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Categoria : Números

Euroligado: Spanoulis e sua fama de matador
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Giancarlo Giampietro

O craque Spanoulis matando jogos

O craque Spanoulis matando jogos

Se você tem um jogo dificílimo na Euroliga, precisando de uma cesta de qualquer jeito, você vai querer a bola nas mãos de quem para buscar a vitória?

Quando questionados pelo site da Euroliga, os gerentes gerais dos times do Top 16 apontaram Vassilis Spanoulis como esse jogador. Ele recebeu 41,6% dos votos, contra 25% de um cara como Juan Carlos Navarro, que mete medo em qualquer defesa. Milos Teodosic ficou em quarto, com apenas 8,3%, o que é surpreendente.

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Contra o Fenerbahçe, nesta sexta-feira, o astro grego comprovou a fama. Ele não fez necessariamente A Cesta da Vitória, aquela no estouro do cronômetro, e tal, virando o placar. Mas foi um de seus chutes de três, a 17s8 do fim, que praticamente selou um grande triunfo do Olympiakos no…

Jogo da Rodada: Fenerbahçe 68 x 74 Olympiakos
Spanoulis é o tipo de jogador que não só cresce em momentos decisivos – e, não, com ele, essa definição não configura um clichê –, como também exige que o adversário planeje todo um sistema defensivo para contê-lo. Uma necessidade que aumentou drasticamente depois que ele comandou um bicampeonato europeu em 2012 e 2013.

Não: o Olympiakos não teve ou tem apenas um jogador decente em seu elenco. Mas é inegável que seu ataque depende muito das características de um armador completo e agressivo com ele. O camisa 7 representa um problema nas movimentações do lado contrário a e a partir do drible. Quando está com a bola, vai usar e abusar de corta-luzes para ganhar terreno perigoso e colocar a retaguarda em crise, uma vez que pode matar tanto o chute de três, como se esgueira em meio a grandalhões e finaliza próximo do aro.

Ciente dessas habilidades, a diretoria do clube de Pireus procura cercá-lo de pivôs explosivos, que possam receber passes em velocidade no corte para a cesta, e chutadores no perímetro, para espaçar a quadra. É tudo muito simples, mesmo, mas vá tentar parar isso.  No jogão transmitido pelo Sports+, com Rafael Spinelli e Ricardo Bulgarelli, o Fenerbahçe tentou e teve algum sucesso em Istambul, até que a partida caminhou para os momentos decisivos.

Zeljko Obradovic já dirigiu Spanoulis no Panathinaikos. Sabe muito bem como lidar com o cara. O que ele fez? Quando Spanoulis tinha a bola em mãos, procurou jogar com pivôs mais ágeis e atléticos, que pudessem confrontá-lo depois do corta-luz e se recuperar em tempo de reencontrar o pivô da vez, desfazendo a troca. Ter a flexibilidade de Jan Vesely e Nemanja Bjelica ajuda para isso. Quando o grego procurava se desmarcar sem a bola, a equipe turca também tinha ordem para fazer trocas imediatas, para que ele não ganhasse o mínimo espaço para ser acionado e atacar. Além disso, quando o cara conseguia passar pela primeira linha defensva, o Fener tinha envergadura e atenção para fazer uma boa cobertura e contestá-lo na zona pintada.

Com disse, deu relativamente certo: o armador errou todos os seus arremessos de dois pontos (0-4) e cometeu cinco turnovers – aliás, seu número de desperdícios tem sido elevado durante todo o campeonato, num reflexo de uma condição física que já começa a se deteriorar, encarando uma tendinite séria no joelho, que o abalou na temporada passada. Por outro lado, ainda conseguiu cavar cinco faltas, convertendo 7 de 7 lances livres. É a pressão que exerce mental e taticamente sobre seus adversários.

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Até que, nos últimos dois minutos, Spanoulis desembestou ao converter oito dos nove pontos derradeiros para os visitantes. “Clutch”, é o que dizem, né? O craque terminou com 16 pontos e 6 assistências, matando 3/7 nos arremessos de fora, incluindo a bola decisiva a 17 s do fim, quando o placar estava empatado em 68 a 68. O chute obrigaria o Fener a buscar um ataque rápido para uma bola de dois pontos ou a tentar o empate direto com um chute de longa distância. Bogdan-Bogdan e Zisis, no entanto, se atrapalharam na reposição de bola, resultando num turnover e o fim das esperanças.

Talvez seja por isso que os dirigentes também o tenham selecionado como o principal líder da Euroliga, com 45,83% dos votos (novamente acima de Navarro), e, mais importante, como o jogador que seria a prioridade para contratação, com 33,3%, superando o superpivô Ante Tomic, com 12,5%.

Jan Vesely: impacto positivo para o Fener, atleticamente

Jan Vesely: impacto positivo para o Fener, atleticamente

De volta ao jogão, outra cartada tática importante: o técnico Giannis Sfairopoulos usou uma formação baixa por muitos momentos, com o americano Tremmell Darden – que o Real Madrid inexplicavelmente deixou sair… – marcando Nemanja Bjelica. Sua equipe não só não sentiu o impacto dessa decisão nos rebotes, como conseguiu tirar Bjelica de jogo. O ala-pivô sérvio, como já registrado aqui na semana passada, está jogando demais e é uma peça integral no ataque turco, devido a sua mobilidade, visão de jogo e arremesso incomuns para a posição. Em diversas ocasiões, é Bjelica quem já puxa o contra-ataque do Fener, sem perder tempo em acionar o armador. Esse jogo em transição pouco funcionou contra os gregos.

Nos minutos finais, sem poder contar com o sérvio e também sem poder explorar muito Jan Vesely (devido ao seu péssimo lance livre), o Fener se complicou. Andrew Goudelock (23 pontos em 32 minutos, 5-11 de três pontos) vinha convertendo tudo no ataque em jogadas de isolamento, mas se atrapalhou todo nas últimas posses de bola. De qualquer forma, o clube de Istambul está progredindo sob o comando de Obradovic, enfim. Pode ter duas derrotas em três rodadas pelo Grupo F, mas, ainda que em casa, perdeu para quem tinha de perder – o primeiro revés foi contra o CSKA –, e tem totais condições de dar o troco na volta. Olympiakos e CSKA lideram, invictos no Top 16.

Na trilha de Huertas
O armador brasileiro teve sua menor contagem de pontos (4) desde a 2ª rodada da primeira fase, e o Barcelona acabou perdendo mais uma pelo To p16, a segunda em três jogos, dessa vez para o Maccabi Tel Aviv, em Israel, por 70 a 68. Foi uma boa queda de produção para Huertas, que vinha numa sequência incrível pelo clube espanhol, com média de 21,7 pontos por partida nas últimas quatro jornadas – ele ainda deu sete assistências em 25 minutos, acertando de dois de oito arremessos. Com 20 pontos do fogoso Jeremy Pargo, o Maccabi encerrou uma sequência de oito derrotas nesse tradicional confronto europeu. O atual campeão continental chegou a abrir 11 pontos de folga no terceiro período, mas teve de resistir a uma preocupante reação dos visitantes no quarto final, com ótima participação do jovem ala croata Mario Hezonja.

Em números

Devin Smith, capitão do Maccabi, dá o toco em Maciej Lampe. Bonito na foto

Devin Smith, capitão do Maccabi, dá o toco em Maciej Lampe. Bonito na foto

500 – Contra o Barça, o Maccabi atingiu a marca de 500 vitórias na elite do basquete europeu, justamente em seu jogo de número 800.

69% – O trio de armadores Milos Teodosic, Aaron Jackson e Nando de Colo marcou 54 dos 78 pontos (ou69%) da vitória do CSKA Moscou sobre o Anadolu Efes, em Istambul. De Colo foi eleito o MVP da semana, aliás, com 34 de índice de eficiência, com 22 pontos, 7 rebotes, 2 assistências e 4 roubos de bola em 31 minutos. O CSKA tem 13 vitórias em 13 jogos.

7 – Apenas sete atletas do Panathinaikos pontuaram na vitória tranquila sobre o Zalgiris Kaunas, em Atenas, por 77 a 58. O interessante é que, desses sete, seis terminaram com dígito duplo, entre 10 e 14 pontos. Dimitris Diamantidis terminou com sete pontos em quase 26 minutos, mas deu seis assistências. Com tempo de quadra significativo, o letão Janis Blums e o americano DeMarcus Nelson ficaram sem pontuar.

5 – Cinco dos oito jogos da semana terminaram com triunfo dos visitantes. Quem se aproveitou dessa onda foi o Olimpia Milano, que bateu o Unicaja Málaga por 84 a 77. Em seu reencontro com o Estrela Vermelha depois da melhor partida da primeira fase – que teve desfecho fatídico fora de quadra –, o Galatasaray conseguiu um importantíssimo triunfo em Belgrado: 74 a 65. O Estrela está na lanterna do Grupo E, enquanto o Málaga ocua a última posição do Grupo F, ambos com três derrotas até aqui.

0 – O armador americano Ben Hansbrough acumula 26min55s em três partidas pelo Laboral Kutxa na Euroliga e está zerado em pontuação até o momento, tendo tentado apenas dois arremessos. Além disso, tem o mesmo número de faltas pessoais que o de rebotes e assistências somados (sete). Quer dizer: nem sempre o selo de NBA diz muito sobre um jogador. Sim, estamos falando do irmão mais jovem de Tyler Hansbrough, que jogou junto dele no Indiana Pacers por uma temporada – sendo o terceiro armador da rotação, é verdade. Está cedo ainda, mas, para quem chegou para substituir Sasha Vujacic, é muito pouco. Sua equipe ao menos conseguiu a primeira vitória no Top 16 ao bater o Nizhny Novgorod, da Rússia, por 81 a 74, em casa, jogo que transmiti pelo Sports+. Um dos cestinhas do campeonato, o armador Taylor Rochestie marcou 24 pontos pelo Nizhny, acertando seis em sete chutes de longa distância.

Tuitando


As jogadas da semana!


Mo Williams e o clube improvável dos 50
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Giancarlo Giampietro

Mo Williams acertou tudo contra o Pacers. Aberração?

Mo Williams acertou tudo contra o Pacers. Aberração?

Wilt Chamberlain era uma aberração tamanha que, com a camisa do Philadelphia Warriors, marcou 100 pontos numa só partida, contra o New York Knicks, no dia 2 de março de 1962. Ninguém jamais chegou perto dessa quantia centenária – a não ser que dê para considerar o déficit de 19 pontos do recorde pessoal de Kobe Bryant, atingido contra o Toronto Raptors em 22 de janeiro de 2006, como algo mínimo.

