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Categoria : Listas

Quais são os favoritos ao título da Euroliga?
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Giancarlo Giampietro

O atual campeão Maccabi Tel Aviv, creiam, não tem vez aqui. O time não só perdeu muitos dos seus principais atletas, como perdeu aquele que era o melhor técnico do continente: David Blatt. Seu ex-assistente Guy Goodes é um cara bacana, segundo registro de muita gente, mas a missão de substituir uma lenda viva israelense como Blatt é pesada demais. Então tem espaço para quem na competição que começa nesta quarta-feira, com transmissão exclusiva no Brasil pelo canal Sports+, da SKY? Veja a lista, em ordem alfabética, para não dar problema:

Tomic e Pleiss, agora lado a lado: duas torres para Huertas assistir

Tomic e Pleiss, agora lado a lado: duas torres para Huertas assistir

Barcelona: o (excessivamente) metódico Xavier Pascual perdeu Erazem Lorbek, Kostas Papanikolau e Joe Dorsey. E tudo bem: o Barça deu um jeito de ficar ainda mais forte, sendo provavelmente hoje o time mais caro da Europa. Muitos armadores europeus estão morrendo de inveja de Marcelinho Huertas. O brasileiro, que já tinha desenvolvido ótima química com o talentosíssimo Ante Tomic, agora também vai ter o alemão Tibor Pleiss como opção a ser abastecida no jogo interno. Esperem uma dose pesada de pick-and-rolls com a coordenação do paulistano, que agora tem a companhia dois dos pivôs mais altos, ágeis e técnicos da Europa ao seu dispor. Se não fosse o bastante, contrataram também o ala-pivô americano Justin Doellman. Quem? Somente o MVP da última Liga ACB, pelo Valência. Doellman é destes americanos que passou batido pelo radar da NBA, mas se transformou em um grande jogador trabalhando sério na Europa. A rotação de grandalhões de Pascual ficou realmente apelativa.

Por outro lado, a saída de Kostas Papanikolau pode significar um rombo defensivo para uma equipe que já sofre um pouco para esconder Juan Carlos “La Bomba” Navarro. DeShaun Thomas – escolha de Draft do Spurs em 2013 – foi o escolhido para o seu lugar, mas sempre foi muito mais reconhecido como um cestinha, dos tempos de Ohio State. Foi uma decisão peculiar, talvez num momento de baixa do mercado. No ano passado, o Barça levou uma surra do Real na semifinal da Euroliga. Recuperou-se, todavia, para conquistar a liga espanhola. Com as contratações que fez, o bicampeonato é o mínimo que se vai cobrar de seu treinador.

CSKA Moscou: Ettore Messina chegou a declarar na campanha passada que não prestava mais para ser técnico do gigante moscovita, que seus jogadores já não atendiam mais aos seus pedidos e tal. Estresse geral. Mesmo após a dolorosa derrota para o Maccabi no Final Four da Euroliga, o time ao menos conseguiu um milagre na Liga VTB ao virar um confronto de quartas de final com o Lokomotiv Kuban (saindo de 0-2 para 3-2) e conquistar o título regional. O troféu, porém, não iria mascarar as frustrações de Messina, que se mandou para a NBA, para ser auxiliar de Gregg Popovich em San Antonio, numa aliança bastante promissora.

Itoudis, agora técnico principal, com senhora responsabilidade

Itoudis, agora técnico principal, com senhora responsabilidade

A vaga do italiano foi ocupada, então, pelo grego Dimitris Itoudis, assistente do Panathinaikos por uma década, aprendendo bastante com Zeljko Obradovic, até assumir o Banvit, da Turquia em 2013. Acabou liderando o clube a uma campanha surpreendente na riquíssima liga turca e, de cara, foi promovido a comandante de uma potência como o CSKA. Ao seu dispor, vai ter o craque Milos Teodosic (dependendo de seu nível de motivação, sempre),  a liderança e a versatilidade de Victor Khryapa, a explosão de Sonny Weems e a fortaleza chamada Sasha Kaun. Como reforço,  ganhou a criatividade de Nando De Colo, de volta ao continente depois de passagem apagada pelos EUA, e os chutes de longa distância do geórgio Manuchar Markoishvili e do americano Demetris Nichols, ex-Bulls e Knicks. É um baita elenco, cheio de expectativas. A equipe russa não ganha o troféu desde 2008, mesmo tendo ficado fora de apenas um Final Four desde então.

Fenerbahçe: agora vai? Há pelo menos duas temporadas que o clube de Istambul sonha em dar o grande salto e se tornar o primeiro de seu país a conquistar o título europeu. Para isso, atropelou qualquer noção de austeridade ou responsabilidade fiscal para montar elencos caríssimos e tirar o genial e tempestuoso Obradovic da aposentadoria. O problema é que seus dirigentes caíram naquela armadilha de buscar sempre os nomes de impacto, sem pensar ao certo em como seria a química dessas estrelas em quadra, com muitos cestinhas brigando por uma só bola. Para ajudar, o próprio treinador se mostrou (ainda) mais esbravejador no banco, com atitudes ensandecidas – como expulsar seus próprios jogadores no meio de uma partida:

Para esta temporada, a política de investimento bruto foi mantida. Numa primeira impressão, com atletas cujas características que parecem se encaixar melhor num ideal de time. Destaque para a nova dupla de armadores americanos Ricky Hickman (figura elementar no Maccabi campeão) e Andrew Goudelock (um arremessador de mão cheia, conhecido dos fãs do Lakers e do Spurs, hoje um dos cestinhas mais temidos da Europa), além do tcheco Jan Vesely, que tenta redescobrir seus talentos depois de protagonizar mais piadas do que grandes jogadas em Washington. A missão do ala-pivô tcheco, a princípio, é de ajudar na cobertua e na coesão defensiva, com sua capacidade atlética formidável, ao lado de Emir Preldzic. Menção obrigatória também para o ala-armador Bogdan Bogdanovic, o prodígio sérvio, que assume a vaga de seu xará Bojan Bogdanovic. No papel, não há como excluí-lo dessa lista, embora já tenhamos visto este filme antes. Cabe a Obradovic esfriar e usar a cabeça para ordenar esta rapaziada. Campeão turco num final para lá de controverso e vexatório – no qual o Galatasaray simplesmente se recusou a entrar em quadra no sétimo e derradeiro jogo, alegando roubalheira generalizada –, o Fener só quer saber, mesmo, da Europa.

Real Madrid: você, fã do Barcelona, por favor, não se deixe tomar pela raiva. Mas o que aconteceu com o Real Madrid na temporada passada foi uma história bastante triste: era um timaço, pronto para realmente fazer história, acumulando vitórias e recordes, e que acabou naufragando nas últimas semanas. A equipe de Pablo Laso primeiro perdeu de modo surpreendente a final continental para o Maccabi e, depois, se despedaçou diante de seu arquirrival na decisão da Liga ACB. Você faz como depois de uma decepção dessas? Troca tudo, não?

Ayón, grande presente para Laso para o pressionado Real Madrid

Ayón, grande presente para Laso para o pressionado Real Madrid

Pois a diretoria merengue, por algum milagre, decidiu segurar as pontas e manteve o treinador – que em muito simboliza a obsessão do clube para reconquistar a Europa, uma vez que era atleta madridista no tão distante título de 1995. Além disso, manteve praticamente toda a sua base, tendo de lidar apenas com a importantíssima baixa de Nikola Mirotic, que enfim foi jogar em Chicago. É praticamente impossível encontrar um atleta com as características do ala-pivô. Então o que eles fizeram foi seguir na direção oposta, fechando com Andrés Nocioni. Sai a finesse, entra a brutalidade (nas palavras do próprio Chapu). Além do mais, o Real conseguiu dar uma última cartada após a Copa do Mundo ao contratar Gustavo Ayón, cujos direitos na Espanha pertenciam ao próprio Barça. O mexicano tem tudo para ser dominante em seu retorno ao basquete europeu e deixa a rotação de pivôs também bastante congestionada. Em vez de ser demitido, Laso ganhou um presente desses. Seu time dificilmente vai alcançar o padrão de excelência da campanha passada, já que química não é algo que se replique facilmente. Se os resultados forem diferentes no final, talvez nem importe.

Correm por fora: Olympiakos e Anadolu Efes.
É difícil descartar os campeões de 2012 e 2013, que mantiveram a base do ano passado e adicionaram mais dois americanos muito atléticos a este conjunto – o ala Tremmell Darden, ex-Real, e o pivô Othello Hunter, ex-Siena. A sorte do clube grego, porém, gira em torno do estado físico de Vassilis Spanoulis. O genial armador grego sofreu com tendinite na reta final da última campanha, mas se preservou nas férias. Se estiver inteiro, seu time obviamente sobe de patamar, independentemente da saída do técnico Georgios Bartzokas.

Já o Efes segue um pouco da receita de seu conterrâneo Fenerbahçe, pagando uma nota para reformular seu elenco e tirar do ostracismo outro célebre treinador balcânico, Dusan Ivkovic. Em longo depoimento ao site oficial da competição, porém, Ivkovic faz questão de dferenciar as coisas. Seu plano é também desenvolver os mais jovens, que vão ganhar papel importante ao lado de veteranos como Nenad Krstic, Stratos Perperoglou, Stephane Lasme e Dontaye Draper, todos veteranços de Euroliga e vindo de times vencedores. Aliás, essa é uma área na qual o treinador realmente se destaca, despertando muito interesse sobre seu envolvimento com o ala-pivô croata Dario Saric e do ala-armador turco Cedi Osman, duas das maiores promessas do continente.

O problema é que, com Saric, as coisas não começaram bem. O jogador selecionado pelo Philadelphia 76ers no último Draft não vem sendo nem relacionado nas primeiras partidas do clube, levando seu pai, Predrag, ao desespero. “Acho que já é hora para ficar alarmado. O Dario está deprimido, nada está claro”, afirmou. “Se o Efes continuar mantendo-o fora, vamos procurar alguém que possa pagar a rescisão de contrato. O Dario tem de jogar, não pode ficar assistindo aos jogos da arquibancada. Ele está saudável. O Ivkovic está me deixando maluco.”

Vale lembrar que o papai Saric era um defensor ferrenho da ideia de que o filhote ficasse no basquete europeu para conseguir maior rodagem e se desenvolver, antes de assinar seu primeiro contrato de NBA.

Vai começar
A Euroliga vai ser transmitida com exclusividade no Brasil pelo Sports+ (canais 28 e 228 da SKY). Vou participar da cobertura pela terceira temporada seguida, na companhia de Ricardo Bulgarelli, Maurício Bonato, Marcelo do Ó e Rafael Spinelli. Sempre um prazer. Nesta quarta, entramos ao vivo com o duelo entre Laboral Kutxa e Neptunas Klaipeda, a partir de 15h15 (horário de Brasília). Na quinta e na sexta, rodada dupla! Cedevita Zagreb x Unicaja Málaga + Estrela Vermelha x Galatasaray e Real Madrid x Zalgiris Kaunas + Barcelona x Bayern de Munique, respectivamente.


