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As tramas que podem decidir a revanche Spurs x Heat
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Giancarlo Giampietro

Como está o tornozelo de Tony Parker?
O armador revelou durante a semana que já estava com o pé comprometido na semifinal contra o Blazers e que, por isso, acabou machucando os músculos da perna, para tentar compensar as dores nos movimentos. Ainda que venha na sua melhor de fase no que se refere a chutes de longa distância, acertando 35,3% e 37,3% nas últimas duas campanhas, o carro-chefe do francês são as infiltrações, mesmo. Partir para a cesta, com uma ajuda ou outra de corta-luzes, ou usando suas fintas hesitantes, que podem deixar até mesmo LeBron na saudade. Machucar a defesa lá dentro e aí explorar os tiros de fora (com o melhor aproveitamento da temporada). Vale lembrar que, no ano passado, Parker já havia sofrido uma lesão muscular na coxa e que seu time sentiu bastante. É algo que podemos esquecer com facilidade, considerando todo o drama que aconteceu nos jogos finais. Mas, estivesse o armador 100%, será que teria Jogo 7 para entrar na história? Bem, o se não vale para nada, mesmo. Agora, uma temporada depois, o Spurs chega novamente a uma decisão sem que seu principal jogador esteja 100%. arranque de seu armador e suas bandejas, o Spurs vai depender de sua movimentação de bola. E os passes devem ser precisos para lidar com uma defesa hiperatlética – do contrário, o contra-ataque a partir do turnover é mortal. Vimos há pouco, em OKC, como pode funcionar essa gangorra. A diferença é que o Miami tende a adiantar sua primeira linha defensiva muito mais, abafando o armador em situações de pick-and-roll, enquanto o Thunder joga mais recuado, com uma formação mais compacta. Outro diferencial é que Chris Andersen, caso jogue, salta muito, se posiciona bem vindo do lado contrário, mas não é nenhum Serge Ibaka.

No caso de um desastre, Popovich vai confiar, mesmo, em Patty Mills e Cory Joseph? Eles estão preparados?
O desastre: Parker simplesmente não aguentar e ser afastado de quadra, tal como aconteceu no Jogo 6 em Oklahoma City. O Spurs sobreviveu a esse desafio. Mas uma coisa é levar 24 minutos sem o francês, ainda que num ambiente hostil. Outra é conduzir uma ou mais partidas, com o adversário tendo o tempo necessário para fazer seus ajustes e mudar o plano de jogo. Aí o caldo engrossa. No próprio desfecho da série contra o Thunder, o treinador jogou o quarto período e a prorrogação com Ginóbili na armação. O argentino é craque e fez o dele. Em tempo integral, contudo, o desgaste seria muito maior, ainda mais com Cole, Chalmers, Wade e LeBron voando como abutres por cima de sua careca. No ano passado, armando o time nos minutos de descanso de Parker, Manu já sentiu o baque. Nos últimos três jogos, cometeu 15 turnovers, por exemplo. Quinze! Via as jogadas, com o brilhantismo de sempre, mas não conseguia completar o passe. Agora, está melhor fisicamente, é verdade. Mas vai precisar da ajuda dos garotões que o Spurs vem pacientemente desenvolvendo. Mills tem o chute e a experiência – já foi cestinha, em média, de Olimpíada, oras. Joseph é mais explosivo e marca melhor. A combinação ideal seria a fusão dos dois armadores em um, claro. O que não vai rolar. Nesse sentido, a substituição de Gary Neal por Marco Belinelli representa um avanço. Por mais que a torcida do Spurs culpe o italiano para tudo, o ala0armador é tão ou o mais ameaçador no chute de três pontos, podendo esquentar rapidamente e matar diversas bolas seguidas, como tem mais altura e habilidade com a bola, qualidades necessárias para enfrentar a constante blitz de seu adversário. Resta saber se vai recuperar sua confiança, tendo perdido rendimento e tempo de quadra nos mata-matas.

Tiago Splitter pode se impor? Ou: será que ele vai ter a chance de se impor?
O Miami tem sérias dificuldades de lidar com pivôs infiltrados no centro de sua defesa. Desde que, claro, esse grandalhão X consiga ser abastecido. O catarinense tem, então, na teoria boas chances para se estabelecer. Agora… Essa mesma teoria valia para o ano passado, quando ele estava ainda mais confiante, e em nenhum momento conseguiu se estabelecer como força no jogo interior. Há um problema aqui: se for usar alguém como referência interna, o Spurs vai de Tim Duncan. E como seria diferente? Estamos falando de um dos jogadores mais bem fundamentados da história. Se Duncan for estacionar para o post up, não sobra espaço para Splitter agir da maneira que gosta, em cortes no pick and roll. Se essa bola não estiver disponível para o brasileiro, a verdade é que ele fica praticamente sem função no ataque. E o Miami adoraria que o Spurs buscassem a cesta com apenas quatro armas disponíveis. E aí que Tiago paga o preço da concentração total que  os técnicos do Baskonia tiveram em moldá-lo como um pivô de jogo exclusivo próximo ao aro. Ok, não dá para ser tão ingrato assim: obviamente o catarinense se desenvolveu num baita jogador, muito inteligente e eficiente. Mas houve um dia em que o adolescente saído de Blumenau era visto como um possível prospecto na linha de Dirk Nowitzki. Talvez fosse um baita exagero. Talvez ele nunca fosse capaz de acertar nem 35% de seus chutes de fora. Fato é que hoje não há resquício técnico nenhum, nem mesmo a vocação em seu jogo para pontuar distante da cesta: em sua carreira nos playoffs, 67,8% de seus arremessos são executados a menos de um metro do aro. De um metro para três, 29,6% (dos quais ele acertou apenas 29,4%). Sobram, então, 2,6% dos arremessos para tudo o que estiver a mais de três metros de distância.

Rashard Lewis tem mais garrafas para vender?
O outro lado da moeda. Desde a temporada passada que Popovich descobriu que, com a dupla Duncan-Splitter, sua defesa fica muito mais robusta. São mais de 150 partidas já computadas para comprovar isso. Então tem isso: saber como compensar as situações oferecidas pelo jogo dos dois lados da quadra. Perde um pouco ali, ganha um pouco lá, fazendo as contas para ver qual o saldo. Mas tenhamos em mente sempre que, nos playoffs, com tanto estudo e tempo de preparo entre um jogo e outro, alguns segredos ficam mais expostos. E também vale o asterisco: o Miami não é um time como outro qualquer, e não só por ter LeBron, mas, antes de tudo, por sua disposição tática. Aqui não tem um alvo mais declarado e fixo como Dirk, Z-Bo ou LaMarcus para Tiago marcar (o que não quer dizer que freá-los seja fácil). Chris Bosh só joga de frente para a cesta e afastado (nestes playoffs, ele mais chuta de três pontos do que enterra ou faz bandejas). Spoelstra abre seus jogadores e deixa a quadra espaçada para seus dois astros pregarem o horror. No ano passado, quando o técnico foi de Mike Miller em seu quinteto inicial (ignorando qualquer ameaça que Splitter pudesse representar do outro lado), Popovich teve de se dobrar e conceder esta pequena e importante vitória para seu rival. Com um elenco versátil, também adotou o small ball. A tendência é que a série deste ano caia nesta mesma vala – ainda que o gatilhaço já não esteja mais na Flórida. Podemos esperar muito mais Ray Allen em quadra, além de Chalmers e Cole. Mas ainda sobram minutos, que Spoelstra adoraria dar a um esgotado Battier.  Aí que entra Rashard Lewis. Qual versão vai jogar a final? O moribundo de toda a temporada, ou aquele que ressurgiu no desfecho contra o Pacers? Se os tiros do veterano estiverem caindo, e obviamente que nem precisa ser numa escala Miller de 50%, o Spurs vai ter de sambar um pouco mais em suas coberturas.

– Boris Diaw vai ser agressivo?
Esperem, então, para ver muito Boris Diaw nos confrontos, e não tem nada de errado com isso. O francês joga demais. Sempre vamos ficar com uma pulga atrás da orelha, pensando sobre como seria seu basquete se ele se dedicasse um pouquinho a mais na esteira. Mas esse preconceito também por vezes pode inibir que apreciemos adequadamente seus talentos únicos. Para esta temporada, aliás, monsieur Riffiod se apresenta em melhor forma, confiante e produtivo, além de mais eficiente, mesmo com a terceira maior “taxa de uso” de sua carreira – isto é, seu jogo não sentiu o peso de mais responsabilidades. Conquistou, desta forma, o coração de Popovich. “Ainda estou aprendendo como usá-lo”, diz o técnico. Tem muito o que se aproveitar, mesmo: Diaw está acertando mais de 41% de seus arremessos de três pontos nos playoffs, mantendo o alto aproveitamento que teve durante toda a temporada. Além disso, virou uma ameaça séria no jogo de costas para cesta,  cada vez mais concentrado também em pontuar, em vez de apenas passar, passar e passar. Atende, enfim, aos clamores de dúzias de técnicos com que já trabalhou. Claro que o jogo fica mais bonito com atletas solidários interagindo, mas chega uma hora que a bola tem de cair na cesta, e o francês já não parece mais tanto avesso a esse simples conceito. Dependendo da saúde de Parker e Ginóbili, pode ser que o Spurs precise ainda mais do ala-pivô e seus serviços de playmaker, facilitando, servindo e, sim, atacando. Quem vai marcá-lo? Battier tem um último sopro? Lewis? LeBron?

– Por falar em LeBron, ele vai tentar/matar seus chutes de média e longa distância com qual frequência?
Deu certo por um bom tempo no ano passado, então podemos esperar que Pop mantenha a estratégia. Com Kawhi e, especialmente, com Diaw, a ordem deve ser para que recuem e tentem colocar a dúvida na cabeça do craque: vai para o chute, mesmo, ou tentará buscar um companheiro? Vai atacar a cesta e correr o risco de fazer a carga? Mas será que não há espaços, mesmo, para a infiltração? LeBron está habituado a ler o jogo num estalo. Contra o Mavericks em 2011 e contra o Spurs em 2013, porém, foi hesitante, diante das “facilidades” sugeridas pela defesa adversária. Se isso acontecer novamente, de o astro perder alguns segundos para tomar suas decisões e sair de ritmo, a defesa do Spurs já vai se dar por agradecida. Agora, o craque já sabe o que está por vir. Nos Jogos 6 e 7 da final do ano passado, partiu para o ataque e cobrou 21 lances livres, depois de ter somado apenas 19 nos cinco primeiros. A armadilha estava desfeita. Ficamos no aguardo, então, para ver como vai se comportar.

E dá para apostar contra LeBron James?
Kawhi Leonard já se virou contra Kevin Durant e Russell Westbrook na final do Oeste. Encarar LeBron, porém, é algo bem diferente. Durant é um cestinha mortal, mas fisicamente não representa o desafio que é segurar um tanque de guerra em movimento. Com KD, você pode contestar os arremessos e torcer para que não caia – bloquear alguém tão veloz e alto fica difícil. Mas você pode afastá-lo da cesta, você pode incomodá-lo fisicamente. Atletas como Leonard, Matt Barnes e até mesmo o diminuto Tony Allen podem persegui-lo no perímetro e atrapalhar sua movimentação fora da bola. No fim do jogo, o cara pode terminar com 30 pontos, tá certo. Mas os caminhos são mais claros. Contra LeBron, quando ele desembesta a atacar o aro, a combinação de técnica, explosão e força é brutal. Não há como Leonard absorver esse tipo de contato. Na verdade, Kawhi está em quadra apenas como um primeiro obstáculo de uma estratégia coletiva que precisa ser empregada para congestionar a vida do craque. Esse recuo e o convite ao chute é um dos ardis. Mas haja cobertura e ajuda para desencorajar o melhor jogador do mundo. Ele quer mais um anel.

E mais: Danny Green consegue dar conta de um Dwyane Wade que não esteja mancando? Chris Bosh vai se permitir ser alienado no ataque? O preparo físico, a essa altura, faz a diferença? Ou o emocional supera tudo? Porque o Spurs chega bem mais descansado. Spoelstra vai tentar mais uma vez alargar sua rotação, ou jogar com sete, oito caras? Se (ou quando) Ray Allen acertar mais uma bomba de três, como evitar o soluço coletivo de San Antonio? Pode Tim Duncan repetir ou superar os 18,8 pontos e 12,1 rebotes das finais do ano passado?

São muitas questões, e ainda bem que a pressão está em Pop ou Spo para respondê-las. Nós só precisamos nos acomodar no sofá e ver o o desenvolvimento dessas tramas todas, muitas delas interligadas. É um novelo difícil de se desembaraçar, e fica impossível dar um palpite.

PS: por motivos de Copa do Mundo da FIFA, na qual estarei envolvido, cobrindo, não sei bem se vai dar para comentar a série jogo a jogo, infelizmente.


