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Copa Intercontinental: aquele árbitro, Hettsheimeir, Mineiro e o que mais?
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Giancarlo Giampietro

Passada a ressaca de segunda-feira após quatro dias seguidos de jornada dobrada e visita ao Ginásio do Ibirapuera, vamos lá fazer uso do caderninho de anotações e da repercussão que tem o torneio na Espanha.

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Reynaldo Mercedes está de novo no centro das atenções por sua conduta, digamos, pouco inspiradora numa quadra de basquete.

Serio Rodríguez e Real Madrid x Reynaldo Mercedes

O veterano árbitro dominicano tem algumas partidas conturbadas em seu currículo, a começar pela final do Mundial de 2002 entre Argentina e Iugoslávia. Foi um dos homens pinçados para apitar a Copa Intercontinental no final de semana. Foi ele que excluiu Sergio Rodríguez no jogo de domingo. A princípio, vendo o jogo das tribunas, parecia tudo normal, pelo showzinho que deu o armador espanhol:

A bomba que solta em quadra e os gestos de cesta em direção ao árbitro são passíveis, mesmo de falta técnica, e tudo isso veio num contexto em que o Real Madrid já reclamava muito e demonstrava surpreendente nervosismo em quadra. Quando o Real Madrid, porém, conseguiu fazer com que a Euroliga requisitasse à Fiba uma investigação sobre Mercedes, as coisas se tornaram mais sérias. Vejamos: eles haviam sido campeões, estavam prontos para deixar o torneio para trás e voltar para casa, e ainda estavam investidos nisso? Que pasó?

Bom, alguma alma iluminada — ou que estava esperando por um deslize do sujeito — fez o favor de resgatar alguns tweets de sua autoria de 2012, nos quais se assume torcedor do Barcelona (no futebol…) e se alegra com uma derrota do Real. Pode ser pura bobagem. Não há problema que um dominicano tenha uma queda pelo lado catalão da força. Mas… Considerando que os dois clubes são gigantes na modalidade em que ele milita, esperava-se mais bom senso por parte do figura, não? É o que a Euroliga acredita, julgando-o desqualificado para apitar um jogo de basquete. Mas não só era só isso. O jornalista Ricardo González, do diário As, noticia também que Mercedes teria provocado Rodríguez antes dos lances livres, ofendendo e desafiando-o a, pelo menos, converter os arremessos. Viria daí a resposta do “Chacho”.

Em entrevista ao portal elCaribe.com, o dominicano tenta se defender. “É uma situação complicada devido à envergadura da equipe que faz a reclamação, mas é certo dizer que são são reclamações fora de contexto e sem fundamento. Desde quando é pecado ser árbitro de basquete e simpatizar com uma equipe de futebol? Meu comentário foi de anos atrás e era direcionado ao futebol. Não tem nada a ver com o basquete, muito menos com minha atuação dentro da quadra. Tenho fé que a verdade e o raciocínio lógico sobre a situação virá à luz, e que as entidades responsáveis sobre o basquete no continente e no mundo não darão razão a tal protesto. Entendo que as reclamações são do basquete. Agora tenho de esperar pela análise”, afirmou.

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O protesto formal contra Mercedes só mostra o quão a sério o Real Madrid levou a Copa Intercontinental, a despeito de suas limitações de momento. No domingo dia 28, estavam erguendo o quinto troféu seguido em São Paulo. No dia 21, seis de seus atletas estavam disputando a final do EuroBasket. Não é fácil. Nesta terça, dando sequência às festividades, e tentando fraturar um troquinho, porque ninguém é de ferro, o clube também pôs à venda uma camiseta comemorativa pela “temporada perfeita” que teve, com 100% de aproveitamento em cinco competições.

Sergio Llull, por sua vez, está nas nuvens:  

No final das contas, além de ter sido um baita chamariz, emprestando seu prestígio e chamando a própria torcida para o ginásio no domingo para ajudar a encher o Ibirapuera, o Real Madrid talvez deixe como maior legado sua dedicação à Copa Intercontinental, que foi disputada pelo terceiro ano seguido. Uma camisa desse peso faz toda a diferença e, imagino, ajuda a consolidar a competição, mesmo que seu formato não seja dos melhores. Essa coisa de duas partidas na decisão não entra na minha cabeça, mas é fato também que há muitos empecilhos de calendário para fazer qualquer alteração significativa. Com a reforma que ambiciona a Fiba, aliás, desconfio que o torneio fique a perigo.

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Sobre o Real, a última, já apontando para o futuro. Que atende pelo nome de Luka Doncic. O garoto esloveno (que, é importante frisar, por enquanto recusa o assédio da federação espanhola para que siga os passos de Nikola Mirotic) foi a grata surpresa dessa decisão. Aos 16 anos, já se vê realmente inserido nos planos de Pablo Laso com o terceiro armador da rotação, atrás dos Sergios. Assume o papel que coube a Facundo Campazzo, que é oito anos mais velho, vejam só. A partir do momento em que Rodríguez foi mandado ao vestiário, o papel do garoto ganharia relevância, ainda mais com Rudy Fernández e Jeffery Taylor fora de combate. Pois o garoto segurou o rojão sem o menor problema, estando em quadra inclusive nos seus minutos decisivos. Primeiro, deu alguns instantes preciosos de respiro ao MVP Llull e, depois, assessorou o espanhol na armação. Com o corpo lânguido, de 1,98m e poucos músculos, também não fugiu do contato num jogo muito físico e aguentou o tranco na defesa com Leo Meindl, por exemplo.

Alex é 19 anos mais velho que Doncic

Alex é 19 anos mais velho que Doncic

Mas é com a bola nas mãos, mesmo que Doncic captura sua atenção. Avança com naturalidade com a bola, a despeito da altura fora do comum para a posição e do biótipo que ainda não lhe favorece contra adversários mais agressivos. De qualquer forma, lidou com tranquilidade com a primeira linha defensiva bauruense e conseguia ganhar terreno em progressão rumo ao garrafão para, aí, mostrar o que tem mais de especial, que é a visão de quadra. O garoto executou alguns passes dificílimos, cruzando a defesa, com velocidade e precisão (e sem olhar, claro). É aí que a altura o favorece, ao menos, podendo passar por cima da montueira de braços que está entre ele e seu alvo. Ao todo, ele jogou 23 minutos e não tentou nenhum arremesso de quadra, mas não se esquivou de infiltrações e descolou seis lances livres. Deu três assistências, cometeu dois turnovers e conseguiu três roubos de bola. Mas esses números não dizem absolutamente nada.

De novo: ele nasceu em 1999 e, quanto mais jogar em alto nível, mais esses instintos vão se aguçar. Tem um potencial tremendo como distribuidor e no corte para a cesta. O que ele precisa melhorar bastante é o arremesso, que não é pouco, convenhamos. A cada final de treino do Real, quando enfim a comissão técnica liberava o acesso de estranhos, era possível ver o garoto chutando, chutando, chutando, e está claro que sua mecânica ainda é inconsistente demais e que vai levar tempo para se ajustar para situações de jogo. Mas, bem, tempo é o que não lhe falta. Não topou conversar ao final do jogo alegando que não pode dar entrevistas. Levando em conta a pouca idade a a rigidez protocolar de seu clube, não duvido, mesmo.

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Sobre o Bauru, o time tem agora alguns dias para recarregar a bateria e se preparar, já no sábado, embarcar rumo a Nova York.

Rafael Hettsheimeir x Real Madrid

Rafael Hettsheimeir tinha uma oferta com o Estudiantes na mesa. Ao que tudo indica, o pivô estava apalavrado com o clube madrilenho (coincidência), segundo o que se falava pela Europa e o que noticiou passo a passo o site Encestando. O técnico Diego Ocampo, que fez ótimo trabalho com Augusto Lima e Raulzinho na última temporada pelo Murcia, falou sobre o assunto: “Falta um jogador para nós contratarmos, e quase todo mundo dá por certo que temos Hettsheimeir, mas eu, enquanto no vir por aqui, não acredito nisso. Mas, sim, queremos esse último jogador, e que venha nesta semana”.

Segundo a diretoria do Bauru, o pivô só não teria multa rescisória no caso de alguma proposta da NBA. Para a Europa, algo deveria ser pago, seja pelo clube interessado ou pelo próprio jogador. Eles não o liberariam e não o liberaram, pelo menos não antes dos amistosos contra New York Knicks e Washington Wizards. Mas a intenção, parece, é segurá-lo por toda a temporada, mesmo. Seria muito difícil para o vice-campeão mundial repor um jogador deste nível, especialmente com o dólar nas alturas. Do lado espanhol, mesmo, o próprio Estudiantes não parece disposto a aguardar mais duas semanas. Ocampo perderia um tempo precioso para integrar essa nova peça ao seu grupo. Esta porte parece ter se fechado. Agora é preciso ver se alguém nos Estados Unidos se anima com o rendimento do pivô.

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Existe também o caso de Rafael Mineiro. Está, no momento, sem clube, aguardando qual o destino do elenco do Limeira. Existe, de fato, a possibilidade de eles jogarem a próxima temporada com a camisa do Vasco, com as negociações em andamento. Não é um trâmite fácil, porém, e a própria liga nacional, presidida pelo patrono limeirense, precisaria ou deveria se certificar de que a parceria seria realmente viável, que tenha garantias financeiras e fôlego para chegar até o fim do campeonato. Afinal, o clube de São Januário não é hoje, infelizmente, uma instituição com de bases tão sólidas assim, ainda mais correndo o risco de novo rebaixamento (e de inerente redução de orçamento para 2016). E não se trata de um elenco barato.

>> Bauru tentou, mas o Real segue seu em seu ciclo vitorioso
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Mineiro vai com a rapaziada para os Estados Unidos, ocupando a vaga de Murillo na rotação interior. Contra o Real, mesmo desentrosado, mostrou o quão valioso pode ser para qualquer equipe devido aos seus atributos defensivos. Para os que questionam o pivô, favor atentar para o fato de que o basquete é jogado em duas tabelas. Uma você ataca, a outra você protege, e, nessa função, vai ser difícil encontrar um marcador tão hábil quanto Rafael. Sua movimentação lateral é incrível e se traduz até mesmo contra gente como Scola, Ayón, Nocioni, Reyes e Thompkins, como pudemos ver nas últimas semanas. Tem tanta agilidade que o técnico Dedé, mesmo, reitera que, numa situação de corta-luz, até gosta que o espigão fique de frente com um armador. Não é necessária ajuda nenhuma na contenção. No ataque, ele também pode render mais, e aí que a chegada de última hora atrapalha. Mineiro já se aventurou na linha de três pontos, como gostam de fazer Jefferson e seu xará, mas rende muito mais na cabeça do garrafão com os disparos de meia distância e a ameaça constante de que, com um drible, já pode alcançar o aro para finalizar com uma cravada.


Real conquista o quinto troféu seguido. Por mais que o Bauru tenha tentado
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Giancarlo Giampietro

Não. A torcida do Barcelona realmente já não aguenta mais esta cena

Não. A torcida do Barcelona realmente já não aguenta mais esta cena

É um tópico um tanto traumático para o basquete brasileiro. O arremesso de três. Oscar Schmidt, que estava como torcedor na primeira partida, matava as suas. Marcel foi outro. Guerrinha também costumava guardar as suas, ainda que com um volume menor quando acompanhado de dupla tão estrelada. Esses caras conseguiram um título histórico em 1987, reeeeeeeeeeealmente histórico. Mas não formaram a geração brasileira mais vitoriosa que já existiu, algo que cabe às lendas dos anos 60. Durante sua história, há uma partida contra a Espanha aqui, outra com a Austrália ali que entram no campo do “se”. Caso tivessem passado por essas e outras, poderiam ter chegado à disputa por medalhas olímpicas e mundiais, e quem sabe…

Mas esse “se” em particular não entra em jogo. O esporte pode ser inclemente e rígido ao extremo, com base no resultado. O próprio Real Madrid que veio a São Paulo para ganhar o quinto troféu seguido, com uma vitória por 91 a 79,  é prova disso. A versão de 2013-14  da equipe foi um espetáculo. Praticava um basquete avassalador, mas não ganhou a Euroliga, não ganhou nada do que precisava. Tratando-se de Real, foi um fracasso. Mas, voltando, aqui não estamos falando apenas sobre o clube espanhol, mas, sim, sobre a final da Copa Intercontinental deste domingo e também sobre o time que derrotou, o Bauru, que traz o chute de três pontos à tona de uma forma com que muitos jamais poderiam nem mesmo sonhar. Antes de falar sobre o jogo em si, me permitam retomar o raciocínio cronológico.

