Vinte Um

Arquivo : Leo Gutiérrez

Argentina dá o troco em casa, mas à base do chute de três
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Giancarlo Giampietro

Nocioni: 9 pontos em 14 minutos na vitória argentina

Nocioni: 9 pontos em 14 minutos na vitória argentina

O que vale cá também conta para lá. No sentido de que tanto Brasil como Argentina ainda estão em fase de preparação, de entendimento e tudo o mais. Passada uma semana do primeiro confronto no Rio, porém, as coisas já começam afunilar rumo ao Mundial que se inicia no finalzinho do mês.

Nesta sexta, na vitória dos hermanos por 85 a 80, alguns jogadores-chave já ficaram em quadra na casa de 30 minutos. Luis Scola, em seu primeiro amistoso do ano, foi um deles, com 30min25s. No Brasil, como deve acontecer durante todo o Mundial – caso não haja problema de faltas –, Alex foi quem mais jogou, com 31min50s. Tiago Splitter, aquele que, ao que tudo indica, será o carro-chefe do time, atuou por 27min38s. (Obs: isso, claro, se os números divulgados estiverem corretos, uma vez que Cristiano Felício, que nem o agasalho tirou, aparece com 32min13s na tabela. Se o Brasil tivesse ganhado, era o caso de cobrar o bicho também, né?)

Então, a cada teste, as coisas tendem a ficar mais sérias, e nem estamos falando de nada de rivalidade sul-americana aqui? Mas, sim, de que, naturalmente, o plano de cada treinador segue – e tem de ir – em frente. Ninguém vai mostrar tudo o que tem tão cedo assim (Nocioni foi muito bem no primeiro tempo, ficou em quadra apenas por 14 minutos, enquanto Huertas foi o terceiro armador na rotação brasileira), mas já vai soltando, aplicando mais coisas.

Posto isso, pelo que vimos na terceira partida brasileira, a tendência dos jogos no Rio de Janeiro foi mantida: um volume mais baixo nos tiros de três. Apenas 14 foram tentados pelos homens de Rubén Magnano em Buenos Aires, contra 47 bolas de dois. Aqui é importante ressaltar uma coisa: não quer dizer, claro, que tenham sido 47 arremessos no garrafão, próximos da cesta. De qualquer forma, considerando o que já vimos da seleção em outros carnavais, essa simples contraposição de 47 x 14 já precisa ser festejada. Até porque a mira do perímetro segue ruim pacas, com apenas quatro conversões, num aproveitamento de 29%. De qualquer forma, a volúpia diminuiu, e aí não adianta ignorar esse simples fato e falar que tudo é ruim, que tudo é um desastre, e tudo mais.

Nos arremessos de quadra, a despeito das falhas de três, o aproveitamento desta noite foi bem superior ao do clássico do sábado passado, com 52% (contra 30%). E o que mais? Dos 61 chutes de quadra, 27 foram de pivôs (44,2%). Esse volume ainda pode aumentar tranquilamente, mas não dá para repetir o bordão famigerado de que “nossos grandalhões são ignorados pelos baixinhos”. Os poucos arroubos também resultam em melhor controle de bola, com apenas oito desperdícios durante os 40 minutos.

Esses são os dados positivos. Agora, ficamos realmente no aguardo por uma movimentação de bola mais leve e imprevisível. Mais trocas de passes entre os pivôs. Corta-luzes e passes de entrada no garrafão com ângulos variados e também mais velocidade na execução de meia-quadra – ainda mais contra um adversário tão lento e de baixíssima capacidade atlética como a Argentina. Correr não é um verbo praticado apenas em contra-ataque. Por vezes, a seleção aceita um jogo muito estagnado, um tanto manjado, que facilita a contestação mesmo por parte de uma defesa sem grandes bloqueadores. Para constar: esse é um problema do time de Magnano desde 2010 – assim como os lances livres, aliás (12-26, 46%). Vai mudar agora? Esperemos. Os três principais homens da rotação interior passam muito bem a bola e precisam ser explorados de modo incessante nesse sentido.

Na defesa, o time não soube reagir aos chutes de Nicolas Laprovittola e Leo Gutiérrez, que, juntos, acertaram 7-12 de três pontos. Nenhum deles é desconhecido dos nossos atletas. Ainda assim, tiveram liberdade para receber e disparar. Por outro lado, algumas dessas bolas foram bem de longe, de baixa probabilidade. Caíram dessa vez, mas isso em geral não é algo que se traduz para uma competição de alto nível. O jogo dos nossos vizinhos ao Sul depende hoje muito desse tipo de fundamento. Mesmo Luis Scola joga cada vez mais distante do aro. Nos dois amistosos, eles tentaram um total de 45 arremessos de fora. Muita coisa. No Rio, a diferença é que haviam amassado o aro. No geral, a média ficou em 31%. Abaixo da mediocridade.