Heat x Spurs: confira a cronologia dos protagonistas da final
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Giancarlo Giampietro

Quando Pat Riley ganhou seu primeiro anel de campeão da NBA, em 1972, dividindo o vestiário com Wilt Chamberlain e Jerry West (treme a terra quando se fala sobre estes nomes, não?), Gregg Popovich estava competindo, ou em vias de competir na peneira que formaria  seleção norte-americana que amargaria a prata olímpica em Munique. Sim, aquela final que se tornou o jogo mais controverso da história da modalidade. Uma temporada depois, Popovich retornaria à academia da Aeronáutica dos Estados Unidos como assistente técnico. Erik Spoelstra não tinha nem dois anos de idade.

Timmy Duncan, promessa das piscinas

Timmy Duncan, promessa das piscinas

Quando Pat Riley assumiu o Los Angeles Lakers pela primeira vez como treinador profissional, em 1981, cinco anos depois de aposentado das quadras, Tim Duncan tinha cinco anos de idade e vivia em Christiansted, uma das cidades da ilha de St. Croix, das Ilhas Virgens americanas. Popovich estava em sua segunda temporada como treinador da universidade de Pomona-Pitzer, na terceira divisão da NCAA, a qual dirigiu entre 1979 e 87. Mais um dos andarilhos do basquete norte-americano, Tony Parker Sr. tocava sua carreira na Bélgica.

Quando Tim Duncan praticamente desistiu de se tornar um nadador olímpico dos Estados Unidos, em 1989, e, aos 13 anos, começou suas aventuras numa quadra de basquete, Spoelstra era eleito o calouro do ano na West Coast Conference pela universidade de Portland, vindo de uma prestigiada carreira de colegial. Era armador. Riley estava em vias de deixar o Lakers, com mais quatro anéis de campeão. Nas finais daquela temporada, o time foi varrido pelos Bad Boys de Detroit. LeBron James tinha cinco anos e vivia uma infância difícil em Akron, com sua mãe de 21 anos procurando um emprego e um apartamento atrás do outro. Com quatro anos, Tiago Splitter brincava com qualquer coisa em Blumenau.

Tim Duncan em 1995, longe das piscinas

Tim Duncan em 1995, longe das piscinas

Quando Manu Ginóbili iniciou sua carreira profissional pelo Andino Sport Club, em 1995, sendo eleito o melhor novato da liga argentina, Duncan estava em seu terceiro ano de universidade, em Wake Forest, construindo sua reputação como um prospecto imperdível. Riley deixou a cabine de transmissão da NBC para assumir o Miami Heat como técnico e cartola – foi um ano de reformulação, no qual seu time somou 42 vitórias e 40 derrotas, o suficiente para chegar aos playoffs e ser varrido pelo Chicago Bulls de Michael Jordan. Spoelstra havia acabado de ser contratado como coordenador de vídeo do clube, indicado por Chris Wallace (hoje o gerente geral interino do Memphis Grizzlies)  e conseguiu se segurar no cargo, mesmo com a chegada de um novo chefe. Popovich era o gerente geral do Spurs, contratado pelo novo proprietário da franquia, Peter Holt, três anos depois de ser demitido pela gestão anterior.

Spoelstra, um nerd que fez carreira em Miami

Spoelstra, um nerd que fez carreira em Miami

LeBron, calouro no high school

LeBron, calouro no high school

Quando Tim Duncan ganhou seu primeiro título da NBA, em 1999, já sob a batuta de Popovich, LeBron estava se preparando para começar uma das mais badaladas carreiras de um jogador de high school no basquete norte-americano, na St. Vincent–St. Mary High School. Aquela era a primeira de-ci-são polêmica do adolescente. Ele e seus amigos do circuito AAU optaram por uma escola particular,  elitista, em vez de seguir a rota mais usual do colégio público – e dos “manos”.  Dwyane Wade já era uma estrela do prestigiado basquete colegial de Chicago, mas, devido a problemas com suas notas, só tinha ofertas de três universidades: as locais Illinois State, e DePaul, ou Marquette, do estado vizinho de Winsconsin. O Miami de Pat Riley foi mais uma vez eliminado pelo (eventual vice-campeão) Knicks nos playoffs do Leste – Spoelstra dividia seu tempo entre coordenador de vídeo e assistente técnico do figurão. Ginóbili encerrou sua primeira temporada na Itália, jogando pelo Reggio Calabria, na segunda divisão. Tony Parker assinou seu primeiro contrato de profissional com o Paris Basket Racing. Um ano depois, com 15, Tiago Splitter deixaria Santa Catarina rumo ao País Basco, para jogar na base do Baskonia.

Quando Tim Duncan ganhou seu segundo título da NBA, em 2003, já acompanhando por Tony Parker e Manu Ginóbili e ainda ao lado de David Robinson, LeBron James já sabia que sua jornada como profissional começaria justamente na franquia de seu estado, Ohio, em Cleveland. O Draft daquele ano, com LeBron sendo a maior barbada, foi realizado 13 dias depois de o Spurs vencer Jason Kidd e o New Jersey Nets na decisão, 4-2. Com 29 pontos, 11 rebotes, and 11 assistências, Dwyane Wade fazia o quarto triple-double da história dos mata-matas da NCAA por Marquette, entrando de vez na lista dos prospectos de elite. Splitter, aos 18, já disputava seu segundo torneio com a seleção principal, revezando com Nenê e Anderson Varejão no garrafão de um time que sofreu horrores no Pré-Olímpico em Porto Rico.

Splitter no Mundial de 2006: a boa nota numa campanha fraquíssima do Brasil

Splitter no Mundial de 2006: a boa nota numa campanha fraquíssima do Brasil

Quando Dwyane Wade ganhou seu primeiro título da NBA, em 2006, Shaquille O’Neal jogava ao seu lado, assim como Gary Payton, Jason Williams, Antoine Walker, Alonzo Mourning e Udonis Haslem. Pat Riley havia deixado os escritórios e voltado a dirigir o time, depois da demissão de Stan Van Gundy. O Cleveland de LeBron foi eliminado na semifinal da Conferência Leste pelo Detroit Pistons de Billups, Sheed e Ben Wallace, depois de ter vencido o Washington Wizards de Gilbert Arenas, na primeira rodada. O Spurs perdeu para o Dallas Mavericks no Jogo 7 das semifinais do Oeste, levando uma virada daquelas. Splitter teve médias de 16,4 pontos e 6,6 rebotes no Mundial do Japão, com o Brasil caindo na primeira fase.

Quando LeBron James chegou a sua primeira final de NBA, em 2007, o adversário foi o San Antonio Spurs de Duncan, e seu Cleveland Cavaliers, com Eric Snow, Larry Hughes, Drew Gooden e Zydrunas Ilgauskas no time titular, foi varrido. Em Miami, o Miami Heat também seria varrido pelo Chicago Bulls na primeira rodada da Conferência Leste, vendo seu sonho de bicampeonato atropelado por Andrés Nocioni, Ben Gordon, Luol Deng, Kirk Hinrich e Ben Wallace. Riley ainda era o técnico. Spoelstra, seu assistente. Splitter foi o MVP da Supercopa espanhola e iniciaria uma belíssima temporada na Europa, aos 22 anos, sendo eleito para o quinteto ideal da Euroliga ao final.

Em 2012, LeBron ganhou seu primeiro título, com o Spurs perdendo a final do Oeste para o Thunder. Em 2013, reencontrou Duncan na decisão e deu aquele toco em Splitter, já sabemos. Agora, a partir de quinta-feira, essas diversas trilhas voltam a se cruzar. Mal posso esperar.


Final da NBA tem revanche em 2014; veja números históricos
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Giancarlo Giampietro

Oi, lembra da gente?

Oi, lembra da gente?

Para os que sobreviveram a mais um thriller daqueles nos playoffs da NBA, com o San Antonio Spurs enfim conseguindo uma vitória em Oklahoma City, segue um post mais curto com alguns números históricos envolvendo os dois finalistas deste ano. Que são os mesmos do ano passado. É hora de revanche para o time texano contra os LeBrons, numa rara ocasião, nos tempos recentes, que a decisão é duplicada em anos consecutivos. No decorrer da semana, até quinta-feira, quando a festa começa, vamos abordar outros temas, como o desafio de Tiago Splitter de se impor em quadra contra um time que foge do padrão, a ressurreição de Rashard Lewis (por dois jogos, que seja…) e qualquer outra coisa que dê na telha. Mas, antes, alguns dados históricos para tentar dimensionar este reencontro:

– As temporadas em que a NBA teve sua final repetida em dois anos, em contagem regressiva: 1997 e 98, com Chicago Bulls x Utah Jazz; 1988 e 89, com Detroit Pistons x Los Angeles Lakers; 1984 e 85, com Boston Celtics e Lakers; 1982 e 83, com Lakers e Philadelphia 76ers; 1978 e 79, com Seattle SuperSonics x Washingotn Bullets;1972 e 73, com Lakers x New York Knicks; e aí, claro, nos anos 60, tivemos 479 confrontos entre Lakers e Celtics. Notem que, de 1990 para cá é apenas a segunda vez que isso acontece.

– No Leste, o Miami consegue sua quarta final seguida, algo que apenas três times haviam conseguido na história: o Lakers, de 1982 a 1985, com Magic, Kareem e um certo Riley (duas vitórias e duas derrotas), o Celtics de Bird de 1984 a 1987 (também com dois canecos e dois vices) e o mítico Celtics nos anos 60, que emendaram apenas dez finais, de 1957 a 1966, perdendo apenas o campeonato de 1958 para o St. Louis Hawks.

– Entre os repetecos de decisões, tirando os amigos apelões de Bill Russell, apenas o Chicago Bulls de Michael Jordan conseguiu vencer ambos os duelos, para amargura de John Stockton e Karl Malone. De resto, todo time que perdeu o primeiro ano, saiu vencedor no segundo.

– Times que chegaram por dois anos seguidos a uma decisão e não conseguiram o título: New Jersey Nets em 2002 e 2003, Jazz, os diversos Lakers de Jerry West e Elgin Baylor dos anos 60, o St. Louis Hawks de 1960 e 61, o Fort Wayne Pistons de 1955 e 56 e o glorioso Knicks de 1951 a 53! O Lakers de 1983 e 84 não conta, já que foi campeão 82 e 85.

– Esta é a décima final com adversários que se reencontram. A maior rivalidade? Dãr. Lakers x Celtics, que jogaram 12 vezes pelo título, com 9 triunfos para os verdes.

– É a sexta decisão para o San Antonio desde 1999, sempre com Duncan e Popovich envolvidos. Para o Miami, a quinta desde 2006, sempre com Wade, Haslem e Riley.

– Desde o Pistons em 1988 e 89, o Spurs foi o primeiro time a retornar a uma final depois de ter perdido o Jogo 7 no ano anterior.

– O Chicago Bulls tem o melhor aproveitamento em jogos valendo pelas finais, com 68,6%, ou 24 vitórias e 11 derrotas dividias entre as trilogias lideradas por MJ e o Mestre Zen. O Spurs é o terceiro da lista, com 65,5% (19-10), enquanto o Heat aparece em sexto, com 58,3% (14-10).

– O primeiro troféu da NBA foi chamado Walter A. Brown Trophy, em homenagem ao primeiro proprietário do Boston Celtics, tido como figura fundamental para a criação da liga que hoje conhecemos. A partir de 1984, Larry O’Brien, comissário entre 1975 e 83, assumiu a bronca. Vai levar quanto tempo para David Stern ser relembrado?


Quando ninguém entende os placares de Spurs x Thunder
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Giancarlo Giampietro

spurs

okc

Durante a temporada regular, o San Antonio Spurs teve o sexto melhor ataque da NBA, seguido bem de perto pelo Oklahoma City Thunder, o sétimo. Era praticamente um empate técnico. Se você quiser filtrar as estatísticas de defesas mais eficientes, verá que o time texano foi o quarto melhor do ano. Em quinto? seu oponente da final do Oeste novamente. Em saldo de sexta, ainda nesta ordem, temos +7,8 pontos x +6,4.

Em termos de aproveitamento dos arremessos de quadra, pode dar 48,6% para o Spurs, em segundo, e 47,1% para o Thunder, em sexto. Na hora de proteger sua cesta, o Thunder limitou seus adversários a míseros 43,6% de acerto, enquanto o Spurs empurrou seus oponentes para um rendimento de apenas 44,4%. Em lances livres, o time da Divisão Noroeste aparece em segundo, com 80,6%, enquanto a equipe da Divisão Sudoeste está em quarto, com 78,5%.

Se for para matar os chutes de três pontos, a franquia de San Antonio foi bem superior, com 39,7% (líder!), contra 36,1% dos rapazes de Oklahoma (14º). Do outro lado da quadra, o time de Gregg Popovich permitiu 35,3% de longa distância aos adversários, enquanto a rapaziada de Scott Brooks, 35,8%.

