Brasil mantém proposta com pivôs e vence a Argentina em fase de testes
Giancarlo Giampietro
Pelo segundo amistoso, o Brasil manteve sua proposta de jogo interno, e saiu de quadra com mais uma vitória, agora sobre a Argentina, por 68 a 59, no Maracanãzinho.
Essa é a primeira boa notícia. A segunda foi a transmissão da TV Globo, com um narrador muito bem informado e sem ficar preso em dar aula sobre o jogo, tratando o esporte com naturalidade e, não, com uma aberração que tenha inanido a grade da emissora. Voltamos a isso depois.
Pensando na preparação para o Mundial, o mais importante mesmo é se concentrar no uso dos pivôs no ataque, algo que toda a torcida do Flamengo, do Vasco, do Corinthians, do Palmeiras, do Londrina, do XV de Campo Bom… Enfim, algo que todos pediam, esperavam, e que a seleção vem fazendo em 80 minutos de jogos-teste.
Contra uma Angola desprevenida – conforme seus próprios jogadores admitiram ontem no Rio –, o aproveitamento foi muito superior. Contra a mesma Argentina enjoada de sempre, os números caíram sensivelmente (só 16/44 nas bolas de dois, 36,4%). Mas isso não significa que o time deva fugir dessa trilha.
O que faltou hoje foi um maior espaçamento e velocidade no uso dos pivôs. As jogadas de costas para a cesta diretas, sem nenhuma movimentação prévia, nem sempre são as mais eficientes, ainda mais quando a ajuda está atenta. Depois de passes previsíveis, os grandalhões brasileiros não tiveram liberdade para atuar desta forma, resultando em chutes contestados e desarmes.
Mas é bom que aconteça agora, para Magnano ter tempo de fazer seus ajustes. Corta-luzes em cima dos pivôs, falsas entradas e movimentação do lado do contrário podem ajudar em linhas mais claras de passe e melhores ângulos para partir para a cesta. De toda forma, a insistência em pingar a bola lá dentro resulta em acúmulo de faltas, lances livres e pontos fáceis. Juntos, Splitter, Nenê e Varejão somaram 32 pontos e 31 rebotes.
(O detalhe valioso aqui: a Argentina executou uma boa defesa interna mesmo sem contar com postes de 2,13 m de altura. Posicionamento, empenho e instrução dão conta do ceado. E nem para a zona eles apelaram muito. Tem jogo.)
Outros reparos: a turma que vem do banco por enquanto precisa mexer a bola. Larry e Leandrinho têm a mania de massageá-la demais. Perde-se tempo com dribles desnecessários. Com menos segundos para girar o time, acabam que caem na armadilha das infiltrações com arroubo. Legal que batam para o garrafão, especialmente o 10 brasileiro, mas tem hora para tudo. Magnano chamou a atenção num pedido de tempo, com razão. E essa vai ser uma luta do argentino durante todo o mês de amistosos.
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Você tira lições dos amistosos, mas não conclusões absolutas, definitivas sobre o destino das equipes. Foi apenas o segundo jogo de duas equipes que vão para o Mundial com bastante ambição. A Argentina não fez uso de muita defesa por zona. As rotações de ambos ainda estão em fase de experimento. Luis Scola, oras, nem estava em quadra.
Nessa linha, Sérgio Hernández, ex-treinador dos caras no ciclo olímpico de Pequim 2008 e de breve passagem pelo Brasília, postou no Twitter: “A veces cuando ganás, perdés, y cuando perdés, ganás. Es así. Bien Argentina.”
Ô, lôco.
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O que precisa ficar de olho: não temos grandes arremessadores de três pontos. Isso é um fato. Sem Guilherme, a carência fica ainda mais clara. Livres, a turma do perímetro até mata. Vigiados, a coisa despenca, como vimos hoje (3/19, horripilante 15,7,%). Acho que vem daí a convocação de Machado. Mas o veterano tem ainda mais dificuldade hoje para se desmarcar em sua movimentação ora da bola. Na defesa, está ainda mais vulnerável. Esse, sim, é um ponto preocupante para o Mundial, ainda mais com a defesa agressiva de Alex, sempre correndo o risco de ficar pendurado em faltas. Daí que a presença de Rafael Luz, mais forte e atlético que Raulzinho (aquele que foi testado hoje), se faz mais necessária. Em dupla armação, o jogador do Obradoiro está mais equipado para a defesa, creio.
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Individualmente, já notamos um Tiago Splitter em excelente fase. Hoje foram 15 pontos e 12 rebotes para eles, em 25 minutos. Nada como um título de NBA para curar qualquer desgaste, cansaço.
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O Campazzo, de apenas 23 anos, a gente conhece de outros Carnavais. Agora foi a vez de tomar nota a respeito de Matías Bortolín, um pivô de 21 anos, que joga no Regatas Corrientes e sobre o qual, confesso, não tinha informação alguma até o Sul-Americano. (Na temporada retrasada, ele estava na… Áustria!?) Muito talentoso. Jogo de pés criativo, que deu um trabalho danado para os pivôs brasileiros, todos eles grandes marcadores no mano a mano. Terminou com 12 pontos e 8 rebotes em apenas 24 minutos, matando 4 de 5 chutes de quadra e todos os seus seis lances livres. Então… Até quando vamos repetir o discurso de que a Argentina sofre em sua renovação? Não é todo dia que se revela Ginóbilis e Scolas. Mas a produção de talentos segue em curso.
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Sobre a transmissão excelente de Luis Roberto. O talento na condução dos narradores tops da Globo é indiscutível. Mas o que chamou a atenção, mesmo, foi o preparo. Ficou claro desde o primeiro período o quanto o profissional estudou para o jogo. Não fazia basquete há quantos anos? Só me lembro dele nos tempos de ESPN – mas sei que adora basquete. Seja bem-vindo, muito bem-vindo.