Vinte Um

Jogo mais emocionante da temporada termina com bomba de Curry. Claro
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Giancarlo Giampietro

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Pobres torcedores de Phoenix, Utah, Brooklyn… Enquanto seus times jogavam partidas praticamente insignificantes, Thunder e Warriors faziam em Oklahoma City o jogo mais emocionante da temporada com grandes lances e erros incríveis até Stephen Curry decidir fechar a conta no último segundo da prorrogação com A Cesta do campeonato, e também uma das maiores cestas da história da liga, por comprovar precisamente o nível que o craque do Golden State alcançou. Ele é jovem ainda e vai viver ainda muitas partidas comoventes, valendo talvez por mais títulos. Mas desconfio que o petardo de, segundo registraram os mesários, 9,75m de distância para definir um triunfo por 121 a 118.

É uma absurda demonstração de habilidade, precisão e confiança. O Warriors tinha direito a pedir um tempo. Dava para ele ter caminhado mais um pouco. Nenhum outro jogador da liga poderia tentar um arremesso desse, nem mesmo Kevin Durant, obrigado a assistir a adaga final do lado de fora, excluído com seis faltas, boquiaberto, como todos os reservas de OKC. Mas Steph Curry, que anotou 46 pontos, está em outro patamar no momento, como arremessador e, chega de polêmica, jogador.  LeBron James tratou de encerrar qualquer discussão a respeito:

 

(Stephen Curry precisa parar com isso, cara!! Ele é ridículo, cara! Nunca vi alguém como ele na história do basquete!)

LeBron postou isso instantes depois do final da partida que envolveu dois candidatos ao título, os quais ele espera que seu Cleveland Cavaliers possa eventualmente superar. Percebem a grandeza e, ao mesmo tempo, o quão atípico é um gesto desses? A declaração pública, espontânea, instantânea veio do sujeito que supostamente deveria clamar o título de melhor do mundo. Mas nem ele consegue mais. O autointitulado ''Rei'' se curvou. E isso diz muito sobre o estado psicológico de toda a NBA depois de uma exibição destas, gente. Sinceramente, assim como LBJ nunca viu alguém como Curry, não consigo me lembrar de um astro da liga se expressar desta maneira sobre um concorrente. Nem mesmo um Eduardo Nájera falando de Andrés Nocioni, quanto menos de uma figura deste porte.

Mas é isso. Não tem Oscar Robertson, Ron Harper, Isiah Thomas… Não há ninguém mais que possa contestar o que Curry vem fazendo este ano e que, se a NBA se declarar falida neste domingo, 28 de fevereiro, ele já está entre os maiores da história. Nestas duas últimas temporadas, realmente ele fez coisas inéditas. Sabe essa coisa de encestar a nove metros de distância do aro? Pois bem, na temporada o sujeito tem aproveitamento de 50% no campeonato. Sim, 50%, mais do que Andrew Bogut e outros 13 pivôs acertam em lances livres (4,5 metros).

Com 12 cestas de três para cima do Thunder, Curry igualou o recorde em um só jogo, empatando com Kobe Bryant e o inesquecível Donyell Marshall. Considerando que, apenas no mês de fevereiro, essa foi a terceira vez que ele marcou dez ou mais cestas de longa distância na mesma partida, cedo ou tarde, vão cair 13 bombas. Esta é uma marca que precisa ser tão somente dele. O isolamento na tabela histórica ele já conseguiu no que se refere a total de cestas de três numa temporada ele havia conseguido há tempos. De qualquer forma, para alargar sua margem de segurança (risos), ele decidiu já superar desde já seu próprio rendimento, chegando a 267 tiros certeiros. Detalhe: ainda restam 24 partidas para o Warriors.

Antes de dizer que Curry 'só' chuta (como se converter 12 de 16 chutes de longa distância fosse algo normal…), precisa lembrar que hoje ele é o jogador mais eficiente da liga e está em vias de quebrar também esse recorde histórico, superando Wilt Chamberlain e Michael Jordan.

Enfim, o cara virou atração obrigatória por onde anda. O preço dos ingressos do Warriors está inflacionado e, a cada ginásio que visita, a arquibancada lota mais cedo, com torcedores ávidos para testemunhar sua rotina de aquecimento. Na qual, inclusive, já arrisca esses arremessos de 9 metros. Quer dizer: não é só talento e confiança. É treino também. E é histórico.

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Se já não fosse tormento o bastante a tarefa de tentar conter Curry, a defesa adversária ainda precisa encontrar um jeito de frear Klay Thompson, que marcou 32 pontos, hã, discretos. É impressionante também a velocidade de sua mecânica de arremesso. Se o marcador se concentrar por um milésimo de segundo a mais em Curry, Klay vai fazer você pagar, sendo também muito inteligente em sua movimentação fora da bola, cortando constantemente em backdoor rumo ao garrafão.

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Mas basquete não é feito só de cesta, minha gente. E Draymond Green merece o espaço só dele. Neste sábado, o ala-pivô do Warriors teve uma das linhas estatísticas mais estranhas que você pode ver: 2 pontos, 14 rebotes, 14 assistências, 6 roubos de bola e 4 tocos em 44 minutos. Quem na NBA hoje seria capaz de reproduzir números como esses? Ninguém, também. É mais um jogador singular no elenco de Steve Kerr, que não faz nada para atrapalhá-los, o que já é um mérito por si só. Green não fez nenhuma cesta de quadra em oito tentativas e ainda errou três de cinco lances livres. Ainda assim, causou – e causa – tremendo impacto em quadra por sua energia, liderança, vigor e influência tática. Foi – e é – vital para o sucesso de seu time. Seu esforço defensivo no quarto período foi mais uma vez louvável, desafiando na maior uma aberração atlética como Serge Ibaka.

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O Warriors concluiu uma sequência de seis jogos em nove dias fora de casa com cinco vitórias, depois de ter tomado uma surra do Portland Trail Blazers na abertura da jornada, de guarda baixa. Atualizando, então as contas: para superar o Chicago Bulls de 1996, precisam de 20 vitórias em suas 24 partidas finais, das quais 17 serão em casa. Se vencerem 19 e perderem 5, igualarão o legendário 72-10. Restam dois confrontos com o Spurs, dois com o Clippers e mais um com o Thunder.

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Para constar, antes mesmo de baebater o Thunder, o Warriors já havia assegurado sua classificação para os playoffs, devido a uma derrota do Houston Rockets para o San Antonio Spurs. De novo: restando 27 partidas para eles. Então, se quiser, pode entrar no site oficial do clube e concorrer a ingressos na pré-venda. : )

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Deixamos para o fim as trapalhadas dos momentos decisivos do quarto período. Primeiro foi Andre Iguodala, totalmente pilhado em sua rotação defensiva, que deixou Kevin Durant livre na linha de três pontos para fazer a ajuda em Serge Ibaka. Já seria um tremendo (e raríssimo) equívoco para o veterano defensor, mas foi ainda pior pelo fato de que o senegalês/espanhol importado estava driblando a bola. Situação na qual, longe da cesta, não representava ameaça nenhuma. Bang! Faltavam 14 segundos, e OKC abria quatro pontos.

Daí que, após cesta rápida de Klay, Kerr ordenou um abafa na saída, mas sem que fizessem falta, ainda mais com a bola em cima de Durant. Pois o cestinha entrou em pânico ao se ver encurralado perto da linha de fundo. Em vez de pedir tempo, se precipitou em tentar um passe para o meio da quadra: turnover. Thompson recuperou a bola e passou para Iguodala. Longe de ser um grande chutador, pouco antes do estouro do cronômetro, o ala sofre a falta. E de quem? Durant! Com toda a calma do mundo, o cara de 61,3% na temporada e 71% na carreira, converteu ambos os lances livres e forçou a prorrogação.

No tempo extra, Durant cometeu sua sexta e última falta com 4min13s por jogar ainda. Excluído. Sabe qual foi a última vez que isso havia acontecido? Só em 14 de fevereiro de 2013. Foi apenas a quarta exclusão de sua carreira. Depois de 37 minutos espetaculares em quadra, não dá para dizer que craque do Thunder este inspirado nos últimos dois. Se Iguodala teve a chance de se reabilitar, para Durant não foi o caso. Ele saiu de quadra com  37 pontos, 12 rebotes, 5 assistências, 13-26 nos arremessos e  7-11 de três.

Então fica a pergunta: depois de um jogaço desse, com tantas emoções envolvidas, seria o cestinha capaz, mesmo, de assinar com o Warriors daqui a quatro meses?


Ainda em busca de paz, Cavs perde e agora é pressionado até pelo Raptors
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Giancarlo Giampietro

LeBron jogou 24 minutos sem parar no segundo tempo, e de nada adiantou

Respira fundo: LeBron jogou 24 minutos sem parar no segundo tempo, e de nada adiantou

O Cleveland Cavaliers é um time que desafia qualquer observador. O time ainda tem a melhor campanha do Leste e a terceira melhor no geral. Com Tyronn Lue, ainda que numa amostra menor de jogos em relação a David Blatt, o ataque se tornou um do mais eficientes da liga (superando o Golden State por um triz) e elevou seu saldo de pontos também, espancando rivais como San Antonio e Oklahoma City pelo caminho.

Ainda assim, basta uma derrota para o clima no vestiário se anuviar. Depois de tomada uma virada no quarto período contra um Toronto Raptors cujo principal cestinha não tinha condições de jogo, recomeçou o jogo da culpa, das críticas internas, liderado por Lebron James.

Assim como no caso da surra que tomaram do Warriors em casa, o raciocínio tem de ser mantido: foi só mais um jogo num calendário de 82 rodadas. Por mais que, do ponto de vista prático, fosse um jogo realmente mais importante que a revanche contra Golden State, já que agora o adversário canadense não só se aproxima na tabela (com apenas duas derrotas a mais) como assegurou o triunfo por 2 a 1 no confronto direto e garante o direito do desempate na classificação, se for o caso. Basicamente: o Cavs, que corre atrás do próprio rabo para tentar se equiparar a Warriors e Spurs, sofre mais pressão, agora de que vem de baixo, o Raptors.

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Mas, bem, desde o momento em que o Rei James anunciou seu retorno, pressão seria a via de regra. O que a derrota em Toronto nos conta é justamente sobre a questão de como o elenco reage a isso.  E não parece bem. O Cavs perde uma, e parece que a equipe está se desequilibrando diante de um precipício. Não era para ser assim. Derrotas acontecem, especialmente contra adversários qualificados – excluindo o Golden State aqui, que prefere perder para times medíocres.

Vamos ver o relato do repórter Dave McNemanin, setorista do ESPN.com, num texto cuja manchete é ''Cavs sofre déjà vu em derrota, com os mesmos problemas reparecendo'':

Nós não acabamos de passar por aqui? Não parece que foram há apenas alguns dias, e, não, semanas, que o Cleveland Cavaliers trotou rumo a Toronto, com um céu ensolarado supostamente no horizonte, vencedores de 11 dos últimos 13 jogos, até que o Raptors fizesse chover em seu desfile, deixando o vestiário em desordem após a partida?

Avancemos a fita três meses, e o Cavs voltou ao Air Canada Centre na sexta-feira, vencedores de 11 de seus 14 jogos anteriores. E o resultado? O mesmo. A cena pós-jogo? Semelhante. Não houve uma reunião só de jogadores como da última vez, mas houve um aspecto semelhante com diversos jogadores reunidos em pequenos grupos para longas conversas como vestiário aberto para a mídia, e eles lamentando o que deu de errado, enquanto seus comentários gravados foram concisos, mas reveladores.

E aí tem essa aspa de LeBron, numa entrevista que, segundo Chris Haynes, do Cleveland Plain Dealer, durou pouco mais de um minuto: ''Quando perdemos do jeito que foi, cometendo um erro mental atrás do outro, isso dói mais que tudo, já que sabemos que podemos jogar melhor mentalmente. As pessoas podem se concentrar no aspecto físico. Mas nos falta força mental agora. E temos de continuar melhorando com isso''.

Você pode ler a frase acima como uma observação honesta, depois do que aconteceu em quadra. O Cavs chegou ao quarto período com nove pontos de vantagem e, sem que LeBron tenha sentado sequer por um minuto em todo o segundo tempo, foram superados por 99 a 97, com uma exibição magnífica de Kyle Lowry – 43 pontos, seu recorde pessoal, 9 assistências, 15-20 nos arremessos, 11-15 nos lances livres, em 43 minutos. Por uma noite, entre a elite do Leste, Lowry foi o melhor jogador em quadra.

Mas aí vem outra: ''É isso que os All-Stars fazem'', elogiando Lowry, titular no jogo festivo de alguns dias atrás, o mesmo que não teve Kyrie Irving, curiosamente. E não nos esqueçamos que houve uma polêmica a respeito de uma possível seleção de Irving. Para alguém que, lesionado, havia perdido metade do calendário, obviamente não caberia na festa. Mas o voto popular quase o colocou lá. Virou assunto. E esta: ''Pensando adiante, vamos ter de encontrar alguém que seja capaz de marcá-lo'', num comentário que atinge também um leal soldado como Matthew Dellavedova, que tomou um baile do cestinha da partida no quarto período. Coincidentemente, foi a mesma frase usada por Lue em sua coletiva.

L(w)owry arrebentou com a defesa do Cavs numa das cinco maiores atuações da temporada, certamente

L(w)owry arrebentou com a defesa do Cavs numa das cinco maiores atuações da temporada, certamente

Se você pega os comentários de LeBron e os analisa no vácuo, como se o Cavs tivesse disputado apenas um jogo nesta temporada, não há o que contestar. Ele listou fatos. Usou pouco mais de 60 segundos para mandar sua mensagem aos companheiros. Além disso, pressupõe-se que o ala deva conduzir  time, mesmo. É ele que tem a fama, a visão de jogo e, principalmente, a experiência de anos e anos de playoffs e jogos decisivos para se impor no vestiário e tentar arrumar as coisas. Love, Irving e toda a galera deveriam escutá-lo, sem dúvida.

Existe sempre o outro lado da história, porém. Que nos diz que LeBron também não pode querer liderar só com base em seu currículo, se não for ele a dar exemplo em quadra – uma discussão que, pasme, já vem do ano passado e ainda não foi resolvida internamente, como Kevin Love fez questão de nos lembrar na derrota para o Warriors. Neste jogo específico em Toronto, ele ficou em quadra durante todos os 24 minutos do segundo tempo, por sinal (e se isso foi uma decisão inteligente por parte de Tyronn Lue e do craque, é de se questionar, faltando perna para o último arremessos, sobre o qual falaremos mais abaixo). Mas não é que o craque tenha se esforçado muito e se ralado durante a temporada. São vários os jogos em que ele esculachou geral na defesa sob o comando de David Blatt, minando o treinador e também preservando energias para a hora que mais importa, os playoffs. Para alguém com sua milhagem, é natural, aliás. James Harden não acumulou nem a metade disso, e faz igual ou pior. Para o elenco, por maior que seja sua estatura, suponho que isso não pegue bem e não dá total liberdade para que ele critique os demais, com comentários sucintos ou não.

