Vinte Um

Arquivo : setembro 2015

O jogo verdadeiramente histórico de Gasol (e a questão Tony Parker)
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Giancarlo Giampietro

Ele contra os azuis

Ele contra os azuis

Muito provavelmente já fiz essa reclamação antes. Certo que na minha cabeça ela já foi repetida diversas vezes. Se for o caso, desculpem a repetição de uma autocrítica à classe dos cronistas esportivos. Seja por falta de criatividade ou cultura ou por simples preguiça, nunca escrevemos tanto palavras como “épico”, “mítico” e afins. Mesmo que tenha sido um hat-trick na Série B brasileira ou um golaço de sem-pulo no Maracanã. Num meio em que tantas e tantas vozes se dissiparam pela grande rede, parece haver um certo afã de se sentir parte dos registros históricos, nem que como testemunha.

Aí quando morre um Djalma Santos e ou um Moses Malone, na hora de se atribuir um devido valor a esses caras, os adjetivos mais indicados parecem ter perdido seu valor, banalizados. Mais do mesmo. Pois é. Essa sensação de impotência me ocorre quando vejo uma partida como a de Pau Gasol nesta quinta-feira, para derrubar a França por 80 a 75, em uma vingança particular pela semifinal do EuroBasket e classificar a Espanha para o Rio 2016. Foi um desempenho incrível e, dentro daquele contexto específico, me pareceu uma das melhores exibições individuais da… história.

Senão, vejamos: trata-se da maior rivalidade do basquete de seleções hoje; valia a vaga olímpica; foi com o drama de uma prorrogação; jogou diante da torcida do mesmo adversário que, um ano antes, havia estragado a sua festa na casa dele; Gasol, inclusive, não jogou conforme o esperado naquela ocasião, oprimido pela capacidade atlética de um oponente que, depois de tanto insistir, se inseriu no primeiro escalão; está com 35 anos, o relógio está batendo, e, para alguém tão envolvido com sua seleção, isso tem um peso enorme. O que ele fez? O… mítico pivô espanhol marcou 40 pontos em 36 minutos e acertou 12 de 21 arremessos, incluindo 63% nos arremessos de dois pontos, além de ter matado 16 de 18 lances livres e capturado 11 rebotes. Vale o slow:

Na verdade, essa coisa de aproveitar o momento vale muito mais para nós do que para o craque. Andrei Kirilenko já se foi, Dirk Nowitzki está nas últimas, Spanoulis diz que não vai mais jogar pela Grécia… Esses caras estão todos indo embora, então que o basquete como um todo possa curtir o vasto talento do camisa 4 espanhol. Excluindo os franceses desse grupo, claro.

Rudy Gobert, Nicolas Batum e o técnico Vincent Collet reclamaram uma barbaridade. “Pau é um grande jogador, mas ele não pode arremessar 18 lances livres, enquanto a França como um todo não chutou nem mesmo um no primeiro tempo. Houve diferentes modos de se apitar. Ele é um jogador gigante, vem num torneio fantástico, mas não pode ser favorecido desse jeito enquanto os outros atletas não ganham nada. A Fiba deveria fazer algo a respeito”, afirmou o treinador. “Não podia mesmo tocar nele. É difícil marcar assim. Quando você não pode usar suas mãos, ele é praticamente imarcável”, disse Gobert. “Não gosto de falar sobre arbitragem, mas Pau Gasol é protegido um pouco demais. Isso é o esporte, não tem jeito. Nunca vamos ganhar o respeito devido, e eles sempre serão os reis do mundo”, completou Batum.

Dureza em francês escreve como?

Dureza em francês escreve como?

Gasol realmente cobrou mais lances livres que toda a seleção francesa: 18 a 17. No geral, porém, a diferença não foi tão gritante assim: os demais jogadores espanhóis somaram apenas oito lances livres. Então temos 26 x 17. A NBA já viu coisa muito pior que isso. Por mais que o craque tenha sido protegido, não pega nada bem para os falastrões franceses chiarem dessa maneira depois de uma partida daquelas.

Será que ocorreu para os magoadíssimos franceses que o pivô do Chicago Bulls tenha simplesmente se imposto, e não por paparicação? Que a arbitragem só deu tantas faltas nele pelo fato de ser, disparado, o jogador mais agressivo e lúcido em quadra? Gasol foi ao ataque do início ao fim. Em excelente forma, apostou corrida com os franceses mais jovens e mais atléticos e venceu.

Se Phil Jackson se deu ao trabalho de interromper a meditação em Montana para assistir ao jogo, deve ter ficado com inveja, matutando por que nem sempre tinha um pivô tão agressivo assim em quadra. Mike D’Antoni, então, depois de tantos maus-tratos ao espanhol em sua conturbada passagem pelo Lakers, deve ter desligado a TV, entediado ou arrependido que só. O técnico tem uma mente especial para desenhar o ataque, mas se perde em seu brilhantismo ao tentar dobrar todo e qualquer jogador de acordo com seu sistema. Desperdiçou muito do que o espanhol tem de melhor.

Gasol dançou a noite toda com Gobert, Lauvergne, Diaw e Pietrus. Giro daqui, giro para lá, gancho, o chute de média distância mortal, o drible absurdo para alguém de 2,13m , a visão de quadra. São vastos os seus talentos. Quando joga com a determinação que vem apresentando neste EuroBasket, não há quem segure em lugar algum. Nem mesmo um gigante como Gobert, que ainda é jovem e talvez tenha se empolgado demais com o que havia feito na Copa do Mundo do ano passado, quando levou a melhor sobre o craque.

Por mais compridos que sejam seus braços e pernas, não é sempre que vai acontecer, mon ami. E também serão raríssimas as vezes em que terá como missão parar uma… lenda viva dessas.

*    *    *

Fala-se  muito em desfalques da Espanha. Mesmo durante a comemoração, o técnico Sergio Scariolo e sua grande estrela mencionaram as baixas para colocar sua seleção em condição de inferioridade e tentar entender a súplica que foi avançar no torneio. Sem tanto drama, meus chapas. Marc Gasol obviamente faz falta a qualquer equipe, mas é de se pensar se, hoje, sua presença em quadra não limita o jogo de seu irmão. Explico: por mais que possa jogar na cabeça do garrafão ou até na linha de três, numa quadra mais apertada como a da Fiba, acaba obstruindo um espaço precioso para o craque operar. Mesmo que não tenha chutado bem no EuroBasket, Nikola Mirotic desperta temor dos adversários, que ficam grudados nele. Além do mais, do outro lado, com dois Gasols em quadra, as coisas podem ficar ainda mais difíceis no jogo de hoje, pois um dos pirulões será obrigado a marcar um ala-pivô mais baixo e mais leve. Sobre Mirotic: de acordo com as regras da federação internacional, um país só pode usar um naturalizado por uma vez. Então era ele ou Ibaka, de modo que o congolês não pode ser considerado baixa. No perímetro, Juan Carlos Navarro teve sua temporada menos produtiva da década. Alejandro Abrines está crescendo, mas ainda não é uma certeza. Ricky Rubio e José Calderón? Também fariam parte do grupo. Mas os dois Sergios do Real Madrid são hoje atletas muito superiores. Mas muito, mesmo. Calderón é o melhor diretor e arremessador, mas, no momento em que entra em quadra, se torna um alvo do ataque adversário. Rubio não conseguiu jogar basquete na última temporada.

Agora, claro: quando você soma tantos nomes assim, dá meio time. A rotação ficaria mais encorpada. Mas, contra França e Grécia, no quarto final, o que a Espanha basicamente tem de melhor estava em quadra. Além do mais, assim como valeu para a França e para os Estados Unidos no ano passado, vale para eles agora: são tantos os jogadores de ponta disponíveis para uma convocação, que é obrigação de qualquer técnico montar um time não só competitivo, mas que entra para brigar por medalha e título.

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Sergio Llull, Espanha

Sergio Llull mostrou nesta semifinal por que o Houston Rockets não se cansa de tentar sua contratação. Acontece que é difícil tirar o rapaz do Real Madrid, onde é tratado como rei. Quando está mais concentrado na defesa, deixando o xará Rodríguez e Rudy Fernández com maiores encargos ofensivos, é que rende melhor em alto nível. Ele movimenta os pés com muita rapidez. Está, por isso, invariavelmente bem posicionado. Sua defesa para cima de Tony Parker não pode passar despercebida num jogão desses. No ataque, ele também não pára de acelerar. Às vezes força nas infiltrações, mas, por atacar sempre, joga pressão sobre a defesa. Já de Rodríguez não há muito mais o que escrever aqui. Dos armadores europeus hoje, é o que tem o jogo mais apropriado para fazer sucesso na NBA, como suas constantes infiltrações contra uma defesa fortíssima como a da França podem comprovar (15 pontos, 5-8 quando foi lá dentro, 3 assistências e só um turnover).

*   *   *

Sobre Tony Parker: pode ser demasiado cedo para ser alarmista, mas, LaMarcus Aldridge à parte, pode ser que Gregg Popovich tenha um problemaço para a próxima temporada. Llull fez um grande trabalho contra o astro francês, mas não foi o único a incomodá-lo bastante neste torneio. Se um viajante do tempo chegasse desavisado a Lille, não daria a mínima para o capitão francês, que chega à disputa pelo bronze com médias de 11,9 pontos, 4,3 assistências, mas 2,3 turnovers e sofríveis 35,4% os arremessos de quadra (sendo 37,1% de dois pontos — quer dizer, não é que ele tenha se acomodado no perímetro com seu arremesso de três suspeito). Aqui, valem as mesmas ressalvas feitas para Nowitzki: são veteranos que talvez não estejam nem mesmo em ritmo de pré-temporada, enfrentando defensores ferozes e vorazes. Pode ser que Parker ainda esteja, mesmo, avariado por tantas lesões que teve de tratar durante a última temporada e que vá demorar para recuperar a melhor forma. Você dá o benefício da dúvida a um jogador destes, claro. Fica quase na torcida para que seja isso, e não limitações que tenham chegado para ficar. Pois ele dificilmente conseguiu quebrar a primeira linha defensiva nos últimos dias. Também não conseguia criar a separação necessária para fazer seu chute de média distância funcionar. Sem velocidade, seu jogo evapora. Aos 33 anos, é uma situação para se monitorar com muita atenção.

Na semifinal, por mais que não funcionasse sua abordagem ofensiva, ele não arredava pé, e era bico atrás de bico. Foram apenas 10 pontos em 37 minutos, com 13 arremessos desperdiçados em 17 tentativas (23,5%) e um aro que precisará ser trocado para a sequência do torneio. É nessas horas que ter uma figura de tanta relevância em quadra pode até fazer mal a uma equipe, dependendo de suas condições. Por mais arrojado que seja Nando De Colo, não há como ele não deferir para seu capitão. E qual o nível de coragem que Collet precisaria ter para deixá-lo no banco? De qualquer forma, analisando friamente o desempenho do armador, imagino que o treinador esteja muito arrependido pelo corte de Thomas Heurtel, tendo priorizado a envergadura de Leo Westermann, com propósitos defensivos para cobrir Parker. No fim o ataque que precisava de ajuda.


Genialidade de Teodosic encanta no EuroBasket. Comportado, mas indomável
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Giancarlo Giampietro

Que impulsão, hein!? Teodosic não precisa sair do chão para dominar

Que impulsão, hein!? Teodosic não precisa sair do chão para dominar

Para quem pôde ver, na hora do almoço, ou um pouco mais tarde que isso, dependendo do seu relógio biológico, foi uma clínica de armação. Passes quicados em movimento com apenas uma mão para deixar o ala-pivô na cara da cesta. Passes para dentro e para fora. Inversões para encontrar o chutador livre do outro lado. Ou passes que encontravam o alvo mesmo que a bola tivesse de fugir do contato de outros três ou quatro pares de mão gigantescas pelo caminho. Enfim, todo o tipo de assistência, com uma visão de jogo, serenidade e habilidade impressionantes. Milos Teodosic esteve inspiradíssimo na (mais dura do que o placar sugere) vitória da Sérvia sobre a República Tcheca, por 89 a 75. Com todo o favoritismo, a equipe balcânica agora vai enfrentar a Lituânia pela semifinal do EuroBasket, valendo uma vaga olímpica direta para o Rio 2016.

Agora, vejamos se alguma de suas assistências entrou no clipe das cinco jogadas da quarta-feira:

Nada, né? Só ponte aérea e cravadas. Nada contra, aliás. As arrancadas de Andrea Bargnani, Alessandro Gentile e a de Tomas Satoransky foram realmente muito bonitas. O lance do armador tcheco em especial agitou que só a galera. O curioso é que, em que pese sua explosão e a socada com raiva, sua infiltração teve muito menos contestação que a dos italianos. A defesa sérvia teve um raro lapso nessa jogada, lhe estendendo o tapete vermelho. Ainda assim, viralizou, com uma ajudinha de outros dois fatores fora o seu vigor físico: 1) este EuroBasket já vale como um marco para o jogador do Barcelona, sendo o torneio que o confirma como uma estrela em ascensão no basquete internacional; 2) o atleta já foi Draftado pelo Washington Wizards, então estava na mira do público americano. O ótimo torneio que vem fazendo deixou a situação mais combustível.

De qualquer forma, essa obsessão pelas enterradas num campeonato europeu de seleções não deixa de ser irônica, ainda quando comparada à finesse e à inteligência de quatro ou cinco passes de Teodosic. Afinal, ainda há muitas vozes no continente que ainda pregam a ladainha de que só lá se pratica e conserva o basquete puro, clássico, resistindo à abjeta corrupção moral promovida pelo capitalismo do Tio Sam — ou David, se preferirem. Mas, claro.

E quanto ao apego às estatísticas? Ainda mais degradante, não? É o que dizem. Pois a Fiba Europa, em sua seção de “performances fantásticas”, também ignora o duplo-duplo altruísta do armador sérvio. Nesta quarta, preferiu destacar os 26 pontos e 15 rebotes de Jonas Valanciunas na vitória lituana sobre a Itália. Antes de prosseguir e clicar no clipe abaixo, só não deixem de reparar na ironia salpicada nos dois parágrafos acima, por favor. Os tempos irados de hoje fazem, infelizmente, obrigatória essa ressalva. Vamos lá:

Não entendam mal: foi uma atuação de fato dominante do pivô do Toronto Raptors, que também é um jovem astro cuja promoção faz bem ao mercado. Mas precisa ver o contexto também. Valanciunas jogou contra ninguém, e que Andrea Bargnani nos desculpe, a despeito de seu raro ato de valentia, jogando no sacrifício.

Agora, com todo o respeito às belas jogadas selecionadas pela Fiba, àquela aberração grega, ao barbudo espanhol e à rapaziada toda: mas, ao menos no gosto de um reles blogueiro brasileiro, os lampejos mais bonitos do EuroBasket são os de Teodosic. Assim como a sua atuação contra os tchecos foi mais aprazível e impressionante. Número por número, ele também chegou ao duplo-duplo de 12 pontos e 14 assistências, vencendo o  jogo para a Sérvia mesmo que seu arremesso não tenha funcionado (3/11 de quadra, 0/6 na linha de três pontos, mantendo um baixo aproveitamento em todo o torneio, é verdade). Para compensar, não parou de descolar faltas (6/7 nos lances livres) e cometeu apenas três turnovers.

Estamos falando de um jogador que não é nem um pouco veloz, mas que chega aonde quer, por meio da arte do jogo de pés. Pelas quartas de final, ele encurtava e esticava a passada por vezes na mesma infiltração, deixando os defensores descadeirados. Também nunca ninguém vai confundir o sérvio com um exímio saltador. Ainda assim, há momentos em que ele passa a impressão de que para no ar, decidindo entre o arremesso, o passe ou a malandragem típica para buscar o contato involuntário de seu marcador. Tudo se resume a recursos cerebrais para ele, para por de um jeito diferente. Por três quartos, quando o jogo esteve duríssimo, era o único que conseguia desarmar a forte defesa adversária, muito bem postada, combativa e com boa envergadura para proporcionar obstruir as linhas de passe. Foi uma coisa de gênio, traduzindo. Nos melhores momentos editados pela Fiba, é possível ver alguns desses passes de que falo:

Teodosic já torturou e tirou o sono de muitos de seus técnicos. Não é das figuras mais bem queridas nos vestiários por onde passa. Também não tem o costume de se esforçar na defesa e, quando está de mau humor em quadra, se desinteressa pelo ataque e começa a fugir da bola, estacionado em algum canto da quadra — e, se a bola chega a ele nessas situações, apela à displicência, arremessando de muito longe ou passando a bola para a arquibancada. Por mais que isso enriqueça o personagem do ponto de vista do perfil jornalístico, para a equipe não pega bem. Ainda mais para a alguém que tinha a fama de amarelar em grandes jogos, sem deixar que os insucessos em quadra abalassem sua marra. Junte aí a notória boemia, e você tem, na verdade, um gênio intratável.