Aspirar a 100 pontos num jogo de NBA hoje, sabemos, é algo quimérico. Se for para atingir a metade disso, porém, muda o cenário, não? OK: ninguém vai falar que é fácil terminar um jogo com cinquentinha. Mas em diversas ocasiões a marca já foi batida, a ponto de ter se tornado uma “meta clássica”. Uma soma que define um clube famoso, do qual participam grandes cestinhas como Wilt, Jordan, Baylor, Kobe, Iverson, Wilkins, Malone, Carmelo, entre outros.

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>> 30 times, 30 fichas sobre a NBA 2014-2015

Mas, de acordo com a lei do randômico, do sonhar-é-possível, numa liga que filtra os melhores atletas do mundo, recursos não faltam para um ou outro penetra entrar nesse grupo. Como acabou de fazer o armador Mo Williams, ao anotar 52 pontos na tão esperada vitória do Minnesota Timberwolves sobre o Indiana Pacers, terça-feira.  Quem poderia esperar por um evento desses? Ricky Rubio certamente, não. Muito menos LeBron, que teve em Williams seu principal parceiro de ataque em sua primeira passagem por Cleveland.

Quebrando um galho no revezamento com o jovem Zach Lavine desde a lesão de Rubio, Williams tinha média de 11 pontos por partida na temporada. Hoje tem 12,4. Aos 32, ele se tornou o quarto mais velho da história a se tornar um outro tipo de cinquentão.

O mais legal: a maior fonte de pontos para o armador na partida contra o Pacers foi justamente aquela bola que é julgada como a mais ineficiente da NBA nestes tempos, o tiro de média distância. Para deixar claro, no jargão da liga, o arremesso de média é todo aquele que não sai dentro do garrafão ou além da linha de três pontos. Nesta zona intermediária expandida, ele converteu 11 de 19 arremessos. Foi o máximo que um jogador conseguiu converter durante todo o campeonato, e bem acima de sua própria média de apenas dois cestas dali por partida.

O jogador natural de Jackson, no Mississipi, viveu seu auge entre 2005 e 2009, ano no qual, escoltando LeBron, foi eleito para o All-Star Game. Nas três campanhas, teve média superior a 17 pontos por partida (naquela temporada, chegou a marcar 44 e 43 pontos em vitórias, respectivamente, sobre Phoenix e Sacramento). Desde então, porém, sua cotação só caiu, lhe restando um papel que realmente é o mais indicado para suas características: um armador fogoso vindo do banco de reserva. Função que executou tão bem pelo Blazers no campeonato passado. Em Minnesota, numa jovem equipe, parece deslocado. Ao menos sua jornada inesquecível valeu para encerrar uma sequência de 15 reveses do time de Andrew Wiggins.

No geral, Maurice converteu 19 de 33 arremessos de quadra. Quando viu que era dia, brincou com os orgulhosos defensores de Indiana de que não adiantaria marcá-lo, já que ele estava com a sensação de que a cesta tinha a largura do Oceano Pacífico. Com essa confiança toda, não só ele estabeleceu seu recorde pessoal e o recorde de pontos da temporada 2014-2015, como também garantiu ingresso no clubinho alternativo dos 50 pontos, se juntando a mais algumas figuras que jamais apareceriam como favoritos numa casa de apostas.

Vejamos:

Terrence Ross, 51 pontos, 2014: o ala do Raptors foi a referência automática para completar as notas sobre Mo Williams, já que havia sido o caso improvável mais recente, depois de ter marcado 51 pontos contra o Los Angeles Clippers na temporada passada, igualando o recorde da franquia, antes pertencente a Vince Carter. Ele era o jogador com a menor média de pontos até se tornar um cinquentão, com 9,3 pontos  – sendo que sua principal marca havia sido de 26 pontos. Muitos consideram a explosão de Ross como a mais bizarra, por isso. Abaixo, vejo casos mais estranhos, especialmente pelo fato de Ross ser tão jovem (hoje tem 23, mas eram 22 anos quando realizou a melhor partida de sua vida). Ainda não sabemos aonde vai parar a carreira do talentoso ala, desses raros caras que poderia vencer tanto um torneio de 3 pontos como de enterradas. Ah, uma coisa: seu time perdeu mesmo assim, por 126 a 118. Ao final da partida, ele ouviu de Jamal Crawford: “Bem-vindo ao clube dos 50 pontos”. O ala-armador chegou a fazer 52 contra o Miami Heat em 2007 – mas não entra nessa lista, já que é um cestinha prestigiado em toda a liga.

Andre Miller, 52 pontos, 2010: o armador é um baita jogador, não há dúvida. Mas nunca foi reconhecido como um perigoso pontuador de mão cheia, né? Sua fama é muito maior como a de organizador de jogadas (chegou a liderar a NBA em assistências em 2001-02, com 10,9), o que, aos 38, ainda lhe rende um bom emprego como reserva de John Wall em Washington. Pois com a camisa do Portland Trail Blazers, clube no qual não agradou tanto assim, aliás, aos 33 anos, ele destroçou a defesa do Dallas Mavericks, aproveitando seu tamanho, força e inteligência no jogo de pés de costas para a cesta, para liderar uma vitória bastante apertada: 114 a 112, com prorrogação. Foram 25 pontos entre o quarto final e o tempo extra, para ele ficar a dois pontos do recorde da franquia estabelecido por Damon Stoudamire. Sua média era de 12,6 pontos até então. No duelo com os texanos, Miller deu apenas duas assistências.

Brandon Jennings, 55 pontos, 2009: o armador já havia causado sensação nos Estados Unidos ao abrir mão do basquete universitário para jogar uma temporada na Itália, antes de entrar na NBA. Quando chegou ao Milwaukee Bucks, empolgado e tentando mostrar serviço (já era muito questionado pelos scouts naquela época…), causou estragos imediatos, marcando um mínimo de 24 pontos em sete de seus primeiros 11 jogos. O melhor deles foi contra o Golden State Warriors em 14 de novembro de 2009, na mesma temporada de Miller. Foram 21 cestas de quadra em 34 tentativas, incluindo 7-8 nas bolas de longa distância. Ele também deu cinco assistências. Em sua carreira, porém, ele nunca passou da média de 40% nos arremessos de quadra numa temporada e converte 35,1% nos tiros de três. Agora é Stan Van Gundy quem tenta canalizar o potencial do irregular armador em sua arrancada em busca dos playoffs com o Detroit Pistons.

Tony Delk, 53 pontos, 2001: num Phoenix Suns dirigido por Scott Skiles, com Jason Kidd e Penny Hardaway no elenco, foi Tony Delk, de 27 anos e campeão universitário por Kentucky nos anos 90, quem arrebentou com a boca no balão contra o emergente Sacramento Kings no dia 2 de janeiro, começando o ano novo com tudo. Dos 27 arremessos que tentou, errou apenas sete  (74% de aproveitamento) – e nenhum deles foi de longa distância. Matou também 13 de 15 lances livres, para compensar. Ainda assim, o Suns foi derrotado na capital californiana, na prorrogação, com ótima atuação da dupla sérvia Stojakovic e Divac, que somaram 77 pontos. Um ano depois, ainda com a fama de cestinha vindo do banco, Delk seria trocado para um impaciente Boston Celtics, que mandou um jovem ala chamado Joe Johnson para o Arizona… O veterano deixaria a histórica franquia em 2003, tendo ao menos ajudado o time de Paul Pierce e Antoine Walker a alcançar dois playoffs – em 2002, perderam a final do Leste para o Nets. Aos 32, ele viu sua carreira se encerrar, pelo Detroit Pistons, anotando 182 pontos, no total, na campanha 2005-06.

Clifford Robinson, 50, 2000: Robinson comandou o Phoenix Suns num triunfo sobre o Denver Nuggets, por 113 a 100, convertendo 17 de 26 arremessos em 43 minutos. Isto é, sozinho, anotou metade dos pontos do time adversário, que contava com Antonio McDyess em seu auge atlético, mais Raef LaFrentz, Popey Jones e Keon Clark na sua rotação de grandalhões. Robinson fez uma grande campanha em 1999-2000, passando da casa de 20 pontos em 28 ocasiões. Não foi uma jornada isolada: numa carreira que durou 17 anos, ele teve médias de 14,2 pontos por jogo e foi eleito para o All-Star e ganhou o prêmio de 6º homem da liga em 1993, com a camisa do Blazers, clube pelo qual foi vice-campeão da NBA em duas ocasiões. Nessa época, teve média superior a 20 pontos por quatro temporadas. E o que está fazendo aqui, então? É que, pelo Suns, o ala-pivô já estava bem longe de seu auge e se tornou o segundo jogador mais velho na história a marcar 50 pontos num jogo, aos 33 anos e 31 dias, atrás apenas de Andre Miller. Quando se aposentou em 2007, tinha 1.380 partidas de temporada regular em seu currículo, a nona maior rodagem da liga.

Tracy Murray, 50, 1998: com um nome comum desses, é bem capaz de Murray ter passado despercebido para o fã casual de NBA na década de 90. Até se esbaldar contra a fraquíssima defesa do Golden State Warriors em fevereiro de 1998, o arremessador talvez fosse mais famoso por ter sido incluído numa troca entre Blazers e Rockets que o mandou, em fevereiro de 1995, para Houston ao lado de Clyde Drexler, para ser campeão pela franquia texana. Reservão na turma de Tomjanovich, se tornou na temporada seguinte um membro fundador do Toronto Raptors. Num time fraco, conseguiu a maior média de sua carreira, com 16,2 pontos por partida. Com moral, assinou com o Washington Bullets em 1997, como agente livre. Aproveitando-se da ausência de Chris Webber e Juwan Howard, chamou a responsabilidade no ataque do técnico Bernie Bickerstaff e, em 43 minutos, converteu 18 de 29 arremessos contra um Warriors – que, vejam só, tinha Tony Delk no time titular. Murray jogou sua última partida de NBA em 2003, de volta ao Blazers, aos 32 anos, se despedindo com aproveitamento de 38,8% nas bolas de três e 9,0 pontos.

Dana Barros, 50 pontos, 1995: num decadente Philadelphia 76ers, o baixinho de 1,80 m (oficialmente, claro), viveu, de longe, seu melhor campeonato em 1994-95, sendo eleito de modo surpreendente até mesmo para um All-Star Game, com médias de 20,6 pontos e 7,5 assistências. Era seu segundo ano na Filadélfia, depois de ter passado quatro anos como reserva de Gary Payton e Nate McMillan no Seattle SuperSonics. Sua grande atuação aconteceu contra o Houston Rockets, justamente o campeão, torturando Kenny Smith e Sam Cassell –  e de nada adiantou, já que seu time foi surrado por 136 a 107. Outro que se valorizou bastante com a marca clássica em seu currículo, integrante da comunidade de ascendência cabo-verdiana de forte presença em Massachusetts, assinou, então, um belo contrato com o Boston Celtics, clube no qual ficou até 2000, sem, no entanto, repetir o sucesso. Depois de duas temporada pelo Pistons, voltou ao Celtics em 2003 para se aposentar da liga americana aos 36, com um único jogo.

