Vinte Um

Arquivo : Dwight Howard

Mercado da Divisão Sudeste: Pat Riley virou a página
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Giancarlo Giampietro

Quem já leu os textos sobre a Divisão Central ou sobre a Divisão Pacífico, pode pular os parágrafos abaixo, que estão repetidos, indo direto para os comentários clube a clube. Só vale colar aqui novamente para o marujo de primeira viagem, como contexto ao que se vê de loucura por aí no mercado de agentes livres da NBA

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As equipes da NBA já se comprometeram em pagar algo em torno de US$ 3 bilhões em novos contratos com os jogadores, desde o dia 1º de julho, quando o mercado de agentes livres foi aberto. Na real, juntos, os 30 clubes da liga já devem ter passado dessa marca. Cá entre nós: quando os caras chegam a uma cifra dessas, nem carece mais de ser tão preciso aqui. Para se ter uma ideia, na terça-feira passada, quarto dia de contratações, o gasto estava na média de US$ 9 mil por segundo.

É muita grana.

O orçamento da liga cresceu consideravelmente devido ao novo contrato de TV. O teto salarial subiu junto. Se, em 2014, o teto era de US$ 63 milhões, agora pode bater a marca de US$ 94 milhões. Um aumento de 50%. Então é natural que os contratos acertados a partir de 1o de julho sejam fomentados desta maneira.

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Vem daí o acordo acachapante fechado entre Mike Conley Jr. e Memphis Grizzlies, de US$ 152 milhões por cinco anos de duração, o maior já assinado na história. Na média anual, é também o mais caro da liga. O que não quer dizer que o clube o considere mais valioso que Durant e LeBron. É só que Robert Pera concordou em pagar ao armador o máximo que a franquia podia (no seu caso, com nove anos de carreira, 30% do teto salarial), de acordo com as novas regras do jogo.

Então é isto: não adianta ficar comparando o salário assinado em 2012 com os de agora. Se Stephen Curry, com US$ 12 milhões, ganha menos da metade de Conley, é por cruel e bem particular conjuntura. Quando o MVP definiu seu vínculo, estava ameaçado por lesões aparentemente crônicas e num contexto financeiro com limites muito mais apertados. Numa liga com toda a sua economia regulamentada, acontece.

O injusto não é Kent Bazemore e Evan Turner ganharem US$ 17 milhões anuais. O novo cenário oferece isso aos jogadores. O que bagunça a cabeça é o fato de que LeBron e afins não ganham muito mais do que essa dupla, justamente por estarem presos ao salário máximo. Esses caras estão amarrados de um modo que nunca vão ganhar aquilo que verdadeiramente merecem segundo as regras vigentes, embora haja boas sugestões para se driblar isso.

Feito esse registro, não significa que não exista mais o conceito de maus contratos. Claro que não. Alguns contratos absurdos já foram apalavrados. O Lakers está aí para comprovar isso. Durante a tarde de sexta-feira, recebi esta mensagem de um vice-presidente de um dos clubes do Oeste, envolvido ativamente em negociações: “Mozgov…  Turner…  Solomon… Sem palavras”. A nova economia da liga bagunça quem está por dentro também. As escorregadas têm a ver com grana, sim, mas pondo em conta o talento dos atletas, a forma como eles se encaixam no time, além da duração do contrato.

Então o que aconteceu de melhor até aqui?

Para constar: o blog ficou um pouco parado nas últimas semanas por motivo de frila, mas a conta do Twitter esteve bastante ativa (há muita coisa que entra lá que não vai se repetir aqui). De qualquer forma, também é preciso entender que, neste período de Draft e mercado aberto, a não ser que você possa processar informações como um robô de última geração como Kevin Pelton, do ESPN.com,  o recomendável não é sair escrevendo qualquer bobagem a cada anúncio do Wojnarowski no Vertical. Uma transação de um clube específico pode ser apenas o primeiro passo num movimento maior, mais planejado. A contratação de Rajon Rondo pelo Chicago Bulls no final de semana muda de figura quando o clube surpreende ao fechar com Dwyane Wade, por exemplo. No caso, fica ainda pior.

Agora, com mais de dez dias de mercado, muita coisa aconteceu, tendo sobrado poucos agentes livres que realmente podem fazer a diferença na temporada, deixando o momento mais propício para comentários:

– Atlanta Hawks
Quem chegou: Dwight Howard e os calouros Taurean Prince e DeAndre Bembry.
Quem ficou: Kent Bazemore.
Quem saiu: Al Horford (Celtics), Jeff Teague (Pacers) e Lamar Patterson (Kings).

Howard chorou em sua coletiva de apresentação

Howard chorou em sua coletiva de apresentação

Se você é torcedor do Atlanta Hawks, melhor não ler este artigo aqui de Zach Lowe. O melhor analista da NBA nos conta qual era o verdadeiro plano de Mike Budenholzer para este mês. A ideia basicamente era renovar com Horford, fazendo nova dupla com Howard, e trocar Paul Millsap.

Mas por que diabos trocariam o melhor jogador do time e um dos melhores alas-pivôs da liga? Por que, em 2017, ele vai virar agente livre, e seu próximo salário pode passar da casa de US$ 35 milhões anuais. Uma coisa é pagar isso a um cara de 30 anos. Outra, para alguém se aproximando dos 35, no finalzinho do contrato. Então eles poderiam repassá-lo agora, descolar de Phoenix, Denver ou Toronto algumas jovens peças e escolhas de Draft, dando um jeito de manter um time ainda bastante competitivo no Leste, ao mesmo tempo em que preparavam uma transição para um novo núcleo. Pois Horford não queria jogar com Howard, queria o máximo de dólares que Atlanta lhe poderia dar, não recebeu, então se mandou para Boston.  Agora Millsap retorna sabendo muito bem que poderia ter mudado de endereço. Um elemento incômodo para a química no vestiário. Bote aí uma também uma criançona como seu novo contratado, e o clima de paz e amor dentro do clube será desafiado.

Vamos ver como o antigo superpivô vai se comportar e jogar. Desde que saiu de Orlando, Howard basicamente só resmunga. Primeiro foi com Kobe. No ano passado, com Harden. Também reclama de técnicos quando a bola não chega e tem dificuldade para se manter em forma – não faz mais sentido recordar seus anos dourados quando sustentava uma forte defesa por conta própria. Enfim, faz tempo que ele dá dor-de-cabeça. Não havia, porém, gente tão boa assim disponível no mercado. Por US$ 23,5 milhões anuais, ele vai ganhar algo em torno de 40% a mais que Timofey Mozgov, sendo ainda muito mais jogador, de todo modo. Para assimilar o pivô, que nunca foi um grande passador e comete muitos turnovers, Budenholzer vai precisar adaptar bem seu sistema.

De resto, os dias de Jeff Teague estavam contados por lá, mesmo. É outro que vai pedir uma boa grana no ano que vem e, neste caso, já havia um substituto preparado. A NBA inteira agora vai ver se Dennis Schröder tem maturidade e bola para ser um titular numa equipe de ponta. O retorno por Teague na troca tripla com Indiana e Utah foi o ala Taurean Prince, um protótipo de DeMarre Carroll. Mesmo sendo mais velho que o novato comum, vindo de quatro anos de universidade, ainda não está pronto para entrar na rotação. O clube confia que sua comissão técnica dê um jeito nisso o quanto antes. A esperança é que ele eventualmente se transforme num defensor que possa incomodar o tal do LeBron. Já Bembry não só vai reforçar o time dos DeAndre na liga, algo sempre muito bem-vindo, como também tende a se encaixar na sinfonia de passes no ataque. Não representa ameaça nenhuma como atirador, mas deve ganhar seus minutos ao lado de Korver, Sefolosha e Bazemore. Pois é, Bazemore disse não ao Lakers e ao Rockets e ficou, ganhando agora mais de US$ 17 milhões por temporada. É um preço salgado, mas esta é a nova economia da liga. E estamos falando de um ala muito útil, que contribui ao time em diversas vertentes e, mesmo aos 26 anos, parece ainda ter potencial para ser explorado.

O Atlanta ainda tem talento para se manter entre os quatro melhores do Leste, desde que Howard produza um pouco mais do que fez em Houston, sem corroer o espírito da equipe, que Schrödinho responda como a franquia espera e que Millsap ignore o ruído das últimas semanas. Mas o elenco não evoluiu nem pensando no agora mesmo, nem para daqui a pouco.

– Charlotte Hornets
Quem chegou: Marco Belinelli, Roy Hibbert, Brian Roberts, Ramon Sessions e Christian Wood.
Quem ficou: Nicolas Batum e Marvin Williams.
Quem saiu: Courtney Lee (Knicks), Al Jefferson (Pacers), Jeremy Lin (Nets) e Troy Daniels (Grizzlies).

Batum é de Charlotte

Batum é de Charlotte, e ninguém tasca

A boa campanha na temporada passada teve seu preço para Charlotte: US$ 174,5 milhões em contratos para Batum e Williams e a perda de peças importantes como Lee, Jefferson e Lin. Considerando todas as possibilidades de mercado e as perdas e danos que o clube teve, Michael Jordan não tem do que reclamar.

O mínimo vacilo, hesitação que a franquia desse, e pode ter certeza que os dois agentes livres que renovaram seus contratos teriam saído. Batum ainda é um dos alas mais completos da liga, mesmo que nunca tenha ativado aquele instinto assassino que todos os seus talentos poderiam empregar muito bem. Já Williams foi um dos atletas que mais evoluiu nos últimos dois anos, se aproximando daquela imagem que muitos scouts projetavam quando ele foi eleito o número dois do Draft de 2005, logo acima de Deron Williams e Chris Paul.

Lee e Lin formaram excelente conjunto com o ala francês e o cestinha Kemba Walker, mas ficaram muito valorizados, sem que o Hornets tivesse condições de bancar seus contratos. A equipe vai sentir a falta de um na defesa e, do outro no ataque. Mas o técnico Steve Clifford foi competente o bastante desde que chegou a Charlotte para a diretoria confiar que o desenvolvimento interno pode compensar, de certa forma, essas baixas. Sob o comando de Gregg Popovich, Marco Belinelli jogou seu basquete mais consistente. No campeonato passado, foi um desastre para Sacramento. Mastalvez possa se recuperar em um time muito mais organizado. (É bom que o faça, já que custou uma escolha de primeira rodada de Draft, com bons prospectos ainda disponíveis.)

Já Al Jefferson, tão importante em 2014, mostrando que a cidade pode ser, sim, um destino para grandes contratações, acabou se tornando supérfluo depois de tantas lesões e de o gerente geral Rick Cho branquelos para o garrafão. Cody Zeller, Frank Kaminsky e Spencer Hawes não têm nem metade da habilidade do veterano para atacar em post ups, mas, coletivamente, podem suprir sua pontuação e contribuir para a movimentação e espaçamento do ataque. E ainda temos aqui Hibbert como alternativa, tentando esquecer o pesadelo que foi sua experiência em Hollywood.

– Miami Heat
Quem chegou: Derrick Williams, James Johnson, Wayne Ellington, Willie Reed, Luke Babbitt e Rodney McGruder.
Quem ficou: Hassan Whiteside, Udonis Haslem e Tyler Johnson.
Quem saiu: Dwyane Wade (Bulls), Joe Johnson (Jazz) e Luol Deng (Lakers).

Quem saiu: Dwyane Wade. Quem chegou: Wayne Ellington. É, meu amigo torcedor do Heat, eu sei que dói. Comparando assim de cara, é até um disparate. Com melhor diplomacia, mais jogo de cintura, Pat Riley poderia ter mantido Wade em Miami, sem dúvida. Agora… E se Riley, hã, por acaso, estiver certo nessa?

Vamos pensar por um instante: ainda que ele tenha disputado mais de 70 partidas de temporada regular pela primeira vez desde 2011, sua eficiência em quadra só vem diminuindo. Algo esperado, gente, para um ala-armador que foi um dos maiores atletas de sua geração e nunca desenvolveu seu arremesso de longa distância para compensar essa coisa infalível chamada envelhecimento.

Sim, Wade ainda é produtivo. Nos playoffs, conseguiu carregar a equipe nas costas uma última vez. E, sim, ele deu alguns descontos para o clube no passado, especialmente em 2010, para que LeBron e Bosh fossem contratados. Mas, veja bem: não é que só o Miami tenha se beneficiado nessa. O próprio Wade foi bem menos exigido com a chegada de mais duas estrelas, em vez de ficar sofrendo para tentar decifrar Michael Beasley.

Aos 34 anos, uma hora o fim vai chegar. E Riley simplesmente não estava disposto a pagar US$ 20 ou 25 milhões por ele. Foi uma traição? Foi desleal? Ou foi simplesmente pensando no melhor para o clube? Ou já nos esquecemos o que foram as últimas temporadas do Lakers com Kobe Bryant? A última campanha, especificamente, é algo que deve atormentar qualquer dirigente mais consciente.  Houve momentos comoventes, divertidos, surreais… E aqui está o Lakers no escuro, desamparado, sem nem mesmo conseguir uma reunião com Hassan Whiteside.

Para o pivô, era Heat ou Mavs. Ficou na Flórida, como um pilar para que a franquia se reconstrua. Sem a sombra de Wade, Goran Dragic vai assumir as rédeas do ataque e jogar mais ao seu estilo. A ameaça de pick-and-roll com Whiteside já é o suficiente para sustentar um bom ataque. Se Chris Bosh conseguir superar os temores por sua saúde e for liberado, é um núcleo para playoff. Se o pivô for barrado, vida que segue, com o clube contando com o progresso contínuo que os jovens atletas vêm apresentando.

Ainda vai levar um tempo para Justise Winslow ameaçar no ataque, mas sua presença em quadra já trás mais pontos positivos que negativos. Josh Richardson foi um tremendo achado no ano passado. Tyler Johnson obviamente não vale hoje os US$ 50 milhões que o Nets o ofereceu, mas tem potencial de sobra para eventualmente justificar o contrato ao final de sua duração. Reed será um ótimo reserva para Whiteside. E estou curioso para ver o que Derrick Williams pode render com Erik Spoelstra, tendo espaço para carregar uma boa carga ofensiva, correndo ao lado de Dragic e Whiteside.

