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Lesão de Curry: não é o pior dos cenários, mas aflige o Warriors
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Giancarlo Giampietro

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Pegue aí qualquer uma dessas frases prontas, de efeito, que você provavelmente ouviu primeiro de seu avô, do coordenador pedagógico do ginásio ou no balcão da padaria, enquanto o sanduba não sai da chapa: “A vida é injusta”, “nada dura para sempre”, “na vida, você tem de brigar por aquilo que é seu”, e por aí vamos.

Quando um jogador como Stephen Curry se lesiona, talvez seja o caso de se apegar a este tipo de mensagem, mesmo, já que “a vida não pode parar”. Depois de escorregar em quadra em Houston e torcer o joelho, o MVP da temporada 2015-16 da NBA foi submetido a uma ressonância magnética nesta segunda-feira, e o diagnóstico tem efeito, no mínimo, ambíguo. Não foi o pior dos cenários para o Golden State Warriors. Mas foi o suficiente para ameaçar seriamente a campanha rumo ao bicampeonato. O que deu? Uma distensão no ligamento colateral medial do joelho direito, que liga o osso da coxa ao da canela. Como foi de primeiro grau, isso geralmente significa que houve dano mínimo a algumas fibras do ligamento — a de terceiro grau significaria a ruptura total. Você em geral nem sente dor quando se aperta, mas há inchaço e incômodo, uma falta de estabilidade. Haja compressa de gelo, almofada, anti-inflamatório e afins.

De acordo com o anúncio oficial, estima-se que Curry precise de aproximadamente de duas semanas para ser reavaliado. Uma pessoa se recupera em ritmo diferente da outra, mas é preciso cuidado, para que o jogador não volte de modo precoce às quadras, com o risco de sofrer algum dano permanente. Zeloso do jeito que o Golden State Warriors é, difícil que aconteça, mesmo que numa situação de angústia e pressão como essa. Ainda mais quando estamos falando de uma figura transcendental como Steph. A NBA não vai encerrar suas atividades em junho. Por outro lado, existe a vontade do jogador, que não quer virar as costas para seus “irmãos”, que acredita que qualquer lesão é superável e que talvez até mesmo dependa dessa autoconfiança para atingir o nível que atingiu, depois de duas cirurgias de tornozelo. Complicado julgar qualquer coisa, mas a cautela, quando o assunto é saúde, parece sempre o melhor caminho, mesmo que o duelo sorte x azar sempre esteja por aí, não importando o quão competente é o seu departamento de basquete.

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Alheios, de momento, a essas questões, o gerente geral Bob Myers, o técnico Steve Kerr e cada membro do estafe e do elenco obviamente torcem para que sua reabilitação seja rápida. Também há toda uma estrutura e um orgulho dentro da franquia para que isso não vire uma enorme distração ou uma desculpa. Agora, claro, quanto mais demorar a série entre o Los Angeles Clippers e o Portland Trail Blazers, melhor. Embora ninguém vá dizer isso em público, Jogo 7 no confronto é o que há, para Golden State.

Dois All-Stars, pré-convocados para o Team USA, com bom retrospecto como dupla na temporada regular. Mas serão testados

Dois All-Stars, pré-convocados para o Team USA, com bom retrospecto como dupla na temporada regular, quando Curry esteve fora. Mas serão testados para valer nas próximas semanas

De qualquer forma, para muitos dos jogadores do Warriors, esse infeliz deslize de Curry representa mais uma oportunidade para provarem seu valor, de tanto que se sentiram desrespeitados antes de o campeonato começar. Não pensem que Draymond Green não está martelando esse conceito na cabeça de seus companheiros, a cada intervalo de treino ou de análise de análise de vídeo. Eles têm mais dois All-Stars, afinal, para assumir mais responsabilidades, e um elenco de apoio que se alternou em diversos momentos salvadores desde 2014. E muito mais:

– Andre Iguodala não vai poder mais ser um sexto homem de luxo, marcando o principal jogador adversário sabendo que vai respirar no ataque. No domingo, contra Houston, já deu uma espécie de resposta, anotando 22 pontos, 5 rebotes e 4 assistências, convertendo 9 de 11 arremessos. Mas, de novo, era o Rockets do outro lado, com um esforço patético. Em abril, voltando após 13 jogos, anotou, no total,  19 pontos no total, em cinco jogos. Durante a temporada, chegou aos 20 pontos em apenas três rodadas. A questão não é exatamente pontuar, mas também criar para os companheiros. “Play-making” geral.

– Shaun Livingston terá sua eficiência testada, com maior volume de jogo e mais atenção de defensores mais gabaritados que os de segunda unidade que se acostumou a encarar. Nestes playoffs, já vem com média de 9,5 arremessos por confronto, quase o dobro dos 4,9 que teve pela temporada, e segue com aproveitamento altíssimo (52,6% — de novo, contra o Rockets).

– Draymond Green também vai ter de operar muitas vezes com o condutor primário de bola, dessa vez sem a distração que Curry representa. Conseguirá ser um passador tão eficaz assim se as linhas estiverem mais congestionadas, ou se seu drible for atacado mais vezes por marcação dupla? Sem contar a energia que obrigatoriamente gasta do outro lado, algo necessário mesmo diante do Houston, para segurar um cara do porte físico de Dwight Howard.

– Klay Thompson não vai poder se contentar apenas com os chutes de fora. Também vai precisar botar a bola no chão e atacar as defesas. Tentar, no mínimo, sacudi-las, desequilibrá-las, e, para tanto, vai contar com a ajuda de um sistema que flui por conta própria, mesmo, com a bola girando rapidamente e sucessivos corta-luzes.

– Harrison Barnes poderia provar que, no ataque, é mais do que um chutador do lado contrário? Dois anos atrás, sob o comando de Mark Jackson, quando era acionado em diversas situações de isolamento, não deu muito certo. Conseguiu expandir seus movimentos, ou simplesmente curte a vida com a rebarba dos Splash Brothers?

Para os pivôs, não dá para pedir muito mais do que executam hoje. Bogut e Ezeli estão limitados a cestas de rebote ofensivo, mesmo, ou eventuais assistências na cara da cesta. Marreese Speights oferece chute, mas precisa de espaço para encaçapar. Vindo do banco, Leandrinho ainda pode produzir por conta própria em situações específicas, mais do que Ian Clark, mas o americano vem ganhando espaço com Kerr e tem sido ligeiramente mais eficiente.

Há números que apontam que o Warriors se saiu bem — muito bem, na verdade — nos  minutos que teve Draymond e Thompson em quadra, com Curry fora. Mas é muito complicado mergulhar nestes números. É trabalho para um analista muito mais capacitado e experiente no assunto, como Kevin Pelton, do ESPN.com. Foram 6,3 pontos por 100 posses de bola para esse tipo de combinação. Para comparar, isso é mais do que o Cavs conseguiu pela temporada regular e quase se equivale ao rendimento de OKC. O problema: estamos falando de 296 minutos, o que dá coisa de 6 jogos. Antes disso, mais importante é que aconteceu em temporada regular, algo totalmente diferente de um cenário de playoffs, com jogadores, jogadas e sistemas dissecados por cada vasta comissão técnica. Por fim, nem sempre eles estavam enfrentando os melhores quintetos adversários.

Um escorregão

Um escorregão

Também não dá para fazer muito mais drama. Está certo que é difícil encontrar paralelos com o drama que Golden State vive agora, já que estamos tratando do atual bi-MVP, o símbolo da franquia e de uma revolução, que acabou de concluir uma das campanhas mais espetaculares da história da franquia. Sim, Curry é tudo isso, e não há como, racionalmente, ser do contra aqui. Mas esta lesão acaba sendo só mais uma lista muito longa de desfalques na pior hora possível. Aqui está uma relação de dez casos do tipo, passando pela quase trágica ruptura de ligamento que Derrick Rose sofreu em 2012, numa série supostamente fácil, molezinha contra Philly, assim como é a do Warriors contra o Rockets hoje. Não precisa nem recuar tanto no tempo assim. O mesmo Warriors enfrentou um Cavs todo desfalcado no ano passado – ainda que não haja como comparar Curry com Irving e Love… Seria o mesmo que o Cavs ir para a final com estes dois (valendo por Draymond e Klay, em tese), mas sem LeBron.

 Agora, antes de qualquer outra coisa, os atuais campeões precisam eliminar o Rockets nesta quarta-feira. Houve quem sugerisse que o próprio time pudesse prolongar sua série. Praticantes do lunatismo, claro, por diversos motivos, sendo os principais deles a mera possibilidade de se abrir uma porta para James Harden e o desgaste desnecessário de Draymond, Klay e demais titulares. Além do mais, se estiverem na pior, um retorno de Curry, a essa altura, não é garantia de que ele possa salvar a equipe — como bem observou Tim Grover, “trainer” de Jordan, Kobe e Wade –, é possível que o armador volte, mas muito longe de sua forma ideal. “Na recuperação de Curry, o condicionamento físico vai importar porque seu jogo passa muito pela rápida mudança de direção. Uma fraqueza no tornozelo também pode ser um fator”, afirmou.

Não deixa de ser curiosa a espera, para ver como este timaço vai se comportar sem o melhor jogador do campeonato. Por mais cruel que seja escrever isto, também não deixa de ser irônico, depois que o proprietário do clube, Joe Lacob, teve a infeliz ideia de dizer à revista do New York Times que sua gestão estava “anos-luz à frente” da concorrência em termos de estrutura e estilo de jogo. Num perfil bastante elogioso, em que se gaba de muitas coisas, Lacob chegou muito perto de dizer que Curry seria um mero detalhe para o sucesso do time, algo que não pegou bem com o jogador, claro. Arrependido, o magnata se mexeu e, antes mesmo da publicação de grande reportagem, entrou em contato com o superastro para tentar se explicar. Agora, sua tese vai ser testada.

