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Mercado da Divisão Pacífico: o Lakers ficou pequeno
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Giancarlo Giampietro

Para quem já leu o texto sobre a Divisão Central, pode pular os parágrafos abaixo, que estão repetidos. Só vale colar aqui novamente para o marujo de primeira viagem, como contexto ao que se vê de loucura por aí no mercado de agentes livres da NBA

Mozgov é imenso, mas não do tamanho do Lakers

Mozgov é imenso, mas não do tamanho do Lakers

As equipes da NBA já se comprometeram em pagar algo em torno de US$ 3 bilhões em novos contratos com os jogadores, desde o dia 1º de julho, quando o mercado de agentes livres foi aberto. Na real, juntos, os 30 clubes da liga já devem ter passado dessa marca. Cá entre nós: quando os caras chegam a uma cifra dessas, nem carece mais de ser tão preciso aqui. Para se ter uma ideia, na terça-feira passada, quarto dia de contratações, o gasto estava na média de US$ 9 mil por segundo.

É muita grana.

O orçamento da liga cresceu consideravelmente devido ao novo contrato de TV. O teto salarial subiu junto. Se, em 2014, o teto era de US$ 63 milhões, agora pode bater a marca de US$ 94 milhões. Um aumento de 50%. Então é natural que os contratos acertados a partir de 1o de julho sejam fomentados desta maneira.

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Vem daí o acordo acachapante fechado entre Mike Conley Jr. e Memphis Grizzlies, de US$ 152 milhões por cinco anos de duração, o maior já assinado na história. Na média anual, é também o mais caro da liga. O que não quer dizer que o clube o considere mais valioso que Durant e LeBron. É só que Robert Pera concordou em pagar ao armador o máximo que a franquia podia (no seu caso, com nove anos de carreira, 30% do teto salarial), de acordo com as novas regras do jogo.

Então é isto: não adianta ficar comparando o salário assinado em 2012 com os de agora. Se Stephen Curry, com US$ 12 milhões, ganha menos da metade de Conley, é por cruel e bem particular conjuntura. Quando o MVP definiu seu vínculo, estava ameaçado por lesões aparentemente crônicas e num contexto financeiro com limites muito mais apertados. Numa liga com toda a sua economia regulamentada, acontece.

O injusto não é Kent Bazemore e Evan Turner ganharem US$ 17 milhões anuais. O novo cenário oferece isso aos jogadores. O que bagunça a cabeça é o fato de que LeBron e afins não ganham muito mais do que essa dupla, justamente por estarem presos ao salário máximo. Esses caras estão amarrados de um modo que nunca vão ganhar aquilo que verdadeiramente merecem segundo as regras vigentes, embora haja boas sugestões para se driblar isso.

Feito esse registro, não significa que não exista mais o conceito de maus contratos. Claro que não. Alguns contratos absurdos já foram apalavrados. O Lakers está aí para comprovar isso. Durante a tarde de sexta-feira, recebi esta mensagem de um vice-presidente de um dos clubes do Oeste, envolvido ativamente em negociações: “Mozgov…  Turner…  Solomon… Sem palavras”. A nova economia da liga bagunça quem está por dentro também. As escorregadas têm a ver com grana, sim, mas pondo em conta o talento dos atletas, a forma como eles se encaixam no time, além da duração do contrato.

Então o que aconteceu de melhor até aqui?

Para constar: o blog ficou um pouco parado nas últimas semanas por motivo de frila, mas a conta do Twitter esteve bastante ativa (há muita coisa que entra lá que não vai se repetir aqui). De qualquer forma, também é preciso entender que, neste período de Draft e mercado aberto, a não ser que você possa processar informações como um robô de última geração como Kevin Pelton, do ESPN.com,  o recomendável não é sair escrevendo qualquer bobagem a cada anúncio do Wojnarowski no Vertical. Uma transação de um clube específico pode ser apenas o primeiro passo num movimento maior, mais planejado. A contratação de Rajon Rondo pelo Chicago Bulls no final de semana muda de figura quando o clube surpreende ao fechar com Dwyane Wade, por exemplo. No caso, fica ainda pior.

Agora, com mais de dez dias de mercado, muita coisa aconteceu, tendo sobrado poucos agentes livres que realmente podem fazer a diferença na temporada, deixando o momento mais propício para comentários:

– Golden State Warriors

Deu o que falar já

Deu o que falar já

Quem chegou: Zaza Pachulia, Patrick McCaw, Damian Jones, David West. Ah, e Kevin Durant.
Quem ficou: Ian Clark e James Michael-McAdoo.
Quem saiu: Andrew Bogut (Mavs), Harrison Barnes (Mavs), Leandrinho (Suns), Brandon Rush (Wolves), Festus Ezeli (Blazers) e Mareese Speights (Clippers).

Como vemos, o elenco do Warriors já não é mais o mesmo. E essas mudanças foram o suficiente para mudarmos tudo o que pensávamos sobre a NBA até o temporada passada. Ainda há muito o que escrever sobre a estarrecedora transferência de Kevin Durant para o clube, mas por ora ficamos com os dois textos já publicados por aqui, incluindo também o impacto que ele já causou e ainda pode causar na vida de muita gente da liga.

A partir do momento que ouviu o “sim” de Durant, o desafio do gerente geral Bob Myers era montar um elenco, pois a grana ficaria curta. Zaza Pachulia recebeu a exceção salarial de US$ 2,9 milhões. O pivô Damian Jones está preso à escala salarial dos calouros. Para o restante, só salários mínimos poderiam ser oferecidos. E aí reservas como Leandrinho, Rush e Speights foram embora.

Agora… vocês acham que isso é um drama? Os caras ainda têm Curry, Klay, Draymond, Iguodala e Livingston na rotação. Ria nervosamente, mas ria. Pachulia já representa uma boa ajuda, assim como David West. Jones certamente tem a presença física e atlética para dar cobertura a tantos craques e veteranos. A dúvida é saber se ele tem condições emocionais e psicológicas para contribuir em sua primeira temporada como profissional. Recuperando-se de lesão, o pivô ainda não jogou pela equipe de verão. Por outro lado, o ala McCaw vem causando ótima impressão em Las Vegas, como um cara versátil, inteligente e atlético que marca bem, arremessa e ainda é capaz de por a bola no chão para criar para os companheiros. Vale ficar de olho, mas pode ter sido um achado na segunda rodada.

Ainda restam duas vagas para serem preenchidas no elenco. É de se imaginar que a diretoria busque mais um pivô com perfil semelhante ao de Ezeli para completar a rotação interior e talvez mais um armador, dependendo de quem sobrar no mercado. Ou isso, ou os rumores em torno de Ray Allen poderiam se concretizar. O experiente chutador quer retomar sua carreira, tendo como alvo, além do Warriors, o Cavs, o Clippers e o Spurs.

– Los Angeles Clippers

Sonharam com Durant, terminaram com Mo Buckets

Sonharam com Durant, terminaram com Mo Buckets

Quem chegou: Marreese Speights, Brice Johnson, Diamond Stone e David Michineau (*).
Quem ficou: Jamal Crawford, Austin Rivers, Wesley Johnson e Luc-Richard Mbah a Moute.
Quem saiu: Jeff Green (Magic) e Cole Aldrich (Wolves).

Se fosse para apostar em qual seria o estado anímico de jogadores e Doc Rivers neste momento, acho que daria para arriscar “depressivo”. Porque se não bastasse o fim de campanha lamentável da equipe, com Paul e Griffin afastados, o clube ainda vê o Warriors se reforçar desta maneira, com um Kevin Durant que eles mesmo sonharam em contratar. Aí faz como?

 Com seu armador e seu principal homem de garrafão encaminhados para o mercado de agentes livres no ano que vem, será que não era a hora, então, de buscar novos rumos? O discurso de Rivers e seus esforços mostram que não. Que a franquia pretende manter seu núcleo e tentar mais uma vez. Vai que KD arrume confusão em Oakland? Vai que três dos quatro All-Stars do Warriors se lesionam. Vai que… Hã… Haja otimismo.

Sem Green e Matt Barnes, Doc agora precisa procurar, novamente, pelo quinto verão seguido, algum ala que possa ao menos tentar incomodar Durant na defesa. Wesley Johnson, por mais atlético que seja, não é a resposta aqui. Nem mesmo Mbah a Moute, que só seria alguém indicado para a missão uns cinco anos atrás, antes das lesões.

Além disso, o banco segue bastante duvidoso. Speights é uma boa opção para revezar com DeAndre Jordan, pensando no ataque, já que ajudaria a espaçar a quadra para o pick-and-roll de Paul e Griffin. Mas a defesa vai sentir horrores – muita gente pode ter aloprado Cole Aldrich durante sua carreira, mas o pivô havia se encaixado perfeitamente no time, nesse sentido. A segunda unidade vai depender muito de evolução interna de Austin Rivers e dos calouros Brice Johnson (extremamente atlético e mais preparado do que a média) e Diamond Stone (muito talentoso, mas como projeto de longo prazo). Já Michineau é um prospecto que não deve fazer a transição agora. Se é que algum dia isso vai acontecer. É limitado fisicamente, não pontua muito e foi uma surpresa no Draft.

– Los Angeles Lakers

Quando renovar com Jordan Clarkson é um dos poucos consolos

Quando renovar com Jordan Clarkson é um dos poucos consolos

Quem chegou: Brandon Ingram, Luol Deng, Timofey Mozgov, José Calderón e Ivica Zubac.
Quem ficou: Jordan Clarkson, Marcelinho Huertas e Tarik Black.
Quem saiu: Kobe Bryant (vida) e Roy Hibbert (Hornets).

Tá, vamos resolver logo de cara a frase polêmica do título: sim, o Los Angeles Lakers, a caminho da temporada 2016-17 da NBA, ficou pequeno. O torcedor mais orgulhoso que nos desculpe. Nada vai apagar a história construída por Mikan, West, Baylor, Wilt, Kareem, Magic, Worthy, Shaq, Kobe, Gasol e, claro, Artest, entre outros. A franquia ainda é uma marca global, que vale bilhões. Mas esse pacote todo não vale absolutamente nada nesta nova economia. Não quando o time vem das duas piores campanhas da história e tem uma gestão que não inspira nenhuma confiança.

Kevin Durant não precisa jogar e morar em Los Angeles para ser um dos atletas mais ricos e populares do mundo. Por isso, não se deu nem ao trabalho de marcar uma reunião com o clube neste feriado de 4 de julho, algo que aconteceu com o Boston Celtics. Ele não tinha interesse de ouvir nada que viesse de Kupchak e Buss. Nem com a possibilidade que o clube tinha de assinar dois jogadores de contratos máximos – que era o que o Celtics e o Thunder pretendiam, com Al Horford sendo o segundo alvo.

Durant não foi o único a fechar a porta na cara, a desligar o telefone abruptamente. Até mesmo o ex-cigano Hassan Whiteside os excluiu da lista de candidatos, assim como o próprio Horford. Um ala como Kent Bazemore preferiu renovar com o Atlanta por menos dinheiro. E vai saber quem mais os deixou do outro lado da linha numa espera interminável. (Para não falar do rolo com LaMarcus Aldridge no ano passado, quando Kupchak conseguiu marcar uma segunda reunião apenas para apagar um incêndio, já que, num primeiro encontro, os representantes do clube falaram muito mais sobre negócios, dinheiro do que de basquete.)

O que restou ao clube, então? Despejar dinheiro nos cofres de Timofey Mozgov e Luol Deng. O pivô recebeu 64 milhões por quatro anos. O ala, 72 milhões pelas mesmas quatro temporadas. Um baita estrago. O valor é exorbitante, sim, mesmo neste atual mercado.

Daqui a três anos, contrato de Luol Deng pode ser um fardo

Daqui a três anos, contrato de Luol Deng pode ser um fardo

No caso específico de Mozgov, não dá para entender a pressa em fechar o negócio. Uma vez que a franquia estava fora da pauta dos principais agentes livres, de que lhe interessa entrar na briga pelo segundo escalão, caindo em leilão, quando o preço fica mais inflacionado ainda? O acerto precoce com  russo – o primeiro de todo o ciclo de contratações da liga! –, com tantos pivôs disponíveis no mercado, é  de deixar qualquer observador mais imparcial perplexo. O grandalhão vai receber o dobro do que o Portland concordou em pagar para Festus Ezeli, em termos de salário anual. No pacote total, é quatro vezes mais. Sim, 400%. Sendo que Ezeli, por pior que tenha jogado nas finais, é muito mais jovem. E tem isso também: ele ao menos foi para a quadra, ao contrário do Mozgov.

Acreditem: o negócio fica ainda pior devido aos quatro anos de contratos para o pivô – e também para Deng. Hoje, friamente, o que o Lakers tem de positivo para apresentar ao seu torcedor? O fato de ter uma boa quantia de jovens atletas talentosos no elenco. Quase adolescentes. Em tese, daqui a três ou quatro anos, eles estarão prontos ou perto de ficarem prontos para voos maiores, se a comissão técnica liderada por Luke Walton conseguir desenvolvê-los adequadamente. Se for para o time voltar a ser relevante, essa me parece a única via, aliás. Supondo que aconteça, você realmente quer esses dois contratos enormes acompanhando Ingram, Russell, Randle e Clarkson? Deng, bastante desgastado por campanhas duríssimas com Thibs em Chicago, e Mozgov aos 34 anos, com capacidade atlética reduzida e problemas no joelho? Isso é inteligente?  Foram contratações visionárias? Se a produção despencar, como é natural esperar, os dois veteranos simplesmente vão obstruir o processo de reconstrução da equipe.

Além do mais, cabe também questionar se, mesmo num vácuo, ignorando valores e duração dos contratos, Deng e Mozgov são boas opções para o time agora. O sudanês-britânico e o russo, sejamos justos, servem desde já como figuras exemplares no vestiário, para ajudar a controlar e impulsionar a molecada. Em quadra, porém, há questões sérias.

Deng vem de boa temporada pelo Miami, mas jogando como ala-pivô aberto, fazendo a função de “stretch 4” a partir do momento em que Bosh foi afastado. Duas das peças promissoras do Lakers atendem por Julius Randle e Larry Nance Jr. Como Walton vai distribuir minutos? Agora, o maior problema é se o veterano foi contratado para navegar pelo perímetro — afinal, o primeiro alvo do clube foi Bazemore. Se for isso, mesmo, aí fica tudo mais duro de entender. Talvez não tenham estudado o veterano com tanta atenção assim. Em 2010, Deng era um dos alas mais competentes da liga, atacando e defendendo. O tempo passou e hoje ele já tem mais dificuldade para lidar com gente mais jovem e rápida. Quanto a Mozgov, a despeito de todas as ressalvas acima, considero bom jogador. O lance é que ele sofreu uma cirurgia no joelho em 2015, sendo que seu vigor físico, velocidade e explosão são seus principais recursos como jogador de NBA.

Em suma: pode ser um desastre. É uma diretoria sem rumo, pressionada, lembrando que Jim Buss está agindo sob um ultimato, tendo prometido colocar o clube nos trilhos até 2017.

