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Jukebox NBA 2015-16: Atlanta Hawks, para não achar que tudo acabou
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Giancarlo Giampietro

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Em frente: a temporada da NBA caminha para o fim, e o blog passa da malfadada tentativa de fazer uma série de prévias para uma de panorama sobre as 30 franquias da liga, ainda  apelando a músicas, fingindo que está tudo bem. A gente se esbalda com o YouTube para botar em prática uma ideia pouco original, mas que pode ser divertida: misturar música e esporte, com uma canção servindo de trilha para cada clube. Tem hora em que apenas o título pode dizer algo. Há casos em que os assuntos parecem casar perfeitamente. A ver (e ouvir) no que dá. Não vai ter música de uma banda indie da Letônia, por mais que Kristaps Porzingis já mereça, mas também dificilmente vai rolar algo das paradas de sucesso atuais. Se é que essa parada existe ainda, com o perdão do linguajar e do trocadilho. Para mim, escrever escutando alguma coisa ao fundo costuma render um bocado. É o efeito completamente oposto ao da TV ligada. Então que essas diferentes vozes nos ajudem na empreitada, dando contribuição completamente inesperada ao contexto de uma equipe profissional de basquete:

A trilha: “Don’t Dream It’s Over”, por Crowded House

A música? Bem, tem uma das letras mais sem pé, nem cabeça que se encontra por aí, e a métrica de seus versos impede que alguém de inglês macarrônico os acompanhe. Começa assim: “ liberdade no interior/Há liberdade sem/Tente pegar um dilúvio em um copo de papel”, e por aí (aonde, exatamente!?) vai. Até que chegamos ao refrão, e nada dessa confusão importa mais. É um hino da Antena 1. Com o radinho ligado a caminho da farmácia, do supermercado, na sala de espera do dentista, quem nunca? 

(…)

Vamos lá, galera, pode levantar a mão sem receio. Sei bem que é o tipo de melodia que todo orgulhoso que se preze vai tentar bloquear da cabeça. Mas é difícil de segurar: “Ei, não sonhe que tenha acabado”.

Boa. E, nesse refrão temos a seguinte frase: “Eles vêm para construir um muro entre nós, e sabemos que eles não vão vencer”, que já faz mais sentido e serve para duas narrativas em torno do Atlanta Hawks.

1) alguém teve a ideia de dividir, desmontar o atual elenco, ou de pelo menos estudar seriamente a possibilidade, a ponto de o time ter virado o epicentro das boatarias sobre eventuais trocas neste ano. Muitos ficaram à espera sobre o que aconteceria com Al Horford e, em menor escala, Jeff Teague. Quais as razões por trás dessa especulações? Uma é simples: Horford vai virar agente livre ao final do campeonato, e parece existir o temor de que ele possa *buscar novos rumos*. Então era melhor ver o que uma troca pelo dominicano poderia proporcionar, para não sair de mãos vazias. Segundo o rescaldo após o prazo para negociações, a diretoria pediu, com razão, um preço altíssimo pelo talentoso pivô, daqueles jogadores que se encaixa muito bem em qualquer sistema. O preço assustou os interessados, que, afinal, também não teriam segurança alguma de renovar com o atleta. Mas há quem diga também que os novos proprietários da franquia estariam cogitando uma transação por não terem a intenção de arcar com um inevitável contrato exorbitante para o veterano. No final das contas, não rolou nada. “Eles não venceram”: sejam os interessados em Horford ou os proprietários. Ok, paremos por aqui, para abrir a segunda narrativa e, depois, deixar que elas se unam.

Horford será um dos agentes livres mais cortejados em julho

Horford será um dos agentes livres mais cortejados em julho

2) mesmo com Tiago Splitter, um excelente marcador, afastado por conta de uma infeliz e complicada lesão no quadril e sem ter o catarinense em plena forma durante o campeonato, Mike Budenholzer conseguiu montar uma das defesas mais fortes da liga. É a segunda mais eficiente no momento, superada apenas por aquela orquestrada pelo chapa Gregg Popovich. Defesa… “Muro”… Pegou, né? Tudo para não deixar o outro time (“eles”) vencer, num fortalecimento providencial para compensar a queda brusca de rendimento no ataque. Aquela belíssima máquina ofensiva despencou da sexta posição para a 15ª neste ano. O time está desequilibrado nesse sentido, virando uma espécie de Chicago Thibs.

Então juntemos os dois pontos acima: há, ou havia, uma certa decepção em torno do Atlanta. Depois da melhor campanha de regular da história do clube, alcançando a marca de 60 vitórias, a equipe regrediu sensivelmente e tem uma projeção de 48 triunfos, de acordo com seu ritmo atual. Triste?

Nem tanto.

Primeiro porque o campeonato não terminou ainda e a equipe vem em seu melhor momento, voltando a se colocar em situação para ter mando de quadra na primeira rodada dos playoffs.  Mas a questão maior é saber se eles não jogaram demais naquela ocasião, se não chegaram perto do limite do atual elenco. Se for o caso, uma queda seria inevitável. Não nos esqueçamos que, em 2013-14, na estreia do Coach Bud, o resultado final foi de 38 vitórias e 44 derrotas. Agora estão praticamente no meio termo entre um ano e outro.

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Pode ser que, na real, o Hawks tenha até mesmo extrapolado seu limite, como naquele mês de janeiro em que se mostrou invencível, algo inédito, forçando inclusive a bem sacada eleição de todo o seu quinteto titular ao prêmio de “melhor(es) do mês”, levando quatro deles também ao All-Star Game. Tudo merecido. De qualquer forma, no trecho final da tabela, não nos esqueçamos que o time teve um aproveitamento medíocre de 11 triunfos e 10 reveses. Por mais que já estivessem garantidos nos mata-matas e que seu técnico leve a sério a filosofia Popovichiana de preservar seus jogadores sempre que puder, a queda foi significativa e um indício de que já estavam perdendo o pique.

(Poderíamos acrescentar a varrida que sofreram do Cleveland Cavaliers, sem Kevin Love, na final do Leste como outro indício de que tinham chegado longe demais até, mas aí é um tanto injusto, uma vez que a equipe tinha seus próprios problemas médicos para resolver. Vários, aliás: Thabo Sefolosha estava fora de combate, devido a uma fratura exposta na perna causada pela polícia nova-iorquina; Kyle Korver perdeu as últimas duas partidas depois de topar com Matthew Dellavedova e lesionar o tornozelo; DeMarre Carroll, com o joelho estourado, foi para o sacrifício; Paul Millsap estava se recuperando de um deslocamento de ombro, enquanto Horford, por fim, deslocou seu dedinho da mão direita, a mão do arremesso. Chega, né? Sem Carroll e Sefolosha para ao menos tentar incomodá-lo, LeBron estraçalhou o oponente e até foi gentil com David Blatt ao erguer o troféu da conferência.)

A lamentável lesão de Carroll ainda abala o ala até em Toronto

A lamentável lesão de Carroll pelos playoffs ainda persegue o ala mesmo em Toronto

Curiosamente, daquele esplêndido time titular de 2015, o único que saiu foi justamente aquele que ficou fora do jogo festivo da liga: Carroll, ganhando uma bolada do Toronto Raptors depois de expandir seu jogo de um modo impressionante em Atlanta (créditos para Bud e Quin Snyder, segundo o ala). A simples partida do ala para o Canadá não explicaria de modo algum as dificuldades encaradas pelo Hawks, até porque seu ponto mais forte era o combate no perímetro, embora tivesse desenvolvido um consistente chute de longa distância. E, bem, marcar não tem sido o problema. O que é uma grata e salvadora surpresa.

Desde o All-Star deste ano, por sinal, a defesa do Hawks é até mais eficiente que a do Spurs, ficando em primeiro na lista, sofrendo baixíssimos 94,6, pontos por 100 posses de bola, e com uma boa vantagem para cima dos texanos (numa amostra pequena de 15 jogos, é verdade, mas enfrentando duas vezes o Warriors e uma vez o Clippers, dois dos ataques mais poderosos da década). Time irregular durante toda a campanha, vem usando esse fortalecimento na contenção para desfrutar de novo momento de subida, vencendo seus últimos cinco jogos e oito dos últimos dez. Durante esta sequência, impediu que seu oponente alcançasse a marca de 100 pontos. No caso de Lakers (77), Jazz (84), Grizzlies (83) e Pacers (75), nem passaram dos 90, na verdade.

Você olha para o elenco em geral e não encontra brutamontes ou jogadores ferozes, intimidadores, certo? Mas se deixar se levar pelas aparências, vai ter uma ingrata surpresa.”A envergadura deles em todas as posições, a capacidade atlética, a velocidade e agilidade, todas tremendas”, afirma Dwane Casey, técnico do Toronto Raptors, e coordenador defensivo do Dallas campeão de 2011 e de alguns grandes times do finado SuperSonics, nos tempos de George Karl.

Homens brancos sabem defender: Korver preenche espaços

Homens brancos sabem defender: Korver preenche espaços

“Eles se parecem muito com o San Antonio, por razões óbvias”, disse Frank Vogel, técnico do Indiana que entende uma coisa ou outra sobre marcação sufocante, depois de ver seu time esmigalhado. “Eles jogam duro para valer. A intensidade e a tenacidade deles é admirável. Eles grudam no seu peito a cada corta-luz. Eles passam por cima de qualquer corta-luz. São dedicados e estão entrelaçados em um bom esquema. Além de ter bons defensores individualmente, como Teague e Millsap com as mãos, Bazemore, a inteligência de Korver, que pode ser criticado por sua mobilidade, mas na verdade é um defensor muito, muito bom. Horford também é forte. Eles têm um talento muito bom para a defesa e são obviamente muito bem treinados.”

Se são dominantes defensivamente, mas não conseguem o sucesso da temporada passada, então a lógica é que o problema esteja localizado no ataque. Aí que, na hora de comparar os números de uma temporada para a outra, encontra-se alguns dados interessantes. Em relação ao time que liderou a conferência em 2015, a versão atual caiu um pouco no aproveitamento geral de arremessos, mas não foi nada drástico: na medição que leva em conta chutes de dois e três pontos mais os lances livres (“True Shooting”), o time caiu de terceiro para sétimo (indo de 56,3% para 55,1%). O quanto representa de queda 1,2% nessa estatística? Na temporada atual, é o que separa o Thunder do Clippers, de terceiro para quinto. Por outro lado, o time segue com uma proposta solidária: é o segundo com mais cestas assistidas na liga, melhorou sua frequência de assistência x turnover e até mesmo acelerou o ritmo, passando de 20º a 10º.

O que acontece, então?

Tem de fuçar mais um pouco até chegar aos tiros arremessos de três pontos, que são obviamente parte integral de seu sistema (estão em sétimo entre aqueles que mais arriscam de fora). Nota-se uma boa diferença, com a equipe caindo de 38% para 34,8%, ou de segundo no geral para 15º, e aí que chega a hora de falar um pouco sobre Kyle Korver.

O ataque de Bud sente a falta da ameaça que o ala representou na temporada passada, quando ficou muito perto do clube dos 50%/40%/90%, chegando ao All-Star Game pela primeira vez na carreira, dias antes de completar 34 anos de idade. Seja pela dificuldade de se recuperar de uma cirurgia no tornozelo, que atrapalhou suas já legendárias atividades físicas no período de férias, ou pelo simples envelhecimento, sua pontaria nos arremessos de fora baixou de 49,2% para 40,3%. Claro que ainda é um ótimo índice. Mas essa queda tirou o líder em aproveitamento no campeonato passado do grupo dos 20 primeiros até a semana passada – agora está em 18º.

Ainda assim, Korver ainda representa uma grande ameaça na cabeça dos defensores e estrategistas. Claro que você não vai deixá-lo livre, só porque ele não mata mais quase 50% de suas tentativas. Né? (Risos). Ainda assim, seu impacto gravitacional é menor este ano. Por gravidade, aqui, entenda o quanto sua presença em quadra interfere no posicionamento de seus oponentes, seja seu marcador específico ou outros atletas que se distraiam para conter sua ameaça. De jogador com o maior saldo de pontos na Conferência Leste em 2014-15 (10,9 por 100 posses de bola, numa das estatísticas mais legais do ano passado, mostrando o quanto o basquete vai além dos highlights), passou a quinto, sendo superado pelo trio LeBron-Love-Irving e Kyle Lowry, com 6,0 pontos. Nada mal, ainda na elite. Mas abaixo do nível espetacular em que havia jogado, quando a simples possibilidade de ele aparecer livre no perímetro significava pleno terror para os oponentes:

Só um adendo: claro também que não cai tudo nas costas de Korver aqui. No perímetro, o time também sente a falta de Carroll (algo que qualquer scout, cinco anos atrás, consideraria uma coisa maluca de se dizer). O ala matou 39,5% de seus chutes de três em sua última temporada pelo Hawks. Em seu lugar na rotação, Kent Bazemore vem convertendo 36,3%. E a vaga de reserva de Bazemore herdada por Tim Hardaway Jr. também valeu uma queda de 36,4% para 33,0%. Millsap também ficou para trás, de 35,6% para 31,1%. Da turma que mais atira, só Teague cresceu, de 34,3% para 40,1%, algo que vinha passando batido, confesso. O armador está logo abaixo de Korver no ranking geral da liga. Além disso, a boa notícia para Budenholzer é que o ala tem esquentado a mão vive em março seu melhor mês nesta campanha, chegando a 53,1% de aproveitamento nos chutes de três, com 4,9 tentativas por partida. Essa guinada coincide justamente com as oito vitórias em dez jogos do Hawks.

Agora é conferir se o Hawks consegue apertar ainda mais o passo e a defesa e carregar sua boa fase rumo aos playoffs, ao contrário do que aconteceu no ano passado. Isso só reforçaria o impasse que a diretoria enfrenta. Se esse núcleo vai ser desmembrado neste campeonato, não sabemos. Enquanto o momento de refletir sobre planos de médio a longo prazo não chega, que eles desfrutem e continue sonhando e, quiçá, cantando.

A pedida? Uma revanche com o Cleveland Cavaliers na final do Leste.

De assistente a todo poderoso em Atlanta

De assistente a todo poderoso em Atlanta

A gestão: ao imprimir em seu cartão de negócios os cargos de presidente e técnico, Mike Budenholzer entrou em um seleto grupo na NBA, ao qual só pertencem hoje Pop, Doc, Stan Van Gundy e… só (#FlipRIP). É impressionante sua ascensão, não? De assistente em San Antonio por 17 anos a todo poderoso em Atlanta em duas temporadas. Pois é: estudar no Institituto Instituto Gregg Popovich & R.C. Buford Spursiano de Basquete por tanto tempo tem suas vantagens, mas não deixa de ser notável que, após duas boas campanhas do time, tenhas ido promovido a chefão das operações esportivas do clube após o afastamento de Danny Ferry (e há quem diga que o antigo chefe, quem lhe ofereceu uma tão demorada e aguardada chance, se ressinta com isso).

SVG vai dando sinais de que é possível em Detroit. Rivers, por outro lado, já tem um número suficientes de trapalhadas em Los Angeles para Steve Ballmer repensar essa decisão. Pop é o presidente do Spurs, mas a divisão de trabalho no escritório talvez seja no máximo de 50/50 com Buford. Não só é raro ver alguém acumular ambos os cargos, como mais difícil ainda que vire um caso de sucesso. Mencionar Red Auerbach ou Pat Riley não vem ao caso. A liga mudou muito de lá para cá e, no caso de Riles, o título de 2006 nem conta, pois foi algo praticamente efêmero, já que ele assumiu o time no meio da jornada e, dois anos depois do título, o Miami já estaria fora dos playoffs.

O Coach (& President) Bud ainda está sob avaliação. A troca de uma escolha de primeira rodada por Tim Hardaway Jr. é bastante questionável, ainda mais com tantos jogadores interessantes disponíveis numa valiosa 15ª posição. Vamos lá: Kelly Oubre Jr., Justin Anderson, Bobby Portis e, meu candidato favorito, Rondae Hollis-Jefferson, para citar só aqueles que estavam bem cotados à época e que preencheriam lacunas no elenco, embora nem sempre você precise fazer uma seleção de impacto iminente. Além disso: não dá para esquecer que essa escolha veio de Brooklyn, como fruto da vantajosa troca de Joe Johnson – isto é, queimaram um cartucho. A troca indireta de Justin Holiday por um aluguel de alguns meses de Kirk Hinrich, que não deve nem jogar, também reflete uma mentalidade imediatista. Como é de praxe: técnicos querem melhorias para já. O futuro? Cuidemos depois.

A absorção do contrato de Tiago Splitter foi uma boa tacada. Só convenhamos que, vindo de San Antonio, foi praticamente um acordo de compadre. Outra negociação que envolve um brasileiro foi positiva: a espera por Kris Humphries no mercado de “buyouts” – em 2016, o ala-pivô é um jogador mais produtivo do que Anderson Varejão, que era visto por diversos scouts consultados pelo blog como “opção natural” para a equipe. De resto, todo o elenco do Hawks é uma herança de Ferry: Bazemore, Sefolosha, Walter Tavares, Schrödinho etc. Vamos ver como eles vão se sair em um verão (setentrional) importantíssimo, no qual terão espaço salarial considerável, ainda mais se Horford partir.

Splitter poderia ter feito muito por Atlanta. Mas o quadril não permitiu

Splitter poderia ter feito muito por Atlanta. Mas o quadril não permitiu

Sobre Bazemore, o Hawks tem outra preocupação para julho. O ala também vai virar agente livre e, de acordo com a expectativa geral de scouts e executivos, vai interesse de muitos clubes, podendo ganhar um aumento de mais de 500% em seu salário de US$ 2 milhões. Sim, na nova NBA um jogador atlético, com chute razoável de fora e que defende múltiplas posições no perímetro, só com restrições a oponentes muito altos e físicos, vai ganhar mais de US$ 10 milhões tranquilamente – é o atual salário de Danny green. Será uma bonança financeira para acolher um número reduzido de atletas no auge da carreira.

