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A 11ª vitória seguida da Lituânia. E uma dúvida sobre o Brasil
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Giancarlo Giampietro

Naquele que foi seu melhor jogo, Larry mal foi usado no segundo tempo. E aí?

Naquele que foi seu melhor jogo, Larry mal foi usado no segundo tempo. E aí?

Por 18 minutos, o Brasil foi soberano em quadra com sua defesa, mas também aproveitando bem seus ataques. Restando precisamente 1min57s no cronômetro do primeiro tempo, o time vencia por 38 a 21, numa exibição verdadeiramente impressionante contra uma fortíssima Lituânia. Um rival que havia vencido seus dez primeiros amistosos rumo ao Mundial.

Acontece que, dali para a frente, os vice-campeões europeus foram paulatinamente entrando no jogo. Do instante em que Tiago Splitter anotou dois pontos em uma bandeja em diante, os caras venceram por 43 a 23 e chegaram a uma poderosa marca de 11 vitórias em 11 partidas-teste. Foi 64 a 61 o placar final.

São só amistosos, é verdade. Mas vá falar isso para os lituanos. Com 100% de aproveitamento – tendo batido Austrália, Eslovênia, Grécia e Finlândia (duas vezes) –, caminham para lá de confiantes em suas possibilidades.

Para a seleção de Magnano?

Há o que se pensar, sem poder tirar muitas conclusões. Sinto dizer.

Essa derrota poderia muito bem entrar na lista daquelas do “como” – em “Como diabos eles perderam (também) esse jogo?!”, numa pergunta já um tanto disseminada por estas bandas.

Seria uma conclusão fácil, mas um tanto precipitada.

Antes de se concentrar no que se passou em quadra, é preciso entender que a Lituânia deve aparecer acima do Brasil em cada oito ou nove listas de favoritos ao pódio desta Copa do Mundo. Na minha está, e isso apenas quer dizer que é uma seleção forte pacas, com uma rotação robusta, cheia de gente que atua nas grandes ligas europeias há muito, muito tempo, com extensa rodagem experiência e fundamentos excelentes.

Além do mais, não foi um jogo típico da fase do bumba-meu-boi brasileiro, com altos e baixos alternados a cada cinco minutos. Não sei se serve de consolo, mas o Brasil teve nesta quinta 18 grandes minutos e outros 22 não muito bons, mas sem oscilações dentro desses períodos.

Então o que acontece, para levar uma virada dessas?

Acredito que ela ocorreu por dois motivos (fora o fato de eles, do “1 ao 11” – ou, do 4 a 15, pra ficar na numeração Fiba, são tecnicamente superiores):

1) sinceramente, parece que a Lituânia foi pega de modo desprevenido pela intensidade do Brasil na primeira etapa. Não quer dizer que estavam de corpo mole. Mas talvez não estivessem exatamente preparados para o adversário. E aí a gente pode ir longe também: os jogadores brasileiros não são nada desconhecidos. A base é a mesma de Londres 2012. E foram os rapazes tupiniquins que tiveram de viajar para a Europa, se adaptando ao fuso. Então que história é essa de ser pego de calça curta? São pontos todos válidos. Mas, bem, por outro lado, se tratava de um amistoso, né? Neste caso, para um time que já disputara dez partidas – o dobro de seu adversário. Poderiam não estar cansados, mas talvez relaxados? E que talvez nem conheçam tão bem assim, em detalhes, o funcionamento da seleção nacional, embora saibam muito bem como um Tiago Splitter, por exemplo, gosta de atuar? Enfim, foi essa minha impressão. Que, após o intervalo, eles entraram prontos para responder – e conseguiram.

2) O próprio conceito de amistosos e fase de testes em si: até que comecem os jogos para valer, você nunca sabe ao certo quem está escondendo cartas e, ao mesmo tempo, experimentando, ou não. Acreditar nesse tipo de situação também depende de algumas questões levantadas acima: o quanto times tão em evidência como Brasil e Lituânia têm para esconder? Uma ou outra jogada marota? Propostas inteiras de jogo? Não sei bem. Mas o Brasil, por exemplo, não acelerou muito seu ataque em transição, mesmo sendo um time mais veloz em basicamente todas os confrontos particulares, de jogador com jogador. Além disso, Magnano em nenhum momento do segundo tempo repetiu a formação que havia dado mais certo no segundo quarto, justamente quando sua equipe abriu larga vantagem. Ao passo que, do outro lado, a Lituânia também só colocou um quinteto efetivamente fortíssimo nos chutes de três pontos, com Simas Jasaitis, Jonas Maciulis e Ksystof Lavrinovic (ou “Lavrinovic-K”, daqui para a frente) no terceiro quarto – e, vejam só, foi quando cortaram a diferença para mais da metade. Mesmo que as bombas não tenham vindo, eles já representavam uma ameaça a ponto de espaçar a defesa interior brasileira.

Magnano, segurando cartas, ou jogando tudo de uma vez?

Magnano, segurando cartas, ou jogando tudo de uma vez?

Do ponto de vista brasileiro, é uma dúvida que já julgo crucial. O técnico segue rodando bastante seus atletas, com diversas combinações aplicadas no decorrer dos quatro períodos. Não chega a ser absurdo, pois ainda vivem uma fase preliminar. Mas, por tudo que já li e ouvi sobre construção de rotações, um time geralmente responde com muito mais eficiência quando os atletas passam a saber exatamente seu papel em quadra, o que se espera deles. Da mesma forma que a repetição dos exercícios, da prática desenvolve melhor coesão, entrosamento entre eles, para, aí, sim, se transformarem em unidades. Com o rodízio intenso, vamos atingir esse ponto? Estaria o argentino confiante o bastante com o resultado dos treinos para mexer, mexer, e mexer mais um pouco sem o temor de perder consistência?

Contra a Lituânia, Magnano começou com Huertas, Leandro, Alex, Nenê e Splitter. Aos poucos, foi inserindo os reservas, para iniciar o segundo período com aquela que seria a segunda “unidade”, formada por Raul, Larry, Machado, Hettsheimeir e Varejão. Talvez seja esse o esboço de rotação que vá ser oficializado no Mundial, com a perspectiva de uma troca entre Marquinhos e Machado. Nesse sexto jogo, Marcus foi o último reserva a entrar em quadra. Giovannoni ficou fora o tempo todo.

Fato é que, no segundo tempo, Marquinhos já começava ao lado de Huertas, Leandro, Hettsheimeir e Splitter, num misto do que havia sido utilizado até então. Larry, que havia jogado tão bem o segundo período, foi chamado de volta apenas a quatro minutos do fim. Machado nem foi mais acionado. Isso quer dizer que o comandante ainda está avaliando as suas possibilidades? Provavelmente. Mas não custa lembrar: restam apenas dois amistosos antes do Mundial. E, de tanto que já trabalhou com esse núcleo desde que assinou com a CBB, é de se perguntar o que falta para firmar terreno? O temor: que, na verdade, o padrão no Mundial será não ter padrão, um problema (ao menos aqui na base 21, lê-se como “problema”, sim) que já ocorreu em outras campanhas.

Obviamente você não vai ser rígido ao extremo com seu elenco. Cada adversário pede, ou no mínimo sugere ajustes. Você desenvolve um plano tático, tenta se impor com ele, mas precisa ter jogo de cintura para se adaptar. Agora, esperava mesmo ver um pouco mais de estabilidade nessa perna europeia de amistosos. Perder um jogo não é o fim do mundo, ainda que o time agora tenha 50% de aproveitamento em seis testes. Jogar de igual para igual com a Lituânia é bom sinal, na verdade. Dependendo da sua expectativa – e de quais são os planos concretos de Magnano.

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Esse quinteto (?) reserva do qual Larry fez parte executou uma defesa que foi de deixar qualquer um orgulhoso – mesmo com alguém lento como Machado na formação. Compensa aqui a agilidade e inteligência de um pivô como Varejão, para fazer as dobras e recompor e a explosão física de Larry, que entrou em quadra ligado no 220 V. Mesmo Hettsheimeir movimentou seus pés como raramente se vê, bloqueando armadores que vinham em sua direção, desviando vários passes. A porta estava fechada na cara dos lituanos, que demoraram 4min26s para anotarem os três primeiros pontos na parcial, com um chute de te Maciulis. Esses seguiram os três únicos pontos até a marca de 18min03s. No geral, a parcial foi vencida por 16 a 7.

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Um parêntese sobre Machado, contudo. E, sim, vai parecer um contrasenso, uma vez que ele esteve em quadra no melhor momento da seleção. Mas… há de se tomar cuidado com a forma como ele será usado. No reencontro com algum chapa de Zalgiris Kaunas, não demorou um minuto para que ele fosse atacado no mano a mano por Maciulis, com o lituano usando sua força física para dominar o veterano brasileiro de costas para a cesta, sofrendo a falta para dois lances livres. Foi automático. De modo que ficou difícil de entender porque esse tipo de movimento não foi repetido. Talvez tenha a ver com pressão que Larry colocou em cima da bola e o pandemônio de sempre que Varejão apronta. De qualquer forma, o que temos é o seguinte: contra times que façam bem seu scout, o ala tende a ser atacado. Seja por oponentes mais altos/fortes ou mais baixos/rápidos. Se ele não estiver convertendo as bolinhas de fora (0/3 desta feita…), imagino que será muito difícil mantê-lo em quadra com o jogo valendo classificação.

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Sobre Rafael Hettsheimeir: ele foi o cestinha brasileiro, com 14 pontos em 21 minutos. Depois da badalada exibição contra os Estados Unidos, ele repetiu a dose na Eslovênia ao acertar 4 de seus 7 disparos do perímetro, incluindo os três primeiros. Foi com essas bombas de três, consecutivas, que o Brasil saiu de um placar de 19 a 18 com 9min18s de jogo para 28 a 18 com 11min20s. O oponente não estava realmente pronto para lidar com isso. O assunto já ganhou proporção que pede um texto próprio a respeito. Mas registre-se que, no segundo tempo, os lituanos cuidaram para que o pivô não lhes causasse mais tantos estragos.

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Leandrinho, entrando em forma

Leandrinho, entrando em forma

Os números de Leandrinho não saltam aos olhos: 6 pontos (com 2/7 nos arremessos), 3 assistências, 3 rebotes, 1 roubo de bola. Ainda mais em 25min33s, sendo o brasileiro que mais ficou em quadra neste amistoso. Mas o ala-armador fez uma boa partida, colocando sua capacidade atlética a serviço da defesa, sendo bastante competitivo, recuperando bolas eventualmente perdidas e tudo o mais que leva um time adiante.

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Um lance em especial do segundo período chamou a atenção no ataque brasileiro: Huertas driblava pela zona morta, na direita. Marquinhos cortou em parábola por baixo da cesta, rente ao fundo da quadra e recebeu um passe por trás das costas do armador. Em vez de girar com a bola e partir para o chutinho usual – e a munheca deve ter coçado… –, o ala teve paciência e visão de jogo para ver Anderson, cortando no garrafão, completamente livre. Dois pontos para o pivô, que abriria 15 no marcador (36 a 21), num momento em que o adversário parecia grogue em quadra. Foi o tipo de jogada que evidencia a importância dos deslocamentos sem a bola que tanto se cobra no time.

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Por falar em Huertas… O condutor da seleção fez mais uma partida fraca, no mínimo. Já chegamos a um estágio que é para se preocupar? O titular do Barcelona hoje somou, em 25 minutos, 4 pontos, 4 assistências e 4 desperdícios de posse de bola e a pior marca no saldo de cestas da seleção: 11 pontos negativos. Mais do que os números, chamou a atenção seu desempenho um tanto aerado. De seus quatro turnovers, três foram cometidos de forma incrível, com o experiente atleta saltando com a bola sem ter um destino claro (não sabia bem se passava ou arremessava, entregando-a nas mãos dos adversários). O terceiro erro dessa linha foi no quarto período, em momento crucial. Chegou a reclamar da arbitragem, mas sem muita convicção. Estranho, bem estranho.

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A arbitragem, aliás, foi bastante confusa e, vamos lá, nada mesquinha. Interferiu demais no andamento de um amistoso, apitando 44 faltas. Quem levou a pior nessa foi Splitter, o melhor jogador brasileiro e o único a ficar pendurado com cinco infrações. Em 18 minutos, o catarinense terminou com 11 pontos, 6 rebotes e 2 assistências.