– Willie Burton, 53 pontos, 1994:  o ala foi mais um a se aproveitar do elenco fraquíssimo do Sixers naquela temporada, ganhando um volume ofensivo impensável. Quando foi selecionado pelo Miami Heat na nona colocação do Draft de 1990, vindo da Universidade de Minnesota, prometia mais, mas acabou jogando por apenas oito temporadas na NBA, com média de 10,3 pontos e 42,4% de aproveitamento nos arremessos, em 21,1 minutos. Como segundo cestinha da equipe de Philly, terminou o campeonato 1994-95 com 15,3 pontos por jogo, sendo o auge os 53 que anotou justamente numa vitória contra sua ex-equipe, com 12 de 19 nos arremessos (5 de 8 em três pontos) e absurdos 24 de 28 nos lances livres, em 43 minutos, dando um banho em Glen Rice. O curioso é que, enquanto Barros conseguiu um megacontrato do Boston, Burton não recebeu nem mesmo uma proposta do 76ers. O máximo que o time lhe propôs foi um contrato sem garantias. O ala decidiu, então, jogar na Itália. Retornou em 1996 aos EUA, via Atlanta Hawks, mas com pouco prestígio. No dia 8 de março de 1999, foi dispensado pelo Charlotte Hornets, sendo obrigado a deixar o país novamente para estender sua carreira. Passou por Grécia, Rússia, em ligas menores americanas e se aposentou em 2004 no Líbano.


O jogo terminou 174 a 169. E sem prorrogação
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Giancarlo Giampietro

Para não dizer que é mentira

Para não dizer que é mentira

Já escrevemos aqui sobre o experimento sociológico, matemático e alucinógeno aplicado pelo Reno Bighorns na D-League da NBA. A proposta de fazer o jogo de basquete mais acelerado do planeta, com arremessos de três sem parar, poucos segundos gastos no cronômetro, substituições de cinco em cinco, sob o comando de David Arseneault Jr. Tudo com a chancela do bilionário indiano Vivek Ranadive, dono do Sacramento Kings, o clube-irmão das Bigornas. Pois neste sábado os caras talvez tenham alcançado o ‘produto’ máximo em uma vitória sobre o Los Angeles D-Fenders, o afiliado do Lakers, em L.A.

O placar foi de 175 a 169.

Sem prorrogação.

(Sim, 344 pontos em 48 minutos. De D-Fenders, o time da casa ficou apenas no nome, mesmo. O-Fenders combina mais agora.)

Geralmente é legal de citar quantos atletas de um time terminaram uma partida com dígito duplo em pontuação, né? Para mostrar um elenco solidário, versátil, imprevisível. Com um placar desses, porém, as coisas se subvertem: o certo é contar quantos atletas terminaram com menos de 10 pontos. E aí vai: apenas seis. Mas tem um detalhe: se formos contar aqueles que jogaram pelo menos 10 minutos, foram apenas três com dígito simples na linha de estatística: Andrew Warren (6 pontos em 16 minutos) e o gigante canadense de 2,28m Sim Bhullar (4 em 19), pelo Bighorns, e Zach Andrews (2 em 15).

Na real, oito atletas fizeram 20 ou mais pontos, sendo que cinco passaram dos 30. Brady Heslip, o Navarro canadense e cestinha da D-League, anotou 35, acima de sua média de 27,7. David Wear, irmão gêmeo do ala Travis Wear, do Knicks, marcou 33 em 26 minutos, acertando 12 de 18 arremessos, sendo 7 de 12 de longa distância. O ala-armador Jordan Clarkson, do Lakers, liderou a ofensiva de Los Angeles, com 35 pontos. Ele ainda somou 11 assistências e cinco rebotes em 43 minutos, com 16-23 nos arremessos. O ala-pivô Roscoe Smith, ex-Connecticut, somou 32 pontos, 15 rebotes e 7 assistências. O ala-armador Vander Blue, que chegou a assinar com Celtics, Spurs e Sixers na temporada passada, teve 31 pontos, 10 assistências e 5 rebotes. Para constar, o pivô Tarik Black, dispensado pelo Rockets e recrutado por Mitch Kupchak, ficou com 23 pontos e 12 rebotes em sua estreia.

No geral, foram 85 assistências para 132 cestas de quadra, sendo 32 de três pontos. Detalhe: o time angelino converteu apenas quatro tiros de fora. A equipe vencedora levou 98 pontos no primeiro tempo. Tudo muito surreal. Nem em video game.

É basquete ainda, você deve perguntar?

Arseneault Jr. e Ranadive vão dizer que é basquete, sim, no estado mais puro. O resto da liga duvida: nenhum atleta do Reno, a despeito de seus números polpudos, foi recrutado até o momento para jogar na temporada 2014-2015 da NBA – cm exceção do ala Eric Moreland, que pertence ao Kings, claro.

Veja o jogo na íntegra, se não tiver labirintite:

Ironicamente, pouca gente viu o ‘espetáculo’ in loco, já que o jogo foi disputado numa quadra de treino do Los Angeles. O tiroteio ao menos foi transmitido na TV fechada local, com direito a comentários de A.C. Green. Além disso, o time de Reno não conseguiu bater o recorde de pontos em um jogo pela D-League: ele ainda pertence ao… D-Fenders, que anotou 175 no dia 20 de dezembro passado

, justamente contra o Bighorns, que terminou com 152 naquela ocasião.


Barça desfalcado dá autonomia para Huertas atacar
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Giancarlo Giampietro

Huertas, solto como nos tempos de Bilbao, fazendo o que sabe

Huertas, solto como nos tempos de Bilbao, fazendo o que sabe

“Ninguém torce para que um companheiro de equipe vire desfalque, se lesione.”

Quantas vezes já não ouvimos uma declaração nessa linha vindo de esportistas? E nem poderia ser diferente. Qualquer atleta que tenha o mínimo de sangue verdadeiramente competitivo sabe que a pior coisa é ficar fora de ação, no estaleiro.

Mas as lesões acontecem e abrem oportunidades. É o que vem acontecendo no timaço do Barcelona, que perdeu de uma vez só três dos seus principais atletas na rotação de perímetro: Juan Carlos Navarro, Brad Oleson e Alejandro Abrines. Para delírio dos scouts, isso representa mais tempo de quadra para a promessa croata Mario Hezonja. Do ponto de vista brasileiro, o mais interessante é o efeito que esse plantão médico teve para Marcelinho Huertas, claro.

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>> 30 times, 30 fichas sobre a NBA 2014-2015

O armador é daqueles que dificilmente foge do politicamente correto em suas declarações, preocupado sempre em não pisar em calos e não assumir tanto assim os holofotes. Simplesmente não é o estilo dele. Mas deve estar se divertindo um pouco mais em quadra este momento, arrisco dizer.

Sem Navarro e Oleson, dois dos principais finalizadores da equipe, dois ala-armadores fogosos, perigosos nos disparos de média e longa distância, cabe ao brasileiro uma carga ofensiva bem maior ao brasileiro. Que vai muito bem, obrigado, nessa. Apesar de a amostra de jogos ser pequena – foram três partidas apenas, uma pela Euroliga e duas  pela Liga ACB –, essa seqüência  já mostra um armador muito mais solto em quadra, com autonomia para criar, produzir, arriscar.

A grande atuação de Huertas contra o Fenerbahçe

A grande atuação de Huertas contra o Fenerbahçe

Pelo campeonato continental, Huertas tentou 16 arremessos em 41 minutos contra o Fenerbahçe, convertendo 8 deles, além de mais sete lances livres, para somar 25 pontos. Ele ainda distribuiu cinco assistências e cometeu quatro turnovers, é verdade.

São números elevados já quando isolados, mas, no contexto da competição, ficam ainda mais relevantes. Nas oito primeiras partidas, o brasileiro havia tentado apenas 53 chutes em 190 minutos (média de 0,27, abaixo dos 0,39 do último compromisso). Seus 25 pontos marcaram sua maior contagem na temporada, e de longe, superando os 15 que havia anotado contra o Bayern na sexta rodada. Sua média era de 7,25 e subiu direto para 9,19. O padrão de alta se manteve para assistências e desperdícios de posse de bola.

Na liga espanhola, nas nove primeiras jornadas, ele havia somado 39 arremessos (média de 4,3), 7 lances livres (0,7), 62 pontos (6,8), 44 assistências (4,8) e 24 turnovers (2,6), em 214 minutos (23,7). Nas 10ª e 11ª rodadas, o crescimento foi impressionante: 18 arremessos (média de 9), 5 lances livres (2,5), 31 pontos (15,5), 16 assistências (8) e 4 turnovers (2), em 58 minutos (29).

Nem mesmo o acréscimo nos minutos vai nivelar o salto de sua produção. Em termos de arremessos por minuto, por exemplo, entre as jornadas 1 e 9, ele arriscava 0,18. Nas jornadas 10 e 11, 0,31 – uma alta de 58%. Nos lances livres, foi de 37,5%.  Além dos números, o mais interessante foi ver o armador jogando. É um armador antes e outro depois. Dois estilos, duas abordagens de jogo completamente diferentes.

Huertas lembrou muito mais seus tempos de Bilbao, quando era o dono do time, com mais liberdade para atacar. Obviamente que ele ainda vai trabalhar para seus companheiros, já que está em sua natureza. A diferença é que ganhou autorização do controlador para também olhar mais para a cesta, usando e abusando de seu excelente chute em flutuação, por vezes com apenas um pé no chão, sua marca registrada.

Num Barcelona poderosíssimo, cheio de opções tanto para o jogo interior como exterior, ele vinha cumprindo nas últimas temporadas um papel muito mais semelhante ao de Pablo Prigioni ou Pepe Sánchez nos bons dias da seleção argentina. Aquela armação econômica, mas necessária para envolver os companheiros estelares.

Por isso o lembrete de sempre: não dá para avaliar um jogador exclusivamente pelos números (especialmente quando checamos apenas a tabela de estatísticas e não a fita da partida). Acumular, ou não estatísticas, não significa “jogar bem” ou “jogar mal”. Tudo depende de como o objeto de estudo se encaixa em sua equipe. O Barça, diga-se, sofreu duas derrotas nesses últimos três jogos.

Primeiro, perdeu fora de casa para o Sevilla por 85 a 74 – numa partida excepcional do jovem pivô Willy Hernangómez, que acumulou 29 pontos e 13 rebotes. O ginásio estava abarrotado de olheiros, que teriam a chance de ver, de uma só vez, Hezonja (6 pontos em 26 minutos) e o ala-pivô Kristaps Porzingis, sensação da Letônia, tido hoje como um dos cinco melhores prospectos do próximo Draft da NBA. Brad  Oleson se lesionou neste jogo, depois de oito minutos em quadra.