Nessa linha de colocações infelizes e eventualmente irônicas, também lembramos o que Doc Rivers disse no ano passado ao avaliar o título do Warriors. Basicamente, disse que eles haviam tido muita “sorte” não só por terem evitado lesões como por terem visto sua chave de playoff se enfraquecer sensivelmente devido à eliminação precoce dos times que mais os ameaçavam — como se a virada vexatória que o Clippers tomou Rockets fosse um acidente, e, não, incompetência de sua parte. Agora, desde que façam sua parte contra Portland, em uma série que não está nada definida, este núcleo terá uma boa chance para justificar parte da lógica de seu técnico-presidente. Do contrário, com uma hipotética derrota nesse ainda hipotético confronto num hipotético cenário sem Curry, reclamariam, chorariam do quê?

Aqui, a ideia não é censurar a liberdade de expressão e defender aquilo que é de mais extremo e chato dentro do universo politicamente correto. Acontece que, numa liga tão competitiva e exigente como a NBA, há momentos em que você deve medir suas palavras. Quem sabe a melhor saída não é apelar ao ditado popular da vez, do tipo: “A vida é longa. Nunca se sabe o dia de amanhã”?

: )

E vida que segue.

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A NBA inteira aguarda diagnóstico de Stephen Curry
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Giancarlo Giampietro

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O Golden State Warriors espancou o Houston Rockets, por 121 a 94, bateu o recorde de cestas de três pontos pelos playoffs da NBA, abriu 3 a 1 na série, mas não vai comemorar absolutamente nada em seu retorno a Oakland. Pelo menos não enquanto os médicos do clube não comunicarem a Steve Kerr que Steph Curry não sofreu nenhuma lesão mais grave. Que não passe de um susto besta, depois de ele escorregar em uma área molhada da quadra.

Depois de perder dois jogos devido a uma torção de tornozelo, o MVP da temporada (ninguém vai esperar o resultado oficial, certo?) agora caiu de mal jeito ao tentar um arremesso de três pelo segundo período e virou o joelho. O que preocupa demais, especialmente depois de ver sua reação nos corredores e de se saber, via Draymond Green, que ele chorava na lateral da quadra, quando percebeu que não conseguiria jogar mais naquela noite. Curry tentou acelerar sua passada rumo ao vestiário, talvez para provar a si mesmo que a lesão não era tão grave assim, e…

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Para Kerr e seus jogadores, a esperança é que ele não tenha nenhum dano estrutural, de ligamento, e que alguns dias a mais de repouso sejam o suficiente para ele jogar – ajudaria também que Clippers e Blazers prolongassem ao máximo sua série. Vai fazer uma ressonância magnética na segunda-feira, e ninguém merece um desfecho diferente desse. Gregg Popovich certamente detestaria ouvir o contrário. Seria algo devastador e que colocaria um tremendo asterisco na atual temporada.

Por tanto tempo, desde que estes caras abriram sua campanha arrebentando com tudo e todos, virou senso comum que apenas dois ou três fatores poderiam impedir o bicampeonato:

A) o Spurs

B) o Cavs, quiçá

C) uma desgraçada lesão.

Essa terceira alternativa foi tão repetida que até faz o estômago embrulhar. Cadê a madeira mais próxima? Só não vale questionar a decisão de por o armador em quadra. Ele não escorregou porque estava com o tornozelo dolorido. Acidentes acontecem, mesmo com uma equipe que vem controlando sistematicamente o tempo de quadra de seus principais jogadores.

Sem Curry, o Warriors demonstrou seu caráter, bem como a profundidade e versatilidade de seu elenco. Após o intervalo, Andre Iguodala (defesa contra Harden, canivete suíço), Klay Thompson (bangue-bangue!) e Draymond Green (defesa contra Howard, imposição física e canivete suíço) jogaram uma barbaridade.

Os últimos 24 minutos de jogo foram vencidos por 65 a 34, com um bombardeio inclemente de longa distância, mesmo que o melhor arremessador do planeta não estivesse nem mesmo no banco de reservas. Foram 21 cestas de três, ou 63 pontos gerados desta maneira. Recorde. Ao todo, nove atletas mataram ao menos uma de fora, liderados pelas sete de Thompson.

Quer dizer: houve vida sem Curry, com duas vitórias sem que o armador estivesse disponível. Só não dá para se iludir muito com isso. O que o segundo tempo também nos mostrou foi o quanto o nível de esforço deste Houston Rockets pode ser patético. Não há desculpas para esse desempenho.

Fica pior ainda se você for comparar com o que os estropiados Memphis Grizzlies e Dallas Mavericks fizeram para chegar aos playoffs. Mesmo que não representem um desafio tão grande, respectivamente, para San Antonio – que já completou sua varrida – e OKC – depois do susto, a bonança –, não há como questionar sua dedicação geral. Na verdade, não dá para comparar, mesmo, nem imaginar que J.B. Bickerstaff pudesse se comover com seus atletas desta maneira :

(Dave Joerger, com louvor.)

Sem Curry, Steve Kerr pode esperar dedicação semelhante em seu vestiário, claro, com muito mais talento que o Esquadrão Suicida de Memphis ou que os veteranos de Dallas. Pensar em qualquer coisa nessa linha, porém, seria doloroso demais.

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Para o Celtics, não importa se Isaiah Thomas é, ou não, uma superestrela
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Giancarlo Giampietro

Thomas conquistou Boston. É superestrela?

Thomas conquistou Boston. É superestrela?

É meio estranho levantar essa questão depois de o tampinha marcar 42 pontos para liderar o Boston Celtics em sua primeira vitória contra a defesa perturbadora do Atlanta Hawks, diminuindo para 2 a 1 sua desvantagem.

Ao passar dos 40 por um jogo dos playoffs, entrou num clube que tem Larry Bird, Paul Pierce, John Havlicek, JoJo White, Reggie Lewis e outras lendas da franquia mais vitoriosa da NBA. Thomas se recuperou depois de sofrer em Atlanta. Ele retornou à Boston com 43 pontos na conta, mas também com 24 arremessos errados (aproveitamento de 33,3%) e seis turnovers, e 14 pontos de lances livres. Pelo Jogo 3, para comparar, foram 12 cestas em 24 tentativas, 50%, e apenas um desperdício de posse de bola, com 13 pontos na linha. Quer dizer: as somas das duas primeiras partidas valeu a terceira.

Para estourar assim, contou com uma forcinha de seu técnico, o iluminado Brad Stevens. Esse cara é impressionante. Não é que ele tenha feito meros ajustes depois das dificuldades enfrentadas durante a visita à Geórgia. Foram duas trocas no quinteto titular — Evan Turner por Marcus Smart e Jonas Jerebko por Jared Sullinger — que desencadearam uma série de eventos. Para ajudar seu cestinha, ele e seus assistentes observaram até mesmo *fitas* de seus dias pela Universidade de Washington.

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Ambas as substituições tiveram impacto no jogo de Thomas. Com Jerebko, de 39,8% nos arremessos pela temporada regular, a quadra se espaçava muito mais. Sullinger, até hoje, só pensa que pode matar seus chutes de fora. Já a presença de Turner daria outro tipo de liberdade para o baixinho: ele precisou driblar muito menos para buscar a cesta. Turner atuou como o armador de fato por bons minutos, com Thomas agindo fora da bola, sendo acionado em movimento. Com bons corta-luzes, cortes pelo fundo e inversões rápidas de passe, o ataque do Celtics conseguiu dar alguns centímetros ou instantes preciosos para que ele pudesse ganhar ritmo e agredir. Ao final do primeiro período, arrasador (37 a 20), já havia anotado 18 pontos.

Foi um alívio. Suas atuações em Atlanta de certa forma ecoavam o que havia feito contra o Cleveland Cavaliers no ano passado, quando sofreu contra Iman Shumpert e Matthew Dellavedova: ficou limitado a 17,5 pontos, também com aproveitamento baixíssimo de quadra (coincidentemente os mesmos 33,3% dos dois primeiros jogos em Atlanta) e média de 3,5 turnovers em quatro duelos, uma varrida.

E aqui entra outro número que nunca pode ser ignorado quando falamos sobre Thomas: 5-9. De cinco pés e nove polegadas, ou 1,75m, sua altura. Por mais incrível e, vá lá, bonitinho que seja ver o armador sustentar médias de 22,2 pontos e 6,2 assistências na temporada, para chegar ao All-Star, e 17,1 pontos e 5,0 assistênciasna carreira, quando chega a hora de playoff, tudo fica mais complicado para qualquer cestinha. Ainda mais para alguém diminuto assim. Ainda mais contra um sistema como a do Hawks, que que não é fácil de se encarar. Naaada fácil, amizade.

De tudo o que vi até aqui em uma semana de mata-matas, não há defesa mais coordenada e opressora que a do Hawks, gente. Eles não têm um Kawhi Leonard, ou nem mesmo mais um DeMarre Carroll, mas causam danos coletivamente, com agilidade invejável nos pés e nas mãos. Nenhuma bandeja parece ser tão tranquila assim, enquanto o executor não ber a bola passar pela redinha. No meio do caminho, corre-se sempre o risco de um Thabo Sefolosha ou um Kent Bazemore bater sua carteira. Se você passa pelas primeiras armadilhas, ainda vai ter de se virar contra Al Horford e Paul Millsap antes de chegar ao aro. Os dois alas-pivôs estão honrando o espírito de Dikembe Mutombo e Tree Rollins nesta série. Horford tem média de 3,7 tocos, enquanto Millsap, 2,3.

Você passa por vários no perímetro e ainda encontra isso à frente do aro

Você passa por vários no perímetro e ainda encontra isso à frente do aro

Esta solidez ainda faz deles os favoritos na série. Assim como aconteceu para o Celtics no Jogo 1, o Hawks soube reagir, simplesmente por ter um time sólido demais dos dois lados da quadra. Agora virão mais ajustes e contragolpes. Mike Budenholzer vai ter pouco mais de um dia para ver o que fazer a respeito. O fato se seu time já ter reagido em quadra é um bom sinal. Tem mais: pode ser que sua comissão nem precise pensar em Thomas para o Jogo 4. Pois existe a possibilidade de o armador ser suspenso. Está a perigo por ter se envolvido em entrevero com Schrödinho, que, sabemos, é enjoado toda a vida. Parece que rolou tabefe, ou um simples *peba*. Independentemente da intensidade, hoje em dia, não duvido que venha um gancho. Aí não há milagre que Stevens possa fazer.