De resto, no Draft, o clube teve uma jornada feliz. Por sorte, conseguiram manter a segunda escolha, para acolher um prospecto muito promissor como Ingram. Franzino que só, deve demorar um tempinho para que ele se firme como cestinha e defensor na liga. Mas é uma grande pedida. Na segunda rodada, o clube também pode ter conseguido um pivô de muito futuro com o croata Zubac, que é simplesmente fanático pelo clube. Também não dá para esperar que ele se imponha no garrafão para já, mas eventualmente o rapaz de 19 anos e 2,16m talvez já possa contribuir na segunda metade da temporada, dependendo o quanto ganhar de massa muscular.

Outra boa negociação foi a de Calderón. Por mais que o veterano seja redundante para um clube que já tem Huertas, ao menos o clube recebeu duas escolhas de segunda rodada de Draft para absorver seu contrato. É o tipo de ativo que pode ajudar em trocas futuras ou para que a franquia já consiga despachar Nick Young antes de o campeonato começar.

– Phoenix Suns
Quem chegou: Dragan Bender, Marquese Chriss, Tyler Ullis, Leandrinho e Jared Dudley.
Quem saiu: Mirza Teletovic (Bucks) e Jon Leuer (Pistons).

Bender: talento de ponta para crescer ao lado de Booker

Bender: talento de ponta para crescer ao lado de Booker

Robert Sarver tirou o pé. Depois de algumas campanhas frustrantes, que mantiveram o clube na loteria do Draft, o proprietário permitiu que o gerente geral Ryan McDonough agisse pensando no futuro, em vez de um oitavo lugar no Oeste. Aí entram em cena os calouros Bender e Chriss, que, ao lado do emergente Devin Booker, que está destruindo Las Vegas neste exato momento, representam uma esperança para uma franquia que não soube muito bem o que fazer nos últimos anos, perdida entre reconstrução e ambição.

Se os dois, escolhidos no top 10 do Draft, supostamente jogam na mesma posição, isso não é questão para agora – estão entre os mais jovens da liga, e vai levar tempo para que possam pensar em protagonismo na liga. Minha aposta é Bender, um jogador com muitos fundamentos, versatilidade e visão de quadra que pode ser brilhante. Chriss é um atleta de primeiro nível, mas com bagagem tática defasada – deve ficar um bom tempo na filial de D-League da franquia.

Para completar os novatos, McDonough foi atrás de dois veteranos que são bastante populares em Phoenix. Leandrinho e Dudley estão de volta para compor rotação, serem embaixadores fora do ginásio – numa cidade que tem se distanciado de sua equipe cada vez mais – e ainda contribuir para a adaptação dos mais jovens, aliviando um pouco a barra de um até então isolado Tyson Chandler. E ainda custaram pouco (US$ 30 milhões em três anos para Dudley, US$ 8 milhões para o brasileiro em dois anos, o segundo sendo opcional). Alex Len, Archie Goodwin e TJ Warren estão devidamente amparados, então. O quanto podem render ninguém sabe ainda. Falta consistência. Outra adição a esse núcleo jovem é o baixinho Ullis, um armador de verdade, que inicia bem sua trajetória pelas ligas de verão.

– Sacramento Kings

Papagiannis: mais uma decisão questionável de Divac

Papagiannis: mais uma decisão questionável de Divac

Quem chegou: Arron Afflalo, Matt Barnes, Garrett Temple, Anthony Tolliver, Georgios Papagiannis, Malachi Richardson, Skal Labissiere e Isaiah Cousins.
Quem saiu: Rajon Rondo (Bulls), Seth Curry (Mavs), Marco Belinelli (Hornets), Duje Dukan e Caron Butler.

 Segue a ciranda de Vivek Ranadive em Sacramento: ano novo, cara nova para o clube, agora apostando principalmente em veteranos de forte caráter e em pirulões, a comando do técnico Dave Joerger. Vlade Divac ao menos continua no comando do departamento de basquete, o que não é necessariamente uma boa notícia.

Em uma rara sequência de duas boas tacadas, o sérvio conseguiu orquestrar trocas com o Phoenix Suns e o Charlotte Hornets que transformaram Marco Belinelli e a oitava escolha do Draft em três seleções de primeira rodada, além de ter dado ao clube os direitos sobre Bogdan Bogdanovic. Legal. O problema é o  que ele fez a partir daí.

Ninguém entendeu muito bem quando o gerente geral elegeu o jovem Papagiannis em 13º, muito menos Boogie Cousins. A cotação do grego de 2,16m de altura estava subindo, é verdade, mas jamais foi visto pelos olheiros europeus como um candidato ao grupo dos 15 primeiros do Draft,  especialmente no atual contexto de uma liga que vem priorizando cada vez mais jogadores mais ágeis e flexíveis no garrafão. Por fim, no ano anterior, Divac já havia selecionado um pivô, Willie Cauley-Stein, que teve de brigar por espaço em uma rotação com Cousins e Kosta Koufos.

Com o jogador  tem apenas 19 anos, o gerente geral pode dizer que sua contratação não serve ao time para já, mas como um projeto de longo prazo. Essa tese, porém, não combina tanto com a urgência que a diretoria anuncia, tentando por fim a um jejum de dez anos sem playoff. Fato é que, se Koufos for trocado – os rumores dizem que ele e Rudy Gay estão sendo oferecidos NBA afora –, Papagiannis não estaria pronto para assumir seus minutos. O mesmo vale para o haitiano Labissiere, que, de jogador cotado ao primeiro lugar do recrutamento de novatos há um ano, quase caiu para a segunda rodada. O Sacramento tem estrutura hoje para desenvolver os dois pivôs ao mesmo tempo? A ver.

Entre os agentes livres, a expectativa é que o pacote com Afflalo, Barnes, Tolliver e Temple dê alguma estabilidade ao vestiário e ajudem na defesa e no espaçamento ofensivo, compondo um time mais sóbrio e coeso ao redor de Cousins. Eu não ficaria tão otimista assim.

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O efeito Durant: quem ganha e quem perde com essa notícia bombástica
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Giancarlo Giampietro

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Quando um Kevin Durant, um LeBron James, um Stephen Curry muda de clube, a NBA chacoalha toda, mesmo. A tremedeira imediata deixa a liga toda atordoada, com o mundo acreditando, a princípio, que será impossível derrotar o Golden State Warriors na próxima temporada. Até que baixa a poeira, e a gente entra nessa onda reflexiva, com ou sem zoeira. Então, tá. Na cabeça de um blogueiro distante brasileiro, qual o impacto da ida de Durant para Oakland para alguns personagens e entidades da liga?

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Stephen Curry, Klay Thompson, Draymond Green e Andre Iguodala: por razões óbvias. Se o quarteto, que foi até a região dos Hamptons, em Nova York, para recrutar o astro, realmente não tiver preocupação nenhuma em dividir a bola e perder em números e elogios, não há com o que se preocupar aqui. A vida de cada um deles vai ficar mais tranquila em quadra, com menos obrigações e pressão, mesmo que as primeiras semanas de convívio em quadra pressuponham um período de ajuste provavelmente complicado. Basta lembrar a dificuldade inicial que esta base teve, mesmo, para assimilar o sistema de Steve Kerr, cometendo um monte de turnovers na abertura da temporada 2014-15. Durant vem de um time pelo qual, em 98% do tempo, atacava no mano a mano, mesmo, alternando posses de bola com Russell Westbrook. A diferença de movimentação do OKC para o Golden State é das maiores que você vai ver por aí. Mas, se for para assinar com o time, KD obviamente está ciente disso, e não haveria razão para travar as coisas. Segundo os diversos relatos em off sobre a reunião com os representantes da franquia, o astro está empolgadíssimo para participar desta ciranda. Não é só a chance do título, a maior visibilidade, mas também se divertir em quadra.

Joe Lacob: agora o acionista majoritário do Warriors pode novamente se gabar de que seu clube está anos-luz à frente da concorrência, como havia feito numa entrevista controversa à revista do New York Times, meses antes da derrota para os LeBrons na decisão.

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West não é o logo da NBA só porque sabia driblar e arremessar

West não é o logo da NBA só porque sabia driblar e arremessar

– Jerry West: o consultor do clube e acionista minoritário, de acordo com diversos relatos, foi aquele que selou o acordo, quando Durant ainda estava em dúvida. São coisas que West faz, como levar Shaq ao Lakers e apostar firmemente num jovem adolescente chamado Kobe Bryant. É por isso que ele é o Logo da NBA.

– Zaza Pachulia também deve ser um cara bem feliz no momento, como a primeira contratação do Warriors num mundo pós-Durant. Ele curtiu bastante a experiência de jogar ao lado de Dirk Nowitzki e sob a orientação de Rick Carlisle em Dallas, e tal, mas não dá para comparar isso com o que vai viver em Oakland. O georgiano percebeu a lacuna aberta no garrafão da equipe e não hesitou em dar um belo desconto em seu salário para assumir a sétima vaga de sua rotação – contando aqui também o reserva multiuso Shaun Livingston. Se vai embolsar apenas US$ 2,9 milhões (pense que o Lakers vai dar a Timo Mozgov um cheque de US$ 16 milhões ), não importa.

Pelo Warriors, sua carga de trabalho não será tão exigente e seus minutos voltarão a ser controlados, para que ele possa executar aquilo que faz bem do início ao fim do campeonato, depois de uma queda de produção acentuada pelo Mavs. Em relação a Bogut, o pivô pode cumprir muito bem pelo menos 75% das funções de que o australiano cuidava: corta-luzes esmagadores no ataque e visão de jogo para o passe, duas características fundamentais para o ataque de Kerr, além de ser um ótimo reboteiro. Só fica faltando mesmo a proteção de aro. Pachulia joga com os pés plantados na quadra e não intimida tanto na contestação individual. Por outro lado, se desloca com inteligência e sabe fechar espaços. Por esse preço, com muitos pivôs já apalavrados com outros times, foi um baita negócio.

Harrison Barnes: sim, ele foi descartado por um timaço. Agora, verá testado seu repertório ofensivo verdadeiramente testado. Dirk Nowitzki ainda é um grande chutador e desperta preocupações táticas para qualquer defesa, mas não no nível de Steph Curry e Klay Thompson, claro. Tudo isso está sendo considerado. De todo modo, veja bem: o ala acaba de acertar um contrato de US$ 95 milhões com o Dallas Mavericks. Dinheiro não é tudo nessa vida, não compra toda a felicidade do mundo… Mas são mais de R$ 300 milhões gente por apenas quatro anos de serviço. Se Durant não tivesse aceitado a oferta do Warriors, ele muito provavelmente ganharia a mesma bolada com seus bons e velhos companheiros. E talvez essa não fosse a opção mais saudável. Imagine a pressão a que Barnes seria submetido no próximo campeonato depois de seu desempenho sofrível nas finais. Qualquer coisa que desse errado, pode ter certeza de que a torcida do Golden State, no geral toda amorosa, estaria pronta para detoná-lo.

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– LeBron James: é, pois é. Convenhamos que, depois do que ele fez na decisão da liga, não há mais como cornetar o superastro do Cavs. O terceiro título de sua carreira foi o mais significativo, já funcionaria como um final perfeito para a sua carreira, de volta ao clube de seu estado natal. Tudo isso era muito agradável. Agora acontece que, depois de muuuuito tempo (talvez desde 2008), LeBron tem a chance de se tornar o super-herói adorado da NBA, em vez de um supervilão questionado. Dependendo da escalada nas críticas a Durant e de uma mudança de concepção sobre o Warriors, pode ser que o título de “Queridinho da América” se desloque rapidamente da baía de San Francisco para o Meio-Oeste do país. LBJ e os Cavs seriam a grande esperança contra o mais novo supertime-que-só-faria-mal-ao-esporte. Uma besteirada, claro. Mas vocês sabem que pode ocorrer. As narrativas estão aí para isso.

– Russell Westbrook: do ponto de vista competitivo, claro que ele leva a pior. Sem Durant, o Thunder não pode ser visto como ameaça a Cavs, Warriors e, vá lá, Spurs pelo topo da liga.  Individualmente, porém, podemos esperar um Westbrook de arromba, quem sabe atingindo um triple-double de média. Além do mais, o fato é que a saída do ala também facilita sua decisão para o próximo ano, quando também vai virar um agente livre. Resta saber como será o contato de Presti com o armador nas próximas semanas. Será que o dirigente vai exigir uma posição antecipada da estrela que lhe sobrou? Se Wess não disser com firmeza de que pretende seguir na franquia, seria a hora de trocá-lo, para não se correr o risco de perdê-lo também sem receber nada em troca? Independentemente das respostas aqui,  a gente já pode imaginar um atleta obcecado, com o modo Devorador de Aros ativado.

– Doc Rivers: a incapacidade do presidente/técnico do Clippers de montar um bom elenco ao redor de Chris Paul, Blake Griffin e DeAndre Jordan ganha agora mais um álibi.

Quem sai perdendo?

Melhor tirar fotos antes que Durant suma de vez de OKC

Melhor tirar fotos antes que Durant suma de vez de OKC

– Oklahoma City, a cidade: é um baque, não há como. Durant ajudava a impulsionar a economia local, não só como um embaixador. Do ponto de vista sentimental, então, o estrago é enorme. Dá até para sentir um pouco de empatia com a dor deles. Mas, caras, esse é o mundo dos negócios da liga. Seattle não esqueceu o modo como lhe arrancaram seu tradicionalíssimo clube em 2008.

– OKC, o clube: dãr. (Mas aproveito o espaço aqui para escrever sobre o gerente geral Sam Presti. Fiquei na dúvida sobre colocá-lo na lista de cima ou nesta aqui, então fazemos extraoficialmente, entre parênteses: o cartola perde muito sem o astro, mas tem uma grande chance para afirmar seu faro para negócios. Se ele por acaso encontrar uma forma de reconstruir a equipe, pensando em título, mesmo, poderá pedir um baita aumento a Bennett, como um dos executivos mais respeitados da história da liga.)

Clubes da NBA de cidades menores: desde que Clay Bennett tirou a franquia e Seattle para OKC,  Presti fez um trabalho quase irretocável para construir uma grande equipe e desenvolvê-la em um ambiente sustentável. A troca de James Harden foi um duro golpe, eles tiveram azar com lesões de Durant e Westbrook, mas não custa lembrar que eles ficaram a cinco minutos de eliminar o Warriors no mês passado. É difícil imaginar um cenário mais positivo que este. Ainda assim, lá se foi Durant para um mercado muito maior. A decisão do ala não pode ser entendida só do ponto de vista esportivo, gente. Não sejamos ingênuos a este ponto. Meses antes de se reunir com o jogador, a diretoria do Warriors já sinalizava que o histórico de Joe Lacob no Vale do Silício era bastante atraente para Durant, pensando nos negócios e investimentos vindouros. (Mencionar que LeBron está em Cleveland neste momento, não vale: é uma situação toda particular.)

Sem Durant (e sem Seattle), Bennett vai querer um novo lo(u)caute para a NBA?

Sem Durant (e sem Seattle), Bennett vai querer um novo lo(u)caute para a NBA?

– Proprietários: só do ponto de vista do orgulho, claro, pois, em termos financeiros, a NBA vai bombar ainda mais com essa transação. Considerando que eles já ganham bem mais que os atletas em relação a receitas da liga, não há motivo para choradeira. Para muitos desses caras, porém, não basta lucrar horrores – eles querem controlar tudo também. Foi deste modo que fizeram fortunas. Quando o assunto é o mercado de agentes livres, porém, não adianta teimar, minha gente: os melhores jogadores vão assinar com quem eles bem entendem, não importando quantas amarras eles possam criar no próximo acordo trabalhista, agora muito provavelmente com um locaute em 2017.