Bogdanovic: como construir uma jovem estrela sérvia
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Giancarlo Giampietro

Bogdan-Bogdan, 22 anos, chamando o jogo contra o Brasil

Bogdan-Bogdan, 22 anos, chamando o jogo contra o Brasil

Este espaço vem batendo na tecla nos últimos dias contrapondo o impacto que a produção das categorias de base de Brasil e Sérvia tem na formação de suas respectivas seleções. O paralelo poderia ser feito com qualquer outro dos países que disputam as semifinais da Copa do Mundo, mas calhou de serem os balcânicos a surgirem no meio do caminho de um time nacional que realmente tinha esperança de brigar por medalha.

Dentre os muitos talentos sérvios lançados ano após ano, num ritmo muito mais acelerado que o Brasileiro, embora tenham população 20 vezes menor, o caso de Bogdan Bogdanovic me parece o mais interessante para ser investigado, envolvendo diversas facetas do basquete de lá que talvez ajudem alguma alma iluminada com poder de decisão no basquete brasileiro.

Com 22 anos, o ala-armador, uma das revelações a serem vigiadas no Mundial, aparece como o terceiro cestinha sérvio no torneio, atrás apenas de Miroslav Raduljica, um pivô que também nos conta uma lição, e Milos Teodosic, que andava deveras comportado até arrebentar com a defesa brasileira nesta quarta-feira. Em termos de eficiência, ele aparece em quarto na lista, superado também por Nemanja Bjelica. Todos eles mais velhos, diga-se. Agora, se formos ver o saldo de cestas de seu time nos minutos em que esteve em quadra, ele tem a melhor marca, com +7,9, batendo Teodosic, por exemplo, por 2,3 pontos. Número por número, acho que dá para eleger o rapaz já como um dos protagonistas da equipe.

Bogdan-Bogdan tem 22 anos. Está entre os protagonistas sérvios

Bogdan-Bogdan aqui errou a bandeja, acuado pela cobertura de Nenê: mas o garoto foi bem no geral, com 12 pontos, sendo assistido pelo gerente geral do Phoenix Suns na plateia

Algo que um ou dois anos antes não estava nada previsto. Bogdan-Bogdan é o protagonista de uma das ascensões mais significativas do basquete europeu em tempos recentes. Nesta escalada, boa parte do roteiro era planejada. Mas também não dá para negar que a interferência de umas pitadinhas de sorte.

Em maio de 2010, ele mostrou as caras para um bom contingente de olheiros nternacionais no tradicional Nike International Junior Tournament, em Paris. O sérvio foi inscrito como atleta do FMP, clube que revelou dos anos 90 para cá gente como Teodosic, Zoran Erceg, entre outros, mas, pelo que consta, estava apenas emprestado. A ideia era usar o torneio juvenil como vitrine para seus habilidades, neste tipo de combinação que agentes e equipes de menor orçamento podem realizar. Deu certo.

Segue um relato do DraftExpress, serviço de scouting dos mais prestigiados que você vai encontrar: “Bogdanovic tem um jogo bastante versátil ofensivamente. Ele pode criar seu próprio arremesso, cortando pela direita ou pela esquerda e também faz seus arremessos do perímetro, mesmo que seu lançamento precise ficar mais rápido e consistente. Ele também pode pontuar de costas para a cesta e dá sinais de que um jogo de meia distância está surgindo, especialmente com a cesta da vitória que fez contra o Málaga, garantindo uma vaga nas finais. Ele não estava completamente integrado ao time e, em algumas ocasiões, ele levou essa coisa de vitrine bem literalmente. Estava um pouco faminto cuidando de seu próprio arremesso, forçando algumas bolas bem ruins e arriscando infiltrações difíceis”.

Antes ser alistado pelo FMP, o garoto jogou pelo Zvezdara e pelo Žitko Basket. Ao final de sua participação naquela competição juvenil, conseguiu o que queria: um contrato profissional, e com o Partizan Belgrado, aos 18 anos. Em duas temporadas, foi aproveitado em apenas 23 jogos da liga local. Em 2012-13, porém, já estava mais preparado para entrar de vez na rotação dessa potência sérvia. Estreou na Euroliga e na Liga Adriática, com médias de 5 pontos no torneio continental, mas sentindo o peso da concorrência elevada (acertou, por exemplo, apenas 10 de 33 arremessos que tentou em seis jogos). No campeonato nacional, os números subiram para 9,8 pontos e aproveitamento superior a 42% nos chutes, com 39% de três. Alguns degraus foram escalados, mas ninguém imaginava o que viria a seguir.

Bogdan-Bogdan, líder da horda

Bogdan-Bogdan, líder da horda

Aqui é importante explicar qual a realidade do Partizan hoje. Na Sérvia, os caras ganharam simplesmente os últimos 13 títulos. Sim, 13. No âmbito regional, ainda conquistaram seis das últimas oito Ligas Adriáticas, campeonato que reúne agremiações da antiga Iugoslávia. Nos Bálcãs, eles encaram concorrência chata – só foram campeões nacionais neste ano, por exemplo –, mas está claro que hoje são eles quem mandam por lá. Se for para olhar para o resto do continente, porém, a relativização deixa o clube pequeno. Seu orçamento é bem reduzido comparando com espanhóis, gregos e, especialmente, russos e turcos. Então o que eles fazem? Trabalham basicamente com atletas jovens, um ou outro americano disponível no mercado e veteranos sérvios, mas não os de elite: tanto que, na atual seleção nacional, não estão representados por nenhum atleta.

Para terem sucesso, dependem que esses garotos sejam realmente promissores e precocemente produtivos. O interessante é que, devido ao espaço e a visibilidade que acaba proporcionando, o time tem recebido também jogadores de outros países – na última Euroliga, contaram com três revelações francesas: o pivô Joffrey Lauvergne, outro semifinalista do Mundial e que já foi embora para a Rússia, e os armadores Leo Westermann e Boris Dallo. Todos saem ganhando: o Partizan ganha personagens talentosos para explorar, e os jovens recebem tempo de quadra para se desenvolverem e ganharem exposição.

Nesse contexto, Bogdanovic, em seu quarto ano de casa, foi alçado ao patamar de jogador-chave, sob a orientação do técnico Dusko Vujosevic. Esperavam dele uma produção consistente para conseguir, quiçá, uma campanha respeitável na Euroliga e manter a hegemonia balcânica. O ala-armador, do ponto de vista individual, superou todas as expectativas. Um fator que contribuiu para isso: uma grave lesão de joelho sofrida por Leo Westermann, que aumentou sensivelmente as responsabilidades de seu companheiro. Ele teve de ficar com a bola muito mais tempo em mãos – muito mais do que estava acostumado – e viu seu progresso ser bastante acelerado. Cometeu um caminhão de turnovers (3,4 por jogo), é verdade, mas teve liberdade para errar até se tornar também uma atacante mais confiante e com mais recursos ao final da jornada.

Ao analisá-lo quatro verões depois daquele torneio juvenil em Paris, Jonathan Givony viu um jogador formado. “O Bogdanovic se aproveitou da lesão para assumir  um papel muito mais proeminente no ataque como um condutor de bola primário e também como facilitador. Sua versatilidade é impressionante, liderando a equipe em pontos, assistências, tocos e taxa de uso, enquanto vai acertando 40% da linha de três”, afirma. “Não há dúvida de que, nesse meio tempo, ele emergiu como o prospecto mais intrigante da geração nascida em 1992 na Europa.”

Bogdanovic teve médias na Euroliga de 14,8 pontos, 3,7 assistências e 3,7 rebotes, além de 1,6 roubo de bola, em 31 minutos. Carregava uma carga pesada e conseguiu triplicar seus números em um ano, ajudando o Partizan a se classificar para a segunda fase do campeonato, o Top 16. Em sua melhor atuação, marcou 27 pontos em casa contra o CSKA, liderando uma rara vitória sobre um dos favoritos ao título, matando 10 de 16 arremessos. Fez também 24 pontos e 5 assistências contra o Bayern de Munique e o Zalgiris Kaunas e 25 pontos e 5 rebotes contra o Barcelona. No final, foi eleito a “estrela ascendente” do campeonato, entrando numa lista em que constam Ricky Rubio, Nikola Mirotic, Erazem Lorbek, Andrea Bargnani, Danilo Gallinari e Rudy Fernández.

Seu basquete, então, em uma temporada saiu de coadjuvante para algo muito acima do que o clube de Belgrado poderia pagar. Antes de ser selecionado pelo Phoenix Suns no Draft da NBA em 27º, foi transferido para o Fenerbahçe, no qual vai substituir seu xará Bojan Bogdanovic e será treinado pelo legendário Zeljko Obradovic (só precisa ver se Obrado estará com saco para aguentar mais um ano num elenco cheio de estrelas, mas que fracassou de modo retumbante no ano passado, causando ataques histéricos no técnico). Antes de sair do Partizan, deixou sua marca nas finais do campeonato sérvio: com 30,8 pontos, 4,8 rebotes e 4,2 assistências, liderou mais uma vitória contra o arquirrival Estrela Vermelha para conquistar seu quarto título nacional, também o 12º seguido do clube. Passou a ser idolatrado pelos torcedores, a ponto de sua conta no Twitter ser: Líder da Horda. Então tá, né?

Pela seleção foi convocado pela primeira vez já para o EuroBasket do ano passado, com 21 anos. Teve médias de 9,4 pontos e 4,3 rebotes em 26 minutos, com 43,4% nos arremessos. Foi elogiado por Sasha Djordjevic, como uma das maiores promessas do basquete europeu. Na Copa do Mundo, depois de tudo, joga por 27,3 minutos, abaixo apenas de Bjelica, e soma 11,4 pontos, 2,7 rebotes e 2,6 assistências, com 49,2%, mantendo média próxima a 40% nos tiros de três em ambas as campanhas. Contra o Brasil, foram 12 pontos, 6 rebotes, 2 assistências, 2 tocos e 5/9 nos arremessos, em 26 minutos.

O gerente geral do Suns, Ryan McDonough, estava no ginásio em Madri e adorou o que viu. “Ele foi muito eficiente e conseguiu os arremessos que gosta de fazer, nos seus lugares preferidos. As cestas vieram com os pés plantados, a partir do drible e em infiltrações. Estou impressionado com sua capacidade para criar jogadas. Ele pode fazer um monte de jogadas que a maioria não consegue”, analisou em entrevista ao jornal AZ Central. “E o Bogdan tem essa atitude, e digo isso para o bem. Ele é competitivo, muito valente, confiante. Não vai recuar diante de ninguém.”

