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Arquivo : Dellavedova

Tenso, brigado… Foi um jogo para Dellavedova, e, não, para Curry
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Giancarlo Giampietro

Dellavedova brilha de novo. Os inimigos do Leste choram

Dellavedova brilha de novo. Os inimigos do Leste choram

Pode aparecer oportunismo dizer isto, mas o Jogo 2 destas #NBAFinals estava muito mais para um Matthew Dellavedova do que para um Stephen Curry – ou, pelo menos, para esta versão de Steph Curry. Foi uma partida de contato físico, afeito ao aguerrido australiano que, mais uma vez, se ralou em uma série de lances decisivos e ajudou o Cleveland Cavaliers a empatar a série em 1 a 1, com mais uma prorrogação.

Bola perdida no garrafão em meio a gigantes? Lá estava o Dellavedova nela, alerta, para depois se estirar em quadra. LeBron é barrado no baile, e o chute de James Jones não caiu? Sem problema: sem impulsão nenhuma, com 1,93 m (oficial), o armador vai para o rebote ofensivo e, no mesmo movimento, cava a falta. Vai para o lance livre e converte os dois, sem pestanejar. E por aí vai. Nos lances mais preciosos, de 50/50, o “Delly” fez sua presença se notar e, nem que por alguns instantes que fossem, afastou da cabeça do torturado torcedor do Cavs a memória de que Kyrie Irving já não vai mais participar desta série. Irving, cujo talento no ataque ele jamais vai poder substituir, mas cuja ausência pode compensar ao seu modo, na defesa. “Estamos jogando as finais da NBA. Se você precisa procurar motivação extra, provavelmente não deveria nem estar jogando”, afirmou durante entrevista coletiva na qual ele estava sozinho no pódio, como se fosse o maioral do Cleveland.

A série
>> Jogo 1: 44 pontos para LeBron, e o Warriors fez boa defesa
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Do outro lado, ao atual MVP faltou se adaptar a um confronto mais duro. Acostumado a levantar a torcida de Oakland a temporada inteira com suas bolas de efeito (e eficientes), o armador não conseguiu alterar seu modus operandi, mesmo quando estava claro que seus lances vistosos não surtiam, não estavam surtindo efeito. Não é que ele tenha sentido a pressão. O pior foi não saber entender o tipo de pressão a que estava submetido. Um abafa exercido, para começo de conversa, pelo próprio australiano, que forçou um airball de Curry no penúltimo ataque do Warriors e, depois, viu o craque passar a bola nos pés de um Klay Thompson endiabrado, que nada pôde fazer: 95 a 93, numa partidaça de ativar a adrenalina de qualquer observador. O Cavs brigou e está no páreo.

“Nossos caras adoraram o fato de que já havíamos sido descartados. Esta é a equipe lutadora que temos. Não é nem um pouco fofa. Se estiver esperando que joguemos um estilo sexy ou bonitinho de basquete, não vai achar conosco”, afirmou LeBron James, antes de deixar o microfone para Dellavedova. (LBJ vai negar que essa tenha sido uma indireta, mas… está na cara.)

Calma, Delly. Não é rúgbi

Calma, Delly. Não é rúgbi

O novo titular do Cavs ficou 42 minutos em quadra e terminou com nove pontos, cinco rebotes, três roubos de bola, apenas 1 assistência e errou sete de dez arremessos, incluindo cinco de seis na linha de três pontos. Mas saiu com a estatística mais preciosa: uma vitória, contribuindo com os pequenos grandes lances que influenciou durante toda a temporada – e não apenas nos playoffs, quando enfileirou inimigos na Conferência Leste ao participar de algumas jogadas polêmicas. Um pequeno grande lance como o seu quinto rebote, no garrafão do Warriors. Antes que ataquem Curry por essa, a conta ficou para Klay Thompson neste lance em específico. “Esqueci de bloqueá-lo quando ele conseguiu a falta. Isso vai ficar na minha cabeça por um longo período”, disse o ala. De todo modo, não fosse seu espírito combativo e a inteligência em quadra, Delladedova não teria aproveitado a sobra. Nos playoffs, não são apenas os superastros que brilham.

