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As anotações de um scout da NBA sobre Caboclo, Bebê e Felício
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Giancarlo Giampietro

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Caboclo e a envergadura interminável: ansiedade do jogador e dos olheiros

Numa citação gratuita do Kid Abelha, assim do nada, eu tinha um plano. Vou te contar: era viajar para Las Vegas neste mês de julho e me enfurnar em cassinos e baladas no ginásio Thomas & Mack center, da Universidade de Nevada-Las Vegas, para assistir a dezenas de peladas de basquete e, mais importante, entrar em contato com praticamente qualquer clube da NBA, grandes equipes da Europa, jornalistas, free-lancers e qualquer outro personagem disponível. No verão (setentrional), a Cidade do Pecado vira uma capital do mundo, com direito até mesmo a um draft da (mais rica do que você esperava) liga sul-coreana. Obviamente não deu certo a viagem, por motivos de bufunfa e as chamadas *oportunidades profissionais* cada vez mais escassas no jornalismo brasileiro, e vida que segue.

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Mas isso não quer dizer que o blog não tivesse olhos por lá. O Rafael Uehara já nos trouxe aqui uma avaliação sobre como andam Bruno Caboclo e Lucas Bebê em sua curva de desenvolvimento após um ano de treinos, tédio, treinos, escapulidas, poucos minutos em jogos oficiais e mais treinos em Toronto. Até que neste fim de semana entrei em contato com um scout veterano da NBA para colher mais impressões sobre os promissores brasileiros que tiveram uma semana importante na solidificação (ou não) como prospecto para a liga. Talento não falta para os dois jogadores do Raptors e para o pivô Cristiano Felício, recém-contratado pelo Chicago Bulls. Ainda assim, talento não faltava ao redor deles em Las Vegas também. No sentido de que a liga está abarrotada de jovens promessas de todos os cantos do mundo, cada uma sendo considerada bastante especial por jornalistas e torcedores de seu lugar de origem. Para sobreviver lá, você tem de evoluir. Do contrário, a fila anda, mesmo quando falamos de garotos de 20, 22 anos.

A boa notícia? Os três deixaram boas impressões, segundo o ponto de vista desse scout da Conferência Oeste, que esteve aqui no Brasil para assistir a jogos da LDB na temporada passada. Obviamente não posso identificá-lo, mas ele trabalha por seu clube há mais de oito anos e tem cargo de diretor. Veja abaixo o que ele escreveu em seu caderno de anotações sobre cada um deles.

Bruno Caboclo: “Ainda cru e talentoso, com muito potencial para ser explorado… A mecânica de arremesso para três pontos na linha da NBA parece boa, e ele arremessou com confiança… Por enquanto, é um arremessador sujeito a altos e baixos, precisando ainda trabalhar em sua consistência… Tem de continuar trabalhando para melhorar sua habilidade em por a bola no chão e criar para si e para os outros… Sólido na tabela, mas poderia ser ainda melhor… Melhorou em termos de força e jogo físico, mas ainda há o que fazer nessas áreas… Tem tamanho de NBA e ferramentas, mas precisa continuar desenvolvendo seu jogo de modo geral e melhorar principalmente em termos de consistência… Por exemplo, na defesa, suas ferramentas atléticas e físicas chamam ainda mais a atenção, mas o impacto que ele causa é inconsistente… A envergadura é um destaque, é só questão de aprender a usá-la em seu proveito: já poderia ser um cara muito melhor na hora de bloquear ou intimidar os arremessadores… Precisa aprender a jogar duro e permanecer engajado no jogo o tempo todo”.

Caboclo, e o penteado diferente. E o jogo?

Caboclo, e o penteado diferente. E o jogo?

(Um bônus: sobre Caboclo, também consegui conversar com um vice-presidente de uma franquia do Oeste, que bateu na mesma tecla sobre “esforço e energia em nível baixo” durante as partidas. Para este dirigente, Bruno pareceu também um pouco egoísta em quadra, olhando apenas para a cesta e para seus pontos. “Ele era uma página em branco para muita gente, e os primeiros capítulos não foram tão bons como esperava”, disse. Durante a conversa, todavia, o executivo amainou as críticas, lembrando o contexto em torno do caçula brasileiro. “Um ano sem jogar numa idade tão jovem, tendo ele já vindo de uma situação em que estava correndo atrás dos garotos de sua geração, não é fácil. Vai levar um pouco de tempo para ele se ajustar”, completou.

A combinação das notas acima e desse comentário nos dá um bom panorama sobre o ponto em que está Caboclo. Ele ainda é muito jovem e, realmente, o primeiro ano com o Raptors foi como se fosse o ensino primário. Se a franquia canadense acertou em seu planejamento, ainda está cedo para avaliar. Eles preferiram trabalhar com o ala em termos de porte físico e no aprendizado do inglês. A pergunta: não era possível fazer isso e mais um pouco? Esse dirigente acredita que sim. Mas Masai Ujiri estava de mãos atadas, sem ter um clube da D-League pelo qual o garoto pudesse jogar à vontade e sem poder exigir que Dwane Casey o usasse num time que pretendia ir longe nos playoffs. Foi exatamente esse o alerta que outro scout da NBA havia dado ao blog no ano passado, se vocês por acaso se recordam. Era mais um que havia se apaixonado pelos vídeos de Bruno no período pré-Draft, mas que enfatizava o quão era importante que ele fosse para a quadra para evoluir. O Raptors agora, enfim, tem sua própria filial. Vamos ver como eles se saem.)

Bebê já mostrou que tem habilidades para além da capacidade atlética

Bebê já mostrou que tem habilidades para além da capacidade atlética

Lucas Bebê: “Ainda impressiona também por suas ferramentas físicas e potencial, mesmo aos 22 anos… Suas atuações também foram um pouco irregulares, com altos e baixos, mas seu desempenho nos rebotes e na proteção da cesta se destacaram… De um modo geral, ele tem um jogo que pende para a finesse, tendo dificuldade ao enfrentar um estilo mais físico… Pode correr a quadra e tem mobilidade impressionante, podendo perseguir adversários em busca de tocos… Acaba sendo mais efetivo em movimento em direção ao garrafão… Em termos de jogo de costas para a cesta, existe uma carência clara… Por isso, dependia que os companheiros criassem oportunidades para ele… Ainda precisa ficar mais forte (mas não mais pesado). É algo que o ajudaria a se estabelecer no jogo interior… Mais um caso de atleta que precisa manter a concentração e a intensidade durante uma partida”.

(Aqui, uma reflexão da minha parte: durante a conversa com o executivo mencionado acima, argumentei que um ano inteiro praticamente fora de quadra, em termos de jogos para valer, pode pedir um tempo de “reabilitação” para os atletas, não? Os atletas muito provavelmente vão ficar ansiosos, querendo mostrar qualquer coisa em que tenham trabalhado durante os longos treinos. Daí a fixação de Bruno pelos arremessos em Vegas? Além disso, eles não têm mais ritmo de jogo algum. Mesmo que as ligas de verão não apresentem de modo algum um padrão, uma cadência que lembre a de um jogo de NBA de verdade, ainda estamos falando de partidas com cronômetro, arbitragem, adversários empenhados do outro lado e uma estrutura mínima de cinco contra cinco, bem diferente de rachões ou de um treino de mano a mano contra James Johnson. Daí a inconsistência? Não saber exatamente como dosar a energia em quadra? Pode ser, e melhor que as respostas sejam nessa linha. Como disse: há dezenas e dezenas de jogadores querendo uma vaga na linha. Vamos conferir isso com atenção durante a temporada da D-League.)

Felício não teve muito tempo como reserva de Bobby Portis e Cameron Bairstow

Felício não teve muito tempo como reserva de Bobby Portis e Cameron Bairstow

Cristiano Felício: “Teve minutos limitados, mas tem bom tamanho e é forte… Inicialmente, o jogo pareceu um pouco rápido demais para ele, mas o pivô se ajustou de modo admirável e conseguiu jogar de acordo com seus principais recursos… Ele é um reboteiro muito bom em um espaço, quando posicionado… Correu a quadra toda com muita energia… Não teve muitas oportunidades para mostrar seu jogo de garrafão, mas foi capaz de finalizar quando acionado no jogo interno em passes próximos de companheiros… Nesse tempo limitado, também mostrou bons sinais de habilidade para proteger a cesta e bloquear os adversários, embora nota-se que ele usa mais a sua força para combater lá dentro do que sua capacidade atlética”.

 (Sobre Felício, estou preparando um artigo maior, recuperando sua última temporada pelo Flamengo. Tem um talento enorme, e espero que os treinadores em Chicago o encarem da mesma forma. Acredito que ele pode ser muito mais do que o pivô do importante, mas básico pacote de “corta-luz + rebote + retaguarda defensiva + uma ou outra enterrada e bandeja”.)

Nada de férias! Como foi o verão de Lucas Bebê?
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Giancarlo Giampietro

É verão!

No Hemisfério Norte, digo. A estação do ano mais comemorada pelos caras lá de cima, que tanto sofrem durante inverno e outono com temperaturas abaixo de zero, e tal. Se aqui no Brasil estamos bastante mal acostumados com temperaturas calorosas durante boa parte do ano, em terras austrais a chegada das férias e do sol ganha proporções milagrosas. Eles arrumam as malas e vão para a estrada, mesmo, para curtir até o último dia que der. Que o diga Chevy Chase.

Para Lucas Bebê, porém, depois de tanto frio que passou em Toronto, andando pelos subterrâneo, e tudo mais, não tem coisa nenhuma de férias. O pivô foi para Las Vegas, mas a trabalho, em uma das três summer leagues que a NBA promoveu neste ano. Bebê, ou Nogueira para eles, teve a chance de jogar um pouco mais pelo Fort Wayne Mad Ants no ano passado, até se lesionar. Agora, assim como Bruno Caboclo, a despeito de uma temporada um tanto conturbada, tenta mostrar que pode contribuir para o time na próxima temporada. Será que ele impressionou? Vamos examinar.

