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Flamengo erra um caminhão de bolas de 3 e perde 1ª final
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Giancarlo Giampietro

Maccabi fecha a porta para Laprovíttola: única saída foi o tiro de fora, então?

Maccabi fecha a porta para Laprovíttola: única saída foi o tiro de fora, então?

Foi apenas por  três pontos: 69 a 66. O Flamengo perdeu para o Maccabi Tel Aviv por um placar reduzido desse, nesta sexta-feira, no Rio de Janeiro, na primeira final da Copa Intercontinental. Quer dizer: a equipe carioca tem totais condições de virar o resultado na segunda partida, domingo, com base no saldo de pontos – numa fórmula de competição esdrúxula, independentemente das limitações do calendário internacional, convenhamos.

Então, tudo bem. Acontece, né?

Hm… Nem tanto: as condições poderiam ser muito mais favoráveis para o time rubro-negro no segundo jogo não fosse uma jornada completamente equivocada, desastrada e inexplicável nos arremessos de longa distância.

Pois, que coisa: se, na defesa, a equipe de José Neto fez o dever de casa, fiscalizando da maneira devida, exemplarmente, os arremessos de três pontos de seu adversário, no ataque ela se entregou desta forma. Para deixar mais claro contra-senso: de um lado, trabalhou seriamente para limitar os chutes de fora; do outro, achou que poderia resolver a partida do mesmo jeito.

Olivinha foi uma raridade nesta sexta: não arremessou nenhuma bola de longa distância e terminou com 13 pontos e 7 rebotes em 24 minutos. Inteligência, preparo e determinação fazem a diferença em qualquer nível

Olivinha foi uma raridade nesta sexta: não arremessou nenhuma bola de longa distância e terminou com 13 pontos e 7 rebotes em 24 minutos. Inteligência, preparo e determinação fazem a diferença em qualquer nível

E não é que o Maccabi tenha repetido a dose de seu rival e contestado as tentativas de longa distância flamenguistas. Em diversas ocasiões, principalmente no primeiro tempo, os donos da casa simplesmente se contentaram em brecar na linha perimetral  para mandar ver. Sem sucesso: o aproveitamento geral na noite foi de apenas 4-31 neste tipo de bola. Apenas 12,9%. Com um rendimento desse, não vamos falar de azar ou detalhes, vamos? Sinceramente.

“A verdade é que o time deles fechou muito o garrafão e não tivemos muita saídas. Agora é assistir ao vídeo e ver no que pode melhorar”, afirmou Marquinhos, ao SporTV, que anotou 11 pontos em 29 minutos, convertendo 4 de 12 arremessos, em 29 minutos. Titular da seleção brasileira na Copa do Mundo, o ala foi um pouco mais comedido em seus disparos: 1-4 de longa distância.

Já o Maccabi terminou também com pífios 24% nos arremessos de três pontos, matando apenas 5-21, algo que não valeria nunca um título de Euroliga. Quer dizer: José Neto conseguiu passar a mensagem aos seus atletas de que esse jogo exterior precisaria ser contido. O que deixa perplexo é o fato de, na outra faceta, seus ateltas se perderem justamente da mesma maneira.

Que o Maccabi tenha forçado o Flamengo para os arremessos de fora não é uma surpresa. É um time que não tem tanta estatura ou envergadura, mas que preenche seu garrafão da maneira apropriada. O problema? O time brasileiro se perdeu em uma avalanche de arremessos sem a menor paciência para trabalhar a bola, nem mesmo quando tinha vantagem no placar.

Neste quesito, um jogador com a experiência de Marcelinho Machado precisaria ser um líder, para acalmar a situação. Acabou tendo uma atuação ainda mais lamentável no Rio, errando todos os seus nove chutes, incluindo todos os oito de três, em 19 minutos. Mas não dá para falar apenas do camisa 4. O armador argentino Nicolás Laprovíttola também se atrapalhou todo com apenas uma cesta de longa distância em nove que tentou (2-12 no geral). Vitor Benite, muito mais jovem, explosivo e habilidoso que seu veterano capitão, ficou com 0-5 (fez 9 pontos em 16 minutos, sendo muito mais eficiente quando partiu para os chutes mais de perto (3-3 nas bolas de dois…).

