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Virou melhor de três: notas antes do Jogo 5 entre Warriors e Cavs
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Giancarlo Giampietro

Escuta, gente, eu recebi um SMS de madrugada que diz que...

Escuta, gente, eu recebi um SMS de madrugada que diz que…

Após duas vitórias para cada lado, o que temos agora é realmente uma série melhor de três para definir as #NBAFinals. Mas isso não significa que Golden State Warriors e Cleveland Cavaliers estejam recomeçando do zero. Tudo o que aconteceu nas primeiras quatro partidas conta e influencia o que vem pela frente. E foi muita coisa.

Duas prorrogações em Oakland, com o Cavs roubando o mando de quadra após muito drama. LeBron James nunca arremessou tanto em sua vida, acumulando números absurdos num esforço hercúleo. Matthew Dellavedova virou personagem de cinema. Timofey Mozgov e Tristan Thompson engoliram a tábua ofensiva. Stephen Curry errou muitos arremessos de três pontos e cometeu um caminhão de turnovers no meio do caminho até reencontrar o mínimo de equilíbrio. Andre Iguodala provou que ainda pode ser um jogador bastante relevante na liga, assim como David Lee, em menor escala. E, claro, diante de tanta movimentação por parte de seus jogadores, David Blatt e Steve Kerr jogaram xadrez. Ou pôquer. Escolham.

A série
>> Jogo 1: 44 pontos para LeBron, e o Warriors fez boa defesa
>> Jogo 1: Iguodala, o reserva de US$ 12 m que roubou a cena
>> Jogo 2: Tenso, brigado… foi um duelo para Dellavedova
>> Jogo 3: Cavs vence e vira a série, dominando. Ou quase isso
>> Jogo 3: Blatt ainda não levou o título. Mas merece aplausos
>> Jogo 4: Cavs entrou de All In. O Warriors tinha mais fichas

Rumo ao Jogo 4, o Warriors estava contra a parede, encurralado pela pressão física que seus adversários estavam impondo, incomodando LeBron aqui e ali, mas se curvando diante de sua dominância. E aí o time californiano radicalizou, ao banir nos grandalhões de sua rotação e enfim assumir o controle das ações em quadra, como aconteceu na quinta-feira.  Agora é a vez de Blatt promover ajustes, embora seja difícil imaginar quais.

Pequenas coisas podem ser feitas. A preocupação inicial é tentar ajudar Matthew Dellavedova a ser eficiente no ataque, liberando o australiano com bons corta-luzes para que ele possa produzir alguma coisa. A outra é o que fazer quanto a Andre Iguodala. Em teoria, você paga para ver seu chute de longa distância, historicamente ineficiente. Mas que tal apenas fazer sombra ao ala, pelo menos? Sobre os minutos de LeBron: quando ele vai descansar e como atacar quando ele está no banco? Gastar os 24 segundos só não adianta.

É aqui, então, que entra a primeira de algumas notinhas interessantes que pudemos coletar desde quinta. Uma nota que vale como emenda ao último artigo do blog sobre as finais: a escassez de alternativas técnicas para Blatt, e a angústia que essa constatação gera:

– Diga-me com quem andas
O repórter Brian Windhorst construiu sua carreira na NBA com a sorte de poder acompanhar o surgimento do adolescente LeBron em Ohio, ao mesmo tempo em que trabalhava diariamente na cobertura do Cavs. Competente, cultivou fontes e estava muito bem posicionado para relatar o que se passava ao redor do principal nome da franquia. Foi, por isso, contratado pela ESPN.

Estamos falando, logo, de alguém bem conectado, com credibilidade para dar furos sobre o cotidiano do clube. Sua última matéria de bastidores, com base em fontes anônimas, porém, é daquelas de se fazer coçar a cabeça. Apurou que “alguns jogadores sentem, acreditam que uma rotação mais ampla, com minutos mais distribuídos, beneficiaria a equipe”.

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Só faltou identificar que tipo de jogador estava falando isso: os que não estão saindo do banco, ou algum titular eventualmente extenuado? Faz toda a diferença, não? Se o cara não está sendo utilizado, dãr, é claro que vai pedir para entrar na festa. São as finais. Se alguém estiver se arrastando, não poderá pedir para sair, literalmente, mas pode recomendar que um companheiro diferente seja utilizado. Pega bem com o coletivo, ao mesmo tempo em que não funciona como confissão.

As duas linhas argumentativas fazem todo o sentido, aliás, como teoria. Na prática… O que está sendo pedido? Que Blatt tente abrir as portas do vestiário para Mike Miller e/ou Shawn Marion – já que pedir Kendrick Perkins e Brendan Haywood ultrapassaria a fronteira da insanidade. Sobre Miller e Marion: talvez fosse o caso de arriscar, mesmo, a inserção de um deles no grupo de atletas ativos. O problema: quem exatamente eles vão substituir, em termos de dar descanso?

Há cinco anos, Marion poderia dar muito trabalho ao Warriors. Agora, quer jogar, mas ninguém sabe ao certo o que ele pode oferecer – ou se não vai atrapalhar

Há cinco anos, Marion poderia dar muito trabalho ao Warriors. Agora, quer jogar, mas ninguém sabe ao certo o que ele pode oferecer – ou se não vai atrapalhar

Os titulares visivelmente mais desgastados são LeBron e Dellavedova, e não me ocorre de que maneira um dos veteranos alas poderia rendê-los. Sem Kyrie Irving e Kevin Love, o Cleveland não tem um jogador além de seu principal astro que possa criar jogadas por conta própria. Marion e, muito menos, Miller, não se encaixam nesse perfil. Não adianta ter um chutador desses, se ele não vai ter espaço para arremessar – como aconteceu em Miami e Memphis, a partir das sobras de James, Wade, Bosh, Gasol e Randolph. Isso para não falar do jogador que ele precisaria marcar: Barnes, Iguodala, Livingston, Leandrinho? Sem chance. (Antes de mais nada, o mesmo raciocínio vale para o calouro Joe Harris, com o agravante de sua inexperiência).

Do outro lado da quadra, o antigo Matrix já não tem mais condições de marcar um armador, especialmente um armador veloz e habilidoso como o Chef Curry. Mesmo com minutos reduzidos. Fiscalizar Klay Thompson talvez seja pedir demais. E, em termos de ala-lento-que-ainda-pode-tentar-fazer-alguma-coisa-para-atrapalhar-Draymond-e-Harrison, James Jones já se ocupou dessa tarefa, sendo muito mais perigoso nos arremessos. Ele parece o mais indicado para dar uma folga a Tristan Thompson.

De resto, temos Timofey Mozgov, sobre o qual não precisamos nem gastar mais tempo para discutir, e os demais alas. JR Smith jogou menos de 32 minutos por partida desde que chegou a Cleveland e passou também um bom tempo no banco em Nova York. Iman Shumpert sofreu com pequenas lesões e não passou dos 25 minutos em média em seu novo clube. Nos playoffs, sua carga subiu para 34 minutos. O cabeleira tem 24 anos, um a mais que o Thompson canadense, alguém que leva muito mais pancadas numa partida de basquete e deu de ombros ao ser questionado sobre um eventual cansaço ao final do Jogo 4. Miller e Marion poderiam eventualmente substitui-los por alguns minutos pontuais que fossem. No plano geral, faria diferença? São caras que já ganharam títulos, sabem o que precisa ser feito. A dúvida é se eles ainda conseguem e se, mais grave, os meros minutinhos que possam ganhar não seriam muito custosos.

A temporada regular dos veteranos...

A temporada regular dos veteranos… Não anima muito

“É uma decisão do técnico, se ele pensar em usar mais o banco. Não usamos muitos caras nesta campanha de playoff. Acho que poderia ajudar alguns dos que estão acumulando muitos minutos, certamente. Basta dar alguns minutos aqui e ali. Mas a comissão técnica vai  tentar fazer o que for melhor para nos ajudar em nossa preparação física e mental para o domingo”, diz LeBron, para, depois, completar e consentir: “Não temos muitas opções em termos de escalação.”

Seria prudente um remanejamento de minutos. Qualquer respiro a mais para LBJ pode ser valioso no caso de outro jogo apertado. A dica até ficaria. Mas aí você tem de encontrar as alternativas para sustentá-la.

– Valendo US$ 6 milhões ou mais
Se o banco de reservas não oferece muitas alternativas, a grande esperança de Blatt talvez seja, mesmo, uma evolução dos próprios jogadores que ele vem utilizando. Em especial JR Smith. O ala seria o único que poderia realmente ajudar a aliviar as responsabilidades ofensivas do camisa 23. Não estivesse numa terrível fase.

Taí um chute quase contestado para JR converter. Fácil?

Taí um chute quase contestado para JR converter. Fácil?

Se, contra o Atlanta Hawks, o avoado Smith teve médias de 18 pontos e 50% nos arremessos, contra o Golden State seu aproveitamento vem sendo horroroso, que não compensa em nada sua constante desatenção defensiva. Em quatro partidas, tentou 47 arremessos de quadra e converteu apenas 14. Na linha de três, foram 7 em 28. Se ele comete poucos turnovers, também não dá assistências (foram apenas três até aqui), num claro sinal de que não está criando, nem mesmo tentando criar nada. Deve ser um reflexo direto do plano de jogo centralizado em James, para gastar o tempo e conter o número de desperdícios de bola. Mas o Cavs precisa, com certo desespero, que ele ao menos consiga converter os chutes que tiver no lado contrário a partir das eventuais dobras em cima da superestrela. LBJ sabe disso.

“Ele pode errar uma centena de arremessos”, disse. “Se estiver bem posicionado, a partir de infiltrações e passes para fora, tem de chutar com confiança. Se ele estiver se sentindo confiante em sua agilidade, então eu também estarei confiante nisso. Enquanto competidor, se você perder sua confiança em suas capacidades, fica muito difícil de recuperá-la.”

Com mais mobilidade, a defesa do Warriors forçou que Smith, Dellavedova e Shumpert colocassem a bola no chão antes de subir para a cesta. A estratégia deu certo, em geral. Mas o próprio Smith é quem se gaba ao dizer que prefere muito mais um arremesso contestado, difícil, do que aquele em que estiver livre. Tem agora uma ótima oportunidade para comprovar sua lógica tresloucada.

As decisões de extensão contratual de James e Kevin Love, naturalmente, são as que mais chamam a atenção nos bastidores do Cavs. Acontece que JR também pode virar um agente livre, caso decida exercer uma cláusula contratual e abrir mão dos US$ 6,4 milhões que tem para receber na próxima temporada. Se continuar ladeira abaixo nestas finais, talvez seja difícil optar pela rescisão, com a insegurança de que talvez não esteja tão valorizado assim para assinar um novo compromisso de longo prazo.

– Tem hora para tudo
Nick U’Ren tem apenas 28 anos. Você pode espiar seu currículo aqui e perceber uma vasta área de atuação e talvez não pudesse imaginar que partiu dele uma sugestão que pode ter mudado o rumo da série: a promoção de Andre Iguodala ao time titular, mas no lugar de Andrew Bogut. Lee Jenkins, um dos melhores textos e repórteres envolvidos com a cobertura de NBA, conta tudo na Sports Illustrated.

Seu cargo tem o seguinte título: “assistente especial do treinador principal”. O cara basicamente quebra todo o tipo de galho para Steve Kerr e sua comissão técnica. Na última quarta, decidiu fazer algo a mais. No tempo (supostamente) livre à noite, decidiu recuperar alguns VTs das finais do ano passado, entre Spurs e Heat. Não faz tanto tempo assim, mas é fácil relevar ou mesmo esquecer alguns detalhes daquela batalha que envolveu um time totalmente dependente de LeBron. Foi quando se deparou com a escalação texana para o Jogo 3, em Miami. Tiago Splitter, tão importante para a defesa de Gregg Popovich, deu lugar a Boris Diaw no quinteto inicial.

U’Ren telefonou na hora para Luke Walton, um dos assistentes e Kerr proteção do aro, o Warriors rebaixaria sua estatura e envergadura completamente. Walton, o integrante mais jovem do corpo de técnicos, matutou e abraçou a causa. Mandou uma mensagem de texto às 3 h da madruga para Steve Kerr. Essa é a história por trás da “mentira” assumida por Steve Kerr, que havia dito que não alteraria de forma alguma seu time.

Nick U'Ren, o homem do momento

Nick U’Ren, o homem do momento

O treinador tinha todos os motivos para relutar, mesmo. Com Bogut patrulhando o garrafão, seu time foi o melhor da liga por quase 100 partidas. Embora tivessem perdido o o controle das finais, não é fácil passar a borracha em tudo o que haviam elaborado até o momento. No fim, porém, o pentacampeão da NBA ignorou qualquer noção de vaidade e topou a mudança proposta por um cara de 28 anos, provavelmente desconhecido pela grande maioria de torcedores do Warriors. Não só isso: na entrevista pós-jogo, fez questão de dar todo o crédito para U’Ren, dizendo ainda que o rapaz tem toda a pinta de que vai se tornar um gerente geral ou técnico no futuro.

Sobre o que escreve Jenkins: “Quando Kerr assumiu o cargo em maio, fechou com dois assistentes experientes em Ron Adams e Alvin Gentry, mas também deu oportunidades a Walton e Jarron Collins. Ele trouxe Bruce Fraser, com quem trabalha junto desde a universidade, e U’Ren, que trabalhou com ele em Phoenix. Deu a eles uma voz, independentemente de seu status, criando uma cultura em que ninguém tinha receio de falar – ou mandar uma mensagem de texto de madrugada”.

A propensão de Kerr ao diálogo, aliás, emula o comportamento da diretoria do Warriors. Os debates entre os principais articuladores da franquia já se tornaram célebres. Como no dia em que Jerry West ameaçou pedir demissão do cargo de consultor caso o proprietário Joe Lacob decidisse levar em frente a troca de Klay Thompson por Kevin Love. Um chefe mais controlador talvez se antecipasse e decidisse ele, mesmo, mandar West embora (ou qualquer figura menos prestigiada). Ninguém sabe ao certo se o legendário estava falando sério, ou não. Sua opinião foi ouvida, fato.

A habilidade de Steph Curry, a genialidade de LeBron, a velocidade de Leandrinho, a brutalidade de Tristan Thompson… Isso é o que a gente vê em quadra. É  o que decide de fato os rumos de um campeonato. Mas, por trás do sucesso de um clube de NBA, estão acontecendo muito mais coisas, gente.


Cavs entrou de all in. Mas o Warrios tinha muito mais fichas para gastar
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Giancarlo Giampietro

No que depender de Curry, é para o Warriors correr mais e mais

No que depender de Curry, é para o Warriors correr mais e mais

No pôquer, all in quer dizer algo como “tudo ou nada”. É quando o jogador pega as fichas que tem e empurra tudo para o meio da mesa. Ou rouba o monte, ou já era. O mestre do carteado pode até oferecer uma explicação mais rica, mas a essência é essa. O Cleveland Cavaliers pegou o termo emprestado e o usou como um trocadilho ao elegê-lo como lema para os playoffs. Virou algo como: “Todos juntos nessa, vamos lá, dando tudo”.

Pois, nesta quinta-feira, o Cavs até que tentou lutar no segundo tempo, mas não conseguiu impedir que o Golden State Warriors vencesse por 103 a 82 para igualar as #NBAFinals em 2 a 2, voltando para casa agora para fazer valer seu mando de quadra no próximo domingo. Steve Kerr estava em pressionado demais nesse, mas conseguiu se desvencilhar com um movimento bastante agressivo, corajoso, e, ao mesmo tempo, talvez o único que lhe restasse para tentar virar o tabuleiro, praticamente abolindo a escalação de um pivô tradicional, o famoso cincão, no seu time.

E, aproveitando o slogan do Cavs, a pergunta que fica depois do que vimos no quarto período deste Jogo 4 é a seguinte: será que o time já deu tudo o que tinha, mesmo? O que vimos foi um time sem energia alguma para tentar completar o serviço. Eles até chegaram a encostar no placar no terceiro período, diminuindo a vantagem aberta pelos visitantes para três pontos, ou uma posse de bola. Mas não conseguiram ir além, a despeito de todo o apoio de sua torcida. Acabou o gás em quadra.