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Sem LeBron James, claro, não há Cleveland Cavaliers. O astro foi mais uma vez imenso em Oakland, com 39 pontos, 16 rebotes, 11 rebotes em 50 minutos. Haja fôlego – e categoria. Pode ter errado 24 de 35 arremessos, mas deu um jeito de compensar isso com 14 lances livres convertidos, atacando o aro sem parar e até mesmo sendo ignorado pela arbitragem (um caso à parte nesta partida, errando demais, em jogadas óbvias). Mas o craque não jogou sozinho. Para o Cavs chegar ao triunfo, contou com uma desempenho defensivo soberbo.

O time de David Blatt foi o primeiro a limitar o avassalador ataque do Warriors a menos de 90 pontos, em 48 minutos, nesta temporada. Grizzlies, Spurs, Rockets, Bucks… Todo mundo tentou, ninguém havia conseguido. E, sim, dá para falar Blatt aqui, né? Malhado o ano inteiro, o treinador fez os ajustes necessários, alguns até mesmo surpreendentes, e contribuiu decididamente na vitória. Ou seria James também o coordenador defensivo da equipe?

Que Blatt não tenha retornado com Timofey Mozgov nem por um minuto sequer no quarto período foi algo bastante questionável. Também  poderia ter interferido no andamento do ataque do Cavs, que deu aquela emperrada e passou a depender exclusivamente das investidas de sua estrela, caindo no mesmo erro do Jogo 1, permitindo a reação dos anfitriões para que forçassem mais uma vez o tempo extra. Mas, taticamente, no plano geral, foi uma reação, e tanto: seus jogadores controlaram o ritmo da partida, praticamente anulando o jogo em transição do adversário ao dominar os rebotes (55 a 45, com 15 na tábua ofensiva).

Preparando terreno
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Depois de dominar as tábuas, o Cleveland desacelerou o jogo e, em meia quadra, oprimiu os arremessadores do Warriors, que acertaram apenas 39,8% dos arremessos e 22,9% (8-35) nos chutes de três pontos. Se subtrairmos a produção de Klay Thompson, que matou algumas bolas complicadíssimas (34 pontos), o aproveitamento cairia, respectivamente, para 34,5% e 17,3%. Até mesmo Tony Allen debocharia de números como esses. Como os visitantes fizeram isso? Impedindo os cortes pelo fundo e fechando as linhas de passe, principalmente quando a bola não estava nas mãos de Curry. Segundo estatísticas preliminares, o Warriors completou 217 passes neste Jogo 2. Sua média nos playoffs é de 303.

As coisas não deram certo para Curry, e o astro não soube mudar o curso

As coisas não deram certo para Curry, e o astro não soube mudar o curso

Foi aí que entrou em cena Dellavedova, com um esforço extenuante (chegou a acusar dores musculares na prorrogação…) e impressionante em seu trabalho de contestação. Curry teve de lutar bastante até mesmo para receber o passe. Até por isso sua decisão de insistir nos arremessos de três pontos a partir do drible foi pura teimosia, ou confiança em excesso. Se você está cansado, com a perna pesada, o rendimento no chute de longa distância tende a cair. Isso é matemática das mais simples.

De tantos estragos que causou neste fundamento durante toda a temporada, todavia, o armador foi arremessando com aquela mentalidade de que uma hora a bola cairia, a partir do drible, com grau elevado de dificuldade, sem se importar. No fim, caíram apenas 2 em 15, sendo que as 13 tentativas erradas são um recorde de desperdício nas finais, superando as 11 de John Starks, do Knicks, contra o Rockets, em 1994. Antes de acusar cansaço, porém, é preciso registrar que o queridinho local estava com uma expressão um tanto abatida desde o início. Foi uma atuação realmente bizarra, se comparada com o papel que tem cumprido nesta campanha.

“Eu sabia que, assim que saíam da minha mão, alguns arremessos que eu normalmente faço estavam fora. Isso não acontece normalmente. Mecanicamente, não sei se há uma explicação por isso. Apenas não encontrei meu ritmo durante o jogo”, afirmou o MVP. “Tenho de jogar melhor, encontrar arremessos melhores e ficar mais em sintonia durante a partida para que possamos nos estabelecer como time.”

