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Arquivo : Rick Pitino

Porto Rico vence Brasil: notas sobre o amistoso
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Giancarlo Giampietro

Balkman, sempre dando trabalho à defesa brasileira

Balkman, sempre dando trabalho à defesa brasileira

A Copa Tuto Marchand é um evento meio estranho. Tem estatísticas da Fiba, nome de torneio, banca de oficial, mas não passa de um conjunto de amistosos que serve para seus participantes dar uma espiada nos adversários às vésperas de uma Copa América, embora todos saibam que nem tudo está sendo mostrado. Só uma coisa ou outra. Pegue a partida entre Brasil e Porto Rico pela primeira rodada desta edição 2015, neste domingo. Em um pedido de tempo no quarto período, com o jogo praticamente descarrilado já, Rubén Magnano abriu espaço para Gustavo de Conti passar uma jogada. Planejaram uma conexão direta em ponte aérea. O tipo de jogada para buscar uma cesta decisiva ao final da partida. Não deu certo, mas era uma cartada ali.

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Esse é um exemplo de situação que mostra como essas partidas em San Juan não devem ser levadas muito a sério, e não só pelo fato de a seleção ter sido derrotada pelo time da casa por 79 a 66. De qualquer forma, os jogos apresentam alguns indícios. Sem TV para registrar os acontecimentos, o canal oficial para se acompanhar o torneio é a LiveBasketball.TV, pagando por assinatura. Com base no que pudemos ver contra os porto-riquenhos, seguem algumas notas.

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Foi uma partida beeeem diferente em relação ao que aconteceu no Pan-Americano. Porto Rico jogou com muito mais pegada e estrutura, já devidamente influenciado por Rick Pitino. Imagino o célebre técnico da Universidade de Louisville tenha usado a surra histórica que a equipe tomou em Toronto a seu favor para pilhar seus atletas — e também para amainar um pouco o orgulho ferido. Os brasileiros conseguiram fazer apenas três pontos de contra-ataque, diante de uma defesa em transição muito atenta. Foi claramente uma prioridade para o treinador que é um mestre nesse tipo de lance.

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É preciso dizer que, a despeito do desfalque de José Juan Barea, John Holland e Maurice Harkless — supostamente o trio titular no perímetro –, esta já era uma seleção porto-riquenha também distinta daquela de semanas atrás, especialmente pela presença sempre energética de Renaldo Balkman no quinteto titular. O cabeleira é uma figura muito influente quando o basquete Fiba está em quadra.

Balkman deu muito trabalho a qualquer defensor que estivesse à sua frente. Com agilidade e vigor, passou facilmente por Giovannoni e Olivinha, para acumular 16 pontos, 4 rebotes, 3 assistências, 2 roubos de bola e 2 tocos em 26 minutos, batendo seis lances livres. Ele basicamente fez o que quis em quadra, iludindo os brasileiros com fintas para um chute suspeito do perímetro. Botava a bola no chão, e aí era um abraço, com ataques rápidos em direção à cesta. Fora da rotação, Marcus Toledo não teve a chance de bater de frente com o veterano. Seria um duelo muito interessante.

Esse aspecto de rapidez e velocidade chamou a atenção: mesmo quando o ala-pivô ex-Knicks e Nuggets estava no banco, os caribenhos em geral tiveram o time mais leve em ação, com Devon Collier e Ramon Clemente também prevalecendo em seus movimentos. Concentrando-se em propósitos defensivos, é provável que Rafael Mineiro tenha de ficar mais tempo em quadra durante a Copa América, ao lado de Augusto.

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Augusto Lima, do outro lado da quadra, fez das suas. Sem Daniel Santiago e Peter John Ramos, Porto Rico tem alas-pivôs móveis, mas pode enfrentar dificuldade na hora de proteger a cesta na busca por uma vaga olímpica, pelo menos a julgar por esta partida. Tanto o pivô do Murcia, extremamente atlético e voluntarioso, como JP Batista, mais lento, mas inteligente em seus cortes e com excelente munheca, se deslocaram muito bem pela área pintada e pontuaram com eficiência perto da tabela, enfrentando pouca resistência na cobertura. Foram 14 pontos e 4 rebotes ofensivos para Augusto, em 17 minutos (6-11 de FG) e 18 pontos em 20 minutos para João Paulo (com 8-12). Foram os dois jogadores mais lúcidos do Brasil.