No ranking de assistências, o Spurs também foi quem mais deu passes para cesta por jogo, com 25,2. O Thunder aparece em 13º, mas com 21,9. E quem força mais turnovers? A galera de Thabo Sefolosha fica em 10º, com 14,5, enquanto os amigos de Kawhi Leonard estão em 25º, mas com 13,3.

Poderíamos ficar listando números e mais números aqui. Mas já deu para sentir mais ou menos o ponto, não? Durante 82 jogos, Spurs e Thunder estiveram na elite da liga. Como candidatos ao título, independentemente de um desfalque aqui (alô, Wess) e outro lá (oui, Parker). Seus números, em termos de colocação geral na concorrência com os outros times, podem destoar um pouco, mas, em geral, o que vimos acima foi muito equilíbrio, com os veteranos do Texas ligeiramente acima.

Então, tudo isso para repetir a pergunta que muitos não conseguem explicar: por que raios ainda não assistimos a uma partida equilibradinha que seja nesta série melhor-de-sete até agora?

Cinco partidas já foram disputadas, e a menor diferença produzida foram os nove pontos a favor de OKC no Jogo 4 – e esse foi um placar ilusório, uma vez que a equipe da casa liderava por 20 pontos quando restavam apenas 3min17s no cronômetro. É a primeira vez que isso acontece nas finais de uma conferência desde os duelos em que Michael Jordan maltratava o coração de Cleveland em 1992. Ou apenas o segundo desde 1988, quando Lakers e Mavericks venceram sempre por mais de 12 pontos.

Steve Kerr já havia falado no ar durante a transmissão que não conseguia entender. Ele, o homem de cinco títulos. Tim Duncan, de 17 temporadas e mais de 200 partidas nos playoffs em seu currículo, soltou esta: “É a série mais maluca em que eu já estive envolvido”.

Um corajoso sujeito foi perguntar para Gregg Popovich na coletiva em San Antonio a respeito. Vejam a transcrição do ocorrido (obs – nenhum boletim de ocorrência foi emitido):

Repórter na coletiva: Cinco jogos, cinco lavadas. Para nós que não entendemos tanto do jogo, como você explica isso?
Gregg Popovich
: Você está falando sério? Você realmente acha que eu posso explicar isso?

Nos termos mais simples (risos). Sei que você pode. A questão é: você vai?
Meu Deus do céu. E eles pagam você, não?

Muito pouco.
Então é por isso a pergunta. Você não vale muito.

Ninguém consegue explicar, aparentemente. Obviamente que o treinador poderia dar uma palavrinha ou outra a respeito. Mas em situações como essa ele prefere apelar ao sarcasmo, seja por impaciência, ou para dar um charme. Deve ser as duas coisas em conjunto, mesmo.

Fica essa coisa no ar.

Aqui, penso numa teoria abelhuda. Não espere, sinceramente, nenhuma tese de mestrado, nada muito científico. É só um palpite.

Mas acho que tem a ver com o contraste de estilos entre os times.

O sistema ofensivo de qualquer equipe é fazer cesta. Dãr. Mas, entre esses finalistas do Oeste, os meios alternam bastante, não?

O Spurs com sua movimentação constante, com apenas um jogador geralmente estacionado na zona morta do outro lado da bola, para alargar a defesa. E olhe lá, dependende das mudanças de direção nas infiltrações de Manu ou Parker. É corta-luz num determinado ângulo, depois em outro, seguido por outro. O passe para o lado, para trás, para a frente, sempre em busca de alguém boa condição para pontuar. A tendência é os elegermos como os guardiões de tudo o que jogo tem de puro e bom.

(Vale o parêntese aqui para uma aspa bem legal de Reggie Jackson, que vai se revelando como uma fonte obrigatória para repercussão: “É por isso que eles são conhecidos (os passes). Não acho que importe quem jogue. Eles poderiam usar cinco pivôs, e ainda encontrariam um jeito de mexer a bola. É o que eles fazem, é o sistema deles, e eles são bons nisso”.)

Já o Thunder pode emendar cinco ataques em que apenas um passe ou dois passes foram trocados, se tanto, e ainda assim ser ameaçador. Graças aos talentos exclusivos de Durant e Wess, que têm recursos atléticos e técnicos para jogar no mano-a-mano até amanhã de manhã, se Brooks deixar (ou quiser). Um pick and pop entre eles aqui, outra combinação de dupla com Ibaka em pitadinhas, e podem ficar muito bem nisso. Não que sejam fominhas. Os caras também fazem a assistência extra. São camaradas. Mas, pela natureza de seus supercraques, a ofensiva tende a ficar bem acomodada com facilidade. Irrita um pouco, mas dá certo na maioria das vezes.

Na defesa, Oklahoma tende a ser mais disruptivo, com atletas muito mais explosivos e de envergadura assustadora, enquanto San Antonio não é muito afeito a botes e riscos, preferindo guardar posição, com um ou outro tendo licença para atacar (Kawhi e Manu, por exemplo, e Mills por teimosia própria).

Uma equipe é harmonia, a outra, caos.

Quando cada um encaixa seu jogo perfeitamente, com confiança, o oposto acaba sendo engolido?

Pode ser? Ou é muito simples, idiota?

Provavelmente.

O difícil realmente é entender como é possível que, em cinco jogos de cinco, de rivais que já se conhecem perfeitamente, cada estilo tenha conseguido se impor de maneira tão clara em coisa de 30 minutos, para que a lavada fosse considerada irreversível..

No caso dos dois primeiros jogos, obviamente que ausência de Serge Ibaka também foi decisiva. O homem pode influenciar, e muito, os rumos de qualquer jogo, como vimos bem em seu retorno. Ainda assim, neste Jogo 5, o time texano conseguiu repetir os números auspiciosos dos dois primeiros confrontos. Por outro lado, não é possível também que não tenha passado pela cabeça de Scott Brooks que Popovich pudesse acionar Matt Bonner nesta quinta-feira e que abrisse mão de atuar com seus dois pivôs tradicionais ao mesmo tempo. Digo: os ajustes são sempre necessários na caminhada das equipes em um playoff. É o que acontece sempre.

Da mesma forma como não se pode relevar o fator emocional, com duas dúzias de atletas estressados, beirando a estafa, tentando resolver em quadra essa pendenga. E aí temos as duas melhores campanhas como visitante no campeonato – 30 vitórias, 11 derrotas para o Spurs longe de seus domínios, algo absurdo, contra 25 e 16 do Thunder. No entanto, sabemos também que a pressão não é lá uma exclusividade do ano de 2014. “Obviamente parece que o mando de quadra dá uma bela motivação para as equipes. Ambas estão confortáveis em casa. Então é por isso que optamos para não ir para OKC”, brincou Popovich.

Vamos ver o que sai daí, tentando sempre entender o que se passa para justificar tanto extremismo. Fato é que o Thunder agora está diante daquela situação de tudo ou nada, mas de volta ao conforto de seus aposentos neste sábado, Jogo 6. O Spurs está a uma vitória da final. Numa hora dessas, qualquer técnico aceitaria de bom grado uma vitória mesmo com meio ponto de diferença.


Em meio a trovões de Westbrook, uma vitória minúscula para Popovich
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Giancarlo Giampietro

Banco Spurs, OKC, Popovich

Até pode não dar em nada, mas é por essas e outras que Gregg Popovich merece o título de maior técnico da NBA desde a aposentadoria de Phil Jackson. O truque já é velho, mas não deixa de ser surpreender e admirar, né? Afinal, quantos têm coragem e pachorra para aplicá-lo? Restando ainda quase 20 minutos de um jogo valendo final de conferência, e quem mais sacaria todos seus titulares de quadra para afundá-los no banco de reservas?

O comandante do San Antonio Spurs não estava nada satisfeito com a cacetada que seus velhacos tomavam do Oklahoma City Thunder, nesta terça-feira, e optou por um de seus ardis. Tirou Parker, Duncan e Manu. Kawhi e Green (que depois voltaria). Sobrou até mesmo para o Splitter. E taca Matt Bonner em quadra! Se tivesse autoridade para tanto, certeza que ele mandaria Austin Daye tirar o blazer e jogar também.

Reserva Baynes que se vire com um Westbrook ligado no turbo: 40 pontos, mas em preocupantes 45 minutos; Durant jogou 41 e Ibaka, 35

Reserva Baynes que se vire com um Westbrook ligado no turbo: 40 pontos, mas em preocupantes 45 minutos; Durant jogou 41 e Ibaka, 35. Eles dão conta do recado

Com esse movimento, ele manda uma série de mensagens.

Para seus principais jogadores: “Estou decepcionado”.

Para Boris Diaw: “Mon Dieu, Boris, arremesse com confiança, s’il vous plaît!!!! Eu suplico.”

Para os demais reservas: “As portas estão sempre abertas”

Para a comunidade do basquete: “Sim, é possível”.

Para os repórteres de TV: “Nem vem de garfo que hoje é dia de sopa”.

E, principalmente, para Scott Brooks: “Se viraê com esse presentinho”.

Porque o Spurs já não tinha nada (mais!!!) a perder. A batalha já estava cedida, então, no mínimo, ele tratou de reduzir suas baixas, pensando na guerra, que tem sequência no Jogo 5, de volta ao Álamo, em menos de 48 horas. O técnico passou um pito em seus principais jogadores e, ao mesmo tempo, os preservou, sabendo que, fisicamente, o outro lado tende a levar sempre a vantagem. E não fica apenas  nisso: se desse certo, ainda forçaria que seu concorrente mantivesse Durant, Westbrook e até mesmo o sacrificado Ibaka em quadra.

Bingo.

Com 3min31s restando no quarto período, Bonner (+12 de saldo!) e cavalaria reduziram a antes bombástica diferença do Thunder para 12 pontos, anotando sete em sequência. Cory Joseph ofereceu muito mais que Patty Mills em termos de deslocamento e pegada e ainda botou Ibaka no YouTube (ver mais abaixo), Boris Diaw aceitou o chamado e passou a atacar com agressividade, Marco Belinelli esteve mais solto, e a bola foi girada de um lado para o outro.

Os titulares simplesmente deixaram de praticar esse tipo de basquete após cinco excelentes minutos no primeiro tempo. Deixaram de fazer aquilo que o Spurs deve executar o tempo todo para combater um time muito mais atlético. A turma do fundão do banco deixou claro, então, que dava para encarar aqueles caras. Desde que do modo correto, com um ataque mais equilibrado, que resulta em melhores situações de arremesso (veja tabela abaixo) e diminui as chances de contragolpes mortais.

Reservas do Spurs contra Thunder no Jogo 4: 9/13 no garrafão, a partir de meados do terceiro período

Reservas do Spurs contra Thunder no Jogo 4: 9/13 no garrafão, a partir de meados do terceiro período

“Não jogos de modo inteligente consistentemente, e, de uma hora para outra estávamos tentando ver se Serge poderia dar um toco, ou não. Pensei em distribuir uma foto para eles no banco. Eles sabem quem é Serge. Mas foi realmente, de uma hora para a outra, um basquete pouco inteligente. Em vez de acertar os jogadores livres, começamos a atacar o aro sem inteligência, e isso resulta em tocos. Tivemos sete turnovers no primeiro tempo, mas na verdade foram 14 por causa dos sete tocos. E aí você precipita a diferença de 20 a 0 nos contra-ataques”, afirmou Popovich, durante a coletiva, numa loooonga resposta ao repórter JA Adande, da ESPN, que ficou até emocionado.

“Então você tem de jogar mais espertamente contra grandes atletas. Eles são talentosos, obviamente, mas a capacidade atlética e a envergadura deles é o que causa uma margem pequena de erro, e contra isso não dá para para se atrapalhar tanto como fizemos. E acho que temos de jogar com mais empenho. Eles jogaram com mais determinação que nós nesses dois jogos”, completou.

Claro, contra os reservas, a defesa adversária, cansada e também mais relaxada, já não tinha mais a mesma energia da etapa inicial e nem estava tão familiarizada assim com aqueles oponentes, mas tudo isso está incluído nas contas que Pop fez antes de tomar sua decisão.

E como Brooks responderia? Era um jogo que ele simplesmente não poderia perder. Seria uma catástrofe. Iria de Fisher-Lamb-Jones-Collison-Thabeet nessa? Baita arapuca: não só o quinteto não tem rodagem, como dificilmente apresentaria qualquer coesão. Então, que ficassem os craques, mesmo, para liquidar a futura. Foram substituídos apenas dois minutos depois, aí, sim, com a vitória garantida.

A vitória é de OKC, série empatada em 2 a 2, mas Pop deu um jeito de tirar alguns pequenos triunfos morais dessa. E ele precisava de um empurrão desses – e, se Reggie Jackson, com uma torção no tornozelo não puder jogar, melhor ainda. Estava aquela barulheira infernal no ginásio, Ibaka voltava a influenciar o jogo defensivamente, os cestinhas eram explosivos, Thabo Sefolosha nem tinha dado as caras… Enfim, o confronto ia pendendo perigosamente a favor de seus adversários, numa virada como a de 2012.