Sim, quando o sujeito tenta 15 arremessos de fora, não dá para dizer que tenha falhado por omissão. Curry não fugiu do jogo. Simplesmente tomou decisões terríveis com a bola, com uma chuva de chutes curtos e ou tortos, raridades para alguém com tanta precisão. O duro é, que, com seu vasto repertório, quando usou a mera ameaça de seu arremesso para iludir seu marcador, o  craque conseguiu espaço para bater para a cesta e completar suas infiltrações (como na cesta que forçou a prorrogação), ou, no mínimo, descolando lances livres. Mas, não. Em vez de dosar as coisas e procurar outros rumos, seguiu chutando de modo tresloucado. O australiano o perturbou. “Teve tudo a ver com o Delly. Ele foi espetacular”, disse LeBron.

Claro que o defensor não o conteve sozinho, mas é inegável sua contribuição neste ponto. Segundo a ˆ, Curry errou todos os seus oito chutes quando marcado pelo substituto de Kyrie Irving e ainda cometeu quatro turnovers. Dellavedova venceu mais este embate psicológico – e físico. Merece, então, seu próprio cartaz (de mentirinha). Como se fosse uma superestrela.

Somos todos testemunhas:

Matthew Dellavedova, NBA, Cavs, LeBron

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Dois ajustes significativos de Blatt envolveram Mozgov, seu ex-comandado de seleção russa. Daí o estranhamento pela ausência total do pivô nos últimos 17 minutos de partida – quarto período mais prorrogação –, quando sua presença poderia ter sido importante em uma posse de bola ou outra ofensiva. O primeiro ajuste foi bem simples, no ataque: o russo subiu para a cabeça do garrafão para fazer o mais rápido que pudesse um corta-luz para LeBron, especialmente para livrar o astro da marcação chata de Andre Iguodala. O mínimo de espaço gerado para o camisa 23 é o suficiente para que ele crie uma situação de cesta – seja em definição individual ou para os companheiros. O pivô também se movimentou muito mais sem a bola, mesmo que não fosse para completar uma jogada de pick-and-roll, e fez a cobertura de Andrew Bogut ficar mais espaçada e hesitante. O segundo ajuste foi bem mais criativo: quando Steve Kerr usou seu quinteto “baixo” logo no primeiro tempo (com Bogut e Festus Ezeli no banco), Blatt manteve Mozgov em quadra, com a decisão de deixá-lo na marcação de Iguodala. Mesmo que o ala tenha jogado muito bem também ofensivamente na primeira partida. O russo apenas cercou o adversário e deu conta do recado, surpreendentemente. Só o perdeu de vista num raro contragolpe que resultou em bela ponte aérea com passe de Klay Thompson. Valeu o show nessa, mas taticamente o russo saiu ganhando. Ainda mais que, do outro lado, não havia quem conseguisse marcá-lo (17 pontos e 11 rebotes em 29 minutos).

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O que dizer deste erro grotesco de Marreese Speights? Pelo visto, os dias em que ficou durante a série contra o Houston Rockets valeram uns quilos a mais para o pivô. Seria muito cruel lembrar que a partida terminou empatada no tempo regulamentar? Que dois pontos poderiam ter… Bem, seria muito cruel, sim.

Só não nos esqueçamos que o mesmo Speights, mais jovem, nos tempos de Sixers, já chegou a dar um airball numa tentativa de enterrada contra Nenê:

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Num jogo de detalhes, os 8 pontos de James Jones no primeiro tempo foram um lucro danado para o Cavs, ajudando inclusive a manter a equipe próxima do marcador, enquanto Klay esquentava a munheca. Valeu a amizade, LeBron.

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Difícil dizer quem errou mais: JR Smith ou a arbitragem, que deixou escapar, por exemplo, duas faltas claríssimas sobre LBJ (a marretada de Iguodala no quarto final e o puxão de Draymond Green no bola ao alto da prorrogação). Na verdade, as falhas do irregular, cabeça-de-vento lateral acabariam por anular as bobagens dos homens do apito. Com três faltas tolas, completamente desnecessárias, Smith deu ao Warriors seis pontos de graça em lances livres, dando sua contribuição marcante para o desfecho dramático do jogo. O ex-comparsa de Carmelo até fez 13 pontos (em 13 arremessos), mas sua desatenção defensiva tem efeitos desastrosos. Ao menos ele tem senso de humor. Excluído com seis faltas, disse ter pensado o seguinte, no banco: “Por favor, vençam este jogo. Não quero todas as ligações, emails, Instagrams, tweets e memes”

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 E Steve Kerr aderiu mais uma vez ao hack-a-mão-de-pau. O premiado da vez foi Tristan Thompson, que sofreu duas faltas intencionais no quarto período, num ato de desespero do técnico do Warriors. O pivô canadense acertou dois de quatro. O time da casa pontuou em todos os lances seguintes e ainda ganhou tempo no relógio. Pragmatismo que deu certo, pontualmente.