E aí há um ponto para se monitorar em futuras operações do clube: tanto Bazemore como seu antecessor no time titular, DeMarre Carroll, foram alvos baratos, de jogadores pouco falados, que se mostraram certeiros, lucrativos. O problema? Os contratos foram muito curtos. Então lá se foi um Carroll, que evoluiu uma barbaridade em Atlanta e foi ganhar uma bolada em Toronto. Paul Millsap quase se mandou. Pode acontecer o mesmo com Bazemore.

Olho nele: Paul Millsap

Desde que saiu de Utah, o ala-pivô foi eleito para a seleção do Leste do All-Star Game em todas as três temporadas seguintes. Antes de renovar seu contrato, recebeu uma oferta de US$ 20 milhões anuais do Orlando Magic. Quer dizer: já se foi o tempo em que Millsap poderia ser considerado “subestimado”. Ele pode não vender carro, navio ou avião. Não é um darling do marketing. Mas os técnicos não estão nem aí para isso.  Pudera: poucos podem igualar o nível de atividade, versatilidade e produtividade do veterano de 30 anos, que contrariou muitos scouts ao se tornar essa estrela.

Nesta temporada, só quatro jogadores têm um mínimo de 15,0 pontos, 8,0 rebotes, 1,0 toco, 1,0 roubo em média: Kevin Durant, Boogie Cousins, Anthony Davis e Millsap. (Se for para acrescentar um filtro de 3,0 assistências por partida, Davis sai da jogada). Não é um fato isolado. Desde 2011, só Anthony Davis, Boogie Cousins e Dwight Howard se juntariam ao veterano. Para um cara que foi escolhido na 47ª posição de seu Draft, nada mal.

dikembe-mutombo-card-hawks-1998-99Um card do passado: Dikembe Mutombo. A última vez que o Atlanta se meteu entre as melhores defesas da NBA foi na temporada 1998-99, ano pós-locaute, quando este distinto senhor congolês tomava conta da tabela, talvez já aos seus 40 anos de idade, segundo a desconfiança da época. Aí fica fácil, né? Com Dikembe Mutombo Mpolondo Mukamba Jean-Jacques Wamutombo (se você tem a chance de escrever o nome completo desta muralha em forma de pessoa, não dá para hesitar), só não defende quem não quer. Seu time teve a segunda defesa mais eficiente da liga, atrás somente do, coincidência, Spurs.

O africano teve média de 2,8 tocos em sua carreira, que se estendeu de 1991 a 2009. No meio do caminho, passou cinco anos em Atlanta, fazendo parte de um time competitivo, mas não o suficiente para se distinguir em uma Conferência Leste pesada, com Bulls lá na frente e Pacers, Knicks e Heat num pelotão intermediário. Das quatro vezes que foi eleito Defensor do Ano, duas aconteceram em Atlanta, numa dobradinha entre 1997 e 1998. Ironicamente, no ano em que o Hawks teve seu melhor rendimento, Alonzo Mourning foi eleito. Para Georgetown, tudo bem: ficou em casa – aliás, entre 1996 e 2001, só deu Mutombo ou Mourning nesse quesito.

Voltando àquele Atlanta, é preciso dizer que Mutombo não estava sozinho. A defesa comandada por Lenny Wilkens tinha o ultra-agressivo Mookie Blaylock para pressionar a bola (seu reserva, Anthony Johnson, também dava trabalho na linha de passe) e três alas-pivôs experientes e centrados para consolidar uma linha de frente muito forte no rebote e de posicionamento: Grant Long, LaPhonso Ellis e Alan Henderson.


Pat Riley apronta novamente, contrata Joe Johnson e desperta ira na NBA
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Giancarlo Giampietro

O anel que ainda causa barulho na NBA

O anel que ainda causa barulho na NBA

Sem David Stern, se há alguém que chega mais perto do status de um Poderoso Chefão, esse alguém está vivendo em Miami há um bom tempo – sem ter coincidido com o Scarface, diga-se – e que está prestes a completar 71 anos no próximo dia 20. Pat Riley, senhoras e senhores. Ao contratar o veterano Joe Johnson, ele aprontou mais uma vez.

Mas, calma. Não quer dizer que o ala, que estava mofando em Brooklyn, tenha chegado para fazer a torcida festeira do Heat esquecer LeBron. Que ele representa uma evolução, e tanto, comparando com Gerald Green, não há dúvida. Deixa o time mais forte. O exato impacto que terá pelo time ainda está cedo para saber, em que pesem as duas vitórias desde sua estreia.

Por ora, o que chama mais a atenção é a manobra que o clube da Flórida fez para poder acertar com JJ, despertando inveja e, principalmente, a ira de alguns de seus concorrentes. Com uma generosa contribuição de ninguém menos que Beno Udrih, o veterano armador que vai passar por uma cirurgia no pé, não deve jogar mais nesta temporada e, ainda assim, se despediu de South Beach com um gesto que deve fazer dele alguém muito popular na balada.

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Foi assim: o esloveno aceitou encerrar seu contrato com o Miami, na chamada decisão de “buyout”, na qual dirigente e agente negociam a rescisão para que, em geral, o atleta possa buscar uma vaga que lhe apeteça mais, enquanto a franquia tem a chance de, eventualmente, poupar uma grana. Até aí normal.

Acontece que Udrih, com a perspectiva de ficar três meses de molho, não vai jogar por mais nenhum time neste campeonato. Ainda assim, aceitou dar um desconto ao Miami, que não precisaria pagar o restante de seu salário na íntegra. Foi algo em torno de US$ 50 mil a 90 mil. Uma pechincha no mundo da NBA, certo? É, dá para falar que sim. Seja 50 ou 90, o que causa revolta em outras vizinhanças é que esse dinheiro é o suficiente para que o escritório de Riley fuja da temível “luxury tax” (a multa da luxúria, hehe).

Johnson chega ao Miami praticamente de graça. Valeu, Udrih

Johnson chega ao Miami praticamente de graça. Valeu, Udrih

O que isso significa? Um lucro imediato de pelo menos US$ 2,6 milhões para a franquia. São US$ 110 mil de economia em multas mais US$ 2,6 milhões que vai receber daqueles times que estão estourados, acima desse limite. Para o futuro, os ganhos são ainda  imensuráveis, já que se livra de algumas amarras impostas pela liga aos clubes que extrapolam o teto salarial constantemente – o que, em Miami, vinha acontecendo desde os anos LeBron.

Sacou?

O Heat ganhou muito nessa. E Udrih? Literalmente, perdeu dinheiro. E por que ele aceitaria isso?

Pois é. É justamente essa a dúvida que atormenta a concorrência. A dispensa de jogadores nessa fase é mais do que normal. Vimos acontecer com o próprio Johnson.  Varejão nem viajou para Portland e já acertou com o Golden State. David Lee chegou a Dallas para, quem imaginaria, dar um descanso a Zaza Pachulia. Andre Miller agora é do San Antonio. Por aí vamos. Udrih será operado e vai esperar até julho, agosto, setembro… para ter um novo time. Se é que isso vai acontecer. Caso aceite, digamos, uma oferta de salário mínimo garantido do Heat, aí podem esperar que a chiadeira vai aumentar, indicando um acordo por baixo da mesa entre ambas as partes.

O legado Udrih: um bom soldado

O legado Udrih: um bom soldado

“Se isso faz sentido para as pessoas, ou não, é o que Udrih quis fazer, o que ele se sentiu confortável em fazer. Ele ainda é um irmão para nós”, afirmou Dwyane Wade. Foi o famoso “valeu, mermão!”, numa cara-de-pau tremenda.

O plano do Miami, aliás, era ainda mais ambicioso. Eles torciam para que o Philadelphia 76ers, com uma vaga no elenco, recolhessem o esloveno durante o período de “waivers”. Aí a consequência seria de que o Miami iria reduzir ainda mais seus encargos, limpando na íntegra os US$ 2,1 milhões de seu salário, para ganhar margem para contratar mais um jogador pelo salário mínimo – e tudo indicava que já tinha um acordo verbal com o cestinha Marcus Thornton, dispensado pelo Houston Rockets.

O Sixers está abaixo do piso estipulado para a folha salarial, e qualquer que seja a quantia devida teria de ser completada e distribuída entre os 14 atletas do grupo ao final da temporada, com uma vaga sobrando. Caberia ali. Mas Jerry Colangelo e/ou Sam Hinkie não aprovaram essa, claro. Até porque Philly vai receber a escolha de Draft do Heat. Então não seria do interesse deles abrir mais uma brecha para o clube da Flórida melhorar seu elenco.

Ainda assim, por mais que Erik Spoelstra esteja com a rotação enxuta, Riley não vai reclamar de nada, por já ter conseguido quebrar, legalmente, o protocolo da liga para adicionar Johnson sem que isso interferisse nas finanças da franquia para o futuro. Foi uma tacada de mestre de sua equipe. O presidente do clube já afirmou que pretende manter o atleta de 34 anos em sua base na próxima temporada e até que ele decida se aposentar. “A coisa mais importante é que o Pat me disse que isso não é um negócio de curto prazo. Ele gostaria que eu encerrasse minha carreira aqui”, disse o jogador.

A empolgação é geral. O veterano respondeu com 18,0 pontos, 3,5 assistências e 65,2% no aproveitamento de arremessos (15-23)  e 50% de fora (3-6) em 31,5 minutos – só não vamos esquecer que foi contra o Knicks e o Bulls, dois times em desarranjo total. Johnson afirmou que seus dois primeiros jogos pelo Heat o fizeram correr como não havia acontecido nos últimos sete, oito, nove anos. Desde que saiu de Phoenix, basicamente. “Eu me senti rejuvenescido. Estou amando este novo começo”, afirmou. Dá para entender tranquilamente o astral do ala, que escapou de uma situação deprimente em Brooklyn para voltar a brigar pelos playoffs em Miami. Além disso, Johnson afirma que passa as últimas seis férias em Miami e que ficaria feliz em deixar seus filhos de 9 e 2 anos em tempo integral num clima mais quente.

Do ponto de vista esportivo, faz sentido a escolha por Miami, em detrimento de LeBron James. O Cavs tem mais time, muito mais chance de lutar pelo título. Mas os minutos, os arremessos e a participação em geral de Johnson seria mais reduzida por lá. Oras, a divisão de tarefas entre LBJ, Kyrie Irving e Kevin Love já é complicada o bastante para adicionar um veterano que não se vê como sexto, sétimo homem de rotação.

No Oeste, o Oklahoma City certamente receberia JJ de braços abertos, naquele papel que já foi de James Harden um dia, que também teve um Kevin Martin e que hoje está carente, independentemente da autoconfiança de Dion Waiters. Segundo o ala, as conexões que ele tinha com o Heat pesaram mais, citando Dwyane Wade , Amar’e Stoudemire e (!?) Udonis Haslem como caras com quem está mais acostumado. Desconfio que a presença de gigantes como Golden State e San Antonio no Oeste seja outro fator que o tenha influenciado. né?

O Brrooklyn não foi bacana

O Brrooklyn não foi bacana

O quanto Johnson pode render é um mistério. Seria razoável esperar um ritmo desses até o final do ano? Não sei bem. O que também não dá para tirar como padrão é o seu rendimento recente pelo Brooklyn Nets. Ele fazia sua pior temporada desde o ano de novato, em 2001-02, entre Boston e Phoenix. Parecia o fim da linha. Mas temos de entender a conjuntura: ele não é o mesmo jogador de dez anos atrás, claro, quando caminhava para sua primeira seleção para o All-Star, quando fazia, muito bem, um pouco de tudo. Fisicamente ele caiu bastante, não tem como. O aspecto motivacional, todavia, também desmoronou junto, ainda mais nesta campanha em que não havia mais a grife de Deron Williams, Paul Pierce ou Kevin Garnett por perto. Pelo que se pode entender, a dupla Thaddeus Young-Brook Lopez não o comovia tanto assim.

Em Miami, ele pode ser uma arma complementar, com a bola vindo das mãos de Dwyane Wade, dono ainda da quarta maior taxa de uso da liga, e eventualmente de Goran Dragic. Para alguém com tanta milhagem acumulada (quase 40.500 minutos só de temporada regular, mais 3.400 de playoffs), o mais prudente seria Johnson jogar fora da bola e ganhar em eficiência com isso. Só precisa ver o quão rapidamente ele pode se livrar desse cacoete, desenvolvido de modo lastimável em Atlanta, sob o comando de Mike Woodson. Wade não parece preocupado: “Quero que Joe seja Joe”. Ponto.

Por falar em rapidez, desde que Chris Bosh foi afastado pela infeliz reincidência de coágulos sanguíneos, perdendo a versatilidade e habilidade do ala-pivô em meia quadra, Erick Spoelstra resolveu acelerar as coisas em seu time, numa reviravolta mais que bem-vinda. Antes do All-Star Game, o Heat era o segundo time mais lento da NBA. Agora, é o 11º mais rápido, vejam só, num ritmo de jogo que favorece muito mais o estilo de Dragic. Antes, o time era o segundo time que menos arremessava (79,5 por jogo). Agora, é o nono que mais busca a cesta (88,3). São mais oportunidades para os atletas pontuarem, e a partilha também aumenta quando se subtrai o volume de jogo que Bosh concentrava. Dragic (jogando, enfim, como o armador em que se investe US$ 80 milhões), Luol Deng (uma surpresa, com 15,0, 10,0 rebotes nos últimos cinco jogos, mas com menos eficiência nos arremessos, é verdade), Hassan Whiteside (que agora resolveu converter lances livres e, mesmo saindo do banco, rumo a um contrato imenso em julho) e até Wade estão produzindo mais.

No coletivo, o time saltou da 25ª posição no ranking de eficiência ofensiva para a 15ª, sem perder em nada em sua força defensiva, campo no qual subiram do sexto lugar para o quarto, vejam só. De qualquer forma, o asterisco de sempre vale aqui: estamos falando de uma amostra bem menor de jogos. Os adversários vão se preparar mais para essa proposta mais agressiva no ataque, enquanto a tabela de jogos vai se reequilibrar. De qualquer maneira, vale acompanhar com atenção esse processo com muita atenção. O time é muito talentoso.

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Whiteside achou a mão no lance livre e no geral

A questão é se o elenco vai se sustentar, mesmo que o ritmo não seja dos mais frenéticos. No momento, Spoelstra está usando uma rotação de apenas oito homens. Uma rotação de playoff.  Faltam, no entanto, quase dois meses até a fase decisiva começar, e o quinteto titular tem dois jogadores que não são muito conhecidos pela durabilidade. Wade que o diga, com Amar’e lhe fazendo companhia. Qualquer deslize, num Leste muito equilibrado, pode custar a eliminação dos playoffs. O ala-armador dá de ombros novamente: “Essa noção de que possamos correr tanto que eu não seria capaz de acompanhar… é maluca”, diz. É curiosa, nesse sentido, a divisão de forças que Spoelstra tem feito em sua rotação, agrupando os jogadores mais experientes no time que começa as partidas, enquanto Whitside e os promissores calouros Justise Winslow e Josh Richardson saem do banco.

Sem espaço salarial para contratações nem de atletas de salário mínimo, a comissão técnica sabe que esse octeto não deve receber ajuda tão cedo, mesmo com duas vagas abertas – elas só devem ser preenchidas nas últimas duas semanas da temporada regular, para se pagar quase nada em em salário proporcional aos dias restantes no calendário. Gerald Green parece ter entrado em transe – e daí o assédio a Thornton –, Josh McRoberts mal consegue parar em pé e Udonis Haslem já está pronto para assumir algum cargo fora de quadra. Tyler Johnson ainda diz que pode retornar em abril, depois de uma cirurgia no ombro. Bosh não deveria pensar em basquete enquanto não tiver garantia médica de que o jogo não lhe faz mal, ou que não interfere em sua recuperação. É um problema muito sério, que faz do basquete algo menor.

No ano passado, quando Bosh teve uma embolia pulmonar diagnosticada, o Miami desandou e escorregou para fora da zona de classificação dos playoffs. Dessa vez, o time parece mais equipado para suportar a perda de um craque desses, desde que as lesões não se estendam. Esse é mais um testamento da competência de sua diretoria, que se virou como pôde para a montagem de um grupo qualificado, de origem bastante diversificada. Na atual rotação, Wade é o franchise player e Dragic, o agente livre caro, mas adquirido via troca. Luol Deng veio na faixa de US$ 10 milhões. Depois você vai ter Whiteside (desses que justificam a D-League), Stoudemire (fim de carreira, com salário mínimo, mas na melhor forma física dos últimos anos), dois novatos via Draft e Joe Johnson, claro.

Para a próxima temporada, o quadro clínico de Bosh é fundamental, mas Riley terá flexibilidade para poder se intrometer na conversa com os agentes livres mais badalados, dependendo do que decidir sobre Whiteside. Como executivo, ele confia em dois trunfos para tentar atrair caras com a fama de Johnson, mas num ponto ascendente da carreira: o clima e a vida em Miami e, hã, sua própria reputação na liga. São oito títulos de NBA, afinal – um como jogador, cinco na época de técnico e dois como executivo. Desde que chegou a Miami, em 1995, o clube só não foi aos playoffs em quatro anos. Vai argumentar como contra isso? Aí é aturar, mesmo, e conter a inveja.