Clippers, Lakers, Kings e Suns: para os companheiros do Warriors na Divisão do Pacífico, a vida será especialmente dura. Cada um terá de jogar quatro vezes contra esse supertime.

– Gregg Popovich: muitos dizem que, no que dependesse só de sua vontade, o técnico já teria se aposentado. Mas ele foi ficando, enquanto durava a carreira de Tim Duncan também. Quando convenceu LaMarcus Aldridge a se mudar para San Antonio, também teria feito um pacto com o pivô de que cumpriria seu contrato. Devem ser mais uns três anos, então, para encontrar uma forma de bater o Warriors. Ele pode encarar essa tarefa como um desafio instigante ou depressivo. Vai depender da safra do vinho de cada ano, acho, ainda mais com o zum-zum-zum de que a Era Duncan possa realmente ter chegado ao fim.

– Kevin Love: se bobear. Porque assim: o Cavs curte pacas o primeiro título de sua história e o primeiro da cidade após 50 anos, mas é natural que queiram mais. Enquanto LeBron estiver zanzando por lá, terão essa chance. Então não requer muita imaginação para vislumbrar David Griffin reunido com seus comparsas para pensar qual cartada o Cleveland pode dar para como resposta ao reforço estrondoso da equipe com a qual disputou as últimas duas finais. E aí, meus amigos, a gente volta a especular sobre o futuro de Love com o clube. Dias depois da conquista, Griffin disse que ninguém iria sair de seu time. (Pelo menos aqueles sob contrato, já que Mozgov é do Lakers e Matthew Dellavedova recebeu uma oferta de US$ 38,4 milhões do Milwaukee Bucks e, antes mesmo de o clube se pronunciar oficialmente, LeBron já o desejou boa sorte e o parabenizou pela bolada.) De lá para cá, no entanto, a NBA balançou. Vai ter um contra-ataque?

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Kevin Durant é do Warriors, e a NBA fica atônita
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Giancarlo Giampietro

durant-players-tribune-warriros

E aí? Quem se lembra daquele tempo em que o Cleveland Cavaliers comemorava o título da NBA e o fim de um jejum de 50 anos sem título para a cidade? Tipo, há duas semanas, mais ou menos?

Se a sua cabeça está girando com o anúncio de que Kevin Durant vai ser jogador do Golden State Warriors na próxima temporada da liga, bem-vindo ao clube. Imagine como já não está a cuca de 29 coordenadores defensivos da liga, então? Ou a de Harrison Barnes e Andrew Bogut, já entendendo que não vai mais fazer parte de um dos maiores e mais divertidos times da história?

Pois é. Ao anunciar qual o “próximo capítulo” de sua carreira no site chapa branca The Players’ Tribune, o astro provocou um abalo sísmico na estrutura da liga, deixando a conquista do Cavs já como passado distante e tornando toda e qualquer negociação a ser anunciada nos próximos dias como algo insignificante. Pau Gasol vai assinar com o Spurs ou o Raptors? E interessa? É como se fosse um grande vazio existencial, e a reação dos atletas em tempo real está aí para comprovar.

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O Warriors conquistou o título em 2015. Bateu o recorde de vitórias numa temporada regular em 2016. E ficou a um triunfo do bicampeonato, contando com três All-Stars em sua escalação. Agora, não acertou com um jogador qualquer. Mas com o último MVP da liga que não se chama Stephen Curry. O terceiro maior cestinha da história e o maior em atividade, se formos nos concentrar em médias de pontos por jogo. Evoquemos de novo a imagem dos treinadores dedicados ao sistema defensivo: se já era difícil encontrar uma resposta para um pick-and-roll entre Stephen Curry e Draymond Green, imagine agora fazer planejamento com Kevin Durant posicionado do outro lado da quadra? E se for para fazer o jogo em dupla com Durant e Green, mandando Curry e Thompson para o lado oposto? Talvez nem mesmo cinco LeBrons sejam capazes de brecar isso.

Se o Golden State já era encarado como um supertime, qual a definição agora? E a chamada “Escalação da Morte”, que devastou a concorrência basicamente por dois anos? Você vai trocar Barnes por Durant nessa formação. Impressionante.

Lembram aquele papo de LeBron? De encerrar a carreira jogando ao lado dos compadres CP3, Melo e Wade? Seria a única alternativa de competitividade para a liga hoje? Mas é algo que seria possível apenas em 2017, a não ser que 1) Wade já tope jogar por uma mixaria em Cleveland agora; 2) o Knicks trocasse Melo por Kevin Love; 3) o Cavs trocasse Irving por Chris Paul. Difícil, hein?

Lembram aquele papo de LeBron? De encerrar a carreira jogando ao lado dos compadres CP3, Melo e Wade? Seria a única alternativa de competitividade para a liga hoje? Mas é algo que seria possível apenas em 2017, a não ser que 1) Wade já tope jogar por uma mixaria em Cleveland agora; 2) o Knicks trocasse Melo por Kevin Love; 3) o Cavs trocasse Irving por Chris Paul. Difícil, hein?

Quais são os próximos passos agora?

Antes de anunciar o ala oficialmente, a diretoria do Warriors precisa encontrar um novo clube para Andrew Bogut. Tem de limpar salário para poder acomodar um salário de US$ 27 milhões. Como eles têm o australiano em alta conta, não vão simplesmente despachá-lo para o Philadelphia, sem mais nem menos – embora ter o jovem compatriota Ben Simmons por lá pudesse ser uma boa distração ao veterano que, muito antes de o clube ser badalado, foi a primeira contratação de impacto desse ciclo, ajudando a construir essa reputação.

(E aqui fica uma questão engraçada e absurda: e se os 29 concorrentes fizessem um pacto e simplesmente se recusassem a absorver o contrato de Bogut? Fazendo pirraça, mesmo. Aí o Warriors precisaria dispensar seu contrato e parcelar a conta. Além disso, teriam de abrir mão de Shaun Livingston. Mas este cenário não vai acontecer. Nem todos os times entrarão no próximo campeonato com ambição de título. De modo que Bogut, por mais quebradiço que seja, ainda vai despertar o interesse de muita gente com sua capacidade como reboteiro, protetor de aro, passador e muralha em corta-luzes. O Dallas Mavericks já despontaria como favorito, aliás, depois de ser recusado por Hassan Whiteside.)

Ainda no garrafão, Festus Ezeli é mais um que vai precisar encontrar um novo clube. Segundo Marc J. Spears, do Undefeated, o clube não só não vai renovar com o nigeriano como vai abrir mão dos direitos sobre ele. O grandalhão vai virar agente livre pleno, num mercado em que muitos pivôs já se apalavraram. Situação curiosa agora.

Por fim, Harrison Barnes poderá assinar seu contrato de US$ 95 milhões com o Mavs, por quatro anos. Viu como seu desempenho ridículo nas finais contra o Cavs não atrapalhou em nada suas metas financeiras? O mercado de agentes livres não tinha grandes nomes assim para um ano em que o teto salarial subiu 30%.

Esses caras foram valiosos, garantiram um lugar na história do clube, mas a fila anda apressadamente na NBA. Se o Warriors tivesse conquistado o bicampeonato, será que Durant aceitaria jogar no time? Duvido muito. O fato de o time ter sucumbido perante LeBron acabou abrindo caminho, mesmo, para esse acordo bombástico, já que ao ala poderia caber a imagem de “peça que estava faltando”, em vez de um simples “modinha”, caso estivesse sendo incorporado pelos atuais campeões. (Embora, obviamente, isso seja o que Durant mais vá escutar nos próximos meses e jogos. Só não pode ser chamado de “mercenário”, já que vai perder dinheiro, em termos de salário, ao sair de OKC.)

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Outros fatores especiais que proporcionaram essa bomba: b) a própria derrocada do Thunder contra o Warriors nas finais do Oeste; c) o novo acordo televisivo da liga; d) o fato de o sindicato dos jogadores ter recusado uma subida gradativa no teto salarial; e) nesse cenário todo, o contrato de Steph Curry, apenas o quarto mais valioso do elenco, se tornou a maior barganha da paróquia, tendo sido firmado numa época em que falávamos mais sobre seu tornozelo do que sobre seus chutes da saída do túnel, antes de o jogo começar. Elimine qualquer uma dessas alternativas, e o negócio talvez fosse impossível.

Não obstante toda essa conjuntura, também tem o aspecto de relacionamento humano serenamente destacado por Dwyane Wade, em meio ao caos. Durant foi campeão mundial em 2010 pelo Team USA com Curry e Iguodala ao seu lado. Naquela campanha, os três costumavam se reunir constantemente para rezarem juntos, por exemplo. Já Draymond Green recrutou o ala durante a última temporada inteirinha, e até mesmo depois da épica virada pela final de conferência, sendo habilidoso o bastante para não pisar nos calos e ofender o então rival.

Segundo consta, um telefonema de Jerry West – o logo! De novo! – na calada da noite deste domingo teria sido importantíssima na decisão de Durant. Entre tantas mensagens passadas pelo consultor do Warriors, duas teriam se destacado. Uma teve cunho biográfico, com o ex-jogador lembrando o punhado de vezes em que seu Lakers havia morrido na praia, contra a dinastia Russell-Auerbach em Boston. A segunda, mais impactante, foi para reforçar a ideia de que, com Curry, Klay e Draymond, Durant seria apenas mais um. Não teria essa coisa de estrelismo: jogariam todos juntos, de igual para igual. Além disso, teve a fala do gerente Bob Myers: “Sem você, é possível que vençamos um ou dois títulos mais. Sem nós, provavelmente você também ganhe um ou outro. Juntos? Podemos levar vários”. E quem vai discordar?

Acho que nem mesmo um cabeça-dura, orgulhoso e superatlético Russell Westbrook – não consigo deduzir qual teria sido sua reação ao ser informado da mudança. Para OKC, não há muito o que fazer. O proprietário Clay Bennett e o gerente geral Sam Presti estavam na região dos Hamptons ainda nesta segunda-feira – feriado da independência nos EUA –, aguardando a decisão de seu ex-jogador. Desnecessário dizer que cada rojão estourado neste 4 de julho vai explodir dentro dos tímpanos deles. Ao menos a dupla foi mais classuda que Dan Gilbert no momento de perder uma estrela. Pudera: não custa lembrar que Bennett roubou não só Durant de Seattle como um clube inteiro. O carma chegou para acertar, mais ou menos, as contas.

É isso. Seattle talvez seja mesmo, além de Oakland e San Francisco, a única cidade americana a comemorar nesta data, que não pelos motivos patrióticos. De resto, não importando as coordenadas geográficas, os diretores que ainda estiverem reunidos para buscar agentes livres secundários, os técnicos que estejam trabalhando com a molecada das ligas de verão, os atletas que estejam a caminho das ou voltando das Bahamas devem estar todos em estado catatônico, sem nem conseguir pensar o que será da liga na próxima temporada.

*    *    *

lakers-2012-super-team-coverSupertimes são garantia de sucesso?

O torcedor do Lakers, que nem mesmo pôde ver o clube fazer uma propostinha por Durant neste ano, vai nos atentar para o que aconteceu com o elenco de 2012, quando Dwight Howard e Steve Nash chegaram a Hollywood para contracenar com Kobe e Gasol. Uma sucessão de lesões e intrigas levou aquele badalado elenco ao oitavo lugar do Oeste e a uma varrida pelo Spurs. Certo. Mas não há como comparar os casos aqui: Nash estava nas últimas, Howard voltava de uma cirurgia e Kobe deu uma de Kobe no pior sentido, ateando fogo nas relações, enquanto Gasol se lamuriava pelo esquema de Mike D’Antoni. Ah, e Jimmy Buss não vive em Oakland.

Em Miami, a conquista não saiu de cara, mas vale lembrar que o time ganhou duas vezes a liga e alcançou quatro finais seguidas. Poderia ter sido mais, mas Dwyane Wade estava em outro estágio de carreira também, lidando com dores e travas no corpo todo. Do quarteto do Warriors, Stephen Curry é o mais velho. Com apenas 28 anos…

*    *     *

O maior receio do acerto de Durant com Golden State? Um novo lo(u)caute já em 2017. Você pode ter certeza de que mais de 50% dos proprietários dos demais 29 clubes estão espumando neste momento, querendo repaginar o acordo trabalhista. A gastança desenfreada que estamos acompanhando, proporcionada pelo abrupto aumento do teto salarial, já valia como um motivo suspeito para uma nova paralisação das atividades da liga. Agora, o suposto desnível de forças praticamente garante esse racha, na visão dos mais pessimistas. Se fosse apostar grana, iria nessa linha. Vai ser um ba-fa-fá que só.

*    *    *

Um componente interessante dessa transação é a disputa de marcas esportivas. A “Under Armour” conta com Steph Curry como um de seus principais propulsores no mercado global. Agora a “Nike” espera que Durant possa ofuscá-lo.

*   *   *

Vocês já se cansaram dessa coisa de Durant agente livre? Calma, que em 2017 pode ter mais. O contrato do ala com o Warriors será de dois anos, valendo US$ 54 milhões, mas com uma cláusula ao seu dispor para encerrá-lo já ao final da próxima temporada. Financeiramente, faz todo o sentido: KD vai completar dez anos de liga e poderia assinar um novo contrato valendo 35% do teto salarial, em vez dos 30% de hoje. O contrato de Curry também vai expirar junto. Assim como os de Westbrook, Blake Griffin e Chris Paul, entre outros. Vai ser interessante, com ou sem lo(u)caute.

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A reação de LeBron, na qual uma imagem vale mais do que mil palavras, foi bastante espirituosa:

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Michael. Corleone. Ponto.

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O Jogo 7 já é passado. Como fica a ressaca de Cavs e Warriors?
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Giancarlo Giampietro

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A reviravolta na vida de Richard Jefferson foi tamanha, tão positiva… Que ele tinha direito a falar o que bem entendesse, mesmo, ao ser entrevistado já como campeão da NBA. O veterano ala primeiro comemorou, tomando uma champanhe Moët. Depois, anunciou que aquele Jogo 7 havia sido o último de sua carreira. Estava aposentado. Acendeu um charuto. Por fim, disse que ia se dedicar a escrever, a produzir ensaios. Sim, ensaios. Talvez picantes. “Eles podem ser eróticos, eu não sei, mas sei que vou escrever vários ensaios”, afirmou, sorridente.

Aos 35 anos, Jefferson agora se sente um homem livre, totalmente realizado. Conseguiu aquilo que lhe faltava, numa carreira com mais de 14 mil pontos, 4.500 rebotes e 32 mil minutos, desde que se profissionalizou em 2001, para ganhar US$ 110 milhões em salário. Tudo ótimo, mas ainda buscava um título, e, por isso, assinou com o Cleveland Cavaliers. E aqui está Jefferson, campeão, se sentindo o máximo, já que não só caçou o seu título como deu sua contribuição valiosa para a conquista, como surpreendente peça no tabuleiro das #NBAFinals.

