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Arquivo : Dellavedova

O que está por trás da grande campanha da Austrália
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Giancarlo Giampietro

Dellavedova: inteligência não falta aos Boomers

Dellavedova: inteligência não falta aos Boomers

Por Rafael Uehara*

É de se argumentar que a seleção australiana foi a melhor equipe da primeira fase neste #Rio2016. Venceu quatro dos seus cinco jogos, com margem de 21,5 pontos por vitória, e sua única derrota veio para a seleção americana, por meros 10 pontos que não refletem de forma correta o quanto aquele jogo pareceu em aberto até os últimos cinco minutos.

É uma campanha que tem sido considerada um tanto quanto surpreendente, mas provavelmente não deveria ser.

Analisando este elenco, vemos seis jogadores de NBA, três deles parte de times que concorreram ao título na temporada passada, embora todos coadjuvantes. Também não há nenhum protagonista no mais alto escalão do basquete europeu neste grupo. David Andersen já teve seus dias de estrela com o Siena e o Fenerbahçe, mas hoje joga na mediana liga francesa e sua produção lá também não é nada de se encher os olhos.

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Porém, estes sete jogadores, mais o atirador certeiro Ryan Broekhoff e o armador relativamente versátil Kevin Lisch formam uma rotação sem nenhum ponto fraco considerável, e muito bem treinado pelo técnico Andrej Lemanis. Esse time tem mostrado que a força coletiva, quando organizada de forma inteligente, pode compensar à falta de talento individual.

Patrick Mills e Matthew Dellavedova não são criadores de primeiro nível na NBA. Não seria a melhor decisão depender deles para criar contra uma defesa bem armada com freqüência. Mas ambos são extremamente inteligentes e precisam apenas de ligeira vantagem para penetrar o garrafão, forçar rotações e desestabilizar a marcação adversária.

Para proporcioná-los essa vantagem, Lemanis criou um sistema ofensivo com corta-luzes altos, colocando bastante ênfase especialmente no corta-luz em transição. Nem sempre isso resulta em caminho aberto para os armadores partirem pra cima, mas, quando simplesmente forçam trocas, já tiram a defesa fora do seu plano de ação. A seleção americana, em particular, sofreu com esse tipo de ação.

Na meia-quadra, o ataque australiano se movimenta bastante, com os jogadores posicionados na zona morta constantemente fazendo o corta-luz uns para os outros, tentando libertar alguém para um corte pra cesta ou um tiro de três pontos sem marcação. Em cinco jogos, o time tem aproveitamento de 59% em tiros de dois pontos e 36,2% em tiros de três pontos, além de ter registrado média de 26 assistências por jogo.

Lemanis foi submetido a um questionamento público com sua opção de escalar Andrew Bogut e Aron Baynes juntos. Dois pivôs como estes na mesma escalação vai contra os princípios do basquete moderno que prega espaçamento da defesa – não põem medo no adversário quando estão fora do garrafão, sequer com um tiro de meia distância (que Baynes tenta de vez em quando).

Bogut: um terceiro armador de 2,13m de altura

Bogut: um terceiro armador de 2,13m de altura

Mas Bogut tem jogado como quase um terceiro armador, com média de quatro assistências por jogo no torneio, frequentemente facilitando as coisas posicionando-se no topo do arco e somente descendo abaixo da linha de lances livres quando vai ao aro para receber um passe no pick-and-roll ou quando identifica que tem um jogador menor o marcando e pede a bola de costas pra cesta. A constante movimentação tem permitido que o ataque funcione bem mesmo com os dois pivôs juntos, embora há ocasiões em que a presença de Andersen (ala-pivô moderno, que precisa ser marcado no perímetro) é necessária.

Defensivamente, este time é suscetível a sofrer nas mãos de alas potentes, capazes de carregar um time nas costas. Nem Broekhoff, nem Joe Ingles têm porte atlético pra esse tipo de tarefa. É por isso que ainda sim é difícil ver esse time brecando o a seleção americana o suficiente para batê-los.

Mas com Bogut protegendo a cesta, ainda um dos melhores da NBA nesse quesito mesmo que seu corpo continue deteriorando, e Mills e Dellavedova pressionando a bola, com duas verdadeiras pestes que fazem o possível para navegar entre corta-luzes e se manterem vivos no pick-and-roll para limitarem a necessidade de rotações, esse time tem uma base para se impor nesse lado da quadra também contra todos os outros adversários, permitindo apenas média de 67,5 pontos na primeira fase para times que não o americano.

*Rafael Uehara edita o “Basketball Scouting”. Seu trabalho também pode ser encontrado nos sites “Upside & Motor” e “RealGM”, como contribuidor regular. Vale segui-lo no Twitter @rafael_uehara.

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Dez previsões nada ousadas para o Rio 2016
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Giancarlo Giampietro

Boogie Cousins, Team USA

Quando jornalista se mete a dar palpite, está arrumando confusão. Pode ser sobre um confronto Japão x Filipinas pelos Jogos Asiáticos Universitários. Você falou, escreveu, quis cravar? Imediatamente fica sob o risco de queimar a língua. Ou o dedão da mão direita.

A gente tem essa mania de se meter a sabichão, né? De querer se antecipar a quaisquer grupo de deuses que estejam vagando por aí e provar por A + B que sua lógica está infalível no momento. Dois, três dias depois? É bastante provável que vá dar tudo errado. Ainda mais num torneio olímpico cheio de equilíbrio.

Isso tudo não significa que esse tipo de exercício seja pura bobagem. Não estou aqui para pagar de mais sabichão ainda, esnobe, acima das vontades mudanas esportivas. É esporte só. Que, em diversos casos e eventos, obviamente ganha proporções gigantescas pela quantidade de dinheiro que move e por suas implicações político-culturais. Ainda assim, no final das contas, é só esporte. Que envolve paixão (por vezes em intensidade descabida), mas não deveria ser levado tão a sério. Então qual o problema de ficar palpitando? Tem um monte de gente por aí que anda emburrada pacas, querendo reclamar a toda hora. Mas há quem se divirta demais em comparar resultados e discutir depois, numa boa.

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Então o que este blogueiro vai fazer?

Dar alguns palpites, mas sem cravar resultados, para além do ouro olímpico para os Estados Unidos, que isso é coisa para bolão. Não tem nada muito ousado aqui, claro. Alguns dos itens abaixo têm o mesmo valor que dizer que a “Dinamarcá terá um bom goleiro” ou que “os quenianos vão dominar o pódio da maratona”. Coisa de bidu, mesmo. Podem bater:

O Rio 2016 será o Torneio de Boogie Cousins. Kevin Durant é mais jogador. Carmelo Anthony é outro cestinha perfeito para o mundo Fiba. Kyrie Irving vai ter mais oportunidades de arremesso. Mas podem se preparar para uma exibição, digamos, hulkiana do intempestivo DeMarcus. O pivô está enxuto como nunca, ganhando agilidade sem perder sua força física descomunal, prontinho para esmagar seus adversários, tal como o dito “Gigante Esmeralda” nos quadrinhos. Para quem tem desperdiçado alguns bons anos produtivos nos confins de Sacramento, jogar com o Team USA no Rio de Janeiro serve quase como uma experiência terapêutica. Quiçá, o contato com a elite da modalidade pela segunda competição internacional seguida também não motive Boogie a aceitar aquele procedimento básico que se chama amadurecimento. Com a cabeça no lugar, tem tudo para fazer paçoca da concorrência.

hulk-smash-esmaga

– O Grupo B vai ser um tiroteio. Sinceramente, qualquer pessoa pode se gabar aqui e dizer que tem certeza que a Espanha será a primeira colocada dessa chave, seguida por Lituânia, Brasil e Argentina. Tudo bem, pode ir em frente com essa. Mas a real é que ninguém, com o juízo em dia, sabe realmente qual será o desenrolar destas partidas. No meu entender, pelo menos, até a Nigéria tem chances, mesmo que correndo por fora. Isso sem nem levar em conta o que aconteceu nos amistosos. Vai ser uma disputa duríssima, com a seleção brasileira metida no meio. Haaaaaaaja coração. (Agora, pode muito bem que a Espanha não tome conhecimento de ninguém, vença todos e que a Nigéria apanhe – e, no final, restariam três vagas para quatro seleções. Ainda assim seria dramático.)

– Vamos ter um top 10 só com DeMar DeRozan. O ala do Raptors é outra figura de segundo escalão que pode aproveitar a experiência olímpica para expandir sua marca globalmente, como diria o agente de LeBron. Embora já eleito duas vezes para o All-Star Game, não dá para dizer que o jogador desfrute de tanto prestígio assim em todas as cidades da liga que não estejam em território canadense. Então lá vai essa maravilha atlética aproveitar os inúmeros contra-ataques em garbage time que a seleção norte-americana vai ter, para saltar em 720º, se desvencilhar de oito braços compridos chineses no ar e dar suas cravadas. Paul George, Kevin Durant, Jimmy Butler, Harrison Barnes e, principalmente, DeAndre Jordan podem ser todos ignorantes no ataque ao aro. Mas nenhum deles tem a plasticidade de DeRozan em seus movimentos. Ele será o Capitão Vine da Olimpíada, ganhando até de Usain Bolt.



– Nenê não será vaiado. O bom senso, afinal, ainda pode prevalecer. Quatro anos atrás, o pivô foi vaiado de modo deprimente pelo público presente na Arena HSBC, quando a NBA trouxe um amistoso de pré-temporada pela primeira vez ao Brasil. Maybyner Hilário agora retorna ao Rio de Janeiro com um papel importantíssimo pela seleção brasileira, liderando um garrafão 40% renovado após as baixas de Splitter e Varejão. Se for para buzinar no ouvido de alguém, é só procurar as figuras de Gerasime Bozikis e Carlos Nunes pelo ginásio. Eles certamente estarão presentes, em lugares privilegiados.

Guia olímpico 21
>> A seleção brasileira jogador por jogador e suas questões
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>> Lituânia tem entrosamento; Sérvia sente falta de Bjelica
>> Croácia e Austrália só alargam o número de candidatos
>> Nigéria e Venezuela correm por fora. China? Só 2020

– A Venezuela vai encrespar com França e/ou Sérvia. Eles têm talento para bater de frente com essas seleções europeias? Não. A França foi campeã europeia em 2013, bronze pela Copa do Mundo em 2015 e bronze novamente pelo EuroBasket do ano passado. A Sérvia chegou ao segundo lugar no Mundial. Mas este time aguerrido de Néstor “Che” García parece destinado a aprontar, a fazer mais do que se esperava deles. A classificação olímpica já foi uma façanha, deixando a badalada e numerosa geração canadense pelo caminho (o Canadá está para o mundo Fiba hoje assim como a Bélgica, para o futebol). Mas por que eles se contentariam com isso? Seus armadores são manhosos e o time passou a defender muito bem com Che. Pode ser que consigam cozinhar a partida contra equipes muito mais expressivas.

Venezuela, Nestor Garcia, Copa América, Fiba Américas

– É melhor não se meter em um jogo parelho com a Argentina. Por falar em jogo apertado, eu não gostaria de ter defender contra uma equipe que vá colocar em quadra Manu Ginóbili e Luis Scola ao mesmo tempo numa última posse de bola. É muito talento e respeito em quadra. Cojones e muito mais, claro. Aqui tem a máxima que a mídia americana costuma usar para a NBA, com a qual concordo: é muito provável que o time com os dois, três melhores jogadores em quadra saia vencedor de uma partida. Em 2016, talvez a dupla argentina já não consiga mais ser superior por 40 minutos. Mas, num ataque final, valendo o jogo, com tudo o que eles já experimentaram de sucesso em suas carreiras? Eu gelaria.

Nando De Colo vai fazer muita gente se perguntar por que diabos ele não quis nem negociar direito com as equipes da NBA. É, o francês está jogando muito. O cara tem os números de Euroliga para exibir por aí e também um jogo vistoso demais, que deve ser ainda mais bacana ao vivo. Ele joga em seu próprio ritmo. O mais legal: geralmente consegue chegar aonde quer para finalizar. É nisso que dá sua combinação de drible, altura e fome de bola.

Huertas, Rodríguez e Tedosic vão dar passes para confundir até mesmo seus companheiros. É a turma do sexto sentido. Mais três jogadores que não são os mais explosivos em quadra, mas têm tanta habilidade, coordenação e visão de quadra, que fazem o jogo ficar muito mais rápido e imprevisível. As defesas muitas vezes podem achar que os têm controlados, e aí de repente sai aquele passe (quase) sem olhar para o pivô livre debaixo da tabela. É bom que Augusto Lima, Felipe Reyes, Milan Macvan & Cia. estejam espertos. Posso dizer: é meu tipo de lance favorito.

Olha para um lado, e a bola vai passar pelas costas de Baynes

Olha para um lado, e a bola vai passar pelas costas de Baynes

Matthew Dellavedova vai irritar alguém – ou muita gente, mesmo. Ele sempre arruma uma em quadra, não? Se acontece nos playoffs esvaziados da Conferência Leste, com o Cavs passando por cima de tudo mundo, por que não iria ocorrer em uma Olimpíada, com os ânimos muito mais esquentados? Pior: Delly tem uma baita cobertura. É só olhar o tamanho dos pivôs australianos para compreender uma eventual super-agressividade do armador. Com Andrew Bogut retornando, fazendo uso nada econômico das cotoveladas, é chance quase zero que os Boomers não se metam em pelo menos uma confusão em jogos pelo Grupo A.

– Alguém vai dizer que lance livre ganha jogo. Mas talvez não digam que um rebote, um toco, uma assistência e um arremesso contestado de média distância o façam.