Diante de armadilha americana, foi Raulzinho quem escapou
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Giancarlo Giampietro

Derrick Rose, de volta a Chicago, retomando a forma: a explosão física ainda está lá

Derrick Rose, de volta a Chicago, retomando a forma: a explosão física ainda está lá

(Obs: post atualizado domingo de manhã, com as estatísticas)

Lembramos o Mundial de 2010, em que o jogo foi decidido na última bola. Teve também o amistoso antes de Londres 2012, também no pau. Então o placar de 95 a 78 para os Estados Unidos, no quinto amistoso do Brasil rumo ao Mundial masculino, não pode ser visto como um bom sinal, algo que Splitter, mesmo, deixou claro em entrevista ao SporTV. Não dá, mesmo, para ser encarado como algo auspicioso, como um “grande teste”, e tal. Tem sempre de se tomar cuidado com a versão oficialesca da coisa.

Mas também não é o fim do mundo. Por 20 ou 25 minutos, a seleção jogou de modo competitivo. Melhor: nesses momentos, tinha em quadra o armador Raulzinho, justamente o personagem mais criticado nesta fase de preparação.

Neste sábado, foi um dos melhores em quadra (6 pontos e 4 assistências em 14 minutos). A diferença básica: o jovem atleta dessa vez usou a velocidade adequada, arrancando nos momentos certos. Teve calma com a bola, em vez de jogar com a quinta engatada o tempo todo. Isso, a despeito do convite da defesa americana para a correria e o caos, quase sempre pressionando muito a bola.

(A lição: não vale julgar um atleta por quatro ou cinco partidas. Posto isso, o corte de Rafael Luz ainda me parece inexplicável, por diversos motivos, que valem um texto particular. Só fica uma pergunta, porém: precisava definir o grupo de 12 atletas de modo tão rápido? Você economiza em passagem e hospedagem, mas talvez tire a chance de um jovem atleta provar ainda mais que merece uma vaga nos amistosos seguintes. Desde que,  claro, Magnano esteja aberto a novos nomes em sua lista e não tivesse o grupo fechado em sua cabeça desde fevereiro. De 2012, no caso…)

Agora, voltando a esse papo de pressão na bola. É um dos pontos centrais de estratégia da defesa norte-americana nesta retomada da hegemonia mundial – e algo que vai ser intensificado nesta equipe atual, visto que o garrafão está ainda mais enfraquecido. O tipo de armadilha com que Huertas, Larry, Alex e Leandrinho não souberam lidar (juntos, Huertas, Garcia e Barbosa cometeram 12 dos 21 turnovers brasileiros).

Raulzinho tenta parar Irving. Brasileiro deu trabalho ao jovem astro do Cavs

Raulzinho tenta parar Irving. Brasileiro deu trabalho ao jovem astro do Cavs

Nesse sentido, foi um desempenho bastante atípico para o armador titular da seleção e do Barcelona, cometendo muitos turnovers, cedendo muitos contra-ataques. Na metade final do primeiro período, em especial, foi um horror, ele teve dificuldade extrema para até mesmo cruzar a linha central. Algo que fugiu bem ao padrão do que havia apresentado contra os Estados Unidos nas exibições anteriores sob a orientação de Magnano, conquistando muitos fãs na imprensa de lá.

Larry, talvez empolgado demais por estar jogando em casa (ou não), não conseguiu ler o que se passava ao seu redor em quadra. Bateu para a cesta e não se cansou de levar tocos (1-4 nos arremessos de quadra, apenas 3 pontos em 12 minutos, nenhuma assistência). Ele já não está mais habituado a jogar contra seus compatriotas, a encarar esse tipo de capacidade atlética que um Anthony Davis ou um Mason Plumlee apresentam. Não há nada errado em “bater para a cesta”, mas, para alguém veterano, que teria de estar pronto, tinindo para encarar a elite mundial, bem que uma finta aqui e ali poderiam ser usadas, né? Digo: Magnano comprou a ideia de sua naturalização, o trata como pesa intocável em seu time desde 2012. Supostamente, então, é um cara para resolver, custando a outros atletas de futuro uma vaga no time. Então a cobrança também fica alta em relação a sua produção, independentemente da nacionalidade. Vamos ver. Também não vai enfrentar americanos em todos os jogos daqui para a frente.

Quem não se intimidou com os caras foi Rafael Hettsheimeir, que teve uma noite praticamente perfeita nos chutes de fora (3-4 nos tiros de três pontos, sendo que o único erro veio numa bola no estouro do cronômetro de posse; terminou o jogo com 13 pontos em 12 minutos e 5-6 no aproveitamento de quadra). Encarnou o “strecht 4” da moda na NBA – para não dizer “strecht 5” e deve ter impressionado os scouts presentes. Lembrando que o pivô, hoje fechado com o Bauru, já chegou a abrir negociações com Dallas Mavericks e outros clubes de lá há alguns anos. Mas também precisamos ter prudência aqui: se não é certo afundar Raulzinho por causa de três ou quatro partidas, não é para jogar o pivô lá para o alto por causa de uma jornada.

Hettsheimeir tem realmente trabalhado neste chute de média para longa distância. Ganhou licença para chutar, por parte de Magnano. Mas notem que em sua carreira, mesmo nas temporadas recentes, os percentuais não são tão elevados assim. Ok, ele matou 40% na última Euroliga, pelo Unicaja Málaga, marca excelente. Mas foram apenas 24 disparos no total, em 17 partidas, uma amostra bastante reduzida. Na Liga ACB, em 45 chutes, o rendimento caiu para 31,1%. No ano anterior pelo Real, 28,1%. Em 2011-2012, pelo Zaragoza, caíram 33,9%. Claro que tudo depende do contexto: quem dividia a quadra com ele, qual tipo de arremesso era gerado (contestado ou não?), os defensores etc. E outra: se os arremessos começarem a cair sem parar, as defesas vão se ajustar. E, para alguém do seu tamanho, não dá para esperar que vá colocar a bola no chão e invadir o garrafão. Enfim: é uma arma interessante para o tabuleiro de Magnano, mas precisamos entender qual o seu devido valor e a devida eficiência para saber quando usá-la na hora-hora-do-vamo-vê.

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Marcelinho Machado e Guilherme Giovannoni tiveram tempo de quadra bastante reduzido no amistoso. Giovannoni retorna de lesão no tornozelo, registre-se. Seus minutos estarão vinculados aos de Hettsheimeir, desconfio. Se o pivô estiver convertendo as bolas de longa distância em alta frequência, seu papel no time fica seriamente ameaçado. Contra os EUA, de todo modo, a velocidade da concorrência acaba sendo um fator inibidor para os mais veteranos da equipe. Estiveram juntos no final do primeiro tempo, para executar uma defesa. Não entendi muito bem. Então fica aqui mais um ponto para se checar no giro europeu de amistosos.

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Sobre os atletas dos Estados Unidos, nenhuma novidade. Mas não deixa de ser interessante vê-los em ação contra os brasileiros, para reforçar algumas impressões, de ambos os lados. Alguns comentários rápidos sobre mais alguns dos personagens em quadra:

James Harden: nem mesmo um defensor aplicado e enfezado como Alex consegue ler seus movimentos para prever o lado do corte. No um contra o um, driblando a bola de maneira marota, o Sr. Barba tem um ritmo todo dele e cava lances livres sem parar. Candidato a cestinha do Team USA no Mundial.

Anthony Davis: se o público espanhol foi privado de ver Kevin Durant em ação ao vivo, que se deleitem com a capacidade atlética do Monocelha. Anthony Davis tem o corpo perfeito para o basquete. A confiança cada vez mais alta, subindo junto com seus fundamentos. Jogador mais importante do time.

Stephen Curry: queimou a redinha no início do primeiro período, depois foi preservado pelo Coach K. No Mundial, é de se imaginar que vá ser muito mais utilizado. Hoje o show estava reservado para Derrick Rose, reencontrando a ansiosa e apaixonada torcida de Chicago.

– Por falar em Derrick Rose… Em espasmos, você vê que o arranque e a impulsão ainda estão lá. Excelente notícia – para o basquete. Tal como aconteceu com Larry, deu para notar a pilha que o rapaz também estava, sem contar a ferrugem de alguém que disputou apenas dez partidas desde 2012.

Mason Plumlee: atlético e inteligente, uma combinação que te leva longe. Mostrou porque ultrapassou Boogie Cousins e Andre Drummond na rotação do Coach K.

Rudy Gay: no cenário dos sonhos de Krzyzewski, ele teria Durant, LeBron e Melo. No plano B, só Durant. Na falta de tudo isso, teve de apelar a Rudy Gay, que fez 28 anos neste domingo. E aí que o treinador dos Estados Unidos gostaria muito que o ala acertasse ao menos 35% de seus chutes de três pontos.  O jogador do Sacramento Kings teria tudo para se encaixar no time, não fosse sua deficiência nos arremessos. Duro é que isso aconteça. Na defesa, ele acaba compensando com agilidade, impulsão e envergadura. Mas o ataque sofre.

– Por isso, esperem uma boa dose de Kenneth Faried no Team USA. Um homem não é apelidado de Manimal gratuitamente. O motorzinho do Denver Nuggets pode não acertar nenhum chute atrás da linha de lance livre ou fora do garrafão, mas compensa o espaçamento criando e achando buracos com sua movimentação incessante. Energia nunca é demais. Além do mais, o ala-pivô ainda pode pontuar som seus semi-ganchos (tipo os do Splitter) e chutes em flutuação, que evoluíram muito na última temporada.

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De resto, ainda parece que o Coach K precisa fuçar um tanto em sua rotação. Klay Thompson e Chandler Parsons deixaram a pegada cair. Damian Lillard nem viu a quadra (vai de dupla e tripla armação o tempo todo, ou não?)’ precisa ver se Cousins vai ter  alguma chance quando o joelho estiver inteiro. Se Korver vai jogar mais em algum teste futuro. E tal. Obviamente não são problemas de arrancar os cabelos. Mas são ajustes necessários para o único objetivo que lhes interessa: o ouro. “Nada além do ouro é aceitável”, como disse o Monocelha na saída de quadra para a repórter Karin Duarte, do SporTV.


Argentina dá o troco em casa, mas à base do chute de três
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Giancarlo Giampietro

Nocioni: 9 pontos em 14 minutos na vitória argentina

Nocioni: 9 pontos em 14 minutos na vitória argentina

O que vale cá também conta para lá. No sentido de que tanto Brasil como Argentina ainda estão em fase de preparação, de entendimento e tudo o mais. Passada uma semana do primeiro confronto no Rio, porém, as coisas já começam afunilar rumo ao Mundial que se inicia no finalzinho do mês.

Nesta sexta, na vitória dos hermanos por 85 a 80, alguns jogadores-chave já ficaram em quadra na casa de 30 minutos. Luis Scola, em seu primeiro amistoso do ano, foi um deles, com 30min25s. No Brasil, como deve acontecer durante todo o Mundial – caso não haja problema de faltas –, Alex foi quem mais jogou, com 31min50s. Tiago Splitter, aquele que, ao que tudo indica, será o carro-chefe do time, atuou por 27min38s. (Obs: isso, claro, se os números divulgados estiverem corretos, uma vez que Cristiano Felício, que nem o agasalho tirou, aparece com 32min13s na tabela. Se o Brasil tivesse ganhado, era o caso de cobrar o bicho também, né?)

Então, a cada teste, as coisas tendem a ficar mais sérias, e nem estamos falando de nada de rivalidade sul-americana aqui? Mas, sim, de que, naturalmente, o plano de cada treinador segue – e tem de ir – em frente. Ninguém vai mostrar tudo o que tem tão cedo assim (Nocioni foi muito bem no primeiro tempo, ficou em quadra apenas por 14 minutos, enquanto Huertas foi o terceiro armador na rotação brasileira), mas já vai soltando, aplicando mais coisas.

Posto isso, pelo que vimos na terceira partida brasileira, a tendência dos jogos no Rio de Janeiro foi mantida: um volume mais baixo nos tiros de três. Apenas 14 foram tentados pelos homens de Rubén Magnano em Buenos Aires, contra 47 bolas de dois. Aqui é importante ressaltar uma coisa: não quer dizer, claro, que tenham sido 47 arremessos no garrafão, próximos da cesta. De qualquer forma, considerando o que já vimos da seleção em outros carnavais, essa simples contraposição de 47 x 14 já precisa ser festejada. Até porque a mira do perímetro segue ruim pacas, com apenas quatro conversões, num aproveitamento de 29%. De qualquer forma, a volúpia diminuiu, e aí não adianta ignorar esse simples fato e falar que tudo é ruim, que tudo é um desastre, e tudo mais.

Nos arremessos de quadra, a despeito das falhas de três, o aproveitamento desta noite foi bem superior ao do clássico do sábado passado, com 52% (contra 30%). E o que mais? Dos 61 chutes de quadra, 27 foram de pivôs (44,2%). Esse volume ainda pode aumentar tranquilamente, mas não dá para repetir o bordão famigerado de que “nossos grandalhões são ignorados pelos baixinhos”. Os poucos arroubos também resultam em melhor controle de bola, com apenas oito desperdícios durante os 40 minutos.