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Rafael Luz, em teste contra Prigioni: armador vem bem desde o Sul-Americano

Rafael Luz, em teste contra Prigioni: armador vem bem desde o Sul-Americano

Momento por momento, é bom verificar se o Rafael Luz está com o passaporte em dia, né? Força de expressão, claro, já que o Mundial será jogado na Espanha, aonde ele vive há anos. Disputando uma das vagas da seleção, o armador começou o terceiro amistoso como titular, de frente com Pablo Prigioni, para ser testado, mesmo. Seu melhor momento, contudo, veio no quarto período, quando voltou para a quadra para render Huertas depois dos chutes de Laprovittola. Rafael controlou bem a situação. Dá mais estabilidade ao time e tem mais pegada defensiva.

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Fabrício Melo é de 1990. Augusto Lima, 1991. Lucas Bebê e Cristiano Felício, 1992. Matías Bortolín e Tayavek Gallizzi, pivôs estreantes na rotação argentina, nasceram em 1993. Então, da próxima vez que ouvirem alguém falar que a “Argentina vai sofrer”, que eles “não têm renovação”, melhor recorrer ao Google e checar mais uma vez.

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Para a torcida do Flamengo: se já não notaram, reparem no tamanho das mãos de Walter Herrmann. Absurdas. A bola fica muito pequena com ele. Algum dia desses, o cabeleira, um jogadoraço – e bastante singular também – vai pegar o Facundo Campazzo pela cabeça e cravá-lo no reverse. Podem esperar.


Em clima nada amistoso, Brasil vence e vê Splitter de volta
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Giancarlo Giampietro

Com torcedores dos dois lados no ginásio em Foz do Iguaçu, velhos rivais vindo de uma partida que já não havia terminado bem em Buenos Aires, não era de espantar que tivesse confusão em quadra. Fazia tempo que não víamos dessas, mas estava latente.

Os argentinos já se irritaram muito com um empurrão de Marcelinho Machado em Luis Scola, posicionado para um corta-luz, logo nas primeiras posses de bola. Foi um encontrão duro, mas nada fora do comum.

A partir dali, Julio Lamas se descontrolou e soltou cobras e lagartos para cima do trio de arbitragem brasileiro, recebendo falta técnica e, nem assim, aliviando. Teve vários momentos de “fala muito” durante os dois primeiros quartos até chegarmos ao empurra-empurra geral depois de Leo Gutiérrez e Marcelinho se estranharem. Clima amistoso o escambau.

Machado e Leo foram expulsos. Nocioni acabou excluído com cinco faltas, claro. Agora… Não me venham com ofensas a argentinos, por favor. É jogo, não guerra.

Brasil x Argentina em Foz do Iguaçu

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Em quadra, na bola, a seleção atacou, enfim, com seus pivôs, refreando seu ímpeto de três pontos. A combinação Splitter-Varejão voltou a funcionar – lembrem do que fizeram juntos na Copa América de 2009 em Porto Rico. A ação interior nos primeiro e quarto períodos fluiu com estilo e eficiência sob a orquestração de Huertas e os dois grandões cortando direto para o aro.

Splitter, em particular, lavou a alma. Foi sua primeira atuação nesta série de amistosos que seguiu o padrão ao qual nos habituamos nos últimos torneios oficiais. Ou seja: alto nível. Colocou toda sua habilidade no jogo de pés para dar um baile nos adversários no garrafão.

Quando Nenê entrou, o aproveitamento caiu, mesmo com o pivô isolado no poste interior contra rivais mais baixos e fracos. Não foi eficaz. Só não é para detonar o são-carlense, que não está 100%, mas precisa ser envolvido, sim, para chegar bem a Londres.

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Juan Gutiérrez dessa vez foi colocado no bolso, como deve ser. Nossos pivôs são bem mais ágeis, versáteis e igualmente fortes.

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Larry Taylor marcou muito bem, usando sua capacidade atlética para pressionar seu jogador, que invariavelmente tinha dificuldade para criar. No ataque, fora da bola, ele também se mexeu bastante naquela que foi sua melhor partida pela seleção até aqui. Só não confundam uma coisa: não é porque ele jogou ao lado de Huertas e Raulzinho que significava uma dupla armação para o Brasil. O norte-americano jogou basicamente como um ala.

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O desfalque de Leandrinho (somado ao eterno de Marquinhos) ainda impede que Magnano tenha seus 12 atletas em quadra por uma vez sequer e nos impede também de saber qual exatamente é a rotação que o técnico tem em mente para os Jogos. Algo importante também dentro do grupo: ajudaria que ninguém crie falsas expectativas sobre suas funções durante a competição.

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A vitória em si pode ser comemorada, mas o placar final não chega a ser totalmente realista, já que os argentinos, no fim, nos dois minutos finais, estavam sem cinco de seus principais jogadores – Ginóbili, Delfino, Scola, Nocioni e Leo Gutiérrez. Muita coisa comparando com Leandrinho, Marquinhos e Machado. Explicando: a vitória foi mais que justa, o Brasil foi superior, mas houve condições atípicas no jogo também.

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Alguém viu aí qual o lance em que o Scola se lesionou no quarto período? Que fase a do argentino, hein? Acabou de ser dispensado pelo Houston Rockets e ainda termina um Brasil x Argentina no vestiário para ser examinado.


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