Polêmica demissão de Blatt só aumenta a pressão em cima de LeBron e Cavs
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Giancarlo Giampietro

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Silas, Malone, Brown e, agora, Blatt: todos caíram no Cavs de LeBron

A temporada era 1981-83, e o Los Angeles Lakers havia vencido sete de seus 11 primeiros jogos, elevando seu recorde pessoal para 111 triunfos contra 50 derrotas, com direito a um título. Em quadra e no vestiário, porém, não havia alegria nenhuma. O elenco liderado por Kareem Abdul-Jabbar estava se arrastando num ritmo modorrento, entediado e frustrado com o pulso rígido do técnico Paul Westhead. Nada de showtime.

Em sua terceira campanha pela liga, já considerado uma estrela, Earvin “Magic” Johnson veio, então, a público num belo dia para dizer que não aguentava mais o professor, e que para ele já havia dado: queria que o clube californiano o trocasse. (E imaginem se tivesse sido atendido?)

Coincidentemente, no mesmo dia, o proprietário Jerry Buss anunciou que a era Westhead havia chegado ao fim. Difícil não associar a decisão ao ultimato do armador, por mais que o célebre e falecido proprietário negasse. “A ironia é que eu já havia decidido demiti-lo, e o Magic acabou dando azar de ter falado aquilo. Mas não acho que ninguém vai acreditar nisso”, afirmou.

E quem assumiria o cargo? Seu principal assistente, um certo Pat Riley.

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Tudo isso para dizer que LeBron James não foi o primeiro craque a fritar seu treinador, nem será o último. Isso é rotineiro na NBA. Mas, que suas ações levaram à queda do treinador, acho que não há o que se discutir, por mais que ele e o gerente geral David Griffin digam o contrário, e que alguns veículos de mídia americanos façam coro a eles, tentando amenizar o impacto causado pela demissão de um cara que venceu a Conferência Leste no ano passado, a despeito de tantas lesões relevantes e da chegada de novas peças durante a jornada. O mesmo cara que novamente superou alguns desfalques na primeira metade desta temporada, liderando a terceira melhor campanha da liga, com o time aparecendo na lista dos sete ataques e defesas mais eficientes. O tipo de currículo que torna a decisão da franquia um tanto chocante, por mais que, em Cleveland, muitos já estivessem preparados para tal desfecho.

Apurar se LeBron foi, ou não, informado sobre a demissão desta sexta-feira, aliás, é perda de tempo das mais tolas. Não havia razão para Griffin consultar o astro – ele já sabia qual seria a resposta. A má vontade de LeBron para com Blatt está foi muito bem documentada, de modo que esse tremendo esforço de última hora limpar sua barra soa inútil.

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Aliás, segundo relatos dessa mesma campanha de blindagem, LeBron desde o princípio se mostrou muito pouco receptivo ao treinador, sem o acolher ou ajudar em sua adaptação ao clube e uma nova liga. Pelo contrário. Frases como “Blatt nunca teve chance” também foram escritas a esmo nessas últimas 24 horas. Adrian Wojnarowski publica que o jogador e seu agente/sócio, Rich Paul, queriam a contratação de Mark Jackson. A diretoria disse que seria impossível. E aí que Tyronn Lue virou a solução para dupla. Tudo, menos Blatt.

O que tem sido dito, porém, é que o descontentamento com Blatt não se limitava ao camisa 23.  Tudo leva a crer que, sim, o técnico estava com o filme queimado – com quantos e quem, exatamente, é o que não vamos saber. Agora, só não dá para negar que a postura de LeBron obviamente exerceu forte influência para tanto. Se um cara de sua estatura não é receptivo, fica muito mais fácil para os demais peitarem o técnico. Natural até.

Não que o treinador tenha sido mera vítima e que não tenha contribuído para o motim com algumas atitudes um pouco tolas. Como, na ocasião de sua primeira vitória pelo Cavs, quando mal comemorou com os atletas, estragando a festa deles, dizendo que, caras, tipo, já tinha centenas de triunfos em seu currículo. Ok, ele é realmente um dos profissionais mais vencedores da modalidade, mas, para todos efeitos, para o mundo da NBA, ainda era um calouro. A intenção dos jogadores não era de provocá-lo ou ofendê-lo, nesse caso. Quanta simpatia, né?

Blatt teria perdido o elenco, diz Haywood

Blatt teria perdido o elenco, diz Haywood

Anderson Varejão foi um dos que teve de lidar com a insensibilidade do técnico, segundo o “ESPN.com”. Recuperando-se de uma lesão no tendão de Aquiles, o brasileiro estava disposto a retornar ao time para a série final contra o Golden State Warriors. A diretoria achou que não era o caso. A decisão estava tomada. Quando questionado em uma coletiva, todavia, Blatt não disse que sim, nem  que não, mexendo com os ânimos de todos.

Outro ponto que causava bastante incômodo seria a condescendência de Blatt com LeBron, Kyrie Irving ou Kevin Love, protegendo as celebridades em coletivos e sessões de análise de vídeo. Os mimos aos astros não pegavam bem com o restante do elenco: seria traços de covardia e injustiça por parte do treinador. O agora promovido Tyronn Lue, dizem, se via obrigado a interferir e cobrar as estrelas, na tentativa de apaziguar os ânimos. Mas a relação já estava estremecida demais, algo que Griffin, em seu duro discurso nesta sexta-feira, deixou claro.

“Eu vi os jogadores interagindo entre eles por um longo tempo, em diversas circunstâncias. Sei quando uma coisa não está certa, e acho que tomei a decisão correta. Vou ao vestiário muitas vezes. Falta espírito ali. Nossa campanha de 30-11 foi com uma tabela relativamente fácil. Faltava conectividade do técnico com o time. Falta identidade ao time, que deu dois passos para a frente e um para trás. Quando temos clareza no que queremos como franquia, essas decisões acabam sendo tomadas por conta própria. Não vou deixar um time que tem uma folha salarial sem precedentes  à deriva”, afirmou.

Precisa de ajuda? "Não".

Precisa de ajuda? “Não”.

A inexperiência de Blatt em particularidades da liga também teria chamado a atenção de alguns veteranos, como quando pediu tempo no finalzinho do quarto jogo da série contra o Bulls nos playoffs do ano passado e, por sorte, foi ignorado pela arbitragem. O Cavs já havia esgotado sua cota e, caso percebida, a ação do treinador teria resultado em uma falta técnica. A chance era grande, então, que Chicago abrisse uma vantagem de 3 a 1. Esse tipo de falha teria acontecido seguidas vezes, gerando mais desconfiança no elenco.

O que não dá para acreditar, porém, é que David Blatt fosse um tremendo de um incompetente e que todo o sucesso do time se explicasse pelo talento de LeBron. Nessa campanha de difamação de um e proteção do outro, chegou-se ao cúmulo de fontes anônimas dizerem que o técnico simplesmente não sabia desenhar jogadas na prancheta durante pedidos de tempo. Em entrevista à rádio “Sirius XM”, o pivô Brendan Haywood, reservão do time no campeonato passado e agora aposentado, se sentindo livre para falar o que bem entender, confirmou esse problema. Disse também que o comandante não entendia os padrões de substituição da liga e que cometia “erros óbvios”. Hã… Sinceramente, dá para acreditar nessa? Estamos realmente falando do mesmo técnico cujo Maccabi Tel Aviv ganhou, em 2015, de CSKA Moscou e Real Madrid com um elenco absolutamente inferior? O mesmo que levou a Rússia o bronze olímpico em Londres 2012, derrotando a fraquinha e inexperiente Argentina na disputa pelo terceiro lugar? Enfim…

Até mesmo quando tentam defender Blatt,  seus críticos o tratam com desrespeito. Dizem que Blatt não foi contratado, a princípio, para conduzir um elenco pesado como este, que o título não estava em pauta, antes de saberem que LeBron queria, mesmo, voltar. É um fato, mas esse pensamento já manifesta uma condescendência que beira o ridículo. Algo como: “Coitadinho, não era para ele”. Falando isso de um técnico que ficou a duas vitórias do título em sua primeira campanha pela liga. Ele teve muitos acertos como estrategista. Por mais exuberante que tenha sido LeBron, ele realmente fez tudo sozinho? E o que dizer da boa campanha atual, a despeito da ausência de Irving e Iman Shumpert no início? Seu único tropeço mais custoso foi não ter integrado Love de um modo mais orgânico ao sistema ofensivo – agora, o quanto se pode julgá-lo por isso é uma questão: afinal, se era LeBron quem estava no comando… Não seria tarefa dele? Não dá para dizer que tudo de positivo do plano tático e técnico passa pelo jogador, enquanto a Blatt sobrariam apenas as críticas.

David Griffin chamou a responsabilidade

David Griffin chamou a responsabilidade

Em sua coletiva, Griffin não questionou de modo algum o conhecimento de jogo do demitido. Não há como – a sacolada que a equipe tomou do Warriors na segunda-feira não foi, diz, decisiva para sua decisão. E nem deveria ser: em confrontos anteriores com Golden State e San Antonio, as derrotas foram, respectivamente, por seis e quatro pontos. Não foi a bola que derrubou Blatt. No entanto, a política no vestiário é parte integral da profissão, tão ou mais importante que o riscado, ainda mais numa liga como a NBA, cujos atletas são paparicados desde sempre. Faltou mais jogo de cintura, tato e carisma para Blatt. Características que, ao que parece, sobram para Tyronn Lue.

O baixotinho que levou um baile de Allen Iverson nas finais de 2001, mas que teria longa carreira, agora é, aos 38 anos, o técnico mais jovem da liga. Respeitado no vestiário, constantemente elogiado até mesmo por Blatt, que teria dado a ele o crédito pela fortíssima defesa que o time apresentou nos playoffs de 2015. Uma generosidade que, neste sábado, não foi correspondida por seu antigo subordinado. Repórteres lhe perguntaram o que ele faria de diferente agora que está no comando. Respondeu que diferente não era o termo que ele usaria, mas, sim, que faria “melhor”. Muito elegante o sujeito que, para constar, na reportagem de Wojnarowski, foi retratado como um fiel assistente, que teria feito de tudo para defender Blatt diante do assédio de LeBron e Paul.

Lue pode ser jovem, mas, em termos de NBA, é muito mais calejado que o antecessor. Sabe muito bem o que está em jogo. Que, para o Cavs, é título, ou nada. Título, ou fiasco, e a pressão só aumenta com a demissão de um treinador com aproveitamento de 67,5% (83 vitórias e 40 derrotas) no total e que contava, aparentemente, com apoio da torcida do Cavs. Sabe provavelmente também que será o quinto treinador do time em nove temporadas com LeBron. É um clube de gestão instável, no mínimo – não dá para deixar o proprietário Dan Gilbert distante dessa confusão toda. O chefão, por sinal, era o principal defensor de Blatt e teve de ser convencido por Griffin que a demissão era a melhor solução na tentativa de desbancar o Warriors (ou, claro, o Spurs). Existe ainda a noção de que, removendo Blatt, ele também estaria eliminando uma eventual desculpa para os jogadores em caso de derrota nos mata-matas.

Agora é com ele

Agora é com ele

Daí que não deixa de ser uma ironia que, na mesma noite em que Steve Kerr fez sua estreia na temporada, Blatt acabou demitido. E é uma coincidência que diz muito – os líderes de cada conferência não poderiam ser mais diferentes hoje. Caos x harmonia. Intrigas, traições, imposições x diálogo franco, aberto e constante. Nuvens carregadas x céu aberto. Griffin afirma que demitiu seu treinador em busca dessa sensação de unidade. Mas isso não é algo que se constrói com uma só ação. Não depende apenas de Blatt, e não vai depender só de Lue, embora todo técnico seja uma figura primordial na hora de buscar essa química.

Em 1982, quando Westhead caiu, começou a carreira de um dos maiores treinadores que a NBA já viu. Riley, aquele que, como presidente do Miami Heat, cerceava toda a ambição de LeBron, colocou o Lakers para correr, tal como Magic queria, e deu certo. O resto é história. O time alcançou a final e foi campeão, batendo o Philadelphia 76ers de Julius Erving. Até o ano passado, ele era o único técnico a ser campeão logo em seu ano de estreia. Kerr repetiu a façanha, e David Blatt chegou perto. Numa aposta de risco, o Cavs espera que Tyronn Lue aumente a lista.


Draft já balançou a NBA antes do mercado de agentes livres
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Giancarlo Giampietro

Pat Riley, Miami, Winslow

Vejam o sorriso plácido de Pat Riley. Ele venceu de novo

No final das contas, foi mais ou menos como Danny Ainge temia. Muita, muita conversa e especulação, mas sem a movimentação que ele esperava. O que não quer dizer que a NBA tenha passado pelo Draft sem se mexer.

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Basta perguntar ao Luke Ridnour que, em 24 horas, foi jogador de quatro times diferentes. Seguir a trajetória do experiente armador nos ajuda a entender as negociações que foram concretizadas durante a semana. Vamos lá, no passo a passo para descobrir Aonde Está o Luke:

– Ridnour acordou na quarta-feira, 24 de junho, como jogador do Orlando Magic. Até ser informado pelo clube, ou por seus agentes, de que estava sendo enviado para o Memphis Grizzlies.  Em troca, o clube da Flórida recebeu os direitos sobre o ala letão Janis Timma.

– Na quinta, pela manhã, ele foi repassado pelo Grizzlies para o Charlotte Hornets, em troca por Matt Barnes.

– Na sequência, o Hornets fechou, então, um acordo com o Oklahoma City Thunder, que despachou ao ala Jeremy “Soneca” Lamb e ainda recebeu uma uma escolha de segunda rodada de Draft.

– Ridnour sabe que não vai ficar em OKC – a franquia que herdou a estrutura do Seattle SuperSonics, sua primeira equipe na liga. Seu contrato para a próxima temporada não tem garantia e será dispensado (ou, quiçá, trocado mais uma vez!), para que o Thunder abra uma vaga em seu elenco para o armador Cameron Payne e poupe alguns caraminguás na tentativa de renovar com Enes Kanter e Kyle Singler.

Atualizado às 23h20: – meia hora depois de sair de casa e entrar no metrô paulistano, o que acontece? O armador foi trocado mais uma vez! Agora, seu ‘passe’ pertence ao Toronto Raptors, que o adquiriu, dando em contrapartida os direitos do ala-pivô croata Tomislav Zubicic. O que o Raptors quer? Tentar aproveitar o contrato de US$ 2,7 milhões em nova negociação – mais uma! Se não conseguir até 11 de julho, vai dispensá-lo, antes que seu salário fique garantido.

Fazendo as contas, temos três negociações distintas já listadas. O Charlotte, como se percebe, é o time mais inquieto do momento, tendo acertado com Nicolas Batum e se livrado de Lance Stephenson, antes. O Milwaukee Bucks e o Portland Trail Blazers aparecem logo atrás na lista de transações, reponsáveis pelos agitos na noite de Draft.

O Bucks, que já havia mandado Ersan Ilyasova para Detroit, pelos dispensáveis contratos de Caron Butler e Shawne Williams, foi atrás de mais um armador de estatura elevada para fazer companhia a Michael Carter-Williams: Greivis Vasquez, intensificando os esforços de Jason Kidd por um time de troca total na defesa. Para tirar o venezuelano do Toronto Raptors, o gerente geral John Hammond concordou em pagar uma escolha de primeira rodada em 2017  e outra de segunda rodada no recrutamento passado (o ala-armador Norman Powell, de UCLA). Um preço salgado para um atleta que vai virar agente livre. Vasquez, que nunca joga mal em lugar nenhum, agora parte para seu quinto time na liga americana. Vai entender. De todo modo, Masai Ujiri se deu bem nessa, ganhando uma moeda de troca valiosa para tentar reformular o plantel canadense.

Acompanhe a cobertura do 21 para o NBA Draft:
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Já o Blazers segue numa linha um tanto confusa. Para um clube que havia acabado de abrir mão de um jogador como Batum, é difícil de entender a razão para se escolher um substituto como Rondae Hollis-Jefferson na 22ª posição e, minutos depois, cedê-lo ao Brooklyn Nets. Neste caso, não foi uma seleção pré-combinada. O Nets queria o ala de Arizona de qualquer jeito e insistiu até levá-lo. Está certo que conseguiu um pivô competente, atlético e ágil como Mason Plumlee. Mas o jogador de Duke está prestes a entrar em seu segundo ano de contrato – e vai querer uma boa grana por isso –, enquanto Jefferson teria um salário bem mais baixo e estaria seguro por mais temporadas. Guardar dólares e preservar teto salarial seria o melhor para se fazer num momento em que LaMarcus Aldridge vai se tornar agente livre. Para deixar claro: Plumlee, hoje, ainda é um jogador barato. Sua contratação significa provavelmente que Robin Lopez não será mantido, caso peça muita grana. Em breve, porém, o clube terá de negociar com o reforço.

Se a ideia era seguir competitivo, confiando numa renovação com Aldridge, aí a saída de Batum faz pouco sentido. A não ser que o francês tenha dado muito mais trabalho que se tornou público no campeonato passado – no qual apresentou boa melhora em sua segunda metade. Henderson tem um bom chute de média distância, é competitivo, mas seria um bom reserva para o clube. De Noah Vonleh, muitos esperam grandes coisas. Mas não para agora. A partir da decisão de seu ala-pivô que essas transações todas poderão ser compreendidas da melhor forma.

