Vinte Um

Arquivo : Warriors

Harden evita varrida, Howard em suspense e mais notas de um jogo maluco
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

James Harden também tem coração

James Harden também tem coração

Algumas notas sobre o jogo maluco que foi a vitória do Houston Rockets sobre o Golden State Warriors nesta segunda-feira, por 128 a 115, evitando uma varrida?

*   *   *

James Harden simplesmente não merecia se despedir de uma partida desta maneira e fez questão de prolongar a temporada do clube texano por conta própria, com 45 pontos, 9 rebotes, 5 assistências, 2 tocos, 2 roubos de bola e 7 bolas de três pontos, em 40 minutos, convertendo 13 de 22 arremessos. Foram 33 pontos no segundo tempo. Tudo verdinho:

James Harden, shot chart, Game 4, Warriors

Uma atuação digna de um franchise player, de um dos cestinhas mais mortais que se vai encontrar por aí. Qualidades que lhe valeram a segunda colocação na votação para MVP. Ainda assim, tenho essa incômoda sensação de que, de modo geral, não se respeite tanto assim o que o Sr. Barba faz em quadra. Talvez por sua capacidade para buscar o contato e sofrer faltas… Talvez pela aparente falta de expressão (afinal, a massa capilar meio que cobre tudo, mesmo)… Enfim. Ou, de repente, ele já é venerado, e esse parágrafo todo foi um desperdício de tempo.

De qualquer forma, David Hardisty, do blog Clutch Fans (dedicado ao Rockets), fez um exercício interessante. Cronometrou o quanto durou a sessão de perguntas e respostas tanto de Harden como de Curry no pós-jogo. O armador do Warriors falou por sete minutos. A entrevista do ídolo local durou 1min35s. “O tombo será a história de veiculação nacional para este jogo”, registrou.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

*   *   *

Resumo dos acontecimentos: 1) Josh Smith desembestado; 2) 45 pontos no primeiro quarto para o Rockets (depois de terem marcado 37 no primeiro tempo do Jogo 3… Se tivessem mantido o ritmo, teriam marcado 180 pontos na partida; 3) 22 pontos de vantagem abertos no início do segundo período; 4) Steph Curry busca o toco, passa por cima de Ariza, cai de modo assustador em quadra, batendo a cabeça e deixando todos, absolutamente todos aflitos; 5) Golden State baixa para até sete pontos o placar já nesta parcial; 6) Harden acerta um arremesso de seu garrafão, logo após um rebote ofensivo (abaixo). Tudo isso em 24 minutos. Ok, o que mais faltava? Claro que era uma tempestade em Houston, segurando muitos torcedores no Toyota Center, para que eles pudessem ponderar sobre o quão aleatórios podem ser os acontecimentos da vida. : O

(Como Jeff Van Gundy disse, um chute desses deveria ser validado, não importando que o cronômetro já tivesse zerado. E digo mais: não só deveria valer, como deveria contar cinco pontos no mínimo. Que absurdo.)

*   *   *

O Houston Rockets agora tem quatro vitórias em partidas nas quais precisava evitar a eliminação. Qualquer perspectiva de uma virada miraculosa contra o poderoso Golden State Warriors, porém, passa pela decisão do departamento técnico da NBA sobre Dwight Howard. O irritadiço pivô pode ser suspenso.

Os oponentes sabem o quanto ele pode perder a compostura facilmente. Tyson Chandler já o deixou no limite na primeira rodada. Agora foi a vez de Andrew Bogut. No empurra-empurra tradicional do garrafão, o australiano primeiro empurrou o pivô da casa, que, ao se virar para a bola e a transição defensiva, soltou o braço na direção do adversário. A arbitragem deu falta flagrante 1.

Se você for comparar este lance com dois episódios recentes dos playoffs, fica bem clara uma incoerência na marcação. É quando a famigerada interpretação entra para causar discórdia.

Vejamos a agressão de JR Smith em Jae Crowder, no último jogo da série Cavs x Celtics, que resultou na suspensão do ala por duas partidas:

(Smith acerta o adversário em cheio, com mais força, mas o movimento é parecido.)

E agora o ato de quase-fúria de Al Horford para cima de Matthew Dellavedova, hoje o jogador mais odiado em toda a Conferência Leste, que causou sua expulsão do Jogo 3:

A NBA vai certamente revisar o rolo entre Howard e Bogut. Caso cedida elevar a falta para flagrante 2, o pivô do Rockets será suspenso automaticamente do Jogo 5 em Oakland, por ter acumulado quatro pontos nesse tipo de incidente.  As regras são as seguintes: cada falta flagrante gera um ou dois pontos de penalização para um atleta, dependendo de seu grau. A partir do momento que o jogador passar dos três pontos, receberá um gancho de uma partida, independentemente de já ter sido excluído em quadra.

Ex-vice-presidente da NBA e chefe do departamento técnico, o treinador Stu Jackson afirmou acreditar em uma suspensão para Howard. “A falta flagrante provavelmente vai ser elevada. Foi uma ação temerária e fez contato com a cabeça. Foi um contato muito mais severo que o da falta flagrante de Horford”, afirmou. “Lembrem-se que a avaliação da falta flagrante não tem a ver com intenção. É uma regra em relação a ação e contato.”

“Espero que não”, diz Howard. “Mas não tem muito o que possa fazer a essa altura. Nunca é minha intenção machucar alguém em quadra. Minha reação foi apenas de tentar me livrar dele, mas não posso reagir desta maneira.”

*   *   *

Caso seja realmente suspenso, ao menos Dwight Howard deu uma compensada com a torcida. Por morar num subúrbio distante do Toyota Center, o pivô não conseguiu sair imediatamente. Disse que as vias estavam interditadas devido ao temporal lá fora – foi como se a natureza pudesse sentir toda a turbulência deste Jogo 4 e resolvesse descarregar uma tempestade na cidade. Coisa de maluco:. Depois de banho tomado, entrevistas concedidas, voltou para a quadra para trocar uma ideia com alguns torcedores e curtir um pouco de música. Relatos da mídia de Houston, aliás, dão conta de que o sistema de som da arena tocou, até com certa ironia, “Purlpe Rain”, o clássico de Prince.

Numa relax, numa boa

Numa relax, numa boa

CF6UnHMUEAEeT9e

Cadê o grito da galera?

Mais: o telão central do ginásio divulgou uma mensagem enquanto o jogo ainda estava em andamento, recomendando que os torcedores permanecessem em seus lugares, por precaução devido ao péssimo clima lá fora. Serviço.

Toyota Center, weather, Houston, storm

E outra sobre a torcida: os aplausos no momento em que Steph Curry saía de quadra após sua assustadora queda foram louváveis. Afinal, era o craque que havia despedaçado seus corações há duas noites e, na brincadeira, mandou um torcedor mais agitado se sentar.

*   *   *

Curry, aliás, disse que não tem o menor interesse de ver o vídeo de seu capote, passando por cima de Ariza numa tentativa de toco. “Uma vez já foi o bastante”, afirmou. O armador passou por diversos exames e testes no vestiário até ser liberado de volta ao jogo, depois de constatada uma contusão na cabeça – contusão que não gerou concussão. Ele, Steve Kerr e a diretoria do Warriors asseguram que não havia o menor risco para que continuasse na partida. Depois de um airball e de levar um toco no perímetro, o MVP passou a pontuar com a naturalidade de sempre, mesmo. Importante dizer que há um protocolo bastante rígido hoje em vigência por parte da NBA para a avaliação de possíveis sintomas de concussão cerebral. A avaliação é isenta, independentemente do jogo ou do personagem envolvido.

Stephen Curry, Warriors, Rockets, queda, fall

A queda

*   *   *

Juntos, Rockets e Warriors acertaram 37 de 78 arremessos de três pontos, estabelecendo um recorde para os playoffs da NBA. O aproveitamento foi de 47,4% no geral, com 52,1% para o time da casa. James Harden matou 7 em 11, superando Curry dessa vez (6-13, o mesmo número de Klay Thompson, que enfim fez uma partida para justificar o apelido de Splash Brothers). O recorde anterior dos mata-matas era de 33 acertos em 54 chutes de longa distância, envolvendo curiosamente o mesmo Rockets e o finado Seattle Supersonics, em 1996. Eventual vice-campeão da liga, perdendo para o histórico Chicago Bulls das 72 vitórias, o Sonics matou 20 em 27 tentativas, com rendimento de 74,1%.


Golden State Warriors mostra todo o seu potencial, chutando e defendendo
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

O Golden State Warriors parte para a definição rápida. Se quiser, amigão, pode até chamar de “chega e chuta”, ou “chuta-chuta”, se preferir. Com o que Stephen Curry tem arremessado durante toda a temporada, não há o que se fazer, mesmo. Mas, depois de o time ter destroçado o Houston Rockets no Jogo 3 deste sábado, creio que não há mais como enxergar a máquina de Steve Kerr apenas como um time aríete, de tresloucados (e talentosos) gatilhos de três. Tem muito mais rolando por trás do sucesso

“Foi uma grande lição para nosso time: se defendermos como doidos e cuidarmos da bola, a gente tende a se dar bem”, afirmou o treinador em sua coletiva pós-jogo, numa das raras respostas em que não precisou falar sobre o show que seu armador deu em quadra no triunfo por 115 a 80, abrindo 3 a 0 na série, encaminhando uma varrida para cima do cabeça-de-chave número dois da Conferência Oeste.

Vitória magistral que mostra todo o potencial deste time

Vitória magistral que mostra todo o potencial deste time

Foi uma combinação de ataque e defesa que levou o Warriors a um resultado impressionante desses. Com os grandes campeões devem fazer, numa receita sempre ressaltada por Phil Jackson: a execução de uma boa marcação leva ao jogo de transição eficiente, enquanto um ataque bem realizado facilita a recomposição defensiva. Tudo em plena harmonia. Resta saber apenas se o Mestre Zen enxerga isso neste Golden State, dirigido pelo técnico que o deixou no altar antes de a temporada começar, ou se ainda se apega a uma visão conservadora e anuviada que pode tratar um timaço desses como um bando de delinquentes, que mancham a história do jogo. Pura bobagem.

Depois de duas derrotas apertadas na Califórnia, tentando dar o troco em sua casa, o Rockets deu de cara com um muro. Acertou apenas 28 de 83 arrmessos (33,7%), errando 20 de 25 chutes de longa distância (20%) e cometendo o mesmo número de turnovers e assistências (15) – comparando com médias de 44,7%, 33,7% e 22,3 x 15,1. Os 18 pontos do primeiro quarto e os 37 antes do intervalo foram suas marcas mais baixas nos playoffs.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

James Harden foi quem mais sentiu, limitado a apenas três cestas de quadra em 32 minutos e 16 chutes. Deu um jeito de bater 11 lances livres e chegar a 17 pontos, mas com sérios problemas. Não foi apenas o esforço de Barnes, Iguodala e Thompson que atrapalhou o barbudo. “Nossa marcação de ajuda e nossa proteção do aro também”, disse Klay. “Draymond, Andrew e Fetus fizeram um trabalho fabuloso contra ele.”

O que o Warriors faz é, na verdade, revolucionário. Uma equipe que combinou na temporada regular o ritmo de jogo mais veloz  e, ao mesmo tempo, sustentou a defesa mais eficiente. Supostamente, de acordo com a teoria de tudo, essas coisas não poderiam andar juntas. Ou você joga acelerado e abre mão da retaguarda, ou você adota um ritmo moderado para poder proteger seu garrafão de modo adequado. Vamos resgatar alguns exemplos recentes, comparando os resultados?

ataque-defesa-ritmo-warriors

Ritmo mais veloz que os outros quatro times e a melhor defesa disparada

Agora, quer saber um segredo? Durante os playoffs, o time está jogando com uma proposta mais comedida. Entre os 16 classificados, tem apenas o 11º ritmo mais rápido – ou o quinto mais lento. Obviamente que você desconta um pouco essa mudança pelo simples fato de ser uma amostra reduzida de jogo: apenas 13 comparando com os 82 da temporada, enfrentando um adversário que gosta de retardar as ações em quadra, como o Memphis Grizzlies, pelo caminho. São até agora 95,25 posses de bola por 48 minutos, muito mais perto do lanterninha Cleveland Cavaliers (92,67) do que do mais ligeirinho, o Dallas Mavericks (104,4). Se for pegar apenas a final do Oeste, contra um adversário que pede aceleração, o número sobe para 98,59 posses, ainda distante do topo.

O curioso é que, mesmo com um ataque mais lento, o Warriors tem cometido mais turnovers por 100 posses de bola do que na temporada regular (15,7 x 14,4), liderando essa estatística um tanto desagradável. Daí a preocupação de Kerr em mencionar os turnovers em sua declaração. Afinal, se cuidarem com carinho da bola, serão mais chances para Curry e Thompson chutarem. E aí…

Traduzindo em números, temos:

Sinta o estrago

Sinta o estrago. Esse é o gráfico de aproveitamento de Curry nestes mata-matas

Destacar o coletivo do Warriors não impede que a gente se delicie com o que o Chef Curry vem colocando na mesa. Tudo o que um ataque quer é que um cara desses parta para a finalização. Na mesma proporção, a defesa se desespera. Neste sábado, foi até um exagero: 40 pontos em apenas 19 arremessos para Curry, com 12-19 de quadra, 7-9 de três, 9-19 nos lances livres. Mais sete assistências, em 35 minutos. O bombardeio de longa distância é o que mais chama a atenção, mesmo, mas o estrago que o armador fez foi geral. Passeou pelo garrafão com seu drible belíssimo e fez aquelas bandejas que Steve Nash ensinou para a garotada. “Ele vem de um campeonato brilhante. É difícil descrever seu arremesso porque acho que nunca alguém chutou dessa forma a partir do drible, ou a partir do passe”, disse Kerr.