Além disso, se LeBron vai reclamar do surto de fome por que passa Irving, se vai tentar chacoalhar Love e tirá-lo da depressão, também deve ouvir que seu aproveitamento nos arremessos de média para longa distância deixam muito a desejar até o momento, com aproveitamento de 28,0% na temporada, o pior de sua carreira (quando novato, aos 19 anos, acertou 29,0%) e que, mesmo assim, foi para um hero ball contra o Raptors. É algo um tanto bizarro, já que despencou dos 35,4% da temporada passada e dos 40,6%% que atingiu há três temporadas, pelo Miami, seu auge no fundamento. Se o astro folga na defesa e se sua taxa de uso no ataque está levemente reduzida até, em tese não haveria motivo para sentir a perna e amassar o aro nos chutes de fora:

Antes (2014-15) e depois (hoje, na verdade)

Antes (2014-15) e depois (hoje, na verdade). Em termos de percentual no total de arremessos, ao menos LeBron baixou seu volume de tentativas de fora, de 26,5% para 20,4%, segundo o Basketball Refrence reconhecendo sua dificuldade. A taxa de lances livres em relação ao número de arremessos, porém, também, caiu, de 41,3% para 35,8%

Aqui chega a hora de recuperarmos a última bola da derrota em Toronto. Com dois pontos atrás no placar e 3s8 no relógio, qual a jogada sai no final?

Um chute de três de LeBron a partir do drible, em isolamento? Era a melhor alternativa para alguém que não descansou no segundo tempo? A matemática da temporada diz que não era uma boa decisão, mesmo que ele tivesse matado duas em três na partida e tenha sobrado com o diminuto Cory Joseph e que o canadense nem o contestou tão bem assim. Que o camisa 23 ganhe a prioridade nesse tipo de situação, pelo arremesso da vitória, não dá para discutir muito. É assim que funciona por lá, é assim que funcionou a vida toda para Kobe em Los Angeles, e Kyrie Irving vinha numa jornada horrível (e, para ser justo, o armador também só tem matado 29,5% de seus arremessos de longe na temporada). Só havia tempo no cronômetro e dois pontos por reverter no placar para tentar outra alternativa.

Agora… com dois pedidos de tempo, essa foi a melhor idéia que Tyronn Lue teve? Então vale a zoeira: ao que parece, não era apenas David Blatt que tinha dificuldade para desenhar jogadas na rodinha… E, claro, meu amigo enfezado, que isso é uma ironia. Qualquer armador que tenha ficado mais de dez anos na liga sabe rabiscar uma prancheta, assim como qualquer técnico que tenha medalha olímpica e título de EuroBasket e Euroliga.

De qualquer  maneira, não é culpa de LeBron que o time tenha pedido em Toronto. Que ele e Lue não foram para a bola mais inteligente, não há o que negar, mas não foi o airball que custou a partida.  McNemanim lista outros itens, por exemplo:

– o aproveitamento de 5-9 de LeBron na linha de lance livre. Pois é: não é que o ala seja a perfeição em quadra e não faça parte dos problemas.

– Em 1min34s de jogo no quarto período, Shumpert fez duas faltas em Lowry e ainda tomou uma técnica por reclamação exagerada, em sequência que agitou a galera e o adversário.

– Kyrie Irving foi um horror, sem conseguir nem fazer cócegas em Lowry ou em Cory Joseph e sem agrediu do outro lado (4-11, 10 pontos), tomado por apatia. E segue a inquietação de James, e talvez mais atletas, de que ele seja egoísta demais com a bola, registrando apenas uma assistência em 31 minutos, para ficar com uma média de 3,2 passes para cesta nas últimas cinco partidas. Dê uma espiada neste link aqui também e veja alguns dados interessantes sobre as trocas de passe entre Irving e LeBron.

Acrescento outro:

– Formando uma dupla de pivôs com LeBron no quarto período, Kevin Love rendeu bem no ataque, chegando a marcar cinco pontos consecutivos nos minutos finais. Mas a defesa sentiu com essa formação, tomando cinco cestas no garrafão nesta parcial, sem contar as penetrações de Lowry que terminaram em falta. Qualquer jogadinha de pick-and-roll virava um tormento.

E, para não dizer que a visão de McMenamin estaria contaminada pelo fato de ele escrever para a ''sensacionalista'' e ''manipuladora'' ESPN, Chris Haynes, que é praticamente um porta-voz da agência Klutch, de Rick Paul e LeBron, disse que o astro estava ''furioso'', enquanto  Jasson Lloyd, do Akron Beacon Journal, teve a mesma impressão  sobre o clima ruim no vestiário em suas notas sobre a noite de sexta-feira.

Lloyd também ressalta o esforço contraditório que LeBron tem feito em dizer que não se importa com a classificação da conferência, ao mesmo tempo que pede um senso de urgência aos seus companheiros. De acordo com o repórter, porém, Lue atribuiu desde o princípio extrema importância ao jogo, a ponto de manter seu principal atleta em quadra sem um respiro – dessa vez o ala pelo menos nos poupou do artifício da auto-substituição. Ele provou que está em forma, aí, sim, supostamente preparado para tomar conta da situação quando chegar aos playoffs.

A vitória de Lowry e Toronto foi ainda mais importante pelo fato de DeMar DeRozan ter tido atuação praticamente nula, com febre, gripado, indo para o sacrifício no quarto período, quando fez sua única cesta de quadra. A bela imagem do abraço em Lowry fica ainda mais representativa com Irving desfocado ao fundo

A vitória de Lowry e Toronto foi ainda mais importante pelo fato de DeMar DeRozan ter tido atuação praticamente nula, com febre, gripado, indo para o sacrifício no quarto período, quando fez sua única cesta de quadra. A bela imagem do abraço em Lowry fica ainda mais representativa com Irving desfocado ao fundo

Aliás, nos mata-matas do ano passado, LeBron foi ainda pior nos arremessos de fora, com 27,2%, mas isso não interferiu em nada na caminhada do Cavs rumo à disputa do título. Também não é o mais correto comparar com o rendimento da temporada regular com o da fase decisiva, por serem realidades completamente distintas. Os time fazem mais jogos contra adversários específicos, e, no caso do Cas, um deles foi o Golden State (seis de suas 20 partidas), o que desequilibra os números.  Outra particularidade: Kevin Love e Kyrie Irving ficaram pelo caminho numa fase em que as defesas estão mais atentas.

De todo modo, como sabemos, não é um duelo de primeira rodada com um Charlotte da vida ou mesmo um reencontro com Indiana ou Miami na segunda rodada que devem preocupar o time, tal como no ano passado. Em teoria, é como se entrassem nos mata-matas apenas com duas séries pela frente, com a final de conferência e a decisão do Oeste, caso avancem. (No ano passado, a diferença é que o teste veio na semi contra o Bulls, uma vez que o Atlanta ficou ainda mais esfacelado em termos de lesões).  Mais: é improvável que o Cavs adote a tática de ''entregue-a-bola-para-LeBron-e-saia-da-frente-enquanto-ele-consome-o-relógio'', se a equipe estiver completa. Aquele ataque foi circunstancial, com o ala sendo acionado já dentro do perímetro, abrindo pouco para o chute. Contra defesas mais fortes, esse tiro de fora faz falta, ainda mais para alguém que retém tanto tempo a bola, e principalmente se Irving não reencontrar um rumo na vida. Se chegarem aos playoffs apenas com J.R. e Love com válvulas de escape, podem esquecer.

A confiança que o torcedor ferrenho do Cavs tem é a de que, na hora do vamos ver, LeBron vai ativar o turbo e dominar, com seu arranque de locomotiva rumo ao aro. Aconteceu no ano passado – e, sim, ele fez tudo o que pôde, vendo seu índice de eficiência despencar, mas simplesmente porque o Cavs não tinha mais nenhuma alternativa em quadra. E, como sabemos, não foi o suficiente: chegou uma hora em que o gás acabou, que ele se viu encurralado diante de um paredão do Warriors no garrafão e que Stephen Curry entendeu o que fazer diante de uma defesa agressiva, mas limitada atlética e tecnicamente, devido ao número reduzido de peças.

São 15 jogos, com 11 vitórias, mas ainda está cedo para Lue dizer a que veio

São 15 jogos, com 11 vitórias: ainda está cedo para Lue dizer a que veio

Ah, mas você mesmo já falou: Irving e Love se lesionaram, e Varejão não estava pronto para retornar. Ah, mas agora o time tem um técnico que respeitam. Ah, e a despeito da idade, LeBron diz que se sente dez vezes melhor nesta temporada do que na campanha passada, quando estava com as costas travadas, o joelho doendo e a cuca frustrada com Blatt, até mesmo tirando férias no meio do campeonato.

Sim, sim, tudo isso conta e está em jogo. Com Tyronn Lue, desde o dia 25 de janeiro,  em seus últimos 15 jogos, o time realmente teve o melhor ataque da liga, num empate técnico com o Thunder e o… Warriors, sempre ele. Por mais que a defesa tenha caído bastante (ficando em 14º, oras), o Cavs ainda aumentou seu saldo de pontos nesse período. Está cedo, de todo modo, para comparar os números com os de Blatt. Guardemos esses dados para abril.

Agora percebam o seguinte: escrever um texto sobre o Cleveland Cavaliers sem um advérbio de adversidade (mas, porém, contudo, no entanto, todavia…) é uma tarefa impossível. Acredite: fico me esforçando aqui para não repetir a fórmula, sem sucesso. Desafio os melhores escribas a esta empreitada. Estamos tratando de um time muuuuuito complexo, que escancara diversas das questões e miudezas da NBA que vão além da cobertura de pick-and-roll ou de movimentação ofensiva. ''O que é de deixar maluco é que você vê este time destroçar o Thunder, na estrada, numa noite e, na outra, o vê sendo derrotado pelo Pistons em casa, para não falar de largas lideranças cedidas em derrotas para o Celtics e, agora, o Raptors'', escreve Llloyd.

David Blatt já foi demitido, e entre tantas razões, consta por aí que gerente geral David Griffin queria justamente tirar de cena aquele que seria o álibi perfeito para os jogadores numa eventual queda nos playoffs. Kevin Love está mais animado, energizado, participativo. Kyrie Irving e Iman Shumpert estão saudáveis, ou pelo menos é o que se informa oficialmente. Até o J.R. Smith anda minimizando suas cabeçadas (apenas 0,8 em turnovers) e matando tudo de fora (46%) em fevereiro.

Os elementos estão aí, o time vai crescendo e, ainda assim, pelas declarações de LeBron e pelo sentimento geral dos repórteres presentes no Air Canada Centre, ainda perdura algo de estranho no ar.  É tudo ou nada para o Cavs, e depois de 139 partidas de temporada regular e de uma disputa das finais com LeBron, a 25 partidas do fim da campanha 2015-16, seus jogadores ainda não se acostumaram com isso e nem se apaziguaram.


Jukebox NBA 2015-16: Utah Jazz, “coloca o Raul”
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Giancarlo Giampietro

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Em frente: a temporada da NBA caminha para o fim, e o blog passa da malfadada tentativa de fazer uma série de prévias para uma de panorama sobre as 30 franquias da liga, ainda  apelando a músicas, fingindo que está tudo bem. A gente se esbalda com o YouTube para botar em prática uma ideia pouco original, mas que pode ser divertida: misturar música e esporte, com uma canção servindo de trilha para cada clube. Tem hora em que apenas o título pode dizer algo. Há casos em que os assuntos parecem casar perfeitamente. A ver (e ouvir) no que dá. Não vai ter música de uma banda indie da Letônia, por mais que Kristaps Porzingis já mereça, mas também dificilmente vai rolar algo das paradas de sucesso atuais. Se é que essa parada existe ainda, com o perdão do linguajar e do trocadilho. Para mim, escrever escutando alguma coisa ao fundo costuma render um bocado. É o efeito completamente oposto ao da TV ligada. Então que essas diferentes vozes nos ajudem na empreitada, dando contribuição completamente inesperada ao contexto de uma equipe profissional de basquete:

A trilha: ''Tente Outra Vez'', por Raul Seixas

''Coloca o Raul!''

Se algum brasileiro estiver presente na plateia de um jogo do Utah Jazz, duvido muito que, depois de um copão de cerveja (porque lá é tudo gigante, mesmo), não tenha feito o trocadilho, sem que ninguém ao seu lado entendesse, muito menos o técnico Quin Snyder. Então aqui temos a única música brasileira na trilha sonora da temporada, por motivos óbvios. E, desculpem, piada era muito infame para ser evitada. : )

Por três, quatro meses, os pedidos foram atendidos: Raulzinho não só estava jogando em seu ano de novato, como havia sido eleito o titular. Quando foi selecionado para participar do jogo da garotada no fim de semana do All-Star, teve suas melhores atuações, a confiança visivelmente reforçada. Acontece que,  logo quando voltou das festividades em Toronto, recebeu uma notícia que servia como pulga atrás da orelha: o clube contratou um armador. Fosse uma estrela, um jogador de ponta, talvez fosse fácil de compreender. Mas, não, quem chegou foi Shelvin Mack, um cara que, até o momento, praticamente passou batido desde que foi selecionado pelo Wizards em 2011.

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Tom Thibodeau costuma dizer que, se o cara já está na NBA, é por ser um grande jogador. E está certo. Mas, entre esses grandes jogadores, há uma separação de castas, claro. E não dá para dizer que Mack faça parte da elite. Mesmo assim, bastou uma boa partida em sua estreia, para o armador de 25 anos assumir o posto de titular. Ele nem sabia as jogadas, muito menos seus nomes.

''Eu me senti muito bem. Não jogava tanto assim há um tempo. Venho trabalhando muito duro, aguardando por minha oportunidade. Foi muito bom sentir isso novamente'', afirmou o veterano, que tinha participado de 24 jogos com o Atlanta, com apenas 7,5 minutos, atrás de Jeff Teague e do Schrödinho. Se Snyder seguir prestigiando o recém-contratado, isso vai empurra o brasileiro para uma disputa ferrenha por minutos com Trey Burke. E o pesadelo de Rubén Magnano só fica mais intenso.
Será que Magnano tem o WhatsApp de Snyder?

Será que Magnano tem o WhatsApp de Snyder?

Então vem daí a escolha de ''Tente Outra Vez'', então? Poderia ser, para que Raul mantenha a cabeça erguida e brigue por seus minutos. Mas a canção (separada antes de o campeonato começar, juro), tem mais a ver com o fato de o Utah tentar, enfim, voltar aos playoffs com seu segundo núcleo desde a era Stockton-to-Malone. O grupo com Deron, Boozer, Kirilenko e Okur (mais uma participação especial do Baby, por meia temporada!) até chegou a uma final de conferência, mas não teve chance nenhuma contra o Lakers. Agora, num processo bastante paciente de reformulação, depois de alguns anos de draga geral, a família Miller espera que sua diretoria tenha reunido peças em torno das quais possa se construir uma equipe vencedora.