– Orlando Magic
Quem chegou: Serge Ibaka, Bismack Biyombo, Jeff Green, DJ Augustin, Jodie Meeks, CJ Wilcox e Stephen Zimmerman.
Quem ficou: Evan Fournier.
Quem saiu: Victor Oladipo (Thunder), Ersan Ilyasova (Thunder), Brandon Jennings (Knicks), Dewayne Dedmon (Spurs), Andrew Nicholson (Wizards), Jason Smith (Wizards), Devyn Marble (Clippers) e Shabazz Napier (Blazers).

Só está faltando Mutombo de diretor em Orlando para a Conexão Congo ficar completa

Só está faltando Mutombo de diretor em Orlando para a Conexão Congo ficar completa

Está aqui um dos clubes mais enigmáticos da NBA. Com o gerente geral Rob Hennigan espera que Frank Vogel vá distribuir os minutos da linha de frente entre Ibaka, Biyombo, Vucevic, Green e Hezonja, é uma ótima pergunta.

Quando a equipe anunciou sua  troca surpreendente com OKC, já havia questionado o que a chegada do congolês significava para o jogador mais promissor do elenco, que é Gordon. Para mim, me parece claro que o futuro desse superatleta é como ala-pivô explosivo e dinâmico”, em vez de “ala forte, alto, mas muito mecânico, travado com a bola”. Ao adicionar também Biyombo, parece que o objetivo é empurrar o rapaz para o perímetro, mesmo. Mas aí o cara vai e me contrata Jeff Green também? Por US$ 15 milhões por um só ano? Que é mais do que Tobias Harris vai receber neste próximo campeonato? Difícil de entender isso.

Enquanto isso, sua back court está bastante enfraquecida. Ou Elfrid Payton dá um passo adiante, assumindo o controle de fato do ataque, ou talvez não adiante nada ter tantos pivôs e atletas estocados assim, sem que eles possam receber a bola. DJ Augustin encontrou seu rumo na liga, mas como pontuador vindo do banco, e não como o organizador que se esperava quando saiu da universidade. Fournier e Meeks oferecem arremesso de longa distância, mas vão se revezar em quadra, de modo que a quadra pode ficar bastante apertada também. A não ser que Ibaka jogue aberto o tempo todo.

O Orlando vai de técnico em técnico, de plano em plano, como se fosse um Phoenix Suns do Leste, querendo brigar pelos playoffs, mas sem cuidar direito de seus atletas mais jovens também. Com Skiles, a equipe teve seus momentos na temporada passada, mas perdeu rendimento rapidamente. O sargentão já não consegue motivar um grupo nem mesmo por um campeonato que seja. Nesse sentido, o acerto com Vogel não poderia ser mais positivo – os dois são completamente diferentes no trato com os atletas. O ex-treinador do Pacers, porém, será ainda mais testado do que foi na temporada passada. E isso foi com Monta Ellis, Rodney Stuckey, CJ Miles e Jordan Hill recebendo muitos minutos…

Washington Wizards (Atualizado nesta terça-feira, dia 19)
Quem chegou: Ian Mahinmi, Tomas Satoransky, Andrew Nicholson, Jason Smith e Marcus Thornton.
Quem ficou: Bradley Beal.
Quem saiu: Nenê (Rockets), Jared Dudley (Suns), Garrett Temple (Kings) e Ramon Sessions (Hornets).

Mahinmi e Gortat vão dividir a zona pintada no quintal de Obama

Mahinmi e Gortat vão dividir a zona pintada no quintal de Obama

O Wizards foi outro clube que, tal como o Lakers, passou um carão danado ao ser rejeitado de imediato por Kevin Durant, que não quis nem mesmo cogitar a possibilidade de jogar em casa. Isso depois de o clube ter se planejado por três temporadas, no mínimo, para tentar contratá-lo.

Ao levar um fora desses, o clube parece ter ficado um pouco desnorteado. Assinou, então, com Bradley Beal por aproximadamente US$ 130 milhões. Para um atleta que, aos 22 anos, nunca disputou mais do que 73 partidas em quatro temporadas de liga – sem que seu tempo de quadra se aproximasse dos 40 minutos também –, esse é um compromisso, e tanto, hein? Especialmente quando Beal era um agente livre restrito. Isto é, o trunfo era de Washington nesse caso, podendo agir com paciência, para saber qual a temperatura do mercado – mesmo que isso pudesse, a princípio, irritar jogador e agente.

Depois, sem ter mais onde por seu dinheiro, o proprietário Ted Leonsis validou a oferta por Ian Mahinmi (US$ 64 milhões por quatro anos, o mesmo valor de Mozgov & Lakers). O pivô francês é um ano mais jovem que o russo e jogou muito mais na temporada passada. Não foi um contrato descabido. O problema é que, hã, o Wizards já tem um pivô titular bastante competente, e não há como o reforço dividir a quadra com Marcin Gortat. Tanto que o clube se sentiu impelido ainda a investir em Nicholson e Smith, grandalhões que são ótimos arremessadores.

Um reforço mais interessante é o tcheco Satoransky, que chega após quatro depois de seu Draft. O armador de 2,01m de altura chega aos Estados Unidos na hora certa, aos 24 anos, tendo disputado partidas e competições importantes pelo Barcelona. Satoransky empresta versatilidade ao técnico Scott Brooks, podendo vir do banco de reservas para render John Wall, Beal ou mesmo Otto Porter.

Enquanto Wall se recupera de uma cirurgia no joelho (toc-toc-toc), a principal aposta de melhora em quadra talvez seja mesmo Markieff Morris, que pode contribuir ainda mais para o time vindo de training camp completo, desde que esteja com a cabeça no lugar. Vamos ver também como Scott Brooks se sai sem dois dois cinco melhores jogadores da liga em seu time.

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Jukebox NBA 2015-16: Houston Rockets, e essa coisa de química
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Giancarlo Giampietro

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Em frente: já estamos nos playoffs e o blog vai tentando fazer uma ficha sobre as 30 franquias da liga, apelando ainda a músicas, fingindo que está tudo bem. A gente se esbalda com o YouTube para botar em prática uma ideia pouco original, mas que pode ser divertida: misturar música e esporte, com uma canção servindo de trilha para cada clube. Tem hora em que apenas o título pode dizer algo. Há casos em que os assuntos parecem casar perfeitamente. A ver (e ouvir) no que dá. Não vai ter música de uma banda indie da Letônia, por mais que Kristaps Porzingis já mereça, mas também dificilmente vai rolar algo das paradas de sucesso atuais. Se é que essa parada existe ainda, com o perdão do linguajar e do trocadilho. Para mim, escrever escutando alguma coisa ao fundo costuma render um bocado. É o efeito completamente oposto ao da TV ligada. Então que essas diferentes vozes nos ajudem na empreitada, dando contribuição completamente inesperada ao contexto de uma equipe profissional de basquete:

A trilha: “I Am Chemistry”, Yeasayer

O Houston Rockets foi para a quadra nesta quarta-feira, em Oakland, sabendo que, de modo mais que improvável, uma grande porta lhe havia sido aberta. Podem até chamá-la de Porta da Esperança, se quiserem. O Golden State Warriors estaria sem Stephen Curry. Nesse quadrante dos playoffs, o cenário ficou ainda mais incerto (e interessante)  devido às desfiguração do Clippers, agora sem Chris Paul e Blake Griffin. Então que tal respirar fundo e tentar uma última vez colocar a casa em ordem? Estava bem em cima da hora, sim, mas dava tempo de reagir e tentar salvar uma temporada que avançou de modo turbulento, desde o training camp.

Qual foi a resposta, então, que eles deram? Contentar-se em apanhar do Warriors desde o tapinha inicial, mesmo. Com 12 minutos de jogo, o time da casa já vencia por 17 pontos, tendo anotado 37. Alguém aí falou em resistência, orgulho e seriedade? Nada: terminou 114 a 81, uma vergonha. E fim de papo, fim de suplício.

Aparentemente, só James Harden tinha interesse no jogo, na metade do jogo que lhe convém: o ataque, ao converter seis de seus primeiros sete arremessos. Àquela altura, seus companheiros haviam simplesmente errado todas suas 12 tentativas de cesta. Aí, meus amigos, com Shaun Livingston inspirado, Klay Thompson bombardeando, Draymond Green e Iguodala fazendo a bola girar, o estrago já era imenso. Foi um desfecho emblemático, aliás. Harden fazendo de tudo, mas por conta própria. E, mais tarde, nos últimos minutos, com a barba de molho, via Dwight Howard em ação, até os últimos segundos, sem a menor chance de reação. Algo até bizarro para a tradição da liga.

São vários pontos aqui:

1) Harden e Howard claramente não são os mais chegados, por mais que neguem publicamente. Diversas fontes, anônimas ou não, apontaram no decorer do ano que, no mínimo, os dois astros não se dão bem. Antes do All-Star Game, aliás, em conversas separadas com a diretoria, um teria pedido a cabeça do outro. Podemos citar aqui David Thorpe, analista do ESPN.com e, principalmente, treinador particular de Corey Brewer e alguém que tem longo relacionamento com a franquia, já que trabalha com Kevin Martin e Courtney Lee também. Outro que não fez muita questão de esconder esse trauma: Jason Terry, o tipo de veterano que sente que já não deve mais nada a ninguém e sai falando sem filtro nenhum. “Não tem química nenhuma neste grupo. É horrível para…”, esbravejou à frente de diversos jornalistas após uma derrota para o Portland, em fevereiro, sem que estivesse dando entrevista, marchando em em direção ao vestiário. Foi o último ano antes do intervalo para o All-Star Game. “Se você olhar bem, vai ver que a química do time não está do modo como gostaria, e espero que o descanso seja o que precisamos. Cada um indo para o seu lugar e se afastando. É como um casamento. Talvez você precise de um tempo distante para se acertar”, disse, pouco depois, mais calmo, mas ainda realista, pouco antes do jogo festivo em Toronto.

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2) Sobre Harden jogando sozinho: não foi assim desde sempre? Depois de fazer um ótimo campeonato em 2014-15, o Sr. Barba entregou novamente números aparentemente maravilhosos, mas em outro contexto, individualista demais, alienando os parceiros, Howard entre eles. Pode-se interpretar de duas formas essa vocação egoísta: o elenco não estava rendendo nada, mesmo, muito abaixo do esperado. Por outro lado, será que essa queda brusca não se deve justamente a uma falta de sintonia com Harden? Virou bola de neve.

Howard já não é mais a mesma figura imponente de cinco anos atrás. Vai ter seus espamos de quando em quando, mas não existe mais garantia de que possa dominar o garrafão diariamente. De todo jeito, é justificável que tenha sido diversas vezes ignorado por completo no ataque?

Harden ao ataque: não dá para resolver sozinho

Harden ao ataque: não dá para resolver sozinho

3) Ainda sobre Harden, recuperando também as informações passadas por Thorpe e que foram confirmadas em diversos relatos anônimos: o astro se apresentou ao training camp com Kevin McHale totalmente fora de forma. Pegou muito mal com boa parte do elenco, claro. Afinal, ele supostamente deveria liderá-los. Não só como um exemplo de conduta, mas essencialmente porque o sistema ofensivo do Rockets depende muito, mas muito mesmo de suas habilidades. Harden é o armador de fato do time e também seu principal cestinha.

Junte as peças: no ano anterior, Harden chegou voando ao time, depois de um papel de destaque pelo Team USA pela Copa do Mundo. Em 2015, ele ganhou as capas doa tablóides ao lado de sua namorada, Khloé Kardashian. Não vou eu julgar a moça, nem dar link para o TMZ, mas o que podemos dizer é que muita gente na NBA via nessas fotos um sinal de perigo. Fato é que, no início de campanha, ele não conseguiu render em alto nível. O time afundou junto. A crise era tão grande nos bastidores que o gerente geral Daryl Morey se sentiu obrigado a demitir McHale, que havia acabado de renovar seu contrato por três temporadas, com apenas 11 (!) partidas disputadas. Foi aquela tentativa básica de se gerar um fato novo e agitar as coisas. Ele se defende dizendo que, de esperasse um pouco mais, poderia ser muito tarde. Com a classificação obtida apenas na última noite da temporada regular, após 37 vitórias e 34 derrotas, pode ser o caso. Ou, numa outra trilha, com Harden recuperado, talvez o time pudesse ter reagido com McHale, mesmo, e jogado ainda mais. Vai saber.

Devido à demissão do to técnico de melhor aproveitamento na história da franquia, com 59,8%, à queda geral desempenho do elenco (alguém se lembra daquele tal de Terrence Jones, por acaso?) e ao desacerto com Ty Lawson, o dirigente foi duramente questionado. A principal linha foi a seguinte: taí o cara dos números se estrepando e aprendendo da pior forma que o basquete, que o esporte se faz na prática, na quadra, no vestiário.

Certo.

Em 2015, o Rockets teve gana e conseguiu virada impossível contra o Clippers. E aí?

Em 2015, o Rockets teve gana e conseguiu virada impossível contra o Clippers. E aí?

Mas como explicar que, praticamente com uma base idêntica, o Houston Rockets tenha chegado à final do Oeste pela temporada passada? Ele não montou aquele belo time seguindo as mesmas práticas? Além disso, o que dizer dos times que quase não dão bola aos números, contratam técnicos boleiros e se dão mal do mesmo jeito? Pois é: não cola esse argumento simplista e, de certa forma, revanchista.

É óbvio que a situação escapou do controle de Morey, McHale e Harden/Howard. O difícil é entender exatamente o que aconteceu. Como é possível que a química de um time se desfazer de forma tão abrupta? Pois é. Pode parecer chavão esportivo para muitos. Mas a harmonia de vestiário vai ser, na maioria dos casos, tão preponderante como o talento de seus jogadores, com números, grana para egos e diferentes currículos para administrar. Pode achar bobagem, mas, mesmo sem Curry, o Warriors avançou com tranquilidade, um ano depois de eles terem se enfrentado em uma final de conferência mais competitiva.

Daí que, além do título óbvio, que Walter White adoraria, a faixa do Yeasayer se encaixa também por sua formação: é mais uma das tantas bandas estabelecidas na onda semi-novo-eletrônica-multicultural-étnica do Brooklyn. Sendo, na minha modesta opinião, mais talentosa e, hã, harmônica do que 90% de seus, hã, pares.