Chef Curry, aliás, é o apelido que vem ganhando força para o astro do Warriors. O engraçado, porém, é que ele prefere “Baby Face Assassin”, o assassino cara de bebê – “Cruel, muito cruel”, diria o Januário. “Entendemos que é um momento especial. Estamos envoltos nessa rotina do dia-a-dia de preparação para os jogos e ir para quadra e pôr em prática todo o esforço que precisamos para fazer essa história acontecer”, afirma o armador.

O lance mais emblemático em termos de crueldade aconteceu na metade do terceiro período, depois de um toco de Dwight Howard em Klay Thompson. A bola o procurou para isto:

Alguns minutos antes, ali do mesmo cantinho, já havia matado uma bola para silenciar – e mandar sentar – um torcedor texano mais enxerido:

“Isso que é divertido num jogo de playoff fora de casa. Você encontra esses caras que querem te perturbar, caras que pagam muita grana por esses assentos e querem fazer valer o dinheiro. Se eles querem falar, podem ouvir de volta, espero”, afirmou Curry. De fato. O torcedor do Rockets pagou uma nota e tem o direito de se chocar – ou se divertir – com uma apresentação dessas. Não só do armador, como de um todo.

Na saída do Jogo 2 em Oakland, quando James Harden teve a última bola em mãos para poder igualar a série, os atletas do Warriors em geral afirmaram que estavam se sentindo bem pelo fato de nem terem jogado tão bem assim e estarem com 2 a 0 no placar geral. Aí que o Rockets e o restante da NBA puderam ver todo o potencial da equipe em prática.  Defendendo e chutando muito. Um basquete para ser campeão e rever conceitos.


JR Smith: da confusão ao encaixe para reforçar o Cavs
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

E aí? Não é que deu certo?

E aí? Não é que deu certo?

O supertimes tendem a dar muito certo. O Boston Celtics de Pierce, Garnett e Allen precisou de apenas um training camp para se entender perfeitamente e caminhar para o título, o primeiro da franquia desde a era Larry Bird, após 22 anos. Em Miami, levou um pouco mais de tempo para LeBron e Wade se acertarem e terem na quadra o mesmo entrosamento da sala de estar, ou do jatinho privado, no caso. Karl Malone não conseguiu o anel com o Lakres, mas foi até a final ao lado de Shaq, Kobe e Payton, mesmo numa temporada 2003-04 espalhafatosa e acidentada.

Agora, no momento de construir uma equipe, o gerente geral X não vai obrigatoriamente buscar sempre os melhores componentes, o que há de melhor disponível no mercado. Existe, ou deveria existir uma preocupação com o encaixe dessas peças, tanto do ponto de vista esportivo, como na questão do convívio social. Não que todo elenco de NBA requeira uma aura fraternal. Família Kerr, Família McHale… Coisa mais cafona. Se tiver, porém, tanto melhor. Apenas espera-se que os jogadores tenham um mínimo de respeito mútuo para que o projeto possa ser levado adiante.

Tudo isso para chegar ao Jogo 1 da final da Conferência Leste, também já conhecido como O Jogo de JR Smith – assim como a sétima partida entre Clippers e Spurs pertence a Chris Paul. O que o ala ex-Knicks fez na quarta-feira foi para deixar qualquer observador maluco, independentemente de sua ocupação ou filiação. Torcedor, jogador, técnico, olheiro, dirigente, do Cavs ou do Hawks. Todos de queixo caídos, por diversas razões.

Fato 1: JR anotou 28 pontos, seu recorde pessoal nos mata-matas, sendo que 24 deles vieram em arremessos de três pontos. Seu aproveitamento ultrapassou o limite do absurdo, com oito conversões em 12 tentativas de longa distância.

Fato 2: JR converteu, então, 66,7% de seus arremessos de fora. O Cavs, excluindo seus números, ficou em 2-14 (14,3%). O Hawks chutou 4-23 (17,4%).

Fato 3: Dos 28 pontos de JR, 17 aconteceram entre a marca de 3min27s do terceiro período e a de 9min59s do quarto. Foram cinco disparos de três nesse intervalo, vencido por Cleveland por 22 a 4, para que uma vantagem de 85 a 67 fosse aberta no placar. O time da casa reagiria, mas o estrago foi grande demais.

Fato 4: Sabe quantos pontos os demais reservas de David Blatt fizeram? Nenhum. Zero. Nada.

Fato 5: As oito cestas de três do ala representam a segunda melhor marca de um jogador que tenha saído do banco em uma partida de playoff. Jason Terry encaçapou 9 pelo Mavs em 2011.

Foi uma exibição especial de um talento especial, que pode assombrar os adversários se empolgado. Ao mesmo tempo, talento cujo detentor também afugentou muitos dirigentes durante a temporada – e toda a sua carreira, na real. Vale a pena ler uma reportagem de Brian Windhorst no ESPN.com, na qual ele detalha como o Knicks estava desesperado para se livrar de Smith, até o Cleveland topar a empreitada. “Francamente, o Knicks estava tentando limpar seu contrato da folha salarial na próxima temporada, mas também queria afastá-lo do time. Reclamando sobre sua situação e o status decadente do Knicks, Smith não estava apenas falhando em produzir, mas também dando muito trabalho. Na verdde, o Knicks estava tentando encontrar um meio de se livrar deles há meses”, escreve.

Se o seu antigo time o estava tratando dessa forma, que tipo de problema ele poderia causar num vestiário que já andava um tanto turbulento? (Para não falar, claro, de todo o dossiê já público sobre sua prática avançada do lunatismo.) Foi o tipo de reflexão que o gerente geral David Griffin teve de fazer antes de levar o negócio adiante. A preocupação era tamanha que o cartola chegou a pedir autorização para o Knicks para conversar com o jogador antes de assinar qualquer coisa.

Para bater o martelo, teve cobertura. Sondou LeBron e Blatt e ouviu sim de ambos. O astro não só avalizou a troca, como também a incentivou. Disse que tomaria conta do reforço. O treinador também não se mostrou preocupado com a bagagem fora de quadra: se fosse pensar apenas no jogo, as habilidades de JR seriam perfeitas para um time que precisava de mais capacidade atlética no perímetro e mais arremesso. A combinação deu certo, como podemos notar, e nem mesmo a suspensão que sofreu por agressão a Jae Crowder foi recebida de forma negativa pelo clube. Windhorst relata: todos acharam o gancho de dois jogos exagerado, apoiando o ala. Provavelmente nenhum treinador tenha se empenhado tanto como Blatt vem fazendo, na hora de defendê-lo.

Xácomigo: LeBron disse que cuidaria de JR

Xácomigo: LeBron disse que cuidaria de JR

E aí veio essa atuação fantástica para o Cavs roubar o mando de quadra do Hawks na primeira partida para dar razão a todos. Cheio de confiança, Smith fez chover bolas de três em Atlanta, com alguns arremessos num grau de dificuldade altíssimo. Depois, figura que só, diria aos jornalistas presentes: “Prefiro tentarsempre um arremesso contestado a um chute livre. É meio entediante quando você arremessa livre”. E não é que os números comprovam sua preferência? O ala converte 48% nos chutes marcados, comparando com os 40% quando está isolado.

É praticamente impossível que ele consiga repetir esse tipo de desempenho, e nada perto disso pode ser cobrado, mesmo. Mas o fato é que o cestinha se sente respaldado e tem liberdade para atacar, botando pressão na defesa adversária e abrindo a quadra para LeBron fazer das suas, assim como havia acontecido na campanha 2012-13 pelo Knicks, com um sistema aberto de Mike Woodson ao redor de Carmelo. Um grande contraste com o sistema de triângulos, um ataque que propicia liberdade nos movimentos (as jogadas não são rabiscadas), mas pede muito paciência para esperar boas oportunidades de finalização. Esse alto astral, essa lua de mel muito provavelmente não vá durar ad eternum, pois a volatilidade de Smith beira o incontrolável. De qualquer forma, pelos resultados apresentados até aqui, a aposta já valeu.

O chuta-chuta parece até meio desmedido em algumas situações? Sim, tem hora que o Cavs exagera como um tudo. Por outro lado, pensem nos pivôs do time: Timofey Mozgov, Kevin Love (antes) e, principalmente, Tristan Thompson. Os três têm uma presença intimidadora perto da tabela. O canadense devora a tábua ofensiva com voracidade – contra o Hawks, foram cinco; na temporada e nos playoffs, coleta 14% das sobras. No ranking de times, apenas o Dallas Mavericks coleta mais rebotes no ataque nestes playoffs. Faz mais sentido, então, ter um chutador como JR nessa configuração. Você quer que ele acerte tudo, claro. No caso de erro, contudo, há quem esteja lá para tentar compensar. As características de cada atleta se interligam. A partir daí se forma a química em quadra. No vestiário, lideranças como LeBron e Perk entram em cena.

Iguodala num gesto em prol da química da melhor campanha da liga

Iguodala num gesto em prol da química da melhor campanha da liga

Esse tipo de situação se repete em diversos times que ainda estão no páreo, em diferentes níveis. Pegue o Houston Rockets, por exemplo, e sua rotação no perímetro. Patrick Beverley faz uma falta danada, mesmo que não seja exatamente um armador de ponta. Não sei nem mesmo se dá para enquadrá-lo como um “armador”, “armaaaaador”, mesmo. E talvez nem precise. Afinal, James Harden é o condutor do ataque, quem controla a bola, enquanto Beverley oferece chute de três do lado contrário e muita pegada defensiva. Os dois se complementam. Não que um jogador como Goran Dragic ou Kyle Lowry (ex-jogadores do clube, especulados nos últimos meses como possíveis alvos de Daryl Morey) não possa dar certo, mas qualquer um deles exigiria um bom ajuste tático e técnico por parte do segundo colocado na eleição de MVP desta temporada. Beverley, diga-se, foi contratado antes mesmo de Harden, mas se tornou uma companhia perfeita. Agora vai virar agente livre. Em Houston, sua importância é amplificada. Sem um ala-armador como Sr. Barba ao seu lado, será que renderia com a mesma eficiência ou relevância?

Em Oakland, Andre Iguodala foi convencido por Steve Kerr a sair do banco de reservas. Não quer dizer que hoje seja um jogador inferior a Harrison Barnes. Entrando com a segunda unidade, porém, ao lado de Shaun Livingston, pode apertar a defesa e sufocar adversários, em teoria, inferiores, além de partilhar a bola e fazer o ataque fluir. Por outro lado, o envolvimento de Barnes com os titulares elevou sua produção. O jovem dá mais amostras de seu potencial. Agora, como seriam as coisas sem a companhia de chutadores como Curry e Klay ao seu lado? É mais fácil jogar como a terceira, quarta opção em quadra do que como a referência, o foco da segunda unidade, né? Como nos tempos de Mark Jackson.

O Atlanta Hawks como um todo talvez seja o maior exemplo disso, no qual o todo se tornou indiscutivelmente maior que a soma de suas partes – temos um supertime moldado de outra forma, sem superestrelas, mas com um nível acentuado de entrosamento e preparação. Essas são questões que qualquer torcedor deveria fazer antes de cobrar, comentar ou vibrar com qualquer contratação. Nem sempre o talento individual deve prevalecer. No caso de JR Smith, a verdade é que os recursos individuais nunca foram um problema. Difícil era enquadrá-lo. Ou melhor: encaixá-lo.


James Harden, um turnover e a liberdade de se tomar uma decisão
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Parece que a ampla maioria da rapaziada que embarcou no plantão corujão na madruga desta quinta para sexta entendeu que o técnico Kevin McHale cometeu um erro gravíssimo ao não pedir tempo e parar o jogo quando Harrison Barnes errou uma bandeja em reverso meio exagerada, com o rebote sobrando para seu Houston Rockets. Na mão de James Harden. Restavam 9 segundos no cronômetro, e o placar era de 99 a 98 para o Golden State Warriors.

McHale deixou o jogo correr, e o Sr. Barba saiu em disparada, e em três segundos, o Rockets tinha vantagem numérica na transição ofensiva, com quatro atletas contra três cruzando primeiro a linha que divide a quadra. Havia diversas possibilidades de execução ali, todas, claro, precisando ser processadas em questão de décimos de segundo (mais sobre elas adiante). O segundo jogador mais votado na eleição do MVP da temporada, porém, não as aproveitou. Deu uma hesitada com a bola, errou. A marcação apertou, a bola escapou. Nem mesmo o chute ele conseguiu executar. Warriors 2 a 0 na série.

harden-turnover-game-2-warriors-rockets

O desfecho foi todo atrapalhado, sufocante, é verdade. Mas ainda penso que foi a decisão correta – ou melhor: a decisão que me agrada mais, com um treinador demonstrando poder de confiança nos seus atletas, em vez de exercer um papel supercontrolador. Aliás, essa não é uma das grandes reclamações sobre a NBA de hoje? As constantes intervenções, paradas? Lembrando que, no basquete Fiba, não haveria a chance de se pedir tempo ali. Que os jogadores consigam solucionar problemas em quadra, ué. Ainda mais quando estamos falando de uma liga em que o salário médio é de US$ 4 milhões, o maior em todas as competições de alto nível do esporte mundial. Não só do basquete, mas no geral, mesmo. Caras que podem ser um tanto mimados por vezes, mas que, em quadra, presume-se grande maturidade.