Ou tinha, até entrar em contato com Aleksandar Djordjevic, antes brilhante armador iugoslavo, hoje uma grata surpresa como técnico sérvio. Surpreende porque, quando começou na profissão, na Itália, dirigindo grandes clubes como Olimpia Milano e Benetton Treviso, não impressionou ninguém. Agora, dirigindo a seleção, faz um trabalho fora de série. Ele obviamente tem uma geração muito talentosa para explorar. Mas mão-de-obra nunca foi um problema para o país. O duro era administrar os egos e fazê-los jogar com um mínimo de interesse e coesão. Djordjevic conseguiu o máximo nesse sentido. Juntou as peças direitinho, apostando também em muitos jovens e, com o pulso firme e a áurea de ídolo nacional, montou um esquadrão.

Teodosic em versão stopper

Teodosic em versão stopper

Bogdan-Bogdan é um tremendo de um carudo e matador. Nikola Kalinic corre tão determinado que parece que vai cravar o pé em quadra. Nemanja Bjelica é uma maravilha de fundamentos e versatilidade. O bisnagão Raduljica varre quem estiver à sua frente no garrafão.  Zoran Erceg, que encontrou um rumo na vida, oferece ainda mais chute. Stefan Markovic faz tudo direitinho, mesmo que seu arremesso seja feio de doer. Nemanja Nedovic é muito mais explosivo que a média europeia (mas não a da NBA). Ognjen Kuzmic tem 2,13m e amarra, sozinho, um par de tênis sem precisar da ajuda de ninguém, com agilidade até. É um grande elenco. Mas tudo passa por seu armador. É ele quem amplifica as qualidades desses caras e que faz da Sérvia a melhor seleção europeia da atualidade: numa comparação com a Lituânia, por exemplo, é mais alta, mais forte e mais rápida. Mais talentosa também.

Pode ser mera coincidência e que Teodosic tenha, se aproximando dos 30 anos, amadurecido para valer. Porém, é inegável que, desde a Copa do Mundo do ano passado, quando iniciou esse contato mais próximo com Djordjevic, seu jogo mudou. Ou melhor, se intensificou. Em quadra, o armador não perdeu o brilho, não deixou de arriscar, segue indomável. Mas com uma figura mais serena e aguerrida em quadra.

As viajadas ficaram raras, precisando mesmo de uma arbitragem calamitosa para tirá-lo do sério. Na defesa, tem contestado arremessos de fora e partindo para a dobra em algum adversário que queira mais atenção. Até mesmo quando seus companheiros fazem uma cesta, ele está comemorando! Afinal, foi nomeado capitão do time. (Favor imaginar aqui um emoticon cara de espanto, olhos arregalados. Você sabe qual.)

Nesses moldes, Teodosic virou um jogador que faz regularmente a diferença, perturbando agora apenas os adversários  e encantando quem vê de fora. Esses passes aqui não teve como ignorar:




Fiba promove revolução no calendário. Sem combinar com ninguém
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Giancarlo Giampietro

Andrew Nicholson, um dos nove jogadores de NBA nesta seleção candense

Pode ter Brasil x Canadá no Maracanã. O difícil é saber que seleção canadense viria… Ou se vai existir uma seleção canadense

A Fiba deu mais detalhes nesta terça-feira sobre seu plano de se revolucionar o calendário de seleções a partir de 2017. O curioso? Eles simplesmente não acharam necessário discutir tais mudanças com as partes mais interessadas: os clubes, que são aqueles que verdadeiramente sustentam a modalidade neste vasto mundo de basquete.

Mas, bem, revoluções, do ponto de vista social, são algo súbito, né? Vai avisar ou acertar quê? Além do mais, as mudanças só estão previstas para daqui a dois anos. Até lá, já deu tempo mais que suficiente para esses lazarentos se acostumarem com a ordem que vem de cima. A NBA, a Euroliga e tudo o mais: que se virem.

(…)

Só que não?

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Numa seção de perguntas e respostas em seu site, a Fiba afirma que as drásticas alterações no seu calendário começaram a ser planejadas em março de 2011. E que, desde então, “um número de seletas confederações foi consultado”, que houve “um estudo de experts internacionais independentes”, que “a informação foi compartilhada com as confederações”, que “três formatos diferentes foram propostos” e, depois de um feedback por parte dessas confederações (Haiti? Lituânia? Austrália? Ilhas Maurício?), houve uma “consulta com a NBA, a Euroliga e as ligas mais fortes da Europa”.

Agora… o que leva, então, a, nesta terça, o chefão da Fiba Europa, Kamil Novak, a dizer, em coletiva durante o EuroBasket, que a participação dos jogadores das principais competições de clubes do mundo é incerta no novo calendário? “Nós esperamos que a Euroliga vá parar (suas atividades durante as datas de seleção). Que os jogadores da Euroliga não vão participar das eliminatórias é pura especulação agora. Já a NBA é um caso diferente”, afirmou. Novak também admitiu em sua entrevista que a Fiba Europa ainda não teve discussões detalhadas com as confederações sobre a nova tabela.

Será que ao menos os jogadores da D-League, como Damien Wilkins, ficariam disponíveis durante a temporada?

Será que ao menos os jogadores da D-League, como Damien Wilkins, ficariam disponíveis durante a temporada?

Espera: então quer dizer que a federação internacional consultou as ligas, mas não necessariamente recebeu ou considerou as respostas? Parece que é o caso. Afinal, ao avançar em suas perguntas e respostas, eles me saem com esta: “Obviamente que o mais desejável é ter jogadores de NBA sempre em ação. Contudo, há vários bons jogadores fora da liga. Além do mais, os jogos classificatórios vão dar a chance para o crescimento de novos talentos, novas estrelas”.

Sei.

Que tal ouvir o que o Canadá tem a respeito?

Independentemente de sua seleção nacional, com nove atletas enebianos listados, ter sido eliminada agora há pouco por uma Venezuela que nem Greivis Vásquez tinha, como a Fiba espera que o país, com sua atual estrutura, monte equipes competitivas? Todos os seus principais talentos estão na 1) NBA, 2) basquete universitário norte-americano e 3) Europa. Não existe uma liga nacional canadense minimamente forte. E aí? Azar? Pode-se argumentar que o calendário internacional, então, serviria de incentivo para o desenvolvimento da modalidade, e que o Canadá só teria a ganhar com um campeonato interno solidificado, e bla-bla-bla. Como se fosse simples uma mudança cultural dessas.

Pois vamos às mudanças propostas: os torneios continentais (Copa América, EuroBasket etc.) passarão a ser disputados de quatro em quatro anos, assim como a Copa do Mundo, em vez de dois em dois. No lugar da disputa bienal com a qual estamos acostumados serão realizadas eliminatórias para o Mundial, assim como acontece no futebol. Basicamente, o basquete está assimilando as chamadas “datas Fifa” ao seu programa. Ficaria assim  (clique aqui se quiser ver o arquivo inteiro, em inglês):

fiba-calendario-2017

Haveria seis janelas de eliminatórias para a Copa do Mundo entre novembro de 2017 e fevereiro de 2019, com o torneio marcado para setembro deste ano. Terminada a Copa, em novembro os times voltariam a se reunir para, então, disputar as eliminatórias para os torneios continentais. À parte destas duas competições Fiba, ainda haveria quatro torneios olímpicos para definir o restante dos países nos Jogos (cujos campeões se juntariam a sete países já previamente qualificados diretamente por meio da Copa do Mundo, sendo duas vagas para os melhores americanos e europeus, uma para o melhor da África, da Ásia e da Oceania)

Se formos reparar nesse calendário, em todas as eliminatórias para a Copa do Mundo, quatro janelas coincidiriam com o calendário da NBA, da Euroliga, da NCAA e das grandes ligas pelo mundo de qualquer forma (os meses de novembro e fevereiro). Partindo do princípio de que a grande liga americana não vai liberar seus atletas para estes meses, você pode imaginar o pandemônio mundo afora para a se convocar as seleções, mesmo que os principais clubes europeus arrefeçam — o que não é garantia de nada. Pensem no futebol novamente: neste exato momento, há um crescente descontentamento por parte das grandes potências europeias com as insistentes demandas do calendário Fiba. Nesse contexto, então, faz muuuuuuuuuuito mais sentido a ofensiva da Fiba para tentar retomar o controle da Euroliga. Ah, claro: e não só os Real Madrids da vida que têm direito a chiar. Há o Bahía Basket, o Bauru, o Flamengo, os Cocodrilos, o Sydney Kings, o Shandong Kingston Lions etc. etc. etc.

Imagine, então, se a liga italiana topa liberar os seus atletas, mas a ucraniana, não? Qual não vai ser a inconsistência na hora de escalar e as situações incômodas decorrentes. Por exemplo: supomos que o Brasil, com a anuência da LNB, conte com os principais nomes em atividade no país para a janela de fevereiro. E eles enfrentam o México desfalcado em jogos de ida e volta. Ganham ambos. Aí, em junho, a turma da NBA se junta à seleção e acaba perdendo duas vezes para o Canadá. (Ou vice-versa). Ainda assim, o time se classifica para a Copa do Mundo. Na hora de selecionar os 12 finais, como fazer?

Mas esse dilema, acreditem, é o de menos, é só para corações moles sofrerem e fichinha perto das certeiras injustiças que teremos a partir do sorteio de grupos e tabela, devido à sua composição randômica. Pois enfrentar a atual Venezuela sem a NBA, como vimos, pode ser complicado — mas e o México sem Ayón e Gutiérrez seria mais fácil, não? Para não dizer os Estados Unidos? E o próprio Brasil? E qual seria a divisão dos grupos? Nem todos os países vão jogar contra todos. Como compensar essa discrepância? Simplesmente impossível no formato proposto.

Benite chegou ao Pan embalado por excelente playoff do NBB

Benite acaba de trocar o NBB pela ACB. No novo mundo Fiba, o ideal seria segurar os talentos. Isso se a LNB topar o calendário

Outro ponto que inspira preocupação: a logística para a realização cada janela da eliminatória. A agenda prevista pela Fiba teria a segunda-feira para viagem. A terça e quarta-feira para viagem e/ou treinamento. A quinta e a sexta para treino e/ou jogo. O sábado para uma nova viagem. O domingo e a segunda para treino e/ou jogo. E a terça seguinte para viagem de volta dos atletas aos seus respectivos clubes. Quantos dias para treinamento e aprimoramento, né?! Imagine o altíssimo nível de cada jogo. É um desperdício de tempo e energia.

De qualquer forma, a federação internacional tenta se blindar dizendo que ampliou o número de vagas para a Copa do Mundo de 2019, saindo de 24 para 32. Seriam 12 postos para a Europa, 7 para as Américas, 5 para a África e inacreditáveis 7 para a Ásia (com Austrália e Nova Zelândia no páreo, integradas), além do país-sede, que é a China. (Bem, com sete países das Américas no páreo,  o Brasil não correria risco de ficar fora do Mundial mais uma vez, né? Hã… Ops, deixa pra lá.)

O maior número de vagas seria uma forma de compensar qualquer injustiça. Não creio. Todas essas mudanças são muito complexas e vão muito além da balela promovida pela Fiba de que “a seleção nacional é a locomotiva para o basquete em cada país” e que, por isso, ela deveria estar acima de tudo e todos.

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A NBA já tem seus jogos globais. Não prece preocupada com o cenário do basquete internacional

Quais as contrapartidas que os cartolas apontam? Primeiro de tudo, pensando na NBA, é a definição de que seus atletas ao menos teriam um verão (setentrional) para descansar, livres de qualquer obrigação com a seleção a cada ciclo olímpico/de Copa do Mundo. Bem… Hoje isso já acontece na prática, não? Ainda que informalmente. De qualquer forma, segundo seus estudos, o sistema de eliminatórias pediria muito menos dias de preparação, com uma redução de 25% no tempo de convocação para os jogadores europeus e de 20% para o restante do mundo.

A Fiba também garante que o seguro para os jogadores será bancado pelos seus cofres, e não mais pelas confederações. Com o formato anunciado, prometem maior visibilidade para as equipes nacionais e um maior contato dela com o torcedor local, já que disputarão jogos oficiais em casa. Esse argumento em específico faz sentido, mas sua viabilização implica nos problemas acima citados. Por fim, seu memorando também indica algo que parece mais chantagem emocional barata a “atual posição econômica do basquete estaria em risco devido à evolução de outros esportes”.

Não me parece que a NBA esteja tão preocupada assim com o vôlei, o handebol ou mesmo o rúgbi, parece? E, se for para falar de países com menos poderio econômico que os EUA, eu diria que a seleção tende a ser apenas uma consequência do produto interno, por mais que aqui em solo tupiniquim tenhamos batido insistentemente na tecla de que só os rapazes de Rubén Magnano podem alavancar a modalidade. Aos poucos, a liga nacional vai tocando seu trabalho e mostrando outro caminho.

Enfim, a Fiba diz ter esses estudos que clamam por esta revolução e que as mudanças seriam benéficas para todas: “uma renda maior e o potencial de crescimento para  a família do basquete podem ser esperados”. ´Mas dá para confiar que uma entidade que permite sem parar a compra de passaportes em todos os cantos do mundo, tirando o seu troco nessas transações, que vende convites para seu Mundial por um milhão de euros e agora deve cobrar uma fortuna pelas sedes dos Pré-Olímpicos mundiais de 2016 esteja zelando pelo bem da família do basquete? Desculpem-me se recebo essa frase de modo ressabiado.

Agora é esperar o posicionamento da Euroliga (que já está fula da vida com a entidade), da NBA, da USA Basketball, da liga nacional e de outras partes. A Fiba pode muito bem colocar em prática sua nova visão de mundo. Os clubes podem bater o pé e emperrar as mudanças. A NBA pode querer aproveitar a brecha e atender aos desejos de sua facção que deseja assumir o controle do Mundial. Enfim. Por ora, o assunto ainda é tratado em banho-maria, mas chegará o dia em que vai explodir, e aí precisa ver se nada será como antes. Ou se ficaremos na mesma.


NBA, contratos milionários e as dores do mundo Fiba para o Canadá
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Giancarlo Giampietro

Jay Triano tinha experiência. Os seus atletas nem tanto

Jay Triano tinha experiência. Os seus atletas nem tanto

Tem uma expressão em inglês que, acabo de ser informado, tem equivalente no português, até mesmo ao pé-da-letra: growing pains, que, para os pediatras, é a chamada dor de crescimento, mesmo. Mas é claro que, no cotidiano, os gringos a usam com outra conotação. São as dores de se crescer, de amadurecer. São essas coisas da língua inglesa que mostram que, na sua simplicidade, não tem um vocabulário que impressione Camões ou José de Alencar, mas pode ter uso muito prático e inteligente e, por isso, rico.

Mas vamos deixar o Professor Pasquale cuidar desse assunto com mais propriedade. É que foi simplesmente a primeira coisa que me veio à cabeça durante o jogão do ano até agora pelo mundo Fiba: Venezuela 79, Canadá 78. É um jogo que pode ter repercussão infinita, de tantas lições e consequências que se tira dele. O lado venezuelano e o exemplo que ele representa para o Brasil já pediu o seu artigo. Os vencedores tiveram a prioridade. Agora é a vez dos perdedores.

Foi uma derrota e tanto para os canadenses. Agora, antes de se air avacalhando com os caras, é bom lembrar que, do ponto de vista brasileiro, nada pode ser dito. Os moleques saíram da capital mexicana com apenas duas derrotas. A segunda derrota veio apenas na hora que não podia. Já a CBB só garantiu sua seleção nas Olimpíadas ao vencer a luta contra sua vocação pela pendura, pelo calote e convencer seus patrocinadores a pagar sua dívida com a federação internacional. Ponto. Em quadra, foi mais um vexame.

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E, se for para zoar o país mais ao Norte da América, melhor aproveitar o momento. Pois, em termos de produção de talento, o Canadá não vai parar por aqui, por mais que esse revés machuque muitos de seus eventuais protagonistas. Esse time tinha nove jogadores sob contrato com a NBA, e há muito mais vindo por aí. Gradativamente, ao menos nos grandes centros urbanos, eles estão trocando o bastão e o disco pelo aro e a bola. É a tal da massificação — e taí um vocábulo que os dirigentes brasileiros desconhecem.

Sabe qual a diferença de idade entre Andrew Wiggins e Bruno Caboclo? Ele é sete meses mais velho. Sua seleção como um todo tinha média de idade de 23,8 anos e pouquíssima rodagem em competições internacionais. Esse era desde sempre o maior adversário na briga por uma vaga olímpica. Num paralelo com a nossa geração NBA, é como se fosse 2003 para eles.