Marcel já havia parado há tempos. Oscar ainda se arrastava pela quadra para encestar sem parar, vivenciando e atravessando uma troca de gerações. Enquanto Rogério Klafke e outros alas mais velhos já eram pronta e rapidamente relegados ao segundo escalão, Marcelinho Machado emergia para ser demonizado por seguir essa tradição do chuta-chuta, com a seleção tendo ainda menos sucesso em quadra. Mesmo que o ala carioca fosse um paradoxo ambulante. Ele claramente tinha os fundamentos e a visão de jogo para equilibrar as coisas, algo que apresentou na Copa América de 2005, por exemplo, e em muitos outros jogos. A praxe, porém, era que se perdesse a sanha do tiro exterior. Leandrinho também foi outro que, surgindo à esteira, nunca aliviou. O curioso é que esses dois chutadores, no plano de clubes e separadamente, tiveram belas carreiras e, em geral, cada um na sua, contra diferentes graus de exigência defensiva, foram bem-sucedidos. Não obstante, o arremesso do perímetro virou o grande vilão, o grande símbolo da derrocada brasileira.

Quando surge um Bauru, arremessando quase sempre mais do perímetro externo do que do interno, a recepção não poderia ser bombástica, com a licença para o trocadilho. À distância, fico imaginando os scouts e analistas mais arrojados da NBA conferindo as tabelas estatísticas produzidas pelo time do interior paulista.

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Vocês sabem que, hoje, há uma forte corrente na liga americana, baseada cegamente, ou não, em números que  prega o chute de longa distância como um dos caminhos a ser seguido. Eles vão te apresentar uma série de dados para dizer que esta bola precisa ser parte integral de qualquer sistema ofensivo que pense em ficar no lado azul da eficiência, e o Golden State Warriors desponta como um queridinho e como forte argumento dessa linha. Na final do Oeste, eles haviam batido outro dos times ‘nerds’, o Houston Rockets. Na decisão, o Cleveland Cavaliers também não poderia ser considerado uma equipe tímida nesse sentido.

Esse evangelho estatístico não prega tão somente a bola de três como salvação. Porque isso não existe, mesmo. O que existem são arremessos bem selecionados e equilibrados. Com o os lances livres, ué, que, na frieza de seus números, aparecem como fator tão relevante quanto. São, oras, os arremessos com maior índice de conversão. E não só isso: o sucesso também tem a ver com a sua destreza na hora de evitar essas mesmas bolas em sua defesa, no seu poderio reboteiro e mais. Mesmo para os fãs dos números o jogo não é unidimensional.

Aí aparece esse clube brasileiro chutando sem parar de fora, assustando a concorrência. Como aconteceu na primeira partida em São Paulo, na qual seus atletas tentaram 33 bolas de longa distância contra 32 de dois pontos, ao passo que acabaram batendo apenas 14 lances livres. Ainda assim, obtiveram uma vitória especial, para não se esquecer jamais.

De qualquer forma, o desafio estava na posto em quadra. De um lado, Andrés Nocioni admitia que não estava nada acostumado a enfrentar um time que abrisse seus dois grandalhões no perímetro, confiando no bombardeio. Do outro lado, o Bauru sabia que, para a segunda partida da final, esse tipo de jogada seria contestado e que deveriam encontrar outras formas de pontuar. Pois o Real conseguiu contestar, de alguma forma, no perímetro. E os bauruenses também olharam para outros setores para tentar contragolpear. Ainda assim, a matemática foi mais favorável aos merengues.

Vamos esmiuçá-la: neste domingo, Bauru ainda acertou 36% de seus chutes de fora. Não é uma marca de todo ruim, mas vale como algo bem caído perto dos 49% do Jogo 1. Aproveitamento à parte, acho que o que Real mais deve ter comemorado taticamente foi o fato de terem conseguido reduzir também o ímpeto de seu adversário, pelo menos no ponto em que foi mais ferido. De 9-17, Jefferson William e Rafael Hettsheimeir foram limitados a 1/6 no Jogo 2. Arremessaram 11 bolas a menos de trás da linha. Quer dizer, parece que a estratégia de Pablo Laso deu certo, que foi a de fazer as dobras no pick-and-pop e deixar sempre um homem grudado no pivô. Nem que, para isso, tivessem de ver Ricardo Fischer marcar 26 pontos, com 7-12 de quadra, além das seis assistências para apenas um turnover.

O armador brasileiro, que sai de cabeça erguida desse confronto e com a cotação internacional certamente elevada, teve espaços para atacar o garrafão, ao se ver diante de Gustavo Ayón e outros pivôs madrilenhos. Atacou o aro com sagacidade e fez o máximo que podia. O problema é que o Real estava disposto e contente em viver com isso, desde que a artilharia ao seu redor fosse controlada. E foi o que aconteceu.

Fischer jogou de igual para igual com os Sergios

Ofensivamente, Fischer jogou de igual para igual com os Sergios

Mas isso não quer dizer que Bauru aceitou essa armadilha e chutou sem parar de fora, a despeito da contestação. No geral, foram apenas cinco arremessos a menos nessa distância do que na sexta-feira. Mas alguns deles vieram no desespero dos minutos finais, quando precisavam diminuir a diferença dos campeões europeus para um ponto, num placar esdrúxulo que renderia a prorrogação. Fischer, aliás, foi o que mais tentou, com 5-8. Por outro lado, a equipe campeã americana tentou o dobro de lances livres dessa vez (28 contra 14). Um desconto precisa ser dado aqui devido ao excesso de faltas apitado contra os madrilenhos, que os deixou malucos. Não estou aqui acusando roubo ou falhas da arbitragem, mas apenas registrando que alguns dos lances livres batidos pelos bauruenses não foram resultado de ataques à cesta. Mas eles aconteceram. Fischer, mesmo, bateu oito lances livres e converteu sete. Hettsheimeir foi 12 vezes para a linha e acertou dez.

Se formos pegar, na real, os números dos três disparos básicos numa folha estatística, vamos ver que Bauru e Real tiveram volume ofensivo bem próximo: dois pontos (20-36 tentativas do Real x 14-29 Bauru), três pontos (10-26 x 10-29) e lances livres (21-29 x 21-28). , com 13 turnovers para os espanhóis e 11 para os brasileiros.

O que aconteceu foi que, na hora de buscar o jogo interno, o time de Guerrinha falhou. Do alto de seu 1,90m de estatura, Alex Garcia foi afastado da zona pintada quando viu Jonas Maciulis e até mesmo Andrés Nocioni dedicados à sua marcação. Seu jogo de costas para a cesta não funcionaria desta forma. Por isso, passou a atacar de frente, e matou 5-10 para somar 14 pontos. Taticamente, porém, seu papel foi reduzido. As investidas, então, foram mais tradicionais, com Hettsheimeir, e o pivô, que tem proposta do Estudiantes, da Espanha, falhou muito nesse fundamento. Em suas nove tentativas para dois pontos, converteu apenas duas, apresentando muita dificuldade em conversões próximas à cesta. Algumas notas a respeito: por favor, não vela o argumento canalha de que talvez ele esteja praticando tanto o chute de fora que tenha esquecido como fazer uma bandeja — o chute de média distância sempre foi sua principal arma; Rafael nunca teve o par de mãos ou o jogo de pés mais habilidosas em quadra… Para esse tipo de situação, lhe falta agilidade e munheca, precisando, por isso, de muito tempo e espaço para armar o gancho e fazê-lo funcionar; quando contestado, tende a perder o controle da bola ou subir desequilibrado e a falhar como aconteceu neste domingo, pois, além do mais, estava enfrentando uma linha de frente respeito. Enfim: o pivô brasileiro tem hoje uma grande arma, valiosa em seu repertório, mas apresenta buracos em seu jogo que impõem um limite ao seu potencial.

Ayón: 15 rebotes no jogo do título, oito ofensivos. Soberano na zona pintada

Ayón: 15 rebotes no jogo do título, oito ofensivos. Soberano na zona pintada

Outro buraco é o rebote. Em dois jogos e quase 72 minutos, ele apanhou apenas nove. Sozinho e contando apenas a tábua ofensiva, Ayón conseguiu oito no segundo confronto (no geral, foram 15 neste domingo e 17 em 56 minutos para ele). E isso não se explica por sua predileção ao chute de três, gente. Ele pode estar afastado da tabela no ataque, mas não é o que acontece na defesa. De todo modo, a esmagadora vantagem de 46 rebotes a 25 imposta pelo Real no jogo do título não cai apenas em seus ombros. Jefferson William (5 rebotes em 58 minutos) ainda está com a mobilidade muito reduzida). Rafael Mineiro (4 em 28) também pode ser mais atento no fundamento. Para Guerrinha, registre-se, a surra nos rebotes aconteceu devido à necessidade de o Bauru correr atrás do resultado desde o início. Seguindo o seu raciocínio, tiveram de atacar mais a bola e assumir riscos. Os riscos geraram oportunidades para o rival. O Real soube aproveitá-los e, mesmo quando não convertia na primeira tentativa, apanhava o rebote ofensivo (foram 21!) e davam sequência ao ataque, com 15 pontos de segunda chance, contra apenas dois do adversário. “Eram situações de desequilíbrio, e eles tinham reposta para tudo que tentávamos. Tínhamos de socorrer em uma outra situação, e eles se aproveitaram muitas vezes. Se for ver, cada jogador de destacou em um determinado momento”, afirmou o treinador brasileiro.

O curioso é que, ainda assim, o jogo foi parelho por muito tempo. A quatro minutos do terceiro período, a vantagem espanhola era de apenas 52 a 51. Depois, ficariam empatados em 53 a 53, por mais que Jaycee Carroll, com mais ritmo, acertasse (22 pontos em 31 minutos 7-14). Muito fora de uma zona de conforto, os madridistas juravam que o trio de arbitragem trabalhava contra, chiando uma barbaridade, a ponto de Sergio Rodríguez ser excluído e de Laso ficar em quadra apenas por vista grossa, de tanto que gesticulava a cada marcação que julgava equivocada. O Real não imaginava passar pelo que passou, gente — e isso não tinha a ver com soberba, mas com uma crença de que levariam um título para o qual se mostraram realmente motivados. Com seis minutos para o fim da partida, o placar ainda apontava 71 x 66.

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Nos minutos finais, porém, Sergio Lllull (21 pontos, 6 assistências, 5 rebotes, 7-17 nos arremessos e o prêmio de MVP) converteu algumas grandes jogadas, acompanhado pelo reforço Trey Thompkins (17 pontos, 7-8, em 21 minutos)  e assessorado pelo adolescente Luka Doncic, que sobrou com um rojão na mão após a despedida de Rodríguez e segurou a bronca sem dar a mínima, como se já fosse campeão do mundo e duas vezes medalhista de prata que nem Felipe Reyes. Aos 16 anos? Impressionante. Quando os chutadores erravam, lá estava Ayón espanando geral no garrafão para dominar os rebotes. Como na sequência que aconteceu basicamente entre 4 e 3 minutos para o fim, quando apanhou três em sequência para, basicamente, garantir o título — era quando a vantagem já estava na casa de dois dígitos, e ao Real valia mais gastar o cronômetro do que uma cesta rápida.

Para os jogadores de Bauru, faltou gás no final. A rotação merengue, mesmo sem Rudy Fernández, Jeffery Taylor e, depois, Rodríguez, teria feito a diferença. Guerrinha disse que não conseguia tirar Fischer por muito tempo de quadra (fora 35min38s para o armador titular). No final, correndo atrás do placar,e estavam todos desgastados.

Outro ponto interessante de contraponto foi a opinião de cada um dos técnicos sobre o que teria feito a diferença, e uma, na real, não exclui a outra. Para Guerrinha, o que complicou tudo foi a sequência de 12-0 para os europeus em coisa de cinco minutos, que teriam ditado o restante do jogo. Para Laso, porém, o que pesou, mesmo, foram os minutos finais, para os quais estava preparado. “Entendia que eram 80 minutos de jogo. Tivemos nossos altos e baixos durante esse período, mas, para o quarto decisivo, estávamos bem, crescendo”, afirmou. O brasileiro, porém, se dá ao direito de questionar, citando a qualidade do elenco oponente: “Fico pensando às vezes como seria o Real Madrid com a nossa estrutura, se teriam feito um jogo parelho”, afirmou Guerrinha, na coletiva. “São perguntas que temos de fazer.”

