Vinte Um

Arquivo : Tyronn Lue

Love pode ser reserva no Jogo 4. Como fica o Cavs?
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Giancarlo Giampietro

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Entrando com link ao vivo direto do vestiário do Cleveland Cavaliers, o repórter Renato José Ambrósio, da ESPN Brasil, relatava como Kevin Love havia passado todo sorridente pelo recinto, saudando seus companheiros, após a espantosa vitória por 30 pontos sobre o Golden State Warriors pelo Jogo 3 das finais da NBA.  Resta saber se ele ainda ficaria tão empolgado assim caso consultasse o Google para ver o que os jornalistas estavam repercutindo sobre esta surra que havia acabado de testemunhar fora da quadra. Mas não só essa corja do reportariado, não. Jogadores dos mais diversos perfis, como o classudo Vince Carter e o descontrolado Markieff Morris, também empunharam a corneta.

Independentemente do que estava sendo publicado, LeBron James saiu de peito estufado, mas isso é o natural. Kyrie Irving redescobriu sua ginga e JR Smith, seu arremesso e a coragem para arremessar também. Richard Jefferson deveria estar fazendo flexões que nem um maluco pilhado. Tyronn Lue talvez tenha se dado ao luxo de acender um charuto e abrir a melhor champanhe disponível na arena, se livrando de um fardo – pelo menos por uma noite. Agora… Quanto a Love, o que dá para dizer é que o amor realmente não estava no ar. (Mil perdões pelo trocadilho, mas é que parece obrigatório fazê-lo, não? É maior do que o bom senso.)

A partida ainda não havia nem acabado. Ainda estava rolando o primeiro tempo, na real, quando o desempenho arrasador dos donos da casa já sugeria esse questionamento que vai durar até a noite de sexta-feira, quando a bola subir para o Jogo 4: será que o Cavs melhora sem o ala-pivô? Lembrando, para quem não sabe, que o jogador ainda está vetado pelo departamento médico do clube, ainda sob efeitos de uma concussão, causada por uma cotovelada involuntária de Harrison Barnes pelo segundo jogo.

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De primeira, considerando o resultado de 120 a 90, a resposta parece óbvia e inclemente, não? Deu no que deu. Mas não dá para dizer que tudo se explica pela ausência. Seria muito simplista atribuir uma vitória desse tamanho ao fato de Love estar assistindo ao espetáculo. Da mesma forma que a equipe não apanhou em Oakland só por contar com ele. Cada jogo conta uma história, como bem podemos notar nesta série, e a alternância de um dia para o outro pode ser influenciada pelos fatores mais aleatórios. Nesta quarta, o Cavaliers precisava vencer de qualquer maneira. Ou isso, ou seriam obrigados a vencer quatro partidas seguidas contra um adversário que, no ano inteiro, só foi derrotado 14 vezes em 101 partidas. Para o time anfitrião, como LeBron havia colocado, era matar ou morrer, exigindo esforço absoluto. Uma situação extrema, por mais que pensar os Jogos 1 e 2 de uma decisão de NBA como temas menos urgentes seja absurdo.

Nos 38 minutos em que o ala-pivô esteve fora de quadra durante as duas primeiras partidas, o Cavs foi superado por 32 pontos – dos 48 negativos que havia acumulado, vejamos. Em termos de pontos por posse de bola, o quinteto titular com Irving, JR, LeBron, Love e Tristant, a formação mais usada nos playoffs e vinha tendo sucesso. Ainda nestas finais (com 32 minutos), teve o saldo menos pior, com -8,9 pontos.

Ok. Mas perder por 8,9 pontos a cada 100 posses deixaria o Cleveland entre os piores times da liga durante a temporada regular, por exemplo. Estava longe do ideal. Então talvez, independentemente de uma concussão, fosse a hora de Tyronn Lue buscar novas soluções. Pois o Jogo 3 vai forçar o treinador a abrir a cabeça, mesmo, e pensar bem no que fazer daqui para a frente. Quais foram as consequências mais óbvias dessa mudança?

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Ao escolher Richard Jefferson como o substituto, em vez de Channing Frye (que tem posicionamento e papel semelhante ao de Love), Lue viu o Cavs ganhar muito mais agilidade e mobilidade, atacando e defendendo. Por mais peso que Kevin Love tenha perdido desde sua entrada na liga em 2008, ainda estamos falando de um jogador que contribui em transição muito mais com seus maravilhosos passes longos logo na sequência de um rebote ou como chutador de três pontos sendo justamente o último a chegar ao ataque, recebendo o passe de dentro para fora. Não que Jefferson seja superior, por mais que esteja contribuindo nas últimas duas partidas. Foi só uma questão do encaixe, da composição de um quinteto que renda melhor especificamente contra o Golden State.

Jefferson, aos 35 anos, simplesmente não pára em quadra e ainda tem capacidade atlética para incomodar quando corta para a cesta sem a bola, balançando a defesa do Warriors, e também colocando seu próprio time em movimento. Para Love, a dinâmica é a aposta. Em Cleveland, o jogador de 27 anos geralmente é acionado de costas para a cesta para jogar em mano a mano ou tem de abrir e estacionar na linha de três esperando o desfecho de alguma trama de LeBron ou Irving. Ainda é um jogador efetivo nesse tipo de jogada, mas está basicamente parado em quadra.

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Contra uma defesa tão agressiva e bem preparada como a do Warriors, essa abordagem permite que os marcadores se aproximem dele e recuperem sua posição original com maior facilidade. Na defesa, o veterano ala também cobre muito mais espaço, combatendo Harrison Barnes ou Andre Iguodala tranquilamente, assim como o espigão Shaun Livingston. Já Channing Frye, regristre-se, foi constantemente atacado por Barnes no segundo período, sem conseguir parar o ala, justamente no melhor momento do adversário no confronto.

Outro fator que pode ter contribuído: sem Love, LeBron e Irving tiveram mais chance para atacar. Não só em termos de espaçamento como em oportunidades, mesmo, de ficar com a bola. Não havia a preocupação de envolver o ala-pivô e deixá-lo motivado – uma novela que se arrasta desde 2014, com seus treinadores buscando soluções para tirar o máximo de proveito dos recursos do jogador . Os dois astros que foram para a quadra tentaram juntos 51 arremessos, praticamente divididos em 50% para cada. LeBron, operando basicamente na cabeça do garrafão, atacando frontalmente, só tentou um a mais.