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Guia olímpico 21: Austrália e Croácia ainda acreditam
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Giancarlo Giampietro

Pergunta: Vamos agrupar cada equipe olímpica em diferentes escalões, de acordo com seu potencial (na opinião de um só blogueiro enxerido)?

Reposta: Sim, vaaaaamos!

Então aqui estão:

1) EUA
2) Espanha e França
3) Sérvia e Lituânia
4) Argentina, Austrália, Brasil e Croácia
5) Nigéria e Venezuela
6) China

Que fique claro: não é que essas castas sejam imóveis e que haja um abismo de uma para outra – excluindo os Estados Unidos como óbvios indicados ao ouro. Entre os segundo, terceiro e quarto andares, a diferença não é muito grande. São todos candidatos ao pódio. Basta lembrar que a seleção brasileira venceu França e Sérvia pela última Copa do Mundo e também bateu a Espanha em Londres 2012, num jogo muito estranho, mas paciência. E talvez até mesmo a Nigéria possa subir um piso, dependendo de sua lista final.

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Vamos com as seleções que etão faltando no terceiro grupo:

CROÁCIA

Armadores: Roko Ukic, Rok, Stipcevic.
Alas: Bojan Bogdanovic, Krunoslav Simon, Mario Hezonja, Luka Babic e Filip Kruslin.
Pivôs: Dario Saric, Miro Bilan, Darko Planinic, Zeljko Sakic e Marko Arapovic.

Bogdanovic anotou 24,2 pontos pelo Pré-Olímpicoem Turim

Bogdanovic anotou 24,2 pontos pelo Pré-Olímpicoem Turim

– O grupo: No momento em que os três pré-olímpicos mundiais foram definidos, a reação normal foi de certo alívio quando a Croácia foi designada para o grupo brasileiro, em vez de França e Sérvia. Compreensível: era o cenário menos pior. Mas não que fosse motivo para comemorar: os croatas garantiram uma vaguinha no #Rio2016 depois de baterem duas seleções talentosas como Grécia e Itália, com Giannis Antetokounmpo, Danilo Gallinari, Giannis Bourousis, Marco Belinelli e outros destaques em quadra, pelo torneio de Turim.

A final contra os donos da casa foi especialmente dramática, definida só com uma prorrogação. Isto é, estes balcânicos já passaram por duros testes neste ano para se classificar. Do mesmo tipo que vão enfrentar nos próximos dias para tentar entrar na disputa por medalhas.

É uma trajetória interessante para uma equipe desfalcada, que nem mesmo estava conseguindo contratar um técnico e que, depois de apelar nos últimos anos, agora está sem um estrangeiro, após recusa do pivô Justin Hamilton, que brilhou pela Liga ACB e assinou com o Brooklyn Nets. Para a seleção agora comandada por Aleksander Petrovic, irmão do legendário Drazen, porém, talvez valha aquela história de que “menos é mais” e pode ajudar na química.

Um pivô com o talento de Ante Tomic certamente faz bem a qualquer equipe. Mas o cara não quis jogar dessa vez. Sem poder substituí-lo com Hamilton ou mesmo com os jovens Dragan Bender, Ante Zizic e Ivica Zubac, todos draftados neste ano, o técnico poderia ter chorado pacas e jogado a toalha. Mas, não. Montou um time competitivo e aguerrido, com os limitados Miro Bilan e Darko Planinic quebrando um galho.

Isso forçou, de todo modo, que o cestinha Bogdanovic e o plural Saric jogassem mais de 30 minutos em média em Turim. Não é uma situação bacana para nenhum atleta em um calendário destes. O esforço da dupla ao menos valeu a classificação, com a ajuda do talentoso, mas desmiolado Simon.

– Rodagem: muitos dos operários que Petrovic escolheu para escoltar Bogdanovic e Saric são marinheiros de primeira viagem nesse tipo de competição e não estão nem mesmo habituados a grandes jogos por seus clubes.

– Para acreditar: é um time versátil, explorando bem os talentos múltiplos de Saric, que, por um minuto, ser o armador do time e, no outro, ser o único pivô em quadra. Luka Babic e Hezonja também podem se desdobrar em quadra. Bogdanovic é um cestinha perigosíssimo no mundo Fiba, onde não há tantos defensores atléticos assim para lhe incomodar, podendo usar seu tamanho para arremessar sobre a maioria No Pré-Olímpico, os croatas marcaram bem, usando a envergadura de um elenco bastante espichado.

Questões: Hezonja tem o talento, mas ainda é muito inconsistente para esse tipo de torneio; existe uma razão para o fato de o país ter convocado Dontaye Draper e Oliver Lafayette para as últimas competições: Ukic e Stipcevic não são confiáveis na armação. Se a defesa adversária conseguir contestar Bogdanovic, quem vai pontuar?

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AUSTRÁLIA

Armadores: Patty Mills, Matthew Dellavedova, Damian Martin e Kevin Lisch.
Alas: Joe Ingles, Ryan Broekhoff e Chris Goulding.
Pivôs: Andrew Bogut, Aron Baynes, David Andersen, Cameron Bairstow e Brock Motum.

Um grandão e os baixinhos no time mais casca grossa das Olmpíadas

Um grandão e os baixinhos no time mais casca grossa das Olmpíadas

O grupo: é só dar uma espiada na linha de frente acima para perceber que nenhum time vai querer arrumar encrenca em quadra contra os Boomers. Tá louco: é o elenco mais peso pesado do cartel olímpico, sem dúvida nenhuma, mesmo que Bogut não consiga se recuperar a tempo daquela lesão no joelho sofrida durante as finais da NBA – ele não jogava pela seleção desde 2008, até retornar no torneio Fiba Oceania do ano passado (também conhecido como clássico x Nova Zelândia). Motum é o menorzinho deles e tem 2,o8m de altura e 111 kg. Vai encarar?

Esse peso todo cobra seu preço na defesa. Por isso, o treinador Andrej Lemanis usa de diversos expedientes para tentar deixar sua equipe menos vulnerável – ou deixar suas fraquezas menos expostas, melhor dizendo. Talvez seja o time mais disposto a por em prática a marcação por zona. É aqui que o número um do Draft, Ben Simmons, vai fazer muita falta.

Lemanis também traz ao Rio algumas surpresas em sua rotação de perímetro, como o americano naturalizado Kevin Lisch, um dos principais cestinhas e atiradores da liga australiana. Ele assume a vaga que costumeiramente ficava com Adam Gibson, para revezar com Mills, Dellavedova e Goulding – um quarteto bastante agressivo e talentoso, que poderia ser ainda mais intrigante se Dante Exum estivesse apto a participar. Mills gosta de sair em transição, mas imagino que, pela seleção, isso só vai acontecer em situações bem esporádicas. Por outro lado, os anos em San Antonio lhe ensinaram a atacar com paciência, em meia quadra.

Nas alas, Ingles e Broekhoff espaçam a quadra para a criação deles. Ingles o mundo todo já conhece e admira por sua inteligência. Para quem não pôde acompanhá-lo pelo Lokomotiv Kuban, vale prestar a atenção em Broekhoff, todavia. Excelente chutador e um grande competidor na defesa que tornou Brad Newley descartável.

– Rodagem: aqueles tempos de jogadores australianos isolados do globo, tal como as aberrações naturais da grande ilha que abriga o país, já ficaram bem para trás. Hoje seus principais atletas não só estão na NBA, como têm passagens por fortes ligas europeias. Oito dos convocados estiveram na Copa do Mundo de 2014.

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Se não bastassem os gigantes, ainda tem o Delly

– Para acreditar: Mills é um cestinha explosivo no mundo Fiba; Dellavedova, como a Conferência Leste da NBA sabe, vai fazer de tudo em quadra para sua equipe sair vencedora; Bogut, se estiver bem fisicamente, vai vedar o garrafão; é um time com jogadores muito inteligentes, daqueles que agradam a qualquer treinador mais chato e detalhista.

 – Questões: todo esse peso na linha de frente deixa o time vulnerável na transição defensiva; qualquer ala-pivô stretch four com o mínimo de agilidade e talento para o chute exterior lhes vai causar problemas. Como será a fusão entre armadores mais explosivos e pivôs tão lentos? Ingles e Broekhoff não são atléticos para compensar isso.

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Mercado da Divisão Central: Chicago Bulls é um agito que só
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Giancarlo Giampietro

dwyane-wade-bulls-market

A segunda grande bomba do mercado: Wade no Bulls

As equipes da NBA já se comprometeram em pagar algo em torno de US$ 3 bilhões em novos contratos com os jogadores, desde o dia 1º de julho, quando o mercado de agentes livres foi aberto. Na real, juntos, os 30 clubes da liga já devem ter passado dessa marca. Cá entre nós: quando os caras chegam a uma cifra dessas, nem carece mais de ser tão preciso aqui. Para se ter uma ideia, na terça-feira passada, quarto dia de contratações, o gasto estava na média de US$ 9 mil por segundo.

É muita grana.

O orçamento da liga cresceu consideravelmente devido ao novo contrato de TV. O teto salarial subiu junto. Se, em 2014, o teto era de US$ 63 milhões, agora pode bater a marca de US$ 94 milhões. Um aumento de 50%. Então é natural que os contratos acertados a partir de 1o de julho sejam fomentados desta maneira.

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Vem daí o acordo acachapante fechado entre Mike Conley Jr. e Memphis Grizzlies, de US$ 152 milhões por cinco anos de duração, o maior já assinado na história. Na média anual, é também o mais caro da liga. O que não quer dizer que o clube o considere mais valioso que Durant e LeBron. É só que Robert Pera concordou em pagar ao armador o máximo que a franquia podia (no seu caso, com nove anos de carreira, 30% do teto salarial), de acordo com as novas regras do jogo.

Então é isto: não adianta ficar comparando o salário assinado em 2012 com os de agora. Se Stephen Curry, com US$ 12 milhões, ganha menos da metade de Conley, é por cruel e bem particular conjuntura. Quando o MVP definiu seu vínculo, estava ameaçado por lesões aparentemente crônicas e num contexto financeiro com limites muito mais apertados. Numa liga com toda a sua economia regulamentada, acontece.

O injusto não é Kent Bazemore e Evan Turner ganharem US$ 17 milhões anuais. O novo cenário oferece isso aos jogadores. O que bagunça a cabeça é o fato de que LeBron e afins não ganham muito mais do que essa dupla, justamente por estarem presos ao salário máximo. Esses caras estão amarrados de um modo que nunca vão ganhar aquilo que verdadeiramente merecem segundo as regras vigentes, embora haja boas sugestões para se driblar isso.

Feito esse registro, não significa que não exista mais o conceito de maus contratos. Claro que não. Alguns contratos absurdos já foram apalavrados. O Lakers está aí para comprovar isso. Durante a tarde de sexta-feira, recebi esta mensagem de um vice-presidente de um dos clubes do Oeste, envolvido ativamente em negociações: “Mozgov…  Turner…  Solomon… Sem palavras”. A nova economia da liga bagunça quem está por dentro também. As escorregadas têm a ver com grana, sim, mas pondo em conta o talento dos atletas, a forma como eles se encaixam no time, além da duração do contrato.

Então o que aconteceu de melhor até aqui?

Bem, o que podemos dizer que a NBA definitivamente não é a mesma desde o encerramento da temporada passada. Já está muito looooonge de sua versão 2015-16, a começar pela estarrecedora transferência de Kevin Durant para o Golden State Warriors, algo que já causou e ainda pode causar muito impacto na vida de muita gente da liga.

Para constar: o blog ficou um pouco parado nas últimas semanas por motivo de frila, mas a conta do Twitter esteve bastante ativa (há muita coisa que entra lá que não vai se repetir aqui). De qualquer forma, também é preciso entender que, neste período de Draft e mercado aberto, a não ser que você possa processar informações como um robô de última geração como Kevin Pelton, do ESPN.com,  o recomendável não é sair escrevendo qualquer bobagem a cada anúncio do Wojnarowski no Vertical. Uma transação de um clube específico pode ser apenas o primeiro passo num movimento maior, mais planejado. A contratação de Rajon Rondo pelo Chicago Bulls no final de semana muda de figura quando o clube surpreende ao fechar com Dwyane Wade, por exemplo. No caso, fica ainda pior.

Agora, com mais de dez dias de mercado, muita coisa aconteceu, tendo sobrado poucos agentes livres que realmente podem fazer a diferença na temporada, deixando o momento mais propício para comentários.

LeBron ainda não assinou nada, mas ele já disse que não sai de Cleveland, e o discurso tem sido repetido por seu agente quando os outros clubes o procuram, talvez intrigados pela demora no acerto. De resto, temos os seguintes atletas disponíveis por aí: JR Smith (que deve renovar com o Cavs também), Donatas Motiejunas (incógnita, por causa das costas), Terrence Jones (incógnita, por causa da cabeça e do coração), Dion Waiters (boa sorte), Lance Stephenson (idem), Jordan Hill, David Lee… Enfim, deu para sacar. Sullinger é um cara em que talvez valha a aposta, confiando que ele vá se manter em forma. Maurice Harkless, do Portland, é outro. Mas o futuro de nenhuma franquia depende dessas contratações.