Mas, bem, este é outro “se” que não entra em jogo. Fato é que, como disse Fischer, os 12 pontos finais não contam a história do jogo. Caso Hettsheimeir tivesse mais felicidade em suas incursões debaixo da cesta, caso Llull errasse um outro arremesso pressionado, as coisas poderiam ter sido diferentes. Quiçá. Pegando emprestada uma expressão típica dos espanhóis: só não me parece que, nessa vitória merengue e derrota bauruense, seja justo falar apenas sobre as bolas de três pontos.


De frente com Andrés Nocioni: muita cultura além do coração
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Giancarlo Giampietro

Andrés Nocioni, Real Madrid x Bauru

Uma viso aos navegantes: o Real Madrid está em São Paulo desde quarta-feira, mas não anda muito aberto para conversar com a gente. Por enquanto, basicamente há três porta-vozes que se repetem: o técnico Pablo Laso, o armador Sergio Llull e Andrés Nocioni, nosso velho conhecido. Um ou outro vai falar aqui e ali, e neste sábado os novatos merengues Trey Thompkins e Willy Hernangómez estiveram disponíveis para um rápido bate-papo. Mais nada. Num depoimento pessoal, depois de ter transmitido com o Sports+ duas temporadas seguidas nas quais eles tinham a melhor equipe, posso dizer que esperava mais contato, mais oportunidades de discutir, trocar ideias.  Mas isso não quer dizer que sejam necessariamente esnobes, ou coisa mais grave.  É de se supor que este protocolo foi desenvolvido com o passar das últimas temporadas de retomada do clube no basquete europeu, honrando o peso da camisa, ou do escudo, como eles preferem dizer. É o Real Madrid, de nove títulos continentais na modalidade, e outros dez no futebol. Enfim.

Posto isso, quando eles falam, geralmente dão depoimentos ricos em detalhes que acabam compensando  o silêncio. Peguem Nocioni, o Chapu, por exemplo. Após a derrota de sexta-feira, foi  o único a parar na zona mista para atender a mídia que chegou lá um pouco mais cedo, topando falar com o Bruno Laurence, da TV Globo, com o resto na carona. Mais tarde, Llull e Laso se apresentariam para a coletiva. Antes do treino deste sábado, mais uma janela foi aberta. E quem estava lá de novo? Novamente o campeão olímpico argentino.

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O bom é que, amigos, a conversa rende, e sem cotoveladas, xingamentos ou berros irados. Para uma entrevista coletiva com uns cinco, seis repórteres, com os quais ele provavelmente só estava familiarizado com o sujeito da TV Real Madrid, o veterano de 35 anos falou bastante. Você pode ter certeza que o assessor de imprensa gigantesco do clube espanhol estava imaginando algo como cinco perguntinhas rápidas, respostas protocolares e um “hasta mañana”. Pois a sessão durou oito minutos. Para quem não está muito acostumado com esse processo, pode parecer pouco, mas se fosse transcrever tudo na íntegra aqui, pode ter certeza que seria mais um calhamaço típico do blog.

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Houve, por exemplo, uma exigente pergunta de um hermano sobre se Chapu imaginava, 19 anos depois  da Copa Intercontinental de 1996, estar de volta ao torneio. Por experiência própria, posso dizer que é o tipo de questionamento que poderia ser facilmente desconversado por alguém com má vontade, preguiça ou que não tenha tão interesse assim pela história, mesmo pela história por ele vivida. Mas, não. Do torneio realizado entre Olimpia Venado Tuerto, de sua Rosario, e Panathinaikos, Nocioni se lembrou de muita coisa. De como, naquela ocasião, era o contrário: ele estava ao lado do time mais fraco, sendo que agora estão com os “chamados, a priori” favoritos. Falou de como venceram o primeiro jogo em casa, “incrível”, com Alejandro Montecchia se destacando “como sempre”, que fizeram um segundo jogo equilibrado em Atenas, mas perderam, para, depois, serem atropelados na terceira partida. As respostas se prolongavam, sem o menor problema.

É engraçado: foi minha primeira entrevista com Nocioni ao vivo. O Chapu não estava em nenhum d0s torneios americanos que havia ido cobrir, e não foram poucos. Walter Herrmann, Federico Kammerichs, Marcos Mata, Leo Gutiérrez, Carlos Delfino e outros ‘ches’ estavam fazendo suas vezes. Fiquei impressionado pela combinação de lucidez, cultura e profissionalismo que usava para se expressar. Convenhamos: para quem o vê se matando e arrebentando (física e metaforicamente) a concorrência em quadra, não era a imagem que se supunha. Ou era?

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Aí me cai a ficha: para ser o vencedor que Nocioni se tornou, não basta força de vontade (desmedida, no seu caso) ou talento (muuuuuuuuito subestimado). Tem de saber o que fazer com essas ferramentas. E isso não acontece ao acaso. Quer dizer, há gente tão talentosa que acaba superando qualquer barreira com facilidade. No caso desse argentino ouro em Atenas 2004, bronze em Pequim 2008, semifinalista em Londres 2012 e classificado novamente para o Rio 2016, sem contar os quatro títulos recentes pelo Real Madrid em 2014-2015, e tantos outros do passado, pesa também a sua cultura basquetebolística. Nocioni não é só coração, mas também um  cérebro.

O que me ocorreu também foi um velho perfil do ex-volante Chicão, do São Paulo e da seleção brasileira, de autoria de José Maria de Aquino, para Placar. Se procurar com paciência no “Google Books”, deve dar para encontrar. Mas foi desses textos que fez a minha cabeça e valeu talvez mais do que um ano inteiro de faculdade. Nele, o repórter relata a ansiedade (pretensa, claro) de se encontrar com o brucutu meio-campista, desde a chegada ao prédio em que morava, à espera por sua saída no vestiário. Aos poucos, Aquino vai desconstruindo o mito de violência e rudeza em torno do jogador. No final,  está claro que se tratava de alguém com o coração enorme e também bastante pragmático. A reportagem, porém, terminava com uma espécie de aviso: “Mas que se diga que eu nunca joguei contra ele”. Pois é. Evoco essa tirada sensacional para dizer que nunca disputei um rebote com Chapu. Fiquemos assim.

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11-Andrade-101-369x525Bom, nesses oito minutos de perguntas e respostas, duas vieram desta fonte aqui. A primeira foi sobre o desafio de se marcar um time que pode jogar com seus dois pivôs abertos, com Jefferson William e Rafael Hettsheimeir — e algo que Rafael Mineiro também poderia fazer, se estivesse mais entrosado. O strecht four, gente, é uma das posições da moda na NBA, mas é algo que foi importado da Europa, com enorme influência de Dirk Nowitzki. O movimento, porém, suplanta o craque alemão. Jorge Garbajosa, Dejan Tomasevic, Kostas Tsartsaris são alguns dos nomes de grandalhões que faziam muito bem o jogo de high-low que me vêm à cabeça, mas vai ter muito mais por aí. Praticamente toda seleção europeia tem um desses hoje (pensem em Nemanja Bjelica, Nikola Mirotic, Boris Diaw, Andrea Bargnani, Ersan Ilyasova etc.). Com um adendo: o fato de eles abrirem para o chute não quer dizer que tenham obrigatoriamente de limitar sua abordagem ofensiva à zona de longa distância.

O Bauru toma emprestada essa ideia e a leva ao extremo quando posiciona seus dois pivôs titulares no perímetro. O legendário argentino disse que é muito difícil lidar com algo assim. “É algo totalmente distinto. Sinceramente, não temos muita experiência com equipes assim na Europa. Não há nenhuma equipe que jogue desta maneira”, afirmou. “Temos de fazer alguns ajustes, pois ontem tínhamos a partida bastante controlada até que eles começaram a abrir os dois grandalhões para o tiro exterior, e aí o jogo saiu das nossas mãos. Rafa esteve em um nível altíssimo, com uma porcentagem incrível, mas que sabemos que não é nada de outro mundo, que tem feito isso na liga brasileira todos os dias. Vamos ter que ajustar um pouquinho a defesa, já que não podem chegar ao triunfo.”

Interessante, não? Quando guerrinha abre seus dois homens altos, parece estar infringindo uma série de regras clássicas do esporte. Pode beirar o absurdo, mesmo. Mas, se dá certo, se rende resultados, como você vai contestar isso? Naturalmente, não podem depender só desse fator que, de primeira, surpreende. O Real vai se planejar para conter esse tipo de armação, e o Bauru já tem de estar preparado para isso e buscar alternativas. Para o restante da concorrência do NBB, creio que vale ficar de olho no que Laso vai planejar e tentar executar.

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A segunda questão era uma escapada do tema, mas que não deveria falar. Sobre como se sentia depois de mais uma participação olímpica, e o quão especial essa última Copa América foi ao lado de Scola, seu velho parceiro. Chapu foi além: “Foi um torneio incrível no qual conseguimos nossa classificação olímpica para manter um projeto, uma ideia de seleção argentina durante muitos anos. É nossa quarta edição de Jogos Olímpicos. Sinceramente me sinto muito orgulhoso de todo esse processo. Fomos com uma equipe jovem, de inexperientes em sua maioria. Mas conseguimos uma classificação incrível. Obviamente que tivemos um sabor amargo ao não conseguir o título no final, mas mas me parece que perdemos para um adversário grande que foi a Venezuela, terminando um torneio histórico para eles. Para nós, terminou sendo um torneio importantíssimo, porém, para manter a equipe no maior nível mundial.”


O Bauru sempre vai ter essa noite de sexta na qual derrotou o Real
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Giancarlo Giampietro

Independentemente do que aconteça no domingo, Bauru ao menos já vai ter a noite de sexta-feira para a sua história. Não é sempre que você pode enfrentar um Real Madrid, nove vezes campeão da Europa. Mais rara ainda é a chance de comemorar uma vitória para cima deles, como aconteceu no Ginásio do Ibirapuera, com jogo estendido até a última posse de bola e placar de 91 a 90.

Fischer matou o jogo com uma bandeja simples

Fischer matou o jogo com uma bandeja simples

Com uma defesa muito firme no final do segundo período e um ataque arrasador na abertura do terceiro, o Real chegou a abrir 17 pontos de vantagem quando haviam corrido precisamente 2min01s da segunda etapa (47 a 32). A partir daí, porém, o time baixou a guarda, conscientemente ou não, e, quando seus atletas se deram conta, a diferença já havia despencado. Ao final do quarto, o marcador apontava 62 a 59.  O time espanhol ainda chegou a abrir mais sete na última parcial, mas, àquela altura, a dinâmica do duelo era outra. O Bauru acreditava firmemente que era possível encará-los, e o público presente entrou na pilha, se inflamando.

Estava novamente em prática o ataque que havia arrebentado com a concorrência brasileira e continental há questão de meses. Um ataque bem diferente, diga-se, daquele que alcançou a final do NBB e teve rendimento sôfrego contra o Flamengo. Você pode não aprovar o volume de chutes de longa distância (33 de 65 no geral). Algumas delas foram forçadas, especialmente no primeiro quarto, quando o time estava nervoso com o grande palco, as luzes e os antagonistas. No segundo tempo, porém, não dá para negar que a bola girou no perímetro, passou em mais mãos, e foi aí que começou a chover arremessos de três pontos, com mais intensidade até do que os refrescantes e salvadores pingos do lado de fora, depois de uma semana de calor infernal em São Paulo.