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Os dois pivôs brasileiros tiveram atuação eficiente e arriscaram juntos 35% dos arremessos da seleção e tiveram boa assessoria da turma de fora.  No geral, porém, o time não movimentou bem a bola. Foi um nível bem abaixo de rapidez em relação ao que vimos em Toronto, isso é certo. E aqui não estamos falando só de contra-ataque, de transição. Mas de ritmo de jogo, mesmo, de movimentação de bola. É nesses detalhes — e, não, nos números — que vocês devem notar a diferença que um armador com a cancha e vocação de passe de Rafael Luz pode fazer, gente.

Parte disso se justifica pela postura mais combativa dos caribenhos, claro. Outra parte da resposta vem do fato de Magnano ter promovido uma rotação claramente alternativa, na qual Rafael jogou apenas oito minutos, Benite ficou com 17, enquanto os caçulas Deryk Ramos e Danilo Siqueira jogaram, respectivamente, 15 e 16 minutos. Mas por vezes os atletas parecem muito acomodados e confiantes em dar a bola para Marquinhos e deixar o veterano ala resolver as coisas em jogadas individuais. Isso já havia acontecido bastante nos amistosos em Brasília e não é saudável.

Não que o ala flamenguista não tenha bola para isso. É difícil encontrar um marcador no mundo Fiba que consiga freá-lo quando ataca a cesta. De toda forma, quando servido em movimento, em progressão em direção ao aro, ele fica ainda mais perigoso. Essa é uma opção para finais de jogada, lances mais apertados, claro. Talvez a preocupação aqui seja dar mais ritmo a Marquinhos, que está voltando de férias. Não à toa, foi o brasileiro que mais jogou, com 27 minutos (sete a mais que JP). Quando o torneio para valer começar, espera-se que o ala esteja mais entrosado e afiado. Com seu pacote de mobilidade, altura, visão de quadra e habilidade, é uma peça mais que bem-vinda, que cai como uma luva, caso a equipe repita o padrão de jogo que a levou à conquista do ouro na metrópole canadense.

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Outro ponto a ser considerado no ataque: , Giovannoni, Olivinha e Marquinhos vão precisar acertar seus disparos ou ao menos representar alguma ameaça nesse sentido. Do contrário, o espaçamento de quadra vai para o buraco, e os ângulos de infiltração serão tapados. De modo que as defesas poderão se dedicar muito mais à fiscalização de Benite, deslocando adversários para cobrir sua trilha longe da bola. Goste-se ou não de ver Rafael Hettsheimeir chutando de três pontos, o fato é que um pivô com chute hoje faz parte integral do plano tático de Magnano.

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Entre os mais jovens, Danilo teve seus momentos. Sua primeira passada é algo que pode ser explorado mais em movimentações fora da bola, ou em ataques após as tradicionais parábolas pelo fundo da quadra. Pode render bem como reserva de Benite, mostrando visão de jogo para distribuir a bola. Deryk foi um pouco mais comedido. Melhorou bem no segundo tempo, procurou buscar a bola em rebotes longos para tentar dar um pouco mais de velocidade à transição ofensiva, mas não conseguiu quebrar a primeira linha defensiva de Porto Rico, terminando com quatro assistências e quatro turnovers. Merece mais chances, de qualquer forma, contra Canadá e Argentina.

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No primeiro jogo da noite, a jovem seleção canadense, cercada de imensa expectativa, venceu os argentinos por por 85 a 80. Foi também um duelo de altos e baixos. Facundo Campazzo  ficou fora de um lado e Corey Joseph do outro. Sem o tampinha, a equipe de Sergio Hernández perde em velocidade e criatividade, dependendo ainda mais dos veteranos e infalíveis Scola e Nocioni. Os campeões olímpicos marcaram 23 pontos cada, em 57 minutos. Nicolás Laprovíttola anotou 16 pontos e deu 4 assistências, em 31 minutos. O caminho para os hermanos é ter o barbudo ex-Fla, agora no Lietuvos Rytas, ao lado de Campazzo. Do lado do Canadá, a linha de frente titular teve Anthony Bennett, que fez ótimo Pan, ao lado de Kelly Olynyk, o jogador de NBA deles mais experiente em competições Fiba. Andrew Wiggins marcou 18 pontos em 26 minutos.