Agora, pode muito bem ocorrer de o efeito dessa cartada ser nulo.

Com o turbo acionado, magnífico, Westbrook atropelou os adversários nesta terça, construindo uma das linhas estatísticas mais brilhantes da temporada: 40 pontos, 10 assistências, 5 roubos de bola, 5 rebotes, 12/24 nos arremessos e 14/14 nos lances livres. Mamãe. Vejam só este lance:

Foi até engraçado ao vivo. O armador do Thunder atropelou Tony Parker e foi para a cesta feito um trovão. Depois de alguns minutos, porém, que a equipe da TNT (a melhor transmissão da NBA, tecnicamente) foi reparar que a roubada de bola veio com os dois pés fora da quadra. Em slow-motion, você percebe isso no ato. Quando o lance aconteceu, de tão rápido, ninguém apontou nada.

Ter de conter um sujeito desses já é um problemão. E aí, de repente, a gente vai lembrar que Brooks também pode atacar com aquele tal de Kevin Durant. O MVP da temporada, cestinha da liga em quatro das últimas cinco temporadas, com média de 27,4 pontos por jogo. Durant somou 31-5-5 dessa vez. Juntos, os dois astros contribuíram com 71 (de 105) pontos, 15 (de 22) assistências , 8 (de 12) roubos de bola e 23 (de 37) chutes de quadra certos e 21 (de 24) lances livres convertidos.

Essa dupla de craques não está nem aí para os minutos jogados por Bonner ou Joseph. Agora, os titulares de Popovich deveriam, sim ter tomado nota. Vamos ver na quinta se haverá qualquer tipo de repercussão diferente da parte deles.

Enquanto isso, San Antonio se prepara, de olho na previsão do tempo:

Possível previsão do tempo tenebrosa para o Spurs

Possível previsão do tempo tenebrosa para o Spurs


Nada que se compare a Ibaka na vitória do Thunder
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Giancarlo Giampietro

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Vamos lá, mais uma vez…

“‘Cause NOOOOOOOTHING compares
Nothing compares 2 U!

Calma, calma.

Não há clima para melodrama, sofrimento nenhum na base 21 aqui nesta manhã de segunda-feira, com o friozinho da zona sul paulistana lá fora. Muito menos em Oklahoma City. Lá o sol vai surgindo cheio de folia, depois do retorno de Serge Ibaka, com todos os retoques heróicos que os torcedores – mais os marketeiros – gostam. E nem dá para ser diferente, neste caso.

Mas que o igualmente histórico vídeo acima corre o risco de virar o clipe oficial da campanha do Thunder nestes playoffs da NBA, ô se corre. Independentemente do destino do time nos próximos dias. Vão virar o jogo contra o Spurs? Perdem na final? Ganham o tão esperado título para a dupla Durant-Wess? Não importa. Vamos todos chutar pedrinhas por aí com essa balada na cabeça, pensando no pivô.

“Se Ibaka jogar nesta série, vou raspar minha cabeça, usar um vestido, adotar um sotaque irlandês e cantar karaokê como Sinead O’Connor.”

Pois foi o que disse Scott Brooks, ainda em San Antonio, num dos blefes mais excêntricos da história da NBA. O técnico tentava de tudo para despistar sobre o possível retorno de seu pivô congolês-espanhol-mutante quando a série retornasse aos confins de Oklahoma. Todo mundo acreditou – menos Gregg Popovich, Tony Parker, Manu Ginóbili, Tim Duncan e o roupeiro do San Antonio.

Mas, que ótimo, né?

Aqui, vamos celebrar sempre quando uma fonte decide quebrar a rotina e mergulhar nas profundezas da cultura pop para dar uns quilates a mais a sua declaração.

Imagine se ele dissesse algo do tipo: “Gente do céu, já falei um milhão de vezes que o Ibaka não joga mais nesta final do Oeste. Chega disso”. Qual seria a graça desse chororô? Se for para chorar, que seja com a Sinead O’Connor.

Fato é que Ibaka se recuperou de seu estiramento na panturrilha – lesão que, segundo os médicos do Thunder, o afastaria do restante dos playoffs. Mesmo mancando em alguns momentos, ele pode ter alterado a série.

Foi o único fator? Claro que não:

1) Os rapazes de OKC notoriamente jogam melhor em casa. Especialmente contra os bandoleiros de San Antonio. Venceram agora os últimos oito confrontos em seu ginásio.

2) Brooks tomou a sábia – e ao mesmo tempo demorada – decisão de tornar seu time mais atlético em quadra. Arrancou Sefolosha e Collison de sua rotação e deu apenas 13 minutinhos para Perk. O experimento só não foi mais radical porque Derek Fisher e Caron Butler seguiram acima de Perry Jones, o Terceiro, na lista do técnico. Não exagera, né? Por mais inteligentes que sejam o ala suíço e o pivô que, ao lado de Durant, é o único remanescente da franquia dos tempos de Seattle, se for para apostar em gente cerebral, a vantagem tende a pender para o outro lado.

Então, com Reggie Jackson entre os titulares e Jeremy Lamb e Steven Adams ganhando mais espaço na segunda unidade, que viesse o caos para quadra, no ataque e, especialmente, na defesa. As linhas de passe ficam mais apertadas, o espaço para bater para a cesta também é reduzido.

Oi, gente, eu me chamo Reggie Jackson e também fui importante na nossa vitória, né? Depois de Sefolosha ter zerado nas duas primeiras partidas, o armador somou 15 pontos e 5 assistências no Jogo 3

Oi, gente, eu me chamo Reggie Jackson e também fui importante na nossa vitória, né? Depois de Sefolosha ter zerado nas duas primeiras partidas, o armador somou 15 pontos e 5 assistências no Jogo 3

De qualquer forma, a influência de Ibaka na partida foi obviamente maior, já pelo que fez num primeiro quarto que não poderia ser escrito nem em contos de fadas. O cara me faz a primeira cesta do time? E vai matando uma atrás da outra? E começa a dar tocos na defesa como se nada tivesse acontecido? Este já fica conhecido como oficialmente como o “O Jogo do Ibaka” nos registros históricos.

Para a autointitulada “Loud City” nem precisa de muito para o ginásio ser tomado pela histeria. Com o pivô aprontando dessas? Era recomendável o uso de protetor auricular. Até as 500 milhas da Indy ficaram mansinhas.

O impacto causado por Ibaka foi emocional inicialmente, mas, com o decorrer do jogo, se tornou ainda mais relevante no tabuleiro tático. Um Ibaka a 70, 80% já é no mínimo cinco vezes mais atlético que seus companheiros de garrafão. É o que se sente em quadra e que vai muito além dos quatro tocos que ele deu em 29 minutos neste Jogo 3, ou dos 2,7 tocos por partida durante a temporada regular (foi o segundo na liga nesse fundamento). Com sua envergadura e mesmo  agoraa limitada mobilidade, o pivô fecha espaços e intimida os adversários.

(Por outro lado, Nick Collison sabe aonde como se posicionar perfeitamente – ano após ano ele está entre os atletas que mais cavam/apanham em faltas de ataque –, mas não é capaz de surpreender um atacante pelo alto. Não vai ser aquele cara a contestar uma cesta quase certa e forçar o erro. O mesmo vale para Perkins. Adams, de 20 anos, vindo da Nova Zelândia, ainda está aprendendo os macetes – embora também tenha feito uma grande partida neste domingo.)

Não é que Ibaka apenas dê tocos e altere a rota de bandejas. Há casos em que seu oponente simplesmente nem vai olhar para a cesta, respeitando demais seus atributos defensivos. E isso vale até mesmo para um armador rápido e maroto como Parker (4-13 nos arremessos, 4 assistências e 4 turnovers), ou para um Tim Duncan (7-17 nos arremessos), com todos os seus anéis, prestígio e fundamentos. Só o Kawhi Leonard que não se importou muito:

Esse foi um caro corte para a cesta que resultou numa cesta fácil para o Spurs (com dois detalhes: talvez só tenha se tornado fácil devido ao arranque explosivo do ala e ao fato de Ibaka não estar 100% – reparem como ele “demora”, segundo seus padrões, para largar Splitter e saltar na cobertura).  O time como um todo terminou o jogo com apenas 39,6% (36-91) nos arremessos, após ter combinado para 53,8% nas duas partidas em casa (91-169). Além disso, cometeu 16 desperdícios de posse de bola, vindo de apenas 9 e 12 em casa.

Esses números têm muito mais a ver com o que aconteceu entre os dois rivais durante a temporada regular, com Ibaka em ação, do que com o que vimos no início do duelo no Texas. Com o congolês-espanhol-mutante, o Thunder segurou o potente ataque de Popovich a 42 pontos no garrafão em média em quatro jogos, com 44% de acerto nos chutes. Sem ele, foram 60 pontos e 54%.

Joga lá para cima, mesmo, Manu, que o Ibaka quer te pegar

Joga lá para cima, mesmo, Manu, que o Ibaka quer te pegar

“A ausência de Serge é muito dura”, afirmou Reggie Jackson antes do Jogo 3. “Você fica até meio preguiçoso ao ter alguém como ele, que apaga tudo, na cobertura, interferindo em um monte de arremessos. Seu corpo começa a dizer algumas coisas: ‘Apenas os direcione no caminho de Serge’.”

Dentre as muitas declarações sobre o terceiro principal jogador do Thunder que li, acho que essa foi a melhor. Há tanta coisa implícita e explícita aqui. Vale destacar, pelo menos, o quão importante é a química que se desenvolve entre os atletas. Algo que você desenvolve com base na repetição diária de treinamentos que definitivamente você não vai reparar em menos de uma semana de treinos nas vésperas de uma final de conferência. A defesa da equipe se comporta de um jeito com Ibaka e de outra forma sem o cara, e não só por causa de sua constituição física assustadora.

Da mesma forma vale para o ataque, no qual marcou 15 pontos, com 6 cestas em 7 tentativas. É inevitável questionar como alguém tão ágil e forte como o pivô não tenha desenvolvido um jogo confiável de costas para a cesta. Acontece que, no ataque de Oklahoma City, todo e qualquer espaço obtido para infiltrações de Westbrook e Durant é bem-vindo. O grandalhão ter desenvolvido o chute de média para longa distância casa perfeitamente com essa proposta.

Nestes playoffs, Ibaka, aliás, tem a melhor média de acerto na média distância, convertendo 51,9%, entre aqueles que tentaram no mínimo 20 arremessos. Durante a temporada, ele matou 46,9% dali, quarto na liga entre os 65 jogadores que arriscaram pelo menos 250 vezes. Bem acima da média. Isto é: essa bola tem de ser respeitada, e a defesa do Spurs que se vire a partir daí – Splitter flutuando mais, em vez de se plantar embaixo da cesta, ou trocas rápidas na jogada de pick-and-pop, ou ajuda vindo da cabeça do garrafão, ou do lado contrário etc.

O Retorno de Ibaka

O Retorno de Ibaka

Claro, se Ibaka for jogar a próxima partida. Dessa vez o intervalo para recuperação é mais curto. Terça-feira já está aí – o que faz dos minutos a mais que ele jogou no domingo um tanto alarmantes: assim que Popovich limpou seu banco e voltou com Bonner, Ayres e Baynes, era o caso de Brooks ter sacado na hora seu pivô, mesmo que ainda restassem mais de cinco minutos.

Agora voltam as perguntas: será que joga? Será que joga e de modo efetivo?

Oklahoma City inteira vai cruzar os dedos em pensamento positivo. Todos eles cantando numa serenata que só para seu pivô: “Nada se compara a você”.


Personagens dos playoffs: Splitter reage
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Giancarlo Giampietro

Tiago Splitter x LaMarcus Aldridge

Tiago Splitter já sabia o que vinha pela frente, mas estava preparado. Depois de lidar com Dirk Nowitzki por sete partidas, era hora de se virar com LaMarcus Aldridge. “Acho que LaMarcus é um Dirk mais jovem, que pode arremessar, infiltrar, jogar no garrafão e fazer muitas coisas. Não será fácil”, afirmou, antes de a semifinal da Conferência Oeste começar.

Difícil, mesmo, foi a vida do líder do Portland Trail Blazers nesta quinta-feira. No geral, também com a contribuição de Tim Duncan, o cestinha viveu uma jornada infernal, matando apenas 6 de seus 23 arremessos de quadra. Dentro desses números, 14 chutes foram contabilizados sob a vigilância do catarinense, dos quais ele acertou apenas dois. Os 14% de acerto valeram como o segundo pior de sua carreira, com um mínimo de dez chutes computados.

Não é questão de patriotada, vocês sabem. Mas, após destacar o que Nenê fez contra o Chicago Bulls, chegou a hora de também dar o devido espaço para o catarinense. Com a cabeça fria e competência, vai dando conta do recado, mostrando que os US$ 36 milhões que o San Antonio Spurs comprometeu em lhe pagar por quatro temporadas fazem sentido. Justamente contra um dos times que tentou convencê-lo a deixar o Texas no ano passado, quando o pivô se tornou agente livre, semanas depois de ter pouco sido utilizado na histórica final contra o Miami Heat.