Scout por Rafael Uehara, especial para o VinteUm.

Lucas Bebê, 22, ainda um projeto para o Toronto?

Lucas Bebê, 22, ainda um projeto para o Toronto?

Assim como com Bruno Caboclo, foi decepcionante o quão pouco tempo de quadra Lucas Nogueira teve na temporada passada. Foram apenas 23 minutos com o Toronto Raptors e 80 minutos com o Fort Wayne Mad Ants. (Dê uma olhada no post sobre o Bruno para entender melhor porque os jogadores do Toronto não tiveram oportunidades na liga de desenvolvimento).

Vale lembrar também que na temporada 2013-2014, Lucas enfrentou problemas físicos na Espanha e jogou apenas 297 minutos com o Estudiantes. Somando as últimas quatro temporadas, ele mal esteve em quadra por 1.000 minutos, o que não é um dado nada bom para uma idade tão importante para desenvolvimento. Lucas não pode de maneira alguma ser considerado velho, mas é de se preocupar que, já aos 22 anos, ele tenha passado tão pouco tempo em quadra.

Vale mencionar que Lucas parece ter usado esse tempo livre (de partidas) da melhor maneira possível. Ele se apresentou na liga de verão mais forte e com habilidades individuais um pouco mais desenvolvidas – ambos fatores que eram preocupações com relação à sua transição para o melhor basquete do mundo.

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Porém, por mais que treinos para aprimorar o porte físico e as habilidades individuais sejam importantes, o tempo de quadra ainda é o principal fator na evolução de um jogador jovem e, por isso, foi importante ver Lucas se apresentar bem nos 118 minutos que recebeu de rodagem na semana passada em Las Vegas.

Passes: Quando foi draftado, a projeção para Lucas era que ele poderia se tornar um desses pivôs modernos que pouco tocam na bola e não participam do processo de criação diretamente, mas que finalizam em pick-and-rolls extremamente bem e protegem o garrafão na defesa.

Bebê já mostrou que tem habilidades para além da capacidade atlética

Bebê já mostrou que tem habilidades para além da capacidade atlética

Porém, ele me surpreendeu bastante com sua habilidade de passar a bola em Vegas, especialmente porque o fez de todas as formas. Lucas não só manteve a cabeça erguida quando estava de costas para a cesta em post-ups, fazendo bons passes para alas cortando na diagonal, mas também se mostrou capaz de passar em movimento e de frente para a cesta – recebendo a bola no pick-and-roll e também em situações high-low, quando subia até o topo do arco e fazia o passe para o ala-pivô embaixo da cesta.

De acordo com o site RealGM, Lucas deu assistências em 17,5% das cestas que o Toronto marcou enquanto ele estava em quadra nessa última semana – uma marca altíssima entre pivôs. Embora, é preciso dizer que a média de três perdas de posse por jogo que ele registrou não seja algo para se ignorar.

Finalizações: É de se mencionar, porém, que Lucas se concentrou bem mais em flutuar no perímetro após o corta-luz do que partir para frente do aro e dar opção para a ponte aérea e isso é um tanto preocupante. Essa nova habilidade de passar a bola que o Lucas desenvolveu é muito boa, mas não pode vir às custas do fator ameaçador que ele representa ao redor do aro.

Como o oponente nunca o marcava quando ele flutuava fora do garrafão, Lucas tentou alguns tiros de meia distância e converteu um ou outro quando foi deixado totalmente livre, mas nada que deva ser levado muito a sério nesse momento. O que também é o caso de suas jogadas em post-up, pois ele ainda não tem força suficiente para recuar seu adversário.

É importante levar em consideração também que o pivô disputou a maior parte dos seus minutos junto com o Ronald Roberts, um ala-pivô que não abria até a linha dos três pontos e fazia com que o garrafão ficasse cheio demais. Ainda assim, foi um pouco desconcertante o quão pouco o Lucas cortou pra frente da cesta com convicção após o corta-luz, especialmente pelo fato de ele ter jogado com Delon Wright – um calouro, é verdade, mas formado em Utah e já um dos armadores mais bem desenvolvidos neste ambiente da liga de verão. Fora isso, nas vezes que o fez, Lucas mostrou dificuldade na recepção dos passes em tráfego.

Lucas foi muito bem nas duas tábuas

Lucas foi muito bem nas duas tábuas

Defesa: Lucas não foi perfeito defendendo pick-and-rolls, se mantendo todo erguido em vez de dobrar os joelhos, além de demonstrar não ter agilidade suficiente para marcar jogadores menores no mano-a-mano no perímetro. Quando recuado, todavia, foi muito bem protegendo a frente da cesta.

Graças à combinação de envergadura e agilidade saindo do chão, foram 13 tocos em cinco partida para ele. Mais que isso: de acordo com o NBA.com/stats, Lucas contestou em média 6,8 tiros de dois pontos por jogo – a terceira maior marca da liga de verão. Seus braços longos também cortaram vários passes. O Toronto permitiu apenas 77,8 pontos por 100 posses defendidas quando o brasileiro estava em quadra, marca que é excepcional.

Rebotes: Parte do motivo pelo qual Bebê foi um defensor de bastante impacto se deve a sua produção nos rebotes. Lucas ainda não é consistente brigando por posição em baixo da cesta, mas sua facilidade de salto e seus braços longos o ajudam a alcançar a bola em pontos mais altos. Ele resgatou 27,4% dos tiros perdidos pela oposição – a 11ª maior marca da liga de verão. Também foi muito produtivo no ataque, resgatando 14% dos tiros perdidos pelo Toronto.

Conclusões (por Giancarlo Giampietro): Bebê é três anos mais velho que Caboclo. Do ponto de vista de seu progresso, é um pouco preocupante que a diretoria e a comissão técnica do Raptors ainda o vejam como um projeto de médio prazo, no mínimo, a despeito do impacto evidente que ele pode ter em um jogo de basquete. Se havia alguma perspectiva de que ele seria mais aproveitado no próximo campeonato, a contratação de Bismack Biyombo foi uma bela ducha de água fria. Biyombo chega para fazer o papel que o brasileiro talvez pudesse muito bem cumprir: cerca de 15 a 20 minutos vindo do banco, protegendo o aro, atuando de modo firme no rebote e sendo uma peça marginal no ataque. O pivô da República Democrática do Congo é muito mais forte e também mais atlético que o carioca, é verdade. Teve sólido impacto por Charlotte nesses quesitos. Mas será que não valeria uma chance para Bebê – que, no ataque, pode oferecer muito mais? Talvez a turbulência na campanha de novato tenha custado em minutos agora. O jeito é o pivô erguer a cabeça, treinar mais e mais, arrebentar na D-League e tentar desbancar Biyombo durante a temporada.

Rafael Uehara é paulistano e colaborador de diversos sites estrangeiros. Você pode acompanhar mais de seu trabalho no Bball Breakdown e no Upside Motor. Ou, se preferir, em seu próprio blog, o Baskerball Scouting. Pode segui-lo no Twitter.

PS: um contrato de freelancer que começou neste mês deixará a atualização do blog um pouco intermitente durante a disputa dos Jogos Pan-Americanos. Análises sobre os jogos da seleção brasileira durante o Pan só no Twitter, ok?


Nada de férias! Como foi a liga de verão de Bruno Caboclo?
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Giancarlo Giampietro

É verão!

No Hemisfério Norte, digo. A estação do ano mais comemorada pelos caras lá de cima, que tanto sofrem durante inverno e outono com temperaturas abaixo de zero, e tal. Se aqui no Brasil estamos bastante mal acostumados com temperaturas calorosas durante boa parte do ano, em terras austrais a chegada das férias e do sol ganha proporções milagrosas. Eles arrumam as malas e vão para a estrada, mesmo, para curtir até o último dia que der. Que o diga Chevy Chase.

Para Bruno Caboclo, porém, depois de tanto frio que passaram em Toronto, andando pelos subterrâneo, e tudo mais, não tem coisa nenhuma de férias. O ala foi para Las Vegas, mas a trabalho, em uma das três summer leagues que a NBA promove neste ano. Pela primeira vez em muito tempo, teve a chance de jogar bons minutos, dia após dia, para tentar mostrar serviço ao técnico Dwane Casey e ao gerente geral Masai Ujiri. Mostrar que, a despeito de uma temporada um tanto conturbada, aproveitou o trabalho individual com os técnicos do time. Então dá para entender a ansiedade de muita gente aguardando suas atuações em sua segunda participação na Liga de Verão de Las Vegas. Que tipo de novas artimanhas ele poderia exibir? Como estaria sua fluência ofensiva? Sua curva de desenvolvimento?  Vamos examinar.

Por Rafael Uehara, especial para o VinteUm

Caboclo, e o penteado diferente. E o jogo?

Caboclo, e o penteado diferente. E o jogo?

O contexto: Bruno Caboclo esteve em quadra por apenas 87 minutos oficiais na temporada passada; 23 com o Toronto Raptors na NBA e 64 com o Fort Wayne Mad Ants da liga de desenvolvimento.

Quando a franquia canadense surpreendeu a todos ao escolhê-lo com a 20ª escolha da primeira rodada do draft, o comentarista da ESPN Fran Fraschilla classicamente opinou “he is two years away from being two years away”. Já se tinha mais ou menos uma ideia que Bruno veria pouco tempo de quadra entre os melhores do mundo.