Disse McHale sobre a jogada: “Era o Harden descendo a ladeira. Se tenho nosso melhor atleta criando a partir de uma jogada quebrada, aceito isso em qualquer dia da semana”. Trevor Ariza, que já ganhou um título pelo Lakers em 2009: “Harden tinha a bola, e toda vez que ele está com a bola, sentimos que temos uma chance”. O barbudo, então, fala por si: “Se tivermos essa jogada dez vezes, vamos para ela dez vezes”.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

Realmente, não vejo problema nisso. Harden teve a chance de definir, apenas falhou. Isso não significa que, com pedido de tempo e uma jogada desenhada, o Rockets teria garantido um arremesso livre. Jogadas como essa são estudadas exaustivamente pela oposição, gente. Mesmo uma bola decisiva no final certeira, a partir das instruções de um treinador, acaba geralmente contestada. Não é, Pierce? O ala do Washington executou lances mirabolantes neste mata-mata, mas com alto grau de dificuldade. Não sobrou livre para aprontar em nenhum buzzer beater. Aí cabe ao treinador desenhar algo mais criativo, claro. Mas mesmo uma versão alternativa corre o risco de já ter sido filtrada por uma comissão técnica vasta, apoiada por um batalhão de scouts, como no caso do Golden State Warriors. Que, por sinal, calha de ser a melhor defesa da NBA.

Vamos, então, ao lance derradeiro – se o torcedor do Houston quiser pular essa parte, tudo bem. Está na marca de 2min49s:

1) Barnes erra em sua infiltração, e Draymond Green vai com tudo para o rebote ofensivo, em vão, e acaba até mesmo saindo de quadra, enquanto seu companheiro está no chão, desequilibrado. Para que parar o jogo aqui, especialmente quando o seu time está treinado para jogar em velocidade?

warriors-rockets-game-2-final-play-1

2) Em coisa de dois segundos, o que temos? Três jogadores do Rockets descendo a quadra contra três defensores. Quadra aberta, ainda mais quando a bola está nas mãos de um Harden, daqueles que consegue encontrar espaço num garrafão abarrotado.

warriors-rockets-game-2-final-play-2

3) Harden acabou avançando um pouco além da conta? Talvez, mas os visitantes estão novamente em vantagem numérica, com quatro atacantes adiantados em relação aos defensores, ainda que os cinco Warriors apareçam no grame (Dwight Howard, com seu joelho dolorido, limitado, ficou para trás). Mais de 2 segundos se passaram.

warriors-rockets-game-2-final-play-3

4) Aqui chegamos ao momento que julgo crítico. Percebam o corredor que Terrence Jones tem pela frente, e o garrafão escancarado. Klay thompson está logo atrás de Curry, preocupado com o camisa 13. Draymond Green estava atrasado na recuperação e, do lado direito, Iguodala tem um Corey Brewer para vigiar. Pior: Jones estava na mira de Harden. Um passe a partir do drible o encontraria livre, e aí era subir para a cravada. Iguodala se recuperia a tempo? Talvez, mas conseguiria parar um jogador mais alto, atlético em alta velocidade? Talvez só com falta. Só percebam que menos de um segundo passou do frame acima para este:

James Harden, turnover, Game 2, Rockets, Warriors, West Finals

5) Harden perdeu o bonde de Jones, no final. Aqui, a linha de passe já era. E aí ele passa para Howard, vindo de trás. Pois havia parado de driblar e estava numa posição delicada, já cercado também por Barnes. Este é o momento em que o astro ou McHale deveriam ter pedido tempo, enfim. Havia segundos de sobra para tramar algo.

warriors-rockets-game-2-final-play-5

6) Harden fez o passe para Howard e recebeu a bola de volta. Agora já tem uma barricada a sua frente. Kevin McHale afirmou, depois, que neste instante pensou em parar o jogo. Deveria ter feito, restando 2s5 no cronômetro. Aí veio o turnover, e c’est fini. Game over.

warriors-rockets-game-2-final-play-6

Harden teve uma brecha clara para o passe. Poderia também ter sido mais agressivo e batido para a cesta de vez – mas talvez estivesse preocupado também em não deixar alguns segundos para um eventual troco de um time que conta com Steph Curry. McHale realmente deveria ter invadido a quadra e brecado tudo. Havia tempo para rabiscar. Mas é fácil falar assim, né? Dividindo uma jogada de 9 segundos em seis frames. Sabendo que ela não deu certo. Na hora, tanto o treinador como o ala-armador precisam processar tudo o que se passava em quadra, jogando contra o relógio. Ambos falharam.

É tudo um aprendizado, no fim.

Como protagonista, lembremos, é apenas a primeira vez que Harden faz uma final de conferência, que chega tão longe nos playoffs. Em 2012, fez uma péssima série decisiva contra o Miami Heat, mas era apenas o número três, atrás de Durant e Westbrook. Não dá para falar em tremedeira também, por favor, já que o cara foi responsável por 10 dos últimos 12 pontos do Rockets e ainda municiou Dwight Howard para a outra cesta de quadra – terminou com 38 pontos, 10 rebotes, 9 assistências, 3 roubos de bola, descansando apenas sete minutos. Imagino que, na próxima chance que tiver, o barbudo não vai hesitar em agredir a cesta, assim como fez durante toda a temporada. Sua frustração incontrolável na saída de quadra indica isso.

Agora é só esperar que McHale aposte nele mais uma vez.

*    *    *

Sobre o Chef Curry? Afe.

O MVP já soma 57 bolas de três pontos nestes playoffs. Precisa de apenas mais uma para igualar o recorde de Reggie Miller em 2000. Naquela ocasião, o ala do Pacers foi até a final da liga, perdendo para o Lakers de Shaq e Kobe. A dúvida que fica é se Steph vai passar dessa marca com dois ou três minutos de jogo em Houston, no sábado. O queridinho da América tem um aproveitamento de 87,5% (14-16) nos arremessos em que teve liberdade durante os mata-matas – só não confundam com lance livre. De longa distância, foram 8 em 10 tentativas sob essas condições. Quando contestado no perímetro, esse número cai para 44%  e 3-12, respectivamente.

Ah, e esta aqui não vale, ufa:


Como o Golden State Warriors vai reagir à adversidade?
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Tony Allen, uma peste infernizando os Splash Brothers

Tony Allen, uma peste infernizando os Splash Brothers

O Golden State Warriors viveu um ano praticamente perfeito. Um técnico novo brilhante, um sistema repaginado, e a dominância da NBA.  A melhor defesa, o segundo melhor ataque, sufocando e correndo. O MVP Stephen Curry. O grande salto de Klay Thompson e Draymond Green. Um elenco versátil. Tudo isso para desembocar na melhor campanha da liga, com sete vitórias a mais que o Atlanta Hawks, com um aproveitamento de 81,7%. Não só isso, mas a sexta melhor campanha da história, ao lado de outros times históricos.

Agora, esse mundo perfeito se vê seriamente ameaçado, após duas derrotas seguidas para o Memphis Grizzlies, que se vê liderando a série pelas semifinais do Oeste ao limitar o poderoso ataque californiano a apenas 89 pontos no Jogo 3. A pauta obrigatória, então, é a seguinte: como o Warriors vai responder a tamanha adversidade? A primeira verdadeira resistência que enfrenta desde o início da temporada. “Esse é um processo de aprendizado para nós. Somos um time muito jovem”, afirma o treinador Steve Kerr. “Agora este é o nosso momento da verdade. Você tem de aprender durante os playoffs.”

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

Talvez a intenção de Kerr seja dizer que seu elenco é inexperiente, não jovem de idade, uma vez que a média de idade do elenco é de 27 anos, contra 27,7 do Memphis Grizzlies. O núcleo de Stephen Curry (27), Klay Thompson (25) e Draymond Green (25) chegou a esta edição dos mata-matas com apenas três séries disputadas em 2013 e 2014. Do outro lado, o Memphis Grizzlies já tem uma base que está em seu quinto ano de competição em alto nível, com sete séries e 42 partidas na caixola. Entre tantos componentes táticos do confronto, a experiência, o emocional também faz diferença, não há como negar.

As coisas ameaçam sair, ou já saíram do controle de Curry

As coisas ameaçam sair, ou já saíram do controle de Curry

Agora fica essa dúvida sobre como esses caras vão se comportar no Jogo 4, claramente decisivo, nesta segunda-feira. Após a segunda derrota seguida, a resposta deles foi de tranquilidade. De que, obviamente, as coisas não haviam saído como queriam, mas que tinham plena capacidade de reverter o quadro e acalmar a turbulência que, sabem, já gira em torno do time, fora do vestiário. Aliás, é o que eles ouvem durante todo o campeonato, aquela de sempre: o sucesso da temporada regular vai se traduzir para os playoffs? Esse estilo de jogo pode ser vencedor? “Eles são uma equipe que só ataca com arremessos. Arremessos não dão certo. Todo esse tipo de coisa vai aparecer agora”, afirma Draymond Green, com a personalidade de sempre. “É frustrante, mas é divertido”, diz Curry.

Personalidade? Green pode ter atacado muito mal, acertando apenas uma de oito tentativas de cesta, mas ele mesmo diz que não é chutando que ele vai ajudar o Golden State a virar a série. Sua relevância maior está na defesa, na liderança e nos pequenos detalhes. Porém, no quarto período deste sábado, quando o Warriors já tentava antecipar sua reação antes de conceder mais uma derrota, o ala-pivô falhou clamorosamente.

Primeiro, invadiu o garrafão durante um lance livre cobrado por Curry, o maior arremessador desta geração. Perdiam por seis pontos, a 3min35s do fim, e cada cesta era importante. “Foi apenas uma jogada estúpida que você não pode cometer num jogo desta magnitude, e assumo toda a responsabilidade por isso, já que não fez o menor sentido. Você está falando de um cara que supostamente tem um elevado QI”, afirmou, de novo, com a mesma sagacidade de sempre. O atleta é duro ao falar sobre os outros. Não ia mudar o tratamento em uma autorreferência.

Draymond Green corre em direção a Coutrney Lee e ao turnover

Draymond Green corre em direção a Coutrney Lee e ao turnover

O problema é que, dois minutos depois, precisamente a 1min13s do fim, Green se atrapalharia novamente. O Grizzlies já não tinha Marc Gasol em quadra, excluído com seis faltas, e o placar apontava cinco pontos de diferença, com posse de bola para os veteranos. O ala-pivô saiu em disparada com a bola, driblando-a feito um maluco, na tentativa de acelerar o jogo e pegar a defesa desprevenida. Na verdade, quem não estava preparado para a transição era o próprio jogador, que deu de cara com Courtney Lee, pronto dar o bote e recuperar a bola. Um baita estrago.

E aí a gente se pergunta: o que levou Green a deslizar desta maneira? Foram dois erros bestas na conta de um jogador que, sim, continua sendo um dos mais inteligentes da liga. Talvez só mais difíceis de entender do que os três lances livres errados em quatro batidos por Klay Thompson em todo o jogo. Ou o fato de Curry ter desperdiçado também outros dois chutes em sete disparos a partir da linha. Na temporada regular, eles acertaram, respectivamente, 91,4% e 87,9%. Nos playoffs, os números despencaram para 83% e 65%. Nesse contexto, a invasão de Green fica um pouco menos grave, já que não era um ponto tão garantido assim. Nota-se um desequilíbrio do time para além dos lances livres, contudo. Nos tiros de longa distância, mesmo quando bem posicionados e se contestação, os atletas do Warriors falharam nos últimos dois jogos. Acertaram apenas 4 de 18 chutes quando estavam “totalmente livres”, segundo a medição do SportVU, o sistema que digitaliza toda a ação das partidas em cada ginásio de NBA. Quando tinham defensores entre 1,2 e 1,8 m de distância, o aproveitamento foi de apenas 4 em 16. Baixíssimo.

Então será que eles realmente estão se divertindo em quadra? Talvez simplesmente não tenha sido a melhor escolha de palavras por Curry. E outra: mesmo que estejam com a confiança abalada, o erro maior seria acusar o golpe e revelar dúvidas. Não não poderiam jamais fazer isso. Os números, por conta, já são preocupantes. O Golden State converteu neste sábado apenas 43,2% dos arremessos e 23,1% em três pontos (errando 20 de 26) – contra, respectivamente, 47,8% e 39,8% na temporada. No Jogo 2, derrota em casa,  foi ainda pior: 41,9% e 23,1%. O estrago maior acontece no primeiro tempo: segundo dados do Synergy, o time estava acertando 51,2% de seus arremessos e desperdiçando 7,3 posses de bola no primeiro tempo durante os playoffs até o sábado. Neste Jogo 3, foram 38,1% e nove erros em 24 minutos.

Reflexo, claro, da forte defesa do Memphis. Porque tem isso também: não é que o Golden State esteja se afundando contra um Minnesota Timerwolves ou, glup, um New York Knicks. Com formação completa nos playoffs – leia-se: com Mike Conley na armação –, os caras disputaram cinco jogos e ainda não perderam. Só não dá para se ater apenas ao sucesso recente, já que esse núcleo experiente somou mais de 50 vitórias nas últimas três temporadas – e que, na atual, foi por muito tempo o segundo melhor time da conferência, até perder rendimento a partir do All-Star Game. Para ser mais específico, até o dia 18 de fevereiro, o clube tinha a terceira melhor campanha da liga, com 73,6% de aproveitamento.

A identidade, sabemos todos, é fortemente vinculada aos seus pivôs e a opressão física que eles podem proporcionar, com a assessoria da tenacidade de Tony Allen (que já soma 11 roubos de bola na série e 23 nos playoffs, com mais de três por jogo nas últimas quatro rodadas) e da agilidade de Courtney no perímetro. O jogo pesado com a dupla Gasol e Z-Bo, e tal, como uma das raras exceções seguindo essa linha, ao lado do Indiana Pacers de West e Hibbert.  Para o atual campeonato, porém, Joerger também conseguiu desenvolver seu sistema ofensivo, terminando com o 13º ataque mais eficiente – sendo que até o All-Star era o 11º. Nada de outro mundo, de amedrontar oponentes, mas um avanço para quem não havia passado da 17ª colocação nas três temporadas anteriores, seja com Dave Joerger ou com Lionel Hollins.