Então, vamos lá, em duas partes, começando pelo Leste e pela Divisão Central:

– Chicago Bulls

Rondo vai se comportar em Chicago? É sua quarta cidade em três anos

Rondo vai se comportar em Chicago? É sua quarta cidade em três anos

Quem chegou: Dwyane Wade, Rajon Rondo, Robin Lopez, Jerian Grant, Denzel Valentine.
Quem saiu: Derrick Rose (Knicks), Joakim Noah (Knicks), Pau Gasol (Spurs), Mike Dunleavy Jr. (Cavs), Justin Holiday (Knicks), E’Twaun Moore (Pelicans), Cameron Bairstow (Pistons).
Quem chegou e saiu logo depois: José Calderón (Lakers) e Spencer Dinwiddie.

É… A gente mal se acostumou ainda com a ideia de que Kevin Durant não vai mais jogar ao lado de Russell Westbrook, Pat Riley resolve fazer jogo duro com Dwyane Wade, e o cara se manda para Chicago. A gente poderia dizer que ele jogaria em casa, em sua cidade natal. Mas soa errado usar esse termo, não? Pelo menos depois do tanto de identificação que Wade construiu em Miami. Então essa ideia de casa, agora, fica no mínimo confusa.

Sobre a saída traumática da Flórida e como as coisas chegaram a esse ponto, o assunto precisa de um texto maior. Aqui, vamos nos concentrar sobre o que sua chegada representa para o Bulls. Primeiro de tudo, dá a entender que a franquia jamais imaginava que seria possível fechar com o astro. Sua contratação tem mais a ver com uma vingança de Wade contra Riley do que com um desejo/plano do clube ou mesmo do atleta. Criatividade e flexibilidade são bem-vindas na NBA. O clube, porém, parece estar agindo muito mais de improviso, com remendo. Se a era Derrick Rose-Joakim Noah ficou para trás, o projeto de reformulação também não foi ativado.

E aí sobram questões. A principal delas: se tivesse a mínima suspeita de que seria possível um acordo com um jogador dessa magnitude – mas já bem distante de seu auge –, John Paxson e Gar Forman teriam concordado  em assinar com Rajon Rondo? A segunda: teria feito um esforço maior para renovar com Pau Gasol? Se é para escalar Dwyane Wade no seu quinteto inicial, sua pretensão, em tese, é de competir agora. Para isso, você precisaria de bons arremessadores em quadra. Gasol ajudaria muito no primeiro quesito. Rondo só atrapalha no segundo. Então… Era o caso mesmo de trazer esse futuro membro do Hall da Fama? Sem dúvida ele vai atrair público e mídia. Mas e se for apenas para um circo?

Se Fred Hoiberg idealiza um sistema com a bola girando de um lado para o outro para definições rápidas, com espaçamento, o elenco que a dupla Paxson-Forman vai lhe entregar não poderia ser mais incongruente ao formar um trio com Rondo, Wade e Jimmy Butler. Na temporada passada, com 36,5% de acerto, Rondo teve a melhor pontaria entre os três, o que diz muito. Mas o pior é pensar na movimentação do ataque. Antes de o torcedor mais fanático do Bulls sair disparando por aí as médias de assistências do trio, estamos falando de três caras que retêm demais a bola e tendem a fazer apenas o passe final. Mais uma prova sobre como os números não contam toda a história.
Temos aqui um caso clássico de diretoria que foi atrás de nomes, em vez de peças que se complementem. Se tudo leva a crer que a combinação desses três jogadores em quadra será muito complicada, o que esperar então da química no vestiário? Desde já, logo após o Warriors de Kevin Durant, o Bulls já pode ser considerado o segundo time mais fascinante para se acompanhar na próxima temporada. Os setoristas do Bulls devem se preparar para uma montanha-russa. Nikola Mirotic e Doug McDermott também serão bastante exigidos.
Nesse contexto complicado, mesmo aquilo que já escrevi sobre os jogadores que vieram no pacote por Rose está comprometido. Robin Lopez tem agora a chance de brigar pelo prêmio de melhor reboteiro, porque haja bico. As oportunidades que teve para subir com seu lento, mas eficiente gancho em Nova York também serão reduzidas – por falta de toques na bola e também pelo aperto da quadra. Já a promessa Jerian Grant está relegada ao banco, se tanto.

Comparando com seus quatro concorrentes de divisão, vemos como o Chicago foi provavelmente o que mais agitou nas últimas semanas. Nada menos que nove atletas se mandaram, incluindo um Calderón que nem mesmo posou para foto com a camisa da equipe. Resta saber se dessa hiperatividade toda vai sair o caos ou se, por um milagre, Rondo, Wade e Butler vão encontrar um meio de conviver em paz.

– Cleveland Cavaliers

Diga ao povo de Cleveland que Richard Jefferson fica

Diga ao povo de Cleveland que Richard Jefferson fica

Quem chegou: Mike Dunleavy Jr e Kay Felder (*).
Quem ficou: Richard Jefferson.
Quem saiu: Matthew Dellavedova (Bucks) e Timofey Mozgov (Lakers).

Vamos considerar que logo mais LeBron e JR terão seus contratos renovados. Ponto.

Mozgov foi banido da rotação por Tyronn Lue e não fez falta nenhuma na campanha pelos playoffs, com a rotação interior sendo dominada por LeBron, Love, Thompson e Frye. Para a próxima temporada, o time talvez ainda precisa de um protetor de aro, mas não havia como nem chegar perto da grana que o Lakers deu para o russo. A ver como eles vão lidar com essa lacuna. Não que seja um tópico desesperador para os atuais campeões.

Matthew Dellavedova fará mais falta em longo prazo, devido a sua intensidade defensiva, entrando em quadra pra compensar a passividade frequente de Kyrie Irving – a ver se o título e a sensação de competir com Steph Curry nas finais empurra o talentosíssimo armador a outro patamar em termos de dedicação. Fará falta também do ponto de vista de química no vestiário. Mas é outro que ficou muito valorizado no mercado. O risco aqui é depender de Mo Williams como reserva de Irving. Não que ele ainda não tenha jogo para conduzir uma segunda unidade por 15 minutinhos. O problema é físico (e também defensivo). Aí que precisa ver se o calouro Kay Felder pode entrar nessa disputa.  O baixinho, que, se não me engano, ainda não assinou contrato, vai ser testado na liga de verão de Vegas nos próximos dias. É um prospecto interessante, que tem como comparação mais próxima Isaiah Thomas, do ponto de vista de tamanho e velocidade. Tem menos habilidade com a bola, mas é ainda mais atlético. A conferir.

Em termos de liderança e figura exemplar no dia a dia, ao menos Lue foi agraciado com a mudança de opinião de Richard Jefferson, cuja aposentadoria não durou nem 24 horas. Agora tem uma coisa: por mais que o veterano ala tenha sido um surpreendente trunfo nas finais, não dá para imaginar que ele terá o mesmo impacto em quadra durante um campeonato inteiro aos 36 anos. Uma coisa é se atirar ao chão feito maluco em uma série melhor-de-sete. Outra, por 82 partidas. Nesse sentido, a adição de Dunleavy, num presentão de Chicago – já que não custou nada –, é bastante valiosa. O Cavs ganha mais um jogador maduro e produtivo. O bônus? É um ótimo chutador para deixar a quadra ainda mais espaçada para LeBron operar. O ala, por sinal, era um alvo antigo de LBJ.

O Cavs ainda é disparado o melhor time do Leste. Isso não é problema. A curiosidade fica apenas para ver se vão procurar alguma troca como reação ao acordo firmado entre Durant e o Warriors. Se fosse Kevin Love, ainda não me acostumaria assim com a ideia de que Cleveland virou casa.

– Detroit Pistons

SVG reforça seu banco. Ish Smith é um tampinha isolado em meio a grandões

SVG reforça seu banco. Ish Smith é um tampinha isolado em meio a grandões

Quem chegou: Henry Ellenson, Jon Leuer, Ish Smith, Michael Gbinije, Cameron Bairstow e Boban Marjanovic.
Quem ficou: Andre Drummond.
Quem saiu: Anthony Tolliver (Kings), Jodie Meeks (Magic) e Spencer Dinwiddie (Bulls).

Hã… Legal que tenham cuidado da renovação de Drummond o mais rápido possível. Bacana demais para o time que um talento como Ellenson tenha derrapado até a 18ª posição do Draft. O calouro tem um jogo de frente para a cesta que, se desenvolvido da melhor forma, pode se tornar um complemento perfeito para seu franchise player. Tá. Mas considerando que o clube já tinha Marcus Morris e Tobias Harris como opções de stretch fours, além de um reserva produtivo como Aron Baynes, é muito difícil de entender a contratação de mais três grandalhões para a rotação.

Especialmente no caso de Marjanovic, bota grandalhão e ponto de interrogação nisso. O gigante sérvio era um agente livre restrito e  assinou por US$ 21 milhões e três anos – não havia como o Spurs cobrir essa proposta. Então o que SVG pretende fazer com ele? Será promovido imediatamente ao posto de reserva de Drummond? E Baynes, que mal acabou de terminar seu primeiro ano de contrato? Será trocado? De tantos clubes que poderiam procurá-lo, jamais poderia supor que o Detroit faria a melhor oferta.

Sobre Leuer: não há dúvida de que ele fez um ótimo campeonato pelo Phoenix Suns. Foi dos poucos pontos positivos em uma campanha sofrível do clube do Arizona. Merecia um bom aumento para quem ganhava pouco mais de US$ 1 milhão. Daí a pagar US$ 42 milhões por quatro anos parece um exagero. Meeeeesmo Na Nova Economia da NBA (era melhor adotar uma sigla já para isso). Será que tinha tanta gente apinhada assim para oferecer um contrato destes? Leuer vai ter oportunidade para fazer valer o investimento? Ele arremessa bem de frente para a cesta, pode cortar bem num pick and roll, mas não é exatamente um terror para as defesas, até por não ser um grande passador. Em sua carreira, ele acumulou apenas 171 assistências em 243 partidas. . Jogando ao lado de Drummond, sua movimentação lateral também seria testada contra alas-pivôs mais ágeis. Não parece ser alguém bom o bastante para ser titular numa equipe com pretensões de avançar nos playoffs. Mais de US$ 10 milhões anuais é o novo preço de um reserva?

O que dizer, então, de Bairstow? O australiano, que virá para o #Rio2016, terá dificuldade para ficar no elenco, que veio em troca por Dinwiddie. É um cara que joga duro, inteligente, mas muito limitado do ponto de vista atlético.

Para o banco, Ish Smith parece ótima pedida, acelerando o ataque do Pistons nos momentos de descanso de Reggie Jackson. Dependendo do adversário, os dois também podem jogar juntos, desde que Jackson arremesse com com consistência de longa distância. Aos 24 anos, sendo uma das apostas nigerianas para os Jogos Olímpicos, o versátil Gbinije é um novato bem mais velho que a média e pode eventualmente ganhar espaço no banco.

– Indiana Pacers

Teague vai acelerar o Indiana. (Mas Nate McMillan é o técnico indicado?)

Teague vai acelerar o Indiana. (Mas Nate McMillan é o técnico indicado?)

Quem chegou: Jeff Teague, Thaddeus Young, Al Jefferson, Jeremy Evans e Georges Niang (*).
Quem saiu: George Hill (Jazz), Ian Mahinmi (Wizards) e Solomon Hill (Pelicans).

Já escrevi sobre as adições de Teague e Young. Larry Bird enfim deve ver o Indiana correndo mais, com jogadores bastante velozes e criativos para suas posições ao redor de Paul George. Teague deve tornar a vida do astro bem mais fácil no ataque, botando pressão nas defesas. Young deixa a linha de frente flexível. Foram excelentes contratações – ainda que considere o encaixe com Monta Ellis um tanto suspeito: o ideal seria encontrar um novo destino para esse pouco eficiente cestinha.

Se o intuito era acelerar geral, a contratação de Al Jefferson já parece deslocada, mesmo que ele vá receber menos que Leuer pelos próximos três anos (US$ 30 milhões). Pensando melhor, porém, o Big Al oferece ao técnico Nate McMillan uma segunda via ofensiva, para jogos mais truncados. Se as costas e os joelhos permitirem, o pivô ainda pode ser uma referência esporádica de costas para a cesta, com sua munheca invejável e um repertório ainda considerável de movimentos.

Ainda assim, é curioso que o clube tenha deixado Mahinmi sair, depois do tanto que o francês evoluiu nos últimos dois anos, segurando as pontas na defesa, sem que a saída de Roy Hibbert surtisse efeito nenhum. Pedir proteção de aro e cobertura para Jefferson seria uma piada cruel. O que dá para imaginar então? Que o jovem Myles Turner vai ser bastante exigido como patrulheiro no garrafão. Não está claro que apenas um ano de experiência tenha sido o suficiente para ele, em termos de bagagem tática para arcar com uma responsabilidade dessa. Lembrando que a equipe já vai perder a contenção de George Hill na primeira linha de marcação.

Niang é um caso semelhante ao de Gbinije: calouro, mas bastante rodado. Terá basicamente um ano, com contrato garantido, para provar que é jogador de NBA. Para isso, vai ter de brigar por espaço com Glenn Robinson III (que vem evoluindo gradativamente, vale ficar de olho) e o veterano Jeremy Evans, que também não se achou em Dallas.

Antes de tudo, fica a dúvida também para saber se McMillan é o treinador indicado para conduzir essa mudança de estilo. Em Seattle e Portland, seus times estavam entre os mais lentos e controlados da liga.

– Milwaukee Bucks

Entra Delly, sai Bayless na rotação de Kidd

Entra Delly, sai Bayless na rotação de Kidd

Quem chegou: Matthew Dellavedova, Mirza Teletovic, Thon Maker e Malcom Brogdon.
Quem saiu: Jerryd Bayless (Sixers), Greivis Vasquez (Nets), OJ Mayo, Damian Inglis, Johnny O’Bryant.