Importante dizer que, se no Partizan era o dono da bola, pela Sérvia ele só vai recuar em relação aos seus companheiros mais tarimbados. Na equipe semifinalista, a prioridade ainda fica para Teodosic e o jogo interno com Raduljica e Nenad Krstic. Aos 22 anos, há tempo pra tudo. Bogdanovic tem a idade de revelações brasileiras como Raulzinho, Lucas Bebê e Cristiano Felício. Porém, sem discutir a questão de quem seria mais talentoso que o outro, é fácil constatar que está num estágio de desenvolvimento muito mais avançado, já voando alto na carreira. É preciso apenas entender em que condições ele cresceu, qual foi o cenário para que ele pudesse chegar lá antes da maioria.


A nova geração no Mundial: fique de olho
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Giancarlo Giampietro

Garotada do MundialA vontade era chamá-los de caçulinhas. É um termo que agrada muito  ao blog. Mas a verdade é que a faixa etária dos dez jogadores listados abaixo varia de 17 para 24 anos. Estão em diferentes estágios de desenvolvimento, então vamos de “nova geração”, mesmo, algo mais abrangente. Independentemente da idade, o papel de cada um deles sem suas seleções também varia bastante. Alguns são protagonistas. Outros só devem receber uma boa quantidade de minutos quando o jogo estiver definido – contra ou a favor. Vamos lá, então:

Anthony Davis (EUA): 21 anos e cinco meses
É até injusto, né? O Monocelha joga tanto, que não deveria estar nem aqui, abrindo a relação. Fatos são fatos, porém. Ele completou apenas sua segunda temporada na NBA. E foi uma campanha daquelas: 20,8 pontos, 10 rebotes e 2,8 tocos, 51,9% nos arremessos e um jogo em expansão contínua, como vemos neste gráfico de arremessos:

Lembrando: amarelo é a média da liga. Verde, acima.

Lembrando: amarelo é a média da liga. Verde, acima.

Davis tem matado os chutes de média distância com mais frequência. Esses percentuais só tendem a subir, ainda mais quando tiver ao seu lado um time consistente (Jrue Holiday, Ryan Anderson e Eric Gordon penaram todos com lesões). Basicamente, na NBA a sensação é a de que o ala-pivô está destinado a ser o próximo soberano da liga, chegando logo mais para a disputa com LeBron e Durant. Por ora, com tantos desfalques na seleção americana, o garoto tem a chance de dar um grande salto agora já, assim como o cestinha de OKC fez em 2010. Suas responsabilidades aumentaram, e todos creem que ele está pronto para assumi-las – não há pivô lá fora que consiga competir com ele atleticamente. Quando você o vê em ação, entende rapidamente o apelo: muito ágil, inteligente e explosivo para alguém de seu tamanho e envergadura. Faz estragos no pick and roll e também se sente bem confortável com a bola em mãos, driblando em direção ao aro. Deve ser daqueles atletas de tirar o sono quando observado ao vivo. Que o público na Espanha desfrute.

Dario Saric (Croácia): 20 anos e quatro meses
O prodígio croata está há tanto tempo nas relações de prospectos europeus, que soa também já como um veterano. Em 2011, ele venceu o Nike International Junior Tournament ao lado de Mario Hezonja e foi eleito o MVP da competição. Aí pronto: virou parada obrigatória para qualquer scout. Estamos falando de um rapaz de 2,08 m de altura que enxerga a quadra como um armador. Um jogador verdadeiramente único, difícil de se comparar. Claro que, vindo da Croácia, todo mundo já foi citando logo “Toni Kukoc”, mas não sei se é por aí, não. Ao mesmo tempo em que chamou a atenção em quadra, nos bastidores Saric se viu envolto por uma série de situações desagradáveis – e um tanto nebulosas. Assinou com o Bilbao, seu time não o liberou, ficou na geladeira, acabou se transferindo para o KK Cibona, também de Zagreb, brigou com o pai, trocou de agentes… Uma epopeia. De qualquer forma, seu talento é tamanho que, independentemente da confusão ao seu redor, na quadra ele acalmava quaisquer dúvidas. Seu progresso está todo documentado pelo obrigatório DraftExpress.

No final da temporada, o croata liderou seu modesto clube a um inédito título na Liga Adriática, com um desempenho espetacular na fase decisiva (veja abaixo na produção formidável de Mike Schmitz, do DX). Foi o MVP do torneio.  Depois, acertou sua transferência para o Anadolu Efes, clube turco que promete bastante na próxima Euroliga, e enfim se decidiu a respeito do Draft da NBA, sendo selecionado pelo Philadelphia 76ers em 12º. Mesmo que não vá fazer a transição para a liga americana agora, atendendo aos anseios do pai, que pede mais tempo na Europa, para ganhar cancha e se desenvolver, ainda mais sob a orientação do legendário Dusan Ivkovic. Chega ao Mundial já como protagonista numa equipe que conta com astros europeus como Bojan Bogdanovic e Ante Tomic. O mesmo ainda não pode ser dito sobre o ala Mario Hezonja, um cestinha muito habilidoso, mas de pouca rodagem na elite.

Bogdan Bogdanovic (Sérvia): 22 anos e dez dias
O ala-armador, que desbancou esse tal de Giancarlo Giampietro como capitão do time da aliteração nominal, é outro que acabou de se transferir para os milionários clubes da Turquia depois de se destacar nos bálcãs e antes de ser escolhido no Draft da NBA (Phoenix Suns, em 27º). Eleito o melhor jogador jovem da última Euroliga pelo Partizan Belgrado, ele vai jogar pelo apelão Fenerbahçe após o Mundial, substituindo seu xará Bojan Bogdanovic (o croata, acima citado, que migrou para o Brooklyn Nets). Antes de sair do Partizan, deixou sua marca nas finais do campeonato sérvio: com 30,8 pontos, 4,8 rebotes e 4,2 assistências, liderou mais uma vitória contra o arquirrival Estrela Vermelha para conquistar seu quarto título nacional, também o 12º seguido do clube. Deve estar pouco idolatrado por lá…

De coadjuvante na base a estrela em ascensão no profissional, Bogdan-Bogdan é um jogador que evoluiu muito nos últimos dois anos, tendo a liberdade para errar e aprender com a camisa do Partizan, clube que compete na Euroliga, mas sem grana para grandes contratações, dependendo muito do desenvolvimento de atletas mais jovens. No ataque, hoje ele faz um pouco de tudo: ameaça nos tiros de três pontos, parte de modo explosivo para as infiltrações e consegue criar para os companheiros, cometendo alguns turnovers no meio do caminho, é verdade. No clube, era o dono da bola. Agora, na seleção, como um dos mais jovens, precisamos ver como será a integração com um casca-grossa como Milos Teodosic e o quanto ele vai deferir para os pivôs mais experimentados.

– Giannis Antetokounmpo (Grécia): 19 anos e oito meses
O “Greek Freak” preferido de Milwaukee e já de toda a NBA, na real. A história do ala é tão rica, tão fascinante, que não merece ser descrita em quatro ou cinco linhas – ainda mais pelos paralelos com Bruno Caboclo, no que se refere a sua chegada aos Estados Unidos. Vamos explorar do modo devido após o Mundial, antes de a temporada 2014-14 começar. O que dá para dizer é que, há um ano e meio, Giannis estava jogando na segunda divisão grega e estreando pela equipe nacional sub-20. Hoje, é impossível deixá-lo de fora do time adulto, mesmo que ele esteja longe de ser um produto acabado. Não esperem que ele domine a competição – em sua seleção, a prioridade, por enquanto, é de veteranos como Calathes, Printezis, Bourousis e Papanikolau. Não deve chegar nem a 10 pontos ou 25 minutos por jogo. Mas fique atento aos seus flashes de exuberância atlética durante as apresentações helênicas e sua fluidez com a bola, que impressiona Jason Kidd. Na NBA, vocês sabem, né? Depois do que fez em sua primeira temporada, considerando quão inexperiente é, há gente de respeito que crava: vai ser uma superestrela.

Dante Exum (Austrália): 19 anos e um mês
Com todos esses jogadores, é preciso calma. Especialmente com Exum. Estamos falando de outro menino bastante badalado desde muito cedo. O pessoal baba ao falar deste menino e sua velocidade e desenvoltura com a bola. Ele foi o quinto selecionado no último Draft da NBA. Se é tão bom assim, então por que cargas d’água ele fica no banco da seleção australiana, ainda mais sem Patty Mills? Porque os Boomers não têm pressa nenhuma com seu jovem armador, por mais que velocidade seja o forte do atleta. Ainda vai chegar o momento dele. Por enquanto, em seu primeiro campeonato adulto oficial, sua missão é entrar no decorrer da partida e tentar dar mais agressividade ao ataque de um time que terá uma formação inicial bastante pesada, centrada nos pivôs Aaron Baynes e David Andersen, com Matthew Dellavedova, sólido calouro do Cavs, organizando as coisas. Não dá para esperar que ele faça isso aqui (Mundial Sub-19 de 2013):

–  Joffrey Lauvergne (França): 22 anos e 11 meses
   Rudy Gobert (França): 22 anos e dois meses
Gobert nem seria convocado não fossem os diversos desfalques da seleção francesa no garrafão, como Joakim Noah e Alexis Ajinça. Lauvergne seria reserva, se tanto. Ian Manhinmi e Florient Pietrus devem ganhar seus minutos ao lado de Boris Diaw, mas é de se esperar que, com o decorrer da competição, os mais jovens ganhem espaço, por um estilo de jogo que se encaixa melhor com seus companheiros – e também porque já são melhores que os veteranos. Cá estão os dois pivôs com a obrigação de proteger a cesta dos Bleus, que entram no Mundial como os atuais campeões europeus. Quer saber? Os adversários que não os menosprezem.

Draftado e tido em alta conta pelo Denver Nuggets, Lauvergne foi companheiro de Bogdan-Bogdan no Partizan e liderou a Euroliga em rebotes (8,6 por jogo), além de ter marcado 11,1 pontos por jogo em sua segunda campanha pelo torneio continental. Sua presença em quadra é realmente entusiasmante, aprontando um alvoroço diante das tábuas ofensiva e defensiva. Tem um ótimo senso de colocação além de energia e mobilidade – bons complementos para Diaw. Neste ano, vai jogar pelo Kimkhi Moscou, fora da Euroliga. Já Gobert jogou bem menos na temporada passada, esquentando o banco em Utah, mas, a julgar pelo que fez na Summer League de Vegas e nos amistosos, parece pronto para se fixar tanto na rotação de sua seleção como na do Jazz. O pirulão não precisa pontuar muito. Na defesa, é um substituto ideal para Ajinça devido a sua envergadura e habilidade nos tocos. Veja o tamanho do cara:

Cedi Osman (Turquia): 19 anos e quatro meses
Existem armadores altos e existe Osman, de 2,03 m de altura e grande aposta de uma nova safra de jogadores turcos que tem tudo para dar um trabalho danado no próximo ciclo olímpico – junto com os canadenses. Vindo de sua primeira temporada de Euroliga, o adolescente acabou de conquistar o ouro e o prêmio de melhor jogador do Eurobasket Sub-20 deste ano, na Grécia. Brilhou quando valia mais, na reta final do torneio, com 63 pontos, 16 rebotes, 9 assistências e 68,9% nas últimas três partidas (é o canhotinho camisa 8 no vídeo abaixo, um compacto da final). Os jogadores mais experientes da Turquia, Arslan, Tunçeri, Ermis e Guler, são tão inconsistentes, erráticos que não será de se assustar se Osman ganhar tempo de quadra. Ainda mais tendo lado do ala Emir Preldzic, um autêntico point forward, nos moldes de Saric, que será seu companheiro no Anadolu Efes. Tendo os Estados Unidos em seu grupo, vai ser avaliado de perto pela NBA.