As coisas estão caminhando bem nesse sentido, com o chefão de longa data, Kevin O'Connor, delegando poderes a Dennis Lindsey, mais um aluno do Instituto Gregg Popovich & R.C. Buford Spursiano de Basquete. Tal como o Philadelphia 76ers, mas sem fazer tanto estardalhaço, o clube vem bancando uma folha salarial barata para os padrões da liga, dando espaço a jovens apostas do Draft e buscando um ou outro talento na D-League. No ano passado, com a contratação de um verdadeiro professor, Quin Snyder, a equipe passou a ser mais competitiva. Depois do excelente rendimento que o time teve nos últimos meses da temporada passada, muitos esperavam que os garotos já pudessem se meter na briga com os grandes do Oeste, ou pelo menos incomodá-los mais. Que tivessem pelo menos um aproveitamento entre 55 e 60%, que o colocasse na briga pela quinta posição da conferência, ficando abaixo do quarteto Warriors/Spurs/Thunder/Clippers.

Não foi possível, por ora. A campanha na primeira metade da temporada foi gravemente atrapalhada por lesões e longo período de afastamento para Derrick Favors e Rudy Gobert. Quando o francês retornou, o americano saiu de cena. Agora estão reunidos, e fica a expectativa de que o time como um todo possa apertar o passo, no mesmo ritmo de 2015, e superar Mavs, Blazers e Rockets para se meter entre os oito melhores. Vamos ver.

Favors, Gobert e Hayward, pilares do Utah. Vão adicionar mais alguém?

Favors, Gobert e Hayward, pilares do Utah. Vão adicionar mais alguém?

Para isso, precisam que seu núcleo central, com os dois grandões acima e Gordon Hayward e o emergente Rondey Hood, se mantenha saudável. Pois, como pudemos ver, ainda há limitações no elenco para lidar com desfalques do tamanho de seus excelentes pivôs, em todos os sentidos. Jeff Withey e o habilidoso novato Treyl Lyles tiveram seus momentos, mas estão num nível abaixo, e a defesa icou comprometida.

(PS: As produtivas atuações de Withey, todavia, depõem contra o gerente geral do Pelicans, Dell Demps, que tem de se explicar por permitir que o espigão fosse embora de graça, enquanto Omer Asik e Alexis Ajinça não conseguem dar cobertura a Anthony Davis. Já Lyles teve lampejos que mostram que Phil Jackson não estava tão maluco assim ao namorar o ala-pivô canadense antes do Draft.)

De qualquer forma, a maior carência, admitamos, estava na armação, como a contratação de Shelvin Mack não deixa negar. Lindsey falou com seu ex-companheiro Mike Bundeholzer para sondar a disponibilidade de Jeff Teague, não gostou do preço alto estipulado e, com o aval de Snyder e Hayward, se contentou com o terceiro armador da rotação do Hawks. Ao justificar a negociação, Snyder atentou para o fato de ter usado até seis jogadores diferentes na condução da equipe em minutos finais durante a temporada, com direito a improvisos. Quer dizer: em sua cabeça, repete-se um mantra que não podemos esquecer e que Manu Ginóbili sabe de cor: ''Não importa quem começa o jogo, mas, sim, quem termina''.

Não é um demérito para o brasileiro, que, muito jovem, fez boas campanhas numa concorrida Liga ACB por anos e anos. A NBA é outra história, porém, e ainda estamos falando de um calouro se ajustando a este nível elevado de basquete. Como ponderação, basta observar o que se passa com Burke, oras. O rapaz foi uma estrela  de high school em Ohio e teve uma carreira bastante badalada pela Universidade de Michigan. Agora está prestes a ser descartado.

Raul estava se soltando. Agora luta por minutos

Raul estava se soltando. Agora luta por minutos

Além disso, também não podemos nos esquecer que o plano de Snyder e Lindsey era por o exuberante Dante Exum como dono da posição. Uma infeliz lesão em amistoso pela seleção australiana, porém, o tirou do campeonato, abrindo espaço para Raulzinho. Ele aproveitou do jeito que dava, ganhou elogios de seu treinador por seu empenho defensivo e por sua estabilidade, mesmo sendo um novato. Mas não convenceu o bastante.

''Tivemos, não vou dizer uma porta giratória, mas tivemos de encontrar opções internamente, essencialmente usando nossos caras fora de posição. Se tivesse três armadores no início do ano, você veria algum tipo de separação entre eles. Mas não aconteceu isso. O resultado é que esse processo acontece agora. Vou ter de tomar algumas decisões em relação a quem vai jogar'', afirmou Snyder.

''Será muito fácil questionar algumas dessas decisões num período tão curto. Mas tomara que, com o tempo, vamos ganhar mais continuidade nessas escalações. Para chegarmos a conclusões, é importante que usemos Shelvin. Ele não teve chance de jogar muito neste ano. E por isso conseguimos a contratação. Ele é um armador de porte físico maior. Vale cada centímetro de seu 1,91m de altura e cada grama de seus 94kg. Em algumas ocasiões, essa fisicalidade em um jogo desta natureza é importante. Tivemos algumas ocasiões recentemente em que fomos superados fisicamente. Ele é diferente dos outros dois. Eles são muito diferentes , na verdade.''

Parceiro de Hayward em campanhas históricas de Butler, Mack chegou para confundir

Parceiro de Hayward em campanhas históricas de Butler, Mack chegou para confundir

O que dá para entender da fala do técnico: o plano era ter Exum no time titular, e Raulzinho desafiando Burke por minutos vindo do banco, com o americano levando vantagem por ter mais poder de fogo, sendo utilizado mais como pontuador do que organizador vindo da segunda unidade. É algo que se encaixa melhor na rotação, e aqui precisamos ressaltar que tipo de jogador está ao lado dos armadores no perímetro.

Hayward tem muita habilidade e vai ser o criador primário em muitas ocasiões. Nas últimas semanas, Hood também entrou nessa discussão, ganhando mais e mais admiradores entre os scouts. Nenhum deles chega a ser um James Harden, retendo tanto a bola assim. Mas é fato que o armador do Utah, qualquer que seja, tem de dividir a bola de um jeito diferente do que um ataque mais tradicional sugeriria. ''Espero apenas que esses caras sejam agressivos'', diz Snyder. ''E aí vamos continuar observando e ver o que acontece.''

Seguindo o raciocínio do treinador, é provável, então, que, assim como nos botecos por aí, o grito de mais ''Raul'' não adiante muito. Nem mesmo vindo de Magnano.

 A pedida: playoffs, dãr.

A gestão: conforme dito acima, Dennis Lindsey vem tendo todo o cuidado na construção de seu elenco, numa transição lenta e, ao seu ver, segura. A diferença, em relação ao que o agressivo Sam Hinkie apronta em Philadelphia, é que, sitiado no alto das Montanhas Rochosas, seu ritmo como negociador é bem mais pacato.

Na tentativa de formar um novo time vencedor em Utah, Snyder é um grande trunfo para a diretoria, como um professor bastante eficaz

Na tentativa de formar um novo time vencedor em Utah, Snyder é um grande trunfo para a diretoria, como um professor bastante eficaz e daqueles que mete a mão na massa, surpreendendo até os mais veteranos. Corrige fundamentos mesmo durante partidas e tal, coisa que, em meio a jogadores milionários, não é de costume

Lembremos que, para chegar ao estágio atual, o clube abriu mão, de uma só vez, da dupla Al Jefferson e Paul Millsap. Assim como Philly fez com Thaddeus Young, Evan Turner & Cia. Desde então, porém, basicamente adicionou a sua base os escolhidos via Draft e algumas especulações pontuais da D-League. Mal investiu em agentes livres, mas também não participou de muitas trocas assim. De novo: precisando de alguma ajuda para se estabelecer no Oeste, eles se contentaram com Shelvin Mack.

Só fica uma dúvida: será que não era a hora de investir mais? Tudo bem evitar Teague se o Atlanta estivesse pedindo, realmente, uma escolha de primeira rodada mais um jogador jovem (de repente Alec Burks…). Aí não adianta se precipitar e pagar muito caro.  Mais:n um elenco jovem, Favors e Hayward já ganharam um bom aumento, e se aproxima a hora de que Rudy Gobert vai receber uma inevitável proposta de salário máximo. Num mercado pequeno, que não atraiu tanta gente assim nos últimos anos, você tem de ser cauteloso e guardar uma grana para tentar manter suas revelações.  O outro lado é que, num ano mais fraco do Oeste, há uma clara oportunidade subir na tabela. Chegar aos playoffs, mesmo com uma queda na primeira rodada, já rende um bom troco em bilheteria e TV. O desenvolvimento interno de Hood, Lyles, Raul e outros será o suficiente para compensar a inércia? É nisso que Snyder aposta, na certa.

De todo modo, em julho, chega a hora a de usar o largo espaço salarial em busca de um ou outro agente livre qualificado e mais experiente, dependendo especialmente da saúde de Dante Exum e Burks, caras talentosos, mas que agora são cercados por algumas questões físicas.

Olho nele: Rodney Hood.

A mecânica é estranha, com a mão direita interferindo mais do que devia, mas o chute funciona

A mecânica é estranha, com a mão direita interferindo mais do que devia, mas o chute funciona

Quanto mais alta sua escolha no Draft, a matemática histórica nos diz que você tem maior probabilidade de conseguir um jogador relevante. É uma loteria, então? Do ponto de vista do Utah Jazz, talvez não. Para um clube que selecionou Rudy Gobert em 27º e Hood em 23º, talvez essa lógica não cole. O pivô francês já tem uma baita moral na liga. Hood, mês a mês, vai chegando lá.

Que Hood tenha deslizado tanto assim no recrutamento de 2015 é difícil de entender. Talvez os olheiros estivessem muito mais atentos em Jabari Parker, ignorando seu arremesso suave de canhota, com uma boa elevação devido a sua estatura, e visão de quadra. Ele era um assessor em Duke, mas vai mostrando rapidamente em Salt Lake que tem muito mais recursos, funcionando até mesmo como arma na chamada de pick-and-rolls. Em 25 partidas desde a virada do ano, vem com médias de 18,3 pontos, 2,8 assistências (contra 1,7 turnover e 43,8% nos arremessos de fora e 88,6% nos lances livres. Numa divisão por shooting guards (algo que, na NBA de hoje, não diz muito), ofensivamente, o ala aparece como o sétimo no ranking de Real Plus-Minus do ESPN.com, atrás de Harden, Butler, DeRozan, Middleton, Klay e Redick, acima de Ginóbili, McCollum e J.R. Nada mal.

A defesa, porém, é outra história. Ele é facilmente batido em sua movimentação lateral e, em geral, precisa ser muito mais combativo. Ainda assim, já vale como um fator positivo para o time nessa reconstrução.

raul-lopez-trading-card-utahUm card do passado: Raúl López. Vocês se lembram? Raulzinho já teve, há 14 anos, um xará vindo do basquete espanhol que era aguardado por ansiedade por sua fanática torcida. Com algumas diferenças, claro: López tinha a missão de substituir ninguém menos que John Stockton e chegava a Salt Lake City mais bem cotado, como o 24º do Draft de 2001, quatro posições acima de outro jovem armador europeu, Tony Parker.

Acontece que o jogador que estreou pela franquia em 2003 não era o mesmo de dois ano antes, e não é que tivesse evoluído. Foi o contrário. No meio do caminho, a serviço pelo Real Madrid em 2001, o catalão sofreu uma grave lesão no joelho direito (ligamento cruzado anterior). Quando assinou com o Utah em 2002, teve a mesmíssima lesão em um amistoso pela seleção espanhola. Sem confiança, com menos velocidade e arranque (algo fundamental para um jogador de 1,82m (se tanto) fazendo a transição para os Estados Unidos, não teve sucesso.

Em sua temporada de novato, conseguiu disputar todas as 82 partidas, com médias de 7,0 pontos e 3,7 assistências em 19,7 minutos, acertando apenas 29,4% dos arremessos de três e 43,1% no geral. Em 2004-05, voltou a sentir o joelho, e foi limitado a 31 partidas. Na hora de renovar seu contrato, o Utah preferiu trocá-lo com o Memphis Grizzlies, que já contava com Pau Gasol. López, porém, nunca mais jogaria pela NBA, sem repetir a parceria com seu compatriota e velho amigo das divisões de base. Chegou a ganhar a prata olímpica em Pequim 2008, foi campeão europeu pela seleção, mas num nível bem abaixo do que se esperava. Hoje, aos 35, ainda joga pelo Bilbao, com 17 minutos em média.


Jukebox NBA 2015-16: Blazers e quando não é necessário fazer tudo sozinho
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Giancarlo Giampietro

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Em frente: a temporada da NBA caminha para o fim, e o blog passa da malfadada tentativa de fazer uma série de prévias para uma de panorama sobre as 30 franquias da liga, ainda  apelando a músicas, fingindo que está tudo bem. A gente se esbalda com o YouTube para botar em prática uma ideia pouco original, mas que pode ser divertida: misturar música e esporte, com uma canção servindo de trilha para cada clube. Tem hora em que apenas o título pode dizer algo. Há casos em que os assuntos parecem casar perfeitamente. A ver (e ouvir) no que dá. Não vai ter música de uma banda indie da Letônia, por mais que Kristaps Porzingis já mereça, mas também dificilmente vai rolar algo das paradas de sucesso atuais. Se é que essa parada existe ainda, com o perdão do linguajar e do trocadilho. Para mim, escrever escutando alguma coisa ao fundo costuma render um bocado. É o efeito completamente oposto ao da TV ligada. Então que essas diferentes vozes nos ajudem na empreitada, dando contribuição completamente inesperada ao contexto de uma equipe profissional de basquete:

A trilha: ''Don't Carry It All'', por The Decemberists

Quando Terry Stotts reuniu seu grupo no dia 29 de setembro no Moda Center, para o início do training camp, deve ter achado tudo muito estranho, sem quatro dos cinco titulares da temporada passada. Só havia restado Damian Lillard, depois da partida, de uma só vez, de Robin Lopez, Nicolas Batum, Wesley Matthews e, principalmente, LaMarcus Aldridge.

Com diversos pontos de interrogação rondando a cabeça, sem saber exatamente o que aconteceria em um período de treinos tão importante devido ao acúmulo de peças novas, os torcedores do Blazers talvez imaginassem que a equipe chegaria ao campeonato com um Lillard incumbido de responsabilidade excessiva. Não que o armador não pudesse liderar essa reformulação. Estamos falando de um raro caso de franchise player jovem, com talento e cabeça para encarar a missão. Mas será que não ficaria sobrecarregado?

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Então aperte o ''play'' e deixe o Decemberists cantar: ''Don't Carry It All'' – não carregue tudo isso, algo que Damian de fato não precisou fazer, com um elenco cheio de jovens jogadores que estão se entendendo muito bem e de forma muito mais rápida do que o esperado para estrelar a história mais legal da temporada. Essa ascensão lembra o que aconteceu com Phoenix dois anos atrás. Um time em reconstrução, subestimado, mas que já entrou na luta por uma vaga nos playoffs. Agora a questão é se eles vão conseguir aquilo em que o Suns falhou.