A série
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E daí recuperamos um argumento construído lá atrás, no primeiro jogo da série, há coisa de uma semana: a estratégia do Golden State de ‘deixar’ LeBron atacar era de curto prazo – e longo também. Algo pensado para vencer em 48 minutos, mas cujos efeitos deveriam surtir mais com o acúmulo de partidas. Bingo, narra o Everaldo. Essa é a diferença dos playoffs, minha gente. Steve Kerr e seus assistentes e jogadores certamente tiveram de respirar fundo para não perder isso de vista até que colhessem os resultados neste quarto embate, que, para eles, na verdade, tinha um status praticamente de sétimo e derradeiro. Tivesse Cleveland aberto 3 a 1, já dava para entregar a taça ao Rei de Ohio.

Warriors, saltitante. LBJ: no chão

Warriors, saltitante. LBJ: no chão

O Cavs se colocou nessa posição com muito esforço na defesa, com um espírito de luta impressionante.  Acontece que os mesmos desfalques que lhe empurraram meio que involuntariamente nessa direção extremamente agressiva na defesa agora fazem diferença de outra forma. David Blatt encontrou um modo de combater o Warriors. Mas um modo muito desgastante e sem muitos recursos no banco para variar a abordagem. Um Anderson Varejão faria uma diferença absurda agora. Kyrie Irving e Kevin Love, então? Nem se fala.

Kerr e seus atletas obviamente perceberam o que aconteceu em quadra. Se, no terceiro período, estavam suando frio perante a arrancada dos anfitriões, no quarto final viram Mike Miller , Kendrick Perkins e o calouro Joe Harris irem para a quadra, o que significava que, naquela rodada, a probabilidade de vitória já era zero. E o Golden State, por outro lado, lançava para um pivô pontuador como Marreese Speights pela primeira vez ap jogo, como que avisando: vejam só o que temos por aqui ainda.

Pivô, aliás, foi a posição decisiva para o jogo, de um modo diferente, devido a sua ausência no time californiano. Quando Kerr tirou Andrew Bogut do quinteto titular, talvez poucos pudessem imaginar que o treinador, na real, estava realmente disposto a excluir o australiano de sua rotação. Se formos avaliar o desempenho do gigantão até aqui, era algo justificável: no ataque, faz tempo que ele joga como um peso morto, mesmo. Na defesa, então, seu rendimento caiu de modo alarmante, sendo feito de gato e sapato por Timofey Mozgov e Tristan Thompson, sem físico para afastá-los da tábua ofensiva ou para oferecer uma consistente cobertura temerária para LeBron. Então não havia muito, mesmo, o que fazer com ele. Acontece que não foi só Bogut a sair de cena: se o antigo titular jogou três minutinhos desastrados (foi o nono homem da rotação, cometeu três faltas grotescas no final do primeiro tempo e nunca mais foi chamado), Festus Ezeli nem pôde tirar o agasalho. A figura do xerifão estava abolida. No lugar dela, mais um atleta em quadra, uma figura flexível, ágil, veloz para tentar acelerar as coisas pelo Warriors e mudar o ritmo das finais, até então todo favorável ao Cleveland.

E aí que, nos primeiros instantes, parecia um desastre. Os donos da casa abriram 7 a 0 e já forçaram um pedido de tempo. A intervenção serviu para acalmar as coisas um pouquinho que fosse no ginásio, mas também valeu para reforçar a mensagem que era aquele o plano tático a ser seguido, mesmo. E o primeiro quarto terminaria com uma vantagem de 31 a 24 para o Golden State. Pela segunda parcial seguida eles passariam dos 30 pontos. Um ótimo sinal: as coisas estavam no caminho certo.

Foi uma decisão que muitos podem julgar aparentemente óbvia por parte de Kerr, mas que não pode ser subestimada. Se os seus homens mais pesados não estavam dando conta no tranco, por que ficar com eles? Agora, se você tem um time que já venceu mais de 80 partidas na temporada, por que abrir mão da fórmula? Depois de duas derrota em três jogos e muito sofrimento, todavia, Kerr percebeu que era a hora de tentar algo novo. Se o Cavs estava levando a melhor nos rebotes e no jogo interno, que ele procurasse uma alternativa drástica a respeito: abaixou a estatura de seu time a apostou em mobilidade. Levou o embate tático – e físico – ao extremo.

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Ah, mas nos anos 60, 70 e 80 a NBA era muito mais dura: sarrafo, pancada, porrada… Pode usar o termo que for para designar violência. É um fato. Na liga de hoje, no entanto, existem outros meios de se estender um rival na lona: zigue-zagueando pela quadra. Correndo, se deslocando, desgastando, como um pugilista arisco. Com Andre Iguodala promovido ao time titular ao lado de Harrison Barnes e Draymond Green, em vez de uma substituição simples* por Barnes, o Warriors abriu a quadra e forçou que seu adversário se cansasse ainda mais. Havia mais chão para se percorrer, para contestar. (*Nem tão simples assim, uma vez que Iggy não foi titular um vez sequer durante todo o campeonato.)

Por mais que, de início, Green, Barnes e Iguodala hesitassem de primeira, diante de um arremesso já livre, a movimentação de bola que realizaram acabou sendo ainda mais tortuosa para seus oponentes. Mais até que os 40% que a equipe converteu no final, com 12 conversões em 30 tentativas de longa distância. Mais um passe equivale a mais um pique para um time que já havia enviado, na partida anterior, um de seus principais defensores ao hospital. Matthew Dellavedova, vocês sabem, precisou tomar uma injeção há dois dias e se recuperou de desidratação grave na véspera. Não dá para questionar a garra do armador australiano. Mas isso tudo tem limite. Se as pernas não vão, não tem coração que caminhe sozinho.

Delly, o novo braço direito do Rei, ficou em quadra por 33 minutos e tentou lutar até quando podia. Incomodou Steph Curry novamente. Mas o MVP saiu de quadra com 22 pontos em 41 minutos, convertendo 8-17 nos arremessos de quadra e 4-7 de longa distância. Não foi uma atuação brilhante, mas seu time nem precisou disso. Pela primeira vez, o Warriors pôde se impor como coletivo também, com outros três atletas pontuando na casa de dois dígitos e mais dois com nove pontos.

Sim, movimentação de bola não causa apenas uma canseira. Também gera bons arremessos contra uma defesa que não teve mais a mesma velocidade de reação e combatividade. John Schuhmann, o analista estatístico do NBA.com, filtrou o seguinte dado: nesta série, quando a equipe californiana consegue trocar três ou mais passes, converte seus 46,6% dos seus arremessos. Com dois passes ou menos, despenca para 37,6%. Se for para computar apenas os chutes de longe, a desproporção fica de 38,9% para 25,9%.

Nesta quinta, a formação baixa e “total” (com cinco atletas em quadra que poderiam driblar, passar e se deslocar por todo o perímetro) abriu caminho para que a galera contribuísse. Foi o melhor jogo na série para Draymond Green, David Lee novamente produziu bem saindo do banco, Harrison Barnes tomou chacoalhadas de Tristan Thompson nos rebotes, mas ressurgiu nos arremessos e Andre Iguodala desafiou a lógica dos números e fezmais uma grande partida e para se estabelecer como o melhor jogador da série para os campeões do Oeste (22 pontos, 8 rebotes, 4 bolas de três pontos e defesa implacável para cima de LeBron em 39 minutos).

Essa é a vantagem a favor de Kerr. Se o treinador “novato” (coff, coff!) soube dosar sua rotação durante toda a temporada, é para que seus principais atletas tivessem fôlego nesses momentos decisivos. Então não havia por que limitar Iguodala ou os Splash Brothers. Agora é para gastar tudo o que tiver. E o Warriors tem muito mais o que explorar contra um Cleveland que depende horrores de LeBron James. Timofey Mozgov cumpriu o seu papel no confronto com os “tampinhas” rivais, com 28 pontos, 10 rebotes, 10 lances livres convertidos e 56,25% no aproveitamento de quadra. Tristan Thompson pegou carona com o russo e ratificou o domínio na tábua ofensiva. Foram 16 coletas no ataque contra para seu time e cinco a mais no geral. Nada disso adiantou num contexto em que o superastro foi, enfim, controlado.

O ala dessa vez terminou com apenas 20 pontos, 12 rebotes e 8 assistências. Apenas (tsc, tsc). Qualquer observador que beire o neutro ou o sensato – leia-se: qualquer um que não seja um radical ativista pró-Michael Jordan ou Kobe Bryant – vai perceber que o astro simplesmente não tinha forças mais para se impor em quadra. A carga pesou, e não teve nada a ver com emocional. Mesmo o bom tempo que teve para descansar entre o terceiro período e o quarto (intervalo + pedido de tempo de Blatt + 1hmin48s de bola em jogo) foi insuficiente para reabilitá-lo. LeBron não foi nem sombra de uma figura decisiva quando saiu do banco, enfrentando ainda mais dobras do que havia ocorrido nas três primeiras partidas. Errou cinco lances livres em 10, cometeu cinco faltas e não atacou o aro com a voracidade esperada. Nem mesmo quando tinha Curry como marcador.

All in. O Cavs deu tudo o que tinha, mesmo? A cavalaria está fora. Em termos de jogadores, não há muito o que se fazer – e aí que a presença de Mike Miller, Shawn Marion e Kendrick Perkins no banco de reservas não ajuda muito. Veteranos, campeões, líderes. Sim, e improdutivos. Com eles, não há fato novo, a não ser que Miller consiga acertar tantas bombas de três para compensar sua inépcia defensiva. Não quer dizer que acabou, que não há o que se fazer. Pode estender os minutos de um James Jones, reduzir os de JR Smith etc. Mas os nomes são estes que estamos vendo.

Blatt já expôs todas as suas cartas e muito provavelmente terá de seguir com elas até o fim, com a esperança de que os três dias de descanso (mas com uma longa viagem no meio) sejam o suficiente para recuperar o mínimo de energia e tentar mais uma vez um resultado dificílimo: sair da Oracle Arena com a vitória no domingo. Estão todos juntos nessa, mas agora com um oponente  ainda abarrotado de fichas – e revigorado – para derrubar.


Cavs vence o Jogo 3 e vira, dominando Golden State. Ou quase
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Giancarlo Giampietro

LeBron: médias de 41 pontos, 12 rebotes e 8 assistências em três jogos. Reinando

LeBron: médias de 41 pontos, 12 rebotes e 8 assistências em três jogos. Reinando

O Cleveland Cavaliers vai batendo recordes e recordes com sua defesa para cima do Golden State Warriors. Depois de se tornar o primeiro time a segurar o adversário com menos de 90 pontos em 48 minutos nesta temporada, o Cavs agora o limitou a 37 pontos no primeiro tempo, sua pior marca durante os playoffs – e uma quantia que a equipe havia marcado em um só quarto 18 vezes em sua campanha, para termos uma ideia.

Há muito mais números para acrescentar aqui, como, por exemplo, o rendimento do Warriors nos arremessos de três pontos, tão caros ao seu sistema ofensivo. Na temporada regular, o time converteu 39,8% de seus chutes de longa distância. Nos playoffs da Conferência Oeste, a marca foi de 38%. Nas finais, estamos falando de apenas 31,3%, número baixo para qualquer medida, especialmente para os Splash Brothers.

Sinceramente, nem precisa apelar a qualquer número para afirmar que o Cavs tem sido o time superior nestes primeiros três jogos, vencendo o terceiro por 96 a 91 para assumir o comando da série. O que não quer dizer que as coisas já estejam resolvidas. Nem mesmo com mais este dado: até o momento, a única parcial que teve o Warriors acima no placar foi a prorrogação do primeiro duelo. De lá para cá, ou deu Cleveland, ou deu empate.

A série
>> Jogo 1: 44 pontos para LeBron, e o Warriors fez boa defesa
>> Jogo 1: Iguodala, o reserva de US$ 12 m que roubou a cena
>> Jogo 2: Tenso, brigado… foi um duelo para Dellavedova

Os LeBrons se tornam os favoritos ao título pelo fato de terem assumido o controle tático da decisão –  por precisarem, agora, de uma vitória a menos que seus oponentes para levar o título. De qualquer forma, ainda que dominando estrategicamente, o time permitiu que os campeões do Oeste reagissem mais uma vez no quarto período, numa demonstração do grau de periculosidade de seu oponente.

O Warriors tirou 14 pontos de vantagem em menos de seis minutos e meio na parcial, chegando a perder por três 79 a 76 a 5mi49s do fim. Depois, ainda encostou em 81 a 80 a 2min45s, até que Matthew Dellavedova se superasse novamente numa jogada de cesta-e-falta inacreditável para dar uma boa folga no marcador. Nesta reação, ressurgiu também Stephen Curry, que anotou 17 de seus 27 pontos no quarto período, ou 9 pontos em 1min23s.

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Esse foi o melhor sinal que o técnico Steve Kerr poderia tirar do Jogo 3, ainda que, com sua experiência, tenha visto muito o que corrigir, esteja falando apenas de sua estrela, ou não. “Não gostei de nossa linguagem corporal em alguns momentos. Temos de ter energia, ter mais vida em quadra, tanto no momento em que os arremessos estão caindo, como também quando o chute não cai”, disse o treinador.

O tipo de postura que o MVP Curry não pode ter. Será que o 4º período o anima?

O tipo de postura que o MVP Curry não pode ter. Será que o 4º período o anima?

De fato a postura cabisbaixa de Steph Curry durante boa parte do jogo era algo que intrigava bastante. O armador parecia chutar pedrinhas em casa a cada ataque desperdiçado, até despertar no quarto final, escoltado por Leandrinho (4 pontos em 11 minutos, mas com muita intensidade na defesa e abrindo a quadra no ataque, com saldo +11) e David Lee (11 pontos, 4 rebotes, 2 assistências, 100% nos arremessos e saldo de +17 em 13 minutos). A próxima lição é parar de enfeitar com a bola em momentos de pressão – se ajudou o Golden State a se aproximar no jogo, também deu um jeito de complicar a tentativa de virada cometendo três turnovers nos últimos dois minutos, com direito a passe por trás das costas no perímetro, sem direção.

Não é jogando “bonitinho” que ele e seus companheiros vão superar uma defesa duríssima como a do Cleveland, que tem contestado sem parar os Splash Brothers e limitando as linhas de passe – um trabalho de Blatt que merece mais detalhes em um outro texto antes do Jogo 4. “Se conseguirmos recuperar nosso ataque, o que vai acontecer, vamos vencer esta série”, afirmou Klay Thompson, cheio de confiança. Cestinha do Warriors no Jogo 2, o ala dessa vez marcou apenas 14 pontos em 16 arremessos e 39 minutos.

A jogada para cesta e falta em cima de Dellavedova, importantíssima, quando Curry havia deixado o Warriors a apenas um ponto no placar

A jogada para cesta e falta em cima de Dellavedova, importantíssima, quando Curry havia deixado o Warriors a apenas um ponto no placar

É bom que Thompson manifeste confiança, ainda mais depois da arrancada de Curry no quarto final, parcial na qual sua equipe conseguiu marcar 36 pontos – apenas um a menos que em todo o primeiro tempo. Depois de três jogos, seria um primeiro sinal de que a defesa do Cleveland possa arrefecer, com uma rotação enxuta e desgastante carga de minutos, depois das lesões de Kevin Love e Tristan Thompson? Talvez. Mas talvez não dê mais para o Golden State, atrás no placar geral da série,  apenas esperar que uma hora a bola caia. No geral, em três partidas, eles acertaram apenas 41,4% dos chutes de quadra. Mas a chave é essa, mesmo: arrumar o ataque.

Do outro lado, estão fazendo o que dá contra LeBron James. O craque 23 tem médias de 41 pontos, 12 rebotes e 8,3 assistências em 47,3 minutos, um patamar de produção que, desconfio, você não vai encontrar jamais. Só Wilt Chamberlain, talvez. Por outro lado, o ala tem sido obrigado a tentar mais de 35 arremessos por partida, com aproveitamento baixo de 40,2%, compensados de certo modo pelos mais de 10 lances livres por confronto, com 75% de acerto. Está claro, a essa altura, que Andre Iguodala consegue incomodar muito mais o astro do que Harrison Barnes, e o mais prudente talvez seja aumentar os minutos do sexto homem.

De resto, Kerr viu seus atletas enfim reduzirem as oportunidades de rebote ofensivo do Cavs (foram apenas seis dessa vez), bloqueando Timofey Mozgov com mais minutos para Festus Ezeli do que para um exaurido Andrew Bogut. Com as costas aparentemente travadas, Draymond Green não conseguiu lidar com Tristan Thompson, porém (10 pontos e 13 rebotes). A produção ofensiva do canadense, no entanto, foi atípica. Assim como a do Oscar-de-Melhor-Ator-Coadjuvante Dellavedova, que não cansa de aprontar, saindo de quadra dessa vez com 20 pontos, muitos tapinhas no ombro. Mas que cansa no sentido literal do esporte, mesmo, sofrendo com câimbras uma hora depois do final da partida, ficando impossibilitado de conversar com os jornalistas. Segundo o clube, teve até mesmo de tomar medicação intravenosa para amenizar as dores, num hospital da cidade.