A Austrália vem aí. Restam 9 vagas para o basquete masculino do Rio 2016
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Giancarlo Giampietro

Conta outra, vai, Bogut...

Conta outra, vai, Bogut…

Primeiro foram os Estados Unidos, campeões mundiais com facilidade. Depois, o Brasil, país-sede com muito orgulho, amor e, principalmente, custo. Agora… a Austrália, que, nesta terça-feira, terminou a série contra a Nova Zelândia e se tornou a terceira seleção a se classificar para o torneio olímpico masculino do Rio 2016.

Qualquer resultado diferente no playoff da Oceania seria uma baita zebra, mas é preciso dizer que os Tall Blacks deram um certo trabalho aos Boomers (nada como a tradição da região em apelidar tudo com muito bom gosto). No jogo de volta, em Wellington, após vitória em Melbourne por 71 a 59, os australianos abriram até 19 pontos de vantagem a sete minutos do fim, mas, seis minutos depois, viram os neozelandeses diminuírem o placar para  apenas cinco (82 a 77). Aí Matthew Dellavedova, o xodó de Cleveland e inimigo público número um da Conferência Leste, acertou uma bola de três da linha da NBA para esfriar as coisas.

Com a confiança lá no alto, aliás, Delly foi o cestinha de sua seleção, com 14 pontos em 25 minutos, depois de ter marcado 15 no primeiro duelo. Andrew Bogut, de volta ao batente pelo basquete Fiba pela primeira vez desde Pequim 2008 (!?), teve um segundo jogo muito mais produtivo que o primeiro, com 10 pontos e 10 rebotes em 20 minutos, além de 3 tocos para se estabelecer como presença intimidadora perto da cesta. Chamado de última hora, por conta da da lesão de infeliz lesão de Dante Exum, Patty Mills teve média de 13,5 pontos, 4,5 rebotes e 4,0 assistências nos dois jogos. O veterano David Andersen teve 14,0 pontos, enquanto o jovem Cameron Bairstow, ala-pivô do Chicago Bulls que agora tem um Cristiano Felício fungando no cangote, somou 9,0 pontos e 6,0 rebotes.

Dellavedova mantém alto rendimento em série contra a Nova Zelândia

Dellavedova mantém alto rendimento em série contra a Nova Zelândia

Em termos de desfalques, além de Exum, os Aussies jogaram sem Aron Baynes, que foi muito bem na última Copa do Mundo, mas teve um comportamento um tanto nojento, por assim dizer, e sem seu outro atleta do Utah Jazz, o ala Joe Ingles, que pediu dispensa para descansar um pouco. Ingles seria o equivalente ao Tiago Splitter deles, tendo batido cartão ano após ano em competições pela seleção, e não deve faltar aos Jogos Olímpicos.

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Vale ficar de olho nessa equipe. Em Londres e na Copa do Mundo, foram um time bastante chato de se enfrentar. Para o Rio, mesmo com uma ou outra ausência, precisam ser respeitados, e não apenas por sua safra recente de NBA. No geral, os caras têm um elenco muito forte fisicamente, versátil e experiente. A maioria de seus homens de rotação atuando também por fortes clubes europeus há um bom tempo. Na verdade, do time listado para enfrentar os Tall Blacks, apenas três jogam pela liga australiana.

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As demais vagas para as Olimpíadas serão distribuídas desta forma: apenas duas diretas para a Europa, duas para as Américas, uma para a Ásia e outra para a África, que inicia seu AfroBasket nesta quarta-feira. O torneio será disputado até 30 de agosto, um dia antes do início da Copa América, que vai até 12 de setembro. O EuroBasket sanguinário vai de 5 a 20 de setembro. Para fechar, o Copa Ásia será realizada apenas de 23 de setembro a 3 de outubro.