Aqui, cabe o devido parêntese: ambos os times estão em fase de pré-temporada. Estão desenferrujando, recuperando o melhor ritmo de jogo, buscando um melhor entrosamento. O jogo teve, mesmo, cara de amistoso, algo que pode mudar no domingo, com expectativa de público maior no ginásio da Barra. Mas, se for para falar disso, os próprios flamenguistas admitem que isso seria uma vantagem ao seu favor, uma vez que têm apenas dois atletas para assimilarem – Walter Herrmann e a contratação pontual Derrick Caracter –, enquanto, do outro lado, os europeus mudaram mais da metade de sua rotação e ainda estão assimilando os conceitos de um novo treinador. Uma combinação de fatores que abre incógnitas sobre o desenvolvimento do time israelense, dando mais chances para o Flamengo.

Essas chances ficaram evidentes no jogo desta sexta-feira. O campeão brasileiro e latino-americano vencia ao final do terceiro quarto por cinco pontos. A vantagem chegou à casa de duplos dígitos na etapa inicial, mas as precipitações no ataque permitiram que o Maccabi se mantivesse no jogo. Algo que se mostrou fatal no último quarto, quando a boa e velha combinação de um armador explosivo e matreiro com um pivô atlético fazendo a limpa na tábua ofensiva voltou a funcionar.

Jerome Meyinssie não foi bem no 1º jogo: 2 pontos e 5 rebotes em 18 minutos (1-5). Mas seus companheiros também desistiram facilmente do americano, que viu seu companheiro de universidade, Sylven Landesberg, marcar 10 pontos

Jerome Meyinssie não foi bem no 1º jogo: 2 pontos e 5 rebotes em 18 minutos (1-5). Mas seus companheiros também desistiram facilmente do americano, que viu seu companheiro de universidade, Sylven Landesberg, marcar 10 pontos

Com Tyrese Rice infernizando a defesa de seus adversários e Alex Tyus desequilibrando na rebarba, o time israelense faturou a Euroliga de modo surpreendente em Milão, derrubando o CSKA pela semifinal e o grande favorito Real Madri pela final. Na troca de temporada, com o mercado russo interferindo, Rice se mandou, mas Pargo retornou para assumir sua vaga. Único jogador com experiência de NBA no elenco de Tel Aviv, o armador foi um terror em quadra, com 21 pontos em 30 minutos, matando 8-14 chutes de quadra, castigando a defesa do Fla tanto dentro como fora. Tyus se viu mais limitado, com apenas 23 minutos, mas contribuiu com 9 pontos e 5 rebotes, dois deles ofensivos.

Com o norte-americano ao centro e quatro atletas abertos, o Maccabi lembrou em muito mais o time que levou o título europeu na temporada passada, ao contrário da formação tradicional que usou no início do confronto, com o pesado e nada efetivo Aleks Maric tendo a companhia de Brian Randle no garrafão. No segundo tempo, o australiano Maric ficou grudado no banco de reservas, e os israelenses ganharam em agilidade e mobilidade para fazer uma defesa mais compacta e também pontuarem de modo mais diversificado. Saiu um poste e entrou outro atleta capaz de criar a partir do perímetro, espaçando a retaguarda flamenguista.

Os times foram se estudando, entendendo. Por melhor que seja o scout feito na véspera, nada melhor do que ver o embate empírico de suas peças, ainda mais com a distância geográfica e esportiva que existe entre a Liga das Américas e a Euroliga. Levando este ponto em consideração, o deslize do Flamengo é ainda maior, considerando o cenário propício para desbancar os favoritos.