Esses são os dados positivos. Agora, ficamos realmente no aguardo por uma movimentação de bola mais leve e imprevisível. Mais trocas de passes entre os pivôs. Corta-luzes e passes de entrada no garrafão com ângulos variados e também mais velocidade na execução de meia-quadra – ainda mais contra um adversário tão lento e de baixíssima capacidade atlética como a Argentina. Correr não é um verbo praticado apenas em contra-ataque. Por vezes, a seleção aceita um jogo muito estagnado, um tanto manjado, que facilita a contestação mesmo por parte de uma defesa sem grandes bloqueadores. Para constar: esse é um problema do time de Magnano desde 2010 – assim como os lances livres, aliás (12-26, 46%). Vai mudar agora? Esperemos. Os três principais homens da rotação interior passam muito bem a bola e precisam ser explorados de modo incessante nesse sentido.

Na defesa, o time não soube reagir aos chutes de Nicolas Laprovittola e Leo Gutiérrez, que, juntos, acertaram 7-12 de três pontos. Nenhum deles é desconhecido dos nossos atletas. Ainda assim, tiveram liberdade para receber e disparar. Por outro lado, algumas dessas bolas foram bem de longe, de baixa probabilidade. Caíram dessa vez, mas isso em geral não é algo que se traduz para uma competição de alto nível. O jogo dos nossos vizinhos ao Sul depende hoje muito desse tipo de fundamento. Mesmo Luis Scola joga cada vez mais distante do aro. Nos dois amistosos, eles tentaram um total de 45 arremessos de fora. Muita coisa. No Rio, a diferença é que haviam amassado o aro. No geral, a média ficou em 31%. Abaixo da mediocridade.

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Rafael Luz, em teste contra Prigioni: armador vem bem desde o Sul-Americano

Rafael Luz, em teste contra Prigioni: armador vem bem desde o Sul-Americano

Momento por momento, é bom verificar se o Rafael Luz está com o passaporte em dia, né? Força de expressão, claro, já que o Mundial será jogado na Espanha, aonde ele vive há anos. Disputando uma das vagas da seleção, o armador começou o terceiro amistoso como titular, de frente com Pablo Prigioni, para ser testado, mesmo. Seu melhor momento, contudo, veio no quarto período, quando voltou para a quadra para render Huertas depois dos chutes de Laprovittola. Rafael controlou bem a situação. Dá mais estabilidade ao time e tem mais pegada defensiva.

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Fabrício Melo é de 1990. Augusto Lima, 1991. Lucas Bebê e Cristiano Felício, 1992. Matías Bortolín e Tayavek Gallizzi, pivôs estreantes na rotação argentina, nasceram em 1993. Então, da próxima vez que ouvirem alguém falar que a “Argentina vai sofrer”, que eles “não têm renovação”, melhor recorrer ao Google e checar mais uma vez.

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Para a torcida do Flamengo: se já não notaram, reparem no tamanho das mãos de Walter Herrmann. Absurdas. A bola fica muito pequena com ele. Algum dia desses, o cabeleira, um jogadoraço – e bastante singular também – vai pegar o Facundo Campazzo pela cabeça e cravá-lo no reverse. Podem esperar.


Brasil mantém proposta com pivôs e vence a Argentina em fase de testes
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Giancarlo Giampietro

Splitter começa muito bem a preparação para o Mundial

Splitter começa muito bem a preparação para o Mundial. Crédito das fotos: Gaspar Nóbrega/Inovafoto

Pelo segundo amistoso, o Brasil manteve sua proposta de jogo interno, e saiu de quadra com mais uma vitória, agora sobre a Argentina, por 68 a 59, no Maracanãzinho.

Essa é a primeira boa notícia. A segunda foi a transmissão da TV Globo, com um narrador muito bem informado e sem ficar preso em dar aula sobre o jogo, tratando o esporte com naturalidade e, não, com uma aberração que tenha inanido a grade da emissora. Voltamos a isso depois.

Pensando na preparação para o Mundial, o mais importante mesmo é se concentrar no uso dos pivôs no ataque, algo que toda a torcida do Flamengo, do Vasco, do Corinthians, do Palmeiras, do Londrina, do XV de Campo Bom… Enfim, algo que todos pediam, esperavam, e que a seleção vem fazendo em 80 minutos de jogos-teste.

Contra uma Angola desprevenida – conforme seus próprios jogadores admitiram ontem no Rio –, o aproveitamento foi muito superior. Contra a mesma Argentina enjoada de sempre, os números caíram sensivelmente (só 16/44 nas bolas de dois, 36,4%). Mas isso não significa que o time deva fugir dessa trilha.

Lá dentro, agora com Nenê (cercado por argentinos)

Lá dentro, agora com Nenê (cercado por argentinos)

O que faltou hoje foi um maior espaçamento e velocidade no uso dos pivôs. As jogadas de costas para a cesta diretas, sem nenhuma movimentação prévia, nem sempre são as mais eficientes, ainda mais quando a ajuda está atenta. Depois de passes previsíveis, os grandalhões brasileiros não tiveram liberdade para atuar desta forma, resultando em chutes contestados e desarmes.

Mas é bom que aconteça agora, para Magnano ter tempo de fazer seus ajustes. Corta-luzes em cima dos pivôs, falsas entradas e movimentação do lado do contrário podem ajudar em linhas mais claras de passe e melhores ângulos para partir para a cesta. De toda forma, a insistência em pingar a bola lá dentro resulta em acúmulo de faltas, lances livres e pontos fáceis. Juntos, Splitter, Nenê e Varejão somaram 32 pontos e 31 rebotes.

(O detalhe valioso aqui: a Argentina executou uma boa defesa interna mesmo sem contar com postes de 2,13 m de altura. Posicionamento, empenho e instrução dão conta do ceado. E nem para a zona eles apelaram muito. Tem jogo.)

Outros reparos: a turma que vem do banco por enquanto precisa mexer a bola. Larry e Leandrinho têm a mania de massageá-la demais. Perde-se tempo com dribles desnecessários. Com menos segundos para girar o time, acabam que caem na armadilha das infiltrações com arroubo. Legal que batam para o garrafão, especialmente o 10 brasileiro, mas tem hora para tudo. Magnano chamou a atenção num pedido de tempo, com razão. E essa vai ser uma luta do argentino durante todo o mês de amistosos.

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Você tira lições dos amistosos, mas não conclusões absolutas, definitivas sobre o destino das equipes. Foi apenas o segundo jogo de duas equipes que vão para o Mundial com bastante ambição. A Argentina não fez uso de muita defesa por zona. As rotações de ambos ainda estão em fase de experimento. Luis Scola, oras, nem estava em quadra.

Nessa linha, Sérgio Hernández, ex-treinador dos caras no ciclo olímpico de Pequim 2008 e de breve passagem pelo Brasília, postou no Twitter: “A veces cuando ganás, perdés, y cuando perdés, ganás. Es así. Bien Argentina.”

Ô, lôco.

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O que precisa ficar de olho: não temos grandes arremessadores de três pontos. Isso é um fato. Sem Guilherme, a carência fica ainda mais clara. Livres, a turma do perímetro até mata. Vigiados, a coisa despenca, como vimos hoje (3/19, horripilante 15,7,%). Acho que vem daí a convocação de Machado. Mas o veterano tem ainda mais dificuldade hoje para se desmarcar em sua movimentação ora da bola. Na defesa, está ainda mais vulnerável. Esse, sim, é um ponto preocupante para o Mundial, ainda mais com a defesa agressiva de Alex, sempre correndo o risco de ficar pendurado em faltas. Daí que a presença de Rafael Luz, mais forte e atlético que Raulzinho (aquele que foi testado hoje), se faz mais necessária. Em dupla armação, o jogador do Obradoiro está mais equipado para a defesa, creio.

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Individualmente, já notamos um Tiago Splitter em excelente fase. Hoje foram 15 pontos e 12 rebotes para eles, em 25 minutos. Nada como um título de NBA para curar qualquer desgaste, cansaço.

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O Campazzo, de apenas 23 anos, a gente conhece de outros Carnavais. Agora foi a vez de tomar nota a respeito de Matías Bortolín, um pivô de 21 anos, que joga no Regatas Corrientes e sobre o qual, confesso, não tinha informação alguma até o Sul-Americano. (Na temporada retrasada, ele estava na… Áustria!?) Muito talentoso. Jogo de pés criativo, que deu um trabalho danado para os pivôs brasileiros, todos eles grandes marcadores no mano a mano. Terminou com 12 pontos e 8 rebotes em apenas 24 minutos, matando 4 de 5 chutes de quadra e todos os seus seis lances livres. Então… Até quando vamos repetir o discurso de que a Argentina sofre em sua renovação? Não é todo dia que se revela Ginóbilis e Scolas. Mas a produção de talentos segue em curso.

Bortolín, um pivô muito promissor para a Argentina. Agradável surpresa

Bortolín, um pivô muito promissor para a Argentina. Agradável surpresa

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Sobre a transmissão excelente de Luis Roberto. O talento na condução dos narradores tops da Globo é indiscutível. Mas o que chamou a atenção, mesmo, foi o preparo. Ficou claro desde o primeiro período o quanto o profissional estudou para o jogo. Não fazia basquete há quantos anos? Só me lembro dele  nos tempos de ESPN – mas sei que adora basquete. Seja bem-vindo, muito bem-vindo.


Com bons hábitos, Brasil passeia contra Angola em 1º amistoso
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Giancarlo Giampietro

A visão de jogo de Splitter ficou explícita no primeiro teste. Quanto mais, melhor

Visão de jogo de Splitter explícita no 1º teste. Quanto mais, melhor. Crédito: Gaspar Nobrega/inovafoto

Nenê puxa o contra-ataque e dá um passe quicado para um Tiago Splliter já bastante adiantado. Recepção feita, dois pontos na conta. Splitter é acionado de costas para a cesta, dribla e passa para Huertas. Mais um toque, e Alex está livre na quina para matar de três pontos. Splitter vê o corte de Rafa Luz fora da bola e faz a assistência para o jovem armador. De dentro para fora, de dentro para fora, de dentro para fora. Com muito sucesso.

Foi só um amistoso. O primeiro na preparação para a Copa do Mundo de basquete. Mas a proposta de jogo que a seleção brasileira apresentou na vitória sobre Angola, por 98 a 60, no Maracanãzinho, foi bastante salutar. Esperemos que seja mantida e – por que não? – intensificada.

Como há muito não  se via, era um time se aproveitando daquilo que tem de melhor: a agilidade e a habilidade de seus pivôs. A trinca Splitter-Nenê-Varejão é de fato o diferencial que o Brasil tem para oferecer hoje, em termos de técnica. E eles precisam ser explorados, tal como aconteceu no Rio.

Os grandalhões saíram constantemente em velocidade, sendo os primeiros a chegar ao ataque e foram municiados. Passes de entrada rápido, e a partir daí a bola girava, em busca de um arremessador em boa condição.  Aí dá gosto, tem de se aplaudir, não importando a fragilidade, preparo ou concentração do adversário. Porque um bom time você constrói por hábitos, por repetição de um bom basquete. E a seleção em boa parte do tempo foi por essa linha.

Foram 7 pontos, 5 rebotes (e 5 faltas) em 14min56s de jogo para o ex-vascaíno Nenê no retorno ao Maracanãzinho

Foram 7 pontos, 5 rebotes (e 5 faltas) em 14min56s de jogo para o ex-vascaíno Nenê no retorno ao Maracanãzinho

Alguns números do primeiro tempo, por exemplo, vencido por 48 a 27: das dez assistências brasileiras, cinco foram de seus grandalhões (três de Splitter, duas de Nenê). No geral, o time tentou apenas seis chutes de três pontos, convertendo três, contra 27 arremessos de dois. Desnecessário dizer que a eficiência foi muito maior. É disso que esse elenco precisa: um jogo coletivo, explorando seus pivôs multitalentosos, reduzindo ao máximo os arroubos heróicos no perímetro – e que Larry, Marcus, Marcelo & cia. peguem leve, mesmo. A bola rodou com muito mais leveza.

Vamos ver no sábado, diante de uma Argentina muito mais tarimbada e qualificada, se o plano de jogo será mantido, com disciplina e frieza. No segundo tempo contra os patrícios, a proporção de três para dois pontos já diminuiu: foram 13 chutes de fora, contra 19 bolas internas. No geral, foram 10/19 de três pontos (52,6%) e 28/46 de dois (60,9%).

O show de Splitter assistente continuou na segunda etapa. O catarinense terminou com cinco passes para cesta (mais 10 pontos, mais 8 rebotes, em apenas 20min11s). Essa coisa de jogar pelo San Antonio Spurs é contagiante, não?