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Ainda sobre o esforço de LeBron: nos últimos 30 anos, apenas Charles Barkley e James Worthy haviam somado um mínimo de 35 pontos, 15 rebotes e 10 assistências num jogo de playoff. Uma vez cada. LeBron chegou ao segundo só neste mata-mata. Então, ok, ele pode ter errado uma penca de arremessos. Mas a série e os desfalques do Cavs basicamente pedem que ele carregue uma tonelada de responsabilidades nas costas, mesmo.


Nos playoffs, não são apenas os superastros que brilham
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Giancarlo Giampietro

Matthew Dellavedova, aprovado por LeBron

Matthew Dellavedova, aprovado por LeBron

LeBron James, Derrick Rose, Stephen Curry, Blake Griffin, Chris Paul, Anthony Davis, Paul Pierce… É natural que, chegando os playoffs, o noticiário se concentre mais e mais nas grandes figuras da liga, aqueles que tendem a resolver a parada por suas equipes, naqueles momentos mais complicados. Os caras dos números arrebatadores, das bolas no estouro do cronômetro.

Na vitória do Cleveland Cavaliers sobre o Chicago Bulls nesta terça, para o Cavs abrir 3 a 2 na série, um lance que chamou muito a atenção foi este belíssimo toco de LeBron para cima de Rose, quando o armador tentava empatar o placar e completar uma reação assustadora dos visitantes no quarto período. Não só é um lance bastante plástico, como envolve duas estrelas:

Nesses lances de transição defensiva que tanto adora, LBJ foi lá no alto e deu a raquetada. Em slow, fica ainda mais bacana. Com a arrancada do armador e voo do bloqueador, é muito fácil ignorar o trabalho sutil de Matthew Dellavedova na jogada. O australiano, duro na queda, não se intimidou em ver o camisa 1 partindo em sua direção, a 100 por hora. Pelo contrário. Guardou posição e, no último momento, ainda se deslocou milimetricamente para a direita para forçar um ângulo  mais complicado no arremesso.  Desta forma, também retardou o movimento de Rose, permitindo a chegada de seu companheiro para a cobertura. Pimba.

São os pequenos detalhes igualmente relevantes num confronto tão equilibrado como esse, que tem toda a cara de sete jogos – isso, claro, desde que, em meio a tantas lesões, os dois times consigam listar o mínimo de jogadores exigido pela liga. Dellavedova, aliás, fez uma bela partida, que faz justiça ao papel que desempenhou durante o campeonato. Ele não vai produzir estatísticas, fazer cestas mirabolantes, mas o torcedor do Cavs e, principalmente, David Blatt sabe que pode contar com o australiano para o que der e vier.

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Não, não dá para esperar que ele vá fazer tuuuudo. Aquele tiro de três de LeBron, espremido na zona morta, com o Jimmy Butler vindo em sua direção? Melhor esquecer. Dificilmente o “Delly” refugaria na situação. Mas uma coisa é ter força de vontade, outra é a capacidade atlética e técnica para executar a jogada. Por outro  lado, se precisar que ele marque, ou torre a paciência de alguém, vai estar lá. A briga por um rebote ofensivo aparentemente perdido? Conte com essa também, mesmo que ele mal alcance no aro e que não seja nem o sétimo atleta mais veloz em quadra. Simplesmente encara. Alguém disposto a movimentar a bola ou para ficar de canto, sem reclamar se está tendo oportunidades que seu agente esperava? Mas, claro!

Durante a primeira metade caótica que foi a temporada do Cavs, Dellavedova foi importante justamente por isso, por sua entrega constante, ainda que seu rendimento estatístico em geral tenha sido inferior ao de sua campanha de novato. Foi alguém em quem tanto o contestado Blatt como o arredio LeBron poderiam confiar. Mesmo nesses mata-matas, em que seu aproveitamento de três pontos caiu de 40,7% para 36,5%, você vai ver em diversas ocasiões o Rei de Akron acionar o australiano em transição para um disparo de fora.