Sviatoslav Mykhailiuk (Ucrânia): 17 anos e dois meses
Não custava nada: por mais jovem que Mykhailiuk fosse, não é que Mike Fratello tivesse tanto talento assim ao seu dispor para nem menos convocar a sensação do país para treinar com o time principal. É um gesto recorrente, que Magnano já havia feito por aqui com Raulzinho, por exemplo. Não prometia nada. Pelo contrário: dizia que era muito difícil que o ala-armador, magrelo toda vida, conseguisse uma vaga no grupo do Mundial. Semanas depois, como já adiantamos neste apanhado geral aqui, o moleque vai para o torneio como seu atleta mais jovem. Esse, sim, um caçulinha. Um precoce que já compete na primeira divisão em seu país e chamou a atenção no Nike Hoop Summit deste ano, aos 16, mesmo sendo bem mais jovem que a concorrência. Capacidade atlética acima da média, um arsenal já impressionante de movimentos no ataque, boa leitura de jogo e personalidade a ponto de ser fominha por vezes. Um potencial tremendo, mas que não deve jogar muito nas próximas semanas, não. Ainda é muito frágil fisicamente. Detalhe: já está comprometido em defender a universidade de Kansas na próxima temporada. O técnico Bill Self não conseguiu esconder a (desagradável) surpresa que teve ao ver o adolescente ser convocado. “Estou feliz por ele. Mas fico um pouco preocupado que ele vai chegar atrasado, que é o que vai acontecer. E, sem querer colocar muita pressão nele, eu estava esperando que ele realmente estivesse pronto para ser um grande contribuidor para nós no meio de novembro. Agora pode ser que leve um tempo a mais para ele”, disse. Viram só quanto ele está feliz pelo garoto?

Gorgui Dieng (Senegal): 24 anos e sete meses
Eu sei, eu sei: duas dúzias de vida, no basquete de hoje, pode parecer mais as contas de um veterano do que de um noviço. E o curioso é que “Gorgui”, na língua nativa de Dieng, significa “O Velho”. Mas o pivô do Minnesota Timberwolves é mais um daqueles que começou a jogar tarde, ainda mais num nível minimamente competitivo. Ele chegou aos Estados Unidos apenas em 2009, para jogar pela Huntington Prep School, que já trabalhou com Andrew Wiggins e Carlos Arroyo. Ganhou evidência e acertou com Rick Pitino para jogar (e estudar) por Louisville. Progrediu bastante em três anos com os Cardinals e foi campeão universitário em 2013, fazendo a cobertura de uma defesa sufocante com Russ Smith e Peyton Siva. Na NBA, como calouro, levou alguns meses para ele se aclimatar. Quando Nikola Pekovic sofreu mais uma lesão, passou a ser mais utilizado e estourou a boca do balão, com médias de 11,9 pontos e 10,7 rebotes em nove jogos em abril. Em março, já havia tido jogos de 22+21 e 15+15 e 11+17. É uma presença bastante ativa e intimidadora perto da cesta. No ataque, produz bem no high post, como um passador natural e bom chute de média distância, ainda que tenha sido aproveitado muito mais dentro do garrafão – a flutuação ficava por conta daquele tal de Kevin Love. Ele agora vai fazer sua estreia em competições Fiba por Senegal.


Quem sai ganhando e perdendo na loteria da NBA?
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Giancarlo Giampietro

A ordem do Draft 2014 da NBA saiu nesta terça-feira, um pouco antes de Pacers x Heat, 2º round.

Sem enrolação, então:

QUEM SAIU FELIZ DA VIDA

Cleveland Cavaliers: pelo segundo ano consecutivo com a primeira escolha e pela terceira vez em quatro anos, sendo que era para eles ficarem em nono. Absurdo isso. O time já pode ser oficializado como o mais sortudo da liga NBA – até o dia da loteria do Draft, claro, porque depois estrepa tudo. Para quem tiver interesse na Mega-Sena, a combinação de bolinhas que deu mais um suspiro ao Cavs foi: 13-7-9-14.

David Griffin (e), início de sorte

David Griffin (e), início de sorte

David Griffin: o ex-assistente do gerente geral pelo Suns e também pelo Cavs, recentemente promovido, é aclamado pela crítica. Como um cara legal, antenado, com talento para lidar com números, sem perder o tino para o se pede em quadra. Começa sua primeira gestão como manda-chuva controlando o destino de um Draft badalado há tempos. “Vamos tentar melhorar radicalmente, e de maneira muito mais rápida”, afirmou o sortudo.

Anthony Bennett: a não ser que mais um calouro bombe em Cleveland, o canadense pode dar um passo para trás, fugindo dos holofotes e se desenvolvendo de modo mais tranquilo. A ordem do verão é perder peso e trabalhar duro no ginásio para recuperar a confiança em seus movimentos em direção à cesta. O canadense ainda tem muito potencial por explorar. Mas precisa se dedicar, porque a fila anda.

Philadelphia 76ers: que vai ter duas seleções entre os dez melhores, ganhando muito mais maleabilidade – e a chance de adicionar no mínimo dois atletas de rotação, ou até mesmo dois titulares de uma vez. Como aconteceu? Devido ao negócio da China com o New Orleans Pelicans no ano passado, no qual repassaram Jrue Holiday em troca de Nerlens Noel (mais um reforço, aliás) e de um eventual pick este ano. O Pellies precisava se posicionar entre os cinco melhores do Draft deste ano para segurá-lo. Sem chance.

Charlotte Bobcats Hornets: mais um que torcia para algum time da turma da fundão saltar para as três primeiras colocações. Com o atropelo do Cleveland, o Detroit Pistons foi empurrado para nono, e sua escolha acabou entregue automaticamente para o novo, velho Hornets. Que ganha a chance de adicionar um atleta para uma base que voltou aos playoffs este ano, mas que ainda precisa desesperadamente de um cestinha no perímetro. Um dos poucos times que ignorou o entrega-entrega neste ano foi premiado. MJ ainda tem o 24º para contratar.

Conferência Leste: a incompetência é premiada! Quatro primeiras escolhas num Draft bastante elogiado pelos scouts vão para o lado do Atlântico, com Cleveland, Milwaukee, Philadelphia e Orlando. O comissário Adam Silver já disse que seu departamento técnico vai se debruçar sobre o Draft. Mudanças devem vir por aí depois do escândalo que foi a campanha de alguns clubes do ano passado.

QUEM SAIU PRAGUEJANDO

Dion Waiters: o Cavs pode estar em vias de adicionar mais um jovem astro em sua rotação de perímetro, com Andrew Wiggins e Jabari Parker. A não ser que o Griffin opte por Joel Embiid (pivô camaronês constantemente comparado a um jovem Hakeem Olajuwon – sim, isso mesmo, mas que precisa acalmar a moçada quanto a alguns problemas físicos nas costas). Se vier um dos alas, como fica o ex-gordotinho, ainda emburradinho Waiters, que não suportava nem repartir a bola com Kyrie Irving? Troca nele, talvez.

Waiters: além de Irving, mais estrela? Hmpf

Waiters: além de Irving, mais estrela? Hmpf

Stan van Gundy: escapou de suas mãos um pick de loteria, na primeira semana de trabalho. Mas, bem, para quem tem Andre Drummond no elenco, pega mal reclamar em público.

Jrue Holiday: dependendo do estrago que o Sixers fizer no Draft, cada posse de bola que o armador tiver que preparar para Anthony Davis no próximo campeonato será pressionada por esta nota de rodapé: “Não custa lembrar que ele foi trocado por Fulano e Cicrano”.

New York Knicks: mas nem tanto. Imagine a chacota que seria para cima de Phil Jackson se a escolha originalmente dos Bockers caísse entre as três primeiras, mas endereçada ao Denver Nuggets? Por quê? Graças ao negócio por Carmelo Anthony em 2011. Ainda assim, mais uma vez a franquia nova-iorquina fica chupando o dedo graças a transações passadas.

Teóricos da conspiração: porque o Lakers não ganhou o Draft e ficou estacionado em sétimo.

Kobe Bryant: dificilmente algum salvador virá nessa colocação, embora o time possa contratar um bom e jovem jogador para ajudar. O armador Marcus Smart, os alas-pivôs Julius Randle, Noah Vonley, Dario Saric e Aaron Gordon são todas boas opções.

* * *

Sobre projeções? Seria loucura um blogueiro baseado na Vila Bugrina em São Paulo se arriscar. Recomendo que sigam atentamente Jonathan Givony, do DraftExpress, e Chad Ford, do ESPN.com. Para constar: por enquanto nenhum menciona Bruno Caboclo, mas posso atestar que o garoto do Pinheiros causa burburinho entre os scouts da liga.


Vida nova: 5 jogadores que tentam salvar a carreira na NBA
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Giancarlo Giampietro

Xavier Henry, decolando pelo Lakers

Xavier Henry, decolando pelo Lakers

O esporte, assim como a vida, está rodeado de surpresas agradáveis, sim. Mas, ao mesmo tempo, decepção é o que não falta.

(Chorei.)

No jogo jogado, são diversos os atletas em quem se pode apostar uma fortuna, fazer planos grandiosos  e ver toda essa grana ir ralo abaixo. Por vezes, é questão de azar: uma lesão grave e precoce, por exemplo. Más influências externas também podem atrapalhar muito. A falta de personalidade para fazer valer o talento. Um técnico cabeça-dura e rancoroso. A simples avaliação errada de um departamento de scouts. E mais e mais fatores podem determinar uma aposta furada.

Mas qual é o momento exato para definir que uma determinada história deu errada? Até quando os dirigentes, treinadores, torcedores e analistas devem esperar para dar uma carreira como “acabada”? No Brasil, somos especialmente bons nisso. A facilidade que temos para julgar alguém como “lixo” é incrível. Muitas vezes sem saber nem quatro linhas sobre a vida ou o contexto em torno de um atleta qualquer.