O paralelo com o time do Arizona de 2013-14, aliás, se estende. Se a chave daquele time foi a parceria entre Goran Dragic e Eric Bledsoe, o Blazers também usa uma dupla de armadores para incomodar seus adversários. A diferença é que Dragic e Bledsoe partiam com tudo para a cesta, precisando de chutadores ao seu redor. Hoje, em Portland, o bombardeio é efetuado por Lillard e um ultraconfiante CJ McCollum, cujo salto de produção não se explica somente pela maior carga de minutos. Ele tem sido mais eficiente em sua pontaria, mesmo chamando mais atenção dos marcadores. O cara realmente tem feito cestas como se fosse máquina, de todos os cantos da quadra (veja abaixo). Também é um caso raro de atleta que acerta mais a partir do drible do que com os pés plantados, recepcionando um passe. Um problemaço para qualquer defesa.

Partido verde: acima da média em quase toda a quadra

Partido verde: acima da média em quase toda a quadra

Lillard é menos eficiente (veja abaixo), mas não dá para comparar um com o outro, por diversos fatores. O esnobado All-Star tem muito mais responsabilidades na criação de jogadas, algo que se verifica claramente a cada jogo do Blazers e também pelos números,   como a taxa de uso do time e o percentual de assistências por posses de bola. Lillard agride mais o aro, tem mais fundamentos e, claro, é mais visado pela concorrência. Ainda assim, é capaz de marcar 51 pontos contra uma forte defesa como a do Warriors.

Estranhamente, Lillard está abaixo da liga em finalizações próximas da cesta, para alguém tão explosivo e forte

Estranhamente, Lillard está abaixo da liga em finalizações próximas da cesta, para alguém tão explosivo e forte

Assim como Lillard, McCollum entrou na NBA vindo de uma universidade pouco badalada. Devido a lesões antes mesmo de sua campanha de novato começar, demorou um pouco para deixar sua marca. Dois campeonatos depois, confirma a evolução demonstrada na reta final da temporada passada e, ao seu lado, forma uma das ''back courts'', mais explosivas da NBA. Juntos, somam 46,2 pontos por partida – para comparar, Steph Curry e e Klay Thompson produzem 51,8 pontos. Em média, a dupla é responsável por mais de 38 arremessos por partida. A habilidade dos dois armadores empurra o sistema ofensivo do Blazers, o sétimo mais eficiente da liga, atrás de times como Warriors, Thunder, Spurs, Cavs, Raptors e Clippers. Só a elite, num trabalho magistral de Stotts, que merece séria consideração ao prêmio de técnico do ano.

Lillard é um terror para qualquer defesa

Lillard é um terror para qualquer defesa

De volta à canção do Decemberists, para constar, em sua letra o compositor e cantor Colin Meloy fala sobre a aventura de tentar cuidar de seis hortas, em sua casa com a mulher. Seis hortas, imaginem! Pois são essas as experiências típicas que um cidadão comum de Portland, casa da banda (tcha-ram!), pode ter.

A cidade é como se fosse Brooklyn no Noroeste dos Estados Unidos, mas ainda mais hipster/indie/natureba, conforme documentado no seriado Portlandia. Para quem gosta de música ao vivo, cervejas artesanais, ciclovias (dizem que as de lá são exemplares) e/ou correr por aí sem o receio de ser atropelado ou de tropeçar na calçada, este é o seu lugar. Não à toa, a Nike vem de lá.

Se o compositor gasta parte de seu tempo longe do violão para se dedicar ao cultivo, isso tem tudo a ver com as preocupações que possam passar pela cabeça do gerente geral Neil Olshey. O próprio exemplo do Phoenix Suns vem a calhar. No Arizona, o processo de reformulação foi acelerado e se confundiu com uma colheita proveitosa e imediata. Para tentar chegar ao topo, torcida e diretoria vão precisar de calma passa, com a busca por uma nova identidade e o desenvolvimento de seus jovens jogadores. Mais training camps serão realizados, com Stotts recebendo mais caras novas para fazer companhia a Lillard e dividir o peso.

A pedida? Playoffs! Ainda. No início da temporada, com cautela, diretores e técnicos de Portland demonstravam certo otimismo. Mesmo que boa parte da liga esperasse que o clube saísse da cena dos playoffs e fosse até mesmo direcionado para a ingrata luta por uma alta posição no Draft. Não que confiassem em uma classificação. Mas a projeção que faziam era que, em quadra, o time flertasse com o aproveitamento de 50%, mesmo. No Oeste, isso não seria o suficiente. Acontece que estamos falando de um ano um pouco anormal da conferência nesta década. A escorregada de Houston e New Orleans e as muitas lesões em Utah abriram uma brecha.

A gestão: Neil Olshey é o encarregado de cuidar desse cultivo, e isso só deve deixar o torcedor mais encorajado de que a equipe vai se desenvolver com segurança. Cedo ou tarde, é de se esperar que este nome seja cada vez mais comentado tanto nos bastidores e como nas análises da liga, como candidato a executivo do ano. O Trail Blazers está nas mãos de uma figura para lá de competente – e prudente.

Em Portland, sua primeira cesta foi conquistar o bilionário Paul Allen, proprietário da franquia, que por anos interferiu ou deixou que alguns de seus aspones interferissem na condução do departamento de basquete. Algo que é não tão simples assim, por mais que Allen o tenha tirado do Clippers sorrateiramente, em 2012, quando a franquia californiana acreditava estar prestes a renovar o contrato do executivo. Que ele tenha saído de um clube que tinha Chris Paul e Blake Griffin dessas diz muito sobre o temeroso Donald Sterling.

Olshey, melhor atuação da carreira foi como gerente geral do Clippers

Olshey, melhor atuação da carreira foi como gerente geral do Clippers

Ser cobiçado no mercado foi uma grande reviravolta para o dirigente. Quando promovido ao cargo de gerente geral dos antigos primos pobres de L.A., na sucessão de Mike Dunleavy, muitos acharam graça. Pois, ao fazer uma pesquisa sobre o novo chefão, o reportariado descobriu um fato pouco usual em seu currículo: a profissão de ator, dando as caras em muitos comerciais e até de novelas americanas. Era piada pronta para um clube de passado folclórico. Em pouco tempo, porém, poucos estavam rindo. Sob suas instruções e com uma visão de ave de rapina para caça de talentos, o Clippers virou o time que é hoje. Muito antes de Doc Rivers, que tenta ficar com a fama.

Que o cartola deu sorte, não há dúvida. Griffin caiu em seu colo em 2009. Mas uma só estrela não garante nada, e a história da franquia californiana, aliás, está dominada por diversos jovens talentosos que não vingaram, ou que vingariam em outros ares. Via Draft, o gerente geral teve desempenho impressionante por lá: além de Griffin, selecionou Eric Gordon, Al-Farouq Aminu e Eric Bledsoe. Também soube administrar a folha salarial e, desta forma, conseguiu arquitetar a supertroca por Chris Paul, mudando definitivamente o rumo do Clippers. Sua única bola fora talvez tenha sido a negociação que mandou Baron Davis para Cleveland, para se livrar de seu salário. Pagou, por isso, uma escolha de Draft, que resultou em Kyrie Irving. Considerando que CP3 chegou logo depois, não havia muito do que reclamar.

Em Portland, ele já selecionou Lillard (na sexta posição, o que significa que, para os dirigentes da época, não se tratava de um superastro garantido), Meyers Leonard e CJ McCollum na primeira rodada e Will Barton, Allen Crabbe (uma grata surpresa nesta temporada, colocando mais pressão na defesa com sua versatilidade como cestinha) e Jeff Withey na segunda. Apenas Leonard pode ser considerado uma relativa decepção, embora seja muito jovem ainda e tenha potencial inegável. Quer dizer: para encontrar reforços, o cara não precisa de uma escolha top 3 (algo que dificilmente vai acontecer com um time já competitivo). Mesmo que não chegue lá, existe a  confiança de que mais alguns bons calouros devem pintar por aí.

Crabbe é mais uma aposta certeira de Olshey. Não em questão estética, claro

Crabbe é mais uma aposta certeira de Olshey. Não em questão estética, claro

Olshey também tem insistido que uma das marcas de sua diretoria será o trabalho interno de desenvolvimento dos jogadores, atividade na qual San Antonio, Oklahoma City e Golden State são exemplares e aque deveria ser praxe, mas nem sempre acontece por aí. Não basta identificar talentos se você não vai ajudá-los depois. Poucos chegam prontos como Lillard.

E ainda há a oportunidade de chamar agentes livres para o baile, depois de já se dar bem com Aminu e Ed Davis, caras com muito basquete pela frente ainda. Para a temporada que vem, Olshey pode ter espaço salarial para adicionar até dois jogadores com salário máximo, dependendo do que quiser fazer com Leonard e Maurice Harkless. Se Portland vai conseguir atrair algum astro, não há certeza alguma. Mas é inegável que a campanha promissora desta temporada ajuda na hora de recrutar.

Olho nele: Mason Plumlee

Plumlee sabe o que fazer com a bola se for para passá-la

Plumlee sabe o que fazer com a bola se for para passá-la

Pois é. Com a bola na mão em situações de um contra um, Mason P vai fazer Robin Lopez parecer Arvydas Sabonis. Ele nunca vai ser um pivô de referência ofensiva. Do outro lado da quadra, ele não tem a mesma estatura e presença intimidante debaixo do aro. Sim, ele tem suas limitações. Mas o 'alemão' compensa essas deficiências de outras maneiras, sendo um dos atletas mais desenvoltos da NBA em sua posição. Ele tem os pés muito ágeis, salta bastante e, por isso, é um defensor valioso, podendo tanto proteger o aro como atuar na cobertura eficaz do pick-and-roll, fechando a porta na cara de armadores ou alas. Também tem os músculos para batalhar. Mas não é só de atributos atléticos que o grandalhão vive. Os quatro anos com o Coach K em Duke certamente foram importantes para seu desenvolvimento como jogador, e o apreço que desperta em seu mentor é inegável, a ponto de ser convocado para a seleção americana. Seu posicionamento defensivo é impecável,  enquanto no ataque ele tem boa visão de quadra e dificilmente vai tentar algo além de suas capacidades. São cravadas, bandejas e nada mais que isso na hora de finalizar. Mas ele é eficiente, produtivo e ainda passa a impressão de que está em pleno desenvolvimento. Se é o titular do futuro? Improvável. Mas é um jogador útil e que terá longa e lucrativa carreira na liga.

geoff-petrie-blazers-1971-trading-cardUm card do passado: Geoff Petrie. Damian Lillard vem de cinco partidas com ao menos 30 pontos anotados. Ele é o primeiro Trail Blazer a conseguir esse feito desde o armador na temporada… 1970-71, quando o clube estreou na liga. Sim, nem mesmo Clyde Drexler conseguiu. E, sim, também: é o mesmo Petrie que foi gerente geral do Sacramento Kings por longa data e montou o time de C-Webb, Peja, Divac e Bibby – e, depois, só se atrapalhou, ajudando o Kings a virar essa bagunça que dura até hoje.

Pois bem. Há mais de 40 anos, era um cestinha com largo alcance em seu arremesso, mesmo que não existisse linha de três pontos. Formado na badalada Princeton, Petrie foi a primeira grande esperança basqueteira em Portland, com média de 24,8 pontos em sua campanha de novato, muito antes da contratação de Bill Walton. Para constar, os dois foram parceiros por dois anos. Todavia,sSofregamente, num tema que é recorrente na franquia do Oregon, Petrie também viu sua estelar carreira ser abreviada muito cedo por conta de uma lesão no joelho, em 1976, um ano antes de um dos times mais inspiradores da liga ganhar o campeonato.

Para saber mais sobre essa história e as idas e vindas de uma equipe de NBA, existe uma leitura obrigatória: o livro ''The Breaks of the Game'', de David Hallberstam, um jornalista que marcou época na imprensa americana primeiro na cobertura de guerras e política e, mais tarde, foi para cima do esporte, com um faro único para encontrar histórias e um texto implacável para contá-las.


Cobiçado pela elite, Varejão chega ao Warriors e quer jogo
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Giancarlo Giampietro

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É curioso que Anderson Varejão tenha se reunido com o Golden State Warriors e já ido para o banco de reservas em partida contra o Atlanta Hawks. Pois o time do técnico Mike Budenholzer era visto com o ''candidato natural'' aos serviços do pivô, segundo diversas fontes da NBA consultadas pelo blog, até pelo afastamento de Tiago Splitter.

Mas os atuais campeões se anteciparam. Foram sedentos, de modo surpreendente, confesso, em direção ao capixaba para fazer uma dobradinha brasileira em Oakland. Que um clube de elenco altamente qualificado o tenha procurado, topando pagar, no mínimo, US$ 3,1 milhões (ou mais de R$ 10 milhões) para contar com o atleta por cerca de quatro meses.

Para explicar o cálculo: ao contrário do Atlanta, o Golden State não tinha uma vaga em seu elenco para fazer nova contratação. Para poder contar com Varejão, teve de dispensar, então, o pivô Jason Thompson. Até aí tudo bem: em 28 partidas na temporada, teve média de apenas 6,4 minutos. Acontece que o jogador ex-Sacramento Kings tem US$ 2,6 milhões garantidos em salário para 2016-17. O clube dificilmente manteria Thompson em seu plantel na próxima campanha, mas, em vez de arcar com a despesa, poderia tentar uma troca para se livrar do pagamento. Além disso, o salário mínimo do brasileiro adicionado pode custar de US$ 500 mil a US$ 1 milhão em multas por excesso do teto salarial, dependendo de um bônus contratual para Andrew Bogut ao final do campeonato.

Para uma franquia que fatura alto em bilheteria, merchandising e em qualquer outro negócio ultimamente, devido à febre em torno de Stephen Curry e seus chapas, é um montante que não vai fazer tanta diferença. Agora, não quer dizer que eles topariam gastar mais em sua folha salarial por um jogador qualquer. Que tenham decidido investir, e rapidamente, em Varejão só nos mostra o quanto a carreira do cabeleira é respeitada nos Estados Unidos. E mais: outros candidatos revelados pela mídia americana foram San Antonio Spurs e Oklahoma City Thunder. Quer dizer, os três líderes do Oeste. Que tal?

Admito que, em 23 de fevereiro de 2016, não imaginava ser necessário argumentar a favor de Anderson. Mas andei vendo muitos comentários (aiaiai, os comentários…) por aí negativos a seu respeito. Leitores brasileiros menosprezando o que o pivô construiu desde que chegou a Cleveland em 2004 – e para não falar de seu título de Euroliga pelo Barcelona etc.

Varejão agora está do outro lado. Imagine uma revanche Cavs x Warriors na final...

Varejão agora está do outro lado. Imagine uma revanche Cavs x Warriors na final…

A despeito das diversas lesões e problemas de saúde que o brasileiro teve em 12 anos de liga e de ter sido despachado, no mesmo dia, por Cleveland e Portland, a opinião de scouts e dirigentes da NBA que consultei durante o final de semana era a de que ele encontraria um novo clube rapidamente. Que sua reputação e currículo de sobrepõem a eventuais questões sobre físico e jogo. Ainda mais quando ele vale o salário mínimo. No caso do Warriors, a conta saiu um pouco mais cara por fatores já explicados.  Basicamente o que ouvi: ''Ele tem uma boa presença de vestiário, é um jogador valioso. Como solução a curto prazo, sem custar nada, por que não contratar. Não há o que perder aqui''.