Contra o Bulls, obviamente não foi sua semi-interceptação de Rose que ganhou atenção.

Mas, sim, esse enrola-enrola com Taj Gibson, que resultou na exclusão do ala-pivô. Não dá para elogiar sua atuação nesse lance específico: um jogador de basquete presumidamente não precisa dar uma chave de perna no adversário. Ainda mais quando a bola já caiu na cesta. Por outro lado, rapaziada, são os mata-matas, né? Ou melhor: os playoffs. Os caras já se enfrentaram cinco vezes em menos de duas semanas. Essas coisas vão acontecer cedo ou tarde. Falou ao trio de arbitragem a perspicácia para também dar uma técnica no armador reserva do Cavs, ao passo que, se num primeiro momento a reação de Gibson parece indicar a exclusão como a melhor decisão, podendo rever o lance em quadra poderiam muito bem ter levado em consideração o fator “reação”. Enfim. Em sua estreia na fase decisiva, Dellavedova foi mais malandro que um veterano. “Delly é provavelmente o cara mais durão de nosso time”, comentou LeBron.

Pensando nesse, veja bem, valentão operário valente, que tal fugirmos um pouco da regra e listarmos, então, outros personagens periféricos das semifinais de conferência? Um exercício que o leitor corajoso de longa data do blog sabe ser recorrente por aqui. Não dá para escapar dele:

Mike Dunleavy Jr., Chicago Bulls: sim, pois o Jimmy Butler não conta. O ala já virou uma estrela e vai ser muito bem pago ao final do campeonato. Minha única preocupação com esse faz-tudo é a sua saúde. Ver Noah e Gibson se arrastando contra o Cavs traz ecos de Luol Deng para a quadra, e resta saber apenas como Butler estará daqui a quatro anos, mesmo que Thibs seja dispensado. Talvez boa parte do estrago já esteja feito. De todo modo, voltemos a Dunleavy, o ala que entrou na liga em 2002, também conhecido como o Draft de Yao, Amar’e e Nenê. Foi a terceira escolha, vindo de Duke já como campeão universitário e muita expectativa. Foi mais uma ser comparado a Larry Bird – hoje isso não está tão em moda, mas há 10, 15 anos qualquer ala branco minimamente talentoso que despontava nos Estados Unidos ouvia essa comparação. Obviamente o cara não chegou nem perto disso. Muitos questionam uma suposta falta de ambição e esperavam mais, se não, hã, top 10 da história, mas pelo menos algo mais consistente com os números que teve por Indiana em 2007-08 (19,1 pontos, 5,2 rebotes e 3,5 assistências, 42,4% de três pontos).

Dunleavy, discreto, eficiente e importante

Dunleavy, discreto, eficiente e importante

Pode ter frustrado alguns, mas é inegável que tenha talento: basta desviar os olhos de Rose e das caretas de Noah por alguns instantes e observá-lo em ação, mesmo aos 34 anos. No ataque, ele chuta que é uma beleza, se movimenta de modo muito inteligente pela quadra, é um excelente passador. Falta o arranque para a cesta, coisa que nunca fez parte de seu repertório, nem mesmo no auge. Ele não vai ser um cara para carregar um ataque, mas seu pacote de habilidades ofensivas é extremamente importante, para espaçar a quadra para as infiltrações de Rose e Butler, ainda mais quando a dupla de pivôs é Noah e Gibson, sem chute nenhum. “É uma das razões para eu ter vindo para cá: apenas fazer parte de um grupo que vença muitos jogos. Não ligo para o resto. Gosto de me apresentar, fazer meu trabalho e ir para a casa”, afirma o ala. Thibs adora: “Ele é o profissional exemplar. Joga para o time. É simplesmente um jogador de basquete. Tem horas que você apenas precisa mexer a bola de um lado para o outro. Ele vai lá e faz. Não se reflete em assistências, mas ele te dá movimento.”