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Entre os atiradores estavam novamente os pivôs, Rafael Hettsheimeir e Jefferson William, combinando para 9-17, com 6-9 para o ex-madrilenho, numa verdadeira aberração estatística, até mesmo para o Golden State Warriors, o Houston Rockets e qualquer outra equipe da NBA ou da Europa que busque cada vez mais o tiro exterior como um caminho “eficiente”. O fator que causa espanto é que seus grandalhões tenham um aproveitamento deste nível e com volume elevado. “Se for pegar as estatísticas, vai ver que fomos superiores em praticamente todos os fundamentos. Só perdemos nas cestas de três, e, sim, o acerto dos pivôs fez a diferença”, afirmou o técnico Pablo Laso — no geral, ambas as equipes converteram 48% de trás da linha, mas os brasileiros converteram seis a mais. Ele só esqueceu de mencionar as assistências (19 a 13, que também comprovam a maior fluidez do segundo tempo). “Alguns dos arremessos estavam até bem defendidos, mas eles fizeram”, completou o armador Sergio Llull, sentado ao seu lado. Sim, esse time do Bauru tem disso: quando estão com confiança, até mesmo alguns chutes que parecem destinados o ar — e não à cesta — caem. Em alguns momentos, Hettsheimeir não parecia nem mesmo ter o controle da bola e já efetua o disparo.

“Isso é o nosso forte. O Bauru montou um time com grandes chutadores e é algo que ajuda muito. Abre a quadra. Tanto que, no último ataque, o Guerrinha montou uma jogada como todos abertos, e o Fischer, nosso menor jogador, ficou praticamente sozinho para fazer a cesta. É algo que ajuda bastante”, afirmou Jefferson.

Alex x Llull. No poste baixo, sem que ninguém pudesse pará-lo

Alex x Llull. No poste baixo, sem que ninguém pudesse pará-lo

Há algo de heterodoxo no basquete bauruense que é interessante e que, quando funciona, cria uma bagunça tática, mesmo, e que o técnico Guerrinha registrou em sua coletiva, na sequência dos espanhóis. Quando o time está a pleno favor, as posições se invertem: se os pivôs estão no perímetro, o pequeno e brabo Alex está lá perto da cesta, oprimindo adversários de sua altura, mas que não têm como segurá-lo num jogo de pancada e habilidade de costas para a cesta. Há também a ameaça das infiltrações de Ricardo Fischer e, com a chegada de Leo Meindl, o time ganha outra opção interessante nessas trocas, uma vez que o jovem ala tem presença muito mais física que a de Robert Day.

“Você sabendo usar a bola dos três ela é fantástica. Ela nos colocou na vitória. É a nossa característica, mesmo, de arremesso, mas também usamos o Alex no poste baixo, que foi onde ele definiu o jogo nos minutos finais, sempre com a ameaça do arremesso de fora. A gente pode trocar as funções, isso faz parte do jogador moderno”, afirmou o técnico Guerrinha.

Rafael numa de suas incursões internas para fazer a cesta: no final das contas, teve aproveitamento inferior no garrafão ao dos tiros de fora

Rafael numa de suas incursões internas para fazer a cesta: no final das contas, teve aproveitamento inferior no garrafão ao dos tiros de fora

Bem, os chutes de três podem ter pavimentado a reação, mas foi uma bandeja, debaixo do aro, que garantiu o triunfo, não? Saibam que foi uma jogada quase que improvisada. “Nós fizemos um movimento que nem nossos jogadores conseguiam direito, porque não deu tempo de treinar. Mas desenhamos. Já tinha conversado algo com o Ricardo. O Alex falou para não perdemos o que foi passado, que era para cumprir à risca. E foi bem feito, terminando numa bandeja”, disse Guerrinha. Fischer acrescenta: “A gente tinha uma outra jogada. Ele desenhou para acabar em mim a bola, ou, consequentemente, no Alex, e felizmente caiu para mim e consegui sair livre e acertar”.

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Saiu aí a vitória, com uma simples e tranquila (na medida possível) finalização do armador, que teve uma grande atuação. Fischer, porém, era o primeiro a dizer nas entrevistas que, por mais especial que tenha sido a vitória, que tenha uma sensação de façanha, eles não poderiam se empolgar muito sabendo que, no domingo, às 12h, tem mais. E tem, mesmo. Da parte do Real, é algo que até mesmo os bauruenses esperam: eles virão mais preparados, tendo visto agora, de perto, o poderio do chute exterior de seu adversário. Não só isso, mas muitos outros detalhes. O sábado será um dia de muito estudo, para que depois os atletas sejam municiados de muita informação. Então aí vai precisar ver, mesmo, o quão eficiente os arremessos de Bauru poderão ser, com a oposição mais concentrada neles. “No primeiro tempo, eles não conseguiram”, disse o técnico merengue. “Não fomos surpreendidos. Conhecíamos bem esse estilo, e foi acerto deles. Não é que tenhamos jogado contra ninguém. É o campeão das Américas.”

Para segurar Alex, Laso também deve muito provavelmente usar mais o massudo Maciulis. Coisas do tipo, os ajustes por uma taça. Para ficar com ela, o Bauru precisa ganhar novamente, já que não existe empate no basquete e uma derrota por um pontinho também forçaria a prorrogação. O título, dãr, é o que vale mais. De qualquer forma, pelo menos por 40 minutos, os brasileiros se sentiram confiantes e otimistas de que era possível. “Já foi uma noite de sonho. Ganhar do Real Madrid por meio ponto já é isso. Sensacional, mas agora acabou a euforia”, afirmou Fischer.

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Algumas notas sobre os bauruenses:

Ricardo Fischer fez uma partida excepcional ofensivamente, uma atuação que certamente eleva sua cotação no mercado internacional. Em conversa por telefone na semana passada, o armador já havia dito que, a despeito do final melancólico que teve a seleção, sua primeira experiência para valer com a equipe fez bem para sua cabeça. Voltou para casa com a sensação de que poderia competir com alguns dos melhores do mundo na posição, ainda que ciente de que há muito o que precisa melhorar, especialmente do ponto de vista físico e na defesa. Nesta sexta, foi batido facilmente em arranques de Lllull e Rodríguez, mas a verdade é que os espanhóis costumam ter sucesso contra a maioria de seus marcadores, mesmo. Do outro lado, porém, compensou com um controle de jogo que comprova o quão rapidamente vem amadurecendo. Depois de um início de jogo atabalhoado, voltou do banco de reservas mais sereno e assumiu as rédeas de sua equipe. De 12 turnovers cometidos no primeiro tempo, Bauru conseguiu limitar as besteiras para apenas três no segundo, e muito disso passou pela segurança de jogo de seu armador, que terminou com 12 pontos, 8 assistências e apenas dois desperdícios de posse de bola em 31 minutos, convertendo 4 de 10 arremessos.

Alex Garcia teve mais uma de suas partidas em que entrega um pouco de tudo ao time. Foram diversas as situações, gente, em que ele aparecia como a última barreira defensiva do time brasileiro, na cobertura do garrafão, pronto para desarmar tanques como Felipe Reyes e Gustavo Ayón. Fazendo falta, ou não, dá para se dizer que levou a melhor na grande maioria desses embates. Isso tem a ver com o seu senso de posicionamento, a força e a capacidade atlética ainda acima da média. Some-se a isso as oito assistências e os sete rebotes, e temos um perfeito “glue guy”, o homem da liga. Mas não podemos nos esquecer dos seus 12 pontos, sendo oito deles em arremessos nos arredores da cesta, com a importância tática já acima relatada. Se for para reclamar de algo, apenas lista-se os três lances livres que desperdiçou em 29 minutos. É impressão minha, ou, aos 35 anos, Alex está jogando o melhor basquete de sua carreira?

Uma das coisas mais legais da noite no Ibirapuera foi poder olhar para um lado, virar para o outro e se deparar com lendas do basquete brasileiro como Oscar, Paula, Hortência, Helen, ou contemporâneos como Larry (barrado por Mogi, mas presente na festa e aplaudidíssimo pela torcida de Bauru), Shamell, Giovannoni e tantos outros. Sobre o público, não peguei o número oficial, mas imagino que tenha sido algo em torno de 4 a 5 mil. Bem aquém da capacidade do ginásio. Ainda assim, era uma torcida engajada, que conhecia do jogo e soube empurrar Bauru no segundo tempo

Uma das coisas mais legais da noite no Ibirapuera foi poder olhar para um lado, virar para o outro e se deparar com lendas do basquete brasileiro como Oscar, Paula, Hortência, Helen, ou contemporâneos como Larry (barrado por Mogi, mas presente na festa e aplaudidíssimo pela torcida de Bauru), Shamell, Giovannoni e tantos outros. Sobre o público, não peguei o número oficial, mas imagino que tenha sido algo em torno de 4 a 5 mil. Bem aquém da capacidade do ginásio. Ainda assim, era uma torcida engajada, que conhecia do jogo e soube empurrar Bauru no segundo tempo

Gui Deodato: podem falar o que for do entrosamento de verões passados que tem com esse grupo, mas o jovem ala foi aquele que entrou na maior roubada. Na quinta-feira, estava em Rio Claro sofrendo para fechar a série contra Pinheiros, pelas quartas do Paulista. Do nada, tinha a missão de perseguir atacantes perigosos como Jaycee Carroll e Sergio Llull. Porém, compenetrado, usando sua envergadura e agilidade lateral, fez um trabalho admirável e foi importante demais na reação de sua ex-nova equipe, se é que isso faz sentido.

Leo Meindl mostrou no segundo tempo os lampejos que justificam a opinião geral de que fará parte por um tempo da seleção brasileira. Ainda há buracos em seu jogo que precisam ser trabalhados, como a visão de quadra quando driblando em direção à cesta (foram dele quatro dos 15 turnovers do time). Também tem o físico, algo que precisa ser martelado. Mas há outras características que lhe são naturais e  difíceis de se ensinar. Como o tino e o arrojo para pontuação. Meindl se comportou como se fosse a coisa mais natural do mundo anotar 15 pontos contra o Real Madrid, em apenas 22 minutos.-

Jefferson William fez apenas o seu quinto jogo desde que se recuperou de uma ruptura no tendão de Aquiles. Sair dessa, meus amigos, é uma batalha. O fato de ele poder estar em quadra para curtir uma final dessas já é uma vitória para o ala-pivô. Poder ter contribuído para o triunfo, então, nem se fala. Anotou 10 pontos em 27 minutos e, é verdade, pegou apenas três rebotes e teve problemas na defesa contra o americano Trey Thompkins, no quarto período. De todo modo, ao matar 3 de 8 arremessos de longe, se firmou como uma arma a ser respeitada pela defesa do Real, já cumprindo um papel tático muito relevante para sua equipe.

Rafael Mineiro jogou 14 minutos, anotou apenas 2 pontos, mas tem de ser elogiado. Sua capacidade defensiva é anormal. Acho que escrevi isso durante a Copa América, então corro o risco aqui da repetição: mas você não vai encontrar facilmente por aí um jogador do seu tamanho e com tanta mobilidade e seu senso de posição. O pivô foi bem na marcação de gente como Reyes, Thompkins e Gustavo Ayón, fechando espaços e portas, devido a sua movimentação lateral que é digna de um armador. Só contei uma posse de bola na qual ele foi batido, quando Thompkins conseguiu cortá-lo pela esquerda para fazer a bandeja no segundo tempo. E só. Ele é como se fosse um canivete suíço na defesa, cumprindo tarefas difíceis que nem sempre são percebidas.

Rafael Hettsheimeir começou a partida claramente pressionado. A bola estava fervendo em suas mãos. Foram diversas as vezes no primeiro tempo em que recebeu passes tranquilos e se atrapalhou na hora de subir na cesta. Quando o jogo estava no pau, nos minutos finais do quarto período, porém, lá estava o pivô batendo palmas em quadra, chamando o jogo. Uma senhora transformação, conduzida pelo volume de jogo externo. O camarada Ricardo Bulgarelli cantou esta, e com razão: deve ter sido sua melhor atuação ofensiva desde aquele embate histórico em Mar del Plata com Luis Scola, rumo à vaga olímpica. Foram 27 pontos em 38 minutos (descansou apenas por 1min48s). Pegou apenas três rebotes, por outro lado, e deve ficar atento a esse fundamento no segundo jogo. Desconfio que, para domingo, o Real possa fazer uso por mais minutos de sua formação “supersize”, procurando atacar a tábua ofensiva.