>> As 30 escolhas da primeira rodada comentadas

Imagino o sorriso sarcástico no rosto de Ainge ao ver tantos negócios assim, e ele de fora da festa. Ainda mais quando tomou nota de tantas trocas que a turma de Michael Jordan fez em Charlotte. Justo o time que teria rejeitado uma oferta supostamente irrecusável de Boston pela nona escolha do Draft. Chegou u a oferecer um pacote com seis picks para ter o direito de selecionar o ala Justise Winslow, que inesperadamente havia passado batido por Orlando, Sacramento, Denver e Detroit. Encantado por Frank Kaminsky, Jordan mandou dizer não. Sem conseguir fechar nenhum negócio, o chefão do Celtics teve de se contentar e se concentrar em seus calouros. E tomou decisões um tanto estranhas, pensando no plano geral.

Então aqui chegamos ao balanço do recrutamento de novatos deste ano. Dar nota para o que foi feito seria um exercício de plena futilidade, uma vez que não dá para julgar apostas para o futuro antes mesmo que elas se manifestem em quadra, né? A maior parte dos atletas inscritos no Draft é qualificada demais. Mas seu desenvolvimento vai depender diversos pontos, que muitas vezes escapam do seu controle: estrutura do clube, sintonia entre diretores e técnicos, bons treinadores, encaixe no time, pressão por resultados, o rendimento dos concorrentes diretos, saúde etc.

O que dá para se avaliar é, de acordo com o que estava na mesa, quem se aproveitou ao máximo? Quais são os clubes que estão mais confiantes em seus projetos? E os que estão com mais dúvidas do que respostas? Quais personagens saem de cabeça erguida? E os cabisbaixos? Todos eles não terão nem muito tempo para respirar, já que, a partir da meia-noite desta quarta-feira, os clubes estão autorizados a negociar com os agentes livre.

NUMA BOA

Calipari e seus garotos. E seus tentátuclos

Calipari e seus garotos. E seus tentátuclos

John Calipari: sua aura de todo poderoso nos Estados Unidos só aumenta. Desta vez, ele emplacou seis jogadores de Kentucky no Draft, sendo quatro deles na primeira rodada, e quatro entre os 13 primeiros (este, um recorde). As consequências? Ele seguirá recrutando os talentos mais promissores do high school para os Wildcats. Quanto mais talentos de ponta, maiores as chances de ele ter jogadores de NBA. Quanto mais caras de NBA, maior sua influência. Quanto mais influência, maior a probabilidade de ele retornar à liga pela porta da frente, com controle total de uma franquia. Parece questão de tempo. Atualizado às 23h20: meio que simultaneamente à notícia de Ridnour, Adrian Wojnarowski, o superfurão do Yahoo!, noticiou que o Sacramento Kings estaria interessado em dar a coroa a Calipari, oferecendo controle total sobre as operações de basquete e o comando do time em quadra. O técnico desmentiu.

– Miami Heat e Justise Winslow: hors concours, gente. Pat Riley foi premiado, na décima posição, com Justise Winslow, um jogador que poderia ter saído até mesmo em quarto, via Knicks. Quer saber o quanto Riley ficou animado com esse ato da sorte – ou divino? Vejam o que ele disse: “Ele acabou caindo para nós de um jeito, creio, muito abençoado”. O rapaz tem, no mínimo, vocação vencedora, direcionada aos pequenos detalhes de uma partida de basquete, sendo, apesar de jovem, um complemento perfeito para um time que pretende reencontrar os playoffs (e muito mais que isso…) na próxima temporada. Resta saber se Dwyane Wade estará lá para ver isso de perto. Na pior das hipóteses, Riley tem um talento para nutrir e, quiçá, transformá-lo em sua própria versão de Kawhi Leonard. Se Wade e Dragic continuarem, melhor ainda. O espaçamento da quadra pode ficar um pouco apertado, mas, por outro lado, ele terá tranquilidade para dar seus primeiros passos em quadra, sem muitas responsabilidades no ataque, setor no qual a NBA pedirá uma série de ajustes.

– Denver Nuggets: outro que conseguiu selecionar um jogador antes cotado para o topo do Draft, Emmanuel Mudiay. Maduro, forte, atlético e cheio de potencial, o armador encontra uma situação ideal: uma equipe em reformulação que está pronta para lhe entregar as chaves de casa e do carro, para que ele os lidere daqui para a frente. No caso, uma equipe que pretende correr a quadra de modo desenfreado, favorecendo suas características. Mais um excepcional recrutamento para o Nuggets, que vai se remontando aos poucos. Num mercado de apelo reduzido, fincado na Conferência Oeste, esse é o melhor jeito, mesmo.

Kevon Looney: mas como assim? O ala-pivô que um dia foi cotado até mesmo como top 15 e acabou saindo apenas na 30ª posição? Venceu como? De fato foi uma queda e tanto para o garoto revelado pela UCLA. Mas pensem assim: devido a exames médicos preocupantes (e a possibilidade de passar por cirurgia no quadril e nas costas), Looney poderia ter passado direto pela primeira rodada. Agora, ao menos tem um contrato garantido por dois anos. Mas o ponto principal é que ele foi escolhido pelo Warriors, um time que é grande dentro e fora de quadra. Com excelente estrutura, digo. Não é acaso que tenha sido o clube que menos perdeu jogadores por lesões na temporada passada, podendo dar todo o melhor amparo possível para que o garoto desabroche.

Juan Pablo Vaulet: no final das contas, parece que o interesse maior era do Brooklyn Nets, que atravessou o Spurs. Obviamente que, para qualquer estrangeiro, San Antonio era um destino mais acolhedor. Ainda mais para um argentino de Bahía Blanca. Por outro lado, qualquer jogador que consiga sair diretamente de uma liga sul-americana para o Draft da NBA conseguiu uma façanha, e tanto. Temos aqui o Bruno Caboclo argentino, que está se salvando em meio ao fraco desempenho de nossos hermanos no Mundial Sub-19 e vai jogar as ligas de verão pela franquia nova-iorquina. Dificilmente terá um contrato para o próximo campeonato, porém.

Los Angeles Lakers: é complicado de cravar, pois não sabemos, em cinco anos, como estarão D’Angelo Russell e Jahlil Okafor. De repente Russell não será a estrela que todos imaginam. De repente, Okafor será um pivô dominante que vá punir o small ball. Podemos projetar, mas simplesmente não sabemos. De qualquer forma, a repercussão da escolha de Russell foi amplamente positiva e injeta na franquia californiana um senso de renovação e esperança. (Que bonito, né?) O encaixe do armador é ainda melhor se formos ver os alvos da franquia californiana no mercado de agentes livres. LaMarcus, DeAndre, Monroe… Os pirulões.

– Minnesota Timberwolves: esse já tinha saído vencedor desde que tirou a sorte grande na loteria. Com Karl Towns e Andrew Wiggins, duas primeiras escolhas em sequência, os caras têm agora duas das maiores promessas da NBA para trabalhar com paciência. Dois caras que se completam em quadra e que têm personalidade semelhante. Low profile, ideal para quem está morando em Minneapolis, mas assessorados por um Big Ticket como Kevin Garnett. Flip Saunders ainda deu um jeito de selecionar Tyus Jones, que é como se fosse um Derrick Rose da região (em termos de apelo público e sucesso na quadra, registre-se), para aumentar o amontoado de jovens jogadores. Se tiver paciência, desenvolvendo a rapaziada e esperando um grande negócio, poderá fazer desta versão do Wolves algo ainda maior que a de um KG no ápice.

CB Sevilla: enfrentando graves problemas financeiros, o clube espanhol viu três de seus jogadores escolhidos no Draft. A metade de Kentucky e a mesma quantia de Duke. Foram eles: Kristaps Porzingis e Willy Hernangómez (Knicks) e Nikola Radicevic, armador escolhido pelo Denver Nuggets. Apenas Porzingis vai fazer a transição imediata para os Estados Unidos agora, mas sua saída já vai render uma boa graninha para ajudar na sobrevivência em mais uma temporada da Liga ACB. Outros dois clubes europeus já haviam colocado um trio de atletas num mesmo recrutamento: o Buducnost, de Montenegro, com Zarko Cabarkapa, Sasha Pavlovic e Slavko Vranes em 2003, e o Mega Vizura, da Sérvia, com Nikola Jokic, Vasilije Micic e Nemanja Dangubic no ano passado.

POKER FACE

Os holofotes de NYC para Porzingis

Os holofotes de NYC para Porzingis

New York Knicks: a escolha de Porzingis soa como uma grande tacada de Phil Jackson. Dos que estavam disponíveis, talvez só Mudiay tenha tanto talento natural para ser explorado e desenvolvido. Que o Mestre Zen tenha pensado em longo prazo, em vez de se limitar a um calouro que talvez esteja mais preparado para produzir em novembro, foi uma grande notícia para o torcedor mais consciente do Knicks. O problema é a pressão em torno do clube. Em anos bons, a cobrança já é grande, com um batalhão de jornalistas visitando diariamente suas instalações. Depois da pior campanha da história do time, porém, os tabloides estão sedentos. Assim como Carmelo Anthony, que já fez questão de passar um recado indireto ao dirigente de que não aprovaria a chegada do letão, tendo em mente o tempo necessário para que ele fique pronto. Jackson gosta de dizer que sua função em Manhattan é presidir. Não pega o telefone para ligar para os demais cartolas e pouco entra em quadra para ajudar Derik Fisher. Seria uma sombra, e tanto, é verdade. No caso de sua grande aposta, porém, o melhor que ele teria a fazer era entrar em cena para valer, para proteger e guiar o rapaz.

Boston Celtics: é, não dá para acusar Danny Ainge que ele não tenha tentado. Mas foi mais um recrutamento em que o dirigente sonhou alto e teve de se contentar com as simples escolhas de Draft que vem acumulando nos últimos anos. Não faz mal adicionar sangue jovem a um time ainda em formação, com um técnico que se mostra especial em tirar o melhor de seus jogadores. Mas não chega uma hora em que se pode ter jovens demais? Principalmente quando eles dividem a mesma posição de alguns de seus atletas mais promissores? Terry Rozier e RJ Hunter não eram unanimidades, mas conquistaram muitos fãs durante o processo de workouts e chegam a Boston para congestionar a rotação de perímetro de Brad Stevens. “Obviamente que temos muitos guards. E nós gostamos de todos eles. E vamos descobrir o que fazer. Vamos ter de tomar algumas decisões difíceis, mas nós realmente gostamos de todos esses caras”, disse o gerente geral. Ao acumular jogadores similares, Ainge só deu mais trabalho, correndo o risco de dispensar um ou outro jogador de contrato garantido devido a um elenco novamente inchado, como foi o caso de Vitor Faverani no ano passado.

BICO FECHADO
– Philadelphia 76ers, Jahlil Okafor e Joel Embiid: para os que não estão por dentro do culto que se tornou “O Processo” em Philly, é o seguinte: o gerente geral Sam Hinkie insiste em dizer a seus torcedores que sua visão só vai se materializar daqui a alguns anos. Quantos? Claro que ele não vai cravar. Enquanto isso, é preciso confiar no processo. Na ideia de que ele sabe exatamente o que está fazendo. A contratação do técnico Brett Brown, a extorsão de diversas escolhas de Draft em negociações oportunistas indicam que o cara é esperto, e não há dúvida disso. O grande problema, ao meu ver: o Sixers depende basicamente da sorte para que esse plano se concretize. A sorte. Que, por enquanto, não sorriu tanto assim para o clube. Se o Wolves tem Wiggins e Towns, Hinkie está com a posição de pivô encavalada com Noel, Joel Embiid (cujos problemas físicos geram enormes questões) e Okafor. O que o time vai conseguir tirar desses atletas? Embiid vai jogar? Se for, há espaço para três jovens que sonham em ser estrelas na liga? E quem vai passar a bola para eles? E quem vai abrir na zona morta para o chute de três? Mais: quando o clube vai atacar o mercado de agentes livres? Haja paciência?

– Atlanta Hawks: a troca de uma escolha de primeira rodada por Tim Hardaway Jr., aliás, deve ter chamado a atenção de Hinkie. Afinal, imagina-se que não seja esse o tipo de retorno a que o dirigente almeja ao acumular tantos picks em seu cofre. Danny Ferry havia fechado uma excepcional negociação ao mandar Joe Johnson para o Brooklyn Nets, se livrando de seu contrato oneroso e, ao mesmo tempo, conseguindo extrair alguns trunfos de um time desesperado para fazer barulho. Acontece que um desses trunfos, a 15ª escolha do Draft deste ano, já foi queimada. Alguns dos calouros disponíveis para Mike Budenholzer selecionar eram projetos de longo prazo. Outros estariam mais prontos para jogar agora. O lance é que o agora técnico-dirigente tinha diversos caminhos a seguir. Optou por um ala que teve um ano pouco produtivo. Talvez esteja esperando que Hardaway Jr. tenha um salto de produção pós-Knicks ainda maior que o de JR Smith em Cleveland.

Ty Lawson: o zum-zum-zum começou por volta do All-Star Weekend. Ao final da temporada, porém, já virou um fato que o Denver Nuggets está doido para repassar o talentoso – e baladeiro – baixinho. Algo que ele mesmo disse em redes sociais, depois da escolha de Mudiay. O duro agora é encontrar um bom negócio por um jogador que está com o filme queimado publicamente.

Aaron Harrison: um dos irmãos gêmeos badalados desde a adolescência mas que, em Kentucky, não conseguiram repetir a trajetória de John Wall, Brandon Knight, Eric Bledsoe ou Devin Booker. Os garotos já foram uma anomalia no sentido de prolongar sua estadia no campus para além da temporada de calouro. Após um segundo ano de pouca evolução, a cotação da dupla era baixa. Andrew ao menos foi escolhido pelo Memphis Grizzlies na segunda rodada. Aaron, um chutador irregular, passou batido e agora tenta impressionar o Hornets nas ligas de verão. É duro individualizar uma questão mais ampla. Mas o caso dos irmãos Harrison serve como alerta para a promoção desmedida de jovens atletas, elevados a estrela muito antes de jogos que realmente valem alguma coisa.

 CAOS TOTAL

"Agora é nóis, Divac", diz Ranadive

“Agora é nóis, Divac”, diz Ranadive

– Sacramento Kings: Vivek Ranadive demitiu o primeiro técnico, desde Rick Adelman, que conseguiu deixar o time praticamente competitivo, numa Conferência Oeste massacrante (Mike Malone). Mesmo que DeMarcus Cousins, seu principal jogador estivesse afastado de quadra por conta de uma meningite. Além disso, o indiano esperava que o Kings jogasse de modo acelerado, na correria, a despeito de seu plantel não ter tantos chutadores e de que Cousins arrebenta defesas em meia quadra. Detalhe: esse técnico havia sido contratado pessoalmente por Ranadive, antes mesmo de um gerente geral, pois o conhecia dos tempos de Warriors. Para o lugar de Malone, ele primeiro tentou coagir o consultor Chris Mullin a ir para o banco. Mullin até estava animado em dirigir o time, mas desde que na temporada 2015-16, para ter um training camp completo e o devido tempo para botar em prática suas ideias. Então, Tyrone Corbin, aquele que tinha tudo para se tornar o sucessor de Jerry Sloan em Utah e acabou demitido, foi promovido. Era melhor tocar o barco e esperar por Mullin, não?

Claro que não. O acúmulo de derrotas deixou o bilionário maluco. E aí que eles foram atrás de George Karl, um renomado treinador, mas que gosta de dar seus pitacos na confecção do elenco e já bateu de frente com muitos dirigentes e jogadores. Em questão de semanas, a relação entre ele e o temperamental Cousins era classificada como irreconciliável. Karl ganhou um contrato de três anos. Ainda durante o campeonato, Ranadive contratou também o ídolo do clube Vlade Divac para ser o chefe do departamento de basquete, passando por cima do gerente geral Pete D’Alessandro. Mullin se mandou para St. John’s para iniciar a carreira de treinador em sua alma mater. D’Alessandro está de volta a Denver. Karl, do seu lado, vazou para quem quisesse ouvir a história de que, com Boogie no time, não daria certo. O jogador e seus agentes então responderam que ele estava pronto para ser trocado. O Lakers abriu conversas, algo que agradava ao pivô. Perdido no fogo cruzado, Divac ao menos resistiu até o momento, tentando se fixar como o cacique do pedaço. A questão agora é o que fazer com o astro e o técnico. Calipari chegaria para tentar controlar o pivô. O problema? Os dois não se deram bem nos tempos de Kentucky. Então… Tudo muito confuso? Pois é, mesmo.

PS: demorou um pouco mais do que o previsto esse texto, devido a dois causos: 1) o resgate complicado de 18 gatos num bairro da zona sul de São Paulo (sim, gatos abandonados, o que pediu uma logística muito mais complicada do que se imagina e, se tiver alguém interessado, favor contatar via Facebook ou Twitter); 2) um contrato de freelancer que começa nesta semana que deixará a atualização do blog um pouco intermitente durante a disputa dos Jogos Pan-Americanos.


Ninguém queria Hassan Whiteside. Nem o Miami Heat
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Giancarlo Giampietro

Uma das 34 enterradas de Whiteside até aqui

Uma das 34 enterradas de Whiteside até aqui

Quando é que chega a hora de dizer que não dá mais, que tal jogador é um caso perdido?

O sucesso de Hassan Whiteside com o Miami Heat, um dos raros pontos positivos de uma temporada muito aquém do esperado para Pat Riley, talvez indique a seguinte resposta: “Nunca”. Ou pelo menos algo do tipo:”Bem, vamos esperar mais um pouco, mais um pouco e mais um pouco. Aí talvez chegue a hora. Um pouco antes de ‘nunca'”.

Aos 25 anos, depois de ser dispensado oficialmente por duas equipes da NBA e ignorado por outras tantas, inclusive pela franquia da Flórida, três temporadas após a Linsanidade, o pivô tem causado espanto por onde passa. Assusta não só os jogadores que o desafiam no garrafão como os técnicos e dirigentes que não conseguem e talvez nem queiram acreditar no que estão vendo.

