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Arquivo : Raulzinho

CBB divulga time do Pan, rodeada por questões financeiras e políticas
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Giancarlo Giampietro

Um dos treinadores da seleção no Pan está na foto

Um dos treinadores da seleção no Pan está na foto

Começou, e daquele jeito.

ACBB divulgou nesta segunda-feira a primeira lista de Rubén Magnano para a temporada 2015 da seleção brasileira. Foram 12 atletas relacionados para a disputa do Pan de Toronto, a partir do dia 21 de julho. Não consta nenhum  nome da NBA. Em relação ao time da Copa América do ano passado, são apenas três caras. Até aí tudo normal, compreensível. O inacreditável, mesmo, é que, a menos de dois meses para a competição, o argentino não sabe se vai para o Canadá, ou não, já que a Fiba ainda não se posicionou de modo definitivo a respeito de uma vaga para o Brasil no torneio olímpico do Rio 2016.

Para quem está por fora do ba-fa-fá, é isso aí: a federação internacional faz jogo duro e ameaça acabar com essa história de posto automático para o país-anfitrião nos Jogos. Algo com que até mesmo a Grã-Bretanha, sem tradição alguma, com um catado de jogadores, foi agraciada em 2012. Por quê? Pelo simples fato de a CBB enfrentar problemas para pagar uma dívida com a entidade, conforme relatam Fabio Balassiano e Fabio Aleixo. Dívida que decorre do pagamento de US$ 1 milhão por um humilhante convite para a disputa da Copa, depois de um fracasso na Copa América de 2013, no qual a seleção saiu sem nenhuma vitória e com derrotas até para Jamaica e Uruguai. Lembrando que faz tempo que a confederação nacional está no vermelho e hoje faz um apelo em Brasília por algum patrocínio estatal para complemento de renda.

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Quer dizer: nos bastidores, o Brasil já está sendo derrotado, e isso não ajuda em nada a vida de um técnico. Seja um campeão olímpico que nem Magnano ou um bicampeão do NBB, como José Neto, a quem caberia o comando da seleção pan-americana caso o argentino precise concentrar esforços na equipe da Copa América, o torneio que classifica as equipes do continente para as Olimpíadas. Ambos os técnicos trabalham juntos há anos, e, numa eventual divisão de esforços, supõe-se que não haverá problema de choque de gestão. Mas, claro, não é um cenário ideal.

Escritório de Carlos Nunes ainda aguarda o fax da Fiba

Escritório de Carlos Nunes ainda aguarda o fax da Fiba

Há dois meses, assistindo a embate entre Flamengo e Mogi, numa de suas raras aparições públicas durante a temporada 2014-15, o treinador principal da CBB  julgou que havia “muita possibilidade” de que não iria para o Pan.  O torneio de basquete dos Jogos de Toronto vai ser disputado entre os dias 21 e 25 de julho. Já a Copa América vai ser realizada no México a partir de 31 de agosto. “As datas de preparação batem e não posso me descuidar. O foco está na classificação para os Jogos Olímpicos”, afirmou.

Caçulas da NBA estão fora
Outro conflito de agenda ligado à metrópole canadense resultou na exclusão de dois nomes da lista pan-americana: Bruno Caboclo e Lucas Bebê. No caso, a restrição é da parte do Raptors, a única franquia canadense da NBA, que solicita a presença do ala e do pivô no time que vai disputar a Liga de Verão de Las Vegas de 10 a 20 de julho. Os dois estavam nos planos para esse time mais jovem, mas nem foram convocados. Ao menos este foi um avanço, para se evitar o desgaste de uma convocação que certamente resultaria num pedido de dispensa.

“Quero agradecer ao Magnano por ter sido compreensivo e continuar acreditando em mim. É uma decisão difícil, deixar de disputar um campeonato como o Pan, especialmente na cidade em que eu moro atualmente, mas é um investimento que estou fazendo na minha carreira, preciso me dedicar ao Toronto nesse verão”, disse Bebê, em comunicado. “Ele entendeu meus motivos e agradeço. Deixei claro que pode contar comigo, mas que esse era um momento de mostrar meu basquete e buscar meu lugar no Raptors para a próxima temporada. Quero que o meu futuro seja na Seleção Brasileira, ter a minha história com a camisa do Brasil, e vou fazer o meu máximo para que isso aconteça”, completou Caboclo, no mesmo despacho.

Temporada teve mais atividades extraquadra do que em jogos oficiais

Temporada teve mais atividades extraquadra do que em jogos oficiais

Aqui vale uma observação: o Raptors investiu muito para contratar os brasileiros, e a liga de verão é encarada pela diretoria como um evento importantíssimo para o estabelecimento de ambos os jogadores, que tiveram pouquíssimo tempo de jogo em uma temporada cheia de percalços na liga americana. Ambos precisam mostrar serviço, ainda mais depois do frustrante desempenho que o time teve nos últimos meses, até ser varrido pelo Washington Wizards nos playoffs. Mais: se os dois mal jogaram durante o ano, não dá para dizer que mereciam um lugar automático na seleção. Devido ao potencial, poderiam ser chamados, mas o  justo era que lutassem por uma vaga durante o período de treinos.

Os caras do Pan
Até porque a lista divulgada sob a capitania por Magnano é forte, com alguns nomes jovens, mas já de boa rodagem internacional. O destaque da convocação fica por conta do pivô Augusto Lima, um dos atletas que mais se valorizou na temporada europeia, arrebentando pelo Murcia, da Liga ACB. Raulzinho, seu companheiro de clube, e Rafa Luz, também muito elogiado pelo campeonato que fez pelo Obradoiro, são os demais estrangeiros. De resto, nove caras do NBB, divididos entre os finalistas Bauru (três) e Flamengo (dois), além de Franca, Limeira, Mogi e Pinheiros, com um cada. São eles: Ricardo Fischer, Larry Taylor, Vitor Benite, Leo Meindl, Marcus Toledo, Olivinha, Rafael Mineiro, Rafael Hettsheimeir e Gerson do Espírito Santo.

Rafael, Augusto e Raul: boa temporada na Espanha e entrosamento

Rafael, Augusto e Raul: boa temporada na Espanha e entrosamento

Oito desses atletas disputaram o Sul-Americano de 2014, em Isla Margarita, na Venezuela: os três ‘espanhóis’, Benite, Meindl, Olivinha, Mineiro e Hettsheimeir – ficaram fora Gegê, Arthur, Jefferson William e Cristiano Felício. O que supõe uma continuidade de trabalho. Sob a orientação de José Neto, terminaram u com a medalha de bronze, derrotados pela Argentina na primeira fase e pelos anfitriões na semifinal. Foram partidas equilibradas e inconsistentes de um time com potencial para ser campeão. Fischer estava na lista preliminar, mas foi cortado por lesão. Gerson, uma das boas novidades do NBB, é estreante de tudo. Marcus retorna a uma lista oficial pela primeira vez desde a era Moncho, se não falha a memória. Embora, no meu entender, não tenha feito um grande NBB, Larry aparece como uma espécie de homem de confiança da seleção, tendo participado de todas as principais competições desde 2012.

É um grupo com muito talento, de qualquer forma, com jogadores versáteis e um bom equilíbrio entre velocidade, força física e capacidade atlética. “Formamos um grupo de trabalho que mescla jogadores experientes e jovens que vão atuar pela primeira vez na seleção adulta. O importante é que temos um bom tempo de preparação. Posso garantir que é uma equipe bastante sólida e alguns atletas poderão ser convocados para a Copa América”, disse Magnano, que começará a trabalhar com os atletas no dia 14 de junho, em São Paulo, tanto no Paulistano como no Sírio. Resta saber apenas se ele vai estar no Canadá, ou não. Era para ser uma reposta simples, mas, quando o assunto é a confederação nacional, isso tem se tornado cada vez mais raro.

Boi na linha
Se Magnano não compareceu ao fim de semana do Jogo das Estrelas do NBB, em Franca, em março, o presidente da CBB, Carlos Nunes, ao menos esteve por lá. Em entrevista à repórter Karla Torralba, o dirigente já havia descartado a presença do argentino no Pan. Bom, parece que ele se antecipou um tanto, né? Na ocasião, afirmara que um problema relacionado à mudança do treinador para o Rio de Janeiro seria uma barreira para tanto. Não fazia o menor sentido a declaração. Agora, como vemos, a questão era mais complicada. No mesmo texto, para constar, tivemos mais esta frase aqui: “Vamos ter todos os melhores jogadores. Ainda temos que conversar a liberação dos atletas da NBA, mas a intenção é mandar todos”. Também não foi bem isso o que aconteceu. Havia uma preocupação política: agradar ao COB, lutando por medalha no Pan, para fortalecer o currículo desportivo brasileiro às vésperas de uma Olimpíada em casa. Ainda não sabemos qual o nível das equipes que vai para o torneio. O Canadá promete ser forte – Andrew Wiggins e Kelly Olynyk já sinalizaram que vão participar. Os Estados Unidos, por outro lado, vão com um time alternativo. Mark Few, técnico de Gonzaga, deve mesclar universitários e profissionais, mas não gente da NBA. Talvez atletas da D-League ou do mercado europeu.


Augusto derruba o Real, Splitter decola e mais: um giro com os brasileiros
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Giancarlo Giampietro

Os playoffs estão chegando, em todos os lugares — no Fantasy, aliás, o bicho já está pegando. Então vale gastar alguns minutos nesta segunda-feira para checar como andam os brasileiros espalhados por aí, levantando como têm sido seus últimos dias, de preparação para a hora que importa, mesmo:

– Começamos pela Espanha. Não só para quebrar a rotina, mas também pelo fato de a maior vitória ‘brasileira’ ter acontecido por lá. Augusto Lima, em sua temporada sensacional, liderou o modesto Murcia em um triunfo histórico sobre o Real Madrid, pela Liga ACB. Há 20 anos que seu clube não derrotava a potência merengue em casa. O pivô teve dificuldade para finalizar no garrafão (3/11 nos arremessos), mas não deixou a confiança esmorecer. Como de costume, batalhou pelas próprias sobras e terminou com um double-double de 13 pontos e 11 rebotes. Foram 5 na tábua ofensiva, buscando contato (6/7 nos lances livres).

Augusto rege a torcida: vitória muito comemorada

Augusto rege a torcida: vitória muito comemorada

Ao menos neste ano vem sendo acompanhado por Magnano, que o elogiou recentemente, depois de ter sido ignorado na convocação passada. Até porque Augusto tem ao seu lado Raulzinho, que foi titular no domingo. Em 24 minutos, somou 7 pontos, 2 assistências e 2 rebotes. Durante a campanha, o jovem armador vem dividindo a condução da equipe com o veteraníssimo Carlos Cabezas, sendo observado pelo Utah Jazz.

Em termos de classificação, o resultado devolve a esperança ao Murcia de chegar aos playoffs. Mas não vai ser fácil. O time está na décima posição, com 11 vitórias e 13 derrotas, empatado com o Gran Canaria. O oitavo Zaragoza é o Zaragoza, com 14 e 11, respectivamente, também empatado com o Baskonia e o Valencia. Restam 9 rodadas na temporada.