Mas o fato de ele também ter jogado muito pouco na liga de desenvolvimento foi bastante decepcionante. A razão é porque o Toronto era um dos times que não tinha franquia própria na liga de desenvolvimento e dependia de um acordo com a franquia de Fort Wayne. Diferente das franquias que pertencem a times da NBA e são usadas com o principal foco em desenvolver jogadores, técnicos e estratégias para a matriz, Fort Wayne se mantém viva atraindo o público e patrocínio da região e o faz tentando competir pelo título. Logo, põe em quadra quem acha que o ajuda a ganhar e o brasileiro de 19 anos que mal tinha experiência na liga brasileira não se encaixava nesse critério.

Afundado no banco de reservas em sua primeira temporada. Era o esperado, porém

Afundado no banco de reservas em sua primeira temporada. Era o esperado, porém

A boa notícia é que o Toronto acaba de comprar uma franquia para disputar a liga de desenvolvimento na próxima temporada, o que vai proporcionar ao Bruno todo o tempo de quadra que ele precisa para começar a tentar alcançar o potencial que todos veem nele, o que é vital porque é muito provável que ele mais uma vez não faça parte dos planos de Dwane Casey neste próximo ano ainda.

Os Raptors acabaram de contratar DeMarre Carroll e ainda contam com DeMar DeRozan, Terrence Ross, James Johnson e Norman Powell no elenco. Mesmo com as saídas de Lou Williams, Greivis Vasquez (Casey gostava de ter dois armadores em quadra em algumas situações) e rumores de que o time será mais agressivo usando um de seus alas como ala-pivô em formações menores, ainda é difícil ver o Bruno como parte da rotação.

Especialmente considerando que ele não impressionou muito na liga de verão de Las Vegas na semana passada. Geralmente se espera um salto de produção das escolhas do primeiro round indo do primeiro para o segundo ano, possível de se ver logo na liga de verão. Giannis Adetokunbo ainda não é grande coisa, mas foi de qualquer forma uma peça importante em um time que se classificou para os playoffs no Leste, e mostrou já na liga de verão do ano passado o que estava por vir. Mas esse não foi bem o caso com Bruno, que não foi eficiente com seus tiros e não teve oportunidades de mostrar habilidades a mais do que aquelas esperadas.

De longa distância: no momento, o que Bruno faz com maior freqüência em quadra é o tiro de longa de distância. É um atleta com bom porte físico, mas não se apresentou para contra-ataques muito. Tocou na bola mais na meia-quadra mesmo e sempre se posicionava no lado oposto à bola, sem participação na criação de jogadas contra a defesa armada — isso ficava por conta do armador Delon Wright e do ala-armador Norman Powell, calouros recém-draftados, mas muito mais experientes e habilidosos que o brasileiro. Sua função era de atirador e como resultado, 63% de suas tentativas foram tiros de três pontos.

Caboclo conseguiu descolar um bom número de lances livres, mesmo não sendo muito criativo com ab ola

Caboclo conseguiu descolar um bom número de lances livres, mesmo não sendo muito criativo com ab ola

Bruno tem boa mecânica em seus lançamentos, mas dispara de maneira um pouco metódica, pouco fluida, e essa fração de segundo que ele perde para acionar o arremesso faz bastante diferença contra os atletas do melhor basquete do mundo – mesmo aqueles da liga de verão que estão sofrendo para arranjar emprego como 15º homem de um elenco. Por ora, Bruno tem muito mais capacidade para acertar tiros sem contestação do que lidando com qualquer tipo de defesa. No geral, converteu apenas 10 dos seus 36 tiros de três pontos nos cinco jogos que disputou.

Trabalho com a bola: Bruno teve algumas oportunidades de criar em situações em que o armador penetrava e o achava em posição de tiro ao redor do perímetro. Marcadores dão o pique para contestar o tiro, e, com uma ameaça de chute, cria-se a chance de partir para dentro.

O caçula ainda não tem muita explosão com a posse da bola e dificilmente criou a separação necessária para agredir. De todo modo, o ala consegue chegar ao aro ou arranjar lances livres devido ao seu porte físico. Tem longas passadas e vai da linha dos três pontos até o aro em dois dribles e dois passos. Também não é qualquer aala que consegue parar o impulso de alguém que mede 2,06 metros e pesa 96 quilos.

Bruno converteu 10 cestas de dois pontos em 21 tentativas e cavou em média 4,6 lances livres a cada 36 minutos em quadra, ambas as marcas bem promissoras. Porém, por outro lado, seu controle de posse é bem mediano e ele ainda tem muito pouco reconhecimento do jogo ao seu redor, sofrendo ao tentar criar para seus companheiros de time – registrando apenas quatro assistências nas cinco partidas e 11 perdas de posse.

Defesa: devido a seu porte físico e envergadura, espera-se que Bruno se desenvolva em bom defensor. Mas no momento ele ainda não é grande coisa. Individualmente, ele até consegue impedir a penetração de jogadores do seu próprio tamanho, mas não se mostrou capaz de permanecer na frente de jogadores menores.

Marcando o pick-and-roll, Bruno teve dificuldade de ir por cima do corta-luz e se recuperar com velocidade. Talvez seja possível que ele seja grande demais para esse tipo de estratégia, sendo melhor ir por baixo e usar sua envergadura para contestar tiros de longa distância.

Bruno também teve alguns lapsos que lhe custariam tempo de quadra em qualquer outro ambiente que não fosse a liga de verão. Em determinado lance de jogo contra o Chicago Bulls de Cristiano Felício, resolveu deixar um arremessador do nível de Doug McDermott completamente livre no canto e partiu para dentro do garrafão sem a menor razão. A bola eventualmente chegou às mãos de McDermott, que acabou errando, mas que não se deve deixar de modo algum sozinho nesse tipo de situação. Um lapso que realmente não seria perdoado em um ambiente mais exigente como a temporada regular nos playoffs, em que as vitórias valem (e custam) tanto, especialmente para um time com ambições de ir longe nos playoffs.

Conclusões, por Giancarlo Giampietro: durante toda a  temporada passada, os dirigentes e técnicos do Toronto Raptors afirmaram que o principal objetivo com Caboclo era aclimatá-lo à América do Norte, à cultura da NBA. Como este blog já reportou, talvez o garoto tenha se sentido até bem demais fora de quadra, com algumas questões disciplinares que deixaram o clube preocupado.  e que, do ponto de vista esportivo, iriam se concentrar no desenvolvimento de seu corpo. Ele já aparece mais forte, mesmo. Ainda assim, isso não quer dizer que não tenham trabalhado em quadra, especialmente com o técnico Jama Mahlalela. Em Las Vegas, então tivemos a chance de ver como está seu progresso dentro das quatro linhas. O que se nota é que ele ainda não está pronto para fazer parte da rotação do Raptors, mesmo que o plano fosse que ele jogasse mais já no segundo ano. Isso só deve acontecer pela franquia da Liga de Desenvolvimento, mesmo, o Raptors 905, hospedado em Mississauga. Caso o ala aceite essa situação, sem se ver desprestigiado por estar jogando na liga menor, terá uma boa oportunidade de expandir seu jogo para além da dinâmica de “correr e se posicionar no lado contrário à espera do chute de três”. É de se esperar que, depois de tanto reclamarem da dinâmica do Fort Wayne Mad Ants, vão deixar o brasileiro agora à vontade para arriscar e errar, até que os acertos se tornem mais frequentes. Cabe ao brasileiro abraçar essa situação e tentar tirar o melhor dela, para adicionar mais elementos ao seu jogo e mostrar potencial para além dos atributos físicos.

Rafael Uehara é paulistano e colaborador de diversos sites estrangeiros. Você pode acompanhar mais de seu trabalho no Bball Breakdown  e no Upside Motor. Ou, se preferir, em seu próprio blog, o Baskerball Scouting. Pode segui-lo no Twitter.

PS: um contrato de freelancer que começou neste mês deixará a atualização do blog um pouco intermitente durante a disputa dos Jogos Pan-Americanos. Análises sobre os jogos da seleção brasileira durante o Pan só no Twitter, ok?


Entevista: scout da NBA avalia Bruno Caboclo e aguarda plano do Raptors
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Giancarlo Giampietro

Bruno Caboclo: a dois anos de contribuir? Giannis? Tudo em perspectiva

Bruno Caboclo: a dois anos de contribuir? Giannis? Tudo em perspectiva

Alerta! Alerta! Alerta!

Primeiro que o blog voltou. Depois, com base no assunto do post, importante ressaltar que foi apenas uma liga de verão.

Não dá para tirar conclusões, análises definitivas sobre nenhum jogador nesse contexto de competição – em que o padrão de jogo é basicamente nulo e no qual muitos atletas mandam às favas qualquer senso coletivo para tentar impressionar ao máximo os dirigentes, técnicos e scouts na plateia. Talvez inconscientes de que essa fome toda possa ser um tiro no pé.  O Raptors, por exemplo, tinha quatro armadores brigando por espaço, com Scott Machado entre eles.

Por outro lado, para um garoto como Bruno Caboclo, acaba sendo algo muito valioso. Em diversos sentidos. Do ponto de vista do garoto, foram 130 minutos de jogo contra a competição que é certamente a mais difícil de sua breve carreira. Para os olheiros, era uma grande chance de avaliá-lo em meio a profissionais já rodados, ou recém-iniciados, mas mais velhos. Algo crucial, considerando que há pouco mais de um ano estava jogando apenas contra juvenis no Brasil.

Não é o caso de dissecar os números da jovem aposta brasileira, no entanto. Há quem consiga analisá-los com base em projeções estatísticas a partir de uma base de dados ainda limitada. Mas, sinceramente, aí já acho forçar demais a barra – os cálculos têm uma natureza um tanto dúbia, de qualquer forma.

De modo que vale mais bater um papo com alguém já habituado a assistir e processar esse tipo de competição. No caso, um chapa que é scout internacional de uma franquia da NBA. O acordo é não divulgar sua identidade, nem o clube para o qual trabalha. Posso dizer apenas que se trata de alguém bastante experiente e de uma franquia indiscutivelmente aberta a jogadores estrangeiros, criativa na hora de contratar.