Em janeiro, ele teve médias de 13 pontos, 10,6 rebotes e 3,4 tocos por jogo. Em apenas 23,6 minutos! Desde que perdeu duas partidas por conta de uma contusão e voltou a jogar no último dia 25, passou a receber mais tempo de quadra e respondeu com 16,6 pontos, 15,5 rebotes e 4,0 tocos. O aproveitamento nos arremessos é de 58%. Quer dizer, ‘arremessos’. É uma enterrada atrás da outra, e sai de baixo.

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>> 30 times, 30 fichas sobre a NBA 2014-2015

Nos últimos anos, muita gente da liga se esquivou de Whiteside, mesmo. A turma do escritório. Fugindo cada um para um canto, no caso, enquanto ele, desempregado, buscava um contrat.

Então o que acontece? Como deixaram passar uma dessas? A trajetória e a atual transformação desse grandalhão, de refugo com estadias na segunda divisão da China e no Líbano para sensação das redes sociais, é mais um grande causo a ser estudado com cuidado. Por dirigentes, treinadores, agentes e, principalmente, por atletas.

DDA
Quando deixou a universidade de Marshall em 2010 para se profissionalizar, durante o período pré-Draft, Whiteside rapidamente desenvolveu um rótulo que, quando pega, é difícil de se livrar: pro-ble-má-ti-co. Na tentativa de impressionar os dirigentes, os prospectos viajam de cidade em cidade, para fazer treinos e bater um papo. Essa coisa de conversar com o então jovem pivô de 20 anos queimou o filme geral.

Um scout da NBA, que acompanhou todo o processo bem de perto, afirmou ao VinteUm que não se tratava exatamente de um desvio de caráter. “Ele é uma pessoa genuinamente boa, um bom sujeito. O problema é que era muito ingênuo e atirado. Falava umas coisas malucas”, afirmou. “Mas sempre disse que ele precisaria primeiro falhar, para depois conhecer o sucesso.”

Não é todo dia que surge um desses

Não é todo dia que surge um desses

Pois essa combinação de ingenuidade e arrojo nas declarações passou aos avaliadores dos clubes a imagem de arrogante, ou algo até pior. Amin Elhassan, hoje analista do ESPN.com, trabalhava na época pelo Phoenix Suns. Digamos que o jogador não causara uma boa impressão. “Se você é um idiota, reparar essa reputação é algo muito difícil. É muito fácil arruinar sua reputação e muito difícil de reconstruí-la. Hassan Whiteside, na falta de uma palavra melhor, era um idiota quando saiu da universidade. Ele estava delirando e dizia coisas que não eram compatíveis com o que jogava”, afirmou em entrevista ao Palm Beach Post, sem preocupação de aliviar em nada.

Recuperando seu arquivo no HoopsHype, encontrei também a seguinte informação compartilhada pelo repórter Sam Amick, do USA Today: “Ele caiu no Draft por “ter um caso seríssimo de DDA”, o famigerado déficit de atenção. Acontece que, segundo o gerente geral do Sacramento Kings, clube que o selecionou na 33ª posição, não constava nada disso nos exames que a franquia recebeu. Provavelmente o olheiro estava falando metaforicamente…

Whiteside acreditava que seria escolhido entre os dez primeiros. Afinal, era um pivô alto, forte, extremamente atlético, uma aberração física. O tipo de prospecto pelo qual os cartolas se apaixonam num piscar de olhos. Eles podem até ter ficado enamorados de supetão. Quando passaram a observá-lo com mais cuidado, porém, pularam fora.

Em um perfil recente sobre o fenômeno do Heat, Tom Haberstroh recuperou um episódio bastante interessante que resultou apenas na primeira das três vezes que o clube da Flórida teve a chance de fechar com o pivô, mas deixou para depois. O espigão foi treinar no ginásio do Heat, uma escala notoriamente difícil para a molecada, devido aos treinos exaustivos que Pat Riley instaurou por lá. No meio da sessão, pregado, o jogador simplesmente saiu de quadra sem dar satisfação a ninguém. Já havia dado para ele. No dia do recrutamento, Riley selecionou Dexter Pittman na 32ª colocação, um posto antes do Sacramento.  Veja só.

Nada deu certo
Em Sacramento, Whiteside supostamente havia encontrado uma casa. Disse que não havia problema em ter saído apenas na segunda rodada e que o clube era um de seus dois favoritos, mesmo. Apostando em seu futuro, o Kings ofereceu um contrato de quatro anos, valendo US$ 3,8 milhões. Apenas as duas primeiras temporadas seriam garantidas, no entanto.

Whiteside, nos tempos improdutivos de Sacramento

Whiteside, nos tempos improdutivos de Sacramento

No primeiro campeonato, visto como um projeto de longo prazo, aos 21, só entrou em quadra uma vez e jogou por apenas dois minutos em vitória sobre o Minnesota Timberwolves. Em março, porém, teve de passar por uma cirurgia no joelho que o afastou do time. Durante a fase de recuperação, afirmou que estava treinando e jogando na D-League lesionado, mas que optara pelo sacrifício justamente pela fama de imaturo que havia ganhado. “Só faltava, então, as pessoas me chamarem de preguiçoso. Não queria que pensassem que estava inventando desculpas. Mas foi um erro. Isso tirou minha explosão em quadra. Digo, conseguia ainda dar tocos, mas isso é basicamente uma questão de timing. Mas minha capacidade atlética estava afetada. Até que soube que não podia mais evitar a operação”, afirmou.

Reabilitado, foi utilizado um pouco mais na temporada 2011-2012, participando de 18 jogos, mas viu novamente sua jornada interrompida por uma lesão grave, dessa vez no tornozelo. Resultado: mal teve tempo de mostrar serviço e de reverter sua má reputação. No momento do Draft daquele ano, em meio a tantas trocas, o Sacramento achou por bem dispensá-lo para abrir espaço em seu elenco.

Hoje, quando questionado sobre seu corte pelo Sacramento, ele afirmou aos jornalistas de Miami que mais nenhuma das pessoas envolvidas com aquela decisão estava no clube. “O quão inteligentes eles foram, então?”, respondeu, de modo retórico. Detalhe: o treinador do Sacramento na época era Keith Smart, hoje assistente de Erik Spoelstra. Em inglês, Smart, vocês sabem, significa… “Inteligente”. Pegou?

Roda viva
Geoff Petrie fez algumas boas bobagens no final de sua gestão no clube californiano. Dispensar Whiteside talvez tenha sido das menores. Afinal, muitos times lhe dariam respaldo informal. Muitos dirigentes chegaram a manifestar interesse no pivô. Nenhum deles teve a coragem ou a visão para fechar um contrato.

O Minnesota foi aquele que mais chegou perto em 2012, ainda liderado por David Kahn. O cara estava procurando um pivô atlético e de boa envergadura para ser o terceiro reserva, atrás de Nikola Pekovic e, sim, Greg Stiemsma na rotação. Conversou bastante com o agente do jovem pivô, mas preferiu mudar de rota e assinar com Anthony Tolliver.

O próprio Miami Heat voltaria a entrar em contato, também recebendo o pivô para mais um treino. Dessa vez ele foi até o fim. Mas não os convenceu. Acabaram contratando o inesquecível Josh Harrelson. Essa era a segunda vez que ele passaria batido por lá. Whiteside, então, se viu fora do mapa da NBA e teve de procurar asilo na Ásia. A China? Tudo bem, claro. Eles pagam uma boa grana. Mas o Líbano?! Digamos que não é o destino mais cobiçado por agentes livres, independentemente da origem. Lá ele defendeu o Al Moutahed Tripoli e teve médias superiores a 20 pontos, 15 rebotes e 4 tocos. Um prenúncio? Mas como alguém iria saber disso? Até o momento não há informações de tradução das estatísticas da liga libanesa para a NBA. Se alguém souber de algo nessa linha, favor entrar em contato com a secretaria.

No final da temporada 2013-2014, o New York Knicks até que flertou com o pivô, talvez bem informado a respeito de suas atuações do outro lado do mundo. Já com Phil Jackson no comando, embora recém-chegado, o clube optou por um acordo que ninguém mais, ninguém menos que Lamar Odom. No que deu essa história? Em nada, claro. Odom sumiu do mapa. Ao menos Cole Aldrich está por lá segurando as pontas, ao lado dos valentes Lou Amundson e Lance Thomas (sem ironia aqui no termo “valente”, tá? São dois caras ótimos de vestiário, que dão um duro danado. Mas quem aí acha que Carmelo Anthony se empolga com suas chances de título ao olhar para o lado e dar de cara com eles?)

Desesperado atrás de uma chance,  Whiteside pediu para seu agente ligar para para quem pudesse, talvez para os 30 times da liga. O Los Angeles Clippers, entre eles. Doc Rivers não quis nem chamá-lo para um treino. Depois despachar Jared Dudley para Milwaukee, assinou com Epke Udoh para a vaga de quinto homem na rotação de grandalhões. Meses mais tarde, no dia 11 de janeiro, já com as turbinas esquentadas, o pivô estaria decolando no Staples Center para somar 23 pontos e 16 rebotes em vitória do Heat. Lá, contou a história: “Eu liguei para marcar um teste, eles disseram não. Todos disseram não, exceto o Heat. O Heat me deu uma chance e o certo é eu dar 110% por eles em quadra. Foi isso que aconteceu”, disse.

Ficou bem como um do Grizzlies?

Ficou bem como um do Grizzlies?

Antes de receber essa chance, todavia, Whiteside havia, enfim, fechado um vínculo com o Memphis Grizzlies, que o escalou durante a pré-temporada. Na hora de definir o plantel oficial, acabou cortando o atleta, que foi endereçado a sua filial na liga de desenvolvimento, o Iowa Energy. Convenhamos que, com Marc Gasol e Kosta Koufos, seu garrafão estava bem protegido. O que deixa a diretoria da equipe maluca, todavia, é que eles chegaram a recrutar novamente o atleta emergencialmente para um duelo com o Toronto Raptors no dia 19 de novembro. Metade do plantel havia sido infectada por uma virose, e o técnico Dave Joerger precisava de reforços. Acabou nem entrando em quadra e seria novamente chutado no dia seguinte. “Pensávamos que talvez, se pudéssemos trabalhar com ele na D-League, ele poderia se tornar um pivô reserva decente. Mas obviamente ninguém viu isso (esse nível de jogo) chegando”, afirmou John Hollinger, vice-presidente do Grizzlies, a Haberstroh.

Udoh, Aldrich, Odom, Stiemsma, Tolliver… Independentemente do desnível já existente entre os nomes aqui citados, são apenas cinco jogadores que a NBA, de modo geral, colou à frente de Whiteside em suas listas de prioridades. Mas a conta é muito maior. E pode incluir Shannon Brown nesse grupo.

Pode riscar
Riley, Spoelstra e os caras em Miami ficaram tensos demais quando o pivô foi chamado pelo Memphis mais uma vez. Na véspera, ele havia feito um terceiro teste pela franquia, dessa vez se saindo de modo excepcional em quadra. Segundo Haberstroh, Spoelstra escreveu a seguinte frase em seu bloco de notas: “Vai ser nosso pivô titular na temporada que vem”. Eles lhe ofereceriam o tão esperado contrato ao amanhecer. De noite, veio a ligação do Grizzlies.

Por sorte, receberam a notícia da dispensa. Quando voltou ao Iowa Energy, dois dias depois, Whiteside enfrentou justamente a filial do Heat na D-League, o Sioux Falls SkyForce. Ele marcou 24 pontos, pegou 16 rebotes e deu quatro tocos. Dessa vez, a papelada para ele assinar ficou pronta mais rapidamente.  Para abrir espaço para a sua chegada, rescindiram com Shannon Brown.

Repararam, porém, que Spoelstra fazia planos para o campeonato 2015-2016, né? Nem Hollinger, nem ele podiam esperar o que estava por vir. Depois de dominar um garrafão que já tinha DeAndre Jordan e Blake Griffin, Whiteside conseguiu um triple-double impressionante de 14 pontos, 13 rebotes e 12 tocos em 25 minutos. Contra quem? O Chicago Bulls, de Joakim Noah, Pau Gasol e Taj Gibson. Na partida seguinte, contra Milwaukee, ele foi promovido ao time titular. Anotação já riscada. “Estou muito contente e encorajado pelo quanto ele cresceu nas últimas semanas, desde que se juntou a nós. Ele tem passado por um plano específico e abraçou o trabalho”, disse Spo, que tem em Juwan Howard seu assistente dedicado aos treinos especiais para o pivô.

O Miami está lucrando horrores nessa, tendo firmado um contrato de dois anos com Whiteside, pagando ‘apenas’ US$ 1,1 milhão na temporada que vem – lembrem-se que Amar’e Stoudemire ganha mais de US$ 20 milhões pela atual campanha.  Tem um porém nessa: o contrato é uma barganha, mas tem curta duração. Apenas dois anos, mesmo: ele vai virar agente livre em 2016. Como notou o South Florida Sun Sentinel, nenhum contrato com duração inferior a três anos pode ser estendido. Ops.

Daqui para a frente
A pergunta é outra: quando é a hora de dizer chega, vamos com calma?

A ascensão de Whiteside em Miami é devastadora. O único exemplo parecido com esse foi justamente a Linsanidade que tomou conta de Manhattan em 2012. Quando um jogador de pouco lastro na NBA surgiu meio que do nada e produziu feito uma superestrela. Hoje, por um motivo e outro, Lin está no banco de Jordan Clarkson em Los Angeles. Uma curiosidade é que, durante a boa fase de Lin, Whiteside havia afirmado: “Já havia dito a todos, na Summer League, que meu chapa Jeremy Lin era bom. Todos estavam vacilando com ele”.

Quando estourou pelo Knicks, Lin teve um índice de eficiência de 23,3 pontos. Whiteside, no momento, tem 27,98. Está abaixo apenas de Anthony Davis. Os demais oito nomes abaixo? Durant, Westbrook, Harden, Curry, James, Cousins, Paul e Aldridge. Afe. Em 36 minutos, seus números projetados ficariam em 18 pontos, 15,2 rebotes e 4,7 tocos. É coisa de maluco.

Dá para pensar numa produção dessas de modo sustentável?

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Da sua parte, Whiteside diz que se contenta em ter apenas médias de duplos dígitos em pontos rebotes e de ficar entre os três principais bloqueadores da temporada. Então tá certo. Algo que já o apetece, de toda forma, é ver suas cotações no jogo NBA2 k elevadas – algo com que, pasme, os jogadores da NBA se importam verdadeiramente. Vale a honra. Agora, quer que melhorem também sua produção para o arremesso de média distância, algo que ele mostrou no domingo, contra o Boston, quando os Estados Unidos inteiros estavam assistindo ao Super Bowl. Esse chute de mais longe, porém, ainda aparece de modo tímido em seu repertório (89,1% de suas tentativas de cesta acontecem nos arredores do garrafão).

A eficiência do jogo do pivô se explica dessa maneira. Ele tenta pouco em quadra além de finalizações próximas da cesta, feito Tyson Chandler e Brandon Wright. Praticamente não é envolvido no ataque do Miami em nenhuma circunstância, seja para criar individualmente ou para os demais companheiros. O negócio é fazer o corta-luz e mergulhar no garrafão atrás de um rebote ofensivo ou, melhor, de uma ponte. Ele já lidera o time em cravadas, com 34 em 21 partidas. “Continue enterrando e você vai ganhar US$ 60 milhões”, disse Danny Granger. A NBA vai encará-lo e desafiá-lo mais uma vez. Agora não no jogo dos bastidores, mas em quadra. Os times mais bem preparados vão saber como. Jason Kidd, técnico do Bucks, anunciou: “Entendemos que ele vai entrar buscando tocos. Ele não é mais uma surpresa, está no no radar”.

Ajuda muito o pivô ter um cara como Dwyane Wade ao lado, com a bola em mãos. O astro do time ainda desperta pavor nas defesas e atrai marcadores. Também sabe invadir o garrafão como poucos. Uma combinação que deixa Whiteside na cara da cesta toda hora. “Ele consegue dominar a bola. Ele consegue finalizar. Ele é grande, e eu posso infiltrar. Algo bom vai acontecer a partir daí”, diz Wade, que ainda chama Whiteside de calouro. É como se fosse, mesmo. E agora ele vai ter de se virar sem a companhia do camisa 3, afastado por tempo indeterminado devido a uma lesão muscular.

Só não falta confiança a Whiteside, assim como não faltava quando ele era de fato um novato. Quando questionado pela ESPN Radio sobre qual antigo jogador da NBA ele acha que seu jogo lembra, citou, tranquilamente, David Robinson ou Alonzo Mourning. “Algo perto disso”, afirmou.

É de fazer engasgar, mesmo. No momento, porém, ninguém mais está falando sobre idiotices ou distúrbios. Estão apenas tentando entender o que está acontecendo.


Ano novo, vida nova? As figuras da NBA que pedem uma virada
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Giancarlo Giampietro

Danny Granger, agora feliz do outro lado, em Miami

Danny Granger, agora feliz do outro lado, em Miami

Para muitos, a carreira de Danny Granger já estava encerrada. O ala havia passado por uma cirurgia no joelho esquerdo em abril de 2013, por conta de uma tendinose (sim, existe tendinite e a tendinose) que simplesmente não o deixava em paz. O veterano mal havia participado da campanha 2012-2013, fazendo tratamentos alternativos, separado do restante do elenco do Indiana Pacers, na esperança de se aprontar para ajudar a emergente equipe em batalhas com o Miami Heat. Não deu certo, e acabou indo para a sala de operação.