O Warriors já se viu contra a parede uma vez nestes playoffs, na semifinal contra o Memphis Grizzlies, contra quem também perderam em casa e a primeira partida fora. Agora, no entanto, eles precisam passar por uma muralha beeeem mais larga, que até agora tem impedido que os darlings da liga americana se sentissem verdadeiramente confortáveis em quadra por mais de quatro ou cinco minuto. Com a diferença de que seu atual oponente pode explorar ao máximo os talentos de um outro grande camisa 23 no ataque, seguindo uma receita bem simples e, ao mesmo tempo, difícil de derrubar. Mas o fato é que a margem de manobra do Cavs ainda tem sido bastante apertada. David Blatt está vencendo o jogo de xadrez, mas com poucas peças no tabuleiro – dependendo, se já não bastasse, de uma ressonância magnética no ombro esquerdo de Iman Shumpert. Resta saber se Steve Kerr vai conseguir reagir nessa situação e dar um xeque na próxima quinta-feira.


Tenso, brigado… Foi um jogo para Dellavedova, e, não, para Curry
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Giancarlo Giampietro

Dellavedova brilha de novo. Os inimigos do Leste choram

Dellavedova brilha de novo. Os inimigos do Leste choram

Pode aparecer oportunismo dizer isto, mas o Jogo 2 destas #NBAFinals estava muito mais para um Matthew Dellavedova do que para um Stephen Curry – ou, pelo menos, para esta versão de Steph Curry. Foi uma partida de contato físico, afeito ao aguerrido australiano que, mais uma vez, se ralou em uma série de lances decisivos e ajudou o Cleveland Cavaliers a empatar a série em 1 a 1, com mais uma prorrogação.

Bola perdida no garrafão em meio a gigantes? Lá estava o Dellavedova nela, alerta, para depois se estirar em quadra. LeBron é barrado no baile, e o chute de James Jones não caiu? Sem problema: sem impulsão nenhuma, com 1,93 m (oficial), o armador vai para o rebote ofensivo e, no mesmo movimento, cava a falta. Vai para o lance livre e converte os dois, sem pestanejar. E por aí vai. Nos lances mais preciosos, de 50/50, o “Delly” fez sua presença se notar e, nem que por alguns instantes que fossem, afastou da cabeça do torturado torcedor do Cavs a memória de que Kyrie Irving já não vai mais participar desta série. Irving, cujo talento no ataque ele jamais vai poder substituir, mas cuja ausência pode compensar ao seu modo, na defesa. “Estamos jogando as finais da NBA. Se você precisa procurar motivação extra, provavelmente não deveria nem estar jogando”, afirmou durante entrevista coletiva na qual ele estava sozinho no pódio, como se fosse o maioral do Cleveland.

A série
>> Jogo 1: 44 pontos para LeBron, e o Warriors fez boa defesa
>> Jogo 1: Iguodala, o reserva de US$ 12 m que roubou a cena

Do outro lado, ao atual MVP faltou se adaptar a um confronto mais duro. Acostumado a levantar a torcida de Oakland a temporada inteira com suas bolas de efeito (e eficientes), o armador não conseguiu alterar seu modus operandi, mesmo quando estava claro que seus lances vistosos não surtiam, não estavam surtindo efeito. Não é que ele tenha sentido a pressão. O pior foi não saber entender o tipo de pressão a que estava submetido. Um abafa exercido, para começo de conversa, pelo próprio australiano, que forçou um airball de Curry no penúltimo ataque do Warriors e, depois, viu o craque passar a bola nos pés de um Klay Thompson endiabrado, que nada pôde fazer: 95 a 93, numa partidaça de ativar a adrenalina de qualquer observador. O Cavs brigou e está no páreo.

“Nossos caras adoraram o fato de que já havíamos sido descartados. Esta é a equipe lutadora que temos. Não é nem um pouco fofa. Se estiver esperando que joguemos um estilo sexy ou bonitinho de basquete, não vai achar conosco”, afirmou LeBron James, antes de deixar o microfone para Dellavedova. (LBJ vai negar que essa tenha sido uma indireta, mas… está na cara.)

Calma, Delly. Não é rúgbi

Calma, Delly. Não é rúgbi

O novo titular do Cavs ficou 42 minutos em quadra e terminou com nove pontos, cinco rebotes, três roubos de bola, apenas 1 assistência e errou sete de dez arremessos, incluindo cinco de seis na linha de três pontos. Mas saiu com a estatística mais preciosa: uma vitória, contribuindo com os pequenos grandes lances que influenciou durante toda a temporada – e não apenas nos playoffs, quando enfileirou inimigos na Conferência Leste ao participar de algumas jogadas polêmicas. Um pequeno grande lance como o seu quinto rebote, no garrafão do Warriors. Antes que ataquem Curry por essa, a conta ficou para Klay Thompson neste lance em específico. “Esqueci de bloqueá-lo quando ele conseguiu a falta. Isso vai ficar na minha cabeça por um longo período”, disse o ala. De todo modo, não fosse seu espírito combativo e a inteligência em quadra, Delladedova não teria aproveitado a sobra. Nos playoffs, não são apenas os superastros que brilham.

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Sem LeBron James, claro, não há Cleveland Cavaliers. O astro foi mais uma vez imenso em Oakland, com 39 pontos, 16 rebotes, 11 rebotes em 50 minutos. Haja fôlego – e categoria. Pode ter errado 24 de 35 arremessos, mas deu um jeito de compensar isso com 14 lances livres convertidos, atacando o aro sem parar e até mesmo sendo ignorado pela arbitragem (um caso à parte nesta partida, errando demais, em jogadas óbvias). Mas o craque não jogou sozinho. Para o Cavs chegar ao triunfo, contou com uma desempenho defensivo soberbo.

O time de David Blatt foi o primeiro a limitar o avassalador ataque do Warriors a menos de 90 pontos, em 48 minutos, nesta temporada. Grizzlies, Spurs, Rockets, Bucks… Todo mundo tentou, ninguém havia conseguido. E, sim, dá para falar Blatt aqui, né? Malhado o ano inteiro, o treinador fez os ajustes necessários, alguns até mesmo surpreendentes, e contribuiu decididamente na vitória. Ou seria James também o coordenador defensivo da equipe?

Que Blatt não tenha retornado com Timofey Mozgov nem por um minuto sequer no quarto período foi algo bastante questionável. Também  poderia ter interferido no andamento do ataque do Cavs, que deu aquela emperrada e passou a depender exclusivamente das investidas de sua estrela, caindo no mesmo erro do Jogo 1, permitindo a reação dos anfitriões para que forçassem mais uma vez o tempo extra. Mas, taticamente, no plano geral, foi uma reação, e tanto: seus jogadores controlaram o ritmo da partida, praticamente anulando o jogo em transição do adversário ao dominar os rebotes (55 a 45, com 15 na tábua ofensiva).

Preparando terreno
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Depois de dominar as tábuas, o Cleveland desacelerou o jogo e, em meia quadra, oprimiu os arremessadores do Warriors, que acertaram apenas 39,8% dos arremessos e 22,9% (8-35) nos chutes de três pontos. Se subtrairmos a produção de Klay Thompson, que matou algumas bolas complicadíssimas (34 pontos), o aproveitamento cairia, respectivamente, para 34,5% e 17,3%. Até mesmo Tony Allen debocharia de números como esses. Como os visitantes fizeram isso? Impedindo os cortes pelo fundo e fechando as linhas de passe, principalmente quando a bola não estava nas mãos de Curry. Segundo estatísticas preliminares, o Warriors completou 217 passes neste Jogo 2. Sua média nos playoffs é de 303.

As coisas não deram certo para Curry, e o astro não soube mudar o curso

As coisas não deram certo para Curry, e o astro não soube mudar o curso

Foi aí que entrou em cena Dellavedova, com um esforço extenuante (chegou a acusar dores musculares na prorrogação…) e impressionante em seu trabalho de contestação. Curry teve de lutar bastante até mesmo para receber o passe. Até por isso sua decisão de insistir nos arremessos de três pontos a partir do drible foi pura teimosia, ou confiança em excesso. Se você está cansado, com a perna pesada, o rendimento no chute de longa distância tende a cair. Isso é matemática das mais simples.

De tantos estragos que causou neste fundamento durante toda a temporada, todavia, o armador foi arremessando com aquela mentalidade de que uma hora a bola cairia, a partir do drible, com grau elevado de dificuldade, sem se importar. No fim, caíram apenas 2 em 15, sendo que as 13 tentativas erradas são um recorde de desperdício nas finais, superando as 11 de John Starks, do Knicks, contra o Rockets, em 1994. Antes de acusar cansaço, porém, é preciso registrar que o queridinho local estava com uma expressão um tanto abatida desde o início. Foi uma atuação realmente bizarra, se comparada com o papel que tem cumprido nesta campanha.

“Eu sabia que, assim que saíam da minha mão, alguns arremessos que eu normalmente faço estavam fora. Isso não acontece normalmente. Mecanicamente, não sei se há uma explicação por isso. Apenas não encontrei meu ritmo durante o jogo”, afirmou o MVP. “Tenho de jogar melhor, encontrar arremessos melhores e ficar mais em sintonia durante a partida para que possamos nos estabelecer como time.”

Sim, quando o sujeito tenta 15 arremessos de fora, não dá para dizer que tenha falhado por omissão. Curry não fugiu do jogo. Simplesmente tomou decisões terríveis com a bola, com uma chuva de chutes curtos e ou tortos, raridades para alguém com tanta precisão. O duro é, que, com seu vasto repertório, quando usou a mera ameaça de seu arremesso para iludir seu marcador, o  craque conseguiu espaço para bater para a cesta e completar suas infiltrações (como na cesta que forçou a prorrogação), ou, no mínimo, descolando lances livres. Mas, não. Em vez de dosar as coisas e procurar outros rumos, seguiu chutando de modo tresloucado. O australiano o perturbou. “Teve tudo a ver com o Delly. Ele foi espetacular”, disse LeBron.

Claro que o defensor não o conteve sozinho, mas é inegável sua contribuição neste ponto. Segundo a ˆ, Curry errou todos os seus oito chutes quando marcado pelo substituto de Kyrie Irving e ainda cometeu quatro turnovers. Dellavedova venceu mais este embate psicológico – e físico. Merece, então, seu próprio cartaz (de mentirinha). Como se fosse uma superestrela.

Somos todos testemunhas:

Matthew Dellavedova, NBA, Cavs, LeBron

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Dois ajustes significativos de Blatt envolveram Mozgov, seu ex-comandado de seleção russa. Daí o estranhamento pela ausência total do pivô nos últimos 17 minutos de partida – quarto período mais prorrogação –, quando sua presença poderia ter sido importante em uma posse de bola ou outra ofensiva. O primeiro ajuste foi bem simples, no ataque: o russo subiu para a cabeça do garrafão para fazer o mais rápido que pudesse um corta-luz para LeBron, especialmente para livrar o astro da marcação chata de Andre Iguodala. O mínimo de espaço gerado para o camisa 23 é o suficiente para que ele crie uma situação de cesta – seja em definição individual ou para os companheiros. O pivô também se movimentou muito mais sem a bola, mesmo que não fosse para completar uma jogada de pick-and-roll, e fez a cobertura de Andrew Bogut ficar mais espaçada e hesitante. O segundo ajuste foi bem mais criativo: quando Steve Kerr usou seu quinteto “baixo” logo no primeiro tempo (com Bogut e Festus Ezeli no banco), Blatt manteve Mozgov em quadra, com a decisão de deixá-lo na marcação de Iguodala. Mesmo que o ala tenha jogado muito bem também ofensivamente na primeira partida. O russo apenas cercou o adversário e deu conta do recado, surpreendentemente. Só o perdeu de vista num raro contragolpe que resultou em bela ponte aérea com passe de Klay Thompson. Valeu o show nessa, mas taticamente o russo saiu ganhando. Ainda mais que, do outro lado, não havia quem conseguisse marcá-lo (17 pontos e 11 rebotes em 29 minutos).

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O que dizer deste erro grotesco de Marreese Speights? Pelo visto, os dias em que ficou durante a série contra o Houston Rockets valeram uns quilos a mais para o pivô. Seria muito cruel lembrar que a partida terminou empatada no tempo regulamentar? Que dois pontos poderiam ter… Bem, seria muito cruel, sim.

Só não nos esqueçamos que o mesmo Speights, mais jovem, nos tempos de Sixers, já chegou a dar um airball numa tentativa de enterrada contra Nenê:

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Num jogo de detalhes, os 8 pontos de James Jones no primeiro tempo foram um lucro danado para o Cavs, ajudando inclusive a manter a equipe próxima do marcador, enquanto Klay esquentava a munheca. Valeu a amizade, LeBron.

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Difícil dizer quem errou mais: JR Smith ou a arbitragem, que deixou escapar, por exemplo, duas faltas claríssimas sobre LBJ (a marretada de Iguodala no quarto final e o puxão de Draymond Green no bola ao alto da prorrogação). Na verdade, as falhas do irregular, cabeça-de-vento lateral acabariam por anular as bobagens dos homens do apito. Com três faltas tolas, completamente desnecessárias, Smith deu ao Warriors seis pontos de graça em lances livres, dando sua contribuição marcante para o desfecho dramático do jogo. O ex-comparsa de Carmelo até fez 13 pontos (em 13 arremessos), mas sua desatenção defensiva tem efeitos desastrosos. Ao menos ele tem senso de humor. Excluído com seis faltas, disse ter pensado o seguinte, no banco: “Por favor, vençam este jogo. Não quero todas as ligações, emails, Instagrams, tweets e memes”

*    *    *

 E Steve Kerr aderiu mais uma vez ao hack-a-mão-de-pau. O premiado da vez foi Tristan Thompson, que sofreu duas faltas intencionais no quarto período, num ato de desespero do técnico do Warriors. O pivô canadense acertou dois de quatro. O time da casa pontuou em todos os lances seguintes e ainda ganhou tempo no relógio. Pragmatismo que deu certo, pontualmente.

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Ainda sobre o esforço de LeBron: nos últimos 30 anos, apenas Charles Barkley e James Worthy haviam somado um mínimo de 35 pontos, 15 rebotes e 10 assistências num jogo de playoff. Uma vez cada. LeBron chegou ao segundo só neste mata-mata. Então, ok, ele pode ter errado uma penca de arremessos. Mas a série e os desfalques do Cavs basicamente pedem que ele carregue uma tonelada de responsabilidades nas costas, mesmo.


Warriors levou 44 pontos de LeBron. Mas com estratégia correta
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Giancarlo Giampietro

Iguodala, tentando de tudo para manter LeBron no perímetro

Iguodala, tentando de tudo para manter LeBron no perímetro

“Sabe, quando um cara marca 44 pontos, é engraçado dizer que o defensor fez realmente um bom trabalho, mas acho que Andre foi extremamente bem contra LeBron”, afirmou Steve Kerr, em sua entrevista pós-Jogo 1 das #NBAFinals, aliviado pela vitória suada, na prorrogação, do Golden State Warriors. Não dá para saber se o técnico já havia dado uma espiada em estatísticas mais detalhadas da partida, que apontam que Iguodala foi de fato um defensor incômodo para o astro do Cleveland. Os números estão na crônica do primeiro confronto, mas não custa repeti-los: quando confrontado pelo sexto homem do time da casa, James acertou apenas 9 de 22 arremessos (40,9%). Em situações de meia quadra, foi ainda melhor: apenas 4 cestas em 14 arremessos (28,5%).

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Agora, o que o treinador não precisava nem dizer era que o Warriors vai conviver muito bem com a ideia de ver LeBron arriscar 38 arremessos por jogo, tal como aconteceu nesta quinta-feira, correspondendo a 40% das tentativas de cesta do Cavs. Foi essa a estratégia adotada pelo clube californiano, sem sofrer nenhuma alteração, mesmo que o astro tivesse, no terceiro quarto, média de um ponto por minuto. A tática tinha, claro, o objetivo da vitória no primeiro jogo, mas também trabalha com a ideia de desgastar a principal arma do oponente, pensando na continuidade da série.