Agora brecamos o negativismo por aqui, sem se apegar tanto a amarguras da vida, tá? Afinal, é final de ano, hora de erguer a cabeça, estufar o peito. Simbora.

Então, assim bruscamente, vamos virar o disco. Quer dizer, vamos identificar algumas das boas e surpreendentes histórias do início de temporada da NBA. Uma turma que vai usando os primeiros meses do campeonato para tentar prolongar suas carreiras:

Xavier Henry, ala do Lakers
O pai de Xavier jogava na Bégica. A mãe integrou a equipe feminina da universidade de Kansas. Seu irmão mais velho foi escolhido na primeira rodada do Draft de 2005 – na MLB. Quer dizer: o DNA estava ali, pronto para ser explorado. E não teve jeito: o garoto seguiu a trilha de esportista, com destaque desde cedo. Foi um dos destaques de sua geração no colegial, sendo eleito para jogar o McDonald’s All American, o Nike Hoops Summit (do qual foi o cestinha americano) e o Jordan Brand Classic. Badaladíssimo.

Xavier, astro colegial

Xavier, astro colegial

Depois de se inscrever na Universidade de Memphis, voltou atrás e seguiu a trilha da mãe e passou seu primeiro e único ano de NCAA jogando pelos Jayhawks. Na estreia, anotou 27 pontos e estabeleceu um recorde pela tradicional universidade. Tudo seguia de acordo com o plano, até ser selecionado pelo Memphis Grizzlies em 12º no Draft de 2010. Em suas primeiras semanas com Lionel Hollins, agradou o bastante para ser promovido a titular por 11 partidas. Aos poucos, porém, começou a sentir dores crônicas no joelho e, de janeiro em diante, foi escalado em apenas 10 jogos. Na segunda temporada, foi a vez de ele sofrer uma torção e ruptura de tendão no tornozelo.

Jogado de canto num time com aspiração de ir longe nos playoffs,  foi envolvido em uma troca tripla no dia 4 de janeiro por Marreese Speights (que seria um taa-buraco devido a lesões de Zach Randolph e Darrell Arthur), indo parar no New Orleans Hornets. Em sua nova equipe, nunca chegou a empolgar. Não passou dos 17 minutos por jogo em duas campanhas – teve médias no geral de 14,6 minutos e meros 4,3 pontos, acertando apenas 40,1% dos arremessos. Foi dispensado.

Talvez seja justo afirmar que, quando assinou um contrato  sem garantias com o Lakers para a atual temporada, ninguém deu bola. Até que, na pré-temporada, começou a fazer barulho e conseguiu passar pelos cortes para compor o elenco de um time que precisava de ajuda desesperadamente no perímetro, enquanto Kobe não voltava.

Ok, o ala vem com uma produção inconsistente, não é que esteja incendiando a cidade, mas ao menos seus espasmos indicam que talvez seja muito cedo ainda para que seja descartado. Só tem 22 anos.

(PS: Jonathan Abrams contou tudo com mais detalhe no Grantland esta semana).

Jordan Crawford, ala-armador do Boston Celtics
Crawford não era tão cobiçado assim quando adolescente e, para piorar, ainda perdeu todo o seu último ano de colegial devido a uma lesão de tornozelo. Ainda assim, fez o suficiente em Detroit para atrair algumas universidades, optando por se inscrever na tradicional equipe de Indiana, pela jogou por um ano (2007-2008).

Jordan Crawford, o armador

Jordan Crawford, o armador

Depois que o técnico Kelvin Sampson foi afastado, no entanto, transferiu-se para Xavier e teve de ficar uma temporada de molho por violar alguns dos mais diversos códigos que a NCAA impõe. Ainda assim, o cestinha conseguiu aquele que talvez seja o mais comentado lance de sua carreira, em 2009, quando enterrou na cara de LeBron James durante um coletivo em um camp organizado pelo próprio atleta (ou pela Nike em seu nome, digamos).

Quando voltou para as quadras para valer, arrebentou pelos Musketeers, com média de 20,5 pontos por jogo e 39,1% nos três pontos. Bastou para lhe garantir a 27ª colocação no Draft de 2010, o mesmo de Henry, para o Atlanta Hawks. Lá, ele arrumou uma confusão danada para os mais desatentos que fossem conferir as tabelas de estatísticas do time, uma vez que suas credenciais se misturavam com as de Jamal Crawford. Waka-waka-waka.

Mas esse foi basicamente o único destaque de sua passagem por Atlanta, mesmo, uma vez que foi repassado para o Washington Wizards ainda como um novato. Na capital americana, não demorou para deixar seu talento evidente (um pontuador criativo a partir do drible), ao mesmo tempo em que foi devidamente posicionado na turma dos cabeças-de-vento JaVale McGee e Andray Blatche como uma figura que não ajudava em nada na química no vestiário.

Em dois anos e meio pelo Wizards, por vezes substituindo John Wall na armação, ele conseguiu dois triple-doubles e algumas noites incríveis de cestinha, com quando 39 pontos contra o Miami Heat. Mas nunca chegou nem a 42% no aproveitamento de quadra e tirou muitos companheiros (e técnicos e torcedores) do sério com seu “apetite” pela bola. Em fevereiro deste ano, foi chutado fora da cidade e acolhido pelo Boston Celtics, em troca de um lesionado Leandrinho. Para ver a moral que tinha.

Num time em derrocada física, não ajudou muito nos playoffs. Mas eis que, nesta campanha, em meio a um time de renegados ou desprestigiados, Crawford encontrou a Luz. Ou Brad Stevens, no caso, que o transformou num armador competente, enquanto não termina a reabilitação de Rajon Rondo. O técnico novato guia o a talentoso jogador em sua temporada mais eficiente na liga, e de longe, na qual, não por acaso, é a que está mais passando a bola.

Ao Zach Lowe, do Grantland, Stevens jura que não teve uma conversa do tipo “venha-conhecer-jesus” – e foi esta a pergunta de jornalista, de me matar de rir.

“A única coisa que eu queria ter certeza era de que ele sabia do meu ponto de vista: que era um novo começo e que acreditamos nele”, afirmou. “Eu já tinha visto ele ser quase impossível de se parar na faculdade, em um jogo que eu treinei contra ele. Eu sabia que ele era um cestinha implacável. A outra coisa que eu sabia era que ele não está com medo em momento algum. Mesmo no Torneio da NCAA, numa atmosfera tensa daquelas, e isso pede muito colhão.”

E o que saiu daí? Simplesmente que o Miami Heat está interessado em seus serviços.

DeMarre Carroll, ala-pivô do Atlanta Hawks
“Junkyard Dog”.

Algo como “Cachorro de Ferro-Velho”. Bravo, salivando para dar umas boas dentadas em quem ousar escalar e saltar a grade. Se cuida aí, mermão!

(Associo sempre esse tipo de cão ao doberman, que anda sumido de nosso ecossistema. Sem preconceito, ok.)

Bem, era esse o apelido de Carroll em seus tempos de universitário, especialmente quando ele jogava sob a orientação de seu tio, Mike Anderson, em Missouri – depois de duas temporadas por Vanderbilt.

Criado no Alabama, o ala-pivô não despertava tanta atenção assim dos olheiros, mas conseguiu bolsa-atleta  um universidades grandes – embora não necessariamente de ponta, esportivamente falando. Pelos Tigers, teve seu grande momento ao liderar uma campanha rumo às quartas de final do Torneio da NCAA.

Foi quase uma dádiva para um garoto que havia recebido uma notícia para lá de preocupante um ano antes. Incomodado com uma persistente coceira nas pernas, Carroll procurou dermatologistas para saber se tinha alguma espécie de alergia. Depois de muita investigação, acabou constatado algo bem mais grave: uma doença no fígado. Pior: uma doença no fígado que muito provavelmente exigiria um transplante no futuro.

DeMarre ignora doença e arrepia na NBA. Sobra até para Splitter

DeMarre ignora doença e arrepia na NBA. Sobra até para Splitter

A doença foi mantida sob sigilo por um bom tempo – segundo os médicos, era algo que não afetaria sua carreira. Ele poderia jogar o quanto quisesse e cuidar do órgão depois. Acontece que, após sua grande campanha nos mata-matas universitários, durante os treinos privados pré-Draft, o segredo acabou revelado. Por mais que tentasse amenizar a notícia, viu sua cotação cair. Não era o fim do mundo, contudo. Acabou escolhido pelo Memphis Grizzlies em 27º.

Aos 23 anos – mais velho que o calouro regular destes tempos –, estaria pronto para ajudar na rotação de Lionel Hollins, antes da chegada de Xavier Henry. Ou não. Mesmo num elenco jovem, em formação, na lista dos minutos distribuídos pelo técnico, foi apenas o nono mais utilizado.

Na temporada seguinte, foi trocado para o Houston Rockets, que devolveu Shane Battier ao time do Tennessee. Menos de um mês depois, em abril, foi dispensado. Só voltou no campeonato seguinte, defendendo o Denver Nuggets. Ficou no clube de dezembro a fevereiro, quando foi novamente mandado para o olho da rua, tendo participado de apenas quatro partidas.

De qualquer forma, a recuperação estava por vir. Foi contratado prontamente pelo Utah Jazz, encontrando espaço no banco de reservas do time, fazendo aquilo que mais sabe: correr pela quadra toda, enchouriçar a vida de quem estiver driblando nas redondezas, lutar por rebotes. O serviço sujo. Mesmo sem Deron Williams, o time deu um jeito de se intrometer entre os oito classificados aos playoffs do Oeste.

Depois de mais um ano de contrato pelo Utah Jazz, foi recompensado nesta temporada com uma proposta de certa forma surpreendente – mais de US$ 7 milhões por três anos. E, sim, para quem interessar possa, um valente como Carroll já garantiu US$ 12 milhões na carreira, no mínimo.

“Eu sou o junkyard dog e você realmente não pode tirar isso de mim”, orgulha-se.

James Anderson, ex-Popovich

James Anderson, ex-Popovich

James Anderson, ala do Philadelphia 76ers
Quase todo o elenco do Sixers podia estar listado aqui, na verdade. É o time com mais refugos desde a montagem do Charlotte Bobcats em seu draft de expansão. Mas vamos com este, ao menos por enquanto.

(Além do mais, com um nome tão comum como esses, é um caso perfeito para esta lista, não? Numa liga dominada por LeBrons, Kobes, Dwyanes e Carmelos, fica difícil prosperar como “James Anderson”. Para piorar, ele não consegue ser nem mesmo o “J.A.” mais bem ranqueado na pesquisa do Google, perdendo para um jogador de críquete qualquer homônimo.

Mas, então, sobre o ala Anderson: aqui estamos falando de mais um “McDonald’s All-American”, vindo do Arkansas. Em seu primeiro jogo de NCAA, por Oklahoma State, marcou logo 29 pontos. No segundo ano pela equipe, teve média de 18,3 pontos e foi chamado para a Universíade. Ao final da terceira temporada, com 22,3 pontos, foi eleito o jogador do ano da conferência Big 12.