Dado o resultado surpreendente da partida, já há, então, esse forte clamor para que Love fique no banco. Isso para quem ainda conta com o jogador. Houve mesmo que sugerisse, fazendo piada ou não, que ele nem voltasse. Ainda que Lue pareça disposto a enxugar ainda mais sua rotação, banir Love seria um exagero. Se for manter o quinteto com Jefferson, LeBron e Thompson entre os titulares, Love poderia ser utilizado de modo pontual, contra a segunda unidade do Golden State, tal como OKC fez com Enes Kanter na final do Oeste ou como o próprio Golden State lidou com David Lee no ano passado. O problema? Mesmo nesse cenário, o ala-pivô ainda teria de perseguir Draymond ou Barnes. A não ser que Marreese Speights ou Festus Ezeli estejam em quadra.

O mistério é saber como Love reagiria a um eventual rebaixamento. Em tese, como Andre Iguodala nos ensina, deveria valer tudo em nome do time, né? O sucesso coletivo viria antes do brilho individual. Acontece que o ala-pivô  não é dos personagens mais fáceis de se dobrar. Segundo Marc Stein, do ESPN.com, após participar de um treino leve pela manhã, ele estava crente que iria para o jogo. Mas não foi liberado pela equipe composta pelo médico Dr. Alfred Cianflocco e o fisioterapeuta Steve Spiroe, ambos da franquia,  e do médico Jeffrey Kutcher, da NBA, e ficou pê da vida. (Atualização: a mídia de Cleveland agora diz que um retorno do jogador é provável para esta sexta-feira, e como reserva, mesmo, sem citar fontes oficiais.)

Também há um contexto complicado aqui, com muita história. Dependendo da reação, do que se passar em quadra e do desfecho da série, não é descabido dizer que Love pudesse até mesmo estar se despedindo do clube. Isso são os repórteres que cobrem o Cavs diariamente que dizem. (A propósito, que tal Love por Melo?)

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Agora sob luz mais intensa ao lado de LBJ, o veterano viu sua cotação se desvalorizar bastante desde a saída de Minnesota, de forma justa ou não. Depois de ter custado ao Cavs um prodígio como Andrew Wiggins, o número um de seu Draft, em 2014, agora há quem duvide que o clube conseguiria até mesmo um combo de Avery Bradley e Jae Crowder (independentemente da matemática salarial) pelo jogador. Os mais críticos falam sobre sua lerdeza e desatenção na defesa. Além de sua dificuldade para se integrar a um grupo – neste caso, LeBron foi um dos que jogou gasolina na fogueira, com diversas indiretas em redes sociais ou mesmo em entrevistas, reclamando de sua suposta postura de lobo solitário.

Tyronn Lue está ciente de tudo isso, claro. Os dirigentes e companheiros de time também. Se o técnico, jogador, elenco a diretoria vão se deixar influenciar por esse dilema, se vão pensar tão somente naquilo que acreditarem ser o mais útil para tentar empatar a série e lutar pelo título, talvez seja a principal pergunta do momento. Em sua coletiva pós-jogo, Lue se saiu bem e ganhou tempo. Um repórter o questionou: se Love estiver liberado para jogar na sexta, ele espera usá-lo? O treinador respondeu com uma pergunta, se precisava realmente dizer isso ali em público. O jornalista rebateu que isso era ele quem decidiria. Lue sorriu e emendou: “Não vou te dizer”. Talvez esteja jogando com a concorrência, para deixar Steve Kerr e seus assistentes em dúvida, no que teria toda a razão. Talvez nem tenha uma decisão tomada. De qualquer forma, a resposta é difícil. Por ora, o nome e o jogo de Kevin Love ficam no ar, mesmo .

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Cavs destroça a Conferência Leste, e não há do que duvidar aqui
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Giancarlo Giampietro

Tem sido um atropelo

Tem sido um atropelo

À medida que Stephen Curry vai acertando os parafusos em confronto com o Oklahoma City Thunder, a grande pergunta que fica no ar para os #NBAPlayoffs é sobre o Cleveland Cavaliers e sua assustadora dominância. O quanto isso tem mais a ver com o alto nível de rendimento que os LeBrons têm apresentado ou com a fragilidade de seus adversários? Parece ser o tópico mais intrigante por aí. Depois de o time espancar o Toronto Raptors pelo segundo jogo seguido, por 108 a 89, nesta quinta-feira, talvez já não seja mais relevante questionar isso.

A equipe se tornou apenas a quarta na história a somar dez vitórias em seus dez primeiros jogos. Se for pensar apenas em duelos com times da conferência, já são 17 triunfos seguidos desde o ano passado, que é a maior sequência da história dos mata-matas. Abrir um placar de 2 a 0 pelas finais de conferência não é algo tão raro assim de acontecer: 11 já haviam feito. Todos os 11 saíram vencedores rumo à decisão da liga. Quando reúne LeBron James a Kevin Love e Kyrie Irving, o Cavs também está invicto, com 14 vitórias.

Esse sucesso todo, acho que está claro, passa pelo sistema ofensivo, que é o mais eficiente destes playoffs, e de longe. Na média, são 116,9 pontos por 100 posses de bola, contra 112,7 do Golden State Warriors, o segundo colocado. A defesa não é tão de elite assim. Entre os 16 times classificados para a segunda fase, estão apenas em nono. Mas quer saber? Não está fazendo a menor diferença. Seu ataque tem trucidado a oposição.

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Em dez partidas até aqui, apenas três jogos foram decididos por menos de 10 pontos de diferença, dois deles contra o Detroit Pistons pela primeira rodada (106 a 101 pelo Jogo 1, bem parelho do início ao fim, e 100 a 98 pelo Jogo 4, quando o time da Motown lutava contra a varrida) e um contra o Altanta Hawks (100 a 99 pelo Jogo 4, também com os anfitriões lutando em vão para evitar o 4-0). Isto é: dois desses duelos mais equilibrados aconteceram quando já estava tarde demais nas respectivas séries.