Mas, sim, a defesa continua o ganha-pão. É a segunda melhor dos mata-matas, atrás apenas do Chicago Thibs. Contra o Warriors, vemos essa retaguarda se recompor rapidamente em transição, com muita consciência do que precisa ser feito. O vício, a força do hábito empurra os jogadores para perto da cesta, certo? Contra Curry e Thompson, você precisa desacelerar alguns metros atrás para contestar os arremessos de longa distância. A ideia é inibir a definição rápida do time que mais acelerou durante a temporada.

Uma vez contido o contragolpe, o serviço continua. Os defensores precisam povoara linha perimetral, com participação dos pivôs, aliás, já que Andrew Bogut, hoje, não representa ameaça alguma lá embaixo. Tantas lesões gravíssimas acumuladas na carreira custam muito ao australiano. Então lá está Gasol, gigante e inteligentíssimo, aparecendo numa cobertura imediata diante dos chutadores, fechando espaços e impedir infiltrações. Com menos gente agredindo com a bola, você também contém a troca de passes, ou pelo menos passes que possam liberar os arremessadores. Sem corredor e sem paciência para entender a melhor hora de atacar, o que temos é um aro amassado, mesmo. Segundo Kerr, seus atletas estão correndo, apressados, em vez de jogar com velocidade, pensando.

Para buscar a virada, é bom pensar com carinho no que aconteceu nas últimas duas partidas. Foi realmente falta de sorte na finalização? Ou tranquilidade? Stephen Curry não se mostra intimidado. “Eles tentam tirar nossas oportunidades de arremesso livre de três, seja em transição ou em meia quadra. Ainda assim, consegui me liberar e tive boas chances, o que me deixa bastante encorajado. Basta manter esses movimentos. Sei que os chutes vão cair”, afirmou o MVP da temporada. Draymond Green assegura que ninguém está surtado: “Perder duas em sequência não vai te deixar feliz. Mas, ao mesmo tempo, ninguém está abandonando o navio aqui. Ninguém está entrando em pânico e jogando a toalha”.

O Warriors sofreu duas derrotas consecutivas em três ocasiões durante sua jornada na temporada regular e, de imediato, reagiu com séries de 8, 9 e 16 triunfos. Qualquer arranque desse nível lhes colocaria na decisão da NBA, perto do título. Os playoffs, porém, são outro assunto, ainda mais enfrentando um adversário de respeito. Agora só resta saber se o aprendizado apregoado por Kerr será acelerado, para que eles possam tentar terminar a história da forma como esperavam.


Stephen Curry é o MVP da NBA 2014-15. E tudo ótimo
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

stephen-curry-mvp-warriors-2015

James Harden era o meu candidato na disputa pelo título de MVP da NBA 2014-15. O que não quer dizer que seja meu jogador predileto, ou uma figura incontestável. Era só uma preferência com base no que aconteceu na temporada. A Stephen Curry, de qualquer forma, era obviamente o favorito. Também o merecia – e levou o caneco, segundo diversos veículos anteciparam na noite deste domingo, logo depois de seu Golden State Warriors surrar o Memphis Grizzlies.

(Atualizando: a notícia foi confirmada pela NBA nesta segunda. Curry teve 1.198 pontos na votação, contra 936 de Harden. Com 552, LeBron foi o terceiro. Confira o resultado final da eleição, na qual o MVP recebeu 75 votos a mais na primeira colocação. Russell Westbrook superou Anthony Davis, se beneficiando da maior exposição dos jogos de OKC.)

Por que Harden seria, ou poderia ser o mais indicado? Devido a toda a carga que carregou pelo Houston Rockets, e não uma equipe qualquer, mas, sim, a segunda colocada numa Conferência Oeste brutal do início ao fim, dona da terceira melhor campanha da liga. O time texano pode não ter chegado ao patamar de Oklahoma City Thunder e Indiana Pacers no que se refere a lesões, mas passou por poucas e boas: Dwight Howard perdeu exatamente 50% da temporada; para Terrence Jones, foram 49 jogos de desfalque, e aqui já falamos de dois titulares; Patrick Beverley, outro do quinteto inicial, ficou fora de 26; Donatas Motiejunas, de 11. Josh Smith e Corey Brewer chegaram durante o campeonato para ajudar, é verdade, mas nem sempre é fácil assimilar novas peças.

A constante, aqui, foi o Sr. Barba liderando o time. Com a assessoria de Trevor Ariza, o único que completou todos os 82 jogos regulares, um a mais que o astro. Harden, no entanto, liderou toda a liga em minutos de quadra, com 2.981, 51 a mais que o ala – isto é, um jogo e mais três minutos de lambuja. Ficou elas por elas.  Com tantos desfalques, entre pontos e assistências, o ala-armador foi responsável por 44% de toda a produção ofensiva de seu time, sempre seguindo as orientações táticas de Kevin McHale e do escritório de Daryl Morey) perfeitamente: atacando o garrafão e torpedeando de três pontos. Bateu 10,17 lances livres por jogo, sendo o primeiro no ranking da liga, e arriscou 6,8 chutes de longa distância, a mesma quantia de Ariza, dividindo com ele o terceiro lugar, atrás de Curry e Damian Lillard. O cara teve de atacar mais e mais, com eficiência e muita resistência, física e mental. Um esforço que não pode ser menosprezado jamais.

Em termos de números, no entanto, em geral Harden fica em atrás do genial líder do Warriors. E isso que é o mais interessante, e até irônico. O Rockets é tido como a franquia-modelo no uso de estatísticas, das mais simples ao que se tem de mais avançado, para conduzir suas operações de basquete. Internamente, então, devem reconhecer o quão magistral também foi a campanha de Curry, que leva a melhor também no quesito de pura diversão. Os torcedores e o marketing apreciam muito mais o estilo de Curry, com seus dribles vistosos e arremessos impensáveis de fora, a partir do drible. Muito mais legal que ver o barbado cobrar lances livres, claro.

O armador uniu imagem e substância, espetáculo e resultado. Ethan Sherwood Strauss, do ESPN.com, fez um grande artigo a respeito disso. No texto, levanta um dado estarrecedor: nos 29 jogos posteriores ao All-Star Game em Nova York, o eventual MVP acertou 125 disparos de três (média de 4,3). No seu caso, não foi só uma questão de quantidade excessiva de tentativas para gerar volume. Ele acertou 51% desses arremessos. Sim, estamos falando de um autêntico especialista na matéria. Na temporada, ele converteu 44,3%, um número que, isolado, já seria excepcional. Se gastarmos, porém, dez minutos para assisti-lo, esse aproveitamento vira algo de outro mundo, devido ao grau de dificuldade em que os executa.

Essa habilidade fora do comum está no centro do sistema ofensivo agressivo do Warriors, o time mais acelerado da liga. É fato que, quando Curry atravessa a linha central da quadra, já precisa ser marcado de perto. Por um atleta, e com um segundo, no mínimo, na sobra. De olho no que vai aprontar. Mesmo quando contestado, seu rendimento ainda é muito eficaz. É como se fosse impossível marcá-lo. Daí que ficamos no aguardo para saber quando Dave Joerger vai colocar Tony Allen em sua cola durante a série semifinal do Oeste.

E aí Strauss sai com uma sagaz comparação: Curry, nesse sentido, se torna tão assustador como um Shaquille O’Neal no auge, devido ao seu poderio ofensivo. A diferença, nessa sacada, é que Shaq arrebentava as defesas na pancadaria, enquanto o magricelo as estoura com suavidade e elasticidade. Ele é uma ameaça grave no tiro de fora, muito mais perigosa que a de Kyle Korver em Atlanta. O ala do Hawks tem um aproveitamento superior no fundamento, consegue se desmarcar muito bem na movimentação fora da bola, mas, durante a temporada, arriscou apenas 0,7 em média em jogadas individuais, partir do drible – uma senhora diferença para os 4,4 do armador.

A força de Steph se manifesta de outra forma

A força de Steph se manifesta de outra forma

Klay Thompson, Draymond Green, Harrison Barnes, Andrew Bogut, Leandrinho, Marreese Speights… Todos eles têm a vida muito mais fácil no ataque por desfrutar de sua companhia, pelo perigo que representa. Ele é a base do segundo sistema ofensivo mais eficiente da temporada, atrás do Los Angeles Clippers por coisa de 0,1 ponto por 100 posses de bola. Então vamos refazer isso, dado o empate técnico? Curry é a base do sistema ofensivo mais eficiente da temporada, ao lado do Clippers. Esse equilíbrio entre as duas equipes californianas, aliás, propicia uma comparação interessante.

Ambas apostam consideravelmente no arremesso de três. A diferença é que o jogo interno do Clippers, com as cravadas de Jordan e Griffin, compõe um elemento tão mais importante no ataque de Doc Rivers. É por isso que você coloca chutadores como Redick e Crawford ao redor deles e dá a bola para Chris Paul coordenar tudo: para torturar as defesas. Pelo Warriors, a preocupação vem de fora para dentro, ainda mais com Klay Thompson em gradativa evolução e a propensão de Draymond Green para jogar aberto. Mas tudo começa com Curry: o Warriors faz 14,3 pontos por 100 posses de bola a mais com ele em quadra, acerta mais arremessos, comete menos turnovers e se torna mais solidário. Sente o estrago? E as coisas só ficaram mais acentuadas nos cinco primeiros jogos de playoffs.

Poderíamos continuar aqui na construção da campanha “Curry MVP”, levantando mais e mais números. Se quiser visualizar esses dados, a Sports Illustrated reúne aqui uma série de gráficos. Sem se esquecer que ele esteve no Top 6, em médias, de pontos, assistências, roubos de bola e eficiência. Também apresentou melhora significativa na defesa individual, sendo cobrado por Steve Kerr, e sem poder alegar cansaço, uma vez que teve seus minutos controlados.

Como você vai se opor a alguém com esse currículo? Não dá. Ainda assim, meu candidato seria Harden, e tudo ótimo. Se tem uma coisa para a qual serve a disputa entre os dois é reforçar a noção de que raras e raras vezes você vai esbarrar numa discussão em que tudo se resume a certo ou errado. Ou melhor: uma discussão em que, se o outro discorda de você, já está automaticamente errado – aquilo que parece o mal do século, logo abaixo da ganância.  Não seria “absurdo” ou “ridículo” nomear Curry ou Harden como o jogador mais valioso do ano. Era difícil escolher entre os dois craques, mas muito fácil aceitar que o prêmio ficasse entre eles.

*   *   *

O Golden State foi dominante contra o Memphis Grizzlies na abertura das semifinais do Oeste. Foi sua melhor partida nestes playoffs, em termos de consistência. O time está claramente um degrau acima de um time que perdeu muito em rendimento durante a temporada regular. Sem Mike Conley Jr., preservado enquanto se recupera de uma cirurgia facial após fratura múltipla na série contra o Blazers, fica ainda mais difícil. Ainda que o armador retorne para o Jogo 2 ou 3, estará fora de ritmo e talvez com um certo receio em quadra, mais que natural. Mesmo que estivesse 100%, talvez não seja o suficiente para equiparar o confronto hoje.

*   *   *

Outra: o Warriors é hoje o único time oficialmente 100% nos mata-matas, em termos de saúdo do elenco. David Lee ficou fora do duelo com o New Orleans Pelicans, mas o problema nas costas do ala-pivô parece mais e mais uma medida cautelar por parte de Steve Kerr, que encontrou uma rotação perfeita sem contar com esse jogador talentos, que, no entanto, não marca ninguém. Draymond Green tomou conta da posição, enquanto, no banco, as melhores alternativas parecem girar em torno de formações mais baixas, ou com Festus Ezeli para combater especificamente os pivôs do Grizzlies.

*    *    *

Começa nesta segunda o confronto Rockets x Clippers. Mais um ponto a favor dos líderes do Oeste, já que promete ser mais um duelo muito equilibrado. Quem passar daí deve entrar nas finais da conferência capengando. Os Splash Brothers deram sorte no emparelhamento final.


O arremesso dos playoffs 2015 da NBA é de Curry. Por enquanto?
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Com as fotos abaixo, nem é preciso apelar para a verborragia:

d

Foto já clássica. Curry acerta da zona morta para forçar a prorrogação em Nova Orleans, após ficar atrás por 20 pontos

Uma foto já clássica

De perto, podemos ver a expressão de torcedores que já sabiam o que estava acontecendo. E Curry de olhos fechados

Nós contra eles

Nós contra eles

O ângulo para o arremesso

O ângulo complicado para o arremesso, ainda mais com um Monocelha vindo em sua direção

E ainda foi falta em cima do craque do Warriors. Vitória poderia ter saído antes da prorrogação

E ainda foi falta em cima do craque do Warriors. Vitória poderia ter saído antes da prorrogação

I-na-cre-di-tá-vel, Curry. Cruel demais

I-na-cre-di-tá-vel, Curry. Cruel demais

Rumo ao 3 a 0. Fui!

Rumo ao 3 a 0. Fui!

Para quem está boiando, o seguinte: o New Orleans Pelicans tinha 20 pontos de vantagem no início do quarto período contra o Golden State Warriors (89 a 69). Jogo 3 de uma série melhor-de-sete pelos playoffs da NBA. O time havia perdido as primeiras duas partidas. Uma vitória aqui poderia, quiçá, mudar os rumos do confronto. Mas o líder da Conferência Oeste batalhou. Teve uma reação daquelas que vai ficar na memória de sua torcida por muito tempo, obviamente por causa do arremesso acima.