No segundo compromisso, acabaram caindo em casa diante do Fenerbahçe, num jogo duríssimo, emocionante pela Euroliga, definido apenas na prorrogação. Não custa lembrar que o Fener tem em seu elenco seis atletas que já foram draftados pela liga americana. São todos caras de seleção nacional.

No último fim de semana, se recuperaram, ao vencer por 90 a 67 o Zaragoza, um adversário que está na oitava colocação, na zona de classificação para os playoffs, com uma campanha bem melhor que a do Sevilla, o 16º.

Claro que acaba sendo mais divertido para o brasileiro ver um Huertas com sinal verde para atacar. Mas não quer dizer que a outra versão, a mais comedida, esteja errada. O simples fato de ele poder executar os dois papéis com propriedade já diz muito sobre seu talento e sua evolução na posição.


A conquista sul-americana de Bauru em números
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Giancarlo Giampietro

Festa em Bauru. Já está virando recorrente

Festa em Bauru. Já está virando recorrente

Vamos com um apanhado estatístico do primeiro título continental da história de Bauru, que arrasou Mogi das Cruzes na final da #LSB2014 nesta quinta-feira, para termos uma ideia do quanto os caras sobraram nessa campanha:

281 – Os arremessos de três pontos em oito jornadas, com média assustadora de 35,1 por jogo. O aproveitamento foi de 38,1%. Para comparar, eles tentaram 23 chutes de fora a mais do que as bolas dentro do perímetro, zona em que tiveram aproveitamento de 62%. Em lances livres, foram 134 no geral, média de 16,7 por jogo.

169 – O saldo de pontos de Bauru no torneio, com média impressionante de 21,12 por partida. Avassalador. A maior diferença foi estabelecida na semifinal contra o Malvin, do Uruguai: 46 pontos. O jogo mais ‘apertado’? Triunfo sobre Brasília na abertura da segunda fase, com 95 a 87. Se for para contar apenas o Final Four, Bauru venceu os últimos dois jogos por uma média de 36 pontos. Para comparar, o vice-campeão Mogi terminou a competição com 40 pontos de saldo.

Bauru movimentou bem a bola; Larry virou sexto homem

Bauru movimentou bem a bola; Larry virou sexto homem

164 – O total de assistências da equipe em toda a campanha, em média superior a 20 por jogo. Excelente: 61,4% de suas cestas de quadra foram assistidas. Isso sem contar os passes que resultam em faltas e lances livres.

93,5 – A impressionante média de pontos por jogo. Apenas em uma ocasião o time ficou abaixo dos 80 pontos: na decisão contra Mogi, na qual também fez sua melhor defesa, limitando o adversário a 53 pontos. Mogi teve média de 78,3 pontos.

Gui, num raro momento de ataque agressivo em direção ao garrafão; Bauru priorizou o chute de fora

Gui, num raro momento de ataque agressivo em direção ao garrafão; Bauru priorizou o chute de fora

70,2% – Quando jogou perto da cesta, Rafael Hettsheimeir foi um terror para os adversários, matando 33 de 47 bolas de dois pontos. Em arremessos exteriores, ficou num 33,3% que não impressiona (12/36), mesmo sendo ele um pivô. Jefferson foi outro grandalhão que, no fim, não teve uma média tão boa assim lá fora: 32,7% (18/55).

57 – Os valiosos minutos recebidos pelo jovem pivô Wesley Sena, se aproveitando das sacoladas que sua equipe dava para entrar na festa. O promissor pivô tem apenas 18 anos e disputou sua primeira competição internacional adulta. Somou 25 pontos e sete rebotes, convertendo 10 de 19 arremessos (52,6%), com 1/3 de longa distância. O armador Carioca, de 21 anos, extremamente atlético, mas enfezado demais, ficou em quadra por 36 minutos.

56,9% – O aproveitamento de Robert Day em chutes de três no torneio. O gringo contemplado pelo Bolsa Atleta e que nada tem a declarar a respeito foi o único que, entre os que tiveram maior volume de jogo, superou sua pontaria de dois pontos com os pombos sem asa  (56,9% x 53,8%).

Murilo nem jogou direito a Sul-Americana, e Bauru atropelou mesmo assim

Murilo nem jogou direito a Sul-Americana, e Bauru atropelou mesmo assim

32 – Um jogador do calibre de Murilo disputou apenas 32 minutos no torneio, ainda limitado por problemas no joelho. Em cinco partidas no geral, ele marcou só 9 pontos, com… três arremessos de longa distância, em três tentativas. Fora isso, foram três arremessos de dois, todos errados.

5 – Todos os cinco titulares na maior parte da campanha terminaram com média de pontos superior a 10 por jogo. De cima para baixo: Robert Day (16,6), Rafael Hettsheimeir (16,5), Alex (13,3), Jefferson William (11,0) e Ricardo Fischer (10,8). Larry Taylor, que integrou o quinteto inicial na decisão contra Mogi, no lugar de seu compatriota norte-americano, terminou com 9,0. Gui Deodato teve 7,8.

2 – O atlético Gui Deodato tentou duas vezes mais arremessos de três do que de dois pontos: 30 x 15. Se levarmos em conta que ele matou módicos 30% dos disparos exteriores, é uma pena, mesmo, que ele não tenha expandido seu jogo. Ainda são raras as ocasiões em que vai por a bola no chão e partir para a cesta, sem explorar sua velocidade, agilidade e impulsão. No geral, ele cobrou apenas 14 lances livres em 163 minutos.


Euroligado: após jogaço, estupidez e morte
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Giancarlo Giampietro

Torcida do Galatasaray apoia muito seu clube, mas também aponta para os rivais

Torcida do Galatasaray apoia muito seu clube, mas também aponta para os rivais

O fenômeno da estupidez tem alcance global.

Depois de uma partida histórica em Istambul contra o Galatasaray, um torcedor do Estrela Vermelha acabou morto por uma facada em confronto dos torcedores/paramilitares de sempre nos arredores do ginásio Abdi Ipekçi. Marko Ivkovic tinha 25 anos e foi apunhalado no coração. Ele acompanhava um contingente de centenas de hooligans do clube sérvio – estima-se que 400 viajaram até a Turquia. Trata-se, sabidamente, de um time encrenqueiro, com muitas histórias sangrentas para contar. Foram recebidos dentro da arena por cartazes de mal gosto, bandeiras da Armênia e gritos de “Kosovo” por parte dos anfitriões. Obviamente que nada de positivo poderia sair de uma situação dessas.

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Se o episódio já não cumprisse com toda a cota de tragédia e demência que uma semana esportiva pode pedir, o técnico Ergin Ataman, da seleção nacional turca e do tradicional clube, foi no mínimo imprudente ao declarar em entrevista ainda no ginásio que os seguidores adversários eram todos verdadeiros terroristas – sem, no entanto, dirigir nenhuma palavra contra a torcida de seu próprio clube. Ele soltou a frase antes de tomar nota a respeito da morte do turista e se viu obrigado a pedir desculpas públicas horas depois, sem se livrar de um incidente diplomático. As desculpas que não foram aceitas pelo primeiro ministro sérvio Aleksandar Vucic, que declarou que Ataman não seria mais uma figura bem-vinda nas fronteiras de seu país.

Algumas imagens da confusão:

Foi uma grande rodada da Euroliga, que acaba perdendo em repercussão para esse tipo de incidente que teima em acontecer. Barcelona, CSKA Moscou e Olympiakos seguem invictos e já estão garantidos na fase de Top 16. Restam três vagas, então.

O jogo da rodada: Galatasaray 110 x 103 Estrela Vermelha
Pode corrigir aí: foi o jogo da temporada até o momento. E, a partir daqui, vale o esforço para nos concentrar apenas no que aconteceu em quadra, em partida que tive a sorte de transmitir pelo Sports+, ao lado do Marcelo do Ó. Dupla prorrogação, uma cesta de três pontos quase do meio do quadra para forçar o primeiro tempo extra, um time de veteranos pressionados de um lado, uma das equipes mais jovens da competição do outro, disposta a aprontar.

O contexto do time turco era preocupante. Perderam para o Fenerbahçe no clássico pela liga nacional e, durante a semana, ainda tiveram de lidar com uma briga em treinamento envolvendo Carlos Arroyo e o gigantesco Nathan Jawai. Já o Estrela vinha de sua primeira vitória fora de casa, sobre o Laboral Kutxa, e em grande estilo. Na Liga Adriática, o clube, que tem no americano Marcus Williams, de 29 anos, seu atleta mais velho, estava invicto, fazendo grande campanha, com oito vitórias.

Num terceiro período avassalador, com Williams bastante inspirado na condução da equipe, o Estrela Vermelha venceu por 23 a 9 e chegou a abrir uma liderança de 11 pontos. Os donos da casa, porém, tiveram sangue frio para reagir. Foi um desfecho emocionante, no qual o ala-pivô Zoran Erceg, grande nome da partida, acertou a seguinte bola para empatar a partida contra seus compatriotas:

O Estrela Vermelha não se desesperou, manteve a compostura e contou com boas jogadas do ala Nikola Kalinic e lances livres do gigante Boban Marjanovic para se manter com chances. Os visitantes venciam por 96 a 94 com Marjanovic na linha. Arroyo igualou o marcador, na mesma moeda. Williams buscou uma infiltração no último ataque, mas não conseguiu cavar uma falta e nem completar a bandeja, fazendo um turnover.  Na segunda prorrogação, os veteranos do Galatasaray mostraram que ainda têm muita perna para render. O pivô Keren Gonlum, que completa 37 anos neste sábado, foi um guerreiro nos rebotes. Mas quem cresceu foi Arroyo, que adora esse tipo de confusão, como bem sabemos. Ele converteu três bolas de longa distância para levar sua torcida ao delírio e afastar de vez a garotada sérvia da vitória.

Alguns números desse jogo épico: Erceg terminou com 32 pontos em 41 minutos, sete rebotes, duas assistências, dois roubos de bola e 100% nos lances livres com 14 batidos, para alcançar um índice de eficiência de 41, levando o prêmio de MVP da jornada; aos 35 anos, Arroyo jogou todos os 50 minutos da partida, anotando 26 pontos, 18 deles em chutes de fora (mas com um detalhe: ele arriscou nada menos que 17 tiros de três); Williams estabeleceu um recorde de 17 assistências na competição; Marjanovic foi mais uma vez uma força irresistível no garrafão, com 23 pontos e 17 rebotes (oito ofensivos) e índice de eficiência de 39; o talentoso Kalinic marcou 21 pontos  em 25 minutos e surpreendeu com 3/5 nos arremessos de fora; Luka Mitrovic, de apenas 21 anos, alcançou um recorde pessoal: 30 pontos, em 33 minutos, lidando com problemas de faltas durante todo o segundo tempo.