Mas, bem, de volta a Houston. Não dá para colocar tudo na conta de Lawson, a grande novidade, coitado, a despeito de seus problemas pessoais sérios e do fiasco que resultou sua contratação. Em teoria, o baixinho chegaria para aliviar a carga de Harden, como uma segunda opção de criação, também acelerando ainda mais o ataque. Na prática, foi um desastre. Como podemos notar agora que veste a camisa do Indiana, o ex-condutor do Denver não tem conseguido repetir suas melhores atuações. Parece ter virado um armador qualquer. Mesmo se estivesse voando, porém, sua parceria com Harden não funcionou taticamente, e não por um dilema inédito na história do esporte: ambos entregam mais quando estão com a bola. E, por mais que se esperneie, só há uma bola em jogo.

McHale demorou para enfrentar a questão. Poderia ter separado os dois o máximo possível, desde os primeiros jogos. Quando o barbudo fosse descansar, que Lawson fosse acionado para controlar o show. A questão é que, mesmo quando essa estratégia foi posta em prática, não funcionou tão bem. Como quase tudo o que foi tentado durante a campanha: a seleção de Sam Dekker, sabotado por lesões, a queda de McHale, a volta de Josh Smith, a troca vetada de Motijeunas e Thompson com o Detroit, entre outras cortadas. Ao menos, em seu retorno da China, Michael Beasley deu saudável contribuição ao ataque, mesmo que na defesa a história seja outra.

Quase ninguém entende exatamente o que rolou em Houston

Quase ninguém entende exatamente o que rolou em Houston

Foi uma espiral de desencontros. Agora o clube vai ter de juntar os cacos e ver quais as possíveis soluções. Daryl Morey está garantido pelo proprietário, Les Alexander. Mas parece pouco provável que Bickerstaff seja efetivado, mesmo que tenha cumprido sua missão numa situação muito desconfortável, como um interino de um time fragmentado. Jeff Van Gundy, técnico do time de 2003 a 2007, e Luke Walton já foram sondados e serão entrevistados.

Em relação ao vestiário, a primeira dúvida é a permanência de Howard, que vai exercer cláusula contratual e entrar no mercado. Aos 30 anos, não está tão velho assim. Mas não dá relevar seus problemas crônicos nas costas e joelhos, que são resultado de 12 anos de liga. Ou seja: são 30 anos de idade, mas com milhagem de veterano que pulou diretamente do high school para a NBA. Sem contar a reincidência no quesito disciplinar: lidar com Harden, pode não ser fácil, mas o pivô também acumula desafetos ou gente desconfiada desde Orlando. Kobe que o diga.

O Sr. Barba também vai ter de passar seu ano a limpo. Fechar o ano com 29,0 pontos, 7,5 assistências e 6,1 rebotes não é de se fazer desfeita. Com estas médias, veja quem lhe faz companhia. Bateu 837 lances livres, ou 174 a mais que o segundo, Boogie Cousins. Não dá para acusá-lo de omissão. O cestinha, que tanto quis sair da sombra se Durant e Westbrook, precisa entender que nem tudo é sua responsabilidade. Não precisa, nem deve tentar fazer tudo sozinho. Tampouco pode esperar que o controle de 100% das ações no ataque vire 10% de compromisso na defesa, sem achar que o desequilíbrio nessas ações vá gerar consequências. Acho que isso ficou claro na última partida do calendário. Daqui a alguns meses, ele poderá reencontrar os companheiros de seleção e se lembrar de como é que se faz.

“Já lido com isso há bastante tempo. Você vai enfrentar todos os tipos de adversidade. O modo como as enfrenta é o sinal de que tipo de time você tem. Nosso time não foi forte o bastante mentalmente para enfrentar essas adversidades e aprender. Fica uma lição para Harden. Como estrela da equipe, você tem de enfrentar certas questões e ainda ser capaz, mentalmente, de elevar seu jogo junto com seu time e levá-lo até onde você quiser que ele vá”, disse Terry, ainda em Oakland, nesta quarta.

São tantas coisas para o Rockets resolver que nem vai dar tempo de acompanhar o desfecho da temporada. O Trail Blazers vai se aproveitar dos desfalques dos concorrentes? O Warriors vai resistir? O Rockets poderia, mas se recusou a discutir e se envolver com as respostas. Melhor evitar. Antes de se meter em ponderações, nada como o Caribe. Ninguém é de ferro.

A pedida? A essa altura, o clube só espera que possa contratar um técnico que consiga se comunicar com Harden (e Howard?) e tirar o máximo de um dos jogadores que é um dos cinco melhores da liga

A gestão: é… Depois de tanto tempo em que Daryl Morey tripudiou em cima da concorrência — sem tantas provocações, que fique claro, mas rapelando praticamente todo mundo em uma mesa de negociação da liga. Basta revisitar a troca por James Harden. Que tenha pago Kevin Martin, Jeremy Lamb e duas escolhas de Draft (que se transformaram em Steven Adams e Mitch McGary) e uma de segunda, é uma das maiores barganhas que podemos listar aqui.

Morey, dos cartolas mais inquietos da NBA

Morey, dos cartolas mais inquietos da NBA

Mas teve muito mais:

– em 2007, sabendo que Vassilis Spanoulis não queria saber mais dessa brincadeira, mandou seus direitos e uma escolha de segunda rodada e acolheu Luis Scola, quando a lenda argentina enfim deixou o basquete espanhol para se testar contra os melhores atletas do mundo;

– em fevereiro de 2009, em mais uma troca tripla, mandou Rafer Alston para Orlando e recebeu, de Memphis, o ala-pivô Brian Cook e Kyle Lowry.

– em fevereiro de 2010, sabendo a ânsia que o Knicks tinha para limpar salário e correr atrás de LeBron James, Chris Bosh e Dwyane Wade no mercado, conseguiu extorquir Donnie Walsh: mandou o restinho de contrato de um quebrado Tracy McGrady para NYC e recebeu Jordan Hill (ainda visto como um pivô promissor e que renderia dividendos no futuro), Jared Jeffries e uma escolha de primeira rodada (desperdiçada em Royce White, é verdade). Além disso, ainda arrastou o Sacramento Kings para a troca tripla e recebeu Kevin Martin, que era muito mais produtivo que T-Mac àquela época e, depois, seria peça central para receber Harden;

Seu retrospecto na segunda rodada do recrutamento de calouros também é invejável: Steve Novak (número 32, em 2006), Carl Landry (31 em 2007), Chase Budinger (44 em 2009) e Chandler Parsons (38 em 2011), e ainda precisa ver se Sergio Llull (34 em 2009) vai aceitar um dia se despedir de Madri. Se você acha pouco, basta fazer uma pesquisa, ano a ano, para ver o quanto se aproveita na segunda metade dos Drafts… Em relação à primeira rodada, Aaron Brooks (26 em 2007 e que, mais tarde, renderia Goran Dragic e uma escolha de Draft), Patrick Patterson (14 em 2010) e Clint Capela (25 em 2010) foram alguns sucessos. Terrence Jones ainda é uma incógnita, enquanto Marcus Morris não foi bem aproveitado.

(Agora, claro que o cara não é infalível. Uma troca equivocada em 2010 foi quando mandou uma escolha de primeira rodada para o Nw Jersey Nets para apostar em mais um cabeça-de-vento como o ala Terrence Williams. No mesmo ano, trocou Trevor Ariza por Courtney Lee. Depois, mandou Courtney Lee para Boston sem receber nada de valor em troca, a não ser uma escolha de segunda rodada – que, de todo modo, também foi no pacote por Harden e se transformou em Alejandro Abrines. O fato de ter ido atrás de Ariza depois mostra arrependimento. A aquisição dos direitos de Jermaine Taylor e Joey Dorsey pela segunda rodada do Draft também não colou. Royce White foi um fiasco no Draft de 2012.)

Se for para filtrar toda essa enxurrada de transações, o saldo é bem positivo. Tudo parecia correr direitinho. No ano passado, o projeto com Harden-Howard rendeu ao time sua primeira final de conferência desde a era Olajuwon. Um ano depois, porém, está à procura de novas respostas.  Vamos ver no que dá. Não esperem que ele fique parado.

Olho nele: Patrick Beverley

Beverley, de novo

Beverley, de novo

Temos aqui um caso que desafia qualquer nomenclatura: na defesa, o camisa 2 vai defender armadores de um lado e, do outro, vocês sabem, se desloca para o lado, sendo mais um chutador à espera de definições do barbudo. Já que Harden domina a bola, ao seu lado, na backourt, Beverley acaba sendo um complemento perfeito, ainda mais agora que atingiu o aproveitamento de 40% nos tiros de três pontos, ajudando a espaçar a quadra para as infiltrações do craque do time.  Funciona melhor em comparação com Ty Lawson. O que não quer dizer que seja um jogador superior.

Mas seu ganha-pão ainda é a defesa, o que deixa a parceria com Harden ainda mais conveniente em termos táticos. Contumaz, ágil com os pés e as mãos, desperta a ira dos mais esquentadinhos e recebe elogios e respeito daqueles que sabe como essas coisas funcionam para aqueles que nem sempre foram vistos como estrela, como Draymond Green, que foi fazer a escolta de Steph Curry depois de ele e Beverley terem se enroscado no primeiro tempo do Jogo 1. “Você meio que espera isso de um cara como Pat. Foi o modo como ele construiu sua carreira na liga. Agora ele ganhou seu contrato, mas ainda joga do mesmo jeito. E eu o respeito que ele se mantenha fiel ao seu estilo. Ele não foge disso”, disse o ala-pivô.

trading-card-pippen-rockets-1999Um card do passado: Scottie Pippen. Sabe essa história de se montar supertimes, com múltiplos candidatos certeiros ao Hall da Fama? Definitivamente não começou com os superamigos de Miami. nem com o Los Angeles Lakers de Kobe, Gasol, Nash & Howard, aquele fiasco retumbante. São várias as tentativas no decorrer da história da NBA, e o Houston Rockets da temporada 1998-99 (que, na verdade, só foi disputada em 99, mesmo, devido a estes lo(u)cautes da vida…) é um desses casos, lembrando bastante o caos vivido por L.A. em 2012-13.

Pippen não queria ver a diretoria do Chicago Bulls nem mesmo se o gerente geral Jerry Krause estivesse dirigindo um carro-forte cheio de barras de ouro. O ala era a frustração encarnada devido ao seu contrato realmente pífio — e à recusa do clube de renová-lo — e só não havia forçado sua saída da franquia anos antes graças aos apelos de Michael Jordan e Phil Jackson. Quando os dois partiram, o ala foi junto, aceitando uma proposta do Rockets. Lá, jogaria ao lado de Hakeem Olajuwon e Charles Barkley, assumindo a vaga aberta pela aposentadoria de Clyde Drexler. A negociação despertou tanto interesse que rendeu a Pippen uma capa da Sports Illustrated, a única de sua carreira para a qual posou solitário. O time nunca rendeu aquilo que o técnico Rudy Tomjanovich esperava, a despeito das 31 vitórias e 19 derrotas, que renderam apenas o quinto lugar na conferência. Nos playoffs, o Rockets foi eliminado já na primeira rodada por um Lakers ainda pré-Phil Jackson, por 3 a 1. Só não foram varridos devido à melhor atuação de Pippen pelo time, somando 37 pontos e 13 rebotes no Jogo 3.

Pois o hexacampeão nem perdeu tempo. Dias depois da eliminação, comunicou ao clube que não havia mais clima para ele ficar lá. Queria ser trocado, afinal de contas. Barkley não perdoou: “Ele querer sair depois de uma temporada é uma grande decepção. O clube fez de tudo para contratá-lo, os torcedores o trataram tão bem”. Acontece que o que Chuckster não contou foi que ele era justamente a principal razão para o descontentamento de Pippen, que diria: “Não pediria desculpas a Charles Barkley nem mesmo sob a mira de uma arma. Ele jamais poderia esperar desculpas de mim. Na verdade, acho que ele me deve desculpas por ter se apresentado para jogar com sua bunda gorda”. Ouch. Problemas de quê? Relacionamento… Química, claro. Além de gordura localizada, no caso.

Naquele ano, a temporada começou muito tarde. Não foi só Barkley que chegou fora de forma para jogar o campeonato. Foram dezenas de atletas nessas condições, o que arranhou, e muito, a imagem do sindicato, que havia se metido numa briga ferrenha com os proprietários pela divisão de lucros da liga. Por outro lado, segundo dizem por aí, os jogadores do San Antonio, time que ganharia seu primeiro título, chegaram voando. Eles teriam se reunido na cidade mesmo semanas antes da resolução do lo(u)caute, de modo informal — ou “pirata”, mesmo, como você preferir — para treinar com Gregg Popovich. As atividades estavam proibidas.

Pressionado, o Rockets mandou Pippen para Portland, em troca de um pacote que não empolgou muito: Stacey Augmon, Kelvin Cato, Ed Gray, Carlos Rogers, Brian Shaw e Walt Williams. Cato, pelo menos, faria parte do pacote futuro que levaria Tracy McGrady à equipe.

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Harden evita varrida, Howard em suspense e mais notas de um jogo maluco
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Giancarlo Giampietro

James Harden também tem coração

James Harden também tem coração

Algumas notas sobre o jogo maluco que foi a vitória do Houston Rockets sobre o Golden State Warriors nesta segunda-feira, por 128 a 115, evitando uma varrida?

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James Harden simplesmente não merecia se despedir de uma partida desta maneira e fez questão de prolongar a temporada do clube texano por conta própria, com 45 pontos, 9 rebotes, 5 assistências, 2 tocos, 2 roubos de bola e 7 bolas de três pontos, em 40 minutos, convertendo 13 de 22 arremessos. Foram 33 pontos no segundo tempo. Tudo verdinho:

James Harden, shot chart, Game 4, Warriors

Uma atuação digna de um franchise player, de um dos cestinhas mais mortais que se vai encontrar por aí. Qualidades que lhe valeram a segunda colocação na votação para MVP. Ainda assim, tenho essa incômoda sensação de que, de modo geral, não se respeite tanto assim o que o Sr. Barba faz em quadra. Talvez por sua capacidade para buscar o contato e sofrer faltas… Talvez pela aparente falta de expressão (afinal, a massa capilar meio que cobre tudo, mesmo)… Enfim. Ou, de repente, ele já é venerado, e esse parágrafo todo foi um desperdício de tempo.

De qualquer forma, David Hardisty, do blog Clutch Fans (dedicado ao Rockets), fez um exercício interessante. Cronometrou o quanto durou a sessão de perguntas e respostas tanto de Harden como de Curry no pós-jogo. O armador do Warriors falou por sete minutos. A entrevista do ídolo local durou 1min35s. “O tombo será a história de veiculação nacional para este jogo”, registrou.