“Vamos continuar tentando cansá-lo”, afirma Draymond Green. “Por isso, você tem de dar o crédito ao Andre e ao Harrison (Barnes). Eles continuaram lutando, colocando o corpo contra o dele, fazendo com o que ele trabalhasse para conquistar qualquer coisa. Ele jogou 47 minutos e começou a se cansar um pouco. Acho que isso nos ajudou um pouco na prorrogação.”

Green e seus companheiros estavam orientados a impedir de qualquer maneira que ele ganhe o garrafão. Forçar que ele vá para o chute de média para longa distância. E vários arremessos nessa condição, contestados. Por muitos e muitos minutos. Porém, se o craque começa a acertar tudo em quadra, como aconteceu no primeiro quarto, fazendo o Cavs abrir até 14 pontos, como fazer? Você tem um plano de jogo, estudado, preparado com cuidado. Até que ponto você o mantém, consciente de que é a melhor decisão? Não seria um quarto de jogo que faria Steve Kerr mudar de ideia. O LeBron vai ter de jogar muito a cada noite. Se ele nos derrotar assim, paciência, aceitamos isso. Mas a chance maior é que dê tudo certo para nós”, disse Harrison Barnes.

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Se formos pensar que LeBron acertou 18 de 38 arremessos para marcar 44 pontos, a princípio a propensão é acreditar que a equipe da casa tenha fracassado nesta missão. Nos últimos sete minutos de jogo, no entanto, ele marcou apenas dois pontos, com uma bandeja a nove segundos do fim da prorrogação, quando o jogo já havia acabado. Além do mais, não é que ele tenha passeado em quadra nos três primeiros períodos. Fato é que o jogador teve de usar de toda a sua categoria, com uma variedade de movimentos impressionante. “O LeBron vai dominar e a bola e fazer suas jogadas. Só temos de nos esforçar para dificultar sua vida a cada posse de bola”, disse Steph Curry.

Rick Carlisle e Gregg Popovich já provaram isso em 2011 e no ano passado: a melhor maneira de (tentar) atrapalhar o astro é impedir que ele infiltre, é forçar que ele vá para o chute de média para longa distância. Ainda mais com a boa fase que Iman Shumpert vive no chute de longa distância – 33,8% na temporada regular, subindo para 37,5% nos playoffs – dando mais uma arma ao lado de Kyrie Irving e do pirado JR Smith. O que os clubes texanos prepararam e deu certo foi uma espécie de barricada para congestionar a zona pintada. O Warriors foi mais disciplinado em não vai dobrar em cima de LBJ no perímetro, preocupado em diminuir o espaço dos chutadores. Ainda mais agora que o armador está fora do restante da série, devido a uma fratura na rótula esquerda. Matthew Dellavedova é valente, mas não consegue criar jogadas por conta própria e pode ser vigiado por Steph Curry sem problema. Sem Irving, Klay Thompson poderá ser deslocado para a marcação de JR Smith, deixando a vida do ala ainda mais complicada.

Só no caso de o craque conseguir bater o primeiro defensor rumo ao garrafão, que o Warriors deslocava alguém para a ajuda, com Andrew Bogut de preferência, para proteger o aro. É aí que entra Andre Iguodala, tentando repetir o que Shawn Marion e Kawhi Leonard fizeram no ano passado. A missão do camisa 9 é, antes de tudo, ficar à frente de LeBron e encaminhá-lo para arremessos de menor probabilidade de acerto – tendo elasticidade e envergadura para ainda incomodar seu movimento. No geral, o Warriors permitiu ao craque apenas quatro tentativas de cesta foram na zona do semicírculo,. Nos playoffs, até então, sua média era de 9 chutes na preciosa área restrita. Fora do garrafão, ele converteu apenas 7 de 22 chutes – sendo que este foi o máximo de arremessos que ele já tentou em sua carreira nos playoffs.

Na média, historicamente, independentemente do marcador, o aproveitamento de James é sensivelmente inferior as bolas de média distância, e os percentuais só caíram neste ano. Veja na tabela abaixo, uma cortesia do Basketball Reference, primeiro o percentual das tentativas dele pela quadra e, depois, os índices de conversão do craque nestas respectivas áreas:

lebron-playoffs-shooting-2015-cavs

No limiar entre as bolas de dois e três pontos, LeBron vem acertando apenas 32,9% enquanto, em longa distância, o número despenca para horroroso 17,6%. Também na zona de média distância, com 37,5%, seu aproveitamento caiu bastante em relação ao que fez pelo Miami nas últimas temporadas. Ron Adams, o coordenador defensivo do Warriors, olha para esta tabela e se sente ainda mais confiante na estratégia adotada

Outro fator que deu muito certo e também fazia parte do pacote defensivo orientado pelo assistente Ron Adams: alienar os demais atacantes do Cavs. Se LeBron estava exausto ou não no final da partida, também não vai dizer. Mas, quando seus arremessos pararam de cair, estava muito tarde para o adversário buscar outras alternativas. Pois só mesmo Irving e Timofey Mozgov haviam feito ao menos uma cesta durante todo o segundo tempo. JR Smith, Iman Shumpert e Tristan Thompson estavam fora de sintonia. A equipe não rodava mais a bola, ao contrário do que aconteceu na etapa inicial. “Ele fez um monte de arremessos complicados, que estavam contestados, e podemos viver com isso: ele tentando vários arremessos e chegando a 40 pontos, porque sentimos que muitos dos caras que são fundamentais para eles acabam pouco acionados e não entram no ritmo”, afirmou Andrew Bogut. Vejam nesta foto:

LeBron x Klay, e a muralha no lado contrário

LeBron x Klay, e a muralha no lado contrário

Percebam, então, que não se trata de um capricho de LeBron quando arrisca 38 arremessos. Existe um do outro lado da quadra, tentando influenciar nessas contas. Na final do Leste contra o Atlanta Hawks, o astro do Cavs teve média de 9,3 assistências em 38,5 minutos. Nos playoffs como um tudo, são 8,1 assistências em 41,1 minutos. No Jogo 1 das finais, apenas 6 assistências em 47 minutos. Os dois pontos que sua equipe somou na prorrogação equivalem à pior marca da história das finais. Mais: nos minutos decisivos, o Cleveland tinha o segundo melhor aproveitamento de quadra nestes playoffs, com 45% de acerto. Na abertura decisão, foram apenas duas cestas em 15 chutes (13,3%).

São diversos os números para além dos 44 pontos de LeBron, então, que apontam uma estratégia acertada. Mas, sim, dá para dizer que, se cai o último arremesso de LeBron no quarto período, toda essa narrativa, esse discurso poderia mudar. Eles ficaram claramente a perigo. De qualquer forma, neste loooongo jogo de xadrez com David Blatt, Steve Kerr já tem uma convicção, mesmo que ser torturado pelo camisa 23 não seja lá assim tão, segundo suas palavras, “engraçado”.


Iguodala: o homem de US$ 12 mi que aceitou a reserva e roubou a cena
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Giancarlo Giampietro

Chef Curry teve quem cumprimentar no Jogo 1 das finais

Chef Curry teve quem cumprimentar no Jogo 1 das finais

Andre Iguodala embolsou mais de US$ 12 milhões por esta temporada – na carreira, já passou dois US$ 86 milhões. Foi campeão olímpico e mundial pelos Estados Unidos nos últimos três anos e um All-Star em 2012. Então como é que você espera que um cara desses vai reagir quando vem o técnico, que mal acabou de chegar, dar a seguinte ideia: que tal você ir para o banco de reservas?

O ala admite que matutou um pouco de primeira. Mas concedeu. Disse a Steve Kerr que confiava no que ele estava fazendo, e que tudo bem ficar no banco de Harrison Barnes, um jovem de 23 anos que nunca marcou mais de 10 pontos por jogo em média em sua carreira.

Nesta quinta-feira, na abertura das #NBAFinals, o veterano comprovou a tese de que pouco importa a forma como você começa o jogo. Se está em volta do círculo central no bola ao alto ou no banco, com a faixa de capitão ou sendo ovacionado pela torcida. O que vale, mesmo, é como você o termina – e o que se faz em quadra até o cronômetro zerar.

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Foi Iguodala o único defensor do Golden State Warriors que, enfim, encontrou um meio de incomodar LeBron James na última posse de bola do tempo regulamentar, impedindo que o craque subisse equilibrado para o arremesso. Deu aro, e a prorrogação estava garantida. “É o que pretendemos fazer durante toda a série: que ele precise de arremessos difíceis”, disse o ala. No tempo extra, a equipe da casa passou, então, o trator – não sem mais uma grande cartada de Steve Kerr, que sacou seus dois cincões, usou pela primeira vez na partida sua perturbadora formação mais baixa e viu os tampinhas destroçarem um estarrecido Cleveland Cavaliers para vencer uma partidaça, por 108 a 100. O Jogo 2 será realizado no domingo.

LeBron fez o que pôde: 44 pontos em 46 minutos, seu recorde pessoal em sua quinta participação nas finais da liga americana. Mas acabou derrotado por um time. Um coletivo que teve em Andre Iguodala sua maior expressão neste primeiro embate eletrizante, que já é um clássico instantâneo.

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O ala de 31 anos terminou com 15 pontos, 3 rebotes, 2 assistências, 1 roubo de bola e 1 toco, em 32 minutos, pontuando com eficiência impressionante para os seus padrões. É uma bela linha estatística, não? Bem superior à que produziu durante a temporada na qual sacrificou seu rendimento em prol da equipe: 7,8 pontos, 3,0 assistências, 3,3 rebotes em 26,9 minutos, todas elas as menores médias de sua carreira.

Mas é também só mais um caso de como os números, ainda mais nessa versão simplificada, não contam toda a história. No ataque, Iguodala jogou com uma desenvoltura impressionante e muita versatilidade. Deu duas enterradas belíssimas em jogadas de muita habilidade com a bola para encerrar os primeiro e terceiro quartos e converteu até mesmo uma cesta de três com o pé esquerdo descalço (veja abaixo). “Quando você está no ritmo, dá para jogar até de meias. É como nós todos fazemos em nossos quartos”, disse.

De três, da zona morta, só de meia no pé esquerdo

De três, da zona morta, só de meia no pé esquerdo

Mas foi na defesa que ele teve mais importância, como de praxe. No primeiro tempo, ao lado de Shaun Livingston, apertou as coisas e impediu que o Cavs estendesse uma vantagem que já era de 13 pontos. Depois, não se deixou intimidar pela exuberância atlética e técnica de LeBron e batalhou até o final, até frear o supercraque. Veja o aproveitamento nos arremessos do camisa 23 do Cavs quando marcado pelo número 9 do Warriors e, depois, um desarme que resultou em contragolpe com enterrada:

Contra Iguodala, LeBron acertou 9 de 22 chutes, num aproveitamento de 40,9%. Contra o restante da defesa do Warriors, os números foram 9-16 (56,2%)

Contra Iguodala, LeBron acertou 9 de 22 chutes, num aproveitamento de 40,9%. Contra o restante da defesa do Warriors, os números foram 9-16 (56,2%)

LeBron que deve reconhecer, intimamente, a grande oportunidade desperdiçada pelo Cleveland em Oakland, ainda mais depois de ver Kyrie Irving sair mancando, com muitas dificuldades, rumo ao vestiário, com 23 pontos, 7 rebotes, 6 assistências, 4 roubos de bola e dois bloqueios em 44 minutos. A espera de uma semana parece ter feito maravilhas para o joelho do armador, aliviando sua tendinite.

O jovem astro estava muito bem quadra, jogando com energia surpreendente para alguém que mal pôde contribuir na varrida para cima do Atlanta Hawks na decisão do Leste. Não só pontuou, como defendeu muito bem, dando inclusive um toco no MVP Stephen Curry naquela que poderia ter sido a última investida do Warriors no confronto. Até LeBron errar seu chute – e Iman Shumpert também, com um arremesso maluco, no estouro do cronômetro, pegando a bola diretamente no ar e a devolvendo em direção ao aro no mesmo movimento. Se cai… O impacto na fanática torcida do Warriors seria o de um terremoto. “No final do dia, nós nos permitimos ganhar o jogo, cara. Errei um arremesso duro”, disse James.

Irving saiu do ginásio amparado por muleta. Palpite inicial dos médicos é de que não sofrido nenhuma ruptura no joelho esquerdo

Irving saiu do ginásio amparado por muleta. Palpite inicial dos médicos é de que não sofrido nenhuma ruptura no joelho esquerdo

Mas não caiu, gente, para um empate de 98 a 98. E na prorrogação o Cavs só marcaria mais dois pontos, enquanto os anfitriões assumiam o controle. Curry foi fundamental nas primeiras posses de bola para cavar faltas e ir para a linha de lance livre – ele somou 26 pontos, 8 assistências e matou 10-20 nos arremessos em 43 minutos.. Depois, o que fez a diferença foi o quinteto baixo de Steve Kerr, num ato muito corajoso e esperto, claro, já que Andrew Bogut e Festus Ezeli não estavam conseguindo frear o russo Timofey Mozgov (16 pontos e 7 rebotes em 33 minutos). Juntos, Draymond Green, Barnes, Iguodala, Klay Thompson e Curry deram conta do recado.

Do outro lado, LeBron perdeu as rédeas. E aí que a abordagem de jogo isolado no craque acaba se revertendo. Quando a estrela foi contestada, o restante do time estava emperrado. Do segundo tempo em diante, aliás, só ele, Irving e Mozgov pontuaram por Cleveland. Muito pouco. No geral, seis visitantes apareceram nas tábua de pontuadores (com apenas os três aqui já citados com mais de dez pontos), enquanto o Warriors teve dez e cinco jogadores, respectivamente, nessas condições.

Fazia parte da estratégia de Kerr (e do excepcional Ron Adams, o responsável pela coordenação defensiva): grudar em JR Smith, Iman Shumpert e Kyrie Irving, sem mandar dobras para cima de James. Que ele derrubasse a melhor defesa do campeonato por conta. E foi quase, numa prova do talento imenso do jogador, já um dos dez maiores da história da liga. O interessante foi ver as diversas formas como LBJ foi para a cesta. Se era previsível que o ataque fosse canalizado em suas mãos, por outro lado as ações individuais começaram em diferentes pontos da quadra, o que confundiu a defesa do Golden State em muitas ocasiões, inibindo a cobertura de Bogut. Se Harrison Barnes foi basicamente engolido por LeBron, Iguodala conseguiu encará-lo nos momentos finais e acabar com essa festa. O reserva Iguodala, no caso.

 


Tudo por LeBron: o malabarismo do Cavs para vencer e convencer o astro
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Giancarlo Giampietro

Seu time está no centro das chacotas por anos e anos? Você não tem coragem de assumir para quem torce e, no final, tenta escapar dizendo ser um “admirador profundo do estilo de basquetebol do San Antonio Spurs”? Você nem, mesmo, veste a camisa para bater, casualmente, uma bola na praça? Calma, gente. Isso não te obriga a jogar fora o uniforme. Pode ser que ainda dê tempo de reutilizá-lo – desde que não perca de vista a balança, claro. Os finalistas da NBA 2014-2015 nos ensinam que, das profundezas, após muitas trapalhadas no Draft, desmandos da diretoria, conflitos entre jogador e técnico, pode emergir um candidato ao título. Mesmo que demore um pouco. Ontem, publiquei a lista de dez episódios marcantes da história do Golden State Warriors, que nos ajudam como demorou tanto – precisamente 40 anos – para que a franquia retornasse a uma decisão. Hoje, as idas e vindas do Cleveland Cavaliers em torno de LeBron James:

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Um rei e um reino para conquistar

Façamos as contas: LeBron James está na NBA há 12 anos. São oito pelo Cleveland Cavaliers e quatro pelo Miami Heat. Em Ohio, chega a sua segunda final de NBA, enquanto, na Flórida, foram quatro. Pelo Cavs, busca o primeiro título. Pelo Heat, ganhou dois. Ok, então. Com a devida ressalva de que recebeu em 2003 um jogado ainda adolescente, em formação, não há como negar ao mesmo tempo que o clube demorou muito para capitalizar, durante a década passada, um dos maiores craques do esporte. Foram muitas falhas estruturais que propiciaram um produto aquém das expectativas em quadra e resultou na migração dos talentos de LeBron a South Beach, causando desespero geral em Cleveland, camisas queimadas, carta rancorosa de bilionário, até que os ânimos fossem apaziguados e o Rei Retornasse. Vamos lá:

– Antes de LeBron
Os deslizes aconteceram enquanto o jovem astro estampava capas de revista como colegial. Nos dois Drafts antecedentes ao de LeBron, o Cavs escolheu o pivô DeSagana Diop em 2001, na oitava colocação, e o ala-armador Dajuan Wagner, em 2002, na sexta. Nenhum deles conseguiu ajudar o craque, com status assustadoramente messiânico. Em retrospecto, se o Cavs tivesse acertado duplamente, talvez não tivesse nem mesmo condições de receber James em 2003. Ou, talvez, a produção de um calouro ainda não fosse o suficiente para elevar tanto assim o padrão de um time caótico, gerenciado (?) por Jim Paxson –  ex-jogador e irmão mais velho de John, o vice-presidente do Bulls.