O quinteto inicial foi composto por Huertas, Alex, Marquinhos, Nenê e Splitter. O primeiro reserva a sair do banco foi Leandrinho no lugar de Marquinhos. Depois vieram, em seqüência, Larry, Varejão, Machado e Hettsheimeir. Rafael Luz veio no meio do segundo quarto – e foi bem novamente. Cristiano Felício entrou com sete minutos restando no quarto período.

Agora, os descontos obrigatórios: Angola foi pega de certa forma desprevenida no primeiro quarto, perdendo por 26 a 8. É um time em reformulação, tradicionalíssimo na África, mas de pouca expressão internacional – e dois de seus melhores atletas, listados pela Fiba ainda, não foram para o jogo (o ala Carlos Morais e o pivô Joaquim Gomes). Seus pivôs não poderiam fazer frente aos brasileiros. A ver como se saem nesta sexta de tarde contra a Argentina, para efeito de comparação.

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Magnano tirou o bigode. Daí liberou o microfone para o SporTV acompanhar suas explanações durante os pedidos de tempo. Um novo homem, afinal! : )

(Mas o detalhe aqui foi o primeiro pedido de tempo: não gostou nada que um dos atletas não estivesse prestando a devida atenção em suas instruções e falou grosso: “Eu. Estou. Falando”. Shhhhhhiu. Controle total por parte do argentino, em contraponto aos tempos anárquicos que vemos durante o NBB. Nem tão diferente assim, o que nesse caso é para o bem.)

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O que se tem de observar agora são os padrões de rotação de Magnano, um ponto bastante questionável de seu trabalho, mesmo durante as Olimpíadas. A idéia é ter pernas firmes o tempo todo em quadra para executar na defesa. A continuidade no ataque é que acaba sofrendo um pouco.

Por exemplo: nos jogos para valer, é de esperar que a seleção tenha o máximo possível dois entre Varejão, Splitter e Nenê em quadra. Dependendo do adversário, Marquinhos ou Giovannoni podem ser o pivô mais aberto. No segundo quarto de hoje, tínhamos Varejão fazendo dupla com Hettsheimeir. Giovannoni não jogou, recuperando-se de uma entorse de tornozelo.

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Individualmente, os amistosos serão muito importantes para Leandrinho. Lembrem-se que este foi o primeiro jogo do ligeirinho desde 4 de março, quando se despediu da temporada da NBA pelo Phoenix Suns devido a uma fratura na mão esquerda. Pediu cirurgia. O gesso só foi tirado no início de abril. Com seu time eliminado numa duríssima disputa pelas últimas vagas do Oeste, não teve a chance regressar durante a temporada. Contra os angolanos, só arriscou seu primeiro chute de três quando faltavam pouco menos de seis minutos de jogo, algo memorável. Sua primeira cesta de quadra saiu com apenas 5min18s, sofrendo falta e cesta no meio do garrafão. No caso de alguém fora de ritmo, nada melhor do que buscar uma bandeja. A bola cai, a confiança aumenta. Terminou com 9 pontos (2/9) no FG, 2 assistências, 2 rebotes e cinco faltas recebidas (ainda é difícil parar em sua frente). Foi quem mais ficou em quadra, com 24 minutos.


Perguntas e respostas após o Sul-Americano
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Giancarlo Giampietro

Rafael Luz foi um dos pontos positivos em mais uma campanha frustrada

Rafael Luz foi um dos pontos positivos em mais uma campanha frustrada

É só um Sul-Americano, né? Serve para nada.

É o que a gente gosta de dizer. Como se o basquete brasileiro estivesse plenamente estabelecido como potência mundial e qualquer torneio pudesse ser tratado com desdém. (Desdém por parte da crítica, claro, e não dos jogadores que lá estiveram.)

O que não dá mais. Não quando a seleção masculina vem de quatro derrotas em quatro partidas pela Copa América. Desfalcada de seus atletas de NBA, é verdade, mas enfrentando adversários igualmente avariados. E dirigida por um campeão olímpico, não se esqueçam.

Daí que sempre tem muito o que ser discutido. Como de fato acontece após mais uma campanha frustrante em quadras venezuelanas, agora tendo de se contentar com um terceiro lugar. Melhor que terminar em penúltimo? Sim, melhor. Mas perder de Equador, Peru, Paraguai ou Chile é algo que, por ora, parece impensável, mesmo. Porque, por maior que seja a pindaíba, ela ainda tem limite.

De modo que o que temos é o seguinte: independentemente de quem estava em quadra, a seleção brasileira perdeu seis partidas consecutivas até se safar na última segunda-feira ao bater o Uruguai para conquistar um honroso lugar no pódio e uma ainda mais fogosa vaga no próximo Pan-Americano. Que vai ser disputado em… (responda sem consultar o Google, por favor).

Seis? Sim, meia dúzia, mesmo: as quatro da vexatória e inesquecível Copa América do ano passado, mais duas este ano, contra Argentina e Venezuela. Mais duas derrotas que suscitam algumas perguntas. No fim de semana, por exemplo, pouco antes de começar no Domingo Maior na Globo, as redes sociais basqueteiras estavam novamente borbulhando.

Depois de dois jogos parelhos, eram duas derrotas para o time de José Neto, nos primeiros jogos que contavam para alguma coisa de fato. Foram duas derrotas com dinâmicas parecidas: altos e baixos no placar, e a virada tomada no quarto final.

Antes de a seleção principal entrar em quadra nesta quinta, ficam listadas algumas dessas encafifações. É como se fossem mais chutes de três  brasileiros equivocados, com a bola atirada para o alto, esperando uma cesta milagrosa:

– O que significa hoje o Campeonato Sul-Americano?
Olha, a competição já teve seus dias mais charmosos, mas faz tempo que não vê equipes competindo com força máxima. Aqui, do fundo da caixola, vou me lembrar do torneio de 2001, no Chile, quando o Brasil ainda estava se habituando com nomes como “Anderson Varejão” e “Nenê”, dois pivôs cheios de potencial encarando uma Argentina um pouco mais experiente, mas ainda jovem, com caras como Luis Scola, ainda sem muito cabelo, em quadra. Torneio transmitido pela ESPN por aqui, que incitava a gente devido aos novos prospectos. Em 2004, estava eu perdido em Campos de Goytacazes para ver o emergente Carlos Delfino e o espetacular Walter Herrmann barbarizarem contra Lula Ferreira e os melhores do Nacional de basquete na final. Acho que foi a saideira.

Figueroa, velho conhecido francano e pinheirense, x Raulzinho

Figueroa, velho conhecido francano e pinheirense, x Raulzinho

– A chance de ver alguém de elite no campeonato acabou, mesmo?
Bom, se por elite formos entender “NBA”, a coisa muda de figura se o campeonato for disputado na Venezuela. Aí o Greivis Vasquez, armador do Raptors e provável mentor de Bruno Caboclo e Lucas Bebê na próxima temporada, joga. Pega bem com o governo, as autoridades, o marketing pessoal. Aliás, melhor jogar uma competição com TV, torcida e tudo mais, do que ficar afundado numa rede qualquer de um resort caribenho, nénão? Agora, se você tiver a cabeça mais aberta e pensar em atletas de Euroliga e Liga ACB também como de ponta – o que é um conceito obrigatório aqui neste espaço –, então no Brasil estávamos bem representados por jovens atletas, mas com boa rodagem na Espanha.

– OK. Se é um campeonato esvaziado, qual o sentido então de entrar num Sul-Americano preocupado em vencer?
Há muita gente que defende a tese de que a competição não tem peso algum e que pode ser utilizada para experimentações, mesmo, para dar cancha aos jogadores mais jovens do país. Confesso que gosto dessa ideia, sim. Desde que tenhamos um time competitivo o bastante para lutar pelo título. Não adiantaria muito pegar a molecada juvenil do Pinheiros, vesti-los de Brasil e atirá-los em quadra. Tomam cacetadas e aprendem o quê?

– E qual foi o Brasil que jogou o Sul-Americano, então?
Bem, na seleção escalada por José Neto, estávamos, em geral, com um grupo que precisa de experiência, sim, com a “amarelinha” (ou a “branquinha”, muitas vezes). Pensando em longo prazo, é bacana que um Raulzinho lide com a pressão de um ginásio venezuelano fervendo, encarando gente barbada do outro lado. Que Cristiano Felício veja, mais uma vez, que tem bola para dominar um garrafão lá e cá. Etc. Por outro lado, é preciso dizer que não havia nenhum adolescente em quadra. O mais jovem, Leo Meindl, tem 21 anos, já disputa o NBB adulto há duas temporadas e foi pouco utilizado. Raul, Rafael Luz, Augusto Lima e Rafael Hettsheimeir acumulam mais de três temporadas na Liga ACB, o principal campeonato nacional da Europa. Desse quarteto, apenas Hettsheimeir, reserva do Unicaja Málaga (clube de Euroliga) e lesionado na segunda metade, não jogou muito durante o ano. Da turma do NBB, Mineiro tem 26 anos, Arthur, Jefferson William e Olivinha, 31. Vitor Benite faz parte da seleção de modo regular desde 2011. São inexperientes, pero no mucho.

Vásquez, orgulho venezuelano e figura solitária da NBA em quadra

Vásquez, orgulho venezuelano e figura solitária da NBA em quadra

– O que isso quer dizer?
Que, francamente, não dá para justificar as derrotas com base em inexperiência e uma suposta predisposição para o experimento. Os jogadores convocados não estão tão distantes assim de uma lista “principal” do país. E, ao menos aqui na base do 21, são vistos como atletas talentosos, de muito potencial. Além do mais…

– Contra quem eles jogaram?
Como já dissemos, a Venezuela contava com seu único figurão de NBA, Greivis Vasquez, alguém que acabou de assinar um contrato de US$ 13 milhões por dois anos com o Toronto Raptors. Feito o registro, não estamos falando de uma potência mundial. É, sim, uma seleção com jogadores atléticos, enjoados, mas que, mesmo fazendo a Copa América em casa, com Vasquez e um técnico argentino, não conseguiu a vaga no Mundial. O Uruguai não estava completo. Já a Argentina levou para o campeonato uma equipe composta apenas por atletas em atividade na América do Sul – bons valores, mas não necessariamente os melhores do país. Nem o Facundo Campazzo, promovido ao time A, estava lá. Isto é: se for pensar bem, o Brasil era quem tinha o elenco mais renomado. Um time de certa forma jovem – especialmente em contraponto ao elenco verdadeiramente veterano que vem sendo preparado por Magnano –, mas que entrava para ganhar.

– Posto isso, sabemos que o Brasil perdeu os primeiros dois jogos que valiam. Que houve?
Digamos que os brasileiros tiveram seus bons momentos em quadra. No final da fase de grupos, sábado, contra os argentinos, por exemplo, a seleção venceu os segundo e terceiro quartos por 34 a 16. Sim, tomaram míseros 16 pontos em 20 minutos, algo sensacional, independentemente do nível de competição. No quarto período, no entanto, tomaram uma sacolada de 27 a 13. Essa derrota acabou deixando os hermanitos na primeira posição do grupo, empurrando o Brasil para um confronto com a Venezuela na semifinal. A dinâmica da partida foi de certa forma parecida. A seleção abriu uma vantagem razoável, mas acabou tomando a virada no último quarto. Legal que eles tenham encarado um ambiente daqueles, mas seria muito melhor se estivesse valendo o título, não? Digo, que guardassem essa experiência para a final.

Armador Heissler Guillent deu trabalho para o Brasil na semi. Mas a defesa foi bem

Armador Heissler Guillent deu trabalho para o Brasil na semi. Mas a defesa foi bem

– Além das derrotas, o que as estatísticas dizem sobre a campanha?
Adoro a expressão que nos conta sobre a “frieza dos números”. E, olha, número por número, a coisa foi gélida (obs: contando apenas os duelos com Argentina, Venezuela e Uruguai, ok?). Traduziu muito bem o que vimos em quadra dessa vez. O Brasil fez um ótimo papel defensivo. Um lapso aqui, outro ali, mas em geral o time se comportou de modo muito sólido ao proteger sua cesta. Do outro lado, porém, foi uma tristeza. A começar pelos 39,7% nos arremessos de quadra no geral. De três pontos? Horrendos 20%, com mais assustadores ainda 15 acertos em 75 (!!!) tentativas. Quer dizer: o time errou, errou e errou mais um pouco de longa distância, e não parou de atirar. Isso é reflexo claro de um coletivo desorganizado ofensivamente. A movimentação fora da bola foi praticamente nula. Raulzinho, por exemplo, vezes era forçado a jogar no mano a mano, ou num pick and roll sem inventividade alguma, quase sempre com ângulos frontais para a cesta. E o jovem armador, até que alguém me comprove o contrário, nunca teve perfil de Allen Iverson. É agressivo, mas, sozinho, não vai resolver as coisas. Pivôs ágeis como Mineiro e Augusto pouco foram servidos no pick-and-roll ou em cortes vindo do lado contrário. A turma do perímetro, uma vez acionados os grandalhões, se estacionavam, como se a única jogada seguinte pudesse ser disparo de três. Lembrando que este é um problema repetido quando nos recordamos da lamentável Copa América. O talento estava ali, mas não foi muito bem manejado para pontuar.

