dois, já estava falando que o time iria acabar, que acabou o sonho.

O clima ficou um pouco tenso, então?
Ficou tenso, mesmo (risos). Mas aí com a vinda do Fúlvio, para o lugar do Nezinho, acho que são jogadores equivalentes. A substituição do Alex é algo mais complicado. Sabia que seria. Ficamos esperando, aguardando um pouco…

Bom, o perfil dele é raro no Brasil, de ser um cara que joga realmente dos dois lados da quadra, e bem. Que causa um grande impacto.
Sim, não é fácil. Além disso, ele tinha um papel de liderança no grupo. Era o capitão, uma referência. Acho que isso por vezes é até mais difícil, do que uma questão tática ou técnica. Então isso é algo que o Giovannoni está tentando (suprir). E agora estamos com este norte-americano (o ala Darrington Hobson, que jogou a temporada passada em Israel e já passou pela NBA), que faz mais uma função 2 ou 1 e veio para substituir, para ser teoricamente importante. Precisávamos de um jogador dessa posição.

Você o considera um cara que venha para fazer a diferença? É sabido que, dos tempos de universidade em Novo México, que o Hobson atuava muitas vezes como um facilitador, mas não com um perfil de carregar pontuação.
A experiência que ele teve em Israel foi a única fora dos Estados Unidos. Não é aquele americano que vem para (chutar tudo)… Ele até perguntou para mim o que esperava dele. O sonho dele era (fazer carreira) nos Estados Unidos, claro, e parece que já foi alcançado de alguma forma.

Aliás, desculpe, mas como chegaram a ele? Quais informações tinham?
A gente conhecia também o Vandinho, que foi assistente técnico dele lá (referência a Adjalma Vanderlei Becheli Júnior, o Vandinho, brasileiro que trabalhou com Hobson no State University-College of Eastern Utah e que já trabalhou no Paulistano) e falou muito bem dele e disse que já estava recuperado (de cirurgia nos dois lados do quadril). A gente o conheceu primeiro por vídeos. E aí meu assistente encontrou o Vandinho numa clínica em que ele estava aqui no Brasil e ficou sabendo da negociação e disse que já havia jogado com ele. Aí foi melhor ainda. E foi por um outro lado também. Parece um cara intenso e vem com muita expectativa de que fazer uma boa temporada aqui. Ele sabe da pressão que vai ser. Já viu nossos jogos, sabe como é. Agora, é um jogador que não veio para ser um definidor, não é o americano definidor. Aí eu tendo Guilherme, Arthur e Cipollini para isso, que pontuam bem, e ele pode contribuir bem com suas características.

E como está o Fúlvio? Ele obviamente não teve um ano muito fácil em São José, depois de cirurgia por ruptura do cruzado anterior.
Naquela semana da Liga Sul-Americana, ainda tínhamos o Fúlvio a 60%. Não podemos esquecer isso, que ele estava há um ano parado. Foi uma aposta nossa. Eu gosto muito dele. Já havia trabalhado com ele como assistente. Todo técnico precisa ter um jogador de confiança. No meu time é assim, então vamos ter o Fúlvio. Que é armador, e quando você tem um armador assim, facilita o trabalho do técnico.

Alex, agora do outro lado: defesa ainda inspira preocupação. Isaac nos planos

Alex, agora do outro lado: defesa ainda inspira preocupação. Isaac nos planos. Crédito: Henrique Cunha/Paschoalotto/Bauru

Saem Nezinho e Alex, muito agressivos, um estilo que eles têm e com o qual venceram muitos títulos por Brasília. Mas agora chegam atletas de perfil diferente. Fúlvio pode pontuar, claro, mas tem mais vocação para a organização, muito mais passador. E o Hobson também. Você imagina um time mais homogêneo no ataque devido a essas características? O que você imagina de identidade para a equipe nesse sentido?
Não gosto muito de falar de filosofias, mas de estilos de jogo. Penso muito no jogo de transição, desde as categorias de base. E o Hobson também ajuda para esse papel. Ele pode pegar um rebote e levar a bola por conta, atravessando a quadra e dando bom ritmo ao time. Acho que, na meia quadra, a gente aumentou nossa qualidade, de visão, de inclusão de todos no jogo. Pelo Fúlvio e por ele. O Guilherme fazendo mais uma posição de 3, algo que ele fez a vida toda. Sabe se virar ali e está voltando a isso, estou insistindo com ele. É uma função importante para mim e na qual já foi usado no NBB5 e 6. E o Hobson também tem o um contra um, com o drible. Além disso, ainda vamos em busca de pelo menos mais um reforço, precisando alguém ali no poste baixo, mais forte, que pontue e possa fazer as coisas na hora do sufoco. Estamos procurando. Temos mais uma vaga de americano. Agora é esperar. É um time que vai poder jogar mais solto, mais leve e talvez com mais consistência. O problema por enquanto é mais a defesa, é onde temos de melhorar mais, antes de começar a temporada. Nesses três primeiros jogos, vimos que precisamos melhorar bem.