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Diop vocês conhecem, já que deu um jeito de ficar na liga por mais de dez temporadas, se aposentando em 2013, mesmo que nunca tenha superado a média de 3 pontos por jogo. Sim, não tem erro de digitação aqui, não: foram 3,0 em 2006-07, e daí para baixo. O senegalês conseguiu a proeza de fazer mais faltas do que pontos em sua carreira (1.219 x 1.185). Nos, hã, bons tempos, Diop até protegia o aro em Dallas, revezando com Erick Dampier como segurança de Dirk Nowitzki. Mas foi muito pouco para justificar uma escolha tão alta, saindo direto do high school. Essa era a febre do momento, a captação de adolescentes antes mesmo de sua entrada no basquete universitário, e o recrutamento de 2001 foi um marco nesse sentido: Kwame Brown saiu em primeiro, Tyson Chandler, em segundo, Eddy Curry, em quarto. Kwame e Curry foram decepções, mas renderam muito mais que o africano, selecionado enquanto nomes como Joe Johnson, Zach Randolph, Richard Jefferson, Troy Murphy, Jason Collins, Brendan Haywood e Samuel Dalembert estavam disponíveis. Não vale mencionar Tony Parker aqui, pelo fato de o francês ter sido uma aposta inesperada do Spurs ao final da primeira rodada.

Quanto a Wagner, recordamos uma das histórias tristes recentes do basquete americano. Quando garoto, chegou a ser comparado a Allen Iverson. É aquele tipo de paralelo que sempre parece injusto, mas registre-se que o rapaz chegou a marcar 100 pontos numa partida de high school em New Jersey. Extremamente badalado, o cestinha preferiu jogar um ano por John Calipari na Universidade de Memphis. Sua experiência na NCAA não foi das melhores, mas a fama dos tempos de colegial ainda inflacionava sua cotação para o Draft de 2002. Nenê, Amar’e Stoudemire, Caron Butler e Chris Wilcox foram escolhidos entre os sétimo e décimo lugares.

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Tivesse esperado mais, talvez não assinasse nenhum contrato com a NBA. Wagner sofreu diversas lesões e com problemas de saúde em suas três primeiras temporadas e desfalcou o Cavs em 144 jogos. Na campanha 2004-05, então, foi afastado por conta de uma colite ulcerosa. É uma doença inflamatória intestinal rara, com incidência em 0,1% da população americana, por exemplo, e considerada crônica por muitos especialistas. No caso de Wagner, a medicação não surtia efeito. Em 2005, então, ele passou por uma cirurgia para remoção completa do cólon. Dispensado pelo Cavs, ele ainda tentou retornar a jogar em 2006, assinando com o Golden State Warriors. Novamente doente, foi cortado do elenco após uma partida e sete minutos. Estima-se que, ao menos, tenha ganhado  mais de US$ 8 milhões devido ao primeiro contrato.

– O primeiro time a gente não esquece
É preciso entender que a ideia de Jim Paxson não era ter uma boa equipe no início da década. O dirigente adotou a estratégia do quanto pior, melhor, para concorrer aos principais calouros da liga. Quando LeBron chegou em 2003, o cenário era de terra arrasada, mesmo. De qualquer forma… aquele elenco do Cavs era qualquer coisa de frankenstênico. Bad boys, veteranos improdutivos (Eric Williams, Ira Newble, Lee Nailon, Kevin Ollie, Tony Battie, Argh Argh), fiascos de Draft (já citados) e o caos geral: ao todo, 21 atletas se fardaram pela equipe no campeonato.  É tanta informação aqui, que a CPU começa a esquentar, castigando a ventoinha.

Darius Miles: presente para quem?

Darius Miles: presente para quem?

Os bad boys: Darius Miles, um promissor ala selecionado pelo Clippers em 2000, também vindo direto do high school, mas criticado constantemente por seus técnicos devido ao comportamento pouco entusiasmante em treinos e jogos; Ricky Davis, um cestinha explosivo, mas também fominha inveterado e que, num jogo contra o Utah Jazz, já arremessou contra a própria cesta para pegar o ‘rebote’ e completar um suposto triple-double. Despertou a ira de Jerry Sloan, que ordenou, em nome do basquete, que seus jogadores o quebrassem em quadra. Você por acaso gostaria de cercar seu prodígio com companheiros assim? Pobre Paul Silas, um técnico que, nos tempos de atleta, foi um grande pivô e também referência de vestiário.

Paxson ao menos entendeu o perigo dessa situação e se livrou dos dois jogadores. Primeiro, em dezembro, mandou Davis para o Boston. Em janeiro, Miles foi despachado para Portland. Quando chega a hora de desfazer de um problema, dificilmente virá em contrapartida o jogador dos sonhos. No pacote por Davis, ainda foi incluído o pivô Chris Mihm. Ambos foram trocados pelos alas Eric Williams e Kedrick Brown e o pivô Tony Battie. Aos 31 anos, já degastado, Williams acertou apenas 25,3% de seus tiros de três pelo Cavs e 36,6% dos chutes em geral. Battie teve médias de 5,4 pontos e 4,8 rebotes em 19 minutos, mas, com 2,11 m e boa capacidade atlética, convertia apenas 42,7% de seus arremessos. Dramático. Miles ao menos rendeu ao Cavs o armador Jeff McInnis, que ajudaria LeBron na condução do time, que até ensaiou uma reação e lutou por vaga nos playoffs, terminando com 35 vitórias e 47 derrotas. Aos 29 anos, porém, não era uma solução de longo prazo.

Mesmo jovem, para um jogador inteligente como LeBron, só dois parceiros deveriam se safar: Zydrunas Ilgauskas, com quem desenvolveu ótimo relacionamento, e Carlos Boozer, um acerto de Paxson no Draft de 2002, para compensar todos os problemas que teve com Wagner. Juntos, os dois pivôs contribuíram naquele ano com 30,8 pontos e 19,5 rebotes. O ala Jason Kapono não conseguia marcar nem a própria sobra, mas ao menos era um excelente chutador para tentar espaçar a quadra – o único especialista no elenco. Em 2005, ficou fora da lista de protegidos no Draft de expansão para a formação do elenco do Charlotte Bobcats e acabou recrutado.

Agora, um detalhe: nem mesmo uma boa notícia como o rendimento de Boozer duraria muito. O pivô revelado pelo Coach K passou a perna na diretoria do Cavs ao final do campeonato. Por ter sido escolhido na segunda rodada, seu contrato tinha um valor já bastante defasado. Querendo agradar o jovem pivô, então de 22 anos, o clube concordou em exercer uma opção contratual para torná-lo agente livre e aí fechar com ele um acordo muito mais lucrativo. Foi tudo acertado verbalmente (algo, em tese, proibido pela liga). Boozer foi liberado e… Assinou com o Utah Jazz. Uma punhalada que o tornou persona non grata em Cleveland. O jogador recebeu uma bolada, foi eleito duas vezes para o All-Star Game em sua nova equipe, mas virou as costas para LeBron. Valeu a pena? Bom, talvez a bagunça fosse tão grande que ele não se importasse.

– Procura-se um ala
Não dava para depender de Williams e Newble, obviamente. Paxson conhecia a necessidade de buscar um parceiro para LeBron no perímetro. O Draft de 2004 era uma boa oportunidade para tanto. Na décima posição, não daria para escolher Andre Iguodala, Luol Deng ou Josh Childress. Então foram de Luke Jackson. Jackson não era tão comentado assim quando jogava pela Universidade de Oregon, mas que impressionou os olheiros durante a fase de treinos. Já tinha 23 anos e teoricamente estava pronto para contribuir, com um perfil técnico que se encaixava: tinha capacidade atlética, bom arremesso e visão de quadra. Pelo menos era o que o gerente geral do Cavs enxergava. Só não deram tanta atenção aos exames médicos, físicos realizados pelo jogador. Assim como Wagner, Jackson mal conseguiu parar em pé. Em dois anos, disputou apenas 46 partidas pelo time, com média inferior a oito minutos e um total de 125 pontos. Aos 27,  já não estava mais na liga.

Pavlovic, não deu

Pavlovic, não deu

Já preocupado com a condição de Jackson, o cartola, então, orquestrou uma troca ao final da temporada, dando uma escolha futura de Draft ao Charlotte Bobcats, para receber Sasha Pavlovic. O sérvio já havia sido descartado pelo Utah Jazz, mas era jovem, com 21 anos e potencial a ser explorado. Só recebeu, porém, 13 minutos em média no primeiro ano em Cleveland, enquanto Ira Newble recebia 23 minutos. Foi reserva  durante boa parte de sua estadia em Cleveland. Em fevereiro de 2005, então, uma nova negociação foi feita, por mais um europeu: o tcheco Jiri Welsch, que vinha do Boston Celtics, custando ao time mais uma escolha de Draft. O tcheco era habilidoso com a bola, bom passador, versátil, mas havia mostrado pouco por Golden State ou Boston para justificar a transação. Em junho, já seria repassado ao Milwaukee Bucks.

Aqui, já começa um padrão bem maluco: o time sacrificava seu futuro para (tentar) melhorar de imediato, mesmo que sua jovem estrela estivesse apenas no segundo ano de liga. As duas escolhas gastas seriam usadas em 2007, respectivamente com  Jared Dudley e Rudy Fernández. Quando o Cavs foi eliminado pelo Celtics em 2010, Dudley era um jogador importante na rotação do Phoenix Suns, vice-campeão do Oeste. Bom defensor, sólido arremessador da zona morta, inteligente, poderia o ala poderia, quiçá, ter sido um Shane Battier antecipado na vida de LeBron.

– Troca de comando
Dan Gilbert comprou o Cleveland Cavaliers em março de 2005 e prometeu mudanças. Três semanas depois, Paul Silas foi demitido, com uma campanha de 34 vitórias e 30 derrotas. A equipe estava dentro da zona de classificação para os playoffs, mas vinha perdendo rendimento. O experiente assistente Brendan Malone foi promovido e venceu 8 de 18 partidas. O time acabou eliminado na temporada regular. Aí foi a hora de Jim Paxson procurar outro emprego também, mesmo que, antes de o campeonato começar, tivesse fechado uma excelente troca para amenizar a saída de Boozer: mandou Tony Battie para Orlando e recebeu Drew Gooden (quarta escolha em 2002) e Anderson Varejão, a primeira escolha da segunda rodada naquele ano (30º no geral). Além disso, cuidou para que o clube tivesse espaço em sua folha salarial para investir para a próxima temporada. O conjunto da obra era fraco, mesmo.

Danny Ferry foi o escolhido para o seu lugar – contratado depois de Mike Brown, aliás, o novo técnico. Ele havia defendido o Cavs na década de 90 e vinha trabalhando em San Antonio, cidade que havia conquistado dois títulos em três anos. O novo gerente geral tinha uma grande oportunidade de remontar a equipe em torno de LeBron – mas também trabalhava pressionado por Gilbert, que queria os playoffs a qualquer custo.

Dan Gilbert, Danny Ferry, Mike Brown, LeBron James: sobraram dois

Dan Gilbert, Danny Ferry, Mike Brown, LeBron James: sobraram dois

Ray Allen e Michael Redd eram os alvos iniciais, mas renovaram com Seattle e Milwaukee, respectivamente. Pois Ferry, em vez de usar da precaução e manter a flexibilidade financeira, torrou uma bela grana em opções alternativas que se provaram, em retrospecto, errôneadas: o ala-armador Larry Hughes, Donyell Marshall e Damon Jones.

O maior equívoco foi Hughes. Se, no futuro, haveria questões sobre como o jogo de Dwyane Wade e o de LeBron poderia se encaixar, com o ala-armador ex-Wizards simplesmente não rolou. Era mais um jogador que precisava da bola para entrar em ritmo no ataque, mas tinha um chute de longa distância ainda menos eficiente (30,9% de três na carreira e 34,2% com a camisa do Cavs). Lembrando que LBJ ainda tinha Para complicar ainda mais o entrosamento se lesionou no primeiro ano em Cleveland e não rendeu bem nos playoffs. Marshall e Jones seriam os gatilhos para tentar remediar essa carência, depois de terem se valorizado bastante nas duas campanhas anteriores. Mas já eram veteranos, perto do declínio físico.

Cavs sonhava com Redd, se contentou e pagou muito por Hughes (d)

Cavs sonhava com Redd, se contentou e pagou muito por Hughes (d)

O Cavs melhorou consideravelmente e alcançou a marca de 50 vitórias pela primeira vez desde 1993mas , isso tinha muito mais a ver com a evolução natural de LeBron e com a fortíssima defesa orientada por Brown, do que por melhora significativa no plantel, e Ferry já estava de mãos atadas. A ponto de as próximas contratações de agentes livres terem sido mais veteranos em final de carreira David Wesley, Scott Pollard, Devin Brown e Lorezen Wright, caras para compor o banco, e olhe lá. Qualquer evolução a partir daí caberia ao craque e ao treinador, mesmo.

A campanha de 2007 foi idêntica: 50 triunfos e 32 derrotas. Nos playoffs, porém, o time deslanchou, batendo Wizards, Nets e Pistons para conquistar o Leste pela primeira vez em sua história. Na decisão regional contra Detroit, LeBron teve uma das melhores atuações de sua careira. Na verdade, dá para especificar: uma das duas melhores – ao lado do Jogo 6 da final do Leste de 2012 contra o Boston Celtics. Tive o prazer de gravar um VT desta partida de , pelo Sports+, neste ano, ao lado do chapa Marcelo do Ó. Era o Jogo 5 da série, e o craque, aos 22 anos, realmente fez de tudo pela vitória:  anotou 25 pontos consecutivos para o Cavs entre o quarto período e a prorrogação, e 29 dos últimos 30 do seu time, chegando a 48 para derrubar Billups, Hamilton, Prince e Rasheed, a base campeã em 2004. Foi um divisor de águas para a estrela: ainda havia muita gente disposta a questionar sua integridade em momentos decisivos.

Se LeBron foi heróico, é por ter precisado agir assim, fora de seu modus operandi. Na visão do craque, basquete é um jogo que se vence e perde em conjunto. Acontece que, com Eric Snow, Daniel Gibson, Jones, Hughes e Pavlovic ao seu lado, fica difícil. A rotação de pivôs era sólida, com Ilgauskas ainda em relativa boa forma, Varejão aprontando das suas, Gooden e Marshall. Mas a turma do perímetro… Sem condições. Tirando o camisa 23, não havia ninguém ali em condições de criar jogadas. As tentativas de Pavlovic, sem aliviar, chegavam a ser hilárias. Eric Snow estava mais para Stone, com sua postura petrificada. Gibson era um calouro.

Na decisão, de qualquer forma, veio o choque de realidade: foram varridos pelo San Antonio Spurs. Era outro ponto a mais para se considerar:  a conferência é fraca há tempos já. Havia o decadente Detroit Pistons, e mais nada – o revival do Boston Celtics só aconteceria no ano seguinte, o Indiana Pacers foi destroçado por Ron Artest e o Chicago Bulls de Scott Skiles era quase um fac-símile da versão Thibs: defendia horrores, com operários adoráveis, mas morria nos playoffs. Ciente de que o que tinha em mãos não era o bastante, a diretoria passou a perseguir trocas. No entanto, o velho dilema se repete: se você está interessado em se desfazer de um contrato ruim, é bem provável que vá ter de receber o entulho do outro.

– A ciranda
Ninguém vai poder dizer que Ferry não tentou. Em fevereiro de 2008, veio a primeira chacoalhada, numa negociação tripla, mandou Hughes, Marshall, Gooden, Shannon Brown e o pivô Cedric Simmons embora, dando lugar a Ben Wallace, Joe Smith, Wally Szczerbiak e Delonte West. A equipe foi eliminada pelo Boston Celtics na semi do Leste (4 a 3). Em agosto do mesmo ano, trocou Smith e Jones por Mo Williams, cujas habilidades eram um ótimo complemento para as de LBJ. O Cavs conseguiu a melhor campanha da história (66 vitórias e 16 derrotas), mas perdeu na final de conferência para o Orlando Magic, de modo surpreendente. Então que mudassem de novo, em junho de 2009 trouxe Shaquille O’Neal de Phoenix, pagando Wallace, Pavlovic, uma escolha de Draft e US$ 500 mil. Por fim, no meio da temporada 2009-10, partiu o coração de muita gente ao trocar Zydrunas Ilgauskas e mais uma escolha de Draft para ter Antawn Jamison e Sebastian Telfair. E o Cavs voltou a perder para o Celtics, por 4 a 2, pela segunda rodada.