Que fique o registro de que é um olheiro que já havia visto Bruno em ação por um bom número de jogo no período pré-Draft, ainda que não in loco, como foi o caso do gerente geral do Toronto Raptors, Masai Ujiri, e seus asseclas. Obviamente a observação a olho nu conta muito mais, especialmente em uma tarefa tão delicada, tão susceptível a diversas nuanças como a avaliação de um prospecto. Se for um rapaz de 18 anos, em competições menores no Brasil? Ainda mais difícil. Mas é isto: não estamos falando com alguém que viu o ala ex-Pinheiros pela primeira vez. Importante também mencionar que se trata de uma visão independente sobre o garoto. Ainda que o camarada represente, de alguma forma, os interesses de outro clube, tenho confiança total de que, nessa conversa, ele tentou ser o mais imparcial possível:

21: Qual tipo de coisa os scouts tentam, vão observar num ambiente de Liga de Verão? Sabemos que é um jogo completamente diferente, mas que tipo de nota é possível tomar sobre os jogadores, pensando na liga principal?
Scout: Queremos ver como o jogo deles se traduz neste contexto diferente. Afinal, é a primeira indicação que temos a respeito deles, ainda que esteja longe de ser uma indicação final. Alguns caras acabam mudando de posição na NBA, como o Cleanthony Early (calouro do New York Knicks), que jogou como PF na universidade (de Wichita State), e na NBA será um SF. Esse tipo de coisa. E aí você quer ver como os caras vão lidar com adversários de tamanho bem diferente aos daqueles que eles estão acostumados a enfrentar. Obviamente não é o indicador ideal, mas já dá para passar uma noção.

Capacidade para o arremesso de Bruno já é destacada por scout, assim como suba envergadura realmente impressionante. Vejam o tamanho dos braços. Glup

Capacidade para o arremesso de Bruno já é destacada por scout, assim como suba envergadura realmente impressionante. Vejam o tamanho dos braços. Glup

Sobre o Bruno, teve algum aspecto de seu jogo que chamou a atenção, nesse sentido?
Bem, todos os aspectos de seu jogo chamaram atenção. Especialmente pela escolha alta que ele teve, que pouquíssimos esperavam. Seu arremesso já estava se traduzindo muito bem. Obviamente que também o seu tamanho e corpo, e tudo isso. Mas aí, se formos pensar em um basquete para valer, de verdade, acho que ele teve muitas dificuldades. Algumas pessoas, porém, consideram que ele pareceu muito melhor que o esperado. Em geral, foi seu arremesso que acabou agradando bastante.

Mas, para você, em geral, o desempenho do Bruno foi bom? Claro que precisamos ter em mente sua idade e inexperiência, o nível de competição que encarou no Brasil. Pensando nisso, acha que ele estava adiantado em sua curva de aprendizado, ou basicamente como você esperava?
Ele já consegue receber a bola na zona morta e chutá-la. Isso já é uma grande vantagem na NBA de hoje (*). Ele também pode conseguir fazer algo em transição devido a seus atributos físicos. Isso já lhe renderia algo em torno de cinco a oito pontos por jogo. Mas ele ainda precisa descobrir como defender, e como jogar, em geral. Ele tem as ferramentas para isso, mas ainda está muito, muito longe de entender o jogo e como usá-las. Ainda tem um longo caminho para ele realizar seu potencial. Quanto tempo vai levar? Bem, ele já sabe arremessar. O grande ponto de interrogação para ele é o que ele vai contribuir do outro lado da quadra. Minha maior preocupação é que o Raptors não tem uma equipe na D-League (**), de modo que eles não têm aonde desenvolvê-lo. Se fosse o San Antonio, o Houston ou o Utah, por exemplo, isso já seria diferente. Além disso, o Raptors está carregado na sua posição. Será interessante ver o que vão fazer com ele e como vão desenvolvê-lo.

(*Nota: o scout faz referência ao “corner three”, o arremesso da moda no plano tático da liga: a distância ali é mais curta para o chute de três pontos, tendo maior probabilidade de acerto, de modo que os técnicos estão usando-o cada vez mais, na tentativa de espaçar ou desestabilizar a defesas.)

(**Nota: cenário da liga de desenvolvimento da NBA é bastante desfavorável ao Raptors. Dos 18 clubes menores, 17 têm vínculo exclusivo com um clube de cima. A franquia canadense, porém, não é uma delas. E isso significa que ela tenha de dividir Fort Wayne Mad Ants com outras 12 equipes, perdendo o controle ou a influência clube sobre orientações táticas, uso de jogadores etc.)

Inevitável citar aqui também a já famosa frase do Fran Fraschilla (ex-treinador e analista da ESPN, que foi pego de surpresa no momento em que Bebê foi anunciado pelo Raptors na 20ª posição), de que o ala estaria a dois anos de estar a dois anos de se aprontar para a NBA.
A maioria das pessoas comentou em Las vegas que essa dos dois anos para estar a dois anos não parece muito correta. A sensação na plateia foi a de que ele está a dois anos de contribuir, e ponto. Mas pelo menos dois anos. E aí, sim, precisamos ter em mente o quão inexperiente ele é, o nível de treinamento e jogo no Brasil, e tudo o que você citou para lhe dar o benefício da dúvida. Se ele viesse de um contexto diferente, então o que vimos seria mais preocupante.

Ele já foi comparado a Giannis Antetokounmpo em diversas ocasiões, e eu consigo entender isso do ponto de vista de sua narrativa – de alguém que veio, digamos, do nada – e a capacidade atlética absurda. Mas é justa essa comparação? Ou, em termos de habilidade em quadra, ele ainda está muito atrás, em relação ao que o grego mostrou ano passado?
Acho que ele está bem atrás, mas já arremessa de um modo que o Giannis realmente não conseguia. Em todos os demais aspectos, acho que o Giannis estava muito mais desenvolvido quando entrou na NBA. Mas eu também achava que o Giannis estava a dois anos de contribuir, e estava errado (risos). Eles têm a mesma “história”. Então existe essa chance de que possa ter alguma produtividade, mas isso depende de muitas coisas. Uma das melhores coisas que aconteceu para o Giannis foi o fato de ele ter sido draftado por aquele que foi o pior time da NBA e que não tinha quase nada em sua posição. Então não havia pressão alguma. Havia tempo de quadra disponível, e ele teve o melhor cenário para se desenvolver. O Bruno não vai ter esse luxo. O Raptors teve a melhor campanha da franquia em muito tempo, tendo inclusive vantagem de mando de quadra nos playoffs. Eles renovaram o contrato de todos os seus caras. O Jonas está um ano mais velho. A expectativa deles é de seguir vencendo, e, como disse, as alas estão carregadas. Não sei ao certo aonde o Bruno se encaixa.

E quanto ao Lucas Bebê, o que pode dizer do que viu?
O Bebê teve uma temporada bem difícil por causa dos problemas físicos. Ele não pareceu pronto durante a Liga de Verão, mas… Quem sabe? Ele precisa sair do Estudiantes, isso é certo. Se é para outra equipe na Espanha ou na Europa, ou para o Raptors, essa é uma boa pergunta. (*)

(*Nota: o site Encestando, da Espanha, já noticia neste sábado que o Toronto Raptors acertou com o Estudiantes a rescisão contratual do pivô brasileiro, que vai se juntar a Caboclo na temporada 2014-15 da NBA. São seis jogadores do país por lá agora, com o retorno de Leandrinho também sendo bem provável. Para Scott Machado e Fabrício Melo, as coisas estão mais difíceis.)

* * *

O blog está de volta à ativa com essa entrevista, então, depois de um longo recesso por motivos de Copa do Mundo – de futebol, no caso. Vocês se lembram dela, né? Temos uma seleção brasileira reunida em São Paulo, outra jogando na Venezuela. Desafio também será recuperar o que se passou com aqueles velhinhos teimosos do Spurs e a volta de LeBron James para Cleveland. O que dizer a respeito, depois de mais de 76 bíblias já publicadas e revisadas a respeito? Vamos tentar, uma hora dessas. Abraço, e até mais.


Na vaga de Raulzinho, Scott Machado chega à 3ª escala em seu sonho de NBA
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Giancarlo Giampietro

Scott Machado, e aí?

E não é que, mesmo sem Raulzinho, o Utah Jazz pode iniciar a temporada 2013-2014 da NBA com um armador brasileiro em seu elenco? Lá está ele, Scott Machado, já na terceira escala de seu sonho de se firmar como um jogador da liga norte-americana.

A equipe de Salt Lake City inicia formalmente suas atividades para um novo campeonato nesta segunda-feira, com o “Media Day”, no qual os jogadores ficam disponíveis para sessões de fotos e entrevistas com os jornalistas antes do tapinha inicial do training camp. E toca o gaúcho nova-iorquino, um rapaz bastante otimista e batalhador, falar sobre suas ambições como profissional e sobre como esta é uma excelente oportunidade para ele mostrar seu valor.

Mas é mesmo? Qual é o Utah Jazz que ele tenta convencer a lhe empregar nas próximas semanas?

Este é um ano de transição drástica para o clube. Abriram mãos de alguns veteranos consolidados e decidiram investir em jogadores mais jovens, com a expectativa de desenvolver uma base mais forte a longo (ou médio?) prazo.

Algo parecido com o que se passou em quadra ao final da carreira de John Stockton e Karl Malone. Com pequenas diferenças, claro: 1) o grupo anterior, de Al Jefferson, Paul Millsap e alguns resquícios da era Deron-Boozer-Okur, jamais chegou perto da identidade que aqueles chatíssimos, mas eficientes times dos anos 90 tiveram, ainda mais carregados por duas lendas do basquete; 2) a nova guarda de agora tem muito mais talento para oferecer do que os times de Arroyo, Raul López, Sasha Pavlovic, Jarron Collins e Ben Handlogten, a despeito da exuberância de Andrei Kirilenko.