Estava pronto, então, para entrar na NBA, sendo selecionado pelo San Antonio Spurs em 20­º. E aí que ele se tornou um raro caso de jovem jogador que não evoluiu sob a tutela de Gregg Popovich no Texas. Se, por um lado, teve um pouco de azar com lesões na temporada de novato, por outro ousou reclamar do técnico por não receber os minutos que achava justo ter nos campeonatos seguintes. Aiaiai. Vagou pelo Austin Toros, a filial de desenvolvimento do clube, sem causar sensação alguma e simplesmente não teve seu contrato estendido. O Coach Pop simplesmente desistiu do atleta em dois anos. A partir daí, passaria um bom tempo na estrada viajando de um lugar para outro.

Anderson tentou, então, um emprego com Danny Ferry no Atlanta Hawks, mas não foi aprovado. Foi inscrito na D-League novamente, pelo Rio Grande Valley Vipers, a filial do Houston Rockets. Foi chamado novamente pelo Spurs para cobrir um período de lesão de Stephen Jackson. Voltou para o Vipers, mas foi promovido de imediato para o Rockets, pelo qual disputou apenas dez partidas.

Na hora de escolher os chutadores que rodeariam James Harden e Dwight Howard em quadra, porém, Daryl Morey preferiu outras opções e foi mais um a dispensar Anderson. E aí Sam Hinkie, ex-braço direito de Morey, o recolheu de imediato na lista de waiver.  Em Philadelphia ele também reencontraria o técnico Brett Brown, ex-assistente do Spurs. Ufa.

“Esta é definitivamente uma grande oportunidade para mim. Sinto que esta é o melhor chance que tive até agora. Definitivamente quero aproveitá-la”, afirma Anderson, que começou a temporada como titular nas alas. Ok, agora está saindo do banco, mas jogando mais de 20 minutos por partida, com média de 10,9 pontos e aproveitamento de 47,7% nos arremessos neste mês. Aos 24 anos, ele enfim conseguiu um pouco de estabilidade.

“Ele se encaixa com nosso estilo com suas habilidades para correr na quadra”, disse Brown. “Ele tem um temperamento calmo. Sabe, talvez ele apenas esteja em uma fase de sua carreira em que vai aproveitar e seguir adiante. Talvez eu e nosso clube estejamos pegando James Anderson no momento certo de sua carreira.”

Josh McRoberts, ala-pivô do Charlotte Bobcats
Era 2005, numa época em que a NBA ainda permitia que os colegiais entrassem direto na liga, sem precisar passar pela hipocrisia do mundo da NCAA. De sua geração, Monta Ellis, Lou Williams, Martell Webster, Gerald Green, CJ Miles, Amir Johnson e Andrew Bynum, todos McDonald’s All-Americans, aproveitaram a brecha e se declararam para o Draft. McBob, considerado o ala-pivô mais promissor do país na categoria, optou por jogar em Duke antes de ganhar seus milhões.

Daí que… Podemos dizer que ele foi uma das maiores frustrações no reinado do Coach K. O potencial atlético do jogador sempre foi evidente, assim como sua versatilidade, preenchendo a tabela de estatísticas. Mas ainda havia muito o que trabalhar em seu jogo, como o físico, a consistência e fundamentos (rebote nunca foi o seu forte, por exemplo, a despeito de sua altura, impulsão e agilidade).

Os scouts começaram a se cansar do cara, a garotada em Duke também, e McBob resolveu sair ao final da segunda temporada. No fim, não fez uma coisa (entrar cedo, após o colegial, com base na aposta em seu talento natural), nem outra (ir para a faculdade para desenvolver seu jogo e se candidatar como um prospecto refinado). Resultado: despencou até a 37ª posição do Draft de 2007, via Portland Trail Blazers.

Na Rip City, o ala-pivô foi o jogador que menos minutos recebeu de Nate McMillan: apenas 28. No ano todo!  Bem, em 2008 acabou trocado para o Indiana Pacers, voltando para sua cidade natal com a benção de Larry Bird. Demorou dois anos, mas na temporada 2010-11, enfim, ele virou um jogador de NBA de verdade, com 22,2 minutos por partida, dividindo posição com Tyler Hansbrough, enquanto David West não chegava.

Como agente livre em 2011, assinou com o Los Angeles Lakers – a ideia dos Busses era combiná-lo com Troy Murphy para tentar suprir a ausência de Lamar Odom. Não deu tão certo assim, e na temporada seguinte ele acabou envolvido na supertroca que levou um suposto superpivô que marcaria história no time. “Isso não me incomoda. Não é que eles me trocaram por uma máquina qualquer ou algo assim. Eles me trocaram por um dos melhores jogadores da liga”, afirmou.

McBob, com visual e tudo para agradar Michael Jordan

McBob, com visual e tudo para agradar Michael Jordan

Em Orlando, McBob nem bem arrumou as malas  e já teve de se mudar para Charlotte, aos 25 anos.  “Estava em uma situação horrível em Orlando, onde eles só queriam me ver fora dali. Eles queriam jogadores jovens e contratos expirando. Em Los Angeles, também não estava muito bem, mas isso não é culpa de ninguém. Foi apenas o jeito como as coisas evoluíram para os agentes livres depois do locaute”, disse.

E foi pelo Bobcats que se encontrou.  Embora continue mal nos rebotes, vem com o melhor índice defensivo de sua carreira. Mas o que chama mais a atenção, mesmo, é sua média de 4,3 assistências por jogo, tecnicamente empatado com o armador Kemba Walker no fundamento. Além disso, ele é o segundo que mais cestas de três fez na temporada, atrás também de Walker.

“Tem sido ótimo para mim até aqui, em termos de ganhar uma oportunidade de jogar na minha posição. Você não quer nunca se acostumar em quicar de um lado para o outro. Este é meu sexto ano e já vi tanta coisa. Agora só quero ficar em um lugar em que eu tenha a oportunidade de ajudar e, tomara, vencer algumas partidas”, disse o ala-pivô.

No que depender Michael Jordan, de Charlotte ele não sai: “Espero que ele não exerça sua cláusula contratual. Temos de fazer de tudo para manté-lo”, disse o proprietário da franquia.

Menções honrosas: Gerald Green em Phoenix, Michael Beasley em Miami, Andray Blatche no Brooklyn, Wesley Johnson em Los Angeles e Lance Stephenson em Indiana. Quem mais?


Cartolas apontam Miami como grande favorito ao título e LeBron como o melhor da NBA
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Giancarlo Giampietro

Não um, mas dois, mas três...

Não adiantou o Los Angeles Lakers contratar Dwight Howard e Steve Nash de uma vez, não. Em sua pesquisa anual com os 30 gerentes gerais de suas franquias, o site da NBA constatou que esses dirigentes ainda consideram o Miami Heat como o grande candidato ao título da próxima temporada.

A equipe da Flórida recebeu 70% dos votos na enquete. O Lakers ao menos tem o consolo de ser um dos outros dois clubes mencionados, com 23,3%, superando os 7,7% do Oklahoma City Thunder, atual campeão do Oeste, que o eliminou nos últimos playoffs.

A enquete também constata uma clara elevação no status do astro nos bastidores da liga.

Dãr.

Nada como um título.

Depois de sua atuação dominante no campeonato empastelado graças ao locaute, LeBron James foi votado por 66,7% dos cartolas como favorito ao prêmio de MVP de 2013 (mesma votação de Kevin Durant no ano passado, diga-se) – 20% foram com Kevin Durant, 16,7%, com Dwight Howard e 6,7%, com Chris Paul.

LeBron no auge

Agora, sim, LeBron é o rei da NBA para os gerentes

Quando questionados sobre qual atleta eles gostariam de ter para começar as operações de uma franquia, 80% responderam seu nome, contra 16,7% de Durant e 3,3% de Howard. Em 2011, a pesquisa teve um empate entre Durant e James, com 37%. LeBron também foi eleito como o jogador que mais força os técnicos fazerem ajustes em seus sistemas para tentar conter (50%) e o melhor ala da liga (73,3%) – algo relativo, considerando as tantas funções que o craque desempenha em uma partida.

*  *  *

Na eleição posição por posição, Chris Paul bateu forte concorrência para ser apontado como o melhor armador, com 69%, seguido por Derrick Rose (20,7%), Rajon Rondo (6,9%) e Tony Parker (3,4). Rose havia vencido em 2011 com 59,3%.

Kobe Bryant ganhou como melhor shooting guard: 66,7%, diante de 23,3% de Dwyane Wade, que certamente não gostou nada, nada do resultado.  Durant e seu companheiro de Thunder, James Harden, e Manu Ginóbili foram outros lembrados.

Entre os alas-pivôs, outro posto com diversos candidatos, Kevin Love brilhou com 30%, de modo até surpreendente, dado o conservadorismo que costuma predomuniar nas diregções dos clubes. O segundo foi Dirk Nowitzki, com 23,3%, enquanto LeBron  teve 16,7%, LaMarcus Aldridge, 10%, e Kevin Garnett e Blake Griffin, 6,7% – Tim Duncan e Pau Gasol também figuraram na liga.

Por fim, Dwight Howard liderou com folga (93.3%), mas houve dois dirigentes que apontaram aquele que ele substituiu em Los Angeles, Andrew Bynum, reforço do Philadelphia 76ers.

*  *  *

Entre os brasileiros, Tiago Splitter foi citado em uma de suas perguntas, recebendo um voto quando os gerentes gerais foram questionados sobre qual jogador estrangeiro da NBA teria o desempenho, digamos, mais surpreendente na próxima temporada. Neste quesito, quem levou recebeu mais votos foi o jovem pivô Jonas Valanciunas, do Toronto Raptors (17,2% ou seis).

Kobe, decisivo?

Kobe é outro que não vai gostar muito da pesquisa

Já Anderson Varejão aparece em duas questões, com um voto em cada: “Quem faz mais considerando habilidades naturais limitadas?” e “Quem é o jogador mais durão da liga?”. Engraçado que o capixaba é um jogador extremamente atlético ao seu modo. Pode não ter a força física ou estar longe da impulsão de um Howard ou Blake Griffin, mas é muito veloz, ágil e coordenado. Essa discrepância mostra um pouco como alguns diretores enxergam o jogo.

*  *  *

Para fechar, claro, os tiros no estouro do cronômetro. Pela primeira vez em muitos anos, Kobe Bryant não foi o mais votado quando perguntados sobre qual atleta gostariam de ver com a bola nas mãos para fazer o arremesso decisivo de um jogo. Dessa vez deu Kevin Durant, com 46,7%, contra 40% do veterano. Carmelo Anthony teve 6,7%. Chauncey Billups e LeBron tiveram um voto cada.