Faltando pouco mais de 9 segundos para o fim, o técnico Steve Kerr pediu um tempo, três pontos atrás no placar. Sua jogada deu certo, com a reposição de Draymond Green para Stephen Curry na ala esquerda, com Quincy Pondexter em seu encalço. O primeiro arremesso deu aro, saiu curto demais. Mas ainda deu tempo para Marreese Speights pegar o rebote ofensivo e acionar o cestinha mais uma vez. Pondexter, um bom defensor, deu uma cochilada e demorou para reagir. Por um instante, se distrai com o próprio Green ao seu lado direito. Quando acorda, Curry já tinha a bola em mãos novamente para fazer o disparo. O detalhe é que Speights faz uma proteção mínima para o astro, talvez o suficiente para afastar Tyreke Evans e Anthony Davis, que se aproximavam. Caiu: 108 a 108. Venceram, depois, por 123 a 119. Foi o arremesso dos playoffs até agora. Com o seu talento e a possibilidade de uma longa campanha do Warriors, não duvido faça outro ainda mais chocante.

Agora o lance todo:

Já havia feito o mesmo exercício no ano passado, com um chute de três de Vince Carter no apertado duelo entre Mavs e Spurs pela primeira rodada. O Dallas foi quem mais deu trabalho ao San Antonio no fim. Tal como naquele lance, aqui o efeito é o mesmo: as fotos dão noção muito maior do drama e da dificuldade em torno da cesta de Curry do que o vídeo, não? O VT ao menos nos ajuda a contar: foi qualquer coisa em torno de 3s5 a espera que o gatilho teve de esperar entre a primeira tentativa falha e a bola consagradora. Sim, em menos de quatro segundos pode acontecer tudo isso.

*    *    *

Algumas notas sobre o jogo e a cesta.

(Vocês não acreditaram nessa história de escrever pouco e deixar a imagem contar tudo, né?)

A primeira vai na onda do contra. Curry tentou 29 arremessos e converteu apenas 10 (29% 34%, na verdade, com a auditoria do camarada Felipe Neves, um jornalista que sabe, sim, fazer contas!). Da linha de três, foram 11 erros em 18 tentativas. Ainda assim, marcou 40 pontos porque também é um mago no drible, bate a defesa e vai lá dentro descolar lances livres (matou 13 em 14, parecendo até mesmo James Harden nessa). Vi por aí algumas mensagens questionando o queixo caído de toda a liga com os Splash Brothers de Golden State, e achei um ponto válido, mesmo: se essa linha estatística fosse de Russell Westbrook – ou… Kobe–, qual seria a reação majoritária? Mesmo no caso de uma vitória e um arremesso dramático?

Reparem, por favor, que a pergunta tem muito mais a ver com o que se fala sobre o armador de OKC e sobre a lenda viva do Lakers do que Curry, que não fez sua melhor partida, esteve abaixo da média, mas, poxa, marcou 17 pontos em 7 minutos de quarto período e mais 5 de prorrogação. Errou sete de seus últimos 11 arremessos, mas converteu O Chute que importava, não? Além disso, seguiu a linha da nova contagem de arremessos: pode ter tido um aproveitamento baixo de quadra, mas compensou com o elevado número de bolas de longa distância e lances livres. Enfim.

*   *   *

Mais arremessos de três proporcionam chances maiores de rebotes ofensivos. A matemática comprova isso. A defesa em geral está distorcida, desequilibrada, a bola respinga no aro para mais longe, para fora do semicírculo etc. Mas os jogadores do New Orleans simplesmente não conseguiram fazer um bloqueio de rebote decente. A torcida se dividia entre o apoio aos atletas e a aflição, a cada segunda segunda chance obtida pelos adversários. Foram 12 rebotes ofensivos apenas no quarto período para os queridinhos da América. Uma dúzia, e com baixa estatura!

Sim, quem merece (mais e mais) aplausos aqui é Steve Kerr, gente. Que não abriu mão do jogo em nenhum momento. Numa última tentativa, no início do quarto período, ele mandou para a quadra uma formação sem pivôs: Shaun Livingston, Leandrinho, Iguodala, Klay Thompson e Draymond Green. Livingston, Thompson e Green têm 2,01 m de altura. Iguodala, 1,98 m. Leandrinho, 1,94 m (mas com a envergadura de um cara muito mais alto). A ideia: ganhar em velocidade, mobilidade, enquanto, na defesa, podiam trocar tudo, procurando apenas manter Green com o Monocelha. A tendência é ver cada vez mais disso, conforme praticam o Milwaukee Bucks e o Philadelphia 76ers. O Miami Heat conquistou dois títulos assim também.

*    *    *

Em tempo: Leandrinho marcou os primeiros quatro pontos do quarto – e todos os seus seis pontos nessa parcial. O agora veterano ala-armador vai contribuindo de modo significativo para Warriors, ainda que em poucos minutos. Tem um papel definido e vai  produzindo.

*    *    *

A nota mais alternativa e curiosa da noite? O Santa Cruz Warriors está disputando a final da D-League. A série contra o Fort Wayne Mad Ants, o time que contou com breves passagens de Lucas Bebê e Bruno Caboclo, começou nesta quinta. Pois o Warriors B também venceu fora de casa, zerando uma desvantagem de 20 pontos. Coincidência?

O atlético ala-armador Elliot Williams, escolha de primeira rodada de Draft que não vingou em Portland, foi o cestinha, com 31 pontos. O pivô bósnio Ognjen Kuzmic é o único cedido pelo time de cima. Somou 18 pontos, 13 rebotes e 4 assistências. Quem também esteve em quadra foi o ala Darington Hobson, que não deixou saudades em Brasília, e Taylor Griffin, o irmão do Blake. Do outro lado, o único atleta cedido pela NBA ao Mad Ants é o pivô Shane Whittington, do Indiana Pacers.


Plantão médico: lista de enfermos é ameaça séria nos playoffs da NBA
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Varejão foi uma das primeiras baixas bastante relevantes da temporada

Varejão foi uma das primeiras baixas bastante relevantes da temporada

Quer uma tradição impregnada nos Playoffs da NBA? Daquelas mais desagradáveis e, ao mesmo tempo, mais importantes para a definição de um título? Que pode ter tanta influência no resultado final de um campeonato como toda a preparação, todo o refinamento tático obtido em uma looooonga temporada? A contagem de feridos. As lesões, mesmo.

E aí que você pode falar também de sorte ou azar, ainda que o trabalho de um técnico e seu estafe médico possam ajudar na prevenção delas…

Mas pegue por exemplo o caso de Tiago Splitter. O pivô foi para as finais da liga por dois anos seguidos. Pode ter dito não a Rubén Magnano em 2013, mas aceitou nova convocação no ano passado, para a Copa do Mundo. Não dá para saber o quanto a carga extra de treinos e jogos, num mês que seria de férias, deixa o atleta em uma situação mais propícia para sentir algo. O que dá para dizer, imagino, é que ajudar, não ajuda, e que o catarinense não conseguiu fazer a pré-temporada ideal, perdeu quase 20 jogos no início da campanha e demorou um tempo para entrar em forma, lidando com problemas musculares na panturrilha (uma área sempre complicada). Sem pressa, com um elenco vasto, o clube texano teve toda a precaução do mundo com ele, como de praxe. Sabemos como Gregg Popovich é extremamente consciente no uso de seus atletas. Mesmo assim, Splitter teve o azar de, a duas semanas dos mata-matas, voltar a sentir dores bem incômodas.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

(Um parêntese importante: não estou dizendo que ele não deveria ter jogado o Mundial. O pivô muito provavelmente ficaria bem irritado só com a mera insinuação, por ser daqueles que só abriu mão da seleção uma única vez, e num torneio que, convenhamos, sua presença era totalmente desnecessária. Só faço a lembrança aqui para percebermos como esse tipo de questão é muito mais complexa do que ser patriota ou fugir da raia – e de como diversos fatores interferem na caminhada de um time de NBA. Do ponto de vista do torcedor brasileiro, tudo ótimo. Agora vá perguntar para os admiradores do Spurs o que eles pensam a respeito.)

Splitter não chega inteiro para o mata-mata contra Jordan

Splitter não chega inteiro para o mata-mata contra Jordan

Por mais formidável que seja o plantel de Pop e RC Buford, talvez o mais vasto da liga, que Aron Baynes tenha comprovado suas virtudes em sua melhor temporada nos Estados Unidos (joga duro demais, bom finalizador, mas um tanto robótico, nada criativo) e que Boris Diaw tenha redescoberto em março a alegria de se jogar basquete, já deu para reparar a importância do pivô na equipe, não? Com Splitter em quadra, a defesa fica bem mais sólida, aumentando a densidade demográfica no garrafão. Algo importante para enfrentar Blake Griffin e DeAndre Jordan, por exemplo. O ataque também funciona com ele, mas sua efetividade vai depender do sistema do adversário. De qualquer forma, pergunte ao seu técnico sobre sua importância. “Gostaríamos jogar com ele o máximo que pudéssemos”, disse antes de a série contra o Clippers começar. “Mas vamos ver.”

Neste domingo, no plantão corujão, pudemos ver, então, o brasileiro em ação, pela primeira vez desde o dia 3 de abril, numa vitória arrasadora contra o Denver Nuggets, quando o Spurs dava indícios de que havia novamente potencializado toda a sua fantástica química em quadra. Com uma escalação decidida apenas no domingo mais cedo, Tiago teve seu tempo controlado: jogou por exatos 9min57s de jogo, terminando com 4 pontos, 3 rebotes e 3 faltas, além de uma assistência e um roubo de bola. Foi máximo que Popovich pôde usá-lo. Afinal, ele só havia feito um treino, e com participação limitada, em 16 dias.

Baynes atuou por 20 minutos. Diaw, por 28. Tim Duncan ficou com sua tradicional meia hora de partida. Quando o veterano foi para o banco, a equipe sentiu. Ali poderia estar Splitter tentando ao menos incomodar uma figura assustadora como DeAndre Jordan – só Andre Drummond tem hoje essa combinação de altura, envergadura, impulsão e ombros largos. Jordan descansou por menos de dez minutos. Blake, por menos de seis. Estavam quase sempre em quadra, sendo muito agressivos, combinando para 35 pontos, 26 rebotes, 7 tocos e 7 assistências. Clippers 1 a 0, com 15 pontos de vantagem.

O torcedor do Spurs, porém, não é o único a se lamentar. Longe disso. Basta pegar o celular e trocar mensagens com a galera do Trail Blazers para sentir o drama. O departamento de infográfico de qualquer emissora de TV precisa estar muito atento nos jogos entre Portland e Memphis. A lista de enfermos é gigante, sempre com o risco de se adicionar mais um – ou de ter atualizar o status deles. Na série Rockets x Mavericks, teve atleta que precisou até mesmo calçar um tênis de numeração maior que a sua para devido a um inchaço no dedão.

E aí? Não há como negar que a temporada de 82 jogos causa um desgaste absurdo. Por mais que os atletas viagem em voos fretados, com acentos personalizados. Por mais que possam pagar um estafe médico e de preparação física por conta própria. Há um limite que o corpo pode aguentar. Dia desses, Rafael Uehara, que já deu sua contribuição valiosa aqui no VinteUm, destacou no Twitter uma passagem interessante no livro Soccernomics, sobre como o excesso de jogos do futebol inglês impede que a seleção do país faça boas campanhas em seus torneios. É uma declaração de Daniele Tognaccini, chefe do departamento atlético do Milan Lab, explicando o que acontece quando um jogador de futebol tem de disputar 60 partidas em um ano: ‘O nível de performance não é otimizado. O risco de lesão é muito alto. Podemos dizer que o risco de lesão em um jogo, depois de uma semana de treino, é de 10%. Se você joga a cada dois dias, o risco cresce para 30 a 40%. Se você joga quatro ou cinco partidas seguidas sem a recuperação certa, o risco de lesão é incrível. A probabilidade de você ter uma performance abaixo de sua capacidade é muito alta”.

Um gráfico que The OC Register preparou na temporada passada para mostrar todas as lesões que Kobe havia sofrido em sua carreira até então

Um gráfico que The OC Register preparou na temporada passada para mostrar todas as lesões que Kobe havia sofrido em sua carreira até então

Agora tente traduzir essa declaração para o mundo da NBA. O jogo de futebol pode ter maior duração (90 minutos x 48), mas vá falar para um ala do basquete ficar encostado na ponta direita da quadra, na sombra, esperando que seus quatro companheiros protejam a cesta do outro lado… Quer dizer: é difícil de dimensionar quais os cálculos que Tognaccini faria. O comissário Adam Silver sabe disso. Tanto que, em sua coletiva após a última reunião com os proprietários de clubes, afirmou que há uma preocupação (enfim!) séria em reduzir os famigerados back-to-back (dois jogos em duas noites consecutivas) e as semanas de quatro partidas em cinco dias.

Pensando nisso, segue a relação dos lesionados. Ou, pelo menos: dos atletas oficialmente lesionados. Aqueles que os clubes se sentem obrigados a informar. Inúmeras ocorrências não vêm a público, como Serge Ibaka nos explicaem uma entrevista bem bacana ao HoopsHype: “Veja, há muitas pessoas, torcedores e aqueles não estão dentro do time, que não sabem o que se passa. Você ouve gente falando que tal cara não está jogando bem. Mas eles não sabem o que está acontecendo. Posso dizer a você o que aconteceu comigo, por exemplo. Meu tornozelo estava doendo a temporada inteira. As costas também. Não é que eu tenha me lesionado apenas no final, que é o que todo mundo sabe. Eu machuquei meu tornozelo jogando com a seleção (espanhola, na Copa do Mundo…) durante o verão, e ele ficou ruim o tempo todo. Tive de tomar pílulas para poder jogar sem dor. Não sou só eu. Muitos dos meus companheiros passaram pelo mesmo problema”.