Copa Intercontinental: o Real Madrid jogador a jogador
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Giancarlo Giampietro

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Breves notas sobre o elenco galáctico do Real Madrid, que enfrenta o Bauru nesta sexta-feira e no domingo, pela Copa Intercontinental. São peças que se encaixam muito bem. Ao contrário do que muitas vezes acontece no futebol, o orçamento milionário do basquete merengue (estima-se que na casa de 25 milhões de euros) procura grandes nomes que se encaixam em quadra. O técnico Pablo Laso prefere um time leve e arrojado, que coloque pressão em cima da bola e procure desestabilizar a armação do adversário. Mas também pode recuar e proteger sua cesta em uma batalha mais física no garrafão. Tem chute exterior, jogadores capazes de quebrar a linha defensiva e estrelas solidárias. É um esquadrão:

Sergio Rodríguez: basicamente, se você precisa de um armador para incendiar o jogo, não há melhor na Europa, devido ao seu combo de instinto, visão, drible, ginga e chute. Mais sobre ele aqui, num texto do ano passado, ou em outro de 2013, mas que ainda se sustentam. Ele está jogando muito há tempos.

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>> Bauru admite que não fez preparação ideal para o torneio
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Sergio Llull: talvez tenha feito sua melhor temporada no ano passado. Por isso o Houston Rockets estava preparado para lhe oferecer uma bolada. Por não ter tanto controle de bola assim, ao menos quando comparado a Rodríguez, mas por ser mais alto e físico, se encaixaria perfeitamente ao lado de Harden. Explosivo em suas infiltrações, com bom chute exterior, ainda que possa forçar um pouco diante de defesas mais bem plantadas. Movimenta os pés com muita rapidez na defesa e põe muita pressão em cima do drible. Desarma e parte com perigo em quadra aberta.

Muito da força do Real vem de sua dupla de armadores, que tão bem se complementam. Dão velocidade ao time e atacam desde o primeiro instante

Muito da força do Real vem de sua dupla de armadores, que tão bem se complementam. Dão velocidade ao time e atacam desde o primeiro instante

Rudy Fernandez: ala muito atlético que salta do chão e avança rumo ao aro flutuando feito uma pluma. Joga acima do aro e sabe usar essa impulsão também para dar tocos improváveis vindo do lado contrário. Dá a impressão de chutar tão bem a partir do drible como com os pés plantados. Está sempre atento à linha de passe. Também representa um terror em quadra aberta. Alas mais altos e fortes podem lhe causar problemas nos arredores do garrafão. Resta saber como estão suas costas. Teve atuação limitada no EuroBasket, mas foi até o final. Tendência é que seja preservado, apesar de Jeffrey Taylor estar fora. Um baita de um mala em quadra, porém. A ver se faz algo que peça vaias da torcida.

Jaycee Carroll: um gatilho mortal. É como se fosse um Steve Kerr mais arrojado, com maior capacidade para por a bola no chão e chutar em movimento. Entende suas limitações, porém, é dificilmente vai chegar até o aro,  a não ser que tenha o corredor aberto. Marcador sério e competitivo, apesar do físico nada imponente.

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Jonas Maciulis: uma parede ambulante. Ala muito forte e que joga duro. Tem mãos velozes, bom ladrão de bolas, mas a movimentação lateral não impressiona. É menos eficiente quando tem de driblar em meio ao tráfego, por não ter tanto jogo de cintura. Lituano, sim, mas um arremessador irregular. 🙂

Via Twitter do tampinha Facundo Campazzo. A legenda do armador falava alguma coisa sobre... Huevos

Sim, ele tem… Huevos

Andres Nocioni: precisa mesmo descrever? Está desfrutando de uma das benesses de vestir a camisa do Real aos 35 anos. Num time com tanta mão-de-obra qualificada, não precisa carregar uma carga muito pesada, tendo chegado à Copa América em plena forma. Minutos reduzidos, sem muita responsabilidade de criar como nos tempos de Laboral, pode se dedicar às pequenas coisas que tão bem realiza. Mas o mais interessante que o veterano Chapu nos mostra é que sua ferocidade e malandragem e toda a lenda que se criou ao seu redor podem desviar a atenção para o fato de que é um tremendo jogador de basquete, muito bem fundamentado para compor qualquer linha de frente do mundo. Mais sobre o que ele fez na temporada passada pelo Real você pode ler aqui.

Felipe Reyes: o coadjuvante eterno da geração dourada espanhola, mas que não só sobrevive como segue ultraprodutivo, a despeito de sua discrição. Tem mãos enormes e finaliza tão bem como Scola quadro próximo da tabela, mesmo com impulsão reduzida. A diferença é que o argentino tem um jogo de pés bem mais criativo. Excelente reboteiro ofensivo. Só não esperem que jogue como um garçom. Na defesa, é vulnerável longe do garrafão e não oferece proteção ao aro, mas costuma se posicionar bem para fechar espaços.

Gustavo Ayón: saiu no blog texto recente sobre ele a serviço do México. Tem outro lembrando sua atuação pela Copa do Mundo. Pelo Real, obviamente não é tão exigido.

Sobre os reforços Trey Thompkins, Jeffery Taylor e Willy Hernangómez, as observações aqui.

Por fim…

O garotão Doncic já teve seus momentos com o time brasileiro

O garotão Doncic já teve seus momentos com o time brasileiro

Luka Doncic: nascido em 28 de fevereiro de… 1999. Sim, a maravilha eslovena tem apenas 16 anos de idade. Mas já está acostumado a jogar com gente mais velha, tendo feito a rapa com o Real sub-18 no ano passado, ao lado do espigão brasileiro Felipe dos Anjos (que chegou a jogar na pré-temporada do Real, mas não veio a São Paulo. É um projeto ainda é precisa ser blindado.) Doncic é um armador de 1,98m (ou mais…) e dinâmico. Contra a garotada, está sempre flertando com o triple-double, entrando no garrafão como bem entende. Entre os adultos, a coisa muda, e seu chute exterior ainda precisa de um bom trabalho para ser efetivo. Vai ser interessante acompanhar: Laso vai dar minutos para ele?  Só se o jogo estiver definido?

Para ler todo o conteúdo que o blog já escreveu sobre o Real Madrid, e não é pouco, clique aqui.


Copa Intercontinental: como está o Bauru?
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Giancarlo Giampietro

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O Real Madrid venceu tudo o que disputou na temporada passada. Para o Bauru, foi quase. Depois do Campeoanto Paulista, da Liga Sul-Americana e da Liga das Américas, que o credenciou para a Copa Intercontinental, acabaram varridos pelo Flamengo na final do NBB. Mas dá para dizer que aquele Bauru da final brasileira não era o mesmo de fevereiro, de uma sequência invicta que passou da casa de 30 partidas. (Para constar: o Fla não tinha nada com isso. Estava voando em quadra e atropelou, mesmo.)

“Acabou o gás”, afirma ao VinteUm o armador Ricardo Fischer, para, depois, fazer um comentário muito interessante: “Nosso time é muito competitivo, e a gente não acreditava no que estava acontecendo. Até ficamos nervosos com a situação, mas simplesmente não ia, não acontecia. A gente tentatava, mas não saía. Tivemos um pico muito grande na temporada por muito tempo. Nos playoffs, contra a Franca, já havia sido mais difícil. Aconteceu contra Mogi novamente, e aí veio a final. Lembro muito de, antes do Jogo 2, em Marília, ver muita vontade no vestiário. A vontade era imensa. Mas, no começo do jogo, logo errei uma bandeja. O Murilo pegou o rebote e perdeu também debaixo da cesta. Ali deu para ver.”

Bom, estamos agora no início de uma nova temporada? Vida nova, certo?

Hã… Nem tanto.

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Como o técnico Guerrinha gosta de dizer, o clube enfrentou uma série de “intercorrências” em sua preparação para um torneio tão relevante e contra um adversário tão imponente. A lista de percalços:

– Quatro de seus jogadores estiveram a serviço da seleção brasileira (Hettsheimeir só no Pan e Ricardo Fischer, Leo Meindl e o importado Rafael Mineiro em Toronto e na Copa América). Para Fischer e Meindl, o calendário foi mais ou menos assim: “Cheguei domingo de manhã, me apresentei quinta à tarde e já teve jogo no sábado”, relata o armador.  Mineiro começou a treinar apenas agora com a equipe, depois que Limeira foi eliminado na primeira fase do Paulista e, depois, saberíamos, encerraria as atividades do time adulto para o restante da temporada.

Rafael bate um papo com os ex-companheiros de Real, Rudy e Felipe. Jogaram juntos na temporada 2013-2014, embora o pivô mais tenha ficado no banco. Foi uma campanha prejudicada por uma artroscopia que o brasileiro teve no início da temporada. Depois, o pivô ainda jogou pelo Málaga. Agora existe a possibilidade de retornar à Europa

Rafael bate um papo com os ex-companheiros de Real, Rudy e Felipe. Jogaram juntos na temporada 2013-2014, embora o pivô mais tenha ficado no banco. Foi uma campanha prejudicada por uma artroscopia que o brasileiro teve no início da temporada. Depois, o pivô ainda jogou pelo Málaga. Agora existe a possibilidade de retornar à Espanha

– Hetthsheimeir chegou um pouco antes, mas se mandou para os Estados Unidos, onde fez testes pelo San Antonio Spurs. Segundo consta, fez bons treinamentos por lá, agradou aos treinadores, mas não deve ser contratado neste ano. O que acontece: os times da NBA querem conferir tudo de perto. Obviamente o antenadíssimo departamento de scouting internacional do clube texano tinha diversas notas sobre o pivô brasileiro, complementadas pelo que viram no Pan. Daí que acharam que era o momento de seus treinadores conferirem o jogador de perto. Isso demonstra interesse, mas serve também para um acúmulo maior de informações, pensando no futuro.  Achar uma vaga no atual elenco, com Duncan, Aldridge, West, Diaw, Marjanovic e Bonner, seria complicadíssimo — e nem sei se valeria a pena para o já veterano, que já teve o prazer de vestir a camisa do Real, mas sem mal sair do banco, lembrem-se, quando voltava de lesão. Mas nunca se sabe quando você vai precisar de um grandalhão com boa pontaria no tiro de fora, certo? Entre embarque e desembarque, o atleta se ausentou por 10 dias.

(PS: agora Rafael está sendo sondado de modo mais agressivo pelo Estudiantes, da Espanha. Sinto que há o interesse de voltar à Espanha, mas é algo que só vão discutir após a Copa Intercontinental e, eventualmente, após o giro pela NBA, com jogos contra New York Knicks e Washington Wizards pela frente. Segundo o técnico Guerrinha, para fechar com qualquer clube que não seja uma franquia da grande liga, há uma multa rescisória a ser paga.)

– As lesões: Murilo Becker está fora de combate, se recuperando de uma cirurgia devido a um deslocamento de retina no olho esquerdo. O veterano pivô simplesmente não consegue se livrar dos problemas físicos e se divertir em quadra. Alex sofreu uma pancada no joelho e perdeu alguns dias preciosos de treino também. Jefferson William está voltando de uma lesão no tendão de Aquiles, uma das piores para um jogador de basquete. “Sentimos muito a falta dele nos playoffs.  Taticamente é importantíssimo. Além de ser matador, ele movimenta bem nosso time, com muita mobilidade”, diz Fischer. “Na questão médica, ele está totalmente liberado, 100%. Agora é o tempo de ele voltar, de ganhar ritmo de jogo,”, completa. Jefferson disputou apenas três partidas pelo Campeonato Paulista (uma contra Limeira e duas contra Mogi) e acertou 36% de seus arremessos, sendo 5-17 (29,4%) de três pontos. Foram 10,3 pontos e 6,3 rebotes em 25 minutos. O talentoso e esguio ala-pivô é peça-chave para o esquema bauruense. Obviamente o atleta não vai chegar na forma ideal. mas estará em quadra.

>> Qual Real Madrid chega para a Copa Intercontinental?

Por essas e outras, Guerrinha admite que a preparação não foi a ideal. Aliás, nem esteve perto do ideal. Nesse sentido, comparando com o Pinheiros de 2013 e o Flamengo de 2014, o representante brasileiro deste ano talvez chegue pela primeira vez com mais questões para resolver do que seu adversário europeu. Vamos ver.  “Não desenvolvemos a preparação para este campeonato do modo como gostaríamos, para dar ritmo”, afirma o treinador. “Os últimos dois jogos contra Mogi foram muito importantes para dar o espírito. Pois o jogador fica naquela também: quer jogar o Mundial, não quer se machucar, então acaba se dosando. Mas as partidas contra o Mogi são sempre de muito pegada e servem (para dar esse ritmo). A equipe enfrentou, foi valente, e crescemos muito. Mas se perguntar se chegamos no ponto ideal, digo que não.”

bauru

 Na fase regular do Campeonato Paulista, poupando de modo considerável seus principais nomes, deixou Wesley Sena e Carioca jogarem, a equipe do interior paulista venceu quatro e perdeu seis. Foi o suficiente para lhe garantir a quarta posição do Grupo A, ficando acima de Franca e Limeira (que também não jogou com força máxima). Por isso, agora nas quartas estão enfrentando o primeiro do Grupo B, o Mogi. Registre-se que Bauru perdeu as duas fora de casa. A primeira foi por 89 a 84. A segunda, por 89 a 88. É de se imaginar jogos quentes, mesmo, com o perdão do trocadilho. (PS sobre Sena: o pivô de 19 anos foi muito bem, com uma produção encorajadora para alguém tão jovem, algo raro no Brasil. Falei com ele neta quinta. Uma hora sai o texto sobre ele.)