Apenas 20 anos para Wiggins. Foi seu primeiro torneio com a seleção

Apenas 20 anos para Wiggins. Foi seu primeiro torneio com a seleção

Para os que já não se lembram mais, há 12 anos a seleção brasileira jogava sua primeira Copa América desde a entrada de Nenê (e Leandrinho) na grande liga, com a esperança de não ficar fora pela segunda vez seguida das Olimpíadas. Varejão era atleta do Barcelona. Alex estava explodindo com o Ribeirão Preto de Lula Ferreira. Marcelinho ainda não tinha um alvo gigante em suas costas. Splitter era um adolescente, apenas, é verdade. Mas em geral havia uma expectativa enorme em torno deles. O desfecho foi de massacrar os nervos: quatro derrotas seguidas, uma facada atrás da outa, e de todos os lados: perderam por dois pontos para os eventuais campeões olímpicos da Argentina, por três pontos para o Canda (de Steve Nash!), por dois pontos para Porto Rico e, para fechar, derrota de dez pontos para o México, de Eduardo Nájera, o ancestral de Ayón.

Os brasileiros amarelaram, então? E os canadenses? (Com a diferença de que a competição de 2003 era muito mais forte que a deste ano.)

Se você prefere esse tipo de termo, tudo bem. Prefiro dizer que sentiram a pressão de um grande jogo, sendo um grupo pouco acostumado a esse tipo de situação. Uma coisa é enfrentar o Milwaukee Bucks ou o Los Angeles Clippers. A qualidade do outro lado será muito superior à de uma Venezuela ou de Porto Rico. Mas o jogo é muito diferente. A pancadaria, a tensão, o clima no ginásio, especialmente para um time tão envolvido com a missão Rio 2016. Tem isso: entre todas as críticas que se pode fazer ao colapso canadense contra os venezuelanos, “salto alto” não pode fazer parte do pacote. Os caras jogaram e respeitaram a competição. Não subestimaram a concorrência.

Ciente disso, a experiente comissão técnica da seleção tentou fazer o que podia para preparar os atletas para o que viria pela frente. O repórter Josh Lewenberg tem um relato muito interessante sobre um coletivo em que os assistentes de Jay Triano faziam as vezes de árbitros e estavam apitando tudo, invertendo marcações, bagunçando geral. “Disse a eles durante o treino que eles precisam encarar isso porque é o que vai acontecer no torneio. O jogo é arbitrado de uma forma diferente da que eles estão acostumados em suas temporadas regulares. É sobre uma das coisas que conversamos. Temos de nos adaptar”, disse Triano, após a sessão.

Cory Joseph, aquele que assumiu o posto de Vasquez em Toronto. Esmagado por venezuelanos

Cory Joseph, aquele que assumiu o posto de Vasquez em Toronto. Esmagado por venezuelanos

Santa premonição. A arbitragem na partida contra os venezuelanos foi polêmica. Aquela falta dada na disputa do rebote no último segundo, de Aaron Doornekamp sobre Gregory Vargas, não se marca. Estavam todos se estapeando. É a mesma coisa que a confusão de um escanteio no futebol. Mas o apito soou, e não teve jeito. A maturidade que não conseguiu mostrar na condução do jogo, Cory Joseph, ex-xodó de Popovich em San Antonio, teve na hora de avaliar o que se passou em quadra: “Não deveria nunca ter ido para aquela última bola, primeiro de tudo. Joguei de modo horrível. Se não fosse Kelly (Olynyk), teríamos sido esmagados. Não jogamos bem como equipe. Eles trabalharam e se dedicaram mais que nós em quadra. Estou decepcionado, não consegui liderar meu time. Acontece”.

Olynyk de fato teve uma partida memorável. Em termos individuais, foi a terceira maior atuação deste torneio, ficando atrás apenas da aula que levou de Scola na estreia e do esforço hercúleo que Ayón teve contra a Argentina. Foram 34 pontos e 13 rebotes, convertendo oito de nove arremessos de dois pontos e três em quatro de longa distância, mais nove em dez lances livres. Não há nem o que se falar de seus seis desperdícios de bola. Chegou uma hora em que o jogador de 2,11m era o único que encarava a agressiva defesa venezuelana, ficando sobrecarregado. Wiggins fez bom primeiro tempo e sumiu no segundo. Joseph foi um verdadeiro desastre. Stauskas passou mal durante toda a véspera por conta de uma intoxicação alimentar. Anthony Bennett, que teve uma ótima temporada com a seleção, não foi acionado e não conseguiu se impor fisicamente no garrafão.  Melvin Ejim é quatro anos mais velhe que Wiggins e ainda menos polido. Talvez fosse um jogo que pedisse mais a brutalidade de Dwight Powell, que recebeu apenas quatro minutos, do que a finesse de Andrew Nicholson. Por fim, Robert Sacre não saiu do banco.

Reparem que os nove atletas de NBA da seleção foram citados no parágrafo acima. O que serve também para reforçar a tese que o mero selo da liga norte-americana em seu currículo não conta toda a história, não é garantia de nada. Ainda mais quando o time que os derrotou não possui nem mesmo perto de receber um contrato — se fosse apostar, diria que Windi Graterol eventualmente possa ser testado em uma liga de verão. A maior parte desses moleques canadenses, oras, ainda está em formação, enquanto alguns deles não devem nem mesmo ter uma longa carreira por lá. Não à toa, na hora em que a coisa apertou, foi Olynyk, o mais experiente da turma em jogos Fiba, quem carregou o piano.

Joseph conseguiu reagir na disputa pelo bronze

Joseph conseguiu reagir na disputa pelo bronze

“Pareceu que estávamos um pouco inseguros”, disse o técnico Triano. Pois é. A outra derrota canadense foi na estreia, contra a Argentina. Justamente o outro jogo de uma competição oficial que notoriamente costuma ser dos mais tensos, independentemente do nível do rival. Passado esse revés, os norte-americanos se soltaram e dominaram a competição. Com folga. Chegou o único jogo do mata-mata que não poderiam perder, porém, e tomaram um tombo feio.

“Dou crédito a eles (venezuelanos). Eles tiraram nossa transição e nós cometemos os turnovers que sabíamos que eles tentariam forçar. Foi um jogo complicado de aceitar para nós, obviamente. Jogamos bem pela maior parte do torneio, mas não fomos muito bem nessa partida, o que é uma falta de sorte. Esses torneios costumam ser resumidos pelo jogo que se perde, se você perder. Muitos de nossos caras jogaram duro, como fizeram durante toda a competição. Só não jogamos muito bem nesta semifinal. Nossos sonhos agora ficam na espera”, completou o treinador.

Neste sábado, de volta à quadra, os jovens canadenses se viram novamente diante de uma torcida toda contrária, na disputa pelo terceiro lugar com o México e venceram. Em termos práticos, o bronze não vale nada para eles quando confrontado com as expectativas do time. Mas o modo como saiu a vitória pode ser emblemático: foi mais uma partida decidida na última bola, com um arremesso salvador do próprio Cory Joseph, no estouro do cronômetro. Faz parte, como ele mesmo diz. Não importa se você está na NBA, se está milionário. Se você gosta de basquete, se importa com a sua seleção, tem de passar por esses testes e amadurecer. Nem que seja com dor.


A zebraça venezuelana e as lições de basquete e humildade
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Giancarlo Giampietro

Estavam todos no Pan

Estavam todos no Pan

Sério, quem imaginava? Nem o Greivis Vásquez.

A Venezuela protagonizou nesta sexta-feira uma das maiores zebras da história da Copa América — e do basquete mundial. Guardadas as devidas proporções, a vitória, por 79 a 78, sobre o estrelado Canadá tem um quê de Argentina derrubando pela primeira vez uma seleção dos Estados Unidos formada por jogadores da NBA, em 2002, pelo Mundial de Indianápolis. Um resultado de tremendo impacto, mesmo.

Contrariando todas as previsões, a equipe vinotinto vem, então, ao Rio 2016 de peito erguido e ensinando muitas lições aos integrantes da seleção brasileira que na Cidade do México estiveram. Para a diretoria, que descolou uma verba federal milagrosa em tempos de recessão, vale investigar quanto teria custado a campanha venezuelana. Quantas peças de roupa eles teriam lavado? Num degrau mais abaixo, chegamos aos jogadores, mas também os técnicos, não? Afinal, perderam todos.

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Aqui faço referência a mais uma declaração de Rubén Magnano que, pode cravar, não pegou bem com o seu elenco: “Os jogadores devem avaliar então em que estágio se encontram hoje. Essa derrota não vai modificar a minha maneira de ver o basquete. Os ganhos que tive ao longo da minha carreira me dão a força necessária para apostar no que penso. Eu não acredito em fazer as coisas de maneira automática. Gosto que os jogadores tenham a coragem e a bravura para resolver as coisas. Insisto na solidariedade, e o fato de 80% deste time ter jogado junto nos Jogos Pan-Americanos não se refletiu.”

“Em comparação ao Pan, que é a relação mais próxima que consigo fazer, tivemos um aproveitamento bem inferior nos arremessos. Isso tem a ver com o nível do torneio, que não era o mesmo do Pan, e pelo fato de as partidas terem sido muito físicas, como já falei. As decisões tomadas não foram as corretas. Não tivemos sucesso e não repetimos o jogo coletivo do Pan, graças aos nossos erros e às virtudes dos outros”, disse ainda. “Certamente saio com gosto amargo e espero que os jogadores pensem o mesmo.”

Pela segunda vez consecutiva após um vexame na Copa América, o comandante argentino procura se distanciar do que acontece em quadra. Dá a entender que seus atletas atuaram com soberba, relaxamento — ou que não tenham nível técnico para jogar desta forma. Fala em mentalidade individualista, bem diferente daquela que vimos durante a conquista em Toronto. Algo que não se pode negar, de fato. Mas isso aconteceu por desobediência tática? O descontrole é deles? Se Magnano tinha uma mensagem a ser passada e ela não foi aceita/escutada/compreendida, isso é um problema só dos jogadores?

Cory Joseph, aquele que assumiu o posto de Vasquez. Esmagado por venezuelanos

Cory Joseph, aquele que assumiu o posto de Vasquez. Esmagado por venezuelanos

E aqui temos, novamente, a questão do Pan, aquele que, de acordo com a tese geral, não vale nadica de nada. Para Magnano, percebam, valia e valeu, sim. O técnico também imaginava que aquele basquete vitorioso pudesse ser replicado. Por alguma razão, não deu certo. O nível da competição aumentou, como ele diz, mas aqui interfiro: a Copa América foi muito mais dura do que os Jogos de Toronto, sim, mas não do ponto de vista técnico. Pelo menos não para o Brasil, conforme o já exposto aqui.

Do contrário, como explicar a Venezuela alcançando a final? Afinal, a seleção dirigida por outro argentino, Nestor Garcia, teve exatamente o mesmo número de jogadores que atuaram no Pan em comparação com os brasileiros: 10 de 12. Apenas o ala-pivô Windi Graterol e o reservão Ceso García foram adicionados. Por mais que adore Graterol, não dá vou dizer que ele, sozinho, elevou uma equipe que nem mesmo brigou por medalhas no primeiro torneio à condição de superpotência no segundo.

Também não vamos agora olhar em retrospecto e salivar pelo elenco venezuelano. O fato de terem derrubado o Canadá na semifinal, depois de vitórias sobre Porto Rico e República Dominicana na fase classificatória e de jogos duros contra Argentina e México, pode indicar que mereciam mais respeito prévio. Afinal, conhecemos há tempos esses caras de muitas competições internacionais, por clubes ou seleção: há gente de muito talento por lá, como sabemos desde aquela marcante derrota pela semifinal do Pré-Olímpico de 1992. Só não dá para dizer que os atuais jogadores seja tão superiores assim aos que Magnano convocou para o torneio. Nada que chegue perto de justificar tamanha discrepância nos resultados.

Garcia consegue o improvável. Quanto custa o projeto?

Garcia consegue o improvável. Quanto custa o projeto?

O que Nestor Garcia conseguiu foi organizar a equipe e dar a ela um senso de coletivo e combatividade — e nisso podemos todos concordar com Magnano: comparada ao Pan, a Copa América foi mai difícil do ponto de vista de intensidade e desejo, algo que faltou à seleção brasileira. Essa evolução vinotinto veio, naturalmente, num processo gradual. Na Copa América de 2013, em casa, terminaram na quinta colocação e só não foram à semifinal devido a uma derrota dramática para Porto Rico pela segunda fase, por 86 a 85. Um pontinho que os tirou da semifinal. No ano seguinte, foram campeões do Sul-Americano. Antes que você engasgue com a competição, atente que Laprovíttola, Richotti, Safar, Delia, Augusto, Rafael Luz, Meindl, Felício, Hettsheimeir e Raulzinho estiveram em ação por lá. Agora, na Cidade do México, deram a grande rasteira.

A façanha aconteceu mesmo que não contassem com sua principal estrela, Greivis Vásquez. Depois de anos e anos de serviço, tendo inclusive jogado o Sul-Americano, o armador recusou a seleção desta vez. Ironicamente, o ex-jogador do Raptors viu o time fazer seu melhor basquete justamente contra Cory Joseph, aquele que foi contratado para a sua vaga em Toronto, e Andrew Wiggins, com o qual a franquia canadense sonha desesperadamente para o futuro.

Como conseguiram isso? Primeiro que, tal como Magnano fez no Brasil, Garcia colocou os venezuelanos para defender como nunca antes visto na história desse continente, diria o outro. Na semifinal, adiantou sua marcação para contestar de qualquer maneira o arremesso de fora canadense. Com um time extremamente atlético e veloz, o rival ainda se mostrava mortal com sua artilharia exterior, listando sete jogadores com aproveitamento superior a 40%, com dois deles acima de 50%. Valendo vaga olímpica, foram limitados a 5-17 (29%). Isso porque Kelly Olynyk matou 3 em 4, num jogo excepcional.

Do outro lado, a estratégia ofensiva era claramente gastar a posse de bola. Nem que, para isso, tivessem de investir muito em jogadas individuais a partir do perímetro. Fosse com seus armadores malacos (Heissler Guillent, 28, talvez tenha feito a partida de sua vida, com 19 pontos em 22 minutos, matando quatro chutes de fora) ou com o peladeiro John Cox, o primo do Kobe nascido em Caracas (14 pontos em 15 arremessos, com seis cestas de quadra, algo nada eficiente), muito importante por sua habilidade no drible, fazendo o tempo passar. O ataque foi todo controlado. Em 40 minutos de um jogo extremamente nervoso, cometeram apenas dez desperdícios de posse de bola.

E aqui há o outro lado também: o Canadá sentiu a pressão. Na verdade, dois tipos de pressão. Primeiro que era o jogo mais importante, o único que valia em suas ambiciosas projeções, e eles estiveram abalados por este fardo. Quando esteve solta em quadra durante a competição, a molecada atropelou seus eventuais algozes (82 a 62!) e os mexicanos anfitriões. Segundo que houve a própria pressão venezuelana. Foi o time de Garcia que tirou os oponentes de uma zona de conforto, que os desestabilizou. E, aí, mérito para os atletas e para seu treinador. Garcia foi um caso à parte durante o torneio e, em especial, na decisão. Correu todo esbaforido na lateral de quadra, com seu conjunto esportivo geralmente desarranjado. Vejam isto:

Não acho que o técnico precise jogar junto com seus atletas, fazendo esse show todo. Sinceramente, embora o vine acima seja hilário, com direito a censura nada higiênica por parte do árbitro, prefiro uma figura mais discreta, que confie nas instruções que tenha passado ao seu elenco na preparação do jogo e que possa observar simplesmente o que se passa em quadra, anotando os ajustes necessários. Cada um na sua.  Garcia conseguiu, do seu jeito, fazer sua mensagem ser entregue. Por aqui, quando decide jogar para a torcida, Magnano usa outro expediente: queimar o filme de seus em praça pública.

Em diversos sentidos, a Venezuela virou exemplo, de postura, empenho e, principalmente, basquete e humildade. Algo que, admito não esperava escrever tão cedo e que Grevis Vásquez, ao contrário de Manu Ginóbili, flagrado no ginásio, nem pôde ver de perto.


Na (possível?) despedida de Dirk, o brilho e o choro também de Schröder
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Giancarlo Giampietro

Dirk Nowitzki, Germany, NT, National Team, EuroBasket, Berlin

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Dirk Nowitzki, despedida, Alemanha

São fotos que nem precisam de legenda, né?

Então escute:

Aparentemente, Dirk Nowitzki acredita que nunca mais vai jogar pela Alemanha, tendo se despedido em uma derrota para a Espanha de se castigar os nervos, pela última rodada do surreal Grupo B do EuroBasket. Foi 77 a 76, depois que o armador Dennis Schröder errou um lance livre a poucos segundos do fim, perdendo a chance de forçar o tempo extra.