Discretamente, o Bucks se reforçou muito bem. Enquanto a NBA inteira se concentra em fazer piadas sobre a idade do calouro Thon Maker, o gerente geral John Hammond (*) deu uma boa força a Jason Kidd ao adicionar dois atletas experientes e excelentes nos arremessos de longa distância como Teletovic e Delly, suprindo a maior carência do elenco, enquanto Giannis Antetokounmpo e Jabari Parker ainda encontram dificuldades no assunto. Como se não bastasse, a dupla também contribui com experiência.

(*O asterisco aqui é para dizer que não dá para saber se o gerente geral nominal ainda está dando as cartas, ou se Jason Kidd é quem tem a decisão final, mesmo. Emulando o que o Golden State Warriors fez com Bob Myers, a franquia já contratou o ex-agente Justin Zanik, que estava em Utah, para ser o seu substituto em 2018, quando Hammond será deslocado para uma posição de consultor.)

Se Giannis vai realmente começar o campeonato como o armador do time, faz todo o sentido ter o australiano ao seu lado, para ajudar na condução e também para marcar o baixinho do outro lado, tal como ele fazia ao lado de LeBron James. Foi uma grande sacada, mesmo que o preço seja salgado (US$ 38 milhões por quatro anos). Teletovic já trabalhou com Kidd em Brooklyn e vai ter a vantagem de jogar ao lado de alas bastante atléticos e polivalentes, que lhe podem dar cobertura na defesa. Custou bem menos que Leuer ao Pistons, o que não dá para entender (US$ 30 milhões por três anos).

Enquanto os jogos de verdade não começam, a liga toda se diverte com Maker, que é praticamente um apátrida (sua família emigrou do Sudão quando ele era criança, indo para a Austrália – que é o país que ele pretende representar internacionalmente. De lá, já como prospecto, ele se mudou para o Canadá e, depois, para os Estados Unidos). Milwaukee causou espanto ao usar a décima escolha do Draft no pivô, que tem 2,16m, é mais uma aberração atlética, mas sem experiência nenhuma em competições minimamente organizadas, vindo direto das prep schools americanas. Em suas primeiras partidas, mostrou como está cru, mas também apanhou dezenas de rebotes e deu alguns tocos impressionantes. Se fosse apenas isso, tudo bem. Três anos atrás, Hammond apostou em um talento cru como Antetokounmpo, que estava na Segundona da Grécia, e deu no que deu. O que pega é que, em vez de 19 anos, o pivô poderia ter até mesmo 23 anos, segundo especulações que vêm de Perth, na Austrália. Daí o bafafá.

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Leandrinho voltou a ser um vulto em quadra. Na melhor hora
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Giancarlo Giampietro

Leandro Barbosa, Warriors, Game 1, NBA Finals

Antes de se mandar para New Orleans, Alvin Gentry havia nos dito como Leandrinho era uma figura importante no vestiário do Golden State Warriors. Ethan Sherwood Strauss, setorista do Warriors para o ESPN.com, também fez um perfil nesse sentido, falando sobre como o ala é adorado pelos seus companheiros, de como, numa temporada longa como a da NBA, faz bem ter um boa praça desses por perto, para desanuviar o ambiente em tempos mais tensos – se é que a coisa fica tensa para este timaço. Quando víamos Stephen Curry ensaiar, na lateral da quadra, passos que, talvez, em sua cabeça, parecessem os de samba, depois de uma cesta do brasileiro, era a confirmação visual de tudo isso.

Esse expediente não seria novo. É só pensar nos elencos do hexacampeonato do Chicago Bulls nos anos 90 e pinçar os anciões que se sentavam lá no final do banco. James Edwards, Robert Parish, Bill Wennington, mesmo. Jack Haley, John Salley… São vários personagens escolhidos a dedo por Jerry Krause e/ou Phil Jackson como ombro amigo, figuras sóbrias, que já haviam visto de tudo pela liga e davam uma força para os treinadores, ajudavam na condução dos negócios, digamos. O papel que cabe a um Kendrick Perkins ou um Nazr Mohammed hoje, por exemplo.

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Na quinta-feira, porém, pela abertura das finais da NBA, Leandrinho mostrou que tem mais o que oferecer para os atuais campeões do que a simpatia, o humor e a harmonia interna. Para um reserva, com 11 pontos em 11 minutos, acertando todos os cinco arremessos, viveu uma noite perfeita numa noite em que os Splash Brothers não jogaram nada, sendo fundamental na vitória sobre o Cleveland Cavaliers.

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Foi uma jornada como a dos bons e, glup!, já velhos tempos de Brazilian Blur, o Vulto Brasileiro, quando “Barbosa” estava construindo sua fama pelo inesquecível Phoenix Suns de Nash, Marion, Stoudemire, D’Antoni e, principalmente, de Sete Segundos ou Menos. Naquele tempo, antes mesmo de Russell Westbrook, Derrick Rose e John Wall entrarem na liga, era difícil encontrar jogador mais veloz.

Lembro sempre de uma manhã na redação do UOL Esporte, ‘abrindo’ o site – quando chegam os primeiros redatores caçando as primeiras notícias –, e sempre haveria um relato da NBA para se fazer. E teve um jogo desses entre Suns e Houston Rockets em que o cara arrebentou. Tracy McGrady, do outro lado, estava maravilhado. Na tentativa de qualificar o brasileiro, o astro o chamou de “Speedy Gonzalez”, que, vocês sabem, é o Ligeirinho na adaptação do desenho por aqui. Foi antes de “Brazilian Blur” ser oficializado. Valeu, T-Mac. Desde então, “ligeirinho”, em caixa baixa, virou adjetivo obrigatório para mim na hora de escrever qualquer texto sobre Leandrinho.

>> É revanche? Mas este é outro Ceveland Cavaliers
>> Relembre como foi a vitória do Warriors em 2015

Como Matthew Dellavedova pôde ver, o ala ainda tem, sim, arranque para pontuar nos grandes jogos. É só ver na sequência de clipes abaixo do texto. Foram algumas infiltrações completamente insanas, nas quais voltou a mostrar sua habilidade para encontrar ângulos improváveis para a finalização. Fazia tempo, confesso, que não via dessas bolas um tanto malucas, mas que funcionaram durante toda a sua carreira. Muito provavelmente em um desses lances, aliás, sentiu algum desconforto nas costas, que o obrigou a ir ao vestiário mais cedo para ser examinado. Por sorte, dele, de Kerr e dos Splash Brothers, não era nada grave.

Para cima de Delly

Para cima de Delly

“LB foi ótimo. Ele ainda é muito rápido. Talvez não tão rápido como era cinco anos atrás, mas ainda é um cara que adora correr para cima e para baixo. Ele entrou e nos deu uma grande força”, disse Steve Kerr, que foi seu gerente geral em Phoenix. “Conseguiu algumas bandejas de primeira, umas bandejas difíceis, e embalou. E aí ele fez aquela de três na zona morta. Simplesmente teve um jogo excelente. Com 11 pontos em 11 minutos e meio, dá para dizer que foi uma produção bem boa.”

Em toda a temporada, Leandrinho passou da marca de 10 pontos em 12 partidas apenas (?). Ele não chegava a dígitos duplos há quase dois meses. A última havia sido no dia 3 de abril, com 13 pontos em vitória sobre o Portland Trail Blazers, por 136 a 111, com seis cestas em oito tentativas e 23 minutos de ação. Seu recorde no campeonato foi de 21 pontos sobre o Suns, claro, no dia 27 de novembro, com oito cestas em nove tentativas, também ficando 23 minutos em quadra em triunfo por 135 a 116.

Reparem nos minutos e nos placares. Foram duas das tantas surras que o Warriors aplicou durante a temporada, abrindo espaço para a entrada e produção de seus reservas. Bem diferente de um Jogo 1 das #NBAFinals. Quem imaginava? Talvez nem Kerr, ainda mais quando ele havia feito apenas 14 pontos no total contra OKC pelas finais do Oeste. No final, fez os mesmos 11 pontos de Curry e dois a mais que Thompson.

LeBron James também não estava contando com isso. Quando Leandrinho acertou um chute em flutuação e elevou a vantagem do Warriors para 14 pontos nos dois primeiros minutos do quarto período, o craque do Cavs estava preparado para voltar ao jogo e sorria nervosamente, talvez incrédulo. Pois, Leandrinho, sozinho, havia superado todos os reservas de Cleveland em pontuação. Depois,  para variar, James detonaria a segunda unidade de seu time (caras que têm jogado tão tem o campeonato inteiro, diga-se), afirmando ser “inadmissível” que o banco do Warriors tenha vencido o embate por 45 a 10. “Quando isso acontece e você ainda cede 25 pontos em 17 turnovers, não importa o que alguém faça ou deixe de fazer, vai ser difícil vencer, especialmente fora de casa. “Não importa o que você faz com Steph, Klay ou Draymond. Permita 45 pontos ao banco e 25 pontos via turnovers, na estrada, e você não tem um bom ingrediente para vencer.”

Essa sequência arrasadora do Golden State foi propulsionada por Leandrinho, Shaun Livingston (um dos nomes do jogo), Andre Iguodala (taí o outro nome da partida…) e dois titulares: Draymond e Harrison Barnes. Uma formação alternativa de seus quintetos mais baixos, sem Festus Ezeli ou Marreese Speights para acompanhar os demais reservas. Mais uma boa cartada de Kerr, que não perdeu a confiança em seus suplentes, mesmo quando sua equipe enfrentava tamanha pressão contra OKC. “Ele vai muito bem na hora de sentir nossa temperatura e encontrar quais são os duelos favoráveis para nós e nos colocar em uma posição em que possamos brilhar”, afirmou Livingston, sobre o técnico.

No caso do ligeirinho brasileiro, o duelo nem era tão favorável assim. Dellavedova é uma desgraça (em muitos sentidos…) quando persegue alguém. Só ficou complicado para o australiano correr atrás de um vulto. Se, por acaso, o tivesse atingido, aí teria de se ver com furiosos oponentes. No banco do Warriors, melhor não mexer com Leandrinho.

*   *   *

Aqui estão as cinco cestas de quadra do ala, numa cortesia do Coach Nurse, do BBALLBREAKDOWN, estrela do Twitter em noite de grandes partidas.  Vocês têm de seguir o cara.

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Trio de estrelas do Cavs se entendeu, mas time ainda sofre para vencer
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Giancarlo Giampietro

Deu certo, pela abertura dos playoffs em Cavs

Deu certo, pela abertura dos playoffs em Cavs

O Cleveland Cavaliers não fez uma partida perfeita ao vencer o Detroit Pistons por 106 a 101, pelo segundo dia de playoffs da NBA. Restando apenas 11 minutos, se via atrás no marcador, por sete pontos. Mas, como deve acontecer muitas vezes ainda nesta primeira rodada pela Conferência Leste, bastará que seu Big 3 tenha uma noite superprodutiva para que a vitória aconteça, independentemente do quão porosa é a sua defesa no momento.

LeBron James foi dominante, mas não do jeito que poderíamos supor, a julgar pelo que fez nas últimas semanas da temporada. Em vez de partir como uma locomotiva rumo à cesta, soube dosar as investidas. Reativou sua versão de facilitador, num movimento interessante. Terminou com 11 assistências e tentou 17 arremessos para 22 pontos em pouco menos de 41 minutos.

Se o craque teve um volume de jogo relativamente contido, isso basicamente significa que seus companheiros tiveram mais espaço para se afirmar em quadra, no início da segunda campanha deste núcleo tão pressionado, para qual vale o título ou o título. Deu certo, a princípio. Kevin Love teve uma de suas melhores atuações desde que se mudou de Minnesota, com 28 pontos, 12 rebotes e muita agressividade, algo que se cobra demais dele, em 38 minutos. Kyrie Irving chutou 24 vezes para anotar 31 pontos em 37 minutos.

Fazendo as contas aqui, temos 81 pontos para os três astros (76,4% do total), além de 18 assistências (72%) e 24 rebotes (60%). Os caras esolveram a parada. Foi a oitava vez em que a trinca atingiu os 80 pontos a serviço do Cavs e a oitava vitória nessa circunstância.

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Pois não é que todo mundo precise ser Spurs ou Hawks nesta vida. Uma divisão mais igualitária entre cestinhas não acontece nem mesmo para o Warriors, pelo qual os Splash Brothers são responsáveis por mais de 40% dos pontos. Ao montar este trio, o gerente geral David Griffin (com muitos sussurros de você sabe quem) certamente vislumbrava uma grande uma concentração de jogo. A integração entre eles, de todo modo, na segunda temporada juntos, esteve longe da ideal. Tudo isso foi devidamente registrado por diversos veículos, em diversos capítulos, e não precisamos perder tempo aqui.

Neste domingo, usando aquela famosa expressão inglesa, dá para dizer que estiveram na mesma página. Que jogaram juntos. Graças ao maravilhoso NBA.com/Stats, foi possível conferir, por exemplo, quantos passes LeBron, Love e Irving trocaram entre si. O resultado, comparando com o que os três apresentaram durante todo o campeonato, é de abrir os olhos – tanto pelo volume muito maior de tramas de um com o outro, como pelos dados da temporada regular. Vamos lá:

Kyrie-passing-Cavs

Quer saber de um dado um tanto assustador? Durante a temporada regular, enquanto armador, Kyrie deu apenas 43 assistências para LeBron em 53 partidas. Seus passes para cesta são muito bemd istribuídos, entretanto. Foram 55 para Love, 34 para JR Smith e 28 para Tristan Thompson, além de 23 para Timo!!!