– Pensando na seleção, principal, nessa gama de talentos, quem merecia a promoção para tentar uma vaga no Mundial?
Bom, agora já ficou um pouco tarde para falar de merecimento, ou não, uma vez que sabemos que Raulzinho, Rafa Luz, Cristiano Felício e Rafael Hettsheimeir foram pinçados para treinar com os marmanjos. Nenhum desses quatro nomes pode ser contestado severamente, é verdade. Mas gostaria de saber quais são os critérios de convocação. Algo que Magnano nunca nos deixou muito claro.

– Qual a confusão sobre os critérios de composição da seleção, então?
Na minha humilde e 99% desnecessária opinião, alguns fatores precisam se discutidos:

a) a temporada que cada um apresentou;
b) o desempenho nos treinos e, claro, nos jogos para valer; e aí não contam Paraguai e Equador. Qualquer coletivo interno tem mais peso, neste caso.
c) quem se encaixa melhor com o que já tem de disponível no time principal?
d) como exatamente Magnano pretende aproveitar essas últimas peças?

Na cabeça do argentino, certamente aparece outro item: “Histórico/serviços prestados”. Não sei bem se concordo com essa.

Temporada por temporada, quem teve a melhor campanha de um brasileiro na Espanha este ano foi Augusto Lima, e não há nem o que se discutir aqui. Ao meu ver, uma oportunidade desperdiçada para um jogador extremamente valorizado na ACB – arrebentou nos rebotes, na defesa e nas estatísticas mais avançadas. O bizarro é que um atleta superprodutivo desses não tenha nem mesmo espaço no Sul-Americano. Não adianta julgar por dois ou três minutos de quadra. Das duas, uma: ou é “tímido” e não se impôs nos treinos, ou acabou engolido por uma rotação um tanto maluca. Mas é difícil de aceitar que não sirva por aqui.

Lembrando sempre: não estamos falando de Scola ou Tim Duncan, mas, sim, de um pivô cheio de energia, capacidade atlética invejável, bom para fazer o serviço sujo e atacar os rebotes ofensivos. Uma peça complementar muito boa, e não alguém que vai carregar um ataque. Como a comissão técnica enxerga Rafael Hettsheimeir, que pouco jogou este ano, diga-se. No caso do pivô, o que não dá, porém, é esperar que ele sempre vá repetir aquela atuação histórica de Mar del Plata contra Scola. Aquela não é a regra, mas, sim, a exceção. E, com Splitter, Nenê e Varejão escalados, Giovannoni fazendo o strecht 4, não sei bem quantos minutos sobrariam para Hettsheimeir ser acionado e esquentar a munheca. Talvez aí cresçam as chances de um Cristiano Felício, que completa 22 anos, mas ainda é um projeto, alguém que poderia ser o 12º homem da lista.

Mas, bem, esse já seria um artigo à parte. Na combinação dos quatro critérios propostos acima, um nome seria certo: Rafael Luz, que fez uma campanha sólida na Espanha, foi o melhor armador no Sul-Americano e tem características que se encaixam bem na rotação de cima, ao meu ver: dá estabilidade, ao mesmo tempo que também é energético e influencia o jogo com sua força física e agilidade. Seu chute ainda é deficiente, mas, como peça complementar na rotação principal, parece uma escolha adequada para jogar ao lado de Huertas e Larry, armadores que gostam de ter a bola em mãos.

– E o Raulzinho?
Na duas derrotas do Sul-Americano, o Brasil perdeu o jogo com a posse de bola. E a bola nas mãos do armador revelado pelo Minas. É em momentos como esse que vale toda a calma do mundo quando formos falar do rapaz. Nem tão lá em cima, nem tão cá em baixo. Draftado pela NBA, é verdade. Mas como um título de capitalização no futuro. O Utah Jazz admira seu talento, mas sabe que ainda não é hora de jogar nos Estados Unidos. Os pivôs são os que mais demoram para se desenvolver, mas executar a armação de uma equipe, quanto mais de uma seleção não é moleza, não. Raul obviamente tem o tino, personalidade e arranque para isso. Mas, ao menos nos três jogos do Sul-Americano, pudemos vê-lo tentando fazer muito com a bola. Alguns passes forçados, outros com brilho. Tentativas arrojadas de infiltração, mas por vezes se perdendo em meio às linhas defensivas etc. Lances que pedem refinamento, algo que, esperamos, vai acontecer no decorrer das temporadas, com a sucessão de acertos e erros, que tenhamos muito mais bolas certeiras. No Sul-Americano, ele tinha mais responsabilidade criativa, e as coisas não saíram tão bem. De todo modo, vale a ressalva: foram apenas três jogos, não é a maior amostra. No grupo principal, porém, sua carga seria muito menor. Só vejo nas características de Luz algo que combina melhor com o grupo de cima.


Pilar: “Precisam olhar direito para os que jogam no Brasil”
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Giancarlo Giampietro

Henrique Pilar acredita em fase de transição no basquete brasileiro

Henrique Pilar acredita em fase de transição no basquete brasileiro

No basquete brasileiro, devido à repetição das mesmas caras, da mesma praça e do mesmo banco, o mais fácil, mesmo, é presumir as coisas e seguir no piloto automático. Acesse lá o Google Maps, peça as direções, acione o GPS, e pé na estrada. Podemos estar falando do NBB ou, no caso, da seleção brasileira, que a história é a mesma. Não importa que ainda tenhamos semifinais e uma só final para ser disputada ainda em solo nacional. Que ainda haja muito mais jogos pela frente na Europa e nos Estados Unidos. Nós basicamente já sabemos quem vai ser pré-convocado e, se tudo der certo de acordo com os planos de Rubén Magnano, quem serão, no fim, os 12 eleitos e de onde eles virão.

Há uma forte e extensa corrente que acredita que é por aí, mesmo. Que temos apenas um punhado de jogadores gabaritados, habilitados para encarar competições internacionais. Que o fiasco da seleção no último Torneio das Américas é a prova disso. Ouso discordar.

Já discutimos aqui à exaustão no ano passado, mas não custa relembrar que o técnico argentino elaborou uma lista final desastrosa, com jogadores que não se encaixavam de modo algum. Tínhamos baixinhos e pesadões em excesso, com pouca gente fazendo a ligação entre eles. Os mesmos críticos diriam e disseram: ‘Mas você acha mesmo que a troca de fulano por cicrano faria a diferença?’, como se basquete se resumisse a nomes, a grifes, e não ao conjunto que esses elementos formam. A mesma linha de indagações, imbuída de preconceito, também passa pela (falta de) experiência, visão de jogo, fundamentos e que tais de uma turma que, de fato, pouco experimentou o que se pratica lá fora.

Em sua mais recente entrevista, para o Menon, companheiro aqui da blogosfera do UOL, o mesmo Magnano chegou a me confundir um pouco, ao defender os atletas do NBB, quando, na última pergunta, o jornalista menciona o fato de o pivô Paulão ter arrebentado na competição, mesmo depois de sofrer muitas lesões nos anos recentes e de não estar na melhor forma. O argentino respondeu: “O nível do NBB não é baixo. Dois brasileiros disputaram agora o título da América”.

Dentre as muitas frases do campeão olímpico em 2004, esta pode deixar quem acompanha o discurso do treinador um pouco encafifado. Afinal de contas, no ano passado, depois da humilhação que a seleção sofreu durante a Copa América, o argentino havia dito em todas as letra algo que absolutamente rezava pelo contrário. Que sem a turma da liga norte-americana e outros da Europa não havia chance, mesmo, de pensar de modo ambicioso. É algo que não desceu bem na hora e, agora, fica ainda mais engasgado.

Primeiro porque há um abismo todo entre sonhar alto e meramente conseguir em quadra sua vaguinha para a Copa do Mundo de basquete. Entre tentar golpear o Team USA do Coach K e perder para Jamaica e Uruguai.

Né?

Mas, diante daquele que talvez seja o maior fracasso de uma vitoriosa carreira, o técnico saiu disparando, acertando muita gente no caminho, ainda mais quando usou um tom até condescendente para se referir àqueles que jogaram na Venezuela e com ele sucumbiram. Algo como: ‘Gente, nós tentamos, mas não, infelizmente, é o que temos para hoje’.

Em meio ao discurso, falou também sobre os problemas físicos que parte da delegação enfrentou por lá, é verdade, e, num torneio curto, qualquer desarranjo pode ser fatal. Como mensagem principal, no entanto, fez questão bater na tecla das poucas alternativas que lhe restavam para formar um grupo competitivo. “O maior responsável, em primeiro lugar, sou eu. A segunda responsabilidade é de todos aqueles caras que deveriam estar aqui e não estiveram, deixando a gente praticamente na mão”, afirmou, na ocasião, em entrevista ao SporTV. Seriam poucos, raros os nomes capacitados para encarar qualquer tipo de desafio, segundo a lógica. Os mesmos de sempre, não importando o que se passe em quadra.

“O que venho observando no NBB e no basquete brasileiro hoje é que está ocorrendo uma transformação”, afirma o ala Henrique Pilar ao VinteUm. “O Brasília acabou saindo e já são dois anos em que eles não chegam a uma final. Acho que existe toda uma transição de paradigmas, uma troca de geração. Estão vindo uns moleques muito bons. E a gente no Paulistano tem um time com um pessoal para quem nunca ninguém deu bola, mas que sabe que tem valor. As pessoas precisam olhar para todos os jogadores e ver o que eles têm de bom e o que não têm. Agora o que vale é observar aquilo que está se jogando, e, não, (avaliar jogador) por ter título, por sempre ter sido campeão.”

Paulistano, com uma campanha invejável desde o início do campeonato, e Mogi, em arrancada nos playoffs, para chacoalhar tantas certezas, apareceram este ano para chacoalhar algumas certezas, com elencos montados pelas beiradas, sem a grana daqueles candidatos de sempre. Pelo que noto, contudo, a tendência, ao falar sobre essas façanhas, tem sido a de valorizar o trabalho de treinadores e diretores em trabalhos que deram certo, “a despeito da referência e seus elencos de jogadores medianos, medíocres”, numa extensão de uma abordagem conformista, num ciclo vicioso, no qual as qualidades e a legitimidade dos atletas acabam sendo avaliadas, julgadas muito mais pelo que consta em seus currículos.

Pilar para a bandeja

Pilar para a bandeja, diante da boa fase de Paulão

Estão todos num beco sem saída, sentenciados à irrelevância? E o talento natural? Não conta? Não pode ser trabalhado? Como explicar a constante atração de jovens talentos brasileiros por clubes espanhóis? Se há partes interessadas do outro lado do Atlântico, obviamente não é apenas o caso de um ou outro agente estar cumprindo seu trabalho. E, pera lá, talentos só podem ser explorados até os 19, 20 anos? Ninguém pode crescer, evoluir a partir daí? E não seria justo esperar, pedir de um profissional como Magnano – e outros vencedores – algo nesse sentido?

Bom, depois de bater algum recorde de perguntas consecutivas, paramos para abrir espaço novamente para Henrique Pilar. A entrevista com ele começou com pontos específicos sobre seu time, minutos depois da vitória no quinto jogo contra Franca, mas acabou descambando para essas inquietações. Foi rápido, o bate-papo certamente pediria mais tempo, mas o interlocutor é esclarecido o bastante para engrandecer e levantar o assunto. “Acho que é começar a olhar direito.  Todo mundo aqui teve uma escola, e uma escola muito boa de basquete, podendo jogar muito bem quando tem um esquema tático armado, em que cada um saiba o que fazer. Quando existe um time como o nosso (do Paulistano), que começou e pretende ficar junto mais tempo, que tenha uma coesão”, diz o ala.

Bom, depois do que vimos na última LDB, nossa liga de desenvolvimento, não dá para escrever com tanta firmeza assim sobre o trabalho de base dos clubes em geral. Foram muitos os erros primários para atletas que ainda estão em formação, mas cuja faixa de idade em teoria já não permitira que se apresentassem tão crus assim. De qualquer forma, me chama mais a atenção a menção ao bom rendimento de sua equipe, com seus “anônimos” produzindo justamente dentro de um ambiente organizado, estruturado, no qual podem render melhor de acordo com suas características.