Restariam ainda três postos a serem distribuídos no famigerado Pré-Olímpico mundial, que terá outro formato neste ano. Em vez de um só torneio, a Fiba decidiu realizar três, com o campeão de cada um completando a chave do Rio de Janeiro, entre os dias 5 e 11 de julho. Se, por um lado, serão três disputas eletrizantes, por outro lado não dá para ignorar que a federação internacional encontrou mais uma forma de arrancar dinheiro de seus filiados, já que três países precisam se candidatar a sedes do evento – valendo vaga olímpica, imagino que não faltará interessados, especialmente com tantos bons times europeus no páreo. Além disso, com o calendário da modalidade já apertado, é óbvio que os clubes não gostaram nada dessa novidade. Por fim, como será a distribuição de países em cada torneio? A entidade ainda não divulgou e, dependendo dos critérios, algumas injustiças podem ser cometidas em nome da “pluralidade”. A ver.

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Com Valdeomillos e Ayón, México ganhou a Copa América de 2013

Com Valdeomillos e Ayón, México ganhou a Copa América de 2013

Ei, vocês aí, falando mal da CBB sem parar… Experimente curtir basquete no México para ver o que é bom para tosse. Prestes a receber o Pré-Olímpico das Américas, a federação mexicana vai ter de se explicar depois de uma, no mínimo, explosiva entrevista do técnico espanhol Sergio Valdeomillos, que comanda uma emergente seleção nacional, que, sob seu comando, ganhou a Copa América de 2013 e o CentroBasket de 2014. Em uma conversa com a rádio Reloj de 24, o treinador disse o seguinte sobre os dirigentes locais: “O problema é que dentro da federação mexicana existem gângsteres. Não é gente que ama o basquete, mas uns autênticos gângsteres sem vergonha. Algum dia vão ter de dar um jeito nisso, pois estão acabando com o segundo esporte do país. É uma pena. É incompreensível porque, depois de toda essa história, organizam um Pré-Olímpico. Algo inconcebível. É evidente que, diante de tudo isso, alguém está ganhando”.

Bem, do que o treinador está falando? Segundo deixa entender, de uma série de problemas estruturais que abalam a preparação de sua equipe, depois de um bom papel que cumpriram pela Copa do Mundo do ano passado. O último problema foi a falta de uniformes. “Existe uma anarquia de tal modo que todos querem mandar, e isso leva algumas pessoas a fazer coisas que não lhes corresponde. Então está sempre acontecendo uma coisinha aqui e ali. Toda hora tem uma notícia nova”, desabafa. “Nos anos anteriores, houve muitas anedotas e outros problemas desse tipo. Mas temos de superar essas coisas e pensar só no basquete.”

As questões, segundo o treinador, também ultrapassam as fronteiras da federação. Segundo o espanhol, sete dos seus jogadores não receberam sequer um tostão furado durante toda a temporada passada. Para constar: o próprio Valdeomillos chegou a romper com a entidade nacional devido ao atraso do pagamento de seu salário, mas foi convencido a retornar. Sem o treinador, que chegou a tirar dinheiro do próprio bolso na temporada passada, o astro Gustavo Ayón afirmou que não aceitaria a convocação. Novamente aos trancos e barrancos, com Ayón e o armador Jorge Gutiérrez no time, o México vai enfrentar Brasil, República Dominicana, Panamá e Uruguai na primeira fase da Copa América.

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Pitino fechou com Barea em Porto Rico

Pitino fechou com Barea em Porto Rico

Outra seleção que tem passado por alguns percalços nos últimos dias, tanto dentro como fora de quadra, é Porto Rico. Os pivôs Ricky Sánchez e Peter John Ramos se recusaram a jogar pelo time este ano, sem dar muitas explicações. Os dois não estavam lesionados. Carlos Arroyo também está fora, mas por opção do supertécnico Rick Pitino, que, em sua coletiva de apresentação, falou por cima sobre os conhecidos problemas de ego da seleção (é sabido que o veterano e Barea não se bicam…) e que, em sua gestão, não haveria espaço para isso. Além disso, Pitino questionou qual seria a motivação do astro porto-riquenho aos 36 anos de idade.