Com a derrota, o time caiu logo na primeira fase, a despeito de ter feito jogos equilibradíssimos também contra Sérvia (bola de Bjelica no último segundo…) e Itália (prorrogação) e perdido ambos. O torneio só classifica diretamente para as Olimpíadas do Rio 2016 seus dois primeiros colocados, enquanto os times posicionados entre terceiro e sétimo serão endereçados a um Pré-Olímpico mundial.

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Dizemos “aparentemente” porque nem mesmo o craque germânico sabe direito. Com essas coisas, melhor sempre deixar o tempo correr, ainda que esteja claro que não restam muitos anos de quadra para a estrela do Dallas Mavericks. “Eu achava que seria o adeus. Mas agora ouvi que é uma chance para a Alemanha conseguir um convite para sedir o torneio Pré-Olímpico. Então temos de esperar e ver, ou nos reunirmos no ano que vem e conversar a respeito. Mas, para mim, na minha cabeça era o fim. Por isso me emocionei. Estava exausto. Deixei tudo o que tinha em quadra, e não conseguimos passar, o que foi muito decepcionante, afirmou. “Se existir uma pequena chance de jogar no próximo ano, se houver um Pré-Olímpico aqui na Alemanha, então com certeza esta seria minha última vez jogando pela seleção.”

Perceba, especialmente por sua segunda frase, que ele não quer cravar nada e que ela é um tanto confusa. Só esclarecendo um ponto: mesmo que não consigam mais se meter entre os sete primeiros, os alemães ainda poderiam entrar num torneio classificatório para o Rio se conseguirem convencer a Fiba, que não se cansa de extorquir suas confederações, a lhe conceder vender uma vaga de país-sede. Vai custar uma nota.

Está meio que implícito que ele tem o desejo de jogar pelo seu país uma última vez. Mas ninguém sabe se vai acontecer: a federação local não tem o costume de se dobrar diante da Fiba — no ano passado, quando desistiram do leilão por um ingresso da Copa do Mundo, disseram que “o processo não era nada viável” para eles. E outra: após sua 18a. temporada, beirando os 38 anos, Nowitzki vai estar inteiro e apto para se apresentar? Sem ele, valeria o esforço e a gastança?

Fossem os alemães um povo conhecido pela emoção excessiva, teríamos uma resposta positiva. Meio que para dar mais uma chance a uma seleção que lutou de modo valente, mas acabou sucumbindo num grupo muito difícil. Em qualquer outra das três chaves do EuroBasket, eles teriam avançado. Isso é certo. Além do mais, se o próprio Dirk está deixando a porta entreaberta, porque não escancará-la de vez? Mas, bem, entre uma ação sentimentaloide e a mais pragmática e racional, o país de Kant, Marx, Nietzsche, Schopenhauer, Arendt, Adorno e Habermas tende a pender para o outro lado. Né?

Até porque, em termos de emoção, talvez o basqueteiro alemão já tenha esgotado a cota de todo um ciclo olímpico nesta quinta-feira.  Primeiro por causa do choro desconsolado de Schröder, que jogou tanto e perdeu seu único lance livre na hora mais dolorida (mais a respeito, logo mais). E aí teve a reverência a um dos maiores jogadores de todos os tempos. O curioso é que, antes de ficar sozinho no centro do ginásio e ser ovacionado, Dirk primeiro cuidou de abraçar seu jovem armador. Depois, ainda deu uma entrevista para a TV local na lateral da quadra. Afinal, tudo tem seu tempo. “Zeeee germanzzzz”, é o que murmuraria o cigano Brad Bitt em algum trecho de Snatch.

“Só fiquei agradecido pela torcida.  Mas o reconhecimento e respeito que eles mostraram por mim, cantando meu nome… Isso significou muito para mim, e me emocionei. Foi um momento fantástico para minha carreira e vou me lembrar para sempre”, disse o astro. Oras, qualquer outro comportamento diferente por parte dos torcedores teria sido ainda mais absurdo do que o grupo em que a seleção alemã caiu. Antes deste EuroBasket, Nowitzki teve médias de 20,3 potnos e 7,2 rebotes em torneios Fiba. Com ele, o país conseguiu os melhores resultados de sua história: o vice-campeonato europeu há 10 anos, perdendo para um esquadrão grego, e uma mais que honrosa medalha de bronze no Mundial de 2002, ficando atrás apenas de Iugoslávia e da geração dourada da Argentina, pela qual foi derrotado na semifinal tomando uma virada de 27 a 18 no último período.

Foi de arrepiar. Para mim, admito, qualquer ovação faz isso. Talvez até mesmo em um torneio escolar. Mas aquela cena berlinense, com 13.600 torcedores agitando, foi mais tocante pelo que havia acabado de assistir em quadra. Se o seu compadre Steve Nash já se foi, as habilidades de Nowitzki estão perto de.  Sua linha estatística na provável saideira entrega: 10 pontos, 7 rebotes e apenas 3-6 nos arremessos em 29 minutos de ação. O craque foi muito bem marcado por Nikola Mirotic, um ala-pivô que é 13 anos mais jovem e ágil, mas a verdade é que isso jamais seria possível em 2011, quando ele guiou o Mavs rumo a uma conquista tão bonita — e emocionante.

O arremesso ainda precisa ser respeitado, claro

O arremesso ainda precisa ser respeitado, claro

Isso foi a apenas quatro temporadas, quando Dirk já não pegava mais a bola em seu garrafão e cruzava a quadra galopando em quatro ou cinco segundos, como uma força revolucionária, um ala-pivô de 2,13m de altura mais habilidoso, fundamentado e coordenado do que 95% dos atletas 10 ou 15 centímetros mais baixo. Rumo ao título, todavia, ele ainda tinha o arranque para sair da linha de três até o garrafão. A mobilidade para cortar os adversários a partir do chute. O camisa 14 do jogo contra a Espanha estava com os quadris travados. Estático em quadra,e  vêm daí seus cinco turnovers. Ele não conseguia colocar a bola no chão. Virou um chutador, e só. Mesmo seus fadeaways e step-backs estavam saindo com dificuldade imensa. Imagine, então, seu deslocamento defensivo.

Pode ser uma avaliação injusta. Afinal, era só uma partida. E ele, veterano, ainda não está nem mesmo em seu ritmo de pré-temporada. Mas não é que seu EuroBasket tenha sido tão diferente assim. Terminou com 13,8 pontos, 7.8 rebotes, 1,6 assistência e apenas 36,4% nos arremessos (33,3% de longa distância). O que ele ainda conseguiu fazer ao menos foi deslocar lances livres, cobrando 28 em cinco partidas. “Tenho certeza de que não fiz um ótimo torneio como todos esperavam, ou como eu mesmo esperava”, resume. Vou dizer: foi triste e doloroso de ver. Esses caras estão indo todos.

Nowitzki, Alemanha, Germany, adeus

*    *    *

Outro grandes pecado que se tira do extremamente tenso e emocional jogo contra a Espanha: o fato de que, em sua trajetória alemã, Nowitzki não tenha visto nem mesmo os resquícios de seu auge técnico se encontrado com Schrödinho, cujos melhores anos ainda estão por vir, por outro lado. A NBA e as demais seleções europeias que se preparem para tanto. Nem deve demorar tanto.

Enquanto seus tempos de dominância não chegam, o jovem armador alemão vai ter de conviver por um tempo com o lance livre que desperdiçou contra a Espanha. Chorou pacas em quadra, e não foi por causa de Dirk. Mas essas são as “dores de se crescer”, pegando emprestada uma expressão inglesa tão bacana. Vejam aqui:

O armador do Atlanta Hawks vinha de 26 pontos, 7 assistências e 6 rebotes, aterrorizando armadores do quilate de Sergio Rodríguez e Sergio Llull. Os dois Sergios do Real Madrid e o sagaz Pau Ribas, recém-contratado pelo Barcelona, tentaram, mas não conseguiram brecar o alemãozinho, que é muito explosivo matreiro com a bola, dias antes de completar 22 anos.

Vem daí o fato de, não sei se repararam, a arbitragem dar uma espécie de “lei da vantagem” em sua arrancada rumo aos fatídicos lances livres. Antes de ser empurrado por Ribas no ato do chute, no meio da quadra, ele já havia sofrido uma falta quando cruzava a quadra. Além do fator casa e da própria adrenalina do momento, sabe o que acho que passou pela cabeça dos árbitros? Algo como: “Esse garoto é tão rápido, mas tão rápido que esses barbudos espanhóis só conseguem pará-lo com falta. E, com a vantagem no placar, eles vão fazer falta, mesmo. Acontece que, nesse contexto, essas faltas são intencionais, mas, no nosso manual, ainda se configuram como ‘de jogo’. Então vamos dar uma chance para esse pestinha passar pela primeira falta e ver o que acontece. É injusta essa vida, especialmente a nossa de árbitro”.

Schroedinho rumo à cesta contra a Sérvia

Schroedinho rumo à cesta contra a Sérvia

Qualquer alemão racional que se preze que ler esse parágrafo com a ajuda do Google Translator obviamente não vai entender nada. Afinal, se a regra é clara, por que quebrá-la? Mas não tenha dúvida de que acontece, gente. É o inverso do raciocínio que levou Shaq a protestar tanto em quadra durante seus anos de Laker. Ele era tamanha aberração que os árbitros simplesmente desconsideravam — ou não conseguiam ver, mesmo — o tanto de pancada que ele tomava. Afinal, por maior o número de hematomas que exibisse no vestiário, O’Neal conseguia finalizar e enterrar tudo o que via pela frente. Claro que ele tinha lances livres a favor. Sabemos muito bem disso. Mas a verdade é que ele poderia ter batido ainda muito mais que os 11.252 que somou em sua carreira.

Nesse duelo com a Espanha, as habilidades de Schrödinho o favoreceram. Se não acredita, se acha que foi mera amarelada da arbitragem num momento capital, é porque não viram a posse de bola anterior da Alemanha, na qual aconteceu a mesma coisa, com uma falta de Llull ignorada ainda no campo de ataque. Na ocasião, o armador conseguiu, então, descer a quadra para, então ser parado de vez.

Os espanhóis decidiram apelar depois que, na antepenúltima posse alemã, o prodígio deu uns 79 giros em sequência, a 100 km/h, deixou todo o ginásio tontinho da silva e ainda teve equilíbrio para passar a bola para trás e encontrar o compatriota Maodo Lo, que superou a vertigem para encaçapar uma de três. (Aliás, olho nesse outro jovem armador alemão, que joga pela prestigiada, academicamente falando, Universidade de Columbia. Atrevido com a bola e belo chutador. Já é mais velho que o titular, porém, caminhando para os 23 anos em dezembro.)

100% carisma

100% carisma

A velocidade e a habilidade de Schröder já são conhecidas desde o seu tempo de Braunschweig. Em Atlanta, o que ele vem treinando bastante é no seu arremesso, e os resultado estão aparecendo. Num jogo tão importante como esse, o rapaz chutou com muita confiança e consistência. Colocou um arco bonito na bola. Durante o torneio, o aproveitamento foi de 31,6%, mas nos lances livres ele matou 83,3%, mostrando que tem potencial para o fundamento.

Por falar em confiança, esse é um aspecto que chama muito a atenção. Há vezes em que o armador parece excessivamente colhudo em quadra, para alguém que ainda não ganhou nada na carreira. Mas é o tipo de comportamento que, acredito, vá levá-lo adiante. Há quem veja nos seu gestos traços de arrogância. Ou talvez ele seja apenas um jovem jogador ciente de sua enorme capacidade e de que há poucos defensores que vão conseguir, nos próximos anos, se manter à sua frente. Num momento em que ainda se precipita constantemente com a bola para chutar ou forçar um passe, ele já soma 21,0 pontos e 6,0 assistências (com 4,2 turnovers, claro) um EuroBasket. O seu primeiro torneio com a seleção adulta, registre-se. Imagine quando estiver no terceiro e com a leitura de jogo afiada.

Se a seleção crescer junto — e tudo indica que vá acontecer, com a liga nacional crescendo a passos largos, à medida que jovens coadjuvantes como o polivalente ala Paul Zipser, o ala-pivô Maximilian Kleber e o pivô Maik Zirbes também despontam –, Schrödinho vai ter muitas oportunidades ainda para compensar o lance livre desperdiçado. Pena que Nowitzki não estará por perto. A não ser que, no ano que vem, os dirigentes alemães confederação nacional se deixem contagiar pelo sentimentalismo.


Prepare-se para o jogo do ano pelo mundo Fiba
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Giancarlo Giampietro

Gustavo Ayón, Argentina, México, Fiba Américas

Existem Pré-Olímpicos, e existe o EuroBasket, é verdade.

Mas, no calendário Fiba deste ano, o melhor jogo tende a ser este México e Argentina, que nos aguarda na sexta-feira. Os dois times já fizeram uma grande partida nesta quarta, fechando a segunda fase, com os donos da casa efetuando mais uma virada improvável, vencendo por 95 a 83. O resultado tirou Luís Scola e Andrés Nocioni da primeira colocação geral e agendou uma revanche na semifinal. Do outro lado, o Canadá. Para quem não sabe ainda, apenas os dois finalistas garantirão vaga direta às Olimpíadas do Rio 2016.

Os mexicanos comemoram tanto, mas tanto a vitória sobre os então invictos argentinos, que é preciso cuidado com o que se deseja. Tá certo que foi uma batalha emotiva e que, no plano continental, a Argentina ainda é vista como referência, tendo ainda em sua escalação dois campeões olímpicos que já são lendas vivas. Mas me parece claro que a festa que os anfitriões fizeram não foi só por uma grande vitória. Para os caras, ela se tornou mais especial pelo fato de terem fugido do Canadá na disputa pela vaga olímpica premium. Ao que parece, a surra que tomaram na terça-feira teve efeito traumatizante. A garotada canadense abriu vantagem de 22 pontos já no primeiro tempo, ignorando o ginásio cheio e barulhento.

Isso a gente não percebe  apenas pela festa, mas também pelo empenho dos atletas durante todo o confronto. Gustavo Ayón jogou 40 minutos. Outros três titulares ficaram em quadra por 34 minutos ou mais. Ah, mas do outro lado também teve um empenho considerável e a derrota foi dolorida. Sim, sim. Mas há uma diferença aqui: a Argentina queria muito jogar contra a Venezuela na semifinal. O México fez de tudo para não enfrentar o Canadá. “Era a partida que tínhamos de ganhar. Nos últimos dias, foi dito por aí que o México já estava praticamente fora, devido ao cruzamento com o Canadá, mas demonstramos que não é assim”, disse o próprio Ayón. De qualquer forma, los cabrones fizeram sua parte. Entregar a partida é que não fariam, dãr. Agora, vão lidar com Scola e Nocioni novamente.

Scola x Ayón

*   *   *

Assim como os craques argentinos vão precisar encarar um ginásio infernal. Não vai ser nada fácil, e esse é o fator que, para mim, turbina as expectativas para o jogo de sexta. Veja ao final o ranking de ingredientes que tornam o jogo imperdível.

A torcida mexicana bateu o recorde de público para uma partida de Copa América nesta quarta, com mais de 16 mi espectadores no Palacio de los Deportes. Sabemos bem como esses caras são calorosos. O mexicano, no fim, também é outro que gosta muito mais de esporte do que o brasileiro, que prefere a vitória. Por isso, a mera ideia de se realizar essa partida no mítico estádio Azteca nem soa absurda. Certeza de que os torcedores o lotariam. E eles têm empurrado a equipe. O clima foi fundamental para uma virada impressionante no período final, o qual sua seleção venceu por 36 a 11. Sergio Hernández afirmou na coletiva que não se lembra de um jogo pela equipe nacional em que tenha levado tantos pontos assim num só quarto. (O que ele não disse é que deu uma boa contribuição para tanto, deixando o jogo correr solto quando seus atletas não encontravam rumo em quadra.)

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O México obviamente não avança só à base de empolgação. Lembrem-se que jogam como os atuais campeões do torneio, depois de triunfarem na Venezuela, milhas e milhas ao Sul de Nayarit, onde conquistaram o CentroBasket de 2014. A rotação, na hora do vamos ver, foi enxugada pelo espanhol Sergio Valdeolmillos. Contra a Argentina, jogaram basicamente sete atletas, descontando os três minutos dados a Marco Antonio Esquivel e o grandão Rodrigo Zamora. Nesse grupo de sete homens de confiança, porém, há gente talentosa, para além de Ayón.