Carlos Arroyo, quem dirai, viron um Ironman aos 35 anos

Carlos Arroyo, quem dirai, viron um Ironman aos 35 anos

Os brasileiros
Marcelinho Huertas fez sua melhor partida na competição até aqui, dando o tom na tranquilíssima vitória do Barcelona sobre o Bayern de Munique na quinta-feira, na Baviera. O clube alemão jogou com uma intensidade deprimente, sem reação, vendo o time catalão abrir larga vantagem já no segundo período e caminhar para um triunfo por 99 a 77. O armador somou 15 pontos, deu 6 assistências, pegou 4 rebotes e matou 6 de seus 7 arremessos, com ótimo aproveitamento dentro do perímetro (5/6 – para alguém que havia acertado apenas 5/25 no primeiro turno). Huertas esteve agressivo desde o princípio, batendo com facilidade os defensores adversários, abrindo uma porteira para a boiada. O Barça acertou 55,3% de dois pontos, 46,2% de dois e bateu 24 lances livres. Um passeio do líder.

JP Batista foi fundamental numa reação do Limoges contra o Maccabi Tel Aviv, mas, no finalzinho, Jeremy Pargo resolveu jogar para dar aos atuais campeões o triunfo fora de casa: 79 a 73. Com o pernambucano em quadra, o time francês tirou no quarto período uma vantagem de até 11 pontos dos israelenses, chegando a assumir a liderança a quatro minutos do fim. João Paulo não pontuou muito nesse quarto, mas teve papel tático relevante com sua presença física no garrafão, atraindo os defensores e limpando quadra para rebotes, chutes e infiltrações de seus companheiros. O pivô marcou 9 pontos, cinco deles em lances livres, e apanhou três rebotes em 19 minutos. Para diminuir seu impacto, o técnico Guy Goodes se viu obrigado a sacar o ágil Alex Tyus para por em quadra o massa bruta Sofo Schortsanitis. Um movimento irônico, já que, em geral, é o pivô grego que força o ajuste por parte dos oponentes.

De Colo, recomeçando na Rússia

De Colo, recomeçando na Rússia

Lembra dele? Nando De Colo (CSKA Moscou)
O ala-armador francês, ex-Spurs e Raptors, mostrou que está recuperado de uma fratura na mão que o tirou de ação da última Copa do Mundo ao liderar o sexto triunfo seguido para o clube russo, agora arrasando o Alba Berlin em casa, por 95 a 68. De Colo teve mais oportunidades com a bola devido ao desfalque de última hora de Milos Teodosic e aproveitou ao máximo, com 22 pontos em 25 minutos, acertando todos os seus 4 chutes de três pontos e 8/12 no geral.

Em números
88 – O saldo de pontos do CSKA Moscou em seis partidas, com média de 14,6 por confronto. Sob comando de Dimtris Itoudis, o clube russo está voando nessa Euroliga, sem sentir a menor carência de Ettore Messina. Esse é o maior saldo da competição até o momento, acima dos 69 do Barcelona e dos 60 do Real Madrid. Lembrando: em chaves diferentes, eles não tiveram a mesma tabela.

31 – Reconhecido no mercado europeu como um armador que mais serve aos outros do que define as coisas por conta própria, Thomas Heurtel liderou o ataque do Laboral Kutxa com 31 pontos, mas sua equipe perdeu para o Neptunas Klaipeda, fora de casa, por apertadíssimo 80 a 79, ficando numa situação difícil pelo Grupo D. Essa foi a terceira vitória do estreante lituano em seu ginásio, o que, por ora, vai lhe garantindo um lugar no Top 16. Heurtel acertou 80% de seus arremessos, e com um número bastante elevado: impressionantes 8/10. Simas Galdikas fez a cesta da vitória a 13 segundos do fim, depois de seu time ter perdido uma vantagem de até 18 pontos no terceiro quarto.

24,17 – É o índice de eficiência de Marjanovic nesta temporada, sendo disparado o jogador com a produção mais qualificada até aqui. Seu concorrente mais próximo é o armador Taylor Rochestie, do Nizhny Novgorod, que foi o cestinha da vitória do time russo, outro estreante, sobre o Dínamo Sassari por 89 a 82, com 29 pontos. De 29 anos, Rochestie é desses americanos que jogam na Europa já há um bom tempo. Formado em Washington State, disputa sua terceira Euroliga, pelo terceiro clube diferente.

13 – O garoto croata Mario Hezonja recebeu tempo de quadra inesperado na partida contra o Bayern: 13 minutos, escalado até mesmo como titular. O ala de 19 anos só havia jogado 18 minutos em toda a temporada, com duas participações no primeiro turno. Coincidência ou não, o movimento do técnico Xavier Pascual aconteceu depois de o superagente Arn Tellem, um dos representantes de Hezonja, ter feito uma visitinha a Barcelona durante a semana. O croata somou 3 pontos, 3 assistências, 3 rebotes, 1 toco, 1 roubada de bola e 1 turnover.

3 – O Grupo D, no momento, é o mais equilibrado. Se o Olympiakos já está classificado para o Top 16, as outras três vagas estão em aberto. No momento, são três clubes empatados com… 3 vitórias e 3 derrotas: Estrela Veremelha, em segundo com o melhor saldo – e de longe –, Galatasaray, em terceiro, e Neptunas, em quarto. O Laboral aparece em quinto, ainda sonhando, com 2 vitórias e 4 derrotas.

Tuitando

Ataman tentando se justificar

É mais provável que os clubes terminem com as segunda e terceira posições do grupo, mas vai que…

Sinan Guler, um dos ídolos do basquete turco e um verdadeiro guerreiro. Mas só na acepção esportiva do termo.

 Problema generalizado, nas palavras de um site atualizado por gregos.

Para melhorar um pouco o astral, as 10 jogadas da semana.


Você acha que seu time chuta muito de 3? Ainda não viu o Reno Bighorns
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Giancarlo Giampietro

Aresneault Jr. tem apenas 28 anos. E conduz um experimento daqueles

Aresneault Jr. tem apenas 28 anos. E conduz um experimento daqueles

Quem aí se lembra do garoto Jack Taylor, aquele armador de 1,78 m de altura que chegou a marcar 138 pontos numa partida do basquete universitário americano em 2012? Foi um, dãr, recorde da NCAA em vitória estratosférica de sua equipe, o Grinnell Pioneers, sobre Faith Baptist Bible, por 179 a 104, pela terceira divisão da entidade. Não importava o nível da partida: os números eram bizarros a ponto de ganhar manchetes no mundo todo.

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Foi nesse momento que todo o povo de fora dos confins e das fronteiras da pequenina cidade de Grinnell, de cerca de 9 mil habitantes, na faixa Oeste do Estado de Iowa, teve contato com o di-fe-ren-te. O basquete tresloucado, desses números absurdos, praticado pela universidade  particular do município, comandado por David Arseneault, de 61 anos, o patrono desse sistema. Sim, porque se trata de um sistema, de uma filosofia de jogo, até mesmo com livro publicado a respeito, “The Running Game“.

Quem prestou atenção nesse movimento todo, com bastante interesse, ao que parece foi o indiano Vivek Ranadivé,  bilionário proprietário do Sacramento Kings. Por quê? Pois a filial da franquia na Liga de Desenvolvimento da NBA, o Reno Bighorns, contratou para esta temporada o filho do homem, David Arseneault Jr., de apenas 28 anos, para dirigir seu time. Obviamente que o negócio não foi fechado com o intuito de fazer um jogo conservador.

“Achei que poderia ser uma piada, para ser sincero”, disse o jovem treinador, ao Reno Gazette-Journal, sobre quando recebeu a ligação. “O sistema seria o caos organizado. Estamos tentando aperfeiçoar o caos. Vai ser uma correria. Vamos correr e tentar muito de três pontos. O quão extremo podemos ir? Depende. Mas vamos tentar coisas diferentes e partir daí.”

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Arseneault Jr., segundo consta, já era o técnico de fato de Grinnell. Seu cargo era de assistente apenas como nomenclatura, mas era quem dava treinos e lidava com as operações do dia-a-dia. Foi daqueles garotos que não desgrudava do Senior e passava o tempo todo num ginásio de basquete. Mais tarde, jogou de armador na equipe, tentou a sorte no exterior e voltou para casa, até se juntar ao pai no banco de reservas de trajes sociais. Como atleta, não pontuava muito: seu forte era passara a bola, mesmo, com médias de 9,4 assistências na carreira. Em 2007, ele chegou a estabelecer um recorde de 34 assistências num só duelo – mas a marca seria quebrada mais tarde por outro jogador da equipe. Estraga-prazer.

Na temporada passada, os Pioneers marcaram 116 pontos por partida. Eles lideraram toda a NCAA em produção ofensiva por 19 das últimas 21 temporadas. Em volume de tiros de três pontos, foram em 17 temporadas durante esse período. Tudo baseado em uma fórmula.  “Nas últimas duas décadas, o técnico vem colocando em prática seu sistema (“O Sistema”), baseado em sua fórmula (“A Fórmula”), que pede explicitamente  que sua equipe arremesse pelo menos 94 vezes num jogo, 47 das quais deveriam ser em três pontos”, relata o repórter Eamon Brennan, do ESPN.com americano.

Segundo Arseneault Jr., esses princípios foram evoluindo naturalmente. O fato é que a equipe de seu pai estava cansada de apanhar em suas competições, e o técnico saiu em em busca de alternativas para compensar sua suposta falta de talento. Quando consultou os jogadores, eles teriam escolhido um jogo mais acelerado.

armador Ra'shad James é um dos que vai ter de corrrer: 16 pontos de média no início

armador Ra’shad James é um dos que vai ter de corrrer: 16 pontos de média no início

Outra particularidade das táticas boladas pela família: os atletas são substituídos de modo frenético, numa média de um por minuto. Por vezes, o quinteto inteiro é retirado de quadra, para que eles sigam correndo feito malucos, pressionando o adversário com bombas de três pontos e marcação em cima da bola, adiantada, pela quadra toda. É com isso, gente, que o Reno Bighorns está mexendo. E vai ser uma alteração drástica para o clube.

Na temporada, sob a orientação de Joel Abelson, que foi para o New York Knicks, o Bighorns teve o terceiro ataque menos produtivo, com média de 104,8 pontos. Ficaram em antepenúltimo também na quantidade de arremessos de três pontos, com 353 cestas de longa distância no decorrer do campeonato, em 963 tentativas (penúltimo). Para efeito de comparação, o Rio Grande Valley Vipers tentou 2.268 chutes de fora. É a filial do Houston Rockets, totalmente mergulhada em planilhas estatísticas convencidas de que o arremesso de três é um pilar fundamental para um setor ofensivo eficiente.