Também ao SporTV, ao final do jogo, o armador MarQuez Haynes, que anotou 5 pontos em 13 minutos, reconheceu que cada time agora conhece melhor o seu oponente. Se formos pensar assim, o destempero rubro-negro da linha de fora talvez até possa, enfim, jogar ao seu favor. Capaz de o Maccabi não votar mais fé nenhuma neste fundamento. Aí, de repente, a sorte vira de lado. Foram apenas três pontos de vantagem para os israelenses no primeiro jogo. Três pontos não são nada no basquete.

*  *  *

Em sua entrevista pós-jogo, Marquinhos também disse o seguinte: “O Neto tem que colocar em quadra quem ele conhece”. Sem explanar muito, fora de contexto, parece um jab de direita em direção ao americano Caracter, contratado de última hora para a Copa Intercontinental e os amistosos nos Estados Unidos contra a galera da NBA. O pivô jogou por quase 22 minutos e somou 10 pontos e 11 rebotes, sendo, ao lado de Olivinha, um dos atletas mais eficazes do Fla. Talvez não seja uma crítica, então. Mas tem a história do Cruzeiro, no futebol, sempre para ser contada.


Garimpando talentos: conheça o Maccabi jogador por jogador
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Giancarlo Giampietro

Maccabi Tel Aviv 2014-2015

Maccabi Tel Aviv 2014-2015, sem o Baby Shaq grego na foto : (

O Maccabi Tel Aviv tem torcida, grana e um ginásio sensacionais. Um nível de estrutura que nenhum clube brasileiro dedicado ao basquete ainda está perto de atingir. É uma verdadeira potência europeia, mas que vem sofrendo um pouco nas últimas temporadas para sustentar seu status para além da tradição. Leia-se: com resultados.

Mas eles não são os atuais campeões, cara pálida?

Sim, só vão jogar a Copa Intercontinental contra o Flamengo por isso, mesmo. Ta-ta-ta-tum-pá! (Virada imaginária de baterista.)

Agora tenha em mente o seguinte: entre 1999 e 2006, eles ganharam a Euroliga três vezes e só ficaram fora do Final Four em 2003 – o ano em que Anderson Varejão foi campeão pelo Barcelona, aliás. Nos sete campeonatos seguintes, o baque: só terminaram entre os quatro melhores apenas duas vezes, passando em branco, até encerrarem o jejum em 2014.

Pargo foi companheiro de Varejão por alguns meses no Cleveland. Em Maccabi, pode voltar a ser rei

Pargo foi companheiro de Varejão por alguns meses no Cleveland. Em Maccabi, pode voltar a ser rei

Por mais que tenham a tradição e uma base fervorosa, é extremamente complicada a concorrência financeira com outros centros, no que se refere a contratações de grandes estrelas. No elenco que veio ao Rio de Janeiro, não há sequer um atleta que tenha disputado a última Copa do Mundo. Em termos de NBA, apenas o armador Jeremy Pargo jogou por lá, comparando com nove e quatro, respectivamente, do Real Madrid.

Russos e turcos tendem a rapelar o mercado, assim como a dupla Real-Barça, ano após ano. Para se manter com chances no mais alto nível do basquete além das fronteiras da liga americana, então, o time faz ótimo trabalho de prospecção com nomes geralmente  alternativos, que tendem a se destacar lá para depois saírem em busca de um cheque mais vantajoso.  Um processo que voltou a acontecer depois do título europeu, um  fator que inflacionou contação de seus atletas.

Lá se foram as duas figuras instrumentais de seu ataque, a dupla de armadores americanos Tyrese Rice (Kimkhi Moscou) e Ricky Hickman (Fenerbahçe). Depois de fazer péssima primeira fase, Rice cresceu durante o campeonato e se tornou o MVP do Final Four da Euroliga, com atuações espetaculares na semi e na final. É um armador baixinho, mas explosivo, que infernizou a vida dos Sergios do Real. Rodríguez e Llull simplesmente não conseguiram lidar com ele. Já Hickman, depois de uma longa jornada, foi a força criativa mais estável do clube durante todo o campeonato, também criando muito a partir do drible.

