Ainda sem vencer, Wizards só pode lamentar troca por veteranos pouco produtivos e caros
Giancarlo Giampietro
Na página dois – a primeira fica reservada a introduções e amenidades – do manual básico de como se negocia hoje em dia uma troca na NBA, você, caso tenha acesso ao livreto, vai provavelmente se deparar com alguns destes itens:
– “evite contratar um jogador ruim, em decadência na carreira, para não frustrar seus torcedores. O básico, buddy, o básico”;
– “se for para pegar jogador(es) ruin(s), melhor que seja no último ano de contrato, para não ocupar seu teto salarial com tranqueiras”;
– “se for para pegar um jogador com múltiplos anos de contrato pela frente, melhor que ele seja claramente produtivo, que seja titular”;
– “se for para pegar jogador(es) ruin(s) com múltiplos anos de contrato, que seu time seja recompensado, então, com uma boa escolha de Draft (top 5 de preferência) e que você se livre também de pelo menos um de seus contratos indesejados”.
(Acreditem.)
(Tudo certo, né?)
Pois bem.
Ao fechar a primeira troca visando a atual temporada, Ernie Grunfeld, gerente geral do Washington Wizards, conseguiu descumprir os quatro tópicos acima e qualquer outro que preze pelo bom senso, quando recebeu Trevor Ariza e Emeka Okafor e mandou Rashard Lewis embora para o New Orleans Hornets.
O Wizards é o único time da liga que ainda não venceu nesta temporada, com 11 derrotas seguidas, e essa transação ajuda a explicar muita coisa nessa situação – além dos problemas físicos de John Wall e Nenê, claro.
Não que a perda de Lewis fosse irrecuperável. O ala mais deu trabalho para o departamento médico do clube desde que foi envolvido em negociação por Gilbert Arenas do que foi útil em quadra. Mas era menos caro: seu contrato era apenas parcialmente garantido e, assim que chegou em Nova Orleans, entrou em acordo com a franquia e foi dispensado, recebendo US$ 13 milhões sem jogar. Ao menos o gerente geral Dell Demps, cria de RC Buford no Spurs, se livrava de um estorvo. E, com liberdade para investir, viu seu time fechar com Ryan Anderson e Robin Lopez, dois jogadores muito mais jovens e efetivos.
Ariza tem US$ 15 milhões por mais dois anos. Okafor com mais dois anos também e US$ 28 milhões garantidos. Impedindo que o clube fique abaixo do teto salarial para tentar contratar um agente livre, ou mais, no próximo ano. Tanto sacrifício para dois atletas que, juntos, têm médias de 15,8 pontos, 11,6 rebotes, 2,8 assistências, 2,55 roubos, 2,37 tocos. Juntos, ok? Nenhum dos dois está chutando acima de 45% nos arremessos, nem mesmo o pivô Okafor, com 40% – Ariza tem horripilante 32%.
Jogando desta maneira, não são os dois veteranos que levariam o Wizards a uma disputa por vaga no playoff. E nem são os dois que poderiam salvar o time no caso de, tipo, John Wall não poder jogar ou de a fascite plantar de Nenê não se curar.
E aqui fica registrado: não que a presença dos dois craques da equipe pudesse fazer diferença. O forte do armador e do pivô não é o arremesso. Nem o de Ariza e Okafor. Difícil de imaginar como esse quarteto se encaixaria.
Mas mais difícil ainda é entender como Grunfeld conseguiu convencer Ted Leonsis a renovar seu contrato em abril deste ano. Coisa de louco. Ele certamente infringiu diversos códigos do manual elaborado para os donos de franquias.
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No início da década passada, Grunfeld teve o mérito de limpar a bagunça que Michael Jordan fez na direção do clube e construiu um time empolgante com Gilbert Arenas, Caron Butler e Antawn Jamison e alguns bons operários como DeShawn Stevenson, Brendan Haywood. Essa formação foi para os playoffs por quatro temporadas seguidas, de 2005 a 2008. Perdeu por três vezes na primeira rodada, ok. Mas era alguma coisa pelo menos. Desde a pirada de Arenas e suas graves lesões, porém, a equipe foi ladeira abaixo, com 88 vitórias e atordoantes 224 derrotas. Sua melhor campanha, para se ter uma ideia, foi em 2009-2010, com 31,7% de aproveitamento.
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Na derrota para o Charlotte Bobcats no sábado, em dupla prorrogação, o técnico Randy Wittman não hesitou ao extrapolar o limite de tempo de quadra rcomendável para Nenê, que está jogando no sacrifício, correndo o risco de sofrer alguma lesão de quadril, joelho, tornozelo e sei lá mais o quê, para compensar as dores no pé esquerdo. O plano era utilizá-lo por apenas 20 minutos. Acabou jogando dez. Lamentável.
Com base em muita determinação e inteligência, o pivô brasileiro causou impacto positivo na equipe. A despeito dos dois reveses que sofreu, as partidas foram decididas apenas no tempo extra. No calor do jogo, é óbvio que o atleta não vai se retirar de quadra, ainda mais com a situação sofrível por que passa sua equipe. Caberia ao técnico um pouco mais de bom senso e responsabilidade, pensando tanto em seu time como no jogador.