Olhar o quê, exatamente?

Olhar o quê, exatamente?

Com exceção de West e Williams, a esmagadora maioria das aquisições foi de jogadores envelhecidos, bem distante de seu auge atlético. Foram todas contratações um tanto desesperadas, imediatistas, para tentar agradar a LeBron antes que ele se tornasse um agente livre. Não funcionou. Por mais competitivo que o time tenha sido, a frustração por tantos revezes consecutivos nos playoffs foi enorme. Será que nem mesmo um craque desse porte conseguiria livrar Cleveland de sua teimosa maldição? Numa última medida, Gilbert saiu dos bastidores e demitiu Brown, apesar da equipe ter feito a melhor campanha nas últimas duas temporadas combinadas. Ferry não aprovou a decisão, e acabou se desligando do time também “em comum acordo” (aquela de sempre). Seu assistente, Chris Grant, foi promovido. Byron Scott foi contratado. LeBron se mandou para Miami.

– A reconstrução
Não há como se recuperar de imediato com uma perda dessas. Simplesmente não dá, especialmente depois de o clube ter apostado todas as suas fichas em negócios de pouco fôlego. Byron Scott jamais vai admitir isso, mas duvido que topasse a oferta do Cavs se soubesse que sua rotação na temporada regular seria composta por Mo Williams, Ramon Sessions, Daniel Gibson, Anthony Parker, Antawn Jamison, Anderson Varejão, JJ Hickson e Ryan Hollins. Conta outra.

O que Grant conseguiu fazer foi juntar cacos peças para o futuro. Ajudou já o fato de ter fechado um sign-and-tarde com o Miami Heat, já coletando duas escolhas de primeira rodada do Draft e duas de segunda. Nenhuma delas foi aproveitada pelo time em sua rotação, é verdade. Mas foram triunfos para outras transações. Outra escolha de segunda rodada veio em um negócio tramado com o Minnesota Timberwolves (Telfair e West por Sessions e Hollins). A terceira troca foi ainda mais lucrativa: assimilou o contrato de Baron Davis, dando Williams ao Clippers, para receber uma escolha de Draft de 2011. A franquia californiana pretendia abrir espaço salarial e caçar novos atletas (CP3 chegaria nessa). Mas o pick cedido deu ao Cavs a sorte grande: Kyrie Irving. Sem saber, a franquia começava a pavimentar a via para o Retorno. Em quarto, adicionou Tristan Thompson, coincidentemente agenciado por um amigo de infância de LeBron, Rich Paul. Para completar, ainda mandaram JJ Hickson para Sacramento, por Omri Casspi e mais uma escolha.

O processo de acúmulo de ‘ativos’ continuou na campanha 2011-12, quando Ramon Sessions foi enviado ao Los Angeles Lakers em troca de Luke Walton e mais um pick de primeira rodada, além do direito de inverter a ordem de seleção com o time californiano em 2013, se julgasse necessário (aconteceu). Para não perder a conta, nessas cinco transações, foram adquiridos seis picks de primeira rodada. No Draft, chegaram Dion Waiters e Tyler Zeller. Uma sexta troca, agora com o Memphis Grizzlies, renderia nova escolha, para que pudessem acolher Wayne Ellington, Marreese Speights e Josh Selby. Nenhum deles seria uma peça integral, mas o que valia era o suculento adicional do negócio.

Na teoria, o time ia se abastecendo de jovens atletas e moedas de troca valiosas para o futuro. Na prática, verdade seja dita, o time era uma bela porcaria, vocês sabem. Foram 64 vitórias em 230 jogos. E aí que a paciência de Gilbert chegou ao limite. O proprietário enquadrou Grant, dizendo que era a hora de obter resultados mais concretos. Sobrou primeiro para Scott, que não conseguiu desenvolver seus atletas, muito menos instaurar uma aura vencedora no vestiário – ainda que uma cobrança dessas fosse uma baita hipocrisia, considerando que o evidente plano do gerente geral era perder para pensar no futuro. Assim como faz o Philadelphia 7e6rs hoje.

A escolha de Draft do Memphis que chegou a Cleveland com Wayne Ellington ajudou na troca por Timofey Mozgov

A escolha de Draft do Memphis que chegou a Cleveland com Wayne Ellington ajudou na troca por Timofey Mozgov

Antes de Lebron, então, quem voltou foi Mike Brown, com um contrato de cinco anos e US$ 25 milhões. Ele retomava seu antigo cargo com o privilégio de poder orientar dois novatos número 1 do Draft, já que Anthony Bennett se juntava a Irving. O russo Sergey Karasev era mais um jogador jovem para a base. No mercado, contratou Jarrett Jack (pagando demais), Earl Clark e Andrew Bynum (uma roubada). No meio do campeonato, pela primeira vez desde 2010, o Cavs faria uma troca na qual o jogador mais relevante estava chegando, em vez de saindo: Luol Deng. Mas o time não evoluiu da forma que Gilbert esperava.

O desempenho de Bennett era decepcionante, e Bynum armou um circo, antes de ser envolvido na transação por Deng. A sucessão de erros recentes custou a demissão de Grant. David Griffin foi promovido e ainda teve de providenciar a chegada do pivô Spencer Hawes, do Sixers, numa vã tentativa de subir na tabela. Os veteranos não influenciaram a campanha,  e o time ficou fora do playoffs. Foi a vez de Brown ser novamente chutado para escanteio, mesmo com US$ 20 milhões ainda por receber da franquia.

De todo modo, a visão geral de Grant estava correta. O time estava preparado para avançar, ainda que tenha tropeçado feio em seu último ano de gestão. O campeonato ruim colocou o time novamente na loteria do Draft, e o restante dos concorrentes entrou em choque ao saber que, pela terceira vez em quatro anos, a família Gilbert era agraciada novamente com o primeiro lugar da lista e o direito a optar entre Andrew Wiggins, Jabari Parker e Joel Embiid. Uma das escolhas de Draft acumuladas durante o processo foi enviada por Griffin para o Boston Celtics, ao lado de Tyler Zeller, para que o clube pudesse se desfazer dos contratos de Jack e Karasev. Estava aberta a trilha para a contratação de LeBron – e de Kevin Love. Outra das escolhas foi usada para aquisição de Timofey Mozgov, enquanto Dion Waiters foi peça central na troca por Iman Shumpert e JR Smith. Aí… Bem, aí que o Cavs torna a disputar o título depois de oito anos.

Desde que publicou sua celebrada carta na Sports Illustrated, LeBron pediu paciência a todos. Que as coisas levariam um tempo até a se ajustar. Quando se apresentou ao clube, porém, ficou claro que o mais ansioso pela conquista de bons resultados era o próprio craque. Vem daí a troca de Wiggins por Love. O astro também deu uma canseira em David Blatt, deixou claro seu descontentamento com o próprio Love e com Irving e Waters em diversas partidas e não parou de mandar recados, velados ou não. Seu discurso inicial não poderia ser mais vazio. LeBron queria o título, e para já. Agora tem uma segunda chance, em busca da redenção em sua terra natal.  A diretoria, mais uma vez, cedeu a todos os seus pedidos. Só esperam todos que o desfecho seja diferente. Para agora e um pouco mais à frente.


Golden State supera décadas de trapalhadas para voltar à final
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Giancarlo Giampietro

Seu time está no centro das chacotas por anos e anos? Você não tem coragem de assumir para quem torce e, no final, tenta escapar dizendo ser um “admirador profundo do estilo de basquetebol do San Antonio Spurs”? Você nem, mesmo, veste a camisa para bater, casualmente, uma bola na praça? Calma, gente. Isso não te obriga a jogar fora o uniforme. Pode ser que ainda dê tempo de reutilizá-lo – desde que não perca de vista a balança, claro. Os finalistas da NBA 2014-2015 nos ensinam que, das profundezas, após muitas trapalhadas no Draft, desmandos da diretoria, conflitos entre jogador e técnico, pode emergir um candidato ao título. Mesmo que demore um pouco. Aqui, vamos listar dez episódios marcantes da história do Golden State Warriors, que nos ajudam como demorou tanto – precisamente 40 anos – para que a franquia retornasse a uma decisão:

Para chegar a Curry e os playoffs de 2025, teve muita história

Para chegar a Curry e os playoffs de 2015, teve muita história

Se transparência é um termo que anda em voga no noticiário esportivo, então não dá para esconder que este artigo não existiria sem este aqui de Bill Simmons, o ex-editor-chefe do Grantland: “Como perturbar uma base de torcedores em 60 passos fáceis”. Sim, com seus conhecimentos verdadeiramente bíblicos sobre a NBA, o cara teve a manha de listar seis dezenas de bobagens que o clube californiano cometeu desde que Ricky Barry os liderou para o título em 1975. Em vez de meramente traduzir o antigo Sports Guy (e quem sai perdendo nessa é só você, meu amigo, já que estamos falando de um dos textos mais divertidos da Internet), filtramos os tropeços em apenas uma dezena, tentando interligá-los ou dar mais contexto para cada um deles.

1) Vai que é sua, Boston
E se o esquadrão de All Attles de 40 anos atrás pudesse ter sido sucedido por uma linha de frente composta por Larry Bird, Kevin McHale e Robert Parish? Sim, acreditem. Não se trata de revisionismo barato. O Golden State Warriors teve todas as chances de formar esta trinca que resgataria os tempos de glória do Boston nos anos 80. O que pegou, então?

Bem, comecemos pelo fato de o time ter selecionado Parish no Draft de 1976. Foi apenas em oitavo, um golaço. Entre os sete primeiros da lista, só um atleta seria eleito para o Hall da Fama ou mesmo para um All-Star Game: o ala Adrian Dantley, cestinha ex-Detroit, Utah e Dallas. O pivô jogaria apenas quatro anos pela equipe, porém, até ser enviado para o Boston em 1980, acoplado a uma escolha de Draft, que seria a terceira geral. Em troca vieram outras duas escolhas daquele mesmo ano: a 1ª e a 13ª. Quem saiu em terceiro? McHale, um dos melhores alas-pivôs da história. E nas outras? Joe Barry Carroll e Rickey Brown.

Bird, Parish e McHale

Bird, Parish e McHale, do Boston

Quem!? Cumé!?

Bem, não precisa se sentir mal se não os conhece. Carroll era um pivô de 2,13 m de altura, vindo da Universidade de Perdue, considerado uma grande promessa. Só assim para o Warriors abrir mão de um pivô já estabelecido como o Chief Parish. No final das contas, ganharia um dos melhores (ou piores) apelidos da liga: “Joe Barely Cares” – trocadilho que dizia que ele pouco se importava com o que acontecia em quadra. A média de 20,1 pontos em seus primeiros quatro anos não parece tão ruim, mas não conta tudo: nos rebotes, foram apenas 8,5 por jogo. Cometia um elevado número de turnovers e não amedrontava defesas a ponto de chamar a marcação dupla no garrafão. O fato é que ele não se encontrou por lá, sendo perseguido por torcedores e jornalistas. Em 1984, para espanto geral, virou as costas para o time assinou um contrato com o Olimpia Milano. Em Boston, o Celtics já havia conquistado dois troféus.

Depois de conhecer a Itália, Carroll retornou em 1985, e, sob o comando de George Karl, viveu seu melhor momento. Em 1987, foi eleito para o All-Star Game e ainda estreou nos playoffs. Um ano depois, porém, viu sua produção despencar, a ponto de ser trocado para o Houston Rockets. Rodaria ainda por New Jersey, Denver e Phoenix até se aposentar em 1991, aos 32 anos, considerado um grande fiasco.

Quanto a Rickey Brown… Hã… O ala-pivô de 2,08 m, de Mississippi State, jogou apenas cinco anos na NBA. Em 1983, foi negociado com o Atlanta Hawks, em troca de uma escolha futura de segunda rodada, que resultaria em alguém de nome mais interessante, pelo menos: Othell Wilson. Pois é.

E onde é que Larry Bird entra nessa história? O Golden State tinha a quinta escolha do Draft de 1978. Optou pelo ala Purvis Short, que teria médias de 17,3 pontos, 4,3 rebotes e 2,5 assistências em sua carreira. O legendário camisa 33 do Celtics saiu em sexto. Oooops. (E aqui não importa que Bird fosse ficar mais um ano em Indiana State. Né?!)

2) Cestas e drogas
A NBA teve de lidar nos anos 70 e 80 com um séria questão: o preocupante uso de drogas por um elevado número de seus atletas, nem sempre flagrados. O ala Bernard King foi um dos atletas que chegou a ser detido por posse de maconha e cocaína em duas ocasiões, entre 1977 e 78, enquanto tinha contrato com o New Jersey Nets. Cansado dos problemas, mandou King para Utah em 1979. Pouco utilizado em Salt Lake City – aliás, não dá saber o que King faria na cidade naquela época. Um ano depois, seria despachado para o Golden State, em troca do pivô Wayne Cooper (um bom defensor, que viveria bons momentos no futuro pelo Blazers e pelo Nuggets). Na Califórnia, o ala reencontraria o rumo e seria eleito para o All-Star Game em 1982, com 23,2 pontos, 5,9 rebotes e 3,6 assistências.

Bernard King, cestinha que durou pouco em Oakland

Bernard King, cestinha que durou pouco em Oakland

Mas seria mais um craque que a franquia deixaria escapar: ao final do campeonato, King assinou um pré-acordo com o New York Knicks. Foi liberado, em troca do armador Michael Ray Richardson. Nos próximos quatro anos, o ala se tornaria o grande ídolo do Madison Square Garden, com algumas atuações eletrizantes (coisa de 50 pontos em jogos consecutivos e também 60 pontos em outra ocasião). No auge, porém, sofreu uma gravíssima lesão no joelho, que impediu que fizesse uma dupla potencialmente devastadora com Patrick Ewing, até ser dispensado. Acabado? Nada disso. Batalhou e concluiu uma recuperação até então inédita na liga. Em Washington, jogaria muito pelo Bullets ainda, com médias de 22 pontos, 4,7 rebotes, 3,9 assistências por quatro temporadas, sendo eleito pela quarta vez um All-Star em 1991.

Vai saber: talvez, em Oakland, as coisas pudessem ter desandado. Talvez King ainda estivesse dando trabalho fora de quadra, quando negociado. O que pega é que Richardson também tinha um histórico problemático e público. Não duraria nem quatro meses com o Warriors, sendo repassado para o Nets. Um caso triste de desperdício de talento – era um jogador tão veloz com a bola quanto John Wall no auge, segundo consta –, o armador passou pelo programa de reabilitação da liga e ainda assim foi pego, depois, em três testes pelo exame de cocaína. Foi banido e acabou conduzindo sua carreira na Europa.

3) Run TMC, e poderia ser melhor
Se, na NBA, há um consolo para times que fracassam em negociações e, por consequência, não se cansam de perder em quadra é que eles têm oportunidades melhores de se reforçar via Draft. E, na virada dos anos 80 para os 90, a franquia até caprichou em seu recrutamento, escolhendo Tim Hardaway, Mitch Richmond e Tyronne Hill por três temporadas seguidas. Em 1992, ainda conseguiriam Latrell Sprewell. Os dois primeiros se juntariam a Chris Mullin para formar o cébre trio Run TMC, sob o comando de Don Nelson, com um basquete vistoso, empolgante e competitivo. Até por isso foi difícil de entender duas trocas que o clube fechou com o Seattle Supersonics em 1989.

Alô? É do Warriors?

Alô? É do Warriors?