Clique aqui para conferir todas as perguntas da gigantesca enquete que o NBA.com elabora. Sempre muito divertido de conferir.


Jogadores para marcar de perto na próxima temporada da NBA: Goran Dragic
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Giancarlo Giampietro

O gerente geral Steve Kerr e os técnicos do Phoenix Suns tinham tanta estima por Goran Dragic que conseguiram convencer o mão-de-vaca Robert Sarver, proprietário do clube, a investir alguns milhares de dólares na compra de uma escolha extra de segunda rodada no Draft de 2008 para contar com o esloveno. Como se não bastasse esse fato histórico, inédito, ainda fecharam um contrato com o novato por mais de US$ 7 milhões e quatro temporadas. Era bem mais do que um calouro selecionado 20 postos antes dele no recrutamento ganharia. Estava em alta o Dragic.

Goran Dragic, Phoenix Suns

Dragic de volta a Phoenix

Aí o que acontece: bomba. Em sua primeira temporada, ele acertou apenas 39,3% de seus arremessos de quadra, algo que Steve Nash bateria nos tiros de três pontos com um pé só no chão e olho direito inchado. Sofrendo para se comunicar em inglês, intimidado diante de adversários aos quais costumava assistir em casa, de madrugada na Eslovênia, também cometeu muitos erros em suas infiltrações, deixando a torcida tensa com suas investidas. Estava em baixa o Dragic.

As críticas e desconfiança, no entanto, não acabaram com o jogador. Em seu segundo ano, o canhotinho voltou muito melhor, revigorado. Elevou sua produção estatística positivamente em pontos, assistências e chutes de quadra e parecia, enfim, um jogador de NBA, a ponto de ganhar do técnico Alvin Gentry 18 minutos por partida, dando um bom descanso a Nash. Foi numa época em que Gentry conseguiu escalar uma segunda unidade completamente desvinculada da primeira, com dividendos formidáveis – o esloveno era escoltado por Leandrinho, Jared Dudley, Channing Frye e Louis Amundson. Ninguém dava muita coisa para esse quinteto, mas, coletivamente, jogaram uma barbaridade. O líder inquestionável era o armador, que teria uma das atuações mais surpreendentes da NBA e dos playoffs em muito tempo, quando destruiu o Spurs em San Antonio em 2010.  Dragic em alta. Muito.

E aí o que acontece: ele deixa cair a peteca, justamente quando o Suns acreditava ter encontrado um substituto em longo prazo para o brilhante canadense. Depois da saída de Amar’e Stoudemire e das contratações desastradas de Hedo Turkoglu e Josh Childress, a equipe despencou, e Dragic voltou a entrar em desarranjo, a se atrapalhar demais com a bola e perder a confiança da campanha anterior. Acabou trocado pelo baixinho Aaron Brooks, do Houston Rockets, numa negociação em que a franquia do Arizona ainda pagou uma escolha de primeira rodada do Draft para compensar. Dragic em baixa.

Dragic e sua canhotinha

Dragic arrebentou em Houston. Vai manter?

Em Houston, na campanha passada, sob a orientação de Kevin McHale, o esloveno volta a reagir. Com o afastamento de Kyle Lowry devido a uma bizarra infeção bacteriana, assumiu o posto de titular e encaixou uma sequência de jogos digna de Jeremy Lin. Terminou o mês de março com médias de 18,9 pontos, 7,7 assistências, 3,5 rebotes, 1,8 roubo de bola e 46,4% nos arremessos, como o ponto nevrálgico do ataque. Um rendimento bem conveniente, considerando que estava prestes a se tornar um agente livre. Dragic em alta no mercado.

Sua produção chamou atenção, no fim, do próprio Phoenix Suns. Decidido a seguir um novo rumo, se desligando dolorosamente de Nash, o clube telefonou para o agente do esloveno de imediato, com uma proposta de US$ 7,5 milhões anuais, e quatro anos de duração. Mais do que o triplo que havia ganhado em 2011-2012.

Nesta gangorra descrita acima, notem que os campeonatos de alta do esloveno foram aqueles que terminaram anos pares. A próxima temporada termina em 13. Perigo?

Gentry e o Suns esperam que seja só uma coincidência fútil. Qualquer descuido, tropeço do armador custaria muito caro para o clube que tanto dependeu de Nash nos últimos sete, oito anos e agora confia num Dragic amadurecido e fortalecido para iniciar uma nova era. Não é fácil para ninguém assumir essa responsabilidade, mas ele topou. Agora vai ser marcado de perto.

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Reforçando a trapalhada da diretoria do Suns: eles tinham Dragic, o repassaram para Houston com uma valiosa escolha de primeira rodada – os novatos geralmente são um bom investimento, por ganharem abaixo da média da liga –, e usaram Brooks por apenas meia temporada e, depois, dispensaram o baixinho, que havia se mandado para a China, sem levar nada em troca para limpar sua folha salarial e, claro, repatriar seu ex-atleta. Brooks assinou com o Sacramento Kings. Where amazing happens.

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Dragic acaba com o Spurs em San Antonio

A incrível atuação de Goran Dragic no Texas

Sobre aquela noite mágica na vida de Dragic, contra o Spurs: foi antes de tudo uma ironia pelo fato de o Suns ter comprado justamente dos texanos a escolha do Draft que resultou em sua contratação.

Mas a importância de sua atuação foi muito além desta anedota, devido ao histórico de eliminações de sua equipe pelas mãos de Tim Duncan & cia – e fora muitas decepções no Arizona, acreditem.

Em maio de 2010, o Suns dessa vez chegava a San Antonio com seu mando de quadra defendido, tendo vencido os dois primeiros jogos. Com o esloveno fazendo chover em quadra, conseguiu uma importantíssima vitória para abrir 3 a 0 e se livrar de alguns fantasmas. Foram 23 pontos de Dragic apenas no quarto período, com bandejas, ganchos, chutes desequilibrados, bolas de três e fintas para todos os lados. Relembre:

PS: O Suns acabou alcançando a final do Oeste neste ano, perdendo para o eventual campeão Lakers. Preocupado com o rendimento de Dragic no confronto com seus reservas, Phil Jackson descobriu um ponto fraco do armador: Sasha Vujacic, seu compatriota. Os dois não se bicam de jeito nenhum, o que era um segredo até o momento. Ninguém ia dar bola para uma rivalidade entre dois eslovenos, claro. Mas o Mestre (nem tão) Zen foi informado sobre o histórico e sacou o ala do banco. Irritante que só, Vujacic, hoje no basquete turco, tirou seu velho conhecido do sério:


Começa a pré-temporada da NBA: veja quem tem mais trabalho pela frente
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Giancarlo Giampietro

Vamos tirar essa gracinha da frente logo de cara: Charlotte Bobcats, Washington Wizards, Sacramento Kings e Golden Sate Warriors, os tradicionais sacos de pancada das últimas temporadas, têm muito trabalho pela frente. Não fosse assim, seria muito estranho.

Mas não são apenas os times habituados a frequentar a imaginária zona de rebaixamento que têm muito o que fazer a partir desta semana, com o início dos valiosos, mas enxutos training camps da NBA.

É o único período livre, limpo para valer que os treinadores têm para aprimorar suas equipes. Durante as férias, alguns jogadores e assistentes se reúnem informalmente para exercitar fundamentos, refinar habilidades.

Mas é só em outubro, mesmo, que eles conseguem se agrupar de modo organizado, oficialmente, para passar o plano de jogo para a temporada, integrando eventuais novos conceitos e reforços.

(Vamos nos concentrar aqui só nos times que aspiram a voos maiores, ok?)

Mike Brown tem trabalho pela frente

Um training camp crucial para Mike Brown, Kobe e Lakers

Pensando em novos jogadores, inevitável mirar o Lakers, mesmo que Dwight Howard ainda esteja se recuperando de uma cirurgia nas costas. Pois o que requer o maior ajuste para a equipe, na verdade, é a presença de Steve Nash. Os angelinos não tinham um armador desse calibre, com sua criatividade, habilidade e eficiência desde… Vocês sabem quem. E, não, não se trata de Nick Van Exel.

Se fosse para Nash assumir um papel de Derek Fisher e Steve Blake – leia-se “cruze o meio da quadra, passe para o Kobe e fique do outro lado esperando, se pá, a bola” –, até poderia dar certo. Afinal, ele é provavelmente o melhor chutador que a liga já teve. Mas não faria sentido, né? Seria um desperdício daqueles. Que Mike Brown e seus astros encontrem a melhor maneira de fazer a máquina andar até acrescentar seu novo superpivô.

Ainda em Los Angeles, com menos apelo (durou pouco o oba-oba, o Lakers não ia deixar mesmo), Vinny Del Negro também tem muito do que cuidar no Clippers com as chegadas de Lamar Odom, Grant Hill e Jamal Crawford e o retorno de Chauncey Billups. Eles não mudam drasticamente as características do clube, mas o fato é que o contestado treinador vai precisar de muita diplomacia para administrar minutos e arremessos entre seus atletas.

No Oeste, porém, quem deve mais testar sua paciência atende pelo nome de Rick Carlisle. O técnico do Mavericks tem de integrar Darren Collison, OJ Mayo, Elton Brand, Chris Kaman e mais três novatos a sua rotação. Do time campeão em 2011, só sobraram Nowitzki, Rodrigue Beaubois e Dominique Jones, sendo que esses últimos dois mal jogavam. Dureza.

Amar'e Stoudemire e Carmelo Anthony

Stoudemire e Melo vão se entender, enfim?

Do outro lado, no Leste, o trabalho começa em Nova York: a) tanto para o Knicks, pelo qual Mike Woodson, com uma ajudinha de Jason Kidd (e Prigioni??), faz seu primeiro training camp como chefe, com a missão de encontrar algum jeito de entrosar Carmelo Anthony e Amar’e Stoudemire, após os baixo e baixo entre os dois nas últimas temporadas; b) como pelo Nets, em que Avery Johnson recebe Joe Johnson, Mirza Teletovic e Brook Lopez de volta e tem como desafio a montagem de uma defesa forte com marcadores suspeitos.

Por fim, o 76ers, daqueles times que se destacou na temporada passada por seu empenho coletivo, sem uma referência, agora se reformula com a chegada de Andrew Bynum, que sonhava há anos em ser alimentado sem parar. A movimentação de bola, o espaçamento dos jogadores, a cobertura defensiva e muitos outros detalhes mudam radicalmente com um jogador desses.


Os europeus que a NBA não consegue ou conseguiu aproveitar
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Giancarlo Giampietro

Fran Vázquez garante que, dessa vez, esperou pela NBA até o último momento antes assinar com o Unicaja Málaga por dois anos e tentar atrapalhar a vida de nosso Augusto. As propostas só não vieram.