Essa, hã, preguiça toda já virou passado.

Veja só estes placares:

– 08/11 – Idaho Stampede 158 x 135 Reno Bighorns
– 11/11 – Reno Bighorns 128 x 126 Santa Cruz Warriors
– 14/11 – Reno Bighorns 144 x 152 Iowa Energy
– 16/11 – Reno Bighorns 127 x 116 Grand Rapids Drive

Que tal?

São os quatro compromissos do Reno Bighorns até agora com seu novo técnico.  Quando os expus alguns desses números no Twitter, um dia desses, o companheiro de Saque e Voleio Alexandre Cossenza perguntou se o cronômetro de posse de bola tinha 15 segundos, rindo. O Guilherme Giavoni, que a turma de Sorocaba, conhece bem, reparou: era placar de Jogos das Estrelas. As duas situações bem que poderiam ser verdadeiras. As coisas fariam mais sentido. Mas, não: todos esses jogos foram disputado com os 48 minutos regulares do basquete profissional, com 24 segundos de relógio por ataque, sem prorrogação.

“Demos às pessoas uma chance de ver o que esse sistema pode realmente fazer”, afirmou Arseneault Jr. após a vitória sobre Grand Rapids, na qual sua equipe chegou a ficar atrás no placar por 42 a 19 no segundo período, antes de ir para o intervalo com uma vantagem mínima de 54 a 53. Afe. “Depois de um começo fraco, o time começou a esquentar e a arremessar.”

Veja como funciona, na íntegra da partida contra a filial do Detroit Pistons:

Vale uma autópsia, não?

As estatísticas mostra o seguinte: o clube afiliado do Kings vem com incrível média de 135,5 pontos em seus dois primeiros jogos oficiais. Acho que nem o Harlem Globe Trotters chegaria a tanto. Se formos levar em conta a pré-temporada (cujo padrão, convenhamos, não muda muito aqui), temos 133,5. Ufa, mais maneirados.

Para comparar, dois times meio que – repetindo “meeeeio que” – chegam perto em pontuação após duas rodadas oficiais: o Texas Legends/Dallas Mavericks, com 128,5 pontos, e o Iowa Energy/Memphis Grizzlies, com 127,0. Mas o Iowa nem deveria contar, já que, como vimos acima, enfrentou as Bigornas e teve seus números inflacionados pelo jogo do dia 14 de novembro – nenhum time fez menos que 31 pontos num quarto. Para comparar, em sua segunda partida, o placar foi um triunfo por 102 a 100 sobre o Santa Cruz Warriors. O Bakersfield Jam/Phoenix Suns tem 118,5, em quarto, e o Rio Grande Valley Vipers/Houston Rockets somou 117,0, em quinto.

Jeremy Lin já jogou por Reno. Mas numa equipe mais tradicional

Jeremy Lin já jogou por Reno. Mas numa equipe mais tradicional

Sim, todas as quantias são meio absurdas, pensando nos padrões com os quais estamos acostumados. Mas as contas a da D-League funcionam de uma forma diferente. Ainda assim, mesmo nessa realidade paralela, o Reno promete deixar sua marca em termos de ritmo de jogo. É frenético, mesmo, com 124,6 posses de bola por partida. O Iowa, de novo com o mesmo asterisco, tem 113,6 posses. O Grand Rapids,  111,1. Está cedo, é verdade, vamos monitorar esses números no decorrer da temporada, mas, por todo o contexto apresentado, podemos esperar uma liderança folgada para a equipe, sim, nesse quesito.

Nos dois primeiros jogos da temporada, os caras tentaram 109 arremessos de três pontos no geral, contra 84 do Maine Red Claws/Boston Celtics, e 74 do Vipers. Se mantiver esse ritmo, terão chutado 2.725 bolas de longa distância durante a temporada regular, mais de 500 a mais que os líderes da edição passada. Talvez isso independa do aproveitamento, que foi de 38,5% nas duas primeiras partidas, o sexto.

Numa coisa, porém, não podemos nos perder. Não é que o Bighorns busque apenas o chute de fora. Seu volume ofensivo é caudeloso sob qualquer medida. No total, eles arriscaram 228 arremessos em dois jogos, contra 201 de Iowa e 189 do Erie Bayhawks/Orlando Magic. Na verdade, os tiros do perímetro equivalem a 48% de suas tentativas. Para o Red Claws, o percentual é de 50%.

Entre os atletas, quem está adorando tudo isso é o ala-armador Brady Heslip, canadense formado pela Universidade de Baylor e que já defende a seleção nacional de seu país. Vocês se lembram dele? É um rapaz bastante confiante em sua capacidade de arremesso. Nas duas primeiras rodadas, ele marcou 78 pontos, média de 39. Sozinho, ele tentou 36 arremessos de três, matando 20 (55,6%). Foram 47 chutes para ele no geral. Pura doideira. O ala TJ Warren, calouro do Phoenix Suns e defendendo na D-League o Bakersfield Jam, acumulou 46 chutes, dos quais módicos 13 foram de fora.

Heslip sabe enxergar uma boa chance para arremessar de três pontos

Heslip sabe enxergar uma boa chance para arremessar de três pontos

“É como se fosse o Rio Grande Valley, mas talvez um pouco mais imprudente que eles. Mas não no mau sentido. Eles jogam com velocidade. A única diferença aqui é a defesa. Vamos pressionar o jogo todo e tentar acelerar a equipe. Ninguém jamais jogou desta forma antes. É um experimento”, disse o armador Tajuan Porter, que vem com ‘modesta’ média de 11 pontos por jogo em 22,5 minutos. Quatro de seus companheiros, além de Heslip, têm mais de 15 pontos de média.

Ame-o ou odeio-o, o Reno Bighorns vai seguir em frente com seu sistema amalucado, que nunca foi testado com profissionais. É um cenário bem diferente daquele que Arseneault Sr. pensava. “Meu pai nunca pensou que essa fosse virar uma estratégia competitiva. Ele apenas achava que, se era para eles perderem, para que perder de 60 a 40, se dava para perder de 150 a 130? Pelo menos as pessoas teriam algo de positivo para falar a respeito depois de uma derrota, já que alguém havia marcado tantos pontos”, disse o Junior, convicto de que pode ser bem-sucedido sob os olhares e contra a concorrência de tanta gente séria. “Não vejo motivo para que não. Ao mesmo tempo, estou curioso para saber o quão bem pode correr aqui. Já vi alguns flashes no training camp que indicam que ele pode ser muito, muito sucesso.”

Num basquete brasileiro em que se arremessa de três pontos sem peso algum na consciência, é de se imaginar que a curiosidade para acompanhar esse experimento não poderia ser maior.

*  *  *

Relembre a ‘façanha’ dos 138 pontos de Jack Taylor?

 


Fla abre luta pelo tri com números inflados de ataque (e defesa)
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Giancarlo Giampietro

Vigiar o Flamengo lá na linha de três: é necessário

Vigiar o Flamengo lá na linha de três: é necessário

A concorrência do Flamengo que fique atenta no NBB7: os atuais bicampeões vão se garantindo, por ora, com base em seu poderio ofensivo. Uma artilharia. Em duas partidas, os rubro-negros flertaram com a marca centenária, tendo média de 98 pontos por partida para vencer Paulistano e Liga Sorocabana, fora de casa.

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Um detalhe: nesses dois triunfos, a equipe carioca matou 25 bolas de longa distância. Somou, então 75 pontos, ou 38,2% do seu total com bombas a partir do perímetro – para quem arremessou da linha da NBA em três amistosos da pré-temporada, parece que ficou mais fácil o fundamento, né? Quem quiser derrubar os caras, então, vai ter de fiscalizar bem no perímetro.

Agora, será que o Fla consegue manter um ritmo assim? Difícil, bem difícil. O mais razoável, na briga por um terceiro título consecutivo, seria encontrar um equilíbrio, ainda mais priorizando uma evolução considerável em sua defesa, que também cedeu mais de 90 pontos para a dupla paulista. Na temporada passada, para constar, o time carioca teve médias de 84,7 pontos pró e 76 contra.

Olho no campeão olímpico trintão...

Olho no campeão olímpico trintão…

Ao menos na contenção dos chutes de longa distância a equipe de José Neto vem bem. Somados, Paulistano e LSB acertaram apenas 15/54 (6/24 e 9/30, respectivamente), para um aproveitamento de 27,7%. Neste caso, não valeu a premissa do toma lá, dá cá.

O cestinha flamenguista nessas duas primeiras partidas foi Walter Herrmann, com 38 pontos no total, contra 33 de Marquinhos e 32 de  Marcelinho. O veterano argentino, ainda um craque ao seu modo, é quem vem mais fazendo estragos nos arremessos de fora, com 8/13 (61,5%). Sua habilidade para puxar um dos pivôs para fora do garrafão vem sendo um problema, então, para os adversários, que vão precisar estudá-lo com mais atenção.

Um detalhe: da parte dos sorocabanos, o ataque também vai funcionando, com média de 94 pontos, acima dos 75,9 do campeonato passado. Mas tem muita coisa para rolar ainda.

Sem conclusões precipitadas, é só um registro de duas contagens anormais para o basquete brasileiro neste princípio de campeonato.

*   *   *

Idem para o Bauru e Jefferson William

Idem para o Bauru e Jefferson William

Assim como Herrmann, outro strecht four que fez chover* bolas de três na segunda rodada foi Jefferson William, pelo Bauru. O ala-pivô anotou 30 pontos, dos quais 15 foram em tiros de fora (em nove tentativas). Eitalaiá. Os scouts ligados ao movimento de estatísticas avançadas da NBA ficariam malucos por aqui. Não é segredo que Jefferson gosta desse tipo de jogada. Mas também não foi marcado: seu aproveitamento é de 52,9%, com 9/17. Não deve ser algo sustentável, porém. Em sua carreira no NBB, a média é de 36,9%. Vamos monitorar, uma vez que o time de Guerrinha não faz questão nenhuma de esconder sua predisposição pelos chutes de longa distância, com até cinco atletas abertos em quadra. Na vitória sobre o Basquete Cearense, eles tentaram 29 bolas de três pontos e 30 de dois. Um (des)equilíbrio ao qual não chegaria perto nem mesmo um time maluco por esse tipo de jogo como o Houston Rockets. Em média, o time texano vem com 73,5 arremessos por partida nesta temporada 2014-2015, com 31,3 tentativas exteriores.