Outro que saiu foi o pivô Shawn James, que ficou fora praticamente de toda a temporada por conta de uma cirurgia nas costas, mas era o principal defensor da equipe quando em forma – excepcional na cobertura vindo do lado contrário. Ele migrou para o Olimpia Milano. Já o versátil ala australiano Joe Ingles, depois de anos de namoro com a NBA, foi para o altar com o Los Angeles Clippers.

A lista segue. Podem somar também mais duas baixas, digamos, casuais. O veterano ala-pivô David Blu, outro atleta decisivo para o título europeu, tendo anotado 29 pontos nos dois jogos do Final Four, com 53,8% nas bolas de três, se aposentou. Além de gatilho, Blu era um dos líderes da equipe, de tantos troféus que conquistou por lá. Já o pivô Sofoklis Schortsanitis, única referência de garrafão da equipe, está afastado das quadras devido a um glaucoma – um alívio para os flamenguistas, especialmente seus pivôs, que já não precisam estocar analgésicos em casa, mas uma pena para o público em geral, que perde a chance de ver na arena um dos jogadores mais singulares do basquete mundial.

Rice, de bandana, já se foi, assim como Ingles (d). Tyus (e) ficou

Rice, de bandana, já se foi, assim como Ingles (d). Tyus (e) ficou

Então quem sobrou? E quem chegou?

Seguem então alguns breves comentários sobre os atletas do Maccabi:

Jeremy Pargo ocupa a vaga aberta por Rice, jogador com o qual compartilha uma característica: muito explosivo, com corte para os dois lados, difícil de ser contido atacando a cesta. Quando quebra a primeira linha defensiva, tende a criar um salseiro rumo ao garrafão – e o ataque do Maccabi depende muito disso, para que seus arremessadores sejam liberados. Destaque da universidade de Gonzaga, volta ao clube pelo qual viveu sua melhor fase, em 2010-11, ano em que foi vice-campeão da Euroliga. Depois daquela campanha, conseguiu exposição e tentou mais uma vez a NBA. Ganhou um contrato garantido do Memphis Grizzlies, mas foi pouco aproveitado como reserva de Mike Conley. Acabou trocado para o Cleveland, que o dispensou em janeiro de 2013. Passou brevemente pelo Philadelphia 76ers sem ganhar destaque. Sua velocidade e capacidade atlética acabam fazendo a diferença mais na Europa, mesmo. Recebeu, então, uma  oferta de quatro milhões de euros do CSKA. Concorrendo com Milos Teodosic e Aaron Jackson, porém, não teve o sucesso esperado e foi liberado para retornar a Israel na tentativa de reencontrar a satisfação em quadra. Vai ser um páreo bem duro para Laprovíttola e Gegê.

Ohayon, canhoto e maroto

Ohayon, canhoto e maroto

Yogev Ohayon é um dos poucos jogadores israelenses do elenco do Maccabi que efetivamente entra em quadra (sem contar os americanos naturalizados, tá?). E o armador é um personagem muito importante para o time, dando estabilidade, cadência ao time, envolvendo todos no ataque, quando necessário conter um pouco a loucura dos armador americano arrojado da vez.   Só não pensem nele como um jogador molenga. Inteligente e oportunista, quando você menos espera, lá está o armador partindo para a bandeja.

Guy Pnini é o outro israelense que vai jogar de modo regular contra o Flamengo. Pode ser que seja anunciado como ala-pivô, “jogador da posição 4” no jogo desta sexta, mas não tem nada disso (média de 1,6 rebote na carreira de Euroliga, gente). Pnini joga aberto o tempo todo: é excelente arremessador de três pontos, não importando a distância, e precisa ser contestado. É obrigatória a contestação, na verdade, especialmente quando ele está de frente para a tabela.  Dificilmente vai entrar no garrafão se for obrigado a fazer a finta, preferindo um tiro em flutuação. Tem pouca presença física, mas é bastante intenso e um dos líderes do time.