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Jorge Gutiérrez está sempre atacando, com um dinamismo que incomoda a oposição (12,9 pontos, 4,4 assistências e 4,4 rebotes). É um armador alto, forte e rápido para este nível. Se aprender a arremessar minimamente bem de fora (tem 10-48 em sua carreira pela seleção), fará estragos. O ala Francisco Cruz é outro que merece menção. Tem todo o tipo de um rato de ginásio, daqueles que encontra maneiras para colocar a bola na cesta, mesmo que seja lento (poderia muito bem despejar alguns quilinhos). Sabe aquela coisa de conhecer os atalhos, né? Além disso, seu arremesso de fora é muito bonito e também eficiente a partir do drible (44%). E ele sabe usar essa arma ao seu favor, para poder se aventurar em direção à cesta. Cheio de confiança, anotou 21 pontos nesta quarta, mas também contribuiu com seis rebotes, dois ofensivos até, e cinco assistências. Do ala-pivô Héctor Hernández (11,8 pontos e 5,0 rebotes), você nunca sabe o que esperar. Surpreendentemente ágil para alguém de seu tamanho e bom chutador de longa distância, ainda que, neste torneio em específico, não esteja convertendo os arremessos. O armador Paul Stoll consegue ser ainda mais enjoado que Barea e Campazzo com a bola. O ala Juan Toscano-Anderson, que tem bolsa na Universidade de Marquette, é uma grata adição. Aos 22 anos, tem dificuldade gritante para finalizar, mas causa impacto com seu físico e envergadura. Joga pesado e dá suporte aos mais talentosos cuidando das pequenas coisas e tem dado 3,3 assistências em média, sabendo ler o jogo em meio a suas infiltrações desajeitadas.

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Agora, claro que, sem Ayón, não iriam a lugar algum. Contra a Argentina o pivô mostrou novamente o quão especial é como jogador. Se a NBA não o soube aproveitar, azar da NBA, sorte do Real Madrid. Ele fez um esforço hercúleo neste triunfo: 38 pontos, 14 rebotes, 4 tocos e , 4 assistências. Com um bônus: a defesa para cima de Scola no quarto período. Pode parecer uma provocação, ou heresia até, mas vamos lá: hoje o mexicano entrega mais que o craque argentino. Em termos de valor para uma determinada equipe, tudo depende do contexto. Essa renovada seleção argentina precisa desesperadamente dos talentos ofensivos de seu legendário camisa 4, alguém que pode criar situações de cesta por conta própria, com um repertório professoral de movimentos. Ayón não tem a classe ou o arsenal do cabeludo, mas já mostrou que tem um gancho confiável. Também sabe se deslocar muito bem fora da bola, ficando à disposição dos companheiros na hora do aperto. Na defesa, também está quase sempre bem posicionado e usa seu vigor e agilidade para se impor num torneio como a Copa América que não tem tantos grandes atletas. Os armadores latinos, como Laprovíttola, parece que ainda não se deram conta disso. Não adianta Sua presença foi o suficiente, por exemplo, para forçar uma andada e outros arremessos mais precipitados por parte de Scola, preocupado em fugir de seus tocos.

É por isso que ele é o orgulho de Zapotán:


(Aos leitores de outras encarnações que já tenham visto este vídeo umas trocentas vezes, perdón não precisam agradecer, ok? O prazer é todo meu.)

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Neste jogaço, de todo modo, o México se resumiu a três nomes: Ayón, Gutiérrez e Cruz, que somaram 82 dos 95 pontos mexicanos. Só sobraram sete arremessos para os demais jogadores. Não é das práticas mais saudáveis e, ainda assim, a defesa argentina quase permite uma quantia centenária. Ai. Dá para imaginar a ansiedade e o frio na barriga de nossos hermanos, que formam uma comunidade basqueteira muito apaixonada.

O duelo com os mexicanos é um pouco traiçoeiro do ponto de vista tático para Hernández. Scola não consegue marcar Ayón e precisa de ajuda nessa. Por mais valente e determinado que seja, Nocioni também sabe, desde os treinos do Real, que não dá conta. Restam, então, Delia e Gallizzi. O espigão Delia talvez seja hoje aquele nome que mais desperta angústia na Argentina. Em vez de se desenvolver, parece que o pivô regrediu nos últimos dois anos. No primeiro jogo, Delia ficou em quadra por 20 minutos e, embora tenha terminado com apenas três pontos e dois rebotes, ao menos conseguiu atrapalhar um pouco o pivô mexicano. Tem hora que o tamanho, sozinho, ajuda. Talvez seja o caso de reduzir os minutos do novato Patricio Garino, xodó nacional, que não tem quem marcar do outro lado. Ou encaixá-lo na rotação de outra forma, pois vale apostar mais na dupla armação com Laprovíttola e Campazzo. Mesmo que o ex-flamenguista fique em posição de inferioridade (física) contra Gutiérrez, ainda é a melhor pedida.

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Vendo Campazzo, fica claro como a cobrança e as expectativas em torno de um jovem armador precisam ser moderadas. Ainda mais um cara tão elétrico assim. Ele funciona na correria, mesmo — e esta seleção argentina em específico corre como nunca. Com o tempo, Campazzo vai entender, porém, que há momentos em que o uso do freio também é uma boa solução, se não a melhor. No quarto período, o futuro companheiro de Benite e Augusto perdeu a mão. Energia por energia, o adversário jogava amparado por 16 mil pessoas.

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O Canadá é favorito absoluto contra a Venezuela. No hotel, cada um em seu quarto — ou todos juntos no bar? –, devem ter comemorado o desfecho do último jogo do dia, depois de terem atropelado a combalida República Dominicana.  Quando os dois times se enfrentaram pela primeira fase, os norte-americanos também resolveram a parada já no primeiro tempo, encaminhando um triunfo por 20 pontos, mesmo tendo cometido 22 turnovers. A equipe vinotinto não tem um jogo interior que inspire muito medo, e s proteção de cesta seria aquilo que mais chega perto de um ponto fraco de seus adversários. No perímetro, eles estão equipados para conter a movimentação de caras como Cox, Colmenares e Cubillan, que precisaria estar muito inspirados para se pensar em aprontar algo. A turminha de Andrew Wiggins só não pode entrar com o um tênis de solado muito alto, digamos, já que são apenas 40 minutos para se definir todo um trabalho. Os venezuelanos fizeram partidas muito mais competitivas em relação ao que se esperava e têm um técnico argentino ardiloso. Derrubar os canadenses, com seus nove atletas de NBA e que evoluíram gradativamente durante a competição, seria para Nestor “Che” Garcia uma proeza similar à de Rubén Magnano com a Argentina pelo Mundial de 2002.

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Resumindo, então, por que você não pode perder este jogo?

1) O ginásio vai bombar. Vale vaga olímpica.

2) A presença de Scola e Nocioni. Nunca sabemos quando pode ser a despedida de duas lendas dessas, mesmo que eles nem cogitem o assunto.

3) Scola x Ayón.

4) Nocioni x o povo mexicano.

5) Gutiérrez x Laprovíttola.


Os Mercenários 4: a luta pelo EuroBasket
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Giancarlo Giampietro

Os Mercenários, The Expendables

Uma das séries mais cara-de-pau que você vai encontrar nos cinemas, “The Expendables” — ou “Os Mercenários”, por aqui — já tem seu quarto episódio anunciado e, talvez, em fase de produção, com um ator no mínimo curioso escalado para o papel de vilão: o ex-007 Pierce Brosnan, que definitivamente não tem moral na quebrada, como o esnobado Idris Elba. Não se sabe ainda muito qual será o enredo, mas você não precisa ser muito bidu para deduzir, né? O filme serve apenas para Sylvester Stalonne fazer mais um troco, enquanto enumera piadas com antigos e novos heróis dos filmes de ação, que tanto bombaram nas locadoras dos anos 80.

O VinteUm só vem aqui pedir uma coisa: não dê atenção aos rumores de que a nova trama de Sly possa envolver o EuroBasket a que estamos assistindo agora, mesmo, a despeito dos diversos jogadores de aluguel que as seleções nacionais estão empregando. Vale tudo em busca do título, da vaga olímpica e de uma eventual festa com multidão nas ruas no retorno para casa. Acredite, na Europa isso é possível até mesmo para o basquete. No caso de alguns atletas, porém, a gente só não sabe exatamente para qual casa ele estará voltando.

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O competição europeia está em outro nível, ainda mais quando comparada com a pobrinha Copa América. (Conselho: só não usem esses termos na hora de bater um papo com a turma da CBB, tá? Você vai ferir sentimentos). A França já penou para ganhar da Finlândia, na prorrogação, e quase viu a Polônia também forçar o tempo extra. A Lituânia nem sabe o que dizer depois de perder para a Bélgica neste domingo. Tem sido assim, gente, há um tempo já.

Renfroe nunca jogou na Bósnia. Mas é bósnio

Renfroe nunca jogou na Bósnia. Mas é bósnio

A coisa de não ter mais bobo foi levada ao extremo por lá. E o que acontece quando se vive um campeonato tão competitivo assim? Tal como acontece na NBA — a não ser que estejamos falando do Philadelphia 76ers, claro –, os times vão se desdobrar para tentar levar vantagem em algum detalhe, uma sacada que seja, tentando se distanciar de um largo grupo de concorrentes. É nesse contexto que entram os mercenários, aqueles jogadores contratados naturalizados, que já são a norma no mundo Fiba hoje, em vez da exceção.

Os norte-americanos estão por todos os lados. Tem hora que você pode até mesmo se confundir se não está vendo a própria Copa América, ainda mais quando a Finlândia pode por em seu quinteto titular os seguintes nomes: Erick Murphy, Jamar Wilson e Gerald Lee. Ainda assim, calma. Porque esses três atletas em específico até nos contam histórias que justificam sua presença no selecionado dos #Susijengi. Lee, na verdade, é finlandês. Murphy tem mãe finlandesa. Wilson já jogou por lá. Existem outros atletas que simplesmente acompanham movimentos migratórios que claramente independem do esporte. Há, porém, casos descarados, como o do armador Jerome Randle na Ucrânia, do ala Alex Renfroe na Bósnia-Herzegovina, em que o único vínculo existente é o passaporte expedido, ou comprado, como queiram.

Na Finlândia, tem festa antes mesmo da viagem

Na Finlândia, tem festa antes mesmo da viagem

A Fiba, do seu lado, é extremamente conivente com algumas situações que são vergonhosas e podem causar desequilíbrio e/ou bagunça em suas competições. Basta dar uma olhada na grande piada que é o texto de seus regulamentos a respeito. Chega a ser difícil de entender, já que cada regra aparentemente firme vem quase que obrigatoriamente acompanhada por um “mas” ou “com exceção de”.  Este parágrafo acaba dando o recado geral: “No entanto, em circunstâncias excepcionais, o Secretário Geral pode autorizar que determinado atleta jogue por uma seleção para a qual esteja inelegível se, de acordo com o artigo 3.23 e se essa decisão zela pelo desenvolvimento do basquete nesse país”. Traduzindo: pode tudo. E o mais engraçado é o complemento: “Uma taxa administrativa decida pelo Secretário Geral pode ser paga à Fiba”. A federação, claro, ainda arruma um meio de faturar uma grana. Tudo em prol do progresso da modalidade, claro.

No ritmo do bumba-meu-boi, seguem, então, os mercenários do EuroBasket, devidamente catalogados. De 24 seleções nacionais, apenas Eslovênia, Estônia, Islândia, Itália, Letônia, Lituânia, Rússia e Sérvia (sem contar os jogadores nascidos em territórios balcânicos fronteiriços…) não estão fazendo uso de reforços estrangeiros:

Anton Gavel, versão eslovaca

Anton Gavel, versão eslovaca

Alemanha: Anton Gavel, armador.
País de origem: Eslováquia
Categoria: homem de duas pátrias.
Jogou por outra seleção? Sim.
Vínculo: ele mora em território alemão desde 2000. Ganhou o passaporte em janeiro de 2013. Embora tenha defendido a seleção eslovaca em 2005, 2007, 2009, 2011 (sempre pela Segunda Divisão do EuroBasket) e até mesmo dois anos atrás, na qualificação para o torneio, pediu à Fiba para que pudesse mudar de nacionalidade em competições internacionais. “Já joguei por meu país nativo no passado, mas gostaria de jogar pela Alemanha, o país que virou minha segunda casa”, afirmou o atleta do Bayern de Munique. Em agosto, recebeu o sinal verde da federação.

Com a modalidade em franca expansão em seu território, é de se imaginar que a confederação germânica não vá apelar a esse tipo de expediente num futuro próximo, mesmo que Dirk Nowitzki esteja nas últimas. Chris Kaman já foi um desses reforços meio mambembes no passado, depois que descobriram que um de seus avós era alemão. Bom defensor, Gavel tem média de 25,5 minutos pela seleção alemã em duas partidas até o fechamento deste texto. Acertou apenas quatro de 12 arremessos de quadra e 1 de 8 de longa distância. A ironia é que, soubesse o técnico norte-americano Chris Flemming que teria tantos desfalques em sua linha de frente, talvez o país fosse procurar algum pivô para naturalizar.

Bélgica: Matt Lojeski, ala
País de origem: Estados Unidos.
Categoria: pagou pedágio.
Vínculo: antes de se transferir para o poderoso Olympiakos, Lojeski jogou no basquete belga por seis temporadas, período no qual obteve cidadania. Foi pelo Oostende que ele arrebentou:  Nesse período, levando em conta seu sobrenome, é de se deduzir que algum país do Leste europeu deu bobeira. conquistando duas copas e dois campeonatos belgas, sendo eleito MVP de ambas as competições em 2013.

Americano pouco badalado nos tempos de universitário, Lojeski se tornou um cestinha de primeira linha na Europa e é importantíssimo para a seleção belga. Na verdade, é seu melhor jogador, com média de 16,3 pontos, 4,0 rebotes e 3,3 assistências em três rodadas e aproveitamento de 59,4% nos arremessos de quadra, incluindo 50% dos três. No domingo, protagonizou um dos grandes momentos da competição até o momento, fazendo a cesta da incrível vitória sobre a Lituânia, que deixou o Grupo D bastante embolado.

E o que mais? A Bélgica ainda conta com três jogadores nascidos no Congo: o armador Jonathan Tabu, o ala Wen Mukubu e o pivô Kevin Tumba. Tabu foi revelado pelo Charleroi e Tumba, pelo Mons-Hainaut. Já Mukubu cresceu nos Estados Unidos, jogando high school e no basquete universitário. Aos 33 anos, já rodou o mundo e só em 2011 chegou à Bélgica.

Bósnia-Herzegovina: Alex Renfroe, armador
País de origem: Estados Unidos.
Categoria: mercenário.
Vínculo: hã… Nenhum, gente. Hoje atleta do Bayern de Munique, aos 29 anos, Renfroe construiu seu currículo aos poucos na Europa, à qual chegou em 2009, via Letônia. Passou por Croácia, Itália, Espanha, Alemanha, Rússia, voltou à Espanha e, na temporada passada, regressou à Alemanha, onde fez bela temporada pelo Alba Berlin. Nunca defendeu um clube de seu novo país e, ainda assim, recebeu o passaporte bósnio neste ano para poder jogar o EuroBasket, desbancando o compatriota Zach Wright, que havia disputado o torneio em 2013.

Num time sem Mirza Teletovic e Jusuf Nurkic, não havia muito o que fazer, mesmo. De todo modo, para justificar seu passaporte, Renfroe topou se matar por Dusko Ivkovic nos treinos. Titular na armação, tem médias de 9,3 pontos, 5,3 assistências e 5,0 rebotes, matando 71,4% dos arremessos de fora. É um armador que não estrela jogadas espalhafatosas, mas dá estabilidade ao ataque.

Croácia: Dontaye Draper, armador
País de origem: Estados Unidos.
Categoria: pagou pedágio.
Vínculo: Draper foi outro que viajou bastante antes de conhecer a Croácia de perto. Jogou pelo Cedevita Zagreb de 2010 a 2012 e durante esse período ganhou a cidadania. Pelo clube croata, fez sucesso e foi MVP da Eurocup 2011. Sua cotação subiu tanto que, de lá, saiu para o Real Madrid. Hoje ganha uma bolada pelo Lokomotiv Kuban, da Rússia. Jogou os últimos dois EuroBaskets.

Draper, um dos dois armadores americanos para a seleção croata

Draper, um dos dois armadores americanos para a seleção croata

Aqui, talvez a maior heresia. A seleção croata importando um armador dos Estados Unidos. E só piora: na verdade, Draper dessa vez foi chamado de última hora. Sua vaga seria ocupada por Oliver Lafayette, que se lesionou durante a fase de preparação e defendeu o país na última Copa do Mundo. Ao contrário do compatriota, Lafayette jamais jogou por um clube croata. O mais perto que chegou do país foi pelo Partizan Belgrado. Ai. Ainda assim, teve sua nacionalização bancada pelo comitê olímpico croata, com base em “interesses esportivos”. Então tá. Curiosamente, Draper teve média de apenas 13 minutos por partidas nas duas primeiras rodadas. Precisava?