“O Real é uma potência que está reivindicando jogar a NBA. O clube joga um campeonato muito mais forte que o nosso. Mas é da nossa vontade, do nosso querer, diminuir essa diferença com muita disposição, de querer diminuir essa diferença”, afirma Guerrinha, que é o primeiro a admitir, contudo, que conceitos como garra e vontade não serão o suficiente para fazer frente ao Real. “Nos brasileiros estamos acostumados a jogar com a emoção. Os europeus em geral se baseiam na razão. E esse time do Real tem isso: eles sabem direitinho o que procurar em quadra, os desequilíbrios defensivos, os mismatches. Eles atacam isso. O ideal era trabalhar o time por um mês, para tentar diminuir essa margem de diferença de elenco e realidade que temos para ele, mas não foi possível. Esse vai ser o nosso desafio, de não cair só no emocional, de vontade.”

Diria que esse é apenas um dos tantos desafios que Bauru tem pela frente. Dependendo do grau de comprometimento e do preparo físico dos atletas do Real, Bauru vai ter de se superar para buscar o título.

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Sobre a questão dos jogadores de aluguel, já abordada aqui no UOL Esporte pelo chapa Fábio Aleixo. Bauru contratou o pivô Rafael Mineiro e repatriou o ala Gui Deodato, que iniciou sua carreira pelo clube, agora cedido pelo Rio Claro. O curioso é que o jogador estava em quadra na noite desta quinta-feira, em casa, para vencer o Pinheiros e fechar o duelo pelas quartas de final do Paulista. Foi um quinto e último confronto emocionante, definido apenas na prorrogação (por 88 a 87), no qual Guilherme anotou 16 pontos em 15 arremessos, errando muito nos chutes de fora.

“Quando perdemos o Murilo (por causa de um problema no olho) fomos atrás do Rafael. Foi um pedido dos jogadores. Já o Gui é uma espécie de recompensa, pois fez parte do nosso time na última temporada inteira, foi criado lá. Já havíamos combinado”, afirmou Vitor Jacob, diretor do Bauru. O discurso foi repetido pelo técnico Guerrinha: de que houve até mesmo uma demanda por parte dos atletas para se reforçar o elenco.

Do ponto de vista ético e esportivo, não me parece a melhor solução. Afinal, este não é o Bauru que vai dar sequência à temporada — pode ser que Mineiro continue no time, mas ambas as partes teriam de chegar a um consenso quanto ao seu salário, que provavelmente não poderá seguir no patamar dos tempos de Limeira. O Flamengo fez o mesmo no ano passado ao acertar com o pivô americano Derrick Caracter, que, no final, acabou não acrescentando muito.

O treinador bauruense, de todo modo, lembra que esse expediente vem de longa data. “Desde que comecei no basquete, em 1976, na Argentina é histórico levar jogadores como reforço. Na nossa mais ainda. Em 1980 fomos para a Iugoslávia com Franca e levamos o Marcelo Vido e um americano. Em 1983, aqui no Ibirapuera, foi o mesmo: eu e o Gerson reforçamos o Sírio”, afirmou.

A dúvida é saber o quão facilmente Mineiro será integrado. Guerrinha aposta no entrosamento que teve com Fischer, Hettsheimeir e Meindl na seleção. Sobre Gui, o encaixa é muito mais natural, obviamente. Para contar: Bauru também tentou resgatar Larry Taylor, mas o americano não foi cedido pelo Mogi.


Copa Intercontinental: Qual Real Madrid veio ao Brasil?
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Giancarlo Giampietro

Copa Intercontinental, São Paulo, Real Madrid

Estava conversando com o Paulo Bassul, gerente técnico da liga nacional, enquanto éramos todos expulsos de quadra nesta quinta-feira para a equipe merengue fazer apenas seu segundo treino com plantel completo nesta pré-temporada. O fato de terem recebido seus campeões europeus só agora — Rodríguez, Llull, Fernández, Reyes e Hernangómez — pode sugerir que seja um time, por ora, desconjuntado. Mas aí a lembrança das últimas duas potências que visitaram o Brasil para a disputa do título mundial ajuda a relativizar isso, mesmo.

O Olympiakos que venceu o Pinheiros em 2013 tinha um núcleo da seleção grega em torno de Vassilis Spanoulis, mas havia trocado muitas peças importantes. Na real, havia trocado basicamente toda a sua linha de frente, tendo perdido como Kyle Hines, Pero Antic, Giorgi Shermadini, Joey Dorsey e Kostas Papanikolau de uma só vez, além do armador Acie Law. Já o Maccabi derrotado pelo Flamengo havia passado por um processo de reformulação ainda mais drástico, a começar pela troca no comando técnico com a saída de David Blatt e a promoção de seu assistente Guy Goodes. Em quadra, saíram a maior parte de seus principais jogadores, com destaque para o armador Tyrese Rice, talvez o cestinha mais explosivo em toda a Europa hoje.

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O Real inexplicavelmente deixou o pivô norte-americano Marcus Slaughter ir embora para o Darüşşafaka Doğuş, da Turquia. Seus tímidos números na campanha passada não dão a exata noção de sua relevância como defensor, ajudando muito na final contra o Olympiakos. Outros do garrafão que saíram foram os gigantes Ioannis Bourousis (agora no Olympiakos) e Salah Mejri (que vai tentar entrar no elenco do Dallas Mavericks). O grego e o tunisiano podem ser excelentes  opções de jogo interior para qualquer equipe, mas a verdade é que terminaram a última temporada guardadinhos no banco de reservas, ou atrás dele, no caso de Mejri, quase sempre excluído do grupo dos 12. Não é fácil a vida de gigante nesses tempos de jogo mais flexível e veloz. As demais perdas foram o ala KC Rivers, que teve seus momentos, mas não vai fazer tanta falta assim, e o armador argentino Facundo Campazzo, que, sabemos, pode ser uma dor-de-cabeça em quadra, mas que não teve e nem teria muito espaço num elenco que tem dois excepcionais Sergios.

As novidades são poucas, mas de alto nível, como sempre:

Thompkins agora briga por rebotes pelo Real

Thompkins agora briga por rebotes pelo Real

– O ala-pivô Trey Thompkins, ex-Clippers, chegou a ficar mais de um ano parado por conta de problemas físicos, mas voltou com tudo na última Euroliga pelo Nizhny Novgorod, com um jogo aos moldes de Rafael Hettsheimeir. Boa presença na disputa dos rebotes e excelente arremesso de média para longa distância. Teve média de 14,5 pontos e 8,1 rebotes em sua primeira temporada na Europa, acertando 37,4% de seus arremessos de três, com 2,08m de altura e 25 anos de idade. Levando em conta a temporada perdida, talvez ainda esteja em evolução. É mais um cara que, em qualquer outro elenco, poderia atuar por 30 minutos tranquilamente e carregar um ataque. No Real, vai ser mais um coadjuvante de luxo.

– Outro grandalhão que chega é Guillermo “Willy” Hernangómez, de apenas 21 anos e 2,09m. Trata-se de um retorno, ou melhor. Revelado na base merengue, foi cedido por empréstimo ao Sevilla, no qual fez amizade e uma parceria de sucesso com Kristaps Porzingis, a ponto de ambos serem draftados pelo Knicks. Ele é um pivô às antigas, jogando quase sempre de costas para a cesta, com muita munheca e eficiência. Deve defender a Espanha por anos e anos, sendo protagonista na renovação da seleção. Percebam a inteligência, no preenchimento de eventuais necessidades do time: Thompkins joga de dentro para fora, Hernangómez é uma referência interna. Ao lado de Ayón, Reyes e Nocioni, compõem uma linha de frente que tem absolutamente de tudo.

– Por fim, temos o ala sueco Jeffery Taylor, ex-Hornets/Bobcats. Um jogador de 26 anos que não conseguiu emplacar na NBA, a despeito de ter saído da Universidade de Vanderbilt com bons indicativos. Tem físico e recursos técnicos para cumprir outra função da moda, o “3 & D”, aquele ala que se mata na defesa e, no ataque, abre para o chute de três, especialmente na zona morta, deixando a turma mais talentosa com espaço para agredir a cesta. Taylor, porém, está se recuperando de uma entorse no tornozelo e, segundo Pablo Laso, não deve jogar em São Paulo. Se voltar à forma, é um ala comprido, atlético, com envergadura e velocidade para cobrir o perímetro. Na Europa, talvez possa até render Nocioni eventualmente como um strecht four, dependendo de como foi sua recuperação de uma cirurgia no tendão de Aquiles, ano passado.

São três contratações de impacto para o mercado europeu, mas que, no timaço do Real, acabam sendo apenas pontuais. A base é a mesma de uma equipe que ganhou absolutamente tudo que disputou pela jornada 2014-2015: Supercopa (que é aquele troféu que todos dizem não valer nada, até que vencem…), Copa do Rei (o mata-mata espanhol), a Liga ACB (que não é ‘La Liga’ das estrelas, mas ainda é o campeonato nacional mais forte do mundo) e a Euroliga. Detalhe: nos três títulos locais, venceram o Barcelona na decisão. Aí tudo fica mais prazeroso, não é verdade?

Então é assim: mesmo que não tenham treinado muito, desentrosamento não serve como desculpa. O maior adversário para eles — além, claro, do Bauru — talvez seja o que Bassul chama de “bode”. Como em “bode geral” de tudo, depois de oito de seus jogadores terem voltado há pouco de emocionantes e desgastantes competições por suas seleções. Conforme já dito, eram cinco defendendo a Espanha num EuroBasket que começou de modo preocupante, suscitando sussurros de derrocada, e terminou com um título extremamente prazeroso. Eles voltaram de Lille para Madri na segunda, fizeram uma festa danada e, na quarta, já estavam cruzando o Atlântico. O mesmo raciocínio vale para Jonas Maciulis, cuja Lituânia encontrou, mais uma vez, uma forma de bater times mais talentosos no papel para chegar à final e garantir uma comemoradíssima vaga olímpica. E ainda temos os latinos Nocioni e Ayón, que também jogaram uma barbaridade na Copa América e fecharam o torneio com sentimentos opostos: a Argentina de Chapu eliminou o México de “Gus” (como Laso o chama…) nas semifinais e impediu o bicampeoanto americano dos caras e também os jogou para o balaio geral do Pré-Olímpico mundial.

Mas não se enganem: não existe soberba, nem ressaca pela temporada vitoriosa que experimentaram. É o contrário: o fato de terem feito a rapa no continente só os motiva para esse torneio, para estender a sequência histórica. Seria o quinto troféu desde setembro de 2014. E estamos falando do Real, gente. Um clube com ambições desmedidas, sempre atrás de recordes. Ganhar as quatro taças foi algo inédito na Europa. Se levarem a Intercontinental agora, irão além. E todos os atletas merengues que abriram o bico durante a semana e o técnico Pablo Laso bateram nessa mesma tecla. Lembram, inclusive, que nos últimos dois anos ficaram perto de disputá-la e, ao fracassar na Euroliga, ficaram fora. Eles jogam com uma camisa que pesa muito, e, para o basquete, não deixa de ser uma novidade a disputa de uma competição internacional. Vamos ver o quanto essa ambição pode espantar o bode na hora de entrar em quadra.


Flamengo coroa ciclo vitorioso com a Copa Intercontinental
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Giancarlo Giampietro

A galera fora de controle, e tudo bem

A galera fora de controle, e tudo bem

Os rubro-negros só têm o que comemorar: neste domingo, o Flamengo venceu o Maccabi Tel Aviv por 90 a 77 no Rio de Janeiro e conquistou uma Copa Intercontinental histórica, coroando um ciclo vitorioso impressionante, como há muito não se via no basquete brasileiro. O Fla se junta ao Sírio como o único campeão do mundo (Fiba) do país.