Otto Porter Jr., Washington Wizards. Nenê é um candidato eterno nessa categoria, enquanto sua carreira durar. Mas vamos virar o disco aqui, pegando alguém que ainda pode ser considerado um lançamento no mercado. Porter teve apenas 319 minutos de jogo em sua primeira temporada, o que não dá nem 7 jogos inteiros. Nos playoffs, então, foram apenas seis minutinhos. Espirrava em quadra e saía. Um ano depois, porém, as coisas estão mudando: em oito jogos pela fase decisiva, ele já recebeu 263 minutos de jogo (43 vezes mais). Não se trata de caridade do técnico Randy Wittman.  Ainda que possa dar aquela viajada em quadra, o ala aos poucos se integrou ao time, dando enfim provas do basquete que fez dele também uma terceira escolha de Draft (num recrutamento bem fraco, é verdade).  Quando o selecionou, o gerente geral Ernie Grunfeld não tinha em mente um futuro craque, mas um complemento para seus jovens destaques. Como se fosse um Tayshaun Prince para Chauncey Billups e Rip Hamilton. Demorou um pouco, mas está acontecendo.

“Sua presença no rebote, seu arremesso… Isso é o seu crescimento. Sabíamos do que ele era capaz quando o selecionamos. Ele cresce a cada vez que vai para a quadra agora”, afirma Beal. Num elenco abarrotado de veteranos, Porter oferece a mais companhia na hora de acelerar, abrindo para o tiro de três pontos, ou cortando com sua passada larga rumo ao aro. Perto da tabela sua influência cresce, devido aos braços compridos e sua energia. Características agora bem empregadas do outro lado da quadra, algo com que DeMar DeRozan certamente não contava. Além disso, seu crescimento permite que Paul Pierce jogue mais minutos como  um ala-pivô aberto e também poupa o veterano de correr atrás alas mais rápidos pelo perímetro.

Dennis Schröder, Atlanta Hawks. DeMarre Carroll ainda é bizarramente o cestinha da equipe nos playoffs. Então acaba tendo sua candidatura impugnada dessa vez, e também já passamos por sua trajetória singular aqui. Legal, pois aí sobra espaço para falar sobre um reserva que vai subindo com determinação a escadaria dos queridinhos do blog. Pode chamá-lo até de Schrödinho, que tudo bem. O armador foi vital em diversas vitórias do Hawks na temporada regular, e ainda assim tem gente que pode achar que é uma “surpresa” o que ele fez nos últimos dois jogos em Washington. É que os rapazes de Mike Budenholzer venceram tantas partidas, mesmo, no campeonato, que se corre o risco, sim, de que uma ou outra contribuição fique para trás. O sucesso fica diluído.

Sem John Wall, o Wizards perdeu não só o seu principal organizador como também uma presença física imponente na marcação. Ao lado de Jeff Teague, o alemão vai se esbaldando. Ramon Sessions e Will Bynum não conseguem acompanhá-lo. Seu perfil é diferente dos demais listados. Estamos falando de um cestinha agressivo. Quando consegue forçar a troca após o corta-luz, fica mais fácil ainda, dando voltas em torno de Marcin Gortat, Paul Pierce e mesmo de um pivô ágil como Nenê. “Fico dizendo para o Jeff: ‘Continue atacando’. E ele me diz a mesma coisa. Era uma motivação para nós. Vamos para a cesta, que eles não conseguem nos parar”, diz o armador que, vejam só, numa projeção por 36 minutos, aparece como o principal pontuador do time, com 20,1 por jogo, além das 7,8 assistências. Teague precisou esperar um tempinho até assumir o posto de titular em Atlanta. Para mim, é questão de tempo para Schrödinho ganhar o mesmo status. Mesmo que em outro clube.

Tony Allen, Memphis Grizzlies. Hã… Quer dizer… Periférico?! Por dois jogos esse sujeito tirou os Splash Brothers da linha, desarmando o ala do Golden State Warriors. Estrelou vines e clipes do YouTube sem parar ao invadir uma roda de dança das criancinhas em Oakland, desarmar Klay Thompson na maior, dizer que Curry é bonitinho, e tal, mas que não é nada que não tenha visto antes e lançado sua campanha fervorosa para o “Primeiro Time de Defesa” do Conselho de Segurança e…  Precisa de mais?