“Não creio que ele se encaixe nos nossos planos. Não estou seguro se, aos 36, lhe interessa fazer o sacrifício necessário para fazer o que se precisa para estar aqui. Ele já disse também que sua prioridade era voltar a jogar na Europa. E, no meu caso, também prefiro trabalhar com armadores de 32 anos ou menos, para efeitos de se fazer uma boa defesa”, afirmou. Quer dizer, foi um espancamento em praça pública, né? O curioso é que o técnico, depois, admitiu que não havia conversado pessoalmente com o armador. “Certamente não está descartado, mas depende dele.”

Arroyo, claro, não gostou nada das declarações. “Não foi prudente da parte dele”, disse. Por outro lado, em junho, ainda dizia ao jornal Primera Hora que ainda estava indeciso sobre defender, ou não, a seleção.  Agora já está fora, mas o problema é que José Juan Barea tem sido poupado de treinos e amistosos devido a uma lesão não divulgada. Outro jogador que preocupa, do ponto de vista clínico, é o ala John Holland, atleta de primeiro nível, excelente defensor e que ganhou relevância em suas últimas participações. A boa notícia é que o ala Maurice Harkless, agora do Portland Trail Blazers, se apresentou pela primeira vez e está pronto para a Copa, assim como o intempestivo Renaldo Balkman. Ainda assim,  dá para dizer que Pitino talvez tivesse oooutra coisa em mente quando topou abrir mão de suas férias para comandar a equipe, sonhando em treinar uma equipe olímpica pela primeira vez.

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O torneio olímpico feminino já conta com cinco times garantidos. A Brasil, Estados Unidos e Sérvia se juntaram, nos últimos dias, o Canadá, campeão com folga da Copa América em que o Brasil deu mais um vexame, e a Austrália, que também não teve dificuldade para superar a Nova Zelândia no torneio da Oceania.

 


Louisville e um dos momentos mais marcantes do ano esportivo desde já
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Giancarlo Giampietro

Os campeões de Louisville

Depois de uma das cenas mais graves, horríveis do ano, vale mesmo ficar com uma das mais bonitas e emocionantes.Pena que, no YouTube, não houvesse nenhum vídeo mostrando os garotos de Louisville erguendo o troféu da NCAA de campeões da região do Meio-Oeste do torneio da NCAA. Que não houvesse a imagem deles segurando a camisa de Kevin Ware em quadra, orgulhosos de mostrar sua número 5, realmente como se fosse a taça mais importante que poderiam ganhar neste domingo.

Agora… A da fratura? Está lá, em todos os ângulos.

Que coisa.

O ala-armador Ware sofreu uma absurda fratura na perna quando tentava fazer o que sabe melhor: defender, tentando contestar um arremesso de três pontos de Duke. Desabou em quadra.

No movimento da câmera, você acompanhava o jovem Tyler Thornton, de Duke, que havia convertido o arremesso, colocar a mão na testa, com uma expressão extremamente desconfortável. A edição, então, mostra, do outro lado da quadra Ware e mais três companheiros caídos. A primeira impressão foi a de que alguma coisa poderia ter caído no ginásio, algum produto ou detrito. Estavam quase todos com a mão no rosto. E aí, enfim, o olho repara no que aconteceu de falta, e os replays seguintes não deixariam nenhuma dúvida.

Fica aquele mal-estar danado e, aos poucos, você vai assimilando o que está acontecendo, comovido junto com os garotos de Rick Pitino, que não conseguiam acreditar, assimilar que um deles passasse por um acidente daquele.

“Não lembro a última vez que chorei. Mas fiquei soluçando. Sem palavras, fiquei sem palavras. Fiquei me perguntando o porquê daquilo. Apenas caí no chão. Chorei, era apenas isso que conseguia fazer. Eu o vi deitado e apenas chorei”, disse o ala Chase Behanan, o amigo mais próximo de Ware e quem correu, depois, com o uniforme do companheiro por toda a quadra em Indianápolis.