Lebron-passing-Cavs

LeBron tampouco interagiu muito com Irving: foram 41 assistências para o armador durante o ano. Para comparar, JR Smith recebeu 105, aberto para o chute e desafogar a defesa, e Love, 126. Mas Irving também chuta muito, ué

Love-passing-Cavs

O ala-pivô deu apenas 12 assistências para Irving na temporada. Isso é inconcebível para um jogador que tem no passe e na visão de quadra justamente dois de seus principais atributos

Bom, antes de mais nada, fica o aviso: estamos falando de apenas um jogo, comparado com o que se viu por meses e meses. A tal da amostra pequena. De qualquer forma, o torcedor do Cavs e o Coach Lue esperam que esse boom nas estatísticas de passes entre os três seja bom presságio e duradouro. Para enfrentar o arrojado jovem elenco do Pistons, soube souberam compartilhar a bola e elevar o potencial de cada um. Pois não adianta apenas escalar nomes, se, em quadra, esses caras não conseguem executar aquilo que costumeiramente fizeram de melhor em suas carreiras. Aí você tem um produto com a grife impressa, mas talvez oriundo de lugares suspeitos. O famoso “falsiê”. Os resultados idealizados no momento em que o trio foi formado só vão acontecer se eles cooperarem. Foi o que aconteceu contra o Pistons. Se a receita se repetir, talvez a oposição não tenha muito o que fazer a respeito.

De novo: não que tenha sido uma partida perfeita. Eles podem ser muito mais eficientes. O Cavs, como um todo, acertou apenas 44,3% de seus arremessos, mesmo que, em sua linha de frente, Stan Van Gundy não tenha escalado defensores tão excepcionais assim, como Marcus Morris e Tobias Harris. LeBron e Love podem se esbaldar contra eles, se souberem se movimentar e forem abastecidos no momento certo, têm tudo para explorar as deficiências de seus marcadores. Até SVG admitiu isso, ao dizer que deveria ter usado o calouro Stanley Johnson por muito mais tempo no quarto período de virada para o time da casa. Não estranhem se Anthony Tolliver não pintar por aí também (veterano que nem saiu do banco).

A seleção de Irving ainda pode ser problemática. Não tem jeito: de tão talentoso, o armador ainda é daqueles que prefere criar suas situações de ataque por conta própria, no um contra um, em vez de se aproveitar de um sistema. Terminou com 10-24 nos arremessos, ao menos descolando oito lances livres nesse processo. No total, no domingo, ele deu apenas dois passes a menos que LeBron, para constar (63 a 61). Seu aproveitamento de arremessos também não foi tão inferior assim ao de Love, que que acertou as mesmas dez cestas, mas com dois chutes a menos.

Mas, durante o jogo, é perceptível como, por vezes, ele não deixa o jogo fluir. É saber quando passar e quando atacar. Tendo dois craques ao seu lado, não existe motivo para tentar ser Allen Iverson. Além do mais, no caso de Love, depois de se cobrar por meses e meses que ele fosse mais agressivo, seria hipocrisia reclamar de seus 22 chutes agora. E outra: foram poucas as ações forçadas da sua parte, buscando pontuar num contexto mais construtivo, ainda mais quando ele mata quatro de oito tentativas de longa distância. Outro ponto importante para se destacar é o fato de Lue, quando se viu sete pontos atrás no placar, ter arriscado a formação com Love sendo o único pivô, mesmo que Andre Drummond estivesse em quadra. O time reagiu de imediato, com Love esgarçando a defesa do Pistons e dando mais velocidade ao ataque – foi neste momento em que Richard Jefferson ressurgiu das cinzas para brilhar e no qual o quinteto finalizou uma das posses de bola mais bonitas de todo o campeonato:

(Foram oito passes neste clipe, com os cinco atletas envolvidos, saindo da mão de Dellavedova até retornar para ele. Sim, Irving não estava em quadra neste momento…)

Dito tudo isso, a questão é se mais para a frente, daqui a algumas semanas, contra adversários muito mais complexo, se esse time vai conseguir se sustentar desta maneira. Primeiro se os caprichos serão colocados de lado e essa interação mais orgânica e intensa entre os três será mantida. O segundo ponto é se o time como um todo não der um jeito de restaurar sua defesa.

Desde que David Blatt foi deposto e Lue assumiu, a defesa do Cavs naufragou. De top 5, caiu para a 12ª posição no ranking de eficiência, numa contagem a partir de 22 de janeiro, em 41 partidas, precisamente a metade de um campeonato. Ou seja, com uma amostra justa para se criticar. A história da NBA mostra que, para ser campeão desta forma, você precisa compensar no ataque, com um sistema que produza de modo avassalador. E Lue pode muito bem nos lembrar que, neste mesmo período, sua equipe terminou em terceiro, muito perto do Oklahoma City. Se formos menos criteriosos, dá para falar em empate técnico pelo segundo lugar.

Acontece que, tal como registramos em um resumo da temporada de OKC, para chegar ao título – e é só isso que importa para Dan Gilbert, LeBron, Maverick Carter, Rick Paul e a torcida do Cavs a essa altura –, eles vão ter de passar muito provavelmente por Warriors (líder em defesa neste mesmo período e oitavo em defesa) e Spurs (respectivamente sétimo e quarto). Isso para não falar de um eventual confronto com o perigoso Miami Heat (justo quem!), que vem jogando muito desde o All-Star Game, com o sexto ataque mais eficiente e a oitava melhor defesa.

Ok, temporada regular é uma coisa. Playoff? Outra. Em sua estreia em casa, porém, o Cavs permitiu que o Pistons convertesse 50,7% de seus arremessos e 15 tiros de três, com 51,7%. É o preço que se paga para fazer de tudo para frear o pick-and-roll entre Reggie Jackson e Andre Drummond, que é o ganha-pão do ataque do Pistons, tal como SVG fazia com Hedo Turkoglu/Jameer Nelson e Dwight Howard em Orlando. Pode ter sido sorte dos visitantes, que, na temporada, converteram apenas 34,5%, ficando em 21º no ranking da liga e que, depois do All-Star, com Tobias Harris, melhorou um pouco, ficando em 14º, com 35,9%. É pouco provável que Reggie Bullock, Kentavious Caldwell-Pope e Johnson acertem, juntos, nove disparos.

A confiança de diretores e torcedores de Cleveland sempre foi a de que, chegados os mata-matas, os jogadores dariam um jeito de colocar de lado suas diferenças e se engajarem. Por um jogo, pelo menos de um lado da quadra, funcionou. Toda a sua campanha, porém, foi pautada por altos e baixos.  O desafio para eles sempre foi repetir um padrão de atuação por longo tempo. O começo foi bom, pelo menos na questão mais complicada, que é o equilíbrio de egos. A Conferência Leste vai monitorar.

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A Austrália vem aí. Restam 9 vagas para o basquete masculino do Rio 2016
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Giancarlo Giampietro

Conta outra, vai, Bogut...

Conta outra, vai, Bogut…

Primeiro foram os Estados Unidos, campeões mundiais com facilidade. Depois, o Brasil, país-sede com muito orgulho, amor e, principalmente, custo. Agora… a Austrália, que, nesta terça-feira, terminou a série contra a Nova Zelândia e se tornou a terceira seleção a se classificar para o torneio olímpico masculino do Rio 2016.

Qualquer resultado diferente no playoff da Oceania seria uma baita zebra, mas é preciso dizer que os Tall Blacks deram um certo trabalho aos Boomers (nada como a tradição da região em apelidar tudo com muito bom gosto). No jogo de volta, em Wellington, após vitória em Melbourne por 71 a 59, os australianos abriram até 19 pontos de vantagem a sete minutos do fim, mas, seis minutos depois, viram os neozelandeses diminuírem o placar para  apenas cinco (82 a 77). Aí Matthew Dellavedova, o xodó de Cleveland e inimigo público número um da Conferência Leste, acertou uma bola de três da linha da NBA para esfriar as coisas.

Com a confiança lá no alto, aliás, Delly foi o cestinha de sua seleção, com 14 pontos em 25 minutos, depois de ter marcado 15 no primeiro duelo. Andrew Bogut, de volta ao batente pelo basquete Fiba pela primeira vez desde Pequim 2008 (!?), teve um segundo jogo muito mais produtivo que o primeiro, com 10 pontos e 10 rebotes em 20 minutos, além de 3 tocos para se estabelecer como presença intimidadora perto da cesta. Chamado de última hora, por conta da da lesão de infeliz lesão de Dante Exum, Patty Mills teve média de 13,5 pontos, 4,5 rebotes e 4,0 assistências nos dois jogos. O veterano David Andersen teve 14,0 pontos, enquanto o jovem Cameron Bairstow, ala-pivô do Chicago Bulls que agora tem um Cristiano Felício fungando no cangote, somou 9,0 pontos e 6,0 rebotes.

Dellavedova mantém alto rendimento em série contra a Nova Zelândia

Dellavedova mantém alto rendimento em série contra a Nova Zelândia

Em termos de desfalques, além de Exum, os Aussies jogaram sem Aron Baynes, que foi muito bem na última Copa do Mundo, mas teve um comportamento um tanto nojento, por assim dizer, e sem seu outro atleta do Utah Jazz, o ala Joe Ingles, que pediu dispensa para descansar um pouco. Ingles seria o equivalente ao Tiago Splitter deles, tendo batido cartão ano após ano em competições pela seleção, e não deve faltar aos Jogos Olímpicos.

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Vale ficar de olho nessa equipe. Em Londres e na Copa do Mundo, foram um time bastante chato de se enfrentar. Para o Rio, mesmo com uma ou outra ausência, precisam ser respeitados, e não apenas por sua safra recente de NBA. No geral, os caras têm um elenco muito forte fisicamente, versátil e experiente. A maioria de seus homens de rotação atuando também por fortes clubes europeus há um bom tempo. Na verdade, do time listado para enfrentar os Tall Blacks, apenas três jogam pela liga australiana.

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As demais vagas para as Olimpíadas serão distribuídas desta forma: apenas duas diretas para a Europa, duas para as Américas, uma para a Ásia e outra para a África, que inicia seu AfroBasket nesta quarta-feira. O torneio será disputado até 30 de agosto, um dia antes do início da Copa América, que vai até 12 de setembro. O EuroBasket sanguinário vai de 5 a 20 de setembro. Para fechar, o Copa Ásia será realizada apenas de 23 de setembro a 3 de outubro.

Restariam ainda três postos a serem distribuídos no famigerado Pré-Olímpico mundial, que terá outro formato neste ano. Em vez de um só torneio, a Fiba decidiu realizar três, com o campeão de cada um completando a chave do Rio de Janeiro, entre os dias 5 e 11 de julho. Se, por um lado, serão três disputas eletrizantes, por outro lado não dá para ignorar que a federação internacional encontrou mais uma forma de arrancar dinheiro de seus filiados, já que três países precisam se candidatar a sedes do evento – valendo vaga olímpica, imagino que não faltará interessados, especialmente com tantos bons times europeus no páreo. Além disso, com o calendário da modalidade já apertado, é óbvio que os clubes não gostaram nada dessa novidade. Por fim, como será a distribuição de países em cada torneio? A entidade ainda não divulgou e, dependendo dos critérios, algumas injustiças podem ser cometidas em nome da “pluralidade”. A ver.

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Com Valdeomillos e Ayón, México ganhou a Copa América de 2013

Com Valdeomillos e Ayón, México ganhou a Copa América de 2013

Ei, vocês aí, falando mal da CBB sem parar… Experimente curtir basquete no México para ver o que é bom para tosse. Prestes a receber o Pré-Olímpico das Américas, a federação mexicana vai ter de se explicar depois de uma, no mínimo, explosiva entrevista do técnico espanhol Sergio Valdeomillos, que comanda uma emergente seleção nacional, que, sob seu comando, ganhou a Copa América de 2013 e o CentroBasket de 2014. Em uma conversa com a rádio Reloj de 24, o treinador disse o seguinte sobre os dirigentes locais: “O problema é que dentro da federação mexicana existem gângsteres. Não é gente que ama o basquete, mas uns autênticos gângsteres sem vergonha. Algum dia vão ter de dar um jeito nisso, pois estão acabando com o segundo esporte do país. É uma pena. É incompreensível porque, depois de toda essa história, organizam um Pré-Olímpico. Algo inconcebível. É evidente que, diante de tudo isso, alguém está ganhando”.

Bem, do que o treinador está falando? Segundo deixa entender, de uma série de problemas estruturais que abalam a preparação de sua equipe, depois de um bom papel que cumpriram pela Copa do Mundo do ano passado. O último problema foi a falta de uniformes. “Existe uma anarquia de tal modo que todos querem mandar, e isso leva algumas pessoas a fazer coisas que não lhes corresponde. Então está sempre acontecendo uma coisinha aqui e ali. Toda hora tem uma notícia nova”, desabafa. “Nos anos anteriores, houve muitas anedotas e outros problemas desse tipo. Mas temos de superar essas coisas e pensar só no basquete.”

As questões, segundo o treinador, também ultrapassam as fronteiras da federação. Segundo o espanhol, sete dos seus jogadores não receberam sequer um tostão furado durante toda a temporada passada. Para constar: o próprio Valdeomillos chegou a romper com a entidade nacional devido ao atraso do pagamento de seu salário, mas foi convencido a retornar. Sem o treinador, que chegou a tirar dinheiro do próprio bolso na temporada passada, o astro Gustavo Ayón afirmou que não aceitaria a convocação. Novamente aos trancos e barrancos, com Ayón e o armador Jorge Gutiérrez no time, o México vai enfrentar Brasil, República Dominicana, Panamá e Uruguai na primeira fase da Copa América.