Para derrubá-los, Thomas tem de ser esse pontuador folgado e fogoso, quando se torna um dos cestinhas mais explosivos da liga. O que deu para notar é que, no mano a mano, em investidas mais simples, não vai funcionar. E aqui chegamos a um ponto importante,  sobre ser superastro, ou não. Que envolve números também.

Quando o tampinha arremessa 8-21, como aconteceu no primeiro jogo, é porque teve dificuldade. Então por que não maneirou? Simplesmente porque no seu contexto, o do Boston Celtics, é necessário que ele seja muito agressivo. O elenco gira em torno dele. Mais ou menos como acontecia com Allen Iverson e o Philadelphia 76ers de 2001, campeão do Leste. O grau de dependência só é um pouco menor: naquele time de Larry Brown, o segundo cestinha era Dikembe Mutombo, com 11,7 pontos por jogo pela temporada regular. Agora, quando você pega Kyrie Irving e o atual Cleveland Cavaliers, com LeBron e Love ao seu lado, o cenário é completamente diferente. Nesse sentido, não há slogan para os mata-matas que supere o do Celtics este ano: “Somos todos uma superestrela”.

Turner e Jerebko foram promovidos para resolver

Turner e Jerebko foram promovidos para resolver

A frase tem autor, aliás, é não se trata de nenhum gênio do marketing. Foi Jae Crowder que a soltou numa coletiva corriqueira, as supostas necessidades da equipe antes de o prazo para trocas se encerrar em fevereiro, quando Danny Ainge, o chefão, estava envolvido em rumores por Kevin Love e o próprio Al Horford, entre outros. “Acabamos de ter um jogador escolhido para o All-Star. Então não sei que outra superestrela você quer. Há todo esse papo de que precisamos de um jogador desses, coisas do tipo. Mas nossos cinco jogadores em quadra estão tão concentrados, tão engajados que somos uma superestrela como um todo”, disse o ala. “Jogamos todos juntos. É assustador quando um time não sabe quem marcar, quem vai brilhar de noite no ataque. E, defensivamente, nós todos brigamos juntos e jogamos juntos também. É uma abordagem assustadora.”

Crowder, aliás, ao meu ver, é o jogador mais valioso do time em relação ao que se passa na liga. Ele joga dos dois lados também, e muito bem. Na defesa, tem garra, agilidade e força para marcar de Jeff Teague a Paul Millsap. O problema é que, contra o Hawks, seu rendimento ofensivo tem sido praticamente nulo, com horrível aproveitamento de 19,4% nos arremessos e 16,7% de longa distância Não é que esteja marcado de maneira implacável. Ele tem aparecido livre em diversos momentos para o disparo de três. Acontece que esse tipo de chute exige pernas descansadas, inteiras. E o ala está jogando com um grande desconforto no tornozelo direito, lesionado no mês passado. Além de ter seu equilíbrio abalado, ele não vai conseguir botar a bola no chão e atacar. (Por que ele não diz nada? Não é de seu feitio. Crowder não vai ficar dando desculpas, choramingando em público. Uma nota a respeito? Quando se destacou pelo Junior College, enfim foi recrutado pelas principais universidades do país. Escolheu Marquette por acreditar que o técnico Buzz Williams era o único que estava sendo totalmente honesto com ele, comentando suas deficiências como jogador, sem fazer falsas promessas. Não à toa, Wes Matthews e Jimmy Butler vieram do mesmo programa.)

Os obstáculos para Stevens vão além. Avery Bradley sofreu um estiramento muscular na perna direita no Jogo 1.Dificilmente poderá participar do restante da série. Kelly Olynyk voltou a sentir dores em seu ombro direito, local onde teve uma separação no início de fevereiro. Está mais perto de jogar. São dois desfalques relevantes. Não só Stevens perdeu seu melhor defensor de perímetro, como alguém que acelera em transição, algo fundamental também para dar um respiro a Thomas, desviando a atenção da defesa: marca 15,2 pontos por partida, num desenvolvimento contínuo de suas habilidades ofensivas. Além disso, Bradley e Olynyk estão entre os três principais gatilhos de três da equipe. O canadense é o líder, com 40,5%, enquanto o ala é o terceiro, com 36,1%.

É uma pena, mas não há o que fazer. Se o Celtics é uma superestrela coletiva, tem de arrumar soluções para compensar essas ausências. Fato que Stevens tem um conhecimento profundo do jogo e das capacidades e limitações de seus atletas. Sabe o que fazer para manter o coletivo forte o bastante para enfrentar um adversário muito bom. Isso passa pelos pontos de Isaiah Thomas. Mas não só.

*   *   *

Sobre Marcus Smart: o dia em que ele aprender a arremessar, se é que vai acontecer, saia da frente. O sujeito é um verdadeiro animal em quadra. A gente fala e lê tanto por aí sobre caras que jogam duro, e tal. Não sei se existe alguém que se esforce tanto como o armador reserva-faz-tudo-ou-quase-isso do Celtics, em seu segundo ano de liga. Não à toa, sua lista de lesões já preocupa.

*   *   *

Jerebko cobriu Okynyk no ataque e ainda fez muito mais ao fechar espaços na defesa, freando alas no perímetro, dobrando ou vindo cobrir pelo lado contrário, especialmente nos minutos finais da partida, quando fazia o papel hipotético do ‘cinco’, sendo o último jogador na linha de proteção da cesta. Estava visivelmente pregado, mas ainda interveio aqui e ali de modo providencial contra uma dupla do porte de Horford e Millsap. O sueco é um jogador muito interessante. O Celtics tem o poder de validar seu salário de US$ 5 para a próxima temporada, uma pechincha. Se não tiver muita convicção de que poderá contratar uma grande figura que possa exercer suas funções, como agente livre ou via Draft, não há por que deixá-lo sair.

*    *    *

Imagine os dois quintetos em quadra: Thomas, Turner, Crowder, Jerebko e Amir Johnson. Teague, Korver, Bazemore, Millsap e Horford. Ok. Agora, pensando na trajetória dessa cambada, algumas perguntas:

1) Quantos chegaram à NBA como escolhas top 10?

2) Quantos mais foram selecionados na primeira rodada do Draft?

3) Quantos saíram na segunda rodada do recrutamento de calouros?

Respostas: 1) só dois, Horford e Turner, respectivamente os números 3 e 2 em 2007 e 2010 ; 2) só Jeff Teague, o 17 em 2009; 3) foram seis! Thomas (que, a propósito, foi o último escolhido em 2011, pelo Celtics), Crowder, Jerebko, Johnson, Korver e Millsap. Para completar, Bazemore nem draftado foi em 2012, quando se formou por Old Dominion.

Quer dizer… Tal como Warriors e Spurs, esses dois belos times são compostos por jogadores que nem sempre foram tão badalados assim. Com o Draft se aproximando, não dá para esquecer isso.

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Wes Matthews faz valer o cheque? Tem de perguntar para Durant
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Giancarlo Giampietro

Matthews faz de tudo para perturbar os astros do Mavs. Sua vítima preferida foi KD, porém

Matthews faz de tudo para perturbar os astros do Mavs. Sua vítima preferida foi KD, porém

Quando o Dallas Mavericks concordou em pagar US$ 70 milhões por quatro anos de contrato com Wesley Matthews, era difícil não soltar aquele “epa!”, dando um salto para trás. Não que ele não tivesse feito por merecer uma bolada como pagamento depois de cinco anos de sucesso e empenho pelo Portland Trail Blazers. Mas é que ele havia acabado de passar pela temível cirurgia no tendão de Aquiles, daquelas que costuma ser devastadora para um jogador de basquete. No mínimo, leva um tempo para recuperar a formae a capacidade atlética. No pior dos mundos, simplesmente acaba com a carreira do jogador.

O primeiro ano do jogador pelo Mavs mostrou que ele se enquadra no primeiro caso. Menos mal. Mas seus números dificilmente valeriam os US$ 16,4 milhões que embolsou: 12,5 pontos, 3,1 rebotes, 1,9 assistência, 38,8% nos arremessos e 36% nos chutes de três, com apenas 1,6 lance livre convertido. Bem tímidos, sem que uma projeção por minuto deixe as coisas melhores. Pelo contrário, piora. As estatísticas avançadas também não são nada generosas. Teve o pior índice de eficiência de sua carreira, o pior aproveitamento na combinação de arremessos e a menor taxa de uso desde o ano de novato de Utah, muito pouco para quem vinha aliviar a pressão sobre Dirk Nowitzki no ataque.

Outro dado interessante é que ele nunca dependeu tanto do arremesso de três para pontuar: 61,5% de suas tentativas de cesta ocorreram em chutes de longa distância. Um reflexo claro da mobilidade reduzida pela delicada cirurgia que abreviou sua última temporada em Portland, que vinha tão bem, e que, num ponto positivo para o ex-time, ao menos abriu espaço para a afirmação de CJ McCollum.

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Tudo isso está na mesa e deixa o contrato sob suspeita. Agora, de uma coisa você não pode duvidar: Matthews pode até não conseguir, mas vai fazer o máximo que puder para justificar a confiança de Mark Cuban, Donnie Nelson e Rick Carlisle. E há momentos em que o mero esforço já rende resultado. Kevin Durant foi testemunha disso no domingo, quando o Mavs aprontou a maior surpresa destes playoffs da NBA até o momento, com uma vitória por 85 a 84 em OKC.

Empatar a série já foi uma traquinagem. Mas segurar o poderoso ataque do Thunder a meros 84 pontos era algo completamente inesperado. Em suas últimas 17 partidas, a equipe da dupla Durant-Westbrook só havia ficado abaixo dos 100 pontos em duas ocasiões e, abaixo dos 98, em uma delas, contra o Detroit Pistons. Mais: em 14 desses jogos, também havia anotado 110 pontos ou mais.Uma proeza para a defesa que havia sido apenas a 16ª mais eficiente pela temporada regular, e Wes Matthews foi fundamental nesta empreitada.