“Quando ele pisou no chão, eu ouvi. Ouvi e logo vi o que aconteceu e, imediatamente, apenas percebi que não conseguia mais sentir nada, e que foi realmente difícil para mim me recompor, porque não achava que veria algo assim em um milhão de anos”, afirmou o ultraveloz armador Russ Smith, cestinha do time e que foi para a partida combatendo uma febre daquelas de derrubar.

A reação dos garotos foi impressionante.

Todos eles, incluindo o casca-grossa Rick Pitino, foram surpreendidos, então, quando Ware, ainda estirado em quadra, pediu para seu técnico chamar os demais Cardinals de Lousville. E, apesar de toda a dor que estava sentindo, ainda conseguiu simplesmente pedir para que eles não deixassem, de modo algum, de ganhar aquela partida. O jogo, aliás, estava duríssimo naquela altura, na metade final do primeiro tempo. “Ele estava com tanta, mas tanta dor. Mas eles nos chamou e nos disse para não nos preocuparmos com ele. Ele nem ligava para a perna, ele se impostava conosco. Não sei como ele fez aquilo”, disse Behanan.

Quando Ware foi removido, foi oferecida aos jogadores de Pitino a chance de fazer um novo aquecimento. Eles estavam muito abalados, claro. Mas negaram e foram para a quadra segurando as lágrimas.

Ficou aquele suspense no ar. Como reagiriam? Seguiram disputando cesta a cesta com Duke até o intervalo e, na volta, simplesmente demoliram o time do Coach K, que chegou a ficar mais de 12 minutos sem conseguir uma cesta de quadra.Venceram por 85  para o  a 63 e conseguiram a classificação. “O que importa é como você responde no momento. E eles responderam de um modo inacreditável porque eles tiveram de superar um sério problema com faltas marcadas. Tiveram de superar uma grande equipe. Tiveram de superar a perda de alguém que eles amavam”, disse Pitino.

Em momentos como esse, as frases que, isoladas, poderiam parecer um dramalhão barato e exagerado para o esporte, mas, quando você vê estas fotos aqui em conjunto, fica tudo muito bem compreensível.

E ficamos só nas fotos, mesmo. Por que o vídeo? Mais de um dia depois, seguimos esperando um que mostre a reação, a comemoração de Louisville – digo, realmente um vídeo apenas da comemoração.


Com paridade em destaque, mata-matas da NCAA começam nesta terça
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Giancarlo Giampietro

Por Rafael Uehara*

O NCAA Tournament, competição que decide o campeão universitário do basquete americano, se inicia nesta terça-feira com a paridade entre os times como seu maior destaque. Nenhuma equipe foi indisputavelmente dominante durante a temporada, caso oposto ao ano passado quando o Kentucky Wildcats atropelou a concorrência a caminho do primeiro título nacional da carreira do técnico John Calipari, que serviu de validação ao seu modelo de recrutamento com foco em jogadores que passam apenas um ano jogando basquete colegial e seguem em frente para a NBA.

Mr. Pitino, nem sempre bem lembrado pelos torcedores do Celtics

Pitino e seu terno tentam confirmar posto de cabeça-de-chave número 1 para Lousville

Ma se a fórmula pagou dividendos no ano passado, o tiro saiu pela culatra este ano. Com o time todo reformulado, Kentucky surpreendentemente falhou em se classificar para o torneio, sendo mandado invés para o NIT – competição secundária e considerada humilhante para times do status de Kentucky. Vale a pena mencionar que a lesão do pivô Nerlens Noel – possível primeira escolha no próximo Draft – atrapalhou demais na arrancada final. Porém, o time já decepcionava antes de sofrer com a ausência de Noel.

O Gonzaga Bulldogs chega ao torneio rankeado como o número um em pesquisas da imprensa americana, com 31 vitórias em 33 jogos. Mas o Louisville Cardinals, oitavo nos votos dos jornalistas, é que será o nominal cabeça de chave geral, jogando a primeira fase mais próximo de casa que qualquer outro time. Isso é reflexo de um algoritmo antiquado usado pelo comitê que decide os qualificados e constrói a tabela. A fórmula julga a tabela das conferências chamadas “Power 6” com maior força do que aquela de conferências de menor representação, mesmo que isso não seja verdade absoluta nos tempos de hoje em dia. Por isso o título de campeão da Big East vale mais para Louisville do que da WCC para Gonzaga, nos olhos daqueles que tomam as decisões.