Já foi, Klay

Já foi, Klay #1stTeamAllDefense

Mas, sim, periférico. Nas vitórias do Grizzlies, Mike Conley foi o protagonista, e pudera. O sujeito mal abre o olho esquerdo direito. Acabou de passar por uma cirurgia facial, por conta de múltiplas fraturas, e ainda está disposto a encarar um Andrew Bogut e um Draymond Green lá embaixo. Eu, hein? No ataque, Gasol e Z-Bo também carregam a pecha de dupla que joga na contramão da liga, lá embaixo, com se fossem os anos 80, 90. O armador e os homens de garrafão, além do mais, jogam dos dois lados da quadra. Allen causa um impacto enorme na defesa – e sua ausência no Jogo 4, com surra do Warriors, evidenciou isso –, mas suas deficiências ofensivas foram novamente expostas por Steve Kerr no Jogo 4 contra o Warriors. Seguindo tática empregada por Gregg Popovich no ataque, o técnico ordenou que seus atletas não se incomodassem que o ala ficasse livre no perímetro. Livre, mesmo, para arremessar enquanto bem entendesse. Se consultarmos o aproveitamento de arremessos em sua carreira, faz sentido. Nos playoffs, tem acertado apenas 33,3% dos arremessos de média distância e 10% de fora.


LeBron? Intrigas? Nada. No Cavs x Heat, deu festa para Varejão
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Giancarlo Giampietro

Varejão brilha pelo empenho. Mas teve seus minutos de cestinha no Rio (Foto: Marcelo Regua/Inovafoto)

Varejão brilha pelo empenho. Mas teve seus minutos de cestinha no Rio (Fotos: Marcelo Regua/Inovafoto)

Em Cleveland, ele é uma sumidade. Neste sábado, foi a vez de ser reverenciado, com muita justiça, por seus compatriotas. Num comportamento bem diferente do que apresentou no ano passado em relação a Nenê, os torcedores brasileiros ovacionaram Anderson Varejão quando o pivô foi apresentado no Rio de Janeiro, antes do amistoso de pré-temporada da NBA contra o Miami Heat.

O reconhecimento, claro, tem muito mais a ver com o carisma do pivô do Cavaliers, muito por conta de sua cabeleira esvoaçante, marca registrada, que deixa todas as suas ações um tanto mais dramáticas – um fenômeno parecido com o que se passa com David Luiz e Carles Puyol nos gramados.

Qualquer aplauso direcionado a um jogador como Varejão é merecido. Num país em que se celebra o ataque no esporte como um aspecto até mesmo cultural, no basquete essa devoção acaba se canalizando para a figura do cestinha. E, de cestinha, o capixaba não tem nada. Ou melhor: apaga isso. Pelo menos por alguns minutos, num time que tem LeBron James e Kevin Love, o brasileiro foi promovido, de modo surpreendente e cordial, a referência ofensiva – e mais do que deu conta do recado.

Desde os tempos de adolescente surgindo no time principal de Franca, o grandalhão se destacou por seu tino até mesmo extrassensorial para os rebotes, a inteligência e empenho na defesa, turbinados por sua agilidade incomum. O cara do serviço sujo. Qualidades que fizeram dele um sucesso popular em Cleveland. E que, felizmente, não passaram despercebidas pelo pelo público nacional.

Varejão fiscalizando Bosh. Prioridades defensivas

Varejão fiscalizando Bosh. Prioridades defensivas

De qualquer maneira, o Varejão que jogou pelo Cavs foi outro. A partir do momento em que anotou os dois primeiros pontos do confronto, num tiro de média distância, o pivô não se cansou de balançar a redinha. Foi um gesto bem legal do técnico David Blatt, que desenhou jogadas que colocavam o cabeleira em posição favorável para pontuar lá dentro, assessorado por LeBron. Desse jeito, o treinador vai se tornar um personagem popular com seus atletas rapidamente. A seriedade de Blatt só não foi abalada quando, no período final, a galera passou a gritar o nome do pivô, pedindo seu retorno. Não ia rolar – há planos mais sérios, de longo prazo, que precisam ser respeitados.

O brasileiro deu provas de que tem munheca e que pode ser explorado. Teve até gancho de média distância caindo, tiros em flutuação, com muita confiança. Ele anotou 8 dos primeiros 16 pontos do time, ralando, vejam só, com Dwyane Wade. No primeiro tempo, foram 12 pontos no total, acertando seis de oito tentativas de cesta. Que fase! Sua participação se encerrou no terceiro quarto, com 14 pontos em 20 minutos.