Agora, com todo o respeito ao aposentado, não dá para nos alongarmos muito num texto pós-título para Cleveland, no dia seguinte à consagração definitiva de LeBron para falar sobre quais contribuições foram essas. Registre-se apenas que, com Kevin Love, Matthew Dellavedova e Iman Shumpert jogando muito mal, tapou vários buracos. Deu flexibilidade à defesa de Tyronn Lue e foi combativo, sempre um dos primeiros a se atirar por uma bola perdida. No ataque, ainda foi eficiente no ataque, aproveitando as rebarbas. Pronto.

2016 NBA Finals - Game Seven

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Agora, o curioso é o seguinte: se tudo tivesse dado certo segundo seus planos iniciais, o ala estaria bem longe de Oakland agora em junho. A ideia era que ele estivessem no Texas, mais precisamente em Dallas, clube com o qual já estava apalavrado, com a expectativa de compor uma linha de frente com outro craque histórico da liga, Dirk Nowitzki, e outro pivô superatlético dominante nos rebotes, DeAndre Jordan. Até que Jordan se perdeu naquele dramalhão todo no ano passado e decidiu ficar com o Clippers. Ao dar um passo para trás, o grandalhão estraçalhou os planos de Mark Cuban e Rick Carlisle. De time que pretendia lutar pelo título, o Mavs sabia que precisaria se esforçar o máximo para pelo menos chegar aos playoffs. Diferentemente do Cleveland Cavaliers, que também o havia procurado. Daí que, num ato raro, generoso, Cuban aceitou liberar o veterano, em conversa breve pelo telefone.

Até porque, convenhamos, no envelhecido elenco do Mavs, era até melhor, mesmo, espaço para o calouro Justin Anderson na rotação. E não é que Jefferson também tivesse estabelecido um vínculo emocionante com a franquia de Dallas. Já com uma vida de cigano pela liga, ele havia ficado apenas um ano por lá, mesmo, em 2014-15. Antes, havia feito escalas pelo breves pelo Utah Jazz e pelo… Golden State Warriors, entre outros.

Muito se falou nestas finais da situação estranha vivida por Anderson Varejão, por sua identificação com Cleveland, sua condição de ídolo por lá e por ter jogado pelos dois finalistas na mesma temporada. Mas Jefferson também tinha umas boas histórias para contar a respeito do balcão dos negócios da NBA e de como as dezenas de transações fechadas a cada temporada podem ter implicações a perder de vista.

Golden State Warriors forward Jefferson goes up for the shot in front of Dallas Mavericks guard Beaubois during their NBA basketball game in Dallas, TexasO ala não estava no elenco do Warriors no ano passado, como já dissemos. Mas, na formação campeã, havia um legado da sua parte. Seu antigo salário foi parte essencial para que o clube californiano contratasse Andre Iguodala em 2013, num pacote com o saudoso Andris Biedrins e múltiplas escolhas de Draft. Antes mesmo de servir moeda de troca por Iggy, ele foi adquirido em outra negociação, vindo do San Antonio Spurs, que tinha interesse em uma reunião com Stephen Jackson. O tresloucado ala estava mais valorizado à época. Então o Spurs precisou inteirar. Pagou uma escolha de Draft, que se transformou em Festus Ezeli. Por mais que tenha sido ridicularizado nestas finais, com dificuldade para dominar rebotes e finalizar perto da cesta, o nigeriano se transformou em uma peça valiosa em seu primeiro contrato. Com 26 anos, forte, alto e atlético daquele jeito, ele será cobiçado e vai receber propostas com salário acima de US$ 10 milhões anuais. Isso se não passar de US$ 15 milhões.

Dois anos depois, já com a aposentadoria em mente, o ala estava de volta a Oakland, onde também desempenhou importante papel como mentor dos jovens Curry, Thompson e, principalmente, Barnes, mas para ser campeão pelo time adversário. Esse Richard Jefferson destas finais ainda teria algum espaço no Golden State, por exemplo, como aconteceu nos playoffs de 2013, quando ele participou de sete partidas, com média de 5,6 minutos.

Para vermos como as coisas na liga funcionam de uma maneira torta até, com uma corrente de causas e consequências imprevisíveis. Obviamente que o gerente geral Bob Myers não se arrepende da troca por Iguodala, que é muito mais jogador. Mas jamais poderia imaginar que um refugo com RJ voltaria, três anos depois, para interferir na caminhada rumo ao bicampeonato. Essas coisas acontecem. É provável que cada time campeão da NBA neste século tenha causos semelhantes a esse. O Cavs, mesmo, tem outro: não fosse Mo Williams, a franquia não teria Kyrie Irving. Em 2011, meses antes do Draft, Maurice foi trocado por Baron Davis, com o Clippers cedendo uma escolha de primeira rodada de Draft para se livrar de um contrato maior. Essa escolha virou Irving. É uma ciranda.

Aí é de se pensar o que será de Cavs e Warriors para a próxima temporada. Sim, mal acabou, a gente mal recuperou a cor depois de suar frio no sofá com um inesquecível Jogo 7, mas a cabeça dos dirigentes já está a mil. Antes de os LeBrons voltarem para Cleveland para serem recebidos no aeroporto, fizeram uma parada animada em Las Vegas nesta madrugada de segunda. Têm todo o direito de cair na farra, de irem para as Bahamas, qualquer coisa. É passe livre. Mas os dirigentes, rapaziada, não param por enquanto. Na quinta-feira, o gerente geral David Griffin já tem um Draft pela frente, mesmo que o clube não tenha nenhuma escolha. Nem de segunda rodada. Depois, é montar o time para a liga de verão. Com uma folha salarial astronômica, o Cavs vai precisar de jogadores baratos para completar o elenco, como o ala Jordan McRae, que chegou no final do campeonato, ou um veterano como Dahntay Jones. Aí chega a hora de tratar com agentes livres. Só para meados de agosto e setembro que a cartolada vai respirar.

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A conquista do título tira muito da pressão para cima de Griffin, naturalmente. Pelo menos no que se refere ao proprietário Dan Gilbert e aos torcedores. Enquanto tiver LeBron James sob contrato, porém, nunca se vai ter viver na bonança. As operações de um clube jamais podem se basear somente em efeitos de curto prazo. Pelo menos não entre aqueles mais organizados. A presença de LeBron muda um pouco isso. O craque provou nas finais que ainda pode ser a força mais devastadora da liga. Mas está entrando na reta final de sua carreira. Seja qual for o clube pelo qual estiver jogando, o de casa ou de outros mercados, ele quer sucesso para agora.

E, por acaso, faz sentido falar de “outros mercados”? O cara acabou de ganhar um título. Abraçou Kyrie Irving em quadra como se ele fosse um irmão mais jovem, e o cestinha realmente tem um longo caminho pela frente. Vai abrir mão dessa companhia? Pois é. Não era para essas questões entrarem em pauta. Mas já estão, a partir do momento em que Adrian Wojnarowski, o superfurão da NBA, escreve que essa possibilidade circula pelos bastidores da liga. Antes do Jogo 7, o jornalista publicou artigo dizendo que um título lhe abriria as portas para mais algum movimento ambicioso em sua carreira, por já ter quitado sua dívida com Cleveland. Em sua coletiva neste domingo, diga-se, o craque fez questão de falar sobre o cumprimento da promessa.

De certa forma, pela estrutura dos vínculos que LeBron tem armado, a especulação era obrigatória. Quando voltou a Ohio, assinou por um ano, com a opção de renovação por mais uma segunda temporada. No ano passado, quando a franquia negociava com Kevin Love, Tristan Thompson (representado por sua agência) e Iman Shumpert, repetiu o mesmo processo. Não só esse tipo de vínculo lhe dá flexibilidade como também coloca Gilbert contra a parede. Era a melhor forma de assumir, extraoficialmente, o controle sobre a situação, ao mesmo tempo que se vingava do bilionário que incendiou a franquia e a cidade no momento em que o jogador foi para Miami.

Kevin Love, J.R. SmithO torcedor do Cavs, agora, espera que Wojnarowski esteja errado. É preciso dizer que o repórter/articulista não é dos maiores fãs de LBJ na cobertura da NBA. Quando não está se limitando a cantar escolha por escolha do próximo Draft e antecipar grandes trocas, as #WojBombs acabam se voltando mais para a bajulação ou importunação de personagens diversos. James está na lista de alvos a serem incomodados. Não está clara a motivação por trás da birra. Se o texto mais recente é, ou não, produto desta birra, vamos saber a partir de julho, quando o mercado reabrir.

Outro tema mais nebuloso envolve Kevin Love. Após dois anos de parceria com LeBron (ou algo perto disso…), o ala-pivô ainda não se integrou totalmente ao time. Teve uma boa fase na segunda metade desta temporada, jogou bem contra Detroit e Atlanta pelos playoffs, com double-doubles de média e os chutes de três caindo. Na final, porém, mal conseguiu ficar em quadra até despertar para o Jogo 7 – sem nos esquecermos da concussão, claro. Não é pouco, mas você espera mais de alguém com o segundo salário do clube. Por mais bonito e confortante que tenha sido o final da temporada, Griffin não vai se deixar levar por questões sentimentais. E aí é matutar se vale a pena investir tanto assim em seus talentos, ou se vale buscar um negócio por jogadores mais atléticos e, de preferência, com bons arremessos. Afinal, Channing Frye  – que também evaporou contra o Warriors –, mas já está mais que testado como uma peça complementar tática.

Quem vai estar livre para negociar com a liga é JR Smith. Numa bizarrice dessas, o contrato do ala lhe deu até o dia 16 de junho, quinta passada, data do Jogo 6, um prazo para decidir se validaria, ou não, seu último ano de contrato. Como não se meteu em confusão, arremessou bem e ainda marcou como nunca, JR tomou a decisão econômica mais esperta e agora espera receber uma bolada, ou pelo menos o dobro dos US$ 5,3 milhões que estavam previstos. Para o próximo campeonato, o Cavs já está com a folha salarial estourada em mais de US$ 12 milhões, caso LeBron continue com seu salário de US$ 24 milhões.

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Obviamente que LeBron conta com ele. Vai depender dos cheques de Gilbert – ou da insanidade de algum concorrente que queira se arriscar com ele sem ter um veterano astro ao seu redor para vigiá-lo. Mais dois atletas vão para o mercado: Timofey Mozgov (livre) e Matthew Dellavedova (restrito). Ambos banidos da rotação nas finais, mas ainda importantes para composição do banco. Numa série melhor-de-sete, você pode fazer sacrifícios. Numa temporada regular de 82 partidas, não. Mas haja grana, gente. Cada tostão aplicado no trio vai implicar em multas pesadas.

De resto, o certo é que Griffin já vai precisar buscar um substituto para Richard Jefferson na rotação. Dahntay Jones encaixa no perfil de veterano bom de vestiário, testado em batalhas, mas é mais baixo, menos atlético (hoje, porque no auge era uma encrenca que só) e não tem o chute. Em suma, não parece jogador para rotação de NBA. Parece uma tarefa simples. Comparando com as decisões sobre Love e JR, essa é bem mais tranquila, mas também deve ser precisa. No ano passado, com Shawn Marion, não deu certo.

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Essas são algumas questões para os campeões.  Então imagine como fica a agenda de quem perdeu a final?

Reunindo seus cacos, o Golden State Warriors ao menos já sabe que Stephen Curry está fora do #Rio2016, o que é providencial para se preservar seu joelho e talvez para afastá-lo de mais uma situação de estresse. Se é que, depois do que o Team USA executou no último Mundial, existe a possibilidade de os americanos se estressarem em competições de seleção. Klay Thopson e Draymond Green parecem dispostos, todavia. Andre Iguodala? Improvável.

Esse é um trâmite mais simples também, embora seja sempre arriscado, pelo excesso de jogos para seus astros. O assunto mais complicado será uma eventual reformulação da equipe. E aí vale a mesma reação, ponderada e assustada: mas vai desmontar um elenco de 73 vitórias na temporada regular, um recorde que não será ameaçado tão cedo? Tem de questionar isso, mesmo. Não é porque o time levou uma virada inédita na decisão, que o mundo caiu. Eles ficaram a apenas um triunfo do bicampeonato e de um lugar garantido no panteão.

Quando deixou que Harrison Barnes e Festus Ezeli virassem agentes livres restritos, ao final de seus primeiros contratos de calouro, a diretoria da franquia sabia muito bem o que estava fazendo. Deste modo, Bob Myers se permitiu um luxo: com título ou não, teria a flexibilidade para reforçar uma base bastante vitoriosa e talentosa, podendo também cobrir qualquer oferta pela dupla. E aí há o caso de males que vêm para o bem: se o desempenho do ala e do pivô foi desastroso nas finais, também pode esfriar os ânimos de eventuais interessados.

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Para os que observaram Barnes e Ezeli só nestas finais, porém, fica o aviso: estejam preparados para tudo, inclusive para que a soma do salário da dupla passe dos US$ 35 milhões na próxima temporada. Simplesmente porque, com o teto salarial subindo para US$ 95 milhões, haverá muito dinheiro para se gastar. A expectativa da liga é de loucura disseminada por todo o país. O que acabou de acontecer em Oakland e Cleveland vai afastar aqueles que não estavam tão animados assim com os prospectos, mas o conjunto da obra de ambos ainda pode prevalecer para seus admiradores. Os dois são jovens ainda e vêm de um programa com cultura vencedora. O Warriors obviamente torce para que o mercado tenha esfriado para valer.

Mesmo que eles aceitem ofertas, Bob Myers só espera que esse tipo de acordo demore um pouco para acontecer, para que eles tenham a possibilidade de flertar com… Kevin Durant. Sim, aquela história de novo. Em janeiro, o clube já estava preparado para entrar no leilão pelo astro, caso ele decidisse encerrar seu contrato. Já faz suas semanas que a temporada de OKC acabou e ainda não tivemos uma pista. Com o Golden State amargando o vice-campeonato, esse namoro só ficaria mais interessante. No caso de receberem um sinal positivo de Durant, os diretores teriam de fechar algumas trocas paralelas para limpar salário. Barnes não voltaria de modo nenhum. Seria um baita presente de consolação.

Mas, veja bem.

Muito desse eventual drama depende da palavra de dois dos cinco melhores jogadores da liga. Se LeBron ousar sair de Cleveland, a liga será consumida por mais um pandemônio. Se Durant disser que seu tempo em OKC chegou ao fim simultaneamente, a Internet simplesmente deixaria de existir. Guerra civil não poderia ser descartada.

Esses são os grandes nomes com os quais todos os 30 clubes da liga sonham. Richard Jefferson, de qualquer maneira, passou por aí para nos dizer como pequenas negociações também podem ter suas consequências.  Não chegam a ser tão emocionantes como um Jogo 7, mas podem causar impacto numa partida dessas.

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Virada inédita encerra maldição e ratifica LeBron entre os maiores
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Giancarlo Giampietro

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Todo Jogo 7, valendo título, é especial. Mas a partida deste domingo tinha isso e muito mais. Ao Golden State Warriors, estava sugerida a chance de concluir uma campanha única, depois das 73 vitórias pela temporada regular. Tivessem ganhado o bicampeonato, você só teria o Chicago Bulls de 1996 ao lado dos caras. Mas não aconteceu, porque LeBron James simplesmente não deixou.