Também juntei aqui um ou outro caso de atletas que acusaram problemas em quadra ou em entrevistas, ainda que não tenham sido afastados. Sim, a temporada é desgastante demais, e suas consequências podem ser graves:

Atlanta Hawks
Thabo Sefolosha: o ala suíço está fora da temporada devido a uma fratura na perna causada por ação de policiais em uma casa noturna nova-iorquina – sim, essa não teve nada a ver com a quadra. A diretora executiva do sindicato dos jogadores, Michele Roberts, está em cima do caso, cheia de suspeitas. Sem o suíço, Kent Bazemore vai receber minutos importantes numa equipe de playoff pela primeira vez, com a missão de sustentar uma forte defesa no perímetro quando DeMarre Carroll for para o banco. Sefolosha era o nome ideal para a função.

Al Horford e um dedinho

Al Horford e um dedinho

Paul Millsap: jogando com uma camisa que faz compressão, além de uma proteção no ombro direito, depois de sofrer uma torção em jogo contra o Brooklyn Nets, na reta final da temporada. Mike Budenholzer ao menos respirou aliviado, por não ser algo mais grave. De qualquer modo, para um ala-pivô, não é nada legal jogar com o ombro dolorido. Pense nos movimentos que ele precisa executar em quadra.

Mike Scott: o ala perdeu 11 jogos em março devido a uma bipartição e uma torção aguda no osso sesamóide do pé direito. Não, não foi uma fratura. Voltou em abril e sentiu uma contusão nas costas, perdendo treinamentos e mais uma partida.

Al Horford: essa aconteceu na primeira partida da série contra o Nets, mesmo. Coisa de jogo, com o dedinho da mão direita virando para o lado contrário. Não houve fratura, só um deslocamento.

Boston Celtics
– A rotação vasta de Brad Stevens parece render benefícios: seus atletas simplesmente não constam no prontuário médico recente da liga.

Brooklyn Nets
Bem… Deron Williams e Joe Johnson parecem jogar machucados o tempo todo, não?

Mirza Teletovic: considerando a gravidade de sua questão médica, ao ser afastado por conta de uma embolia pulmonar, ter o bósnio de volta aos treinos é uma excelente notícia, na verdade. Mas ele ainda não está liberado para jogar. Já o ala Sergey Karasev está fora de vez, com uma lesão no joelho.

Mirza Teletovic: recuperado de embolia pulmonar

Mirza Teletovic: recuperado de embolia pulmonar

Alan Anderson: o ala-armador reserva perdeu sete partidas em abril devido a uma torção de tornozelo.

Chicago Bulls
Derrick Rose, vocês lembram, passou por mais uma cirurgia no joelho, dessa vez por causa de uma ruptura no menisco, e perdeu 20 partidas entre março e abril. Na primeira partida da série contra o Bucks, jogou demais, e era como se a torcida de Chicago vivesse um sonho. Rose pode ser uma influência para lá de positiva para a equipe. Só é preciso evitar a armadilha de pôr muita responsabilidade nas costas de um atleta que sofreu tanto nas últimas temporadas.

Kirk Hinrich sofreu uma hiperextensão no seu joelho esquerdo na última semana do calendário regular. Há quem despreze tanto o veterano (um cara ainda muito útil na defesa), que essa ausência pode ser até comemorada.

Taj Gibson sofreu um estiramento no joelho direito no primeiro duelo com o Bucks. Por sorte, Nikola Mirotic está pronto para receber mais e mais minutos, no caso de o excepcional defensor estiver abalado.

Joakim Noah, para variar, joga com uma tendinite no joelho esquerdo.

Chicago: adoração e apreensão pela dupla

Chicago: adoração e apreensão pela dupla

Cleveland Cavaliers
– Anderson Varejão
só poderá torcer por seus companheiros, em recuperação de uma cirurgia para reparar o tendão de Aquiles.

Kevin Love (principalmente) e LeBron James foram poupados de treinos e jogos durante todo o campeonato devido a dores nas costas.

Dallas Mavericks
– Chandler Parsons está com uma joelheira direita mais larga que a coxa de Karl Malone. Vem enfrentando inchaço e dores daquelas. Na primeira partida, precisou sair de quadra e ir para o vestiário para receber tratamento. O Mavs precisa de suas habilidades ofensivas, especialmente o arremesso de longa distância, para abrir a quadra para infiltrações de Rondo e Ellis.

Parsons explica a Mark Cuban como está difícil jogar contra o ex-time em Houston

Parsons explica a Mark Cuban como está difícil jogar contra o ex-time em Houston

Devin Harris: o inchaço é no dedão do pé esquerdo. Está tão inchado que o armador reserva enfrentou o Rockets no sábado usando um tênis maior na canhota, para tentar aliviar o desconforto. Sim, é verdade.

Golden State Warriors
David Lee: fora do início da série contra o Pelicans devido a um estiramento muscular nas costas. E ninguém parece nem reparar, tamanho o crescimento de Draymond Green.

Houston Rockets
– Uma ruptura nos ligamentos do pulso esquerdo tirou o armador e excelente defensor Patrick Beverley da temporada. Quem também não joga mais pela equipe nesta jornada é o ala-pivô lituano Donatas Motiejunas, devido a uma lesão nas costas. Duas peças que ganhariam bons minutos. Beverley é um dos melhores marcadores em sua posição, jogando com uma energia descomunal, enquanto Motijeunas ofereceria uma referência no jogo interior mais segura que Josh Smith e Terrence Jones, para os momentos em que Howard for para o banco.

Terrence Jones levou uma joelhada de Kenneth Faried nas costelas em duelo com o Denver Nuggets em março e teve uma perfuração no pulmão. É o mesmo ala-pivô que mal jogou em novembro e dezembro por conta de um problema nevrálgico nas pernas.

Dwight Howard parou por cerca de dois meses para tratar de uma lesão no joelho direito, embora não houvesse nenhuma lesão estrutural. Ainda não está 100%, e seus minutos são vigiados até hoje por Kevin McHale.

– O ala novato KJ McDaniels tem uma lesão no cotovelo, mas dificilmente iria jogar, mesmo.

Los Angeles Clippers
Também está no grupo dos times menos abalados no momento. Jamal Crawford, com uma lesão na panturrilha, era quem mais preocupava, mas parece devidamente recuperado. Blake Griffin também não dá sinais de que sinta algo no cotovelo

Memphis Grizzlies
– Mike Conley Jr.:
ultimamente, só se fala de sua fascite plantar no pé esquerdo, com inflamação e dores, que quase não se comenta o fato de ele também estar jogando com dores no pulso esquerdo durante quase todo o campeonato. “Não acho que vou estar nem perto de 100%, mas nunca pensei que perderia um jogo de playoffs”, afirmou, antes da estreia contra o Blazers. Beno Udrih fez uma bela temporada, mas a equipe precisa demais de seu armador titular, pela defesa e a liderança.

Tony Allen: o pitbull da equipe ficou fora das últimas dez partidas da temporada regular por conta de uma lesão na coxa. Retornou contra Portland e jogou por 25 minutos, ao menos. Está aqui o caso de um atleta que precisa estar bem fisicamente para render (pressionando os adversários de um modo sufocante, não importando a altura e o currículo deles), uma vez que sua habilidade com a bola deixa a desejar.

Marc Gasol sofreu uma torção de tornozelo na penúltima partida da temporada, mas não parece nada grave.

Milwaukee Bucks
Considerado um sério candidato ao prêmio de novato do ano, o ala Jabari Parker teve sua primeira temporada abreviada em dezembro por uma ruptura no ligamento colateral do joelho esquerdo. Khris Middleton aproveitou essa brecha, mas, para o futuro da franquia, é uma pena o atraso no desenvolvimento do número dois do Draft.

A proteção no dedinho esquerdo do Monocelha: nada muito grave, mas incomoda

A proteção no dedinho esquerdo do Monocelha: nada muito grave, mas incomoda

New Orleans Pelicans
Tyreke Evans, um cara que depende muito de seu arranque para a cesta, sofreu uma pancada no joelho esquerdo no primeiro jogo contra o Warriors e foi para o segundo duelo no sacrifício. Talvez tivesse minutos controlados, mas Jrue Holiday não retornou bem de uma reação por estresse na perna direita que o afastou por metade do campeonato.

Anthony Davis está jogando com o dedinho da mão esquerda protegido, depois de tê-lo deslocado. Aparentemente algo simples? Bem, no primeiro jogo ele estava segurando a mão sem parar, claramente desconfortável.

Portland Trail Blazers
Wesley Matthews ficou fora de combate, após uma ruptura no tendão de Aquiles. Recuperado de cirurgia, tenta dar apoio moral aos parceiros no banco de reservas. Arron Afflalo, aquele que seria seu substituto, sofreu um estiramento no ombro em jogo contra o Warriors, no dia 9 de abril. Está fazendo treinos leves e pode retornar no segundo ou no terceiro jogo da série.

LaMarcus Aldridge está jogando desde janeiro com um tendão da mão esquerda rompido. Precisa de cirurgia.

Dorell Wright sofreu uma fratura na mão esquerda no início de abril também, em derrota para o Clippers. Só poderá jogar em maio, se o time estiver em atividade até lá.

Arron Afflalo mal chegou e também se contundiu

Arron Afflalo mal chegou e também se contundiu

– Como se não bastasse, Nicolas Batum (numa temporada para se esquecer) e CJ McCollum (o jovem ala-armador que estava começando a engrenar), se contundiram em jogo contra OKC no dia 13. O problema do francês foi no joelho direito, enquanto McCollum torceu o tornozelo esquerdo.

– Sim, tem mais um: Chris Kaman, limitado por contusão nas costas. E uma temporada que se desenhava muito promissora… ficou complicada demais.

San Antonio Spurs
Tony Parker sofreu uma torção de tornozelo no primeiro jogo contra o Clippers. Teve uma campanha bem fraca para os seus padrões ao lidar com lesão e dores na coxa.

– Sobre Splitter, já falamos o bastante.

Toronto Raptors
– Kyle Lowry mal consegue parar em pé esses dias sem colocar a mão nas costas. É sempre um problema quando o jogador acusa dores ali. Inicialmente, os médicos na metrópole canadense não se mostravam preocupados. Três semanas depois, Dwane Casey já estava dizendo que ele não teria condição de jogar nem se já tivessem chegado aos playoffs. Foi afastado por nove partidas e, quando retornou, definitivamente não era mais o mesmo, acertando apenas 34,4% de seus arremessos nas últimas quatro rodadas, embora a pontaria de três pontos tenha sido elevada em relação a sua média.

Washington Wizards
Para fechar, outro time que está abaixo da média em termos de uso de medicamento. Até mesmo Nenê parece estar bem, na medida do possível.


Os playoffs começaram! Panorama da Conferência Oeste
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Se for para comparar com a outra metade da liga, a Conferência Oeste ainda é uma dureza que só. A perspectiva é de séries muito mais equilibradas daqui. Acontece que o nível talvez não seja o mais elevado, especialmente se formos comparar com o que muitos desses times estavam fazendo há dois ou três meses. As lesões interferiram bastante. Hoje, o Golden State Warriors desponta mais favorito do que nunca, especialmente pelo fato de o San Antonio Spurs ter perdido o mando de quadra na primeira (e na segunda rodada), sobrando ainda com o lado mais complicado da chave. A equipe de Gregg Popovich fechou a temporada regular em alta, mas vai precisar fazer uma campanha memorável para alcançar a final da liga pelo terceiro ano seguido, em busca de seu primeiro bicampeonato.

NBA: San Antonio Spurs at Los Angeles Clippers

Não poderia ter ficado para mais tarde?

Palpites, que é o que vocês mais querem
Warriors em 4: o time californiano tem o melhor ataque, a melhor defesa e mais experiência. Pode ser que o Monocelha consiga uma vitória em casa, mas…
Rockets em 7: dependendo sempre do joelho e das costas de Dwight Howard. O Dallas está em crise existencial, Dirk envelheceu, mas Carlisle tem truques.
Spurs em 6: é o que o Monocelha aprontou na última rodada. O elenco mais vasto de San Antonio e a defesa de Kawhi em CP3 fazem a diferença.
Grizzlies em 7: a série que mais depende dos médicos do que de qualquer outra coisa; o mando na Grindhouse joga a favor de Marc e Z-Bo

Números
47,7% –
O percentual de acerto de Chris Paul nos arremessos a partir do drible (pull up shooting), liderando toda a liga. Fiz o filtro com uma média de ao menos cinco tentativas por jogo, para deixar claro que esse recurso realmente faz parte de seu repertório. CP3 tenta em média 9,7 por jogo. Tony Parker vem atrás, praticamente num empate técnico com Stephen Curry. Agora, se você for falar de chutes a partir do drible de longa distância, com um mínimo de duas tentativas por jogo, Curry sobe para segundo, com incríveis 42,3%, perdendo somente para Isaiah Canaan, do Philadelphia. Se for para filtrar com um mínimo de quatro tentativas, apenas o craque do Warriors se qualificaria. : )

41,4% – O percentual de arremesso que Andrew Bogut permite ao seus adversários nas imediações do aro. É a terceira menor marca da temporada, atrás de Rudy Gobert e Serge Ibaka, logo acima de Roy Hibbert, Derrick Favors, LaMarcus Aldridge e Nerlens Noel. Mostra o quanto o australiano sabe usar seu tamanho, se posicionando muito bem, para compensar a movimentação lateral bem reduzida e a impulsão quase zero. Claro que há outros fatores que influenciam essa contagem também: há ajuda de marcação dupla? Como os oponentes chegam ao aro? Estão equilibrados? Estão rodeados por bons arremessadores? Mas, enfim, é um dado que comprova a eficiência do antigo número um do Draft na proteção de cesta.