(*Sim, uma indireta ao problema com goteiras no ginásio Panela de Pressão, que fez a partida ser adiada. Algo que acontece, sabemos, não pode deveria mais, né? Da parte da cidade, clube e liga.)

*   *   *

Na estreia do técnico Marcel em um NBB, seu Pinheiros venceu o Rio Claro, fora de casa, por 84 a 70, num jogo um tanto maluco. Também uma novidade neste campeonato nacional, os rioclarenses chegaram a virar a partida no segundo tempo e abrir nove pontos no placar, só para tomar um 24 a 11 na última parcial. Não vi a partida. De todo modo, chama a atenção o quinteto titular usado por Marcel: Paulinho teve a companhia dos irmãos Smith, formação com três armadores bastante agressivos. Eles eram protegidos, digamos assim, por dois atletas muito físicos na linha de frente Marcus Toledo e Douglas Kurtz. O trio Paulo-Joe-Jason terminou com 52 pontos –61,9% do total do time da capital. Não só: foram mais 11 assistências, de 15, para o trio, e oito roubos de bola (sete por parte dos americanos). Epa.


Exclusiva com JP Batista: na Euroliga, seguindo em frente
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Giancarlo Giampietro

JP Batista, agora em ação pelo campeão francês

JP Batista, agora em ação pelo campeão francês

Prestes a completar 33 anos, o pivô João Paulo Batista apenas segue em frente. Ao que parece, vai sempre pelas beiradas, mas construindo uma carreira única para os padrões brasileiros. Ele acabou de abrir sua nona temporada seguida na Europa, agora defendendo o Limoges, campeão francês, com direito a mais uma participação na Euroliga.

“Olha, é difícil de responder, pois fica um pouco fora do meu controle. Quem me conhece sabe de onde eu vim e o caminho que tive que percorrer pra chegar onde estou”, afirmou ao VinteUm, em generosa entrevista por email.

O pernambucano já está mais que acostumado a batalhar e ser, de certa forma, relevado. Acontece desde cedo, vindo de uma região que ainda está muito afastada dos principais centros de captação de talentos no país. Até chegou a jogar em São Paulo, por Paulistano e São José do Rio Preto, mas nada que prometesse muito. Resolveu, então, pegar as malas e embarcar em busca de um literal “sonho americano“.

É aquilo: você chega a uma cidade no interior dos Estados Unidos, sem saber exatamente o que te espera, sem falar inglês fluente – e “sem nada no bolso”, lembra –, apenas empenhado em fazer as coisas acontecerem. Que tal um junior college em Western Nebraska? Ou, quiçá, o Barton County Community College? Foi a rota que o pivô tomou, mesmo, até entrar no radar de times de ponta da NCAA. Entre um punhado de propostas, escolheu a de Gonzaga, na qual teria a companhia de um certo Adam Morrison – além do armador Jeremy Pargo, que a torcida do Flamengo conheceu tão bem neste mês e quem reencontrou recentemente:

Com seu cabelo desgrenhado, bigode ralo e meiões estendidos, Morrison havia virado uma coqueluche jogando pelos Bulldogs, com aparições regulares em ESPN, Sports Illustrated, New York Times e afins. Em 2006, a equipe estava debaixo do holofote nacional, mas não quer dizer que JP estivesse dominando o noticiário. De qualquer maneira,  era uma das peças mais importantes do time e ao menos ganhou a atenção de quem mais valia. “Ele é o nosso herói anônimo”, afirmou, na época, o técnico Mark Few, sobre o atleta de médias de 19,3 pontos e 9,4 rebotes. “Ele segue entregando, entregando e entregando todas as noites para nós.”

Em Gonzaga, luzes, ainda que para outro, e o serviço sujo bem feito

Em Gonzaga, luzes, ainda que para outro, e o serviço sujo bem feito

Gonzaga acabou caindo precocemente naquele torneio, perdendo na terceira rodada para uma UCLA de eventuais cinco jogadores de NBA (Arron Afflalo, Jordan Farmar, Luc Richard Mbah a Moute, Darren Collison e Ryan Hollins). Com o pessoal de sua turma, está sempre em contato. “Todas as férias vou para lá treinar”, afirma. Neste ano, encontrou Morrison, que está concluindo seus estudos e estudando a possibilidade de virar técnico.

No Draft de 2006, João Paulo passou batido. Disputou uma liga de verão pelo Minnesota Timberwolves, mas foi se profissionalizar, mesmo, apenas na Europa, pelo Lietuvos Rytas, da Lituânia. Está na Europa desde então, numa carreira bastante sólida – e incomum para brasileiros, ainda que poucos deem bola. Já são oito anos por lá.

Sobre a seleção? Neste longo intervalo, foi chamado por Lula Ferreira em 2007, sendo campeão pan-americano. Participou também do fatídico Pré-Olímpico de Las Vegas 2007, assim como da campanha do Pré-Olímpico mundial em 2008, já com Moncho Monsalve, num elenco dizimado por desfalques. Seguiu no time para ser campeão da Copa América de 2009. Na gestão de Rubén Magnano, porém, só foi lembrado em duas ocasiões e sempre de última hora, em situações emergenciais. Em 2010, foi o substituto de Nenê, cortado por lesão. Em 2013, para mais uma Copa América, teve de interromper suas férias no Recife para novamente socorrer o argentino. O time foi um desastre, mas, nos poucos minutos que teve, o massa-bruta rendeu.

Mas precisamos entender: aos 32 anos, JP continua bastante produtivo em quadra, mesmo sem nunca ter sido um dos pivôs mais atléticos – pelo contrário. Forte toda a vida, joga com os pés no chão, um jogo terreno, de feijão com arroz, que dificilmente vai gerar lances de arromba, que virem sucesso no YouTube. E não tem problema: o basquete não seria feito só de acrobatas ou velocistas. Não se trata de um jogador perfeito, claro. Sua movimentação limitada pode ser explorada na defesa. Com pouca envergadura, também não é o protetor do aro mais temido. Por outro lado, com discrição, inteligência e seriedade, porém, começa sua terceira campanha de Euroliga, pelo Limoges, após jogar seis temporadas pelo Le Mans.

Dois pontos de João Paulo pelo campeão francês Limoges

Dois pontos de João Paulo pelo campeão francês Limoges

Na entrevista abaixo, ele nos conta sobre sua experiência no basquete francês, mas não se sente tão confortável em falar sobre a baixa popularidade em sua terra, para a qual pensa em voltar o quanto antes. Aliás,  o pivô revela ter entrado em negociações sérias com o Flamengo neste ano e que estava preparado para fechar um contrato, só para ver o negócio desfeito na última hora. Assinou, então, por mais duas temporadas com Limoges. Confira:

21: Depois de seis anos no mesmo clube, você chega ao Limoges, atual campeão francês. Como tem sido sua adaptação? Há muita diferença no estilo de jogo de um time para o outro?
JP: Minha adaptação tem sido muito boa. Sou um jogador de mente aberta e com facilidades de me adaptar rapidamente. O sistema do meu novo treinador é muito parecido com o que eu joguei os últimos seis anos, facilitando ainda mais.

Qual a sua expectativa para a Euroliga deste ano? A meta é chegar ao Top 16? Dá para sonhar mais alto? O clube chega para brigar nas duas frentes: continente e defesa do título nacional?
Acho que Maccabi é CSKA são os gigantes no nosso grupo. Muito superiores devido ao seu maior orçamento etc. Estamos com um time muito interessante neste ano e podemos surpreender. Não tem muita gente acreditando em nossa equipe, mas temos confiança e vamos brigar por uma vaga no Top 16, que é o nosso objetivo na Euroliga. Sem dúvida temos um time forte e vamos brigar pelo título francês.

A posição de pivô é a mais concorrida do basquete brasileiro há muito tempo. São vários grandalhões na NBA, outros jovens que surgiram nos últimos, e tudo o mais. Você acha que, nesse contexto, acabou ficando um pouco esquecido ou subestimado em seu país, embora tenha uma carreira bastante sólida na Europa?
Olha, é difícil de responder, pois fica um pouco fora do meu controle. Quem me conhece sabe de onde eu vim e o caminho que tive que percorrer pra chegar onde estou. Devido à pouca popularidade do basquete no Brasil acho que a mídia sempre deu muito foco a NBA, Euroliga e ACB e pouco ao resto.

No ano passado, JP e a seleção não renderam em fiasco na Copa América

No ano passado, JP foi chamado de última hora para a Copa América

Saindo de Olinda, longe dos grandes centros de basquete do Brasil… Depois fazendo sua trilha nos Junior Colleges até chegar a Gonzaga… Pelos Bulldogs, era um dos coadjuvantes do Adam Morrison… E agora vai tocando sua carreira na Europa, na França, indo sempre pelas beiradas, seguindo em frente. Essa, digamos, discrição seria algo que te ajudou?
Sem dúvida. Acho que passei um pouco despercebido pelo Brasil, quando joguei pelo Paulistano e São José do Rio Pardo. Agarrei com unhas e dentes quando a oportunidade de ir pros EUA apareceu, e hoje agradeço a Deus todos os dias por estar vivendo o que sempre sonhei quando criança.

Você ainda mantém contato com seus companheiros de Gonzaga? Quando falou pela última vez com o Morrison?
Sim, mantenho um pouco de contato com a maioria. Todas as férias eu volto para lá para treinar. Vi Morrison em julho, quando estive pela universidade. Ele está terminado seus estudos e fazendo parte da comissão do time masculino de Gonzaga como voluntário, para ganhar experiência.

Daqueles tempos do basquete universitário americano, qual a lembrança mais forte que tem? O jogo em que foram eliminados no Torneio Nacional? Ou  as coisas mais corriqueiras, dos tempos de estudante, como o esforço de chegar aos EUA sem saber direito o que seria de sua vida por lá?
Sem dúvida a eliminação do torneio da NCAA doeu um pouco. Mas foram muitos obstáculos no caminho, ainda mais por ir para os Estados Unidos sozinho, sem saber o que esperar, sem nada no bolso. Tinha somente a fé e a determinação de vencer como pessoa e como atleta, e isso vai sempre marcar mais.

Você começou sua carreira profissional pelo Lietuvos Rytas, num verdadeiro “país do basquete”. Como foi sua experiência num país desses?
Na Lituânia realmente foi uma experiência única. É um lugar onde o povo respira basquete. É como o futebol no Brasil. Sem palavras.