No recrutamento daquele ano, o Warriors cedeu os direitos sobre Dana Barros, o 16º calouro, em troca de uma escolha de primeira rodada, em 199 . Tudo bem. Já tinham Hardaway garantido. Um mês e meio depois, no entanto, eles devolveram o pick a Seattle para contratar o pivô Alton Lister. Era um grandalhão de 2,13 m que vinha de médias de 8,0 pontos, 6,6 rebotes, 2,2 tocos em 22 minutos. Tinha boa presença defensiva, algo de que a equipe carecia no garrafão, mas era muito limitado. Pior: faria apenas três jogos naquela temporada, devido a uma lesão. Em quatro temporadas em Oakland, devido aos problemas físicos, disputaria apenas 126 de 328 partidas possíveis. E que fim levou a escolha de Draft? Foi a segunda geral em 1990, rendendo Gary Payton ao Sonics. (OK, jogar com dois armadores naquela época não era algo tão usual, por mais que Payton pudesse marcar ala-armadores tranquilamente. No mínimo, viraria uma bela moeda de troca. Em 1992, ao lado de Shawn Kemp, Payton eliminaria o Warriors nos playoffs da Conferência Oeste, por ironia.

Em 1991, Nelson inexplicavelmente mandou Mitch Richmond para Sacramento, em troca do ala novato Billy Owens, o quinto do Draft. Owens era versátil, mas não gostava de treinar muito. Em 1995, já estaria defendendo o Miami Heat, numa negociação pelo pivô Rony Seikaly – o time da Flórida ainda receberia os direitos sobre o sérvio Sasha Danilovic (que seria um excepcional substituto para Richmond…). O libanês estava alguns degraus abaixo dos superpivôs da época, mas era competente. Sofreu com lesões, porém, em dois anos e foi repassado ao Orlando Magic.

4) A novela Chris Webber
Em 1993, Orlando Magic e Golden State Warriors fecharam uma troca  para lá de intrigante e que fazia muito sentido: uma inversão entre as primeira e terceira escolhas do Draft. O melhor novato disponível era o ala-pivô Chris Webber – muito badalado vindo da Universida de Michigan. Ele poderia jogar ao lado de Shaquille O’Neal? Certamente. Mas o Orlando estava de olho no armador Anfernee Hardaway. Quando o Philadelphia 76ers optou pelo espigão Shawn Bradley em segundo, “Penny” sobrou para o Golden State, que já tinha um Hardaway talentoso do seu lado. Para compensar, o Warriors ainda mandou três escolhas futuras de primeira rodada. C-Webb fez uma primeira campanha estrondosa em Oakland ao lado de um time tão ou mais divertido que o Run TMC. Caíram na primeira rodada contra o Phoenix Suns, atual campeão do Oeste, mas tinham uma base promissora para se desenvolver, tendo Gregg Popovich como assistente técnico.

Acontece que Webber arrumou confusão. Disse que não queria mais jogar como pivô (o nominal “5”, mesmo que o sistema de Nelson ignorasse essas convenções) e exigiu uma troca. O detalhe é que o jovem astro tinha como pressionar o clube, pois havia conseguido incluir uma cláusula de rescisão contratual para o final da temporada de calouro. Inacreditável. Foi aí que Nelson fechou a troca por Seikaly, para tentar acalmar as coisas – mas não sem antes entrar num bate-boca público. O ala-pivô manteve sua decisão até forçar uma negociação com o Washington Bullets, por Tom Gugliotta e três escolhas futuras, nenhuma das quais seria devidamente aproveitada. “Googs” jogou apenas um ano e meio pelo Golden State, até ser mandado para o Minnesota Timberwolves em troca de Donyell Marshall. O ala defendeu o Warriors até 2000, com médias de 11,1 pontos e 6,8 rebotes, quando foi trocado por Danny Fortson e Adam Keefe. Que tal?

5) O estrangulamento
Sprewell entrou em um timaço. Mullin, Hardaway, Webber, Nelson como técnico. Após o fiasco nas negociações com Webber, no entanto, o técnico e gerente geral pediu demissão. Ele fracassaria em Nova York, mas ainda teria muito sucesso como comandante do Dallas Mavericks, que seria reerguido como potência do Oeste ao final da década. Se ao menos Gregg Popovich estivesse por ali…. Mas o assistente se mandou em 1994 para San Antonio. Rick Adelman, que havia sido duas vezes vice-campeão pelo Portland Trail Blazers, assumiu o time, mas a depressão nos bastidores do clube era grande. Em dois anos, com um elenco em frangalhos (Hardaway foi trocado para Miami, Mullin já estava quebrado), ainda conseguiu um aproveitamento de 40%, até se mandar e reinventar o Sacramento Kings, ao lado de Webber. Em 1997, foi a vez de PJ Carlesimo ser contratado como treinador, mais um vindo de Portland.

Carlesimo e Sprewell: um dos incidentes mais absurdos da história da NBA

Carlesimo e Sprewell: um dos incidentes mais absurdos da história da NBA

A essa altura, Sprewell, um sujeito introspectivo e intempestivo, já estava para lá de frustrado e não aceitou bem o estilo exigente, mandão do novo técnico. Na primeira pré-temporada em que trabalharam juntos, em um dia em que alegou estar sem paciência, o ala simplesmente estrangulou o treinador por volta de 10 a 15 segundos. Segundo relata a Sports Illustrated, “alguns jogadores não tiveram pressa alguma” para interferir. O jogador foi, então, levado para o vestiário, para, 20 minutos depois, tentar atacar novamente o técnico. O Golden State suspendeu o ala por 10 dias e, depois, optou por romper o contrato. Na Justiça, Sprewell validou seu contrato. Obviamente, não havia como segurá-lo no time, e aí em 1999, ao retornar de suspensão, foi trocado para o New York Knicks, por John Starks, Chris Mills e Terry Cummings. No Madison Square Garden, também virou ídolo e seria campeão do Leste de imediato.

Obviamente não há negociação errada, comportamento de um técnico que justifique o ato de Sprewell. Mas a agressão simbolizava o caos por que passava a franquia.

6) Gangorra
Vocês se lembram a troca de Penny Hardaway por Chris Webber, certo? No Draft de 1999, o Golden State Warriors tentou repetir o movimento, numa transação envolvendo Antawn Jamison e Vince Carter. Seguido o exemplo de seis anos atrás, era de se imaginar a diretoria liderada por Gary St. Jean estivesse adquirindo Carter em troca de seu ex-companheiro da Universidade da Carolina do Norte, certo? Errado. O acrobático e explosivo Carter caiu no colo da franquia na quinta colocação, mas eles estavam interessados em Jamison, fechando então um negócio com o Toronto Raptors. O impacto que o ala causou no clube canadense é hoje considerado um fator primordial na explosão de talento de primeiro nível no país de Andrew Wiggins.

Jamison era um cestinha de jogo vistoso, classudo, mas de eficiência questionável e que não justificava sua deficiência nos rebotes e defesa. Ainda assim, teve seu contrato renovado em 2001 por US$ 85 milhões e seis temporadas. Não chegou ao final do vínculo, claro, sendo enviado ao Dallas Mavericks em 2003, rendendo em contrapartida o acabado Nick Van Exel e outros veteranos que só foram incluídos para validar o negócio financeiramente (Avery Johnson, Evan Eschmeyer, Popeye Jones e o francês Antoine Rigaudeu, que nem nos Estados Unidos estava mais). Um desastre.

7) Arenas, mais um a partir
A história se repete. Quando Gilbert Arenas saiu da Universidade do Arizona em 2001, não era um jogador bem cotado pelos scouts e dirigentes. Eles questionavam seu comportamento excessivamente infantil e acreditavam que ele não tinha uma posição definida, perdido entre um armador e um ala. A maioria dos observadores se equivocou profundamente. A habilidade do futuro Agente Zero com a bola se impôs rapidamente na liga. O sucesso foi tamanho que… complicou a vida do clube.

O melhor (e pior) do Agente Zero ficou para o Washington Wizards, mesmo

O melhor (e pior) do Agente Zero ficou para o Washington Wizards, mesmo

Sem apostar tanto assim no calouro, o Warriors firmou com ele um contrato de apenas dois anos. O jovem astro se tornou um agente livre restrito rapidamente, então. Seu potencial era evidente, de modo que recebeu uma proposta fabulosa do Washington Wizards. O Warriors não tinha condições de cobrir a oferta, mesmo que quisesse, devido ao estado precário de sua folha salarial (caríssima, congestionada, cheia de jogadores pouco atrativos que pudessem ser trocados para abrir espaço). Apesar das loucuras que cometeria anos mais tarde, Arenas foi superprodutivo em seus primeiros anos na capital americana e ajudou a revitalizar o clube na Conferência Leste, ao lado de Larry Hughes, outro talento do Golden State que havia sido surrupiado.

8) Custo x benefício
Para um time que só teve duas temporadas com aproveitamento acima de 50% nos anos 2000 (42-40 em 2007 e 48-34 em 2008), chegando aos playoffs uma única vez, o Golden State Warriors arcou com alguns dos contratos mais absurdos do período. Se você juntar os salários de gente como Jamison, Erick Dampier, Adonal Foyle, Derek Fisher, Corey Magette, Andris Biedrins, dava mais de US$ 310 milhões no total. Só em seis jogadores que eles procuraram no mercado na década passada. Os gastos gerais, obviamente, são muito maiores.

9) Atirando para todos os lados
Mullin, Hardaway, Richmond, Sprewell… Grandes acertos no Draft, na certa. Em 2001, conseguiram de uma vez só Jason Richardson, Troy Murphy e Gilbert Arenas. Monta Ellis 40º em 2005. Para aplaudir, novamente. Stephen Curry foi um presente do Minnesota Timberwolves em 2007. Agora, a lista de fiascos do Golden State Warriors no Draft é clamorosa, como diria o Carsughi, principalmente para um time que esteve tantas vezes presente na loteria. Não vamos nem contar aqui as escolhas trocadas, como a de Payton em 1990, mas apenas as efetuadas pelo clube, levando em conta os outros nomes que estavam disponíveis. Confira:

O'Bryant fez apenas 40 jogos e 60 pontos pelo Warriors

Sensação do torneio da NCAA, O’Bryant fez apenas 40 jogos e 60 pontos pelo Warriors

1995 – 1º –  Joe Smith – Kevin Garnett, Rasheed Wallace, Antonio McDyess, Jerry Stackhouse e Michael Finley foram escolhidos depois
1996 – 11º – Todd Fuller – Kobe Bryant, Steve Nash, Jermaine O’Neal, Peja Stojakovic, Zydrunas Ilgauskas e Derek Fisher vieram depois
1997 – 8º – Adonal Foyle – Tracy McGrady saiu em nono
2003 – 11º – Mickael Pietrus – Boris Diaw, David West, Josh Howard, Leandrinho, Nick Collison disponíveis
2005 – 9º – Ike Diogu – Andrew Bynum saiu em décimo; Danny Granger disponível
2006 – 9º – Patrick O’Bryant – Rajon Rondo, Kyle Lowry, JJ Redick,
2007 – 8º – Brandan Wright – Joakim Noah saiu em nono…
2008 – 14º – Anthony Randolph – Serge Ibaka, Ryan Anderson, Roy Hibbert, Robin Lopez, Nicolas Batum, Kosta Koufos na pinta
2010 – 6º – Epke Udoh – Greg Monroe saiu em sétimo… Gordon Hayward, em nono e Paul George, em décimo.

10) Vaias, vaias e mais vaias
Joe Lacob, se você for pensar, não tinha nada com isso. Ele comprou a equipe de Chris Cohan em julho de 2010. Sua gestão não tomou parte dos nove tópicos acima. Mas, em 2012, quando ele foi para o centro da quadra na Oracle Arena para fazer uma homenagem a Chris Mullin, foi vaiado pelos torcedores de modo inclemente. A galera simplesmente não deixava o discurso ir adiante. A coisa só parou quando o próprio Mullin, com a ajuda de Rick Barry, pediu para que se acalmassem. Era muita mágoa represada, é verdade, mas também havia uma frustração clara com o novo proprietário, que, antes de aquela temporada começar, havia prometido (ao vivo e a cores e por e-mail) que o clube voltaria aos playoffs. Mesmo que sua base fosse jovem e ainda estivesse no início de sua evolução defensiva sob o comando de Mark Jackson. Em março, estava claro que era mera bravata de Lacob, e que o Warriors não tinha como sonhar com uma vaga nos playoffs, e que, para piorar, era obrigado a entregar jogos na reta final com o intuito de preservar sua escolha de Draft: caso ficasse fora do top 7, ela seria destinada ao Utah Jazz – reflexo de mais uma transação atrapalhada do passado, dessa vez pelo armador Marcus Williams, que disputou apenas seis partidas pelo time e hoje está na Europa.

O interessante é isto: o artigo de Simmons foi publicada em 21 de março de 2012, repercutindo justamente essas vaias. Três anos depois, cá estamos diante do time mais badalado da liga americana, com uma das campanhas mais impressionantes da história. Lacob pode ter cometido uma gafe daquelas ao anunciar um time competitivo naquele ano, mas, logo no campeonato seguinte, veria seu projeto bem encaminhado. Como conseguiram isso?

Com um pouco de sorte, algo que não dá para se relevar nunca. se David Kahn tivesse preferido Steph Curry a Jonny Flynn, qual seria o curso da história? Mas também com decisões práticas e inteligentes, como na montagem de uma diretoria plural, com diversas personalidades fortes, mas de formações diferentes, gerenciada por Bob Myers, um dos tantos agentes que viraram a casaca nos últimos anos. Entre as cabeças pensantes, destaque também para um vencedor como Jerry West, a quem convenceu que deixasse a aposentadoria de lado para ser con$ultor. Tudo o que ele toca vira ouro, gente.

O aproveitamento no Draft tem sido excelente. De 2011 para cá, o Warriors apostou em Klay Thompson (11º em 2011, numa cotação acima do que os especialistas previam) e fez a rapa em 2012, com Harrison Barnes (a sétima escolha, que quase foi do Utah), Draymond Green (um hoje inacreditável 35º lugar) e mesmo Festus Ezeli (bastante útil para quem foi selecionado em 30º). Apenas o sérvio Nemanja Nedovic, 30º em 2013, não vingou – o clube abriu mão do jovem armador muito cedo, mas foi mais uma decisão financeira, para evitar multas e permitir a contratação de atletas prontos para completar a rotação agora. No ano passado, não tinha escolhas.

Isso pelo fato de ela ter sido enviada para o Utah Jazz, mas não pela transação de Barnes – e, sim, em outro rolo mais ambicioso, numa troca tripla que resultou na chegada de Andre Iguodala. Foi um movimento surpreendente do Warriors, que se desfez dos salários de Richard Jefferson, Andris Biedrins e Brandon Rush para criar o espaço necessário para a absorção do volumoso contrato do talentoso ala. Outro jogador caro que foram buscar, mais desacreditado no mercado, é verdade, foi Andrew Bogut, o pivô ‘xerifão’ que buscavam desde, hã, 1994, assumindo um risco, devido ao seu histórico hospitalar preocupante. De qualquer forma, não dá para ignorar o fato de que também se desfizeram nessa de Monta Ellis, figura que limitaria o progresso de Thompson e, principalmente, Curry, com quem também assinaram um acordo  questionável em 2012: uma extensão contratual de quatro anos por US$ 44 milhões. Hoje, esse vínculo talvez seja a maior pechincha da NBA.

Os movimentos mais importantes da gestão, contudo, parecem ser aqueles que eles não fizeram. Para começar, deixaram que valiosos reservas como Jarret Jack e Carl Landry partissem, depois de eles terem se valorizado excessivamente em Oakland. Até que, no ano passado, resistiram bravamente à tentação de enviar Thompson para Minnesota, em troca de Kevin Love. Aqui não tem nada de sorte. Houve intensos debates a respeito, com Lacob pressionando para que levassem o negócio adiante, enquanto Jerry West era veemente contra, assim como Steve Kerr.

Kerr, aliás, é outra história. O estreante treinador estava apalavrado com Phil Jackson e o New York Knicks, mas o Warriors se movimentou apressadamente, com um certo desespero, para demitir Mark Jackson, apenas quatro dias após a derrota para o Los Angeles Clippers, pela primeira rodada dos playoffs. Jackson havia acumulado 121 vitórias e 109 derrotas no cargo. Era o treinador mais bem-sucedido do clube desde a primeira era Don Nelson. Uma decisão complicada, mas motivada pela quebra de confiança na relação entre a comissão técnica e a direção, mas também pelo feeling de que Kerr seria o homem certo para dar o próximo passo. Adiantando a fita um ano, não há muito o que contestar. A maré virou para o Golden State, e o torcedor mais fanático pode dizer que este é um karma dos bons, mais que merecido. Espiem novamente a lista acima e ousem discordar.

PS: Nesta quinta, a trajetória do Cleveland Cavaliers em torno de LeBron James.