Tem muita gente dizendo que isso se deve à fragilidade da conferência. Não acho que seja mais o caso de bater nessa tecla — e, se for para irritar o torcedor do Cavs, é só ficar falando sobre isso sem parar. O aproveitamento de seus concorrentes dos playoffs do Leste nesta temporada foi de 58,7%, com uma média de 48,1 vitórias. No ano passado, tiveram, respectivamente, e 56,4% e 46,2. Vale lembrar que dois times chegaram aos mata-matas em 2015 tiveram rendimento abaixo dos 50%, como o Boston Celtics, derrotado na primeira rodada. O oitavo colocado deste ano foi o Detroit Pistons, já com 44 vitórias. E outra: se os números lhe parecem similares, é porque houve a influência do excepcional rendimento do Hawks de 2014-15, de 60 triunfos. Tudo para ser varrido por Cleveland na final regional, com quatro de seus titulares jogando no sacrifício.

Irving está acertando 56% de seus arremessos em situação de pick-and-roll. A média da NBA é de 40%

Irving está acertando 56% de seus arremessos em situação de pick-and-roll. A média da NBA é de 40%, segundo o Synergy

Essa é a ironia: pela segunda temporada seguida, os LeBrons pegam um adversário completamente desestabilizado na hora de disputar o troféu do Leste. Se é para falar de fraqueza do adversário, ao contrário daquele Hawks, as mazelas do Toronto Raptors são no momento técnicas e/ou psicológicas — por mais que Jonas Valanciunas faça falta, não dá para imaginar que só o lituano faria tanta diferença assim para compensar um saldo negativo de 50 pontos em duas partidas. Após uma belíssima campanha, a equipe canadense  se esfarelou em questão de semanas. Kyle Lowry e DeMar DeRozan já erraram, juntos, 374 arremessos em 16 partidas (23,3 por jogo). Estão acertando apenas 36,3% no total. Isso não é número para uma dupla de All-Stars.

Mas o Cavs não tem nada com isso. E, mesmo que Lowry e DeRozan estivessem jogando o máximo, o Raptors não seria páreo para o que o seu adversário vem apresentando. Um tipo de basquete que não tomou conhecimento nem mesmo da segunda melhor defesa da liga, a do Atlanta, pelas semifinais. Nem mesmo os hiperativos marcadores de Mike Budenholzer puderam impedir que o Cleveland chegasse aos 100 pontos em todas as suas partidas, incluindo contagens de 123 e 121 pelos Jogos 2 e 3 da série. Que isso fique claro: o Atlanta era um oponente em ascensão, que prometia dar trabalho graças a seu empenho na contenção, mas não teve chance nenhuma.

Não há quem tenha feito mais splash do que o Cavs. Em termos de aproveitamento efetivo dos arremessos de quadra (eFG%, que dá mais valor aos tiros de três), eles têm 56,2%, acima dos 54,8% do Golden State. O Spurs se despediu com 51,9%. O Thunder tem 51,1%. O Raptors, só 45,4%. Cheio de confiança, o Cavs vem arriscando 33,1 chutes de fora nos playoffs, acertando 44,7%, contra 40,8% do Warriors, para comparar.  É o segundo time que gera mais assistências por posse de bola, aí atrás dos atuais campeões, e o quarto em percentual de assistências para cestas de quadra.

Dando uma boa olhada nos números dos playoffs — com a devida ressalva de que eles são um pouco desequilibrados, pelo simples fato de que os times não têm se enfrentado entre si, mas só contra alguns adversários específicos –, houve algo que me surpreendeu, em relação ao que vemos em quadra. Sabe aquele papo de que Tyronn Lue queria ver seu time acelerando geral? Esqueça. Nos playoffs, eles só têm o quinto ritmo mais lento dos mata-matas, só correndo mais que Raptors, Pacers, Grizzlies e Pistons. Ainda assim, estão destroçando os oponentes, com este aproveitamento altíssimo.

A excelência coletiva ao mesmo tempo passa por e gera a excelência individual. E aí tudo começa com LeBron James, né? Embalado, com 23 pontos, 11 rebotes e 11 assistências nesta terça-feira, o ala passou Magic Johnson no ranking histórico de triple-doubles pelos playoffs, ocupando a liderança agora, e também deixou Shaquille O’Neal para trás na lista de cestinhas, assumindo o quarto lugar. Seu desempenho contra o Raptors é digno de um MVP e de quem não quer se distanciar da chata conversa sobre quem-é-o-melhor-do-mundo:

É, são 69,2% na conversão dos arremessos de quadra, algo devastador. O mais legal, porém, é entender como ele está chegando a esse aproveitamento. O departamento de estatísticas da ESPN levantou dados curiosos sobre o rendimento de LBJ e Stephen Curry após dois jogos pelas finais de conferência. Cada um converteu 18 arremessos de quadra. Ao medir a distância do ala para o aro quando fez suas cestas, você acumula até agora apenas 8,8m. Para Curry? São 105,4m. Demais o contraponto, né? Não dá para ter abordagens mais diferentes. Na área restrita, o trator do Cavs converteu 17 de 19 tentativas. Não tem Bismack Biyombo que o atrapalhe.

As coisas caminham juntas também. LeBron só consegue chegar à área restrita para castigar o aro por ter grandes chutadores ao seu lado, espaçando a quadra. E esses chutadores também se beneficiam da atenção que o craque chama, ganhando alguns instantes valiosos para receber o passe e olhar para a cesta — ou fazer a bola girar, como tem acontecido constantemente nesta fase decisiva, num avanço que chega a ser até milagroso, quando comparado ao que vimos na temporada regular. E aqui você tem de elogiar o trabalho de Tyronn Lue, conseguindo convencer seus astros a reparar o estrago, mas também não dá para não criticar a postura do elenco nos tempos de David Blatt.  

Channing Frye está com um aproveitamento efetivo de 85% nos arremessos com os pés plantados. Impressionante, e não é nem mesmo o maior do time. O inabalável (!?) JR Smith está com 87%. No geral, Frye tem convertido 78,3% na soma de chutes de dois e três, enquanto JR tem 67,9%. Para termos uma ideia do que isso significa, Curry teve 64,3% durante a temporada regular. Klay Thompson, 56,9%. Isso para não falar de Irving e Love. Então chegou a hora de marcar LeBron individualmente, o tempo integral, e ver no que dá. Não pode dobrar mais. O problema do Raptors é que, debilitado, DeMarre Carroll não dá conta disso. OKC e Warriors estariam mais bem equipados. Mas obviamente é um risco a ser corrido. Hoje, com o Cavs acertando tanto nos disparos de fora, você tem de assumi-lo. Seria a sexta final seguida para LeBron, aliás.