Splitter poderia estar jogando ao lado de LaMarcus, e não contra

Splitter poderia estar jogando ao lado de LaMarcus, e não contra

“Você se sente bem que alguns times o queiram, e às vezes você até mesmo sente que seria legal tentar algo novo. Você fica com aquela dúvida na cabeça”, disse ao San Antonio Express-News o jogador que teve sondagens firmes do Blazers e do Atlanta Hawks. “Mas eu realmente queria continuar. Essa era a minha primeira opção. Quando tive a chance, abracei. O Spurs fez uma oferta que gostei e é ótima para mim e minha família. Não poderia dizer não.”

Que o Spurs tenha valorizado suas contribuições só poderia contar para recuperar um pouco de sua confiança, especialmente depois de ter jogado apenas 12min30s nos últimos dois jogos contra o Heat na decisão. Praticamente como se ele tivesse jogado apenas um período de oito possíveis.  “Isso sempre vai ficar na cabeça. Não tem como tirar. O que dá para fazer é seguir em frente e pensar apenas na próxima temporada”, disse na ocasião da extensão de seu vínculo com a franquia.

Para quem acompanha à distância, é difícil entender como alguém que tem médias de apenas 19,8 minutos na carreira, com 8,3 pontos e 5,3 rebotes, pode valer essa bolada toda. Ainda mais quando, no ano primeiro ano de seu volumoso contrato, ele regrediu estatisticamente tanto do ponto de vista das métricas avançadas como em produção por minuto. Por causa disso – ou talvez explicando isso, vai saber -, viu seu tempo de quadra se reduzir, depois de ter ganhado  espaço com Gregg Popovich nas suas três primeiras temporadas em sequência. As críticas viriam, naturalmente.

Nos mata-matas, porém, o valor de Splitter fica mais explícito. Numericamente, em nove partidas até esta sexta-feira, ele tem a maior média de minutos de sua carreira, em qualquer fase, com 28,1 por jornada, bem acima dos playoffs de 2013.  Em uma projeção por 36 minutos, sustentaria um double-double de 12,8 pontos e 11,1 rebotes, com presença marcante nas tábuas ofensiva e defensiva. Mas nada no basquete se resume apenas a números.

Contra o Mavs, ele foi o defensor primário de Dirk Nowitzki, que ficou limitado ao seu pior aproveitamento de quadra desde 2007, acertando somente 42,9% de suas tentativas de cesta. Obviamente os méritos não são exclusivos do brasileiro, com um rodízio de defensores e um sistema para atrapalhar o craque. Mas seu papel neste desarranjo do alemão foi inegável, algo que o leitor TristaSP, que tem a insustentável paciência de aturar esse blogueiro, mencionou no ato.

Tal como Duncan, Splitter, menos comprido e mais baixo, diga-se, é um defensor impertinente à base de fundamentos. Não há dúvidas que o pivô é alguém extremamente coordenado e com boa mobilidade para alguém de seu tamanho – basta comparar seus movimentos com os de Robin Lopez, por exemplo. Mas há uma distância considerável em termos atléticos com a elite da classe. Contra um Miami Heat “pequeno” e explosivo, isso pode pesar. Em geral, no entanto, contra as fortes duplas de garrafão do Oeste, suas habilidades fazem a diferença.  Ele dificilmente se deixa iludir com as fintas de seus oponentes, pois quase nunca vai tentar aquele toco espetacular – uma vez que não é o maior saltador da paróquia. Isso não o impede de se colocar entre os melhores defensores diante do aro na temporada regular. Também é difícil ver o catarinense deixar seu posicionamento em busca de uma recuperação de bola, atacando a linha de passes. Dentre todas as suas qualidades, a maior talvez seja a consciência daquilo que é e pode realizar em quadra (já recomendei este link do site Pounding the Rock, inteiramente dedicado ao Spurs, mas não custa sugerir outra vez).

Testemunhar o trabalho do brasileiro no mano a mano com LaMarcus é relativamente fácil. (Quer dizer, que fique claro: fácil para nós observarmos, mas de modo algum uma tarefa de tranquila execução). Terry Stotts desenha jogadas simples para que seu pivô fique isolado num canto da quadra, com mais liberdade para desenvolver seus movimentos, driblando sem se preocupar com a chegada repentina de um marcador extra. No início do quarto período, diante de Boris Diaw, estava funcionando. Popovich convocou Splitter de imediato, e a farra acabou. Nesse ponto, a capacidade de Tiago de minimizar o impacto de seu oponente sem, por enquanto, precisar da marcação dupla, é essencial para o equilíbrio defensivo do Spurs, mantendo os ótimos arremessadores do perímetros mais contidos.

Agora, por outro lado, há muito mais que Tiago possa oferecer em quadra para minar os adversários. Como, por exemplo, os corta-luzes que arma do outro lado da quadra. Algo que não só livra seus companheiros para chutes com mínima liberdade, mas também atormenta e atordoa aqueles que sofrem o impacto. “Os bloqueios deles machucam. Eles fazem bloqueios de verdade, um grande trabalho em preparar e conter nos bloqueios”, afirma o armador Damian Lillard. “Isso te desgasta muito. Perseguir Tony Parker é uma coisa. Ser acertado toda santa vez, tentando fazer isso, é outra. Tira muito de você.”

No ataque, ele também serve como uma excelente válvula de escape para tramas em pick and roll com Tony Parker e Manu Ginóbili, devido a sua inteligência para se posicionar sempre como uma ameaça no corte para a cesta, em ângulos favoráveis para a recepção de passes, atraindo a defesa. “Acho que minha conexão com Tony e Manu nos momentos quando Tim está fora de quadra ajuda muito a equipe a encontrar espaço para nossos chutadores, partindo para a cesta ou fazendo o bloqueio. É uma parte de nosso jogo, e a usamos muito bem na temporada passada.”

Essas intangíveis todas aparecem como itens silenciosos, discretos no contrato oferecido pelo Spurs. São detalhes como esse que justificam o salário de US$ 9 milhões anuais para Splitter. “Tiago é um defensor muito bom no garrafão. Ele também é bom na defesa de pick-and-roll e, se formos falar em ataque, ele joga realmente muito bem com as pessoas que temos e é um ótimo passador para a sua posição”, avaliou RC Buford, gerente geral do clube, o executivo do ano da liga.

Detalhes que obviamente não passaram despercebidos pelo gerente geral do Blazers, Neil Olshey, um caça-talentos de respeito, que ajudou a construir o atual timaço do Clippers e trouxe estabilidade a uma franquia de bastidores um tanto delicados como o Blazers (gerida pelo bilionário Paul Allen, um gênio dos negócios, mas por vezes intempestivo e cheio de cupinchas que podem interferir em decisões de basquete para a qual não estão exatamente preparados).

Antes de ser agraciado com a bizarra concessão de Robin Lopez pelo Pelicans, que tinha a intenção de limpar sua folha de pagamento desperadamente para assinar com Tyreke Evans, o dirigente – e ex-ator (!?!) – estava empenhado em investir no catarinense. Acontece que, assim como havia ocorrido em 2012 com Roy Hibbert e o Indiana Pacers, o Spurs nem permitiu que as conversas fossem adiante. Souberam do quanto o clube do Oregon estava disposto a pagar e já bateram o martelo. Não houve dramalhão nenhum, do jeito que Popovich gosta.

Lopez se encaixou perfeitamente no Blazers, é verdade, trombando com gente mais graúda, dando a LaMarcus o respiro necessário. Nesta série contra o Spurs, porém, na hora de avaliar os jogos nos seus pormenores, talvez seja inevitável para Stotts & Cia. se perder num breve devaneio sobre como seriam as coisas caso tivessem roubado Splitter para o seu lado.


Personagens dos playoffs: Vince Carter
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Giancarlo Giampietro

Vince Carter, herói das masas e de Nowitzki

Vince Carter, herói das masas – e de Dirk Nowitzki. É isso aí

Quem se lembra de quando havia gente doida o bastante para dizer que o Dirk Nowitzki nem era tudo aquilo que se falava, que ele nunca vencia nada que prestasse, que era apenas um bom arremessador, mas um fracote para triunfar na NBA? Mais um desses euros molengas, que não aguentava o tranco, e tal. Seu jogo só servia para a temporada regular. Na hora do vamovê, tirava da reta, afinava.

Estamos falando aqui dos idos de 2008, mais ou menos, e o alemão ainda não havia conquistado seu anel de campeão, derrubando LeBron James e a cambada de South Beach nas finais. De fato uma loucura. Mas o supercraque ao menos conseguiu assumir o controle da situação, ditando, com talento e, ufa, resultados, qual a percepção em torno de sua carreira, se é que um dia ele vai parar de jogar. Dá para imaginar Nowitzki girando, devagar quase parando, aos 50 anos, atirando a bola bem lá pro alto, e o arco terminando num chuá daqueles.

Agora, e quem se recorda dos tempos em que Vince Carter era o futuro da NBA? O tanto de pôsteres “Vinsanity impressos com cravadas inigualáveis, como aquelas de sua inesquecível exibição no torneio de enterradas de 2000, ou mesmo aquela mais absurda (de todos os tempos) sobre o pobre Fredereic Weiss nos Jogos Olímpicos de Sydney, no mesmo ano. Sem contar os diversos NBA Actions que terminaram com suas jogadas que realmente testavam as mais conservadoras leis da física. Sim, aí voltamos no tempo um pouco mais, mesmo, no início da década passada, quando ainda era possível ter a dúvida sobre quem teria a melhor carreira: Vince ou Kobe.

Dunk of Death, Carter, Weiss

Muita coisa também correu por baixo da ponte desde então. Muuuuuita coisa, neste caso. Carter foi de cidadão honorário a figura mais odiada em Toronto, onde até hoje é vaiado – especialmente por ter forçado sua troca, sabotando por completo seu valor, a ponto de o (incompetente, é verdade) Rob Babcock tê-lo repassado por um pacote de Eric Williams, Aaron Williams, um veteranaço Alonzo Mourning, que se recusou a jogar por lá, e duas escolhas de primeira rodada que viriam a ser Joey Graham e Renaldo Balkman (este para o Knicks). Bateu de frente com Jason Kidd em New Jersey. Não ajudou o Orlando Magic a segurar Dwight Howard. Não foi contagiado pela mágica de Steve Nash em Phoenix. Não, não e mais não. Varou os 30 anos como uma pálida lembrança de alguém que já havia sido extremamente relevante para o marketing da liga. até ser dispensado pelo Suns aos 34. Sim, para diversos críticos (oi!), era o fim.

Agora, no caldeirão que Rick Carlisle remexe e prepara com gosto, tudo parece ter um jeito, uma função. Carter foi mais uma contratação-tampão de Mark Cuban em 2011, depois de o proprietário ter implodido o time campeão, para desespero de Nowitzki. A ideia era adicionar veteranos produtivos, seguir em frente com um elenco minimamente competitivo, até que pudessem dar mais uma grande tacada no mercado – algo que não aconteceu exatamente, por mais que Monta Ellis esteja disputando sua melhor temporada. Nessa toada no ritmo de nós-trupica-mas-não-cai, Carter encontrou um novo nicho. Sem muita pressão, firmou-se na rotação, como um sólido chutador para espaçar a quadra ou assumindo mais responsabilidade quando Dirk está descansando, sem contar o fato de também ter se apresentado surpreendentemente como um valente marcador na primeira linha defensiva. Passou a se sentir tão bem que, ciente do final iminente de seu contrato, afirma já ter feito o suficiente pelo clube para merecer uma renovação. Aos 37 anos.

Depois da sensacional cesta da vitória contra o San Antonio Spurs neste sábado, Cuban vai ter de apelar realmente ao pragmatismo se quiser abrir mão do ala. Não custa rever o lance (até o momento em que o dono do clube invade a quadra para abraçá-lo):

Manu Ginóbili sofreu um leve empurrão e deixou o ala escapar por um instante, o suficiente para que seu oponente pudesse receber o passe. Mas o argentino se recuperou rapidamente e o pressionou no canto da quadra. Carter se contorceu e acertou um arremesso extremamente complicado. Valendo o jogo, a liderança da série. Justo ele, que ganhou, justo ou não, a fama de um dos grandes amarelões durante a década.”Às vezes você erra um arremesso importante, como em 2001, e você tem de liidar com isso por um tempo até receber a oportunidade novamente”, disse o ala, em referência ao chute em que errou em duelo com o Philadelphia 76ers de Allen Iverson nos playoffs de 13 anos atrás, pela semifinais do leste. Naquela ocasião, o ala viajou para a Carolina da Norte para participar de sua cerimônia de formatura durante a série, numa decisão que gerou muita polêmica e o perseguiu, basicamente, para sempre.