Isso tem mais a ver com ganhar coesão com as novas peças, ou é algo que vem mais das características dos jogadores, que pedem outro sistema defensivo para encaixá-los?
É mais a segunda alternativa, mesmo. Mas estou buscando esse sistema, mudando algumas coisas. Porque por, às vezes, mais que você queira uma coisa, tem hora que as características não são para aquilo que se pede. Mas acho que é um time que pode defender pelo aspecto cognitivo, que é algo que estou sempre falando para os jogadores: que às vezes você pode não ser um grande defensor de físico, individualmente, mas que, se defender conjuntamente, com inteligência, escolher a hora certa, fazer as trocas certas, seguir as regras, pode dar certo. O técnico tem de saber isso: as virtudes de sua equipe, de saber como pode jogar. Como sabia com a equipe anterior, desde 2006 e de quando voltei. Esse time agora é de outra visão, então tem de ter adaptação, mesmo. Explorar nossas virtudes e aceitar nossas deficiências para evoluir a partir daí, para um tipo de defesa que não fazíamos muito e no qual estamos treinando nesses dois meses. Agora é tentar por mais em prática e aí, sim, fazer uma avaliação real. Acho que o jogo contra o Bauru foi um bom jogo para isso. Até o terceiro quarto, estava equilibrado.

Queria perguntar também a respeito de dois dos atletas mais jovens: Ronald e Isaac. Eles já estão integrados à base do time há um tempo. Nessa nova configuração, eles ganham mais responsabilidades?
Acho que são dois jogadores que não podem mais ser considerados esperanças ou promessas, mas que têm que, neste ano, serem realidades. O Isaac quase não jogou no ano passado com o Sergio (Hernández, técnico argentino que dirigiu o time por apenas uma temporada) na rotação. Neste começo de temporada ele deu um pouco de azar, se machucou, mas é um cara que é para ser nosso sétimo jogador. Com o Ronald também. Depois, se eu troxer um 5, pode ser que a coisa mude um pouquinho. Mas o Isaac é um cara com quem conto. Eu o trouxe de Vila Velha, um garoto importante, arremessador, mas que tem de se impor.  Não vou dizer que tenha de ser um protagonista, mas que seja uma peça importante, assumir um papel. Isso tenho cobrado. Conto com ele e o Ronald. E aí tem os subs, que ainda são mais garotos, que nunca tinham jogado no adulto, os subs, o Bruno e o Gustavo. Mas não quero fazer uma renovação total no Brasília. Acredito que o Brasília tem um nome, e que a gente vai ser cobrado por isso. Também vou cobrar dos patrocinadores, que a gente tem vaga para mais dois estrangeiros. A gente tem de ver como começa e correr atrás. De chegar para a disputa. Acho que Limeira… Flamengo… Bauru estão com os elencos mais fortes do NBB. Não é o momento de Brasília ficar pensando em renovação. É um momento de reestruturação, para poder atingir os resultados de que o Brasília precisa. Conseguir títulos e manter o basquete forte.

O tradicional Nilson Nelson já lotou com basquete na capital federal. Pegou?

O tradicional Nilson Nelson já lotou com basquete na capital federal. Pegou?

Como você poderia nos explicar essa forte identificação de Brasília com o basquete? Sabemos que grandes jogadores vieram da capital, mas o que faz a cidade ter essa relação especial? Seria a ausência hoje de um grande clube de futebol? Ou o que mais? Como se desenvolve?
Acho que isso facilitou. Mas tem mais. Comecei a jogar basquete em Brasília em 1973, e aí a gente teve alguns ícones. O próprio Oscar começou a jogar no time em que joguei. Depois cheguei a um nível razoável. Teve o Pipoka, que saiu da minha geração de seleção. Sempre teve internamente quatro ou cinco clubes que tinha um campeonato que chegava a lotar ginásio. Tinha uma história. Eu mesmo lutei pelo Gama, que teve um time com o Gama em 2000, mas aí nunca deu certo. Já existia uma identificação com o esporte, mais do que o vôlei e outros esportes coletivos. Não ter esse time de futebol facilitou. Agora nessa nova fase conseguimos por 20 mil pessoas em jogo em 2006 contra o Flamengo, e daí para a frente a coisa foi evoluindo. Como todo brasileiro, a maioria quer torcer para time que ganha. Se começarmos a perder muito jogo em casa lá, o pessoal começa a cobrar que vai para o ginásio e nunca tinha perdido um jogo (Risos). Aí você fala que também não é bem assim… Então tem tudo isso. Foi crescendo. É por isso que falo com o pessoal, com os patrocinadores que não estamos num momento de queda. Vamos reestruturar, mas pensando para cima. Ninguém vai ficar batendo palma para um time em renovação. Já vi isso acontecer com alguns times, quando dá essa abaixada e que uso como exemplo. Você estava levando duas, três quatro mil pessoas e depois abaixa para 400, 500. Não quero que isso aconteça em Brasília, não. Que continuemos com um time competitivo.