Das três equipes anteriores que venceram seus dez primeiros jogos pelos playoff, só uma chegou ao título — o Lakers de 2001, com Shaq e Kobe arrancando cabeças para muito perto de concluir sua campanha pelo mata-mata com 100% de aproveitamento, sofrendo apenas um revés na abertura das finais contra Allen Iverson. Sim, aquele jogo pelo qual Tyronn Lue é lembrado até hoje. O Lakers já havia vencido 11 jogos seguidos em 1989, mas ficaria com o vice-campeonato ao ser superado pelo Detroit Pistons na decisão, com lesões limitando seu poder de fogo na hora decisiva. O outro caso foi o do San Antonio Spurs, em 2012, quando o esquadrão de Gregg Popovich estava barbarizando desde as últimas semanas da temporada regular até esbarrar no Oklahoma City Thunder numa das séries mais emocionantes da década.

Quer dizer, aqueles que não foram campeões só pararam em adversários especiais.  Acho que ninguém imagina que o Cleveland vá atropelar qualquer time que saia do Oeste, por mais desgastante que possa ser o confronto entre Warriors e Thunder.  Mas parece claro que aquela equipe que está jogando o basquete mais eficiente, bonito e, caceta, avassalador é o Cavs.

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Ainda em busca de paz, Cavs perde e agora é pressionado até pelo Raptors
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Giancarlo Giampietro

LeBron jogou 24 minutos sem parar no segundo tempo, e de nada adiantou

Respira fundo: LeBron jogou 24 minutos sem parar no segundo tempo, e de nada adiantou

O Cleveland Cavaliers é um time que desafia qualquer observador. O time ainda tem a melhor campanha do Leste e a terceira melhor no geral. Com Tyronn Lue, ainda que numa amostra menor de jogos em relação a David Blatt, o ataque se tornou um do mais eficientes da liga (superando o Golden State por um triz) e elevou seu saldo de pontos também, espancando rivais como San Antonio e Oklahoma City pelo caminho.

Ainda assim, basta uma derrota para o clima no vestiário se anuviar. Depois de tomada uma virada no quarto período contra um Toronto Raptors cujo principal cestinha não tinha condições de jogo, recomeçou o jogo da culpa, das críticas internas, liderado por Lebron James.

Assim como no caso da surra que tomaram do Warriors em casa, o raciocínio tem de ser mantido: foi só mais um jogo num calendário de 82 rodadas. Por mais que, do ponto de vista prático, fosse um jogo realmente mais importante que a revanche contra Golden State, já que agora o adversário canadense não só se aproxima na tabela (com apenas duas derrotas a mais) como assegurou o triunfo por 2 a 1 no confronto direto e garante o direito do desempate na classificação, se for o caso. Basicamente: o Cavs, que corre atrás do próprio rabo para tentar se equiparar a Warriors e Spurs, sofre mais pressão, agora de que vem de baixo, o Raptors.

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Mas, bem, desde o momento em que o Rei James anunciou seu retorno, pressão seria a via de regra. O que a derrota em Toronto nos conta é justamente sobre a questão de como o elenco reage a isso.  E não parece bem. O Cavs perde uma, e parece que a equipe está se desequilibrando diante de um precipício. Não era para ser assim. Derrotas acontecem, especialmente contra adversários qualificados – excluindo o Golden State aqui, que prefere perder para times medíocres.

Vamos ver o relato do repórter Dave McNemanin, setorista do ESPN.com, num texto cuja manchete é “Cavs sofre déjà vu em derrota, com os mesmos problemas reparecendo“:

Nós não acabamos de passar por aqui? Não parece que foram há apenas alguns dias, e, não, semanas, que o Cleveland Cavaliers trotou rumo a Toronto, com um céu ensolarado supostamente no horizonte, vencedores de 11 dos últimos 13 jogos, até que o Raptors fizesse chover em seu desfile, deixando o vestiário em desordem após a partida?

Avancemos a fita três meses, e o Cavs voltou ao Air Canada Centre na sexta-feira, vencedores de 11 de seus 14 jogos anteriores. E o resultado? O mesmo. A cena pós-jogo? Semelhante. Não houve uma reunião só de jogadores como da última vez, mas houve um aspecto semelhante com diversos jogadores reunidos em pequenos grupos para longas conversas como vestiário aberto para a mídia, e eles lamentando o que deu de errado, enquanto seus comentários gravados foram concisos, mas reveladores.

E aí tem essa aspa de LeBron, numa entrevista que, segundo Chris Haynes, do Cleveland Plain Dealer, durou pouco mais de um minuto: “Quando perdemos do jeito que foi, cometendo um erro mental atrás do outro, isso dói mais que tudo, já que sabemos que podemos jogar melhor mentalmente. As pessoas podem se concentrar no aspecto físico. Mas nos falta força mental agora. E temos de continuar melhorando com isso”.

Você pode ler a frase acima como uma observação honesta, depois do que aconteceu em quadra. O Cavs chegou ao quarto período com nove pontos de vantagem e, sem que LeBron tenha sentado sequer por um minuto em todo o segundo tempo, foram superados por 99 a 97, com uma exibição magnífica de Kyle Lowry – 43 pontos, seu recorde pessoal, 9 assistências, 15-20 nos arremessos, 11-15 nos lances livres, em 43 minutos. Por uma noite, entre a elite do Leste, Lowry foi o melhor jogador em quadra.

Mas aí vem outra: “É isso que os All-Stars fazem”, elogiando Lowry, titular no jogo festivo de alguns dias atrás, o mesmo que não teve Kyrie Irving, curiosamente. E não nos esqueçamos que houve uma polêmica a respeito de uma possível seleção de Irving. Para alguém que, lesionado, havia perdido metade do calendário, obviamente não caberia na festa. Mas o voto popular quase o colocou lá. Virou assunto. E esta: “Pensando adiante, vamos ter de encontrar alguém que seja capaz de marcá-lo”, num comentário que atinge também um leal soldado como Matthew Dellavedova, que tomou um baile do cestinha da partida no quarto período. Coincidentemente, foi a mesma frase usada por Lue em sua coletiva.