Em seu auge, Varejão foi um pivô de mobilidade e coordenação incomuns para alguém de 2,11m de altura. Inteligentíssimo e muito dedicado em quadra, fez uso ao máximo dessas características, como excelente reboteiro e marcador, sendo capaz de incomodar caras mais altos e fortes no garrafão e de atrapalhar baixinhos no perímetro quando se executa uma troca defensiva. No ataque, desenvolveu seu arremesso de média distância e sempre ajudou a movimentar a bola.

Que Steve Kerr resuma a história: ''É difícil não gostar dele. Ele é o cara que não para de se esforçar a cada posse de bola e compete a cada seguro. Pelo entusiasmo com que ele joga e, pelo que entendo, sua personalidade no vestiário, sim, ele vai se tornar um dos favoritos da torcida em Golden State assim como era em Cleveland'', diz. ''Pensamos que ele é o tipo de cara que vai aprender as coisas rapidamente. Por sorte, ele é um cara que tem um instinto natural para o jogo. Nosso ataque é bastante livre, de todo modo, com o pivô recebendo a bola e o restante fazendo nossos cortes (para a devolução). É nisso que ele é melhor.''

varejao-warriors-new-teamO que o treinador vai ter de conferir nas próximas semanas é se, em minutos reduzidos, o brasileiro ainda é capaz de executar aquilo que a cabeça pede, o que se habituou a fazer como profissional. As dúvidas são naturais do ponto de vista atlético e físico, já que ele sofreu uma delicada cirurgia no tendão de Aquiles em 2015 e tem jogado muito poucoC.

Neste ano, Varejão participou de 31 de 55 jogos do Cavs, com 10 minutos em média. Pouco. Nesse tempo reduzido, somou 2,6 pontos, pegou 2,9 rebotes e acertou apenas 42,1% de seus tiros de quadra. Antes de levantar mais números, só vale dizer que o pivô foi para a quadra quase sempre com a partida definida, com um papel coadjuvante bastante reduzido, como nunca antes havia acontecido em sua carreira. Então é um contexto todo particular. Em geral, o pivô esteve ao lado do jovem Tristan Thompson, o que o empurrou para longe da cesta. Em sua carreira, 53,9% de seus arremessos foram realizados dentro da área restrita do garrafão. Nesta temporada, foram 28,9%. De todo modo, falando nas estatísticas regulares, a projeção por minutos acompanha basicamente os números de sua carreira.

Se o nível de atividade de Varejão vai mudar muito de Cleveland para Oakland, não sabemos. Kerr afirma que pretende usá-lo o quanto antes. ''Planejo usá-lo para que ele ganhe um pouco de ritmo. Ele não jogou muito neste ano, mas diz que está saudável, que vem treinando e se sentindo bem. Então do que ele precisa é de ritmo, e vamos dar esses minutos para ele o mais rápido que podemos'', afirma. Será que esse tempo de quadra já virá nesta extensa viagem pela América? A próxima parada é Miami, na quarta-feira. Na quinta, Orlando. Sábado, OKC.

Em teoria, o cabeleira pode cobrir o tempo de quadra deixado por Festus Ezeli, ou pelo menos parte dele. Em constante evolução, o pivô nigeriano dava conta de 17,8 minutos por jogo (o oitavo na rotação), mas teve de passar por uma cirurgia no joelho. Seu retorno ainda não tem data definida, mas especula-se que possa voltar à ativa na penúltima ou na última semana da temporada. Fica uma lacuna no garrafão, para proteção de cesta, fechamento de espaços e cobertura.

Sem Ezeli, Kerr não vai querer o risco de aumentar a carga de Andrew Bogut, outro que também sofreu com muitas lesões no decorrer da carreira. Marreese Speights não ajuda nesse departamento. Suas principais características estão voltadas para o ataque, mas nem isso está funcionando tão bem, sem confiança. O atlético James Michael McAdoo e, principalmente, o calouro Kevon Looney não estão prontos para o nível de jogo que o líder da temporada regular pede.

Em qualquer outro time, essa talvez fosse uma questão grave para se solucionar. Mas o Warriors é um caso especial, por contar com Draymond Green. A NBA toda sabe que, na verdade, o quinteto mais temível de Golden State tem uma formação baixa com Green ao centro, rodeado por Curry, Klay Thompson, Andre Iguodala e Harrison Barnes – a chamada ''escalação da morte'', que arrebentou com a concorrência nos playoffs do ano passado e que é a terceira mais utilizada na atual campanha. O ideal, porém, também é resguardar o ala-pivô e limitar seu desgaste físico até os mata-matas.

Aí entra Varejão, que acabou desafiando a física e a língua portuguesa ao cair para cima. Tem a expectativa de jogar mais e se divertir numa equipe fantástica.


A temporada não acabou para Anthony Davis: restam R$ 90 mi para resgate
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Giancarlo Giampietro

Não seria Aron Baynes quem pararia o Monocelhano domingo

Não seria Aron Baynes quem pararia o Monocelhano domingo

Vamos interromper momentaneamente o noticiário, digamos, 'Varejista', para falar um pouquinho que seja sobre Anthony Davis.

Sim, vocês se lembram dele? Aquele que foi apontado por muita gente (oi!) como um candidato ao prêmio de MVP desta temporada da NBA, mas que nem, mesmo, para o All-Star Game foi eleito? Neste domingo, o New Orleans Pelicans visitou a ''Motown'' neste domingo e, de clube esquecido na temporada, virou notícia, graças ao despertar do Monocelha.

Existe a relação entre linhas estatísticas e fanfarra, mas também existe uma combinação de 59 pontos e 20 rebotes em 43 minutos de ação para o ala-pivô de N'awlins. Nos últimos 40 anos, a liga só viu acontecer duas vezes um atleta somar 55 pontos e 20 rebotes. A última tinha sido com um tal de Shaquille.

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Foi a maior exibição do atual calendário da liga, levando o time a um triunfo por 111 a 106 sobre o Pistons. Ele anotou, sozinho, 53% dos pontos e coletou 39% dos rebotes de sua equipe – ou, respectivamente, 27% dos pontos da partida e 21% dos rebotes que estiveram em jogo.  Ele errou apenas 10 de 34 arremessos de quadra, tendo acertado também 9 em 10 lances livres. Haja:

É muito recurso, né? ''Já viu algo assim? Eu nunca'', disse o técnico Alvin Gentry, . ''Não por um grandão, tão habilidoso assim.''

O esforço não foi à toa. O Pelicans ocupa hoje a 11ª colocação na Conferência Oeste e ainda sonha com uma vaguinha. Mas vai ser difícil. Muito difícil. O aproveitamento da equipe é de 40% (22 vitórias e 33 derrotas), enquanto o oitavo, o Houston Rockets, tem 50%, com 28 vitórias e 28 derrotas, margeando a zona de classificação para os mata-matas.

São cinco derrotas a mais. Restam 27 partidas no calendário. Dallas e Portland também não estão tão longe assim. Não é impossível de correr atrás disso, mas não é que o momento do time no campeonato seja dos mais esplendorosos, vindo de cinco vitórias e cinco reveses nos últimos dez compromissos. Além disso, não é que a disputa seja apenas com o Rockets. Entre eles estão Utah Jazz e Sacramento Kings também. E o Utah tem muito mais garrafas para vender no momento. Veremos, já que Tyreke Evans está fora da temporada e Eric Gordon, para variar, ainda precisará de uma semaninha para retornar.

Se o êxito coletivo parece mais complicado – o que deixa o gerente geral Dell Demps a perigo, diante de proprietários que acreditavam que o clube estava pronto para avançar no Oeste –, ao menos Davis tem também uma causa pessoal pela qual brigar, e uma que diz respeito a sua conta bancária, valendo mais de R$ 90 milhões.

Quando fechou no ano passado uma extensão contratual com a franquia, podendo valer até US$ 145 milhões, vindo de seu vínculo de novato, o estimado Monocelha estava sujeito a um bônus pelo que se convencionou chamar de a ''Regra Rose'', em nome de Derrick Rose (valendo a citação trocadilhesca a Umberto Eco, a-ham). Apelamos novamente ao guru Larry Coon, que destrinchou o acordo trabalhista da liga. No caso de jogadores que assinam pelo salário máximo anual em seu segundo contrato, a quantia a ser recebida pode saltar de 25% para 30% do teto salarial estipulado do ano desde que este atleta a) seja nomeado ao menos duas vezes para os quintetos ideais da liga ao final da temporada (primeiro, segundo ou terceiro, tanto faz), b) seja eleito titular do All-Star Game ao menos duas vezes, ou c) seja eleito o MVP uma vez.

Como ficou fora do All-Star e não está na discussão para o prêmio que já pertence a Stephen Curry (e o qual Rose ganhou em 2012), Davis agora precisa entrar no grupo dos 15 melhores da liga, valendo algo em torno de US$ 23 a 24 milhões em seu contrato. Antes de se apelar ao purismo, dizendo que dinheiro não é tudo nesta vida,  basta converter esse montante para a cotação brasileira, chegando a mais de R$ 90 milhões, para se encerrar a discussão..

É claro que perder  essa grana toda não seria o fim do mundo para alguém que, de qualquer maneira, já vai faturar mais de US$ 120 milhões na pior (coff! coff! das hipóteses). Aos 22 anos, o ala-pivô também pode voltar ao mercado de agentes livres em 2020, caso exerça uma cláusula em seu contrato para abrir mão do quinto ano. Ainda está muito longe para se pensar nisso, mas o Pelicans também precisa se cuidar.

Drummond ficou para trás

Drummond ficou para trás

Em que pese o excesso de lesões que dificultou o trabalho de Gentry desde a pré-temporada, o técnico não faz um bom trabalho até o momento. Mas também é preciso dizer que Demps não reuniu tantas peças assim que favoreça o estilo de jogo que o treinador gostaria de colocar em prática. Falta arremesso e velocidade.

A campanha frustrante acabou tirando Davis da pauta. Até que ele veio com essa atuação estrondosa para, como Adrian Wojnarowski registrou de imediato, para relembrar a NBA de sua existência. Em entrevista ao chefão do Vertical, o rapaz falou com franqueza sobre a pressão de, em seu quarto ano na liga, carregar um time nas costas, lidando com as mais elevadas expectativas.

''É duro. Você ouve o barulho todo. Nosso time perde três em sequência, e é culpa do Anthony Davis. A culpa chega a você. É claro que há outros fatores que caminham juntos, como os elogios quando você está vencendo. Mas lidar com isso quando você é tão jovem, e ainda não conquistou nada, é difícil, especialmente quando as pessoas o colocam num pedestal. Especialmente quando ficam dizendo o que deveria fazer. É frustrante'', afirmou.

Calma, Monocelha, não é hora para ficar pilhado assim. Aí é a hora de nos lembrarmos que, com 22 anos e 11 meses, Davis é mais jovem que Lucas Bebê e Cristiano Felício. Sua pontuação de domingo foi a maior para um jogador sub-23 na história da NBA. Ele foi o mais jovem da liga a somar 50 pontos e 20 rebotes desde Bob McAdoo em 1973-74.

Anthony Davis existe, e a gente não pode se esquecer.


Golden State inicia trecho mais difícil da tabela e apanha em Portland
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Giancarlo Giampietro

blazers-warriors-blowout

De modo prudente, os jogadores do Golden State Warriors relutaram por muito tempo em falar sobre o supostamente inalcançável recorde de 72 vitórias do Chicago Bulls de 1996. Mas, à medida que os bons resultados foram se acumulando num ritmo impressionante, ficou impossível de fugir do tema. Eles abraçaram a causa. Estão mais que certos: é uma oportunidade única que o time tem, afinal.

Pois, na volta do All-Star, o Warriors vai encarar o trecho mais complicado de sua tabela. Os desafios serão realmente mais significativos, a começar por uma série de seis partidas fora de casa entre os dias 19 e 27. Haja embarque, haja check out, haja calmante. Ao final desta sequência, vamos ter uma boa noção se aquela legendária equipe de Jordan, Pippen e Rodman ganhará companhia.

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Acontece que, nesta sexta-feira, essa turnê ''coast to coast'' rasgando a América – indo do Noroeste de Portland até o Sudeste da Flórida – começou da pior maneira possível. Ou melhor, com a pior derrota da equipe nesta temporada: uma surra de 32 pontos de diferença contra o Trail Blazers, levando 137 pontos em 48 minutos.

Por sua consistência assustadora desde as primeiras semanas do campeonato, o Warriors exige mais que um voto de confiança. Obviamente ninguém precisa fazer tempestade em copo d'água após esse deslize – são apenas cinco derrotas em 53 rodadas. Jogar em Portland nunca é fácil. Damian Lillard, 51 pontos, estava enfezado pacas, por conta da esnobada que tomou da liga (assista abaixo, numa exibição de técnica espetacular). O intervalo do All-Star também pode ter deixado os atuais campeões um tanto relaxados.

Além disso, se formos recuperar outra derrota surpreendente do time (digo surpreendente pela diferença no plcar…), foi o revés por 113 a 95 aconteceu em Detroit, em janeiro, dois dias antes de um compromisso com um certo Cleveland Cavaliers. E quem o Warriors enfrenta neste sábado, num ''back-to-back''? O Los Angeles Clippers, rival que desperta algo entre o asco e o ódio no vestiário de Golden State. Talvez tenham subestimado o tinhoso Blazers, a equipe que, contra todas as previsões, se intromete de forma valente e precoce na briga por vaga nos playoffs no Oeste, jogando enorme pressão para cima de Houston, Utah e, coitados, Sacramento. A ver como eles respondem contra o Clippers, que vem jogando seu melhor basquete da temporada, sem se importar com a ausência de Blake Griffin – uma bizarrice um tanto complicada de se explicar.

Para alcançar e superar o recorde do Bulls, o Golden State, na volta do All-Star, precisa de uma campanha de 25 vitórias e 5 derrotas. Pois bem, a primeira dessas cinco já aconteceu. Que eles consigam 25-4 daqui para a frente é, em tese, algo totalmente plausível. Mas se você for examinar o tipo de calendário que esses caras vão encarar, vai perceber que o time vai ter de jogar ainda mais bola para se colocar na história. Lá vem pedreira, gente, mesmo para Stephen Curry. O departamento de estatísticas da ESPN americana nos brinda com os seguinte detalhes:

– Terão sete confrontos com o trio de pretensos usurpadores do Oeste: Spurs, Thunder e Clippers.

– Sete dobradinhas de dois jogos em duas noites.

– Nesses sete ''back-to-backs'', todos serão contra adversários com pelo menos um dia de descanso.

– Seis estas dobradinhas exigem viagem de um dia para o outro.

– Como se não fosse o suficiente, três destes jogos serão contra Spurs e Clippers. E fora de casa!