Com o jogo na linha, Carlisle não pensou em nada disso. “Ele me disse: ‘Ei, você vai receber a bola e vai matá-la’. Eu disse: ‘OK, sem problema’. Na minha cabeça, eu já havia feito o arremesso antes mesmo de a jogada acontecer. Fico feliz que tenha dado certo”, afirmou o atleta, sem tanta empolgação assim para alguém que havia acabado de voltar ao grande palco da liga, num momento crucial para sua equipe. Gato escaldado, claro. Mas vivo, em busca da redenção que Nowitzki já teve.

* * *

 Aqui, uma compilação de 100 (!?) enterradas de Carter no auge. Imaginem se o YouTube e o Twitter estivessem vivos na época. Blake Griffin não teria chances, convenhamos:

*  *  *

Seguem duas fotos do lance capital do terceiro jogo da série contra o Spurs, com o Mavs na frente por 2 a 1. Para mim, ainda mais espetaculares que o vídeo, com destaque para a segunda (o calcanhar quase mordiscando a linha e Manu saltando feito um louco):

Vince Carter x Manu Ginóbili, jogo 3, Mavs x Spurs

Mavs vs Spurs, Carter, clutch, Game 3 win

*  *  *

Por fim, o gráfico de aproveitamento de arremessos de Carter durante a temporada. Na quina esquerda da quadra, justamente o seu ponto preferido:

Vince Carter shot chart, 2013-2014


Vida nova: 5 jogadores que tentam salvar a carreira na NBA
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Giancarlo Giampietro

Xavier Henry, decolando pelo Lakers

Xavier Henry, decolando pelo Lakers

O esporte, assim como a vida, está rodeado de surpresas agradáveis, sim. Mas, ao mesmo tempo, decepção é o que não falta.

(Chorei.)

No jogo jogado, são diversos os atletas em quem se pode apostar uma fortuna, fazer planos grandiosos  e ver toda essa grana ir ralo abaixo. Por vezes, é questão de azar: uma lesão grave e precoce, por exemplo. Más influências externas também podem atrapalhar muito. A falta de personalidade para fazer valer o talento. Um técnico cabeça-dura e rancoroso. A simples avaliação errada de um departamento de scouts. E mais e mais fatores podem determinar uma aposta furada.

Mas qual é o momento exato para definir que uma determinada história deu errada? Até quando os dirigentes, treinadores, torcedores e analistas devem esperar para dar uma carreira como “acabada”? No Brasil, somos especialmente bons nisso. A facilidade que temos para julgar alguém como “lixo” é incrível. Muitas vezes sem saber nem quatro linhas sobre a vida ou o contexto em torno de um atleta qualquer.

Agora brecamos o negativismo por aqui, sem se apegar tanto a amarguras da vida, tá? Afinal, é final de ano, hora de erguer a cabeça, estufar o peito. Simbora.

Então, assim bruscamente, vamos virar o disco. Quer dizer, vamos identificar algumas das boas e surpreendentes histórias do início de temporada da NBA. Uma turma que vai usando os primeiros meses do campeonato para tentar prolongar suas carreiras:

Xavier Henry, ala do Lakers
O pai de Xavier jogava na Bégica. A mãe integrou a equipe feminina da universidade de Kansas. Seu irmão mais velho foi escolhido na primeira rodada do Draft de 2005 – na MLB. Quer dizer: o DNA estava ali, pronto para ser explorado. E não teve jeito: o garoto seguiu a trilha de esportista, com destaque desde cedo. Foi um dos destaques de sua geração no colegial, sendo eleito para jogar o McDonald’s All American, o Nike Hoops Summit (do qual foi o cestinha americano) e o Jordan Brand Classic. Badaladíssimo.

Xavier, astro colegial

Xavier, astro colegial

Depois de se inscrever na Universidade de Memphis, voltou atrás e seguiu a trilha da mãe e passou seu primeiro e único ano de NCAA jogando pelos Jayhawks. Na estreia, anotou 27 pontos e estabeleceu um recorde pela tradicional universidade. Tudo seguia de acordo com o plano, até ser selecionado pelo Memphis Grizzlies em 12º no Draft de 2010. Em suas primeiras semanas com Lionel Hollins, agradou o bastante para ser promovido a titular por 11 partidas. Aos poucos, porém, começou a sentir dores crônicas no joelho e, de janeiro em diante, foi escalado em apenas 10 jogos. Na segunda temporada, foi a vez de ele sofrer uma torção e ruptura de tendão no tornozelo.

Jogado de canto num time com aspiração de ir longe nos playoffs,  foi envolvido em uma troca tripla no dia 4 de janeiro por Marreese Speights (que seria um taa-buraco devido a lesões de Zach Randolph e Darrell Arthur), indo parar no New Orleans Hornets. Em sua nova equipe, nunca chegou a empolgar. Não passou dos 17 minutos por jogo em duas campanhas – teve médias no geral de 14,6 minutos e meros 4,3 pontos, acertando apenas 40,1% dos arremessos. Foi dispensado.

Talvez seja justo afirmar que, quando assinou um contrato  sem garantias com o Lakers para a atual temporada, ninguém deu bola. Até que, na pré-temporada, começou a fazer barulho e conseguiu passar pelos cortes para compor o elenco de um time que precisava de ajuda desesperadamente no perímetro, enquanto Kobe não voltava.

Ok, o ala vem com uma produção inconsistente, não é que esteja incendiando a cidade, mas ao menos seus espasmos indicam que talvez seja muito cedo ainda para que seja descartado. Só tem 22 anos.

(PS: Jonathan Abrams contou tudo com mais detalhe no Grantland esta semana).

Jordan Crawford, ala-armador do Boston Celtics
Crawford não era tão cobiçado assim quando adolescente e, para piorar, ainda perdeu todo o seu último ano de colegial devido a uma lesão de tornozelo. Ainda assim, fez o suficiente em Detroit para atrair algumas universidades, optando por se inscrever na tradicional equipe de Indiana, pela jogou por um ano (2007-2008).

Jordan Crawford, o armador

Jordan Crawford, o armador

Depois que o técnico Kelvin Sampson foi afastado, no entanto, transferiu-se para Xavier e teve de ficar uma temporada de molho por violar alguns dos mais diversos códigos que a NCAA impõe. Ainda assim, o cestinha conseguiu aquele que talvez seja o mais comentado lance de sua carreira, em 2009, quando enterrou na cara de LeBron James durante um coletivo em um camp organizado pelo próprio atleta (ou pela Nike em seu nome, digamos).

Quando voltou para as quadras para valer, arrebentou pelos Musketeers, com média de 20,5 pontos por jogo e 39,1% nos três pontos. Bastou para lhe garantir a 27ª colocação no Draft de 2010, o mesmo de Henry, para o Atlanta Hawks. Lá, ele arrumou uma confusão danada para os mais desatentos que fossem conferir as tabelas de estatísticas do time, uma vez que suas credenciais se misturavam com as de Jamal Crawford. Waka-waka-waka.

Mas esse foi basicamente o único destaque de sua passagem por Atlanta, mesmo, uma vez que foi repassado para o Washington Wizards ainda como um novato. Na capital americana, não demorou para deixar seu talento evidente (um pontuador criativo a partir do drible), ao mesmo tempo em que foi devidamente posicionado na turma dos cabeças-de-vento JaVale McGee e Andray Blatche como uma figura que não ajudava em nada na química no vestiário.

Em dois anos e meio pelo Wizards, por vezes substituindo John Wall na armação, ele conseguiu dois triple-doubles e algumas noites incríveis de cestinha, com quando 39 pontos contra o Miami Heat. Mas nunca chegou nem a 42% no aproveitamento de quadra e tirou muitos companheiros (e técnicos e torcedores) do sério com seu “apetite” pela bola. Em fevereiro deste ano, foi chutado fora da cidade e acolhido pelo Boston Celtics, em troca de um lesionado Leandrinho. Para ver a moral que tinha.

Num time em derrocada física, não ajudou muito nos playoffs. Mas eis que, nesta campanha, em meio a um time de renegados ou desprestigiados, Crawford encontrou a Luz. Ou Brad Stevens, no caso, que o transformou num armador competente, enquanto não termina a reabilitação de Rajon Rondo. O técnico novato guia o a talentoso jogador em sua temporada mais eficiente na liga, e de longe, na qual, não por acaso, é a que está mais passando a bola.

Ao Zach Lowe, do Grantland, Stevens jura que não teve uma conversa do tipo “venha-conhecer-jesus” – e foi esta a pergunta de jornalista, de me matar de rir.

“A única coisa que eu queria ter certeza era de que ele sabia do meu ponto de vista: que era um novo começo e que acreditamos nele”, afirmou. “Eu já tinha visto ele ser quase impossível de se parar na faculdade, em um jogo que eu treinei contra ele. Eu sabia que ele era um cestinha implacável. A outra coisa que eu sabia era que ele não está com medo em momento algum. Mesmo no Torneio da NCAA, numa atmosfera tensa daquelas, e isso pede muito colhão.”

E o que saiu daí? Simplesmente que o Miami Heat está interessado em seus serviços.

DeMarre Carroll, ala-pivô do Atlanta Hawks
“Junkyard Dog”.

Algo como “Cachorro de Ferro-Velho”. Bravo, salivando para dar umas boas dentadas em quem ousar escalar e saltar a grade. Se cuida aí, mermão!

(Associo sempre esse tipo de cão ao doberman, que anda sumido de nosso ecossistema. Sem preconceito, ok.)

Bem, era esse o apelido de Carroll em seus tempos de universitário, especialmente quando ele jogava sob a orientação de seu tio, Mike Anderson, em Missouri – depois de duas temporadas por Vanderbilt.

Criado no Alabama, o ala-pivô não despertava tanta atenção assim dos olheiros, mas conseguiu bolsa-atleta  um universidades grandes – embora não necessariamente de ponta, esportivamente falando. Pelos Tigers, teve seu grande momento ao liderar uma campanha rumo às quartas de final do Torneio da NCAA.

Foi quase uma dádiva para um garoto que havia recebido uma notícia para lá de preocupante um ano antes. Incomodado com uma persistente coceira nas pernas, Carroll procurou dermatologistas para saber se tinha alguma espécie de alergia. Depois de muita investigação, acabou constatado algo bem mais grave: uma doença no fígado. Pior: uma doença no fígado que muito provavelmente exigiria um transplante no futuro.

DeMarre ignora doença e arrepia na NBA. Sobra até para Splitter

DeMarre ignora doença e arrepia na NBA. Sobra até para Splitter

A doença foi mantida sob sigilo por um bom tempo – segundo os médicos, era algo que não afetaria sua carreira. Ele poderia jogar o quanto quisesse e cuidar do órgão depois. Acontece que, após sua grande campanha nos mata-matas universitários, durante os treinos privados pré-Draft, o segredo acabou revelado. Por mais que tentasse amenizar a notícia, viu sua cotação cair. Não era o fim do mundo, contudo. Acabou escolhido pelo Memphis Grizzlies em 27º.

Aos 23 anos – mais velho que o calouro regular destes tempos –, estaria pronto para ajudar na rotação de Lionel Hollins, antes da chegada de Xavier Henry. Ou não. Mesmo num elenco jovem, em formação, na lista dos minutos distribuídos pelo técnico, foi apenas o nono mais utilizado.

Na temporada seguinte, foi trocado para o Houston Rockets, que devolveu Shane Battier ao time do Tennessee. Menos de um mês depois, em abril, foi dispensado. Só voltou no campeonato seguinte, defendendo o Denver Nuggets. Ficou no clube de dezembro a fevereiro, quando foi novamente mandado para o olho da rua, tendo participado de apenas quatro partidas.

De qualquer forma, a recuperação estava por vir. Foi contratado prontamente pelo Utah Jazz, encontrando espaço no banco de reservas do time, fazendo aquilo que mais sabe: correr pela quadra toda, enchouriçar a vida de quem estiver driblando nas redondezas, lutar por rebotes. O serviço sujo. Mesmo sem Deron Williams, o time deu um jeito de se intrometer entre os oito classificados aos playoffs do Oeste.

Depois de mais um ano de contrato pelo Utah Jazz, foi recompensado nesta temporada com uma proposta de certa forma surpreendente – mais de US$ 7 milhões por três anos. E, sim, para quem interessar possa, um valente como Carroll já garantiu US$ 12 milhões na carreira, no mínimo.

“Eu sou o junkyard dog e você realmente não pode tirar isso de mim”, orgulha-se.

James Anderson, ex-Popovich

James Anderson, ex-Popovich

James Anderson, ala do Philadelphia 76ers
Quase todo o elenco do Sixers podia estar listado aqui, na verdade. É o time com mais refugos desde a montagem do Charlotte Bobcats em seu draft de expansão. Mas vamos com este, ao menos por enquanto.