Espanha: Nikola Mirotic, ala-pivô
País de origem: Montenegro.
Categoria: homem de duas pátrias.
Vínculo: olha, é difícil descrever em detalhes a novela espanhola da qual faz parte Mirotic, que se mudou para Madri, para jogar pela base do real em 2005, aos 14 anos. Somente em 2010, porém, que foi naturalizado. Quando os dirigentes já sabiam que estavam lidando com um craque, diga-se, sendo obrigado a renunciar a seu passaporte montenegrino. Naquele ano, foi destaque do EuroBasket Sub-20, levando a medalha de bronze. Voltaria a jogar pelo torneio em 2011, sendo dominante.  Desde, então, porém, chegou a bater boca publicamente com os dirigentes espanhóis, afirmou que voltaria a Montenegro e tudo o mais, enciumado pela preferência dada a Serge Ibaka em verões passados. Não deixa de ser vergonhoso que um país que se orgulhe tanto de sua produção de talentos desde as Olimpíadas de 1992 apele desta maneira.

Mirotic, MVP do EuroBasket sub-20 em 2011. Sem barba

Mirotic, MVP do EuroBasket sub-20 em 2011. Sem barba

Com Ibaka afastado por divergências esportivas, digamos, Mirotic enfim foi convocado para uma competição internacional. Está a serviço de uma grande seleção, porém, com minutos controlados numa rotação que inclui seu companheiro de Chicago, Pau Gasol, e seu ex-parceiro de Real, Felipe Reyes. Demora um pouco para ele se soltar, mas é de se esperar que um talento desse nível eventualmente vá causar grande impacto pela seleção espanhola. Para um futuro sem Gasols, deve se tornar a referência do time.

Finlândia: Erik Murphy, ala-pivô, e Jamar Wilson, armador
País de origem: Estados Unidos.
Categorias: descendente e pagou pedágio.
Vínculo: a história de Murphy, ex-jogador do Chicago Bulls e hoje no Beskitas, é simples: sua mãe, Päivi, é finlandesa. Por isso, no futuro, dependendo de seu conturbado desenvolvimento na NCAA, pode ser que o irmão caçula, Alex Murphy, também entre para essa alcateia. Erik já disputou no ano passado a Copa do Mundo. Natural do Bronx, Wilson se formou por Albany em 2007 e partiu para a Europa. Jogou na Bélgica de 2007 a 2010, quando migrou para a Finlândia. Ficou uma só temporada na liga escandinava, jogando pelo Honka Espoo Playboys. : ) Talvez traumatizado com o frio, arrumou as malas e se mandou para a Austrália, onde jogou até este ano. Agora, assinou com o Rouen, da França.

Murphy já virou O Cara. Como se escreve isso em finlandês?

Murphy já virou O Cara. Como se escreve isso em finlandês?

Depois de um ano de adaptação, Murphy já se tornou o cestinha finlandês, com 16,7 pontos, e também o principal reboteiro, com 9,0, em 32 minutos. Wilson joga exatamente a metade, mas ajuda Petteri Loponen na armação, com 9,7 pontos e 2,0 assistências.

Geórgia: Jacob Pullen, armador
País de origem: Estados Unidos.
Categoria: mercenário.
Vínculo: fora o passaporte, nenhum. Não fosse a lesão sofrida por Ricky Hickman pelo Fenerbahçe, talvez nem estivesse aqui, embora já tenha disputado a edição de 2013. Estrela de Kansas State de 2007 a 2011, Pullen foi bem examinado pelos scouts americanos, mas não teve propostas da NBA. Está vagando pela Europa há um tempo, então, tendo descolado inclusive um contrato do Barcelona. Ficou pouco tempo, porém, na Catalunha e, após o EuroBasket, vai defender o Cedevita Zagreb.

Pullen é um belo arremessador, mas não acertou quase nada nas duas primeiras partidas. Foram apenas duas cestas de quadra em 12 tentativas. Zaza Pachulia e a Geórgia obviamente esperam que ele renda mais para que tentem se recuperar no torneio e alcançar a fase de mata-matas.

Grécia: Nick Calathes, armador, e Kosta Koufos, pivô
País de origem: Estados Unidos.
Categoria: descendentes.
Vínculo: os bisavós de Calathes emigraram da Grécia para os Estados Unidos. Seu avô nasceu já nasceu em Nova York em 1926. Já um jogador de destaque pela Universidade da Flórida, o armador se aproveitou da facilidade de se obter a cidadania grega e se mandou para a Europa em 2007, assinando com um clube do porte do Panathinaikos. Com altos e baixos na NBA, sempre numa luta ferrenha por tempo de quadra, decidiu voltar ao clube para a próxima temporada, num contrato que vai lhe pagar, líquido, US$ 7 milhões. Presença constante na seleção helênica. Já Koufos tem pais gregos e talvez represente minha trívia predileta. Ele nasceu em Ohio e e fez o circuito básico de um prospecto americano. Nunca jogou por um clube europeu, tendo recusado uma proposta do Olympiakos de 5 milhões de euros por três anos. O pivô não defendia a seleção desde 2011, mas também participou de torneios de base pelo país.

A presença de Calathes e de Koufos faz da Grécia um dos elencos mais completos e vastos do EuroBasket. O excesso de jogadores ajuda que tenham minutos controlados. O armador ficou 41 minutos em quadra nas duas primeiras rodadas, enquanto Koufos jogou 37. O pivô, em especial, é um grande reforço, sendo um defensor muito mais atento e eficiente que Bourousis. Além disso, tem arremesso de média distância.

Holanda: Nicolas de Jong e Robin Smeulders, pivôs
Origem: França e Alemanha.
Categorias: descendentes e o mais puro samba do crioulo doido.
Vínculo: ah, a Europa, e suas múltiplas fronteiras e curtas distâncias. Temos aqui um time cheio de “estrangeiros”, mas que, na verdade, têm escalação mais coerente do que a da maioria dos atletas aqui listados. Vamos lá: Nicolas de Jong nasceu na França, com pai holandês, e fez carreira por lá. Já Smeulders tem mãe austríaca e pai holandês, mas nasceu em Muenster, na Alemanha. Por isso, tem tripla nacionalidade. Para complicar, passou a infância entre terras germânicas e holandesas, fez colegial no Havaí e se formou pela Universidade de Portland em 2010. Como profissional, jogou sempre na Alemanha e hoje defende o Oldenburg. Para completar, o ala Worthy de Jong e o armador Charlon Kloof vieram do Suriname, então nem contam, enquanto  Mohamed Kherrazi nasceu no Marrocos, mas emigrou cedo. E eu, inicialmente, achando que o armador Leon Williams era o gringo aqui. Apesar do nome, nasceu na Holanda, mesmo.

Smeulders tinha três países para escolher em sua carreira Fiba

Smeulders tinha três países para escolher em sua carreira Fiba

Numa equipe surpreendentemente competitiva, esses caras jogam todos. Kloof foi o cestinha nas duas primeiras rodadas, com 31 pontos em 28 arremessos. Um baita de um fominha, pelo jeito. De resto, os números e os minutos são bem divididos entre dez homens de rotação.

Israel: D’Or Fischer, pivô
Origem: Estados Unidos.
Categoria: pagou pedágio.
Vínculo: o pivô revelado pela tradicional Universidade de West Virginia em 2005 tem contrato assinado com o Hapoel Jerusalem para a próxima temporada. Mas esta não será sua primeira passagem pela liga israelense. Por dois anos, entre 2008 e 2010, ele jogou pelo Maccabi Tel Aviv. Seu passaporte, porém, só saiu no ano passado, garantindo participação no torneio de classificação para o EuroBasket.

Num país sem muita mão-de-obra qualificada, Fischer aparece como peça de apoio valiosa ao trio Casspi, Mekel e Eliyahu, especialmente num setor muito carente como o garrafão. Sua contribuição é na proteção de aro, jogando na cobertura de alas talentosos ofensivamente, mas que nunca tiveram a defesa como ponto forte. No ataque, depende da criação dos outros e costuma produzir com eficiência, mas sem muito volume. Não é algo que faça falta nessa seleção.

Macedônia: Richard Hendrix, pivô
Origem: Estados Unidos.
Categoria: mercenário.
Vínculo: ao sair do high school, o pivô natural do Alabama era considerado umas das principais apostas de sua geração. Embora tenha sido muito produtivo na universidade, viu sua cotação com os scouts profissionais se esvair aos poucos. Draftado em 2008, foi mandado para diretamente para a D-League. Em 2009, cruzou o Atlântico em busca de salários mais compatíveis com o seu talento. Mas, não: assim como o armador Bo McCalebb, que pediu folga este ano, nunca jogou por um clube da Macedônia.

Sem McCalebb e sem Pero Antic, o técnico Marijan Srbinovski optou pela nacionalização de um pivô. Hendrix pode fazer de tudo um pouco pela seleção, embora seja no rebote em que ele se destaca mais. De todo modo, seu rendimento no EuroBasket vem sendo bastante tímida, longe de justificar sua contratação.

Polônia: AJ Slaughter, ala
Origem: Estados Unidos.
Categoria: mercenário.
Vínculo: É… Mais um que, se pisou na Polônia antes de receber o passaporte, foi para jogar como visitante, já que defendeu clubes da Itália, da França e, por último, o Panathinaikos em uma carreira europeia que se iniciou em 2010. Agora vai jogar pelo Banvit, emergente turco. Ocupa a vaga que já foi do veterano David Logan.

Slaughter fez seu nome no mercado europeu como um cestinha atlético e agressivo, de primeiro passo explosivo rumo ao aro. Pelo Panathinaikos, porém, em sua estreia pela Euroleague, não teve das campanhas mais produtivas. Em uma seleção que já conta com cestinhas fogosos e jovens como Adam Waczynski e Mateusz Ponitka, parece ter sido um reforço um tanto redundante.

República Tcheca: Blake Schilb
Origem: Estados Unidos.
Categoria: pagou pedágio.
Vínculo: Schilb ao menos usou o basquete tcheco para se inserir no mercado europeu, quando deixou quando deixou a Universidade de Loyola (Illinois) para jogar pelo CEZ Nymburk, principal equipe do país. Foi bicampeão tanto da liga como da copa em 2008 e 2009. Saiu, então, para a França, onde jogou por seis anos. Acabou de assinar com o Galatasaray.

Schilb está na seleção tcheca para arremessar

Schilb está na seleção tcheca para arremessar

Schilb é uma das contratações que mais deu certo nesta primeira fase. Dá poder de fogo e aparece como uma terceira força muito bem-vinda à seleção que, hoje, conta com basicamente dois atletas na elite europeia: Jan Vesely e Tomas Satoransky. David Jelinek não vingou como o esperado e Jiri Welsch e Lubos Barton já estão bem próximos da aposentadoria.

Turquia: Bobby Dixon, armador
Origem: Estados Unidos.
Categoria: pagou pedágio.
Vínculo: Você pode chama-lo de Robert Lee Dixon, Bobby ou, agora, de Ali Muhammed, desde que retirou seu passaporte turco há questão de semanas. O baixinho e veterano de 32 anos já está na Europa desde 2006, tendo alternado basicamente passagens por França e Itália. Foi na Turquia, todavia, em que se encontrou como estrela, vestindo a camisa do Pınar Karşıyaka, mais uma equipe que vem fazendo sucesso por aquelas bandas, se classificando para a Euroliga. Vindo de ótimas campanhas, foi contratado pelo Fenerbahçe.

Dixon, mas também pode chamar de Muhammed

Dixon, mas também pode chamar de Muhammed

Entre todos esses reforços, é sem dúvida aquele que está causando maior impacto, assumindo as rédeas de uma seleção cheia de alas e pivôs talentosos e experimentados, mas que tinha armação no mínimo suspeita. Vem pecando nas finalizações, mas consegue acelerar o ataque de Ergin Ataman com bom controle de bola, colocando Ilyasova, o jovem Cedi Osman e o irregular Semih Erden para jogar.

Ucrânia: Jerome Randle, armador
Origem: Estados Unidos.
Categoria: mercenário.
Vínculo: depois de ser dispensado pelo Dallas Mavericks em 2011, Randle circulou por aí. A Turquia foi seu destino mais frequente, mas a Ucrânia não esteve entre suas escalas.  Em entrevista ao Deadspin, o baixinho deixa bem claro o que está em jogo para ele no EuroBasket: sem contrato, quer ganhar projeção internacional e um salário generoso na próxima temporada. Quem sabe na NBA, sua obsessão?

Sem Jeter, Alex Len, Gladyr, Mykhailiuk, Pecherov e Kravtsov, a seleção ucraniana não entrou em quadra com as melhores perspectivas. Com tantos desfalques, incluindo Eugene “Pooh” Jeter – que foi, inclusive, um dos responsáveis por sua contratação –, Randle sabe que vai ter minutos e espaço suficiente num grande palco para tentar impressionar os scouts. No ataque, a prioridade é toda de Randle, que vem liderando o time em pontos, arremessos, assistências – e turnovers. É o suficiente para impressionar alguém?

Por isso, topou jogar de graça por um país abalado pela guerra interna. “Não há dinheiro investido na seleção nacional este ano porque eles têm muito mais com o que se preocupar. As coisas que ouvi dos jogadores… É algo muito ruim. Quando falam a respeito, você percebe a tristeza. Então, para mim, levo isso como um desafio pessoal. Quero tentar animá-los de alguma forma”, afirmou. Ao menos isso, né?


O Pan não vale? Fadiga? Questão sobre Magnano? Entendendo o vexame
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Giancarlo Giampietro

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Segundo o pai de todos, antes de “vergonha”, vexame significa “aquilo que vexa“. Vexar, seria “afligir, atormentar, molestar, oprimir“. No caso da segunda eliminação seguida do Brasil ainda pela primeira fase de uma Copa América, essa hierarquia faz muito sentido, ainda que no jargão esportivo a segunda acepção seja a usual.

Acredito que os profissionais envolvidos com a pífia campanha na Cidade do México, dentro e fora de quadra, estejam realmente mais atordoados do que envergonhados depois de somarem três derrotas em quatro jogos — “vergonha” é um termo muito forte, mas dá para sentir que, do ponto de vista do público, foi o sentimento que ficou, de todo modo. Com direito a uma assustadora surra panamenha nesta sexta-feira que pôs fim a uma longa temporada da seleção que começou tão bem em Toronto e termina de modo aflitivo, atormentador, molestador e, também, opressor.

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Eram dez times inscritos, divididos em dois grupos, e apenas dois em cada chave ficariam fora da segunda etapa. O cenário se repetiu. Em 2013, a equipe dirigida por Rubén Magnano caiu acompanhada pelo Paraguai. Agora, fez par com Cuba. E aqui precisamos ser justos com os cubanos: eles caíram numa chave mais complicada com a nossa, com três candidatos sérios à vaga olímpica: Canadá, o grande favorito, Argentina, com Scola, Nocioni e uma rapaziada pilhada que faz o time correr como nunca, e Porto Rico, bastante mambembe depois de mais um show de desorganização nos bastidores, vitimando um técnico do porte de Rick Pitino, mas que ainda tem Barea e Balkman, dois dos melhores atletas da competição. Além da Venezuela, que, mesmo sem Greivis Vasquez, vem se mostrando muito competitiva num trabalho louvável de outro técnico argentino, Nestor Garcia.

Num cenário desses, é fácil lançar a caça às bruxas, até por conta da reincidência. Mesmo que já tenha acontecido em Caracas, não deixou de ser uma surpresa lastimável o péssimo desempenho coletivo na capital mexicana, especialmente depois do basquete de primeiro nível praticado em Toronto. Aqui não tem como aliviar: em nenhuma de suas quatro partidas, a equipe conseguiu acertar mais de 40% de seus arremessos de quadra (35% contra o Uruguai, 39% na única vitória sobre a República Dominicana, 35% contra o México e 33% contra o Panamá. Sinceramente, não há como relativizar estes números. O que acabe é tentar entender o que aconteceu. Seja para os que estão aqui, assistindo, como, principalmente, para os que estão do lado de lá, participando.

Brasil x Panamá, Copa América

Na volta da Venezuela, dois anos atrás, dois assuntos predominaram: um mal-estar (físico), provocado por virose, que teria abalado mais de meio time. Ainda é um mistério para mim porque diabos, na ocasião, a confederação, a comissão técnica, ou os jogadores não foram mais incisivos ao bater nessa tecla. Talvez achassem que fosse pegar como mera desculpa, depois da queda. Antes, obviamente que não se podia abrir o jogo, para não avisar o oponente. Mas o simples fato de não terem falado mais a respeito acaba minando um pouco a seriedade do episódio. Além do mais, antes que a virose virasse assunto, a metralhadora giratória de Rubén Magnano acabou roubando e destroçando a cena.