De acordo qualquer forma, tem de comemorar, mesmo. Não só quebraram um tabu — chamado de “maldição” por lá –, como derrubaram o Real da liderança. O Málaga volta a se isolar na ponta. Mais: para se ter uma noção do quão difícil é derrotar o gigante espanhol, saibam que, de 2012 até esse domingo, os caras haviam ganhado 82 de 92 partidas pela temporada regular.  Aproveitamento de 89,1%. Só.

Augusto e Raul na rodinha animada

Augusto e Raul na rodinha animada

Ainda na Espanha, outro que está numa crescente é o armador Rafael Luz, titular na vitória do Obradoiro sobre o Fuenlabrada por 88 a 82, no sábado. O brasileiro marcou 9 pontos e deu 9 assistências em 29 minutos arredondados. Nos últimos quatro jogos, ele tem médias de 10,7 pontos, 5,2 assistências e 3,2 roubos de bola, números elevados para a a liga, ainda mais em 25 minutos.

– Ok, agora a NBA. A julgar pela desenvoltura com a qual se movimentou em quadra neste domingo, parece não haver incômodo algum na panturrilha de Tiago Splitter. O pivô fez uma grande partida contra o Atlanta Hawks, em surra dada pelo Spurs (114 a 95). O catarinense jogou por 27  minutos e terminou com 23 pontos e 8 rebotes, convertendo impressionantes10/14 chutes.

Não é segredo que o Spurs rende seu melhor basquete, há duas temporadas, com Splitter entre os titulares — ainda que um Boris Diaw com bom ritmo seja muito valioso contra times mais ágeis. Tim Duncan, mesmo, já disse ao VinteUm que prefere a formação de duas torres. Os números vão comprovando a tese novamente: desde que o ilustre cidadão de Blumenau recuperou o posto, o quinteto inicial do time texano vem esmagando a oposição.

Taí a dupla

Taí a dupla

Antes, porém, que vocês queiram descer o cacete no Coach Pop, favor considerar os seguintes fatores: 1) Splitter teve sua pré-temporada prejudicada pelas lesões; 2) Pop não ia desgastá-lo, ciente de sua importância; 3) Diaw ainda é um que está atrás da curva, e a equipe vai precisar dele mais para a frente; 4) Aron Baynes meio que jogou bem, mas não conte para ninguém; 5) mais importante de todos: demorou para o quinteto inteiro ficar em forma, na mesma época.

O Spurs, assim como Splitter torcia, está chegando. Se o jogo no Madison Square Garden foi uma desgraça, praguejado com veemência por Popovich, a verdade é que ultimamente os campeões têm dado muito mais sinais de grandeza. Mike Budenholzer viu de perto, num primeiro quarto arrasador: eles voltaram. O que é salutar. Quando o Spurs está em seu melhor nível, difícil encontrar jogo mais bonito e atordoante. A bola cruza a quadra com máxima velocidade, de mão em mão, para frente e para trás, até a defesa rival se despedaçar. E o legal foi ver Splitter totalmente envolvido nessa. Dos raros pivôs com quem a bola não morre. No defesa, as rotações são uma belezura. Green e Kawhi agridem no perímetro, os pivôs cobrem, e a intensidade é plena.

Está tudo enrolado na tabela, mas, mantendo esse ritmo, San Antonio vai ter mando de quadra na primeira rodada, independentemente de ficar com a quarta posição. Tivessem batido os Bockers, já registraram melhor aproveitamento hoje que Blazers e Clippers.

Bruno Caboclo volta a entrar em quadra. Por dois minutos

Bruno Caboclo volta a entrar em quadra. Por dois minutos

– O Toronto Raptors não está jogando tão bem assim, mas tem sua classificação para os mata-matas assegurada, vai. Ao time canadense, o que resta é tentar recuperar o basquete dos dois primeiros meses da temporada. Essa conjuntura não favorece os dois brasileiros do elenco – se o mando de quadra também estivesse garantido, as perspectivas de tempo de quadra aumentariam. De qualquer forma, neste domingo, depois de um looongo inverno e de problemas fora de quadra, pela primeira vez desde 4 de fevereiro, o técnico Dwane Casey colocou o ala em quadra. Foram apenas dois minutinhos contra o Knicks, uma baba.  Isso só foi possível pelo fato de Kyle Lowry estar afastado por lesão, abrindo uma vaga para Caboclo trocar o terno pelo uniforme.

Lucas Bebê não estava presente para ver. O carioca está cedido ao Fort Wayne Mad Ants, da D-League. Ao contrário do que aconteceu com o caçulinha brasileiro por lá, Lucas chegou para jogar – foram três partidas até agora, com médias de 11,0 pontos, 13,0 rebotes e 2,6 rebotes, em imporantes 25,7 minutos – para comparar, Bruno teve apenas 8,9 minutos em sete compromissos. Quer dizer: o pivô produziu bem. Mas não dá para se levar perdidamente pelos números da Liga de Desenvolvimento da NBA. Os jogos são acelerados, a bagunça costuma imperar. Tem de pegar os VTs no YouTube para avaliar com cuidado o que o pivô anda fazendo. O Mad Ants não é a franquia mais aberta da D-League aos jogadores de cima, mas segue como a melhor oportunidade para a dupla ser aproveitada.

Leandrinho, ao ataque. Briga por minutos relevantes

Leandrinho, ao ataque. Briga por minutos relevantes

– Leandrinho foi outro que ganhou espaço devido a uma lesão de um dos titulares. Klay Thompson está fora de ação pelo Warriors, e o ligeirinho tem sido mais acionado por Steve Kerr, dividindo os minutos do jovem astro com Andre Iguodala e Justin Holiday. O ala-armador recebeu 80 minutos em três jogos (26,6) e marcou 44 pontos (14,6). É um momento importante para mostrar serviço: uma hora Kerr vai ter de definir sua rotação para os playoffs, e ainda não está clara a ordem de chamada no banco. Andre Iguodala, Shaun Livingston e Marreese Speights vão para a quadra. É de se imaginar que David Lee também. Restaria uma vaga, pela qual duelam as habilidades ofensivas do brasileiro e as defensivas de Holiday, irmão do Jrue.

– Depois de um mês de fevereiro tenebroso, o Washington Wizards tenta se recuperar, mas vem de duas derrotas (Clippers e Kings, no domingo). Nenê volta a viver sua rotina de entra-e-sai do plantel de relacionados de Randy Wittman, devido aos constantes problemas físicos. O técnico precisa do pivô na briga por mando de quadra, mas a produção do paulista sofreu uma boa queda neste mês, tendo acertado apenas 42,9% de seus arremessos de quadra (na temporada, a média é de 51,5%; na carreira, 54,5%). É uma situação para se monitorar, ainda mais se a seleção brasileira tiver de jogar por uma vaga olímpica neste ano.


Davi Rossetto: longe da vitrine, o amadurecimento e 100% na LDB
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Giancarlo Giampietro

Aos 22, Davi fala como veterano e demonstra clara evolução na quadra

Aos 22, Davi fala como veterano e demonstra clara evolução na quadra

Quando se viu obrigado a deixar uma vitrine como o Pinheiros para embarcar em um projeto novo como o do Basquete Cearense, muitos poderiam ter olhado para o armador Davi Rossetto e apontado uma baita retrocesso. Ainda mais para um jogador com passagem pelas seleções brasileiras de base e tal.

Pois a mudança não poderia ter encaminhado o jovem paulistano em melhor direção. Longe da casa dos pais pela primeira vez, ele admite que, em Fortaleza, teve um ganho de maturidade que influenciou diretamente na estabilização de sua carreira. “Ou eu amadurecia, ou o sonho ia embora. Botei o pé no chão, fiquei mais responsável e isso gerou consequências dentro de quadra”, diz ao VinteUm.

Agora, de pouco adiantaria esse crescimento fora de quadra se, aos 22 anos, ainda não lhe fosse dada a oportunidade de bater bola com regularidade em jogos oficiais. O que, claramente, é fato raro no NBB 7. Atletas de 23 anos ou menos, ainda em formação, dificilmente veem a luz dos ginásios.

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O clube cearense, nesta edição, se tornou uma das exceções. Só não dá para saber o quanto isso tem a ver com a perda de seu principal patrocinador na virada de temporada, pedindo mão-de-obra mais barata, ou o se o uso mais frequente das revelações já fazia realmente parte do plano de ação.

“Sem dúvida que o treinamento extra é muito importante, seja técnico ou tático, mas esses minutos em quadra te fazem amadurecer de uma maneira mais completa”, afirma o armador.

Mais minutos para passar a bola

Mais minutos para passar a bola

Se for para falar do rendimento atual, não há como negar que, com garotos e menos medalhões, o time caiu de modo significativo na tabela. Hoje, ainda tenta entrar na zona de classificação para os playoffs, disputando a 12ª posição com o Macaé, com sete vitórias em 25 jogos (aproveitamento de 28%). Na sexta edição, terminara a temporada regular em nono, com 46,9%. De qualquer forma, as dores enfrentadas nesta temporada podem render frutos mais adiante. Na Liga de Desenvolvimento deste ano, esse núcleo jovem vem arrebentando. Foram 23 vitórias em 23 jogos, para um inédito aproveitamento de 100%. Espanto geral? Não para Davi e seus companheiros: “Vou ser bem sincero: não surpreende”, diz.

Um ponto precisa ser ponderado, é verdade: a média de idade do Basquete Cearense da LDB é bem mais elevada, por exemplo, que a do vice-líder Pinheiros, que venceu 20 partidas. Dos dez jogadores mais utilizados, apenas dois estão abaixo dos 20 anos: o armador Alberto e o pivô Leal. O Pinheiros tem apenas três atletas acima dos 20 em sua rotação regular, estando o trio entre os quatro que menos minutos recebem nesse grupo.

Essa diferença de idade faz diferença, não há como negar. Ainda mais quando se vê a equipe de Fortaleza ao vivo, praticando estilo físico de basquete, marcando com muita pegada para sustentar a melhor defesa do campeonato. Os rapazes sofrem em média apenas 56,0 pontos por rodada.

Victor de Gusmão, Erick Camilo e Davi: base 'experiente' na LDB

Victor Gusmão, Erick Camilo e Davi: base ‘experiente’ na LDB

Agora, isso não é o suficiente para explicar as 23 vitórias consecutivas, né? O técnico Espiga também conta com um entrosamento de sua base, com uma química excelente, sabendo administrar bem os minutos de todos. E tem em Davi um grande assistente na hora de botar o plano em prática.

O armador já vinha fazendo uma boa temporada divisão principal do basquete nacional, em prova clara de sua evolução. De jogador que recebia apenas 8 minutos em média há duas temporadas do NBB, fica em quadra por aproximadamente 32 minutos nesta edição. Melhor: ele vem correspondendo, com 13,1 pontos, 4,7 assistências e 1,2 roubo de bola, todas as melhores marcas de sua carreira.