Outro dado interessante que eles separaram é que, até o momento, o Warriors tem um aproveitamento de oito vitórias em nove partidas decididas por cinco pontos ou menos. Nas três vezes que foram para a prorrogação, saíram vencedores. Isso significa que eles contaram com um pouco de sorte também, em meio a tanta competência. Assim como fôlego e resistência, tendo vencido seis de dez partidas nas quais chegaram a ficar com dez pontos ou mais de desvantagem no placar, ou triunfado em 10 de 14 jogos em que estavam perdendo nos cinco minutos finais. Sim, grandes equipes sabem enfrentar a adversidade. A teoria de probabilidades, porém, indica que uma hora o time pode perder mais deste tipo de partida.

Com uma tabela desgastante e outros objetivos no caderninho – algo ser bicampeão da NBA, aliás –, não seria de se estranhar que Steve Kerr comece a poupar um ou outro atleta pontualmente, independentemente do apelo que tem a busca por um marco antes visto como inatingível. É um baita dilema, mesmo, para o técnico, seus atletas e diretoria. Chegar a 72 ou 73 vitórias seria uma façanha, sem para dizer o mínimo. Levando em conta o tanto de obstáculos que terão de enfrentar, seria algo ainda mais incrível, difícil de compreender.

Boa sorte.


Varejão está sem clube: ok, quais são os próximos passos?
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Giancarlo Giampietro

Varejão vai para o mercado de "buyouts". Seria Hibbert um concorrente?

Varejão vai para o mercado de ''buyouts''. Seria Hibbert um concorrente?

São negócios. O mundo da NBA sabe. E, no mundo da liga americana, esses negócios são duros e bastante complicados também, cheios de pormenores, que os diretores são obrigados a dominar, para entender direitinho os passos a se seguir e, também, as brechas que eles podem aproveitar para lucrar em uma negociação, ganhar flexibilidade na gestão etc. A troca de Anderson Varejão é uma prova disso.  A partir do momento em que o Portland mal absorveu seu contrato e já o dispensou, é natural que muitas dúvidas surjam em relação ao futuro do brasileiro. Há particulares que precisam ser atendidas para que ele retorne à liga ainda nesta temporada. Pensando nisso, segue uma básica bateria de perguntas e respostas para tentar sacar deve ser sua próxima jogada. Se for para entender as motivações de Cavs e Blazers nesta negociação, as explicações estão no texto da véspera, mesmo.

1 – Varejão foi dispensado pelo Trail Blazers. Ainda pode jogar neste campeonato?
Sim, não há impedimento. Ele apenas fica sem contrato, com a franquia do Oregon sendo responsável por pagar o restante de seu salário: para constar, o bilionário Paul Allen, fundador da Microsoft, vai arcar com o restante do pagamento do brasileiro nesta temporada e ainda pagar mais US$ 9,3 milhões que estavam garantidos em seu vínculo com o Cavs referentes a 2016-17. Havia um quarto ano de contrato, valendo US$ 10 milhões, mas que não tinham garantia alguma. As informações são de Brian Windhorst, do ESPN.com, repórter que cobriu o Cavs durante praticamente toda a carreira de Anderson.

2 – O pivô já pode assinar com uma equipe nesta sexta?
Não. O que poderia acontecer era que um clube se candidatasse a receber seu contrato num intervalo de 48 horas desde o momento em que ele foi dispensado. Aproximadamente até umas 18h, 19h de sábado, no horário de Brasília), Varejão está sob moratória. (PS: E aqui corrijo uma informação que escrevi ontem: são 48 horas, mesmo, e em vez de 72 horas, que era o prazo do penúltimo acordo trabalhista da liga). Na terminologia da NBA, é o período de ''waiver''. Nessas 48h, só podem se candidatar a seus serviços as equipes com espaço suficiente em suas folhas salariais para assumir o contrato de Varejão ou aquelas que tenham ''exceções de trocas'' acima deste valor. Mais detalhes no site do especialista Larry Coon, a bíblia em assuntos dos regulamentos de cap da liga. No momento – excluindo, por motivos óbvios, Portland, que ainda tem espaço em sua folha –, não há nenhum clube em condições de adquiri-lo desta forma. Aqui estão todas as ''exceções de troca'' disponíveis no início da temporada.

Chris Kaman ocupa a vaga de pivô veterano em Portland

Chris Kaman já ocupava a vaga de pivô veterano em Portland

3 – Tá, mas e depois de 48 horas? Como fica sua situação contratual?
Aí Anderson vai virar um agente livre novamente. O Portland seguirá pagando seu salário pelo vínculo anterior, mas ele está liberado para fazer um novo contrato com uma nova franquia.

4 – E Varejão pode assinar com qualquer clube?
Não, há uma restrição aqui. A primeira de todas diz respeito ao Cavs. Depois de um jogador ser trocado e dispensado, ele não pode voltar ao clube de origem tão cedo. Há restrições. No caso de Cleveland, se LeBron desejar um retorno do velho companheiro, vai ter de esperar por um ano até que ele seja liberado. Até fevereiro de 2017, em vez dos seis meses que escrevi ontem. Há uma certa confusão aqui pelo fato de a regra ser um pouco flexível. Se o contrato original do capixaba estivesse em sua última temporada, aí ele poderia retornar ao Cavs já em julho, quando a janela se reabre. Mas o vínculo se estendia até junho de 2018. Então, o que vale é um ano de calendário cheio para que as partes possam negociar algo. Larry Coon explica novamente.

De resto, o pivô só pode fechar com algum clube que tenha uma vaga em seu elenco. Durante a temporada regular, cada time só pode ter 15 jogadores sob contrato. Hoje, diversos times interessantes para o brasileiro estão abaixo do limite: Atlanta Hawks, Charlotte Hornets, Houston Rockets, Miami Heat, Oklahoma City Thunder, New York Knicks e Washington Wizards. O Clippers também pode ser adicionado a esta lista pelo fato de ter 14 contratos garantidos no elenco, com a 15ª sendo preenchida pelo contrato temporário de Jeff Ayres, ex-Pacers e Spurs. Todos os clubes aqui citados têm aspiração de jogar os playoffs. Resta saber se algum deles teria o interesse de fechar com o brasileiro. Ele seria contratado ou pelo salário mínimo da liga (recebendo o proporcional pelos dias de vínculo), ou por alguma ''exceção contratual'' (as exceções ''mid level'' ou ''mini mid level'').

5 – Então ele pode jogar os playoffs?
Pode, totalmente liberado, por ter sido dispensado antes de março. Qualquer jogador que rescinda seu contrato até o fim de fevereiro fica elegível para jogar os mata-matas.

*    *    *

Estas são as perguntas de respostas factuais. Agora vem a parte subjetiva do negócio, sobre a qual já expus algumas coisas no texto de quinta (segue o link novamente). A decisão que Anderson será extremamente relevante para os planos de Rubén Magnano.

Qual seria o melhor clube para Varejão? Se for para pensar em tempo de quadra, espiando a lista acima, talvez as melhores opções sejam Atlanta, Houston e Miami.

O Hawks perdeu seu pivô reserva. Ironicamente, Tiago Splitter. Por mais intimidador e longilíneo que seja nosso primo cabo-verdiano Walter Tavares, não acredito que Mike Bundeholzer esteja preparado para lhe dar mais minutos. Ainda mais na reta final da temporada. Mike Muscala terá suas chances, arremessa bem de média distância, é um pouco mais rodado, mas não serve como solução se o assunto for defesa. Varejão sabe passar a bola como poucos entre os pivôs e não seria um entrave no sistema de Bud. Que tal?

Poderia o Hawks tentar contratar um segundo pivô brasileiro?

Poderia o Hawks tentar contratar um segundo pivô brasileiro?

Os outros dois times ainda estão na briga por vaga nos mata-matas e precisam de ajuda no garrafão. O Rockets conta com um quebradiço (e descontente) Dwight Howard, o jovem extremamente promissor Clint Capela e os versáteis e inconstantes Terrence Jones e Josh Smith. Em tese, os quatro comporiam a rotação. Se Howard mantiver a concentração e a forma, fica mais difícil de jogar. Mas, se as lesões permitirem e se Varejão estiver confiante em sua capacidade física e atlética, há uma clara necessidade no elenco de mais um pivô que cuide da defesa, até para dar descanso ao antigo All-Star.

Já o Heat vive um novo drama com Chris Bosh. O ala-pivô está afastado por tempo indeterminado das quadras, depois de médicos detectarem novos coágulos sanguíneos, agora em sua panturrilha. Há o temor de que ele não possa mais jogar nesta temporada ou – toc, toc, toc – que tenha de se aposentar das quadras. Isso deixaria Erik Spoelstra com Hassan Whiteside, Amar'e Stoudemire, Josh McRoberts e Udois Haslem. Os três últimos são rodados e não são conhecidos pela durabilidade.

Do restante, o Clippers, a princípio, pareceria interessante. Mas Doc Rivers prioriza as formações mais baixas quando DeAndre Jordan vai para o banco, tendo Blake Griffin disponível, ou não. Com a chegada de Jeff Green, essa tendência só é reforçada. Varejão teria disputar, então, minutos com Cole Aldrich. Imagino que muita gente vá engasgar ao ler esta frase. Mas, a despeito do jeitão molenga do cara, de ser um refugo de OKC, a verdade é que ele tem sido superprodutivo na reserva de Jordan e vem sendo constantemente elogiado por um enamorado técnico e chefão.  O mesmo raciocínio tático vale para o Wizards, de Gortat e Nenê. Já o Thunder tem pivôs para dar e vender, assim como Hornets e Knicks.

Peja foi dispensado pelo Raptors em 20 de janeiro 2011. Quatro dias depois, assinou com o Mavs. Ao lado de Nowitzki, conquistou naquele mesmo ano um tão aguardado título, depois de tantas decepções pelo Sacramento Kings

Peja foi dispensado pelo Raptors em 20 de janeiro 2011. Quatro dias depois, assinou com o Mavs. Ao lado de Nowitzki, conquistou naquele mesmo ano um tão aguardado título, depois de tantas decepções pelo Sacramento Kings

Mas, a despeito de tanta matutação, primeiro, vai depender de quem vá mostrar interesse, né? Conforme dito acima, os clubes mais precavidos vão aguardar a chegada de março para saber qual exatamente é o menu de jogadores que ficarão disponíveis para contratação. Lembro de dois casos bem-sucedidos de parcerias improvisadas, de última hora, que deram muito certo: Peja Stojakovic deu uma boa mão ao Dallas na campanha do título em 2011, enquanto Boris Diaw se encaixou como uma luva no sistema do Spurs no momento em que Michael Jordan se cansou de seus caprichos.

Há muitos nomes especulados neste ano para este mercado paralelo. São atletas esperam mostrar serviço para conseguir um novo contrato vantajoso em julho. Os mais cogitados são:

David Lee:  É provável que ele rescinda com Boston ainda nesta sexta. Aí temos um concorrente direto em termos de posição. No pacote técnico, porém, são beeeem diferentes. Qualquer equipe que pense em contratar Lee vai precisar de um sistema defensivo forte para assimilar um jogador desatento e de pouca mobilidade, esperando que, eventualmente, seu repertório ofensivo compense. , que Consistente tiro de média distância, ótima visão de quadra e boa munheca perto da cesta são seus principais atributos. Pouco utilizado na campanha do título do Warriors (mas com um papel importante na hora da virada sobre o Cavs, diga-se), o pivô sucumbiu na sangrenta batalha por minutos no Celtics de Brad Stevens. Todavia, ainda acredita que pode contribuir para um time de ponta.

JJ Hickson: outro concorrente, e ex-companheiro de Cleveland. Tudo leva a crer que o Denver vai abrir mão desse cavalo, contente que está com seus jovens pivôs europeus. Hickson oferece vigor físico, capacidade atlética e muita briga pelos rebotes em abas as tábuas. Um trombador. Boa arma no pick-and-roll. Só não esperem dele criatividade com a bola. Precisa ser acionado em situações de tomada fácil de decisão. Também costuma tirar o sono dos treinadores pelo entendimento limitado de rotações e coberturas defensivas.

Roy Hibbert/Brandon Bass: a única missão dessa dupla até o final da temporada seria cuidar da garotada. Nesse caso, Bass parece ser um cara mais influente no dia a dia de um time, devido ao profissionalismo exemplar. Creio que ele seria o agente livre mais cobiçado entre os pivôs aqui citados, por estar evidentemente em forma e por ter um estilo de jogo fácil de se encaixar em qualquer rotação: não compromete na defesa, já que é um veterano que entende suas limitações e está habituado a ser um operário. Em suma: ele vai bem sem querer aparecer. É bastante eficiente no ataque com seus tiros de média distância e presença perto da tabela. Perdido em meio ao caos angelino, faz uma das melhores temporadas de sua carreira.

Hibbert, por sua vez, é um enigma: um sujeito difícil de se motivar, ainda que esse contexto caótico do Lakers não seja favorável a ninguém. A dúvida é saber se, na NBA de hoje, ainda há espaço para alguém que se movimenta tão devagar. Em minutos limitados, como pivô reserva, imagino que dê para encaixá-lo, como um protetor de aro respeitável.

Martin tem opção de mais um ano de contrato em Minnesota. Vai topar sair?

Martin tem opção de mais um ano de contrato em Minnesota. Vai topar sair?

– Kevin Martin: o ala já foi uma máquina de fazer cestas. Mas as diversas lesões que sofreu durante sua carreira parecem, enfim, estar cobrando um preço caro, lhe roubando muito de sua legendária eficiência como cestinha. Martin lida com dores crônicas no pulso direito. Para piorar, sofreu uma torção na região, que o tirou de quadra nas partidas que antecederam ao All-Star. De qualquer forma, ainda tem acertado 36,4% de seus arremessos de três pontos num time que não tem quase nenhum chutador ao seu lado e cava faltas com boa frequência, iludindo os defensores. Seu papel também seria claro: reforçar o ataque de uma segunda unidade. O que pega é que ele tem mais uma temporada em seu contrato com Minnesota. Será que daria um desconto ao clube em seu salário de US$ 7 milhões para sair?

Ty Lawson: sua contratação pelo Rockets acabou se mostrando um desastre. Lawson passou por sérios problemas fora de quadra nos últimos meses em Denver e saiu dos trilhos. Se a expectativa era viver um recomeço em Houston, se vê constantemente frustrado em quadra, já que sobram poucos minutos para jogar sem a companhia de James Harden. Pois, quando o barbudo está em quadra, a bola não sai das mãos dele, fazendo do tampinha um mero chutador na zona morta (um desperdício para alguém tão veloz e explosivo no drible). Dispensar o armador poderia ser um tiro pela culatra? O outro lado da questão é que, se Lawson estiver descontente, reclamando de tudo no vestiário, só vai deixar o problemático vestiário do time ainda mais conturbado.

Joe Johnson: por fim… o nome mais badalado. JJ pode ter envelhecido e se deprimido em Brooklyn, mas, sem a responsabilidade de carregar um ataque, muito provavelmente ainda pode ser bastante efetivo. Ele ainda pode matar os chutes de fora e fazer a bola girar. O problema é a defesa, deixando todo mundo passar. Se revigorado, talvez possa ao menos tentar brigar por posição. Se ele vai para o mercado, ou não, é que ninguém sabe. As notícias em torno do tema são muito conflitantes até o momento.