O craque do Cavs fez mais um triple-double, deu um dos tocos mais espetaculares e importantes da história da NBA e liderou sua equipe numa vitória dramática por 93 a 89 em Oakland, para fechar levar esse papo de façanhas para o outro lado. Este Cavs se tornou o primeiro time das #NBAFinals a vencer uma série após ter ficado atrás no placar por 3 a 1. E também encerrou a tal da maldição esportiva que pairava pelas cidade, que não comemorava um título pelas grandes ligas americanas desde 1964.

Coube a LeBron por um fim nisso. Melhor desfecho hollywoodiano – e para o marketing da liga – ninguém poderia roteirizar. O veterano foi simplesmente devastador desde o Jogo 5 e terminou o confronto com médias desproporcionais de 29,7 pontos, 11,3 rebotes, 8,9 assistências, 2,3 tocos, 2,6 roubos e 49,4% nos arremesso, em incansáveis 42,0 minutos. No jogo decisivo, foram 27 pontos, 11 rebotes, 11 assistências em 47 minutos (!), mais duas roubadas e três tocos, o terceiro deles valendo provavelmente como a grande jogada da década. Ele foi uma força indestrutível dessa vez, por mais que defensores do nível de Andre Iguodala e Draymond Green se esforçassem em pará-lo. Toda a dificuldade que ele teve contra esses marcadores ficou esquecida em algum quarto ou saguão de embarque nestas idas e vindas pela decisão.

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Aos mesmos saudosistas que adoram menosprezar o que o Warriors fez durante todo o ano, vale também a mesma missiva em relação a LeBron: desistam. Num contexto histórico, esse comportamento tende a ser ridicularizado. Para ser sincero: independentemente do do resultado destas finais, James já, segundo meus botões, já estava ali no primeiríssimo escalão. Mas agora não há mais o que se ponderar aqui. Fato é que ele está entre os maiores.  A gente pode se perder entre posicionamento, naquele exercício fútil de sempre. E só, por mais que, nestes 13 anos de liga, aqui e ali, sua conduta extraquadra não tenha sido sempre das mais inspiradoras.

Aquele torcedor mais apegado ao astro – e que teve a paciência de acompanhar o blog nos últimos anos – sabe de toda as restrições aqui registradas nesse sentido. De como, com toda sua voracidade, ultrapassou alguns limites para o meu gosto. Se nos momentos difíceis coube a crítica, não dá para fugir do registro mais ou menos elogioso agora na festa. Se LBJ forçou a barra na construção desse Cavaliers, ao menos vê sua visão premiada, enfim, com as memórias de David Blatt ficando bem distantes. Com um dos All-Stars escolhidos a dedo por ele Kyrie Irving, fazendo a cesta da vitória – depois de ter jogado apenas uma partida na decisão do ano passado. E o outro, Kevin Love, ao menos se aliviando com seu melhor desempenho pelas finais neste domingo, com 9 pontos e 14 rebotes, ajudando a manter o time no jogo em um primeiro tempo perigoso. Com o ala-pivô em quadra, os visitantes tiveram saldo de 19 pontos.

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Irving marcou 26 pontos em 23 arremessos. Não foi a partida mais eficiente destes playoffs para ele. Também só deu uma assistência no jogo todo – o tipo de estatística que realmente tirou LeBron do sério durante a temporada, não nos esqueçamos. Mas ninguém vai falar nada, e nem deveria. Pois o solitário passe para a cesta tem a ver com a dinâmica adotada pelo Cavs como um todo. Aquela de dar a bola na mão do veterano na esmagadora maioria das posses de bola e de, sim, confiar nas investidas de um contra um de seu ‘armador’ para cima de Stephen Curry ou mesmo de Klay Thompson, que teve uma noite miserável. Se foram 23 arremessos para o jovem nascido em Melbourne, o 23º é aquele que já pode definir sua carreira.

No pedido de tempo de Lue, a gente não sabe qual foi a ordem. Vamos ver se os repórteres in loco vão extrair essa informação, aliás. Mas desconfio que a prioridade fosse realmente atacar quem quer que sobrasse com Curry. Que LeBron tenha permitido, louve-se. Pois lá foi Irving dançar para a frente do bi-MVP e partir para um chute de longa distância daqueles que o mundo todo do basquete poderia considerar “maluco”. Mas que nas mãos de alguém tão talentoso assim parece coisa simples, fácil. A bola caiu, e o Cavs tinha três pontos de vantagem.  O tipo de lance que Curry fez com toda a liga nas últimas duas temporadas, aliás. Na sua cara. Acontece, segue o jogo. Segue a NBA.

No caso, o jogo seguiu por mais duas posses de bola para o Warriors, com Curry levando para o pessoal. Mas dessa vez o armador do Warriors não conseguiu se desvencilhar dos marcadores e também não conseguiu a cesta ‘impossível’. Depois de um lance livre de LeBron, a equipe que teve o ataque mais poderoso da NBA desde 2014 falhou novamente. E aí James pôde desabar imediatamente em quadra, caindo em lágrimas comoventes, que, de novo, nenhum marqueteiro poderia instruir. Sua audaciosa promessa naquela carta publicada pela Sports Illustrated estava cumprida. Há quem especule que o craque possa estudar, em julho, mais uma reviravolta em sua carreira e eventualmente buscar um novo clube. Seria bizarro, mas muito menos cruel, depois de um título desses, derrubando o supostamente invencível Golden State.

O Warriors se despede da temporada com 88 vitórias. Ficou faltando realmente a de número 89, aquela que os livros históricos e seus grandes atletas realmente vão dizer que era a que importava. Depois de uma virada dessas, é de se perguntar se o proprietário Joe Lacob ainda acredita que seu clube está anos-luz distante da concorrência.

Muito do que levou a equipe californiana a sua segunda final consecutiva não funcionou neste domingo. A começar pelos Splash Brothers, novamente sufocados em seus zigue-zagues pelo perímetro. Curry e Thompson anotaram 31 pontos em 36 arremessos. Um horror. De longa distância, foram apenas 6-24 (25%). Não obstante, ainda cometeram sete turnovers. Um final de temporada decepcionante e melancólico, mas que diz muito sobre como o Cavs elevou seu jogo. Se Draymond Green os deixou na mão ao ser suspenso do Jogo 5, dessa vez os chutadores falharam com o ala-pivô, que somou 32 pontos, 15 rebotes e 9 assistências também em 47 minutos.

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Que Kerr tenha mantido Draymond em quadra por tanto tempo nos mostra o quão fundamental é o All-Star para este clube. Desta forma, o torcedor do Warriors poderia até levantar a mão e dizer que, numa realidade alternativa em que ele não tivesse estourado o limite de faltas flagrantes nos playoffs, a série não teria passado da quinta partida. Mas este “se” não existe. O acúmulo de infrações faz parte de todo o pacote de um jogador especial. Assim como, por mais que se possa reclamar de uma ou outra marcação no sexto jogo, Curry também se permitiu se perder com faltas desnecessárias que complicaram a equipe como um todo. Não era só o caso de abalar seu ataque, mas também de bagunçar com as rotações de Steve Kerr.

Por falar nisso, temos aí outros dois pontos que deram errado: o modo como o brilhante treinador manipulou suas peças num Jogo 7, um jogo de exceções, e também a forma como alguns de seus coadjuvantes (não) responderam em quadra. Comecemos por dois titulares inócuos: Festus Ezeli e Harrison Barnes, dupla cuja escalação no retorno ao segundo tempo pode ter custado o título. A equipe da casa tinha sete pontos de vantagem. Em 3min05s de jogo, o placar estava empatado.

Barnes, em determinado momento, antes de ser substituído, estava numa terrível sequência de 3-28 nos arremessos de quadra, metade deles sem contestação nenhuma por parte de Cleveland. Se voltou um pouco mais produtivo mais tarde, isso não apagou mais uma linha estatística paupérrima, de 10 pontos e 2 rebotes, com sete chutes errados em dez tentativas, em 29 minutos. O ala entrou numa espiral terrível, daquelas que pode bagunçar com toda uma carreira. Agente livre restrito a partir de julho, seu nome se torna desde já um dos mais intrigantes para o mercado de transações da liga.

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O nigeriano Ezeli, aliás, está no mesmo barco. Elevado ao posto de titular para fazer as vezes de Bogut, o pivô foi um desastre. Se, nos primeiros minutos, ainda segurou as pontas no centro da garrafão como âncora defensiva, seus sucessivos erros no ataque (0-4) e a inabilidade para dominar rebotes (apenas um em 11 minutos) foram um fardo. No primeiro jogo parelho da série, esse ‘desfalque’ saiu caro demais. Em defesa do pivô, vale lembrar apenas que ele passou por uma cirurgia no joelho neste campeonato.

E aí não deu para entender também as decisões do próprio Kerr. Em pleno quarto período, talvez querendo dar algum respiro a Barnes, o técnico julgou que voltar com o gigantão, uma segunda vez, era a melhor solução. Não deu para entender. Passou da fronteira do absurdo, especialmente quando LeBron passou a puxar o pivô para o perímetro para atacá-lo sem clemência. Quando Ezeli saiu substituído, o placar estava 89 a 89, é verdade. Mas poderia ter saldo positivo para um time que ficou com menos espaço para atacar.

Está certo também que, com Andrew Bogut afastado, Anderson Varejão não ajudou seu comandante. O brasileiro, num dos jogos mais importantes de sua carreira – com todo o conflito de emoções por ver o Cavs do outro lado –, foi muito mal em sua participação. Não há pachequismo que possa amenizar.  Em oito minutos, o capixaba basicamente só fez faltas: foram três, mostrando que a arbitragem estava preparada para lidar com suas artimanhas. Agora fica a pergunta: será que Dan Gilbert vai autorizar a entrega de um anel de campeão ao brasileiro?

Também não é pachequismo questionar Kerr pelos minutos reduzidos de Leandrinho nesta jornada. Quando o Warriors abriu sete pontos de vantagem ao final do primeiro tempo, estava lá, novamente, o ala-armador em quadra. Dessa vez o ligeirinho anotou apenas três pontos, mas porque só teve dois chutes em suas mãos também. Não dá para entender o excesso de confiança em Ezeli e a falta de, quando o assunto foi Leandrinho. O processo de toda uma temporada não pode ser descartado de uma hora para a outra. Mas aqui estamos falando de um Jogo 7. Hora de matar ou morrer, de priorizar o que estava dando certo de imediato.

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De qualquer forma, mesmo que seja inegável que Leandrinho estivesse rendendo muito mais que Barnes e Livingston, por exemplo, talvez o brasileiro não fosse mudar a história. Não quando os Splash Brothers pouco efetivos daquela maneira. Num cenário ideal, os dois astros ficariam o máximo possível em quadra para fazer a diferença. Não aconteceu nem mesmo com os dois recebendo, juntos, 15 minutos de descanso. Outra estratégia duvidosa. Kerr e sua fizeram um ótimo trabalho em controlar os minutos de seus principais jogadores, mesmo numa campanha de 73 vitórias. Se eles foram preservados em partidas em dezembro, janeiro e março, não era justamente para fazer um sacrifício num Jogo 7 destes?

Enfim, agora entrando em férias, há um bom material para os integrantes do clube se torturarem, tamanha a decepção pela derrota, num campeonato desses. É o tipo de dúvidas e reflexões que atormentaram LeBron por anos e anos. Em 2007, ele ainda era muito jovem, e seu Cavs era fraquíssimo. Depois, o Celtics de Pierce e Garnett virou um fantasma para ele, impedindo que ele voltasse à final até que se mudasse para South Beach, para ver diversos torcedores do clube de Ohio atear fogo em suas camisas. Em 2011, tão bem acompanhado por Wade e Bosh, a virada do Dallas foi dolorosa pacas. Em 2014, mais uma pancada. Em 2015, outra!

Entre tantas decepções, parece que os críticos tinham facilidade para esquecer os dois títulos que já havia ganhado. Mesmo quem os tivesse em conta, também era capaz de sair com aquela: “Só dois?”, desdenhando. De novo: boa parte desse sentimento se deve também a atitudes do craque também, como a promessa de uma dinastia em Miami. De qualquer forma, depois do que acabamos de testemunhar agora, esse rolo todo fica para trás, como anedota de um passado distante. Daqui para a frente, LeBron vai ser conhecido pela história da NBA como este do Cavs de 2016, o líder de uma virada inédita, com uma vitória num Jogo 7 fora de casa, sobre um time que parecia destinado ao panteão da liga. Um dos grandes. Ponto.

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O Jogo 7 está aí, para testar quem tem cabeça
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Giancarlo Giampietro

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“Sentimos que era para ter fechado esta série há um tempão, mas aqui estamos. Está empatada em 3 a 3, e vamos voltar para casa para jogar. Vamos jogar com raiva porque sabemos que, com esta emoção – e nós sabemos canalizá-la do jeito certo –, somo um time muito, muito bom”, afirmou Klay Thompson, ainda em Cleveland, logo após a exasperante derrota para o Cavs, levando as #NBAFinals a um incômodo Jogo 7 em Oakland.

“Temos de mostrar alguma fagulha para esta partida. É uma grande oportunidade para nós, em casa, diante de nossos torcedores, para tentar, novamente, vencer um campeonato. Então vamos precisar de um pouco de garra e personalidade. Eu tinha algumas coisas que queria tirar do meu coração, para desabafar, e pelo modo como o jogo desenrolou, aconteceu isso”, disse, por sua vez, Stephen Curry, que teve um ataque de nervos em quadra e agora chega ao confronto deste domingo pressionado.

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Não só Curry, claro, mas o Golden State Warriors, como Thompson sugere. Na cabeça deles, já era para terem entrado em férias, como atuais bicampeões. Mas os LeBrons tinham planos bem diferentes, vencendo dois jogos seguidos

Em meio a uma campanha histórica, de 73 vitórias, foi fácil de detectar como essa equipe tendeu a jogar muito melhor quando se sentem incomodados, irritados: se distanciavam da complacência e arrebentavam com os adversários. Agora estão incomodados com os dois “match points” desperdiçados. Incomodado é pouco, aliás. Estão nervosos, mesmo. Se vão usar esse sentimento para se recompor em quadra, ou se vão se perder nesta ira.

Até porque esse sentimento de nada valeu na quinta-feira, certo? Era o jogo em que supostamente eles iriam vingar a suspensão de Draymond Green, né? Ao perder o primeiro quarto por 31 a 11, claramente não estavam preparados ou empolgados assim. Até reagiram ainda em Cleveland, o tal do James não os deixou concluir mais uma virada histórica. Aí deu Jogo 7. Para o qual eles vão todos irados – mas também feridos:

– Andrew Bogut não joga mais, e nem no #Rio 2016. Até dá para viver sem o australiano, ainda que Festus Ezeli não seja mais o mesmo do início do campeonato, desde que retornou de uma lesão no joelho.

– Andre Iguodala preocupa muito mais. O departamento médico e atlético do Warriors é um dos mais badalados da liga. São 72 horas, ou um pouco menos, para que tenham dado um jeito nas suas costas. Do contrário, a vida para um surtado LeBron James fica ainda mais fácil.

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– Harrison Barnes, Deus o tenha. O ala está inteirinho fisicamente. Mas a cabeça… Depois de errar 20 de 22 arremessos nas últimas duas partidas, como fica? Se o futuro agente livre não se mostrar reabilitado logo de cara, Kerr vai insistir com ele? Ou vai dar mais minutos para Leandrinho, que vive o melhor momento de sua carreira em muito tempo?