Depois de uma lenta recuperação, retornou ao Pacers para a campanha 2013-2014, já transformado, na melhor das hipóteses, em sexto homem, perdendo terreno para Paul George e Lance Stephenson. Por 29 partidas, ele simplesmente não conseguiu encontrar seu ritmo ideal. Não passou de 36% no aproveitamento dos arremessos – estatisticamente, na verdade, era o pior rendimento de sua carreira, muito pior até mesmo do que seu ano de novato, beeeem distante da forma que lhe valeu uma única indicação a All-Star em 2009. O desempenho foi tão aquém do esperado que Larry Bird, na ânsia de conseguir mais um trunfo para tentar, enfim, desbancar LeBron e Wade, não viu problema em despachar seu capitão para a Sibéria Filadélfia, em troca do irregular Evan Turner. Quer dizer: Bird desistitiu de Granger.

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O veterano rescindiu seu contrato com o Sixers e fechou com o Los Angeles Clippers, do outro lado do país, ao menos se encaixando em outro time com aspiração ao título. Vindo do banco, conseguiu elevar seu rendimento a um patamar minimamente satisfatório, mas sem lembrar em nada uma força ofensiva que fosse ameaçadora. Daí a surpresa quando Pat Riley, pressionado, talvez num ato de desespero, escolheu o ex-ala do Pacers, seu antigo rival de playoffs, num pacote de reforços de última hora ao lado de Josh McRoberts para tentar convencer LeBron a ficar na Flórida. Claro que não deu certo.

Foram 19 pontos para Granger contra o Memphis, antes dos 21 contra o Orlando Magic

Foram 19 pontos para Granger contra o Memphis, antes dos 21 contra o Orlando Magic

O Miami fechou, então, com Luol Deng para cobrir a lacuna aberta no quinteto titular – mesmo que essa fosse, em teoria, uma posição que Granger pudesse ocupar. A verdade era que Riley e o técnico Erik Spoelstra ainda não sabiam exatamente o que esperar do ala, ainda mais depois de ele ter passado por uma segunda cirurgia no joelho dois meses antes de se apresentar ao clube. Só imaginavam que, dado o histórico do clube para reabilitar quase-aposentados (desde os tempos de Tim Hardaway nos anos 90, até os mais recentes casos de Rashard Lewis e Chris Andersen), valia a aposta. “Não sabíamos o estado dele para valer, mas conhecíamos nossos próprios registros com casos semelhantes, vindo de lesões, por volta dessa idade. Sabíamos que, se eles se comprometessem a trabalhar, que talvez eles precisassem da oportunidade certa, no lugar certo”, diz Spo.

Vendo o que o ala realizou nas últimas partidas, pode ser que tenha sido uma cartada certeira. “Era para ser um processo longo, mas ele já está adiantado. Pensávamos que isso iria acontecer só no Ano Novo”, afirmou. Granger primeiro recebeu minutos nas 11ª e 12ª partidas do Miami. Depois, nas 18ª e 19ª.  Voltou a ser aproveitado entre as 22ª e 24ª. Não animou muito e ficou parado por mais quatro jornadas, até ser inserido de vez na rotação. Então, no jogo mais esperado do calendário, com o retorno de LeBron no dia de Natal e transmissão, ele marcou 9 pontos, cinco dos quais em um momento crucial do quarto período, para esfriar uma reação do Cleveland Cavaliers. Nas duas partidas seguintes, marcou 39 pontos e converteu 70% dos seus arremessos, saindo do banco, com direito a oito cestas de três pontos. “O que ele fez neste último par de jogos foi fenomenal”, afirmou Dwyane Wade.

Claro que está muito cedo para celebrar dessa forma. O desafio do jogador é justamente sustentar uma sequência produtiva, consistente e com durabilidade, algo que não acontece há mais de dois anos. Nesse caso, não bastaria apenas a conversão de seus arremessos feito um James Jones, mas também se pede boa movimentação pela quadra, especialmente na defesa – o Miami precisa de toda a ajuda possível neste momento.

De qualquer forma, sabe da melhor? A crescente de Granger veio justamente nas vésperas de seu reencontro com o Indiana Pacers. Dá para ter melhor timing que esse? E mais: precisava ser justamente nesta quarta-feira, na noite da virada de ano? Não poderia ser mais emblemático, mesmo.

Agora, num universo de mais de 400 jogadores, são diversos os atletas que precisam de, senão de um recomeço, ao menos de um momento de virada em suas carreiras:

Todo o elenco do New York Knicks: Quer dizer, menos Cole Aldrich, Quincy Acy e Travis Wear, para quem a vida anda muito bem, obrigado. De resto, na pior campanha da história da franquia, o povo anda numa penúria que só. Se for para escolher um nome, porém, ficaríamos entre JR Smith e Andrea Bargnani. O ala-armador sempre foi o principal candidato a estranhar e odiar o sistema de triângulos. Esfomeado, de vista que só enxerga bem a cesta e nada mais, está agora convenientemente afastado de quadra devido a uma ruptura na fáscia plantar (algo que, acho, podemos traduzir como “sola do pé” no populacho). Já Bargnani não jogou sequer um minuto na temporada, por conta de uma ruptura de tendão no cotovelo. Sua estreia pode acontecer também nesta quarta, contra o Sixers. Difícil é encontrar alguém que ainda confie nesses caras. Smith só fez seu desempenho cair desde sua participação desastrosa nos playoffs de 2013. Para o italiano, Nova York, na verdade, já representava uma chance de recomeço, ao sair escorraçado de Toronto. Phil Jackson já disse que não topa nenhuma negociação que vá atrapalhar os planos dos Bockers no mercado de agentes livres. Não vai receber nenhum contrato indesejado que dure mais que os atuais.

A triste história de uma escolha de número um de Draft vinda da Itália

A triste história de uma escolha de número um de Draft vinda da Itália

– Bem, Josh Smith já ganhou, de certa forma, sua Mega-Sena da virada particular.

Andrei Kirilenko: pobre AK-47. Sob o comando de Jason Kidd, o ala tinha tudo para brilhar em Brooklyn, considerando a predisposição do jovem treinador para fazer o uso máximo de atletas híbridos, versáteis. Aí as costas não deixaram. Quando alegou estar bem fisicamente, veio Lionel Hollins, um técnico que conseguiu belos resultados em Memphis, mas que tem visão beeeem quadrada sobre o basquete (“Pivô bom? Só se jogar de costas para a cesta” etc.) Aí que o russo foi afastado da rotação, sem muita explicação, até se tornar o mais novo caso de banimento para a Filadélfia.A ironia é que, quando Kirilenko fechou com o Nets em 2013, houve uma choradeira geral na NBA: a de que havia um acordo por fora com o compatriota Mikhail Prokhorov, uma vez que ele havia aceitado um salário bem inferior ao seu valor de mercado.

Funciona assim, a propósito: a) um time precisa se livrar de um contrato, seja para abrir espaço no teto salarial, ou para diminuir as multas por excesso de gastança; b) o gerente geral liga para Sam Hinkie, chefão do Sixers, o time que nem mesmo cumpre a folha salarial mínima da liga e tem espaço para absorver qualquer tranqueira; c) Hinkie vai levantar o inventário do time que está ligando, para, d) rapelar mais algumas escolhas de Draft, até chegar o momento em que Philly vai ter 98% dos picks de todas as segundas rodadas da década; e) contrariado, mas sem ter muito o que fazer (ao menos ele vai economizar uns tostões, o que sempre agrada a qualquer proprietário de franquia), o cartola paga tudo o que o algoz solicita.

Deron e AK47 eram felizes em Salt Lake City e mal sabiam

Deron e AK47 eram felizes em Salt Lake City e mal sabiam

Foi o que aconteceu com Kirilenko. E pior: ao contrário da maioria dos atletas despachados para lá, Hinkie quer que o russo realmente se apresenta para jogar. Não porque conta com o medalhista de bronze olímpico para reforçar sua equipe, mas, sim, por vislumbrar uma nova troca para ele daqui a um mês – se ele jogar bem, vai aparecer algum time que sonhe com o título a pagar ainda mais pelo cara, saca? Mais escolhas de Draft! Obviamente que o russo não quer saber de virar um peão num joguete desses. Ele só quer liberdade. Se for dispensado, imagine se o San Antonio Spurs encontra um meio de contratá-lo (rompendo, vá lá, com Austin Daye)? O mundo precisa disso.

Deron Williams: Por falar em Brooklyn Nets, conheça o astro de US$ 20 milhões (US$ 19,8 mi, para ser mais preciso) que conseguiu uma proeza: virar reserva de Jarret Jack! Nada contra o novo titular, gente. Mas é que o veterano sempre foi conhecido em sua carreira justamente como o principal concorrente de Steve Blake  à condição de “armador reserva dos sonhos de todo e qualquer treinador”. Ao menos por hora, acabou essa história para Jack. Deron perdeu duas partidas devido a uma contusão na panturrilha e, quando voltou, estava no banco. Em entrevista pós-jogo, supôs que era por medida cautelar de Lionel Hollins. Ao que o treinador respondeu: “Não sabia que eu estava controlando os minutos dele”. Ui. Será que Sacramento, então, ainda topa conversar a respeito? Veja bem, Vivek. Já sabemos que vocês querem o Mason P, que está jogando demais, mesmo, e seria ótimo complemento para o Boogie. Mas… repare que o Sacramento está caindo pelas tabelas na conferência! E que isso talvez não tenha a ver com a meningite mardita que tirou o Boogie de ação, ou com a demissão de um técnico que havia colocado o time em boas condições de competir! O que isso significa? Significa que é hora de fazer mais uma troca por um astro renegado! Deu certo com o Rudy Gay, vai dar certo com o Deron também! Tro-ca já.

Lance Stephenson: é, Lance, a essa altura, você tem de agradecer pela lesão que Al Jefferson sofreu na virilha, que vai tirar o pivô de quadra por um mínimo de quatro semanas. Ufa, né? Pois estava ficando feio: foi só o ala-armador sair de cena com uma torção pélvica (!?!?), que o Charlotte Hornets começou a vencer. Eram quatro triunfos consecutivos já, reforçando a tese de que o talentoso e intempestivo jogador era o problema. Segundo o RealGM, porém, tanto a diretoria quanto Stephenson chegaram a um consenso de que ainda está cedo para romper. Da parte do clube, resta saber apenas se isso não foi motivado pelo simples fato de que as ofertas que chegaram não animavam muito. O Indiana Pacers, por exemplo, flertou com a possibilidade de repatriá-lo. Ao que parece, segundo diversas reportagens, seus antigos companheiros não se animaram muito com a ideia, não. Então parece que, se quiser encontrar paz, Stephenson vai ter de se virar em Charlotte, mesmo, ajudando Kemba Walker, em vez de se meter no caminho do armador, especialmente num momento sem Jefferson.

Vai tudo para a conta de Blatt, mesmo?

Vai tudo para a conta de Blatt, mesmo?

David Blatt: cogitar a demissão de um treinador estreante na NBA, com menos de seis meses no cargo? As coisas em Cleveland parecem não mudar nunca, mesmo, com trono ocupado ou vazio. O Cavs ainda deixa a desejar na defesa, é verdade, especialmente a proteção do garrafão, algo que sempre foi uma preocupação, devido a sua dependência de Anderson Varejão. Havia uma carência clara no elenco. Caberia a Blatt encontrar algum sistema para remediar isso, claro, e até agora não rolou. Talvez os jogadores não estejam escutando Blatt? Pois é. Mas essa não foi a mesma história com os últimos dois treinadores que passaram por lá? Irving e Waiters são reincidentes. Além disso, LeBron tem um comportamento no mínimo suspeito desde que voltou. Berra com companheiros em quadra, enquanto ele mesmo demora para voltar na transição defensiva. Diz a repórteres que estava em “modo relaxa-e-goza” contra o Orlando Magic, depois de uma preocupante derrota na véspera, para o Miami. Não importava, então? Ele age como se tivesse conquistado tudo de que precisava e, agora, era hora apenas de curtir o fato de estar perto de caso. No mesmo jogo contra o Heat, Kevin Love perdeu rebotes para Mario Chalmers e Norris Cole, enquanto vagava emburrado pela quadra. Enfim, Blatt, de um jeito ou de outro, vai precisar assumir as rédeas aqui. Segundo diversas fontes que trabalharam com ele na Europa, trata-se de um sujeito sensacional, que merece melhor sorte em sua grande chance nos EUA. A diretoria vai lhe dar apoio? Ou morrem de medo de LeBron para tomar alguma decisão que possa contrariá-lo?

Anthony Bennett: que o canadense fosse perder minutos para Robbie Hummel realmente não era algo que Flip Saunders tinha em mente quando fechou, enfim, a troca de Kevin Love.

Kobe Bryant: ele também é outro que já desfruta de um recomeço, após tantas lesões que lhe roubaram muitos meses preciosos nesta reta final. Mas para o astro do Lakers a temporada 2014-2015 não poderia passar rápido o suficiente. De qualquer forma, sabemos que ele arremessar 30 vezes por jogo não parece a solução num time fraquíssimo, embora os torcedores do Lakers adorem. Não dá para ser herói com esse time. Resta, então, passar a bola e liderar de um jeito bem diferente ao que se acostumou a fazer em uma vitoriosa – e conflituosa – carreira. Que tal?

PS: Desejo aqui um ótimo 2015 a todos – aqueles que estejam em busca de seu próprio recomeço, os que estão na crista da onda e, claro, o pessoal que toca tudo numa boa, sem tantas peripécias assim para contar, mas que não se enganem: como o filmaço Boyhood – a melhor coisa de 2014 – ensina, até a vida vida mais regular já é um grande acontecimento.


A bizarra dispensa de Josh Smith e um Houston mais forte
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Giancarlo Giampietro

SVG, o técnico, tentou orientar. SVG, o presidente, não soube ponderar

SVG, o técnico, tentou orientar. SVG, o presidente, não soube ponderar

É normal que um técnico, furioso após um treino frustrante, no qual seus atletas não renderam o esperado, suba as escadas em direção ao escritório dos diretores do clube para pedir a cabeça de um jogador.  Ele simplesmente não aguenta mais um cara: considera que ele não se dedica o bastante, que sua postura esculachada pode servir de má influência para o restante do time e que o melhor, mesmo, é mandá-lo para a Sibéria. O gerente geral vai obviamente escutar tudo, tomar notas, conversar com o treinador e, depois de escutar a batida da porta, pode chamar um ou outro assistente para ponderar a respeito e estudar as alternativas para atacar esse mais novo problema. Vão atender ao pedido? Que tipo de mercado poderiam encontrar para o atleta? É algo que pode ser contornado com muita conversa?

Em Detroit, o reino de Stan Van Gundy, porém, esse processo todo está comprometido. Quando o técnico Van Gundy queria reclamar a respeito de Josh Smith, ele teria de conversar com o presidente Stan Van Gundy. E aí faz como? Bem, aí que os ímpetos imediatistas do SVG das quadras prevaleceram, a ponto de causarem espanto na NBA com a dispensa o ala-pivô sem mais, nem menos, numa decisão que, inicialmente, custará cerca de US$ 40 milhões em salários (o deste campeonato mais US$ 27 milhões que teria nas próximas duas temporadas). Dinheirama gasta em um cara banido do clube. Que tal?

Não tem muito como avaliar a barra do substituto de Joe Dumars aqui: foi uma tremenda trapalhada. Foi algo realmente bizarro, fugindo da rota que 99,9% das demais franquias adotaria. O todo-poderoso do Pistons exaurir as possibilidades de troca até 19 de fevereiro, ou tentar negociar uma rescisão contratual com algum desconto até 1º de março (os jogadores dispensados até essa data se mantêm elegíveis para a disputa dos playoffs por outro time).

Smith não deixa saudades na Motown

Smith não deixa saudades na Motown

Van Gundy não quis saber de nada disso. Chamou Smith para seu escritório e soltou a bomba. Nuclear, no caso. É de se imaginar a reação do veterano. Primeiro, uma combinação de susto e, talvez, humilhação. O dirigente-treinador estaria tão insatisfeito com ele a ponto de assinar um cheque polpudo para não vê-lo mais nos arredores da cidade. Depois, passado o baque, talvez tivesse vindo a sensação de liberdade. Desde que assinou com Dumars em 2013, o encaixe, a combinação com a equipe nunca pareceram certos.

Segundo consta, a trupe de SVG sondou o mercado de trocas, sim. Mas não ouviu nada de interessante. O único clube realmente disposto a fazer um negócio foi o Sacramento Kings. Que teria oferecido dois pacotes: o pivô Jason Thompson acompanhado de Derrick Williams e, depois, de Carl Landry. A primeira proposta ele recusou na expectativa de trabalhar com Smith e tentar arrumar as coisas em quadra – projeto que não durou nem três meses. A oferta com Landry foi a última e, nesse caso, a economia de alguns tostões apenas para Detroit. E eles queria uma redução mais drástica na sua folha de pagamento, pensando numa reformulação de verdade ao final do campeonato.

Ao dispensar Smith e esticar o valor restante de seu contrato por cinco anos (Smith vai receber U$ 5,4 milhões por ano, até 2020), eles vão conseguir isso. A opção representa um ganho de US$ 8 milhões no teto salarial em 2015 para dar mais margem de manobra nos futuros negócios. Além disso, segundo as regras do acordo trabalhista da NBA, caso Smith assine com uma nova equipe por um valor acima do salário mínimo, metade desse vínculo será descontada das despesas do Pistons. Quer dizer: aquela conta de US$ 40 milhões pode ser reduzida. Só não esperem, porém, que esse valor despenque de modo considerável.