Vamos ver o que o argentino tem a dizer dessa vez. De 2012 para cá, entre campanhas sólidas nos últimos Mundiais e em Londres 2012, mas longe de medalhas, a seleção penou para valer no campo continental, com apenas uma mísera derrota em oito jogos. Em nenhuma dessas campanhas, o time contou com força máxima. Daí a dedução mais óbvia é a de que, sem a cavalaria da NBA, não dá pé. Aqui, do meu canto, não compro essa tese. “É o que temos, é o o nível do basquete brasileiro etc.”. Não acredito que os 12 atletas levados por Magnano ao México não fossem capazes de, juntos, acertar 40% de seus arremessos ou que não pudessem impedir uma média superior a 15 rebotes ofensivos a garrafões que não incluem a elite do basquete mundial, Gustavo Ayón à parte.

Posto isso, segue, então, alguns palpites sobre o que pode ter acontecido, com base no que vimos em quadra e em conversas com pessoas próximas ao grupo, levando em conta o que já ouvi também de carnavais passados:

O que significava a Copa América?
A despeito da semana de pesadelo em quadra, a memória coletiva do basquete brasileiro não pode se esquecer do episódio que antecedeu a participação no torneio. Até um mês atrás, a trinca Rubén Magnano, Vanderlei e Carlos Nunes simplesmente não sabia se a sequer disputaria a Copa América — quanto mais se precisaria lutar pela vaga olímpica. As reuniões em que o pires foi passado e o acordo, costurado davam todos os indícios de que a pendenga havia sido resolvida. Mas, enquanto o conselho da Fiba não votasse o tema em Tóquio, não dava para ter certeza absoluta de nada. A CBB, afinal, a entidade que deve até as cuecas na praça, não havia quitado sua dívida. Só havia sinalizado com um compromisso de que não daria calote, com o respaldo bem mais confiável de seus dois patrocinadores.

O trabalho de Magnano foi horroroso durante a semana, mas, em sua defesa, é inegável que a impossibilidade de se fazer um planejamento já minava o técnico. A não ser que ele já tivesse garantias, nos bastidores, de que o torneio serviria como a chance de testar alguns atletas, mais alternativas dentro de seu sistema de jogo e, sem pressão, de repente, a tentativa de uma segunda conquista, que encheria a seleção de moral rumo ao Rio 2016.

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Fadiga
O núcleo desta seleção brasileira se apresentou em São Paulo para iniciar os trabalhos em 14 de junho. Foram, então, de dois meses e meio a três meses juntos. Pensando de modo isolado, não é muito tempo. Levando em conta que alguns deles mal puderam descansar ao final da temporada 2014-2015, esse período ganha outro significado.  Com um agravante: o jogo na altitude da Cidade do México, que pede até mesmo o auxílio de balões de oxigênio. E aí, novamente, o drama pela vaga olímpica atrapalha. Se houvesse, em junho, um caminho já definido, talvez o Brasil pudesse ir ao México realmente com um grupo de garotos, formar dois grupos separados, assim como fez a maioria das seleções que estão na segunda fase da Copa América. Perder por perder, apanhar por apanhar, ao menos dava rodagem aos caras que vão carregar o bastão no próximo ciclo olímpico.

E aí, amigos, entro num tema espinhoso, que, em termos jornalísticos, valeria o “lead”. É uma informação que tem circulado há um tempão por trás das cortinas e que, com o microfone ligado, as câmeras acesas, ninguém vai confirmar. Pelo menos não até que seja disputado o torneio olímpico. Mas, se for para falar de cansaço, chega a hora de compartilhá-la: dez, 11 semanas de treino com Magnano podem ser mais desgastantes que o normal, tanto do ponto de vista de condicionamento como do mental. Sim, do mental.

O técnico é daqueles que não tira o pé em nenhum momento, exigindo intensidade máxima o tempo todo. O tem-po to-do, enfatizando. O resultado disso é positivo em diversas maneiras, como se vê obviamente na defesa. Essa abordagem, porém, levanta questões a longo prazo: o quanto ela é efetiva se os jogadores estiverem de saco cheio? Não exatamente pela falta de fôlego, mas pela pressão, pela cobrança constante.

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Já ouvi muitas fontes, de origens e filiações distintas, mas sempre bem próximas aos atletas, corroborar essa história: por mais que respeitem, não é que os principais jogadores da seleção morram de amores pelo técnico. Não existe confiança plena da parte deles com o argentino, e esse pé atrás tem muito a ver com o comportamento do comandante. Estão cansados do discurso de que “nós vencemos”, “eles perderam”. Aí você as declarações de 2013, com um enxame de marimbondos cuspidos, e a situação ser agrava.

Para deixar claro: não sei se aconteceu com o atual grupo, depois do ótimo Pan-Americano (início de trabalho).

E não é que essa indisposição dos medalhões chegue a um nível em que estejam tentando ou já tenham tentado derrubar o treinador. Não foi por conta disso que perderam para a Argentina em 2010 e 2012 e para a Sérvia no ano passado. Mas dá para se dizer que a relação entre ambos poderia ser muito mais saudável, amigável. E, aos amigos comentaristas anônimos, que adoram ler o que não está escrito: essa é a informação que vem de gente próxima dos atletas, e não minha opinião. Não estou dando razão a ninguém ao reportar isso. Não estou defendendo a queda de Magnano, advogando a favor da “classe brasileira”. Por outro lado, seu currículo e o ouro no Pan não podem blindá-los contra tudo e todos, certo? Não dá para usar dois pesos e duas medidas.

A convocação
Não dá para discutir o grupo formado para a Copa América sem levar em conta o tópico acima. Se for para bancar o detetive, no momento em que o treinador convocou Marquinhos e, na sequência, Guilherme Giovannoni, a impressão é de que Magnano não tinha certeza de nada sobre suas obrigações para a competição. Daí a opção por dois veteranos com os quais trabalhou constantemente nos últimos anos. Seriam duas apólices de seguro para ele, para o caso de o bicho pegar na busca por uma vaga olímpica. Isso e mais isto: levou para a Cidade do México uma equipe que, em sua cabeça, iria competir para valer no torneio. Do contrário, faria muito mais sentido escalar Danilo Siqueira e um Lucas Mariano, ou qualquer outro jogador mais jovem do NBB para se ganhar cancha*. De resto, pode-se discutir um ou outro nome, mas o grupo listado era basicamente aquele seria reunido pela maioria dos técnicos, levando em conta a ausência de Splitter, Varejão & Cia. Dez desses caras haviam acabado de ganhar o Pan jogando muita bola. Essa discussão vai longe e pede outro texto, pois este aqui já vai ficar longo o bastante.

(*Sobre a dupla do Raptors: 1) precisaria ver o que o clube sentiria a respeito: por os dois jogadores em quadra neste cenário talvez ajudasse muito em seu desenvolvimento; por outro lado, a diretoria tem se mostrado bastante superprotetora quanto à dupla e talvez preferisse trabalhar com eles em casa. Mas aí você ouve falar que Caboclo andou por São Paulo por esses dias, então fica em dúvida. 2) Planos do Raptors à parte, não sei bem qual recado, exemplo seria dado ao se convocar dois atletas que mal jogaram durante a temporada e que, ainda por cima, deram trabalho nos bastidores.)

seleção brasileira campeã do Pan de Toronto

O Pan
Sim, o nível de competição era inferior ao que estamos assistindo na Copa América, no geral. Agora, no que diz respeito aos jogos da seleção brasileira, a concorrência não foi tão inferior assim. Cuidado com a generalização e a orelhada. Vamos lá:

– Na Cidade do México, o Brasil enfrentou Scola e Nocioni? Barea e Balkman? Wiggins, Olynyk, Joseph? Não. Mas enfrentou, por exemplo, um Francisco Garcia, dominicano totalmente fora de forma, que não esteve nos Jogos de Toronto, aliás, e cujo time foi o que mais deu trabalho aos eventuais campeões, na semifinal. Em termos práticos, no Grupo A, só o México, devido à presença de Ayón e Jorge Gutiérrez, se apresentou com um elenco claramente superior.

Ou o Uruguai, com sua população inferior à de Salvador, agora virou uma superpotência, a ponto de ser temido mesmo quando não escala Esteban Batista, Jayson Granger e Leandro Garcia Morales? E o que dizer do Panamá, que faz uma turnê de despedida para Michael Hicks, Jaime Lloreda, Rubén Garces (41 anos!!!) e, talvez, nosso pequenino e velho amigo Joel Muñoz? No papel, são times mais fortes que os Estados Unidos de Bobby Brown, Keith Langford, Anthony Randolph, Damien Wilkins, Ryan Hollins e uma série de futuros profissionais de ponta? Ou mais fortes que o núcleo composto por Anthony Bennett, Andrew Nicholson, Carl English, Brady Heslip, Jamal Murray, Melvim Ejim e Aaron Doornekamp? Não creio.

Anthony Bennett, Canadá, Pan Am

(Aliás, um parêntese: não quero menosprezar aqui uruguaios e panamenhos. Dizer que eles não estão na elite da modalidade não significa que eles sejam “lixos” de equipes, para empregar o vocábulo que é muito provavelmente mais utilizado pelo irado comentarista online brasileiro. Peguem Hicks como exemplo. Hoje com 39 anos, o ala fez uma bela carreira na Europa, jogando na Itália por dez temporadas. Em competições Fiba, tem média superior a 17 pontos por partida. Lloreda e Garces deram trabalho e causaram hematomas em muita gente nos últimos 10, 15 anos. Esses caras não são galinhas mortas. Mesmo envelhecidos, deram uma surra em todos os sentidos numa fragilizada equipe.)

Sabe em qual aspecto os uruguaios e os panamenhos foram melhores que o Canadá ou os Estados Unidos? Como equipe, como unidades coletivas, vindo de preparação mais extensa voltada exclusivamente à Copa América, enquanto os norte-americanos formaram seus grupos do Pan em cima da hora. A seleção brasileira, por outro lado, regrediu.

Tá, mas e aí? O que diabos aconteceu?
Pelo que ouvi entre sexta-feira e este sábado, não há teoria da conspiração que se encaixe aqui. O clima entre os atletas esteve bom do início ao fim. Não houve motim contra Carlos Nunes, gripe suína, interferência externa, nem nada fora do normal além de questões dentro de quadra.

A seleção em quadra
Do grupo pan-americano, dois jogadores saíram: Rafael Hettsheimeir e Larry. Já escrevi aqui após a derrota para o Uruguai (a segunda consecutiva em Copas Américas). A troca por Giovannoni e Marquinhos gerou desequilíbrio. São atletas  de perfil muito diferentes, tanto do ponto de vista técnico como do físico, sem contar que estavam vindo de férias e foram inseridos num time que estava montado. Não quer dizer que os dois que saíram sejam superiores aos dois que chegaram. Acontece que, entre uma habilidade perdida e outra somada, a rotação se descarrilou.

Sem Larry, Magnano perdeu uma alternativa de dupla armação, levando em conta os recursos defensivos que o norte-americano, mesmo já um ou dois passos mais lento, pode oferecer. Para piorar, o jovem Deryk ficou no grupo final, mas foi retirado da rotação, enquanto Rafael Luz voltou de uma contusão que o tirou de quadra da Copa Tuto Marchand.

Panamá x Brasil, Copa América, basquete

A baixa maior, porém, foi a de Hettsheimeir, que hoje representa um fator tático claramente importante para o ataque de Magnano. Historicamente, Guilherme é um chutador mais temido, mas Rafael vem trabalhando exaustivamente no fundamento e teve aproveitamento superior no último NBB. Em competições internacionais, desconfio também de que hoje chame mais a atenção das defesas adversárias. De qualquer forma, fico me perguntando se, num ataque devagar-quase-parando desses, a presença do pivô no perímetro faria alguma diferença, uma vez que os oponentes mais atentos adiantaram suas defesas e contestaram para valer os arremessos brasileiros. De longa distância, o aproveitamento foi de apenas 22,1% na Copa América, uma calamidade. Haveria espaço para ele chutar?

Mas no que o pivô faz mais falta? Por conta de seu perfil singular. Se hoje se caracteriza como um chutador no ataque, na defesa tem porte físico para aguentar o tranco. Não é nenhum Roy Hibbert, não tem verticalidade e mal protege o aro, mas ocupa espaço no garrafão e é pelo menos mais alto que João Paulo. Contra os massudos panamenhos certamente teria feito diferença, ajudando um sobrecarregado Augusto Lima.

Por outro lado, Marquinhos e Giovannoni não conseguiram atingir seu melhor nível na Cidade do México. Para os veteranos, demora um pouco mais para chegar ao ápice físico, e os dois estavam visivelmente fora de ritmo, vindo de férias. Mas por que os velhacos panamenhos estavam se impondo fisicamente e como é possível que Luis Scola dê uma aula na molecada canadense, sendo da mesma idade de Guilherme? Bem, eles começaram a treinar para o torneio bem antes.

Marquinhos, Copa América, Brasil x República Dominicana

São apenas dois jogadores? Sim, mas dois que teriam papel importante para Magnano, com bons minutos em quadra e cuja presença em quadra não foi bem administrada. Em meio às constantes trocas que levam o Wlamir à loucura, o treinador se perdeu em suas rotações. No jogo derradeiro contra os panamenhos, nem mesmo quando mandou contra os panamenhos para a quadra uma formação mais “ofensiva” o time conseguiu render, enquanto a defesa sofreu. Os problemas que via em quadra não eram contornados. Esse, aliás, parece um ponto no qual o argentino campeão olímpica fica aquém: os ajustes durante as partidas. Qual foi último jogo que a seleção conseguiu virar quando estava atrás do placar por muito? Sinceramente, não lembro. A impressão é de que, quando desandam as coisas, não tem volta.

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Aqui, realmente parece que há uma divergência na hora de assimilar o que aconteceu na Copa América: que os problemas sejam estruturais, de formação dos jogadores, e não há santo de casa que dê um jeito nisso, ou que Magnano, mais uma vez, não conseguiu tirar o melhor que podia de seus atletas? Minha colher: mesmo que se aceite que o time seja limitado, não é função do treinador elevar o seu jogo? O grupo brasileiro não era o mais forte, mas jogou o máximo que podia. Na verdade, não creio que tenha jogado nem perto de seu potencial pleno.

Custo
Se não dá para esquecer toda a novela que foi a confirmação da seleção nas Olimpíadas, expondo a CBB ao ridículo no noticiário internacional, também há outra conta que não pode faltar nunca ao se avaliar os resultados obtidos: os R$ 7 milhões que o ministério do Esporte concordou em pagar para custear apenas para sustentar as operações da equipe brasileira masculina. Ou, pelo menos, é o que dizem, é o que consta no texto de descrição do convênio. Entre viagem para Brasília, Buenos Aires, San Juan, escala em Miami, e o desembarque na Cidade do México, delegação de 24 pessoas e tal, quanto custou esse fiasco na Copa América? Lembrando que, apenas para lavanderia, foram gastos R$ 149.760,00.


EuroBasket vai começar: sete apostas, a legião da NBA e os desfalques
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Giancarlo Giampietro

A França venceu as últimas duas contra a Espanha. Na Copa, doeu para Gasol

A França venceu as últimas duas contra a Espanha. Na Copa, doeu para Gasol

Existem pré-olímpicos e existe o EuroBasket.

Realizado a cada dois anos, o torneio europeu, para muitos de seus integrantes, vale talvez até mais que um Mundial, por questões de orgulho nacional e rivalidades regionais. É só ver a festa que a França fez na última edição, na Eslovênia, ao enfim derrotar a poderosa Espanha pela semifinal, num jogo daqueles mais dramáticos que se vai encontrar por aí. Para eles, foi a glória maior, ratificada, então, numa decisão bem mais tranquila contra a Lituânia.

Tem de comemorar, mesmo. Pois não é fácil chegar lá. Essa é disparada a competição continental mais dura no circuito Fiba, em que pese as loucuras que temos visto na Copa América. Ainda assim, ao avaliar o que tem acontecido nos últimos anos, é possível detectar algum padrão.

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A Espanha impressiona por sua consistência, graças a uma geração fenomenal liderada por Pau Gasol. Os ibéricos fizeram parte dos últimos quatro pódios. Ficaram entre os três primeiros em cinco de seis torneios desde 2001. Só em 2005 dançaram. Nomes importantes como Jorge Garbajosa, Carlos Jiménez, Raul López e Fran Vázquez já ficaram pelo meio do caminho. Juan Carlos Navarro e José Calderón estão no fim da linha também. Mas segue uma potência a ser temida.