Aí são três peças integrais da rotação com problemas. Isso compromete qualquer time. Se Iguodala e Barnes não chegarem nem perto de seu potencial, vai ficar complicado demais para os Splash Brothers, e o Golden State muito provavelmente se tornará o primeiro time na história da liga a perder uma final depois de abrir 3 a 1 e o primeiro a cair num Jogo 7 em casa desde o Seattle em 1978.  Curry e Thompson chutam muito, podem demolir qualquer oponente, mas precisam de ajuda, mesmo naquelas jornadas mais brilhantes. O Warriors não venceu 171 partidas nas últimas duas temporadas só com seus arremessos de três. E vão precisar de mais do que isso para derrotar um majestoso LeBron.

O craque do Cavs chega ao último jogo como o líder em pontos, assistências, rebotes, tocos, roubos de bola e índice de eficiência. Está bom? Sob qualquer argumento, deve ser eleito o MVP das finais, salvo alguma catástrofe neste domingo, independentemente de quem ganhar o título.A essa altura, não caberia a Curry a ambição de superá-lo. Por mais que tenha ‘jurado’ o veterano em quadra, o armador do Warriors não deve transformar uma partida dessa grandeza em algo pessoal. Tem de se concentrar em seu jogo e evitar faltas desnecessárias (não importando os critérios de arbitragem) e os turnovers por displicência.

Curry será atacado desde o início. De preferência, LeBron vai forçar uma troca de defesa que o coloque de frente para o armador. Nessas situações, seu defensor deve tentar evitar ao máximo que a troca seja feita depois do corta-luz. Se ela acontecer, talvez seja o caso de fazer uma dobra imediata no veterano, para tentar tirar a bola de suas mãos o mais rápido possível, assim como têm feito com Kyrie Irving. O perigo é que LeBron é muito mais alto e um passador muito mais capaz também, podendo antever jogadas e encontrar arremessadores  num estalo. O que vai exigir deslocamento e recuperação rápidas dos demais defensores.

Como um todo, o Warriors tem de se reconectar defensivamente, depois de tomar 227 pontos nas últimas duas partidas. Não sei o quanto a “raiva” pode contribuir para isso. Se Curry, Green e Iguodala maneirarem nos passes mais arriscados de um lado, já será uma baita ajuda, para conter o contra-ataque devastador de seu adversário. O Cavs anotou 47 pontos em transição pelos Jogos 5 e 6 – e só tomou 19. Você não quer deixar um time com o trator LBJ correr. A única chance de pará-lo será em meia quadra, mesmo. Embora, se o seu arremesso de longa distância continuar caindo 50% das vezes, talvez não haja muito o que fazer, mesmo.

Essa é uma das questões cruciais para Cleveland, inclusive. A principal delas, na real, acompanhadas de: 2) se Kyrie Irving vai estar em forma, depois de mancar um pouco durante o segundo tempo do Jogo 6, por conta de alguma contusão/dor no pé, limitando sua produção a apenas uma cesta de quadra em seis tentativas; 3) se Kevin Love vai oferecer algo para Tyronn Lue no ataque e se isso seria o suficiente para compensar sua vulnerabilidade defensiva; 4) se a arbitragem vai procurar remediar qualquer desconforto com o time da casa, em resposta aos ‘apelos’ de Kerr, Curry e amigos; 5) por fim, se Dahntay Jones vai marcar mais pontos que Harrison Barnes e Shaun Livingston?! (Risos.)

De resto, poderíamos questionar se Tristan Thompson vai seguir perseguindo Stephen Curry pelo perímetro como se fosse um Scottie Pippen, mas acho que não há mais dúvida de que o canadense pode executar esse tipo de marcação, mesmo. Quando o pivô está na contenção no perímetro, o armador soma apenas 0,78 ponto por posse de bola. Contra Irving, o número sobe para 1,37. Impressionante.

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Esse tem sido um dos elementos para o excelente desempenho defensivo do Cavs nas últimas partidas. Assim como, vejam só, a concussão de Kevin Love, que abriu mais espaço para Richard Jefferson na rotação, dando maior flexibilidade. O trabalho de Tyronn Lue ficou menos complicado, sem perder muito tempo com as politicagens do cargo – a redução do tempo de quadra de um ala-pivô de US$ 20 milhões anuais. Não é que Jefferson seja melhor que Love. Claro que não. É só que, particularmente contra o Warriors, o astro será explorado em cada instante que estiver na defesa. Contra OKC, provavelmente a situação seria outra. Além do mais, LeBron James foi deslocado para a marcação de Draymond Green, praticamente anulando o All-Star e seus temíveis pick-and-rolls com Curry.

São diversos os detalhes e ajustes que uma série melhor-de-sete com placares tão díspares pede – embora, tenhamos um curioso empate na soma dos pontos dos dois times, com 610 para cada. Coração e determinação têm o seu peso, claro, e o fato de jogar em casa vai empurrar o Warriors nessa direção. Mas é preciso cabeça também, e o jogo mental pendeu para o lado de Cleveland desde que LeBron forçou a suspensão de Green. Depois de induzir o ala-pivô ao erro e dominar os oponentes, o craque chega ao Jogo 7 sem tanto peso nos ombros. Deve ser a primeira vez que se escreve essa frase sem que ela pareça maluca.

Não que não exista pressão. James ainda tenta dar o primeiro título a uma cidade cujos times profissionais não nenhum título desde 1964, mesmo tendo franquias em todas as grandes ligas do país. Também seria o seu terceiro título, com uma virada inédita, o que realmente valeria como um nocaute contra aqueles que o perseguem. Já o Warriors tem mais 48 minutos para confirmar seu lugar entre os maiores times da história.

Se Draymond Green tivesse jogado a quinta partida, talvez a série já pudesse ter acabado, mesmo, como palpitou Klay Thompson. Nunca vamos saber, e não há como o ala-pivô retornar no tempo para corrigir sua bobagem. Ela faz parte da história, e vamos para o sétimo jogo. O que a gente pode pedir, ao menos, é que tenhamos uma partida que chegue competitiva aos seus minutos finais. Com LeBron jogando o que sabe e Steph Curry também. Sem ataques de fúria.

(Que sejam 48 minutos, mesmo, né? Se houver prorrogação, acho que teremos um colapso de 20 mil pessoas no ginásio. Melhor evitar.)

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Bem-vindo ao clube: LeBron joga pressão para Curry
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Giancarlo Giampietro

Curry primeiro rouba a cena. Agora tira a pressão de LBJ

Curry primeiro rouba a cena. Agora tira a pressão de LBJ

Se é para falar de esculhambação em público, LeBron James está mais que escolado. Pode ser escaldado, mesmo.  Cada deslize, cada revés foi ampliado com uma lupa bastante cruel, impiedosa. Desde a saída para Miami, a derrota de virada para o Dallas na final de 2011 e uma nova pancada na cabeça vindo do Texas, de San Antonio, três anos mais tarde. Se era para avacalhar com o LeBron, tudo bem.

Em alguns casos ele não se ajudou, claro. O show para anunciar a mudança para South Beach foi um horror. Mesmo agora no retorno a Cleveland, vimos o astro estrelar alguns episódios dispensáveis, ainda mais para alguém que sabe que está sob constante, incessante escrutínio.

De tanto que ouviu, já é capaz que LBJ tenha chegado, mesmo, ao estágio de que não se importa mais com o que os outros dizem. Daí que, após o Jogo 4 das #NBAFinals, não se incomodou de dizer em coletiva que Draymond Green o havia ofendido, que havia passado do limite e tal. Houve muita gente, especialmente aqueles que torcem pelo Warriors – por que será? –, que ficaram malucos e não perderam tempo em detoná-lo. Que ele era um bebê chorão, que não sei o quê. Em tese, o veterano estava se submetendo ao ridículo, ainda mais depois de uma derrota em casa, ficando perto de mais um vice-campeonato. Acontece que, internamente, os diretores, técnicos e atletas de Golden State já estavam cabreiros por entender o que James estava fazendo. Ele estava preparando, politicamente, o terreno para que Draymond fosse suspenso, enfim. Depois, para completar, o ala se aproveitou da situação e fez as duas melhores partidas da temporada para empatar a série. Pronto! Temos um Jogo 7, 3 a 3.

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Tudo isso para dizer que, cedo ou tarde, a maré pode virar para uma superestrela. De sensação, bajulado, o jogador passar a a alvo, a perseguido. Depois dos episódios desta quinta-feira e do que acontecer no domingo, último dia do campeonato, Stephen Curry pode passar por esse processo. Exagero? Sim, mas claro que é um exagero, e é assim que consumismos esporte hoje. Também existe essa má vontade latente, uma predisposição muito maior do que se imagina para se por em descrédito tudo o que o MVP dos últimos dois anos e sua equipe fizeram durante toda a temporada. Um ponto de vista do qual discordo totalmente, acho que já deu para perceber, mas que está por aí, e não só de forma latente.

Até a bola subir para o Jogo 6, o armador e sua equipe estavam por cima. Estavam vencendo, para variar. Foi algo que o Warriors só fez desde o início da temporada 2014-15, mesmo. Neste ano, já foram 88 vitórias – a de número 89 que está difícil de sair. Fica difícil de implicar com alguém nessas condições. O carisma e as peripécias do astro só reforçavam essa aura especial ao seu redor. Mas aí começou a partida em Cleveland, cujo desfecho foi para ele foi o disparo de um protetor bucal (eca!) na direção de um torcedor.

Ao perder a cabeça neste ato de, hã, fúria, Curry se juntou a Draymond Green  e deixou seus companheiros na mão. Foi um pirado e antecipado fim de partida para o armador, que estava com 30 pontos e, ao lado de Klay Thompson, tentava liderar uma nova reação histórica dos atuais campeões nestes playoffs. LeBron, com 18 pontos no quarto final, fazia de tudo para afastá-los. Mas ainda tinha jogo. Até que sua sexta falta foi marcada, e teve aquele chilique todo. Curry ficou descontrolado de um modo como nunca havia visto. Além da reclamação, de uma falta técnica, de um ato pouco higiênico, ainda ficou no fundo da quadra, encarando árbitros e adversários, mandando recado, inclusive, para LBJ:

Agora imaginem se fosse o próprio LeBron armando uma cena dessas. Ou Chris Paul. Ou Carmelo. A gritaria já seria imensa. No caso de Steph, foi a tal da primeira vez. Acontece que uma reincidência e/ou um jogo fraco no domingo, com o Cleveland acabando seu jejum histórico de títulos expressivos, aí não sei bem o quanto os mais corneteiros vão se segurar. Aí pode ser que a imagem de queridinho da América seja atingida para valer. “Já havia feito isso antes, de jogar o protetor, mas geralmente eu miro na mesa dos estatísticos”, disse Curry. “Eu estava fora do ar. Definitivamente não tinha a intenção de arremessar em um torcedor, mas aconteceu. Fui até ele e pedi desculpas, porque não era nele que eu gostaria de descontar minha frustração.”

Em quadra, como já dito, ele estava se acertando. Havia chegado aos 30 pontos em 35 minutos. Poderia, talvez, bater seu recorde pessoa na série, de 38 pontos, que havia estabelecido na mesma quadra, em Cleveland, para abrir a vantagem de 3 a 1. Seria mais uma grande exibição para ser adicionada ao currículo. Seria. É muito difícil aplaudir um jogador que tenha saído com seis faltas num jogo desses, ainda mais pelo contexto da confusão. Primeiro que Curry não é o principal defensor do Warriors. Há quem o julgue um péssimo marcador, com base na maneira como se comportava no passado. Ele melhorou muito nesse sentido nos últimos dois, três anos. Posto isso, não é que deva ser considerado um perseguidor implacável também. Nem tanto lá, nem cá.

Para alguém tão importante  para o ataque do time, o chutador deveria, então, ter todo o cuidado para não se perder em quadra com faltas desnecessárias, mesmo que ele sobre com LeBron James em uma troca a partir de um corta-luz. No caso desta quinta-feira, a sexta e última infração apontada foi realmente patética. Quando Curry conseguiria desequilibrar alguém como LeBron? Especialmente quando nem foi tão forte assim atrás da bola. Não existe. Agora, em sua contagem, Steve Kerr afirma ter pelo menos três faltas que julgou ridículas. “Fico feliz que ele tenha jogado o protetor. Ele tinha o direito de estar chateado, mesmo”, disse o treinador.

Curry tem sobrado com LeBron em muitas posses. Não está sabendo lidar com a situação

Curry tem sobrado com LeBron em muitas posses. Não está sabendo lidar com a situação

Imagino que nessa lista esteja o lance em que seu atleta desarma Kyrie Irving pela faixa central da quadra. Pelo que entendo, a falta não foi dada no momento em que ele toca na bola. Mas, sim, por um ato contínuo em que o armador do Cavs é segurado, contido, pelas mãos espalmadas do defensor. Um movimento que era permitido até 2004. E que hoje não é mais, para beneficiar justamente talentos como Curry e Irving. Enfim. É uma questão de interpretação. Se o craque do Warriors tivesse se preservado no início da partida – suas duas faltas aconteceram no primeiro período –, não haveria polêmica. É o mesmo raciocínio para as faltas flagrantes de Draymond Green, por sinal.

O que deixa a situação mais crítica é a reincidência, mesmo. Não foi um fato isolado para Steph nestas finais. Em seis jogos, ele já cometeu 21 faltas, ou 3,5 por partida. Para um atleta que não era excluído de quadra desde 2013, parece um disparate. Para termos uma ideia, nos nove jogos que fez contra Portland e OKC, voltando de lesão, ele havia cometido 14 faltas. Esse excesso de apitadas em sua direção não significa exatamente maior combatividade elogiável. É mais uma autossabotagem. É a melhor forma que seus oponentes poderiam achar para atrapalhá-lo do outro lado da quadra.

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Outro ponto negativo que já se tornou recorrente é a sua incapacidade, no momento, de evitar os turnovers. Curry não só está falhando no controle de bola, algo inimaginável em fevereiro, como tem insistido em passes ‘mágicos’ mal concluídos, que podem ter origem ou numa displicência incompreensível para o palco em que estão jogando ou na simples tomada de decisão equivocada. Fato é que ele soma mais desperdícios do que assistências na série (26 x 24). Sua média de turnovers é maior até do que a que teve contra a defesa sufocante do Thunder (4,3 x 4,0).

Segundo o padrão estabelecido pelo craque, seus números como um todo estão aquém do esperado. Caminhando para o Jogo 7, suas médias são de 23,5 pontos, 4,0 assistências, 41,9% de quadra, 42,4% de três e 0,8 roubo de bola. Há jogadores que nem mesmo dopados teriam um rendimento desses. Mas estamos falando do MVP de 2015 e deste ano. Sua temporada regular, comparando, foi fechada com 30,1 pontos, 6,7 assistências, 50,4% nos arremessos e 45,4% de longa distância. Mesmo na complicadíssima final de conferência, produziu mais, com 27,9 pontos, 5,9 assistências, 44,3% de quadra e 2,1 roubos, ficando abaixo só nos tiros de fora (41,6%).