Na LDB, soma 12,5 pontos, 4,3 assistências, 5,6 rebotes e 1,3 roubo – curiosamente, em menos minutos (27,1). Mas sua influência vai muito além dos números. O que mais chama a atenção em seu jogo: a agressividade na defesa – tem muita velocidade no deslocamento lateral, com excelente preparo físico, colando nos adversários. Ele é a cara do time.

Além disso, consegue controlar o ritmo da equipe no ataque de modo simples e eficiente, característica indispensável para qualquer armador, servindo ao já experiente pivô Erick Camilo, ex-São José e Paulistano, do explosivo ala-armador Victor Gusmão, entre outros. Com esse conjunto e um rendimento impecável até o momento, o Basquete Cearense entra como favorito na segunda fase da LDB, que começa nesta segunda-feira, no Pinheiros, com os oito melhores clubes da competição divididos em dois quadrangulares. Confira a tabela.

Curtindo essa campanha especial, mas sabendo que, sendo jovem, não tem nada garantido pela frente, ainda mais num basquete brasileiro que já maltratou muitas de suas promessas, Davi falou ao blog, esbanjando maturidade:

21: Surpreende chegar ao final da primeira fase de maneira invicta?
Davi Rossetto:
Vou ser bem sincero: não surpreende. No ano passado, a gente teve uma campanha muito boa para um time que tinha acabado de se formar. Treinamos três meses e perdemos quatro ou cinco jogos na fase de classificação. Com a reestruturação do projeto, sabíamos que a ‘minutagem’ no adulto mudaria, saindo um pouco de coadjuvante para protagonista ia ajudar e render frutos aqui. Óbvio que, até por a temporada ser longa, sendo um campeonato com semanas de jogos consecutivos, talvez não esperasse que fosse invicto, mas acreditávamos que poderíamos fazer uma boa campanha e terminar esta fase na primeira posição. Era para isso que a gente vinha trabalhando, então não chega a ser muito surpreendente.

Basquete 100% Cearense

Basquete 100% Cearense

Sobre os minutos no adulto, queria abordar justamente isso com você, que tem o privilégio de desfrutar de um bom tempo de quadra no NBB, algo muito raro no Brasil.
É verdade. O Bial tem como característica gostar de revelar jogadores, dar oportunidade. Nosso time sub-22 é muito aguerrido e enfrenta desafios. Aí acho que a gente acabou conquistando-o. Nesse momento de reestruturação do projeto, com o patrocinador master saindo, a gente soube aproveitar bem o momento. Sem dúvida que o treinamento extra é muito importante, seja técnico ou tático, mas esses minutos em quadra te fazem amadurecer de uma maneira mais completa.

Quando você foi para o clube cearense, já tinha em seu horizonte esses minutos a mais? Era algo que vislumbrava?
Claro, a minha ideia quando saí do Pinheiros era ter mais tempo. Era nisso que pensava. Mas, por incompetência minha, não produzi na minha primeira temporada e tive média de apenas cinco minutos. Aos poucos, fui entendendo melhor a minha função, trabalhando mais forte, com mais seriedade. Na segunda, tive 20 minutos e agora já estou próximo de 34. Sei que não é uma coisa habitual, ficar 34 minutos em média, mas é uma coisa que vou levar para a minha carreira inteira. Eu tinha aprimorado várias partes do meu jogo, mas talvez não soubesse bem a hora de usar isso. E essa minutagem maior, atuar com jogadores experientes te traz isso. Tem sido muito importante para minha evolução e maturidade.

Davi Rossetto, Basquete CearenseComo é seu dia-a-dia de treinos?
A gente não tem separação do sub-22 com o adulto. O treino é o mesmo, tudo junto. Normalmente temos um período de treino físico, de academia, e depois um treinamento na quadra. De tarde, vamos para mais um trabalho técnico e tático. Basicamente isso: o trabalho na academia e dois treinamentos em quadra.

Existem exercícios específicos de fundamento para vocês?
Bastante. Separamos os alas e armadores dos pivôs, com a comissão técnica passando para nós esses exercícios para nos aprimorarmos, que vão transferir muito para nós. Tem vezes que é uma sessão extra, com aqueles que tenham jogado menos, ou para aquele jogador que tenha uma deficiência mais específica. Mas, em geral, é o treino que fazemos pela manhã, depois do treinamento físico. De tarde, com o grupo inteiro, nos concentramos mais em questões estratégicas.

Sabemos que no Brasil a transição da base para o profissional pode ser um momento delicado, com vários jogadores tomando rumos diferentes. Como foi esse período para você? Chegou a pensar em parar, ou estava sempre seguro de que era o basquete que queria?
Quando fiz 18 anos, prestei vestibular e comecei a cursar minha faculdade, na EFES, Escola de Educação Física e Esporte da USP. Entrei em 2010, que foi um ano que peguei bastante seleção. Viajei muito, tem concentração, e não consegui ter continuidade nos estudos, até porque a faculdade era integral. Ali tive a dimensão de que não, que era o basquete que queria, que iria até o final. Se não estivesse com a cabeça tão voltada para o basquete, desistiria, sim. Não faria uma coisa meia boca. Não tentaria levar um ou outro nas coxas, como o pessoal fala. Para onde fosse voltar minha atenção, seria 100%. Escolhi o basquete e até hoje não me arrependi mais. Sou jovem, claro, e não descarto que possa me arrepender (risos).

Bom, vai caminhando bem, mesmo. Está satisfeito com a decisão. Embora satisfeito provavelmente não seja a melhor palavra…
Estou feliz. Satisfeito acho que a gente nunca pode sentir. Tem aquela frase de que o animal satisfeito acaba dormindo. O dia em que estiver satisfeito, vou dormir, e alguém vai me passar. Estou feliz e acredito que estou no caminho certo.

Davi Rossetto, CBB, base, Mundial, Sub-19Da sua geração da seleção, qual o panorama agora?
Bom, o Lucas Bebê está na NBA, o Raulzinho foi draftado. Tem o Vezaro, agora em Bauru, que acabou torcendo o joelho. O Felício no Flamengo. Eu e o Taddei aqui. O Gabriel Aguirre está nos Estados Unidos. Leo Meindl em Franca, Bruno no Minas… A geração continua e acho muito promissora ainda. Ficamos em nono no Mundial e pretendíamos mais. Acreditávamos em mais.

Tivemos o exemplo da geração do Mundial Sub-19 de 2007, que tinha o Paulão como um dos destaques, que teve um desfecho bem diferente, com muita gente parando cedo. Daquela para a sua, se passaram cinco, seis anos. Para você, a sobrevivência da sua turma se deve a uma qualidade individual das peças ou a mudanças promovidas no ambiente dos clubes brasileiros?
Acredito que o basquete brasileiro, com a criação da liga de desenvolvimento, dá mais oportunidades para que o jogador tenha uma sequência, tenha mais tempo para fazer a transição. Da nossa geração, por mais que estejam todos jogando, confesso que vejo muitos ainda nessa fase de transição. O Bebê, mesmo, está na NBA, mas ainda está nessa condição. Aquela geração de 2007… Não vou dizer que eram menos talentosos, não. Era uma boa geração, mas que, quando chegou aos 19 anos, ou era profissional, ou tinha de ir para um time mais fraco, uma liga mais fraco, e corriam o risco de desmotivar cedo e parar. Agora temos mais quadra, mais visibilidade e podemos adquirir mais maturidade, e não só no basquete. O que é importante, porque a cabeça de um cara de 19 anos não é nada parecida com a daquele que tem 22. Com 22, você passa mais segurança para quem pode contratá-lo. E a LNB foi fantástica na criação dessa liga. O NBB mais forte também colabora muito para isso, claro. Para que não fiquemos na dependência de uma só geração de jogadores para a seleção e permite que essa troca de faixas seja mais constante.

Se formos comparar você, hoje, ainda muito jovem, mas com maiores responsabilidades no NBB com o garoto que saiu da base do Pinheiros, o crescimento maior é nessa maturidade ou no aspecto técnico? Ou não dá para separar uma coisa da outra?
Na verdade não dá para separar. Um tem influência direta sobre o outro. Mas vou dizer que o que mais me ajudou para mim foi o amadurecimento, mesmo. Mais do que treinar, treinar, treinar, ou jogar, jogar, jogar. Foi refletir, pensar com uma outra cabeça. Sair da casa dos meus pais pela primeira vez, para me deparar com outras situações. Ou eu amadurecia, ou o sonho ia embora. Botei o pé no chão, fiquei mais responsável e isso gerou consequências dentro de quadra. Por isso não dá para separar. Mas, se tiver de destacar, falo do amadurecimento fora de quadra.

Para fechar: o Pinheiros, sabemos, virou uma vitrine não só para o basquete nacional como internacional. Teve o caso do Bruno Caboclo no ano passado, e agora os olheiros de fora estão vindo ver o Georginho, o Lucas. No seu caso, você acabou tendo de sair desse clube. Para muitos, poderia soar como um grande retrocesso. Esse tipo de coisa passava pela sua cabeça? Pois, agora, parece não ter nenhum remorso por essa decisão.
Olha, não sei nem se vai ficar bem eu falar isso, mas o Bruno Caboclo é um menino que hoje está na NBA, mas nem jogava no Pinheiros. Para mim, sempre tive claro que não iria para a NBA. Sabia que, se não tivesse a minutagem, não teria como. Para esses meninos, vejo um potencial fantástico e um trabalho de desenvolvimento muito bem feito. Mas eles não jogam. Tem dias que o Lucas não entra. O Georginho também, estando para ir para a NBA. Na minha reflexão, para ter uma carreira internacional, a ideia era ganhar minutos. No Basquete Cearense, via e vejo tudo o que precisava. O estafe estava comprometido em me fazer melhorar. Teve o desafio de mudar de cidade, algo que me exigia coragem, mas que deveria fazer. Quando converso com o pessoal lá, nunca ouvi que tenha feito uma burrada. Só me parabenizam. Passados três anos, foi o melhor para mim. Cada caso é um caso, mas, no meu, eu tinha de jogar. E veio o Basquete Cearense. Hoje eu me confundo… Olha, parece até o Bial falando (risos). Mas hoje me confundo com o Basquete Cearense. Vejo esses meninos do meu time, penso em defendê-los. Parei de pensar só no Davi e comecei a gostar de defender uma causa, o nosso projeto.


Georginho e Lucas Dias vão testar o Draft da NBA
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Giancarlo Giampietro

Lucas Dias e Georginho, duas apostas do Pinheiros

Lucas Dias e Georginho, duas apostas do Pinheiros

Com tantos olheiros da NBA viajando ao Brasil para assistir aos jogos do Pinheiros pelo NBB e pela LDB, isso não chega a ser uma bomba, mas tem de ser avisado que o armador Georginho e o ala Lucas Dias terão seus nomes declarados na lista de concorrentes ao Draft 2015 da NBA, o processo de recrutamento de calouros da liga americana.