Com intensidade defensiva impressionante, empurrada por uma torcida extremamente barulhenta e entusiasmada, e um ataque muito mais eficiente e controlado, atacando o garrafão do campeão europeu com propriedade, o time rubro-negro fez uma grande partida, ganhando o título mais importante de sua galeria, que, nos últimos anos, já havia sido abastecida com dois troféus do NBB e um da Liga das Américas.

Depois das declarações do ala Marquinhos ao final da primeira partida, numa derrota por 69 a 66, criticando a atuação dos reforços internacionais da equipe, o time brasileiro não deu qualquer indício de turbulência em quadra, com grandes atuações de outros dois estrangeiros, mas que já estavam em seu núcleo na temporada passada: Nícolas Laprovíttola (24 pontos e 5 assistências) e Jerome Meyinsse (22 pontos e 6 rebotes).

O armador argentino foi instrumental neste confronto. Ele atacou a defesa israelense lá dentro, algo que realmente fez falta no primeiro confronto.  O adversário pode povoar sua zona pintada, mas isso que não quer dizer que você precisa aceitar essa defesa e buscar uma só alternativa (que seria o chute de fora). Laprovíttola envolveu com inteligência os pivôs adversários em jogadas básicas de pick-and-roll e teve muito sucesso a partir daí.

A principal vítima foi Alex Tyus. Embora o americano seja muito mais ágil e atlético que Aleks Maric, ele demonstrou uma dificuldade surpreendente para ler o que se passava ao seu redor quando envolvido diretamente na ação ofensiva. Não sabia se marcava o baixinho ou o grandalhão quando a troca era forçada. Essa hesitação proporcionou muitos espaços para o argentino criar e agredir.

Quebrada a primeira linha defensiva, o pivô Meyinsse pôde entrar no jogo, sendo reintegrado ao ataque flamenguista com suas enterradas vigorosas e um jogo de pés paciente e bonito de se ver: 8-10 nos arremessos de quadra, dominante. As infiltrações de Laprovíttola também proporcionou melhor movimentação de bola e tiros de longa distância equilibrados no primeiro tempo. Nos 20 minutos iniciais, o aproveitamento no perímetro foi bastante inflacionado (com seis conversões em 12 tentativas), bem superior ao da etapa inicial na noite de sexta-feira (pífio 1-14), levando o técnico Guy Goodes à loucura.

Meyinsse foi soberano na batalha interior, assessorado por Laprovíttola

Meyinsse foi soberano na batalha interior, assessorado por Laprovíttola

(E aqui é o momento para fazer mais alguns considerações a respeito do fundamento: não, não é proibido arremessar de três pontos. Sim, por vezes você precisa recorrer a esse chute na tentativa de abrir a defesa. Posto isso, no primeiro jogo, o Fla se perdeu nestes chutes de maneira precipitada principalmente no primeiro tempo, quando conseguiu jogar em transição e não tinha nada de bloqueio, trincheira ou muralha maccabista no garrafão – esse panorama decantado aconteceu muito mais depois do intervalo. Tivessem atacado com mais consciência naquela ocasião, teriam se colocado em posição muito mais favorável. Não é questão de exigir um jogo perfeito por parte de uma equipe. Você está sujeito a erros de fundamento aqui e ali e a oscilações, uma vez que não joga contra o vento: existe um oponente preparado para te complicar.  Mas há coisas que você pode evitar, ainda mais no caso de um time experiente desses. E, aqui, é alarmante que tenhamos de falar de Marcelinho Machado, que voltou a forçar bolas absurdas em flutuação na linha de três.)

Mas o mais importante, mesmo, foi o empenho defensivo flamenguista, protegendo o garrafão de maneira impressionante, com muita atenção e rapidez na cobertura. O time de José Neto já havia marcado muito bem no Jogo 1, com uma contestação exterior exemplar. Neste domingo, apanharam um pouco, é verdade, dos armadores americanos do Maccabi, com MarQuez Haynes fazendo companhia muito mais efetiva ao lado do sensacional Jeremy Pargo.

Em termos de habilidade com a bola, explosão física e poder de decisão, o mais próximo de Pargo que as defesas dos clubes do NBB estão acostumadas a enfrentar seria o veterano Larry Taylor. Mas num nível bem abaixo, né? Individualmente, Laprovíttola, Gegê ou Benite não teriam chance contra ele. O trabalho precisaria ser coletivo, mesmo. E o Fla teve sucesso nisso.

Teria Marquinhos feito sua última partida pelo Fla? Críticas não geraram turbulência

Teria Marquinhos feito sua última partida pelo Fla? Críticas não geraram turbulência

Aí você confere a linha estatística e vê 28 pontos, 7 assistências e 6 rebotes para o americano. Então que sucesso foi esse?

Acontece que 18 dos 28 pontos do armador saíram em bolas de três pontos, ao passo que suas infiltrações foram  bem controladas. O baixinho estava endiabrado nos arremessos de fora Teve liberdade em alguns chutes na volta do intervalo, com seu marcador recuando a partir do corta-luz. Mas em alguns chutes o americano simplesmente “apelou”, todo cheio de confiança, sem se importar com a pressão dos torcedores rubro-negros. No terceiro período, ele anotou sozinho 16 pontos dos 25 de seu time. Em nenhum momento da temporada passada, pelo CSKA, o jogador se mostrou tão à vontade assim.

Três tópicos relevantes ajudam a entender esse momento, para além da capacidade e bom humor de Pargo: a) o Fla quase se deixou levar pelo ímpeto de querer duelar com o americano nos arremessos de três, se perdendo em quatro ou cinco minutos em quadra; b) Haynes assessorou muito bem seu compatriota nessa missão, aliviando um pouco suas responsabilidades, como condutor de bola; c) Marcelinho Machado estava em quadra sem conseguir marcar nenhum deles – com a entrada Gegê e Benite, a defesa melhorou muito, ganhando em agilidade.

Vitor, muito aguerrido e bem mais concentrado do que o normal, foi fundamental no quarto período para frear e desgastar Pargo. Grudou no camisa 4 e deixou as coisas bem mais difíceis para a estrela do Maccabi. Com Pargo praticamente descartado, o time europeu se perdeu ofensivamente. Foi a vez de os israelenses queimarem ataques com arremessos de três equivocados, repetindo as 31 tentativas do Flamengo do primeiro jogo, convertendo 10. Agora se formos descontar os números de seu cestinha, eles ficaram em 4-20, 20%.

O elenco do Maccabi tem bons valores, mas já fica muito clara a dependência em torno do jogo de PArgo. É um time bastante enfraquecido se comparado com o de quatro meses atrás (o desfalque de Sofoklis Schortsanitis pesa muito, com o perdão do trocadilho). A saída de David Blatt também é brutal para suas pretensões na Euroliga, com o técnico Guy Goodes se perdendo em suas rotações e no manejo do placar, tendo três pontos de lambuja ao seu favor.

Mas o Flamengo não tem nada com isso. Fez sua parte em quadra, soube usar a energia da arquibancada de modo positivo – algo que nem sempre é fácil num jogo tensod esses – e conquistou o seu maior troféu. Valeu a festa toda no final, com a galera invadindo a quadra, mas em incidentes. O tipo de descontrole que não faz mal a ninguém.

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Sobre o regulamento da Copa Intercontinental: para futuras edições, ou a organização descola uma brecha de calendário que permita três jogos, ou que fique numa partida única só. Essa coisa de saldo de pontos em dois confrontos é inclassificável. Por exemplo: com 3min08s no cronômetro, o Flamengo vencia por 81 a 70 após dois lances livres de Laprovíttola. Mas, na verdade, não eram 11 pontos de vantagem, já que o Maccabi precisava tirar a diferença pelo menos para 3 para forçar a prorrogação. Isso não pertence ao basquete, como diria o outro.

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Depois de um double-double no primeiro jogo, Derrick Caracter, a contratação pontual e polêmica do time, teve participação muito mais contida neste domingo, com apenas dez minutos de ação. Somou quatro pontos e 2 rebotes. O pivô americano tem agora mais três partidas em sua carreira rubro-negra, com o giro de amistosos em seu país.

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Atualização: E será que Marquinhos fez seu último jogo pelo Fla? Segundo os companheiros Fábio Aleixo e Pedro Ivo Almeida, o ala tem negociações avançadas com o Washington Wizards, que vai abrir seu training camp já nesta terça-feira. Se for para fechar o negócio mesmo com o time da capital, deve acontecer rapidamente. Em entrevista após a final neste domingo, o brasileiro disse que sua oferta é do New Orleans Pelicans, clube que defendeu em sua primeira passagem pela NBA. Mas uma fonte próxima ao clube assegura que só foi feita uma sondagem a respeito do atleta, e uma sondagem preliminar.

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Muito bacana a reação de Walter Herrmann, subindo em um dos aros da Arena HSBC para aplaudir, de pé, seus torcedores e companheiros. Taí um cara que merece qualquer confete. O argentino já está longe do auge, mas é um atleta de muito caráter e fundamentos ainda muito sólidos, que vai contribuir bastante para o Fla em sua luta pelo tricampeonato nacional.


A ciranda de Marquinhos, Flamengo e Wizards. Como faz agora?
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Giancarlo Giampietro

Caracter e Herrmann, os que não conhecem tão bem o Flamengo

Caracter e Herrmann, os que não conhecem tão bem o Flamengo

Primeiro foi tratado como “rumor”. Depois, como furada. Mas agora parece que está acontecendo mesmo: os repórteres Fábio Aleixo e Pedro Ivo Almeida, parceiros aqui do UOL Esporte, acabam de noticiar que Marquinhos está, mesmo, em negociações avançadíssimas para assinar com o Washington Wizards.

De modo que este é um post complicado de escrever, mas importante, já que tem a ver com o universo do basquete e o do jornalismo, com notícias (ou boatos?), desmentidos (ou dissimulações?)… Enfim, todas as artimanhas que a profissão sempre ofereceu para repórteres e fontes, que ficam ainda mais complicadas em tempos de Internet. Vamos lá, então, relatar o que está acontecendo, em ordem cronológica:

Quinta-feira
O jornalista italiano Emiliano Carchia, que pilota o site Sportando, referência em notícias do basquete europeu e que também mete a colher aqui e ali no mundo da NBA, soltou uma bomba que agitou o basqueteiro brasileiro – e o flamenguista em particular. Emiliano cravou: Marquinhos havia acertado um contrato de um ano com o Washington Wizards e estaria pronto para viajar no mesmo dia.

Acontece que, naquele exato momento, o Flamengo estava treinando na Arena HSBC no Rio de Janeiro, na véspera da disputa da Copa Intercontinental contra o Maccabi Tel Aviv. Que hora, hein? Finalizada a sessão, Marquinhos desmentiu, disse que não tinha assinado contrato nenhum. O Flamengo não estava sabendo de nada. O agente do atleta, em contato com o jornalista italiano, reforçou as negativas, pedindo um desmentido no site. Emiliano seguiu a linha de ouvir o outro lado e publicou sua nota de noite. O pequeno texto, porém, se encerrava com a informação de que uma fonte sua assegurava que o ala brasileiro e o time da capital norte-americana tinham um acordo acertado.

Sexta-feira
Marquinhos vai para a quadra normalmente com o Flamengo, escalado no time titular ao lado de Laprovíttola, Marcelinho e Walter Herrmann, trio que também participou da Copa do Mundo. Torneio no qual o lateral jogou muita bola, apresentando uma intensidade bastante rara para quem acompanha sua carreira desde os tempos de Vasco da Gama, Mogi etc. Obviamente que o desempenho chamaria a atenção de olheiros – o atleta sempre foi um prospecto de nível internacional, descolando contrato com o então fortíssimo basquete italiano cedo em sua carreira, sendo draftado pelo New Orleans Pelicans-então-Hornets e tal. Poderia estar no basquete europeu há tempos, em clubes de ponta, mas, devido aos filhos, preferiu o conforto de casa, fazendo boas campanhas por Pinheiros e, agora, Fla.