Neste ponto, o maior mérito de Gustavo de Conti parece estar na sua prospecção de mercado, na sua capacidade para identificar e contratar talentos sem ter o cofre mais endinheirado. Este não é o primeiro grupo competitivo que ele consegue montar às margens das grandes contratações, sem prioridade na escolha. A diferença que vejo no Paulistano 2013-2014 é uma combinação melhor de peças, formando um time, se não revolucionário, mais orgânico em quadra. “Esse foi um propósito do Gustavo”, afirma Pilar. “Até quando ele me contratou, me falou que gosta de trabalhar com caras versáteis, que podem fazer várias funções, até para (compensar) a eventual ausência de um ou outro. Desde o começo nosso time teve esse propósito, e vem amadurecendo.”

Versatilidade sempre foi o forte desse atleta. A primeira vez que o vi jogar foi há mais de dez anos, quando ele era apenas o Henrique Macia, um jovem e bastante alto armador que fazia a transição da base para o adulto do Hebraica, sob a orientação de Adriano Geraldes. Dividia, na época, seus dias com o estudos na faculdade de Filosofia, sem saber exatamente se seguiria como jogador, embora fosse evidente sua predisposição pelo esporte. Acontece que de modo algum a carreira de basqueteiro era algo garantido. O cara penou um bocado até chegar a um estágio em que sua opção de vida não pode ser mais questionada, passando pela Nossa Liga com o Londrina, ressurgindo como um ala-pivô cheio de double-doubles no ABC Paulista, quando ganhou suas primeiras e breves manchetes.

Sim, Pilar se firmou como um jogador de ponta no basquete brasileiro, se encaixando muito bem no quinteto titular do Paulistano após disputar três NBBs pelo Bauru. No duelo derradeiro com Franca, arrebentou: foram 26 pontos em 30 minutos, matando todas as sete bolas de dois pontos que tentou, somando aí os 50% em três pontos (3/6). Claro que esse não é o padrão de apresentação do ala. Os 26 pontos representaram um recorde pessoal. Na temporada, tem médias de 12,03 pontos, 3,8 rebotes e 1,8 assistência.

Nessa partida, porém, o que impressionou não foi necessariamente sua produção. Mas, sim, o modo como executou. Pilar conseguiu dosar agressividade e paciência, atacando na hora certa, como o aproveitamento de 100% no perímetro interno explicita. Embora a mecânica seja ainda um pouco estranha, sua pontaria nos tiros de fora vem crescendo ano após ano, subindo dos 33,9% de 2011 para os 44,9% deste ano, no qual está flutuando mais pelo perímetro, numa dinâmica interessante com seus intercambiáveis companheiros de equipe.

É a partir da linha de três também que Henrique pode oferecer outras facetas a uma linha ofensiva. Com 1,98m e facilidade no drible, o jogador pode cortar para o centro e enxergar a quadra por cima da defesa, conseguindo girar a bola de um lado para o outro com facilidade, a partir de seus cortes para a cesta. Um facilitador e o tipo de característica que não se vê a toda hora por aí.

No perímetro, Pilar pode ser um facilitador a mais

No perímetro, Pilar pode ser um facilitador a mais

Não estamos tratando de nenhum Andre Iguodala ou Scottie Pippen aqui, claro. Pilar tem suas limitações. Volta e meia, pode se meter numa fria em quadra, encurralado, a ponto de entregar a bola para o torcedor ou adversário. Se não estiver com os pés plantados em quadra, seu chute tende a perder eficiência. Na defesa, ainda é preciso ver como ele reagiria se fosse confrontado mais vezes por atletas mais velozes e explosivos, ainda que na sexta passada tenha feito um sólido trabalho contra Jhonatan e Eddie Basden.

A ideia, na verdade, não é defender a convocação ou eleger como salvador da pátria um atleta específico. Em meio a tantos atletas que são pausterizados numa grande massa de aparente mediocridade, Pilar vira o personagem aqui muito por minha familiaridade com sua trajetória, por tê-lo visto crescer no decorrer de uma década, e também por sua disposição a falar sem receio de pisar em calos, ciente de que, a essa altura, já não tem nada a perder.

“Prefiro nem pensar nisso”, afirma. “Não quero… Tipo, eu venho jogando pelo Paulistano, pensando no Paulistano, jogando o NBB. Penso no que tenho de jogar, não fico me iludindo, colocando coisa na cabeça que não tem por quê. Prefiro ir jogando, vendo as conquistas que temos até agora. Depois penso no que pode acontecer. Ou, depois tudo pode acontecer, e eu só acataria as circunstâncias.”

Não fiz a enquete, mas é cômodo arriscar que esse sentimento, um tanto resignado, abrange a esmagadora maioria dos 40 e tantos jogadores que iniciam as semifinais do NBB nesta segunda-feira. Afinal, entre os quatro clubes restantes, quantos de seus atletas têm sido constantemente convocados? Citei, no Twitter, Marquinhos e Marcelinho Machado. Também tem o Vitor Benite, e o Guilherme Giavoni me lembrou do Caio Torres, hoje no São José, é verdade. Fica nisso.

Agora, o pivô revelado pelo Pinheiros encara aquilo que de certa forma já é um tabu. Ser completamente ignorado não é um privilégio da turma dos azarões como Paulistano e Mogi. Que o diga o armador Fúlvio, outro que faz a festa de qualquer bloquinho de anotações, já escaldado quanto ao tema. “Para quem ainda quer ir para a seleção, já falei para não vir para São José… Aqui você pode fazer chover, que não vai”, replicou.

Será possível que nenhum dos jogadores que ainda sonham com o título do NBB seriam capaz de prorrogar suas temporadas para a disputa de qualquer Sul-Americano ou Copa América? Rubén Magnano obviamente tem conhecimento de causa e os olhos muito mais bem treinados do que qualquer blogueiro babaca. Só esperemos, contudo, que, na sua posição, o treinador tenha a cabeça aberta.

*  *  *

Abaixo, a íntegra do rápido papo com Henrique Pilar:

21: Percebe-se um constante revezamento entre você, Renato, César, com versatilidade o suficiente para atacar dentro e fora. Como funciona essa dinâmica?
Henrique Pilar: Esse foi um propósito do Gustavo. Até quando ele me contratou, me falou que gosta de trabalhar com caras versáteis, que podem fazer várias funções, até para a eventual ausência de um ou outro. Desde o começo nosso time teve esse propósito, e vem amadurecendo. Hoje estou muito bem adaptado a isso, fazendo a 3 ou a 4, com uma boa frequência, para poder chegar ao playoff realizando isso muito bem.

Além de vocês três, obviamente os americanos têm responsabilidades ofensivas e também podem atacar pelo drible. No fim, parece que se divide mais as responsabilidades em vez de se concentrar em uma ou duas referências?
Melhor, né? Se você pega um time que tem um cara para marcar só, um cara a ser batido, a gente pode resolver os problemas com mais facilidade. Agora, se você tem cinco caras na quadra, e todo mundo que entra pode definir, fica mais difícil.

Agora falando sobre sua evolução. Lembro de ver você subir pelo Hebraica basicamente como armador. Depois, você despontaria no ABC como um cara bastante voltado para o jogando lá dentro, como um pivô. Hoje, parece ter encontrado um meio termo. É por aí?
No final das contas, eu sou mais um 3. Pelo menos hoje. Agora, posso levantar vantagem também jogando como 4. Consigo marcar um 4 alto e ao mesmo tempo tendo o corte para atacar. Como armador ficaria um pouquinho complicado, acho que já passou o tempo. Exerço muito mais a função de um 3 no time, mesmo.

No Paulistano, se a gente for considerar o que se estabeleceu no mercado brasileiro, dá para falar que não há atletas de grife, mas não parece ser um impedimento para o time. Concorda? E aqui está o time na semifinal, depois de ótima campanha na temporada regular.
Tenho uma opinião formada sobre isso. O que venho observando no NBB e no basquete brasileiro hoje é que está ocorrendo uma transformação. O Brasília acabou saindo e já são dois anos em que eles não chegam a uma final. Acho que existe toda uma transição, até pensando na seleção brasileira também, uma troca de geração. Estão vindo uns moleques muito bons. E a gente no Paulistano tem um time com um pessoal para quem nunca ninguém deu bola, mas que sabe que tem valor. As pessoas precisam olhar para todos os jogadores e ver o que eles têm de bom e o que não têm. Agora o que vale é observar aquilo que está se jogando, e, não, (avaliar jogadores) por ter título, por sempre ter sido campeão. É um momento de transição no paradigma do basquete brasileiro.

Você acharia absurda a cogitação de sua convocação para a seleção ou de algum de seus companheiros?
Eu prefiro nem pensar nisso. Não quero… Tipo, eu venho jogando pelo Paulistano, pensando no Paulistano, jogando o NBB. Penso no que tenho de jogar, não fico me iludindo, colocando coisa na cabeça que não tem por quê. Prefiro ir jogando, vendo as conquistas que temos até agora. Depois penso no que pode acontecer. Ou, depois tudo pode acontecer, e eu só acataria as circunstâncias.

O técnico Rubén Magnano já deu a entender que não conta muito com a mão-de-obra do NBB em sua seleção ideal, como atletas importantes para a seleção. Acha que o talento natural do jogador em atividade no Brasil pode ser subestimado?
Acho que é começar a olhar direito para as pessoas que jogam aqui. A mídia brasileira também quer muito só criticar, trabalhar com grife, e não tem por quê. Todo mundo aqui teve uma escola, e uma escola muito boa de basquete, podendo jogar muito em quando tem um esquema tático armado, em que cada um saiba o que fazer. Quando existe um time como o nosso (do Paulistano), que começou e pretende ficar junto mais tempo, que tenha uma coesão. É difícil montar um time e já sair jogando.

E como foi o desenvolvimento, então, desse Paulistano, para se dar certo?
A gente teve a sorte de todo mundo aqui entender o que precisa ser feito. A gente conseguiu estabelecer o que cada um faz em quadra, e isso vai crescendo a cada dia no playoff. A gente sabe o que se espera e vai lá e faz, executa. Não sou só eu, é o Des(mond Holloway), o César, o Pedro, o Manteiga, todo mundo que joga aqui. Eu não fiz uma boa série, por exemplo, mas hoje fiz um bom jogo. E vai ser a mesma coisa contra São José. Se eu puder fazer cinco jogos bons, ótimo. Se não puder, alguém vai aparecer. Todo mundo pode fazer.

A última: neste quinto jogo contra Franca, vimos um clima bem mais agitado no ginásio, e está certo que a torcida deles contribuiu bastante para isso. Com o Paulistano na semifinal, fica a expectativa de que se repita? Que o Paulistano consiga encher sua casa numa metrópole como São Paulo?
Acho que a gente tem torcida, embora falem esse negócio que o Paulistano não tem torcida. Pode não ser uma torcida organizada, fanática como Franca ou São José, mas temos torcida. Andamos pelo clube e sempre tem quem nos apoie. Acho que isso é uma coisa criada para desmerecer um pouco o clube. Aqui tem também. Pode ser um pouco diferente. Mas hoje, por exemplo, a gente limitou um pouco a entrada do pessoal de Franca e colocou a nossa torcida. Não tem sentido, que eles sejam maiores que a gente. Não, a gente é maior. Se forem dar metade para eles, vão gritar mais. Mas agora, não. Agora a gente vai fazer que essa seja a política do Paulistano.


Brasil conhece grupo. Obrigação é bater Irã e Egito para avançar
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Giancarlo Giampietro

Em 2010, o Brasil (com Splitter, diga-se) superou o Irã. Reencontro 4 anos depois

Em 2010, o Brasil (com Splitter, diga-se) superou o Irã. Reencontro 4 anos depois

Extra! Extra! Saíram os grupos da Copa do Mundo de basquete!

O Brasil? Bem, o convidado e gastão Brasil caiu no Grupo A, ao lado de Espanha, França e Sérvia!

Dureza, hein?

Mas calma: Irã e Egito completam a chave. São seis integrantes, dos quais passam quatro para os mata-matas. Então, de cara, o que a gente pode dizer?

Que é obrigação bater Irã e Egito e passar de fase.

Por outro lado, era “o-bri-ga-ção” superar Jamaica e Uruguai na Copa América, e deu no que deu.

Avaliar, hoje, 3 de fevereiro de 2014, a força dos países que vão ao Mundial é nada mais que um exercício hipotético. Não temos a menor ideia de quem vai se apresentar, ou não, para o Mundial.

De certezas, mesmo, o que temos é que os Estados Unidos são os grandes favoritos ao bicampeonato. Mesmo sem LeBron, Kobe, Carmelo, Wade ou Chris Paul. E que não dá para perder do Egito. Por favor.

Um tropeço contra os faraós seria algo inimaginável. E contra o Irã? Bem… Para quem já advogou a favor da Finlândia no fim de semana, mantenho a coerência e recomendo calma, tranquilidade, paz e serenidade na hora de falar dos caras.