(Além do mais, com um nome tão comum como esses, é um caso perfeito para esta lista, não? Numa liga dominada por LeBrons, Kobes, Dwyanes e Carmelos, fica difícil prosperar como “James Anderson”. Para piorar, ele não consegue ser nem mesmo o “J.A.” mais bem ranqueado na pesquisa do Google, perdendo para um jogador de críquete qualquer homônimo.

Mas, então, sobre o ala Anderson: aqui estamos falando de mais um “McDonald’s All-American”, vindo do Arkansas. Em seu primeiro jogo de NCAA, por Oklahoma State, marcou logo 29 pontos. No segundo ano pela equipe, teve média de 18,3 pontos e foi chamado para a Universíade. Ao final da terceira temporada, com 22,3 pontos, foi eleito o jogador do ano da conferência Big 12.

Estava pronto, então, para entrar na NBA, sendo selecionado pelo San Antonio Spurs em 20­º. E aí que ele se tornou um raro caso de jovem jogador que não evoluiu sob a tutela de Gregg Popovich no Texas. Se, por um lado, teve um pouco de azar com lesões na temporada de novato, por outro ousou reclamar do técnico por não receber os minutos que achava justo ter nos campeonatos seguintes. Aiaiai. Vagou pelo Austin Toros, a filial de desenvolvimento do clube, sem causar sensação alguma e simplesmente não teve seu contrato estendido. O Coach Pop simplesmente desistiu do atleta em dois anos. A partir daí, passaria um bom tempo na estrada viajando de um lugar para outro.

Anderson tentou, então, um emprego com Danny Ferry no Atlanta Hawks, mas não foi aprovado. Foi inscrito na D-League novamente, pelo Rio Grande Valley Vipers, a filial do Houston Rockets. Foi chamado novamente pelo Spurs para cobrir um período de lesão de Stephen Jackson. Voltou para o Vipers, mas foi promovido de imediato para o Rockets, pelo qual disputou apenas dez partidas.

Na hora de escolher os chutadores que rodeariam James Harden e Dwight Howard em quadra, porém, Daryl Morey preferiu outras opções e foi mais um a dispensar Anderson. E aí Sam Hinkie, ex-braço direito de Morey, o recolheu de imediato na lista de waiver.  Em Philadelphia ele também reencontraria o técnico Brett Brown, ex-assistente do Spurs. Ufa.

“Esta é definitivamente uma grande oportunidade para mim. Sinto que esta é o melhor chance que tive até agora. Definitivamente quero aproveitá-la”, afirma Anderson, que começou a temporada como titular nas alas. Ok, agora está saindo do banco, mas jogando mais de 20 minutos por partida, com média de 10,9 pontos e aproveitamento de 47,7% nos arremessos neste mês. Aos 24 anos, ele enfim conseguiu um pouco de estabilidade.

“Ele se encaixa com nosso estilo com suas habilidades para correr na quadra”, disse Brown. “Ele tem um temperamento calmo. Sabe, talvez ele apenas esteja em uma fase de sua carreira em que vai aproveitar e seguir adiante. Talvez eu e nosso clube estejamos pegando James Anderson no momento certo de sua carreira.”

Josh McRoberts, ala-pivô do Charlotte Bobcats
Era 2005, numa época em que a NBA ainda permitia que os colegiais entrassem direto na liga, sem precisar passar pela hipocrisia do mundo da NCAA. De sua geração, Monta Ellis, Lou Williams, Martell Webster, Gerald Green, CJ Miles, Amir Johnson e Andrew Bynum, todos McDonald’s All-Americans, aproveitaram a brecha e se declararam para o Draft. McBob, considerado o ala-pivô mais promissor do país na categoria, optou por jogar em Duke antes de ganhar seus milhões.

Daí que… Podemos dizer que ele foi uma das maiores frustrações no reinado do Coach K. O potencial atlético do jogador sempre foi evidente, assim como sua versatilidade, preenchendo a tabela de estatísticas. Mas ainda havia muito o que trabalhar em seu jogo, como o físico, a consistência e fundamentos (rebote nunca foi o seu forte, por exemplo, a despeito de sua altura, impulsão e agilidade).

Os scouts começaram a se cansar do cara, a garotada em Duke também, e McBob resolveu sair ao final da segunda temporada. No fim, não fez uma coisa (entrar cedo, após o colegial, com base na aposta em seu talento natural), nem outra (ir para a faculdade para desenvolver seu jogo e se candidatar como um prospecto refinado). Resultado: despencou até a 37ª posição do Draft de 2007, via Portland Trail Blazers.

Na Rip City, o ala-pivô foi o jogador que menos minutos recebeu de Nate McMillan: apenas 28. No ano todo!  Bem, em 2008 acabou trocado para o Indiana Pacers, voltando para sua cidade natal com a benção de Larry Bird. Demorou dois anos, mas na temporada 2010-11, enfim, ele virou um jogador de NBA de verdade, com 22,2 minutos por partida, dividindo posição com Tyler Hansbrough, enquanto David West não chegava.

Como agente livre em 2011, assinou com o Los Angeles Lakers – a ideia dos Busses era combiná-lo com Troy Murphy para tentar suprir a ausência de Lamar Odom. Não deu tão certo assim, e na temporada seguinte ele acabou envolvido na supertroca que levou um suposto superpivô que marcaria história no time. “Isso não me incomoda. Não é que eles me trocaram por uma máquina qualquer ou algo assim. Eles me trocaram por um dos melhores jogadores da liga”, afirmou.

McBob, com visual e tudo para agradar Michael Jordan

McBob, com visual e tudo para agradar Michael Jordan

Em Orlando, McBob nem bem arrumou as malas  e já teve de se mudar para Charlotte, aos 25 anos.  “Estava em uma situação horrível em Orlando, onde eles só queriam me ver fora dali. Eles queriam jogadores jovens e contratos expirando. Em Los Angeles, também não estava muito bem, mas isso não é culpa de ninguém. Foi apenas o jeito como as coisas evoluíram para os agentes livres depois do locaute”, disse.

E foi pelo Bobcats que se encontrou.  Embora continue mal nos rebotes, vem com o melhor índice defensivo de sua carreira. Mas o que chama mais a atenção, mesmo, é sua média de 4,3 assistências por jogo, tecnicamente empatado com o armador Kemba Walker no fundamento. Além disso, ele é o segundo que mais cestas de três fez na temporada, atrás também de Walker.

“Tem sido ótimo para mim até aqui, em termos de ganhar uma oportunidade de jogar na minha posição. Você não quer nunca se acostumar em quicar de um lado para o outro. Este é meu sexto ano e já vi tanta coisa. Agora só quero ficar em um lugar em que eu tenha a oportunidade de ajudar e, tomara, vencer algumas partidas”, disse o ala-pivô.

No que depender Michael Jordan, de Charlotte ele não sai: “Espero que ele não exerça sua cláusula contratual. Temos de fazer de tudo para manté-lo”, disse o proprietário da franquia.

Menções honrosas: Gerald Green em Phoenix, Michael Beasley em Miami, Andray Blatche no Brooklyn, Wesley Johnson em Los Angeles e Lance Stephenson em Indiana. Quem mais?


15 times, 15 comentários sobre o Oeste da NBA
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Giancarlo Giampietro

Spurs x Blazers

O Blazers cria ainda mais confusão no Oeste Selvagem da NBA

A série começou ontem, com o tenebroso Leste. Agora falamos dos primos ricos.

Antes de passar por cada franquia, em castas, é mandatória a mesma menção de ontem: sobre o quão patética vem sendo a porção oriental da liga norte-americana, com apenas três times acima da marca de 50% de aproveitamento, enquanto, do lado ocidental,  apenas quatro estão no lado negativo. Isso muda tudo na hora de avaliar o quão bem um time está jogando ou não num panorama geral. Ter de enfrentar Sixers, Magic, Bucks e… (!?) Nets e Knicks mais vezes do que Warriors, Wolves, Grizzlies e… (!?) Suns ajuda muito para inflar os números de sua campanha. É como se fosse um imenso ***ASTERISCO***.

Os dois ainda no topo, ainda que em segundo e terceiro
Pela consistência que apresentam nas últimas duas temporadas, ainda me sinto obrigado a separar as duas franquias, mesmo que estejam, na manhã desta quarta-feira, atrás do Portland Trail Blazers na tabela.

San Antonio Spurs: pode muito bem ainda haver resquícios de um trauma psicológico daqueles. É quase inevitável. Mas a fase de ressaca, ressaaaaca, mesmo, das brabas, se encerrou em algum ponto das férias. Porque o Spurs de Gregg Popovich simplesmente não vai parar de vencer, mesmo que Tim Duncan venha devagar desta vez, depois de uma temporada na qual ele desafiou qualquer noção que tenhamos sobre esse processo chamado envelhecimento. Sério: desde 1997, o time não sabe o que é terminar um campeonato com aproveitamento abaixo de 64,6% (!!!). Custa acreditar? Confiram esta lista aqui. Então, se alguém um dia falar em “padrão de excelência” para você, pense no que é o time de Duncan, Pop, Parker e Manu, como a comparação ideal. Neste ano, a turma de Tiago Splitter está no top 4 de melhores defesas (2ª, atrás do Pacers, que não conta mais) e ataques (4º, atrás de Portland, Miami e Houston). E-qui-lí-brio.

Oklahoma City Thunder: Nada mudou muito por aqui, gente. Eles ainda têm dois dos dez melhores jogadores da liga, que podem decidir as coisas no ataque quando bem entendem e um conjunto muito atlético para fechar seu garrafão e sustentar a quinta defesa mais eficiente do campeonato. Esses são dados bons o bastante para colocá-los na briga com qualquer cachorro grande. Mas a má notícia é que… Bem, até quando Scott Brooks vai depender tanto dos talentos individuais de seus dois cestinhas? No geral, o Thunder é apenas o 17º time que mais distribui assistências na liga. Dos favoritos ao título, só o Indiana Pacers está abaixo (em 21º, com uma dependência de Paul George, sim, mas também com jogadas mais tradicionais de costas para a cesta com Roy Hibbert, o que desacelera as coisas). O que isso significa? Enquanto depender das jogadas de isolamento para Durant ou Wess, Brooks está esperando que os dois se desenvolvam e elevem o ataque por conta própria. É possível, claro – ninguém pode julgar Durant como um cara acomodado, e cara já está num nível tão alto que simplesmente não tem muito o que se melhorar. A não ser, claro, que esperemos que ele acerte 75% de seus arremessos de quadra. Fora isso, contata-se  a notável evolução de Reggie Jackson como o terceiro cestinha do time – uma das consequências da lesão de Russell Westbrook. Jeremy Lamb e Perry Jones III também estão caminhando, mas ainda falta muito para que sejam confiáveis sob pressão. Ah, e o Steven Adams, com seu jogo enérgico, físico e atrevido, já está no top 5 de inimigos públicos. Vindo da Nova Zelândia, sendo um novato, é um feito e tanto.

Chumbo grosso
De como a Conferência Oeste é absurdamente competitiva.

Portland Trail Blazers: ok, ok, para os fãs do Blazers – e eu sei que vocês tão por aí, sim –, já pode parecer um ultraje. E pode ser, mesmo. Porque (vai) chega(r) uma hora em que você tem de deixar as dúvidas de lado e abraçar  a equipe da Rip City como uma realidade nesta temporada. São 18 vitórias e quatro derrotas, aproveitamento de 81,8% (o segundo melhor), +6,3 pontos de saldo (quarto), nove vitórias e duas derrotas seja em casa como na estrada (as segunda e melhores marcas, respectivamente). Por mais que possam perder um pouco desse ritmo, o quanto seria? O Blazers sofreu todas as duas quatro derrotas contra adversários da mesma conferência, mas também já somou dez vitórias nessas mesmas condições. Seu rendimento em quadra hoje é praticamente inverso ao do Pacers: tem o ataque mais eficiente e apenas a 22ª defesa. LaMarcus Aldridge nunca pontuou ou reboteou tanto assim em sua carreira. Damian Lillard elevou seu aproveitamento de três pontos, diminuiu seus turnovers e melhorou na defesa – todos passos cruciais para o armador se tornar uma força a ser temida aos 23 anos. Nicolas Batum se tornou uma ponte perfeita entre o armador e o pivô. Wesley Matthews está jogando demais da conta. E, por fim, Robin Lopez, Maurice Williams e Dorrell Wright solidificaram a rotação. Então, quer dizer: talvez seja uma questão de tempo para os caras subirem de andar. Vamos ver.