Desempenho os amistosos

Desempenho os amistosos

Ainda assim, a França é a seleção do momento, o time a ser batido, com um elenco vasto, experiente, atlético, e tendo ainda a vantagem de ser a anfitriã dos mata-matas, para o qual deve passar como a primeira colocada do Grupo A. Confira aqui todas as chaves, com uma ressalva: respire fundo antes de espiar o que acontece no Grupo B.

Como disse em texto dedicado à Itália (que mais parece o Brasil), é o anúncio de uma carnificina. Pense em Walking Dead, Jogos Mortais, Game of Thrones, Kill Bill Vol 1. Um sorteio que põe Espanha, Sérvia, Itália, Turquia e Alemanha no mesmo grupo é qualquer coisa de sádico. (Só foi possível graças aos deslizes de italianos, turcos e alemães em tempos recentes – o ranking Fiba não reconhece que a Azzurra tenha hoje Gallinari & Cia, ou que a Alemanha conta com Dirk e Schröder dessa vez). Coitada da valente Islândia, que não tem nada a ver com essa história, enfrentando cinco times que chegam a Berlim com pretensões reais de vaga olímpica. E o que vai sair disso? Bem, um deles já será eliminado de cara. Outro vai passar em quarto e terá de se virar com a França logo de cara. Quem cair nas oitavas também não terá mais como vir ao Rio de Janeiro.

É assim: os dois finalistas asseguram classificação automática, enquanto as equipes que ficarem entre terceiro e sétimo ganham uma segunda chance no Pré-Olímpico mundial. Então você tem de dar um jeito de chegar às quartas, entre os oito primeiros. Mesmo os derrotados nessa fase ainda terão de encarar um torneio de consolação mais valioso que o habitual, tendo inclusive uma “final” pelo sétimo lugar.

Ignorando qualquer noção de prudência, devido ao desequilíbrio entre grupos, segue, então, meus palpites de vagas – tanto as para valer, como as alternativas:

Tony Parker quer o bicampeonato europeu. Tá na cara

Tony Parker quer o bicampeonato europeu. Tá na cara

1 – França
Os atuais campeões, e com um time que chega muito perto de sua força máxima, com o retorno de Tony Parker para fazer um trio estelar com Boris Diaw e Nicolas Batum, os dois que lideraram o time rumo ao Bronze na Copa do Mundo. Se há uma seleção que pode compensar ausências como as de um Joakim Noah e um Alexis Ajinça, é a francesa, contando com o emergente Rudy Gobert para afugentar os atacantes adversários do garrafão. Noah, a essa altura, já não parece uma peça com a qual se possa contar. Ajinça seria um reserva de luxo para Gobert.

É um elenco vasto, de capacidade atlética incrível e muita versatilidade, que pode ser medido por sua nota de corte: dois jogadores da NBA vão assistir de fora (Kevin Seraphin e Ian Mahinmi), assim como jogadores cobiçados no mercado europeu como o ala Edwin Jackson, ex-Barça, hoje no Unicaja, e o ala-pivô Adrien Moerman, do Banvit, e o armador Thomas Heurtel, tirado do Baskonia a peso de ouro pelo Anadolu Efes. Nem mesmo depois de Antoine Diot se lesionar na reta final de preparação, Heurtel conseguiu a vaga. O reserva de Tony Parker será o espichado Leo Westermann, cujos direitos pertencem ao Barcelona, que ainda não o aproveitou. Joga pelo Limoges, em casa.

Selo NBA: Tony Parker, Boris Diaw, Nicolas Batum, Rudy Gobert, Evan Fournier e Joffrey Lauvergne.
Desfalques: Joakim Noah, Alexis Ajinça, Antoine Diot e Fabien Causeur (que teria dificuldade para entrar no grupo final, de qualquer forma). 
Reforço estrangeiro? Para quê!? 

2 – Sérvia
Talento não falta aqui, obviamente. Nunca faltou. Ainda assim, nas últimas cinco edições, o país conseguiu apenas uma medalha: a prata em 2009, levando uma surra da Espanha na final. O problema é a inconstância de seus jogadores, que muitas vezes se permitem levar por intrigas extraquadra e uma ciumeira que só. O vice-campeonato na última Copa do Mundo, porém, sinalizou uma geração mais unida, guiada com firmeza e carisma pelo ex-armador Aleksandar Djordjevic.

Se essa organização for mantida, a aposta é que a combinação da categoria e jogo cerebral de Milos Teodosic, o arrojo de Bogdan-Bogdan e Nikola Kalinic e o pacote completo de Bjelica possa fazer a diferença, ainda mais escoltados por pivôs muito físicos. Não é fácil trombar com Raduljica e Nikola Milutinov, o jovem recém-contratado pelo Olympiakos e draftado pelo Spurs. Não bastassem os pesadões, Djordjevic ainda tem um Zoran Erceg com grande confiança nos disparos de longa distância e Ognjen Kuzmic, ex-Warriors, já mais atlético.

Selo NBA: Nemanja Bjelica (bem-vindo!).
Desfalques: Nenad Krstic e Boban Marjanovic.
Reforço estrangeiro: coff! coff! Foi até engraçado que, antes do Final Four da Euroliga, Milos Teodosic e Bogdan Bogdanovic foram questionados sobre a possibilidade de o país, vice-campeão mundial, naturalizar algum norte-americano para brigar pelo ouro olímpico. Responderam que, se acontecesse, não jogariam mais pela seleção. 

3 – Espanha

A dupla do Bulls - e da Espanha

A dupla do Bulls – e da Espanha

O palpite mais conservador colocaria os espanhóis entre os dois primeiros, fato. Estivesse Marc Gasol no páreo, seria difícil seguir outro rumo. Mas o pivô quis férias, para descansar a cabeça e cuidar tranquilamente da renovação com o Memphis. Desta forma, aumenta a carga sobre Pau Gasol. O já legendário pivô fez grande temporada pelo Chicago Bulls, mas vai correr um risco ao encarar a pressão do EuroBasket sendo tanto a principal referência ofensiva da seleção como sua maior esperança para se ter uma defesa consistente. Faz como? Serge Ibaka faz falta nesse sentido, mas as desavenças do passado afastaram o congolês. Suas habilidades, em tese, seriam mais relevantes que as de Nikola Mirotic nessa equipe em específico.

No papel, ainda estamos falando de um timaço. Os torcedores do Bauru vão ficar ligadaços no núcleo madridista de Sergio Rodríguez, Sergio Llull, Rudy Fernández e Felipe Reyes. Estão entrosados e revigorados pelo título da Euroliga. Mas, mesmo dentro da Espanha, a sensação é de que a transição da geração Gasol para a próxima ainda se pauta pela incerteza, a despeito do retorno de Sergio Scariolo. São muitas peças valiosas, mas que talvez não se encaixem perfeitamente.

Selo NBA: Pau Gasol, Nikola Mirotic. 
Desfalques: Marc Gasol, Juan Carlos Navarro, José Calderón, Ricky Rubio e Alejandro Abrines. 
Reforço estrangeiro? Nikola Mirotic, que assumiu a vaga de Serge Ibaka.

4 – Lituânia
Em termos de continuidade, o trabalho de Jonas Kazlauskas está à frente do que os gregos têm para oferecer, e isso pode fazer a diferença. Caras como Jankunas, Javtokas, Kalnietis, Maciulis e Seibutis estão na estrada há um tempo e sabem o que precisa ser feito. É curioso até: em termos de grife ou badalação, ninguém dá muita bola para eles. Mas estão sempre chegando. Mesmo que não tenham a armação mais segura ou elucidativa.

Se a troca de guarda ainda está demorando para acontecer, a boa notícia para esse país devoto ao basquete é que seu principal jogador hoje é justamente um dos mais jovens: Jonas Valanciunas. Pela seleção, o companheiro de Caboclo e Bebê é uma figura muito mais influente e difícil de ser barrada. Em termos de sangue novo, também vale ficar de olho em Domantas Sabonis, que tem sangue real, vem numa curva de desenvolvimento acelerada desde que se inscreveu na universidade de Gonzaga e foi o último a se estranhar com Matthew Dellavedova:

Selo NBA: Jonas Valanciunas.
Desfalques: Donas Motiejunas. (Se alguém estiver se perguntando sobre Linas Kleiza, é que o veterano foi muito mal na última temporada pelo Olimpia Milano e, depois de inúmeras lesões no joelho, não é sombra daquele jogador que já aterrorizou o mundo Fiba).
Reforço estrangeiro? Ainda não cometeram esse sacrilégio — embora as primeiras seleções lituanas da história fossem compostas quase na íntegra por norte-americanos descendentes. 

5 – Grécia
Assim como Parker retorna à França, a seleção helênica acolhe calorosamente Vassilis Spanoulis entre os 12 do EuroBasket. Em torno do craque grego também geram as mesmas questões, no entanto: qual a sua forma física? Ele terá estabilidade e pique para poder ficar em quadra nos momentos decisivos (que não o amedrontam de modo algum)? Se a resposta for positiva, a Grécia ganha um trunfo enorme para tentar retornar ao pódio pela primeira vez desde 2009.

O conjunto de Calathes, Zisis, Sloukas e Mantzaris ao menos está lá para preservar o camisa 7. Em termos de quantidade, ninguém tem uma relação de armadores que se equipare a essa, aliás. O desafio do técnico Fotis Katsikaris, que vai dirigir Augusto e Benite no Murcia, será distribuir minutos entre tantos atletas de ponta. Ou afagar aquele que eventualmente fique fora da rotação. Embora o garotão Giannis Antetokounmpo seja um Vine ambulante, este não é o time mais atlético. A expectativa aqui é de que os fundamentos, a experiência e o espírito vencedor de muitos de seus jogadores compensem isso. Para chegar à disputa por medalhas, porém, terão de derrubar muito provavelmente ou a Espanha ou a Sérvia nas quartas. Ai.

Selo NBA: Giannis Antetokounmpo, Kosta Koufos, Kostas Papanikolau (por ora).
Desfalques: Dimitris Diamantidis (ele já se aposentou da seleção, mas está em forma, caminhando para a última temporada como profissional). Sofoklis Schortsanitis não foi convocado e, creio, não deve mais jogar pela equipe. 
Reforço estrangeiro? Bem… Nick Calathes e Kosta Koufus nasceram, respectivamente, na Flórida e em Ohio. Os sobrenomes entregam a ascendência, de todo modo. 

6 – Croácia
Sim, sim… Talvez eles estejam numa posição muito baixa. Podem muito bem ser os campeões. Mas a mera possibilidade de pensar essa fornada croata como a sexta força continental só mostra o quão difícil pode ser um EuroBasket. O que sabemos é que os caras chegam muito otimistas à competição, por conta de dois fatores mais relevantes que o fato de terem vencido todos os seus amistosos preparatórios.

Saric e Hezonja, só o começo

Saric e Hezonja, só o começo

O primeiro é o progresso dos garotos, rodeados por jogadores muito rodados. Dario Saric e Mario Hezonja têm mais três ciclos olímpicos pela frente e já estão prontos para render em alto nível, sem precisar assumir obrigatoriamente o protagonismo. A prioridade em quadra ainda merece ficar com dois veteranos que estão no auge e encantam pela perfeição de seus movimentos, sem distinção entre eles: o gigante Ante Tomic, que não deve jogar na NBA, mesmo, e o classudo Bojan Bogdanovic, que se soltou um pouco ao final de sua primeira temporada pelo Brooklyn Nets e que, no mundo Fiba, é um cestinha letal. O segundo fator que os empolga é a presença de Velimir Perasovic no banco. O croata de 50 anos vem de grandes campanhas pelo Valencia e chega à seleção com estofo e moral para comandar um elenco ardiloso.

Selo NBA: Bojan Bogdanovic, Mario Hezonja e Damjan Rudez. 
Desfalque: Oliver Lafayette.
Reforço estrangeiro? Na falta de um armador norte-americano, apela-se a outro: Dontaye Draper. A Croácia cometeu a heresia que a Sérvia até o momento evita.

7 – Itália
Simone Pianigiani tem ao seu dispor a seleção que talvez tenha o maior poderio ofensivo, ao menos em termos de arremesso. Gallinari, Bargnani, Gentile, Datome, Belinelli… É artilharia pesada, que pode torturar qualquer defesa. Ainda assim, isso não é garantia de nada. Até porque são belos atacantes, mas que, do outro lado da quadra, não inspiram tanta confiança assim. Além do mais, já estamos cansados de ver seleções com muitos nomes naufragarem devido à tormenta de egos. Vamos ver se eles terão coesão e consciência para encarar um grande desafio, precisando render em alto nível logo de cara, nesse grupo dificílimo.

Selo NBA: Danilo Gallinari, Andrea Bargnani, Marco Belinelli. 
Desfalques: Luca Vitali. 
Reforço estrangeiro? Daniel Hackett nasceu na Itália, filho de ex-jogador norte-americano, e se formou como jogador na Califórnia. Mas é italiano e joga por clubes do país desde 2009. Não conta. 

Batendo à porta
Pode parecer um tremendo desrespeito a Dirk Nowitzki… Mas, aos 37 anos, o legendário cestinha precisaria fazer um de seus melhores torneios para levar a Alemanha adiante, mesmo estando acompanhado pelo sensacional Dennis Schröder e por mais uma opção ofensiva de elevada qualidade como Tibor Pleiss. Acontece que o excelente treinador Chris Flemming, americano que fez carreira no basquete alemão e agora será assistente no Denver, perdeu muitos jogadores em seu elenco de apoio, especialmente na linha de frente. Entre Maik Zirbes, Maximilian Kleber, Elias Harris e Tim Ohlbrecht, teria opções de sobra (e muito vigor físico) para dosar os minutos de Dirk.

A saideira de Nowitzki?

A saideira de Nowitzki?

É ainda mais difícil deixar a Turquia fora do grupo acima. Mas algum país terá de ser a vítima no Grupo B. É a minha escolha. Na Copa do Mundo, a seleção chegou às quartas de final. Jogando em Berlim, ao menos vai ter a vantagem de praticamente jogar em casa. É certo que o ginásio vai bombar devida à imensa colônia que está na capital alemã. Ainda assim, Omer Asik faz muita falta na proteção defensiva, com todo o respeito a Semih Erden e Oguz Savas. Olho, de todo modo, nos jovens Cedi Osman e Furkan Korkmaz. Para Tóquio 2020, devem ser dois atletas temidos em cenário internacional.

Sem chances?
A Eslovênia está sem Goran Dragic, o que equivale a 80% de sua força criativa. O país parece encarar o torneio como a chance de dar bagagem à garotada, listando  cinco atletas nascidos na década de 90. Zoran Dragic terá a oportunidade de tirar a ferrugem, de tanta piscina e praia que tenha pegado em Phoenix e Miami. Jaka Blazic, do Estrela Vermelha, é um atleta que sempre dá gosto de ver. Canhoto agressivo, inventivo rumo à cesta que me passa a impressão de ainda ter potencial ainda a ser explorado.

A Bósnia-Herzegovina poderia apresentar uma linha de frente para lá de enjoada, caso contasse com Mirza Teletovic, e Jusuf Nurkic. Teletovic costuma ser uma figura constante em torneios europeus, mas pediu folga, para cuidar de sua preparação para a NBA, entrando num ano importante pelo Phoenix Suns em busca de um contrato longo e polpudo na próxima temporada. Para o promissor pivô do Nuggets, o motivo é a recuperação de lesão e cirurgia no joelho. O tresloucado Dusko Ivanovic, todavia, vai fazer com que o time se mate em quadra a cada rodada.

A Geórgia tem um elenco interessante: Zaza Pachulia, um bom reserva para ele em Giorgi Shermadini e dois matadores de bola em Jacob Pullen e Manuchar Markoishvili, além do energético Tornike Shengelia, orientados por Igor Kokoskov. É um time com bom potencial ofensivo e que, jogando num grupo mais fraco, deve ir aos mata-matas. Mas dificilmente passarão das oitavas.

Potencial de zebra
A Finlândia não deve ser a Finlândia da vez, se é que vocês me entendem. Entre os scouts europeus, a Bélgica é apontada como uma seleção que pode surpreender, com três jogadores de ponta no continente (o armador Sam van Rossom, o ala Matt Lojeski e o ala-pivô Alex Hervelle) e um grupo que dosa juventude e experiência ao redor deles.

Velhos conhecidos da NBA
Só para constar, vai: a Polônia terá Marcin Gortat, Israel vai de Omri Casspi e Gal Mekel, a República Tcheca aposta muito em Jan Vesely (Vine sempre atentos também, por favor!).

Mais caras que fazem falta
Alexey Shved, Timofey Mozgov e Sasha Kaun (Rússia), Eugene Jeter, Serhiy Gladyr, Alex Len e Sviatoslav Mykhailiuk (Ucrânia), Maciej Lampe (Polônia), Pero Antic (Macedônia), Kristaps Porzingis e Davis Bertans (Letônia).