Smith estava jogando muito mal em Detroit. Com ele em quadra, a equipe era vencida pelos adversários por mais de 12 pontos em média, a cada 100 posses de bola. Para se ter uma ideia, o Philadelphia 76ers tem perdido por 10,6 pontos a cada 100 posses neste campeonato. É um prejuízo danado, então, que ajudou a diminuir a cotação do atleta. Por outro lado, parece claro que a maior dificuldade encontrada por Van Gundy neste caso foi justamente sua urgência para selar uma proposta. Se os dirigentes percebem o desespero e estão cientes sobre o valor astronômico do contrato, entram na negociação com a vantagem toda do seu lado. Muitos deles já pediram logo de cara uma escolha de primeira rodada de Draft, antes de avançar nas conversas.

Mesmo equilibrado, Smith não estava matando nada em Detroit

Mesmo equilibrado, Smith não estava matando nada em Detroit

Esses são, basicamente, os pontos a favor da decisão dramática. Agora… se até um Gilbert Arenas, alguém que levou armas para o vestiário e, sim, defecava sobre o tênis dos companheiros, pôde ser trocado, imagino que dava para ter encontrado uma solução melhor, sim, para Smith. (Ironicamente, aliás, Arenas saiu do Washington Wizards justamente para o Orlando Magic, para jogar com Van Gundy. Pesou aí a memória de treinador (uma vez que Arenas foi um fiasco na Flórida) e, não, a de dirigente.

Quando acertou com Van Gundy e decidiu lhe dar plenos poderes no controle das operações de basquete, Tom Gores, o dono da franquia, deveria estar ciente dos riscos. São raros os casos de personagens que tenham conseguido dar conta de duas funções com mentalidades tão distintas: o técnico se preocupa com o dia de hoje e amanhã; um dirigente precisa cuidar do que vem muito depois disso, ainda mais numa NBA em que a concorrência é predatória.

Pat Riley deu conta disso em Miami, mas de um modo bem diferente: orientou o time com certo sucesso nos anos 90, mas, depois, viu um elenco envelhecido naufragar. Foi só a partir do momento em que ele se concentrou mais na função de gerente que a franquia decolou, ganhando três títulos desde 2006. O primeiro deles, é verdade, foi com o ultravencedor de volta ao banco, ironicamente depois de demitir SVG. A equipe, porém, já estava montada, com Shaq, Wade, Payton, Posey, Haslem, Williams, Walker e muito mais. Naquele caso, o técnico não tinha do que bufar, uma vez que ele mesmo havia reunido aquele grupo de atletas.

Smith foi um contrato herdado por Van Gundy. Joe Dumars, infelizmente, não estava presente para escutar suas lamúrias de quadra.

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Amigo é coisa pra se guardar...

Amigo é coisa pra se guardar…

Ah, a sorte. Ela pode interferir no destino de uma temporada de NBA de modo muito mais decisivo do que os analíticos e os mais racionais podem admitir. Não só por conta das lesões – como o mais novo infeliz acidente em torno de Anderson Varejão nos conta em Cleveland –, mas muito mais por uma série de fatores, de incidentes que podem acontecer durante a jornada, beneficiando um, ferrando com a vida do outro.

Na Conferência Oeste de competitividade absurda, o Houston Rockets pode estar ganhando um presentão com a dispensa de Smith pelo Pistons. O ala já concordou em assinar com o clube texano, por algo em torno de US$ 2 milhões. O gerente geral Daryl Morey precisa apenas abrir uma vaga em seu elenco para assinar a papelada. Ele vai tentando achar uma nova casa para Joey Dorsey, Tarik Black,  Clint Capela, Nick Johnson ou Alexey Shved (os atletas de menor salário e menor papel na equipe, em suma). Atualização: Tarik Black, que não tinha garantias em seu salário para o futuro, acabou dispensado. Do contrário, teria de dispensar outro contrato, lembrando que esse foi um expediente já adotado pelo cartola antes do início da temporada, torrando US$ 2 milhões em Jeff Adrien e Ish Smith.

Em teoria, parece um negócio da China, por um ala-pivô que, embora não castigue mais o aro como nos bons tempos em Atlanta, ainda tem muito talento para oferecer como defensor (ainda está no top 10 de tocos da liga e tem mobilidade e agilidade acima da média para a posição) e um passador cada vez mais apurado.

Não se trata, porém, de um jogador completo, que não cause alguns problemas em quadra. Do contrário, não teria sido dispensado com US$ 40 milhões por receber. Aliás, fosse o caso, talvez o Atlanta Hawks não tivesse permitido nem que entrasse no mercado de agentes livres no ano passado. Que tipo de problemas, então? Bem, já é de conhecimento público suas dificuldades com o arremesso de três pontos. Mais que isso: não só ele é um péssimo arremessador, como não se esquiva de queimar bolas de longa distância com uma frequência alarmante.

Nesta campanha derradeira pelo Pistons, contudo, a penúria se alastrou. Ainda que ele tenha diminuído consideravelmente o volume nos tiros de fora (1,5 a cada 36 minutos), seu aproveitamento geral nos arremessos de quadra despencou para baixo da casa  de 40%, com 39,1%, vindo de um 41,9% na temporada passada – as piores marcas de sua carreira. Uma tendência preocupante e horrorosa. Isto é: ele distribuiu seus arremessos de forma mais apropriada, conforme suas habilidades, mas simplesmente não conseguiu convertê-los. Vejam que calamidade:

josh-smith-shooting-chartA conversão de apenas 44% perto da cesta é assustadora para alguém de sua posição e talvez seja um sério indício de a) o declínio de sua capacidade atlética; b) simplesmente o produto de se jogar num time ruim, com um armador que não sabe o que faz em quadra e cujo garrafão já esteja congestionado com Andre Drummond; c) total desinteresse pela prática do basquete; d) uma combinação desses três fatores. No final das contas, Smith é apenas o segundo jogador na história da liga a ficar abaixo dos 40% de arremesso de quadra e 50% nos lances livres, com um mínimo de 800 minutos em quadra.

O Rockets acredita que o péssimo desempenho do ala-pivô tenha mais a ver com a falta de motivação e encaixe em Detroit. Que seu nível de produção vai subir e os maus hábitos, diminuírem, ao lado de seu compadre Dwight Howard, jogando num time de ponta, com reais pretensões de título. A conferir.

Mesmo com Howard perdendo 11 jogos devido a dores no joelho, o Rockets tem hoje a segunda defesa mais eficiente do campeonato. Imagine o quão sufocante e sólida pode vir a ser com o pivô e Smith em forma para proteger o garrafão? Por outro lado, também cabe a pergunta: será que a presença de Smith faria tanta diferença assim num sistema que obviamente já funciona bem?

Agora, as maiores dúvidas ficam para o ataque, mesmo. O reforço vai comprometer o espaçamento ofensivo? Donatas Motiejunas já não honra sua fama – e sua condição natural de lituano ; ) –, com 28,3% de acerto de fora. Kostas Papanikolau ainda não se ajustou a distância maior da linha de três da liga. Terrence Jones vinha muito bem, mas está afastado por tempo indeterminado das quadras. Com Smith, seria um não-chutador para fechar as linhas de infiltração de James Harden.  A despeito disso, o Rockets é o time que mais chuta do perímetro na liga. Com o técnico Kevin McHale, de contrato renovadíssimo, vai se comprtar com Smith? Vai incentivá-lo a arremessar, não importando os resultados? Você pode estar empurrando a Chapeuzinho Vermelho em direção ao Lobo Mau numa dessas, gente.

É, de qualquer forma, uma aposta de baixo risco para o Rockets, mas que pode fazer grande diferença.

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O Rockets já havia fortalecido seu sistema defensivo com a troca por Corey Brewer. O ala ex-Wolves pode não ser um marcador implacável no mano-a-mano, mas é um tormento para atacar as linhas de passe, com reflexos acima da média, agilidade e envergadura. Junte ele e Trevor Ariza, e o time de McHale tem duas excelentes opções no perímetro para dar um descanso a Harden. O Sr. Barba vinha muito melhor na conenção, mas já gasta muita energia no ataque e precisa ser realmente preservado. Sem ironias.

 

 

 

 

 


Heat x Spurs: confira a cronologia dos protagonistas da final
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Giancarlo Giampietro

Quando Pat Riley ganhou seu primeiro anel de campeão da NBA, em 1972, dividindo o vestiário com Wilt Chamberlain e Jerry West (treme a terra quando se fala sobre estes nomes, não?), Gregg Popovich estava competindo, ou em vias de competir na peneira que formaria  seleção norte-americana que amargaria a prata olímpica em Munique. Sim, aquela final que se tornou o jogo mais controverso da história da modalidade. Uma temporada depois, Popovich retornaria à academia da Aeronáutica dos Estados Unidos como assistente técnico. Erik Spoelstra não tinha nem dois anos de idade.

Timmy Duncan, promessa das piscinas

Timmy Duncan, promessa das piscinas

Quando Pat Riley assumiu o Los Angeles Lakers pela primeira vez como treinador profissional, em 1981, cinco anos depois de aposentado das quadras, Tim Duncan tinha cinco anos de idade e vivia em Christiansted, uma das cidades da ilha de St. Croix, das Ilhas Virgens americanas. Popovich estava em sua segunda temporada como treinador da universidade de Pomona-Pitzer, na terceira divisão da NCAA, a qual dirigiu entre 1979 e 87. Mais um dos andarilhos do basquete norte-americano, Tony Parker Sr. tocava sua carreira na Bélgica.

Quando Tim Duncan praticamente desistiu de se tornar um nadador olímpico dos Estados Unidos, em 1989, e, aos 13 anos, começou suas aventuras numa quadra de basquete, Spoelstra era eleito o calouro do ano na West Coast Conference pela universidade de Portland, vindo de uma prestigiada carreira de colegial. Era armador. Riley estava em vias de deixar o Lakers, com mais quatro anéis de campeão. Nas finais daquela temporada, o time foi varrido pelos Bad Boys de Detroit. LeBron James tinha cinco anos e vivia uma infância difícil em Akron, com sua mãe de 21 anos procurando um emprego e um apartamento atrás do outro. Com quatro anos, Tiago Splitter brincava com qualquer coisa em Blumenau.

Tim Duncan em 1995, longe das piscinas

Tim Duncan em 1995, longe das piscinas

Quando Manu Ginóbili iniciou sua carreira profissional pelo Andino Sport Club, em 1995, sendo eleito o melhor novato da liga argentina, Duncan estava em seu terceiro ano de universidade, em Wake Forest, construindo sua reputação como um prospecto imperdível. Riley deixou a cabine de transmissão da NBC para assumir o Miami Heat como técnico e cartola – foi um ano de reformulação, no qual seu time somou 42 vitórias e 40 derrotas, o suficiente para chegar aos playoffs e ser varrido pelo Chicago Bulls de Michael Jordan. Spoelstra havia acabado de ser contratado como coordenador de vídeo do clube, indicado por Chris Wallace (hoje o gerente geral interino do Memphis Grizzlies)  e conseguiu se segurar no cargo, mesmo com a chegada de um novo chefe. Popovich era o gerente geral do Spurs, contratado pelo novo proprietário da franquia, Peter Holt, três anos depois de ser demitido pela gestão anterior.

Spoelstra, um nerd que fez carreira em Miami

Spoelstra, um nerd que fez carreira em Miami

LeBron, calouro no high school

LeBron, calouro no high school

Quando Tim Duncan ganhou seu primeiro título da NBA, em 1999, já sob a batuta de Popovich, LeBron estava se preparando para começar uma das mais badaladas carreiras de um jogador de high school no basquete norte-americano, na St. Vincent–St. Mary High School. Aquela era a primeira de-ci-são polêmica do adolescente. Ele e seus amigos do circuito AAU optaram por uma escola particular,  elitista, em vez de seguir a rota mais usual do colégio público – e dos “manos”.  Dwyane Wade já era uma estrela do prestigiado basquete colegial de Chicago, mas, devido a problemas com suas notas, só tinha ofertas de três universidades: as locais Illinois State, e DePaul, ou Marquette, do estado vizinho de Winsconsin. O Miami de Pat Riley foi mais uma vez eliminado pelo (eventual vice-campeão) Knicks nos playoffs do Leste – Spoelstra dividia seu tempo entre coordenador de vídeo e assistente técnico do figurão. Ginóbili encerrou sua primeira temporada na Itália, jogando pelo Reggio Calabria, na segunda divisão. Tony Parker assinou seu primeiro contrato de profissional com o Paris Basket Racing. Um ano depois, com 15, Tiago Splitter deixaria Santa Catarina rumo ao País Basco, para jogar na base do Baskonia.

Quando Tim Duncan ganhou seu segundo título da NBA, em 2003, já acompanhando por Tony Parker e Manu Ginóbili e ainda ao lado de David Robinson, LeBron James já sabia que sua jornada como profissional começaria justamente na franquia de seu estado, Ohio, em Cleveland. O Draft daquele ano, com LeBron sendo a maior barbada, foi realizado 13 dias depois de o Spurs vencer Jason Kidd e o New Jersey Nets na decisão, 4-2. Com 29 pontos, 11 rebotes, and 11 assistências, Dwyane Wade fazia o quarto triple-double da história dos mata-matas da NCAA por Marquette, entrando de vez na lista dos prospectos de elite. Splitter, aos 18, já disputava seu segundo torneio com a seleção principal, revezando com Nenê e Anderson Varejão no garrafão de um time que sofreu horrores no Pré-Olímpico em Porto Rico.

Splitter no Mundial de 2006: a boa nota numa campanha fraquíssima do Brasil

Splitter no Mundial de 2006: a boa nota numa campanha fraquíssima do Brasil

Quando Dwyane Wade ganhou seu primeiro título da NBA, em 2006, Shaquille O’Neal jogava ao seu lado, assim como Gary Payton, Jason Williams, Antoine Walker, Alonzo Mourning e Udonis Haslem. Pat Riley havia deixado os escritórios e voltado a dirigir o time, depois da demissão de Stan Van Gundy. O Cleveland de LeBron foi eliminado na semifinal da Conferência Leste pelo Detroit Pistons de Billups, Sheed e Ben Wallace, depois de ter vencido o Washington Wizards de Gilbert Arenas, na primeira rodada. O Spurs perdeu para o Dallas Mavericks no Jogo 7 das semifinais do Oeste, levando uma virada daquelas. Splitter teve médias de 16,4 pontos e 6,6 rebotes no Mundial do Japão, com o Brasil caindo na primeira fase.

Quando LeBron James chegou a sua primeira final de NBA, em 2007, o adversário foi o San Antonio Spurs de Duncan, e seu Cleveland Cavaliers, com Eric Snow, Larry Hughes, Drew Gooden e Zydrunas Ilgauskas no time titular, foi varrido. Em Miami, o Miami Heat também seria varrido pelo Chicago Bulls na primeira rodada da Conferência Leste, vendo seu sonho de bicampeonato atropelado por Andrés Nocioni, Ben Gordon, Luol Deng, Kirk Hinrich e Ben Wallace. Riley ainda era o técnico. Spoelstra, seu assistente. Splitter foi o MVP da Supercopa espanhola e iniciaria uma belíssima temporada na Europa, aos 22 anos, sendo eleito para o quinteto ideal da Euroliga ao final.

Em 2012, LeBron ganhou seu primeiro título, com o Spurs perdendo a final do Oeste para o Thunder. Em 2013, reencontrou Duncan na decisão e deu aquele toco em Splitter, já sabemos. Agora, a partir de quinta-feira, essas diversas trilhas voltam a se cruzar. Mal posso esperar.


Nova arrancada do Miami coloca Indiana contra a parede
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Giancarlo Giampietro

É LeBron, é defesa, é pressão, é muito mais para o Miami no momento

É LeBron, é defesa, é pressão, é muito mais para o Miami no momento

Por três jogos seguidos, o Indiana Pacers abriu uma boa vantagem no placar, mas só conseguiu protegê-la na partida inicial da série. Por um lado, pode ficar a sensação de que o time de Frank Vogel vacilou geral e que entregou a série de bandeja para o Miami Heat. Mas seria injusto dizer isso. Injusto com os atuais bicampeões.

Estamos falando de um time que perdeu o primeiro período deste sábado por sete pontos, mas que venceu o restante do jogo por 19. O time que anotou apenas 14 pontos em 12 minutos, mas que acumulou 85 nos 36 restantes. Mesmo contra uma defesa como a do Indiana Pacers, que, durante o campeonato, chegou a atingir níveis históricos de eficiência.

“É uma dura derrota para nossos caras”, diz o comandante do Pacers, Frank Vogel. “Acho que competimos muito bem, viemos para a quadra de modo bastante forte, tivemos um bom início e, então, não soubemos controlar nossas faltas e não conseguimos também reagir ao aumento de intensidade defensiva deles.”

O técnico faz um bom resumo, mas as coisas não são tão simples assim, né?

Com cinco faltas, George Hill foi limitado a apenas 21 minutos de ação, e isso de fato interferiu demais com seus planos para a equipe. O quinteto inicial de Indiana ainda tem um saldo positivo quando reunido em quadra, a despeito de duas derrotas em três jogos. No entanto, qualquer outra formação usada pelo treinador tem saldo negativo. Dureza, hein?

Sem Hill, Vogel perde um de seus poucos dribladores minimamente competentes, sobrecarregando Lance Stephenson e Paul George – especialmente quando consideramos as responsabilidades que ambos têm na defesa. Evan Turner poderia ajudar nesse sentido, mas como ficaria, aí, o espaçamento de quadra? Ainda mais comprometido, algo grave para um time que acertou apenas 28,6% de seus chutes de fora na primeira partida em Miami. E dá para confiar no ala marcando algum dos astros adversários ou mesmo Chalmers ou Cole? Nem.