Por outro lado, o Indiana Hoosiers é o clube visto como o principal favorito entre os cabeças de chave. Indiana começou o ano número um na pesquisa entre os jornalistas. O time que chegou ao round das oitavas de final na temporada passada contou com o retorno de Cody Zeller e Victor Oladipo, projetados como top 10 escolhas no próximo Draft, e trouxe uma classe de novatos que preencheu algum dos buracos que o time do ano passado tinha. Os Hoosiers jogam o basquete universitário mais agradável, com um ataque veloz que toma vantagem da capacidade de Zeller de arrancar em contra-ataques, qualidade incomum para pivôs de sua estatura. Para mais detalhes sobre os Hoosiers, aqui segue uma prévia completa sobre eles.

Cody, irmão de Tyler Zeller. E do Luke

Cody Zeller: pivô extremamente veloz de Indiana, lutando pelo título

Não se deve esquecer também do imortal Kansas Jayhawks, de Bill Self, não importando o quão forte a classe anterior foi, se as expectativas para o time  deste ano eram menores, ou se alguém sequer está prestando atenção. Kansas sempre ganhará sua conferência e chegará ao torneio como concorrente a ser levado a sério, e esse é o caso mais uma vez nesta temporada. O grupo que jogou a final do ano passado perdeu seu maior anotador em Tyshawn Taylor e o superatlético Thomas Robinson, mas – como é de regra em Kansas – não perdeu o sono, trocando facilmente suas peças. Liderados pela revelação Ben McLemore, ala que é projetado como top 5 no próximo draft, venceu 29 de seus 34 jogos a caminho da cabeça de chave no lado Sul da tabela.

O Duke Blue Devils, de Mike Kzryzweski, técnico da seleção americana nas últimas duas Olimpíadas, não será cabeça de chave, mas é visto por muitos como o time que mais impressionou quando completo. Devido a lesões do ala-pivô Ryan Kelly e do atirador Seth Curry, Duke tropeçou algumas vezes durante a temporada, mas, quando contaram com força máxima, os Blue Devils perderam apenas para o rival Maryland no torneio da conferência. Um ponto contra é que o time de Kzryzewski é um tanto quanto dependente do tiro de três pontos e pode ser derrubado por qualquer um naquele dia em que nada está caindo de longa distância, como aconteceu no ano passado quando Lehigh mandou os Blue Devils pra casa.

Outros times que merecem atenção: o Saint Louis Billikens é um time muito físico que tem jogado com motivação extra; o técnico do time na temporada passada faleceu pouco antes do início do ano e esse grupo tem jogado em sua honra. Tom Izzo sabe como levar seu Michigan State Spartans o mais longe possível. Bo Ryan e Wisconsin, com seu jeito monolítico, lento que só, procurando limitar o número de posses, bateram Indiana duas vezes esse ano. Porte atlético é que não falta ao New Mexico Lobos e o UNLV Running Rebels. VCU e Butler são programas conhecidos por fazerem as finais em anos recentes com técnicos progressivos. Trey Burke e Ottor Porter podem carregar Michigan e Georgetown nas costas. Florida é letal de fora de arco e protege seu garrafão extremamente bem. Muitos ainda esperam que Shabbaz Muhammed exploda com o UCLA Bruins pelo menos uma vez antes de seguir em frente para a NBA. E o Miami Hurricanes tem o time mais velho do basquete universitário, e nesse nível de competição, idade importa bastante; basta olhar os homens feitos que o Miami põe em quadra e o quão franzino Kyle Anderson do UCLA é, por exemplo.

Mas a melhor parte de “March Madness” é que tudo pode acontecer e todos os 68 times, não os favoritos ou os que chamam maior atenção, tem condições de pegar fogo e fazer história nessas próximas três semanas.

*Editor do blog “The Basketball Post” e convidado do Vinte Um. Você pode encontrá-lo no Twitter aqui: @rafael_uehara.