NBB7 tem Flamengo favorito ao tri, mas com nova ameaça
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Giancarlo Giampietro

flamengo-2014-carioca-basquete

O NBB que começa nesta sexta-feira promete o melhor nível técnico do campeonato em sete edições. São ao todo dez atletas que disputaram a última Copa do Mundo, algumas importações de talento interessantes e jovens promissores – sim, eles ainda existem, mesmo que dependam da boa vontade de seus técnicos para jogarem. Fazer um bolão para adivinhar os quatro semifinalistas também será uma tarefa complicada, com muita gente se achando no direito de entrar nessa parada, o que é extremamente saudável. Resta saber o que todos os técnicos por trás dessas forças poderão aprontar, para fazer suas equipes se diferenciarem e subirem na tabela, tirando o máximo da técnica que tiveram à disposição.

De todo modo, em meio a essa crença de imprevisiblidade, uma tese é difícil de se evitar. Nem há muito como escondê-la: por tudo o que conquistou na última temporada – e no início desta –, o Flamengo é o grande favorito, principalmente depois que as negociações de Marquinhos com a NBA não foram adiante. Um jogador único dentro da liga nacional.

Se o time rubro-negro confirmar essa condição, chegará a um tricampeonato, repetindo o feito de seu rival Brasília, que ganhou três taças consecutivas entre 2010 e 2012. Se, para enfrentar adversários da liga norte-americana, em partidas de mais longas, o elenco de José Neto se mostrou reduzido, em cenário nacional, com os 40 minutos regulares da Fiba e uma concorrência mais justa, plantel não será um problema. Nem mesmo o tão sonhado pivô extra, que poderia ter sido JP Batista, parece necessário.

Dessa vez ele terá Vitor Benite desde o início da campanha – em vez de apenas na partida final –, ganhando  mais poder de fogo. Mas o grande chamariz, mesmo, em termos de novidade fica por conta de Walter Herrmann, que, aos 35 anos, tem muito o que render em quadra:

Demais, né? É o tipo de lance que você não cansa de rever. De tão sofisticado que foi o movimento, a cada reprise pode-se reparar em um novo detalhe: nada como fazer da bola de basquete uma bolinha de tênis. Herrmann, Marquinhos e Olivinha formam um trio de atletas intercambiáveis, que podem exercer múltiplas funções, entregando um pacote de características diversas que facilitam muito qualquer riscado de prancheta. A linha de frente é complementada pelo excelente Jerome Meyinsse, que comprovou contra Maccabi e NBA que não é só forte e atlético para os padrões sul-americanos, e Cristiano Felício, que já provou merecer seus minutos em sua turnê pelos EUA.

Não fica só nisso. Nícolas Laprovíttola é o melhor armador em atividade no país hoje, com um arsenal de fintas para entrar no garrafão quando bem entender. O que facilita a conexão com Olivinha, Herrmann, Meyinsse e Felício e, ao mesmo tempo, abre espaço para os chutes de fora de seus companheiros. Se o argentino maneirar um pouco no ímpeto e desistir dessa ideia de chutes de três em movimento, a partir do drible, sua eficiência vai decolar, impulsionando toda a equipe. Sim, há sempre detalhes para corrigir e o que melhorar, mesmo para os campeões. Mesmo para um time com o luxo de contar com um Gegê em constante evolução, saindo do banco. Enfim, um esquadrão, que deve imprimir um estilo de jogo agressivo, de velocidade e combativa defesa.