Ao ataque, Harden

Ao ataque, Harden

14,3 O total de pontos por partida que James Harden gera o Houston Rockets em suas infiltrações, seja com suas próprias finalizações, em assistências ou em lances livres. Na temporada regular, apenas Reggie Jackson, contando apenas seu desempenho pelo Detroit Pistons, gerou mais pontos no ato de bater para a cesta. O interessante é notar Stephen Curry logo abaixo do barbudo, com 12,0 pontos em média. Ou seja: um atacante completo, não apenas um chutador.

+7,5 O saldo de pontos do quinteto titular do Clippers na temporada, quando completo em quadra. Essa é a melhor marca da liga, acima de Cavs, Hawks e Warriors – pelo menos entre os quintetos que jogaram um mínimo de 30 partidas. Quando Jamal Crawford entra nas alas, na vaga de Redick ou Barnes, o time ainda rende muito bem, com as 15ª e 16ª melhores marcas. Nos playoffs, com maior tempo de descanso e numa última arrancada, Doc Rivers vai poder  limitar os minutos de seu banco. Mas uma hora Spencer Hawes, Glen Davis e/ou seu filho vão precisar entrar em quadra. Aí que seu péssimo trabalho como dirigente deverá ser exposto.

7,2 – na soma de todos os deslocamentos de um jogador pela quadra, a SportVU consegue calcular sua velocidade média em quadra – o que não quer dizer que eles sejam os mais velozes de uma ponta a ponta de quadra. Patty Mills, armador reserva do Spurs, é o que aparece com a maior média, com 7,2 km/h. Um dado muito curioso: Cory Joseph, justamente como quem o australiano briga por minutos na rotação do Coach Pop, é o segundo. E quer saber do que mais? Tony Parker, o titular da posição, é o quinto no ranking. Se você quer se candidatar a armador em San Antonio, sabe que vai ter de correr muito…

Os brasileiros
Leandrinho vai ganhar seus minutos aqui e ali pelo Warriors, dependendo do andamento das partidas. Se a pedida de Steve Kerr for mais fogo no ataque, o ligeirinho será acionado – e ainda tem a velocidade e, especialmente, a experiência para entrar em quadra nesse tipo de situação. Nos jogos que se pedir mais defesa, Shaun Livingston deve ficar mais tempo em quadra (não sei se confiará em Justin Holiday). Em San Antonio, a grande interrogação rumo aos playoffs gira em torno da panturrilha de Tiago Splitter. O pivô catarinense teve o início e o final de temporada atrapalhados devido a dores na panturrilha direita. Por isso, foi poupado dos últimos cinco jogos, depois de ter perdido 19 dos primeiros 20. Gregg Popovich já afirmou que usar de toda a precaução possível com Splitter, admitindo até mesmo a possibilidade de ele ficar fora de algumas partidas dos playoffs. Isso foi antes de saber que teria o Clippers pela frente. Aron Baynes pode trombar com DeAndre Jordan, assim como Jeff Ayres. Mas nenhum deles tem a inteligência e a capacidade defensiva do brasileiro.

Splitter vai conseguir sair do banco para combater DeAndre?

Splitter vai ser liberado para sair do banco e combater DeAndre?

Alguns duelos interessantes
Anthony Davis x Andrew Bogut: a tendência é que o Pelicans precise limitar os minutos de Omer Asik, para dar conta de correr atrás dos velozes e versáteis atletas do Warriors. É até melhor: se Davis ficasse com Draymond Green, precisaria flutuar muito longe da cesta e ficar de certa forma alienado na defesa. Dante Cunningham pode assumir essa, e aí teríamos toda a vitalidade e explosão física do Monocelha contra um gigante cerebral como Bogut. O que tem mais apelo aqui é o embate no ataque de New Orleans, com as investidas de frente para a cesta do candidato a MVP, que será testado pelas contestações (e, especialmente, as bordoadas) do australiano.

Terrence Jones x Dirk Nowitzki: Rick Carlisle seguiu a cartilha de Gregg Popovich e controlou o tempo de quadra do craque alemão durante a temporada. O alemão de fato chega, na medida do possível, descansado para a fase decisiva. Mas o quanto ele pode render esses dias? Sua mobilidade parece já bem reduzida. No ataque, seu arremesso ainda é uma arma a ser temida, tudo bem. O problema é a defesa, ficando muito vulnerável aos ataques frontais de Jones, um oponente jovem, atlético e de personalidade. Josh Smith também pode se aproveitar disso. O pior: Tyson Chandler já vai estar ocupado com Dwight Howard, sem poder dar tanta cobertura como de praxe. Mesmo que consiga pará-los no garrafão, ambos os alas-pivôs têm boa visão de quadra e podem municiar os arremessadores da equipe.

Terrence Jones tem uma lenda com quem duelar

Terrence Jones tem uma lenda com quem duelar

Tony Parker x Chris Paul: creio que Kawhi Leonard e Danny Green vão alternar na tentativa de contenção do armador do Clippers, deixando Parker com Matt Barnes, que é muito mais alto, mas não tem autonomia e talento para colocar a bola no chão e criar em situações específicas de mano a mano. A importância do francês vai ser para desgastar seu adversário do outro lado da quadra. Precisa atacar, atacar e atacar, movimentando-se com e sem a bola. Paul jogou uma de suas melhores temporadas, é forte e sabe que o tempo já está passando. Mas não tem muita ajuda do banco e pode ser levado ao limite.

LaMarcus Aldridge x Marc Gasol/Zach Randolph: aqui há diversas possibilidades. Z-Bo precisa cuidar de Robin Lopez, que pode ser consideravelmente menos talentoso que seu irmão gêmeo no ataque, mas ainda causa problemas perto da tabela e tem um bom chute de média distância. Digo: Randolph será requisitado na defesa perto da tabela e não apenas na proteção de rebotes. De qualquer forma, é provável que o espanhol fique, mesmo, com Aldridge, mesmo que a estrela do Blazers jogue afastada do garrafão, apostando no seu arremesso. Em geral, Gasol tem feito um bom trabalho contra seu companheiro de All-Star, que tem um aproveitamento de quadra de apenas 43% nas últimas três temporadas contra Memphis. Do outro lado, porém, imagino que Portland também prefira deixar Lopez com Randolph, que tem um jogo muito mais físico e poderia cansar Aldridge. As partidas são longas e um pivô vai se ver com o outro em algum momento.

Ranking de torcidas
1 – Warriors. Além de todo o talento que Steve Kerr tem em seu elenco, há uma outra razão para o fato de o Golden State só ter perdido duas partidas em casa durante a temporada regular. Essa galera sabe fazer barulho e esperou por anos e anos para que o clube voltasse a ser competitivo. O único risco aqui é o fator ‘modinha’. De ter gente muito mais interessada em festa do que no jogo dentro do ginásio num jogo importante.

Curry rege uma torcida fanática, que agora pode soltar a voz

Curry rege uma torcida fanática, que agora pode soltar a voz

2 – San Antonio. Até mesmo ranquear torcidas na Conferência Oeste é complicado. O clima nos jogos do Spurs também é de euforia. Além disso, de tantas batalhas que esses caras viram nos últimos anos, são aqueles que mais cultura e sapiência adquiriram, entendendo os momentos críticos para ajudar seu time, um esquadrão que briga pelo título há mais de 15 anos

3 – Portland. O Blazers é o time da cidade – uma situação rara nas sedes da NBA. Historicamente, Portland estaria acima tanto de Memphis como Oakland com a arenas mais complicada de se jogar. Hoje, porém, creio que os dois times acima vivam momentos mais especiais. No fim, até mesmo ranquear as torcidas é algo complicado de se fazer no Oeste (vide logo abaixo). Então usei como critério de desempate o recorde como anfitrião nesta temporada.

4 – Memphis. A sinergia entre o time e seu público é praticamente incomparável. Jogadores e torcedores querem moer a alma do adversário. (Sim, uma frase que, isolada no vácuo, não faz sentido algum, mas a linguagem esportiva nos permite certas liberdades, né?)

Antes de moer, eles podem tostar também

Antes de moer, eles podem tostar também

5 – Houston. Eles ainda se lembram do bicampeonato de 94 e 95. Querem mais e já abraçaram James Harden e seu jogo metódico.

6 – Dallas. Tudo vai depender de Nowitzki. Se o alemão esquentar a mão, a torcida vai explodir, inevitavelmente. Nesta temporada, porém, tiveram a pior campanha como anfitriões entre todos os oito classificados do Oeste.

7 – Nova Orleans. Eles vão estar empolgados pela primeira participação nos playoffs nessa fase da franquia. Até por isso, tudo é muito novo. Mais: já puderam celebrar bastante na última rodada da temporada regular e dá para imaginar casos e casos de  garotos confusos por lá: mas a gente não era o Hornets?

8 – Clippers. O Staples Center roxo e amarelo é uma coisa. O vermelho, branco e azul, outra – Billy Cristal sabe disso. Tirando Milwaukee, pela proximidade a Chicago, é o único ginásio em todo estes playoffs em que será possível escutar gritos pelo time ou por um jogador adversário. Isso incomoda até mesmo os astros da equipe.

Meu malvado favorito: Draymond Green. O ala-pivô do Warriors batalha perto da cesta, se movimenta bem pelo perímetro, procura o contato e fala bastante. Fala muito como diria o outro. As provocações são automáticas. Some tudo isso, e você tem uma atitude que invariavelmente chama a atenção/desperta a ira das torcidas adversárias. É o tipo de jogador que você adora ter ao seu lado e odeia enfrentar. Por isso, quando virar agente livre ao final do campeonato, Green será bastante cobiçado. Mas é impossível imaginar que o time californiano vá deixá-lo sair.


Do MVP à maior decepção. Uma lista de prêmios da NBA 2014-15
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

premiows-awards-nba-2015

O começo dos playoffs também coincide com as diversas coletivas de imprensa que a NBA vai marcar para anunciar os vencedores dos prêmios individuais da temporada. Ao divulgar a sede – Oakland, Atlanta, Houston etc. –, a liga já indicará o escolhido. Como leva um tempo para organizar cada anúncio, há anos em que a cerimônia pode até ser meio indigesta, creiam. Corre-se o risco de entregar o troféu para um jogador que acabou de ser despachado nos mata-matas, como aconteceu em 2007 com Dirk Nowitzki. Seu Dallas Mavericks havia voado na temporada regular, aparentemente se recuperando bem da derrota para o Miami Heat nas finais da temporada anterior. Mas aí eles deram de frente com o Golden State Warriors de Don Nelson, seu ex-mentor, e acabaram entrando na história como mais um cabeça-de-chave número um a ser  eliminado pelo oitavo colocado. Se formos pensar no equilíbrio da atual Conferência Oeste, corre-se um sério risco.

Mas não há o que fazer: os mata-matas começam quase que imediatamente após o final da temporada regular. Técnicos e scouts se apressam em preparar o estudo sobre seu adversário, para dirimir tudo e passar aos atletas. E a raça que atende pela alcunha de jornalistas também está apressada, tentando colocar no papel uma série de artigos que se replicam, mas parecem inevitáveis. Como o tradicional para revelar suas escolhas para a votação (aqui, no caso, imaginária) dos melhores da temporada.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

(Um parêntese, apenas: neste ano vamos ter um interessante contraponto entre as escolhas dos jornalistas e a dos jogadores. A associação dos atletas decidiu promover uma votação própria. “Os torcedores e os técnicos escolhem os all-stars. A mídia vota nos prêmios da liga. Nossos membros querem reconhecer as performances sensacionais de seus companheiros também. Os jogadores não têm votado para os prêmios desde 1980”, afirmou a advogada e diretora-executiva da entidade, Michele Roberts, em comunicado oficial divulgado na quinta-feira. Serão 10 categorias nessa seleção paralela, definidas pelos jogadores durante o intervalo do All-Star. “A nomenclatura exata para cada prêmio e o programa ainda estão sendo definidos”, diz. O estranho é que os votos foram dados antes do final da temporada. Como os atletas votaram para algo cujo nome ainda nem foi definido? Houve caras que se recusaram a participar do processo. Como John Wall, que levantou um ponto necessário: “Como jogadores, sabemos quem é quem, mas pode ser que nosso orgulho e nosso ego interfira. Pode ser que você não queira ver determinada pessoa ganhar um prêmio. Vai haver gente dizendo que é o MVP, ou o melhor jogador, então nunca vai ter uma disputa justa, na minha opinião.”)

Posto isso, vamos nessa, mas sem poder se estender muito sobre cada eleito. Cada um merecia um post próprio, mas há ainda muito o que ser digitado. Xô, tendinite..

MVP: James Harden
A disputa com Stephen Curry é muito torturante. Você tem muitos argumentos a favor dos dois, expostos aqui já, além de outros candidatos. Mas parece claro que, a essa altura, o troféu vai para Harden ou Curry. Steph é o melhor jogador no melhor time da liga. Faz coisas incríveis com a bola, seja arremessando, a ponto de comemorar uma cesta quando ela não cai, ou driblando, para descadeirar um CP3. Supera Harden em termos de índice de eficiência. Se quiser brincar com mais números, tudo bem. Em geral vai dar o líder do Warriors (e aqui que a gente precisa tomar cuidado com as estatísticas avançadas: de modo geral, os dados de Curry serão fora de série. E ele é brilhante, não temos dúvida. Mas, em termos de avaliação numérica, é muito difícil separar o que cada jogador faz do conjunto da obra de sua equipe. E o Golden State detonou a concorrência). Ainda assim, vou com Sr. Barba, pela carga pesada que carregou durante o campeonato para manter o Houston Rockets bem posicionado na Conferência Oeste – sem o seu astro, seria difícil até imaginar uma classificação aos playoffs. Foi aquele que ficou mais minutos em quadra e que mais cobrou lances livres. E melhorou consideravelmente sua defesa, marcando até mesmo gente como Z-Bo e Blake Griffin. Mais de uma bíblia já foi escrita a respeito da disputa dos dois, e geralmente os artigos todos têm terminado da seguinte maneira: “Veja bem, ambos merecem o prêmio, e a distância entre eles é mínima”. Não me parece que exista realmente uma “escolha errada” aqui. Mas deve dar Curry. Gostaria de ver Anthony Davis logo abaixo dos dois, e talvez a briga do Pelicans até o fim pelo oitavo lugar do Oeste o ajude. Os outros dois votos ficariam entre Wesbrook, LeBron e Chris Paul.