Howard tem a missão de suceder pivôs do Lakers em Hollywood. Relembre os clássicos
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Giancarlo Giampietro

Ao vestir a camisa do Lakers, sendo um pivô, Dwight Howard sabe que tem uma grande responsabilidade pela frente… Virar um astro de Hollywood!

Mais do que dominar meros mortais como rivais, o jogador precisa honrar a brilhante participação de seus antecessores com o uniforme amarelo e roxo que causaram no cinema: Kareem Abdul-Jabbar, Wilt Chamberlain, Shaquille O’Neal. São performances marcantes, ignorados injustamente pela Academia.

Preparem-se. É muita emoção:

ABDUL-JABBAR, “ROGER” e BRUCE LEE (Apertem os Cintos… O Piloto Sumiu, 1980, Jogo da Morte, 1974)

Uma das estrelas mais sisudas que a NBA já teve estrelando um clássico pastelão da Sessão da Tarde com Leslie Nielsen! Vai ver que o ex-Lew Alcindor era apenas um incompreendido. Nesta sequência, ele trava um diálogo com o pentelho do garoto Joey, que insiste em falar que o co-piloto seria Abdul-Jabbar, embora este garanta se chamar Roger Murdock. Até que ouve um bom “trash talk” do menino, não se aguenta e se revela. Detalhe para as intervenções do piloto, sensacionais. “Você já viu um homem adulto nu?”, pergunta. Qual a chance de essa frase ser aprovada no mundo-censura de hoje?

O maior cestinha da história da NBA tem uma vasta filmografia. Mas sua estreia nas telonas aconteceu de modo trágico: Jogo da Morte, o último título rodado por Bruce Lee, o astro do Kung Fu que morreu durante as filmagens, em 1974. Abdul-Jabbar e Hai Tien, personagem de Lee, se enfrentam em uma luta épica no quarto andar de um prédio-cativeiro que o protagonista tinha de subir para libertar seus familiares.

Primeiro vamos com o bom-humor de Airplane! e, depois, a pancadaria com Bruce Lee. Neste, reparem na diferença de altura entre os dois combatentes e as cores do uniforme do lutador, que seriam homenageadas no Kill Bill de Tarantino 30 anos mais tarde:

WILT CHAMBERLAIN X GRACE JONES (Conan: O Destruidor, 1984)

O homem dos 100 pontos em um jogo e das proclamadas cerca de 20.000 ‘namoradas’ enfrenta a batalha de sua vida: a cantora disco, musa cult, ícone fashionista Grace Jones. É vida ou morte para seguir a jornada com o governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger. Bravo!

SHAQUILLE O’NEAL, GENIO, VIGILANTE E JOGADOR (Kazaam, 1996 e Steel – O Homem de Aço, 1997, e Blue Chips, 1994)

Perto do que estrelaram Kareem e Wilt, o Shaq que nos desculpe, mas seus filmes de humor não têm muita graça, não. Como diria qualquer cinéfilo que se preze: “Não se fazia mais filmes de bobageira com pivôs do Lakers como antigamente”. Abaixo, Shaquille O’Neal tem a infeliz ideia de aceitar o papel de um gênio hip-hop da lâmpada, o Kazaam. Depois, faz as vezes de super-herói (antes de Dwight Howard, ele foi o primeiro Superman, oras!), interpretando um dos poucos vigilantes negros dos quadrinhos, o Steel, personagem criado pela DC Comics na sequência da saga da “Morte do Super-Homem”. Na real, era para ser um filme de ação, né? Mas, de tão trash, ficaria na prateleira cômica da locadora virtual 21.

Por fim, o inesquecível Blue Chips, com Nick Nolte, que faz sua denúncia contra a sujeirada do esporte universitário norte-americano em contraponto a uma educação do bom jogo e bons valores, blablabla, com direito a participação de Rick Pitino no começo e Bobby Knight no fim, além de Kevin Garnett, Allan Houston, Larry Bird e muito mais. Vejam a cena com o técnico Nolte abordando sua ex-mulher, professora, que concorda em dar uma força para Shaq/Neon elevar suas notas:

– Veja também: na encarnação passada do blogueiro, Shaquille O’Neal rapper e Michael Jackson interagindo com Magic Johnson e Michael Jordan.


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