Houston Rockets: tudo aqui é matemático. O Rockets é dos times que mais bate lances livres e arremessa de três pontos na liga, eliminando aqueles chutes considerados de menor eficiência. Para isso, eles vão correr, correr e correr, com a expectativa de chegar ao ponto desejado em quadra antes que a defesa se estabeleça (uma combinação do legado dos Sete Segundos ou Menos do Phoenix Suns com a onda estatística analítica que vem tomando os escritórios das franquias, veja só). James Harden dá as cartas nesse sentido. E, dentro desse plano de jogo, estão encaixando a presença singular que é Dwight Howard, com tudo aquilo que ele te oferece de bom (rebote, cobertura defensiva, corta-luzes e enterradas) e mau (a choradeira de sempre e a necessidade de se afirmar como um superpivô ofensivamente, coisa que não é). Por mais antipatia que possa ter ganhado desde a última temporada regular, fato é que sua presença acrescenta muito em quadra, mesmo que não seja o mesmo de três anos atrás. Então Omer Asik (um dos nossos preferidos desde a última encarnação) que nos desculpe: pode fazer o bico que for, mas a vida é assim. Jeremy Lin se redescobriu como um sexto homem mais finalizador, Chandler Parsons está preparado para receber um bom aumento e o intrigante Terrence Jones deu uma acalmada nos rumores de troca.

Los Angeles Clippers: elenco é para isso, né? Para usar, para dar segurança. E ainda bem que a epidemia se limitou aos alas (JJ Redick, Matt Barnes e o competente novato Reggie Bullock), pois era o ponto mais forte da rotação de Doc Rivers. Ok, perder três de uma vez quebra qualquer treinador, e é por isso que você já está ouvindo sobre Stephen Jackson, o Capitão Jack Maluco, mas imagine se o pronto-socorro fosse para Blake Griffin ou DeAndre Jordan? Alguém aí estaria preparado para confiar 30 minutos para Ryan Hollins, BJ Mullens ou Antawn Jamison? Pois é, nem eu. Daí que se faz urgente, mas urgente demais a contratação de mais um pivô completo, ou que pelo menos saiba defender e converter lances livres. Não só como apólice de seguro, mas para poder dar um descanso aos titulares, mesmo, ou rendê-los no final de um jogo equilibrado em que Jordan não possa sofrer faltas de jeito algum. Jordan está ganhando mais confiança de Rivers, com a maior média de minutos de sua carreira, mas precisa de ajuda, para bancar ou melhorar a décima defesa mais eficiente da liga. E não dá para saber bem se Lamar Odom seria a resposta aqui.

Denver Nuggets: com todo o tato e delicadeza do mundo, o prestigiado e novato Brian Shaw está tentando mudar o Denver Nuggets. Tanta sutileza tem duas razões: 1) pegar leve com George Karl e o regime anterior, por (?) ética; 2) conduzir uma revolução em quadra também não é das coisas mais fáceis, ainda mais quando se tem de lidar com jogadores que podem ter dificuldade para acompanhar a bola e, ao mesmo tempo, saber em que ponto da quadra está. É complicado. Por outro lado, o time pode compensar a falta de disciplina ou inteligência defensiva com muita energia, rodando diversos jogadores – 12 deles já ganharam mais de 100 minutos –, aproveitando-se da altitude no mando de quadra e se mantendo no páreo. Quando as defesas não estão preocupadas em parar Ty Lawson, vem Nate Robinson do banco, os dois baixinhos com velocidade e alta periculosidade. Timofey Mozgov saiu da hibernação, e jogando bem. Falta uma previsão para o retorno de Danilo Gallinari  e que Wilson Chandler acerte os ponteiros de seu relógio.

Dallas Mavericks: longa vida a Dirk Nowitzki! E bem-vindo seja o novo Monta Ellis! O baixinho topetudo vai tentando provar ao mundo que todas as críticas que recebeu durante sua carreira em Oakland e Milwaukee não passavam de uma tremenda injustiça com um dos maiores cestinhas de todos os tempos um espevitado cestinha.  Ele vem com a terceira melhor marca nos arremessos de quadra de sua carreira e a melhor desde 2008, ano em que jogava, coincidentemente, por um novo contrato. Com 37,3%, ele também nunca havia chutado tão bem assim do perímetro. Selecionando melhor seus arremessos, mas pondo pressão contínua para cima das defesas, o “Monta Ball” vem ajudando a dar um novo fôlego ao craque alemão, que está pegando menos rebotes, mas elevou suas médias nos arremessos, também recuperado de lesões que chacoalharam seus últimos dois anos. Os dois juntos, auxiliados pela mão certeira de José Calderón, comandam o sétimo ataque mais eficiente. O problema é a defesa, a sexta pior da liga, que precisaria de um Shawn Marion um pouco mais novo, além de um Tyson Chandler – e não de um Samuel Dalembert – para fechar espaços.

Golden State Warriors: o time é talentoso, mas a margem de segurança não é das maiores. Digo, o banco é bastante limitado. Então, quando sai um faz-tudo como Andre Iguodala, em quem se aposta muita coisa (o aperto da defesa, mais movimentação de bola no ataque, explosão nos contragolpes, alívio para Stephen Curry), tudo fica um pouco mais difícil. Ser o time de toda a liga que mais partidas fora de casa disputou até agora também interfere na campanha, ainda mais para um grupo que tem tanto respaldo em seu ginásio. Desde que Iguodala volte bem e relativamente rápido de sua lesão na coxa e que os tornozelos de Curry e Bogut aguentem bem, ainda não é hora para se alarmar, mesmo que estejam no momento fora da zona dos playoffs. Se os segundanistas Harrison Barnes e Draymond Green evoluírem, então, melhor ainda.

Memphis Grizzlies: de todos os aspirantes ocidentais a grandes resultados nesta temporada, aqui está o time na maior enrascada. A troca de Lionel Hollins por Dave Joerger, por enquanto, só surtiu efeitos negativos, especialmente em na contenção, sem pegada nenhuma no momento – tinham a segunda melhor retaguarda na temporada passada e agora são apenas a 18ª. Marc Gasol não voltará tão cedo e, por mais que Kostas Koufos se esforce nos rebotes e seja grande igual, não tem a mesma leitura de jogo e voz sobre seus companheiros. Não obstante, no ataque, o time ainda não consegue ameaçar de longa distância (sua mira de 33% é apenas a 23ª entre 30 concorrentes), e a vida de Zach Randolph anda mais sofrida – mais utilizado no ataque, ele presta ainda menos atenção na defesa. As equações de John Hollinger certamente não contavam com a baixa de seu melhor jogador, mas é bom o ex-analista tentar agora outros cálculos para não ser achincalhado na Grindhouse.

Minnesota Timberwolves: por que o Wolves estaria em melhor situação que o Grizzlies se, mesmo com time mais ou menos completo, eles estão atrás na classificação? Bem, alguns indícios: seu saldo de +4,0 pontos é maior que o dos cinco que estão logo acima na tabela. Além disso, seu calendário nos primeiros 22 jogos foi o terceiro mais complicado da temporada. A equipe não está no topo nem ofensivamente, nem defensivamente, mas parte de uma sólida base (está curiosamente em 12º nas duas listas). Kevin Love retornou com tudo, embora com baixo rendimento nos arremessos. O que é pega é que, num time com tão poucos chutadores de média e longa distância, o ala-pivô acaba sendo o responsável por desafogar o próprio jogo, se é que faz sentido isso (sobe a plaqueta para o auditório: “RISOS!”). Mas, sério: Kevin Martin chuta bem que só, mas Corey Brewer não está matando nada, Chase Budinger ainda não estreou e Ricky Rubio é uma negação nesse quesito. O que temos, então, é um time que consegue ser pior que o Grizzlies no fundamento (32,9%), o sétimo pior do campeonato. Ainda assim, com um ataque agressivo, que cobra 27,1 lances livres por jogo (quarto melhor), eles dão um jeito de compensar essa deficiência.

A maior surpresa da liga
Não, ninguém esperava por isso.

Phoenix Suns: nem mesmo o gerente geral Ryan McDonough, Discípulo de Danny Ainge em Boston, o jovem cartola tem uma visão bastante pragmática das coisas. Não se importava em gerenciar um saco de pancadas este ano desde que ganhasse um bom novato no próximo Draft. Mas ele, tal como seu ex-chefe, parece ter acertado em cheio na contratação de seu treinador. Jeff Hornacek é aspirante a treinador do ano desde já, e talvez nem importasse que seu renovado time estivesse ocupando um inacreditável oito lugar no Oeste Selvagem. Ele já teria uma candidatura de respeito ao fazer o Phoenix Suns – de todos os times, o PHOENIX SUNS!!! – defender, além de ter resgatado um pouco de seu poderio ofensivo. Eles estão em 16º agora, mas ficaram por várias semanas no top 10, e essa queda se deve muito ao desfalque de Eric Bledsoe por alguns jogos. Bledsoe, aliás, que vai justificando o investimento, compondo uma dupla de armadores muito promissora com Goran Dragic. Os irmãos gêmeos Morris têm formado uma dupla dinâmica no banco – e entrosamento era o mínimo que a gente esperava deles, né? –, Miles Plumlee surgiu do nada e  PJ Tucker é um dos operários que merecia mais atenção. Agora, será que eles têm fôlego para competir até o fim? Será que isso seria interessante? Será que McDonough vai permitir isso?

No limbo
Nem muito para cima, nem muito para baixo. É difícil fazer qualquer prognóstico…

Los Angeles Lakers: olha, ninguém dava muita bola, mas Mike D’Antoni vinha fazendo seu melhor trabalho desde os tempos de Suns. Vejamos, sem Kobe, Nash, eles mais venceram do que perderam. Com Jordan Farmar, Steve Blake, Wesley Johnson, Xavier Henry, Jodie Meeks Nick Young e Jordan Hill. Agora… Como ele estava conseguindo isso? Bem, aplicando seus sistema. Correndo muito (com o terceiro ritmo mais intenso do campeonato). Agora, com Gasol e Kobe baleados, será que isso funciona? Dificilmente. E ele conseguirá montar um time produtivo de outra forma? Bem, Gasol abertamente já duvidou disso. E, sobre o espanhol, todavia, pairam grandes dúvidas. O que acontece? Ele não é mais o mesmo por que D’Antoni não sabe usá-lo, ou D’Antoni não o explora mais por que o pivô não consegue? Consultando os números, vemos que ele vem sendo envolvido  como nunca antes aconteceu no ataque do Lakers. Mesmo: mais até que na época dos triângulos do Mestre Zen. Com 33 anos, o espanhol tem sido ainda menos eficiente do que na campanha passada, mesmo sem Dwight Howard para congestionar o garrafão. Seu percentual de quadra é disparado o pior da carreira.  Se o time ficar perdido entre acomodar suas estrelas e tentar abastecer um bando de anônimos, a campanha pode não dar em nada.

– New Orleans Pelicans: se eles estivessem no Leste,  estariam em quinto. No brutal Oeste, porém, são antepenúltimos. Com o time inteirão, já seria difícil beliscar uma vaga nos playoffs. Ficar sem o emergente Anthony Davis – melhor em praticamente todas as estatísticas básicas – por muito tempo? Essa disputa sai ainda mais cara – e o Philadelphia 76ers segue tudo isso com muita atenção. A garotada está atacando bem (sexta melhor ofensiva da liga), com muita gente habilidosa e chutadores rodeando no perímetro – especialmente o insano e único Ryan Anderson. Defensivamente, contudo, vão de mal a pior, com a quinta pior marca, e as coisas ficam ainda menos promissoras sem a envergadura e agilidade do Monocelha.

A turma do fundão
Um está confortável aqui. O outro já não aguenta mais.

Sacramento Kings: com novo proprietário, novo gerente geral, novo técnico e uma torcida que, sim, já não atura mais tantas participações no topo do draft. O estafe recém-empossado sabe disso e vai procurando fazer troca atrás de troca para melhorar o talento disponível. Derrick Williams e Rudy Gay até se enquadram nessa teoria, comparando com quem saiu. Mas o que eles têm em comum? São dois jogadores muito mais concentrados em seu próprio arremesso do que numa proposta mais coletiva. Basicamente: sai um, entra outro, e o Kings só continua com fominhas em sua escalação. Que os dois reforços não atrapalhem, contudo, o que DeMarcus Cousins e Isaiah Thomas vêm fazendo – é meio chocante, mas os dois estão entre os dez jogadores mais eficientes nestes primeiros meses. O rendimento da dupla não traduziu em muitas vitórias, é verdade, mas sua tabela foi a segunda mais dura até agora.

Utah Jazz: a única pessoa em Salt Lake que deve estar preocupada com o que vem acontecendo é o técnico Ty Corbin, na berlinda. De resto, vai tudo de acordo com o plano. O gerente geral Dennis Lindsey quis abrir espaço para seus jogadores mais jovens. Chega uma hora em que você precisa ver o que há de concreto naquilo que chamamos de “potencial”. Daí que, dos dez que mais minutos receberam minutos nos primeiros 23 jogos, só dois passaram dos 30 anos e cinco deles não passaram dos 24 ainda. Se, no meio do caminho, eles forem perdendo, não tem muito problema – ainda mais sabendo agora que Jabari Parker é mórmon. O Utah joga, no momento, para perder, e a tabela mais difícil do campeonato contribui para isso. Há uma razão para se contratar  um Andris Biedrins.