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Resumo dos acontecimentos: 1) Josh Smith desembestado; 2) 45 pontos no primeiro quarto para o Rockets (depois de terem marcado 37 no primeiro tempo do Jogo 3… Se tivessem mantido o ritmo, teriam marcado 180 pontos na partida; 3) 22 pontos de vantagem abertos no início do segundo período; 4) Steph Curry busca o toco, passa por cima de Ariza, cai de modo assustador em quadra, batendo a cabeça e deixando todos, absolutamente todos aflitos; 5) Golden State baixa para até sete pontos o placar já nesta parcial; 6) Harden acerta um arremesso de seu garrafão, logo após um rebote ofensivo (abaixo). Tudo isso em 24 minutos. Ok, o que mais faltava? Claro que era uma tempestade em Houston, segurando muitos torcedores no Toyota Center, para que eles pudessem ponderar sobre o quão aleatórios podem ser os acontecimentos da vida. : O

(Como Jeff Van Gundy disse, um chute desses deveria ser validado, não importando que o cronômetro já tivesse zerado. E digo mais: não só deveria valer, como deveria contar cinco pontos no mínimo. Que absurdo.)

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O Houston Rockets agora tem quatro vitórias em partidas nas quais precisava evitar a eliminação. Qualquer perspectiva de uma virada miraculosa contra o poderoso Golden State Warriors, porém, passa pela decisão do departamento técnico da NBA sobre Dwight Howard. O irritadiço pivô pode ser suspenso.

Os oponentes sabem o quanto ele pode perder a compostura facilmente. Tyson Chandler já o deixou no limite na primeira rodada. Agora foi a vez de Andrew Bogut. No empurra-empurra tradicional do garrafão, o australiano primeiro empurrou o pivô da casa, que, ao se virar para a bola e a transição defensiva, soltou o braço na direção do adversário. A arbitragem deu falta flagrante 1.

Se você for comparar este lance com dois episódios recentes dos playoffs, fica bem clara uma incoerência na marcação. É quando a famigerada interpretação entra para causar discórdia.

Vejamos a agressão de JR Smith em Jae Crowder, no último jogo da série Cavs x Celtics, que resultou na suspensão do ala por duas partidas:

(Smith acerta o adversário em cheio, com mais força, mas o movimento é parecido.)

E agora o ato de quase-fúria de Al Horford para cima de Matthew Dellavedova, hoje o jogador mais odiado em toda a Conferência Leste, que causou sua expulsão do Jogo 3:

A NBA vai certamente revisar o rolo entre Howard e Bogut. Caso cedida elevar a falta para flagrante 2, o pivô do Rockets será suspenso automaticamente do Jogo 5 em Oakland, por ter acumulado quatro pontos nesse tipo de incidente.  As regras são as seguintes: cada falta flagrante gera um ou dois pontos de penalização para um atleta, dependendo de seu grau. A partir do momento que o jogador passar dos três pontos, receberá um gancho de uma partida, independentemente de já ter sido excluído em quadra.

Ex-vice-presidente da NBA e chefe do departamento técnico, o treinador Stu Jackson afirmou acreditar em uma suspensão para Howard. “A falta flagrante provavelmente vai ser elevada. Foi uma ação temerária e fez contato com a cabeça. Foi um contato muito mais severo que o da falta flagrante de Horford”, afirmou. “Lembrem-se que a avaliação da falta flagrante não tem a ver com intenção. É uma regra em relação a ação e contato.”

“Espero que não”, diz Howard. “Mas não tem muito o que possa fazer a essa altura. Nunca é minha intenção machucar alguém em quadra. Minha reação foi apenas de tentar me livrar dele, mas não posso reagir desta maneira.”

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Caso seja realmente suspenso, ao menos Dwight Howard deu uma compensada com a torcida. Por morar num subúrbio distante do Toyota Center, o pivô não conseguiu sair imediatamente. Disse que as vias estavam interditadas devido ao temporal lá fora – foi como se a natureza pudesse sentir toda a turbulência deste Jogo 4 e resolvesse descarregar uma tempestade na cidade. Coisa de maluco:. Depois de banho tomado, entrevistas concedidas, voltou para a quadra para trocar uma ideia com alguns torcedores e curtir um pouco de música. Relatos da mídia de Houston, aliás, dão conta de que o sistema de som da arena tocou, até com certa ironia, “Purlpe Rain”, o clássico de Prince.

Numa relax, numa boa

Numa relax, numa boa

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Cadê o grito da galera?

Mais: o telão central do ginásio divulgou uma mensagem enquanto o jogo ainda estava em andamento, recomendando que os torcedores permanecessem em seus lugares, por precaução devido ao péssimo clima lá fora. Serviço.

Toyota Center, weather, Houston, storm

E outra sobre a torcida: os aplausos no momento em que Steph Curry saía de quadra após sua assustadora queda foram louváveis. Afinal, era o craque que havia despedaçado seus corações há duas noites e, na brincadeira, mandou um torcedor mais agitado se sentar.

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Curry, aliás, disse que não tem o menor interesse de ver o vídeo de seu capote, passando por cima de Ariza numa tentativa de toco. “Uma vez já foi o bastante”, afirmou. O armador passou por diversos exames e testes no vestiário até ser liberado de volta ao jogo, depois de constatada uma contusão na cabeça – contusão que não gerou concussão. Ele, Steve Kerr e a diretoria do Warriors asseguram que não havia o menor risco para que continuasse na partida. Depois de um airball e de levar um toco no perímetro, o MVP passou a pontuar com a naturalidade de sempre, mesmo. Importante dizer que há um protocolo bastante rígido hoje em vigência por parte da NBA para a avaliação de possíveis sintomas de concussão cerebral. A avaliação é isenta, independentemente do jogo ou do personagem envolvido.

Stephen Curry, Warriors, Rockets, queda, fall

A queda

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Juntos, Rockets e Warriors acertaram 37 de 78 arremessos de três pontos, estabelecendo um recorde para os playoffs da NBA. O aproveitamento foi de 47,4% no geral, com 52,1% para o time da casa. James Harden matou 7 em 11, superando Curry dessa vez (6-13, o mesmo número de Klay Thompson, que enfim fez uma partida para justificar o apelido de Splash Brothers). O recorde anterior dos mata-matas era de 33 acertos em 54 chutes de longa distância, envolvendo curiosamente o mesmo Rockets e o finado Seattle Supersonics, em 1996. Eventual vice-campeão da liga, perdendo para o histórico Chicago Bulls das 72 vitórias, o Sonics matou 20 em 27 tentativas, com rendimento de 74,1%.


Derrocada do Clippers começou muito antes da virada do Rockets
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Giancarlo Giampietro

Howard segue em frente. Blake parou pelo caminho

Howard segue em frente. Blake parou pelo caminho

O Houston Rockets foi o primeiro time desde 2006 a sair vencedor de uma série depois de ficar em desvantagem por 3 a 1, tomando duas surras em Los Angeles e perdendo o primeiro jogo sem um tal de Chris Paul em quadra. O que a gente tira desse resultado?

Que foi um colapso homérico do Clippers, claro.

Mas como entender uma façanha, para os texanos, ou um vexame desses, para os californianos? Resumir a um termo até meio chulo como “amarelão” não cola. Afinal, dá para questionar a seriedade, a determinação ou força mental de um time que venceu agora há pouco o Spurs em San Antonio. Duas vezes. Por mais que tenham relaxado demais no Jogo 6, com a vitória praticamente garantida, fato é que perderam três partidas consecutivas para um rival aparentemente dominado, tendo imposto um saldo de 68 pontos nas primeiras quatro partidas.

O técnico David Thorpe, analista da ESPN e mentor de uma extensa lista de atletas da liga, entre eles o ala Corey Brewer e Kevin Martin (um atual jogador do Houston e outro ex-integrante), mandou a seguinte mensagem no Twitter após a virada improvável: “Pessoal, se vocês algum dia questionaram o quanto os executivos causam impacto em grandes times, agora já sabem. O Rockets venceu esta série na sala da diretoria”. Parece a melhor resposta, mesmo.

Banco? Qual banco?

Banco? Qual banco?

Não vamos perder tempo aqui discutindo quem é melhor em quadra: Harden, Howard, Paul, Griffin, Jordan… São todos talentos de ponta. Ambos os times fizeram campanhas excepcionais, empatados com 56 vitórias e 26 derrotas. Tudo podia acontecer na série. Em termos de técnico, o Clippers tinha uma presumida a vantagem, contando com Doc Rivers, um dos poucos campeões da liga ainda em atividade. Um excelente treinador, que comandou o ataque mais eficiente da temporada. Mas que foi sabotado pelas decisões do presidente o clube. No caso, ele próprio.

O Clippers tem a segunda folha salarial mais cara da liga e um dos quintetos iniciais mais fortes da liga, se não o mais forte. Concorre lá em cima com o time titular de Spurs, Warriors e Cavs em termos de rendimento. Mas essa galera não teve quase nenhuma ajuda durante uma maratona de temporada, que culminou com as duas séries mais desgastantes destes playoffs. O que fica mais claro, mesmo, é a diferença no projeto de ambos os clubes, prevalecendo a estrutura dos texanos, mais inquietos, ativos na liga, em detrimento de um oponente que se exauriu em quadra devido aos recursos escassos que tinha em quadra.

estatisticas-banco-clippers-doc-rivers-2015No total, durante 14 jogos da fase decisiva, ou 3.360 minutos disponíveis, os reservas do Clippers receberam apenas 926 (27,5%). E aqui estamos contando toda a carga de Austin Rivers, o jovem ala-armador que começou duas partidas como titular no lugar de um Chris Paul lesionado. Confira nas tabelas ao lado a diferença de produção dos reservas entre os quatro semifinalistas do Oeste. A segunda unidade do Clippers não lidera nenhuma categoria, mesmo com os minutos a mais abertos pela lesão muscular de seu principal armador. Se nos números totais, o time aparece com destaque, isso se deve apenas pelo fato de terem feito duas séries de sete jogos. Em médias absolutas de quatro estatísticas básicas, os substitutos não aparecem não lideram nenhuma coluna. (Os asteriscos aqui: Memphis também perdeu Mike Conley Jr. por três partidas, dando mais minutos a Beno Udrih e, principalmente, Nick Calathes, enquanto, no Rockets, estou contando Terrence Jones como o reserva, por ter encerrado o duelo passado desta maneira).

Tá certo: o Clippers, mesmo com esse plantel limitado, ficou muito perto de eliminar o Houston. Tinha uma vantagem de 19 pontos no terceiro quarto do Jogo 6, em casa. Depois de ter batido o San Antonio Spurs, os atuais campeões, a equipe que é exemplo quando o assunto é explorar todas as peças disponíveis. Justamente, não? Isso só reforça o problema. A série contra os compadres de Tim Duncan já foi muito exigente. Mas era apenas a primeira etapa.

O que levou o mesmo David Thorpe a trocar mensagens de texto com Corey Brewer durante o sétimo jogo no Staples Center, cujo conteúdo agora foi revelado. “Nós dois pensávamos que acabaria o gás do Clippers. O importante era não deixar que abrissem 3 a 0”, escreveu. Quer dizer: está aqui um técnico muito bem conectado, que já trabalhou com dezenas de atletas profissionais de alto nível e recebeu/recusou diversas propostas da liga, falando com um de seus pupilos, e os dois meio que admitindo que, tivesse a equipe californiana um banco melhor, muito provavelmente o Rockets não teria a mínima chance de evitar uma varrida. Mas não era o caso, e o Rockets conseguiu um triunfo apertado no Jogo 2 por 115 a 109 para estender um pouco mais o confronto. Deu no que deu. Na verdade, não foi um colapso, não foi súbito – e, sim, um desmoronamento gradativo.

Uma sucessão de erros
E aí vale dissecar a formação de ambos os elencos. É aqui que se escancara a diferença no projeto de ambos os clubes, prevalecendo a estrutura de Houston – tido nos bastidores da liga como “um clube grande” –, com lideranças irrequietas, em detrimento de um oponente que se exauriu em quadra devido aos recursos escassos que tinha em quadra. Algo difícil de entender considerando que a parte mais difícil já havia sido feita: quando Doc herdou o Clippers de Neil Olshey, já tinha um timaço, com as estrelas garantidas, com Paul, Griffin e Jordan sob contrato.

Dos atuais titulares, o único que chegou sob a chancela do novo manda-chuva foi JJ Redick. Um belo reforço, mas cujos desdobramentos já foram um tanto suspeitos. Para ter o ala, foi orquestrada uma troca tripla com Bucks e Suns, que custou ao clube um prodígio como Eric Bledsoe e mais uma escolha de segunda rodada do Draft. Bledsoe já não aguentava mais ser reserva de CP3 e estava prestes a virar agente livre. Precisava sair, mesmo. Mas ainda era uma excelente moeda de troca. Então não é que Redick tenha vindo de graça, numa barganha. Além disso, nessa mesma transação, o clube recebeu Jared Dudley. O ala fez uma péssima campanha inaugural em Los Angeles, é verdade, mas foi dispensado rapidamente por questão de economia, para escapar de multas pesadas em cima da folha salarial. Daí que, neste campeonato, foi um dos líderes do surpreendente Milwaukee Bucks. Para se desfazer dele, Doc pagou mais uma escolha de Draft, dessa vez de primeira rodada. Um desastre, fruto de impaciência e de um conflito de interesses quando você é o técnico e o dirigente. O treinador quer peças para agora. O dirigente precisa cuidar do que vem pela frente.

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É aí que entram as escolhas de Draft. Mercadorias importantíssimas na NBA de hoje devido ao baixo salário que os calouros recebem. É a grande chance de se contratar jogadores bons, para compor a rotação, pagando pouco. Ainda mais no caso de um Clippers que já paga US$ 48 milhões para seus três principais atletas – e espera pagar ainda mais, na hora de renovar com Jordan. Acontece que não só o técnico-presidente saiu gastando picks por aí, como também não soube aproveitar as que tinha. Em 2013, optou pelo ala Reggie Bullock – um cara vindo de North Carolina, com fama de bom chutador e defensor, o tipo de operário que se encaixaria perfeitamente no atual sistema. Depois de 658 minutos em uma temporada e meia, aos 23 anos, Bullock foi repassado para o Phoenix Suns na transação por Austin Rivers. Neste ano, foi a vez do ala CJ Wilcox, de Washington. Um senior, supostamente pronto para contribuir. Pois o cara terminou a temporada regular com 24 anos (é cinco anos mais velho que Bruno Caboclo, para se ter uma ideia) e apenas 101 minutos de tempo de quadra, em 21 jogos. Inexplicável – a não ser que a diretoria já esteja pronta para considerá-lo um fracasso, o que pegaria muito mal.