L(w)owry arrebentou com a defesa do Cavs numa das cinco maiores atuações da temporada, certamente

L(w)owry arrebentou com a defesa do Cavs numa das cinco maiores atuações da temporada, certamente

Se você pega os comentários de LeBron e os analisa no vácuo, como se o Cavs tivesse disputado apenas um jogo nesta temporada, não há o que contestar. Ele listou fatos. Usou pouco mais de 60 segundos para mandar sua mensagem aos companheiros. Além disso, pressupõe-se que o ala deva conduzir  time, mesmo. É ele que tem a fama, a visão de jogo e, principalmente, a experiência de anos e anos de playoffs e jogos decisivos para se impor no vestiário e tentar arrumar as coisas. Love, Irving e toda a galera deveriam escutá-lo, sem dúvida.

Existe sempre o outro lado da história, porém. Que nos diz que LeBron também não pode querer liderar só com base em seu currículo, se não for ele a dar exemplo em quadra – uma discussão que, pasme, já vem do ano passado e ainda não foi resolvida internamente, como Kevin Love fez questão de nos lembrar na derrota para o Warriors. Neste jogo específico em Toronto, ele ficou em quadra durante todos os 24 minutos do segundo tempo, por sinal (e se isso foi uma decisão inteligente por parte de Tyronn Lue e do craque, é de se questionar, faltando perna para o último arremessos, sobre o qual falaremos mais abaixo). Mas não é que o craque tenha se esforçado muito e se ralado durante a temporada. São vários os jogos em que ele esculachou geral na defesa sob o comando de David Blatt, minando o treinador e também preservando energias para a hora que mais importa, os playoffs. Para alguém com sua milhagem, é natural, aliás. James Harden não acumulou nem a metade disso, e faz igual ou pior. Para o elenco, por maior que seja sua estatura, suponho que isso não pegue bem e não dá total liberdade para que ele critique os demais, com comentários sucintos ou não.

Além disso, se LeBron vai reclamar do surto de fome por que passa Irving, se vai tentar chacoalhar Love e tirá-lo da depressão, também deve ouvir que seu aproveitamento nos arremessos de média para longa distância deixam muito a desejar até o momento, com aproveitamento de 28,0% na temporada, o pior de sua carreira (quando novato, aos 19 anos, acertou 29,0%) e que, mesmo assim, foi para um hero ball contra o Raptors. É algo um tanto bizarro, já que despencou dos 35,4% da temporada passada e dos 40,6%% que atingiu há três temporadas, pelo Miami, seu auge no fundamento. Se o astro folga na defesa e se sua taxa de uso no ataque está levemente reduzida até, em tese não haveria motivo para sentir a perna e amassar o aro nos chutes de fora:

Antes (2014-15) e depois (hoje, na verdade)

Antes (2014-15) e depois (hoje, na verdade). Em termos de percentual no total de arremessos, ao menos LeBron baixou seu volume de tentativas de fora, de 26,5% para 20,4%, segundo o Basketball Refrence reconhecendo sua dificuldade. A taxa de lances livres em relação ao número de arremessos, porém, também, caiu, de 41,3% para 35,8%

Aqui chega a hora de recuperarmos a última bola da derrota em Toronto. Com dois pontos atrás no placar e 3s8 no relógio, qual a jogada sai no final?

Um chute de três de LeBron a partir do drible, em isolamento? Era a melhor alternativa para alguém que não descansou no segundo tempo? A matemática da temporada diz que não era uma boa decisão, mesmo que ele tivesse matado duas em três na partida e tenha sobrado com o diminuto Cory Joseph e que o canadense nem o contestou tão bem assim. Que o camisa 23 ganhe a prioridade nesse tipo de situação, pelo arremesso da vitória, não dá para discutir muito. É assim que funciona por lá, é assim que funcionou a vida toda para Kobe em Los Angeles, e Kyrie Irving vinha numa jornada horrível (e, para ser justo, o armador também só tem matado 29,5% de seus arremessos de longe na temporada). Só havia tempo no cronômetro e dois pontos por reverter no placar para tentar outra alternativa.

Agora… com dois pedidos de tempo, essa foi a melhor idéia que Tyronn Lue teve? Então vale a zoeira: ao que parece, não era apenas David Blatt que tinha dificuldade para desenhar jogadas na rodinha… E, claro, meu amigo enfezado, que isso é uma ironia. Qualquer armador que tenha ficado mais de dez anos na liga sabe rabiscar uma prancheta, assim como qualquer técnico que tenha medalha olímpica e título de EuroBasket e Euroliga.

De qualquer  maneira, não é culpa de LeBron que o time tenha pedido em Toronto. Que ele e Lue não foram para a bola mais inteligente, não há o que negar, mas não foi o airball que custou a partida.  McNemanim lista outros itens, por exemplo:

– o aproveitamento de 5-9 de LeBron na linha de lance livre. Pois é: não é que o ala seja a perfeição em quadra e não faça parte dos problemas.

– Em 1min34s de jogo no quarto período, Shumpert fez duas faltas em Lowry e ainda tomou uma técnica por reclamação exagerada, em sequência que agitou a galera e o adversário.

– Kyrie Irving foi um horror, sem conseguir nem fazer cócegas em Lowry ou em Cory Joseph e sem agrediu do outro lado (4-11, 10 pontos), tomado por apatia. E segue a inquietação de James, e talvez mais atletas, de que ele seja egoísta demais com a bola, registrando apenas uma assistência em 31 minutos, para ficar com uma média de 3,2 passes para cesta nas últimas cinco partidas. Dê uma espiada neste link aqui também e veja alguns dados interessantes sobre as trocas de passe entre Irving e LeBron.

Acrescento outro:

– Formando uma dupla de pivôs com LeBron no quarto período, Kevin Love rendeu bem no ataque, chegando a marcar cinco pontos consecutivos nos minutos finais. Mas a defesa sentiu com essa formação, tomando cinco cestas no garrafão nesta parcial, sem contar as penetrações de Lowry que terminaram em falta. Qualquer jogadinha de pick-and-roll virava um tormento.

E, para não dizer que a visão de McMenamin estaria contaminada pelo fato de ele escrever para a “sensacionalista” e “manipuladora” ESPN, Chris Haynes, que é praticamente um porta-voz da agência Klutch, de Rick Paul e LeBron, disse que o astro estava “furioso”, enquanto  Jasson Lloyd, do Akron Beacon Journal, teve a mesma impressão  sobre o clima ruim no vestiário em suas notas sobre a noite de sexta-feira.