Os jovens atletas que não têm sua candidatura automática têm até o dia 26 de abril para se inscrever nesse páreo. São aqueles que defendem equipes do basquete universitário americano e ainda não vão se formar neste ano e os estrangeiros nascidos a partir de 1994. Que é o caso de George, de 1996, e Lucas, de 1995.

O ato de declarar não significa participação obrigatória no recrutamento. Os jogadores e seus agentes têm até 15 de junho, 10 dias antes do evento, para decidir se vão manter a candidatura e encarar o processo de seleção – e aí são 60 vagas abertas. Até lá, muita informação vai correr em todas as vias possíveis: agente-clube, clube-mídia, agente-mídia etc. Devido ao espaço reduzido de operação para tanta gente, o ambiente de ‘guerra fria’ da NBA só se intensifica.

>> Depois da impaciência, o desenvolvimento para Lucas Dias
>> Conheça Georginho, armador que é ameaça de triplo-duplo

Georginho, hoje, é quem desperta maior curiosidade, quem está mais bem cotado. A coisa esquentou para valer especialmente depois de ter sido promovido pelo DraftExpress, o site especializado mais influente, ao primeiro round em sua projeção. Para Jonathan Givony, o armador brasileiro seria, no momento, o 28º melhor prospecto deste ano. Quer saber como o armador do Pinheiros entrou no radar da NBA? Aqui, passo a passo da promissora trajetória do atleta.

Ainda está muito cedo, mas hoje, em 23 de fevereiro, o brasileiro aparece com boas perspectivas. Não só pela concorrência em sua posição ser fraca, mas principalmente por todo o potencial que tem. Os scouts mais interessados acreditam que ele poderia ser selecionado até mesmo entre os 20 melhores. Para a turma do fundão da primeira rodada, ele é visto como um investimento de longo prazo, com a possibilidade de render uma recompensa bastante valorosa.

Em Nova York, durante o camp Basketball without Borders, um executivo de um time da Conferência Leste me disse, em off, que ele e seus companheiros de escritório já teriam interesse em escolher o armador até mesmo no Draft do ano passado, na segunda rodada. Isso, claro, se George pudesse se declarar. Não era o caso, uma vez que completaria apenas 18, e a idade mínima para concorrer ao processo é de 19.

Georginho, ao fundo, chama a atenção, mas a exposição agora é geral

Georginho, ao fundo, chama a atenção, mas a exposição agora é geral

O armador pode ser o principal alvo, mas a exposição ao seu jogo só faz bem a Lucas, ao ala-armador Humberto e a todos os seus companheiros e adversários. Na semana passada, durante a conclusão da temporada regular da LDB, pelo menos seis times visitaram Mogi das Cruzes para ver o Pinheiros de perto: Dallas, Detroit, LA Clippers, Miami, Portland e Toronto. Some-se aí Indiana, San Antonio, Sacramento – com direito a Mitch Richmond e tudo –, e temos um mínimo de nove times avistados nos ginásios brasileiros, mais de um quarto da liga.

Virão ainda mais, agora que sabemos as datas da segunda fase da liga de desenvolvimento, com oito clubes divididos em dois quadrangulares que serão realizados nos dias 2, 3 e 4 de março, em São Paulo, na própria sede do Pinheiros. A fase decisiva, de semifinais e final, será disputada nos dias 8 e 9, com sede ainda a ser definida.

Em 23 partidas pela competição, Lucas Dias tem médias de 21,3 pontos, 9,3 rebotes, 2,0 roubos e 1,5 assistência, em 30 minutos. Georginho soma 12,6 pontos, 4,0 assistências, 6,1 rebotes e 1,8 roubo, em 28 minutos. No caso de saída para a liga americana, cada jogador pode render ao Pinheiros US$ 600 mil pela rescisão contratual, pagos pelo clube interessado, tal como aconteceu com Bruno Caboclo no ano passado.

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O Brasil tem marcado presença constante nos últimos Drafts da NBA. Em 2013, Lucas Bebê foi selecionado a mando do Atlanta Hawks na 16ª posição. O armador Raulzinho saiu em 47º, sendo repassado do mesmo Atlanta Hawks para o Utah Jazz. E 2014, a grande surpresa foi a escolha de Caboclo pelo Toronto Raptors em 20º.

A grande diferença é que, dessa vez, não há mais segredos. Se Caboclo foi fisgado pelo clube canadense muito cedo no processo do ano passado, o nome de Georginho consta agora na lista de observação de, provavelmente, todas as equipes. Depois da LDB, o armador  deve disputar algumas partidas do Campeonato Paulista Sub-19. Em abril, vai encarar um evento que pode ser determinante para suas pretensões de Draft: o Nike Hoop Summit, na segunda semana de abril, reunindo em Portland as mais badaladas revelações do basquete internacional para um período de treinamentos seguido por um jogo, no dia 10 de abril, contra os destaques do high school dos Estados Unidos. O time americano já tem sua seleção definida. Existe a possibilidade de Lucas também participar da partida, ainda no aguardo de uma confirmação dos organizadores do evento.


Dupla Augusto-Raulzinho começa arrebentando na Espanha
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Giancarlo Giampietro

Augusto e Raul, companheiros de Sul-Americano, reunidos. (Foto do Instagram do pivô)

Augusto e Raul, companheiros de Sul-Americano, reunidos. (Foto do Instagram do pivô)

Vamos aguardar ansiosamente as cenas dos próximos capítulos. Porque o primeiro já foi de arrebentar: neste domingo, na abertura da Liga ACB espanhola 2014-15, a dupla Augusto Lima e Raulzinho começou arrebentando a boca do balão – e também um dos times mais fortes da competição, o Valencia, causando a grande surpresa da jornada, numa vitória por 85 a 76.

Em tempo: salvo uma grande zebra, Real Madrid ou Barcelona serão campeões, com elencos estelares que estão entre os três, quatro melhores de toda a Europa na certa, e precisam ser acompanhados por qualquer basqueteiro que queira ver um produto extremamente qualificado além da NBA. Para o basqueteiro brasileiro, porém, o time a ser visto é o modesto, mas decente clube localizado ao sudeste do país, com duas das nossas maiores revelações reunidas por uma temporada toda. Augusto já estava lá, e a ele se juntou o armador, vindo do Gipuzkoa Basket, de San Sebastián.

Segundo diversos relatos – como o do site oficial da equipe –, o pivô e o armador, titulares, já apresentaram uma boa química em quadra neste domingo, e a coisa só vai melhorar com a sequência de treinos e partidas. São dois atletas de primeiro nível para os padrões europeus, explosivos e agressivos, que podem machucar, e muito, qualquer defesa no jogo de pick-and-roll.

Já um dos destaques da temporada passada na Espanha, misteriosamente ignorado por Rubén Magnano na seleção principal, além de subutilizado por José Neto no time do Sul-Americano, Augusto sinaliza estar empenhado para subir mais um degrau.  “Foi uma grande partida do Augusto. Ele demonstrou o compromisso que tem com o clube”, disse o técnico Diego Ocampo, que inicia seu trabalho pelo Murcia. Prestes a completar 38 anos, ele assume um clube adulto pela primeira vez desde 2007, tendo assistido Aito García, pelo Sevilla, nas últimas duas temporadas. Antes, havia sido auxiliar de Joan Plaza. Ótimos professores, registre-se.

“Grande partida” talvez seja até eufemismo, minha gente. Confiram a impressionante linha estatística do brasileiro: 22 pontos, 7 rebotes (3 ofensivos), 4 roubos de bola e 2 tocos em apenas 27 minutos. Mais que isso, acertou 10 de seus 11 arremessos, sem tomar conhecimento do croata Kresimir Loncar, ou do ucraniano Serhiy Lishchuk, dois pivôs experientes e com maior cartaz na Europa. Ainda foi seis vezes para a linha de lance livre, mas aí falhou, convertendo apenas três. No saldo de todos os seus números, atingiu a elevada marca de 31 pontos de valoração, a melhor da rodada até o fechamento deste texto (restavam mais três jogos).

Augusto, em uma de suas quatro enterradas numa estreia de arromba. Alô, Magnano...

Augusto, em uma de suas quatro enterradas numa estreia de arromba. Alô, Magnano…

Em sua estreia, Raulzinho marcou 13 pontos em 26 minutos, matando 5 em 9 tentativas de chute, convertendo seu único disparo de três pontos. Cometeu três turnovers, mas recuperou a bola em duas ocasiões e liderou o time em assistências (6). Com 16 pontos de valoração, teve o terceiro maior índice da sua equipe, atrás também do ala-pivô José Ángel Antelo (20).

Antelo, aliás, é o principal companheiro de Augusto no garrafão. Revelado pela base do Real Madrid, já foi uma grande aposta da Espanha, estreando na primeira divisão com 16 para 17 anos. Sua transição para o profissional, porém, não foi das mais fáceis. Constantemente cedido por empréstimo pelo Real, rodou o país até se firmar em Murcia, ao qual chegou em 2012. Na primeira rodada, o sérvio Nemanja Radovic foi quem complementou a rotação de “grandalhões” – que nem são tão grandes assim, numa combinação de pivôs bastante ágeis, leves. Com 23 anos, ele deixou o Mega Vizura, da Sérvia, em fevereiro e se juntou ao clube espanhol.

Quer dizer: o Murcia vai para a temporada tendo o pivô brasileiro como sua principal referência no jogo interior, mesmo. Uma situação promissora. Hora de ficar (mais) de olho em seu progresso como um protagonista em um clube de Liga ACB. Clube, é verdade, que não vai brigar pelo título, está longe dos maiores orçamentos do país, mas ao menos se mantém na elite do país desde 2011. O clube de futebol da cidade está na Segundona.

Na rotação exterior, Raulzinho teve a companhia no quinteto titular do veteranaço Carlos Cabezas, compondo uma dupla armação. Cabezas deu cinco assistências. Juntos, então, deram 11 passes para cesta, superando toda a equipe adversária, que somou 10. Aqui vale o reforço: do outro lado da quadra estava um Valencia que foi semifinalista no ano passado e vai disputar a Euroliga deste ano.

O Murcia perdeu o primeiro quarto por nove pontos de diferença, permitindo que seu adversário marcasse 27 em 10 minutos. Muito. Reagiu, contudo, nas duas parciais seguintes, levando apenas 31 em 20 minutos, para abrir 11 pontos no placar. “Passamos por um mal momento, mas conseguimos solucionar isso com uma boa defesa. Jogamos como guerreiros. Nos momentos ruins, a torcida continuou com a equipe. Espero que sigamos transmitindo energia”, afirmou o técnico Ocampo.Energia, a gente sabe, é o que não falta no basquete de Augusto e Raulzinho. Agora é ver que tipo de estrago os dois podem aprontar, juntos, em uma longa e instigante temporada pela frente.

