As primeiras impressões sobre o Flamengo 2015-2016
Giancarlo Giampietro
Algumas notas com base do que vi dos jogos contra o Orlando Magic e Bauru. Vamos lá:
Quem já está acelerando, voando em quadra? Marquinhos. Entre o basquete que pôde apresentar pela seleção pela Copa América e o que já ofereceu nesta segunda em Bauru, são dois mundos completamente diferentes. Descendo a ladeira da Panela (veja só as frases absurdas que alguém pode construir…), o veterano ala lembrou novamente a força que pode ser em quadras nacionais.
Contra Bauru, mesmo que seu aproveitamento de quadra não tenha sido o mais eficiente, com 17 pontos em 16 arremessos (2/7 de três), a notícia que fica é a volta de seu arranque com a bola, batendo até mesmo os armadores que tentavam cercá-lo. A defesa bauruense, em geral, só conseguiu pará-lo com faltas (foram cinco recebidas). Também deu oito passes para a cesta e apanhou sete rebotes. Acreditem: nos grandes jogos, a atual configuração do Flamengo vai precisar dessa agressividade e desse tipo de rendimento.
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Ao blog, o ala disse que durante as férias fez um trabalho específico com personal trainer e ganhou mais massa muscular, com a ideia de chegar na melhor forma na reta final da competição. Que será a hora de brigar por troféus e, além disso, principalmente, se apresentar a Magnano tinindo.
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José Neto não quis dizer que sim, nem que não após a derrota para o Bauru. Na verdade, o técnico não estava com cara de quem topava discutir muita coisa com nenhum jornalista na segunda-feira, apelando a respostas cada vez mais evasivas, seja por esconder o jogo, para preservar seus atletas ou por entender que o interlocutor não está preparado para assimilar sua carga tática. Vai saber.
Então, diante de um silêncio efetivo, nos resta fazer deduções, que já vêm desde o fechamento do elenco rubro-negro para a temporada 2015-2016. Ainda que o comandante seja o mesmo, o time tende a mudar bastante.
É claro que eles ainda vão pontuar em transição. As cestas no contragolpe são em geral aquelas mais visadas, mais fáceis, depois dos lances livres. Mas suas peças novas sugerem que essas escapadas serão mais esporádicas e só na boa, na certa, especialmente contra adversários mais qualificados.
A saída de Laprovíttola, Benite, Felício e até mesmo de Herrmann (versão ala-pivô) resultou numa grande perda de velocidade e arrojo. Dos quatro novos protagonistas, apenas Rafael Mineiro tem velocidade e/ou predisposição para correr quadra inteira e atacar. Rafael Luz, jovem, obviamente também daria conta, mas sua vocação é para um jogo mais controlado, pelo que pudemos ver em seus jogos pelo Obradoiro e pela seleção brasileira pan-americana. Também oriundo do basquete espanhol, Jason Robinson, por ora, está no mesmo ritmo. Sobre João Paulo Batista, nem precisamos nos estender.
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Sobraria, então, para Marquinhos ser esse propulsor. Agora: se correr é uma forma de evitar o choque físico, gera tanto ou mais desgaste, e não sei bem se você vai querer sobrecarregar seu melhor jogador, por mais que ele se apresente em excelente forma e que a preparação física do flamenguista seja a melhor do país.
Se o Flamengo não vai correr tanto, precisa compensar na execução de meia quadra, com um basquete mais bem engendrado e de imposição técnica e física. E eles têm jogadores inteligentes e talentosos para tanto. Cabeça por cabeça, talvez seja o coletivo de maior QI do NBB.
O jogo interior tem tudo para ser o mais poderoso do liga, e de longe. JP é um dos cestinhas mais eficientes e oportunistas da liga, podendo render tanto com o chute de média distância como de costas para a cesta em isolamento, bem como em deslocamentos sorrateiros a partir do corta-luz. Rafael Mineiro é elástico e ágil demais para alguém de sua estatura e, se ganhar a confiança da comissão técnica e dos companheiros, pode render em diversos pontos de ataque. Meyinsse ainda é uma dor-de-cabeça (e de costelas, baço, rim e tudo o mais) perto da cesta, enquanto Olivinha vai trazer a energia e o faro de bola de sempre. Ao redor deles, Marquinhos, Robinson e Marcelinho vão arremessar de três pontos com prazer. É de se esperar que Mineiro e Olivinha também subam para chutar.