Sylven Landesberg: um ala americano que jogou com Jerome Meyinsse na universidade de Virginia. Bastante atlético, forte, de batida firme para a cesta (mas em linhas retas, sem muita criatividade ou ‘eurostep’). Foi aproveitado apenas de modo pontual por Blatt nas últimas duas temporadas, mas que, nas poucas vezes que recebia uma chance real, mostrava que tinha jogo. A prova disso é que tem produzido bastante nesta pré-temporada, aproveitando a saída de Ingles. Sua mão pegando fogo:

Devin Smith: é um jogador discreto que, ironicamente, fez uma das cestas mais espetaculares da Euroliga passada (veja abaixo). No geral, o valor de Smith está muito mais em sua consistência. Nem sempre quando se fala em “jogador regular”, isso quer dizer que seja fraco. Bom arremessador da zona morta, jogando bastante aberto, sendo mais um chutador espaçando a quadra para Pargo. Do outro lado, também um ótimo reboteiro defensivo – é ele que se aproxima mais dos pivôs, para compensar a fragilidade de Pnini. Parte para sua quinta temporada de Maccabi.

Alex Tyus: o que o Big Sofo tem de pesado, Tyus tem de atlético. Um pivô baixo, mas de muita impulsão, que adora completar uma ponte aérea por trás da última linha defensiva. Castiga o aro também em rebotes ofensivos. No ano passado, sua combinação no pick-and-roll com Rice foi mortal. Quando não saía a assistência, ele atacava a tabela em busca de uma eventual rebarba após a conclusão do armador. A defesa flamenguista como um todo vai ter de ficar muito atenta ao bloqueio de rebote em cima do americano formado pela universidade da Flórida. E esse bloqueio precisa acontecer bem antes de sua aproximação da cesta, devido a sua capacidade atlética. Na defesa, Tyus também ajudou muito David Blatt desde o afastamento de Shawn James.

Aleks Maric: nunca foi o pivô de maior mobilidade no mercado – nem mesmo no auge Partizan em 2009-10 –, e sua movimentação ainda mais comprometida na temporada passada pelo Lokomotiv Kuban, devido a uma lesão no joelho. É muito grande, porém, e cria problemas na tábua ofensiva. Já que o Flamengo contratou Derrick Caracter, sua presença será mais necessária quando o australiano estiver em quadra. Do outro lado, deve ser explorado em jogadas de dupla – seria ideal que o Fla forçasse uma troca de defensores, para que Laprovíttola partisse para o ataque contra o grandalhão. É o tipo de jogador que faltava no elenco do Maccabi do ano passado, de maior estatura, mas só foi contratado devido ao glaucoma que tirou Schortsanitis de ação neste início de campanha. O vínculo até dezembro, com possibilidade de renovação.

(Para constar, com o corte do Big Sofo, o Baby Shaq, o flamenguista ficará sem ver um dos jogadores mais singulares do basquete internacional. É como se ele fosse uma versão grega, bem mais baixa, mas mais larga do Sidão, ex-Mogi. Um terror no pick and roll, por razões óbvias, e também nas mais simples jogadas de costas para a cesta. Falta ao pivô condicionamento físico, claro, de modo que ele só pode ser aproveitado em curtos intervalos durante uma partida, nos quais vira referência obrigatória do ataque do time. Bola nele, pancada na sequiencia, perigando carregar os adversários de falta.)