Lloyd também ressalta o esforço contraditório que LeBron tem feito em dizer que não se importa com a classificação da conferência, ao mesmo tempo que pede um senso de urgência aos seus companheiros. De acordo com o repórter, porém, Lue atribuiu desde o princípio extrema importância ao jogo, a ponto de manter seu principal atleta em quadra sem um respiro – dessa vez o ala pelo menos nos poupou do artifício da auto-substituição. Ele provou que está em forma, aí, sim, supostamente preparado para tomar conta da situação quando chegar aos playoffs.

A vitória de Lowry e Toronto foi ainda mais importante pelo fato de DeMar DeRozan ter tido atuação praticamente nula, com febre, gripado, indo para o sacrifício no quarto período, quando fez sua única cesta de quadra. A bela imagem do abraço em Lowry fica ainda mais representativa com Irving desfocado ao fundo

A vitória de Lowry e Toronto foi ainda mais importante pelo fato de DeMar DeRozan ter tido atuação praticamente nula, com febre, gripado, indo para o sacrifício no quarto período, quando fez sua única cesta de quadra. A bela imagem do abraço em Lowry fica ainda mais representativa com Irving desfocado ao fundo

Aliás, nos mata-matas do ano passado, LeBron foi ainda pior nos arremessos de fora, com 27,2%, mas isso não interferiu em nada na caminhada do Cavs rumo à disputa do título. Também não é o mais correto comparar com o rendimento da temporada regular com o da fase decisiva, por serem realidades completamente distintas. Os time fazem mais jogos contra adversários específicos, e, no caso do Cas, um deles foi o Golden State (seis de suas 20 partidas), o que desequilibra os números.  Outra particularidade: Kevin Love e Kyrie Irving ficaram pelo caminho numa fase em que as defesas estão mais atentas.

De todo modo, como sabemos, não é um duelo de primeira rodada com um Charlotte da vida ou mesmo um reencontro com Indiana ou Miami na segunda rodada que devem preocupar o time, tal como no ano passado. Em teoria, é como se entrassem nos mata-matas apenas com duas séries pela frente, com a final de conferência e a decisão do Oeste, caso avancem. (No ano passado, a diferença é que o teste veio na semi contra o Bulls, uma vez que o Atlanta ficou ainda mais esfacelado em termos de lesões).  Mais: é improvável que o Cavs adote a tática de “entregue-a-bola-para-LeBron-e-saia-da-frente-enquanto-ele-consome-o-relógio”, se a equipe estiver completa. Aquele ataque foi circunstancial, com o ala sendo acionado já dentro do perímetro, abrindo pouco para o chute. Contra defesas mais fortes, esse tiro de fora faz falta, ainda mais para alguém que retém tanto tempo a bola, e principalmente se Irving não reencontrar um rumo na vida. Se chegarem aos playoffs apenas com J.R. e Love com válvulas de escape, podem esquecer.

A confiança que o torcedor ferrenho do Cavs tem é a de que, na hora do vamos ver, LeBron vai ativar o turbo e dominar, com seu arranque de locomotiva rumo ao aro. Aconteceu no ano passado – e, sim, ele fez tudo o que pôde, vendo seu índice de eficiência despencar, mas simplesmente porque o Cavs não tinha mais nenhuma alternativa em quadra. E, como sabemos, não foi o suficiente: chegou uma hora em que o gás acabou, que ele se viu encurralado diante de um paredão do Warriors no garrafão e que Stephen Curry entendeu o que fazer diante de uma defesa agressiva, mas limitada atlética e tecnicamente, devido ao número reduzido de peças.

São 15 jogos, com 11 vitórias, mas ainda está cedo para Lue dizer a que veio

São 15 jogos, com 11 vitórias: ainda está cedo para Lue dizer a que veio

Ah, mas você mesmo já falou: Irving e Love se lesionaram, e Varejão não estava pronto para retornar. Ah, mas agora o time tem um técnico que respeitam. Ah, e a despeito da idade, LeBron diz que se sente dez vezes melhor nesta temporada do que na campanha passada, quando estava com as costas travadas, o joelho doendo e a cuca frustrada com Blatt, até mesmo tirando férias no meio do campeonato.

Sim, sim, tudo isso conta e está em jogo. Com Tyronn Lue, desde o dia 25 de janeiro,  em seus últimos 15 jogos, o time realmente teve o melhor ataque da liga, num empate técnico com o Thunder e o… Warriors, sempre ele. Por mais que a defesa tenha caído bastante (ficando em 14º, oras), o Cavs ainda aumentou seu saldo de pontos nesse período. Está cedo, de todo modo, para comparar os números com os de Blatt. Guardemos esses dados para abril.

Agora percebam o seguinte: escrever um texto sobre o Cleveland Cavaliers sem um advérbio de adversidade (mas, porém, contudo, no entanto, todavia…) é uma tarefa impossível. Acredite: fico me esforçando aqui para não repetir a fórmula, sem sucesso. Desafio os melhores escribas a esta empreitada. Estamos tratando de um time muuuuuito complexo, que escancara diversas das questões e miudezas da NBA que vão além da cobertura de pick-and-roll ou de movimentação ofensiva. “O que é de deixar maluco é que você vê este time destroçar o Thunder, na estrada, numa noite e, na outra, o vê sendo derrotado pelo Pistons em casa, para não falar de largas lideranças cedidas em derrotas para o Celtics e, agora, o Raptors”, escreve Llloyd.

David Blatt já foi demitido, e entre tantas razões, consta por aí que gerente geral David Griffin queria justamente tirar de cena aquele que seria o álibi perfeito para os jogadores numa eventual queda nos playoffs. Kevin Love está mais animado, energizado, participativo. Kyrie Irving e Iman Shumpert estão saudáveis, ou pelo menos é o que se informa oficialmente. Até o J.R. Smith anda minimizando suas cabeçadas (apenas 0,8 em turnovers) e matando tudo de fora (46%) em fevereiro.

Os elementos estão aí, o time vai crescendo e, ainda assim, pelas declarações de LeBron e pelo sentimento geral dos repórteres presentes no Air Canada Centre, ainda perdura algo de estranho no ar.  É tudo ou nada para o Cavs, e depois de 139 partidas de temporada regular e de uma disputa das finais com LeBron, a 25 partidas do fim da campanha 2015-16, seus jogadores ainda não se acostumaram com isso e nem se apaziguaram.