Isso tem a ver com um ótimo plano de jogo do Cavs, mas também já chegou a um ponto que passa pela incapacidade de o astro e seus treinadores encontrarem uma solução, um contra-ataque que possa liberá-lo. Os corta-luzes diversos que Kerr desenha pelo caminho, na trajetória do armador, não têm surtido tão efeito. Isso vem desde o primeiro jogo, com a diferença de que o Cavs conseguiu fazer os ajustes necessários para que os demais atacantes do Warriors não sobrassem livres de frente para a cesta. A prioridade, de todo modo, ainda é de que a bola não fique nas mãos do cestinha. E, se ficar, precisa ser contestado de perto, algo que, mesmo com trocas, vem sendo muito bem feito por Tristan Thompson, por exemplo. Kerr também reclama de faltas. “Temos um ataque que depende de ritmo. Se os árbitros forem deixar Cleveland puxar e segurar nossos caras constantemente em seus cortes e ao mesmo tempo vai marcar essas faltinhas no MVP da liga, para excluí-lo, não vou concordar”, disse.

LeBron está adorando o desenrolar das #NBAFinals

LeBron está adorando o desenrolar das #NBAFinals

Agora, você pode interpelar o treinador, o blogueiro e LeBron e apontar que, sim, Curry tem 31,0 pontos por partida nas últimas três partidas. Acima do que fez no campeonato. O que essa média não diz, de cara, é o quanto tem sido custosa, com 40,9% nos arremessos e o mesmo número de turnovers e assistências (11). Essa queda passa também por suas dificuldades para concluir jogadas perto da cesta. Nas finais, na área restrita, seu aproveitamento é de apenas 45,5%, contra 64,5% da temporada regular. Pode ter certeza de que o armador, um perfeccionista, não se contenta com isso nem um pouco, ainda mais vindo de duas derrotas seguidas, quando ambas as partidas já valiam o título.

O armador tem essa cara de bom moço, aquele ídolo perfeito para um marketing limpinho da silva, como a NBA está curtindo sem parar. Mas, segundo todos os relatos de Oakland, é um cara competitivo pacas. Ninguém atinge seu nível só por puro talento.  Seu rompante está diretamente ligado a essa insatisfação, algo sobre o qual os jogadores falam abertamente. Só não vinha sendo normal ver uma explosão dessas. Quem cobre o time também diz que, no dia a dia, o armador é a força otimista do grupo, alguém que tem plena confiança em suas capacidades, sem se estressar tanto, e que leva os companheiros junto, num equilíbrio interessante em relação ao discurso mais picante de Draymond Green. “Eu me deixei levar pelo momento, mas vou numa boa para o próximo jogo”, afirmou o astro.

Bem-vindo ao clube, deve pensar LeBron. Depois de se doer o ano inteiro pela atenção que o Warriors e Curry estavam recebendo, o craque do Cavs deve estar gostando dessa ideia, ao vê-los agora mais de perto. Ele passou por esse tipo de situação de exame público diversas vezes na carreira, estampando capas de revista já quando adolescente. Agora, pela primeira vez em muito tempo, o veterano entra num jogo decisivo no qual a a pressão bem maior está toda do outro lado, toda voltada para outro atleta que domina outdoors. Afinal, nesta série, ele mesmo já deu sua resposta. Vamos ver no domingo qual será a de Curry.

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LeBron volta a reinar, e Cavs vai ao Jogo 7 crendo em virada inédita
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Giancarlo Giampietro

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O Golden State Warriors fez uma vez. Por que o Cleveland Cavaliers também não pode?

Parece que já passou um século já, mas foi há questão de semanas apenas que os atuais campeões completaram uma virada incrível para cima do Oklahoma City Thunder pela decisão do Oeste, quando estava perdendo por 3 a 1. Pois é. Era a mesma desvantagem que o Cavs enfrentava pelas #NBAFinals, e cá estamos: após mais um massacre jogando em casa, triunfando por 115 a 101 nesta quinta-feira, o a série está empatada, caminhando para um sétimo jogo realmente proibido para cardíacos, como diria o outro, no domingo.

Primeiro foi um quarto arrasador para abrir os trabalhos, vencido por 31 a 11. Depois, teve a cabeça fria para lidar com duas reações dos perigosos visitantes. E aí veio um LeBron James soberano no segundo tempo, para marcar 41 pontos pelo segundo jogo seguido e fazendo de tudo em quadra. Após uma grande partida, sem dúvida, seu time chega a Oakland acreditando ser plenamente plausível sua missão de ser o primeiro time a sair do 3 a 1 contrário para levar o título.

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Além dos 41 pontos, foram 11 assistências, 8 rebotes, 4 roubos de bola e 3 tocos para LBJ, em 43 minutos, com um saldo de 26 pontos. Ele acertou 16 de 27 arremessos, com 3-6 no perímetro. Sozinho, ele conseguiu o mesmo número de passes para cesta, recuperações e bloqueios que os cinco titulares do Warriors somaram. Impressionante. Acho que, a não ser no caso de um dos Splash Brothers marcar 60 pontos na sétima partida, com vitória, não dá para imaginar um cenário em que o troféu de MVP da decisão não vá para o camisa 23. Nos últimos dois jogos, ele tem 82 pontos, 24 rebotes, 18 assistências, 7 roubos e 6 tocos, com 7-14 de longa distância, algo que faz toda a diferença.

A gente pode falar de “cabeça fria” para o Cavs, sem problema. Porque não é fácil manter a compostura quando um time como o Warriors vem para cima. Kevin Durant e Russell Westbrook que o digam. Mas o coração dos caras estava a mil, desde o tapinha inicial, com mil batimentos por segundo, mesmo, de tanta energia que levaram para quadra, como num repeteco do Jogo 3. Foram oito pontos seguidos, e não pararam por aí. Cesta após cesta, enquanto, do outro lado, fechavam a porta na cara de todos, permitindo apenas o moribundo Harrison Barnes arremessar.

Steve Kerr parou o jogo e, o pior: não havia nem mesmo um Andrew Bogut para substituir e uma “Escalação da Morte” para ativar. Na verdade, sem o pivô australiano, que não volta mais nesta temporada, o técnico já havia começado o duelo com seu melhor quinteto, que havia terminado as finais do ano passado com 42 pontos de saldo. Em seus primeiros minutos, essa escalação saiu perdendo por oito. Em nenhum momento, conseguiram assumir o controle da partida como a unidade que se tornou a mais temida da liga desde a decisão de 2015.

A primeira parcial terminou com placar de 31 a 11. Os 11 pontos do Warriors não eram só a pior marca da equipe nesta temporada em um quarto inicial como foi a pior de toda a história das finais na era de posse de bola cronometrada. Isso aconteceu com a receita básica de defesa + transição. Nos três jogos mais acelerados destas finais, o Cavs saiu vencedor, numa reviravolta muito interessante. O Cavs realmente marcou demais, especialmente na hora de contestar Klay Thompson, que não encontrava espaço nenhum para chutar e, frustrado, passou a se precipitar, e Draymond Green. Sim, ele estava de volta e, por um período que fosse, não fez diferença nenhuma no plano geral.

Green saiu com um saldo negativo de 12 pontos. Curry, com -11. Thompson, com -22. Foi feia a coisa. Eles foram dominados, por mais que tenham em duas ocasiões, nos segundo e terceiro períodos, encurtado seu déficit, para um só dígito, tendo posses de bola extra para encostar de vez. Mas não conseguiram. E não só pelos méritos de LeBron, que anotou 17 pontos no quarto final.

Curry se perdeu em faltas e perdeu a cabeça em sequência. Rara expulsão

Curry se perdeu em faltas e perdeu a cabeça em sequência. Rara expulsão

O Warriors, por conta, também cometeu erros tolos, para além dos chutes bizarros de Thompson. Os mais custosos foram as faltas, novamente, desnecessárias de Stephen Curry. O acúmulo o tirou de quadra cedo e depois o deixou em posição precária para marcar um cara como Kyrie Irving. E que, a 4min22s do fim, o levaram a uma rara exclusão, quando seu time perdia apenas por 12 pontos, algo que não acontecia desde dezembro de 2013. E, sim, 12 pontos entra na conta do “apenas” quando é o Warriors que está em quadra. Se a sexta falta foi bastante duvidosa, as outras cinco, não achei – para Kerr, foram três. O problema é maior por ser recorrente e por ter atrapalhado uma noite em que havia chegado a 30 pontos em 20 arremessos e 35 minutos. (Steph, aliás, converteu seis bolas de longa distância e quebrou o recorde de Danny Green numa série final. Como se estivesse valendo algo agora…)

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Ao seu lado, Thompson demorou quase 30 minutos para esquentar a mão. Fez estragos no terceiro período em mais uma investida preocupante do Warriors, que tornou a baixar seu déficit para um dígito, mas aí LeBron estancou tudo. O ala terminou com 25 pontos em 21 arremessos, e apenas 30% de acerto em 10 tentativas. Ao menos reencontrou o rumo da cesta para não voltar para casa tão perturbado assim.

O mesmo não pode ser dito sobre Harrison Barnes, que teve mais um jogo de doer, saindo zerado de quadra em oito arremessos. Ainda no quinteto inicial, Draymond Green ficou em oito pontos. Já Andre Iguodala sentiu um desconforto lombar logo no início da partida e se arrastou pela quadra. Recebeu tratamento especial quando era substituído, bateu o pé com a comissão técnica para seguir atuando e simplesmente não conseguiu ser efetivo. Marcou cinco pontos e deu três assistências. Produção muito baixa.

As mazelas dos atuais campeões não se limitaram ao seu poderoso, mas agora irregular ataque. Sua defesa permitiu novamente que o Cavs conseguisse ótimos índices de acerto, com 51,9% nos arremessos. Sofreram tanto nos tiros de longa distância (37%, com 10-27) como no garrafão, levando 42 pontos na zona pintada. Ao menos impediram que Thompson engolisse a tabela ofensiva, com muito suor de Draymond  – ainda assim, foram 15 pontos e 15 rebotes para o pivô canadense. No geral, o Cavs conseguiu oito rebotes na tábua do aversário.

A coisa seria ainda mais feia não fosse mais uma bela apresentação de Leandrinho. Um dos destaques pelo Jogo 1, o ala brasileiro entrou muito bem no segundo período, com firmeza, decidido, e anotou 14 pontos em 18 minutos, com 50% de acerto. O ligeirinho merece mais minutos na sétima partida, ainda mais se Barnes não retornar do Ártico. Anderson Varejão também teve boa participação e, na partilha dos minutos de Bogut,  deveria ter prioridade em relação a Ezeli. Não por serem convocados de Magnano. Mas pela produção recente, mesmo.

Ah, o Jogo 7… Vai demorar um tanto para chegar o domingo. Em sua entrevista, tentando manter a cabeça erguida, Kerr lembrou que foi para isso que eles detonaram na temporada regular: para ter o mando de quadra. Isso é fato. Ninguém vai tirar isso do Warriors, e o retrospecto é todo favorável aos anfitriões. Das 18 séries que acabaram na sétima partida, o time da casa saiu vencedor em 15 delas. Agora, o mesmo Warriors sabia que jogava contra os números ao aprontar para cima de OKC. Naquela ocasião, o Cavs estava descansando, tomando nota. Pelo fato de terem estendido o confronto, já foi uma proeza. Essa é apenas a terceira vez na história em que um time se recupera de uma derrota parcial por 3 a 1. O último havia sido o Lakers de 1966, para termos uma ideia. E nunca esse time chegou a completar a virada. Após duas grandes vitórias, podem ter certeza de que, na cabeça dos LeBrons, esse retrospecto não vai dizer nada.

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Jogo 5 teve convergência perfeita para o Cavs. É sustentável?
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Giancarlo Giampietro

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Em qualquer cobertura mais vasta, daquelas chamadas especiais, hoje em dia, parece impossível fugir do tópico “sustentabilidade”. Nesta série de textos sobre as #NBAFinals, como ficar fora dessa onda? Não dá, vai.

Na liga americana, o termo também está em voga, à medida em que o uso e a análise das estatísticas se aprofunda. A abordagem um pouco mais fria procura colocar em perspectiva a boa fase de um ou jogador, por exemplo. Daí o uso também de outros conceitos como “amostra pequena”. Tudo isso é processado para que as exceções sejam cada vez mais classificadas como exceções, mesmo, bem diferente da regra. Daí que, quando um Channing Frye acerta sete bolas de três pontos em dois jogos seguidos de playoff, em vez de elegê-lo já como o maior chutador da história, o raciocínio mais prudente e correto seria questionar se essa produção seria… sustentável.

Quando chegamos às finais de um campeonato, então, esse tipo de questionamento se torna ainda mais forte, já que cada time – no caso, Golden State Warriors e Cleveland Cavaliers – chega para decidir o título com uma extensa rodagem, com uma profunda base de dados para efeito comparativo.

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Depois da grande vitória do Cavs pelo Jogo 5, em Oakland, nesta segunda-feira, com LeBron James e Kyrie Irving se aproveitando das chamas produzidas por Klay Thompson no primeiro tempo para incendiar todo o ginásio, vale dar um passo atrás e avaliar o que aconteceu de normal ou anormal na partida. O quanto disso pode ser carregado para o Jogo 6 na quinta-feira? E a um eventual eletrizante Jogo 7? Certamente cada uma das comissões técnica, vindo de vitória ou derrota, vai fazer esse exercício. Então vamos lá:

A dinâmica LeBron/Kyrie

LeBron, Kyrie, NBA Finals, Game 5, Jogo 5

Botaram para quebrar

Em quadra, essa foi a manchete: James e Irving formaram a primeira dupla de atletas a passar dos 40 pontos em uma partida pelas finais, com 41 cada. Foi um estrondo, mesmo, sem que defensores ultracapacitados como Klay Thompson e Andre Iguodala pudessem fazer muita coisa.

Um dado curioso é que nem o ala, nem o armador ainda haviam marcado 40 pontos nesta temporada. A estreia neste clube dos quarentões só havia acontecido três vezes antes na história, com  Cliff Hagan (em 1961, pelo Hawks), Magic Johnson (em 1980, pelo Lakers) and James Worthy (em 1989, pelo Lakers).

Para chegar a 112 pontos, o Cavs certamente atacou bem, com eficiência. Agora, eles atingiram um elevado índice de acerto, com 53% nos arremessos, 41,7% de três pontos e 23 lances livres batidos, com uma abordagem bastante individualista de seus astros, e não com um jogo mais solidário que procurasse esgarçar a defesa do Warriors. Somente 34,1% das cestas de quadra da equipe foram assistidas (15 de 44). Segundo o NBA.com/Stats, essa foi a primeira vez em 50 anos que um time passou dos 110 pontos com um percentual tão baixo de assistências. Além disso, as 29 cestas em investidas solitárias foram o máximo em um jogo pelas finais desde 1967, quando o San Francisco Warriors triunfou por 30 pontos na Filadélfia.

A concentração de jogo em seus craques foi absurda até. Dos 112 pontos, 97 saíram direta ou indiretamente das mãos da dupla, ou 87%, entre cestas e assistências. Essa é a segunda maior média da história das finais. Curiosamente, só fica atrás do que vimos no Jogo 1 do ano passado, antes de Irving se lesionar, numa derrota dramática definida apenas na prorrogação. Todas as últimas 25 cestas foram feitas ou assistidas pelos dois astros. A última cesta que não passou pelas mãos dos dois foi uma bandeja de Iman Shumpert na metade do segundo quarto. Os dois vão conseguir sustentar um desempenho desse na volta para casa?