A ideia é investir no núcleo de Trey Burke, Gordon Hayward, Enes Kanter, Derrick Favors (e talvez Alec Burks? Rudy Gobert?). Depois de anos medíocres com Al Jefferson e Paul Millsap, flertando com os playoffs, mas sem ter chance alguma de incomodar, chegou a hora de apostar que um ou vários desses garotões estoure e venha se tornar um líder de maior potencial, pensando em voos mais altos num Oeste ainda muito competitivo.

Nesse sentido, Scott encontra, então, um contexto benéfico para alguém igualmente jovem. Esse é o ponto mais otimista para o brasileiro se equilibrar. Outro: o armador foi o primeiro atleta a ser convidado pelo gerente geral Dennis Lindsey (mais um dos pupilos de Buford e Popovich em San Antonio) para fazer parte dos treinos da pré-temporada. Os alas Mike Harris, ex-Rockets, e Dominic McGuire, ex-Wizards e Warriors, foram os atletas adicionados na sequência – McGuire, um defensor versátil, capaz de segurar as pontas no perímetro e de reforçar o rebote é alguém de que sempre gostei, e seria um bom substituto para o enérgico DeMarre Carroll, que fechou com o Hawks. Por fim, chegaram o ala Justin Holiday (irmão mais velho do Jrue), o veterano ala-pivô Brian Cook (um pesadelo para Phil Jackson), o viajado pivô Dwayne Jones e o armador Nick Covington, da D-League e bom arremessador do perímetro.

Explicando do que se trata o tal do “contrato do training camp”: o jogador assina sem garantias alguma, tal como no ano passado com Houston. Isto é, pode ser dispensado a qualquer momento, sem que a franquia lhe deva muito dinheiro.

Não é o compromisso mais promissor do mundo, mas o fato de ele ter sido o primeiro da lista já conta para alguma coisa. Principalmente pelo fato de a diretoria ter acabado de dispensar Jerel McNeal, armador rodado na D-League e que fechou com a equipe na temporada passada. (Embora ainda não esteja claro se essa atitude teve a mais a ver com um desinteresse do clube, ou se o atleta recebeu alguma proposta mais vantajosa para jogar na Europa ou China.)

Scott terá, então, alguns dias ou semanas para convencer o técnico Tyrone Corbin de que seria útil ao seu time. Em teoria, falta ao elenco do Utah Jazz hoje um terceiro armador, atrás do calouro Burke, nona escolha do Draft deste ano, e de John Lucas III, ex-Raptors, Bulls e tantos outros.

Acontece que Hayward e Burks (não confundir com Burke… Deveria haver uma regra na NBA que proibisse os times de criar esse tipo de confusão para jornalistas e torcedores, não?) também têm o tipo de habilidade no drible e visão de jogo que lhes permite conduzir uma equipe em quadra por alguns minutos. Ainda mais se acompanhados em quadra pelo ala-armador Ian Clark, um baixinho que impressionou durante as ligas de verão, jogando pelo Miami Heat e pelo Golden State Warriors. Clark apresenta o suposto biótipo de um armador, mas não está habituado a criar para os outros. Tem muito mais tino para a finalização, com um excepcional tiro de três pontos. De todo modo, se for para quadra, deve ter alguma responsabilidade na estruturação da equipe.

(A presença de Clark, aliás, no elenco do Jazz não deixa de ser uma ironia e um incentivo para Scott: foi ele quem o colocou no banco no Warriors de veraneio em Las Vegas, praticamente definindo a demissão do brasileiro. Há divergências sobre o tipo de vínculo que ele tem com o clube. Se parcialmente garantido – no sentido de que, se mandado embora, ainda embolsaria pelo menos um cheque de agradecimento – ou se já tem um salário integral assegurado.)

Incluindo o chutador revelado pela universidade de Belmont, o Utah tem 13 jogadores contratados para a temporada, o mínimo necessário para a formação de um elenco, de acordo com as regras da liga. De modo que Scott precisa fazer bons treinos, dando sequência aos testes que realizou nas Montanhas Rochosas durante o mês de setembro, para tentar abrir mais uma vaguinha nesse plantel.

O que causa estranhamento, de certa forma, em seu convite pelo Utah Jazz é a baixa estatura dos armadores já contratados pelo time. Com 1,80 m, Lucas consegue encarar este blogueiro  de olho-pra-olho, assim como o titular Burke, com seu generoso e oficial 1,83 m. Scott teria sido ainda mais abençoado com seu oficial 1,85 m.

É de se esperar que os gerentes gerais procurem diversificar na formação de um time, com peças complementares no banco de reserva. Do ponto de vista físico, Scott não oferece nada de diferente, sofrendo igualmente diante de armadores maiores, mais fortes e mais atléticos – e sabemos que a liga está inundada com este tipo de cara. Ainda que em seus últimos jogos pelo Warriors ele tenha se mostrado combativo na defesa, pressionando com sucesso o drible do adversário, o tipo de adversários que enfrentou em Vegas é bem inferior aos Roses e Walls do mundo.

O que o brasileiro oferece de diferente (beeeem diferente, aliás) é sua visão de jogo, sua maior propensão para o passe, facilitando a vida de seus companheiros no ataque. Lucas é um chutador por vezes descontrolado, enquanto Burke seria um meio termo, dependendo da orientação que tiver de sua comissão técnica.

Além disso, Scott ainda precisa solucionar sua mecânica de arremesso de modo urgente, além de melhorar sua técnica para conversão de bandejas – ainda tem muita dificuldade para encarar pivôs fisicamente intimidadores, e os treinos contra Favors, Kanter e Gobert já serão um duro teste. Sim, o armador persiste, busca novos caminhos para continuar sua carreira, mas as coisas de forma alguma se apresentarão fáceis para descolar um emprego de alto nível.

Uma posição que Raulzinho teria a oportunidade de ocupar este ano, mas que postergou ao tomar a correta decisão de voltar para a Espanha, aonde poderá ficar muito mais minutos para usufruir e evoluir. De lá, nem que seja online ou por meio de algum espião-amigo em Salt Lake City, poderá coletar as informações com o que se passa com seu breve companheiro de seleção, de olho no futuro.


Recusa de novato israelense evidencia lobby de times da NBA contra seleções
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Giancarlo Giampietro

Gal Mekel, orgulho israelense

Mekel foi barrado, de alguma forma, pela diretoria do Dallas Mavericks

São poucos os aficionados de NBA que já ouviram de Gal Mekel. Então permitam que o blog faça as honras: é o armador israelense, de 25 anos, recém-contratado pelo Dallas Mavericks, muito criativo com a bola, que vem de uma grande temporada pelo Maccabi Haifa, pelo qual foi campeão nacional e venceu também os prêmios de MVP tanto da temporada regular como das finais.

Mekel jogou demais pelo Mavs de verão em Las Vegas, mostrando de cara ser um armador puro, de verdade, que trata a bola com uma categoria impressionante, sendo muito instintivo em seus movimentos.  Está sempre de cabeça erguida, sem ser muito veloz no drible, mas avançando com seu próprio ritmo,  meio hipnotizante, lembrando muito Steve Nash (em estilo, o que não quer dizer que seja o “Novo Steve Nash”, ok?).

Pois bem. Foi um achado do Mavs. Ele chega para o banco de José Calderón, sem muita pressão, mas dá para imaginar que já vá ter um impacto em sua primeira campanha, ainda mais largando na frente de outro calouro, Shane Larkin, lesionado.

E, seguindo a lógica desta temporada de seleções, o que é ganho do Mavs significa, parece, obrigatoriamente perda de uma seleção. Israel, que tanto batalha para ter um time competitivo em nível continental, vai ter de encarar o Eurobasket sem seu principal condutor, para ira do técnico Arik Shivek.

Gal Mekel, no Mavs de verão

Mekel, visão de jogo. A serviço do Mavs e só do Mavs

Em entrevistas para a mídia israelense, Shivek saiu, num rompante, a detonar o clube texano, que recomendou a Mekel que ele se apresentasse para treinos em agosto, bem antes da abertura do traning camp oficial. Veja bem: não é que o jogador estivesse proibido de defender seu país na competição de 4 a 22 de setembro. Mas, como diz um o comandante Jair: “Se puder evitar…”. ; )

“O Mavs disse a Mekel que seria benéfico para ele participar dessas atividades”, disse o técnico israelense, que concentrou seus ataques em Donnie Nelson, o braço direito de Mark Cuban na direção da franquia. Se o Dallas foi uma das principais forças por trás da internacionalização da liga norte-americana, Nelson teve uma grande influência nesse processo. Natural: o filho do malucão Don Nelson foi assistente técnico da seleção lituana por anos e anos, sendo um dos ianques com a cabeça mais aberta para o mundo Fiba. Daí que Israel talvez esperasse um pouco mais de compreensão…

“Falei com Donnie Nelson pelo telefone. Isso me pegou de surpresa. Colocaram Gal em uma situação injusta”, disse Shivek, que questionou o dirigente sobre o que seria melhor para a evolução do armador: duelar com Tony Parker ou perder tempo jogando golfe?

Hehehe.

Aí deu uma exagerada, mas vale sempre o humor corrosivo.

Israel está no Grupo A do Eurobasket, que conta com a França de Parker, mais Grã-Bretanha, Alemanha, Ucrânia e Bélgica. Não são necessariamente os adversários mais fortes, mas a competitividade em si do campeonato europeu talvez já valesse para o atleta.