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Pitino fechou com Barea em Porto Rico

Pitino fechou com Barea em Porto Rico

Outra seleção que tem passado por alguns percalços nos últimos dias, tanto dentro como fora de quadra, é Porto Rico. Os pivôs Ricky Sánchez e Peter John Ramos se recusaram a jogar pelo time este ano, sem dar muitas explicações. Os dois não estavam lesionados. Carlos Arroyo também está fora, mas por opção do supertécnico Rick Pitino, que, em sua coletiva de apresentação, falou por cima sobre os conhecidos problemas de ego da seleção (é sabido que o veterano e Barea não se bicam…) e que, em sua gestão, não haveria espaço para isso. Além disso, Pitino questionou qual seria a motivação do astro porto-riquenho aos 36 anos de idade.

“Não creio que ele se encaixe nos nossos planos. Não estou seguro se, aos 36, lhe interessa fazer o sacrifício necessário para fazer o que se precisa para estar aqui. Ele já disse também que sua prioridade era voltar a jogar na Europa. E, no meu caso, também prefiro trabalhar com armadores de 32 anos ou menos, para efeitos de se fazer uma boa defesa”, afirmou. Quer dizer, foi um espancamento em praça pública, né? O curioso é que o técnico, depois, admitiu que não havia conversado pessoalmente com o armador. “Certamente não está descartado, mas depende dele.”

Arroyo, claro, não gostou nada das declarações. “Não foi prudente da parte dele”, disse. Por outro lado, em junho, ainda dizia ao jornal Primera Hora que ainda estava indeciso sobre defender, ou não, a seleção.  Agora já está fora, mas o problema é que José Juan Barea tem sido poupado de treinos e amistosos devido a uma lesão não divulgada. Outro jogador que preocupa, do ponto de vista clínico, é o ala John Holland, atleta de primeiro nível, excelente defensor e que ganhou relevância em suas últimas participações. A boa notícia é que o ala Maurice Harkless, agora do Portland Trail Blazers, se apresentou pela primeira vez e está pronto para a Copa, assim como o intempestivo Renaldo Balkman. Ainda assim,  dá para dizer que Pitino talvez tivesse oooutra coisa em mente quando topou abrir mão de suas férias para comandar a equipe, sonhando em treinar uma equipe olímpica pela primeira vez.

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O torneio olímpico feminino já conta com cinco times garantidos. A Brasil, Estados Unidos e Sérvia se juntaram, nos últimos dias, o Canadá, campeão com folga da Copa América em que o Brasil deu mais um vexame, e a Austrália, que também não teve dificuldade para superar a Nova Zelândia no torneio da Oceania.

 


Cavs entrou de all in. Mas o Warrios tinha muito mais fichas para gastar
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Giancarlo Giampietro

No que depender de Curry, é para o Warriors correr mais e mais

No que depender de Curry, é para o Warriors correr mais e mais

No pôquer, all in quer dizer algo como “tudo ou nada”. É quando o jogador pega as fichas que tem e empurra tudo para o meio da mesa. Ou rouba o monte, ou já era. O mestre do carteado pode até oferecer uma explicação mais rica, mas a essência é essa. O Cleveland Cavaliers pegou o termo emprestado e o usou como um trocadilho ao elegê-lo como lema para os playoffs. Virou algo como: “Todos juntos nessa, vamos lá, dando tudo”.

Pois, nesta quinta-feira, o Cavs até que tentou lutar no segundo tempo, mas não conseguiu impedir que o Golden State Warriors vencesse por 103 a 82 para igualar as #NBAFinals em 2 a 2, voltando para casa agora para fazer valer seu mando de quadra no próximo domingo. Steve Kerr estava em pressionado demais nesse, mas conseguiu se desvencilhar com um movimento bastante agressivo, corajoso, e, ao mesmo tempo, talvez o único que lhe restasse para tentar virar o tabuleiro, praticamente abolindo a escalação de um pivô tradicional, o famoso cincão, no seu time.

E, aproveitando o slogan do Cavs, a pergunta que fica depois do que vimos no quarto período deste Jogo 4 é a seguinte: será que o time já deu tudo o que tinha, mesmo? O que vimos foi um time sem energia alguma para tentar completar o serviço. Eles até chegaram a encostar no placar no terceiro período, diminuindo a vantagem aberta pelos visitantes para três pontos, ou uma posse de bola. Mas não conseguiram ir além, a despeito de todo o apoio de sua torcida. Acabou o gás em quadra.

A série
>> Jogo 1: 44 pontos para LeBron, e o Warriors fez boa defesa
>> Jogo 1: Iguodala, o reserva de US$ 12 m que roubou a cena
>> Jogo 2: Tenso, brigado… foi um duelo para Dellavedova
>> Jogo 3: Cavs vence e vira a série, dominando. Ou quase isso
>> Jogo 3: Blatt ainda não levou o título. Mas merece aplausos

E daí recuperamos um argumento construído lá atrás, no primeiro jogo da série, há coisa de uma semana: a estratégia do Golden State de ‘deixar’ LeBron atacar era de curto prazo – e longo também. Algo pensado para vencer em 48 minutos, mas cujos efeitos deveriam surtir mais com o acúmulo de partidas. Bingo, narra o Everaldo. Essa é a diferença dos playoffs, minha gente. Steve Kerr e seus assistentes e jogadores certamente tiveram de respirar fundo para não perder isso de vista até que colhessem os resultados neste quarto embate, que, para eles, na verdade, tinha um status praticamente de sétimo e derradeiro. Tivesse Cleveland aberto 3 a 1, já dava para entregar a taça ao Rei de Ohio.

Warriors, saltitante. LBJ: no chão

Warriors, saltitante. LBJ: no chão

O Cavs se colocou nessa posição com muito esforço na defesa, com um espírito de luta impressionante.  Acontece que os mesmos desfalques que lhe empurraram meio que involuntariamente nessa direção extremamente agressiva na defesa agora fazem diferença de outra forma. David Blatt encontrou um modo de combater o Warriors. Mas um modo muito desgastante e sem muitos recursos no banco para variar a abordagem. Um Anderson Varejão faria uma diferença absurda agora. Kyrie Irving e Kevin Love, então? Nem se fala.

Kerr e seus atletas obviamente perceberam o que aconteceu em quadra. Se, no terceiro período, estavam suando frio perante a arrancada dos anfitriões, no quarto final viram Mike Miller , Kendrick Perkins e o calouro Joe Harris irem para a quadra, o que significava que, naquela rodada, a probabilidade de vitória já era zero. E o Golden State, por outro lado, lançava para um pivô pontuador como Marreese Speights pela primeira vez ap jogo, como que avisando: vejam só o que temos por aqui ainda.

Pivô, aliás, foi a posição decisiva para o jogo, de um modo diferente, devido a sua ausência no time californiano. Quando Kerr tirou Andrew Bogut do quinteto titular, talvez poucos pudessem imaginar que o treinador, na real, estava realmente disposto a excluir o australiano de sua rotação. Se formos avaliar o desempenho do gigantão até aqui, era algo justificável: no ataque, faz tempo que ele joga como um peso morto, mesmo. Na defesa, então, seu rendimento caiu de modo alarmante, sendo feito de gato e sapato por Timofey Mozgov e Tristan Thompson, sem físico para afastá-los da tábua ofensiva ou para oferecer uma consistente cobertura temerária para LeBron. Então não havia muito, mesmo, o que fazer com ele. Acontece que não foi só Bogut a sair de cena: se o antigo titular jogou três minutinhos desastrados (foi o nono homem da rotação, cometeu três faltas grotescas no final do primeiro tempo e nunca mais foi chamado), Festus Ezeli nem pôde tirar o agasalho. A figura do xerifão estava abolida. No lugar dela, mais um atleta em quadra, uma figura flexível, ágil, veloz para tentar acelerar as coisas pelo Warriors e mudar o ritmo das finais, até então todo favorável ao Cleveland.

E aí que, nos primeiros instantes, parecia um desastre. Os donos da casa abriram 7 a 0 e já forçaram um pedido de tempo. A intervenção serviu para acalmar as coisas um pouquinho que fosse no ginásio, mas também valeu para reforçar a mensagem que era aquele o plano tático a ser seguido, mesmo. E o primeiro quarto terminaria com uma vantagem de 31 a 24 para o Golden State. Pela segunda parcial seguida eles passariam dos 30 pontos. Um ótimo sinal: as coisas estavam no caminho certo.

Foi uma decisão que muitos podem julgar aparentemente óbvia por parte de Kerr, mas que não pode ser subestimada. Se os seus homens mais pesados não estavam dando conta no tranco, por que ficar com eles? Agora, se você tem um time que já venceu mais de 80 partidas na temporada, por que abrir mão da fórmula? Depois de duas derrota em três jogos e muito sofrimento, todavia, Kerr percebeu que era a hora de tentar algo novo. Se o Cavs estava levando a melhor nos rebotes e no jogo interno, que ele procurasse uma alternativa drástica a respeito: abaixou a estatura de seu time a apostou em mobilidade. Levou o embate tático – e físico – ao extremo.

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Ah, mas nos anos 60, 70 e 80 a NBA era muito mais dura: sarrafo, pancada, porrada… Pode usar o termo que for para designar violência. É um fato. Na liga de hoje, no entanto, existem outros meios de se estender um rival na lona: zigue-zagueando pela quadra. Correndo, se deslocando, desgastando, como um pugilista arisco. Com Andre Iguodala promovido ao time titular ao lado de Harrison Barnes e Draymond Green, em vez de uma substituição simples* por Barnes, o Warriors abriu a quadra e forçou que seu adversário se cansasse ainda mais. Havia mais chão para se percorrer, para contestar. (*Nem tão simples assim, uma vez que Iggy não foi titular um vez sequer durante todo o campeonato.)

Por mais que, de início, Green, Barnes e Iguodala hesitassem de primeira, diante de um arremesso já livre, a movimentação de bola que realizaram acabou sendo ainda mais tortuosa para seus oponentes. Mais até que os 40% que a equipe converteu no final, com 12 conversões em 30 tentativas de longa distância. Mais um passe equivale a mais um pique para um time que já havia enviado, na partida anterior, um de seus principais defensores ao hospital. Matthew Dellavedova, vocês sabem, precisou tomar uma injeção há dois dias e se recuperou de desidratação grave na véspera. Não dá para questionar a garra do armador australiano. Mas isso tudo tem limite. Se as pernas não vão, não tem coração que caminhe sozinho.

Delly, o novo braço direito do Rei, ficou em quadra por 33 minutos e tentou lutar até quando podia. Incomodou Steph Curry novamente. Mas o MVP saiu de quadra com 22 pontos em 41 minutos, convertendo 8-17 nos arremessos de quadra e 4-7 de longa distância. Não foi uma atuação brilhante, mas seu time nem precisou disso. Pela primeira vez, o Warriors pôde se impor como coletivo também, com outros três atletas pontuando na casa de dois dígitos e mais dois com nove pontos.

Sim, movimentação de bola não causa apenas uma canseira. Também gera bons arremessos contra uma defesa que não teve mais a mesma velocidade de reação e combatividade. John Schuhmann, o analista estatístico do NBA.com, filtrou o seguinte dado: nesta série, quando a equipe californiana consegue trocar três ou mais passes, converte seus 46,6% dos seus arremessos. Com dois passes ou menos, despenca para 37,6%. Se for para computar apenas os chutes de longe, a desproporção fica de 38,9% para 25,9%.

Nesta quinta, a formação baixa e “total” (com cinco atletas em quadra que poderiam driblar, passar e se deslocar por todo o perímetro) abriu caminho para que a galera contribuísse. Foi o melhor jogo na série para Draymond Green, David Lee novamente produziu bem saindo do banco, Harrison Barnes tomou chacoalhadas de Tristan Thompson nos rebotes, mas ressurgiu nos arremessos e Andre Iguodala desafiou a lógica dos números e fezmais uma grande partida e para se estabelecer como o melhor jogador da série para os campeões do Oeste (22 pontos, 8 rebotes, 4 bolas de três pontos e defesa implacável para cima de LeBron em 39 minutos).

Essa é a vantagem a favor de Kerr. Se o treinador “novato” (coff, coff!) soube dosar sua rotação durante toda a temporada, é para que seus principais atletas tivessem fôlego nesses momentos decisivos. Então não havia por que limitar Iguodala ou os Splash Brothers. Agora é para gastar tudo o que tiver. E o Warriors tem muito mais o que explorar contra um Cleveland que depende horrores de LeBron James. Timofey Mozgov cumpriu o seu papel no confronto com os “tampinhas” rivais, com 28 pontos, 10 rebotes, 10 lances livres convertidos e 56,25% no aproveitamento de quadra. Tristan Thompson pegou carona com o russo e ratificou o domínio na tábua ofensiva. Foram 16 coletas no ataque contra para seu time e cinco a mais no geral. Nada disso adiantou num contexto em que o superastro foi, enfim, controlado.