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Huertas contra sua ex-equipe

Huertas contra sua ex-equipe

O Barcelona de Marcelinho Huertas, atual campeão, já conseguiu um belo resultado na primeira rodada ao vencer o Baskonia (“Laboral Kutxa”) por 87 a 65, em casa. Foi um confronto de dois clubes de Euroliga. A diferença entre os elencos, porém, é bastante grande, ainda com o agravante de a equipe basca, que já teve o próprio Huertas e Tiago Splitter em seu plantel, ter um novo técnico e diversos jogadores para adaptar.  O Barça fez algumas trocas importantes, mas ainda mantém um núcleo consolidado, do qual faz parte o armador brasileiro, que jogou por quase 30 minutos e contribuiu com 13 pontos, 4 assistências, 3 roubos de bola (mais seis turnovers, registre-se).

Depois de anos de parceria e concorrência com Victor Sada, Huertas agora vai dividir a armação do time catalão com o tcheco Tomas Satoranksy, de 23 anos e anormais 2,01 m de altura para a posição. Satoransky está na Espanha há cinco temporadas já, sendo desenvolvido como prospecto pelo Sevilla. Os bravos torcedores do Washington Wizards já o conhecem, uma vez que o jovem atleta foi draftado pela franquia em 2012. No jogo de abertura, porém, ele não foi para a quadra. Ao contrário de Justin Doellman e Tibor Pleiss, principais reforços de Xavier Pascual.

Grande figura do Valencia na última campanha, sendo eleito inclusive o MVP do campeonato, Doellman subtitui Erazem Lorbek no quinteto inicial do Barcelona, ao lado de Ante Tomic. Desses americanos que passa despercebido pela NBA e se torna uma estrela na Europa, o ala-pivô somou 9 pontos, 7 rebotes e 3 assistências em 25 minutos. Já Pleiss, que veio do Baskonia, anotou 12 pontos e pegou 7 rebotes em apenas 12 minutos de jogo – uma apelação do clube catalão, tendo um pivô talentosos desse como um mero reserva para Tomic.

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O Real Madrid também venceu bem: 70 a 57 contra o Gran Canaria. Depois de uma campanha exuberante, mas de final frustrante na temporada passada, a equipe da capital ao menos já aliviou a barra do técnico Pablo Laso ao conquistar a Supercopa, derrotando o Barça no final de semana passado. Sem a versatilidade e habilidade de Nikola Mirotic, mas com a consistência e eficiência de Gustavo Ayón (10 pontos e 13 rebotes em 27 minutos), o Real vem com um plantel talvez ainda mais poderoso. Andrés Nocioni e Facundo Campazzo, por exemplo, são reservas e tiveram, respectivamente, 13 e 15 minutos, de tempo de quadra. Estreante no basquete europeu neste ano, porém, o enjoado Campazzo já começa a deixar sua marca.


Espanta-Gasol, Gobert mostra seu potencial pela França
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Giancarlo Giampietro

“Tamanho é uma das coisas que você não ensina.”

Que o diga o Pau Gasol, ele mesmo um gigante, depois deste encontro pouco amistoso com Rudy Gobert:

Ginga daqui, ginga dali. Gasol e seus movimentos belíssimos. Sobe para o ganchinho, e tome raquetada.

C’est un monstre!

Esse, sim, um toco que merece aplausos e te faz levantar da cadeira. Não só por ser em cima de quem foi, mas pela reação extremamente rápida desse imenso pivô francês, que fez uma partida inesquecível para ancorar a inapelável defesa francesa na vitória sobre a Espanha, pelas quartas de final da Copa do Mundo. A vitória que fez Madri chorar, mais uma vez. A equipe da casa acertou apenas 32,3% de seus arremessos, com a porta fechada na cara. Baita falta de modos!

Gobert contribuiu com apenas 5 pontos no ataque e um toco. Justamente o bloqueio acima, que você não vai cansar de ver. Mas apanhou, sozinho, 13 rebotes – um a mais que dois irmãos Gasol juntos. Esse já é um dado um tanto estarrecedor, mas aqui estamos diante de mais um caso em que a linha estatística definitivamente não conta toda a história. É de se perder a conta do tanto de arremessos que ele alterou ou inibiu durante um segundo tempo de batalha no garrafão.

Rejeitado! Gobert protege a cesta

Rejeitado! Gobert protege a cesta

O craque espanhol pode ter feito 17 pontos, e tal, acertando 7 de 12 arremessos. Um cara talentoso desses vai encontrar um jeito de pontuar e de te ferir em quadra, não tem jeito. Mas o jovem pivô francês ao menos segurou seu adversário abaixo de suas médias no torneio. Algo que nem mesmo um trio de veteranos e excelentes defensores como Splitter, Nenê e Varejão chegou perto de fazer.

E pensar que o rapaz talvez nem fosse jogar o Mundial, caso o técnico francês Vincent Collet pudesse contar com Joakim Noah, Alex Ajinça e, glup!, Ian Mahinmi. O grandalhão reserva do Indiana Pacers – atlético ao seu modo, é verdade – foi o último desfalque na linha de frente, abrindo caminho para Gobert. Acabou sendo uma benção.

No ataque, por enquanto, só enterrada

No ataque, por enquanto, só enterrada

A exibição mostra todo o potencial do jogadort – e também deixa claro para o Utah Jazz e o comandante da seleção francesa que a realização desse potencial está muito mais perto do que poderiam imaginar. Para quem acompanhou o espigão na Liga de Verão de Las Vegas e nos amistosos dos Bleus, a sensação foi essa, mesmo. O rapaz de 22 anos já estava anunciando um jogo desses. Azar da Espanha que tenha acontecido na sua casa, numa hora dessas.

Um salve, então, para os treinadores da franquia de Salt Lake City e da seleção francesa que o empurraram nessa direção. Um salve também o próprio pivô, que mal jogou no ano passado em sua campanha de novato, mas, pelo visto, aproveitou bem o tempo “livre” para evoluir consideravelmente. O francês foi escalado pelo técnico Tyrone Corbin em apenas 45 partidas, pouco mais do que a metade da temporada. Teve médias de 9,6 minutos, nos quais somou 2,3 pontos, 3,4 rebotes e 0,9 toco. Se você projetar esses números para 36 minutos, terá algo mais que razoável, registre-se: 8,6 pontos, 12,9 rebotes e 3,4 tocos; quer dizer, os flashes já estavam lá para serem notados.

(Aliás, cabe um parêntese endereçado aos jovem Bruno Caboclo: a ideia da gerência do Toronto Raptors e de sua comissão técnica é a de que o brasileiro vai ser muito mais trabalhado em treinos, particulares ou não, do que em partidas. Todo atleta gosta de ir para a quadra para valer, mesmo. Para o ala, porém, este começo vai ser de muita paciência,  e ele sabe, na verdade. Tem impressionado todos os seus treinadores com seu empenho. O importante aqui é notar que, seguindo o modelo de Gobert, se bem feito, esse tipo de trabalho pode render frutos, mesmo. Pode ser que a nota sirva para Lucas Bebê também, dependendo dos planos que o único clube canadense da NBA tem para ele).

Paredão Gobert: com os braços erguidos e os pés no chão, ele alcança algo como 2,91 m de altura. De chinelo, para dar um charme. Envergadura inerminável

Paredão Gobert: com os braços erguidos e os pés no chão, ele alcança algo como 2,91 m de altura. De chinelo, para dar um charme. Envergadura inerminável

Imagino a satisfação que o gerente geral Dennis Lindsey, do Jazz, deve estar tendo ao acompanhar a Copa do Mundo do pivô francês e todo o seu desenvolvimento. No nosso mundo de seres humanos baixinhos, pode-se realmente superestimar a importância de um pirulão de 2,13 m de altura para uma equipe de basquete. Diversos técnicos, dirigentes e torcedores já gastaram uns 3,5 milhões de anos-luz, contando por baixo, em trabalho ou sonhos com projetos desse tipo. Descobrir aquela girafa em uma fazenda no meio do nada e transformá-lo no próximo superpivô que vai dominar o mundo. Um atleta com o tamanho de Gobert, de envergadura interminável, que se mexa com reflexos tão ágeis, já teria vantagens consideráveis para se acertar em quadra.

Mas é difícil, né? Fabrício Melo, agora fora do Paulistano, está aí na luta, por exemplo.

O brasileiro trabalhou por alguns anos numa universidade de ponta como Syracuse, mas um time que trabalha quase que exclusivamente com a defesa por zona – e que, no ataque, não tinha muito tempo para desenvolver seu gigantão com a pressão de ter de competir em alto nível sempre. Quando o mineiro saltou para a NBA, tinha um porte físico impressionante, um senso de humor agradável, mas pouco além disso. Em termos de noções táticas e técnicas, estava bem aquém. Isso não foi o suficiente para desviar um caça-talentos respeitado como Danny Ainge de sua direção.

Um ano depois, porém, o Boston Celtics despachou o mineiro de Juiz de Fora. O Memphis Grizzlies nem quis saber, mesmo pagando o salário. O Dallas Mavericks foi atrás, para ver o que ele poderia oferecer, mas também o deixou passar rapidamente.  Há casos e casos. Existem aqueles que tinham o talento, mas se perderam por razões disciplinares, motivacionais, psicológicas e monetárias: (alô, Michael Olowakandi, Jerome James, Eddy Curry). Mas também são muitos os que simplesmente não se desenvolveram do modo que se esperava, seja por limitações próprias ou por treinamento falho. O torcedor deprimido do Seattle SuperSonics pode dizer algo nessa linha sobre Saer Sene, Robert Swift e Johan Petro. Enfim, são vários os nomes, e cada um vai ter o seu preferido.

Gobert, ao que tudo indica, deve passar longe dessa lista.

Algo para o qual, na disputa pelo bronze, Jonas Valanciunas será alertado. Enquanto isso, em Utah, é bom que Enes Kanter nem arranje muitos compromissos, que seus minutos podem estar a perigo. Gobert tem o tamanho que não se ensina e vem aprendendo os macetes que fazem a diferença entre se ter um poste no garrafão ou um verdadeiro paredão. O voto de Pau Gasol ele já tem.

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Uma curiosidade: Rudy Gobert e Raulzinho foram companheiros na Liga de Verão de Orlando de 2013, quando o armador também foi draftado pelo Jazz. O francês recebeu alguns passes açucarados da revelação brasileira. Ainda não será neste ano que os dois se reencontrarão em Salt Lake City. Quem sabe na temporada 2015-16?

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No ataque, Gobert ainda não faz muito mais coisa do que pegar a bola perto da cesta e cravar. Seus movimentos no mano-a-mano ainda são desengonçados, pouco efetivos. Do modo como influenciar uma partida na defesa, porém, ninguém vai cobrar que se torne nem mesmo uma referência de costas para a cesta.


6º lugar no Mundial: é o que tem para hoje. E depois?
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Giancarlo Giampietro

(Atualização: com a derrota da Espanha para a França, o Brasil perde uma colocação na classificação geral, caindo de quinto pra sexto. Que fase!)