JP quase fechou com o Flamengo. Mas joga de alviverde, mesmo, este ano

JP quase fechou com o Flamengo. Mas joga de alviverde, mesmo, este ano

Sabemos que, embora o orçamento dos clubes não esteja entre os maiores da Europa, a liga é muito bem organizada do ponto de vista financeiro. O que mais você pode nos contar nesse sentido, em relação ao que se faz no restante da Europa? Já teve problemas com salários atrasados, por exemplo? Que tipo de lição a Liga Nacional Brasileira poderia tirar daí?
Uma das razões pelas quais estou aqui por tanto tempo é devido a essa estabilidade da liga e do país. Nunca recebi um salário atrasado aqui na França. O basquete aqui é muito bem divulgado, e a cobertura pela TV, muito boa e organizada. Os ginásios estão muito bem estruturados e limpos. E o campeonato tem cinco divisões. Acho que o basquete tem evoluído muito no Brasil, mas, num país dominado pelo futebol, a exposição é muito pouca. Futebol é muito popular aqui, mas, mesmo assim, tem transmissão de jogos de basquete quase todos os dias na TV.

Em termos de resultado de seleção, o basquete francês talvez viva seu melhor momento na história. Qual o impacto das recentes conquistas para a liga francesa, em termos de investimento e público?
O basquete sempre foi um esporte de boa popularidade aqui na França. Estes últimos resultados só têm ajudado ainda mais a valorizar o investimento que sempre foi feito, com mais eventos envolvendo torcedores etc. As grandes empresas estão investindo sem medo, e a criançada, se interessando cada vez mais.

Os times franceses estão constantemente revelando talentos, em geral muito atléticos. Tanto que o país é aquele que tem hoje o maior número de estrangeiros na NBA. Como acontece essa integração dos garotos da base? Existe alguma obrigação nesse sentido, ou é algo que acontece mais devido a circunstâncias de mercado?
O campeonato juvenil acontece paralelamente ao adulto. E todos os times da primeira divisão fazem um trabalho de base espetacular. Todas equipes fornecem alojamento, educação e alimentação a todos jogadores do cadete e juvenil. E aí os jogadores de talento do juvenil são integrados à equipe profissional para treino e jogo. Geralmente uns dois ou três. A maioria acaba sendo revelada desta forma.

Para fechar: seu contrato com o Limoges é de dois anos, né? O segundo ano é totalmente garantido? Você tem algum tipo de plano para quando o vínculo se encerrar? Pensa em jogar o NBB?
Sim, assinei um contrato garantido de dois anos. Quero muito voltar ao Brasil. Fui sondado pelo Flamengo em junho quando meu contrato em Le Mans terminou. Infelizmente não conseguimos entrar em acordo e ao mesmo tempo tinha a proposta do Limoges com um prazo para dar uma resposta. Confesso que estava pronto pra fechar com o Flamengo, mas infelizmente não deu certo.


Vai começar: a Euroliga 2014-2015 em números
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Giancarlo Giampietro

O Barcelona conta com um dos brasileiros da Euroliga. Vocês sabem quem, né? Na foto

O Barcelona conta com um dos brasileiros da Euroliga. Vocês sabem quem, né? Na foto

O basqueteiro sabe: quando chega outubro, o que ele mais ouve é: “Vai começar”.

Pois vai começar nesta quarta-feira a Euroliga de basquete, com um monte de jogadores que nos fizeram companhia durante a Copa do Mundo, dois brasileiros e o MarShon Brooks. Abaixo, alguns dados a respeito da segunda principal liga de clubes do mundo, que será transmitida no Brasil com exclusividade pelo canal Sports+, da SKY, time do qual farei parte novamente.  Jajá voltamos aqui com os times e jogadores para se ficar de olho, um contexto maior sobre os dois brasileiros no páreo – Marcelinho Huertas e JP Batista – e qualquer coisa que dê na telha.

Vamos lá, anotando:

76 – São 76 os jogadores dos Estados Unidos inscritos na competição, disparado o país com maior número de participantes no torneio. Em média, são mais de três por elenco. O atual campeão e vítima do Flamengo Maccabi Tel Aviv foi o que mais importou da fonte: oito! Mas nem todos são registrados como ianques, porém. No clube israelense, por exemplo, são três com cidadania local: o ala Sylven Landesberg e os pivôs Alex Tyus e Jake Cohen. Há americanos croatas, americanos bósnios, americanos belgas, e por aí vai.

Teodosic. Quem se lembra dele?

Teodosic. Quem se lembra dele?

66,6% – Da seleção sérvia que derrotou o Brasil pelas quartas de final da Copa, 8 atletas – ou 66,6% – jogam em clubes da Euroliga. O terror Milos Teodosic segue no CSKA Moscou, enquanto o pivô Nenad Krstic deixou a capital russa para jogar pelo Anadolu Efes, da Turquia. Em Istambul ainda aparecem o prodígio Bogdan Bogdanovic e o classudo Nemanja Bjelica, pelo Fenerbahçe. O pivô Vladmir Stimac saiu do Unicaja Málaga para o Bayern de Munique, mas o clube espanhol, por sua vez, completou sua cota com o armador Stefan Markovic. O Estrela Vermelha, único time do país disputando a competição, conta com os outros dois: o armador reserva Stefan Jovic e o atlético ala Nikola Kalinic. De resto? Miroslav Raduljca levou seus talentos, barba e Harleys para a China; Rasko Katic está em Zaragoza, Stefan Bircevic, em Madri (pelo Estudiantes) e Marko Simonovic, na França (pelo Pau-Orthez). O contingente sérvio, claro, não se limita a eles. Fora do Estrela, há mais nove jogadores espalhados pelo continente.

41 – É o número de atletas com experiência de pelo menos uma temporada regular completa na NBA – descartei os jogadores de contratos temporários, não-garantidos, com uma ou outra partida oficial ou amistosos de pré-temporada. Os dois que têm mais rodagem são Andrés Nocioni, nosso bom e velho e amigo, com  12.654 minutos (contando playoffs) e Krstic, com 11.252 minutos. Da safra nova, vale ficar de olho no que vão aprontar os alas MarShon Brooks (aquele mesmo ex-Nets, Celtics, Warriors, Lakers, seguidor de Nick Young, sem o carisma, mas que julga ser tão bom quanto um jovem Kobe Bryant e agora defende o Olimpia Milano), James Anderson (raro caso de talento mal desenvolvido em San Antonio, ex-Sixers, hoje no Zalgiris Kaunas) e Orlando Johnson (ex-Pacers e Kings, no Baskonia/Laboral Kutxa).

33,3% – Um terço dos clubes desta temporada não disputaram a última edição do campeonato: Dínamo Sassari (Itália), Nizhny Novgorod (Rússia), PGE Turow Zgorzelec (Polônia), Neptunas Klaipeda (Lituânia), todos estreantes, além de Limoges (da França, longe do torneio desde 1998), Valência (Espanha, desde 2011), Cedevita Zagreb (Croácia, desde 2013) e UNICS Kazan (Rússia, desde 2012).

Parla, Ginóbili!

Parla, Ginóbili!

13 – Há 13 anos que um clube da Itália, o país mais vencedor do torneio, não ganha leva o troféu para casa. O último foi o Virtus Bologna de um jovem Manu Ginóbili, em 2001, temporada na qual os times acabaram divididos em duas competições – a segunda com o nome de SuproLeague, ainda sob gestão da Fiba, que não foi adiante.

12 – No mapa da Euroliga, uma dúzia de países estão representados. A Espanha apresenta o maior contingente: cinco times (Barcelona, Baskonia/Laboral Kutxa, Málaga, Real Madrid e Valência). Rússia (CSKA Moscou, Nizhny Novgorod e UNICS Kazan) e Turquia (Anadolu Efes, Fenerbahçe e Galatasaray) têm três cada. Depois temos dois da Itália (Olimpia Milano e Dínamo Sassari), dois da Lituânia (Zalgiris Kaunas e Neptunas Klaipeda), 2 da Alemanha (Alba Berlim e Bayern de Munique), 1 da França (Limoges), 1 de Israel (Maccabi), 1 da Croácia (Cedevita Zagreb), 1 da Polônia (Turów Zgorzelec) e da Sérvia (Estrela Vermelha).

9 – A atual edição conta com nove campeões continentais, listados aqui pela ordem cronológica de seus primeiros títulos: CSKA Moscou (1961), Real Madrid (64), Olimpia Milano (66), Maccabi Tel Aviv (77), Limoges (93), Panathinaikos (96), Olympiakos (97), Zalgiris (99) e Barcelona (2003). Detalhe: o campeonato europeu de clubes só passou a ser disputado com o nome de Euroliga em 2001).

8 – Tal como acontece no futebol, o Real Madrid é o clube com mais títulos europeus, com oito. Da mesma forma que também acontecia nos gramados – até levantarem a taça na temporada passada –, os merengues aguardam há tempos, porém, a nona. Não sobem ao degrau do pódio desde 1995. Maccabi, CSKA e Panathinaikos têm seis títulos cada um.

Sergio Rodríguez, Señhor Barba MVP

Sergio Rodríguez, Señhor Barba MVP

5 – A Euroliga ainda tem um quinteto de MVPs em atividade nesta edição. Dificilmente eles poderiam jogar juntos, porém, já que estamos falando de cinco armadores: Juan Carlos Navarro (2009), Milos Teodosic (2010), Dimitris Diamantidis (2011) Vassilis Spanoulis (2013) e Sérgio Rodríguez (2014). Obs: o destaque de 2012 foi Andrei Kirilenko, ex-CSKA, durante a temporada do lo(u)caute da NBA.

3 – Uma tradição da Euroliga é a eleição dos MVPs de cada mês, assim como a NBA faz. O Barcelona tem uma curiosidade em seu plantel: com três prêmios cada um, Navarro e Ante Tomic são os dois recordistas nesse quesito. A longevidade de La Bomba impressiona: seus três troféus estão espalhados entre janeiro de 2006 e janeiro de 2011. Já o talentosíssimo pivô croata arrebentou na edição passada, faturando dois em sequência em fevereiro e março.

2 – Guerra da Cisplatina! Argentina, Brasil e Uruguai têm a mesma quantia de jogadores na Euroliga 2014-15: um par cada. Por essa você não esperava, né? Marcelinho Huertas (Barça) e João Paulo Batista (Limoges) fazem as vezes dos tupiniquins, enquanto Nocioni e o enjoado Facundo Campazzo representam os argentinos pelo Real Madrid. O espírito charrúa fica por conta do imortal Esteban Batista (Panathinaikos) e do armador Jayson Granger (Málaga). Obs: o jovem ala-pivô brasileiro Daniel Bordignon pertence ao Baskonia, mas foi emprestado para o Navarra, da Liga Adecco Oro, segunda divisão espanhola.

0 – O Cedevita Zagreb é o único time de todo o campeonato que não conta com nenhum jogador dos Estados Unidos em seu plantel. Em meio aos croatas, o único estrangeiro sob a orientação de Jasmin Repesa é o bósnio Nemanja Gordic, se é que isso pode ser considerado um forasteiro.