Contra o Maccabi, o ala não teve o desempenho mais eficiente (4-12 nos arremessos, 11 pontos, 4 rebotes, 2 roubos de bola, 2 turnovers em 29 minutos), mas jogou duro, com a mesma pegada que havia demonstrado na Espanha. Não foi sua melhor partida, mas jogou bem, passando aquela impressão (de sempre) de que pode ser muito mais utilizado, ainda mais quando está empenhado em partir para a cesta.

Ao final da partida, uma derrota por 69 a 66, Marquinhos foi o escolhido pelo repórter Guido Nunes, do SporTV, para fazer os primeiros comentários sobre o jogo. Quando questionado sobre os reforços rubro-negros para a competição – especificamente o argentino Walter Herrmann, que vem para disputar toda a temporada, e o norte-americano Derrick Caracter, contratado especificamente para o Intercontinental e os amistosos nos Estados Unidos –, o brasileiro não dobrou a língua e foi crítico. Disse que os gringos não jogaram bem e que o técnico José Neto deveria ter usado um “time que se conhece”. Assim, na lata. Essa coisa de contratação pontual, para um punhado de jogos, tem histórico bastante duvidoso. Os cruzeirenses que o digam.

O que nos leva ao grande hit da banda sueca The Hives, que já tem mais de dez anos:

Sábado
Lá vêm Fábio Aleixo e Pedro Ivo Almeida para basicamente confirmarem a bomba que Emiliano Carchia havia soltado na quinta: sim, Marquinhos está negociando com o Washington Wizards. Nenê teria reforçado a indicação de seu companheiro de seleção, que está inclusive pesquisando sobre escolas na capital norte-americana para inscrever as filhas. Quer dizer: o Sportando pode ter meio que errado ao dizer que o contrato estava assinado e que já viajaria na quinta. Mas também estava meio certo, no sentido de que parece que está tudo acertado entre as partes, restando apenas a tinta no papel.

Domingo
E aí? Faz como?

Lembrando que não é a primeira vez que Marquinhos se envolve nesse tipo de tiroteio público. Como sabem Guerrinha e Flávio Davis, assistentes da seleção na gestão de Lula Ferreira. Por falar nesta fase da equipe nacional, mais especificamente de 2007, nem sempre o que acontece em Las Vegas fica em Las Vegas, né? Além do mais, até Rubén Magnano, um entusiasta do jogador, teve suas rusgas e lamúrias. O que não quer dizer que ele seja um atleta problemático. Marquinhos é simplesmente um atleta que não se importa com o microfone e costuma falar o que dá na telha.

O ala está falando por conta própria? Sua opinião foi, digamos, pontual? No sentido de que só fez uma crítica ao basquete apresentado pelo(s?) reforço(s?) naquela sexta-feira específica e que seu treinador deveria se ater a um time mais bem entrosado? Ou seu comentário tem a ver com algum ressentimento pela contratação de última hora de Caracter? E isso reflete de algum modo a opinião geral do vestiário, ou pelo menos de alguns companheiros? Se há um desconforto, isso o teria motivado a abrir o bico em rede nacional, uma vez que seu compromisso com o clube já está chegando ao fim?

São as questões que precisam ser respondidas agora.

O Flamengo, basicamente, precisa vencer o Maccabi por quatro pontos para ganhar um título histórico. É mais do que plausível isso. O time israelense comprovou na primeira partida sua vulnerabilidade, sua falta de entrosamento. Foi salvo pelo caminhão de chutes de três desperdiçados pelo adversário e pelas estripulias de Jeremy Pargo.

Agora, porém, as dificuldades cresceram. E o que será mais complicado de se resolver: lavar a roupa suja com Marquinhos, treinar os chutes de três pontos ou anular Pargo?


Flamengo erra um caminhão de bolas de 3 e perde 1ª final
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Giancarlo Giampietro

Maccabi fecha a porta para Laprovíttola: única saída foi o tiro de fora, então?

Maccabi fecha a porta para Laprovíttola: única saída foi o tiro de fora, então?

Foi apenas por  três pontos: 69 a 66. O Flamengo perdeu para o Maccabi Tel Aviv por um placar reduzido desse, nesta sexta-feira, no Rio de Janeiro, na primeira final da Copa Intercontinental. Quer dizer: a equipe carioca tem totais condições de virar o resultado na segunda partida, domingo, com base no saldo de pontos – numa fórmula de competição esdrúxula, independentemente das limitações do calendário internacional, convenhamos.

Então, tudo bem. Acontece, né?

Hm… Nem tanto: as condições poderiam ser muito mais favoráveis para o time rubro-negro no segundo jogo não fosse uma jornada completamente equivocada, desastrada e inexplicável nos arremessos de longa distância.

Pois, que coisa: se, na defesa, a equipe de José Neto fez o dever de casa, fiscalizando da maneira devida, exemplarmente, os arremessos de três pontos de seu adversário, no ataque ela se entregou desta forma. Para deixar mais claro contra-senso: de um lado, trabalhou seriamente para limitar os chutes de fora; do outro, achou que poderia resolver a partida do mesmo jeito.

Olivinha foi uma raridade nesta sexta: não arremessou nenhuma bola de longa distância e terminou com 13 pontos e 7 rebotes em 24 minutos. Inteligência, preparo e determinação fazem a diferença em qualquer nível

Olivinha foi uma raridade nesta sexta: não arremessou nenhuma bola de longa distância e terminou com 13 pontos e 7 rebotes em 24 minutos. Inteligência, preparo e determinação fazem a diferença em qualquer nível

E não é que o Maccabi tenha repetido a dose de seu rival e contestado as tentativas de longa distância flamenguistas. Em diversas ocasiões, principalmente no primeiro tempo, os donos da casa simplesmente se contentaram em brecar na linha perimetral  para mandar ver. Sem sucesso: o aproveitamento geral na noite foi de apenas 4-31 neste tipo de bola. Apenas 12,9%. Com um rendimento desse, não vamos falar de azar ou detalhes, vamos? Sinceramente.

“A verdade é que o time deles fechou muito o garrafão e não tivemos muita saídas. Agora é assistir ao vídeo e ver no que pode melhorar”, afirmou Marquinhos, ao SporTV, que anotou 11 pontos em 29 minutos, convertendo 4 de 12 arremessos, em 29 minutos. Titular da seleção brasileira na Copa do Mundo, o ala foi um pouco mais comedido em seus disparos: 1-4 de longa distância.

Já o Maccabi terminou também com pífios 24% nos arremessos de três pontos, matando apenas 5-21, algo que não valeria nunca um título de Euroliga. Quer dizer: José Neto conseguiu passar a mensagem aos seus atletas de que esse jogo exterior precisaria ser contido. O que deixa perplexo é o fato de, na outra faceta, seus ateltas se perderem justamente da mesma maneira.

Que o Maccabi tenha forçado o Flamengo para os arremessos de fora não é uma surpresa. É um time que não tem tanta estatura ou envergadura, mas que preenche seu garrafão da maneira apropriada. O problema? O time brasileiro se perdeu em uma avalanche de arremessos sem a menor paciência para trabalhar a bola, nem mesmo quando tinha vantagem no placar.

Neste quesito, um jogador com a experiência de Marcelinho Machado precisaria ser um líder, para acalmar a situação. Acabou tendo uma atuação ainda mais lamentável no Rio, errando todos os seus nove chutes, incluindo todos os oito de três, em 19 minutos. Mas não dá para falar apenas do camisa 4. O armador argentino Nicolás Laprovíttola também se atrapalhou todo com apenas uma cesta de longa distância em nove que tentou (2-12 no geral). Vitor Benite, muito mais jovem, explosivo e habilidoso que seu veterano capitão, ficou com 0-5 (fez 9 pontos em 16 minutos, sendo muito mais eficiente quando partiu para os chutes mais de perto (3-3 nas bolas de dois…).

Aqui, cabe o devido parêntese: ambos os times estão em fase de pré-temporada. Estão desenferrujando, recuperando o melhor ritmo de jogo, buscando um melhor entrosamento. O jogo teve, mesmo, cara de amistoso, algo que pode mudar no domingo, com expectativa de público maior no ginásio da Barra. Mas, se for para falar disso, os próprios flamenguistas admitem que isso seria uma vantagem ao seu favor, uma vez que têm apenas dois atletas para assimilarem – Walter Herrmann e a contratação pontual Derrick Caracter –, enquanto, do outro lado, os europeus mudaram mais da metade de sua rotação e ainda estão assimilando os conceitos de um novo treinador. Uma combinação de fatores que abre incógnitas sobre o desenvolvimento do time israelense, dando mais chances para o Flamengo.

Essas chances ficaram evidentes no jogo desta sexta-feira. O campeão brasileiro e latino-americano vencia ao final do terceiro quarto por cinco pontos. A vantagem chegou à casa de duplos dígitos na etapa inicial, mas as precipitações no ataque permitiram que o Maccabi se mantivesse no jogo. Algo que se mostrou fatal no último quarto, quando a boa e velha combinação de um armador explosivo e matreiro com um pivô atlético fazendo a limpa na tábua ofensiva voltou a funcionar.

Jerome Meyinssie não foi bem no 1º jogo: 2 pontos e 5 rebotes em 18 minutos (1-5). Mas seus companheiros também desistiram facilmente do americano, que viu seu companheiro de universidade, Sylven Landesberg, marcar 10 pontos

Jerome Meyinssie não foi bem no 1º jogo: 2 pontos e 5 rebotes em 18 minutos (1-5). Mas seus companheiros também desistiram facilmente do americano, que viu seu companheiro de universidade, Sylven Landesberg, marcar 10 pontos

Com Tyrese Rice infernizando a defesa de seus adversários e Alex Tyus desequilibrando na rebarba, o time israelense faturou a Euroliga de modo surpreendente em Milão, derrubando o CSKA pela semifinal e o grande favorito Real Madri pela final. Na troca de temporada, com o mercado russo interferindo, Rice se mandou, mas Pargo retornou para assumir sua vaga. Único jogador com experiência de NBA no elenco de Tel Aviv, o armador foi um terror em quadra, com 21 pontos em 30 minutos, matando 8-14 chutes de quadra, castigando a defesa do Fla tanto dentro como fora. Tyus se viu mais limitado, com apenas 23 minutos, mas contribuiu com 9 pontos e 5 rebotes, dois deles ofensivos.

Com o norte-americano ao centro e quatro atletas abertos, o Maccabi lembrou em muito mais o time que levou o título europeu na temporada passada, ao contrário da formação tradicional que usou no início do confronto, com o pesado e nada efetivo Aleks Maric tendo a companhia de Brian Randle no garrafão. No segundo tempo, o australiano Maric ficou grudado no banco de reservas, e os israelenses ganharam em agilidade e mobilidade para fazer uma defesa mais compacta e também pontuarem de modo mais diversificado. Saiu um poste e entrou outro atleta capaz de criar a partir do perímetro, espaçando a retaguarda flamenguista.

Os times foram se estudando, entendendo. Por melhor que seja o scout feito na véspera, nada melhor do que ver o embate empírico de suas peças, ainda mais com a distância geográfica e esportiva que existe entre a Liga das Américas e a Euroliga. Levando este ponto em consideração, o deslize do Flamengo é ainda maior, considerando o cenário propício para desbancar os favoritos.

Também ao SporTV, ao final do jogo, o armador MarQuez Haynes, que anotou 5 pontos em 13 minutos, reconheceu que cada time agora conhece melhor o seu oponente. Se formos pensar assim, o destempero rubro-negro da linha de fora talvez até possa, enfim, jogar ao seu favor. Capaz de o Maccabi não votar mais fé nenhuma neste fundamento. Aí, de repente, a sorte vira de lado. Foram apenas três pontos de vantagem para os israelenses no primeiro jogo. Três pontos não são nada no basquete.

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Em sua entrevista pós-jogo, Marquinhos também disse o seguinte: “O Neto tem que colocar em quadra quem ele conhece”. Sem explanar muito, fora de contexto, parece um jab de direita em direção ao americano Caracter, contratado de última hora para a Copa Intercontinental e os amistosos nos Estados Unidos contra a galera da NBA. O pivô jogou por quase 22 minutos e somou 10 pontos e 11 rebotes, sendo, ao lado de Olivinha, um dos atletas mais eficazes do Fla. Talvez não seja uma crítica, então. Mas tem a história do Cruzeiro, no futebol, sempre para ser contada.