‘Geração Nenê’ consegue reconhecimento tardio com 2º título em 2 anos
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Giancarlo Giampietro

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Varejão e Leandrinho: mais um brasileiro sairá campeão de quadra

A partir do momento em que o Golden State Warriors terminou o serviço na Conferência Oeste, despachando o Houston Rockets para se classificar à final, ficou definido que mais um brasileiro se juntaria a Tiago Splitter na lista de campeões da NBA: ou vai dar Leandrinho, ou Anderson Varejão, com seu Cleveland Cavaliers. Demorou um pouco, é verdade, desde que Nenê chegou a Denver em 2002 para reabrir as portas da liga americana aos jogadores nacionais. Mas, com dois títulos em dois anos seguidos, essa geração de 1982 a 85, um tanto contestada pela falta de sucesso com a camisa da seleção, trata de confirmar seu valor.

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Não, nenhum deles alcançou um status transcendental como o da dupla Manu Ginóbili e Luis Scola, ainda que Splitter já tenha sido eleito o melhor pivô da Espanha (e da Europa), que Leandro já tenha ganhado um prêmio de Sexto Homem (tal como Manu), e que, juntos, tenham ganhado, só nos Estados Unidos, mais de US$ 208 milhões em salários – sem contar os US$ 92 milhões que ainda estão por cair na conta. Se as franquias decidiram desembolsar tanta grana assim por quatro atletas, é que com algo de positivo eles podem contribuir. Creio. Mesmo que coadjuvantes.

Bons times não são compostos apenas por grandes estrelas. Se bem que… Qualquer treinador adoraria escalar cinco LeBrons… Ou, imaginem, que pesadelo seria marcar cinco atletas com a habilidade de Steph Curry no arremesso. Mas, hã, isso é impossível. Esses caras são aberrações, que você não encontra facilmente por aí. Os dirigentes têm, então, de se virar para encontrar as melhores peças complementares possíveis, enfrentando concorrência pesada e também tendo de se adequar  regras de controle das folhas salariais. É aí que entram os dois finalistas deste ano, além do campeão Splitter e de Nenê.

Eles têm algumas características em comum – especialmente os pivôs, os três muito inteligentes, com visão de quadra, excelentes no corta-luz e no passe – e outras habilidades bastante específicas que os tornam jogadores cobiçados e valiosos na confecção de um elenco. Lembrando que, numa liga de padrão elevadíssimo, mesmo os ‘operários’ tendem a ser bastante qualificados e, quando atingem um nível de excelência naquilo que são contratados para entregar, acabam muito bem pagos.

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Esse quarteto ganhou uma nota, é verdade – e acumularam também muitas vitórias, aquilo que, supomos, vale mais. É interessante notar como no currículo de Leandro, Varejão, Nenê e Splitter estão relacionadas equipes que prosperaram na maior parte do tempo. Com uma boa ajuda do Basketball Reference, dá para levantar precisamente o quanto elas venceram com a ajuda dos brasileiros. Então vamos lá: com 4o campanhas acumuladas entre os quatro, apenas em nove delas seus times tiveram aproveitamento inferior a 50% quando estavam em quadra, enquanto em 27 ocasiões foram para os playoffs.

aproveitamento-brasileiros-nbaSão quatro temporadas negativas para Varejão (no intervalo sem LeBron em Cleveland de 2011 a 2014), três para Leandrinho (a primeira em Phoenix em 2003, uma em Toronto em 2011 e outra dividida entre Toronto em Indiana em 2012) e apenas duas para Nenê (a primeira pelo Denver em 2002 e a de 2013 pelo Washington – tomando o bom senso de ignorar sua campanha 2005-06, na qual disputou apenas um jogo, sofrendo grave lesão no joelho logo na primeira partida). Splitter, no bem bom de San Antonio, tem um aproveitamento de 72,3% nas partidas que disputou (veja mais ao lado). No total, eles somam 2.329 partidas, com 1.366 vitórias, com aproveitamento de 58,6%. Para relativizar, esse número valeria a quinta colocação na Conferência Leste na atual temporada, ou o oitavo lugar no duríssimo Oeste.

O Golden State Warriors de Leandrinho, esteve bem acima dessa média, com 81,7% para entrar na decisão com mando de quadra. Nas 66 partidas em que escalou Kerr, o rendimento foi um tiquinho superior (81,8%). Quando vai para quadra, joga 11 minutos por partida durante os playoffs, rendendo Stephen Curry ou Klay Thompson. Varejão está fora de ação em Cleveland, devido a uma cirurgia no tendão de Aquiles que interrompeu sua vitória em dezembro. Quando jogou, em tempos de turbulência pré-folga de LeBron e trocas, foram 16 vitórias e 10 derrotas (61,5%, contra os 64,6% do final). Mas os poucos minutos e jogos não só não condizem com a história que os dois (e seus compatriotas) construíram nos últimos 13 anos de NBA, como também não diminuem a importância de ambos em seus grupos.

“Acho que se fôssemos fazer uma eleição no nosso time sobre quem seria o atleta mais popular, ele ganharia. É um cara divertido e que está sempre dando atenção a todos. Ele proporciona muita energia para o nosso time, energia no dia a dia para o vestiário, o que é sempre muito bom e importante”, afirmou ao VinteUm Alvin Gentry, recém-contratado pelo New Orleans Pelicans, mas ainda assistente do Warriors nas Finais da NBA que começam na próxima quinta-feira. Pergunte a LeBron James sobre o impacto que Anderson Varejão pode causar no dia a dia de um clube, também com muito carisma e empenho inesgotável. “Ele foi uma parte gigante no sucesso que tivemos no passado aqui, e, quando tomei a decisão para voltar, fiquei muito feliz que ainda fizesse parte do time”, disse durante a pré-temporada no Rio.

spurs-splitter-campeao-2014Não é apenas como ombro amigo que se ganha relevância. Varejão, obviamente, fica limitado a esse papel nas próximas semanas. Quando está em quadra, porém, sabemos que se trata de um dos melhores reboteiros e defensores entre os grandalhões da liga, além de ótimo passador. Leandrinho, por outro lado, tem sido produtivo nos minutos que lhe cabem como reserva de dois All-Stars, com 7,1 pontos em 14,9 minutos, com 47,4% nos arremessos (a melhor marca desde 2009) e 38,4% de três pontos (a melhor desde 2008). Numa projeção por 36 minutos, se mantivesse o ritmo, estaria com 17,1 pontos, 3,6 assistências, 3,3 rebotes e 1,5 roubo de bola. Em termos de eficiência, atingiu aos 32 anos o quarto melhor índice de sua carreira.

Os números caíram de modo significativo nos playoffs, mas o veterano ainda conta com a confiança de seu técnico em duelos importantes, de pressão. Por isso, já deve ficar de prontidão nas próximas 48 horas,  dependendo da avaliação médica de Klay Thompson. O ala ainda está sendo examinado de acordo com o protocolo de concussão da liga e não tem escalação garantida para o Jogo 1 em Oakland. Num cenário ideal, Kerr não vai precisar acionar o ligeirinho. Mas sabe que o ala-armador está jogando com muita velocidade e um nível de intensidade, agressividade fora do comum. Características tão ou mais importantes que as estatísticas. Menos do que uma lenda viva como Ginóbili ofereceu ao Spurs com frequência, desde 2003, quando estrearam juntos nos Estados Unidos. Normal, ué. Manu é outro que está na galeria dos diferentes, daqueles em torno do qual você pode montar um belo time. Sozinhos, contudo, eles não vão a lugar nenhum. Na escolta, pode muito bem caber um dos brasileiros.


Em números: as finais da NBA entre Warriors e Cavs
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Giancarlo Giampietro

LeBron x Iguodala, Cavs x Warriors

Golden State Warriors e Cleveland Cavaliers ainda têm alguns dias de descanso pela frente. Só vão jogar na próxima quinta-feira, em Oakland. Até lá, dá muito temp para que suas comissões técnicas e dirigentes processem uma penca de números para encaminhar o estudo para a disputa pelo título. Aqui, fazemos um apanhado estatístico diversificado sobre a produção dos dois finalistas da NBA 2014-2015 durante os playoffs, além de alguns dados de contexto histórico:

73 – Stephen Curry já converteu 73 arremessos de três pontos nestes playoffs, um recorde absoluto. Já são 15 a mais do que o segundo colocado na lista, Reggie Miller. Se formos pensar apenas nos atletas da atual campanha, quem aparece na vice-liderança é justamente seu companheiro de perímetro, Klay Thompson, com 45. James Harden é o terceiro, com 41.

Ricky Barry era o Steph Curry do Warriors há 40 anos: um excepcional arremessador e All-Star

Ricky Barry era o Steph Curry do Warriors há 40 anos: um excepcional arremessador e All-Star

40 – Essas vocês já ouviram antes: é a primeira decisão do Golden State Warriors depois de 1975, em 40 anos. Isso equivale ao maior intervalo entre duas aparições nas finais da NBA. Para o Cleveland, a espera foi bem mais curta – oito anos, depois de LeBron e Varejão terem disputado a decisão de 2007. São os únicos remanescentes daquela campanha, com a diferença de que o craque do time tirou férias prolongadas em South Beach no meio do caminho.

37 – Shawn Marion, quem diria, é o jogador mais velho dos dois elencos que disputam o título. O ala que um dia foi conhecido como Matrix, devido a sua incrível habilidade atlética, nasceu em 7 de maio de 1978. O pivô Brendan Haywood, também do Cavs, é o segundo mais velho, com 36 anos (faz aniversário em novembro). Quer saber quem é o vovô no elenco do Warriors? Leandro Mateus Barbosa. Sim, o Leandrinho, nascido em São Paulo no dia 28 de novembro de 1982.

35,8% – É o percentual de arremessos do Golden State Warriors que vem atrás da linha de três pontos, acima da dos 31,1% que havia tentado durante a temporada regular. O Cavs aparece logo em sequência, todavia, até num empate técnico, com 35,6%. Em termos de aproveitamento, o Golden State tem acertado 38%, o segundo melhor. O Cleveland é o quinto, com 35,9%. Em termos de chutes da zona morta, o famoso corner three, o Warriors vem convertendo 46,4%, contra 40,2% do Cavs.Curiosamente, os dois times são aqueles que melhor se defendem contra arremessos de longa distância. O Cavs permitiu aos seus oponentes apenas 28,1% de acerto aos seus oponentes, enquanto o Warriors levou 31%. Vale destacar, no entanto, que ambas as equipes enfrentaram alguns times fracos nesse fundamento, como Boston Celtics, Milwaukee Bucks, Memphis Grizzlies e New Orleans Pelicans.

31,2 – Foi a média de pontos de Stephen Curry na série contra o Houston Rockets, valendo o título do Oeste. LeBron James anotou 30,3 pontos. Nos mata-matas, as médias foram de, respectivamente, 29,2 e 27,6. Na temporada regular, 23,8 e 25,3.

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30,5% – É o percentual dos arremessos que o Golden State busca na área restrita ao redor do aro. O jogo lá dentro, mesmo, com os chutes de maior eficiência, e o aproveitamento do time de Steve Kerr nesta área é de 63,9%. Os números do Cavs são, novamente, muito semelhantes: respectivamente 29,8% de seus chutes próximos ao aro, com rendimento de 61,9%. Na hora de comparar esses dados, é importante lembrar apenas que cada time enfrentou adversários diferentes.

Klay para três: o segundo que mais acertou de fora nestes playoffs

Klay para três: o segundo que mais acertou de fora nestes playoffs

28,5% – O Cleveland Cavaliers coleta 28,5% dos reboetes ofensivsos em suas partidas, mesmo com Kevin Love caindo no meio do caminho. O Golden State Warriors aparece em segundo, com 27,5% (o Dallas Mavericks, com 28,1%, aparece entre eles, com muito menos jogos). Tristan Thompson é quem tem o melhor aproveitamento neste fundamento entre aqueles que disputaram ao menos duas séries, com 13,4% das rebarbas quando está em quadra. Timofey Mozgov aparece em terceiro, com 12,1%.

21,6 – O Golden State Warriors tem marcado 21,6 pontos por contra-ataque nesta fase decisiva, com o maior rendimento. É uma vantagem significativa em relação ao Cleveland Cavaliers, o penúltimo, com apenas 7,4. O interessante é que quando o Cavs sai em transição, é na boa: convertendo 1,27 ponto por investida em transição,  a melhor nesta fase.

14,7 – Sem Kevin Love, com Kyrie Irving estourado… Tem sido um LeBron James muito mais agressivo. O craque do Cavs lidera os playoffs em 14,7 infiltrações com a bola por jogo, ocupando a primeira colocação nesse tipo de ataque. Stephen Curry tem 7,8 infiltrações, sendo o 15º na lista. Para comparar, James bateu para a cesta 9,8 partidas para a temporada regular, contra 5,7 de Curry.

LBJ, atacando o aro na hora do vamos ver

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10,7 – LeBron partiu para a finalização em jogada individual, isolado em quadra, em 140 posses de bola nos playoffs, com média de 10,7 por jogo. Mais que o dobro do Chef Curry (51 posses em 14 partidas, média de 3,6). Curry, porém, tem melhor aproveitamento, acertando 42,1% de seus arremessos nesse tipo de ocasião, contra 32,5% de James.

10 – Em 15 partidas nestes playoffs, Draymond Green já conseguiu 10 double-doubles. Ótima fase? Grande esforço? Para se ter uma ideia, em 240 compromissos pela temporada regular da NBA, o ala-pivô havia conseguido apenas dois duplos-duplos. Suas médias nos mata-matas subiram de 11,7 pontos, 8,2 rebotes e 3,7 assistências para 14,0, 10,8 e 5,3, respectivamente.

7 – O Cavs chega para brigar pelo título com sete triunfos em sequência – um abaixo de sua melhor marca nos playoffs.

5 – De 29 partidas feitas por Warriors e Cavs nestes playoffs, eles perderam apenas cinco. A campanha combinada de 24 triunfos e 5 revezes é a melhor desde os finalistas de 1991: o Chicago Bulls de Phil Jackson e Michael Jordan e o Los Angeles Lakers de Mike Dunleavy e Magic Johnson. Naquela ocasião, somavam, respectivamente, 22 e 4. Com um detalhe: a primeira rodada dos mata-matas era definida em sistema melhor-de-cinco. Tanto o Bulls como o Lakers varreram seus primeiros oponentes (Knicks e Rockets) por 3 a 0. O Bulls havia perdido apenas uma partida, pelas semifinais, contra o Philadelphia 76ers de Charles Barkley. Avançando para 2015, o Cavs cedeu dois jogos no duelo com Chicago pelas semis, enquanto o Warriors perdeu duas vezes para Memphis e uma para Houston.

Está difícil de ganhar do Warriors em Oakland

Está difícil de ganhar do Warriors em Oakland

3 – Com mando de quadra na série final, o Golden State Warriors sofreu apenas três derrotas em casa nesta temporada, em 49 jogos. É a melhor campanha de um anfitrião neste ano, e uma das melhores da história entre os finalistas. Apenas dois times entraram na decisão com menos derrotas: o Boston Celtics de 1986, rumo ao título, perdeu apenas uma vez no antigo Garden, para o Portland Trail Blazers, por 121 a 103, e o Chicago Bulls de 1996, o das 72 vitórias, que sofreu apenas dois reveses em sua jornada. Duas equipes legendárias.

0,7 – Com três assistências a mais na final do Leste contra o Atlanta Hawks ou 0,7 em média, LeBron James teria sido o primeiro jogador na história a ter médias superiores a 30 pontos, 10 rebotes e 10 passes para a cesta numa série de playoff. Acabou terminando com 30,3, 11,0 e 9,3, respectivamente.

0 – Nenhum jogador do Warriors disputou uma edição das finais da NBA. Zero, mesmo. Seria este um dado preocupante? Talvez. Mas, entnao, qual foi o último time a chegar a uma decisão nessas condições? O mesmo Bulls aqui já citado, o de 1991, com Michael Jordan, Scottie Pippen, Horance Grant, Bill Cartwright e John Paxson todos estreando. É que os Bad Boys do Detroit Pistons simplesmente não os deixava avançar. Quando o Bulls passou, levou. Em Cleveland, LeBron James já vai para a sua quinta final consecutiva, é verdade – sendo o primeiro atleta da liga a conseguir essa façanha desde diversos nomes do dinástico Boston Celtics em 1966. James Jones, seu amigão, o assessorou em todas as quatro decisões anteriores também. Mike Miller jogou nas de 2011 a 2013. Kendrick Perkins foi campeão pelo Celtics em 2008 e vice-campeão em 2012, enquanto Shawn Marion ganhou a de 2011.