Uma nova ameaça
O Fla tem três quatro (1, 2, 3, 4) jogadores que disputaram a última Copa do Mundo. O único clube que repete essa marca é justamente aquele que, em teoria, desponta como a maior ameaça ao seu reinado: o Bauru. Campeã nacional em 2002, com os veteranos Raul, Vanderlei e Josuel, um emergente Leandrinho e os adolescentes Marquinhos e Murilo, a cidade só se viu entre os quatro melhores do NBB na edição retrasada, quando terminou em terceiro lugar.

Rafael e Larry, dois selecionáveis

Rafael e Larry, dois selecionáveis em Bauru

Para esta sétima edição, porém, a equipe do interior paulista foi a que mais se reforçou. Num projeto bastante ambicioso, a diretoria entregou a Guerrinha quatro grandes nomes: Alex, Rafael Hettsheimeir, Jefferson William e Robert Day, que se juntam a um núcleo já bastante forte.  As contratações do veterano Alex, que aos 34 ainda tem um vigor físico assustador, e de Hettsheimeir são as que chamam mais a atenção, e não necessariamente pela grife de seleção brasileira. Tirar o ala-armador de Brasília foi uma surpresa, um negócio que causa impacto em duas equipes de ponta de uma vez. Já o pivô passou os últimos nove anos na Espanha, estava em clubes de ponta do campeonato nacional mais forte da Europa e que poucos imaginavam que poderia voltar aos 28. Pois ele queria faz tempo, como revelou ao VinteUm.

O Bauru tem todas as peças que precisa para montar um ataque poderosíssimo. São três pivôs versáteis com Murilo, Hettsheimeir e Jefferson. Larry Taylor e Ricardo Fischer dividem a armação. Guilherme Deodato, o americano Day e Alex rodam nas alas. Esperem trovejadas de três pontos aqui. Constam também os caçulas Wesley Sena (se conseguir bater Thiago Mathias, já será ótimo sinal), Carioca (um tanque em direção ao aro), Vezaro e Gabriel para completar a rotação. As interrogações ficam por conta do joelho de Murilo, que vem dando trabalho, e da consistência defensiva de um time que é baixo no perímetro e vai depender de muita pressão em cima da bola para se proteger – algo que Alex, Larry, Fischer e Gui podem muito bem fazer.

É um plantel mais volumoso e com mais apelo que o do velho candidato Brasília, que tem José Vidal novamente na beirada da quadra. Giovannoni é um sério candidato ao prêmio de MVP do ano, agora com ainda mais responsabilidades ofensivas, enquanto Arthur vai correr ao redor das defesas, se desmarcar e converter seus chutes. Fúlvio é o tipo de armador que vai satisfazê-los em sua sede de pontos. Para a equipe candanga voltar ao top 4, porém, dois pontos são importantes: que o americano Darington Hobson se encaixe e se adapte – já ouvi por aí que ele tem um senso de grandeza um pouco desproporcional ao que produz… – e que Ronald e Isaac esteja prontos para carregar uma carga maior. A defesa vai depender muito dos três.

Mais que o CV
Esses são evidentemente os times mais estrelados da competição. Considerando a divisão de títulos bipolar dos seis primeiros campeonatos, sabemos que isso tende a fazer diferença por estas bandas. Por outro lado, a lista de vice-campeões nos permite pensar, sim, em mais candidatos, ou surpresas. Não é que Flamengo e Brasília tenham chegado a todas as decisões. Nos últimos quatro anos, a equipe derrotada foi diferente.

O Paulistano entra como vice-campeão, sem Mineiro (d), com Hardin

O Paulistano entra como vice-campeão, sem Mineiro (d), com Hardin

O Paulistano, segundo colocado do ano passado, fez por merecer o respeito de todos e também mantém seu núcleo, com um elenco bastante homogêneo em que os americanos Kenny Dawkins e Desmond Holloway carregam a pontuação e uma série de companheiros os ajudam com defesa, movimentação de bola e espaçamento. Para este ano, chegaram o experiente Fernando Penna (um jogador de que gosto, mas que não sei bem o quanto era necessário num elenco que já tinha o jovem Arthur Pecos para ajudar Dawkins e Manteiguinha) e o americano DeVon Hardin, um gigante extremamente atlético que chega para substituir um Rafael Mineiro, que foi para o São José. O pivô havia feito ótimo campeonato na temporada passada patrulhando o garrafão, ocupando espaços na defesa. Para isso, Hardin, que já foi selecionado no Draft da NBA de 2008, vai ter de mostrar que é muito mais que um campeão de enterradas. E, sim, Fabrício Melo poderia estar aqui, mas acabou dispensado por questões extraquadra. Gustavo de Conti vai tentar fazer dessa turma uma nova encrenca para os adversários.