Kyrie Irving
Vale lembrar que o armador anotou 22 de seus 41 pontos em Oakland em jogadas na qual ele avançou pela quadra driblando e não fez nenhum passe. Nesse tipo de situação, acertou inacreditáveis 10 de 15 arremessos (66,6%). Sabe qual era o seu rendimento entre os Jogos 1 e 4 com essas investidas em total isolamento? De 13-39, ou 33,3%, a metade. E aí? Qual é o número mais real? De repente um meio termo entre ambas as marcas?

Fato é que, desde que a série foi para Cleveland, o desempenho de Irving vem sendo bem superior:

Essa tinta verde espalhada pela foto da direita, no entanto, se deve muito ao que aconteceu nesta segunda-feira, mesmo. O jovem astro terminou com o quarto melhor aproveitamento da história das finais entre atletas que tenham tentado ao menos 20 arremessos. Ficou atrás só de atuações de gente como Shaquille O’Neal (em 2004 pelo Lakers), Larry Bird (em 1984 pelo Celtics) e Wilt Chamberlain (em 1970 pelo Lakers, o único deste trio que também passou dos 40 pontos).

LeBron James
Que LBJ costuma responder bem quando está enfrentando a eliminação pelos playoffs, Iguodala acabou de perceber. Acreditem: para alguém que é julgado de maneira irascível como um amarelão, o craque do Cavs, contra a parede, tem números e retrospecto superiores aos de Michael Jordan e Kobe Bryant. (O que não quer dizer que seja o melhor jogador da história. Esses dados só contrariam o imaginário popular que se construiu em torno de sua figura.)

O ala geralmente vai se impor em quadra, mesmo, e o máximo que seu marcadores podem fazer é tentar deixar as coisas um pouco mais difíceis, pelo menos.  Por muito tempo, em seus primeiros anos na liga, a melhor e mais óbvia era receia era realmente pagar para ver seu arremesso. Os marcadores recuavam e o induziam ao chute de longa distância. Em 2010-11, em seu primeiro ano pelo Miami, ele matou só 33%. Tudo era melhor do que a ideia de ver aquele trator ganhando o garrafão e destruindo o aro. Acontece que, cansado de enfrentar esse tipo de estratégia, LeBron trabalhou esse fundamento até alcançar percentual mais elevado entre 2012 e 2014, com pico de 40,6%. Seja por falta de treino, pelas pernas mais pesadas ou por uma combinação desses dois fatores, de um ajuste a sua atual condição física, o ala permitiu que seu rendimento caísse muito, para 30,9%, o pior de sua carreira.

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Esse número foi muito bem recebido pela oposição. Era quase uma benção. Nas finais, para o bem de Iguodala, ele estava com 31,2%. Daí a surpresa ou mesmo incredulidade com o que ele fez pelo Jogo 5, silenciando as vaias que o perseguiram pela Oracle Arena. Dessa vez, James acertou 8 de seus 19 arremessos fora do garrafão (42,1%). Não é algo expressivo assim comparando com o que Kyrie Irving matou de bola ao seu lado, mas é muito melhor do que 9 cestas em 28 tentativas (32,1%), das primeiras quatro partidas. Contra Iguodala, ele acertou 6-10 nos arremessos e 3-4 de longa distância.

Sem Draymond Green
O ala-pivô ficou arrasado ao ver o Jogo 5 de um dos camarotes do estádio do Oakland A’s, vizinho da Oracle Arena, segundo seu ex-técnico em Michigan State, Tom Izzo. Sentiu que havia deixado seu time na mão. Podem ter certeza que o impacto maior causado por sua ausência foi sentido em quadra. Especialmente quando o Warriors precisava defender. Sem ele, o Cavs tentou explorar ao máximo o quarteto Bogut, Ezeli, Speights e Varejão situações de pick-and-roll e teve sucesso. O trio de pivôs era presa fácil para LeBron e Kyrie, enquanto James Michael McAdoo, muito mais ágil, não intimidava ninguém. A formação bastante baixa com Curry, Thompson, Livingston, Iguodala e Barnes também não colou.

Para termos uma ideia do quão vulneráveis os atuais campeões estiveram, o Cavs anotou 46 pontos apenas dentro do garrafão, com aproveitamento de 60%, com 24-40. Para comparar, o Warriors somou 42 pontos em tiros de três. Nas duas primeiras partidas como visitante, o Cavs havia anotado apenas 85 pontos por 100 posses de bola. Nesta segunda, sua média foi de 110 pontos. A jornada inspirada de Irving e James, que mataram 19 de 30 arremessos contestados, ajuda a entender essa guinada.  Draymond, sozinho, não iria impedir essas 19 cestas. Mas podem ter certeza de que os dois cestinhas encontrariam mais obstáculos, pelo fato de o ala-pivô ser muito mais ágil que o quarteto usado por Kerr em rodízio e entender perfeitamente o que precisa ser feito na cobertura de espaços. Pode não ter estatura, mas tem força, envergadura e inteligência para ser um candidato perene ao prêmio de defensor do ano. Não existisse um certo Kawhi Leonard em San Antonio, certamente já teria ganhado ao menos um troféu nesta categoria.

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As cestas de três do Warriors
Aquela turma que precisa evitar o consumo daquele amendoim, do queijinho ou do presunto cru durante as partidas do Warriors, sob risco de engasgo, deve ter se divertido pacas com o segundo tempo da vitória do Cavs. Afinal, nessa parcial, os atuais campeões erraram simplesmente 18 de 21 chutes de três pontos, sendo 9 em 10 pelo último quarto. No geral, o time acertou apenas 14-42 (33,3%). Na temporada, sua média foi de 41,6%, enquanto nos mata-matas é de 39,5%. O baixo rendimento num jogo que valia o título muito se deve ao empenho dos defensores do Cavs, com destaque improvável para JR Smith, por exemplo, especialmente no segundo tempo. Mas não foi só isso.

Esmiuçando esse aproveitamento, você encontra um dado surpreendente. Segundo as medições do sistema SportVu – com suas câmeras invasivas acompanhando toda a movimentação dos jogadores –, o Warriors teve ainda nada menos que 19 arremessos de longa distância com atletas “completamente livres”. A tendência é achar que os marcadores jamais poderiam permitir um número tão elevado de tentativas sem resistência ao time de Steve Kerr. Pois nesta segunda não teve problema: apenas 4 desses 19 chutes foram convertidos. Harrison Barnes, aliás, foi a ‘estrela’ aqui. O ala não é um dos Splash Brothers, mas chegou ao duelo com 42,8% de acerto – e 60% nos dois jogos anteriores – e matou apenas uma em seis tentativas, desperdiçando diversas tentativas em total liberdade.

Surras?
Até agora, o mais perto de um jogo parelho que tivemos foi o quarto, com vitória tensa do Golden State, mas a qual já estava decidida a dois minutos do fim. Somando o saldo dos cinco primeiros jogos, são 104 pontos de sobra no placar, ou mais de 20 por confronto. Essas serão, digamos, as finais mais desequilibradas jogo a jogo em mais de 50 anos, desde 1965, com um dos tantos duelos Lakers x Celtics gerando uma sobra de 105 pontos. Dependendo da resolução das equações acima será que vamos ter pelo menos uma partida mas apertada? Queremos drama e emoção. Sustentabilidade tem limite.

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LeBron aceita papel de vilão e vê Kyrie explodir para estender as finais
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Giancarlo Giampietro

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LeBron James fez sua melhor jogada antes mesmo de o Jogo 5 começar. Quando, ainda em Cleveland, atropelou Draymond Green, tirou o oponente do sério e forçou sua suspensão com uma quarta falta flagrante pelos playoffs. Nesta segunda-feira, porém, ele fez questão de estender sua contribuição com uma das melhores atuações de sua carreira. Foi um ato de sobrevivência, e o Cavaliers bateu o Golden State Warriors por 112 a 97 para forçar o sexto jogo na quinta-feira.

Em 42 minutos, sem mal descansar em quadra ate que o “garbage time” fosse instaurado, LeBron anotou 41 pontos, apanhou 16 rebotes, deu 7 assistências e ainda acumulou 3 tocos e 3 roubadas, com 16-30 nos arremessos. Além disso, matou 50% nos tiros de três, em oito tentativas. Espetacular e, a julgar por seu currículo, não surpreende. Para quem ainda lê e ouve por aí tanto sobre uma suposta fama de amarelão, o craque tinha médias de 31,9 pontos, 10,7 rebotes e 6,6 assistências em partidas pelas quais sua equipe lutava contra a eliminação. Agora tem a melhor média de pontos da história dos mata-matas nesse tipo de situação. A diferença é que, a despeito de suas exibições marcantes, o aproveitamento de seus times era de 7 vitórias em 15 jogos.

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Para devolver a série a Cleveland, o veterano não agiu sozinho, obviamente. Assim como no Jogo 3, contou com nova exibição primorosa de Kyrie Irving no ataque. O armador do Cavs voltou a esfomear em quadra, mas dessa vez guardou seus arremessos com uma precisão assustadora, de causar inveja a Curry. Anotou os mesmos 41 pontos, com 17 cestas em 24 tentativas (70,8%). Nem mesmo um marcador como Klay Thompson o incomodou.

“Foi provavelmente uma das melhores atuações que já vi ao vivo”, disse James, seguindo a mesma linha de Jeff Van Gundy, durante a transmissão. E não é exagero. Na história das finais, apenas só teve um jogador além de Irving que conseguiu marcar 40 pontos e acertar mais de 70% em uma partida: Wilt Chamberlain. Glup. Aconteceu em 1970, pelo Lakers, respectivamente, com 45 e 74,1%. Aí vale a gente lembrar que Wilt era a maior aberração atlética do mundo e que, para a época, era como se tivesse 2,58m de altura e estava sempre pertinho da cesta. Irving é um cara de 1,91m que vaga pelo perímetro.

Foi a primeira vez na história das finais que dois companheiros passaram dos 40 pontos na mesma partida. Entre cestas e assistências, os dois estiveram envolvidos em 97 pontos dos 112 dos visitantes. A mesma quantia que todo o elenco do Warriors. Incrível. Vale o abraço:

Era como se James e Irving, de repente, tivessem se tornado os Splash Brothers. Ninguém duvida da capacidade do armador para converter os chutes que arriscou nesta partida. O problemão para Steve Kerr foi ver o ala alcançar um percentual elevado mesmo quando buscava pontuar longe da cesta. Qualquer defesa bem-sucedida contra uma equipe de LBJ espera, conta que ele vá falhar neste tipo de fundamento. Se, por um acaso, ele conseguiu virar a chavinha para valer nestas finais, será uma tremenda dor-de-cabeça para o Golden State, independentemente da presença de Draymond Green em quadra.

O ala-pivô fez muita falta para os atuais campeões, especialmente na defesa. Não só na ajuda para a contenção de LeBron, como para a coesão da equipe, mesmo. A cobertura, a recuperação de posição, a comunicação nas trocas de marcadores, a proteção de cesta…  Faltou um pouco de tudo, abrindo caminho, corredores para os 53% nos arremessos do Cavs e os 41,7% dos três pontos. No momento, o combo de Bogut-Ezeli-Varejão não vem dando conta do recado, com Irving e LeBron explorando sua lentidão sempre quando podem no pick-and-roll. Para piorar, Bogut ainda sofreu uma contusão no joelho no segundo tempo e vai passar por uma ressonância magnética.

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No ataque, a visão de quadra e versatilidade de Draymond também foi sentida, como um assessor extremamente qualificado para seus chutadores, ajudando a organizar o jogo e se aproveitando das oportunidades proporcionadas pelo terror que eles representam no perímetro. No primeiro tempo, Stephen Curry e, principalmente, Klay Thompson mataram algumas bolas malucas de longe, mas se aproveitaram ao mesmo tempo da conivência defensiva dos caras de Cleveland. Sim, alguns daqueles chutes não existem no plano tático de ninguém, mas a marcação em geral foi uma calamidade, muito frouxa, deixando que um empolgado Thompson se desprendesse com facilidade. Antes do intervalo, o ala tinha mais pontos do que LeBron (26 a 25). Terminou com 37 pontos em 20 arremessos, 41 minutos e seis tiros de fora certeiros.

Porque as coisas mudaram. Na segunda etapa, adefesa do Cavs enfim entrou em quadra, para não desperdiçar, anular a soberba combinação de James e Irving. Em vez de seguir no tiroteio com confiança, os cestinhas do Warriors tiveram de lutar muito mais para enxergar a cesta, sem que os corta-luzes lhes dessem respiro. Valeu pela contestação e, muito mais, pelo desgaste gerado. A equipe da casa, como um todo, converteu apenas 12 de 45 (26,6%) de quadra. Foram 36 pontos, contra 39 de LBJ e Kyrie. Em alguns momentos, Curry apareceu livre, mas falhou na pontaria, para fechar sua participação com 25 pontos em 21 arremessos (38%) e 5-14 de três, em 40 minutos. O atual bi-MVP já não tinha pernas. Antes de baixar a energia, é preciso registrar, o armador voltou a ser displicente com a bola, cometendo alguns turnovers dos mais bestas possíveis.

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De Andre Iguodala, não houve o que se queixar. O veterano fez de tudo para tentar amenizar o impacto da ausência de Green, com 15 pontos, 11 rebotes, 6 assistências em 41 minutos. O que não deu para entender muito bem foi a estratégia de Kerr de colocá-lo para marcar Kevin Love em diversos momentos. Suponho que fosse para preservar o ala, resguardá-lo para os minutos finais, em vez de uma preocupação com o apagado ala-pivô. Acontece que Shaun Livingston e Harrison Barnes não conseguiram fazer nem cócegas contra LeBron James.

Barnes, aliás, foi uma tremenda decepção para o torcedor do Warriors. Quer dizer, nem tanto: durante o ano, fui descobrir que o ala não tem tanto prestígio assim em Oakland. Ainda assim, nem o mais pessimista poderia imaginar uma partida tão inócua assim, com míseros 5 pontos e 5 rebotes em 38 arremessos, acertando apenas 2 de 14 arremessos, muitos deles completamente livres. Considerando o que estava em jogo e o desfalque na linha de frente, esta atuação definitivamente não vai entrar no DVD, na hora de negociar um novo contrato em julho – e vocês desculpem a insistência com essa sub-história, mas é que, logo mais, vai aparecer algum clube para pagar uma bolada para este irregular ala. E aí não vai ter do que reclamar. Do outro lado, a frustração ficou novamente por conta de Kevin Love, que retornou ao time titular, ganhou 33 minutos e não passou de 2 pontos, 3 rebotes, 1 assistência e 3 tocos. Independentemente do desfecho da série, numa análise fria, é provável que a diretoria do clube se sinta inclinada a trocá-lo. Mas isso é papo para depois.

Por ora, o Cavs volta para a casa, com um cenário bem diferente para LeBron, que foi eleito inimigo público número um em Oakland. A julgar por seu rendimento, talvez o torcedor mais esclarecido do Warriors possa se sentir arrependido pelo tanto de vaia que se ouviu no ginásio, desde o aquecimento – historicamente, o ala responde muito em nesse tipo de cenário. Já o torcedor menos fanático e rancoroso do time californiano, a despeito de sua paixão por Draymond, deve ter, secretamente, pelo menos mentalmente, se permitido aplaudir o camisa 23. E Kyrie Irving.

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