Farmar e Hawes: pareciam nomes certos, até que...

Farmar e Hawes: pareciam nomes certos, até que…

Por estar acima do teto salarial, restava a Rivers outras duas alternativas além do Draft para reforçar seu time: as exceções (midlevel e biannual) que cada franquia recebe para efetuar contratações, desde que tenha flexibilidade econômica para tal – que não tenham extrapolado qualquer limite do bom senso de acordo com as regras da liga, basicamente. Os alvos foram Spencer Hawes e Jordan Farmar. Bons nomes. Hawes foi cobiçado por muita gente no mercado, enquanto Famar tinha experiência de playoff e vinha de excelente jornada pelo vizinho Lakers. Acontece que, aí, quem falhou foi o treinador. Em nenhum momento a dupla de agentes livres se sentiu confortável, com dificuldade para mesclar suas habilidades com as do núcleo já pré-estabelecido. Com o quinto maior salário do elenco (mais de US$ 5 milhões), Hawes participou de apenas oito das 14 partidas nos mata-matas e recebeu 57 minutos. Só entrava em caso de extrema emergência, ou com o placar resolvido. Uma bomba. Farmar? Foi dispensado no meio do campeonato após desavenças com o comandante. O que não vai impedi-lo de embolsar boa parte dos US$ 4,2 milhões de seu contrato, mesmo que já esteja em ação na Turquia.

Sem muito mais dinheiro ou alternativas para investir e sem confiar nos atletas mais jovens, restou a Rivers apelar a veteranos para compor seu elenco de apoio. Caras de salário mínimo, que estivessem sobrando no mercado. Acontece que, neste campeonato especificamente, não pintou nenhum PJ Brown ou Sam Cassell no mercado. Vieram nessa, então, Glen Davis, Hedo Turkoglu, Epke Udoh, Chris Douglas-Roberts, Nate Robinson, Lester Hudson, Jordan Hamilton e Danthay Jones. Só Big Bagy e o truco (pasme! já é um ex-jogador em atividade) foram aproveitados na rotação – o que é surreal da par. CDR saiu junto de Bullock. Robinson estava contundido e deu lugar a Hudson. Jones carregou o Gatorade, enquanto Hamilton, que vinha bem na D-League, teve o azar de sofrer uma lesão. Em suma: nada deu certo.

Do outro lado, o Rockets
Vocês sabiam que o finalista do este custa US$ 13 milhões a menos que o time que acabou de eliminar, mesmo contando com dois superastros e com um elenco capaz de suprir as lesões de seu armador titular e de um pivô lituano em franca evolução? Pois então. Para montar este grande time, o gerente geral Daryl Morey precisou mover mundos e fundos. Não foi uma herança.

Padrinho da comunidade nerd da NBA, Morey manipulou sua folha salarial com visão de longo prazo, sabendo também dosar agressividade e paciência, números e scout. Ao mesmo tempo. Cansado de ver um time medíocre morrer na praia, seja numa primeira rodada de playoff, ou mesmo já na temporada regular devido a uma forte concorrência no Oeste, o dirigente se envolveu em uma série de negociações disposto a acumular jogadores de potencial e relativamente baratos, além de ter acertado a mão na maioria de suas escolhas de Draft. O elenco seguia competitivo – para não desagradar ao departamento financeiro e torcedores –, ao mesmo tempo que se posicionava para uma eventual troca de impacto. Foi quando Sam Presti topou uma oferta hoje risível por James Harden (Kevin Martin, Steven Adams, Jeremy Lamb e Mitch McGary, mais os direitos sobre o ala Alejandro Abrines, do Barcelona).

Morey batalhou os telefones para ter Harden em Houston

Morey batalhou os telefones para ter Harden em Houston

Com o Sr. Barba no elenco, ficou mais fácil de convencer Dwight Howard a virar as costas para o Lakers no mercado de agentes livres. Não dá para subestimar um movimento desses – qual foi o último craque a largar Hollywood desta maneira? Kobe pode ter dado uma boa força ao empurrar o pivô para fora de sua franquia, mas o fato é que o clube texano estava muito bem posicionado, técnica e financeiramente, para fechar o negócio.

E o que mais? Trevor Ariza veio praticamente pela metade do preço de Chandler Parsons, num negócio da China, de deixar Yao Ming todo pimpão. O ala campeão pelo Lakers em 2009 não só marca muito mais, como tem um estilo de jogo que casa melhor com Harden e Howard, dois jogadores que controlam a bola no ataque. Jason Terry e Pablo Prigioni chegaram em trocas periféricas, pouco discutidas, mas que hoje se mostram importantíssimas depois da lesão de Patrick Beverley (que veio, lembrem-se, do basquete russo, para vaga que um dia pertenceu a Scott Machado). Corey Brewer custou uns rocados, Troy Daniels e duas escolhas de segunda rodada de Draft, com restrições. Terrence Jones foi draftado, assim como o caçula Clint Capela, de apenas 20 anos e jogando minutos importantes contra o Mavs na primeira rodada. O suíço, o ala-armador Nick Johnson e o ala KJ McDaniels podem render para o futuro, ou serem envolvidos em futuras trocas. De negócios por ora mal-sucedidos, temos Kostas Papanikolau, ala da seleção grega e titular do Barça que não rendeu o esperado, e Joey Dorsey, alguém até decente para ter como o quinto na rotação de grandalhões – mas cujo contrato custou ao time o novato Tarik Black, outro achado no mercado do departamento de scouts. Ah, claro, e o Josh Smith: de graça e compadre de Dwight Howard. Valeu, Stan.

Não quer dizer que Houston também não erre feio. Pagou US$ 9,2 milhões em salários de jogadores que nem foram utilizados durante a temporada: Luis Scola (ainda!), Francisco Garcia, Jeff Adrien e Francisco Garcia. A maior bolada pertence a Scola, superior a US$ 6 milhões, no último ano de um contrato anistiado por Morey em 2012. Agora, se o dono Les Alexander libera sua diretoria para assinar cheques sem pestanejar, esse prejuízo deve ser relativizado. Além disso, o simples fato de o cartola ter se desfeito dessa para montar um elenco que julgava melhor já dispensa o uso de um eletroencefalograma. Se há algo que não se pode reclamar em relação ao gerente geral, é de esmorecimento ou passividade. Morey ouviu um não de Chris Bosh, contratou e trocou Jeremy Lin. Cedeu Kyle Lowry ao Toronto. Não fechou com Goran Dragic quando o preço era mais baixo. Mas fechou tantos, mas tantos negócios bons que chegou uma hora em que o zum-zum-zum nos corredores da liga era o de que seus pares se sentiam intimidados na hora de negociar com ele. Temiam tomar uma rasteira, sem nem perceber o que estava acontecendo.

Em Los Angeles, Doc já não tem nem muito o que discutir com a concorrência.  A não ser que esteja disposto a falar sobre Chris Paul e Blake Griffin. Ou isso, ou está de mãos atadas, num momento em que o que deveria predominar seria a tensão, suplantando a decepção por essa derrota histórica. DeAndre Jordan vai para o mercado de agentes livres em alta, despertando o interesse de muitos clubes. Se perder o pivô, vai fazer o quê? Sua folha salarial já está estourada. Aí teria de resgatar Spencer Hawes. Um jogador com o qual falharam ambos: técnico e dirigente.


Jogo 7 de Chris Paul já é um clássico da NBA
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Giancarlo Giampietro

Tim Duncan diz tudo. Chris Paul falou que o conhece desde os 11 anos de idade

Tim Duncan diz tudo. Chris Paul falou que o conhece desde os 11 anos de idade

Kawhi Leonard decolou no garrafão em busca de uma ponte aérea insana.  Blake Griffin o acompanhava, mas ainda conseguiu saltar, meio desequilibrado. O passe foi muito forte, porém. Por mais atlético que seja, o ala não alcançaria. Ainda assim, Matt Barnes, só para garantir, estava ali para dar uma raquetada na bola, enquanto estourava o cronômetro. Tudo isso em apenas um segundo. É o tipo de lance que vai ser visto e revisto, como dezenas de uma partida que se tornou um clássico instantâneo para a NBA.

Dentre tantas jogadas para serem reprisadas, certeza que a única que não vai sair da memória por anos e anos foi a cesta da vitória de Chris Paul, levando o Los Angeles Clippers a um placar de 111 a 109 contra o San Antonio Spurs, fechando uma série _____ no sétimo e derradeiro confronto. Preencha a frase como quiser: memorável, empolgante, massacrante, fantástica, de tirar o fôlego ou o sono.

Com mobilidade dificultada por conta de um estiramento muscular, o armador, com toda a pressão da liga em suas costas, recebeu a bola no centro da quadra e bateu para a direita enfrentando Danny Green e Tim Duncan. O drible muito controlado, como se pilotasse um io-iô. Num movimento perfeito, usa a perna esquerda, justamente aquela dolorida, e o quadril para se separar dos defensores e subir para o chute. Tabela, num ângulo bastante improvável, e dois pontos. Absolutamente magnífico.

Foi o tipo de lance – e reação, mancando, mal conseguindo comemorar direito – que remeteu a Isiah Thomas para muita gente. Antes da conquista do bicampeonato em 1989 e 90, o legendário líder do Pistons amargou uma das derrotas mais dolorosas da história da liga. Em todos os sentidos. Detroit vencia o Lakers por 3 a 2 na decisão de 1988. No Jogo 6, na mesma L.A. que reverenciou CP3 neste sábado, Thomas sofreu uma forte torção de tornozelo no terceiro período. Não só continuou em ação, mesmo que vez ou outra despencasse na quadra, como marcou 11 dos próximos 15 pontos da equipe. No total, terminou a parcial com 25 pontos, até hoje um recorde nas finais. Saiu de quadra com 43, mas derrotado por 103 a 102, numa virada suada para Magic e Kareem.

chris-paul-hamstring-jogo-7-clippers-spurs-injury-lesaoAvançando 27 anos no tempo, Paul,  curiosamente comparado a Thomas desde os tempos de universitário, saiu do Staples Center com 27 pontos – 22 depois da lesão – e, ufa, a vitória. Não só isso: foram 5 cestas de três pontos em 6 tentativas, além de 9-13 nos arremessos de quadra em geral, tendo jogado 37 minutos, mesmo sem conseguir passar pelos corta-luzes do modo habitual, ou sem poder acelerar em transição.

No momento mais crítico da temporada e talvez de toda essa era do Clippers, o baixinho correspondeu. Soltou lágrimas imediatas em quadra com o triunfo. Talvez nem ele vá saber dizer exatamente o porquê. Tanta coisa: 1) uma bola a um segundo do fim; 2) a simples dor que sentia; 3) a necessidade de levar o time adiante, com muita gente esperando para julgá-lo como um perdedor; 4) a série foi de estressar, mesmo.

Sim, foi uma injustiça que esses times tenham se enfrentado tão cedo. Mas assim quis a NBA, com o Portland Trail Blazers, campeão do Noroeste em quarto com uma campanha inferior, e assim quis o Monocelha, que empurrou o Spurs para essa roubada para garantir sua estreia nos mata-matas. Os jogadores sofreram em sete partidas, o campeonato já perdeu um forte candidato a título, mas nós ganhamos esse clássico.

Fico pensando no infeliz que tivesse um ingresso do Staples Center em mãos e que tenha desistido da partida para assistir ao combate entre Manny Pacquiao e Floyd Mayweather. Que nos desculpem os supercampeões, mas não houve mais espaço para uma luta depois do que os pesos pesados fizeram na gigantesca arena de Los Angeles. Eles trocaram socos, ou melhor, de liderança em 31 ocasiões durante 48 minutos, sendo que 12 delas foram no quarto período. Além disso, estiveram empatados em 15 momentos. Juntos, acertaram 46% dos arremessos de três pontos, com destaque para os 51,9% do time da casa. Num duelo extremamente nervoso como esse, foram apenas 22 turnovers e 52 assistências.

Chris Paul foi o grande herói, mas não, o único. Blake Griffin conseguiu mais um triple-double, com 24 pontos, 13 rebotes e 10 assistências, em 40 minutos. Ah, e converteu 10 de seus 11 lances livres. JJ Redic anotou ‘só’ 14 pontos, mas seis deles serviram para esfriar uma suposta arrancada do Spurs a coisa de cinco minutos para o fim. Matt Barnes (17 pontos, 7-13, 2 tocos, 2 roubos e 5 rebotes) e Jamal Crawford (16 pontos, 7-15 e a penúltima cesta) também escolheram a melhor hora para contribuir.

Do outro lado, o que dizer de Tim Duncan? O pivô de 39 anos somou 27 pontos e 11 rebotes, com 11-16, em 37 minutos. Arrastando uma perna. Tony Parker terminou com 20 pontos, 5 assistências e 5 rebotes em 34 minutos. Não se esqueçam que o astro francês jogou toda a série também enfrentando dores na perna, no tendão de Aquiles, sem apresentar a velocidade dos bons tempos. Esforços admiráveis, mas que viraram notas de rodapé num capítulo dedicado a Chris Paul.

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Agora os velhacos de San Antonio vão ter de responder diversas perguntas, todas elas girando em torno de uma só: é o fim para Duncan e Ginóbili?

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O Clippers já encara o Houston Rockets na próxima segunda-feira, no Texas, com menos de 48 horas para se regenerar e se preparar. Dureza. É o custo de um Jogo 7 e de uma série como essa. Por um lado, o confronto manda o time de Doc Rivers para a segunda rodada num nível de intensidade absurdo. Quando você passa por uma experiência como essa, sai melhorado. Por outro, o quanto a confiança e o padrão de jogos elevados compensam todo o desgaste (físico e mental) acumulado? Outra: o estiramento de Paul foi muito grave? Chegará em quais condições para desafiar James Harden? Trevor Ariza vai atazaná-lo. Em tempo: o armador teve média de 39,3 minutos na série – e de 34,8 na temporada. Agora tenham em mente o tanto de responsabilidade que ele carrega tanto no ataque como na defesa. É a falta que faz um banco minimamente confiável.