Brasl derrotado, Sérvia vence, Copa do Mundo, basquete, crise, CBB

A frase não vai parecer genial, mas é precisa ser dita: o Brasil tanto podia ganhar da Sérvia nesta quarta-feira, como poderia perder. E perdeu. Era um duelo equilibrado, sem favoritos, pelas quartas de final de uma Copa do Mundo de basquete. Alguns detalhes aqui e ali poderiam ter se corrigido, mas o fato é que o time brasileiro, desde a sua composição ao que executava em quadra, estava longe de ser perfeito. Era competitivo, estava na briga pelo pódio, mas não tinha direito adquirido nenhum ali. Estava metido em um jogo enroscado, se descontrolou emocionalmente na volta do intervalo e, pumba!, quando passou, já era. Vitória sérvia.

Isso tudo se refere a 10 de setembro de 2014 e a um geração de jogadores que, em geral,  está em seu auge, descontando uma ou outra peças periféricas de sua rotação, que já se veem mais perto da aposentadoria. Quer dizer, uma pequena retificação: essa competitividade da seleção brasileira passa por 10 de setembro e deve se estender até os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro 2016. A seleção vai receber uma Olimpíada com as mesmas chances, se as coisas correrem normalmente.

Agora, e o que vem depois disso?

Depois de assimilada a eliminação – que poderia ser evitada, mas acontece –, muito do que se ouviu em tempo real foi sobre “o bom trabalho” executado, que é algo que não pode ser descartado prontamente, e bla-bla-blá. Obviamente que não. Aliás, quem estaria argumentando de modo contrário? O Brasil se despede do Mundial com o quinto sexto lugar, o mesmo posto de Londres 2012. O basquete internacional não é para qualquer um, mesmo num cenário em que boa parte dos grandes concorrentes estava seriamente desfalcada.

Mas só precisamos ter cuidado com a generalização: se for falar em bom trabalho, que fiquemos com Rubén Magnano e seu grupo de veteranos. Não que o argentino deva ser ou esteja blindado de críticas. O ataque brasileiro não funcionou como poderia, tendo muita dificuldade para produzir de modo eficiente em situações de meia quadra. Sua convocação final se mostrou redundante. Ele não pediu mais um tempo naquele fatídico terceiro período. Etc. Entre os atletas, houve surpresas e decepções. Agora, me parece que esse é o tipo de discussão que toda equipe vai ter ao final de uma campanha. Vai acontecer até mesmo nos Estados Unidos. Não existem times perfeitos. Existem times que reconhecem suas deficiências e procuram amenizá-las. Pode ser que tenha faltado isso? Sim, certamente faltou. A verdade, porém, é que a seleção caiu, com suas virtudes e limitações.

Seleção brasileira, banco, 2014, basquete

O que não dá para fazer é ficar jogando confete para cima depois de um quinto sexto lugar e deixar que muitos penetras entrem nessa festa (inexistente). Não dá para incluir os cartolas da CBB (a inoperante Confederação Brasileira de Basquete) nessa. Sua diretoria – e até mesmo os manifestos opositores aos atuais gestores – devem ser barrados na porta. Porque, entre as limitações que temos, dá para falar de fundamentos e minúcias de jogadores e de alguns nomes convocados, mas o buraco, mesmo, está ao redor desta seleção.

O basquete brasileiro foi para um Mundial com sua força máxima – pelo menos segundo o gosto de seu treinador, com americano naturalizado, e tudo – e com média de 31 anos, a mais elevada da competição. A Sérvia tem média de 26 anos. Entre seus protagonistas, apenas um está acima dos 30 anos, o pivô Nenad Krstic. O ala Bogdan Bogdanovic, autor de 12 pontos, tem apenas 22 anos, mesma idade do titular Nikola Kalinic. Milos Teodosic tem 27. Nemanja Bjelica, 26, assim como Miroslav Raduljica e Stefan Markovic. Já deu para entender, né? O time balcânico que deu uma surra hoje pode pensar até mesmo nas Olimpíadas de 2020.

Bogdan-Bogdan tem 22 anos. Está entre os protagonistas sérvios

Bogdan-Bogdan tem 22 anos. Está entre os protagonistas sérvios

A verdade, contudo, é que eles nem precisam, já que não sabem nem ao certo se estarão no Rio 2016. As coisas na Sérvia funcionam de outro jeito, devido à alta competitividade para se entrar naquela seleção. Eles trocam de geração a cada dois anos, é algo impressionante. Estão aí para comprovar Marko Keselj e Milan Macvan, dois semifinalistas de 2010, atletas bem pagos de Euroliga e que não chegaram nem perto de jogar este Mundial. Os esquecidos e os eleitos para o time de hoje que se cuidem, aliás, porque a fornada de 1994 e 95 também já é boa o bastante para sonhar com as grandes competições, vindo de um vice-campeonato mundial em 2013. O armador Vasilje Micic e os pivôs Nikola Jokic e Nikola Milutinov jajá estarão por aí – dois deles já foram draftados pela NBA neste ano.

Do Brasil, se formos recuperar as últimas campanhas com algum sucesso em torneios internacionais de base, temos a galera que terminou o Mundial Sub-19 de 2007 (1988/89) em quarto, além da equipe que deu um sufoco danado nos Estados Unidos na Copa América Sub-18 de San Antonio, em 2010 (galera de 1992/93).  Se a turma de Raulzinho, Felício e Bebê já se aproxima, perigosa e precocemente do ostracismo, o que dizer daqueles quatro ou cinco anos mais velhos? Antes da partida desta quarta, já havia passado por esse caso alarmante. Dessa geração, apenas dois atletas hoje estariam no radar da seleção principal – mas com chances remotas de aproveitamento: Rafael Mineiro e Paulão. Entre os sérvios, dois saíram triunfantes em Madri (Raduljica e Markovic), enquanto Macvan e Keselj já haviam disputado a edição de 2010, conforme citado.

Para não falar apenas de Sérvia, fica o registro: a Argentina, a Austrália, os Estados Unidos, a Lituânia, a Croácia e muitas outras equipes já apresentaram bases renovadas para esta Copa. O grau de protagonismo dos atletas mais jovens variou de uma equipe para a outra, mas pelo menos eles estavam na Espanha, vivendo a experiência intensa que é disputar um torneio de elite desses. Do lado brasileiro, dos mais jovens, apenas Raulzinho pode falar a respeito do assunto, já com duas edições em seu currículo.

Não é que não existam opções. O armador Rafael Luz e o pivô Augusto Lima já são realidades no basquete europeu, jogadores produtivos no campeonato nacional mais difícil do continente – a Liga ACB espanhola. Augusto, aliás, foi um dos destaques individuais na temporada passada – e mal teve chance para mostrar serviço na seleção “b” que ficou com um (?) honroso bronze no Sul-Americano. O pivô Lucas Mariano e o ala Leo Meindl (Franca) e o armador Ricardo Ficher (Bauru) também aparecem num grupo de revelações lembradas por Magnano nos últimos anos. Para não falar de Bruno Caboclo, ala surpreendentemente escolhido pelo Toronto Raptors no Draft da NBA, o atleta de maior potencial nessa lista, sem dúvida. Em seu ex-clube, o Pinheiros, também há pelo menos mais três garotos para serem monitorados.

Daí que… Ué? Então de que trevas você está falando, meu chapa? Olha aí o tanto de jogador jovem aí que você acabou de citara. Para um comentário desses, reverteria o jogo: mas o simples fato de nos apegarmos a cinco, seis, sete nomes já não diz muito sobre a quantas anda a produção de talentos nacional? Digo, se todo mundo sabe de cor quais são as apostas para o próximo ciclo olímpico, acho que isso significa justamente como as coisas andam errado. Já se comprova o número bastante limitado de alternativas, num país com 200 milhões de habitantes, cujo Ministério dos Esportes aponta a modalidade como a segunda mais praticada.

Além do mais, não é brincando de apostar em garotos, como se o desenvolvimento seguisse a lógica do mercado futuro, que os problemas de constituição de um time – e do basquete – brasileiro serão solucionados. A carreira dessa molecada não está nem mesmo garantida, de modo que soa absurdo depositar em seus ombros carências de uma estrutura toda deficitária. Em setembro de 2014, eles são apenas promessas, que precisam jogar e  treinar em paz, seguindo sua rotina, quiçá com a melhor orientação disponível. Não é hora de ficar buscando nomes – mas, sim, de trabalhar pra ter um maior número de nomes possível.

Só com uma confederação que trabalhe desta maneira, com essa mentalidade, que não dependa de milagres – o advento de do Grande Jogador da Silva –, que se pode exigir mais do que o atual time conseguiu. De novo: a despeito de toda a precariedade estrutural lamentada, os veteranos de Magnano tinham plenas condições de ir adiante neste Mundial. Mas não foram. Goste ou não, é uma seleção brasileira se afirma como a quinta/sexta melhor do mundo. É o que tem para hoje.

Brasil perde, CBB, Copa do Mundo, Sérvia

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Em tempo, e algo que não pode ser esquecido jamais: depois do fiasco que foi a participação na Copa América, na qual, sem seus melhores jogadores, Magnano naufragou, perdendo para Jamaica e Uruguai, a CBB teve de desembolsar um milhão de euros para ser “convidada” para jogar o Mundial. Arredondando: 3 milhões de reais. Então, do ponto de vista administrativo, é um fiasco ficar fora do pódio. Um quinto lugar não vale 3 milhões de verdinhas. Os patrocinadores ganharam alguma visibilidade em TV aberta, ainda mais depois da vitória sobre a Argentina, mas o prejuízo da confederação é brabo. Ainda mais para quem já está endividado.

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Acho que vale reforçar: o Brasil levou aquilo que seu técnico julga de melhor para o Mundial, inclusive naturalizando o Larry. Com o grupo que levou, Magnano foi para o tudo ou nada. Contra muitos adversários desfalcados. E terminou em quinto. Isso diz muito sobre a dureza que é lutar por uma medalha no basquete de hoje, mas também sobre o nível atual da seleção. É de se ponderar, mesmo.


Duelo com a Sérvia escancara buraco na base brasileira
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Giancarlo Giampietro

Raduljica, sete anos depois, volta a enfrentar Brasil no mata-mata

Raduljica, sete anos depois, volta a enfrentar Brasil no mata-mata

Quando a bola subir na quarta-feira, pelas quartas de final da Copa do Mundo, não será a primeira vez que o armador Stefan Markovic e o pivô Miroslav Raduljica vão enfrentar o Brasil num mata-mata de torneio Fiba. Sete anos atrás, ainda adolescentes, no Mundial Sub-19 eles levaram a melhor contra em uma semifinal que acabou em vitória tranquila dos balcânicos, 89 a 74.

Para quem clicou imediatamente no link acima, já deu para ver os dois ficaram, respectivamente, 26 e 23 minutos, em quadra, contribuindo com 12 pontos, 7 assistências e 6 rebotes. Números regulares. Mas vale o destaque, mesmo, estatístico daquele jogo é a quantidade de brasileiros presentes na seleção nacional que derrubou a Argentina no domingo passado: 0. Isso mesmo: ze-ro.