Em relação a Varejão, a questão é se ele ainda pode ser efetivo como defensor e reboteiro, depois de tantas lesões, em especial a ruptura no tendão de Aquiles. O brasileiro sempre foi um jogador especial na execução defensiva, com empenho, agilidade e inteligência acima da média. Disso ninguém duvida. A questão sincera e justa se volta apenas ao aspecto físico.

Por outro lado, joga a seu favor o fato de ser uma figura carismática, com excelente reputação no vestiário e muita experiência em jogos decisivos. Também não é dos caras que vai exigir atenção em quadra e é uma figura amada por seus técnicos. Além disso, não seria uma contratação de risco. Não estaria chegando para salvar a temporada de ninguém, mas, sim, para ser uma peça complementar que possa ajudar a elevar o nível de qualquer clube interessado.


Após 12 anos, Varejão diz tchau para o Cavs. Qual o impacto da troca?
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Giancarlo Giampietro

Anderson Varejão, Cavs

A data final para trocas da temporada 2015-16 da NBA não teve o frenesi do ano passado. Ainda assim, durante a semana, entre terça e esta quinta-feira, mais da metade dos clubes esteve envolvidas em 12 negociações no total, com brasileiro envolvido. Para conferir todas as transações efetuadas, clique aqui. Abaixo, um apanhado do que aconteceu de mais importante. Hoje, vamos nos concentrar no adeus de Anderson Varejão ao Cleveland Cavaliers, certo? Nesta sexta, expandimos o assunto.

Entre os candidatos ao título, o Cavs foi o mais ativo, e de longe, como se esperava. Sobrou para o pivô capixaba, que foi envolvido em um negócio triplo com Orlando Magic (que mandou Channing Frye para Cleveland e recebeu uma escolha de Draft de segunda rodada e o ala-armador Jared Cunningham) e Portland Trail Blazers, sendo enviado para a o Noroeste dos Estados Unidos, para supostamente dar um alô a Damian Lillard. Mas não foi o caso. Ele foi dispensado imediatamente.

Antes de falar do Blazers, porém, vale falar sobre a saída do Cavs. Com 12 anos no clube de Ohio, o pivô era um dos jogadores há mais tempo vestindo uma só camisa. Somente Kobe, Dirk, o trio dourado de San Antonio, Wade e Haslem passaram mais temporadas que ele nessa condição. Por maior que tenha sido o número de lesões e questões médicas de Anderson nas últimas campanhas, o respeito que ele conquistou em Cleveland é dessas coisas únicas nestes dias. Deem uma espiada neste fórum (dica do Flávio Izhaki). Agora, esses torcedores não poderão mais fazer aquela zoeira na famigerada noite das perucas, com todo mundo cabeludo no ginásio – a não ser que a franquia decida fazer a promoção na noite em que o veterano revisitar a cidade.

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Mas como assim ser dispensado? Para um clube que se vê inesperadamente na briga por uma vaga nos playoffs do Oeste, Varejão poderia dar sua contribuição, nem que fosse como uma figura experiente de vestiário. Como um tutor que fosse – ainda que Chris Kaman já esteja por lá para isso. Pois, pensando em quadra, a verdade é que o jogo do brasileiro é uma incógnita hoje. Ele estava sendo pouco utilizado pelo Cavs. Não sabemos se era devido ao excesso de pivôs qualificados da equipe, ou se por ele não ser mais o mesmo, depois de uma lesão no tendão de Aquiles e de tanto desgaste. Ou por um pouco de um e do outro.

Em Portland, Varejão enfrentaria uma concorrência menos prestigiada, mas não são simples assim de se desmontar. Por um motivo: Terry Stotts elaborou uma rotação de grandalhões que se ajeitou bem, tendo Mason Plumlee e o promissor Noah Vonleh no quinteto titular e a dupla Ed Davis (sempre produtivo). Se arranjasse um espaço e produzisse, Anderson teria tudo para conquistar os fãs do Blazers, devido a sua entrega e seu carisma.

Para receber Varejão – e seu salário, de US$ 9,3 milhões na próxima temporada –,  o gerente geral Neil Olshey exigiu uma escolha de primeira rodada do Cavs, de 2018. Pouco? Pelo contrário, na NBA de hoje, a oportunidade de se contratar um jogador jovem e de salário baixo é muito atraente para a construção de um elenco. As escolhas, mesmo no escuro, valem muito na cabeça dos dirigentes. Para Olshey, o preço nem é tão salgado, na verdade, pois o clube tinha uma folha de pagamento tão barata que estava até mesmo abaixo do piso estabelecido pela liga. Se tivessem chegado ao final da campanha ''devendo'', teriam de completar a diferença para o piso, dividindo esse montante entre todos do elenco. Isto é: o bilionário Paul Allen teria de assinar um cheque de qualquer maneira, independentemente da chegada e saída do brasileiro.

Varejão ficará disponível por um período de ''waiver'', de três dias 48 horas. Dificilmente alguém vai abraçá-lo desta maneira, para não ter de arcar com o restante de seu contrato. Então é muito provável que ele vire um agente livre. A essa altura da carreira, talvez seja o melhor, mesmo. Poderá olhar para o mercado e procurar a melhor situação. Ou a situação que melhor se encaixe com seus objetivos.

Em tese, para um atleta de seu gabarito e rodagem na liga, o mais comum seria assinar com uma equipe com ambição de chegar bem aos playoffs e que também tenha uma vaga no elenco. Lembrando sempre: cada franquia só pode ter 15 jogadores sob contrato. Após a rodada de trocas, clubes como Clippers, Hawks (com a lacuna aberta pelo afastamento de Tiago Splitter, por ironia), Heat e Rockets se enquadram nessa condição. Assim como o Cavs, mas esqueçam um retorno imediato: a regra da NBA afirma que ele só poderia assinar um novato contrato com o clube daqui a seis meses um ano, segundo o acordo trabalhista da liga e a interpretação do especialista Larry Coon. Agora, se for para fechar com um time de ponta, será que ele teria tempo de quadra? Será que não se meteria na mesma situação que estava vivendo em Cleveland? O ideal seria aliar dois fatores: seguir em um time vencedor e ganhar ritmo para as Olimpíadas. Mas e se uma alternativa excluir a outra?

Rubén Magnano, sabemos, prefere que Varejão vá para quadra, que jogue, não importando onde, para ganhar ritmo. Por isso, já havia admitido ao UOL Esporte ter sugerido ao pivô – e a Huertas – que procurasse um novo clube. De alguma forma, teve seu pedido atendido. Mas o desfecho ainda não está 100% de acordo com os seus interesses. O argentino obviamente está com o radar ligado agora, ainda mais depois de ter perdido Splitter (uma baixa imensa para a seleção, em muitos sentidos, assunto o qual tentarei abordar no final de semana, mais em tom de reverência ao catarinense, com calma).

A NBA é assim: interfere, direta ou indiretamente, no cotidiano de seleções, e muito mais. São negócios, afinal, e Varejão foi lembrado a respeito, depois de ter sido adquirido pelo próprio Cavs em uma troca em 2004. Faz tempo. Desde então, marcou época, escoltando LeBron James ao período mais vitorioso do clube, se tornando imensamente popular na cidade. Agora a vida segue, e o capixaba tem decisões importantíssimas para tomar.

*   *   *

Ele vai chegar para isto

Ele vai chegar para isto

Em tempo: Frye não é o mesmo jogador dos tempos de Phoenix Suns. Em Orlando, sem um armador que realmente chamasse a atenção no pick-and-roll, não conseguiu se encontrar. Não teve consistência. No conjunto da obra, também tem uma carreira inferior à do brasileiro, ao meu ver. Mas, hoje, é uma peça mais proveitosa para o Cavs, devido principalmente à habilidade para acertar os arremessos de longa distância. Sua presença em um quinteto com Love, LeBron, JR e Irving resultaria e estragos gravíssimos às defesas adversárias. E não é que contribua só com o chute: é bom defensor no post up, tem experiência e, segundo todos os relatos que ouvi, exerce excelente influência no vestiário, algo que só pode fazer bem ao time, como David Blatt pode sublinhar.

O Cavs sai ganhando tática e tecnicamente aqui, mesmo tendo pagado por uma peça complementar um preço caro, mas hoje irrelevante para um clube que só pensa, obsessivamente, no sucesso a curto prazo, enquanto LeBron ainda tem perna. Uma observação, no entanto, precisa ser feita em relação ao Warriors. Sempre o Warriors. Numa eventual revanche com Golden State, não sei muito bem como Frye poderia ser útil, uma vez que não poderia marcar de modo nenhum um jogador como Draymond Green, muito menos Andre Iguodala ou Harrison Barnes. Enfim. Por outro lado, a pergunta mais justa talvez seja: quem consegue marcá-los também? Se o adversário for o San Antonio, aí a coisa muda de figura. Antes, porém, precisam chegar lá, claro – mas é inegável que toda e qualquer decisão que a franquia toma nesta temporada tem como objetivo o título, ciente de que, nas finais, o desafio será muito maior. E, com Mozgov caminhando para o mercado de agentes livres, o veterano também serve como uma apólice de seguro.

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Atualizando nesta sexta de manhã: faltou mencionar que, com a troca, Cleveland poupa U$ 9,8 milhões entre salário e multas nesta temporada. É uma boa grana, mesmo para outro bilionário como Dan Gilbert. Vários clubes reduziram seus gastos nesta quinta, aliás.

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Por fim, declaração do gerente geral do Cavs, David Griffin, sobre Varejão, dizendo que foi difícil telefonar para o brasileiro: ''Anderson é especial como jogador, companheiro e pessoa. Poucos jogadores conquistaram este respeito, apoio e admiração de toda uma organização, de sua torcida e da comunidade como Andy fez aqui. Tudo isso tornou esta negociação muito difícil de se fazer. Ao mesmo tempo, temos uma obrigação prfounda de fazer aquilo que podemos para alcançar nosso objetivo final, e acreditamos que este negócio melhora nossa equipe e nossa posição para o futuro também. Agradecemos a Andy por seu trabalho duro, dedicação e contribuições ao Cavaliers e nossa comunidade e desejamos a ele e sua mulher, Marcelle, o melhor, realmente o melhor''.

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Desnecessário dizer o quanto LeBron admirava Anderson? O brasileiro chegou a Cleveland apenas um ano depois de o ala ser selecionado como o grande Messias da franquia. Após a vitória sobre o Bulls nesta quinta-feira, o craque admitiu que ainda não havia conversado com o capixaba, porém. ''Eu aposto que várias pessoas estão entrando em contato com ele agora. Vou deixar assim, não gosto de procurar imediatamente. Prefiro deixar cozinhar um pouco. Nossa amizade não precisa de uma mensagem de texto'', disse. ''Você perde um irmão. Esta é a pior parte do negócio.''

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Um comentário sarcástico inevitável: se o Cavs despachou, num só dia, Varejão e Cunningham (que, segundo os setoristas do Cavs, foi adotado por LeBron nesta temporada), está claro que David Griffin tem autonomia total para conduzir o departamento de basquete e que o camisa 23 não apita nada. Agora não precisa mais de nenhuma prova nesse sentido.

Né?


Quem dá menos? Luta pelo topo do Draft promete fortes emoções
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Giancarlo Giampietro

O ultraversátil Ben Simmons. Quem quer?

O ultraversátil Ben Simmons. Quem quer?

É o mundo bizarro da NBA.

Enquanto San Antonio, Cleveland e Oklahoma City fazem contas, quebrando a cabeça para ver o que fazer contra o tal de Golden State, na outra extremidade da tabela só estamos falando de sonhos e fantasias com o australiano Ben Simmons (e mais dois alas muito promissores, Brandon Ingram, de Duke, e Dragan Bender, da Croácia e do Maccabi).

Numa corrida que, no início, parecia de um cavalo só, com Philadelphia isolado e pimpão, a reta final promete fortes emoções até o dia 17 de maio, que é quando a liga vai realizar sua loteria de Draft, valendo prêmios imperdíveis! E quem vai ficar fora dessa?

Daí a estranheza pelos fatos decorrentes de uma noite basqueteira de segunda-feira (a outra, dia 8, no caso).

Daqui do sofá de casa, começou com a observação do jovem Ingram, o mais novo projeto do Coach K, em duelo bacana com Louisville, de Rick Pitino. Foi desses raros jogos da temporada universitária em que o nível técnico era alto, com pelo menos cinco atletas com aspirações plausíveis a grandes carreiras profissionais, nos Estados Unidos ou na Europa. Não demorou muito para entender por que o ala de Duke fez sua cotação crescer rapidamente sua cotação entre os scouts, melhorando a cada semana.  Ingram já tem hoje um talento natural impressionante. O chute elevado, a desenvoltura para driblar e a predisposição passar e encontrar companheiros livres em quadra… É difícil de resistir e de não babar na almofada, ainda mais quando nos damos conta de que se trata de um garoto que chegou aos 18 apenas em setembro, sendo um ano mais jovem que Simmons. Só mesmo seu corpo varetão desperta alguma preocupação, mas é só lembrar com qual forma Kevin Durant ingressou na NBA:

Vareta que só também. Tayshaun Prince é outro que nunca bombou

Vareta que só também. Tayshaun Prince é outro que nunca bombou

(A comparação entre um e outro, diga-se, pode ser feita do ponto de vista só do estilo de jogo por enquanto. Durant era muito mais produtivo em Texas em seu ano de calouro. Quer saber mais sobre Ingram? O DraftExpress, claro, tem vídeos e atualizações contantes. Ainda em inglês, você também pode conferir um scout detalhado elaborado pelo Rafael Uehara, colaborador sazonal aqui do blog.)

Mas voltemos ao a Duke x Louisville. No final, superando um cansaço evidente, o ala encontrou forças para dominar os rebotes defensivos e, em vez de acionar um ou outro armador mambembe do atual elenco dos Blue Devils, dessa vez saía ele com a bola, sem se incomodar com a pressão dos Cardinals, preparado para sofrer a falta e ir para o lance livre definir a parada. Detalhe: na temporada regular, seu aproveitamento ainda está abaixo de 70% na linha (67,9%, depois de ter convertido seis de suas oito tentativas na véspera, sem errar um chute nos minutos derradeiros). Terminou com 18 pontos, 10 rebotes, 4 assistências e 1 toco (mas alterou ou intimidou outros tantos), matando cinco de seus nove arremessos, cometendo três turnovers. Não são números de fazer o queixo despencar, mas não traduzem o modo como ele foi dominante, sem forçar nada em suas ações.

Enquanto o espigão dava mais uma vitória a Krzyzewski, a rodada da NBA começava em clima de motim. Não dava para entender nada. O Sixers chegou a abrir uma vantagem de 19 pontos para cima do Clippers. O Lakers contava com mais um repente milagroso de Kobe para incomodar o Pacers em Indiana, assumindo a liderança a 2min30s do fim. O Nets recebia o ascendente Denver Nuggets e fazia jogo duro. Da mesma forma como o Suns conseguia fazer frente ao Thunder, mostrando que a defesa de OKC ainda deixa muito a desejar em termos de consistência para um time que tenha sérias pretensões ao título.