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Duelar com um ressurrecto Dwight Howard não é o sonho de ninguém. Mas pode ter certeza que DeAndre Jordan está, sim, aliviado de poder enfrentar o Rockets. Afinal, no jogo do “hack-a-fulano”, Kevin McHale tem muito mais gente para esconder no banco de reservas. Além de Howard, Josh Smith é um péssimo chutador. E o pragmatismo das faltas intencionais fora da bola em péssimos chutadores quase custou ao Clippers o triunfo. Não apenas pelos seis lances livres desperdiçados pelo pivô titular, mas pelo buraco aberto no garrafão quando teve de ser substituído. Foi o momento em o Spurs dominou a tábua ofensiva e construiu uma pequena vantagem.


A bizarra dispensa de Josh Smith e um Houston mais forte
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Giancarlo Giampietro

SVG, o técnico, tentou orientar. SVG, o presidente, não soube ponderar

SVG, o técnico, tentou orientar. SVG, o presidente, não soube ponderar

É normal que um técnico, furioso após um treino frustrante, no qual seus atletas não renderam o esperado, suba as escadas em direção ao escritório dos diretores do clube para pedir a cabeça de um jogador.  Ele simplesmente não aguenta mais um cara: considera que ele não se dedica o bastante, que sua postura esculachada pode servir de má influência para o restante do time e que o melhor, mesmo, é mandá-lo para a Sibéria. O gerente geral vai obviamente escutar tudo, tomar notas, conversar com o treinador e, depois de escutar a batida da porta, pode chamar um ou outro assistente para ponderar a respeito e estudar as alternativas para atacar esse mais novo problema. Vão atender ao pedido? Que tipo de mercado poderiam encontrar para o atleta? É algo que pode ser contornado com muita conversa?

Em Detroit, o reino de Stan Van Gundy, porém, esse processo todo está comprometido. Quando o técnico Van Gundy queria reclamar a respeito de Josh Smith, ele teria de conversar com o presidente Stan Van Gundy. E aí faz como? Bem, aí que os ímpetos imediatistas do SVG das quadras prevaleceram, a ponto de causarem espanto na NBA com a dispensa o ala-pivô sem mais, nem menos, numa decisão que, inicialmente, custará cerca de US$ 40 milhões em salários (o deste campeonato mais US$ 27 milhões que teria nas próximas duas temporadas). Dinheirama gasta em um cara banido do clube. Que tal?

Não tem muito como avaliar a barra do substituto de Joe Dumars aqui: foi uma tremenda trapalhada. Foi algo realmente bizarro, fugindo da rota que 99,9% das demais franquias adotaria. O todo-poderoso do Pistons exaurir as possibilidades de troca até 19 de fevereiro, ou tentar negociar uma rescisão contratual com algum desconto até 1º de março (os jogadores dispensados até essa data se mantêm elegíveis para a disputa dos playoffs por outro time).

Smith não deixa saudades na Motown

Smith não deixa saudades na Motown

Van Gundy não quis saber de nada disso. Chamou Smith para seu escritório e soltou a bomba. Nuclear, no caso. É de se imaginar a reação do veterano. Primeiro, uma combinação de susto e, talvez, humilhação. O dirigente-treinador estaria tão insatisfeito com ele a ponto de assinar um cheque polpudo para não vê-lo mais nos arredores da cidade. Depois, passado o baque, talvez tivesse vindo a sensação de liberdade. Desde que assinou com Dumars em 2013, o encaixe, a combinação com a equipe nunca pareceram certos.

Segundo consta, a trupe de SVG sondou o mercado de trocas, sim. Mas não ouviu nada de interessante. O único clube realmente disposto a fazer um negócio foi o Sacramento Kings. Que teria oferecido dois pacotes: o pivô Jason Thompson acompanhado de Derrick Williams e, depois, de Carl Landry. A primeira proposta ele recusou na expectativa de trabalhar com Smith e tentar arrumar as coisas em quadra – projeto que não durou nem três meses. A oferta com Landry foi a última e, nesse caso, a economia de alguns tostões apenas para Detroit. E eles queria uma redução mais drástica na sua folha de pagamento, pensando numa reformulação de verdade ao final do campeonato.

Ao dispensar Smith e esticar o valor restante de seu contrato por cinco anos (Smith vai receber U$ 5,4 milhões por ano, até 2020), eles vão conseguir isso. A opção representa um ganho de US$ 8 milhões no teto salarial em 2015 para dar mais margem de manobra nos futuros negócios. Além disso, segundo as regras do acordo trabalhista da NBA, caso Smith assine com uma nova equipe por um valor acima do salário mínimo, metade desse vínculo será descontada das despesas do Pistons. Quer dizer: aquela conta de US$ 40 milhões pode ser reduzida. Só não esperem, porém, que esse valor despenque de modo considerável.

Smith estava jogando muito mal em Detroit. Com ele em quadra, a equipe era vencida pelos adversários por mais de 12 pontos em média, a cada 100 posses de bola. Para se ter uma ideia, o Philadelphia 76ers tem perdido por 10,6 pontos a cada 100 posses neste campeonato. É um prejuízo danado, então, que ajudou a diminuir a cotação do atleta. Por outro lado, parece claro que a maior dificuldade encontrada por Van Gundy neste caso foi justamente sua urgência para selar uma proposta. Se os dirigentes percebem o desespero e estão cientes sobre o valor astronômico do contrato, entram na negociação com a vantagem toda do seu lado. Muitos deles já pediram logo de cara uma escolha de primeira rodada de Draft, antes de avançar nas conversas.

Mesmo equilibrado, Smith não estava matando nada em Detroit

Mesmo equilibrado, Smith não estava matando nada em Detroit

Esses são, basicamente, os pontos a favor da decisão dramática. Agora… se até um Gilbert Arenas, alguém que levou armas para o vestiário e, sim, defecava sobre o tênis dos companheiros, pôde ser trocado, imagino que dava para ter encontrado uma solução melhor, sim, para Smith. (Ironicamente, aliás, Arenas saiu do Washington Wizards justamente para o Orlando Magic, para jogar com Van Gundy. Pesou aí a memória de treinador (uma vez que Arenas foi um fiasco na Flórida) e, não, a de dirigente.

Quando acertou com Van Gundy e decidiu lhe dar plenos poderes no controle das operações de basquete, Tom Gores, o dono da franquia, deveria estar ciente dos riscos. São raros os casos de personagens que tenham conseguido dar conta de duas funções com mentalidades tão distintas: o técnico se preocupa com o dia de hoje e amanhã; um dirigente precisa cuidar do que vem muito depois disso, ainda mais numa NBA em que a concorrência é predatória.

Pat Riley deu conta disso em Miami, mas de um modo bem diferente: orientou o time com certo sucesso nos anos 90, mas, depois, viu um elenco envelhecido naufragar. Foi só a partir do momento em que ele se concentrou mais na função de gerente que a franquia decolou, ganhando três títulos desde 2006. O primeiro deles, é verdade, foi com o ultravencedor de volta ao banco, ironicamente depois de demitir SVG. A equipe, porém, já estava montada, com Shaq, Wade, Payton, Posey, Haslem, Williams, Walker e muito mais. Naquele caso, o técnico não tinha do que bufar, uma vez que ele mesmo havia reunido aquele grupo de atletas.

Smith foi um contrato herdado por Van Gundy. Joe Dumars, infelizmente, não estava presente para escutar suas lamúrias de quadra.

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Amigo é coisa pra se guardar...

Amigo é coisa pra se guardar…

Ah, a sorte. Ela pode interferir no destino de uma temporada de NBA de modo muito mais decisivo do que os analíticos e os mais racionais podem admitir. Não só por conta das lesões – como o mais novo infeliz acidente em torno de Anderson Varejão nos conta em Cleveland –, mas muito mais por uma série de fatores, de incidentes que podem acontecer durante a jornada, beneficiando um, ferrando com a vida do outro.

Na Conferência Oeste de competitividade absurda, o Houston Rockets pode estar ganhando um presentão com a dispensa de Smith pelo Pistons. O ala já concordou em assinar com o clube texano, por algo em torno de US$ 2 milhões. O gerente geral Daryl Morey precisa apenas abrir uma vaga em seu elenco para assinar a papelada. Ele vai tentando achar uma nova casa para Joey Dorsey, Tarik Black,  Clint Capela, Nick Johnson ou Alexey Shved (os atletas de menor salário e menor papel na equipe, em suma). Atualização: Tarik Black, que não tinha garantias em seu salário para o futuro, acabou dispensado. Do contrário, teria de dispensar outro contrato, lembrando que esse foi um expediente já adotado pelo cartola antes do início da temporada, torrando US$ 2 milhões em Jeff Adrien e Ish Smith.

Em teoria, parece um negócio da China, por um ala-pivô que, embora não castigue mais o aro como nos bons tempos em Atlanta, ainda tem muito talento para oferecer como defensor (ainda está no top 10 de tocos da liga e tem mobilidade e agilidade acima da média para a posição) e um passador cada vez mais apurado.

Não se trata, porém, de um jogador completo, que não cause alguns problemas em quadra. Do contrário, não teria sido dispensado com US$ 40 milhões por receber. Aliás, fosse o caso, talvez o Atlanta Hawks não tivesse permitido nem que entrasse no mercado de agentes livres no ano passado. Que tipo de problemas, então? Bem, já é de conhecimento público suas dificuldades com o arremesso de três pontos. Mais que isso: não só ele é um péssimo arremessador, como não se esquiva de queimar bolas de longa distância com uma frequência alarmante.

Nesta campanha derradeira pelo Pistons, contudo, a penúria se alastrou. Ainda que ele tenha diminuído consideravelmente o volume nos tiros de fora (1,5 a cada 36 minutos), seu aproveitamento geral nos arremessos de quadra despencou para baixo da casa  de 40%, com 39,1%, vindo de um 41,9% na temporada passada – as piores marcas de sua carreira. Uma tendência preocupante e horrorosa. Isto é: ele distribuiu seus arremessos de forma mais apropriada, conforme suas habilidades, mas simplesmente não conseguiu convertê-los. Vejam que calamidade:

josh-smith-shooting-chartA conversão de apenas 44% perto da cesta é assustadora para alguém de sua posição e talvez seja um sério indício de a) o declínio de sua capacidade atlética; b) simplesmente o produto de se jogar num time ruim, com um armador que não sabe o que faz em quadra e cujo garrafão já esteja congestionado com Andre Drummond; c) total desinteresse pela prática do basquete; d) uma combinação desses três fatores. No final das contas, Smith é apenas o segundo jogador na história da liga a ficar abaixo dos 40% de arremesso de quadra e 50% nos lances livres, com um mínimo de 800 minutos em quadra.

O Rockets acredita que o péssimo desempenho do ala-pivô tenha mais a ver com a falta de motivação e encaixe em Detroit. Que seu nível de produção vai subir e os maus hábitos, diminuírem, ao lado de seu compadre Dwight Howard, jogando num time de ponta, com reais pretensões de título. A conferir.

Mesmo com Howard perdendo 11 jogos devido a dores no joelho, o Rockets tem hoje a segunda defesa mais eficiente do campeonato. Imagine o quão sufocante e sólida pode vir a ser com o pivô e Smith em forma para proteger o garrafão? Por outro lado, também cabe a pergunta: será que a presença de Smith faria tanta diferença assim num sistema que obviamente já funciona bem?

Agora, as maiores dúvidas ficam para o ataque, mesmo. O reforço vai comprometer o espaçamento ofensivo? Donatas Motiejunas já não honra sua fama – e sua condição natural de lituano ; ) –, com 28,3% de acerto de fora. Kostas Papanikolau ainda não se ajustou a distância maior da linha de três da liga. Terrence Jones vinha muito bem, mas está afastado por tempo indeterminado das quadras. Com Smith, seria um não-chutador para fechar as linhas de infiltração de James Harden.  A despeito disso, o Rockets é o time que mais chuta do perímetro na liga. Com o técnico Kevin McHale, de contrato renovadíssimo, vai se comprtar com Smith? Vai incentivá-lo a arremessar, não importando os resultados? Você pode estar empurrando a Chapeuzinho Vermelho em direção ao Lobo Mau numa dessas, gente.

É, de qualquer forma, uma aposta de baixo risco para o Rockets, mas que pode fazer grande diferença.

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O Rockets já havia fortalecido seu sistema defensivo com a troca por Corey Brewer. O ala ex-Wolves pode não ser um marcador implacável no mano-a-mano, mas é um tormento para atacar as linhas de passe, com reflexos acima da média, agilidade e envergadura. Junte ele e Trevor Ariza, e o time de McHale tem duas excelentes opções no perímetro para dar um descanso a Harden. O Sr. Barba vinha muito melhor na conenção, mas já gasta muita energia no ataque e precisa ser realmente preservado. Sem ironias.

 

 

 

 

 


Ex-pivô da NBA é preso com um arsenal em casa
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Giancarlo Giampietro

Swift foi companheiro de Durant e Westbrook em OKC. Por pouco tempo

Swift foi companheiro de Durant e Westbrook em OKC. Por pouco tempo

Toda vez que for defender a ideia de que um limite de idade é necessário um limite de idade para a inscrição no Draft, pode ter certeza de que a direção da NBA vai usar o nome de Robert Swift como um exemplo fundamental em sua apresentação de defesa, enquanto o outro lado tem um LeBron ou um Kobe como contrapeso. Todos atletas que saíram do colegial direto para a grande liga e tiveram caminhos distintos, claro. Justo? Claro que não. Afinal, há diferenciação também entre formandos, segundanistas, estrangeiros etc. Toda categoria tem seus sucessos e fracassos.

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Mas é que, no caso do magricela, branquelo e ruivo, a história é realmente forte e alarmante. Daquele tipo de trunfo que, nos filmes de tribunal, vai aparecer na última hora para salvar toda uma tese. O ex-pivô tornou a ocupar os noticiários policiais nesta sexta-feira, como personagem de causo realmente escabroso.

A imprensa norte-americana teve acesso a um inquérito em que Swift aparece como suspeito de envolvimento com tráfico de drogas. Uma investigação na pequena cidade de Kirkland, interior do estado de Washington, levou os oficiais a invadirem uma residência em que o gigante de 2,13 m e 28 anos dividia com Trygve Bjorkstam, 54. Os dois foram presos.

O arsenal assustador de Swift

O arsenal assustador de Swift

Na casa, além de drogas e utensílios para uso, foram encontradas armas. Muitas armas, como pistolas, espingardas, espadas katana e até mesmo um lançador de granadas. Em depoimento, Swift se assumiu como dono desse verdadeiro arsenal. Ele atuava como uma espécie de segurança de Bjorkstam, que lhe fornecia heroína diariamente. Ajudava na cobrança de dívidas e na proteção do estoque de entorpecentes.