Se formos acreditar nas medições oficiais, Matthews é dez centímetros mais baixo que Durant, mas desconfio que a diferença seja um pouco maior que isso. Se você colocar aí na conta a envergadura ridícula do cestinha do Thunder, então, haja fita métrica. Ainda assim, com uma postura implacável, que impressiona não só pelo vigor físico, mas principalmente por sua compenetração, de ficar grudado a um adversário deste nível o tempo todo, pressionando, incomodando do jeito que podia. O ala, um dos melhores jogadores do mundo, saiu de quadra com um aproveitamento assustador de apenas 7 conversões em 33 arremessos de quadra, além de sete turnovers em 44 minutos. Se formos procurar uma partida tão ruim assim em seu currículo, acho que só vamos encontrar em seu ano de novato, quando ainda jogava em Seattle.

Matthews realmente conteve Durant. Com força física e mental, empurrou o adversário quase sempre um passo para trás. KD tentava, mas dificilmente conseguia progredir e ganhar terreno, com aquele tampinha de peito estufado, projetado para a frente, quase dentro do calção do oponente.

Claro que, numa jornada normal, Durant provavelmente arrebentaria da mesma forma ou pelo menos atingiria sua média tranquilamente. Em sua carreira, ele converte 48,3% dos arremessos. Na temporada regular, foram 50,5%. Pode ter sido simplesmente uma atuação infeliz. Mas não dá para atribuir os 26 arremessos errados simplesmente a um fator fortuito. Tem de dar o crédito ao jogador que o perturbou durante, sem trocadilho, todo o jogo, incluindo nesta sequência decisiva para a partida:

Reparem na pancada que Matthews toma de Steven Adams em um corta-luz exemplar que libera o cestinha do Thunder, quando estava grudado ao jogador. Foi ao chão. Ainda assim, se recupera para ao menos se aproximar e tentar contestar o chute da zona morta. Não foi isso que atrapalhou, claro. Vale sempre o empenho, porém, que foi premiado com a bandeja que definiu a contagem final do Mavs.

Uma recompensa mais que justa, aliás, para quem havia feito sua primeira cesta de quadra apenas a 6min22s do fim. Ele terminou a partida com meros seis pontos em 36 minutos, desperdiçando todos os seus sete disparos de longa distância. Foram os pontos decisivos para o triunfo, mas nada que se equiparasse ao modo como marcou Durant.

Ponto também, para Rick Carlisle, antes que nos acusem de miopia. Uma defesa não se sustenta com apenas um atleta e apenas um embate individual, dãr. Uma defesa não se sustenta sozinha também, isolada em uma partida. O jogo de basquete é feito em dois lados da quadra, e a atuação em uma metade da quadra influencia diretamente a outra.

Pelo Jogo 2 em OKC, o Mavs conseguiu ditar o ritmo do confronto. Ficou tudo amarrado, procurando limitar ao máximo as investidas em transição da equipe adversária, que anotou apenas 20 pontos de contra-ataque, mesmo que tenha um elenco muito mais veloz e explosivo. Conseguiram isso mesmo sem abrir mão da disputa dos rebotes ofensivos (tal como o Atlanta Hawks tem feito contra o Boston Celtics): foram 11 na vitória.

Vejam aqui o esforço na remontagem defensiva:

Westbrook quer acelerar, mas a turma toda já está voltando

Westbrook quer acelerar, mas a turma toda já está voltando, em maior número. Esta posse de bola vai terminar assim…

Três segundos depois, Mejri está pronto para a contestação. E contem o número de defensores nas imediações do garrafão, sem se importar com Foye, Waiters e Ibaka lá fora

Três segundos depois, Mejri está pronto para a contestação. E contem o número de defensores nas imediações do garrafão, quase sempre congestionado, sem se importar com Foye, Waiters e Ibaka lá fora. O armador tem uma separação, mas seu arremesso não é dos mais fáceis, não. E a presença de Enes Kanter ali embaixo da tabela também não ajuda muito

A boa recomposição defensiva acontece quando favorecida quando seu ataque funciona. Mesmo sem pontuar muito, o Mavs jogou com segurança na frente, e vem daí o apreço de Rick Carlisle pela combinação de dois armadores. Tal como no ano do título, com Kidd, Terry e Barea, Deron Williams, Raymond Felton e Devin Harris se revezavam para cadenciar o jogo em quadra e atacar apenas na certa. Ao todo, os visitantes cometeram apenas 12 turnovers. Está certo que oito deles vieram com Williams e Felton, mas é importante lembrar que o jogador ex-Brooklyn Nets estava atuando no sacrifício, com a chamada hérnia do atleta, que o impediu de concluir a partida. Felton terminou com 21 pontos. Harris anotou apenas oito, mas foi um dos grandes nomes da vitória.

Mesmo que não estejam mais em seu auge atlético e técnico, esses armadores, juntos, conseguiram controlar as ações do duelo. Além disso, contra jogadores mais altos e pesados, ainda podem ganhar o garrafão em infiltrações marotas. Essas jogadinhas oportunistas para gerar qualquer pontinho extra para manter seu time no páreo, ajudando o veterano Dirk. O alemão  hoje depende basicamente de seu tamanho para encestar, já que sua legendária movimentação de pés não libera mais tanto espaço assim. Ainda assim, chute sai lá de trás, muito elevado, e com mecânica sempre formidável e ajustada para estes tempos de quadril travado.

 Sem Chandler Parsons e, agora, sem Barea, Carlisle sabe que não há a menor chance de ganhar um tiroteio contra o Thunder. No momento, os únicos dois atletas do Mavs que levam um pouco de imprevisibilidade ao time são o calouro Justin Anderson, um cavalo solto pelo perímetro, muito vigoroso e atlético, e Salah Mejri, o tunisiano que poderia ter chegado aos Estados Unidos uns dois anos antes. Seu estilo combina muito mais com o da NBA do que o da Europa, com porte físico e mobilidade que causam estragos.  Anderson demorou para ser lançado por Carlisle, mas talvez tenha ajudado a salvar a temporada do time na reta final. Mejri tem dificuldade por vezes de jogar de modo disciplinado em quadra – precisa ser domado, ouvir as instruções de seus técnicos. São os únicos que vão conseguir vencer disputas aéreas nesta série. É pouco, porém.

Para o Mavs seguir com chances na série – ainda são 99% azarões, não se enganem, toda posse de bola ofensiva precisa ir até o final, arrastada, definida em pequenos detalhes. E aí, na defesa, é contar com o garrafão congestionado e com tudo o que Wesley Matthews possa oferecer. Para um magnata como Mark Cuban, afinal, US$ 17 milhões não são nada.

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Trio de estrelas do Cavs se entendeu, mas time ainda sofre para vencer
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Giancarlo Giampietro

Deu certo, pela abertura dos playoffs em Cavs

Deu certo, pela abertura dos playoffs em Cavs

O Cleveland Cavaliers não fez uma partida perfeita ao vencer o Detroit Pistons por 106 a 101, pelo segundo dia de playoffs da NBA. Restando apenas 11 minutos, se via atrás no marcador, por sete pontos. Mas, como deve acontecer muitas vezes ainda nesta primeira rodada pela Conferência Leste, bastará que seu Big 3 tenha uma noite superprodutiva para que a vitória aconteça, independentemente do quão porosa é a sua defesa no momento.

LeBron James foi dominante, mas não do jeito que poderíamos supor, a julgar pelo que fez nas últimas semanas da temporada. Em vez de partir como uma locomotiva rumo à cesta, soube dosar as investidas. Reativou sua versão de facilitador, num movimento interessante. Terminou com 11 assistências e tentou 17 arremessos para 22 pontos em pouco menos de 41 minutos.

Se o craque teve um volume de jogo relativamente contido, isso basicamente significa que seus companheiros tiveram mais espaço para se afirmar em quadra, no início da segunda campanha deste núcleo tão pressionado, para qual vale o título ou o título. Deu certo, a princípio. Kevin Love teve uma de suas melhores atuações desde que se mudou de Minnesota, com 28 pontos, 12 rebotes e muita agressividade, algo que se cobra demais dele, em 38 minutos. Kyrie Irving chutou 24 vezes para anotar 31 pontos em 37 minutos.

Fazendo as contas aqui, temos 81 pontos para os três astros (76,4% do total), além de 18 assistências (72%) e 24 rebotes (60%). Os caras esolveram a parada. Foi a oitava vez em que a trinca atingiu os 80 pontos a serviço do Cavs e a oitava vitória nessa circunstância.

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Pois não é que todo mundo precise ser Spurs ou Hawks nesta vida. Uma divisão mais igualitária entre cestinhas não acontece nem mesmo para o Warriors, pelo qual os Splash Brothers são responsáveis por mais de 40% dos pontos. Ao montar este trio, o gerente geral David Griffin (com muitos sussurros de você sabe quem) certamente vislumbrava uma grande uma concentração de jogo. A integração entre eles, de todo modo, na segunda temporada juntos, esteve longe da ideal. Tudo isso foi devidamente registrado por diversos veículos, em diversos capítulos, e não precisamos perder tempo aqui.

Neste domingo, usando aquela famosa expressão inglesa, dá para dizer que estiveram na mesma página. Que jogaram juntos. Graças ao maravilhoso NBA.com/Stats, foi possível conferir, por exemplo, quantos passes LeBron, Love e Irving trocaram entre si. O resultado, comparando com o que os três apresentaram durante todo o campeonato, é de abrir os olhos – tanto pelo volume muito maior de tramas de um com o outro, como pelos dados da temporada regular. Vamos lá:

Kyrie-passing-Cavs

Quer saber de um dado um tanto assustador? Durante a temporada regular, enquanto armador, Kyrie deu apenas 43 assistências para LeBron em 53 partidas. Seus passes para cesta são muito bemd istribuídos, entretanto. Foram 55 para Love, 34 para JR Smith e 28 para Tristan Thompson, além de 23 para Timo!!!