Melhor defensor: Draymond Green
Andrew Bogut é quem protege a cesta e vai ter um papel essencial nos playoffs para que seu time controle as batalhas mais importantes: aquelas da zona pintada. Qualquer torção de tornozelo ou lesão de ombro dele pode causar danos sérios ao favoritismo do Warriors, é verdade. Mas quem dá o recado, quem dita a intensidade da equipe na hora de parar o adversário. Ele é daqueles que fala horrores – mas que justifica tudo em quadra. Além disso, devido ao seu pacote de força física, inteligência, determinação e estatura mediana para a posição (2,01 m) permite a Steve Kerr confiar num sistema de trocas na defesa. É curioso isso: o fato de ser considerado baixo ao deixar a Universidade de Michigan State fez com que caísse para a segunda rodada do Draft. Hoje, é algo que joga a seu favor de modo único – com sua envergadura e senso de posicionamento, consegue marcar grandalhões. Ao mesmo tempo, é flexível o bastante para brecar as infiltrações de alas e armadores. Sua consistência durante todo o ano acaba valendo mais que os esforços impressionantes de Kawhi Leonard na reta final da temporada. Tivesse o jovem astro do Spurs disputado toda a temporada neste ritmo, acho que não haveria dúvida em apontá-lo aqui. Rudy Gobert seria outra escolha tranquila.

>> Os prêmios do 21 no meio da temporada: Oeste
>> Os prêmios do 21 no meio da temporada: Leste

Melhor 6º homem: Lou Williams
Nos momentos de crise, com DeMar DeRozan ou Kyle Lowry afastados, foi Williams quem carregou o Toronto Raptors. Sua habilidade para gerar oportunidades de pontuar por conta própria é vital num ataque que contradiz o ‘modelo Spur’: ao mesmo tempo que o clube canadense teve o terceiro sistema ofensivo mais eficiente do campeonato, ele foi apenas o antepenúltimo em cestas assistidas. Seus percentuais de arremesso são baixos, mas mudam de figura quando você vê o tipo de chute que lhe cabe em quadra, batendo adversários no mano a mano com velocidade e agilidade. Geralmente marcado no perímetro, tentando desafogar a vida de Dwane Casey. Basta conferir seu gráfico de tentativas de cesta e perceber que ele é ma ameaça constante, por toda o perímetro, interno e externo. É um perfil parecido com o de Isaiah Thomas, no fim. Agora, se o baixinho ajudou a devolver o Celtics aos playoffs, o simples fato de ele ter finalizado sua campanha em Boston já serve como um ponto contrário a sua candidatura – houve uma razão para o Phoenix Suns o liberar no mesmo dia em que havia trocado Goran Dragic, e ao que tudo indica ele dá trabalho no dia a dia. Dennis Schröder, Rodney Stuckey e o eterno Jamal Crawford também merecem consideração.

Jogador que mais evoluiu: Hassan Whiteside
Na temporada passada, ele estava no Líbano e na segunda divisão chinesa. Hoje, está posicionado entre os dez jogadores mais eficientes da liga. Em termos de custo-benefício, foi a melhor contratação da temporada. Acho que não precisa ir muito além disso – embora o próprio fato de ele nem ter jogado a temporada passada levante uma questão técnica sobre o prêmio: é possível comparar o desempenho atual com o de um passado um tanto distante? Caso o Utah Jazz tivesse se livrado de Enes Kanter mais cedo, Rudy Gobert poderia desbancá-lo aqui. Seu crescimento também foi impressionante, com o jogo desacelerando  para permitir que ele usasse seus atributos físicos de modo intimidador. Com o francês titular, sua equipe teve a defesa mais eficiente depois do All-Star Game, e foi de longe. Outros caras que vão ganhar votos justos estão no topo e participaram da festa em Nova York: Jimmy Butler e Klay Thompson, que trabalharam sério na virada de um campeonato para o outro e se tornaram cestinhas de elite.

Melhor novato: Andrew Wiggins
Nikola Mirotic arrebentou nos últimos meses da temporada, especialmente quando Rose e Gibson estavam fora de ação. Tem os números avançados mais qualificados. Teve um papel importante em uma equipe que disputou jogos relevantes o campeonato todo, com ambição de título. Mas há dois pontos contra o montenegrino naturalizado sérvio, a meu ver: 1) não podemos nos esquecer que foi apenas a partir de março que ele ganhou minutos significativos, devido aos desfalques na rotação de Thibs – em fevereiro, por exemplo, jogou apenas 14,3; 2) não me sinto confortável em tratar o talentoso ala-pivô como “novato” – não quando ele já ganhou o prêmio de MVP do campeonato espanhol e vários troféus pelo Real Madrid. Tecnicamente ele é um calouro, sim. Na realidade, já é um “jovem veterano”. Então vamos de Andrew Wiggins, que teve o ano mais consistente entre todos os estreantes. Aliás, deu para perceber um padrão aqui, né? A preocupação de não se deixar levar apenas pelo que aconteceu nas semanas finais de campanha. Pode não ter tido o ano mais eficiente, mas conseguiu produzir em um nível elevado para um garoto só completou 20 anos em fevereiro e que mal teve a assistência de Ricky Rubio, ou de qualquer outro veterano para facilitar sua transição. É difícil ter uma exuberância estatística quando seu time tem um elenco inexperiente e estropiado. De qualquer forma, mostrou uma evolução regular mês a mês e dá toda a pinta de que vai se tornar a estrela cantada por olheiros há dois, três anos. Por isso, nas minhas contas, fica acima de Nerlens Noel, Jordan Clarkson e Elfrid Payton, calouros que jogaram muito, mas apenas depois do All-Star.

Melhor técnico: Steve Kerr
Tá, aqui vamos apelar sensivelmente aos números. O Golden State se despediu da temporada regular com o segundo melhor ataque;  a melhor defesa, embora jogue com o ritmo mais acelerado da liga; o melhor saldo de pontos, disparado, e essa é uma estatística notoriamente influente no resultado dos playoffs; melhor em percentual de arremessos, sem importar qual a medição usada; o segundo melhor rendimento em jogos apertados – nas raras ocasiões em que não conseguia atropelar os adversários; o segundo em cestas assistidas… Você precisa vasculhar bastante toda a magnífica seção de estatísticas do NBA.com para encontrar um ou outro ranking em que eles apareçam mal posicionados. Então tudo bem: em aproveitamento de rebotes, ocupam apenas o 12º lugar, sendo que, naqueles mais importantes, os defensivos, estão em 19º. Está certo que Kerr já assumiu uma base sólida, um grupo que havia disputado as últimas duas edições dos playoffs e que cresceu muito na defesa sob a orientação de Mark Jackson. Mas o fato é que o clube deu um salto de 16 vitórias na classificação geral, e desconfio que isso não se deve à chegada de Shaun Livingston, Leandrinho, Justin Holiday e James Michael McAdoo. Não obstante, o final de temporada um tanto morno do Atlanta Hawks acaba facilitando a escolha entre ele e Mike Budenholzer. O que não quer dizer que o treinador dos campeões do Leste não mereça um robusto pergaminho de elogios, ao por também ter elevado seu mesmo grupo a outro patamar. Terry Stotts, sempre subestimado em Portland, Kevin McHale, que revolucionou a defesa do Rockets mesmo com Dwight Howard no estaleiro, Brad Stevens, um mago ao ter endireitado um Boston Celtics em cosntante mutação,  e Jason Kidd, com uma rotação única por sua extensão e uma retaguarda sufocante com o jovem Bucks, são outros nomes que merecem atenção.

david-griffin-cavs-executivo

David Griffin terminou a temporada sorrindo

Melhor executivo: David Griffin
Os mais chegados a LeBron James garantem que, se fosse para deixar Miami, apenas um retorno para Cleveland seria possível. Não se sabe até hoje o quanto a franquia de Ohio estava informada a respeito disso. E não importa. Quando a possibilidade de acertar a contratação de James se apresentou, o dirigente já havia tomado todos os passos necessários para acolhê-lo, num trabalho nada fácil: saber usar as escolhas de Draft acumuladas durante meses e meses para abrir espaço no teto salarial, tomando cuidado para não sabotar completamente o futuro da franquia se algo desse errado. Está certo que o segundo movimento – a troca por Kevin Love, cedendo uma promessa como Andrew Wiggins – não teve a repercussão (esportiva) esperada, mas não dá para ignorar o fato de que LBJ praticamente exigiu que a transação fosse feita. De qualquer forma, em meio a uma alarmante crise com menos de 50% da temporada disputada, Griffin foi nobre e valente o bastante para chamar uma coletiva e dar um basta aos rumores sobre uma possível demissão de David Blatt. Depois, voltou ao mercado para buscar reforços que salvassem seu treinador e, ao mesmo tempo, satisfizesse os anseios do astro. Agindo sempre sob uma pressão imensurável, tendo um dos proprietários de clube mais impacientes e ativos na sala ao lado. Bravo. O combo Bob Myers-Jerry West-Travis Schlenk-Kirk Lacob também merece aplausos por um entrosamento único na gestão do Warriors, assim como John Paxson e Gar Forman, que estão desgastadíssimos com Tom Thibodeau, mas deram ao técnico um elenco capaz de relevar as constantes lesões de Derrick Rose.

Por fim, alguns itens alternativos:

Melhor jogador sub-23: Anthony Davis, com 22 anos completos em março.  Steph Curry tem 27. Durant e Wess, 26. Harden, 25. Tim Duncan? 38. LeBron? 30. Assimilem isso.

Melhor segundanista: Rudy Gobert. Desculpe, Giannis. : (

Melhor estrangeiro: Pau Gasol, redivivo em Chicago e líder em double-doubles na temporada. Fica acima de seu irmão, que teve dois meses fantásticos na abertura do campeonato, mas depois caiu um tico.

Melhor brasileiro: Leandrinho? A despeito de seu entra-e-sai na rotação do Warriors. Mas convenhamos que não foi uma temporada das mais produtivas para os selecionáveis, com diversas lesões atrapalhando a trinca Splitter-Nenê-Varejão, da mesma forma que Vitor Faverani acabou dispensado por Boston sem poder mostrar serviço. Em Toronto, os caçulas mal jogaram.

Melhor importação da D-League: Whiteside, surrupiado pelo Miami Heat da toca do Memphis Grizzlies, o Iowa Energy. Aliás, Pat Riley foi o executivo que melhor usou a liga de desenvolvimento este ano. Basta ver como Tyler Johnson chegou ‘pronto’ quando foi promovido. Menção honrosa aqui para Robert Covington, um ala de muito potencial por sua habilidade atlética na defesa e o chute de fora no ataque. Veja aqui todos os jogadores que conseguiram elevar consideravelmente sua renda mensal ao serem chamados pela liga maior.

De Tyler Johnson para Whiteside. Dois D-Leaguers

De Tyler Johnson para Whiteside. Dois D-Leaguers

Melhor resultado de troca: se for pensar no curtíssimo prazo, a chegada de Timofey Mozgov ao Cleveland, por propósitos defensivos e também para animar LeBron, que, segundo consta, quase chorou de alegria ao ver o quão gigante o russo é de perto. Vale mencionar também a contratação de Isaiah Thomas pelo Boston. Sim, teve mais impacto que nomes como Rondo, Jeff Green e Goran Dragic. Ou mesmo Quincy Pondexter, que ajudou o Pelicans a estabilizar sua defesa e ainda recuperou seu arremesso de três pontos. Pensando longe, tudo vai depender de renovações de contrato. Dragic vai ficar em Miami, presumimos. Será que Rondo vai se encontrar em Dallas durante os playoffs? Como o Phoenix vai aproveitar tantas escolhas futuras de Draft? Será que Philly vai descolar o pick do Lakers já neste ano? Enfim, tudo em aberto.

Time mais azarado: Oklahoma City e Indiana Pacers têm uma alta conta hospitalar para competir aqui.

Maior decepção: New York Knicks. Phil Jackson prometeu os playoffs em setembro e terminou o ano falando que enfim tinha um plano para reerguer a franquia. O Los Angeles Lakers não fica muito atrás.

O jogador mais desmiolado: Nick Young, com seus devaneios de grandeza. Você quer acreditar que tudo não passa de uma grande piada, mas, quando percebe o conjunto da obra, começa a duvidar disso. Byron Scott não quer reencontrá-lo de modo algum na próxima temporada.

O dirigente mais intempestivo: Vivek Ranadive, dono do Kings, que demitiu Michael Malone depois o melhor início de campanha da equipe em muito tempo, efetivo Tyrone Corbin (um desastre), depois pressionou Chris Mullin a assumir o cargo durante a temporada para depois frustrar seu “consultor” ao contratar George Karl. Se não fosse o bastante, ainda trouxe Vlade Divac de volta para ser o novo chefão das operações de basquete. Com tudo isso, conseguiu sabotar DeMarcus Cousins de uma forma inacreditável, justamente no primeiro ano que o pivô se comportou do início ao fim. Aliás, Boogie também precisa ser incluído na lista de jogadores que mais evoluíram – e talvez seja hoje o jogador mais subestimado, por isso. Loucura geral.

A notícia que pode ter maior impacto a longo prazo: a NBA, depois de sua última reunião com os proprietários das franquias, indicando que o teto salarial pode passar dos US$ 100 milhões em 2017-18.