Obviamente seria pior ter os finlandeses na chave. Os escandinavos, pelo que praticaram no último Eurobasket, não podem ser considerados de modo algum como galinhas mortas. Agora, dá para dizer também que, entre os países mais fracos, o Irã, que ocupa a 20ª colocação no Ranking da FIBA, é bem mais encardido que Coreia, Filipinas, Nova Zelândia, Senegal e Egito.

O que sabemos sobre os iranianos?

Essa é uma boa hora para recuperar dois posts do ano passado, durante a disputa dos torneios continentais. Na Ásia, o Irã atropelou todo mundo. Foram nove vitórias em nove jogos rumo ao título. Na final, eles bateram os anfitriões filipinos por 85 a 71. Na semifinal, superaram Taiwan (que havia eliminado a China…) por 79 a 60.  Quem lidera a equipe é o pivô Hamed Haddadi, ex-Memphis Grizzlies, Phoenix Suns e Toronto Raptors. Tratado como figura cult na NBA, ele é um cara dominante no mundo Fiba. Na decisão asiática, ele somou 29 pontos, 16 rebotes e 2 tocos, matando 12 de 15 arremessos de quadra, em 29 minutos.

Esses números e o retrospecto na Ásia podem parecer assustadores, mas é preciso se levar em conta que o continente ao oriente não tem nem de perto a mesma competitividade que testemunhamos aqui nas Américas, por exemplo.

Se o Brasil tiver força máxima, ou algo perto disso, espera-se uma vitória tranquila. Como aconteceu no Mundial da Turquia em 2010. Quem se lembra? No começo de trabalho com Magnano, a então revigorada seleção, marcando bem, pressionando a bola, saiu vencedora de quadra na primeira fase por 81 a 65. O elenco tupiniquim era: Huertas, Nezinho, Raulzinho, Alex, Leandrinho, Machado, Marquinhos, Giovannoni, Murilo, Varejão, JP e Splitter. Nenê se apresentou, mas se desligou por motivo de lesão.

Não há motivos para esperar um desfecho diferente no torneio deste ano, na cidade de Granada, ao Sul da Espanha, em território que já foi dominado por uma dinastia islâmica.  Agora, de novo: é preciso quem Magnano vai convocar, aqueles que vão se apresentar e tudo isso.

A gente fala em obrigação, trabalhando na teoria. A vontade é colocar uma aspinha nisso: ‘obrigação’. Na prática, no mundo da CBB, depois dos acontecimentos de 2013, nada é garantido.

*  *  *

Sobre França, Espanha e Sérvia, o que dizer?

Bem, os franceses vão jogar cheios de confiança, como atuais campeões europeus, um título que eles comemoraram muito, mas muito, mesmo, no ano passado. Serviu como terapia para Tony Parker, além do mais. Agora, monitoremos todos como será a temporada do francês pelo Spurs. Jogar dois anos seguidos em competições Fiba, emendadas com longas jornadas na NBA, não é algo simples, fácil de se cumprir. Para a Espanha, como anfitriã, é de se imaginar que eles tenham força máxima, dependendo apenas que a enfermaria não retenha muita gente. Com os irmãos Gasol, seus excepcionais armadores, as bombas de Navarro e um Ibaka ainda melhor no ataque – mas sem abrir o berreiro? –, o time seria a segunda grande força do campeonato. Sacre bleu!, podem exclamar Parker, Batum e Noah, mas é o que acho. Por fim, a Sérvia é um dos times mais imprevisíveis da paróquia. A gente nunca sabe quem vai jogar. É como se eles trocassem de geração a todo momento. E, mesmo que os bambas joguem, controlar os egos dessa turma tem sido um problema desde que Dejan Bodiroga e Peja Stojakovic se foram. Fulanovic vai com a cara de Cicranovic? O talento é inegável, mas a química… Vai saber.

*  *  *

O restante dos grupos segue abaixo:

B – Argentina, Senegal, Filipinas, Croácia, Porto Rico, Grécia.
Os asiáticos deste grupo stão fazendo questão de espalhar pelos quatro cantos: “PROCURA-SE JOGADORES COM ASCENDENCIA FILIPINA DESPERADAMENTE”. No momento, eles estão tentando naturalizar JaVale McGee, o pivô mais insano da NBA, e Andray Blatche, outro cujo cuco também não bate muito bem, ex-companheiro de McGee num time de pirados em Washington, mas muito mais talentoso e que dá trabalho para qualquer um no mano-a-mano. Agora, mesmo com essa dupla, não dá para imaginar que Argentina, Croácia, Porto Rico e Grécia estejam preocupados. Temos aqui o quarteto de favoritos óbvios. O Senegal já forneceu nove jogadores para a NBA (embora pouquíssimos tenham vingado) e eliminou a Nigéria no último torneio africano, além dos donos da casa, a Costa do Marfim, na disputa pela terceira vaga. Então não deve ser desprezado. Mas, em CNTP, ficam pelo caminho.

C – EUA, Finlândia, Nova Zelândia, Ucrânia, República Dominicana, Turquia
Aqui a briga promete pelas vagas de segundo a quarto – já que o primeiro lugar é claramente da Nova Zelândia do sensacional Steven Adams… Então, bem, como vínhamos dizendo, a Turquia supostamente seria a segunda principal força desta chave. Com Omer Asik, Ersan Ilyasova, Emir Preldzic, Semih Erden, Furkan Aldemir, entre outros, porém, o time tem uma linha de frente formidável, mas um jogo de perímetro extremamente instável. Fossem outros tempos, poderíamos dizer que se tratam dos “caribenhos” da Europa. Foram vice-campeões na última edição, mas jogando em casa e com uma ajudinha da arbitragem. Então ficam no mesmo bolo de Ucrânia (um dos times mais modorrentos do últmio Eurobasket, com um basquete arrastado, excessivamente controlado por Mike Fratello, mas que se meteu entre os sete melhores),  Dominicana (Horford consegue se recuperar a tempo? Charlie Villanueva pode estragar tudo!? Será que o Calipari vai ficar tentado??) e Finlândia (o patinho feio que ganhou dos próprios turcos no Eurobasket.

D – Lituânia, Angola, Coreia do Sul, Eslovênia, México, Austrália.
O mesmo cenário se repete aqui. Com a diferença de que a Lituânia, bastante instável nas últimas temporadas – são os atuais vice-campeões europeus, mas precisaram jogar o Pré-Olímpico Mundial para chegar aos Jogos de Londres  –, pode se ver no mesmo pelotão de Eslovênia e Austrália. Mais abaixo talvez o México, depois de chocar as Américas no ano passado, talvez tenha algo a dizer a respeito, enquanto Angola está para a África assim como o Irã, para a Ásia. E a Coreia? Bem, com apenas seis jogadores acima de 1,94 m no elenco, sem chance.

 *  *  *

Os cruzamentos: as seleções do Grupo A batem com as do Grupo B no início dos mata-matas. Logo, é possível, sim, que tenhamos maaaaais um Brasil x Argentina pela frente. Se os nossos vizinhos e algozes tiverem de escolher, muito provavelmente topariam de cara, sem nem saber quem vai jogar por quem. Mas está bem cedo para falar disso. De todo modo, para Rubén Magnano, ficar ao lado de bichos papões na primeira fase não deixa de ser uma boa notícia. Garantia de que eles serão evitados de cara na fase decisiva – de todo modo, se o time pensa em medalha, em boa campanha, uma hora vai ter de enfrentá-los para valer e para vencer. O que a gente também pode tirar daqui é que dificilmente vamos ver a Espanha entregar, ou cogitar entregar qualquer coisa em quadra, como naquele polêmico de Londres 2012. Para escapar de um confronto precoce com os americanos, eles basicamente precisam se classificar na primeira colocação do grupo.


Sobre o susto com o convite da Finlândia e o basquete “grande”
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Giancarlo Giampietro

Divisão dos potes para o sorteio do Mundial 2014

Divisão dos potes para o sorteio do Mundial 2014

No meio de uma correria danada, no ano passado, com um torneio continental de seleções sucedendo o outro, tentei cobrir mais ou menos tudo o que estava acontecendo da forma mais fácil e, por vezes, mais conveniente: tentar encontrar um elemento comum a todos os eventos e fazer um resumão a partir deste ponto.

Por sorte, neste caso a pauta era clara e boa, ao mesmo tempo: a “onda de eliminações surpreendentes” por todos os cantos do mundo. E não há melhor momento para resgatar esse texto do que a ressaca que vive a comunidade basqueteira em geral, depois do anúncio dos quatro convidados para a Copa do Mundo da Fiba. Ver a Finlândia colocada entre os últimos “classificados” despertou uma reação cheia de som e fúria mundo afora. Uma reação bastante despropositada, se consideramos os fatos acontecidos em 2013, aqui relembrados.

Para quem está com preguiça de clicar no link acima, ou para os que, de repente, num estalo, perdeu a conexão – acreditem, aqui na sede do conglomerado 21, na Vila Bugrão, a Net não pára em pé –, seguem aqui também todos os times que foram privados da disputa da vaga (em quadra), de maneira precoce:

Europa
Alemanha, Rússia e Turquia (ao trio se juntaram, depois, Grécia e Itália).

Américas
Brasil e Canadá.

África
Nigéria e Tunísia.

Ásia
China.

É muita seleção “tra-di-cio-nal” no mesmo balaio. Uma dezena, quase 50% do que poderia ser a chave do Mundial. Abriram espaço, aqui e ali, para países como Ucrânia, México, República Dominicana, Egito, Senegal e Filipinas.

O quanto dessas duas listas, de eliminados e classificados, pode realmente ser considerado uma surpresa? Não há uma resposta definitiva para isso. É o famoso “depende”.

Na Europa, por exemplo, as coisas são muito, mas muito mais complicadas, e todos sabemos. A Ucrânia, sim, foi uma baita surpresa. Nos times históricos da União Soviética, Rússia e Lituânia eram as principais fontes de mão-de-obra. Para quem viu o Eurobasket, ficou clara a limitação do time, excessivamente lento, mas muito bem dirigido, orientado por Mike Fratello. De qualquer forma, se você põe uma Grécia na vaga dos caras, outros times muito bons ainda assim ficariam fora. É assim a vida por lá, mesmo com seis vagas abertas e a Espanha metida, para variar, entre os primeiros colocados. O que deixou todo mundo (que acompanhou a competição…) em choque, na época, foi o fato de russos e turcos terem caído logo na primeira fase. Enquanto um certo time escandinavo avançava…

México, campeão da Copa América de basquete. Alô? Lembram?

México, campeão da Copa América de basquete. Alô? Lembram?

Nas Américas, precisa falar? O Brasil desfalcado, mas ainda Brasil, perdeu de todo mundo, inclusive de Jamaica e Uruguai. A Argentina também se viu surpreendida pelos caribenhos e teve de lutar muito e contar com um pouco de sorte também para se garantir. O México, do nada, liderado por Gustavo Ayón, terminou como um campeão histórico. Aqui, acho que os sustos têm muito a ver com as inesperadas campanhas sofridas de dois (supostos) pesos pesados. Mas o fato é que, com o crescente número de americanos descendentes e naturalizados espalhados pelos países do continente ajuda a embaralhar muito as coisas. A Jamaica não tinha status nenhum desde a Terra do Fogo ao Alaska. Mas um jogador como Samardo Samuels pode dar muito trabalho, ainda mais quando acompanhado de uma série de armadores e alas superatléticos. E pensem no seguinte: eles ainda poderiam ter escalado Roy Hibbert e outros possíveis “expatriados”.

Na África, a Nigéria, lotada de norte-americanos, muitos deles atletas do calibre de NBA ou D-League, como Al-Farouq Aminu e Ike Diogu, e a Tunísia, que tem dois dos jogadores mais talentosos do continente (Salah Mejri e Makram Ben Romdhane) era a atual campeã, ficaram pelo caminho. Egito e Sengal foram duas zebraças, sim, que acompanharam Angola.

Na Ásia, a China passou por uma humilhação sem precedentes ao perder para Taiwan nas quartas de final, abrindo espaço para os anfitriões das Filipinas beliscarem uma vaga junto de Irã e Coreia do Sul. As Filipinas que agora sonham com a naturalização de JaVale McGee e Andray Blatche, dois pivôs da NBA com algum grau de ascendência similar ao de Manny Pacquiao. Vai saber.

A gente poderia esmiuçar cada uma dessas situações com mais tempo e detalhes, mas acho que deu para pescar o que está acontecendo, né? As coisas não são mais como antes, gente. O mundo do basquete mudou, e faz tempo já. O que me leva a uma lembrança.