Lebron-passing-Cavs

LeBron tampouco interagiu muito com Irving: foram 41 assistências para o armador durante o ano. Para comparar, JR Smith recebeu 105, aberto para o chute e desafogar a defesa, e Love, 126. Mas Irving também chuta muito, ué

Love-passing-Cavs

O ala-pivô deu apenas 12 assistências para Irving na temporada. Isso é inconcebível para um jogador que tem no passe e na visão de quadra justamente dois de seus principais atributos

Bom, antes de mais nada, fica o aviso: estamos falando de apenas um jogo, comparado com o que se viu por meses e meses. A tal da amostra pequena. De qualquer forma, o torcedor do Cavs e o Coach Lue esperam que esse boom nas estatísticas de passes entre os três seja bom presságio e duradouro. Para enfrentar o arrojado jovem elenco do Pistons, soube souberam compartilhar a bola e elevar o potencial de cada um. Pois não adianta apenas escalar nomes, se, em quadra, esses caras não conseguem executar aquilo que costumeiramente fizeram de melhor em suas carreiras. Aí você tem um produto com a grife impressa, mas talvez oriundo de lugares suspeitos. O famoso “falsiê”. Os resultados idealizados no momento em que o trio foi formado só vão acontecer se eles cooperarem. Foi o que aconteceu contra o Pistons. Se a receita se repetir, talvez a oposição não tenha muito o que fazer a respeito.

De novo: não que tenha sido uma partida perfeita. Eles podem ser muito mais eficientes. O Cavs, como um todo, acertou apenas 44,3% de seus arremessos, mesmo que, em sua linha de frente, Stan Van Gundy não tenha escalado defensores tão excepcionais assim, como Marcus Morris e Tobias Harris. LeBron e Love podem se esbaldar contra eles, se souberem se movimentar e forem abastecidos no momento certo, têm tudo para explorar as deficiências de seus marcadores. Até SVG admitiu isso, ao dizer que deveria ter usado o calouro Stanley Johnson por muito mais tempo no quarto período de virada para o time da casa. Não estranhem se Anthony Tolliver não pintar por aí também (veterano que nem saiu do banco).

A seleção de Irving ainda pode ser problemática. Não tem jeito: de tão talentoso, o armador ainda é daqueles que prefere criar suas situações de ataque por conta própria, no um contra um, em vez de se aproveitar de um sistema. Terminou com 10-24 nos arremessos, ao menos descolando oito lances livres nesse processo. No total, no domingo, ele deu apenas dois passes a menos que LeBron, para constar (63 a 61). Seu aproveitamento de arremessos também não foi tão inferior assim ao de Love, que que acertou as mesmas dez cestas, mas com dois chutes a menos.

Mas, durante o jogo, é perceptível como, por vezes, ele não deixa o jogo fluir. É saber quando passar e quando atacar. Tendo dois craques ao seu lado, não existe motivo para tentar ser Allen Iverson. Além do mais, no caso de Love, depois de se cobrar por meses e meses que ele fosse mais agressivo, seria hipocrisia reclamar de seus 22 chutes agora. E outra: foram poucas as ações forçadas da sua parte, buscando pontuar num contexto mais construtivo, ainda mais quando ele mata quatro de oito tentativas de longa distância. Outro ponto importante para se destacar é o fato de Lue, quando se viu sete pontos atrás no placar, ter arriscado a formação com Love sendo o único pivô, mesmo que Andre Drummond estivesse em quadra. O time reagiu de imediato, com Love esgarçando a defesa do Pistons e dando mais velocidade ao ataque – foi neste momento em que Richard Jefferson ressurgiu das cinzas para brilhar e no qual o quinteto finalizou uma das posses de bola mais bonitas de todo o campeonato:

(Foram oito passes neste clipe, com os cinco atletas envolvidos, saindo da mão de Dellavedova até retornar para ele. Sim, Irving não estava em quadra neste momento…)

Dito tudo isso, a questão é se mais para a frente, daqui a algumas semanas, contra adversários muito mais complexo, se esse time vai conseguir se sustentar desta maneira. Primeiro se os caprichos serão colocados de lado e essa interação mais orgânica e intensa entre os três será mantida. O segundo ponto é se o time como um todo não der um jeito de restaurar sua defesa.

Desde que David Blatt foi deposto e Lue assumiu, a defesa do Cavs naufragou. De top 5, caiu para a 12ª posição no ranking de eficiência, numa contagem a partir de 22 de janeiro, em 41 partidas, precisamente a metade de um campeonato. Ou seja, com uma amostra justa para se criticar. A história da NBA mostra que, para ser campeão desta forma, você precisa compensar no ataque, com um sistema que produza de modo avassalador. E Lue pode muito bem nos lembrar que, neste mesmo período, sua equipe terminou em terceiro, muito perto do Oklahoma City. Se formos menos criteriosos, dá para falar em empate técnico pelo segundo lugar.

Acontece que, tal como registramos em um resumo da temporada de OKC, para chegar ao título – e é só isso que importa para Dan Gilbert, LeBron, Maverick Carter, Rick Paul e a torcida do Cavs a essa altura –, eles vão ter de passar muito provavelmente por Warriors (líder em defesa neste mesmo período e oitavo em defesa) e Spurs (respectivamente sétimo e quarto). Isso para não falar de um eventual confronto com o perigoso Miami Heat (justo quem!), que vem jogando muito desde o All-Star Game, com o sexto ataque mais eficiente e a oitava melhor defesa.

Ok, temporada regular é uma coisa. Playoff? Outra. Em sua estreia em casa, porém, o Cavs permitiu que o Pistons convertesse 50,7% de seus arremessos e 15 tiros de três, com 51,7%. É o preço que se paga para fazer de tudo para frear o pick-and-roll entre Reggie Jackson e Andre Drummond, que é o ganha-pão do ataque do Pistons, tal como SVG fazia com Hedo Turkoglu/Jameer Nelson e Dwight Howard em Orlando. Pode ter sido sorte dos visitantes, que, na temporada, converteram apenas 34,5%, ficando em 21º no ranking da liga e que, depois do All-Star, com Tobias Harris, melhorou um pouco, ficando em 14º, com 35,9%. É pouco provável que Reggie Bullock, Kentavious Caldwell-Pope e Johnson acertem, juntos, nove disparos.

A confiança de diretores e torcedores de Cleveland sempre foi a de que, chegados os mata-matas, os jogadores dariam um jeito de colocar de lado suas diferenças e se engajarem. Por um jogo, pelo menos de um lado da quadra, funcionou. Toda a sua campanha, porém, foi pautada por altos e baixos.  O desafio para eles sempre foi repetir um padrão de atuação por longo tempo. O começo foi bom, pelo menos na questão mais complicada, que é o equilíbrio de egos. A Conferência Leste vai monitorar.

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Paul George volta a colocar Toronto em estado de choque
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Giancarlo Giampietro

George foi o All-Star que mandou em quadra pela abertura dos playoffs

George foi o All-Star que mandou em quadra pela abertura dos playoffs

Recordar é sofrer.

O ginásio do Raptors estava novamente tomado por clima de estádio de futebol. Lá fora, uma multidão acompanhando a partida na praça. Bandeiras, cantos fortes. O time deu mais um salto durante a temporada regular, chegou a incomodar o Cleveland Cavaliers na disputa pela primeira colocação da conferência. Tudo seria diferente dessa vez.

Mas… Não. Novamente essa atmosfera festiva seria mais uma vez silenciada nos minutos finais da abertura dos #NBAPlayoffs2016 para Toronto por um ala chamado Paul. Sai Pierce, entra George como sobrenome. O ala do Pacers foi a grande estrela da primeira partida dos mata-matas. Boa parte desses times classificados pelo Leste podem até não ser muito badalados, sem as chamadas superestrelas  — mas os jogos prometem bastante, de todo modo. Só não vale incluir o Indiana nesse grupo. Seu ala camisa 13 pertence ao primeiro time de craques da liga.

Com 33 pontos e uma defesa sufocante frente no perímetro, George provou que é uma estrela de verdade, que joga dos dois lados da quadra, comandando o cabeça-de-chave número sete numa grande vitória por 100 a 90, neste sábado, que já rouba o mando de quadra para os forasteiros.

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Do outro lado, dois de seus companheiros na seleção All-Star, Kyle Lowry e DeMar DeRozan, tiveram atuações beeeem diferentes, sentindo dois tipos de pressão: a primeira, mais importante, que foi a de seus marcadores, mesmo. A segunda tem a ver com os recentes fracassos em jogos pela fase decisiva. Dava para ver na cara de Lowry. George, sozinho, anotou oito pontos a mais do que a dupla do Raptors. Pior ainda para o time canadense foi checar o aproveitamento de quadra destes caras: um abismal 8-32, ou meros 25% de acerto. Eles tiveram mais turnovers (nove) do que cestas de quadra. Nem um fominha descontrolado como Monta Ellis (5-12, um turnover, 15 pontos e 5 assistências) aprova números como esses.

A sorte de DeRozan é que o jogo foi realizado bem cedo, na hora do almoço. Diminui, assim, as chances de ele ter pesadelos com seu conterrâneo californiano. Apenas um ano os separam. Talvez tenham até se cruzado em quadras pelo circuito AAU ou colegial no imenso estado. Desde cedo, o ala do Raptors sempre foi considerado uma futura estrela, enquanto o líder do Pacers se desenvolveu mais lenta e discretamente, sendo recrutado pela tímida Universidade de California State, por exemplo. Hoje, com suas carreiras profissionais bem encaminhadas, há uma enorme distância entre um e o outro. Devido ao histórico californiano, estamos falando de dois alas que, volta e meia, estiveram associados ao Los Angeles Lakers, como possíveis reforços. Agora que Kobe Bryant se aposentou, há uma clara lacuna para ser preenchida na rotação de perímetro do time, de fato. DeRozan será agente livre ao final da campanha. É bom que Mitch Kupchak tenha assistido a esta partida, para ver quem exatamente merece um salário máximo…

George é um jogador de salário máximo. DeRozan, segundo costuma ditar o mercado, também vai se tornar. E deve ganhar ainda mais, devido ao aumento nos rendimentos da liga. Para o Lakers, não seria um bom investimento, se o objetivo é voltar ao topo da liga...