Luis Scola dessa vez mostrou sinais de vida, terminando, vejam só, com o melhor saldo de cestas do Pacers (+9 em 13 minutos). Com a cabeça fresca, o argentinou reagiu e marcou oito pontos em algo como três minutos no primeiro tempo. Mas isso de nada adiantou no segundo tempo quando a bola mal chegou ao pivô – ao contrário do que se passou em Indianápolis, diga-se, em que foi acionado e não correspondeu.

Da mesma forma que DJ Augustin no ano passado, o armador reserva CJ Watson vem enfrentando imensa dificuldade contra o abafa constantemente promovido por Erik Spoelstra, que pediu a seus atletas para que não se esquecessem da identidade de sua equipe. Valeu, professor. Se a pressão defensiva do Miami desestabiliza até mesmo ataques bem coordenados como o do San Antonio Spurs, contra o Pacers, quando as coisas encaixam, vira massacre, mesmo.

Depois de 13 jogos com os rivais alternando vitórias, o Heat colocou o Pacers contra a parede ao conseguir, enfim, dois triunfos seguidos. Restam mais dois para que o time volte a uma decisão da NBA pela quarta vez consecutiva, para repetir algo que não acontece há quase 30 anos, desde o Los Angeles Lakers de 1982 a 1985 (uma vitória e uma derrota contra Celtics e Sixers).

A julgar pelo que vimos nos três primeiros confrontos, é difícil apostar numa derrapada, por conta desses e outros motivos – bastante óbvios, mas que voltam à tona na final do Leste de maneira impositiva:

Poder de fogo
Para plantéis que contam com figuras como LeBron e Durant, parece que nenhuma vantagem está plenamente segura – em dois ou três minutos de mão quente, a liderança se evapora. Se ao lado deles se apresentam talentos como Wade e Westbrook, então? Todo o cuidado é pouco: 15 pontos não são nada. Ainda mais para uma equipe com problemas ofensivos como o Pacers.

No segundo tempo do Jogo 3, o Miami Heat deslanchou. Mas não se esqueçam do que já haviam feito no final da primeira etapa. Juntos, LeBron e Wade anotaram 14 dos últimos 18 pontos antes do intervalo, reduzindo a diferença de 15 (37 a 22) para apenas quatro (42 a 38, praticamente um 0 a 0). É difícil se intrometer no caminho dos dois, quando estão determinados a atacar o aro.

Daí que a inteligência na montagem do elenco de suporte aos astros também nunca pode ser ignorada. Os craques estão em quadra para resolver, mas a diretoria chefiada por Pat Riley conseguiu armar uma estrutura exemplar ao redor dos dois. Os cartolas deram a Erik Spoelstra não só um conjunto formidável de atletas, mas também uma porção de bons chutadores para aliviar a pressão em cima dos cestinhas – a contratação de Ray Allen, neste caso, se prova mais e mais mortal. O veterano de 38 anos segue em forma refinada, graças a uma das rotinas mais abnegadas da liga.

O ex-chapa de Garnett e Pierce matou quatro bolas de três no quarto final, se aproveitando de algumas cochiladas de Lance Stephenson. Mas é difícil também manter a concentração o tempo todo, ainda mais com Wade e LeBron ao lado de um dos maiores arremessadores da história do basquete. Por conta própria, o trio marcou mais pontos que todo o time do Pacers no segundo tempo: 47 a 45. Veja no gráfico abaixo, da ESPN, a anatomia de um baita estrago:

Os tiros de três que arrebentam com o Pacers, time que melhor defende este fundamento. Reparem também no baixo volume de tiros de média distância e o jogo lá dentro, na combinação ideal dos analistas estatísticos da vez: jogo interno + chutes de fora com alto rendimento

Os tiros de três que arrebentam com o Pacers, time que melhor defende este fundamento. Reparem também no baixo volume de tiros de média distância e o jogo lá dentro, na combinação ideal sugerida pelos analistas estatísticos da vez: jogo interno + lances livres + chutes de fora com altíssimo rendimento

Foi a segunda vez na temporada em que os rapazes eleitos por Larry Bird abriram 15 no placar e perderam. A primeira havia acontecido no dia 18 de dezembro. Coincidentemente, elas se equiparam como as maiores viradas na campanha da equipe da Flórida. Tem a ver com a artilharia pesada da equipe.

Em pormenores…

LeBron James, essa aberração
“Temos de jogar nosso tipo de basquete. Temos de ser disruptivos. Acelerar o time que estamos enfrentando, e tentar voar por todos os lados na defesa… Somos um time que ataca. Quando encaixamos nosso jogo, muitas coisas acontecem ao nosso favor, e até conseguimos cobrir alguns dos erros que fazemos tanto ofensiva como defensivamente”, afirmou o superastro nos vestiários neste sábado. Hmm… Na mosca.

E como é que faz, LeBron?

Ah, tá. Fácil assim.

É impressionante sua consistência em um nível altíssimo, coisa de panteão. A cada jogo, seguimos acompanhando a história. Que bom que todos tenham aprendido a conviver com isso.  Nos três primeiros jogos, LeBron tem 24,3 pontos de média, 7,3 rebotes e 6 assistências, com 58% nos arremessos de quadra, em 123 de 144 minutos possíveis.

Mas… Vem cá: esse cara não se cansa nunca?

Nas últimas quatro temporadas, apenas dois atletas beiram os 14.700 minutos de jogo: LeBron e Kevin Durant. Isso equivale a algo como 300 partidas inteiras. Para muitos, esse seria o principal empecilho para um tricampeonato. Fadiga física e mental, especialmente de seu principal astro. Era o que muitos esperavam. Por enquanto, nada. E como apostar contra esse cara?

Ainda mais quando ele vem tendo uma certa ajudinha de…

Dwyane Wade, valeu o descanso
Neste mesmo período de quatro temporadas de parceria na Flórida, Wade não bateu os 12 mil minutos. Ele soma algo como 240 partidas na íntegra – ou 73% de uma temporada regular. Faz diferença. Spoelstra teve ainda mais precaução em administrar os minutos do ala-armador durante a temporada, na qual ele foi para quadra em 54 partidas, a menor quantidade desde 2008 – descontando, claro, o ano do lo(u)caute. O resultado é um Wade cheio de gás contra o Pacers, sem permitir que Lance Stephenson o maltrate. Aliás, pelo contrário. Suas médias são de 24,3 pontos, 4,3 assistências e 62% nos arremessos na série, em 36,7 minutos. Se ele mantiver esse rendimento, fica difícil até mesmo para o Spurs, gente. Dois jogadores de capacidade atlética de primeiro nível, experientes, entrosados, com fôlego para sustentar grande volume de jogo.

“Não sei porque as pessoas ficam agindo como se ele tivesse jogando aos 47 anos. Até parece que é o Bob McAdoo jogando”, disse Chris Bosh, em defesa do amigo. Ok, Christopher. Wade tem apenas 32 anos. Mas é inegável o esforço do clube para preservar sua saúde, pensando nos momentos de decisão da temporada. Algo, aliás, que até livra a sua pele…

Chris Bosh nem tchum. E daí?
Em termos de minutagem, Chris Bosh também já foi longe. O ala-pivô admitiu publicamente é o terceiro jogador que mais ficou em quadra nos últimos quatro anos, superando a marca de 12 mil jogados. São 2.500 a menos que o grande craque do time,  verdade. Mas lembrem que não é todo jogo que o camisa 6 tem de encarar brutamontes como Hibbert, Tyson Chandler e Al Jefferson. Bosh até conta com a escolta de Birdman e Haslem (e, de vez em quando, de Greg Oden). Mas teve de digladiar com esse tipo de gigante por muito tempo, admitindo estar cansado pacas no momento. E jogar contra o Indiana é uma dureza. Em especial para ele, que, nos últimos sete confrontos de mata-mata com seus arquirrivais, sustenta médias de 7,9 pontos e 4,6 rebotes, com 29,9% de aproveitamento nos arremessos. O Ian Mahinmi conseguiria estes números? Talvez não. Para um cara com o status de Bosh, porém, o caso é de bombar no exame. Mesmo com seu terceiro principal atleta rendendo pouco, o Heat está na frente.

Mando de quadra
O arranque do Pacers no início da temporada e todo o sofrimento na reta final para manter a primeira colocação no Leste, ter mando de quadra…Foi tudo para o espaço. A turma de LeBron conseguiu uma vitória em Indianápolis e confirmou, neste sábado, a “quebra de saque”. Acabou? Ainda não. Vamos ver se essa intensidade do Miami será mantida no Jogo 4, agora que estão liderando a série. A ver também se o Indiana segue confiante em completar a missão para a qual foi especificamente preparado.  Naturalmente, os visitantes têm mais uma chance na segunda-feira de recuperar a vantagem de decidir em casa. Basicamente, está em jogo sua sobrevivência na temporada. Se os visitantes não triunfarem no Jogo 4, aí, sim, bau-bau.


Uma troca que pode influenciar a luta por título na NBA
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Giancarlo Giampietro

Jordan Crawford, quem diria, virou reforço importante para o Warriors

Jordan Crawford, quem diria, virou reforço importante para o Warriors

Ao concluir uma troca, todo gerente geral vai se sentar diante dos microfones, um pouco mais alto no palanque, com o banner de sua equipe logo atrás e sorrir e falar sobre como essa negociação vai muito de acordo com o plano  – todos têm planos mirabolantes, ou pelo menos dizem que têm –, e que a negociação os leva diretamente para esta reunião.

No dia, o discurso pode até soar convincente, e as hordas de setoristas vão apoiá-lo, repassando o “peixe vendido” para os leitores. Alguns meses depois, dependendo do contexto, essa mesma negociação pode virar alvo de chacota e até mesmo resultar numa demissão. O olho da rua, a calçada da amargura.

Bem, nesta quarta, dando continuidade a uma temporada que já vai se desenhando agitado nas movimentações de jogadores, Boston Celtics, Golden State Warriors e Miami Heat fecharam uma troca tripla em que, assim de bate-pronto, acredito que influencia positivamente o rumo de ambos os times envolvidos. Nem precisa que Danny Ainge, Pat Riley ou Bob Myers se esforcem tanto para ganharem um joinha.

O negócio, vamos lá: Celtics manda Jordan Crawford e MarShon Brooks para a Califórnia. O Warriors, em contrapartida, se desfaz de Toney Douglas, que embarcano próximo voo para a Flórida. E o Heat repassa Joel Anthony para a Beantown, com mais duas escolhas de Draft (uma de primeira e outra de segunda, mas tem mais um detalhe aqui que vamos abordar um pouco mais abaixo).

É uma toca que, se a princípio, pelos nomes de coadjuvantes envolvidos, não é de assustar tanto, né? Mas ela pode ter, sim,  um impacto imediato na disputa do título deste ano – e dos próximos, diga-se.

Para entender o que cada um está pensando com o negócio:

Boston Celtics: por mais que Brad Stevens se esforce para fazer um bom prato a cada noite, sem ter muitos ingredientes à disposição, Danny Ainge claramente não quer saber de ver seu time competindo por playoff na Conferência Leste. O negócio é o Celtics se fixar entre os piores times da liga – se for entre os três lanterninhas, melhor ainda. Então o que ele fez? Pegou seu melhor jogador na temporada até aqui – Crawford, creiam – e o enviou para bem longe dali. Além disso, Brooks não estava muito satisfeito com a falta de tempo de quadra e com a passagem pela D-League. Um chorão a menos com que se preocupar.

Quem chega é o veterano Anthony. De positivo o que ele pode oferecer? É um jogador bastante inteligente, dedicado, experiente, que serve como mentor para jovens jogadores. Faz tempo que ele não joga, enterrado no vestiário de Erik Spoelstra, mas não podemos nos esquecer que é um bom defensor, atlético, protetor do aro. Algo que Stevens não tem no momento – ou que, pelo menos, ele não julga Vitor Faverani ser. Além disso, ele tira o fardo de Kelly Olynyk de ser o único atleta canadense no elenco esmeraldino. Tem isso. Por outro lado, o pivô tem uma das munhecas mais duras da liga. Ele é praticamente incapaz de converter uma cesta que não seja em enterrada ou na bandeja – e até na bandeja corre o risco de errar (confiram abaixo). Fica a dúvida, então: Stevens precisa de um cara como esses para fortalecer sua defesa. E talvez Ainge esteja salivando para ver Anthony em quadra, apostando que ele, no fim, vai fazer de seu time algo ainda pior. Rajon Rondo retornando bem, ou não.

Agora, o mais importante, mesmo, para o chefão em Boston é a aquisição de duas escolhas de Draft. Trata-se, hoje, da mercadoria mais valiosa no mercado da NBA. Qualquer novato que entre na liga de imediato após o recrutamento, seguindo as regras salariais impostas aos primeiros anos de contrato será um jogador mal pago, comparando com a média (Tiago Splitter e Ricky Rubio, por exemplo, esperaram algum tempo para deixar a Espanha e poder negociar um contrato mais generoso, e Nikola Mirotic segue pela mesma linha). Considerando todas as restrições do novo teto salarial, a importância desse tipo de jogador na composição de um elenco se tornou gigante. É por isso que ele não se incomodou em receber o salário de US$ 3,8 milhões do pivô como contrapartida. Mesmo que a escolha de primeira rodada que ele recebe possa se transformar em duas de segunda rodada. Explicando: é um pick que vem do Philadelhpia 76ers protegido. O Celtics só terá direito a usá-lo na primeira ronda do Draft caso o Sixers faça os playoffs neste ano ou na próxima temporada. Caso não aconteça, se transformará em mais dois do segundo giro. De qualquer forma, estamos falando aqui de commodities,

Ainge pode ou usar as escolhas para a confecção de seu plantel, mesmo, ou pode juntar tudo isso num megapacote futuro em busca de novas estrelas. Basicamente, a mesma estratégia que seguiu anos atrás para atrair Kevin Garnett e Ray Allen para lá. E não duvidem da capacidade de barganha do cara. Lembrem-se que Jordan Crawford foi adquirido no ano passado em troca por um lesionado Leandrinho e Jason Collins. Hoje, ele conseguiu uma compensação muito maior por ele.

Golden State Warriors: Zach Lowe estava perguntando nesta terça-feira a respeito: por que não o Warriors? Por que não incluí-los entre os times com chance de conquistar a NBA nesta temporada? Bem, Bob Myers afirmou ao jornalista do Grantlandi com toda a confiança de uma Golden Bridge que, sim, acredita que seu time é bom o suficiente para competir no duríssimo Oeste e sonhar com o caneco. Nesta quarta, um dia depois da publicação, ele reforçou a pergunta de Lowe. “Sim, por que diabos não o Wariors!?!?”, é como fica agora o título.

Crawford chega para dar um merecido descanso a Stephen Curry e Klay Thompson, dupla que vem acumulando média acima de 37 minutos por jogo nesta temporada. É muita coisa para dois jogadores leves como esses, ainda mais para alguém com tornozelo tão frágil como Curry. E, sem Steph inteirão nos plaoffs, não há chance alguma de o time pensar grande. Com Crawford – e, talvez, Brooks, que também é um belo cestinha nato, mas talvez ainda mais inconsequente nos arremessos que arrisca –, Mark Jackson enfim vai poder dar um respiro para seus jovens astros, sem se preocupar como conseguiria fazer uma cesta usando sua segunda unidade em quadra. Resta saber apenas se Jackson conseguirá administrar sua dupla da mesma forma que Stevens fez em Boston, especialmente JC. Se tiver sucesso, o Warriors ganha mais uma peça para tentar desafiar Spurs e Thunder. Podem ter certeza de que o Coach Pop e Sam Presti anotaram o recado.

Douglas é um defensor melhor que os dois que chegam, mas vinha todo estrumbicado na temporada com lesões, sem contribuir com quase nada para a ótima campanha da equipe.

Miami Heat: Pat Riley, meus amigos e minhas amigas, não brinca em serviço. Fica o aviso: se vocês não têm muita simpatia por tudo o que representa o Miami Heat, se torcem contra os caras, é melhor parar por aqui. Pulem para a próxima, abandonem o navio. Pois, numa negociação supostamente despretensiosa dessas, o Riles deu um jeito de deixar seu clube em situação ainda mais favorável para se bancar como uma dinastia.

E, não, não é pela chegada de Douglas. O ala-armador pode ser uma terceira opção na formação da backcourt com Dwyane Wade e Ray Allen, dependendo da saúde de Mario Chalmers e Norris Cole. Quando em forma, é um jogador atlético, espevitado, que pode se encaixar no sistema de pressão total do Heat. Se tiver matando as bolas de longa distância – um quesito no qual oscila bastante –, melhor ainda. Mas não estranhe nem um pouco se ele já for dispensado de imediato.

Por que? Bem, porque o principal objetivo de Riley era ganhar a tão alardeada “flexibilidade financeira” para sua gestão. Leia-se: dar um respiro para os cofres do proprietário Micky Arison,  que é daqueles que aparece na lista da Forbes, mas certamente aceita um desconto sempre que possível. Ao se livrar do salário Anthony deste ano e, especialmente, do ano que vem, o time vai poupar mais de US$ 10 milhões em pagamentos e multas. De modo que, neste ano ou no próximo, podem investir parte dessa grana em uma nova contratação de respeito – como as de Battier, Allen, Mike Miller etc. –, sem enforcar o contador. Além disso, caso decidam nem inscrever Douglas, uma vaga no elenco desta temporada será aberta. De modo que poderiam contratar Andrew Bynum ou qualquer outro veterano (que venha a ficar disponível) disponível  sem precisar abortar o projeto Greg Oden. Larry Bird não gostou.