Fran Vázquez, NBA Draft 2005

Vázquez só usou o boné do Magic, mesmo

No caso desse pivô espanhol, é melhor que não pronunciem o nome dele na arena de outro mundo do Orlando Magic, porque seu vínculo, ou melhor, não-vínculo com a equipe da Flórida é uma das vergonhas de sua história recente. Ele foi selecionado na 11ª posição do Draft de 2005, mas nunca jogou sequer um minutinho de azul e branco. Ele preferiu passar seis temporadas pelo Barcelona.

Uma cortesia do ex-gerente geral do clube, Otis Smith, que selecionou Vázquez sem nunca ter conversado direito com o jogador, sem saber seus planos, o quanto confortável ele estaria em fazer a transição para a liga norte-americana, sobre o quão disposto ele estaria a deixar seu país naquele momento ou em qualquer momento de sua vida.

Sete anos depois? Ele bem que tentou, mas a nova diretoria do Magic já não estava mais tão interessada assim, enquanto Smith curte algumc ampo de golfe por aí.

Ninguém sabe ao certo como seria a trajetória de Vázquez, hoje com 29 anos, se ele tivesse assinado de cara. Teria se entrosado bem com Dwight Howard? O par certamente teria um potencial defensivo. Mas isso vai ficar sempre no ar e no estômago dos vizinhos de Mickey Mouse.

Pensando no espanhol, essa é uma boa hora para lembrar alguns dos europeus que foram selecionados pelas franquias nos anos que passaram e nunca chegaram a cruzar o Oceano, pelos mais diversos motivos:

Frédéric Weis, pivô francês, aposentado desde o início de 2011, mundialmente conhecido pela enterrada inacreditável de Vince Carter na final das Olimpíadas de Sydney-2000. Acontece que, um ano antes daquele, digamos, incidente, ele havia sido escolhido pelo New York Knicks na 15ª colocação do Draft de 1999. Detalhe: um posto depois, o Chicago Bulls escolheu o jovem Ron Artest, da universidade de St John’s, produto do Queens (assim como Scott Machado) e o anti-herói preferido do Vinte Um.

Então quer dizer: os fãs do Knicks já não perdoariam Weis facilmente por essa suposta traição. Desde que foi eternizado por Carter, porém, Weis foi uma carta fora do baralho nova-iorquino. Ele só foi útil em uma pequena troca feita em 2008 na qual seus direitos foram repassados ao Houston Rockets em troca de Patrick Ewing Jr.! Não dá para ser mais irônico que isso, dá?

Relembre, se preciso, “le dunk de la mort”:

Sofoklis Schortsanitis, o Baby Shaq grego! Cujo nome sempre foi um desafio para narradores e repórteres de Internet escrevendo os relatos de Brasil x Grécia na correria. (Oi!). O mais massa-bruta de todos, um terror no pick-and-roll simplesmente porque são poucos os que têm coragem de parar em sua frente quando ele recebe a bola partindo feito locomotiva para a cesta. Máquina de lances livres. Ganha uma boa grana na Europa, mesmo não tendo o condicionamento físico para atuar de modo eficiente por mais de 25 minutos por partida. Ele foi draftado pelo Clippers em 2003, na segunda rodada (34). Em 2010, quando venceu seu contrato com o Olympiakos, se aprsentou ao time californiano, mas foi recusado precocemente, algo estranho. Hoje seus direitos pertencem ao Atlanta Hawks.

Sofoklis Schortsanitis, locomotiva

Quem vai segurar Sofoklis Schortsanitis?

Erazem Lorbek, pivô esloveno que recusou o assédio firme do San Antonio Spurs neste ano, renovando com o Barcelona, para o bem de Tiago Splitter. Embora um pouco lento para os padrões da NBA, sem dúvida conseguiria se fixar, aos 28 anos, no auge. É extremamente técnico. Bons fundamentos de rebote, passe e arremesso – seja via gancho próximo do aro ou em chutes de média e longa distância. Seus direitos foram repassados ao Spurs pelo Pacers (que o selecionaram na segunda rodada do Draft de 2006, em 46º) na troca que envolveu George Hill e Kawhi Leonard.  Curiosidade: Lorbek chegou a jogar uma temporada por Tom Izzo em Michigan State, mas optou por encerrar sua carreira universitária para lucrar na Europa desde cedo.

Sergio Llull, armador espanhol, ainda aos 24 anos. Então dá tempo, ué, para ele jogar pelo Houston Rockets, não? Claro. Desde que ele não aceite a – suposta – megaproposta de renovação de contrato do Real Madrid, que lhe estariam oferecendo mais seis anos de vínculo, com um sétimo opcional. Sete!!! Parece negociação dos anos 60 até. Se esse acordo for firmado, o gerente geral Daryl Morey vai ter de se conformarm com o fato de ter pago mais de US$ 2 milhões por uma escolha de segunda rodada (34ª) no Draft de 2009 para poder apanhar esse talentoso jogador, um terror na defesa e cada vez mais confiante no ataque.

Dejan Bodiroga

Bodiroga, multicampeão na Europa

Dejan Bodiroga, ex-ala sérvio, para fechar no melhor estilo. Sabe, uma coisa me causa inveja: quando ouço as histórias daqueles que viram os grandes brasileiros de nossa era dourada. De não ter visto Wlamir, Ubiratan, Rosa Branca e cavalaria. Já aposentado, egoísticamente, Bodiroga entra para mim nessa categoria agora: “Esse eu vi (pelo menos)”.

Não sei qual o apelido dele na sérvia, mas deve ter algo derivado de mágico. Bodiroga foi selecionado pelo Sacramento Kings em 2005, na 51ª posição, mas nunca esteve perto de jogar na NBA. Seu estilo era muito peculiar, e também sempre houve a dúvida sobre como ele poderia traduzir seu jogo para uma liga muito mais atlética – ainda seria uma estrela? No fim, o sérvio nunca pensou em pagar para ver.

Na Europa, defendeu Real Madrid, Barcelona (no qual já atuou com Anderson Varejão), Panathinaikos, diversos clubes italianos. Pela seleção, foi três vezes campeão do Eurobasket, medalha de prata nas Olimpíadas de Atlanta-1996, bicampeão mundial. Em clubes, ganhou quatro Euroligas. Com 2,05 m de altura, mas de modo algum um jogador de força, ele era praticamente um armador com essa altura toda. Um passador incrível, um grande arremessador, conseguia também sucesso surpreendente também no mano-a-mano, investindo até mesmo contra defensores mais ágeis e fortes, devido a uma série de truques com a bola e muita inteligência. Um gênio. Aos 39 anos, já está aposentado e trabalha como cartola..


Jogadores para marcar de perto na próxima temporada da NBA: Andrew Bogut
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Giancarlo Giampietro

Andrew Bogut

Bogut fica bem de terno, mas o time quer é vê-lo em quadra

Enquanto Andrew Bynum dava ainda um trabalhão para Phil Jackson, exigindo o máximo das técnicas motivacionais (e provocativas) do Mestre Zen, seu xará australiano, Bogut, trabalhou pela classificação como “o segundo melhor pivô” da NBA, atrás apenas dele, o líder absoluto, disparado, campeão com mais de dez rodadas de antecedência, Dwight Howard.

Mas podemos dizer também que Bogut nem trabalhou tanto assim e ganhou o vice-campeonato dos “cincões” por inércia, mesmo. De tão deslocada que parece a posição hoje em tempos do superatlético Miami Heat.

Só não tente dizer isso a Jerry West, ele mesmo, o Logo, e agora consultor manda-chuva do Warriors. Muito menos a Joe Lacob, o dono do clube, que faz de tudo – até o que não deve – para que a equipe volte a ser competitiva na Conferência Oeste e que para que seja amado por uma das torcidas mais peculiares da liga. Mesmo que, para isso, ele precise arruinar uma homenagem a Chris Mullin e ser vaiado por todo o ginásio:

Esses caras apostaram alto em Bogut como o jogador que revolucionararia a franquia dentro de quadra, como o primeiro pivô a fazer a diferença pelo time desde os tempos de… Felton Spencer? Rony Seikaly? Ou quem sabe… Clifford Rozier? Todd Fuller? Manute Bol? Hm… melhor ficar com Nate Thurmond, aquele monstro defensivo lá nos anos 70.

Nate Thurmond

Nate Thurmond em foto que já diz tudo

(Parêntese: pensar nos grandes pivôs que a NBA já teve no passado funciona na minha cabeça como os grandes pesos pesados que o boxe já teve. Thurmond, Alcindor, Malone, Wilt, Russell… Até os nomes se encaixam. Agora voltando…)

Monta Ellis era um cestinha pouco eficiente, e foi o que custou ao Warriors para ter Bogut. Não seria de fazer ninguém chorar. Mas o ala-armador era adorado por essa gente torturada que aprecia e nunca abandona um clube por mais que suas participações nos playoffs sejam muito mais raras do que anos bissextos.

Aí entra o australiano, que sofreu duas lesões bizarras nas últimas temporadas e disputou apenas 77 jogos de 144 possíveis. A metade, na mosca. Jornalista não sabe fazer conta. Há quem diga que foi só azar – e, realmente, a queda que ele teve depois de uma enterrada que resultou numa fratura absurda em seu braço foi muita falta de sorte (vídeo forte, escondido lá no pé do post). Porém, como explicar o fato de que até hoje o pivô disputou apenas uma temporada completa em sua carreira, justamente a sua de novato? Fora essa, apenas em uma outra campanha ele bateu a casa de 70 jogos: 2007-08. De resto, no mínimo 14 jogos perdidos por ano. É muita coisa.

O Warriors vai abrir a temporada 2012-13 com muitas esperanças, e não dá para dizer que dependa exclusivamente de Bogut para vencer. O armador Stephen Curry é um dos jogadores mais talentosos da nova geração, mas também não consegue parar em pé. Olho no ala Klay Thompson, que pode ser uma das surpresas do ano. O novato Harrison Barnes é outro badalado. David Lee te dá um double-double por jogo no Fantasy. Com Jarret Jack, Richard Jefferson, Andris Biedrins e Carl Landry, o banco nem é tão ruim assim.

Mas não tenha dúvidas: se a equipe está pensando, mesmo, em chegar aos playoffs, com chances de avançar nos mata-matas, tudo gira em torno da saúde, sim, do australiano.

A começar por sua presença defensiva. Não só por seus mais de dois tocos por partida nas últimas três temporadas ou pelo ótimo aproveitamento nos rebotes. Mas muito por sua inteligência no posicionamento, fechando espaços, podendo ser dominante mesmo com pouca impulsão ou velocidade. No ataque, se tudo der certo, a presença de Curry (ótimo passador e um arremessador melhor ainda) e Thompson (gatilhaço), abrindo a quadra, devem contribuir muito também para ele encaixar seus movimentos lentos, mas técnicos.

Assim sonham Lacob, West e hipongas.

Que desencanem disso aqui, então: