Vinte Um

Arquivo : Joakim Noah

Mercado da Divisão Nordeste: Boston está chegando lá
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Quem já leu os textos sobre a Divisão Central, a Divisão Pacífico, a Divisão Sudeste e/ou a Divisão Noroeste pode pular os parágrafos abaixo, que estão repetidos, indo direto para os comentários clube a clube. Só vale colar aqui novamente para o marujo de primeira viagem, como contexto ao que se vê de loucura por aí no mercado de agentes livres da NBA

As equipes da NBA já se comprometeram em pagar algo em torno de US$ 3 bilhões em novos contratos com os jogadores, desde o dia 1º de julho, quando o mercado de agentes livres foi aberto. Na real, juntos, os 30 clubes da liga já devem ter passado dessa marca. Cá entre nós: quando os caras chegam a uma cifra dessas, nem carece mais de ser tão preciso aqui. Para se ter uma ideia, na terça-feira passada, quarto dia de contratações, o gasto estava na média de US$ 9 mil por segundo.

É muita grana.

O orçamento da liga cresceu consideravelmente devido ao novo contrato de TV. O teto salarial subiu junto. Se, em 2014, o teto era de US$ 63 milhões, agora pode bater a marca de US$ 94 milhões. Um aumento de 50%. Então é natural que os contratos acertados a partir de 1o de julho sejam fomentados desta maneira.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

Vem daí o acordo acachapante fechado entre Mike Conley Jr. e Memphis Grizzlies, de US$ 152 milhões por cinco anos de duração, o maior já assinado na história. Na média anual, é também o mais caro da liga. O que não quer dizer que o clube o considere mais valioso que Durant e LeBron. É só que Robert Pera concordou em pagar ao armador o máximo que a franquia podia (no seu caso, com nove anos de carreira, 30% do teto salarial), de acordo com as novas regras do jogo.

Então é isto: não adianta ficar comparando o salário assinado em 2012 com os de agora. Se Stephen Curry, com US$ 12 milhões, ganha menos da metade de Conley, é por cruel e bem particular conjuntura. Quando o MVP definiu seu vínculo, estava ameaçado por lesões aparentemente crônicas e num contexto financeiro com limites muito mais apertados. Numa liga com toda a sua economia regulamentada, acontece.

O injusto não é Kent Bazemore e Evan Turner ganharem US$ 17 milhões anuais. O novo cenário oferece isso aos jogadores. O que bagunça a cabeça é o fato de que LeBron e afins não ganham muito mais do que essa dupla, justamente por estarem presos ao salário máximo. Esses caras estão amarrados de um modo que nunca vão ganhar aquilo que verdadeiramente merecem segundo as regras vigentes, embora haja boas sugestões para se driblar isso.

Feito esse registro, não significa que não exista mais o conceito de maus contratos. Claro que não. Alguns contratos absurdos já foram apalavrados. O Lakers está aí para comprovar isso. Durante a tarde de sexta-feira, recebi esta mensagem de um vice-presidente de um dos clubes do Oeste, envolvido ativamente em negociações: “Mozgov…  Turner…  Solomon… Sem palavras”. A nova economia da liga bagunça quem está por dentro também. As escorregadas têm a ver com grana, sim, mas pondo em conta o talento dos atletas, a forma como eles se encaixam no time, além da duração do contrato.

Então o que aconteceu de melhor até aqui?

Para constar: o blog ficou um pouco parado nas últimas semanas por motivo de frila, mas a conta do Twitter esteve bastante ativa (há muita coisa que entra lá que não vai se repetir aqui). De qualquer forma, também é preciso entender que, neste período de Draft e mercado aberto, a não ser que você possa processar informações como um robô de última geração como Kevin Pelton, do ESPN.com,  o recomendável não é sair escrevendo qualquer bobagem a cada anúncio do Wojnarowski no Vertical. Uma transação de um clube específico pode ser apenas o primeiro passo num movimento maior, mais planejado. A contratação de Rajon Rondo pelo Chicago Bulls no final de semana muda de figura quando o clube surpreende ao fechar com Dwyane Wade, por exemplo. No caso, fica ainda pior.

Agora, com mais de 20 dias de mercado, muita coisa aconteceu, tendo sobrado poucos agentes livres que realmente podem fazer a diferença na temporada, deixando o momento mais propício para comentários:

Boston Celtics

Atlanta Hawks v Boston Celtics

Quem chegou: Al Horford e Jaylen Brown.
Quem saiu: Jared Sullinger (Raptors) e Evan Turner (Celtics).

O clube teve sua chance. Kevin Durant, no final das contas, realmente pensou na possibilidade de jogar em Boston. Mesmo que tenha optado pelo Warriors, para choque geral da liga, a mera consideração pelo Celtics deveria deixar o gerente geral Danny Ainge ainda mais encorajado com seu longo plano de reconstrução. Afinal, times como Lakers e Knicks não conseguiram nem mesmo marcar uma reunião com o ala.

E tem outra: não é que Al Horford seja um frustrante prêmio de consolação. Muito pelo contrário. O pivô dominicano se soma a uma base de jogadores competitivos, inteligentes e bem treinados e, sozinho, já vai fazer o produto de Brad Stevens melhorar consideravelmente em quadra, de tantos fundamentos e versatilidade em geral que oferece. Um time que venceu 48 partidas está basicamente trocando Sullinger por um All-Star. Nada mal.

Já a perda de Evan Turner não é algo para se lamentar tanto. A equipe perdeu, sim, seu condutor da segunda unidade, mas acho que dá para acreditar em um salto de qualidade para Marcus Smart e até mesmo para Terry Rozier, compensando. Além disso, a rotação ganha toda a vitalidade e capacidade atlética do número três do Draft, Brown. O jovem ala não está nada pronto como atacante, dependendo basicamente de investidas explosivas rumo ao aro para pontuar, mas já pode ajudar na contenção no perímetro, dando uma força para Jae Crowder contra alas mais altos e fortes.

De todo modo, Ainge não deve parar por aí. O gerente geral ainda busca mais um ou dois negócios, na forma de trocas, tendo ainda uma dúzia de ativos. A franquia obviamente aguarda o que OKC e Russell Westbrook pretendem da vida. Não custa insistir com Vlade Divac sobre DeMarcus Cousins também. Ou quiçá Cleveland já não se importe mais em segurar Kevin Love, precisando de reforços no perímetro devido ao fator Durant. Vai saber. Há sempre um negócio para se fechar por aí, desde que pelo valor certo – esta tem sido a filosofia paciente de Ainge, mesmo depois de um Draft no qual foi obrigado a selecionar seis atletas.

Uma eventual troca vai decidir o futuro de alguns desses jovens jogadores. É certo que Ante Zizic seguirá na Europa. De resto, ninguém sabe ainda o seu destino. O trator francês Guerschon Yabusele impressionou durante as ligas de verão e parece preparado para jogar na liga para já. Por ora, porém, não há espaço no elenco.

Brooklyn Nets

jeremy-lin-brooklyn-nets

Quem chegou: Jeremy Lin, Trevor Booker, Luis Scola, Greivis Vasquez, Randy Foye, Anthony Bennett, Justin Hamilton, Joe Harris, Caris LeVert e Isiah Whitehead.
Quem saiu: Thaddeus Young (Nets), Jarrett Jack (Hawks), Willie Reed (Heat), Wayne Ellington (Heat), Sergey Karasev (Rússia), Donald Sloan (China).

Não dá para dizer que Sean Marks esteja recomeçando o projeto do zero, mas é quase perto disso, hein? Considerando o estado em que estava a franquia ao final da temporada passada, é bastante compreensível essa chacoalhada toda. O neozelandês tinha dinheiro para gastar, mas o clube não atrairia grandes nomes. Então optou por apostas em jogadores que ainda teriam potencial para ser explorado, na expectativa de que evoluam com mais tempo de quadra e possam formar um núcleo mais interessante daqui a dois anos, eventualmente. Sim, Jeremy Lin ainda se encaixa nesse perfil, ainda mais agora que ai reencontrar o técnico Kenny Atkinson, uma das principais figuras por trás das semanas de Linsanidade que viveu pelo Knicks há quatro anos.

Outros jogadores nessa linha: Hamilton, um pivô que jogou muita bola pelo Valencia na temporada passada e pode ser considerado um stretch 5, com bom chute da cabeça do garrafão; Bennett, um dos maiores fiascos da história do Draft, mas que ainda é jovem o bastante para não ser descartado de vez; e Harris, que entrou na liga com a reputação de ser um grande chutador de três pontos, mas que não impressionou a serviço do Cavs. Não são nomes que comovem tanto, mas vale a prospecção.

Lembrando também que a ideia inicial de Marks nem era contratar tanta gente assim. Acontece que, quando o Miami Heat e o Portland Trail Blazers decidiram cobrir suas polpudas (e um tanto ousadas) ofertas, respectivamente, por Tyler Johnson e Allen Crabbe, lhe restou dinheiro e poucos alvos no mercado. Aí ele optou pela contratação de veteranos como Scola, Vasquez e Foye, que são caras muito respeitados dentro do vestiário. Pensou em química. Mas será que tantos veteranos assim não podem roubar minutos preciosos dos mais jovens? Caras como Rondae Hollis-Jefferson, Chris McCullough, Sean Kilpatrick e os calouros LeVert e Whitehead deveriam ter a prioridade. Ou Brooklyn acreditaria que um quinteto Lin-Foye-Bogdanovic-Booker-Lopez seria competitivo no Leste?

New York Knicks

noah-jackson-knikcs-free-agency

Quem chegou: Derrick Rose, Joakim Noah, Courtney Lee, Willy Hernángómez, Brandon Jennings, Justin Holiday, Mindaugas Kuzminskas, Maurice N’Dour e Marshall Plumlee.
Quem ficou: Lance Thomas e Sasha Vujacic.
Quem saiu: Robin Lopez (Bulls), José Calderón (Bulls/Lakers), Jerian Grant (Bulls), Arron Afflalo (Kings), Derrick Williams (Heat), Langston Galloway (Pelicans) e Tony Wroten (Grizzlies).

É, Phil Jackson também trabalhou bastante nas últimas semanas. Quantas canetas foram necessárias para assinar tanta papelada? Desde a troca surpreendente com o Bulls por Derrick Rose (análise aqui) a contratações de veteranos com histórico de lesão, passando pela busca por talento na Europa, o Mestre Zen fez de tudo um pouco para tentar conduzir o Knicks de volta aos playoffs. Carmelo Anthony não aguentava mais. Agora está empolgadão com os nomes que chegaram. Deveria?

Em tese, Noah e Lee fortalecem bastante a vulnerável defesa da equipe. O Knicks pagou um preço caro por um dos marcadores mais inteligentes e aguerridos do basquete. Ele tem tudo o que Jackson ama em um jogador. Precisa ver apenas se o pivô – um dos meus cinco jogadores prediletos em toda a liga, acreditem – vai ter condições físicas para jogar a temporada toda em alto nível. Do contrário, vai ter de apelar a Hernángómez e Plumlee, que até são mais maduros que a média entre calouros, mas não estão à altura da missão. O espanhol tem força, munheca e movimentos para pontuar, mas não é um grande defensor. Já Plumlee vem com a grife Dukep-Coach K, joga pesado, não vai inventar onda nenhuma, reconhecendo todas as suas limitações com a bola. E bota limitação nisso.

O temor pela enfermaria naturalmente se estende aos armadores. Rose terá a companhia de Jennings, que tentará mostrar que a ruptura no tendão de Aquiles ficou no passado. Registre-se aqui uma curiosidade quase mórbida: vamos ver se os dois vão conseguir passar da marca de 70 jogos e de 40% nos arremessos.

Já Lee acrescenta muito na contenção do perímetro. É um defensor muito mais intenso e capaz que Afflalo, que hoje só tem fama. Também arremessa bem e sabe jogar coletivamente, se movimentando pelo ataque, abrindo espaços, acostumado a jogar em função secundária. Definitivamente não vai brigar com Melo e Rose por arremessos. Baita contratação.

Por fim, completando o elenco, Kuzminskas é um ala que vive de oportunismo no ataque. Não é um cara que cria situações de cesta por conta própria, mas sabe aproveitar muito bem as rebarbas em rebotes ofensivos e cortes para a cesta pelo fundo da quadra. Imagino muitas assistências de Noah e Jennings para ele. Na defesa, é uma negação, e talvez seja superado por Holiday na rotação justamente por isso. N’Dour, o atlético senegalês que mal jogou pelo Real Madrid, deve passar mais tempo com o time da D-League do que com as estrelas.

Se estivéssemos em 2010, as contratações de Phil Jackson seriam bombásticas. Mas o calendário, salvo engano, aponta 2016. Se tirarmos o Warriors da dicsusão, talvez o Knicks seja o time mais interessante para se acompanhar na temporada que vem, pela combinação perigosa de egos, pelo simples fato de Rose e Noah estarem fora de Chicago e pela situação de Carmelo – mais um ano de fracasso, e o ala muito provavelmente vá forçar uma troca.

Philadelphia 76ers

Quem chegou: Ben Simmons, Dario Saric, Sergio Rodríguez, Jerryd Bayless, Gerald Henderson e Timothy Luwawu.
Quem saiu: Ish Smith (Pistons), Isaiah Canaan (Bulls) e Christian Wood (Hornets)
Quem chegou e nem ficou: Sasha Kaun

Pela primeira vez desde 2013, o Sixers vai abrir uma temporada em que o objetivo não são as derrotas. O Processo de Sam Hinkie foi abortado abruptamente na campanha passada, com o Clã Colangelo afanando todos os seus ativos, e agora o metódico, cultuado (por uns) e ridicularizado (por muitos) dirigentes tem de se contentar, de alguma forma, com o fato de que pelo menos a franquia conseguiu uma estrela em torno da qual pode se fortalecer, que é Simmons. Mesmo que ele já não esteja mais por lá para curtir esse desenvolvimento.

O novato australiano já encantou durante as ligas de verão com sua visão de quadra especial, lembrando muito um Jason Kidd de 2,08m de altura. Tal como era o caso do armador, porém, em seus primeiros anos de profissional, Simmons não representa absolutamente nenhuma ameaça como chutador, e isso vai ter um preço em seu ano de novato. Enquanto ele não der um jeito nesse fundamento, não deve entrar na pauta de um All-Star Game, por exemplo.

Com Saric e Rodríguez vindo da Europa, de todo modo, o Sixers certamente será um dos times mais divertidos da liga nas trocas de passe e jogo em transição. Depois de sofrer com armadores abaixo da linha da mediocridade, Brett Brown agora pode chorar de alegria no banco. Ele merece.

Fora isso, Henderson vai contribuir com profissionalismo, defesa e chutes de média distância, jogando em casa, enquanto o francês Luwawu se encorpa e se ajusta a um jogo no qual não será mais a figura mais atlética em quadra, como acontecia na Sérvia.

A missão de Colangelo agora deveria ser encontrar uma nova casa para Jahlil Okafor, cujos talentos ofensivos não se encaixam com o restante do elenco – independentemente, inclusive, do que acontecer com Joel Embiid. A rotação da linha de frente com Robert Covington, Jerami Grant, Simmons, Saric, Nerlens Noel e Richaun Holmes já é interessante o bastante.

Toronto Raptors

derozan-raptors-franchise

Quem chegou: Jared Sullinger, Jakob Poetl e Pascal Siakam.
Quem ficou: DeMar DeRozan.
Quem saiu: Bismack Biyombo (Magic), Luis Scola (Nets) e James Johnson (Heat).

Masai Ujiri teve a chance de acrescentar Serge Ibaka ao finalista da Conferência Leste, mas não aceitou o preço cobrado por OKC (que era a nona escolha do Draft + Patrick Patterson + Cory Joseph + Norman Powell). Os dois reservas são figuras muito queridas no vestiário e compuseram uma segunda unidade que foi um dos pontos fortes do time canadense na última temporada. Joseph também é adorado em Toronto, um queridinho local. Powell deixou claro seu potencial nas últimas semanas do campeonato. Ainda assim… Por mais salgada que fosse a pedida, se o Raptors pretendia melhorar nessa temporada, talvez valesse a aposta. Ibaka seria um parceiro perfeito para Jonas Valanciunas e ainda supriria a inevitável ausência de Biyombo como protetor de aro.

Outra opção badalada que o clube vislumbrou foi Pau Gasol. Aparentemente, se não fosse a aposentadoria de Tim Duncan em San Antonio, o pivô espanhol estava muito disposto a fechar com Toronto. Taj Gibson também foi cortejado, mas as reviravoltas de mercado em Chicago impediram o negócio. Aí restou ao nigeriano a contratação de Jared Sullinger, por US$ 6 milhões.

Considerando os alvos primários, o ala-pivô não empolga muito. Não é ele que vai aproximar o Raptors do Cavs. Mas foi uma alternativa razoável e barata, para assumir os minutos de Luis Scola. Uma evolução. Sullinger é um reboteiro muito mais eficaz, também sabe passar a bola, embora seja um arremessador no mínimo irregular. Como ele vai se encaixar na equipe depende basicamente de seu condicionamento físico. Em Boston, teve constantes embates com a balança.

Já os calouros Poetl e Siakam entram no programa de desenvolvimento da franquia, que agora está lotado. Para um time que briga para se manter no topo da conferência, são diversos os jovens jogadores que não devem receber muita atenção de Dwane Casey na próxima temporada. Talvez o austríaco possa brigar por posição com Lucas Bebê, valendo a vaga de reserva imediato de Valanciunas.

***Receba notícias de basquete pelo Whatsapp***
Quer receber notícias de basquete no seu celular sem pagar nada? 1) adicione este número à agenda do seu telefone: +55 11 96572-1480 (não esqueça do “+55”); 2) envie uma mensagem para este número por WhatsApp, escrevendo só: oscar87


Rose, Ibaka e as trocas da semana – incluindo aquela que não aconteceu
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

É bom se acostumar. Novo número, novas cores. Mas um novo jogador?

É bom se acostumar. Novo número, novas cores. Mas um novo jogador?

Pois é, conforme avisado, a temporada dos gerentes gerais e scouts da NBA definitivamente não acabou no momento em que LeBron, comovido, desabou na quadra da Oracle Arena para comemorar o terceiro título de sua carreira e o primeiro de Cleveland em mais de 50 anos. Preparando-se para o Draft desta quinta-feira e para o mercado de agentes livres que será aberto a partir do primeiro segundo do dia 1º de julho, os dirigentes já deram uma boa agitada nesta semana, antes mesmo de o recrutamento de calouros começar.

Neste post, vamos nos concentrar mais nos negócios que envolveram veteranos da liga, sem entrar no mérito sobre quem saiu ganhando ou perdendo do Draft ainda:

Derrick Rose agora é um Knickerbocker
Este foi o negócio de maior repercussão da semana, pelas cidades e franquias envolvidas e, principalmente, por selar o fim da era Derrick Rose em Chicago. Os torcedores do Bulls viveram grandes momentos com o armador, xodó da cidade, desde 2008, quando foi selecionado. Foram os melhores anos da franquia desde a saída de Michael Jordan. Devido a suas constantes lesões e cirurgias, porém, hoje podemos dizer que durou pouco. Considerando todos os desencontros dos últimos dois, três anos, desde a desgraçada ruptura de ligamento em 2012, quando ele, Thibs e uma valente equipe achavam que poderiam derrubar os LeBrons de Miami, talvez fosse a hora, mesmo.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

Mas…

Se o Bulls pensava em reformular seu elenco, talvez fosse o caso de esperar mais uma temporada. O mais interessante aqui não seria dar mais uma chance a Rose para ver o que pode sair dali – isso seria um bônus –, mas simplesmente deixar que seu contrato de US$ 20 milhões expirasse. Desta forma, a dupla John Paxson/Gar Forman poderia abrir espaço para investir num mercado muito mais bombado. Talvez fosse possível encontrar gente mais talentosa que Robin Lopez e Jerian Grant, cujos contratos se estendem para além de 2017 – ainda assim, o clube pode ter mais de US$ 40 milhões para distribuir. Ao que parece, porém, a prioridade era virar a página agora, mesmo. Se a ordem da preferência começa pelo temor de perder Rose por nada e ou de se livrar do jogador, pensando em química do elenco, ninguém vai dizer abertamente.

Lopez fez uma grande segunda metade de temporada em NYC, é daqueles que entrega muito mais do que os números mostram, já havia feito boas campanhas por Suns, Pelicans e Blazers, mas simplesmente não consegue se fixar em um lugar. É estranho demais. Vai acontecer em Chicago? Com média de US$ 14 milhões anuais, por mais três anos, seu salário não é dos mais caros, de fato. Agora cabe ao técnico Fred Hoiberg utilizá-lo da melhor forma, pensando neste custo x benefício. Jerian Grant não mostrou muita coisa pelo Knicks, sendo castigado por Derek Fisher nos primeiros meses, mas tem potencial evidente. Se pode ser um titular, veremos.

Com a chegada do pivô, está claro que o clube também se prepara para dizer adeus a Pau Gasol e, especialmente, Joakim Noah. Ao anunciar a negociação, de todo modo, Forman se referiu ao grandalhão como um “titular”.  Considerando a frustração de JoJo por ter ficado no banco durante o campeonato, acho que meia palavra já bastaria. Além disso, Noah vai receber diversas propostas no mercado. Aliás, não ficaria nem pum pouco surpreso se ele não parasse justamente no Knicks.

Rose, Lopez e Calderón: blockbuster

Rose, Lopez e Calderón: blockbuster

Do ponto de vista de Phil Jackson, James Dolan e Jeff Hornacek, o que vale aqui, de primeira, é a aposta em Rose, mesmo. Eles estavam buscando um armador mais experiente para comandar o ataque acelerado de Hornacek, e não havia tantos agentes livres disponíveis para tanto. OK.

A primeira questão é saber se Rose pode realmente voltar a ser um jogador consistente e, depois, minimamente decente em quadra. Pois não dá para tratar tudo com memória seletiva. O MVP de 2011 não consegue jogar há tempos, sem a menor eficiência por trás de seus 16,4 pontos por partida desta última temporada. As consequências de tantas lesões foram graves para seu jogo. Ele não consegue mais forçar faltas e lances livres e, mesmo sem tanta agressividade, segue cometendo turnovers. Mais: por mais que tenha maneirado nos arremessos de três pontos (entre suas tentativas, o volume de longa distância baixou de 32,5% para 14,3%), seu aproveitamento de quadra foi ainda de 42,7%. Sua produção por minuto foi menor, assim como a qualidade de jogo como um todo, dando menos assistências. Seu impacto foi negativo tanto na defesa como no ataque, inclusive.  Enfim, o Knicks só espera que este recomeço faça bem ao jogador. Que a draga que o arrastava em Chicago tinha mais a ver com psicológico, emocional, e que ele tenha muito mais o que render em um novo cenário.

A segunda questão é se Rose e Carmelo vão conviver bem. Supostamente, eles se dão bem fora de quadra, e o armador até mesmo tentou recrutar ala em 2012 – atividade que ele se recusara a fazer no passado.  Conhecendo o histórico dos dois astros, algo que os jornais de Nova York e Chicago escancararam nos últimos anos, é de se imaginar se o convívio mais próximo vai fazer bem para a relação. Em quadra, uma bola será o bastante? A mentalidade de Carmelo vai e volta quando o assunto é acionar os companheiros. Rose só está acostumado a uma abordagem: atacar e atacar, a despeito duas limitações de hoje. Fora de quadra, fica ainda mais intrigante a dinâmica. Melo não está tão acostumado assim a dividir as luzes de Manhattan – Amar’e Stoudemire e Jeremy Lin podem falar a respeito. Para ser justo, Kristaps Porzingis foi bem acolhido pelo veterano, teve suas semanas de coqueluche por lá, mas, aos olhos do capitão do time, nunca representou uma, digamos, ameaça. Rose, por seu lado, já demonstrou que valoriza bastante seu cultivo de imagem. Agora imaginem colocar um Dwight Howard neste caldeirão? Afe.

Serge Ibaka agora é do Orlando

Ibaka por Oladipo, Ilyasova e Saboninhos. Orlando vai tentando

Ibaka por Oladipo, Ilyasova e Saboninhos. Orlando vai tentando

Havia algum zunido a respeito. Aconteceu bem mais rápido do que poderíamos imaginar. Pressionado enquanto Kevin Durant não se decide sobre seu futuro, o gerente geral Sam Presti agiu à revelia do que vai acontecer com o astro ao despachar Serge Ibaka para o mundo mágico da Disney, recebendo em troca Victor Oladipo, Ersan Ilyasova e um Sabonis, o Domantas, que jogou muito por Gonzaga nos últimos dois anos e foi escolhido em 11º neste Draft.

O lado de OKC é o mais interessante aqui. Pode causar espanto a decisão, a princípio. Mas a verdade é que o Ibaka de 2015-16 quase não lembra em nada o de quatro anos atrás, quando Presti optou pelos seus serviços, deixando James Harden ir embora. O congolês teve a pior temporada de sua carreira na NBA, perdendo a precisão nos arremessos de perímetro e contribuindo cada vez menos na defesa. Durante os playoffs, ele foi apenas o quinto jogador mais produtivo da equipe e ficou totalmente alienado no ataque. O quanto que é a causa e o que é o efeito fica difícil de dizer: mas que Ibaka andava um tanto confuso e desmotivado, não há como negar.

Ao se distanciar o pivô, o Thunder também evita a dor-de-cabeça de ter de negociar com ele um novo contrato daqui a um ano. Dependendo do que Durant e Westbrook quiserem, imaginando que eles vão renovar prontamente o contrato de Adams, ficaria praticamente inviável a permanência do veterano. A não ser que o clube encontrasse um novo lar para Enes Kanter.

Para a sua vaga, Ilyasova e Saboninhos podem fazer um pouco de tudo. Inicialmente, acreditava que o experiente turco seria dispensado, valendo uma economia de cerca de US$ 8 milhões na folha salarial. Mas o gerente geral já disse que ele fica, oferecendo chute de longa distância, bom posicionamento defensivo e flexibilidade. Já o calouro lituano tem como principais recursos a capacidade como reboteiro e a garra para brigar muito no garrafão, nas duas tábuas. A expectativa dos scouts também é de que ele possa desenvolver um bom arremesso de média para longa distância também. Com experiência no basquete espanhol e dois torneios da NCAA nas costas, vindo de uma linhagem real do basquete europeu, Domantas estaria mais preparado do que um novato qualquer para chegar e jogar .

A peça principal, todavia, é Oladipo. Sua parceria com Russell Westbrook promete ser um inferno para qualquer oponente. Os duelos com os Splahs Brotheres prometem ser eletrizantes desde já. Para alguém que foi escolhido como o segundo do Draft de 2012, o ala-armador está longe de se transformar em um franchise player. Para OKC, tendo dois atletas deste quilate em seu elenco, não há pressão ou necessidade para que ele evolua tanto assim. Se continuar com sua constante curva ascendente, já será o suficiente. Oladipo vem melhorando gradativamente nos tiros exteriores e diminuindo o número de turnovers, sem perder a intensidade em quadra. Com ele, a diretoria agora fica bem mais confortável em lidar com Dion Waiters, um agente livre restrito. Por melhor que tenha defendido contra Spurs e Warriors e controlado suas loucuras, o conjunto da obra ainda desperta muita rejeição e certamente não vale um contrato acima de US$ 10 milhões.

Em Orlando, fica uma sensação estranha. Suas principais apostas ainda são muito jovens – os alas Aaron Gordon e Mario Hezonja. Mas a família DeVos não está mais tão disposta assim para esperar o desenvolvimento da rapaziada e tem forçado o gerente geral Rob Hennigan, ex-funcionário de Presti, a se mexer. Nesse contexto, a contratação de Ibaka é positiva. Pensemos assim: poderia ser bem pior. Em um novo contexto, o congolês deve resgatar o ímpeto defensivo e a agressividade no ataque e proteção ao aro. Ao contrário de Rose, ele ainda não sofreu nenhuma lesão grave, estrutural. Sob o comando de Vogel, promete. A dúvida que fica aqui: sua chegada vai resultar em menos minutos para Gordon? Ou Vogel estaria disposto a emparelhá-los por mais tempo, numa rotação com Nikola Vucevic? O suíço-montenegrino é quem se beneficia bastante, tendo a companhia de um pivô superatlético que pode limpar muitas das duas falhas na defesa. Sabonis talvez não fizesse tanta diferença nesse sentido, enquanto Elfrid Payton ganha um voto de confiança, com a saída de Oladipo.

Atlanta enfim despacha Teague, e Utah se sai ainda melhor em troca tripla

Hill e Teague, cada um no seu quadrado

Hill e Teague, cada um no seu quadrado

Essa conversa vem desde fevereiro. O Atlanta nunca demonstrou muita confiança no jogo de Jeff Teague, mesmo nos dias em que Danny Ferry dava as cartas por lá. Não custa lembrar que o armador chegou a assinar com o Milwaukee Bucks como agente livre restrito, para ver a oferta coberta. Teague chegou ao All-Star em 2015, atingiu a marca de 40% nos arremessos de longa distância na última temporada e, ainda assim, se viu novamente envolto por rumores. O Hawks estava disposto a negociá-lo pelo preço certo, e, meses mais tarde, a 12ª escolha do Draft deste ano, via Utah Jazz, foi o suficiente.

O ganho, na cabeça de Mike Budenholzer, presidente e técnico da equipe, é o de dois em um: a promoção de Dennis Schröder a titular e a mais de 30 minutos por partida e o experimento com o ala Taurean Prince, de Baylor. O novato tem um quê de DeMarre Carroll, mas não só por causa do cabelão. Ele tem basicamente o mesmo porte físico e é igualmente atlético, para fortalecer a defesa no perímetro. O arremesso de três está se desenvolvendo ainda, mas não é que Carroll tenha entrado na NBA como um grande gatilho. O Coach Bud deve entender que seu estafe está mais do que preparado para fazer o mesmo tipo de trabalho com Prince. Traumatizado pelos choques com LeBron James nos últimos anos, podendo perder Kent Bazemore no mercado, vale a tentativa.

Teague foi para Indiana, sua terra natal. Lá, terá a missão de acelerar o ataque, algo que Larry Bird queria ver já durante a campanha que acabou com uma derrota para Toronto pela primeira rodada dos playoffs, em sete partidas. Para esse tipo de proposta, as qualidades de Teague são bem mais favoráveis que as de George Hill, que foi parar em Utah. É mais criativo com a bola, mais agressivo e, sim, muuuuito mais rápido. Sua parceria com Monta Ellis, no entanto, é bastante questionável do ponto de vista defensivo.

Em Salt Lake City, o encaixe de Hill tem tudo para devolver o Jazz, enfim, aos playoffs, se a saúde de seus atletas mais jovens assim permitir. Com Gordon Hayward, Rodney Hood e, eventualmente, Alec Burks e Dante Exum, o técnico Quin Snyder conta com atletas  versáteis e bastante ofensivos, mas jovens. Em momentos decisivos de sua fracassada campanha, faltou uma liderança em quadra. Hill não é necessariamente este cara. Mas vai ajudar a dar estabilidade ao time, sem dúvida, sem precisar fazer mais do que sabe. Se Pau George era a referência em Indiana, agora ele faz o papel de escudeiro para Hayward. Por outro lado, a defesa, que já conta com uma parede imensa formada por Rudy Gobert e Derrick Favors, fica ainda mais forte no perímetro.

Thaddeus Young também vai correr em Indiana
Dando sequência ao seu movimento de aceleração de partículas (waka-waka-waka), Bird também acertou uma transação com o Brooklyn Nets, por Young. O ala-pivô é uma peça interessante para a linha de frente do Pacers, ao lado de Paul George e Myles Turner. A equipe ganha em transição ofensiva desde já e, em meia quadra, terá uma dinâmica promissora: Turner pode agir tranquilamente na cabeça do garrafão, com seu belíssimo arremesso, liberado o garrafão para os cortes com ou sem a bola de George e Young. Em Brooklyn, o novo gerente geral Sean Marks dá início ao seu processo de minirreforma. Com um elenco todo arrebentado, não havia muito o que fazer, mesmo. Young era das poucas peças que poderia atrair a concorrência, e ele ganhou a 20ª escolha o Draft nessa, aproveitada com o ala Caris LeVert, de Michigan. LeVert é um talento especial, com mil e uma utilidades, mas está vindo de uma fratura no pé. A ver no que dá. Fato é que Rondae Hollis-Jefferson, um defensor implacável, com vigor físico absurdo, e o ala-pivô Chris McCullough também terão mais chances para jogar ao lado de Brook Lopez. Isso se Lopez ficar por lá, mesmo.

Mais: A Troca Que Não Foi
É… o Chicago Bulls ficou muito perto de apertar o botão de implosão, mesmo. Não só deixaram Rose no passado como quase mandaram Jimmy Butler ao (re)encontro de Tom Thibodeau em Minnesota. Com nova gestão, o Wolves ofereceu um pacote de Kris Dunn, o armador selecionado em quinto neste Draft, e Zach LaVine pelo ala, que é um dos jogadores mais completos da liga. Depois de maturarem, Paxson e Forman recusaram, com razão, ao meu ver, por mais talentoso que Dunn receba dos scouts. A não ser que Butler tenha se tornado realmente uma figura asquerosa nos bastidores, não há motivo para se apressar em uma negociação dessas.

Sem Rose e Noah pelas redondezas, talvez o ala assuma de vez o comando do time, mas de uma maneira positiva. Resta saber como ele vai reagir a uma negociação que vazou por todos os lados e não dá mais para ser negada. Veja o esforço de Forman para tratar do assunto: “Nós nunca fez nenhuma ligação sobre Jimmy Butler. Nós já conversamos sobre isso, valorizamos Jimmy Butler, estamos muito felizes de ter Jimmy Butler. Nós temos um jogador fenomenal, que é um All-Star e um defensor All-NBA, ainda jovem. Obviamente nós o temos sob contrato de longo prazo, e esses são todos positivos. Ele, novamente, é o que queremos para o time. Dissemos isso o tempo todo. Nós gostamos Jimmy Butler, não o colocamos à venda. Se vamos atender o telefone? Claro que sim. Esse é o nosso trabalho, ouvir as chamadas. Recebemos ligações sobre muitos dos nossos jogadores, e isso é coisa que acontece durante todo o campeonato”.

Thibs, agora, precisa ser criativo para fazer uso de dois armadores como Rubio e Dunn, que defendem muito, mas não têm arremesso. A função dos dois é deixar o jogo mais fácil para o fantástico Karl-Anthony Towns e para Andrew Wiggins. Com a quadra mais apertada, não é o caso. (E não que Butler seja um grande chutado também. Se o negócio estivesse fechado, o Wolves precisaria correr atrás de novas peças complementares.)

***Receba notícias de basquete pelo Whatsapp***
Quer receber notícias de basquete no seu celular sem pagar nada? 1) adicione este número à agenda do seu telefone: +55 11 96572-1480 (não esqueça do “+55”); 2) envie uma mensagem para este número por WhatsApp, escrevendo só: oscar87


Jukebox NBA 2015-16: “Kiss from a Rose” só poderia ser do Bulls
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

jukebox-rose-bulls

Vamos lá: a temporada da NBA já está em curso, e o blog inicia sua série de prévias que já não são exatamente prévias sobre o que esperar das 30 franquias da liga. O pacote invadiu o calendário oficial de jogos, mas paciência, né? Afinal, já aconteceu no ano passado. Para este campeonato, me esbaldo com o YouTube para botar em prática uma ideia pouco original, mas que pode ser divertida: misturar música e esporte, com uma canção servindo de trilha para cada clube. Tem hora em que apenas o título pode dizer algo. Há casos em que os assuntos parecem casar perfeitamente. A ver (e ouvir) no que dá. Não vai ter música de uma banda indie da Letônia, por mais que Kristaps Porzingis já mereça, mas também dificilmente vai rolar algo das paradas de sucesso atuais. Se é que essa parada existe ainda, com o perdão do linguajar e do trocadilho. Para mim, escrever escutando alguma coisa ao fundo costuma render um bocado. É o efeito completamente oposto ao da TV ligada. Então que essas diferentes vozes nos ajudem na empreitada, dando contribuição completamente inesperada ao contexto de uma equipe profissional de basquete:

A trilha: “Kiss from a Rose”, por Seal

Por quê? Acho que aqui temos o título de música mais óbvio. O beijo de uma rosa. Ops, quer dizer: o beijo de Derrick Rose. De despedida para Tom Thibodeau, de recepção para Fred Hoiberg e um salve geral para Jimmy Butler e a torcida do Bulls.

A relação do clube e seus fãs com o armador uma relação que já beirou a deificação quando o garoto humilde da cidade venceu na vida e foi eleito o MVP da liga. Acontece que uma sucessão de lesões (algo que ele não pode controlar) seguidas por uma fase de declarações um tanto deslocadas e absurdas (algo que vem totalmente de sua iniciativa) acabaram arranhando sua imagem, especialmente quando os resultados em quadra são bem limitados.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

A última delas aconteceu na apresentação do novo elenco, quando ele basicamente disse que, chocado com os altos valores pagos a atletas que julga inferiores, não via a hora de se tornar um agente livre novamente em 2017 para faturar o seu. Isso vindo de um cara que, nas últimas quatro temporadas, por azar, disputou apenas 100 partidas de 328 possíveis e ganhou aproximadamente US$ 60 milhões para tanto, tendo ainda mais US$ 41 milhões para receber neste ano e no próximo. Aí pegou mal. Hoje, então, a relação da cidade com o astro já segue o padrão atual obrigatório de qualquer discussão online – de amor ou ódio.

Essa história ficou ainda mais apimentada quando Jimmy Butler retornou das férias dizendo que era hora de assumir a liderança do time, que era uma lacuna que precisava ser preenchida e que, inclusive, ele poderia até mesmo jogar como armador, e tal. O ataque de Fred Hoiberg tem espaço para dois, três armadores. Butler expandiu seu jogo a cada ano, com uma dedicação impressionante. Ainda assim, não há como ouvir essas declarações e não pensar que elas digam algo sobre Rose. Ao Chicago Sun-Times, um ex-integrante do Bulls (algum técnico? um jogador?), afirmou que o ala não respeita “profissionalmente” o armador e que questiona seu empenho no dia a dia. “Nós todos sabíamos que ia acontecer”, disse a fonte anônima. Publicamente, ambas as partes agora negam qualquer tensão, mas o fato é que, por alguns meses, os jogadores deram entrevistas ambíguas a respeito, fazendo muita fumaça.

rose-butler-bulls

Rose e Butler, mais uma novela da NBA

De modo que o clipe dessa música, lançada em 1994 e reaproveitada no ano seguinte pela trilha do primeiro Batman de Joel Schumacher (com a então presença mais que gratificante de Nicole Kidman), tem um valor simbólico maior, já que está retratando um super-herói. É como o torcedor do Bulls enxergava seu armador e que, intimamente, ainda espera ver nesta temporada. Ou que essa figura já tenha sido assumida por Butler. Mas é preciso ter um herói?

E aí temos um jogo deste de quinta-feira contra o Oklahoma City Thunder, no qual Rose anotou dez pontos nos últimos 3min30s para frear a reação de um rival poderoso, candidato ao título, garantindo a vitória. É o tipo de fato que Chicago inteira quer ver associado ao jogador. Mas que não pode ser avaliado de maneira simplista – nem tão para cima, nem tão para baixo.

Excelente que Rose tenha produzido no crunch time, mas lembremos que estava basicamente atacando um cone em Enes Kanter, um dos piores defensores da NBA, com o qual ficou isolado em quadra por diversas posses de bola, forçando a troca de marcação no jogo de dupla com Gasol. E, ainda assim, a maioria dos pontos veio em chutes de média distância, sem os ataques frenéticos rumo ao aro que construíram sua reputação. Em linhas gerais, já que uma partida de basquete tem 48 minutos, e, não, apenas os três minutos finais, também não dá para relevar que ele precisou de 25 arremessos para chegar aos 29 pontos. No primeiro tempo, Butler marcou 20 pontos.

Hoiberg, o anti-Thibs em diversas maneiras, encara a pressão

Hoiberg, o anti-Thibs em diversas maneiras, encara a pressão

De qualquer forma, por outro lado, é preciso dizer que Rose perdeu boa parte da pré-temporada devido a uma fratura no rosto, que pediu uma cirurgia da qual ele ainda não se recuperou plenamente. Seu olho esquerdo ainda está com a visão embaralhada. Ao contrário da postura que adotou em anos anteriores, de se recusar a ir para a quadra mesmo depois do sinal verde do departamento médico, enquanto não se sentisse confiante o bastante em seu joelho, agora joga em situação longe do ideal. Sem contar o fato de que todo o time ainda está assimilando um novo sistema. Que deveria ser a principal história aqui, ao meu ver.

A pedida? No mínimo, campeão do Leste. No mínimo. Por mais louvável que tenha sido o trabalho de Thibodeau, forjando uma defesa que virou padrão na NBA, desenvolvendo seus jogadores, avançando aos playoffs como cabeça-de-chave todos os anos, a frieza dos resultados diz o seguinte: o Phoenix Suns de Steve Nash e Mike D’Antoni, aquele que não defendia nada, chegou mais perto do título do que o seu Chicago Bulls, alcançando duas finais de conferência. Os dois times tinham grandes talentos na armação, um bom elenco de apoio, foram atrapalhados por lesões na pior hora e esbarraram em grandes oponentes – Tim Duncan de um lado, LeBron James do outro.

A menção a D’Antoni é uma provocação, claro, mas não gratuita, já que o ataque imaginado por Fred Hoiberg lembra muito o do contestado Sr. Pringles. Se as manchetes em torno de Chicago vão se concentrar na verdadeira ou suposta crise entre Rose e Butler, ou mesmo no rendimento individual do armador, o tópico que me parece verdadeiramente fascinante é a transição tática que a equipe vai fazer.

Em termos de filosofia de jogo e condução de grupo, os técnicos não poderiam ser mais diferentes. O controlava o time com pulso firme, cantando jogadas em meia quadra, cuidando dos mínimos detalhes em quadra, dando treinos exaustivos. Seu sucessor dá autonomia aos atletas na tomada de decisão no ataque, incentiva sua criatividade e é conhecido como um profissional que conquista pelo diálogo, pelo trato pouco impositivo.

Vamos descobrir, então, qual o impacto de se proporcionar liberdade para um elenco que venceu muitas partidas, mas não chegou ao título e se arrebentou durante o regime mais rígido da liga nos últimos cinco anos.

Gasol chegou, e o Bulls perdeu novamente para LeBron

Gasol chegou, e o Bulls perdeu novamente para LeBron

Nesse período, Thibs venceu 64,7% de suas partidas, que vale como a 14ª melhor marca da história – ou a 12ª, se descontarmos os registros de Steve Kerr e Davis Blatt, que só trabalharam em uma temporada. Passou a ser reconhecido, justamente, como um dos grandes técnicos da liga. Nos playoffs, porém, o rendimento foi de 45,1%, apenas a marca de número 66, um pouco acima dos 44,1% de Mike D’Antoni.

Ainda está muito cedo para avaliar o trabalho do novo técnico (e essa vai ser uma frase obrigatória nos próximos textos desta série). Os jogadores estão assimilando os novos conceitos de espaçamento e ritmo ofensivo, enquanto a defesa  tem sentido bastante. Só lembremos que, na temporada passada, a retaguarda do Bulls já ficou fora do grupo das dez mais eficientes da liga, pela primeira vez na década.

A gestão: claro que não foi apenas pelo produto apresentado em quadra que Thibodeau foi demitido. O relacionamento pouco amistoso com o vice-presidente John Paxson e o gerente geral Gar Forman foi ainda mais relevante. Ironicamente, o desfecho foi o mesmo dos tempos de Jerry Krause e Phil Jackson nos anos 90, com a diferença de que aquela parceria resultou em seis títulos. A causa é a mesma e básica: disputa por poder e reconhecimento.

Para a formação de uma equipe, quem é mais importante? O homem que junta as peças, ou aquele que as coordena e desenvolve em quadra? Na verdade, essa pergunta nem precisa ser respondida: o certo, claro, é que um não vive sem ou outro e que ambos deveriam trabalhar em harmonia. A diretoria do Bulls, nos últimos dois anos basicamente, não fez questão nenhuma de esconder sua insatisfação com o modus operandi de Thibodeau, um cara centralizador, que, segundo consta, ignorava ou até mesmo repudiava sugestões, recomendações ou qualquer estudo ou ferramenta que para pudesse ajudá-lo na condução do time. O ponto de discórdia que se tornou mais proeminente diz respeito ao condicionamento dos jogadores, levando em conta o desgaste físico alarmante de gente como Luol Deng e Joakim Noah.

Deng evoluiu e passou por maus bocados fisicamente com Thibodeau

Deng evoluiu e passou por maus bocados fisicamente com Thibodeau

Agora, é muito fácil culpar um personagem até folclórico como Thibs por desmoronamento e esquecer que Paxson, responsável pela visão mais ampla do clube, não é dos dirigentes mais centrados e calmos que você vai ver por aí. Estamos falando do mesmo sujeito que chegou a esganar Vinny Del Negro, o técnico antecessor, e que, ao admitir o incidente e pedir desculpas, não se mostrou tãaaaaao arrependido assim. “Não deveria ter acontecido, eu jamais deveria ter feito isso. Foi uma coisa do calor do momento, e estava muito frustrado com o modo como estávamos jogando. O que me decepcionou também que é ele nunca assumia um erro. Isso diz mais sobre ele do que sobre mim”, afirmou ao Sun-Times. (O episódio também foi originado por sobreuso de um atleta, Noah, que estava retornando de lesão e tinha um limite de minutos para jogar.)

Gar Forman está abaixo de Paxson na hierarquia e cuida das operações diárias, da negociação com atletas e concorrentes. É amigo íntimo de Hoiberg, com uma relação de longa data, e foi fundamental na mudança, trazendo o ex-jogador de volta ao clube. Espera-se uma relação muito mais harmoniosa agora.

Nikola Mirotic, ícone da NBA hipster

Nikola Mirotic, ícone da NBA hipster

Olho nele: Nikola Mirotic. No plano tático de Hoiberg, o montenegrino-espanhol é um jogador fundamental, devido a sua versatilidade e a ameaça que pode representar como um ala-pivô flexível, habilidoso, que pode atacar de diversos pontos da quadra, como fez em março da temporada passada, com médias de 20,8 pontos e 7,6 rebotes em 30,8 minutos.  A questão é que, mesmo neste mês de alta produtividade, Mirotic acertou apenas 26,3% de seus tiros de longa distância. No total, matou apenas 31,6%. Se o seu aproveitamento flutuar em torno disso, vai chegar uma hora em que as defesas adversárias simplesmente vão prestar atenção nos números em detrimento da reputação, e a ideia é que ele abra a quadra para as infiltrações de Rose, Butler e Brooks. Seria sua tarefa primária em quadra, ainda que pensar no barbudo apenas como um chutador seria besteira. Ele pode colocar a bola no chão, consegue atacar a cesta e não faz tão feio assim na defesa. Só desconfio que a dupla com Gasol não seja a melhor combinação para a linha de frente de Chicago. Não seria melhor algo como Mirotic-Noah e Gibson-Gasol? Intercambiar as atuais duplas mais usadas? É algo que Hoiberg vai testar e ponderar com o tempo.

fred-hoiberg-bulls-playerUm card do passado: Fred Hoiberg. Essa era fácil também, ainda que, como jogador, Hoiberg não traga de modo algum boas lembranças ao torcedor do Chicago. Nada contra suas (poucas) qualidades. Mas é que o período que ele jogou pelo Bulls, dos 27 as 30, entre 1999 e 2003, coincide perfeitamente com os anos de trevas pós-Jordan, fazendo companhia a Toni Kukoc, Randy Brown, Corey Benjamin, Dalibor Bagaric, Dragan Tarlac, Marcus Fizer, Khalid El-Amin, Elton Brand, Ron Artest e, depois, os Baby Bulls que hoje são veteranos. A fase em que Krause deve ter contratado uns 97 jogadores.

Entre tantas mudanças, Hoiberg era uma figura estabilizadora, ao menos. Daqueles jogadores que todo técnico adora e que é fácil de se encaixar devido a sua habilidade no chute de longa distância (39,6% na carreira), sua inteligência tática e o empenho para defender, mesmo que fisicamente não fosse capaz de perseguir alas mais altos ou armadores mais velozes.

A verdade é que ele teria sido uma peça complementar perfeita para os triângulos de Phil Jackson, tal como Steve Kerr, com quem duelou com o qual chegou a duelar nos playoffs de 1998 por 17 minutos, vestindo a camisa do Indiana Pacers numa emocionante final da Conferência Leste. Estava em seu terceiro ano na liga e entrava na rotação depois de Reggie Miller, Chris Mullin e Jalen Rose.

 

 

 


Prêmios! Prêmios! Os melhores do Leste antes do All-Star
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Estamos na fase de premiação, né? Logo mais o Boyhood deve, precisa, merece ganhar os prêmios mais importantes na cerimônia do Oscar. Bem longe do glamour de Hollywood, aqui na base do conglomerado 21, sediado na Vila Bugrão paulistana, é hora de olhar para o que aconteceu em mais de metade da temporada da NBA e distribuir elogios. Claro que elogios totalmente irrelevantes para os astros da NBA, mas tudo bem.

De primeira, saímos com a Conferência Leste, que é uma tristeza que só, com exceção desta galera aqui:

MVP, MVP, MVP e MVP. Cheio de MVP

MVP, MVP, MVP e MVP. Cheio de MVP

MVP: O quinteto do Atlanta Hawks. Se a NBA pode escolher, oficialmente, os cinco para “Jogador do Mês de Janeiro”, por que um blog raé do Brasil não poderia? Al Horford, com suas múltiplas habilidades, é o principal jogado do líder da conferência, mas não dá para pinçar um, e só, no jogo bonito de Atlanta. A influência de Korver é muito difícil de ser medida em estatísticas, mas obviamente que as defesas entram em pânico diante da possibilidade de ele ficar livre por dois centímetros na linha de três pontos. Paul Millsap, com seu arsenal ofensivo impressionante, dá a Mike Budenholzer muita flexibilidade. Jeff Teague vai resolver as coisas na hora do aperto, entrando no garrafão com facilidade. DeMarre Carroll faz o serviço sujo e ainda desenvolveu seu tiro exterior. Esse time é uma verdadeira máquina.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa
>> 30 times, 30 fichas sobre a NBA 2014-2015

Lowry mereceria o prêmio em novembro, dezembro talvez, mas deu uma esfriada. John Wall já o superaria, para mim, devido a sua consistência e imposição física em quadra. Pelo andar da carruagem, porém, um certo Rei de Cleveland deve aparecer aqui ao final da temporada, como o MVP do Leste – mas que dificilmente vai recuperar o terreno perdido, nas minhas contas, para Monocelha, Curry e Harden no geral. LeBron vem jogando muito desde que retornou de sua licença premiada, mas isso significa que, por ora, são apenas algumas semanas de alto nível (para os seus padrões). Antes de sua parada, para botar o corpo e a cuca em dia, o astro reclamou demais e deu contribuição significativa para os tropeços do Cavs. Ah, e Pau Gasol, rejuvenescido longe da sombra de Mike D’Antoni, lidera a liga em double-doubles, com 33 até esta segunda-feira.

Melhor treinador: Mike Budenholzer. Por causa disto tudo aqui. É muito difícil instaurar o tipo de química que vemos em quadra em Atlanta, gente, e o Coach Bud aprendeu direitinho depois de anos e anos como assistente de Gregg Popovich. Jason Kidd, guiando um elenco jovem, valente e extremamente versátil em Milwaukee, seria minha segunda opção. Acho que muitos subestimaram a qualidade do plantel do Bucks. Mas não esperava que fosse encontrá-los com aproveitamento superior a 50% no início de fevereiro. Kidd começou muito mal como chefe do Brooklyn Nets na temporada passada, mas se ajustou no decorrer da campanha e se revela um treinador do tipo que adoro: aquele que sabe aproveitar o que tem em mãos, em vez de forçar os jogadores a se entregarem completamente ao ‘seu’ sistema. Dwane Casey também precisa ser mencionado, pelo excelente trabalho que faz em Toronto há um tempinho já. Outro elenco que rende muito mais por conta de química do que pelo talento individual de suas peças.

Sobra até Derrick Favors para Middleton na defesa

Sobra até Derrick Favors para Middleton na defesa

Melhor defensor: Khris Middleton. Quem? James Khristian Middleton, nascido em Charleston, no dia 12 de agosto de 1991. Ele, mesmo, o ala titular do Milwaukee Bucks que está envolvido diretamente no esquema agressivo orquestrado por Jason Kidd. O técnico quer ver seus atletas trocando a marcação constantemente. Isso requer muita atenção aos detalhes e, ao mesmo tempo, perna firme e resistente. Middleton, aos 2,01 m, é forte e ágil para dar conta de marcar um ala-armador ou um ala-pivô (isso, claro, se não for um brutamontes como David West ou um gigante que nem Pau Gasol… Vai depender de quem estar do outro lado). Na melhor defesa da conferência, ele causa o maior impacto: o Bucks toma 8,9 pontos a mais, a cada 100 posses de bola, quando ele está descansando no banco.

DeMarre Carroll e Al Horford oferecem a mesma versatilidade ao Hawks. John Wall pressiona demais o drible do adversário com agilidade e tamanho, e ainda protege o aro em transição e vindo do lado contrário e comanda a forte defesa do Wizards, com uma boa ajuda de Nenê na cobertura. Quando Michael Kidd-Gilchrist está em forma, o Charlotte Hornets se posiciona entre as dez melhores retaguardas.  É muito estranho escrever este parágrafo sem mencionar Joakim Noah e Taj Gibson, mas, ao que parece, os anos de trabalho puxado com Thibs cobram, invariavelmente, um preço. Os dois não têm conseguido repetir as performances sensacionais do campeonato passado, e acredito que isso tem muito mais a ver com um desgaste físico e mental do que a chegada de Pau Gasol, que lhes rouba minutos e toques.

Melhor sexto homem: Lou Williams. Um Jamal Crawford mais baixinho, mas muuuuito mais eficiente, . A missão de Lou é criar arremessos por conta própria.  Rasual Butler – virge! – já resolveu uma porção de jogos para o Wizards saindo do banco 98,5% das vezes com a mão já pegando fogo. Aaron Brooks se encaixou perfeitamente no módulo de “Armador Tampinha Reserva do Chicago Bulls”, mas ninguém mais parece notar sua existência. Dennis Schröder causa o mesmo impacto pelo Hawks. Em Milwaukee, são diversos reservas qualificados, mas nenhum que desponte.

Em Toronto, é "Loooooooouuuu" sempre que ele pega na bola

Em Toronto, é “Loooooooouuuu” sempre que ele pega na bola

Jogador que mais evoluiu: Hassan Whiteside. Ele jogou o ano passado no Líbano. Hoje, representa uma dor-de-cabeça para 29 equipes que não lhe ofereceram nem mesmo um contrato não-garantido antes de a bola subir. Mais detalhes aqui. O engraçado é que Jimmy Butler, até outro dia desses, parecia a maior barbada de toda a liga nessa categoria, independentemente da conferência. O que o ala do Bulls ralou para elevar seu jogo ao patamar de All-Star vale como exemplo para qualquer jogador subestimado na liga. Talvez seja precipitado indicar Whiteside, pelo fato de ele ter jogado pouco até agora. Vamos ver se dura até o final da temporada. Jeff Teague também deu um belo salto, passando de jogador “ok, muito bom” para “putz grila, excelente”, algo nem sempre fácil de se fazer.

Melhor novato: Nikola Mirotic. O que é uma injustiça, né? De calouro, o montenegrino naturalizado espanhol não tem nada. Muito menos a barba. De qualquer forma, poder qualificar Mirotic “tecnicamente” como novato nos livra a cara aqui, pois seria difícil seguir em outra rota. As lesões não deixaram Jabari Parker, Marcus Smart e Aaron Gordon competir adequadamente aqui. Elfrid Payton é o estreante que joga mais pressionado, com máxima responsabilidade devido a sua posição, e faz um trabalho competente em diversas esferas menos aquela que pede cestas – o mesmo problema para Nerlens Noel.

Primeiro time
Jowh Wall
Kyle Lowry
Jimmy Butler
LeBron James
Al Horford

Segundo time
Jeff Teague
Dwyane Wade
Kyle Korver
Paul Millsap
Pau Gasol

Terceiro time
Kyrie Irving
Brandon Knight
Khris Middleton
Chris Bosh
Greg Monroe

Observações: fiquei entre Kemba Walker e Brandon Knight na terceira formação, e aí preferi decidir pela melhor campanha do Bucks, ainda que Walker tenha levado o Hornets nas costas enquanto Al Jefferson estava lesionado e Lance Stephenson curtia sua piração, até ser afastado por causa de uma cirurgia no joelho. Middleton ganha a vaga que seria de Carmelo Anthony, mas não dá para botar um time com aproveitamento abaixo de 20%. Por números, pode parecer um crime excluir Nikola Vucevic. Se for assim, desde que Josh Smith foi mandado para um breve exílio, Monroe vem abafando – inclusive seu companheiro Andre Drummond. Wade jogou pouco, mas o suficiente para entrar aqui – sem ele, o Miami Heat estaria completamente atolado.

Nesta quarta, sai a lista do Oeste.


Derrick Rose, o heroísmo e as boas e más notícias de Chicago
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Derrick Rose: não estava fácil. Assim como o jogo todo

Derrick Rose: não estava fácil. Assim como o jogo todo

Se tem um velho recurso narrativo, usado pelo vovô, pela vovó, pelo padre e até pelo delegado, um recurso de que não abro mão, que, creio, jamais vai perder a graça, é a quela história da boa e da má notícia. Qual você quer primeiro?

Depois do jogaço transmitido pelo Sports+ na madrugada desta quarta-feira, com a edificante vitória do Bulls sobre o Golden State Warriors por 113 a 111, na prorrogação, essa pergunta funciona perfeitamente para os torcedores do Chicago – e, por isso, admiradores irredutíveis de Derrick Rose. O armador teve uma das atuações mais estranhas, malucas e polarizadoras da temporada.

Primeiro vamos com a boa? Tá, tudo bem: Rose marcou 30 pontos e marcou a cesta decisiva no tempo extra. A má: ele precisou de 33 arremessos para chegar a essa contagem, acertando apenas 13 desses chutes. Também cometeu 11 turnovers e deu apenas uma assistência. É ou não é uma linha estatística bizarra – e imaginem se fosse Russell Westbrook a praticá-la?

Essa combinação suscitou um debate inflamado durante a madrugada, o que me admira muito.  Acho incrível que, a essa altura do campeonato, em 2015, o hero ball ainda seja considerado tão importante assim, a ponto de uma cesta ser considerada brilhante o bastante para ofuscar 20 tentativas de cesta em vão e 11 desperdícios de posse de bola. Da minha parte, acho que a melhor notícia, na real, foi o simples fato de o atleta estar em quadra, passando da marca de 43 minutos numa partida pela primeira vez em quase três anos, considerando tudo que ele já enfrentou. Ou que, juntos, os pivôs titulares somaram 36 pontos, 31 rebotes e 14 assistências, mataram 14-24 nos arremessos e terminaram o jogo 100% nos lances livres, dominando o garrafão do Warriors sem Andrew Bogut.

Tom Thibodeau obviamente se colocou entre os defensores do heroísmo – afinal, foi seu jogador e esperança de superestrela a protagonizar a discussão toda. O técnico usou aquele argumento de sempre: “Ele não permitiu que os arremessos perdidos… o afastassem da confiança de que ainda poderia tentar e acertar um chute decisivo”.

Mesmo que o chute não caia, Derrick Rose segue arremessando. A torcida do Bulls na expectativa

Mesmo que o chute não caia, Derrick Rose segue arremessando. A torcida do Bulls na expectativa

Olha, se fosse para ler a frase sem nenhum contexto, não há como contestá-la. A força mental para não se abalar pelos erros e tentar a vitória é uma grande virtude. Agora, depois de o cara desperdiçar 31 posses de bola (entre bicos e tropeços), certeza de que um arremesso como o que ele tentou era a melhor decisão?

A jogada de Rose no último ataque do Bulls, diante dos braços compridos e da boa marcação de Klay Thompson não é nada fácil de se fazer, especialmente quando você dá o passo para trás e tem um defensor equilibrado na sua cola. Requer habilidade atlética. Mas não vá me dizer que, além da confiança, também não tem sorte envolvida nesse tipo de jogada, especialmente quando estamos falando de um armador jamais elogiado pelo poder do arremesso de média para longa distância, e que não alterou tanto assim o seu desempenho na atual temporada. Thibs – sobre quem os rumores andam bem intensos, mesmo – não se importa: “Isso é um sinal de sua grandeza e de que ele está trabalhando para voltar a ser o jogador que todos sabemos que pode ser”, afirmou.

Dá para dizer que, além do técnico, 99,5% das pessoas envolvidas com o Bulls estavam aguardando com ansiedade um lance como esse por parte do armador, algo que justificasse toda a expectativa pelo retorno. Digo: um lance que comprovasse seu retorno. Até mesmo os repórteres dedicados a cobertura do clube não viam a hora de escrever a respeito. Nick Friedell, setorista do ESPN.com, listou todas as falhas de Rose no embate com o Warriors, mas diz que a cesta final supera tudo isso, mesmo que os 11 turnovers tenham sido um recorde pessoal.

“Esta terça-feira ofereceu mais um aviso de que o Bulls só vai chegar aonde Rose e seus joelhos reconstruídos possam levá-los”, cravou o jornalista. “Joakim Noah, Pau Gasol e Butler são importantes, mas Rose ainda é o cara que pode fazer mais diferença devido a sua habilidade de dominar os jogos no final e responder nas situações de maior pressão. Ele tem o tipo de habilidade de uma superestrela da qual seus companheiros podem se alimentar a cada noite. Quando o jogo está na mesa, eles tentam encontrar o antigo MVP em quadra, não importando o quão pobre tenha sido seu jogo até então.”

Certamente Friedell não foi o único que saiu com essa linha de argumentação. Suas frases saem diretamente da teoria de que só os times com craques transcendentais podem lutar por títulos na NBA. A mesma teoria que impede muita gente de aceitar o Atlanta Hawks como favorito. Concordar ou discordar dela é uma coisa. Outra, bem diferente, é incluir Rose nesse grupo só por causa de um arremesso certeiro, não?  Nada contra o armador ou o repórteres, mas, se já esperamos todos por um longo tempo, mais de dois anos, que custa dar mais algumas semanas de jogo para ver se a estrela está realmente na trilha para reassumir a velha forma?

Vamos descontar a temporada 2013-2014 aqui, já que ela rendeu apenas 10 partidas para ele, totalmente fora de ritmo. Então, se formos comparar a atual campanha do armador com o restante de sua carreira, nota-se que ele jamais cometeu tantos turnovers por jogo (seja na média por minutos ou por posse de bola). Seu aproveitamento nos arremessos, de 41,6%, também é a pior marca. Isso poderia se explicar pelo fato de ele nunca ter chutado tantas bolas de longa distância assim. Mas mesmo as medições que englobam tanto o rendimento nos tiros de fora e até dão mais valor para eles comprovam a dificuldade que vem tendo para pontuar. Em termos de eficiência, apenas seu ano de novato fica para trás. Que tal um pouco de calma?

A temporada de Rose em arremessos

A temporada de Rose em arremessos

Muita coisa já passou e ainda passa pela cabeça de Rose, claro. A cesta da vitória contra o Warriors pode ser um passo importante para a recuperação de seu jogo – uma vez que confiança nunca foi um problema para o atleta, que, por exemplo, se recusava a recrutar agentes livres no mercado. “Como jogador, eu quero esse tipo de momento”, disse Rose, sobre a chance de matar uma partida. “Quero este arremesso. Meus companheiros me deram a bola para assumir a responsabilidade, e não vou fugir disso, não vou abrir mão disso. Se meus companheiros vão me dar a bola para isso, é algo que me faz sentir muito bem.”

De novo: é bacana ele enfrentar esse tipo de situação e sair bem com ela. Cabe uma pergunta, porém: o Bulls realmente depende de um Rose a 90, 100% para sonhar alto na Conferência Leste? Dizer que Rose é o único talento que realmente faça a diferença neste elenco não é menosprezar o quanto Noah batalhou enquanto o camisa 1 estava fora? O que dizer de Pau Gasol, um dos maiores pivôs de sua geração? E a ascensão fantástica de Jimmy Butler?

Bem, o torcedor mais atento vai poder apresentar alguns contrapontos para cada uma dessas alternativas: há jogos em que Noah está se arrastando pela quadra; Gasol tem números fantásticos, mas, aos 34 anos, é perigoso depender dele, mesmo que tenha números que se equivalem aos de cinco anos atrás; Butler caiu muito de rendimento neste mês. Check, check, check. De qualquer forma, qual a diferença entre apostar neles e esperar que Rose volte de forma messiânica? O que parece mais implausível hoje? E mais: o clube precisa, mesmo, desse salvador?

A contratação de Gasol e de Nikola Mirotic já tornava, em teoria, este elenco do Bulls como o mais talentoso da era Thibodeau. Ninguém jamais poderia prever tamanha evolução de Butler, o que supera qualquer decepção gerada pelas lesões e péssimas partidas do badalado calouro Doug McDermott. Essa guinada em recursos técnicos se traduziu num ataque bem mais respeitável: o nono mais eficiente da NBA, acima de Spurs, Blazers e Rockets, por exemplo. Na temporada passada, você precisava usar bastante o scroll para encontrá-los nessa relação (antepenúltimo lugar). Em 2013, terminaram em 24º.

Mesmo que não tenha muitos arremessadores, Thibs consegue desenhar jogadas criativas que espalha bem os jogadores pela quadra e abre boas oportunidades para os pivôs trabalharem em dupla e para que Butler (e Rose) descolem bons ângulos para atacar o aro. Neste mês, mesmo sem os 41,7% de Mike Dunleavy Jr nos arremessos., o Bulls ainda aparece com o décimo ataque mais eficiente.

O problema é que os ganhos no ataque coincidem com perdas do outro lado da quadra. Se a temporada terminasse hoje, a equipe teria apenas a 12ª melhor defesa e terminaria fora do top 10 pela primeira vez desde… 2009! Ano em que tinham John Salmons, Ben Gordon, Tyrus Thomas, Brad Miller e Tim Thomas. Faz tempo, mesmo.

Aaron Brooks, arma nem tão secreta assim

Aaron Brooks, arma nem tão secreta assim

O Bulls precisa, quem diria, melhorar na hora de proteger sua cesta. Para entender isso, o desgaste de alguns atletas tanto do ponto de vista psicológico como físico não deve ser relevado – as rotações pesadas de Thibs geram calafrios em Chicago. Resgatar a intensidade, tapar os buracos não seja tão simples assim. Gasol não era uma figura comprometedora em Los Angeles só pelo fato de que estava pê da vida com os Mikes. Butler ataca mais hoje, então vai sentir um pouco as pernas na hora de tentar parar LeBron ou seja lá qual cestinha. Noah é fundamental no sistema e não é nem sombra do jogador da temporada passada. Gibson ficou um tempo fora. Mirotic está se adaptando. Kirk Hinrich ainda luta ferozmente na marcação fora da bola, mas está um ano mais velho. Etc. Etc. Etc. Há vários pontos individuais que possam explicar isso. Mas é só

Thibodeau ainda tem tempo para fazer alguns ajustes na rotação. Seu quinteto mais utilizado até o momento (Rose-Butler-Dunleavy-Gasol-Noah) tem saldo de 5,6 pontos em média por 100 posses de bola, em 271 minutos. O segundo, porém, trocando Rose por Hinrich, despenca para -7,0, em 118 minutos. O terceiro, com Hinrich no lugar de Dunleavy e Gibson na vaga de Noah, sobe para 3,7, em 116 minutos.  Uma curiosidade é que, das seis melhores combinações, cinco têm o baixinho Aaron Brooks em quadra, perdendo apenas para um quinteto com Rose-Hinrich-Butler-Mirotic-Gasol. Todas essas formações, no entanto, ganharam muito pouco tempo de quadra e apresentam um saldo de cestas irreal. Outro padrão detectado: Hinrich teria de jogar ao lado de Mirotic e/ou Brooks, para compensar no ataque.

Vale a pena prestar a atenção em Brooks, de todo modo. É engraçado isso, mas ele está repetindo, mesmo, aquilo que aconteceu com DJ Augustin e Nate Robinson, fazendo a melhor temporada da sua vida como reserva do Bulls, seja em eficiência como em produção por minuto. Com o ligeirinho em quadra, o Bulls vence seus adversários por +6,2 pontos/100, quase o dobro de sua média na temporada. Apenas três dos dez quintetos em que ele aparece dão saldo negativo. Por outro lado, ele só ficou ao lado de Rose por 35 minutos. Tiveram tremendo sucesso juntos. Talvez pelo fato de Brooks aliviar a pressão em Rose como força criadora. Outro que merece mais minutos: Mirotic.

São diversas as opções de troca para o técnico fazer o time decolar, enquanto Rose vai se redescobrindo em quadra. Para o armador se consagrar, é preciso primeiro que o time esteja pronto, posicionado para realizar grandes façanhas, como aconteceu contra Golden State – e que ele renda muito mais do que fez na metade inicial do campeonato, claro. Num cenário ideal, com muito território para ocupar e um grande potencial a ser explorado, o Bulls não precisaria de atos salvadores do astro: venceria os jogos antes disso. Agora, se for preciso e ele entregar, seria, sem dúvida, a notícia mais empolgante para a torcida Chicago.


Personagens dos playoffs: Nenê. Ele mesmo
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Nenê x Joakim Noah teve placar favorável ao brasileiro

Nenê x Joakim Noah teve placar favorável ao brasileiro

Nenê já está há 12 anos na NBA, e tem gente que ainda não se conforma: como pode alguém que combine tanta força física, velocidade e técnica não ser uma estrela na liga? Ou mesmo uma superestrela? No ataque, o pivô realmente sabe fazer um pouco de tudo. Seu chute de média distância cai de modo frequente a ponto de percisar ser marcado – e, se o defensor não o pressionar, pode pagar o pato com o brasileiro, ótimo passador, deixando alguém de frente para a cesta. Ele ainda pode bater em velocidade em direção ao garrafão. Aguenta o tranco jogando de costas e também sabe lidar bem com a eventual dobra. Completo.

E aí o grandalhão vai lá e arrebenta com Joakim Noah e o Chicago Bulls, numa rara série que terminou cedo nestes playoffs completamente alucinantes. Teve quem disse que já não era a hora, mas também teve quem se surpreendesse pelo fato de ele ter sido dominante por diversos jogos em sequência.

Ao final do confronto, mesmo alguém orgulhoso como Noah não teve como não elogiá-lo — dias depois de fazer das suas provocações, uma vez que obviamente ele não iria deixar passar despercebida a expulsão do adversário no Jogo 3. “Ele foi um monstro lá embaixo, você tem de dar muito crédito para ele”, afirmou. Vejamos, num vídeo editado pelo Coach Nick, do BBallBreakdown:

Então fica essa inquietação, mesmo, entre os americanos. O que acontece?

Aqui do nosso lado, embora Nenê não seja dos personagens mais comunicativos e falantes, temos mais base para falar a repeito, né? Contexto é tudo, e dá para começar falando sobre mentalidade. Fora religião, das poucas coisas que o pivô fala abertamente, sempre sai algo na linha do conjunto, espírito coletivo etc. No seu caso, não é baboseira, algo treinado. Acho que já escrevi isso aqui, então corre-se (sempre) o risco da repetição: mas qualquer um que o veja em ação, sabe que ele não está preocupado com números, com espetáculo para as câmeras, nem nada. De vez em quando sai uma cravada de top 10, mas é sabido que o cara faz e gosta de fazer o básico, e muito bem, obrigado. Com a ressalva de que “básico” aqui vale como “elementar”, “fundamental”, e, não, algo “trivial”. E não é todo mundo que dá conta disso.

“São todas as suas intangíveis”, afirma o treinador Randy Wittman. “Usso essa palavra para Nenê o tempo todo. Ele pode pontuar, arremessar, driblar, passar e pode defender. Quando não o temos em quadra, não existe outro que possa fazer todas essas coisas.”

Essa abordagem do jogo é muito bem-vinda pelos técnicos, mas pode ficar perdida em meio a tantos egos e marketing da liga norte-americana. Não é nada midiática. Ninguém vai por em slow motion um corta-luz perfeito ou um passe preciso para Marcin Gortat em movimento de high-low. Ainda mais que seu parceiro polonês não ajuda!  Ele tem aquele jeito é todo malucão, mas também se dá por satisfeito em por a bola no quadradinho por uma cesta simples. Para completar, a presença de Gortat também empurra Nenê para mais longe da cesta. Ele nunca atacou tão distante do aro assim, em toda a sua carreira. Além disso, seu número de cravadas é inferior à metade do que somava nos tempos de Denver.

Aliás, quem não se lembra das temporadas do Nuggets em que até mesmo Earl Boykins e Voshon Leonard arriscaram mais? O jogo discreto do são-carlense pode até mesmo ser ignorado, atropelado por seus próprios companheiros. Ao menos, em 2004, o ala Jon Barry ficou para trás. E como faz? Você tem um pivô com tantos recursos e permite que um cestinha medíocre como Voshon Leonard fique tanto com a bola? Loucura do técnico Jeff Bzdelik! Ou não. Foram várias as ocasiões que vimos George Karl, o sucessor, implorar publicamente para que o brasileiro fosse mais fominha, para que chamasse mais o jogo. Mas essa simplesmente não parece uma vocação natural para o atleta. É por isso que Wittman também diz: “Ter ele de volta nos ajudou muito”.

Dono do Wizards, Ted Leonsis veste camisa de Nenê em jogo de gancho

Dono do Wizards, Ted Leonsis veste camisa de Nenê em jogo de gancho

E aqui chegamos a outro ponto: ter-ele-de-volta implica que ele estava fora. O pivô ficou afastado do Wizards por seis semanas, devido a uma lesão no joelho. Dessa vez, porém, o timing foi favorável ao jogador: ele conseguiu retornar pouco antes de a temporada regular se encerrar, a ponto de desenferrujar, estando ao mesmo tempo mais descansado.

Lesões: algo recorrente na trajetória de Nenê, que só teve quatro temporadas com pelo menos 90% dos jogos disputados e que em apenas uma ocasião, 2009-10, foi para a quadra em todas as rodadas, já recuperado de um câncer. Tantas ausências, claro, levaram os mais críticos a julgá-lo por chinelinho. Até porque, sempre que possível, alguém não vai perder a chance de arrebentar o joelho de modo proposital, claro, na primeira partida da temporada, com apenas três minutos de jogo.

Os problemas físicos foram tantos que causam, sim, danos psicológicos. Por exemplo: na penúltima partida desta temporada, Wittman usou o atleta por 24 minutos, acima dos 16 a 20 estipulados, dando a ele a chance de marcar 18 pontos, se soltando em quadra. Em vez de celebrar, o paulista disse: “Isso me surpreendeu um pouco. Foram cinco minutos a mais, mas tudo bem. Estou gostando do que vejo, mas espero que nós mantenhamos os minutos que havíamos combinado, porque se eu forçar muito a barra, posso acabar pagando o preço. Então espero que possamos controlar meus minutos um pouco”. Que jogador gosta de se preocupar com esse tipo de coisa?

Então fica assim, para a turma do amendoim. Chinelinho nos Estados, desertor no Brasil. Vai ser difícil esquecer as vaias que o pivô tomou no Rio de Janeiro naquele histórico jogo de pré-temporada contra o mesmo Bulls, mas que acabou nos proporcionando um episódio famigerado desses. A questão da seleção é mais complexa, discutida aqui, mas não deixa de ser irônico que aqueles torcedores enfezados de outubro agora tenham de sentar na poltrona em casa e conviver com isso, enquanto o pivô passava por cima do melhor defensor da liga.

Aqui cabe um parêntese também: dias depois da eliminação, Noah passou por uma cirurgia no joelho esquerdo, que o vai deixar de molho por dois a três meses. O francês havia acusado suas dores ainda nos vestiários do United Center, mas sem querer usar como desculpa. Não estava 100%, mas um JoJo limitado é chato o bastante para tirar o sono de muita gente. Menos Nenê, dessa vez.

O brasileiro, de qualquer forma, não foi decisivo apenas atacando. Na defesa, anulou Carlos Boozer quando requerido – como no quarto período do Jogo 5, após a lesão de Taj Gibson -, mas, principalmente, ajudou a cortar as linhas de passe que Noah adora explorar. “Eles me pressionaram muito, muito mais do que o normal”, diz o pivô, quando seu time ainda tinha chances. “Tenho de fazer um trabalho melhor para manter a bola viva e evitar o turnover.”

Com sua agilidade e envergadura, Nenê também pode ser um defensor implacável e versátil, combatendo no garrafão ou flutuando no perímetro de modo agressivo, a ponto de incomodar até mesmo armadores. DJ Augustin e Kirk Hinrich, no caso, nem representavam tanta ameaça.

Nenê anula Carlos Boozer, para desgosto da torcida do Bulls

Nenê anula Carlos Boozer, para desgosto da torcida do Bulls

A relevância do brasileiro para o Wizards, todavia, vai além de sua técnica. Em Washington, o jogador assumiu naturalmente um papel de mentor, num elenco pouco experiente e carente de boas referências depois do convívio com JaVale McGee e Andray Blatche.Na hora de enfrentar um time encardido como o Bulls de Thibs, então, era necessário que assumisse a iniciativa, até para facilitar a adaptação de John Wall e Bradley Beal a uma nova realidade. Cabia a ele guiar sua galerinha. Mesmo assim, com a vaga nas semifinais do Leste garantida, ainda fez questão de falar de seus dois novos irmãozinhos.

“Estou muito feliz por Bradley Beal e John, porque muita gente disse coisas ruins sobre eles, que os dois não conseguiriam  jogar bem nos playoffs”, disse o pivô, provavelmente se referindo a cornetas da capital norte-americana, uma vez que, no geral, os dois jovens foram bastante elogiados durante a temporada. “Tiro o meu chapéu para eles.”

“Acho que tudo o que a gente enfrentou foi necessário para nos dar maturidade, experiência. Tudo acontece por algum motivo, e essa é a razão para estarmos nessa posição. Estivemos aprendendo nos últimos dois anos, e agora é o nosso momento”, continuou.

A reverência precisa se feita, antes de tudo, para o próprio pivô, que teve médias de 17,8 pontos, 6,5 rebotes, 3,3 assistências e 1,5 roubo de bola, matando 54,8% dos arremessos em quatro partidas. Nem o péssimo aproveitamento nos lances livres, de 30% – com poucas tentativas, diga-se -, afetou sua produção. Nenê foi muito mais agressivo, elevando sua média de 11,2 arremessos por jogo na temporada regular para 15,5 na primeira rodada dos playoffs.

Por quatro partidas, Nenê realizou aquilo que muitos projetam para seu basquete. Não que sinta-se obrigado a dar qualquer tipo de satisfação. “Eu só ligo para aquilo que posso controlar. Sou muito profissional e estou muito maduro para lidar com isso. Já passei por várias situações difíceis”, afirmou ao Washington Post. “Quem odeia, odeia, não tem o que fazer. Só podemos controlar aquilo que trabalhamos aqui, nossa atitude, nosso jogo. Isso é algo que os críticos não podem mudar. Vamos jogar duro e com muita paixão. Quem odeia conhece o passado. Eu conheço o presente. Mas o futuro só deus sabe.”

Bem, o futuro imediato coloca Nenê e Gortat de frente com dois pesos pesados do Indiana Pacers, Roy Hibbert e David West. Mais dois problemões para o brasileiro encarar, contra os quais faria bem manter o nível apresentado contra Noah, Gibson e Boozer. “Se não existissem aqueles que nos odeiam, não conseguiríamos atingir nossos objetivos, sabe? Acredito que podemos surpreender se jogarmos do modo certo. Acredito nos meus companheiros  e que podemos fazer algo especial”, disse. Obviamente, para Wall, Beal, Ariza e Wittman a recíproca hoje é bem verdadeira


Notas sobre a pré-temporada: Splitter, Monocelha, Rose, Oladipo e mais
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

 – O San Antonio Spurs não resolveu pagar US$ 36 milhões para Tiago Splitter para deixá-lo no banco ou diminuir seu papel no time, né? Para um técnico que pensa tanto a longo prazo como Gregg Popovich, o lema de não levar tão a sério o que acontece nesta época do ano vale ainda mais, certo? Sim, sim. É de se esperar que sim. Pois o catarinense anda um tanto devagar. Depois de passar zerado na partida contra o Atlanta Hawks, na quinta-feira, ele tem apenas 22 pontos e 18 rebotes em quatro partidas até o momento, jogando por 70 minutos. Para comparar, o australiano Aron Baynes acumulou 37 pontos e 26 rebotes pontos nos mesmos 70 minutos. Recém-contratado, Jeff Ayres, ex-Jeff Pendergraph, já ficou em quadra por 73 minutos e vem se mostrando um bom passador, com 10 assistências. Não é que o brasileiro venha sendo preservado pelo treinador: enquanto o pivô disputou os quatro jogos do San Antonio até este sábado, Tim Duncan, Manu Ginóbili e Tony Parker já foram poupados em pelo mens um um deles.

Oh, my...

Sem palavras, Anthony Davis

– Anthony Davis, Anthony Davis, Anthony Davis… O novato número um do Draft de 2012 está voando. Ele marcou mais de 21 pontos em suas primeiras quatro partidas. Na quinta, deixou cair a peteca: foram só 18. Sua média é de 22,6 pontos até aqui. O ala-pivô voltou das férias mais forte e muito mais confiante em seu repertório ofensivo, atacando o aro e também convertendo os chutes em flutuação, enquanto na defesa continua estocando bloqueios e roubadas sem parar. Já estaria pronto o Monocelha para ingressar na elite da NBA? Não faz muito tempo em que o jogador era extremamente cobiçado pelos olheiros da liga, comparado a Tim Duncan e tudo isso. Seu ano de novato não foi ruim de modo algum, mas o excesso de pequenas lesões, a explosão de Damian Lillard em Portland e o gigantismo de Andre Drummond acabaram por ofuscar Davis um pouco. Mas só um pouco. Agora ele pretende justificar toda a badalação que recebeu em Kentucky.

– Ao que tudo indica, as dores no joelho de Derrick Rose não eram tão sérias ou incômodas assim. Acreditem se quiser, então: chegou o dia em que Tom Thibodeau foi precavido ao lidar com seus jogadores! O técnico do Bulls pode ter deixado muita gente frustrada no Rio de Janeiro ao sacar sua estrela do amistoso contra o Wizards, mas para o torcedor mais fanático pelo time de Chicago essa só poderia ser uma ótima notícia, independentemente do quanto o armador renderia no retorno aos Estados Unidos. E o que vimos? Rose arrebentando com Pistons e Pacers. Contra o Detroit, foram 22 pontos em 22 minutos. Contra o Indiana, 32 pontos em 31 minutos. Está bom? Calma, que tem mais: o jogador vem com um desempenho sensacional na linha de três pontos, tendo convertido seis dos últimos dez arremessos nas últimas três partidas, o que dá 60% (dãr). A média em sua carreira? Só 31%. Se o atleta realmente conseguiu melhorar dessa forma seu chute de longa distância durante a última temporada de suplício… Digo, obviamente ele não vai arremessar 60, nem 50% durante o campeonato, mas se beirar os 40% já seria um progresso incrível e um pesadelo para seus marcadores.

– As limitações físicas de Joakim Noah, ainda sofrendo com dores na virilha, são o que mais incomodam Thibodeau, então, neste momento. Taj Gibson é que não vai reclamar de nada. O ala-pivô construiu sua reputação na liga com base em sua capacidade na defesa. A julgar pelo que vem apresentando nestes primeiros jogos em outubro, pode ser que na outra tábua seu jogo também tenha se expandido. Ele pontuou em duplos dígitos nas cinco partidas do Bulls, com média de 15 pontos por jogo (contra 7,9 na carreira e 8,0 na temporada passada) e acertou 62,5% de seus arremessos, muitos deles cravadas de se levantar da cadeira. Qualquer melhorias neste sentido também seria um ganho enorme para Thibs, na hora de o treinador promover sua já tradicional substituição de Boozer por Gibson nos minutos finais das partidas: ele fortaleceria sua retaguarda e não perderia muito no ataque, desde que seu reserva consiga render ofensivamente, especialmente convertendo arremessos de média distância.

– Sobre o Pacers, o que dizer? São cinco jogos, cinco derrotas. Todo mundo vai dizer que pré-temporada não serve para avaliar nada, e tal… Mas o último time a passar batido pela fase de amistosos, sem nenhuma vitoriazinha sequer, foi o Los Angeles Lakers no ano passado. E sabemos muito bem o que saiu daí. Era de se imaginar algumas dificuldades para Frank Vogel, num período em que ele tem de integrar um monte de novos reservas ao seu esquema defensivo e, ao mesmo tempo, precisa tirar o ferrugem do ala Danny Granger. Sua equipe também ainda não enfrentou nenhuma baba (dois duelos com Bulls, dois com Rockets e um com o Mavs). Mas… Nenhum triunfo para o vice-campeão do Leste? A ver. Granger, aliás, não vem muito bem. Ele acertou apenas 14 de seus 44 arremessos de quadra (31,8%). Ao menos de longa distância ele vem matando: 8/17 (47%).

Darren Collison ama Chris Paul

Claver tenta, mas está difícil de parar Darren Collison, o reserva ideal do CP3

– Parece que o negócio de Darren Collison é ficar perto de Chris Paul, não? Até hoje, o armador viveu seus melhores dias na NBA em sua campanha de calouro, em 2009-2010, quando foi selecionado pelo New Horleans Hornets para ser o reserva do superastro. Acontece que CP3 se lesionou bastante naquela temporada, e o jogador revelado pela UCLA acabou ganhando muitos minutos e deu conta do recado de forma surpreendente até, com médias de 18,8 pontos e 9,1 assistências nas partidas em que começou como titular. De lá para cá, porém, não conseguiu repetir esse tipo de números, com dois anos muito irregulares pelo Indiana Pacers, além de uma passagem bastante frustrante pelo Dallas Mavericks, na qual deixou o técnico Rick Carlisle maluco por sua indisciplina defensiva e alguns hábitos indesejados no ataque. Sua cotação caiu tanto que, como agente livre, se viu forçado a assinar pelo mínimo com o Los Angeles Clippers… Para ser reserva de Paul novamente. E o que vemos na pré-temporada? Alguns jogos impressionantes do armador, claro. Nesta sexta, por exemplo, ele somou 31 pontos e seis assistências em derrota para o Portland Trail Blazers – foi tão bem que ficou em quadra por 34 minutos, forçando Doc Rivers a colocá-lo ao lado de seu franchise player. Collison também teve duas partidas com dez assistências, sendo que, contra o Sacramento Kings, no dia 14, terminou com um double-double, anotando 20 pontos em 36 minutos. Se conseguir repetir esse tipo de desempenho nos jogos para valer, o armador pode complicar um pouco a vida de Rivers, mas sem deixar que o técnico lamente a saída do dinâmico Eric Bledsoe.

– Para o Oklahoma City Thunder, outro concorrente de ponta na Conferência Oeste, o importante é a acompanhar como está o desenvolvimento do ala Jeremy Lamb, que, em sua segunda temporada, será obrigado a arcar com muito mais responsabilidades, assumindo o lugar que um dia foi de James Hardem na rotação da equipe. Se sua capacidade atlética e envergadura pode reforçar a defesa de perímetro do time, deixando as linhas de passe ainda mais apertadas (já foram nove bolas recuperadas em quatro jogos…), no ataque sua mira de três pontos está totalmente desarrumada: converteu apenas três chutes em 17 tentados (17,6%). Se o ala não der um jeito de trabalhar esse fundamento, a vida de Kevin Durant no ataque ficará muito mais complicada, com mais jogadores concentrados na ajuda.

– Entre os novatos, o destaque fica, por enquanto, para o ala-armador Victor Oladipo, segunda escolha do Draft, aposta do Orlando Magic. Um competidor feroz, ele vem saindo do banco pelo jovem time da Flórida, mas causando impacto nas partidas com sua capacidade atlética invejável e muita dedicação e versatilidade. Em cinco partidas até aqui, são 14,2 pontos, 5,5 assistências, 6,2 rebotes e 1,8 roubo de bola, isso sem ter jogado mais que (!) 30 minutos em nenhuma ocasião. Olho nele: nunca foi muito badalado quando adolescente, mas, em seus três anos na universidade de Indiana, evoluiu demais para se tornar um prospecto de elite. Tem tudo para se tornar rapidamente um líder em Orlando.

Que mais que vocês vêm reparando?


Bulls vence, mas volta para Chicago tenso com Rose; Nenê recebe duras vaias
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Nenê e um sábado de vaias no Rio

As vaias a Nenê acabam roubando a cena em vitória do Bulls

O Corcovado, o Pão de Açúcar, as diversas praias, o humor e a hospitalidade dos cariocas e uma vitória. Cada membro da delegação do Chicago Bulls poderia estar retornando neste fim de semana para os Estados Unidos com a bagagem pesada, repleta de boas lembranças, celulares e computadores abarrotados de fotos sorridentes e de uma paisagem com a qual eles não estão nada habituados.

Mas, com o desfalque de Joakim Noah e, principalmente – e bota principalmente nisso –, Derrick Rose, Tom Thibodeau, diretoria e seu elenco só podem embarcar no avião um pouco preocupados, para não dizer assustados. Depois de duas partidas amistosas nos Estados Unidos e alguns eventos promocionais na Cidade Maravilhosa, seu armador e principal esperança foi vetado (de última hora?) para o confronto com o Washington Wizards, neste sábado, sentindo dores no joelho esquerdo.

A notícia começou a pipocar nos veículos de Chicago, deixando a galera por lá agitada. Nestes tempos em que a palavra e/ou a imagem correm o mundo em alta velocidade, quando oficial, a informação só pôde desanimar os fãs do clube hexacampeão que demoravam em chegar à Arena HSBC, presos no tráfego pesado. Fica a frustração, claro, de não poder ver uma aberração atlética dessas de perto, mas, a longo prazo, a tensão é muito maior.

Precaução em excesso? Dores normais para quem ficou tanto tempo parado? Será? Não teria Rose ficado fora de toda a temporada passada justamente para, na hora de retornar de uma ruptura no ligamento, não ter nenhum percalço? A diretoria e os médicos do clube vão ter muito o que explicar no desembarque em casa.

Sem o armador? Não há a menor chance de o Bulls competir por um título ou nem mesmo por uma das primeiras posições de uma Conferência Leste bem mais forte. Até porque dessa vez não há nem mesmo um tresloucado Nate Robinson como uma apólice de seguro para substitui-lo. Antes de falar de Marquis Teague, melhor esperar um diagnóstico mais preciso sobre o suposto titular.

Sobre Noah, os cuidados são bem menos preocupantes. Ele tem uma lesão na virilha, que cuida aos poucos. Provavelmente jogue na próxima partida de pré-temporada. De todo modo, um pecado para o torcedor que foi ao ginásio. Noah é também ao seu modo um atleta de qualidades impressionantes, com velocidade, energia e coordenação incomuns para alguém de sua altura.

No fim, no lugar deles, o público foi… Hã… Brindado com Kirk Hinrich e Nazr Mohammed. Nada contra eles. O armador é um exemplo de operário,d e gente que faz muito com pouco em quadra – na verdade, um jogador que serve como exemplo bem mais realista para qualquer basqueteiro do que um Rose. O outro já foi campeão pelo San Antonio Spurs e também se firmou na liga como um veterano de respeito, mais uma influência positiva no vestiário.

As vaias
Ao menos Nenê, que ainda não está na melhor forma, jogou.

Mas será que alguém no ginásio estava interessado em vê-lo ou admirá-lo?

O Wizards obviamente esperava que sim. Em seu primeiro ataque, quem foi acionado? Bola para ele, claro, numa jogadinha básica. O grandalhão, vaiado em seu discurso de agradecimento (vejam só), recebeu na zona morta pela direita, fez o giro e tentou um arremesso sem muita elevação, bem marcado por uma defesa que costuma contestar bolas muito mais criativas que essa.

Ainda está sem perna o paulista. Foi tirado de quadra rapidamente no primeiro quarto. Quando voltou para quadra, não conseguiu se destacar, limitado a cinco pontos e seis rebotes em 20 minutos, com uma cesta de quadra em seis tentativas.

Agora, para aqueles inclementes, fica um exercício de imaginação: se em 12 de outubro ele se apresentou desta forma, como seria seu desempenho, digamos, num dia 30 de agosto, quando a Copa América teve início? Talvez, um mês e meio atrás, Nenê pudesse fazer de Caio Torres realmente um pivô ágil, numa comparação direta..

Que coisa, hein? Que coisa deselegante, na verdade. Dá para entender que haja, para os mais rancorosos, a insatisfação com o constante pula-fora da seleção brasileira. O mesmo público que vaiou minutos depois iria aplaudir Oscar Schmidt, justamente a voz crítica ao pivô com mais reverberação midiática, para além das fronteiras do basquete. Havia também muitos torcedores vestidos de Bulls o torneio, que talvez vaiassem até mesmo Michael Jordan trajado de Wizard – mas não imagino que tenha sido clubismo a maior influência aqui.

É de se questionar se todos que o vaiaram sabem exatamente os motivos que levaram o são-carlense a tomar algumas decisões no decorrer de uma carreira longa e acidentada na NBA. Quando se ausentou e quando ele simplesmente estava fora de combate? Quem se lembra da cronologia completa?

O pior foi ver as vaias se repetirem durante o jogo, implacáveis, quando o atleta foi para a linha de lances livres. Leandrinho também recebeu das duas quando anunciado no ginásio. Lamentável – e não é uma exclusividade do basquete: Thomaz Bellucci, o número um do tênis, já foi achincalhado no Ginásio do Ibirapuera, a Seleção de futebol já foi banhada por bandeirinhas no Morumbi, e por aí vamos… É um esporte nacional, como disseram os companheiros do Draft Brasil.

Realmente lastimável, incluindo a participação do mesmo Oscar ao vivo na RedeTV. “O povo não esquece, o povo sabe tudo”, sentenciou o legendário ala, em entrevista. A questão não é a opinião em si, ter intolerância com quem pensa diferente. Só incomoda os modos, a educação. Ou melhor: a falta deles, na hora de se manifestar. Magic Paula? Durante a transmissão, muito mais sensata, sem se preocupar em julgar qualquer um a cada momento. Não surpreende, claro.

Sobre o jogo: vimos um Bulls mais bem preparado, sem se deixar abalar pela ausência de seus dois principais jogadores, vencendo por 83 a 81. Típico de Thibs. Não que a máquina esteja azeitadinha, como se fosse abril. Mas a continuidade do trabalho e a seriedade de seu treinador ajudam um bocado, não importando o mês. Os reservas do Wizards ainda endureceram o jogo, numa noite em que Eric Maynor foi melhor que John Wall.

Mas venceu o melhor programa. Não que eles se matarão de comemorar, sem ter Rose ao lado.

Na verdade, era para ter sido uma festa geral. Mas nem o anfitrião conseguiu ser celebrado.


Marketing rigoroso da NBA serve de exemplo antes de amistoso
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Wizards in Rio

Nenê e a rapaziada de Washington no Rio de Janeiro

A atração principal está marcada para o dia 12, sábado, 18h, na Arena HSBC, no Rio de Janeiro. Mas, até lá, a NBA deu, claro, um jeitinho de colocar os jogadores de Chicago Bulls e Washington Wizards mais próximos dos cariocas, com eventos que começaram nesta quinta-feira.

A liga abriu os portões do ginásio muito mais cedo do que o esperado para o dia do fã, com duração de cerca de 1h30, reunindo milhares de torcedores que estarão, ou não, presentes no amistoso. Houve disputas de três pontos, desafio de habilidades e chutes do meio da quadra, com os atletas das equipes envolvidos – Carlos Boozer, o pivô que nasceu em Aschaffenburg, na Alemanha, foi educado no Alaska e já ganhou mais de US$ 114 milhões em sua carreira. Estavam lá mascotes e cheerleaders também.

Mais tarde, em uma loja na Barra da Tijuca, Derrick Rose e Joakim Noah estavam escalados para uma sessão de autógrafos, com a companhia de Oscar Schmidt. Nesta sexta, outros cinco atletas do Bulls compareceram a uma sessão de fotos em shopping center. Agora de tarde, Oscar voltará à cena para acompanhar John Wall em um passeio no Corcovado, para ver a estátua do Cristo de perto.

Parece pouco? Só considere que os atletas desembarcaram na quarta-feira. Ainda foram treinar na quadra do Flamengo – estão em plena fase de pré-temporada, com os técnicos ansiosos por qualquer minutinho a mais em quadra para passar novos conceitos, entrosar reforços e colocar a turma em forma.

Muitos desses jogadores também certamente contam com alguns minutinhos livres para visitar pontos turísticos da cidade por conta – se o Bruce Springsteen foi curtir um rolê pelo bairro da Lapa, por que os atletas não topariam essa? Um punhado deles ao menos conseguiu ir ao Maracanã ver o Flamengo jogar.

Mas o marketing da NBA pode ser tão rigoroso quanto um treino de Tom Thibodeau, ciente do impacto que seu inédito evento no Brasil pode causar.  Para reforçar, ainda vão lançar uma campanha com comerciais de TV voltada especificamente para fãs internacionais, com o lema “One Game, One Love”, inaugurada em sua série de amistosos promovidos nesta pré-temporada, envolvendo oito cidades fora dos Estados Unidos.

(Não obstante, por conta própria, ambos os clubes e muitos de seus jogadores são presença constante em redes sociais, postando fotos in loco, dando um salve geral, num nível de aproximação com o público que poucas ligas conseguem emular.)

Há quem veja isso tudo como “coisa do capeta”, pensando que talvez o esporte pudesse sobreviver por conta própria, sem ações comerciais que lhe viabilizassem financeiramente. Em 2013? Sem chance.

Um jogo de pré-temporada entre quaisquer clubes pode ser divertido para um país que nunca viu esse tipo de atleta de perto. Inegável. Mas poder ver de perto as estratégias de ocupação da turma de David Stern é o que impressiona mais e fica de modelo.


Greg Oden tenta, mais uma vez, deixar o limbo. Heat, Spurs e mais três estão interessados
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Greg Oden, prestes a sair do limbo

Greg Oden vai tentar novamente

Miami Heat e San Antonio Spurs vão brigar pelo título.  New Orleans Pelicans e Dallas Mavericks tentam chegar aos playoffs na duríssima Conferência Oeste. E ainda tem o Sacramento Kings, franquia que enfim entra em um processo de reformulação em sua gestão.  O que esses diferentes clubes têm em comum?

Seus dirigentes ainda acreditam.

Que Greg Oden ainda pode ser um pivô de NBA.

Perdido num limbo para lá de melancólico, tentando colocar o corpo em ordem, seis anos depois de ter sido escolhido com o número um do Draft, o pivô negocia com essas cinco franquias (no momento) seu eventual retorno às quadras.

Criado em Indiana, um estado sagrado na produção de craques e no cultivo do grande jogo como um todo, o adolescente Oden parecia destinado a grandes feitos. A ser mais um da linhagem dos superpivôs americanos, dialogando no colegial com gente como Alcindor e Chamberlain. Acreditem, este era o papo que rondava o garotão em seus anos de colegial, badaladíssimo. Não havia dúvidas a respeito.

A ponto de, em 2007, mesmo com algumas questões médicas já levantadas na época, o Portland Trail Blazers o escolher à frente de Kevin Durant, que havia barbarizado a NCAA inteira em seu primeiro ano por Texas. Você simplesmente, na cabeça de muita gente, não podia virar as costas para um grandalhão talentosos desse.

Já sabemos no que deu tudo isso. Uma tragédia.

Oden, queria ser grande

O que aconteceria se Oden…?

Oden só conseguiu disputar dois campeonatos pelo Blazers. Na somatória dessas duas campanhas, chegou a 82 partidas, um número extremamente irônico, já que representa a exata medida de uma temporada regular. Foram diversas contusões e lesões, as mais graves no joelho. Ao todo, o atleta precisou passar por cinco (5!) cirurgias nos joelhos, três delas daquelas mais temidas, as de microfratura. Não disputa uma partida desde 5 de dezembro de 2009 (sim, 2009, muito triste).

Nesse período, o sujeito imergiu em um estado depressivo, assumiu publicamente ter se tornado um alcoólatra e teve muita dificuldade para lidar com a pressão/decepção dos apaixonados torcedores da única franquia profissional de Portland (entre as quatro grandes ligas). Já não bastassem os problemas físicos, ainda teve fotos, digamos, íntimas suas vazadas na rede e perdeu um primo de quem era muito próximo, devido ao câncer. Além disso, ainda viu um cachorro cego, do qual cuidou por quatro anos, cair da varanda do oitavo andar de um hotel. Sem brincadeira.

Por duas pré-temporadas ele se apresentou ao Blazers sem estar 100% reabilitado. Foi apressado para a quadra mesmo assim – e isso obviamente não deu certo. Acabou dispensado em 2012, quando o clube precisava abrir espaço em sua folha salarial para fechar uma troca que, meses depois, lhe renderia o armador Damien Lillard.

Para tirar tudo isso da cabeça, Oden se afastou de quadra por um tempo. Retomou as aulas na universidade de Ohio State, fugiu dos microfones, tentou viver uma vida normal, na medida do possível. Até retomar as atividades em quadra, gradativamente, trabalhando primeiro seu corpo – chegou a passar pelo mesmo tratamento com plasma na Alemanha, um procedimento eternizado por Kobe Bryant e Alex Rodríguez. O fato de ter visitado Portland em abril só pode ser encorajador – aparentemente, não há mais traumas ali a serem revisitados. Pelo menos da sua parte. “Foi como (ver) um fantasma”, disse sem muitas cerimônias o ala-pivô LaMarcus Aldridge, na ocasião. Aldridge que supostamente viria a formar com o rapaz uma nova edição das Torres Gêmeas no Noroeste americano. “Ele pareceu magro. Disse que estava vestindo seus ternos da noite do Draft”, completou. No dia 5, de todo modo, estava lá o grandão na plateia para ver a partida contra o Memphis Grizzlies. Quando foi mostrado no telão do ginásio, ouviu aplausos e vaias. Terapia.

Agora, aos 25 anos, ele tenta um (?)m último retorno. Com todo o cuidado do mundo, abortou qualquer plano de disputar a última temporada, mesmo que estivesse fisicamente apto – e que o assédio dos clubes já tenha sido grande, especialmente por parte de Boston e Cleveland. Mas não tinha motivo para pressa. Ficou treinando por conta, entrando em forma.  Segundo relatos do ala DeShaun Thomas, recém-draftado pelo Spurs e formado na mesma universidade, o jogador está magro, em forma. “Ele parece incrível. Está correndo, puxando peso. Podemos estar diante de um regresso, mesmo”, afirmou.

Difícil dizer o que esperar do jogador nessa situação. Primeiro pela desconfiança quanto a sua durabilidade. Fora isso, o quanto suas habilidades estariam apuradas depois de mais de quatro anos sem jogar uma partida para valer? Mesmo que esteja inteiro, o que ele poderia oferecer hoje? Não há como saber até que um contrato seja assinado e ele passe a ser testado em treinos contra atletas de alto calibre. “Espero que possa contribuir para um bom time. Eu definitivamente me considero este tipo de jogador, mas primeiro tenho de entrar em quadra”, afirma.

O que temos em mãos hoje é muito pouco. Nas 82 partidas que realizou, Oden somou 9,4 pontos, 7,3 rebotes e 1,4 toco. A princípio, nada de outro mundo.  Sua média de minutos, porém, era de apenas 22,1tes. Fazendo as projeções por 36 minutos, então, chegamos a números mais expressivos como 15,3 pontos, 11,9 rebotes e 2,3 tocos. com 57,7% de acerto nos arremessos e um lance livre de dar inveja em Dwight Howard (66,6% no geral e 76,6% em 2009). Para os que não são muito fãs de projeções estatísticas, vale notar, então,que em seus últimos sete jogos antes da lesão do dia 5 de dezembro, ele tinha médias de 15,6 pontos, 9,1 rebotes e 2,4 tocos em apenas 26 minutos. As coisas estavam se encaixando e, para ter uma ideia melhor de seu potencial, vejam os melhores momentos abaixo:

 Os reflexos e explosão física impressionam. Veja o tamanho das mãos do sujeito também. Era para Oden ser uma força da natureza. Mas suas articulações não permitiram. De todo modo, levando em conta as centenas de milhões que a liga americana movimenta, não é de se estranhar que algum  dirigente ainda se sinta disposto – ou impelido – a apostar no jogador. E se dá certo? O dedo coça, mesmo.

Em Miami e San Antonio, Oden encontraria dois times que não dependeriam dele para nada – o que viesse desse investimento seria lucro. Caso se juntasse aos atuais bicampeões, haveria ainda menos cobranças. Se não der certo, Riley ao menos pode dizer que tentou. Por outro lado, para alguém tímido como o pivô, faria bem voltar à liga num time que chama tanta atenção? LeBron certamente o protegeria, mas sua simples presença já atrai holofotes demais. Em San Antonio, tudo isso se dissiparia rapidamente.

Oden, chega de blazer

Oden, chega de Blazer

Agora, se ele estiver realmente confiante e interessado em mais oportunidades para jogar, mostrar serviço, obviamente os outros clubes seriam mais indicados, especialmente o Pelicans, que tem uma lacuna imensa no garrafão a ser preenchida após a ida de Robin Lopez para, veja bem, Portland. Imaginem um cenário desses, que não dói nada. O renovado time de Nova Orleans brigando por vaga nos mata-matas do Oeste com o Blazers, com uma defesa ancorada por Oden? A Rip City entraria em colapso. Além disso, o Pelicans teria mais dinheiro a oferecer que os concorrentes: US$ 3 milhões por um ano. Para alguém que já fez US$ 23 milhões na carreira, será que a grana pesaria agora?

Provavelmente, não.

A essa altura, o pivô já se daria por satisfeito só de poder segurar uma bola de basquete nas mãos, poder dar dois dribles firmes e subir para a cravada. Podendo soltar o aro, cair com os dois pés firmes em quadra e poder voltar para a defesa sem mancar. Feliz só de se dizer um jogador de basquete.

*  *  *

O autor Mark Titus, ex-companheiro de Oden no time de Ohio State, foi o último a fazer uma grande entrevista com o pivô, para o Grantland. Imperdível. O material gerou uma baita repercussão em Portland. Em entrevistas aos sites locais, Titus relatou uma história bastante saborosa, que revela muito do humor que o pivô tem, mas que nunca pôde manifestar em público, devido a tantos contratempos em sua carreira. Os dois foram jantar. Na saída, iriam para a casa de Oden, que dirigia uma van nada luxuosa, “que provavelmente custou US$ 18 mil”, segundo Titus. “O interior estava um pouco trabalhado, mas nada muito maluco. Tinha algumas luzes, um CD player legal, e só. Olhei para ele meio que dizendo: ‘É isso mesmo?’. E ele: “Sim, não quero desperdiçar meu dinheiro em carros luxuosos’. E aí ele continuou: ‘E quer saber de uma coisa? Uma semana depois de ter comprado esta van, descobri que Kevin Durant teve exatamente a mesma van por dois anos’. Eu apenas sorri. E ele: ‘Eu nunca vou conseguir sair da sombra de Kevin Durant’, dando risada.”

*  *  *

O Draft de 2007 deu à NBA muito mais que Durant. Outros dois craques saíram dessa lista: Al Horford, a escolha número três, e Joakim Noah, que saiu apenas em nono, bizarramente atrás de Jeff Green, Yi Jianlian e Brandan Wright. Mike Conley Jr. (o quarto) e Thaddeus Young (12º) foram outros destaques na loteria. Mais adiante na lista apareceram ainda Tiago Splitter (28º) e, epa!, Marc Gasol (48º).