Polêmica demissão de Blatt só aumenta a pressão em cima de LeBron e Cavs
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Giancarlo Giampietro

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Silas, Malone, Brown e, agora, Blatt: todos caíram no Cavs de LeBron

A temporada era 1981-83, e o Los Angeles Lakers havia vencido sete de seus 11 primeiros jogos, elevando seu recorde pessoal para 111 triunfos contra 50 derrotas, com direito a um título. Em quadra e no vestiário, porém, não havia alegria nenhuma. O elenco liderado por Kareem Abdul-Jabbar estava se arrastando num ritmo modorrento, entediado e frustrado com o pulso rígido do técnico Paul Westhead. Nada de showtime.

Em sua terceira campanha pela liga, já considerado uma estrela, Earvin “Magic” Johnson veio, então, a público num belo dia para dizer que não aguentava mais o professor, e que para ele já havia dado: queria que o clube californiano o trocasse. (E imaginem se tivesse sido atendido?)

Coincidentemente, no mesmo dia, o proprietário Jerry Buss anunciou que a era Westhead havia chegado ao fim. Difícil não associar a decisão ao ultimato do armador, por mais que o célebre e falecido proprietário negasse. “A ironia é que eu já havia decidido demiti-lo, e o Magic acabou dando azar de ter falado aquilo. Mas não acho que ninguém vai acreditar nisso”, afirmou.

E quem assumiria o cargo? Seu principal assistente, um certo Pat Riley.

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Tudo isso para dizer que LeBron James não foi o primeiro craque a fritar seu treinador, nem será o último. Isso é rotineiro na NBA. Mas, que suas ações levaram à queda do treinador, acho que não há o que se discutir, por mais que ele e o gerente geral David Griffin digam o contrário, e que alguns veículos de mídia americanos façam coro a eles, tentando amenizar o impacto causado pela demissão de um cara que venceu a Conferência Leste no ano passado, a despeito de tantas lesões relevantes e da chegada de novas peças durante a jornada. O mesmo cara que novamente superou alguns desfalques na primeira metade desta temporada, liderando a terceira melhor campanha da liga, com o time aparecendo na lista dos sete ataques e defesas mais eficientes. O tipo de currículo que torna a decisão da franquia um tanto chocante, por mais que, em Cleveland, muitos já estivessem preparados para tal desfecho.

Apurar se LeBron foi, ou não, informado sobre a demissão desta sexta-feira, aliás, é perda de tempo das mais tolas. Não havia razão para Griffin consultar o astro – ele já sabia qual seria a resposta. A má vontade de LeBron para com Blatt está foi muito bem documentada, de modo que esse tremendo esforço de última hora limpar sua barra soa inútil.

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Aliás, segundo relatos dessa mesma campanha de blindagem, LeBron desde o princípio se mostrou muito pouco receptivo ao treinador, sem o acolher ou ajudar em sua adaptação ao clube e uma nova liga. Pelo contrário. Frases como “Blatt nunca teve chance” também foram escritas a esmo nessas últimas 24 horas. Adrian Wojnarowski publica que o jogador e seu agente/sócio, Rich Paul, queriam a contratação de Mark Jackson. A diretoria disse que seria impossível. E aí que Tyronn Lue virou a solução para dupla. Tudo, menos Blatt.

O que tem sido dito, porém, é que o descontentamento com Blatt não se limitava ao camisa 23.  Tudo leva a crer que, sim, o técnico estava com o filme queimado – com quantos e quem, exatamente, é o que não vamos saber. Agora, só não dá para negar que a postura de LeBron obviamente exerceu forte influência para tanto. Se um cara de sua estatura não é receptivo, fica muito mais fácil para os demais peitarem o técnico. Natural até.

Não que o treinador tenha sido mera vítima e que não tenha contribuído para o motim com algumas atitudes um pouco tolas. Como, na ocasião de sua primeira vitória pelo Cavs, quando mal comemorou com os atletas, estragando a festa deles, dizendo que, caras, tipo, já tinha centenas de triunfos em seu currículo. Ok, ele é realmente um dos profissionais mais vencedores da modalidade, mas, para todos efeitos, para o mundo da NBA, ainda era um calouro. A intenção dos jogadores não era de provocá-lo ou ofendê-lo, nesse caso. Quanta simpatia, né?

Blatt teria perdido o elenco, diz Haywood

Blatt teria perdido o elenco, diz Haywood

Anderson Varejão foi um dos que teve de lidar com a insensibilidade do técnico, segundo o “ESPN.com”. Recuperando-se de uma lesão no tendão de Aquiles, o brasileiro estava disposto a retornar ao time para a série final contra o Golden State Warriors. A diretoria achou que não era o caso. A decisão estava tomada. Quando questionado em uma coletiva, todavia, Blatt não disse que sim, nem  que não, mexendo com os ânimos de todos.

Outro ponto que causava bastante incômodo seria a condescendência de Blatt com LeBron, Kyrie Irving ou Kevin Love, protegendo as celebridades em coletivos e sessões de análise de vídeo. Os mimos aos astros não pegavam bem com o restante do elenco: seria traços de covardia e injustiça por parte do treinador. O agora promovido Tyronn Lue, dizem, se via obrigado a interferir e cobrar as estrelas, na tentativa de apaziguar os ânimos. Mas a relação já estava estremecida demais, algo que Griffin, em seu duro discurso nesta sexta-feira, deixou claro.

“Eu vi os jogadores interagindo entre eles por um longo tempo, em diversas circunstâncias. Sei quando uma coisa não está certa, e acho que tomei a decisão correta. Vou ao vestiário muitas vezes. Falta espírito ali. Nossa campanha de 30-11 foi com uma tabela relativamente fácil. Faltava conectividade do técnico com o time. Falta identidade ao time, que deu dois passos para a frente e um para trás. Quando temos clareza no que queremos como franquia, essas decisões acabam sendo tomadas por conta própria. Não vou deixar um time que tem uma folha salarial sem precedentes  à deriva”, afirmou.

Precisa de ajuda? "Não".

Precisa de ajuda? “Não”.