George é um jogador de salário máximo. DeRozan, segundo costuma ditar o mercado, também vai se tornar. E deve ganhar ainda mais, devido ao aumento nos rendimentos da liga. Para o Lakers, não seria um bom investimento, se o objetivo é voltar ao topo da liga…

Sendo justo, DeRozan fez a melhor temporada de sua carreira. Só James Harden foi mais vezes à linha de lance livre do que ele. Também mostrou muito mais visão de quadra, criando para os companheiros. Foi eleito pela segunda vez para o All-Star, merecidamente. Neste sábado, porém, foi barrado no baile. Não havia corredor para ele passar. Com a infiltração removida de seu repertório, teve de apelar para o arremesso de média para longa distância, sempre contestado. Por mais que tenha melhorado um pouquinho neste fundamento, ainda é o seu ponto fraco. Ainda mais quando perturbado. O jogo não foi dos mais bonitos ou emocionantes, mas vale a pena revê-lo só para conferir a atuação defensiva de George. Não basta ter capacidade atlética, com explosão e agilidade nos pés. É preciso saber o que fazer com esses recursos, e o cara foi simplesmente impecável nesse sentido, se deslocando lateralmente com precisão impressionante. Também chamaram a atenção seus botes certeiros, quase kawhi-leonardianos, para terminar com quatro roubos de bola e dois tocos em 37 minutos. Dois desses roubos foram sensacionais, para consertar bobagens de seus companheiros no ataque, freando de imediato o contragolpe dos anfitriões.

Sobre Lowry, lembremos que ele já encerrou a temporada regular em baixa. Desde o All-Star, em casa, seus números despencaram. Para comparar, em fevereiro, ele anotou 23,6 pontos com 50,3% nos arremessos e 39,7% de três. Em março, produziu 21,9 pontos, mas com 40,4% e 37%, respectivamente. Em abril, em cinco jogos, teve 17,0 pontos, com 39,5% e 41%. O número de lances livres pelo baixinho também caiu consideravelmente na reta final. O armador está sofrendo com dores e inflamação no cotovelo direito desde janeiro, na verdade, e chegou até mesmo a fazer uma drenagem semanas atrás. Uma preocupação que Casey admitiu publicamente. Enfrentando outro excelente defensor como George Hill — que é mais alto e também tem braços longos toda a vida –, as coisas ficam ainda mais complicadas.

Se Lowry, devido a esta limitação física, não vai ser eficiente como no início da temporada, aumenta a carga de responsabilidade sobre DeRozan. Talvez seja o caso de Dwane Casey rabiscar mais jogadas para que seu cestinha seja acionado em movimento, em vez das manjadas investidas em mano a mano. O problema é que, mesmo nessas situações, não é garantia que o cestinha terreno, já que George é mais alto e mais comprido, sendo um terror nas linhas de passe. Ainda assim, forçando-o a encarar corta-luzes de Valanciunas, Scola e Patterson, ao menos você pode tentar desgastar o oponente.

Para o Jogo 2, ainda não é para entrar em desespero. Você não vai jogar no lixo o trabalho que resultou em 56 vitórias na temporada regular. De toda forma, o ataque excessivamente individualizado do Raptors precisa ganhar em diversidade. Já havíamos registrado aqui: seu sistema ofensivo esteve entre os mais eficientes da liga, mas o jogo de playoff é outra história. Os adversários estão mais preparados, o scout fica muito mais detalhado. Os vícios se tornam mais evidentes em quadra. Você precisa de diversidade. Basicamente, tudo o que se cobra de Oklahoma City há anos, com a diferença de que eles atacam com Kevin Durant e Russell Westbrook. Com todo respeito aos a Lowry e DeRozan, mas os All-Stars podem até ser iguais, mas uns são mais iguais do que os outros.

No caso de Raptors, se for para apostar tão somente no repertório técnico de estrelas, é bem provável que o Pacers aceite o desafio, com Paul George ao seu lado. Se o ala puder ser dominante desta forma,  a série pode virar mais uma grande encrenca para o clube canadense, para tristeza de uma torcida que

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Batalha de Valanciunas com pivôs de Indiana promete

Batalha de Valanciunas com pivôs de Indiana promete

Jonas Valanciunas foi um leão no garrafão. Fato: pegou 19 rebotes em 21 minutos, sendo 11 ofensivos, ambos valendo como recordes para o Toronto em playoffs. Ainda anotou 12 pontos. Bacana, né? E, como assim o cara consegue números tão expressivos como esses e fica em quadra só por 21 minutos!? Dwane Casey pirou? Segue implicando com o lituano?

Não. É que ele cometeu seis faltas, mesmo. E uma consulta mais atenta à planilha estatística do pivô somada às ações que vimos em quadra nos passa um contexto mais complexo. Se Valanciunas apanhou 11 rebotes na tábua de ataque é porque ele, mesmo, desperdiçou diversas oportunidades ali embaixo. Errou 10 de 14 arremessos, tendo dificuldade para finalizar jogadas diante de dois pivôs que protegem muito bem a cesta: Ian Mahinmi  e Myles Turner. Foi um espetáculo (ou quase isso…) o embate entre os grandalhões.Juntos, cometeram 15 faltas, com cinco para o francês e quatro para o calouro.

Fisicamente, o titular do Raptors se impôs na busca pela bola. O problema era o  que fazer com ela depois. Ele obviamente tem munheca. Mas seus movimentos ficaram muito lentos e mecânicos a partir do momento que o Toronto bombou seu corpanzil. O cara se tornou um pivô sólido, competente, mas não está no primeiro escalão. Aos 23 anos, talvez possa melhorar ainda, mas isso está longe de ser uma certeza. Lembremos que ele joga em alto nível há um bom tempo já. Em 2010, já estava jogando a Euroliga. Quiçá o Raptors possa espaçar mais a quadra para que ele ganhe uns segundos preciosos para realizar suas jogadas. Mas não vejo muito para seu jogo possa se expandir agora.

Do outro lado, o contraste com Turner é gritante. O novato tem um potencial absurdo. Hoje, mesmo, já foi influente. Com ele em quadra, o Pacers teve saldo de 15 pontos. Por não tenha base para aguentar os trancos do lituano ou de Bismack Biyombo, o rapaz conseguiu causar impacto em quadra graças a sua envergadura e agilidade. Em 26 minutos, terminou com 10 pontos, 5 rebotes e, mais importante, 5 tocos. Dois foram em seu oponente direto. Mas também houve quase uma dezena de chutes que ele intimidou ou alterou, devido a sua presença bastante ativa. Logo mais, vai deixar a vida de Paul George muito mais feliz em Indiana.

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Varejão está sem clube: ok, quais são os próximos passos?
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Giancarlo Giampietro

Varejão vai para o mercado de "buyouts". Seria Hibbert um concorrente?

Varejão vai para o mercado de “buyouts”. Seria Hibbert um concorrente?

São negócios. O mundo da NBA sabe. E, no mundo da liga americana, esses negócios são duros e bastante complicados também, cheios de pormenores, que os diretores são obrigados a dominar, para entender direitinho os passos a se seguir e, também, as brechas que eles podem aproveitar para lucrar em uma negociação, ganhar flexibilidade na gestão etc. A troca de Anderson Varejão é uma prova disso.  A partir do momento em que o Portland mal absorveu seu contrato e já o dispensou, é natural que muitas dúvidas surjam em relação ao futuro do brasileiro. Há particulares que precisam ser atendidas para que ele retorne à liga ainda nesta temporada. Pensando nisso, segue uma básica bateria de perguntas e respostas para tentar sacar deve ser sua próxima jogada. Se for para entender as motivações de Cavs e Blazers nesta negociação, as explicações estão no texto da véspera, mesmo.

1 – Varejão foi dispensado pelo Trail Blazers. Ainda pode jogar neste campeonato?
Sim, não há impedimento. Ele apenas fica sem contrato, com a franquia do Oregon sendo responsável por pagar o restante de seu salário: para constar, o bilionário Paul Allen, fundador da Microsoft, vai arcar com o restante do pagamento do brasileiro nesta temporada e ainda pagar mais US$ 9,3 milhões que estavam garantidos em seu vínculo com o Cavs referentes a 2016-17. Havia um quarto ano de contrato, valendo US$ 10 milhões, mas que não tinham garantia alguma. As informações são de Brian Windhorst, do ESPN.com, repórter que cobriu o Cavs durante praticamente toda a carreira de Anderson.

2 – O pivô já pode assinar com uma equipe nesta sexta?
Não. O que poderia acontecer era que um clube se candidatasse a receber seu contrato num intervalo de 48 horas desde o momento em que ele foi dispensado. Aproximadamente até umas 18h, 19h de sábado, no horário de Brasília), Varejão está sob moratória. (PS: E aqui corrijo uma informação que escrevi ontem: são 48 horas, mesmo, e em vez de 72 horas, que era o prazo do penúltimo acordo trabalhista da liga). Na terminologia da NBA, é o período de “waiver”. Nessas 48h, só podem se candidatar a seus serviços as equipes com espaço suficiente em suas folhas salariais para assumir o contrato de Varejão ou aquelas que tenham “exceções de trocas” acima deste valor. Mais detalhes no site do especialista Larry Coon, a bíblia em assuntos dos regulamentos de cap da liga. No momento – excluindo, por motivos óbvios, Portland, que ainda tem espaço em sua folha –, não há nenhum clube em condições de adquiri-lo desta forma. Aqui estão todas as “exceções de troca” disponíveis no início da temporada.

Chris Kaman ocupa a vaga de pivô veterano em Portland

Chris Kaman já ocupava a vaga de pivô veterano em Portland

3 – Tá, mas e depois de 48 horas? Como fica sua situação contratual?
Aí Anderson vai virar um agente livre novamente. O Portland seguirá pagando seu salário pelo vínculo anterior, mas ele está liberado para fazer um novo contrato com uma nova franquia.