Haynes, agora no Maccabi, não foi muito bem na última Euroliga

Haynes, agora no Maccabi, não foi muito bem na última Euroliga

Sinceramente, dos americanos recém-contratados pelo Maccabi, só vi um deles jogar, e muito pouco: o armador MarQuez Haynes, ex-Olimpia Milano e Montepaschi Siena. Ele cobre a vaga aberta por Hickman, embora tenha o jogo bem mais acelerado e agressivo, mais similar ao que Pargo e Rice fazem. Hickman batia para a cesta muitas vezes também, mas usando mais a malandragem e movimentos de hesitação do que a quinta marcha. Na Euroliga passada, jogou a primeira fase pelo Milano, mas com tempo de quadra muito restrito, atrás dos compatriotas Keith Langord e Curtis Jerrells (caras mais bem valorizados e com maior experiência em alto nível no basquete europeu). Foi dispensado e assinou com o Siena, pelo qual se soltou. Na Lega Basket, anotou mais de 14 pontos por partida. Só me chama a atenção o fraco aproveitamento de três pontos quando jogou pela Euroliga ou pela Eurocup, ficando abaixo dos 30% nos últimos dois anos.

Os outros dois reforços significativos são Brian Randle e Nate Linhart. Randle é um ala-pivô que está em Israel há um bom tempo, desde 2008, e só agora chega ao time de Tel Aviv. Foi eleito em duas ocasiões o melhor defensor da concorrida liga israelense, incluindo a edição passada, pelo Maccabi Haifa. Segundo consta, é um atleta de primeiro nível, mas está se recuperando de uma lesão muscular.

Linhart foi revelado pela universidade de Akron, terra de LeBron, e está na Europa há três anos. Foram dois na Alemanha e o último na Itália, pelo Venezia. De acordo com a descrição do Maccabi, chega ao elenco para fazer um pouco de tudo no perímetro: “Linhart é um ala muito inteligente, que também pode jogar como guard. Ele é um jogador cheio de energia, que pode ler a defesa e criar oportunidades para si e seus companheiros de equipe. Linhart é um verdadeiro jogador de equipe, que ajuda aqueles que melhora aqueles que estão ao seu lado e para quem o sucesso da equipe é a prioridade número um. Um bom e estável arremessador e estável de três, com média de 40% os últimos dois anos”. Agora é ver como ele vai se comportar num time com muito mais cobrança, enfrentando competição bem mais qualificada.


Maccabi joga sempre pressionado. Ainda mais sem Blatt
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Giancarlo Giampietro

Goodes deixa a sombra de Blatt num Maccabi reconfigurado

Goodes deixa a sombra de Blatt num Maccabi reconfigurado

Conforme dito já em toda a Internet, o Maccabi Tetl Aviv que enfrenta o Flamengo no Rio de Janeiro é bem diferente, em termos de nomes, daquele que foi campeão da Euroliga em Milão, em maio. Na troca de temporada, o clube israelense perdeu muitos de seus principais jogadores. Mas a grande mudança, mesmo, diz respeito ao seu comando técnico. Guy Goodes tem a missão ingrata de substituir um David Blatt que foi a grande força por trás de sua histórica e suada conquista e agora vai conversar bastante com LeBron James e Kevin Love em Cleveland.

Podem dizer que técnico não joga, mas Blatt é daqueles que faz a diferença, sim. Extremamente versátil, consegue tirar o máximo do grupo que tem ao seu dispor, adaptando seu jogo ao que seus atletas podem oferecer. “Há duas escolas de pensamento para técnicos, e nenhuma está mais certa que a outra. Há técnicos que têm o seu sistema e vão usá-lo, independentemente da montagem de seu time. E há técnicos que se adaptam, que pegam seu elenco, e jogam de acordo com suas habilidades. Sou mais dessa escola adaptável, com alguns princípios que são consistentes durante a minha carreira”, afirmou a Zach Lowe, do Grantland.

Para quem acopanhou o Maccabi na temporada passada, isso ficou bem claro. Blatt não só aplicava sua tática de acordo com o que tinha em mãos, como também o time era maleável bastante para alterar completamente seu estilo de um jogo para o outro, ou mesmo dentro de um jogo, dependendo do adversário, da fase dos atletas e se Schortsanitis estava em ação.