A inexperiência de Blatt em particularidades da liga também teria chamado a atenção de alguns veteranos, como quando pediu tempo no finalzinho do quarto jogo da série contra o Bulls nos playoffs do ano passado e, por sorte, foi ignorado pela arbitragem. O Cavs já havia esgotado sua cota e, caso percebida, a ação do treinador teria resultado em uma falta técnica. A chance era grande, então, que Chicago abrisse uma vantagem de 3 a 1. Esse tipo de falha teria acontecido seguidas vezes, gerando mais desconfiança no elenco.

O que não dá para acreditar, porém, é que David Blatt fosse um tremendo de um incompetente e que todo o sucesso do time se explicasse pelo talento de LeBron. Nessa campanha de difamação de um e proteção do outro, chegou-se ao cúmulo de fontes anônimas dizerem que o técnico simplesmente não sabia desenhar jogadas na prancheta durante pedidos de tempo. Em entrevista à rádio “Sirius XM”, o pivô Brendan Haywood, reservão do time no campeonato passado e agora aposentado, se sentindo livre para falar o que bem entender, confirmou esse problema. Disse também que o comandante não entendia os padrões de substituição da liga e que cometia “erros óbvios”. Hã… Sinceramente, dá para acreditar nessa? Estamos realmente falando do mesmo técnico cujo Maccabi Tel Aviv ganhou, em 2015, de CSKA Moscou e Real Madrid com um elenco absolutamente inferior? O mesmo que levou a Rússia o bronze olímpico em Londres 2012, derrotando a fraquinha e inexperiente Argentina na disputa pelo terceiro lugar? Enfim…

Até mesmo quando tentam defender Blatt,  seus críticos o tratam com desrespeito. Dizem que Blatt não foi contratado, a princípio, para conduzir um elenco pesado como este, que o título não estava em pauta, antes de saberem que LeBron queria, mesmo, voltar. É um fato, mas esse pensamento já manifesta uma condescendência que beira o ridículo. Algo como: “Coitadinho, não era para ele”. Falando isso de um técnico que ficou a duas vitórias do título em sua primeira campanha pela liga. Ele teve muitos acertos como estrategista. Por mais exuberante que tenha sido LeBron, ele realmente fez tudo sozinho? E o que dizer da boa campanha atual, a despeito da ausência de Irving e Iman Shumpert no início? Seu único tropeço mais custoso foi não ter integrado Love de um modo mais orgânico ao sistema ofensivo – agora, o quanto se pode julgá-lo por isso é uma questão: afinal, se era LeBron quem estava no comando… Não seria tarefa dele? Não dá para dizer que tudo de positivo do plano tático e técnico passa pelo jogador, enquanto a Blatt sobrariam apenas as críticas.

David Griffin chamou a responsabilidade

David Griffin chamou a responsabilidade

Em sua coletiva, Griffin não questionou de modo algum o conhecimento de jogo do demitido. Não há como – a sacolada que a equipe tomou do Warriors na segunda-feira não foi, diz, decisiva para sua decisão. E nem deveria ser: em confrontos anteriores com Golden State e San Antonio, as derrotas foram, respectivamente, por seis e quatro pontos. Não foi a bola que derrubou Blatt. No entanto, a política no vestiário é parte integral da profissão, tão ou mais importante que o riscado, ainda mais numa liga como a NBA, cujos atletas são paparicados desde sempre. Faltou mais jogo de cintura, tato e carisma para Blatt. Características que, ao que parece, sobram para Tyronn Lue.

O baixotinho que levou um baile de Allen Iverson nas finais de 2001, mas que teria longa carreira, agora é, aos 38 anos, o técnico mais jovem da liga. Respeitado no vestiário, constantemente elogiado até mesmo por Blatt, que teria dado a ele o crédito pela fortíssima defesa que o time apresentou nos playoffs de 2015. Uma generosidade que, neste sábado, não foi correspondida por seu antigo subordinado. Repórteres lhe perguntaram o que ele faria de diferente agora que está no comando. Respondeu que diferente não era o termo que ele usaria, mas, sim, que faria “melhor”. Muito elegante o sujeito que, para constar, na reportagem de Wojnarowski, foi retratado como um fiel assistente, que teria feito de tudo para defender Blatt diante do assédio de LeBron e Paul.

Lue pode ser jovem, mas, em termos de NBA, é muito mais calejado que o antecessor. Sabe muito bem o que está em jogo. Que, para o Cavs, é título, ou nada. Título, ou fiasco, e a pressão só aumenta com a demissão de um treinador com aproveitamento de 67,5% (83 vitórias e 40 derrotas) no total e que contava, aparentemente, com apoio da torcida do Cavs. Sabe provavelmente também que será o quinto treinador do time em nove temporadas com LeBron. É um clube de gestão instável, no mínimo – não dá para deixar o proprietário Dan Gilbert distante dessa confusão toda. O chefão, por sinal, era o principal defensor de Blatt e teve de ser convencido por Griffin que a demissão era a melhor solução na tentativa de desbancar o Warriors (ou, claro, o Spurs). Existe ainda a noção de que, removendo Blatt, ele também estaria eliminando uma eventual desculpa para os jogadores em caso de derrota nos mata-matas.

Agora é com ele

Agora é com ele

Daí que não deixa de ser uma ironia que, na mesma noite em que Steve Kerr fez sua estreia na temporada, Blatt acabou demitido. E é uma coincidência que diz muito – os líderes de cada conferência não poderiam ser mais diferentes hoje. Caos x harmonia. Intrigas, traições, imposições x diálogo franco, aberto e constante. Nuvens carregadas x céu aberto. Griffin afirma que demitiu seu treinador em busca dessa sensação de unidade. Mas isso não é algo que se constrói com uma só ação. Não depende apenas de Blatt, e não vai depender só de Lue, embora todo técnico seja uma figura primordial na hora de buscar essa química.

Em 1982, quando Westhead caiu, começou a carreira de um dos maiores treinadores que a NBA já viu. Riley, aquele que, como presidente do Miami Heat, cerceava toda a ambição de LeBron, colocou o Lakers para correr, tal como Magic queria, e deu certo. O resto é história. O time alcançou a final e foi campeão, batendo o Philadelphia 76ers de Julius Erving. Até o ano passado, ele era o único técnico a ser campeão logo em seu ano de estreia. Kerr repetiu a façanha, e David Blatt chegou perto. Numa aposta de risco, o Cavs espera que Tyronn Lue aumente a lista.


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