José Neto está na seleção principal em 2014. Dos garotos, poucos chegaram perto

José Neto está na seleção principal em 2014. Dos garotos, poucos chegaram perto

Quer dizer, se formos considerar o assistente técnico José Neto, temos ao menos um – ele era o treinador daquele time. Daquela geração era de 1988-89, dos quais foram pinçados os 12 representantes para aquela campanha (?) histórica, hoje todos eles com 25 e 26 anos,  nenhum jogador conseguiu se desenvolver a ponto de entrar na lista final de Rubén Magnano para competir por uma medalha na Espanha.

Quem chegou mais perto disso foi o ala-pivô Rafael Mineiro, que disputou o Campeonato Sul-Americano deste ano, como peça integral da rotação, com médias de 6,2 pontos e 4,8 rebotes. Da seleção B, Raulzinho e Rafael Hettsheimeir foram chamados para compor o grupo principal.

Embora não tenha conseguido dar o grande salto, o talentoso Mineiro é um caro caso de atleta que conseguiu alguma continuidade em sua carreira internacional desde o Mundial Sub-19. Desde, então, ao menos conseguiu jogar três Sul-Americanos, mais que o grande nome daquela categoria: Paulão Prestes. O pivô participou só de um Sul-Americano – ironicamente, em 2006, anterior ao torneio de base. Os problemas físicos de Paulão estão bem documentados, guiando uma trajetória de altos e baixos. Foi muito bem cotado na Espanha, acabou draftado pelo Minnesota Timberwolves (algo muito difícil e não pode se perder de perspectiva), mas se lesionou demais e teve problemas com a balança. Chegou a ser pré-convocado por Magnano em duas ocasiões e hoje é a grande aposta do Mogi, ao lado de Shamell.

De resto, temos o ala Betinho em São José, com média de 13,6 pontos, 2,0 assistências e 32,5% nos três pontos em sua carreira no NBB, o ala-pivô Rodrigo César no Uberlândia e o pivô Romário no Macaé. Outro que chega ao NBB agora é o armador Carlos Cobos, de dupla nacionalidade (Espanha e Brasil), criado na base do Unicaja Málaga ao lado de Paulão, e que também não conseguiu se firmar na Liga ACB. Ele acabou de acertar com o Franca de Lula Ferreira, que ao menos vai fazendo esse trabalho de prospeção, tentando recuperar alguns dos garotos espalhados por aí.

Contando: foram citados, então, seis atletas daquele time sub-19, 50%. O restante, para termos uma ideia, é até difícil de rastrear. Luiz Gomes, que hoje é um dos motores por trás do Mondo Basquete – um site bem bacana para você visitar –, fez esse trabalho hercúleo no ano passado, já constando uma geração verdadeiramente perdida.

Thomas Melazzo, fora do basquete

Thomas Melazzo, fora do basquete

Cauê Freias, autor da cesta da vitória contra a Austrália de Patty Mills nas quartas de final, e Bruno Ferreira, o Biro, estão no Caxias do Sul e devem disputar a Liga Ouro, Segunda Divisão do NBB. Houve quem tenha parado e largado o esporte: o ala Thomas Melazzo, que tinha um potencial absurdo, hoje é personal trainer, aparentemente vivendo em Salt Lake City, terra do Utah Jazz. Se alguém souber do paradeiro dos demais, por favor, caixa de comentários aberta abaixo.

Dia desses, no Twitter, o mesmo Luiz Gomes estava especulando a respeito, apontando algumas promessas  de então e hoje na elite. Muitos deles classificados para os mata-matas de uma Copa do Mundo, na elite. A Sérvia já escalou o ala-pivôs Marko Keselj e Milan Macvan na fase decisiva do Mundial de 2010, para se ter uma ideia. No time de hoje, tem Markovic e Raduljica e ainda conta com mais cinco jogadores que teriam idade para disputar aquele torneio, mas só ganhariam visibilidade mais tarde.

Já a França apresenta quatro nomes de seu time sub-19 que bateu o Brasil na disputa pelo bronze: o armador Antoine Diot, o ala Edwin Jackson, o pivô Kim Tillie e um certo Nicolas Batum. O pivô Alexis Ajinça certamente estaria na Copa do Mundo, não tivesse pedido dispensa. Até mesmo os Estados Unidos, com sua produção de talentos incomparável, tem um representante de 2007 aqui: Stephen Curry! Daquele elenco, destacam-se também nomes como DeAndre Jordan (Clippers), Patrick Beverley (Rockets) e Michael Beasley (Marte).

Entre os demais quadrifinalistas da Copa, para ser justo, é preciso dizer que a Espanha só tem um atleta daquela jornada: o ala Victor Claver. Lituânia e Turquia? Nenhum. A Eslovênia não havia se classificado.Mas também é preciso dizer uma coisa sobre os lituanos: sua atual seleção conta com cinco jogadores nascidos depois de 1988 (o ano-limite para inscrição naquele Mundial): Adas Juskevicius, Sarunas Vasiliauskas, Mindaugas Kuzminskas, Donatas Motiejunas e Jonas Valanciunas – os dois últimos simplesmente as maiores apostas dessa tradicional potência. Já os turcos têm três: o caçula Cedi Osman, de apenas 19, além de Furkan Aldemir (cujos direitos na NBA pertencem ao Sixers) e Baris Hersek.

Nessa categoria, de atletas de 26 anos ou mais jovens, também se enquadram os argentinos Facundo Campazzo, Nícolas Laprovíttola, Tayavek Gallizzi, Matías Bortolín e Marcos Delía. A Austrália contou com seis: Dante Exum (19), Brock Motum, Cameron Bairstow (23), Matthew Dellavedova, Ryan Broekhoff (24) e Chris Goulding (25, este convocado para aquele Mundial Sub-19). Já os Estados Unidos possuem apenas um jogador nascido antes de 88: Rudy Gay, e só.

No Brasil, com 22 anos, Raulzinho é a figura solitária. Rafael Luz acabou preterido no último corte, enquanto Augusto Lima dançou já no Sul-Americano. Uma decisão bastante sensata poupou Bruno Caboclo dessa. Já Lucas Bebê foi deixado na geladeira, depois da escapada do ano passado. Ao menos o filho do Raul vem sendo utilizado com regularidade por Rubén Magnano, contribuindo para valer hoje – e ao mesmo tempo ganhando uma experiência extremamente valiosa para o futuro. Agora, fora isso, a seleção que joga na Espanha, a mais velha do Mundial, é apenas para agora e agora.

Obviamente que a base do elenco de Magnano é fortíssima, não sobram vagas. Como acontece com a Espanha. Agora, na periferia do plantel, será que não dava para encaixar? Depois de uma vitória contra a Argentina, na iminência de um confronto com a Sérvia, pode ter gosto de chope aguado todas essas lembranças. Nesta semana, as preocupações dos envolvidos com o jogo ficam realmente direcionadas só para a quadra. Fora dela, porém, nos escritórios da CBB, o tema já deveria estar na mesa há tempos. Sem precisar que a figura até folclórica de Raduljica, nesta quarta-feira, servisse como recado.


Raulzinho bagunça com Argentina e faz aposta de Magnano valer
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Giancarlo Giampietro

Raulzinho, celebrado pelos veteranos, com justiça

Raulzinho, celebrado pelos veteranos, com justiça

Caçulinha quem? Vamos cortar quem?

Uma das principais figuras na já memorável vitória contra a Argentina foi o atleta mais jovem de uma seleção que já está na reta final de um ciclo, Raulzinho. Lembremos que a equipe convocada por Rubén Magnano a tem a média de idade mais velha do torneio: 31 anos. Abaixo dos 30, são apenas três atletas, com Tiago Splitter (29) e Rafael Hetsheimeir (28) chegando lá. O intervalo do segundo mais jovem para o caçula do time, de 22,  é de mais de meia década, uma eternidade no basquete. Neste domingo, porém, o armador reserva jogou como gente grande, como gente formada, justificando o grande voto de confiança que recebeu de seu treinador há algumas semanas.

Raulzinho primeiro ajudou a estabilizar a defesa, tanto na contenção das infiltrações de Facundo Campazzo, como na flutuação para tirar o espaço dos arremessadores argentinos. Depois, no segundo tempo, se aproveitando das diversas posses de bola extra proporcionadas por seus pivôs, se esbaldou no ataque para chegar a incríveis 21 pontos em apenas 24min20s.

“É muita felicidade pela vitória, mas acho que nosso objetivo é maior. A gente não veio para ganhar da Argentina. Vamos chegar ao mais alto possível e tem muito campeonato pela frente”, disse o jogador. “Hoje é curtir e amanhã já pensar na Sérvia.”

Foi uma grata surpresa. Mas nem isso faz jus ao que o jogador executou em quadra, dada a tensão envolvida no confronto. Vejamos:

1) jogo de mata-mata? Sim.

2) numa Copa do Mundo? A-hã.

3) contra a Argentina, eterno capataz? Confere.

4) saindo do banco com seu time já em preocupante desvantagem? Até isso.

E o armador deu de ombros, com calma e assertividade impressionantes e determinantes para a virada brasileira. Foram dois passes para cesta apenas, mas o jogo pediu outro tipo de atuação do rapaz – a bola vindo de dentro para fora, a partir das dobras que os pivôs forçavam (Nenê, Varejão e Splitter somaram 11 das 16 assistências do time), e restava a ele matá-la. A Argentina abriu espaços, como sempre gosta de fazer com os “baixinhos” brasileiros. Dessa vez pagaram caro.  Com o filho do Raul em quadra, o Brasil venceu seu arquirrival por 25 pontos de diferença.

Raulzinho bagunçou com seus defensores, acertando de todos os cantos. Veja seu gráfico de arremessos (que a Fiba, aliás, poderia caprichar um pouco mais, né? Que tal cores diferentes?):

Dentro e fora: o caçula da seleção teve paciência para ler o que a defesa argentina oferecia e se esbaldou

Dentro e fora: o caçula da seleção caprichou na batalha naval

Se você fizer as contas entre “bolinhas” e “tracinhos” acima, temos 9 em 10 arremessos convertidos (na conta, entrariam ainda mais dois lances livres). O brasileiro teve paciência para ler o que a defesa argentina lhe oferecia e se esbaldou a partir daí. Reparem que foram cestas de curta, média e longa distância. E mais: mesmo sendo agressivo buscando a cesta, ele não cometeu sequer um desperdício de posse de bola em seus 24 minutos. Diante de uma produção dessas, não havia como Marcelinho Huertas voltar para quadra, mesmo (15 minutos para o titular, nenhum ponto e nenhuma assistência).

Ao olhar as estatísticas de seu atleta mais jovem e o gráfico de arremessos acima, Magnano deve sorrir confortavelmente, e com orgulho também. “Raul estava preparado. Eu sabia que poderia contar com ele”, afirmou o técnico. “Senti muita confiança no arremesso. Tive oportunidades, e fui capaz de aproveitá-las”, respondeu o jogador.