No terceiro período, porém, Kevin Love foi mais um a se beneficiar da companhia de um LeBron que estava distribuindo mais, atacando menos, desembestou e estragou tudo, disparando em sua contagem pessoal (terminou com 25 pontos pontos em 26 minutos). Chris Bosh queria morrer de tanta inveja. O impetuoso Dion Waiters também aprontou uma ou outra coisa, deixando claro que talento, para ele, não é o problema. A questão é controlar a cabeça – mesmo num amistoso lá estava o jovem ala-armador fazendo caras, bocas e poses após suas infiltrações. Não precisa.

LeBron crava: uma das duas cestas de quadra do astro em pré-temporada

LeBron crava: uma das duas cestas de quadra do astro em pré-temporada

Em termos ofensivos, o potencial do Cavs é imenso. David Blatt tem ao seu dispor alguns craques, mas não é só isso. As características de LeBron e Love já permitem uma série de quintetos diferentes. A presença de caras como Dion Waiters, Shawn Marion, Mike Miller, Joe Harris e Tristan Thompson no elenco de apoio, porém, sugere caminhos intermináveis para serem explorados. São muitos atletas versáteis, intercambiáveis e alguns excelentes arremessadores de três pontos (a escolha de Harris na segunda rodada do Draft deste ano foi providencial, aliás). Para um jogo de pré-temporada, a fluidez das movimentações ofensivas já impressionam. A mente brilhante do técnico vai se esbaldar.

Com esse ataque superprodutivo, sua equipe foi dominante, liderando o placar de ponta a ponta.  No geral, foi um jogo de nível muito superior ao Bulls x Wizards do ano passado. O fator LeBron-contra-ex-time definitivamente contribuiu para isso, ainda que o astro estivesse bem mais complacente que o normal em quadra, ainda em modo pré-temporada. Com as pernas pesadas ainda, só tentou oito arremessos no total, convertendo dois. Nos lances livres, como reflexo desse condicionamento físico ainda aquém do esperado, errou quatro de sete chutes. Fechou sua participação na metade do terceiro período com sete pontos e oito assistências.

Entre seus antigos comparsas, Dwyane Wade começou bem, mas foi perdendo eficácia no decorrer dos quartos. Chris Bosh foi mais consistente e produtivo. A temporada promete para o pivô. Enquanto, para Udonis Haslem, as coisas estão bem claras: não tem essa de jogo de pré-temporada. O veterano pivô brigou, correu, trombou, reclamou e agitou bastante. Vale ficar bem atento ao ala James Ennis também. Calouro, ele foi escolhido por Pat Riley no Draft de 2013, mas jogou a temporada na Austrália, para ganhar cancha. Está afiado. De resto, muuuita discrição. No mau sentido.

Isso é curioso: por mais que tenha perdido apenas uma peça de seu time finalista de NBA, o Miami ainda busca de uma nova identidade, de atleta que ainda procuram entender exatamente qual é o seu papel. Afinal, foi a peça que saiu, né? O cara em torno de qual todo o sistema ofensivo e defensivo girava.

Do outro lado, bastante solto em quadra, o Cavs dá primeiros sinais bastante promissores. Só não esperem que, nesta jornada, Varejão vá receber tantos passes e marcar tantos pontos como fez no primeiro tempo. E ele, claro, nem importa. Desde que em junho possa fazer mais festa. Mas dessa vez em Cleveland.

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O momento de pastelão do jogo coube a… LeBron! Claro. Vejam a cena:

Ao subir na defesa acompanhando Luol Deng, o craque do Cavs teve um lapso mental, viajou no tempo e se comportou como um atleta do Miami Heat ao fazer um corta-luz em Matthew Dellavedova, para liberar Norris Cole. Afinal, LBJ já ficou ao lado do armador-cabelo-de-bigorna por muito mais tempo do que do australiano. Acontece com as melhores cabeças.

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O final da partida, pegando fogo, foi divertido, com Shabazz Napier lembrando os tempos de Connecticut e a turma do fundão do banco suando para valer, mostrando serviço – muitos deles serão dispensados nas próximas semanas. Não bastasse o reencontro de LeBron com a ex-equipe, a contratação de Kevin Love e tudo o mais… O Brasil ganhou até mesmo um jogo com prorrogação. A galera pirou, e haja sorte para os organizadores. Deu tudo certo, com um placar bastante elevado: 122 a 119 para o time de Varejão.