O ala dessa vez terminou com apenas 20 pontos, 12 rebotes e 8 assistências. Apenas (tsc, tsc). Qualquer observador que beire o neutro ou o sensato – leia-se: qualquer um que não seja um radical ativista pró-Michael Jordan ou Kobe Bryant – vai perceber que o astro simplesmente não tinha forças mais para se impor em quadra. A carga pesou, e não teve nada a ver com emocional. Mesmo o bom tempo que teve para descansar entre o terceiro período e o quarto (intervalo + pedido de tempo de Blatt + 1hmin48s de bola em jogo) foi insuficiente para reabilitá-lo. LeBron não foi nem sombra de uma figura decisiva quando saiu do banco, enfrentando ainda mais dobras do que havia ocorrido nas três primeiras partidas. Errou cinco lances livres em 10, cometeu cinco faltas e não atacou o aro com a voracidade esperada. Nem mesmo quando tinha Curry como marcador.

All in. O Cavs deu tudo o que tinha, mesmo? A cavalaria está fora. Em termos de jogadores, não há muito o que se fazer – e aí que a presença de Mike Miller, Shawn Marion e Kendrick Perkins no banco de reservas não ajuda muito. Veteranos, campeões, líderes. Sim, e improdutivos. Com eles, não há fato novo, a não ser que Miller consiga acertar tantas bombas de três para compensar sua inépcia defensiva. Não quer dizer que acabou, que não há o que se fazer. Pode estender os minutos de um James Jones, reduzir os de JR Smith etc. Mas os nomes são estes que estamos vendo.

Blatt já expôs todas as suas cartas e muito provavelmente terá de seguir com elas até o fim, com a esperança de que os três dias de descanso (mas com uma longa viagem no meio) sejam o suficiente para recuperar o mínimo de energia e tentar mais uma vez um resultado dificílimo: sair da Oracle Arena com a vitória no domingo. Estão todos juntos nessa, mas agora com um oponente  ainda abarrotado de fichas – e revigorado – para derrubar.


David Blatt ainda não ganhou o título. Mas merece reconhecimento
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Giancarlo Giampietro

Blatt e LeBron, juntos, com 2 a 1 na série contra o Warriors

Blatt e LeBron, juntos, com 2 a 1 na série contra o Warriors

No auge da crise do Cavss, antes de Timofey Mozgov, Iman Shumpert e JR Smith, quando muitos especulavam uma possível demissão de David Blatt, como se fosse o futebol brasileiro, chamei um scout internacional da NBA para conversar. Não posso revelar quem, mas dá para garantir que, dentre os olheiros da liga, era um dos que poderia falar com mais propriedade para avaliar o que se passava em Cleveland, por ter acompanhado bem de perto mesmo os trabalhos do técnico na Rússia e em Israel. E aí? O que dizer de tanta pressão?

“O Blatt não fez nada até agora, então isso é normal”, afirmou ao VinteUm, com ênfase em nada. Mas como nada? O cara havia acabado ganhar uma Euroliga. Foi medalhista de bronze nas Olimpíadas de Londres 2012. Ganhou um EuroBasket também, sem contar as dezenas de taças nacionais com o Maccabi. Foi o que interpelei. “Mas ele venceu o quê, mesmo?”, continuou. “Aquela competição em que o melhor jogador é… Quem? Alguém que não consegue nem jogar na NBA.”

Admito que me surpreendi com as respostas. Esperava uma voz que saísse em defesa de Blatt, até por vir de alguém baseado na Europa. Mas depois fui entendendo. O que o scout dizia não era necessariamente sua opinião. Só estava ecoando o que muita gente andava dizendo naquele ti-ti-ti longe das câmeras. “O problema não é o conhecimento tático dele. Isso ele tem de monte, embora a aplicação na NBA possa ser diferente. Pelo talento dos jogadores, as coisas podem até ser mais simples. Mas, para os americanos, ele é visto como um técnico novato, mesmo.”

A série
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>> Jogo 2: Tenso, brigado… foi um duelo para Dellavedova
>> Jogo 3: Cavs vence e vira a série, dominando. Ou quase isso

O que nos leva a uma discussão que não pode ser ignorada. Se, nos gramados, o eurocentrismo é o que impera, no basquete, obviamente, o eixo está na América do Norte. Mesmo nascido em Boston no dia 22 de maio de 1959, David Michael Blatt fzez high school em Framingham, cidade localizada naa região metropolistana de Boston que conta com alta concentração de emigrantes brasileiros, se graduou na prestigiadíssima Universidade de Princeton. Mesmo assim, é tido como um forasteiro na grande liga, por ter se formado como jogador e técnico em Israel, mesmo.

Tá. Mas qual o problema? Não vou deixar de implicar com aqueles que ainda julgam a liga americana como teatro, marketing etc. Isso é delírio. Só não dá para ser bitolado do outro lado também. Existe vida basqueteira fora dos Estados Unidos e da Association. Blatt, com seu currículo de mais de 15 anos na estrada, merecia mais respeito. Não o teve no início e, mesmo agora, também não vem reconhecendo o respeito devido. Ainda assim, está a duas vitórias de um título que seria histórico em diversos sentidos e poderia servir como um marco nessa questão.

O emprego ideal, e de muita pressão
A conversa com o scout europeu aconteceu em janeiro. O mês em que – vocês se lembram, né? – o astro tirou umas semaninhas de férias para, oficialmente, controlar dores no joelho e nas costas, mas que, sabe-se, também usou para arejar a cabeça, se distanciando de uma campanha frustrada, que transitava em torno dos 50% de aproveitamento. Antes de se afastar, o superastro regional deixava claras suas reservas em relação ao treinador nas conversas com jornalistas. Disse o olheiro: “Aí é o caso de conquistar o respeito de todos. Conquistar o respeito de LeBron. E LeBron o está testando“.

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Quando Blatt assumiu o Cavs, tinha perspectivas de melhoras no elenco, mas, internamente, a chance de contratação de LeBron ainda era considerada um tanto remota. O proprietário da franquia, Dan Gilbert, foi quem o escolheu pessoalmente, com James ou sem James, tinha como meta a classificação para os playoffs. Foi essa pressão que culminou na demissão de Mike Brown, inclusive. Em poucas semanas, no entanto, a realidade do treinador estreante (não dá para dizer “novato”) mudou profundamente. As expectativas bombaram.

Enquanto o time não se ajustava, com troca de indiretas entre as estrelas, sendo atingido no tiroteio, o treinador virou um saco de pancadas. Foi criticado em massa na mídia americana, sem o respaldo de seu principal jogador, teve de aturar notícias de que Tyronn Lue, seu braço direito, estivesse até mesmo pedindo tempo por suas costas. A coisa estava feia. Blatt entrou, então, em modo de autodefesa e passou a encarar os jornalistas nas coletivas. O que não ajudou em nada o cultivo de sua imagem, ganhando a pecha de arrogante – pois, para essa tal da imprensa, funciona assim: constrói-se uma tese que deve ser comprovada de qualquer jeito; se a fonte não acredita nessa tese, ou se a rebate, insiste-se; a fonte se irrita, e aí, pronto, já virou “pedante”.

Não era uma transição fácil de modo algum. Era o trabalho dos sonhos, mas também um emprego que você só pode vencer – e no qual tem tudo para perder. Digo: foi para a final? Ganhou o título? “Que bacaninha, parabéns”, ouve-se. “Com o LeBron, até eu”. Falhou?! “Ah, mas como pode, sua mula!?”, seria o discurso alternativo. Aliás, até mesmo Phil Jackson já foi desacreditado por só vencer com estrelas, a despeito de 11 anéis e do fato de Jordan, Pippen, Shaq e Kobe terem ganhado um anel pela primeira vez sob sua orientação. Desses, apenas Shaq conseguiu ser campeão dirigido por outro profissional. Seu nome? Pat Riley, alguém que já teve de lidar com o camisa 23 de perto.

Comissão técnica do Cavs é só sorrisos agora

Comissão técnica do Cavs é só sorrisos agora

É tudo LeBron, por causa de LeBron. Um jogador com muito poder e que sabe como usar esse poder. Um jogador inteligente demais, também fora de quadra, sendo já um verdadeiro homem de negócios, com plena noção de sua relevância. A ponto de ser consultado para tudo o que seus times fazem, bancando, em Cleveland, a contratação de JR Smith, por exemplo (“Deixe ele comigo”, disse ao gerente geral David Grrifin). Essa dinâmica muito provavelmente valeria para qualquer clube que o contratasse, mas dentro do Cavaliers, obviamente que a situação fica ainda mais delicada, por ter toda uma cidade – um Estado, na verdade – na palma da mão. Em Miami, uma figura como Pat Riley, com a ajuda de Dwyane Wade, ainda poderia contra-argumentar um pouco, tentar equilibrar o diálogo. Foi nesse ponto que o gerente geral David Grrifin teve uma atuação decisiva. Quando muita gente especulava uma demissão de Blatt já na virada do ano, o cartola veio a público e bancou o técnico, dando um recado a sua estrela. Eles teriam de se acertar.

Quando James retornou, o craque se comportou, maneirou e interrompeu o processo de fritura de um treinador com quem evidentemente não havia desenvolvido empatia. Passou a se empenhar muito mais em quadra e, quando os reforços chegaram, engatou a quinta e foi adiante. De arestas, retoques, só restou mesmo a relação de Kevin Love com o grupo. Com o acúmulo de resultados positivos, porém, mesmo esse tópico um tanto espinhoso – e que custou um Andrew Wiggins – foi contornado até o momento em que o ala-pivô sofreu uma infeliz lesão no ombro em choque com Kelly Olynyk, sendo afastado das quadras. Depois, foi a vez de Kyrie Irving cair pelo caminho, primeiro com uma preocupante tendinite no joelho direito e depois com uma fratura na rótula sofrida no Jogo 1.

Se, lá atrás, durante a entrevista, esse scout pudesse enxergar o que se passaria em maio e junho, certamente a aposta seria a de que o Cavs cairia preocemente nos playoffs. Um erro de contas do treinador contra o Chicago poderia até mesmo ter concretizado essa previsão, quando Blatt pediu um tempo que não tinha, mas a arbitragem não percebeu, até que Tyronn Lue interviesse e afastasse seu colega. A infração resultaria em falta técnica e posse de bola para oponente. Muito provavelmente o Bulls voltaria a Cleveland com um 3 a 1 no placar. Aí vai saber…

Nesta mesma partida, tivemos o último desencontro escancarado entre LBJ e Blatt, quando o técnico, para a jogada decisiva, estava pensando em usar o ala na reposição (faz sentido, em teoria, devido a seu tamanho, visão de quadra e habilidade no passe). LBJ, claro, se recusou e disse que iria para o arremesso. Matou uma bola incrível e empatou a série. Nas entrevistas, porém, cada um disse a coisa certa, sem ferir o ego do outro. Blatt também reconheceu seu ato impensado, agradeceu a Lue, mas foi um pouco além, ao dizer que esse tipo de coisa acontece. Comparou os desafios de sua profissão aos de um piloto de caça, pelo grande número de decisões que ambos precisam tomar. Virou piada na internet, com uma série de colagens o envolvendo com Tom Cruise e seu clássico da Sessão da Tarde, Top Gun. Isso foi no mês passado.

Com Steve Kerr, a bagunça seria a mesma?

O “se” não entrou em jogo, e o Cleveland varreu o Boston, bateu o Chicago em seis partidas e tornou a varrer um oponente, o Atlanta Hawks, justamente o time que não perdeu sequer uma partida em janeiro, com 17 vitórias consecutivas. E como ele fez isso?

O jeito azarão de ser
“Essa é a coisa mais incrível que a mídia americana provavelmente irá ignorar: este é o modo como as equipes do Blatt sempre avançaram na Europa. Foi a mesma história com o Maccabi no ano passado”, disse ao VinteUm outro scout da NBA, com base nos Estados Unidos, mas com bastante trânsito no mundo além das fronteiras da liga. Um fato: quem teve a oportunidade de acompanhar a Euroliga 2013-2014 sabe o tamanho da surpresa que foi a conquista do Maccabi Tel Aviv, derrubando, nos playoffs, Olimpia Milano, CSKA Moscou e Real Madrid – os dois últimos com orçamento muito superior.

Na final, o Real era amplamente favorito. Depois da zebra, a conclusão que se tirou foi a de que, no mano a mano, a única posição em que o time israelense superava o espanhol era no banco, no comando técnico. “Esse tipo de resultado acontece com boa frequência na carreira do técnico: o sucesso enquanto azarão”, diz o olheiro. Foi da mesma forma que sua Rússia derrotou a Espanha, na casa do adversário, para conquistar o campeonato europeu de 2007.

David Blatt saiu nos braços do povo

Aclamado pelos jogadores do Maccabi, campeão europeu em 2014

O fato de não ter tanta pressão assim não é o único fator que une as equipes passadas de Blatt com o Cavs, claro. É aqui que podemos falar mais sobre o impressionante trabalho tático dos campeões da Conferência Leste. A ênfase, natural, vai para a defesa da equipe. Mas Blatt será o primeiro a corrigi-lo se for para bater só nessa tecla. Ele insiste que não dá para separar o ataque da marcação. As coisas andam juntas, interligadas. (Phil Jackson já se cansou de repetir essa frase também, assim como outros profissionais de ponta. É um conceito básico, mas que a gente pode deixar escapar com facilidade.)

Com um elenco pouco entrosado, desde o início, , o treinador americano-israelense tomou uma decisão pragmática – e que se tornou ainda mais sensata devido ao acúmulo de desfalques. Desacelerou o jogo ao extremo. O Cavs tem o ritmo mais lento de todas as 16 equipes dos playoffs, amarrando o jogo do Golden State Warriors. A média da decisão tem sido de 93,7 posses de bola. Na temporada regular, sua equipe jogou para 94,8 posses – contra 100,7 dos campeões do Oeste. É preciso dizer que, nos mata-matas, o time de Steve Kerr já estava numa toada mais controlada (96,6 posses, mas ainda bem mais acentuada).