4 – E Varejão pode assinar com qualquer clube?
Não, há uma restrição aqui. A primeira de todas diz respeito ao Cavs. Depois de um jogador ser trocado e dispensado, ele não pode voltar ao clube de origem tão cedo. Há restrições. No caso de Cleveland, se LeBron desejar um retorno do velho companheiro, vai ter de esperar por um ano até que ele seja liberado. Até fevereiro de 2017, em vez dos seis meses que escrevi ontem. Há uma certa confusão aqui pelo fato de a regra ser um pouco flexível. Se o contrato original do capixaba estivesse em sua última temporada, aí ele poderia retornar ao Cavs já em julho, quando a janela se reabre. Mas o vínculo se estendia até junho de 2018. Então, o que vale é um ano de calendário cheio para que as partes possam negociar algo. Larry Coon explica novamente.

De resto, o pivô só pode fechar com algum clube que tenha uma vaga em seu elenco. Durante a temporada regular, cada time só pode ter 15 jogadores sob contrato. Hoje, diversos times interessantes para o brasileiro estão abaixo do limite: Atlanta Hawks, Charlotte Hornets, Houston Rockets, Miami Heat, Oklahoma City Thunder, New York Knicks e Washington Wizards. O Clippers também pode ser adicionado a esta lista pelo fato de ter 14 contratos garantidos no elenco, com a 15ª sendo preenchida pelo contrato temporário de Jeff Ayres, ex-Pacers e Spurs. Todos os clubes aqui citados têm aspiração de jogar os playoffs. Resta saber se algum deles teria o interesse de fechar com o brasileiro. Ele seria contratado ou pelo salário mínimo da liga (recebendo o proporcional pelos dias de vínculo), ou por alguma “exceção contratual” (as exceções “mid level” ou “mini mid level”).

5 – Então ele pode jogar os playoffs?
Pode, totalmente liberado, por ter sido dispensado antes de março. Qualquer jogador que rescinda seu contrato até o fim de fevereiro fica elegível para jogar os mata-matas.

*    *    *

Estas são as perguntas de respostas factuais. Agora vem a parte subjetiva do negócio, sobre a qual já expus algumas coisas no texto de quinta (segue o link novamente). A decisão que Anderson será extremamente relevante para os planos de Rubén Magnano.

Qual seria o melhor clube para Varejão? Se for para pensar em tempo de quadra, espiando a lista acima, talvez as melhores opções sejam Atlanta, Houston e Miami.

O Hawks perdeu seu pivô reserva. Ironicamente, Tiago Splitter. Por mais intimidador e longilíneo que seja nosso primo cabo-verdiano Walter Tavares, não acredito que Mike Bundeholzer esteja preparado para lhe dar mais minutos. Ainda mais na reta final da temporada. Mike Muscala terá suas chances, arremessa bem de média distância, é um pouco mais rodado, mas não serve como solução se o assunto for defesa. Varejão sabe passar a bola como poucos entre os pivôs e não seria um entrave no sistema de Bud. Que tal?

Poderia o Hawks tentar contratar um segundo pivô brasileiro?

Poderia o Hawks tentar contratar um segundo pivô brasileiro?

Os outros dois times ainda estão na briga por vaga nos mata-matas e precisam de ajuda no garrafão. O Rockets conta com um quebradiço (e descontente) Dwight Howard, o jovem extremamente promissor Clint Capela e os versáteis e inconstantes Terrence Jones e Josh Smith. Em tese, os quatro comporiam a rotação. Se Howard mantiver a concentração e a forma, fica mais difícil de jogar. Mas, se as lesões permitirem e se Varejão estiver confiante em sua capacidade física e atlética, há uma clara necessidade no elenco de mais um pivô que cuide da defesa, até para dar descanso ao antigo All-Star.

Já o Heat vive um novo drama com Chris Bosh. O ala-pivô está afastado por tempo indeterminado das quadras, depois de médicos detectarem novos coágulos sanguíneos, agora em sua panturrilha. Há o temor de que ele não possa mais jogar nesta temporada ou – toc, toc, toc – que tenha de se aposentar das quadras. Isso deixaria Erik Spoelstra com Hassan Whiteside, Amar’e Stoudemire, Josh McRoberts e Udois Haslem. Os três últimos são rodados e não são conhecidos pela durabilidade.

Do restante, o Clippers, a princípio, pareceria interessante. Mas Doc Rivers prioriza as formações mais baixas quando DeAndre Jordan vai para o banco, tendo Blake Griffin disponível, ou não. Com a chegada de Jeff Green, essa tendência só é reforçada. Varejão teria disputar, então, minutos com Cole Aldrich. Imagino que muita gente vá engasgar ao ler esta frase. Mas, a despeito do jeitão molenga do cara, de ser um refugo de OKC, a verdade é que ele tem sido superprodutivo na reserva de Jordan e vem sendo constantemente elogiado por um enamorado técnico e chefão.  O mesmo raciocínio tático vale para o Wizards, de Gortat e Nenê. Já o Thunder tem pivôs para dar e vender, assim como Hornets e Knicks.

Peja foi dispensado pelo Raptors em 20 de janeiro 2011. Quatro dias depois, assinou com o Mavs. Ao lado de Nowitzki, conquistou naquele mesmo ano um tão aguardado título, depois de tantas decepções pelo Sacramento Kings

Peja foi dispensado pelo Raptors em 20 de janeiro 2011. Quatro dias depois, assinou com o Mavs. Ao lado de Nowitzki, conquistou naquele mesmo ano um tão aguardado título, depois de tantas decepções pelo Sacramento Kings

Mas, a despeito de tanta matutação, primeiro, vai depender de quem vá mostrar interesse, né? Conforme dito acima, os clubes mais precavidos vão aguardar a chegada de março para saber qual exatamente é o menu de jogadores que ficarão disponíveis para contratação. Lembro de dois casos bem-sucedidos de parcerias improvisadas, de última hora, que deram muito certo: Peja Stojakovic deu uma boa mão ao Dallas na campanha do título em 2011, enquanto Boris Diaw se encaixou como uma luva no sistema do Spurs no momento em que Michael Jordan se cansou de seus caprichos.

Há muitos nomes especulados neste ano para este mercado paralelo. São atletas esperam mostrar serviço para conseguir um novo contrato vantajoso em julho. Os mais cogitados são:

David Lee:  É provável que ele rescinda com Boston ainda nesta sexta. Aí temos um concorrente direto em termos de posição. No pacote técnico, porém, são beeeem diferentes. Qualquer equipe que pense em contratar Lee vai precisar de um sistema defensivo forte para assimilar um jogador desatento e de pouca mobilidade, esperando que, eventualmente, seu repertório ofensivo compense. , que Consistente tiro de média distância, ótima visão de quadra e boa munheca perto da cesta são seus principais atributos. Pouco utilizado na campanha do título do Warriors (mas com um papel importante na hora da virada sobre o Cavs, diga-se), o pivô sucumbiu na sangrenta batalha por minutos no Celtics de Brad Stevens. Todavia, ainda acredita que pode contribuir para um time de ponta.

JJ Hickson: outro concorrente, e ex-companheiro de Cleveland. Tudo leva a crer que o Denver vai abrir mão desse cavalo, contente que está com seus jovens pivôs europeus. Hickson oferece vigor físico, capacidade atlética e muita briga pelos rebotes em abas as tábuas. Um trombador. Boa arma no pick-and-roll. Só não esperem dele criatividade com a bola. Precisa ser acionado em situações de tomada fácil de decisão. Também costuma tirar o sono dos treinadores pelo entendimento limitado de rotações e coberturas defensivas.

Roy Hibbert/Brandon Bass: a única missão dessa dupla até o final da temporada seria cuidar da garotada. Nesse caso, Bass parece ser um cara mais influente no dia a dia de um time, devido ao profissionalismo exemplar. Creio que ele seria o agente livre mais cobiçado entre os pivôs aqui citados, por estar evidentemente em forma e por ter um estilo de jogo fácil de se encaixar em qualquer rotação: não compromete na defesa, já que é um veterano que entende suas limitações e está habituado a ser um operário. Em suma: ele vai bem sem querer aparecer. É bastante eficiente no ataque com seus tiros de média distância e presença perto da tabela. Perdido em meio ao caos angelino, faz uma das melhores temporadas de sua carreira.

Hibbert, por sua vez, é um enigma: um sujeito difícil de se motivar, ainda que esse contexto caótico do Lakers não seja favorável a ninguém. A dúvida é saber se, na NBA de hoje, ainda há espaço para alguém que se movimenta tão devagar. Em minutos limitados, como pivô reserva, imagino que dê para encaixá-lo, como um protetor de aro respeitável.

Martin tem opção de mais um ano de contrato em Minnesota. Vai topar sair?

Martin tem opção de mais um ano de contrato em Minnesota. Vai topar sair?

– Kevin Martin: o ala já foi uma máquina de fazer cestas. Mas as diversas lesões que sofreu durante sua carreira parecem, enfim, estar cobrando um preço caro, lhe roubando muito de sua legendária eficiência como cestinha. Martin lida com dores crônicas no pulso direito. Para piorar, sofreu uma torção na região, que o tirou de quadra nas partidas que antecederam ao All-Star. De qualquer forma, ainda tem acertado 36,4% de seus arremessos de três pontos num time que não tem quase nenhum chutador ao seu lado e cava faltas com boa frequência, iludindo os defensores. Seu papel também seria claro: reforçar o ataque de uma segunda unidade. O que pega é que ele tem mais uma temporada em seu contrato com Minnesota. Será que daria um desconto ao clube em seu salário de US$ 7 milhões para sair?

Ty Lawson: sua contratação pelo Rockets acabou se mostrando um desastre. Lawson passou por sérios problemas fora de quadra nos últimos meses em Denver e saiu dos trilhos. Se a expectativa era viver um recomeço em Houston, se vê constantemente frustrado em quadra, já que sobram poucos minutos para jogar sem a companhia de James Harden. Pois, quando o barbudo está em quadra, a bola não sai das mãos dele, fazendo do tampinha um mero chutador na zona morta (um desperdício para alguém tão veloz e explosivo no drible). Dispensar o armador poderia ser um tiro pela culatra? O outro lado da questão é que, se Lawson estiver descontente, reclamando de tudo no vestiário, só vai deixar o problemático vestiário do time ainda mais conturbado.