Há questão de semanas, quando definiu o grupo para a Copa do Mundo, o argentino foi bastante contestado por optar pelo corte de Rafael Luz. Considerava as críticas cabíveis, considerando o quão bem o outro jovem armador de sua pré-convocação se apresentou nos primeiros amistosos do time e também no Sul-Americano. Hoje, é normal que o sentimento seja de dar mão à palmatória. Obviamente que Rafael está justificando a decisão. A questão, para mim, é que a presença de um não teria de significar a exclusão do outro – ainda mais por Rafael ser bastante atlético e forte. Basta ver os minutos distribuídos pelo treinador até aqui, para se constatar. Mas essa é outra história.

Raulzinho lá dentro

Raulzinho lá dentro

As dúvidas em torno de Raul aumentaram justamente devido ao seu desempenho no torneio continental, na Venezuela. Ao lado de Luz, Hettsheimeir e Augusto Lima, era um dos atletas de que se esperava mais naquele torneio, e ele não foi muito bem. Marcou 10,2 pontos por jogo, acertou 50% dos tiros de dois pontos – a parte boa. Mas acertou apenas três em 19 arremessos de três pontos (15,8%), com mais turnovers do que assistências (12 x 11). Alguns de seus desperdícios de posse de bola aconteceram em momentos cruciais de jogos parelhos contra Argentina (final da fase de grupos) e Venezuela (semifinal). Duas derrotas. Na ocasião, o armador realmente se atrapalhou em investidas individuais, diante de oposição muito inferior ao que está habituado a enfrentar na sua precoce carreira.

Raulzinho jogou na elite brasileira, pelo Minas Tênis, de 2008 a 2011, como um adolescente. Em 2010, com 18 anos, foi convocado de modo surpreendente por Magnano para disputar seu primeiro Mundial (ficou atrás de Huertas e Nezinho na rotação). Depois, se transferiu para o fortíssimo espanhol, jogando sempre na Liga ACB, primeira divisão do país, e liga nacional mais competitiva da Europa, sendo uma figura importante do Gipuzkoa Basket, mas ainda não um protagonista do certame (médias de 7,9 pontos e 2,7 assistências na carreira).

De todo modo, são bons números para alguém tão jovem. O suficiente para reforçar sua imagem no radar da NBA e ser convidado para o Nike Hoop Summit, o adidas Eurocamp e outros eventos que reúnem a nata das revelações internacionais. Nesse processo, jogou com personalidade e conseguiu se destacar a ponto de ser draftado pelo Utah Jazz em 2013, como o 47º no geral. A franquia o tem em alta conta, mas preferiu apostar primeiro no badalado universitário Trey Burke, deixando o brasileiro com seu desenvolvimento na Europa, mesmo. Ele agora se transferiu para o Murcia, que tem bom retrospecto no trabalho com jovens, como Augusto Lima pode comprovar.

Embora não jogue a Euroliga, no Murcia ele ao menos pode continuar aproveitando um calendário reduzido de jogos para afinar suas habilidades e alargar um repertório que já pode surpreender grandes adversários.  Na temporada passada, sua maior contagem de pontos foi de 17, que marcou na penúltima rodada contra o poderoso Real Madrid. Na campanha 2012-13, conseguiu seu recorde pessoal justamente contra o outro peso pesado espanhol, o Barcelona, com 25 pontos.

Quer dizer, em jogos chamativos, ele entregou seu melhor.

Agora, fazer isso contra a Argentina? Não estava no script de muitos, não. Talvez nem do Magnano.

Mas quem vai contrariá-lo agora?

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O jogo contra o Egito parece ter dado um empurrãozinho na confiança de Raul. Contra o time mais fraco do Mundial, o armador havia acertado todos a suas sete tentativas de cesta, incluindo uma enterrada. Se considerarmos que ele errou apenas um em 10 chutes contra os argentinos, temos a seguinte marca: nos últimos dois embates, seu aproveitamento de quadra foi de 16/17 (94%).

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A melhor marca de pontos de Raulzinho pela seleção principal era de 15 pontos, contra a Venezuela, na semifinal do Sul-Americano.

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A exibição do armador foi notada pela audiência internacional:

Este é o ex-treinador e hoje analista da ESPN americana fazendo uma pegadinha com os torcedores do Utah Jazz. Dante Exum disse adeus ao Mundial com a Austrália, enquanto Raulzinho segue em frente. Hoje, o brasileiro é um jogador superior, mas não é justo comparar também: o australiano está apenas iniciando sua curva de aprendizado em basquete de alto nível. Meses atrás, estava batendo bola no colegial em seu país. Num futuro breve, devem ser companheiros de time.


Brasil supera traumas, anula e Scola e mete 20 pontos na Argentina
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Giancarlo Giampietro

Nenê e seus comparsas dessa vez dominaram Scola, abrindo caminho para sacolada

Nenê e seus comparsas dessa vez dominaram Scola, abrindo caminho para sacolada

O começo de jogo não poderia ser mais preocupante. Luis Scola terminou o primeiro quarto com apenas dois pontos, e a Argentina estava na frente por 21 a 13, bombardeando da linha de três pontos. Então ficava aquela impressão: você tira o cabeleira do jogo e abre o perímetro. Se for brecar os tiros de fora, vai deixar o cara jogar? Como se as coisas fossem excludentes.

Hoje, Scola joga muito mais flutuando do que próximo da cesta. Segurar o velho carrasco na cabeça do garrafão e fiscalizar os arremessos eram tarefas que poderiam ser enquadradas no mesmo plano, e, quando isso passou a acontecer, o Brasil deslanchou em quadra, caminhando para uma vitória há muito tempo aguardada sobre os rivais sul-americanos em um mata-mata de respeito: 85 a 65, e a vaga nas quartas de final conquistada. A Sérvia é o próximo obstáculo, na quarta-feira.

"Wild Thing". Um dos melhores apelidos do basquete atual, fazendo justiça a um Anderson Varejão dominante nos rebotes: 5 ofensivos _ 8 pontos e 4 assistências numa grande atuação

“Wild Thing”. Um dos melhores apelidos do basquete atual, fazendo justiça a um Anderson Varejão dominante nos rebotes: 5 ofensivos _ 8 pontos e 4 assistências numa grande atuação

Na defesa e nos pormenores do jogo interno, os pivôs foram totalmente dominantes na zona pintada e seguraram o craque argentino com uma linha estatística irreconhecível: 7 pontos, 7 rebotes e 2/10 nos arremessos, mais os frustrados 3/8 nos lances livres. Além disso, Raulzinho veio do banco totalmente confiante, ignorando por completo a idade que seu RG mostra, 22 anos, caçula da equipe, marcando 17 pontos em 22 minutos, acertando 8 de 9 arremessos.

Uma revelação em quadra o armador, ajudando o Brasil a conquistar sua terceira vitória contra a Argentina em jogos em que Scola estivesse em quadra, depois de sete derrotas em nove confrontos. Os argentinos sentiram a falta de Manu Ginóbili durante todo o torneio – mas já haviam batido os brasileiros sem o genial ala-armador do Spurs antes. Dessa vez, porém, com um elenco cheio de improvisos, mesmo com o fator emocional e o retrospecto ao seu lado, não tiveram forças para lidar com a seleção brasileira.

Eles só se deram bem, mesmo, por dez minutos. No primeiro quarto, os brasileiros permitiram que os hermanos acertassem cinco bolas de fora, 15 pontos, equivalendo a 71% do escore deles. Pablo Prigioni, de uma hora para a outra, havia se transformado num Stephen Curry, acertando todos os seus chutes – terminou o primeiro tempo com 100% de quadra e 15 pontos na sua conta.  Sabemos que o veterano argentino não é tão produtivo ou arrojado assim com a bola em mãos. Nunca foi. Suas oportunidades surgiam com base na movimentação de bola de um ataque muito espalhado.

Sem referências internas, o adversário jogava com até cinco atletas flutuando. Por dez minutos e um pouco mais, a defesa brasileira simplesmente permitiu muitos chutes livres. A partir do momento em que acertou suas rotações – novamente com participação decisiva e muito mais atenta de Alex, Larry e Raulzinho – sim, o armador foi primeiro importante na defesa, para depois arrebentar no ataque, matando seus arremessos de todos os cantos. Ajudou, claro, o acúmulo de faltas de Scola também, que teve de descansar por quase todo o segundo período. Quando ele voltou, porém, sua presença não foi o suficiente para desequilibrar novamente a defesa no perímetro.

Garrafão: território brasileiro
As faltas anotadas contra Scola e sua ineficácia geral na partida foram consequências diretas do impacto dos pivôs brasileiros (mais tamanho, mais força física, mais agilidade e disposição para prevalecer no jogo sujo e nas pequenas tarefas). Splitter, Nenê e Varejão marcaram 21 pontos somados. Aí numa análise mais rasa, pode-se até pensar que foram mal, que espera-se muito mais deles, e tal cousa, e lousa, e maripousa, como diria o Alberto Helena. Mas realmente não dá para cobrar muito mais dos grandalhões, como outros números igualmente importantes atestam. Por exemplo: eles deram 11 das 16 assistências brasileiras.

O fato é que os três foram agressivos durante toda a partida e, aos poucos, com persistência e inteligência,  controlaram o garrafão – especialmente depois do intervalo. No terceiro período, a equipe nacional apanhou o dobro de rebotes ofensivos que havia obtido em toda o primeiro tempo, chegando a nove. Varejão foi o destaque aqui, atacando a tábua de ataque sem parar, atropelando um guerreiro como Andrés Nocioni no meio do caminho. O capixaba terminou cinco rebotes do lado argentino da quadra. Splitter apanhou mais três. O trio somou 21 rebotes. Para comparar, no total, a Argentina teve 26 (contra 39 do adversário). Ressalte-se aqui também os oito rebotes de Marquinhos, um fundamento que nunca foi o seu forte. O ala estava energizado.

Com mais posses de bola, oprimindo e desmoralizando a defesa argentina no jogo interno, o Brasil passou a afinar seu ataque, elevando atee mesmo sua produção nos tiros de fora, saindo de 2/11 no primeiro tempo (18,8%) para 8/18 na segunda etapa (44,4%). Outro mundo. A mínima troca de passes envolvendo os pivôs representava um desafio para os adversários, que formaram uma seleção sem envergadura e capacidade atlética. Tiveram muita dificuldade para contestar.

Depois de tomar 5 em 9 disparos até a metade do segundo quarto (55,5%), a seleção limitou seus oponentes a apenas 4 dos próximos 17 (23,5%) até que Salem Safar procurou sacudir as coisas no quarto final. Quando a vantagem brasileira já era superior a 10 pontos. Não seria o ala reserva argentino que alteraria o panorama do jogo. A essa altura, a Argentina estava basicamente rendida, sem ter a quem recorrer para fazer frente a um time muito mais atlético, sem nenhum vestígio de temor do seu lado. Dessa vez, não houve retrospecto, não Scola, nem nada que impedisse a seleção brasileira de avançar.