De todo modo, junte as peças aí e se assuste: era como se, por uma noite que fosse, os lanterinhas da liga não tivessem mais nem aí para o que Ingram fazia por Duke, ou se Simmons estava beirando mais um triple-double absurdo por LSU. (Em tempo: para qualquer torcida em #NBATankMode, podem tranquilamente colocar Dragan Bender nesse bolo. Por mais que ele não esteja sendo tão aproveitado numa temporada de crise para o Maccabi, vale a pena se apegar ao prodígio croata, que também te deixa bobo em quadra. Foi assim que fiquei, pelo menos, quando pude vê-lo no ano passado em Nova York.)

Até que tudo voltou ao normal. O Clippers batalhou uma reação em Philly, forçou a prorrogação e tomou conta da situação. Paul George não quis saber de cortesias com seu ídolo de infância na Califórnia. Durant fez a diferença em Phoenix. E só o Nets saiu vencedor de quadra, com direito a uma cesta maluca de Joe Johnson no estouro do cronômetro, empolgando o chefão russo Prokhorov:

(O torcedor do Brooklyn – se é que ele existe, aliás – deve gelar com um vídeo desses: será que vem mais uma proposta de salário máximo para o veterano aí? Risos.)

Se o desafeto de Putin foi ao delírio, Danny Ainge não gostou nada, já que a escolha de Draft deste ano do Nets pertence a Boston, como vocês sabem. Nessa disputa pelos calouros mais badalados, cada vitória sua e derrota do adversário, pode fazer uma diferença danada. Para o mal, lembrem-se, já que é o mundo bizarro. Em muitos sentidos, isso é uma desgraça para a liga, com diversas equipes, nos últimos anos, fazendo de tudo para perder, ou sem se esforçar tanto para vencer. Enquanto o atual sistema do Draft for mantido, porém, é a regra do jogo, sem nenhuma infração que possa ser punida.

Tendo isso em mente, vamos examinar quais são as chances de cada um para os últimos meses da temporada e o que está em jogo para eles? Os números números foram coletados em 16 de fevereiro de 2016, tanto do Baskeball Power Index (ESPN.com). Folia é isto:

Philadelphia 76ers, o 30º colocado no geral
Previsão de campanha: 15-67
Chances para entrar no top 3: 72,1%
Net rating na temporada: -10,1 pontos por 100 posses de bola
Net rating desde 26/12: -5,3 pontos
Campanha desde 26/12: 7 V, 15 D
Aproveitamento médio dos rivais até o final da temporada: 49,2%
Restante da tabela: 15 em casa, 14 fora

Ish Smith, o baixinho, a lenda

Ish Smith, o baixinho, a lenda

Ainda estamos falando, segundo as estimativas matemáticas, dos grandes favoritos ao topo do Draft. Mas isso só se deve ao caótico Sacramento Kings, que, no momento, contribui ao #TankJob de Sam Hinkie com mais 9,0% de chances de colocar uma escolha no Top 3. Esse já é o primeiro reflexo da desastrosa troca que Vlade Divac fez com Hinkie durante as férias, dando ao Sixers o direito de inverter posições no Draft deste ano, entre outros mimos – tudo para se livrar dos salários de Nik Stauskas, Carl Landry e Jason Thompson. O Sacramento, que não sabe o que fazer com Boogie Cousins, George Karl, Rudy Gay e a vida em geral, vai ter de jogar muito para alcançar e ultrapassar Utah e Portland e tentar escapar da loteria. Não parece provável.

Por conta própria, com a pior campanha da liga, o Sixers já teria 63,1% de probabilidades de ficar com uma das três primeiras escolhas. Acontece que, desde o dia 26 de dezembro, o time subiu de patamar, graças ao improvável presente natalino de Jerry Colangelo em forma de Ishmael Smith. De equipe que flertava com o status de pior da história, passaram apenas à condição de time ruinzinho, como podemos notar pela evolução de seu saldo de ponto desde a contratação. Antes de Ish, Philly perdia por -12,9 pontos a cada 100 posses de bola. Desde então, essa diferença foi reduzida, para -5,3 pontos por 100 posses de bola.  Em outras palavras, ficaram mais competitivos e venceram 33% de seus jogos, contra os atrozes 6,2% de antes. Se mantiverem esse ritmo, poderão subir alguns degraus na classificação geral da liga, diminuindo suas probabilidades.

Por um lado, era de se esperar que Philadelphia mostrasse algum tipo de evolução durante o campeonato, pela juventude de seu elenco – a não ser que Jahlil Okafor terminasse encarcerado, claro. Então o mérito não é todo de Colangelo. Mas é inegável que a troca por Smith tem a sua impressão digital, pelo simples fato de o Sixers, pela primeira vez desde 2013, ter entrado num negócio em que pagou escolhas de Draft, em vez de cobrá-las. Sem contar o fato de que o próprio Hinkie deixou Smith ir embora em julho, sem nem mandar um abraço e sem ouvir o apelo interno de Nerlens Noel. Então talvez a projeção acima seja pessimista, ainda levando em conta, com muito peso, os resultados do plantel dos dois primeiros meses de temporada, que já não é mais o mesmo. A julgar pelas declarações de Colangelo, novos reforços podem chegar esta semana.

De todo modo, pensando no recrutamento de calouros, nada é muito certo. A matemática nem sempre joga a favor, algo que a franquia aprendeu de forma dolorida nos últimos anos. O clube nunca passou do terceiro lugar da lista, perdendo, em tese, Andrew Wiggins e D'Angelo Russell, para ficar com Joel Embiid e Jahlil Okafor. Está muito cedo para julgar quem é melhor que quem: o fato aqui é que, por mais desqualificados que tenham sido os elencos dos últimos anos, Hinkie não foi agraciado com a primeira escolha. Agora que estão vencendo mais jogos, o carma será zerado?

Los Angeles Lakers, o 29º
Previsão de campanha: 18-64
Chances para entrar no top 3: 55,3%
Net rating na temporada: -10,8 pontos
Net rating desde 26/12: -8,2 pontos
Campanha desde 26/12: 6 V, 19 D
Aproveitamento médio dos rivais até o final da temporada: 51,2%
Restante da tabela: 17 em casa, 10 fora

O Lakers vai priorizando Kobe e deixando D'Angelo no banco. Quem sai perdendo?

O Lakers vai priorizando Kobe e deixando D'Angelo no banco. Quem sai perdendo?

Mais do que o desenvolvimento de Russell, Randle, Clarkson e Nance Jr., mais do que a aposentadoria de Kobe Bryant, neste final de temporada, o principal tópico de interesse para o torcedor e a diretoria do Lakers deveria ser a manutenção de sua escolha de Draft, a qualquer custo.

Sobre o progresso dos calouros: o simples fato de estarem entrando em quadra com regularidade tende a fazer deles melhores jogadores, não importando o que Byron Scott faça contra ou a favor. A diretoria talvez tente trocar Brandon Bass, Roy Hibbert, Lou Williams e Swaggy P nas próximas horas, mas não será tão fácil assim. Sobre Kobe? Acho que a liga inteira já deu conta, né? Agora é curtir as últimas semanas, com diversos jogos em casa, e fazer mais uma bela festa na despedida do Staples Center em 13 de abril, contra o Utah. Ainda mais com o craque, de alguma forma, elevando sua produção em fevereiro, mês no qual o time venceu dois de cinco jogos. A ironia é que, se Kobe sustentar um ritmo minimamente aceitável em quadra e se os garotos progredirem até abril, as coisas podem se complicar no front mais importante.

Vocês sabem: caso o Lakers escorregue no sorteio do Draft e saia do top 3, terá de mandá-la para Philly. Seria um desastre para um clube desesperado por mais talento em seu elenco e que não vem tendo sucesso na hora de recrutar agentes livres de primeiro escalão. Desculpe, Nick Young, há verdades que não podemos esconder. Tantos jogos em Los Angeles pode ser uma ameaça a esta 'causa', mas o time ainda tem de enfrentar muitos oponentes qualificados, o que talvez ajude a equilibrar a balança.

Brooklyn Nets
Boston Celtics, 28º (a)
Previsão de campanha: 22-60
Chances para entrar no top 3: 44,7%
Net rating na temporada: -7,4 pontos
Net rating desde 26/12: -8,7 pontos
Campanha desde 26/12: 6 V, 19 D
Aproveitamento médio dos rivais até o final da temporada: 47%
Restante da tabela: 10 em casa, 18 fora

Boston Nets, Brooklyn Celtics. Uma torcida, uma só voz

Boston Nets, Brooklyn Celtics. Uma torcida, uma só voz

É, pois é. A troca por Kevin Garnett e Paul Pierce, na época, parecia uma boa ideia para o Brooklyn Nets, já que, na cabeça do russo Mikhail Prokhorov, era para seu time brigar o quanto antes para os playoffs. Se a impaciência era a palavra de ordem, fazia sentido adicionar os dois veteranos a uma base já rodada. O que Billy King poderia ter feito, porém, era lutar por uma proteção ao par de escolhas de Draft que encaminhou para Boston. Danny Ainge o roubou descaradamente.

O chefão do Celtics agora se vê nessa situação raríssima e extremamente favorável: não só a sua equipe briga pelo título da Conferência Leste (sendo azarão, ainda), como ainda pode faturar um calouro talentosíssimo em junho. Isso, claro, se um trunfo desse valor não for envolvido em uma troca que dê a Brad Stevens uma superestrela. Topa, ou não topa trocar? Creio que só se for por um Al Horford, ou mais. Tem de ser um cara que vá fazer a diferença sem dúvida nenhuma, e Horford seria uma evolução imensurável sobre Jared Sullinger ou Amir Johnson. Ainda assim, prestes a virar agente livre, o dominicano só valeria o preço se desse a entender, sem que a liga saiba, que topa renovar com a franquia.

O outro lado da questão a se ponderar é que você está falando, hoje, de 44% de chances de se inserir entre os três primeiros e de 13,8% para a escolha número um. Quer dizer, não estamos falando de certezas, de 100%, e mesmo esses números devem cair um pouco no momento que o Phoenix fique para trás, certo?  A julgar pela derrocada do Suns, sim (veja abaixo). Maaaas… entre tantos números acima, Ainge certamente está de olho na disparidade entre jogos dentro e fora de casa na tabela do Brooklyn. Ainda que, em termos de força dos oponentes, seja o calendário mais fraco entre os cinco citados, o Nets vai jogar várias partidas como visitante. E, até o momento, seu desempenho longe de Nova York é péssimo: foram 23 jogos fora e apenas quatro vitórias, para um aproveitamento de apenas 17,3%. (Mais: ainda existe uma pequena possibilidade de que Thaddeus Young e/ou Brook Lopez sejam trocados.) Epa.

Phoenix Suns, 28º (b)
Previsão de campanha: 24-58
Chances para entrar no top 3: 39,2%
Net rating na temporada: -7,3 pontos
Net rating desde 26/12: -14,3 pontos
Campanha desde 26/12: 2 V, 21 D
Aproveitamento médio dos rivais até o final da temporada: 50%
Restante da tabela: 13 em casa, 15 fora

Jordan McRae não é a esperança de reviravolta do Suns

Jordan McRae não é a esperança de reviravolta do Suns

Ish Smith reestreou pelo Sixers justamente contra o Phoenix Suns, o que não poderia ser mais simbólico. Desde então, a pior campanha da liga pertence ao clube do Arizona, mais um que o deixou escapar, mesmo que não precisasse pagar tanto. (Nessa, porém, o gerente geral Ryan McDonough passa numa boa: ele fez uma proposta para o atleta em julho, mas foi recusado – o armador acreditava piamente que renovaria com Philadelphia).

Então, da mesma forma que o ''BPI'' da ESPN ainda não dá muito peso aos esforços recentes dos 76ers, o sistema também talvez precise de mais algumas semanas para se dar conta de que o Suns só tem uma direção em sua trajetória neste campeonato: para baixo. A máquina não sabe que as aparições de Jordan McRae (o cestinha da D-League) e de outros caras da liga menor serão cada vez mais frequentes.

É difícil de imaginar de onde sairão mais dez vitórias para a atual equipe, de acordo com a projeção acima, que o deixaria com a quarta maior probabilidade, abaixo do Nets. Eric Bledsoe está fora, Brandon Knight pode se juntar a ele logo mais e nem mesmo Ronnie Price (aquele que assumiu a vaga rejeitada por Smith) tem data para voltar, deixando o interino Earl Watson sem opções naturais para a armação – o talentoso Archie Goodwin vai ser, no máximo, um Jamal Crawford, driblando bem a bola, mas sem visão de quadra. Além disso, existe a perspectiva de trocas para PJ Tucker e, oxalá, Markieff Morris.

Quando assumiu a gestão do clube em 2013, todos esperavam que McDonough guiaria um processo de reformulação imediata. Acontece que seus primeiros movimentos como gerente geral foram tão bons que o Suns se meteu na briga por uma vaga nos playoffs. Leia mais aqui. Agora, com um plantel despedaçado e desacreditado em Phoenix, chegou a hora de buscar um talento de ponta do jeito mais fácil – mas também mais doloroso. Eles vão com tudo (ou muito pouco, com o jovem Devin Booker sendo uma grata revelação): um saldo de 14,3 pontos por 100 posses de bola é muito pior que o do Sixers até dezembro. Uma calamidade.

Minnesota Timberwolves, 26º
Previsão de campanha: 27-55
Chances para entrar no top 3: 30,9%
Net rating na temporada: -3,1 pontos
Net rating desde 26/12: -4,5 pontos
Campanha desde 26/12: 6 V, 19 D
Aproveitamento médio dos rivais até o final da temporada: 54,1%
Restante da tabela: 13 em casa, 15 fora

Imaginem se Towns e Wiggins ganharem mais uma escolha nº 1?

Imaginem se Towns e Wiggins ganharem mais uma escolha nº 1?

Acho que o Minnesota só entra nessa lista por precaução. No papel, tem um elenco muito mais talentoso que o dos quatro acima, e Karl-Anthony Towns exercendo uma dominância precoce no garrafão, com 22,2 pontos, 12,4 rebotes, 2,0 tocos e aproveitamento de 58,9% nos arremessos em cinco partidas em fevereiro.. Dependendo do que o New Orleans Pelicans e Milwaukee Bucks decidirem fazer nesta semana, em relação a trocas, pode ser que ''briguem'' pela condição de quinta pior campanha da temporada.

Por enquanto, vamos respeitar os cálculos das máquinas da ESPN e manter o Wolves. Dos dados pinçados, só chama a atenção o fato de que Minnesota tem a tabela mais complicada daqui para a frente, em termos de qualidade da oposição. Agora, imaginem se eles dão sorte e vão para o topo? Teriam, de modo incrível, as três primeiras escolhas dos Drafts de 2014 a 2016. Sam Hinkie não suportaria isso.

Curiosidade: os confrontos diretos
Sixers: dois contra o Nets
Lakers: um contra o Nets, dois contra o Suns
Nets: um jogo contra o Wolves, um contra o Lakers e dois contra o Sixers
Suns: dois contra o Lakers
Wolves: um jogo contra o Nets