Baby Shaq grego era a única referência ofensiva, com jogo de costas para a cesta, do elenco do Maccabi 2013-14. Não joga contra o Flamengo

Baby Shaq grego era a única referência ofensiva, com jogo de costas para a cesta, do elenco do Maccabi 2013-14. Não joga contra o Flamengo

No time que derrotou o Real na decisão europeia, dos que foram para quadra, só mesmo o Baby Shaq grego tinha mais de 2,03 m de altura (oficiais 2,06 m, vamos dizer assim), e foi por menos de 10 minutos num jogo de prorrogação. Vimos um Maccabi correndo contra quem podia correr, um time de jogo mais lento quando não conseguia aguentar o pique, protegendo bem sua cesta mesmo sem estatura, alternando defesa pressionada com zonas simples ou mistas para desestabilizar o adversário, mas sempre povoando o garrafão.

De novo: era um time muito interessante, mas limitado, que tinha de se virar como dava – em termos de talento, no papel, seu elenco estava bem abaixo de seus concorrentes do Final Four. Foi um time que perdeu, por exemplo, seis de 14 jogos na fase Top 16, na qual ficou sob séria ameaça de eliminação, até garantir sua vaga nas quartas de final com uma vitória sobre o Bayern de Munique na penúltima rodada. Antes desse triunfo sobre o Bayern, acreditem: o próprio Blatt teve de encarar entrevistas coletivas em que  sua demissão era cogitada. Pasme.

Uma vez classificado para as quartas, porém, o time decolou, vencendo cinco dos próximos seis jogos. O turning point foi uma vitória dramática, na prorrogação, sobre o Olimpia Milano, em Milão, na abertura dos mata-matas. O time virou um jogo impossível, uma reação daquelas digna de Maccabi Tel Aviv, que o presidente Shimon Mizrahi, uma figuraça, vai contar para os bisnetos.

Em termos de talento, seu elenco estava bem abaixo se comparado com o da maioria das equipes classificadas para as quartas de final do torneio europeu. No Final Four, então, era claramente um azarão. Ainda assim, os caras derrotaram o CSKA Moscou num jogo parelho pela semifinal e, depois, derrubaram a máquina de se jogar basquete do Real Madrid na decisão. Mas é isso, né? O tipo de coisa que pode acontecer em jogos decisivos, ainda mais se em confrontos solitários. Um time competitivo engrenar, começar a acreditar e, pumba, realizar sua missão-na-terra. São justos, legítimos campeões, mas o próprio Blatt foi o primeiro a dizer que, num sistema de playoff, dificilmente ele e seus rapazes teriam chegado lá. Talvez estivesse subestimando suas próprias habilidades como estrategista e líder.

David Blatt saiu nos braços do povo

David Blatt saiu nos braços do povo

Blatt construiu um currículo e uma reputação que o empurravam para outra direção. Enfim, as portas da NBA foram abertas para ele, recebendo uma proposta generosa do gerente geral do Cleveland Cavaliers, David Griffin, que teve o apoio inesperado do intempestivo proprietário Dan Gilbert, que preferia um John Calipari. Poucos em Israel puderam acreditar. Não que ele não merecesse. É que não estavam preparados para que ele ‘já’ saísse após seu tão sonhado primeiro título de Euroliga. Havia apenas especulações de propostas para assistente, algo que não necessariamente seria atraente para alguém com seu status, e aí chegou o Cavs, pré-Retorno de LeBron, interessado. Pronto.

Cabe a Guy Goodes, então, assumir essa bronca. Pelo menos o treinador de 43 anos sabe muito bem da responsabilidade. São 15 anos de clube. Já integrou a comissão técnica do Maccabi por seis temporadas – entre 2006 e 2008 e também as última quatro como braço direito de Blatt. Não obstante, também jogou pelo time de 1990 a 1998. Agora assume o cargo principal, sem muita experiência, porém, nessa função. Entre uma passagem e outra como assistente, dirigiu o Hapoel Jerusalem, e só.