*  *  *

Num dia desses, João Fernando Rossi, o  competentíssimo e comunicativo diretor do Pinheiros, sempre aberto ao diálogo nas redes sociais ou seja aonde for, estava divagando no Twitter sobre como não entendia muito bem a campanha “BIG”, da NBA. Já viram? Blake Griffin e James Harden não se cansam de falar sobre isso a cada intervalo do “League Pass”. Para ser sincero, já não aguento mais ouvir os dois astros, e nem eles conseguem falar mais – a cada exibição, a cara da dupla parece ainda mais tomada pelo tédio. Que saaaaaaaco…

Daí que, em meio a uma sucessão de posts, Rossi disse que, por seu trabalho na gestão do NBB, passou a compreender o significado da mensagem da liga norte-americana. Não me lembro exatamente qual a situação, se foi após o Jogo das Estrelas ou a final Flamengo x Uberlândia, mas era algo que gerava repercussão, que causava impacto, ao seu ver – concordem ou não, mas a visão de quem está de dentro da organização vai ser sempre diferente. Mas o fato é que ele, irradiante, fez a associação de que o campeonato nacional também seria BIG, grande.

Com peças publicitárias, você tem de tomar o maior cuidado. Se não fizer como Rossi e der um passo para trás, para tentar entender o que estão tentando colocar na sua cabeça, corre-se o risco de ser dominado por um processo de “tanto-bate-até-que-fura”, de assimilar tudo, sem a menor desconfiança.

A nova inserção da NBA, no caso, é feliz em muitos sentidos. Por mais que haja pequeninos encantadores, magos com a bola, como o caso de Isaiah Thomas, do Sacramento Kings, estamos falando de uma modalidade dominada gente grande, alta. A referência a “Bigs”, para o americano, então fica natural. É isso: uma palavra simples, mas que também passa um significado, hã, maior, grandioso.

No que chegamos a uma verdade que muita gente parece querer ignorar: o basquete hoje é muito grande. Doa a quem doer.

Não adianta falar e pensar “bla-bla-blas” sobre a globalização turbinada pela NBA e pela federação internacional como algo meramente teórico, se você não está preparado para aceitar o reflexo de tudo isso na prática, em quadra.

A competição está muito mais ferrenha, bem mais complicada do que 10, 15, 20 anos atrás, quando a a dissolução da União Soviética e da Iugoslávia já deixavam as coisas duras demais. A diferença é que americanos, asiáticos e africanos estão enfrentando hoje um cenário que, antes, preocupava apenas europeus ocidentais.

Já vivemos a época em que países de pouco ou nenhum histórico não estão nem aí para isso. Para uma Jamaica ou uma Nigéria prosperarem e incomodarem, basta a combinação de alguns dos seguintes fatores:

a) uma rede expansiva de contatos e a criatividade no processo de seleção – e a Fiba, convenhamos, é uma mãe para isso, permitindo as mais diversas associações de vínculos familiares +

b) um programa minimamente estável financeiramente +

c) um pouco de sorte na composição de grupos e chaves +

d) um ou outro desfalque de peso para os restantes =

“Temos um jogo”, nas palavras do Everaldo Marques.

E, não, não precisa ter jogador de NBA para formar um time bom. Como o caso da Finlândia, que bateu Rússia e Turquia – o armador Petteri Koponen, cujos direitos pertencem ao Dallas Mavericks, é hoje, quem chega mais perto disso. Mas vá perguntar a Koponen ou a um Ayón o que eles pensam sobre a legendária turma do Kanela. Não vai dar em nada. O que não quer dizer que não respeitem um país que pode revelar jogadores de biótipo tão diferente como Nenê, Tiago Splitter e Marcelo Huertas. Respeitar é uma coisa, porém. Temer? Outra.

Giovannoni e o Brasil são respeitados. Mas temidos?

Giovannoni e o Brasil são respeitados. Mas temidos?

Não dá mais para achar que o Brasil, bicampeão mundial e medalhista olímpico com nossa geração dourada, tem direito adquirido de nada. Pensem no futebol – o único esporte coletivo mais disseminado que o basquete, claro. Quem vai ousar dizer que Hungria e Polônia, que já tiveram seleções e gerações brilhantes, têm presença obrigatória em qualquer torneio de ponta? Em 1994, depois de se complicar com a Bolívia, quase que a eventual Seleção tetracampeã mundial cai fora da Copa. Nos gramados, não faz o menor sentido mais qualquer tipo de concessão. A bola rolou? São 90 minutos, então, pare decidir quem é que pode mais.

Nas quadras de basquete, é o que temos hoje. O Brasil, que ficou fora de três Olimpíadas em sequência, que terminou os últimos Mundiais nas 8ª, 19ª e 9ª colocações, está no meio do bolo, gente. Sabemos do potencial e do histórico do país, mas, nas últimas duas décadas, isso não serviu de nada. Na Europa, entre os veículos especializados, a mais dura verdade é que a seleção de Magnano só era vista como “favorita” a descolar uma das últimas quatro vagas na Copa devido ao tamanho do mercado nacional, e não pelo peso da camisa. Não há mais espaço para provincianismo, e insistir com um discurso de soberba e prepotência só é um… Convite para mais tropeços.

O basquete hoje é grande, e cada um que se vire diante disso.

Se tiver de pagar os mesmos R$ 2,6 milhões que a Finlândia para assimilar essa realidade, azar.


#Susijengi – Gangue dos lobos finlandeses no Mundial
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Giancarlo Giampietro

Finlandeses derrotaram os coirmãos convidados turcos no Europeu. Em 2013

Finlandeses derrotaram os coirmãos convidados turcos no Europeu. Em 2013

#Susijengi.

Era a hashtag mais cultuada do basquete europeu nesta manhã (segundo horário de Brasília).

Não tava entendendo nada. Que raios? Algum mantra chinês?

Nada, quando veio a confirmação oficial da Fiba dos quatro convidados para a Copa do Mundo de basquete, aí as peças foram se juntando. Na verdade, era um texto em finlandês. Porque, sim, a Finlândia vai jogar a próxima edição do Mundial.

Toca pesquisar, passado o susto, a surpresa. É detestável acordar assim, mas o estrago já estava feito.

Não precisou nem dar Google, acreditem. Aos poucos, o Twitter começou a ser inundado pelas mensagens dos jogadores da seleção finlandesa. Todos uivando feito malucos. Auuuuuu! A-uuuuuu! Por todos os lados, eles já haviam nos cercado.

Vejam o Hanno Möttöllä:

Descontrolado.

(Vocês se lembram do cara? Fizemos a mesma pergunta no ano passado, mas tudo bem. É a idade. Möttöllä, de qualquer forma, defendeu o Atlanta Hawks por um tempinho e retornou da aposentadoria em 2008. Vai disputar o Mundial com 38 anos).

Entende-se, então, que susijengi quer dizer gangue dos lobos. A gente podia usar o termo formal, alcateia, mas pra quê, né? Gangue dos lobos é tão mais legal, e tem influência direta aí do linguajar dos “bros” americanos, essa coisa de lobo da rua, ou qualquer coisa nessa linha. Não por acaso, é o nome de um álbum dos rappers do Kapasiteettiyksikkö.  A federação finlandesa também faz questão de nos informar que este é o “nome oficial” de sua seleção.

Susijengi e nóis na fita

Susijengi e nóis na fita

Agora, aguenta.

Ou melhor: agora é apreciar. Não tenham dúvida de que, mesmo com meia dúzia de lobos pingados na arquibancada, eles terão uma das torcidas mais animadas na Espanha. Não pensem que eles não vão dar um duro danado na quadra. Pode espernear até cansar, que a Finlândia está na Copa do Mundo de basquete, e ninguém tasca. E não há nada de absurdo nisso.

A partir do momento em que ficou claro que a Fiba filtraria seus quatro convidados pelo quesito financeiro – e quem duvidava disso? –, não há o que contestar a respeito de nenhum dos convidados.  Poderíamos ter Grécia, Turquia, Rússia e Itália, que seria ridículo igual. Botsuana, Quirguistão, Bolívia e Costa Rica? Na mesma.

O Luiz Gomes, provavelmente atordoado também, fez uma citação daquelas que me deixou fulo de inveja: “Isso não tem nada a ver com merecimento”.

W. Munny, do Missouri. Nada nessa porca vida tem a ver com merecimento

W. Munny, do Missouri. Nada nessa porca vida tem a ver com merecimento

Para quem não sabe, é um trecho do célebre discurso catártico do William “Clint Eastwood” Munny, do Missouri, ao final de “Os Imperdoáveis”. Para quem não viu, um dos melhores filmes da história. Para quem ainda busca redenção divina, corra até a (?) locadora mais próxima.

(E, sim, para os iniciados, todos sabemos que é obrigatória a referência “do Missouri” sempre que falarmos de William Munny. Ele é o William Munny, do Missouri. Fica o esclarecimento para a posterioridade.)

Agora voltando.

Se a grana ditou o jogo, então para que serve esculhambar com a – nem tão– pobre Finlândia? Numa escala de 0 a 10 de quem faz mal para a sociedade, a gente pode dar um belo -7 para eles.

O escândalo não é a Finlândia – ou o Brasil, no caso. O escândalo são os convites.  (Pela lógica: se o inferno são os outros, o escândalo são os convites.)

Mas, se a gente for falar de resultado, e de resultado imediato – por que de que me importa se o Brasil foi bicampeão mundial com Wlamir, se hoje só o temos como comentarista na ESPN?

Nesse quesito, acharia completamente factível que se pegasse apenas o resultado imediato para discutir quem… hã… merecia estar lá. O que aconteceu na campanha rumo ao Mundial.  Que tal recuperarmos a campanha deles no último Eurobasket – 2013 não foi há tanto tempo assim. Acho.

Na Eslovênia, os caras foram a grande sensação da primeira fase do torneio, com quatro vitórias e um revés. Derrotaram, inclusive, dois outros convidados do torneio: Grécia e Turquia. Além disso, venceram Rússia e Suécia (antes de mais nada, com dois jogadores de NBA no quinteto inicial) para avançår.  Na segunda etapa, bateram também os donos da casa, do clã Dragic.

Não tem mais bobo no basquete? (Ou tem de monte?)

Lembrando, sempre com muita úlcera, que o Brasil terminou sua inesquecível campanha na Copa América do ano passado com quatro derrotas em quatro rodadas. Inclusive para Jamaica e Uruguai.

Jamaica > Finlândia?

Finlândia > Uruguai?

Eslovênia > Jamaica?

Fico meio confuso. Mas o fato é que os Homens do Norte aprontaram horrores no torneio europeu e por pouco não foram para as quartas de final. Eles terminaram o Grupo F com a mesma campanha da Espanha. Só caíram no desempate pelo confronto direto. No geral, tiveram cinco vitórias e três derrotas – a França terminou com 8-3, para se ter uma ideia. Para quem eles perderam? Croácia, Espanha e Itália.

Croácia > Jamaica?

Uruguai > Espanha?

Mais confusão para a cabeça.

O jeito é uivar mesmo.

A-UUUUUU!

É nóis na fita e #susigenjiNaCopa.

PS: especificamente sobre a cara-de-pau brasileira nessa coisa toda de convite, foi preciso outro texto.

*  *  *

Angry Birds

Nunca fui muito de videogame. Ok, quando mais novo, perdia o sono com Alex Kid e Black Belt. Depois de um tempo, porém, só ficava com as fitas (sim, ainda eram as fitas) de esporte. SuperMonaco, Lakers x Celtics, os FIFAs… Até chegar agora ao NBA2k. Parei no 12.

De qualquer fora, para mim, videogame sempre foi a coisa do console. Nunca joguei em PC. Na minha cabeça problemática, os dois não combinam.

Logo, jogar no celular parece algo ainda mais descabido.

E o que isso tudo tem a ver com gangues de lobos finlandeses e os absurdos dos convites da Fiba para a Copa de basquete?

É que a empresa Rovio, a responsável pela epidemia mundial que são os Angry Birds, é quem está dando todo o apoio financeiro para o sonho  do país. A própria federação dos caras divulgou release para alardear isso. Não vou eu tentar explicar o que são esses passarinhos estressados para você, né? Só sei que a gente os vê por aí em qualquer banca de camelô ou shopping. São sucessores da abelinha do Charlotte Hornets e do Bob Esponja como estampa de tudo o que se possa imaginar.

São milhões e milhões de pessoas se divertindo com qualquer conteúdo virtual que a Rovio prepare com sua, para seguir na revoada, galinha dos ovos de ouro. No pacote, na proposta que a Finlândia encaminhou para a Fiba, estava a promessa que a empresa fará propaganda gratuita da Copa do Mundo em suas diversas plataformas. Se você não tem cão, caça com passarinho. Ou melhor, não tem audiência de TV, que tal oferecer então visibilidade mundial para um público diversificado?

E aí fica a pergunta. O que é melhor/pior: ser financiado por um jogo online (ou, se preferir, “corporação multimídia que vale bilhões de dólares“) ou pelo bom e velho tesouro público?