De todo modo, pensando o outro lado, dá para entender as motivações do Mavs facilmente. Tudo vai ser novidade para o jogador. Cidade, rotina, tática, nível de competição (ele não estaria sozinho em quadra, os mais jovens e alguns veteranos mais abnegados se apresentam e estão sempre rondando o ginásio), e tudo mais. Quanto mais cedo um jogador chegar, mais tempo para se adaptar a isso tudo. Desde que trabalhe sério e desencane dos campos de golfe, claro. O armador apenas diz: “Ficar afastado do Eurobasket não foi fácil. Mas tomei a decisão certa depois de consultar meu treinador da seleção e os diretores do Mavs”.

É o mesmo processo pelo qual Lucas Bebê vai passar com o Atlanta Hawks. Saca?

Mesmo que ele não vá assinar com a franquia para agora, o gerente geral Ferry o quer por perto pelo maior tempo possível, para acelerar os trabalhos físicos e técnicos com o pivô. Lembrando que o mesmo Ferry já havia criado alguns empecilhos para Anderson Varejão, em seus tempos de chefão do Cleveland Cavaliers.

Esse tipo de impasse acontece há tempos, não vai se encerrar por aqui e, na verdade, só tende a piorar, já que o influxo de jogadores estrangeiros na NBA segue firme, ainda mais com a crise econômica abalando as principais ligas europeias. Apenas os figurões têm autonomia para barganhar.

Por isso é bom que Magnano se familiarize com essa ideia, mesmo. Do contrário, teremos mais e mais convocações nos próximos anos que não terão representatividade alguma.


Recusa de Scott Machado ao Spurs em 2012 ganha outro contexto após duas demissões
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Giancarlo Giampietro

Scott Machado

Não sei bem como me posiciono na hora de falar sobre “O que aconteceria se… ?”, sobre rotas alternativas, caminhos hipotéticos, saca?

É meio que da “natureza humana” (gasp!) ficar repensando as coisas? Remoendo, remexendo? Talvez. Mas é fato também que nem todo mundo age desta forma. São admiráveis também essas pessoas resolutas, que avançam como um trator, só mirando para a frente, sem volta. Desde que tenham um pouco de escrúpulo, claro.

Todo esse papinho filosófico para levantarmos uma pergunta daquelas, envolvendo Scott Machado:

“E se ele tivesse dito sim ao San Antonio Spurs?”

Foi uma lembrança do leitor “HFavilla”, em nosso post anterior sobre a dispensa do armador pelo Golden State Warriors. A de que o brasileiro nova-iorquino estava prestes a ser selecionado pelo clube texano no Draft do ano passado, na 59ª posição, mas forçou a barra para que Gregg Popovich o deixasse em paz.

Escreveu o “HFavilla”: “O erro do Scott aconteceu na noite do Draft, quando desprezou o San Antonio Spurs, que tem um armador que, apesar de estar no seu auge técnico, já é veterano e não possui nenhum reserva consistente ainda, fazendo com que o time procure por muitas alternativas. Passaria uns 2 anos evoluindo na Europa? Sim, provavelmente, mas é assim que as coisas funcionam por lá”.

Lembremos aqui o que Scott falou ao vizinho Balassiano em 2012: “O San Antonio Spurs me queria, e eu acabei recusando. Disse ao Aylton (Tesch, seu agente na época) que preferia tentar a sorte nas Ligas de Verão, porque sabia que iriam me mandar jogar fora dos Estados Unidos, algo que eu não queria. Foi uma decisão rápida, na hora mesmo, e que acabou dando certo. Logo depois o Houston Rockets me chamou pra jogar”.

Bem, nada na liga norte-americana é definitivo, como Scott agora já sabe bem. O que “dá certo” numa semana pode não se sustentar no mês seguinte. Contratado pelo Rockets, demitido pelo Rockets. Contratado pelo Warriors…

Reparem no termo que ele usa: “Uma decisão rápida, na hora mesmo”. Por ímpeto, claro. Scott cresceu em Nova York como jogador de basquete, uma cidade com muita tradição em seus playgrounds e colegiais, tendo revelado dezenas e dezenas de talentos que viriam a se tornar profissionais, especialmente armadores – Stephon Marbury, Sebastian Telfair, Mark Jackson são alguns exemplos de uma lista vasta. Neste contexto, imagine a expectativa, a pressão (também financeira), a ansiedade de um garoto da megalópole quando ele se aproxima da liga. Embora não tivesse o maior cartaz, o brasileiro fez um bom trabalho pela modesta universidade de Iona, entrou no radar dos scouts e desenvolveu legítima ambição de ser um cara de NBA.

Daí que, quando as coisas não saem conforme o esperado – descolar um contrato garantido na noite do Draft –, por vezes você se sente impelido a tomar um atalho, a querer resolver as coisas na hora. Foi a decisão que o armador tomou. Em vez de se colocar sob a alçada de uma franquia que é notória no desenvolvimento de seus atletas, preferiu se tornar um agente livre para ampliar seu leque de negociações. Fechou rapidamente com o Houston Rockets, mas acabou perdido nos planos do irrequieto gerente geral Daryl Morey.

Agora, as ressalvas. Os calouros selecionados na segunda rodada de um Draft também não têm presença certa na NBA, diga-se. Depende muito da equipe, de suas necessidades imediatas e do quanto gostam de um determinado jogador. Por exemplo: em 2008, o Bulls se empenhou horrores para ter o turcão Omer Asik. O Portland Trail Blazers o escolheu como o número 36 daquele recrutamento, mas foi convencido a repassá-lo para Chicago em troca de três escolhas futuras de segunda rodada. Três! Quer dizer, o gerente geral John Paxson realmente queria Asik.

No caso de Scott e do Spurs, ao fazer a escolha na penúltima posição da lista, não saberemos dizer se o Spurs estava necessariamente enamorado por Scott. Seria o caso de perguntar para Popovich ou RC Buford algum dia desses. Depois da recusa do brasileiro, o time optou pelo ala-armador Marcus Denmon, da universidade de Missouri. E não deu outra: Denmon iniciou sua carreira como profissional no basquete francês, sendo campeão nacional pelo Élan Chalon ao lado do pivô Shelden Williams.

Neste ano, Denmon participou da liga de verão de Las Vegas pelo Spurs. Quer dizer, estão monitorando o rapaz, de 23 anos. Na rotação do time, teve de dividir espaço com Nando De Colo e Cory Joseph, que são prioridade, e terminou com médias de 10,8 pontos, 2,8 assistências e 2,6 rebotes, em 21,8 minutos. O que ele faz de melhor é arremessar de fora, e ele mandou bala da linha de três pontos sem piedade (26 chutes no total, mais de cinco por jogo), que é sua especialidade. Acertou 38,5% desses disparos, um bom aproveitamento para as peladas que são esses confrontos. Pensando em seu progresso, seria um eventual substituto para Gary Neal, sendo moldando da mesma forma (em termo de vocação ofensiva), mas ainda com deficiências no drible. Não está pronto para a grande liga ainda, mas não é o mesmo que Rockets e Warriors acham o mesmo sobre Scott?

Há outros casos de escolhas de segunda rodada de Buford e Popovich que ainda não foram aproveitados no elenco principal. Entre os americanos, o ala-armador Jack McClinton (51 em 2009) e o pivô James Gist (hoje um nome top na Euroliga, 57 em 2008) são dois exemplos recentes. Temos também diversos jovens europeus nessa condição: o húngaro Adam Hanga em 2011 (também 59), o inglês Ryan Richards em 2010 (49), o centro-africano Romain Sato em 2004 (52), entre outros. Mas aí as coisas fazem mais sentido: são os clássicos casos de “stash picks”, quando as franquias da Europa fazem a seleção com o plano de já deixá-los nas ligas europeias para desenvolvimento.

Enfim, ser selecionado pelo Spurs e virar um jogador de NBA no futuro, então, não é uma ciência exata. Por outro lado, que o brasileiro não estava pronto também para a liga fica claro.

Mas, sabendo o que sabemos hoje, será que ali, nos minutos finais de uma looonga noite de 28 de junho de 2012, quando foi abordado pelos diretores do time texano, será que a resposta seria diferente?

 


Melhor na defesa, sofrendo no ataque, Scott Machado se vê em situação delicada no Warriors
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Giancarlo Giampietro

Scott na luta

Scott batalha, tenta finalizar contra o Mavericks: a quadra e o aro ficaram pequenos em Las Vegas

Armadores precisam fazer de seus companheiros melhores em quadra. Deixar o jogo mais fácil, simples para quem está ao seu redor.

Imagine quantas vezes Scott Machado, ele mesmo um armador purinho da silva, não ouviu esse mantra? Nos playgrounds no Queens, seja ao lado dos companheiros colegiais, desenvolvendo seu jogo na tímida universidade de Iona. É o dever, a missão dele em quadra.

“Sim, senhor.”

Mas e quando você não tem muito o que melhorar ao seu redor? E quando seus companheiros são ruins toda vida, como é que fica? Como no caso do Golden State Warriors de verão, uma dureza. Pelo menos do que assisti na primeira partida da equipe no torneio de Las Vegas, era um time bastante limitado, com pivôs pouco atléticos ou ágeis e uma falta de arremessadores no perímetro. Muitos passes do armador pareciam destinados a assistência, mas o aro acabava não permitindo, se é que vocês me entendem.

Neste triunfo contra o Washington Wizards, a equipe do brasileiro  deu um jeito e venceu por 56 a 52, o placar mais baixo na história das ligas de verão. De alguma forma, porém, esse time conseguiu elevar sua produção para triunfar nas próximas três partidas, anotando 80, 84 e 79 pontos, algo bem mais aceitável nesse tipo de competição (varzeana). Só não me perguntem como.

Scott Machado, no Warriors de verão

Scott tenta deixar a defesa para trás sem sucesso

E como a nova diretoria do Warriors, com uma perspicácia impressionante para montar seu elenco de cima, conseguiu juntar um plantel aparentemente tão frágil assim? Sabemos que seus scouts têm um retrospecto sólido para descobrir talentos – vide o tanto de gente boa que já recrutaram na D-League.