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Rafael Luz vai botar esses caras para jogar. Para lidar com o armador, é preciso entender as diferenças entre seu jogo e toda a criatividade de Laprovíttola. O novo armador não vai entrar em quadra pensando em marcar 20, 15 ou mesmo dez pontos. Mas talvez termine com sete assistências, seis rebotes e quatro roubos de bola. Poderia olhar mais para a cesta, certamente. Houve um lance no segundo tempo contra Bauru em que ele pegou o rebote ofensivo a dois passos do garrafão, pela direita, no fundo da quadra, e, se o pensamento de arremessar passou por sua cabeça, foi bem rápido, pois ele virou a cabeça automaticamente para a direção contrária e fez o passe para fora. O técnico Neto, figura sempre agitada ao lado da quadra, não conseguiu esconder sua frustração com o lance. O mesmo aconteceu quando Rafael errou um passe bobo para um desatento Marquinhos a 3min52s do fim, resultando em turnover e sua quarta falta, para cima de Fischer, brecando o contra-ataque, quando a partida pegava fogo (foi uma das tantas chances de empate que o Flamengo desperdiçou no quarto período, diga-se).
Parece sem confiança na hora de finalizar, no momento. Mas há muito o que ele pode oferecer a um time com sua pegada defensiva (é um armador alto, forte e combativo) e senso de organização. Um passe pode fazer mais bem que o arremesso. Quanto mais entrosado estiver com os novos companheiros, mais influência positiva ele vai exercer sobre eles. Só é preciso um pouco de paciência e que se evite comparações entre jogadores completamente diferentes.
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Jason Robinson é uma incógnita.O americano tem 35 anos e, em 2013, chegou a pensar em se aposentar. Quanto estendeu a carreira, viveu talvez sua melhor temporada em 2013-2014, pelo San Sebastián, sendo o segundo principal cestinha da Liga ACB. Isso não é para qualquer um, mas foi um tanto bizarro para um jogador que por grande parte de sua trajetória frequentou as divisões menores da Espanha ou até mesmo de Portugal. Pelo Zaragoza, no ano passado, seu rendimento já não foi mais o mesmo. Ainda assim, é um cara experiente, rodado para compor a rotação flamenguista no perímetro. Mas também alguém beeeeeeem diferente de Vitor Benite.
Está claro que o jogo de transição não é para ele. No segundo tempo, durante a reação flamenguista, ele abriu mão de várias chances de contra-ataque, preferindo ir com calma. Está muito cedo para avaliar o ala. Em um primeiro momento, parece um atleta complementar, que sabe fazer um pouco de tudo no ataque e está respeitando e conhecendo os companheiros, enquanto assimila aquilo que o cerca. Na defesa, fez um bom papel contra Alex nas ocasiões em que estiveram duelando.
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É por isso que não estranharia se, no decorrer da temporada, o mundo desse mais uma volta, e Marcelinho Machado, aos 40 anos, se torne uma peça fundamental para o Fla mais uma vez, como um parceiro de Marquinhos na agressão e criação de jogadas.
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Rafael Mineiro saiu de reforço do Mundial para inimigo público em Bauru, sendo o jogador mais *homenageado* pela torcida legal. Claro que, na esportiva, dá para entender, já que ele saiu de um clube para o outro. A verdade é que o pivô flamenguista passou por uma sequência de trocas de camisa que dificilmente vai ser replicada por algum jogador brasileiro. Vejamos: em agosto, ele estava a serviço da seleção. Quando voltou do México para casa, defendeu o Limeira brevemente pelo Paulista, até o time ser eliminado e o clube anunciar que estava fora da temporada, mesmo. Aí ele encontrou no Bauru um lar temporário, reforçando a rotação interior que trombaria com astros de Real Madrid, New York Knicks e Washington Wizards. Foram duas semaninhas de treino, jogos e viagens até que, por fim, assinasse com o Fla. Pura loucura. Mas é um jogador de fácil encaixe, devido a sua versatilidade e habilidade defensiva.