E, se for para falar em surpresa, não há como ignorar o que o Mogi das Cruzes também balançou o NBB6. Honestamente, talvez nem mesmo o técnico Paco Garcia esperasse que sua equipe poderia alcançar a semifinal e endurecer contra o Flamengo numa série melhor-de-cinco. O problema do sucesso é o desmonte. Quatro de seus atletas migraram para o próximo clube dessa lista. Em contrapartida, chegaram caras de ponta como Shamell e Paulão, além do ala Tyrone Curnell, referência do Palmeiras no campeonato passado, do armador Elinho e do jovem pivô Gerson Espírito Santo, formado em Colorado State. O Mogi pode manter a pegada de  um garrafão pesado, massacrante que o levou  longe, mas também conta hoje com mais alternativas para acelerar o jogo. Tantas trocas, porém, pedem tempo para o acerto. O que não deve mudar é o apoio de sua torcida. Lá o mando de quadra faz realmente diferença.

Tyrone Curnell crava: do Palmeiras para o reformulado Mogi

Tyrone Curnell crava: do Palmeiras para o reformulado Mogi

Também semifinalista, mesmo numa temporada conturbada em que contou com três técnicos, o São José é outro que tem algumas caras novas para entrosar. E pior: algumas delas chegando de última hora, perdendo a fase de preparação, a ponto de faltar contingente para o técnico Zanon – recém-egresso do Mundial feminino, diga-se – realizar coletivos. Além disso, Caio Torres vem sofrendo com uma tendinite no joelhor direito. A contratação de Mineiro ganha relevância por isso. Valtinho é quem assume a direção agora – Manny Quezada, o homem dos 50 pontos, foi embora. Nas alas, Betinho vai ter a companhia de dois americanos: Andre Laws, que está de volta (e nem dá para entender por que havia sido liberado), e Jimmy Baxter, mais um que vem da Argentina.

Agora vai?
O continente paulista, aliás, talvez chegue com sua maior força ao campeonato nacional, desde que ele passou a ser organizado pela LNB. O estado, maior polo produtor do país, ainda não conquistou o título do NBB, tendo de se contentar com três vice-campeonatos, quatro terceiros lugares e três quatro lugares. Tem mais gente querendo entrar nessa briga.

O Pinheiros estoca as revelações mais tentadoras do basquete brasileiro, com o novato Georginho chegando para a festa, mas tem na contratação do técnico Marcel de Souza seu ponto mais intrigante, que promete algo de diferente no plano tático, encerrando seu exílio. A receita na montagem do elenco é semelhante à de seu rival da capital: nomes não muito badalados, mas com bons jogadores em quantidade (são quatro armadores que pedem tempo de quadra, por exemplo: os irmãos Smith, Paulinho e Jéfferson Campos, sem contar Humberto). Subestimem o quanto quiserem um trator como Marcus Vinícius Toledo, que isso não costuma sair bem. Os resultados recentes do time, campeão da Liga das Américas 2013, também o credenciam.

De volta ao interior, armadores também não faltam a Limeira, agora com Nezinho ao lado de Ronald Ramon e Deryk. A presença de um cestinha como David Jackson e de Rafael Mineiro, Teichmann e Fiorotto também encoraja muito. E quanto a Franca? O time da capital basqueteira dosa, entre seus protagonistas, a cancha de Helinho, que está de volta para trabalhar, veja só, com Lula Ferreira, e dos argentinos Juan Figueroa e estreante Marcos Mata (candidato a MVP?) dois alguns prospectos para a seleção brasileira como Leo Meindl e Lucas Mariano – mas talvez que talvez só sejam aproveitados com maior frequência no outro ciclo olímpico, a julgar pelo progresso deles e o conservadorismo de Rubén Magnano. A rotação, porém, é enxuta.

David Jackson, candidato a cestinha do NBB por Limeira

David Jackson, candidato a cestinha do NBB por Limeira

São todos ótimos times, com muito potencial para ser explorado por seus treinadores. Depois do que Paulistano, São José e Mogi fizeram no NBB6, cada um ao seu modo, com trilhas diferentes, está claro que o equilíbrio da competição permite diversos desdobramentos. O maior orçamento, os nomes mais consagrados…  Essas coisas talvez não importem mais. Vai pesar o melhor trabalho de quadra, mesmo.

No Rio, pensando nisso, o Flamengo tem algo que costuma fazer a diferença no basquete: química e continuidade, como o Spurs demonstra na NBA. No caso do gigante carioca, a diferença é que, em seu elenco, estão muitos dos melhores jogadores da liga também. Uma combinação dura de derrubar.