Acontece que, nas ligas de verão, nem sempre interessa a uma franquia juntar um time para ser campeão. Sucesso em julho não quer dizer nada comparando com a ação de verdade que começa em outubro. Em julho, mais vale observar e incentivar o progresso de alguns jogadores-chave, com quem realmente esperam contar  mais para a frente.

De modo que não parece absurda a ideia de que, num catadão de 10 ou 15 atletas , eles não estejam nada preocupados com a qualidade dos atletas periféricos, para exigir mais daqueles que julgam mais importantes em seus planos. Com o armador novato Nemanja Nedovic, que acabou afastado por conta de um tornozelo torcido, o ala Draymond Green, o ala-armador Kent Bazemore e – por que não? – Scott, contratado no finalzinho da temporada passada.

Sem muitos cestinhas talentosos ao seu redor, o armador seria obrigado a assumir mais responsabilidades ofensivas. Expandir o seu jogo.

Por um lado, os cartolas e treinadores do Warriors têm o que comemorar quando o assunto é o sobrenome Machado. Pois, na defesa, o rapaz tem se mostrado uma verdadeira peste, muito agressivo no combate individual, colocando pressão em demasia em cima da bola. Na estreia contra o Wizards, por exemplo, ele desestabilizou por completo um veterano como Sundiata Gaines, que ficou completamente frustrado em quadra e, na partida seguinte, perdeu seu posto de titular.

Acontece que, do outro lado da quadra, a história tem sido bem diferente. De maneira preocupante.

Nos primeiros quatro embates em Vegas, o brasileiro vem sofrendo consideravelmente. Pequeno, sem poder jogar muito em contra-ataques – a sua preferência, explorando sua velocidade –, tem enfrentado muita dificuldade para finalizar, encontrar a cesta. Seu chute de média e longa distância ainda não funciona bem e, sem muito espaçamento ma meia quadra,  acaba contestado com frequência perto da cesta. Até aqui, ele converteu apenas cinco arremessos 31 tentativas, num aproveitamento de 16,1%. Ai. E não é por falta de tentar: contra o Dallas, nesta quinta, foram sete erros em oito chutes, somando apenas três pontos. Sua média na semana é de 4,3 pontos por jogo. Certamente não era o tipo de rendimento que ele esperava.

Kent Bazemore, nome da fera

Bazemore: evolução clara em julho

Ao seu lado, no perímetro, Kent Bazemore vai se saindo muito bem, obrigado.

Bem mais alto e forte que Machado, o ala-armador consegue se virar melhor por conta própria. Enfrenta defesas concentradas com maior sucesso, registrando 18 pontos em média até aqui, com 45,8% de conversão nos arremessos. Também vem fazendo um bom trabalho quando assume a condução do time, como o armador solitário em quadra, num experimento claramente importante para a comissão técnica. Vem orquestrando surpreendentemente bem as ações no pick-and-roll – ainda que a maioria delas terminasse com ele mesmo partindo para a cesta, hehe – e, no geral, parece estar num degrau acima, jogando como alguém já consagrado.

Esse é um ótimo desenvolvimento para o clube, claro, mas não tão saudável para Scott.

Que se vê novamente numa enrascada, em sua luta sem parar para se afirmar como um jogador de NBA – em vez de um aspirante.

Stephen Curry é o titular indiscutível. Nedovic chega com um contrato garantido de primeira rodada no Draft deste ano e é muito mais rodado (jogou Euroliga…) e mais forte atlético – seu apelido pode ser um tanto patético, mas ficou conhecido como o “Derrick Rose europeu”, vejam só. Além disso, assim como na temporada passada, lá vem o Toney Douglas, seu velho conhecido de Houston, cruzar sua vida novamente. Já são, então três armadores (ou quase) aqui, geralmente o número que os times carregam em seu plantel. Bazemore, mais versátil e com prioridade entre os diretores – sendo cultivado há mais tempo pelo atual regime –, também está na frente e se encaixaria melhor na rotação, como possível reserva para Iguodala.

Neste sábado, o Warriors volta a quadra, e Scott tem mais uma chance para ver se endireita a munheca, sem poder deixar sua intensidade diminuir. Para sobreviver na liga, vai precisar dar tudo o que tem e mais um pouco. Principalmente esse “mais um pouco”.  E vai ter de ser sem ajuda, mesmo.


Raulzinho põe pressão em calouro badalado do Utah, mas diz que só fica na NBA se for para jogar
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Giancarlo Giampietro

Olha o Raulzinho aí, gente

O pirulão Gobert e os armadores que brigam por espaço em Utah. Burke não esperava…

Depois que Trey Burke foi selecionado na posição número nove do Draft, Raulzinho, ou Raul Neto, como dizem lá, precisou esperar um tempão. Mais 37 atletas fossem chamados até que ouviu o seu nome, como a 47º da lista, para o Utah Jazz, via Atlanta Hawks.

Então, na hora de juntar as peças, tentando entender quais os planos da franquia de Salt Lake City para a próxima temporada, o natural era pensar que tdoa a prioridade do mundo seria de Burke. Afinal, estamos falando do jogador do ano no basquete universitário, vice-campeão por Michigan, e pelo qual eles pagaram duas escolhas de Draft para poder subir cinco postos e asseugrá-lo.

Raulzinho? Bem, saindo apenas na segunda rodada, ele não teria direito a um vínculo garantido. Além disso, tem um contrato em vigência na Espanha. E… Será que a franquia toparia entrar no campeonato com dois armadores novatos em sua rotação? Quer dizer, o cenário não era muito animador para que o brasileiro seja aproveitado já na próxima temporada. Até que…

Nesta quarta-feira, depois de ficar fora das duas primeiras rodadas enquanto a burocracia da Fiba não liberava sua papelada, o armador foi para quadra na liga de verão de Orlando, teve uma ótima atuação em fácil vitória sobre o Brooklyn Nets por 98 a 69 e colocou um pouco de pimenta nessa história toda.

Raulzinho jogou por pouco mais de 18 minutos, saindo do banco, e terminou com sete pontos, três assistências e quatro rebotes. Mais que os números, porém, o que causou melhor impressão foi o modo como se comportou em quadra, tranquilo, sereno, sem se deixar levar por nenhum tipo de nervosismo. Ajuda o fato, claro, de ter atuado no segundo principal campeonato nacional do mundo nos últimos dois anos. “Estava mais nervoso ontem porque não sabia se iria jogar, mas hoje eu me senti bem demais”, disse o atleta.

Raul Neto, o Raulzinho

Frame da estreia de Raulzinho

Sem colocar muita fé no brasileiro, o técnico Jason Kidd (ainda soa muito estranho isso, aliás) colocou seus jogadores para pressionar o oponente na quadra inteira. Quem ficou mais no seu pé foi Chris Wright, jogador da D-League. No final, Tyshaun Taylor também foi para o abafa. O filho do Raul não deu a menor bola. Soube lidar com essa marcação, controlando bem seu drible e partiu para cima.

Em um lance no terceiro quarto, ficou muito perto de um turnover até que recuperou a compostura, sacudiu Wright com um crossover da direita para a esquerda, e limpou espaço para fazer o corte. Foi até a cesta e fez a bandeja na cobertura de chocolate, por cima do bração estendido do pivô. Uma de suas belas jogadas que deixaram todos os envolvidos bastante impressionados. Veja no vídeo abaixo este lance e uma assistência dele para ponte aérea, com muita categoria, a partir dos 50 segundos:

Apenas nos minutos finais do quarto período que o queridinho de Magnano afrouxou um pouco, evidentemente cansado, cometendo alguns turnovers ao tentar inventar demais, com passes por trás das costas e tal. Na defesa, teve alguma dificuldade para conter, se colocar à  frente do atlético Wright, especialmente no primeiro tempo. De um modo geral, ele parecia um pouco pequeno perto de tanta gente atlética e vigorosa. Mas, após o intervalo, provavelmente mais adaptado ao nível de competição e ao caos geral que tende a ser uma destas partidas de verão, fez um trabalho muito melhor lidando com essas investidas e causou alguns desperdícios de bola e contestou arremessos.

No geral, foi uma tremenda atuação, ainda mais considerando o fato de que nem treinar direito com os novos companheiros ele pôde – e era visível o desentrosamento da equipe, com um bando de jogadores reunidos há poucos dias, muitos dos quais nunca atuaram em conjunto. “Você não precisa treinar com o time. Todo mundo joga o mesmo jogo”, afirmou o brasileiro, confiante que só.

 “Ele fez um ótimo trabalho. Levando em conta que ele nem treinou conosco, isso mostra um pouco sobre sua mentalidade”, afirmou o assistente técnico Sidney Lowe, que comanda o time de verão do Jazz, que se derramou em elogios – e o melhor foi notar que o técnico principal, Tyronne Corbin, observa tudo atentamente na lateral da quadra, ao lado do legendário Jerry Sloan, agora um consultor da franquia. “Ele sabia cada jogada. Ele sabia o que queríamos, nossas ações. Ele sabia aonde os caras deveriam estar. Sabia o ritmo. Isso fala muito (sobre seu talento).”

A equipe de transmissão da NBA TV não parava de citar seu nome. Era “Raul Neto” para lá e “Raul Neto para cá” – pareciam ter prazer de falar essas palavras, também. Beeeem diferente de quando precisavam narrar o nome do esloveno Rašid Mahalbašić, hehe.

Raulzinho na telinha

Raulzinho gastou seu inglês com Dennis Scott e Rick Kamla ao fim do jogo

Os setoristas dos diários de Utah também fizeram sua parte em elogiar o brasileiro. E, jornalista que são, já começaram a ficar irrequietos e a desenvolver uma trama que deve dominar a seção de esportes do Salt Lake Tribune e do Desert News nesta quinta-feira. A carreira de Trey Burke na NBA não tem nem uma semana e ele já se vê pressionado.