No ataque, a abordagem individualista em torno de LeBron não é para atender a caprichos do craque. Mas, sim, para reforçar esse controle do jogo, consumindo tempo a cada posse, metodicamente, fazendo de tudo para limitar as oportunidades de corrida do Golden State. Uma abordagem com mais trocas de passe, em velocidade, sem o talento de Irving e Love, talvez pudesse causar muitos turnovers ou arremessos desequilibrados, e, a partir daí, os contra-ataques. “É realmente fantástico. O Cavs não tem ninguém além de LeBron que consiga criar um arremesso quando ele sai de quadra”, afirma o scout americano.

E aí, Timo? Dá para acreditar num uniforme desses!?

E aí, Timo? Dá para acreditar num uniforme desses!?

Com uma estratégia simplista ao extremo, mas abusando do talento do maior jogador de sua geração, encontrou-se uma forma de diminuir os erros. E aqui temos a melhor defesa para o elevado número de arremessos do ala, algo que ele mesmo vem frizando: não é que queira chutar tanto. Na verdade, ele detesta isso esse volume e a baixa eficiência no seu aproveitamento. Mas esse é o único jeito que esta versão do time tem para atacar, na sua concepção – e na de Blatt. Ajuda ter um craque desses, mas não é que ele esteja num nível superior ao que fez pelo Miami nos últimos três anos. E não estamos vendo nenhum Dwyane Wade ou Chris Bosh ao seu lado hoje.

LeBron tem sido acionado cada vez mais de costas para a cesta, geralmente do lado esquerdo do garrafão. Executa mais alguns dribles e aí parte para o ataque. A eficiência não é a mesma dos tempos de Miami Heat, mas não se trata de acidente. Mesmo que a bola não caia, sua penetração já pode causar o mínimo de desequilíbrio defensivo, dependendo do quanto os pivôs se deslocarão na cobertura, ajudando Tristan Thompson e Timofey Mozgov na coleta de um cada vez mais provável rebote ofensivo, outro fator limitador para contragolpes. A ideia é não deixar o adversário correr de modo algum, mesmo que seu próprio ataque seja sacrificado. Num duelo franco, com tantos desfalques, não haveria como Cleveland encarar.

O jogo de transição foi o ponto mais forte do Warriors na temporada, com média de 20,7 pontos nesse tipo de ataque. Nas finais, o número caiu quase pela metade (11,7). No Jogo 3, desta terça, foram apenas quatro. Se Thompson ou Mozgov não conseguem a coleta ofensiva, os demais jogadores têm a ordem de recomposição imediata, e isso vem acontecendo religiosamente. O foco principal fica em Steph Curry, que não tem liberdade alguma a partir do momento que cruza a linha central. Matthew Dellavedova se tornou seu carrapato mais detestável, mas Shumpert também vai muito bem nessa missão de contenção em velocidade, devido aos seus reflexos e elasticidade, sendo um terror na linha de passes. Tristan Thompson também é um dos pivôs de maior mobilidade na liga, encarando a turma do perímetro sem suar muito, quando necessário.

Isso tudo cria um desconforto evidente para o Warriors, expressado em diversas ocasiões pelo próprio Steph Curry, balançando a cabeça negativamente, sem parar, em quadra. A novidade que Steve Kerr havia apresentado neste campeonato foi a combinação de uma defesa eficiente, a mais dura da liga, e jogo em velocidade, solto no ataque. Seu sistema defensivo está funcionando. A outra metade da conta é que não está fechando sem as oportunidades de contragolpe. Em meia quadra, Curry está jogando sob pressão constante, e o ataque como um todo não tem encontrado espaçou e fluidez diante do empenho e consciência tática de Dellavedova, a flexibilidade de Thompson e LeBron e a presença física de Mozgov na retaguarda. A equipe californiana talvez estivesse preparada para enfrentar outro adversário. Mas já houve tempo também para se ajustar a esta nova realidade.

E pensar que Steve Kerr poderia ter sido o chefe

E pensar que Steve Kerr poderia ter sido o chefe

As #NBAFinals, no entanto, não estão definidas. É preciso ver se o Cavs vai ter perna para manter esse ritmo defensivo, se o quarto período do Jogo 3 foi apenas um descuido, um relaxamento depois da construção de larga vantagem. A viagem de Oakland para Cleveland foi problemática para todos, e o intervalo para a quarta partida é mais curto. Iman Shumpert tomou uma bordoada no ombro, mas não sofreu lesão. Dellavedova teve desidratação e câimbras fortes, mas também deve ir para o jogo. A rotação fica ainda mais abalada, de todo modo. São mais preocupações para Blatt contornar.

Se concluir a virada, o treinador ‘forasteiro’ terá eliminado três dos quatro tmais bem votados na eleição de melhor da temporada (Brad Stevens, Mike Budenholzer e o comandante do Warriors) e quatro dos sete melhores (incluindo Tom Thibodeau). Juntos, eles ganharam 1.044 pontos na eleição, de 1.170 possíveis. Blatt ficou com três pontinhos, por três votos como terceiro melhor da temporada.

Que Blatt e Kerr  estejam se enfrentando é uma situação bastante curiosa, pelo fato de o ex-jogador, dirigente e comentarista ter feito uma proposta para que o técnico do Cavs se juntasse a sua comissão. Os dois chegaram a fechar um acordo verbal, até que Dan Gilbert entrou na história. Apesar de todos as dificuldades que está enfrentando, Kerr ao menos pode dizer que conhecia– e respeitava – seu oponente.


Cavs vence o Jogo 3 e vira, dominando Golden State. Ou quase
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Giancarlo Giampietro

LeBron: médias de 41 pontos, 12 rebotes e 8 assistências em três jogos. Reinando

LeBron: médias de 41 pontos, 12 rebotes e 8 assistências em três jogos. Reinando

O Cleveland Cavaliers vai batendo recordes e recordes com sua defesa para cima do Golden State Warriors. Depois de se tornar o primeiro time a segurar o adversário com menos de 90 pontos em 48 minutos nesta temporada, o Cavs agora o limitou a 37 pontos no primeiro tempo, sua pior marca durante os playoffs – e uma quantia que a equipe havia marcado em um só quarto 18 vezes em sua campanha, para termos uma ideia.

Há muito mais números para acrescentar aqui, como, por exemplo, o rendimento do Warriors nos arremessos de três pontos, tão caros ao seu sistema ofensivo. Na temporada regular, o time converteu 39,8% de seus chutes de longa distância. Nos playoffs da Conferência Oeste, a marca foi de 38%. Nas finais, estamos falando de apenas 31,3%, número baixo para qualquer medida, especialmente para os Splash Brothers.

Sinceramente, nem precisa apelar a qualquer número para afirmar que o Cavs tem sido o time superior nestes primeiros três jogos, vencendo o terceiro por 96 a 91 para assumir o comando da série. O que não quer dizer que as coisas já estejam resolvidas. Nem mesmo com mais este dado: até o momento, a única parcial que teve o Warriors acima no placar foi a prorrogação do primeiro duelo. De lá para cá, ou deu Cleveland, ou deu empate.

A série
>> Jogo 1: 44 pontos para LeBron, e o Warriors fez boa defesa
>> Jogo 1: Iguodala, o reserva de US$ 12 m que roubou a cena
>> Jogo 2: Tenso, brigado… foi um duelo para Dellavedova

Os LeBrons se tornam os favoritos ao título pelo fato de terem assumido o controle tático da decisão –  por precisarem, agora, de uma vitória a menos que seus oponentes para levar o título. De qualquer forma, ainda que dominando estrategicamente, o time permitiu que os campeões do Oeste reagissem mais uma vez no quarto período, numa demonstração do grau de periculosidade de seu oponente.

O Warriors tirou 14 pontos de vantagem em menos de seis minutos e meio na parcial, chegando a perder por três 79 a 76 a 5mi49s do fim. Depois, ainda encostou em 81 a 80 a 2min45s, até que Matthew Dellavedova se superasse novamente numa jogada de cesta-e-falta inacreditável para dar uma boa folga no marcador. Nesta reação, ressurgiu também Stephen Curry, que anotou 17 de seus 27 pontos no quarto período, ou 9 pontos em 1min23s.

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Esse foi o melhor sinal que o técnico Steve Kerr poderia tirar do Jogo 3, ainda que, com sua experiência, tenha visto muito o que corrigir, esteja falando apenas de sua estrela, ou não. “Não gostei de nossa linguagem corporal em alguns momentos. Temos de ter energia, ter mais vida em quadra, tanto no momento em que os arremessos estão caindo, como também quando o chute não cai”, disse o treinador.

O tipo de postura que o MVP Curry não pode ter. Será que o 4º período o anima?

O tipo de postura que o MVP Curry não pode ter. Será que o 4º período o anima?

De fato a postura cabisbaixa de Steph Curry durante boa parte do jogo era algo que intrigava bastante. O armador parecia chutar pedrinhas em casa a cada ataque desperdiçado, até despertar no quarto final, escoltado por Leandrinho (4 pontos em 11 minutos, mas com muita intensidade na defesa e abrindo a quadra no ataque, com saldo +11) e David Lee (11 pontos, 4 rebotes, 2 assistências, 100% nos arremessos e saldo de +17 em 13 minutos). A próxima lição é parar de enfeitar com a bola em momentos de pressão – se ajudou o Golden State a se aproximar no jogo, também deu um jeito de complicar a tentativa de virada cometendo três turnovers nos últimos dois minutos, com direito a passe por trás das costas no perímetro, sem direção.

Não é jogando “bonitinho” que ele e seus companheiros vão superar uma defesa duríssima como a do Cleveland, que tem contestado sem parar os Splash Brothers e limitando as linhas de passe – um trabalho de Blatt que merece mais detalhes em um outro texto antes do Jogo 4. “Se conseguirmos recuperar nosso ataque, o que vai acontecer, vamos vencer esta série”, afirmou Klay Thompson, cheio de confiança. Cestinha do Warriors no Jogo 2, o ala dessa vez marcou apenas 14 pontos em 16 arremessos e 39 minutos.

A jogada para cesta e falta em cima de Dellavedova, importantíssima, quando Curry havia deixado o Warriors a apenas um ponto no placar

A jogada para cesta e falta em cima de Dellavedova, importantíssima, quando Curry havia deixado o Warriors a apenas um ponto no placar

É bom que Thompson manifeste confiança, ainda mais depois da arrancada de Curry no quarto final, parcial na qual sua equipe conseguiu marcar 36 pontos – apenas um a menos que em todo o primeiro tempo. Depois de três jogos, seria um primeiro sinal de que a defesa do Cleveland possa arrefecer, com uma rotação enxuta e desgastante carga de minutos, depois das lesões de Kevin Love e Tristan Thompson? Talvez. Mas talvez não dê mais para o Golden State, atrás no placar geral da série,  apenas esperar que uma hora a bola caia. No geral, em três partidas, eles acertaram apenas 41,4% dos chutes de quadra. Mas a chave é essa, mesmo: arrumar o ataque.

Do outro lado, estão fazendo o que dá contra LeBron James. O craque 23 tem médias de 41 pontos, 12 rebotes e 8,3 assistências em 47,3 minutos, um patamar de produção que, desconfio, você não vai encontrar jamais. Só Wilt Chamberlain, talvez. Por outro lado, o ala tem sido obrigado a tentar mais de 35 arremessos por partida, com aproveitamento baixo de 40,2%, compensados de certo modo pelos mais de 10 lances livres por confronto, com 75% de acerto. Está claro, a essa altura, que Andre Iguodala consegue incomodar muito mais o astro do que Harrison Barnes, e o mais prudente talvez seja aumentar os minutos do sexto homem.

De resto, Kerr viu seus atletas enfim reduzirem as oportunidades de rebote ofensivo do Cavs (foram apenas seis dessa vez), bloqueando Timofey Mozgov com mais minutos para Festus Ezeli do que para um exaurido Andrew Bogut. Com as costas aparentemente travadas, Draymond Green não conseguiu lidar com Tristan Thompson, porém (10 pontos e 13 rebotes). A produção ofensiva do canadense, no entanto, foi atípica. Assim como a do Oscar-de-Melhor-Ator-Coadjuvante Dellavedova, que não cansa de aprontar, saindo de quadra dessa vez com 20 pontos, muitos tapinhas no ombro. Mas que cansa no sentido literal do esporte, mesmo, sofrendo com câimbras uma hora depois do final da partida, ficando impossibilitado de conversar com os jornalistas. Segundo o clube, teve até mesmo de tomar medicação intravenosa para amenizar as dores, num hospital da cidade.

O Warriors já se viu contra a parede uma vez nestes playoffs, na semifinal contra o Memphis Grizzlies, contra quem também perderam em casa e a primeira partida fora. Agora, no entanto, eles precisam passar por uma muralha beeeem mais larga, que até agora tem impedido que os darlings da liga americana se sentissem verdadeiramente confortáveis em quadra por mais de quatro ou cinco minuto. Com a diferença de que seu atual oponente pode explorar ao máximo os talentos de um outro grande camisa 23 no ataque, seguindo uma receita bem simples e, ao mesmo tempo, difícil de derrubar. Mas o fato é que a margem de manobra do Cavs ainda tem sido bastante apertada. David Blatt está vencendo o jogo de xadrez, mas com poucas peças no tabuleiro – dependendo, se já não bastasse, de uma ressonância magnética no ombro esquerdo de Iman Shumpert. Resta saber se Steve Kerr vai conseguir reagir nessa situação e dar um xeque na próxima quinta-feira.