O ex-jogador do Seattle Supersonics/Oklahoma City Thunder e o traficante dividem domicílio desde abril. No ano passado, ele foi despejado de uma mansão de mais de US$ 1 milhão por dívidas. Depois de muito relutar, deixou a residência, que se encontrava em estado precário, com fezes de cachorro, latas de cerveja vazia, caixas de pizza e buracos de bala. Tudo lamentável. Mas talvez o item que mais chamasse a atenção fosse uma caixa fechada com cartas com ofertas de diversas universidade, na tentativa de seu recrutamento.

Isso foi em 2004, quando Swift era um promissor pivô de 18 anos saído do high school em Bakersfield, na Califórnia. Ele chegou a acertar verbalmente com a Universidade de Southern California, mas optou pela rota profissional depois de impressionar os olheiros da NBA. Acabou escolhido pelo Sonics na 12ª posição da quele ano.

Obviamente o clubeSeattle sabia que estava lidando com um projeto de longo prazo. Na primeira temporada, ele participou de apenas 16 partidas, com 4,5 minutos em média. Em 2005-2006, os números subiram para 47 partidas e 21 minutos, acompanhados também de um salto qualitativo. Ao iniciar o terceiro ano, veio o baque: sofreu uma ruptura de ligamento cruzado anterior logo na estreia na pré-temporada. Perdeu todo o campeonato. Quando retornou, mal havia esquentado e sofreu outra lesão, dessa vez no menisco. Em dezembro de 2009, já com a franquia deslocada para Oklahoma City, acabou dispensado, aos 23 anos.

Robert Swift, antes e depois: transformação no visual ainda em tempos de NBA

Robert Swift, antes e depois: transformação no visual ainda em tempos de NBA

Swift ainda procurou a D-League, mas não tinha forma física, nem condições emocionais de retomar a carreira de imediato, já enfrentando problemas legais, tendo sido preso por dirigir embriagado, com condução de risco. Na temporada 2010-2011, chegou a encarar uma aventura no Japão, sob o comando de seu ex-treinador em Seattle, o veterano Bob Hill. Estava jogando bem, quando seu clube, o Tóquio Apache, encerrou suas atividades depois do tsunami que abalou o país em 2011. O pivô ainda fez um teste pelo Portland Trail Blazers e não foi aprovado.

Entrando em reclusão, o pivô só reapareceu quando veio a pública o fato de sua casa ter sido hipotecada em 2013. Agora reaparece preso prisão por posse ilegal de armas, pouco mais de dez anos depois de ter sido selecionado pelo Sonics. Uma sucessão de fatos deprimentes para um garoto, que parecia com a vida encaminhada após tempos difíceis durante a infância, encarando dias em que não havia garantia de uma refeição adequada. Em cinco anos de NBA, ganhou mais de US$ 11 milhões em salário.

Olhando em retrospecto, seria fácil dizer que Swift cometeu um erro ao pular diretamente para a NBA. Do ponto de vista psicológico, principalmente, a julgar pela descarrilada que teve a partir das lesões que o afastaram da quadra. Tecnicamente, após um ano de adaptação, estava começando a deslanchar. Qualquer julgamento, porém, é no mínimo precipitado.

Swift, na fase japonesa

Swift, na fase japonesa

É só recuperar o Draft beeem peculiar em que foi recrutado, especialmente para pivôs. Em primeiro, por exemplo, saiu Dwight Howard, outro colegial, logo acima de Emeka Okafor, um junior. O próximo grandalhão a entrar na lista foi ninguém menos que  Rafael “Baby” Araújo, um senior, em oitavo. Andris Biedrins foi chamado em 11º. Em 15º, lá estava Al Jefferson, também adolescente. Josh Smith, em 17º. O gigante russo Pavel Podkolzin saiu em 21º. Anderson Varejão caiu para 31º, dois postos antes de Peter John Ramos, o gigante porto-riquenho. Que gangorra, hein? Uma loteria.

E sabem do que mais? Não é segredo algum que, naquele ano, Danny Ainge fez das tripas coração para selecionar Swift para o Boston Celtics. Era seu alvo primordial. Acima de Al Jefferson. Ele, na verdade, tinha certeza de que contrataria o pivô, até o Seattle frustrar seus planos. Tivessem as coisas acontecido de outra maneira, como estariam os dois? Seria Jefferson um companheiro de Kevin Durant até hoje? Vai saber. Nessa realidade paralela, porém, é certo que todos esperassem um final bem diferente para o outro pivô.


Houston Rockets lidera a vingança dos nerds na NBA
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Giancarlo Giampietro

30 times, 30 fichas da NBA 2014-2015

Os números não explicam tudo, mas fazem sucesso

Os números não explicam tudo, mas fazem sucesso

Já vimos esse enredo de besteirol umas trocentas vezes na Sessão da Tarde: a revanche dos nerds, os nerds contra-atacam, os nerds ficando com a mocinha bonitinha no final. Os nerds merecem, gente. Antes da popularização e da teorização sobre o bullying, era esse tipo de história da ficção que mais valia como uma vitória pessoal da turminha dedicada aos estudos que, supostamente, não teria bom convívio social na infância e adolescência.

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Agora imaginem quando um supernerd surge do nada – ou melhor, do MIT – para brilhar num ambiente antes dominado por figuras atléticas, robustas, exuberantes? No mundo real. Foi o que Daryl Morey, o gerente geral do Rockets, fez em Houston. Bem no meio do Texas. Cheio de  planilhas, fórmulas e equações, abrindo espaço para seus companheiros matemáticos, estatísticos, cientistas da computação e sabe-se-lá-mais-o-quê numa gestão que se tornaria revolucionária.

A onda de estatísticas analíticas se propagou na NBA como epidemia, e Morey foi informalmente reconhecido como o patrono do movimento. Não só por falar abertamente sobre seus planos e ser um dos executivos da liga mais acessíveis nas redes sociais, mas também pela fama de se dar bem na maior parte das negociações em que se envolveu. Nem sempre dá certo, é verdade, como Jermaine Taylor, David Andersen, Gerald Green e Marcus Morris vão confirmar.

Howard largou o Lakers de Kobe pelo Rockets de Harden

Howard largou o Lakers de Kobe pelo Rockets de Harden

Agora, houve trocas em que ele realmente rapelou a concorrência. Teve também sucesso no draft, com muitas escolhas de segunda rodada acertadas (Chase Budinger, Carl Landry, Chandler Parsons). E, depois de anos e anos de manipulação de sua folha salarial e coleta de trunfos, acabou descolando a sorte grande ao convencer OKC a lhe enviar James Harden. No ano seguinte, com um time mais atraente, convenceu Dwight Howard. E lá estava o Rockets com duas superestrelas.

Esse tipo de retrospecto causa inveja da concorrência, sem dúvida. Ainda mais pela carta branca que Morey ganhou do proprietário Les Alexander. Fundamental para promover táticas pouco usuais, arrojadas de negociação. Até que muita gente achou o máximo quando o dirigente se estrepou nestas férias. Ele foi sedento em direção a Chris Bosh, farejando a possibilidade de tirá-lo do Heat, enquanto LeBron James não se decidia. Estava tão certo de que conseguiria mais um astro para seu tripé, que pagou para o Lakers receber o contrato de Jeremy Lin e deixou Parsons na lista de espera, enquanto não fechava o negócio. O coração e, dãr, a grana pesaram, todavia, e o cara ficou em Miami. Para complicar, o Dallas Mavericks arranjou um jeito de entregar uma oferta cheia de malícia para Parsons que tornou impossível sua permanência em Houston. Em sua política all in de negociação, o cartola saiu de mãos abanando. Na verdade, com prejuízo. Agora era o resto da liga que contra-atacava.

Mas não é que ele tenha sabotado o futuro da franquia também. Ao repatriar um Trevor Ariza mais maneirado e consciente, encontrou um meio de cobrir o buraco deixado por Parsons de modo mais barato. O ala campeão pelo Lakers em 2009, aliás, é muito melhor na defesa e vai fazer uma parceria bastante chata com Patrick Beverley. No ataque, num time em que James Harden e Dwight Howard vão reter a bola, pode se encaixar perfeitamente como atirador de três pontos da zona morta, fundamento no qual evoluiu de maneira impressionante. O único cuidado que se precisa ter: o famoso efeito do último ano de contrato. O cara estava jogando demais em Washington, mas prestes a virar agente livre. Morey, aliás, já havia caído nessa em 2009.

Falar da perda de Omer Asik nem vale. O pivô turco se sentiu simplesmente miserável durante todo o campeonato passado, descontente demais com o posto de reserva de Howard. Não queria ficar por lá mais. Para liberá-lo para o Pelicans, na mesma negociação que lhe trouxe Ariza, o Rockets conseguiu uma escolha de Draft via New Orleans muito mais promissora que a que vai ter de pagar para o Lakers como depósito por Jeremy Lin.

Harden vai para cima, mesmo, no ataque agressivo do Rockets

Harden vai para cima, mesmo, no ataque agressivo do Rockets

Está certo que o banco de reservas de Kevin McHale não inspira muita confiança, assim como o próprio treinador. Há questões sérias para a defesa e para o caso de um dos astros sentir alguma coisa – no momento, tanto Howard e Harden afirmam e aparentam estar em plena forma física e psicológica. E não é que Morey tenha se contentado. Com ele, o balcão de negócios está sempre aberto, e o clube tem margem de manobra. Nas comédias envolvendo esses nerds, melhor sempre esperar para ver quem ri por último.

O time: a correria vai ser mantida. É como se o Rockets quase não tivesse jogada desenhada. A ordem é apertar o ritmo, buscar as bandejas ou lances livres – ou enterradas, no caso de Howard – e os tiros de três, com 11 dos 15 atletas do elenco liberados para se arriscarem no perímetro. No mundo aritmético de Morey, o gráfico de arremessos da equipe não mostraria incidência alguma de chutes de média distância.  Na temporada, essa regrinha rendeu o quarto ataque mais eficiente, muito perto do topo. Na defesa, com Howard, subiram de 16º para 12º – e, no que depender do pivô, o ritmo pode ser ainda mais forte neste ano, já totalmente reabilitado da cirurgia que fez nas costas. Porém, se é para falar de conta, falemos de conta. De acordo com os índices históricos, precisariam avançar consideravelmente nesse aspecto para se colocar no patamar de sérios candidatos ao título. Viu, Sr. Barba?

Papanikolau, um grego que ainda vai aprontar nesta temporada. Grande reforço

Papanikolau, um grego que ainda vai aprontar nesta temporada. Grande reforço

A pedida: realmente acertar a defesa e tentar ir mais longe nos playoffs.

Olho nele: Kostas Papanikolau. Ex-companheiro de Beverley no Olympiakos, bicampeão da Euroliga, o ala tem um estilo de jogo um tanto diferente daquele quando se pensa em alas europeus. O grego de 24 anos é bastante forte, alto agressivo, que vai se encaixando perfeitamente no banco do time, como substituto de Ariza. Se o chute de três da zona morta não estiver caindo, Papanikolau vai colocar a bola no chão e partir para a cesta. Mas sem essa de vaca louca: tem boa leitura de jogo e predisposição para encontrar um companheiro bem posicionado.  Inicialmente, ele havia sido selecionado pelo New York Knicks. Seus direitos acabaram envolvidos numa troca por Raymond Felton, passando para o Blazers. Seu ‘passe’ foi novamente trocado no ano passado para o Rockets, com Thomas Robinson indo para Portland. Quer dizer: já parece mais uma negociação em que Morey levou a melhor.

Abre o jogo: “Quando eu o vi entrando, não sabia o que dizer. Você não consegue ver esse tipo de coisa na Europa”, Papanikolau, maravilhado com a chegada de Hakeem Olajuwon a um treino do Rockets na pré-temporada. : )

Tarik Black e sua montanha de músculos numa contratação surpreendente

Tarik Black e sua montanha de músculos numa contratação surpreendente

Você não perguntou, mas… o novato Tarik Black tem uma dessas histórias que serve para todo jogador sonhar grande. O pivô chegou a se graduar mais cedo pela Universidade de Memphis, mas decidiu estender sua carreira como jogador da NCAA por Kansas, pedindo transferência. Ele perdeu uma temporada, mas foi liberado para jogar pelos Jayhawks em 2013-14, um veterano coadjuvante para os calouros Andrew Wiggins e Joel Embiid. Todo scout que fosse aos seus jogos teria as duas sensações como prioridade de avaliação. Ao mesmo tempo, o Black ao menos estava em um time sendo visto por todos. Ele não foi selecionado no draft, mas foi convidado pelo Rockets para seu time de verão da liga de Orlando. O que ele fez foi o suficiente para lhe render mais um convite, dessa vez para o training camp. Até que os amistosos começaram, e ele estava ganhando minutos regulare. Numa prática que já está virando normal para seus padrões, Morey acabou ficando com um número maior de contratos garantidos no clube do que o permitido para a temporada regular. Era esperado, então, que Black apenas cumprisse tabela por lá e fosse dispensado antes de a temporada começar, ainda que estivesse ganhando minutos regulares nos amistosos. Mas que nada. O supernerd optou por despachar Ish Smith e Jeff Andrien, atletas mais experimentados, jogando fora mais de US$ 2,1 milhões em salários para ficar com o  pivô, que vem sendo o principal reserva de Dwight Howard na temporada.

carl-herrera-rockets-cardUm card do passado: Carl Herrera. Este card, pinçado numa página especial toda dedicada ao venezuelano, ainda é de uma época em que os jogadores estrangeiros eram espécies invasoras, mesmo, na liga. Depois de Rolando, Herrera seria o segundo sul-americano a jogar por lá (embora, na verdade, tenha nascido em Trinidad e Tobago!). Coincidentemente, os dois se graduaram pela Universidade de Houston, embora em gerações diferentes. Se Rolando não teve muita sorte em Portland, o ala-pivô conseguiu fazer carreira em Houston, como reserva no elenco bicampeão capitaneado por Olajuwon em 1994 e 95. Aos 29 anos, trocou de clube, mas seguiu no Texas, defendendo o Spurs. Em 199, sua última temporada de NBA foi abalada pelo primeiro lo(u)caute, passando pelo Vancouver Grizzlies e o Denver Nuggets. Herrera ainda jogaria na Venezuela até 2008, com 42 anos. O Rockets ainda teve mais um jogador do país em sua história: o ala Oscar Torres, em 2002-03.