O armador revelado por Michigan não foi nada bem nas duas primeiras partidas em Orlando, a ponto de a comissão técnica ter decidido preservá-lo contra o Nets. Seus números após confrontos com Miami Heat e Houston Rockets: 9,5 pontos, 3,5 assistências, 4,5 rebotes e três desperdícios de bola. Seria algo até regular não fosse o horrendo aproveitamento de 22,2% arremessos e os 10% na linha de três pontos. No total, ele acertou apenas seis chutes em 27 tentativas. Argh.

Então…

“Será interessante ver como Trey Burke reage depois de ter sentado no banco e observar o jogo depois do modo como Raul Neto respondeu”, escreveu Jody Genessy, do DN. “Muito foi falado sobre como Burke vai precisar de tempo para aprender o ataque (algo verdadeiro), e então Net aparece e mostra que sabe, friamente”,  escreveu Bill Oram, do Tribune.

Deu para sacar o clima, né?

Da sua parte, quando questionado sobre o que o futuro (imeadiato) lhe reserva, Raulzinho manteve a linha: é preciso esperar que seu agente, o ex-ala-pivô Aylton Tesch, vai resolver com o Jazz e com o Lagun Aro GBC, seu clube na Espanha. Mas mandou seu recado também, dizendo que só fecharia com a franquia da NBA se tivesse garantias de que seria aproveitado em quadra – seria pouco inteligente, mesmo, trocar uma situação confortável numa liga fortíssima com a ACB, na qual vem evoluindo consideravelmente, para virar um esquenta-banco nos Estados Unidos.

“Claro que, se eu tiver que escolher, quero jogar na NBA, mas isso não cabe a mim”, afirmou ao DN. “Tenho de falar com meu agente e ver o que será melhor para mim. Porque não quero ficar aqui sem jogar. Eu quero jogar.”

Está certo que foi apenas uma partida, numa liga de segundo escalão, e que há muito mais o que fazer durante a semana. Mas, se a primeira impressão é a que fica, vai ser difícil o Utah Jazz não deixá-lo jogar. Goste Trey Burke, ou não.


Fabrício Melo vive semana decisiva para encaminhar sua carreira pelo Boston Celtics
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Giancarlo Giampietro

A história não mudou muito, não. Só um pouco.

Fabrício Melo continua sendo encarado pela diretoria do Boston Celtics como um “projeto”. A diferença: talvez o clube esteja mais disposto a  utilizar o brasileiro. O quanto? Muito vai depender de sua atuação durante a liga de verão de Orlando, que começou neste domingo. “Nós conversamos a respeito e ele sabe é uma semana muito importante”, afirmou o técnico Jay Larranaga, que era cotado para assumir a equipe principal até que Danny Ainge surpreendeu a NBA ao contratar o jovem Brad Stevens para o lugar de Doc Rivers.

Rivers que, segundo o Boston Herald, não apostava muito no pivô e, em off, deixava isso claro para os jornalistas. Com uma comissão sendo constituída agora, Fabrício fica mais animado. “Definitivamente vejo isso como um novo começo para mim. Estou pronto para encarar e me sinto muito diferente comparando com o ano passado. Não sabia o que esperar. Agora sei o que acontece. Estou muito mais confortável”, disse Melo

Fabrício e o meio-gancho

Fabrício, em ação contra o Orlando Magic: bom início de semana decisiva

A equipe de verão do Celtics está sob o encargo de Larranaga, que teve coisas positivas para falar sobre o mineiro de Poços de Caldas antes do início do torneio na Flórida. “Ele tem se preparado realmente durante o último mês em Boston, trabalhando duro, então espero que ele tenha uma ótima liga de verão”, disse. “Acho que Fab tem feito um ótimo trabalho desde o momento em que começamos a treinar.”

Legal, e tal. O que pega é que o treinador ainda se sente impelido a fazer uma resalva: “Ele ainda não é um produto finalizado”. É uma repetição natural do discurso de Danny Ainge no ano passado. Sabiam que haviam contratado alguém que levaria tempo para contribuir. Por isso, a liga de verão em Orlando é tão importante: o clube precisa saber o quanto progrediu e o quanto falta para poder ser um atleta de NBA para valer.

Neste domingo, pela estreia da liga de verão contra o Magic,  pudemos ver um pouco de tudo do discurso de Larranaga – a NBA TV transmite tudo online durante a semana e, depois, nos brindará com os jogos de Las Vegas. No primeiro tempo, o brasileiro, ainda muito cru ofensivamente, foi ignorado por seus companheiros em muitos ataques, sem mal poder tocar na bola. O canadense Kelly Olynyk, o mais novo draftado da equipe, foi quem centralizou as ações, algo esperado. O jogador de Gonzaga é bastante talentoso e mais desenvolvido que o companheiro nesse sentido. Embora um ano mais jovem, tem muito mais rodagem e bagagem.

No segundo tempo, outro jogo: Fabrício se apresentou de modo mais assertivo em quadra e, mesmo sem o condicionamento físico ideal, batalhou no garrafão com dois jogadores competentes em Kyle O’Quinn e Andrew Nicholson e teve sucesso. E foi recompensado do outro lado, marcando todos os seus pontos após o intervalo. Em uma ocasião, converteu até mesmo um tiro de média distância seguido de falta, e os reservas do Celtics se divertiram horrores no banco.

É claro que ninguém em Boston imagina ou sonha que Fabrício vá virar um Kevin McHale. Ainge o selecionou para proteger o aro, dominar os rebotes, fazer bons corta-luzes e, se possível, contribuir de uma forma ou de outra com pontos debaixo do aro. “Ele tem um potencial tremendo”, diz o técnico. “Ele teve alguns grandes jogos nesta temporada da D-League. Fez algumas coisas que nenhum jogador havia feito antes, com seus triple-doubles (de pontos, rebotes e tocos). Ele teve um ótimo impacto defensivo, então o que nós apenas temos de fazer é levá-lo a traduzir isso para a NBA, e de modo consistente.”

Kelly Olynk, um talento

Olynyk, aposta de Ainge, muito mais desenvolvido que Fabrício

Antes de avaliarmos 0s números de Fabrício neste primeiro jogo, uma nota obrigatória: as estatísticas das ligas de verão são constantemente questionadas por scouts e jornalistas presentes no ginásio. E, de certo modo, elas pouco importam também. Treinadores e dirigentes estão muito mais interessados em ver essas peladas para projetar o que suas revelações podem fazer nos jogos que realmente importam, do que em acumular vitórias em julho.

De todo modo, lá vão: foram nove pontos, oito rebotes e um toco (em Victor Oladipo, ala superatlético selecionado em segundo no Draft deste ano) para o brasileiro, que jogou por 28 minutos. Mas, dentre seus dados, o mais importante foi seu saldo de cestas: +6, o maior de todos os dez atletas do Celtics que foram para quadra. Além dele, apenas o ala-armador Courtney Fells teve saldo positivo na derrota por 95 a 88 diante de um adversário que escalou muitas figuras de seu time principal. Outra marca importante: cometeu apenas três faltas, sem deixar de ser combativo, problema que foi uma constante nas últimas temporadas.

Com diz Larranaga, a despeito de a inexperiência de Fabrício, o desafio é fazer isso de modo consistente durante toda a semana, decisiva. Afinal, um ambiente de extrema competição como o da NBA, não há tanta paciência assim. O pivô se mostra confiante. “Acho que estou muito perto”, disse. “Acho que agora vou jogar. Isso é o que vai me fazer melhorar: apenas jogar basquete. É do que preciso. Agora quero ficar confortável e mostrar o que posso fazer.”

 

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As opiniões sobre Fabrício depois da estreia:

– Brad Stevens (quem mais importa, no caso): “Não tenho condições de comparar o ano passado, nem mesmo duas semanas atrás com o que vi hoje, mas penso que as coisas que me impressionaram sobre ele foi o modo como ele tentou se comunicar defensivamente. Acho que ele foi bastante ativo, muito engajado. E ele obviamente fez alguns ganchos bem em frente de onde estávamos, mostrando muito toque. Ele é um cara grande que pode jogar no garrafão e ao redor dele. Sabe fazer corta-luzes. Defensivamente, ele parece alguém que tem bons instintos e sabe o que está acontecendo. As primeiras impressões foram boas”.

Jay Larranaga: “Acho que Fab fez um monte de coisas legais. Ele nos dá uma presença interior. Ele fez alguns ganchos legais, foi para o rebote, deu um belo toco. Ele hoje está como todos nós: um trabalho em progresso, e acho que ele deu bons passos hoje”.

Jared Sullinger (pivô que também parte para o segundo ano em Boston, muito mais polido também e que está afastado devido a uma cirurgia nas costas, mas acompanha o time feito um assistente técnico): “Comparando com o ponto em que estava no ano passado, ele é um jogador completamente diferente”.

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Uma presença interessante no elenco de verão de Boston: o armador Jayson Granger, que é… Uruguaio (filho de Jeff Granger, ala-pivô americano naturalizado que defendeu nossos vizinhos do Sul por anos e anos). Velho conhecido daqueles que seguem Lucas Bebê na Liga ACB, é mais um dos projetos sul-americanos do Estudiantes. Com 23 anos, 1,88 m de altura, ele vem de uma bela temporada na Espanha e decidiu se testar contra atletas de primeiro nível nos EUA. Neste domingo, acertou apenas um de seis arremessos, mas somou cinco pontos e quatro assistências, ganhando mais tempo de quadra depois da lesão de Nolan Smith, azarado jogador ex-Portland. O jovem Granger, porém, costuma ignorar a seleção uruguaia.