Como faz, então, agora que está no comando? “No papel há muitas diferenças entre os dois treinadores, mas também há várias semelhanças. Goodes aplicou no time muito da filosofia de Blatt como também a sua. Ainda assim, Blatt é conhecido por ser um treinador de espírito defensivo que se empenha em limitar os oponentes a 70 pontos por jogo. Goodes é o oposto. Ele ama o basquete veloz, com passes rápidos. Durante a pré-temporada, o Maccabi por duas vezes anotou 106 pontos e 109 em outra”, afirmou o jornalista israelense David Pick, um carrapato do Maccabi, ao Mondo Basquete.

Goodes estuda o Flamengo no tempo que dá. Crédito: David Pick

Goodes estuda o Flamengo no tempo que dá. Crédito: David Pick

É importante dizer que, mesmo que o elenco israelense tenha sido sacudido, o perfil dos atletas foi mantido. Vale destacar o retorno de Jeremy Pargo para a vaga de Rice e a aposta em MarQuez Haynes para o lugar de Hickman. Curioso como o clube realmente foi atrás de jogadores de características muito semelhantes, mesmo. Com os dois em quadra, já se pode esperar muita velocidade. Em situações de meia quadra, preparem-se para o uso e abuso do jogo de pick-and-rolls e pick-and-pops e até mesmo muitas jogadas no mano a mano, explorando a habilidade dos recém-contratados e a presença de muitos arremessadores ao redor deles, com o pivô Alex Tyus representando uma das poucas ameaças no corte para a cesta, fora da bola (fora, isto é, das mãos dos armadores americanos). Brian Randle, bastante atlético, mas voltando de uma lesão muscular, também precisa ser vigiado nessas – se for para o jogo, mesmo.

O time segue muito baixo, com apenas três jogadores acima de 2,05 m – quando, na real, era para ser apenas um. Explico: Alex Maric, de 2,11 m e muita presença física no garrafão, só foi contratado para quebrar o galho enquanto Sofoklis Schortsanitis se recupera de sua operação devido a um glaucoma. O terceiro é o pivô americano Jake Cohen, de 2,08m, que foi contratado no ano passado ao sair da universidade de Davidson. Ainda é um projeto, tendo sido emprestado para o Maccabi Rishon Lezion. Nesta temporada, deve ficar no clube principal, com o qual tem contrato por mais três temporadas, mas sem muito tempo de jogo.

Maric é um sujeito alto, forte, mas que já viveu dias melhores: único poste a desafiar o Fla nesta final

Maric é um sujeito alto, forte, mas que já viveu dias melhores: único poste a desafiar o Fla nesta final

É de se imaginar confrontos de ritmo acelerado em que um atleta lento como o australiano Maric não deve ter espaço – a não ser que o Flamengo não consiga defendê-lo. Como destacou David Pick, o Maccabi tem corrido bastante em seus jogos de pré-temporada, com média incomum de 93,5 pontos em seis partidas disputas na pré-temporada até aqui. Se essa proposta for mantida, for dominante, é algo que favorece o Flamengo, que também gosta de sair em transição, com atletas como Marquinhos, Benite, Laprovíttola, Meyinsse, Gegê, Felício etc. Estão preparados para isso.

Agora, é preciso ver se o novo treinador é um cara de uma cartada só ou se aprendeu com Blatt a se moldar também de acordo com o que jogo oferece, com as facilidades sugeridas e dificuldades impostas pelo adversário. Na pré-temporada, vem com cinco vitórias e apenas uma derrota justamente pela final da Copa da liga israelense, já valendo como partida oficial. Perderam para o Hapoel Jersualem, por 81 a 78.

Sofrer mais um revés em uma decisão seria péssimo para Goodes em seu início de trabalho numa instituição em que a pressão por resultados é gigantesca e pode afetar até uma lenda viva como Blatt. O ex-assistente e o clube ainda não estão preparados para mais mudanças em sua estrutura. Mas o Flamengo não está aí para dar uma forcinha.


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