Detroit Pistons: todo o poder a Stan Van Gundy
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Giancarlo Giampietro

30 times, 30 fichas para a temporada 2014-2015 da NBA

Orlando estava muito bem, obrigado, mas...

Orlando estava muito bem, obrigado, mas…

E se você estivesse curtindo uma semiaposentadoria na Flórida, vivendo mais próximo das crianças, acompanhando-as no jogo de futebol no final da tarde de uma terça-feira, respirando e relaxando numa vizinhança tranquila? Depois de passar uns dois bons anos estressantes, tendo de responder diariamente aos mesmos questionamentos, 99% deles ligados a um gigante de 2,11 m e massa muscular assustadora, mas mal crescido em outros aspectos, que muito provavelmente queria sua demissão, mas que, ao mesmo tempo, era sua única aposta para o sucesso?

Para tirar a pessoa de um sossego desses, só com uma oferta irrecusável, mesmo. Como, por exemplo, ter controle total nas operações de basquete de um clube de NBA, respondendo apenas ao bilionário que comprou a franquia. Ter a oportunidade de, basicamente, ser o seu próprio chefe, e ainda ganhando US$ 7 milhões por ano. Só assim, mesmo, para Stan Van Gundy retornar, tendo o Detroit Pistons como seu grande brinquedinho.

O magnata Tom Gores bem que flertou com Phil Jackson no passado. Em 2013, por exemplo, o Mestre Zen fez um frila em Detroit, trabalhando como consultor de Joe Dumars durante o período de mercado aberto para os agentes livres e também para a contratação de (mais) um treinador. Não se sabe exatamente qual foi a influência de Jackson, o quanto Dumars o escutou. Sabemos, no entanto, que as coisas não deram muito certo, resultando no desligamento de Maurice Cheeks antes mesmo que ele concluísse a primeira temporada de seu contrato.

SVG e um novo pivô para desenvolver: até onde pode Drummond chegar?

SVG e um novo pivô para desenvolver: até onde pode Drummond chegar?

Com o time novamente fora dos playoffs, seria, enfim, a gota d’água para Dumars. Chegaria a hora de se despedir do ídolo, bicampeão como jogador e arquiteto do time que derrubou o Lakers nas finais de 2004, retornou às finais em 2005 contra o Spurs e alcançou a decisão da Conferência Leste em seis anos consecutivos. Depois de tanto sucesso, o gerente geral falhou gravemente no processo de reformulação, com muitas apostas caríssimas e furadas, como Allen Iverson e, especialmente, a inesquecível dupla Ben Gordon e Charlie Villanueva. O aproveitamento nas últimas cinco temporadas não passou dos 40%. Para limpar essa bagunça, Jackson, amigo do proprietário, nem topou. Van Gundy aceitou.

O ex-técnico do Orlando Magic e Miami Heat andava comentando alguns jogos da liga para a rede de rádio da NBC e do basquete universitário para a TV. Mas sem tanto compromisso. Diferentemente do acordo que teria com a ESPN, para a qual trabalharia como analista em seus shows pré-jogo e tal, de muita repercussão no dia-a-dia da NBA. Acontece que a equipe de David Stern, ao que tudo indica, não fiou tão entusiasmada assim com a possibilidade de uma figura tão inteligente e desbocada ganhasse esse tipo de plataforma para se expressar.

Desde então, muitos clubes fizeram fila para conversar com o SVG, Clippers e Kings entre eles. Mas as propostas não eram o suficiente para que ele se afastasse da família, ou que os fizesse mudar de cidade novamente. Passado um tempinho, para os garotos avançarem nos estudos, e a autonomia para gerir os negócios, e cá estamos com o retorno de uma figura muito respeitada – menos por Shaquille O’Neal –, que desenvolveu uma série de jogadores em Orlando além de Dwight Howard (Marcin Gortat, Trevor Ariza, Courtney Lee, Ryan Anderson e até mesmo gente rodada como Hedo Turkoglu e Rafer Alston!), formando um time bastante competitivo em torno do pivô.

Agora a expectativa é que ele faça o mesmo com o mastodôntico Andre Drummond, que transborda vigor físico e potencial. As dúvidas? Essa coisa de ele, mesmo, sair contratando suas peças. São poucos os treinadores que ganharam tanto poder na liga. Temos hoje os seguintes casos: Gregg Popovich com o Spurs, Doc Rivers com o Clippers e Flip Saunders com o Timberwolves. Em San Antonio, Pop conta com o inestimável apoio de RC Buford e uma estrutura já enraizada. Rivers e Saunders estão começando nessa aventura.

Meeks foi a primeira contratação de SVG. Pagou caro

Meeks foi a primeira contratação de SVG. Pagou caro

Com um bom espaço para contratações, não dá para dizer que SVG tenha causado boa impressão no mercado. Os valores gastos em veteranos como Jodie Meeks (US$18 milhões por três anos e já afastado por uma lesão nas costas) e Caron Butler (US$ 10 milhões por dois anos) foram, no mínimo, suspeitos e bem acima do que atletas com as mesmas habilidades receberam (Anthony Morrow e o Oklahoma City Thunder fecharam por US$ 10 milhões e três anos). DJ Augustin recebeu um pouco menos, mas a equipe já tinha um armador diminuto e irregular em Brandon Jennings. Além disso, sua versão cartola também falhou em chegar a um acordo com Greg Monroe. Pior: o pivô assinou a oferta qualificatória da franquia e vai se tornar um agente livre sem restrições ao final da temporada.

Resultado: Van Gundy, o técnico, vai ter de arrumar isso. Um tanto esquizofrênico isso? Pois é. Acontece quando você é o seu próprio patrão. Não tem com quem reclamar. O brinquedinho é todo dele.

O time: SVG olha para o seu elenco e vê três excelentes homens de garrafão, mas que tiveram sérias dificuldades quando escalados juntos na última temporada. Usar Josh Smith mais afastado da cesta é um convite para uma série de decisões absurdas. É provável que, ao contrário de Cheeks, o novo treinador chegue a uma simples conclusão: fazer um rodízio, mesmo. Sai um, entra o outro, e por aí vai, seguindo sempre com uma dupla forte. Agora, nas alas… Hm…  Temos um problema. Em teoria, Jerebko, Singler, Datome são o mesmo jogador – claro que há características peculiares que os diferenciam, mas as funções exercidas em quadra são basicamente a mesma. No fim, é um trio de atletas promissores, mas que geram  nenhum deles consegue se separar do outro. E aí que Butler só deixa essa rotação mais confusa nesse sentido. Mais uma ala 3/4, para espaçar a quadra, e tal. Na armação, Jennings precisa tomar um rumo na vida: se DJ Augustin mandá-lo para o banco, seria basicamente o fim. Van Gundy costurar tudo isso e fazer um grande conjunto? Seria sua maior obra.

Smith quer a bola. Drummond é o foco

Smith quer a bola. Drummond é o foco

A pedida: um retorno aos playoffs seis anos depois. Mesmo no Leste, um desafio, e tanto.

Olho nele: Kentavious Caldwell-Pope. Alguém com um nome desses precisa fazer um sucesso, né? O ala vai para o seu segundo ano, mais confiante e animado com as mudanças que vê ao redor.  Kentavious é bastante atlético, com capacidade para colocar a bola no chão e atacar a cesta. Além disso, tinha a reputação de ser grande arremessador vindo da universidade, ainda que essa habilidade ainda não tenha aparecido na grande liga (aproveitamento de 30,3% de longa distância até aqui). Aos 21 anos, ainda tem muito o que desenvolver. Fez ótima summer league em Orlando, mas perdeu boa parte da pré-temporada devido a uma torção no joelho. Dependendo do seu progresso, pode fazer as contratações de Butler e Meeks ainda mais banais.

Para que chamá-lo de KCP, quando se tem Kentavious?

Para que chamá-lo de KCP, quando se tem Kentavious?

Abre o jogo: “Não é um desrespeito com as pessoas que estão trabalhando no clube, mas foi duro para mim chegar a um acordo por mais quatro anos com gente que é nova por aqui. Honestamente, se você for perguntar para qualquer um na rua se eles topariam isso, na área em que trabalham, diriam não.  As pessoas ficam presas ao dinheiro e acham que, se foi oferecido, você é obrigado a aceitá-lo. Nós ganhamos muito dinheiro, mas todo o restante não pode ser relevado por causa disso. Se os jogadores fizessem esse tipo de coisa, seriam infelizes, porque receberiam o dinheiro apenas por receber e não estariam totalmente dedicados”, Greg Monroe, explicando por que não aceitou uma das ofertas de Van Gundy para estender seu contrato e seguir a rota incomum de jogar um ano pela oferta qualificatória. Ao mesmo tempo em que ganha liberdade para decidir seu futuro, o pivô também corre certo risco. Reparem nos malabarismos retóricos que ele precisa fazer para não entrar em conflito com os torcedores do Pistons.

Você não perguntou, mas… o Pistons entrou para o rol dos clubes da NBA que tem sua própria filial na D-League, o Grand Rapids Drive (não, não se trata de trocadilho).  Ex-gerente geral do Orlando Magic, Otis Smith foi agora contratado por seu antigo subordinado para dirigir o time B em quadra. Será a primeira vez que cumprirá a função de técnico. “Gosto do ‘desenvolvimento’ que está no nome da liga. Desta forma posso passar mais tempo no desenvolvimento do estafe e dos jogadores, dentro e fora da quadra”, afirma Smith. “Estar em quadra com os caras, ensinando-os, fazê-los evoluir e serem profisisonais… Isso é o que mais me anima.”

dennis-rodman-pistons-cardUm card do passado: Dennis Rodman. Com menos músculos, sem tatuagens, antes de se relacionar com Madonna e se casar com Carmen Electra, de atuar com Jean-Claude van Damme e Mickey Rourke e virar celebridade mundial, para além do quadrante da NBA, antes de se indispor com David Robinson, de intrigar e vencer mais Phil Jackson e de passar algumas noites mal dormidas na casa de Mark Cuban, Rodman já era um grandessíssimo jogador na Motown, ainda que como coadjuvante de Thomas e Dumars. Em suas últimas duas temporadas por lá, de 1991 a 93, o ala-pivô começou seu impressionante período hegemônico de melhor reboteiro da liga – e talvez da história –, com médias superiores a 18 por jogo. Nos dias de hoje, Andre Drummond é forte candidato a liderar o campeonato neste fundamento.


Lavada, rusga e lesão: Lakers começa da pior forma possível
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Giancarlo Giampietro

Kobe, Dwight, animosidade e um cotovelo: mas houve coisa pior para o Lakers

Kobe, Dwight, animosidade e um cotovelo: mas houve coisa pior para o Lakers

Sabe o pessimismo que rondava a temporada 2014-15 do Lakers?

Bem, talvez ele tenha sido até otimista. Se é que vocês me entendem.

Transmiti ao lado dos chapas Ricardo Bulgarelli e Marcelo do Ó a estreia da imponente franquia na temporada, em derrota preocupante contra o Houston Rockets, em Los Angeles, por 108 a 90. Estivesse o San Antonio Spurs do outro lado, e o placar teria beirado os 40 pontos – digo isso pela consistência do time de Gregg Popovich.

O Rockets jogou com a terceira marcha engatada. Quando o time angelino sinalizava algum tipo de pressão, aí eles subiam para a quinta e se afastavam no placar, liderados pela barba e os truques de James Harden com a bola. Esta é uma temporada na qual o Lakers vai ter de se acostumar a ser um saco de pancadas. Mas o que eles apresentaram em quadra nesta terça esteve muito abaixo da crítica.

Qualquer empolgação que o público hollywoodiano poderia ter com o retorno de Kobe Bryant se esvaiu rapidamente. Ok, o astro se mostrou em forma, depois de disputar apenas seis partidas desde abril de 2013. Mas é a forma de um Kobe de 36 anos, entrando em sua 19ª temporada, sem muita ajuda ao seu lado. Tem limite para tudo (19 pontos, 6-17 nos arremessos, 2 assistências).

O principal momento envolvendo o jogador foi, no final das contas, a rusga com Dwight Howard. Inevitável. No quarto período, depois de o pivô pegar um rebote na defesa, o ala foi para cima dele. Pressionar, tentar o roubo de bola ou a falta. Exagerou na pressão? Um pouco. Foram uns dois tapões ali. Mas coisa do jogo. Aí que Howard perdeu a linha e acertou o desafeto com uma cotovelada no queixo, que não chegou a pegar de jeito, mas pegou. Tomou uma falta flagrante-1. Também rolou falta técnica dupla.

Até aí, para o Lakers, sinceramente? Era o melhor que poderia ter acontecido. O incidente desviaria toda a atenção de uma atuação completamente desconexa. A equipe de Byron Scott ainda não tem identidade nenhuma: não sabe se corre com a bola ou se ataca de modo metódico. Em meia quadra, a falta de movimentação de bola. Carlos Boozer se apresentou como uma boa opção oportunista no garrafão, é verdade, mas ficou difícil de encontrar outros pontos positivos. Ed Davis foi outro. Mas aí não adianta muito, já que será muito difícil que a equipe consiga ser competitiva com o veterano Boozer e o ainda jovem Davis lado a lado: a defesa sofreria demais.

De qualquer forma, numa jornada tenebrosa, nem isso foi o bastante. Minutos depois da confusão entre as duas celebridades, aconteceu algo muito mais relevante e dramático para a franquia. O ala-pivô Julius Randle sofreu uma fratura na perna direita num lance aparentemente bobo, quando buscava a infiltração, sem ter caído de mal jeito, nem nada. Ele ficou parado no ataque e apenas recolheu seu corpo para se apoiar na base da tabela do Rockets. Sem acreditar.

O garoto, número sete do último Draft, uma das poucas peças que podem ser desenvolvidas a longo prazo no atual elenco, teve de sair de quadra imobilizado. Sua expressão era muito mais de desalento, desconsolo, do que de dor. Uma cena muito triste, mas que acaba reforçando, da pior maneira possível, a tese de que será uma looooonga temproada para Kobe e Scott. Eles são dois embaixadores do orgulho Laker. Vai ser difícil sustentar essa pose e o discurso por muito tempo…

Randle está fora de combate. Justo a maior promessa do time

Randle está fora de combate. Justo a maior promessa do time