Joe Johnson: por fim… o nome mais badalado. JJ pode ter envelhecido e se deprimido em Brooklyn, mas, sem a responsabilidade de carregar um ataque, muito provavelmente ainda pode ser bastante efetivo. Ele ainda pode matar os chutes de fora e fazer a bola girar. O problema é a defesa, deixando todo mundo passar. Se revigorado, talvez possa ao menos tentar brigar por posição. Se ele vai para o mercado, ou não, é que ninguém sabe. As notícias em torno do tema são muito conflitantes até o momento.

Em relação a Varejão, a questão é se ele ainda pode ser efetivo como defensor e reboteiro, depois de tantas lesões, em especial a ruptura no tendão de Aquiles. O brasileiro sempre foi um jogador especial na execução defensiva, com empenho, agilidade e inteligência acima da média. Disso ninguém duvida. A questão sincera e justa se volta apenas ao aspecto físico.

Por outro lado, joga a seu favor o fato de ser uma figura carismática, com excelente reputação no vestiário e muita experiência em jogos decisivos. Também não é dos caras que vai exigir atenção em quadra e é uma figura amada por seus técnicos. Além disso, não seria uma contratação de risco. Não estaria chegando para salvar a temporada de ninguém, mas, sim, para ser uma peça complementar que possa ajudar a elevar o nível de qualquer clube interessado.


Despotismo de LeBron em Cleveland dá brecha à turma do contra
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Giancarlo Giampietro

LeBron James, Cleveland, coach, David Blatt

LeBron James ainda enfrenta uma grande resistência em muitas praças, independentemente do que faça em quadra. Pode ser pelo fato de ter perdido quatro de suas seis #NBAFinals. Mas talvez tenha muito a ver com as ameaçadoras, assustadoras e constantes comparações com Michael Jordan, que não fazem bem a ninguém. Desta forma, estava preparado aqui para escrever mais um texto cheio de elogios e hipérboles a respeito do craque, que era bobabem perder tempo com paralelos históricos, que o lance é realmente apreciá-lo, enquanto ainda tiver fôlego para produzir como superestrela. Contra o Warriors, fez tudo o que podia, com números e esforço superlativos.

Até que… Ka-bum. O jornalista Marc Stein, do ESPN.com, soltou o seguinte petardo, numa tradução livre: “O jeito impróprio de LeBron de lidar com Blatt“.

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Que a relação entre o jogador e o treinador não era das melhores, já sabíamos. Os problemas no relacionamento foram bem documentados, numa narrativa que contou com diversas matérias e informações de Brian Windhorst, o jornalista mais chegado ao universo lebroniano. Porém, o fato de o time ter alcançado a decisão, sem três de seus principais atletas, nos fazia supor que as coisas haviam se apaziguado, em busca de um objetivo em comum. Ledo engano. O relato de Stein chega a ser perturbador. Alguns trechos de seu texto:

“Tenho uma questão para LeBron James que realmente espero que ele possa responder algum dia. Uma questão que pode ser feita de um modo variado. Que tipo de técnico você quer? Quem por aí afora seria um técnico pelo qual você gostaria, mesmo, de jogar? Quem o Cleveland Cavaliers poderia contratar que ganharia o seu apoio? Não tenho as respostas para nenhuma dessas questões. O assistente Tyronn Lue seria meu melhor palpite. Sei de uma coisa, porém: James é jogador muito brilhante, realmente grandioso, para se comportar do jeito que ele fez com David Blatt durante as finais da NBA”, diz seu lead.

As dificuldades no ataque têm a ver com Blatt ou LeBron? (Ou os dois, ué?)

As dificuldades no ataque têm a ver com Blatt ou LeBron? (Ou os dois, ué?)

“Vimos LeBron castrar Blatt de modos que são simplesmente impróprios para um jogador da estatura de James, que está construindo uma lenda toda própria. Vi de perto isso, em meu papel de repórter ao lado da quadra para a ESPN Radio. James essecialmente pediu tempos e fez substituições por conta. Ele questionava Blatt dura e abertamente depois de decisões que ele não gostava. Ele se reunia frequentemente com Lue, olhando para qualquer um menos Blatt”, prossegue.

“Teve a vez, por exemplo, que testemunhei no Jogo 5, sentado atrás do banco do Cavs, James balançando a cabeça veementemente em sinal de protesto após uma jogada desenhada por Blatt no terceiro quarto, num pior sinal possível de reprovação silenciosa que você poderia imaginar e que obrigou Blatt, na frente de toda a sua equipe, apagar a prancheta e elaborar algo diferente”.

“Essa me pareceu uma imagem que não faz jus a uma das maiores carreiras de todos os tempos, sem importar o quão inepto ele possa considerar o técnico. Com seus companheiros de Cavs vão tratar Blatt com qualquer forma que se aproxime reverência quando James o trata como um mero ornamento na frente de todos? Como James pode louvar sua própria liderança, como faz constantemente, quando age desta maneira?”, questiona.

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Tudo por LeBron: os malabarismos do Cavs

Por aí vai. Antes de mais nada, para quem não está familiarizado com o jornalista, estamos falando de uma das figuras com maior credibilidade na liga, com uma cobertura que começou em… 1991. Não é um qualquer desavisado (oi!), especulando, bagunçando, citando fontes anônimas. Mas, sim, um cara veterano que assistiu aos seis jogos das finais num assento privilegiado, alguém com contatos no país todo e que, veja bem, trabalha para a ESPN. Tipo a Globo dos Estados Unidos, galera, quando o assunto é esporte. Se há uma organização que faria de tudo para evitar chatear o astro, seria essa da sigla de quatro letras.

Stein, então, relembra como Tim Duncan respeitou Gregg Popovich desde o início em San Antonio, mesmo antes de o Coach Pop ganhar o status que tem hoje. Essa é uma simbiose incomum, pode ser sacanagem citá-la. Daí que ele lembra como o próprio Andre Iguodala,  aceitou Steve Kerr, mesmo que o técnico tenha decidido colocá-lo no banco pela primeira vez na carreira. Enfim, são diversos exemplos nesse sentido, de uma relação saudável entre jogador e treinador que leva os respectivos times adiante.

O experiente jornalista, de todo modo, também lembra que Blatt tem responsabilidade nesse estresse, ao falhar em conquistar o respeito geral de seu elenco, independentemente de ter sido contratado inicialmente para uma missão (elevar o Cavs a time de playoff, com um elenco jovem) e terminado com outra (guiar um supertime rumo ao título em seu primeiro ano de liga). Ganhar, LeBron, era a prioridade, conforme um scout bastante familiar com o trabalho do técnico havia dito ao blog. O sucesso passava por isso. Blatt, a princípio, tentou se impor. Depois do atrito, também fez concessões, entre elas muito do controle das jogadas a LBJ, abrindo mão de seu sistema ofensivo  quando as coisas não estavam se encaixando em quadra. Afinal, seria burrice ignorar as sugestões de alguém com visão de quadra apuradíssima – e, não, só pelo peso de seu nome. Pelo que entendo, a intenção do texto não é defender o técnico cegamente e atacar gratuitamente o atleta, mas tentar entender, antes de tudo, aonde o jogador esperava chegar ao tratar o (?) comandante de tal maneira?

>> Jogo 1: Iguodala, o reserva de US$ 12 m que roubou a cena
>> Jogo 2: Tenso, brigado… foi um duelo para Dellavedova
>> Jogo 3: Cavs vence e vira a série, dominando. Ou quase isso
>> Jogo 3: Blatt ainda não levou o título. Mas merece aplausos
>> Jogo 4: Cavs entrou de All In. O Warriors tinha mais fichas

>> Jogo 4: O (outro) jogo de equipe do #GSW contra limitado Cavs
>> Jogo 5: Curry merecia uma dessas, e o Warriors fica perto
>> Jogo 6: Campeão e queridinho: nem sempre foi assim

O que nos leva ao seguinte questionamento: será que em algum momento Blatt teve alguma chance de conquistar o astro? Erik Spoelstra penou em sua mão também, mas contou com a ajuda de Pat Riley e Dwyane Wade para segurar as pontas, contornar a tensão inicial e chegar a um estágio em que seus conceitos de jogo poderiam prevalecer. Não vai ser qualquer rabisco de prancheta que vai convencer James. Isso está claro. Que os jogadores tenham mais poderes era algo que deveria acontecer, mais, aliás. É uma tese de LeBron que me agrada. O treinador tem a palavra final, mas o mais saudável é sempre um bom diálogo, como Steve Kerr nos ensina.

Ao que parece, o grande problema aqui é um ego desmedido. O ego de quem sabe que é a maior figura da NBA hoje – uma referência para o marketing global. Que, de novo, tem o Cavs na palma de suas mãos, deixando o proprietário Dan Gilbert e o gerente geral David Griffin numa situação muito desconfortável. Lembrem-se que ele pode se tornar agente livre logo mais, algo que Griffin espera que aconteça, mesmo, com o exercício de uma cláusula contratual. É difícil de imaginar que o ala possa virar as costas para o “seu povo” mais uma vez. Os trunfos são todos dele, todavia, na hora de negociar. Em sua missão declaradamente messiânica, quem poderá interferir?

LeBron James, Cavs, Cleveland, legacy

LeBron é alguém preocupado com seu legado. Dentro e fora de quadra

Em entrevista coletiva nesta quinta, que já estava programada e acabou coincidindo com a publicação do artigo bombástico, o gerente geral mais uma vez assegurou Blatt como seu técnico para a próxima temporada. Qualificou a publicação de Stein como “sensacionalista” – embora em nenhum momento o texto carregue na tinta e tenha críticas estritamente baseada em observações in loco do que se passava em torno do Cavs, e não no diz-que-diz de fontes anônimas. Convenhamos que não havia como ser diferente a atitude da diretoria, assim de imediato, já que Blatt, com uma equipe toda remendada, ficou a duas vitórias do título. Com o respaldo de Gilbert, que escolheu pessoalmente o técnico, o cartola agora deve torcer para que o período de férias e o longo distanciamento entre as partes sirva para aplacar essa tensão. Desde que Irving se reabilite, que Kevin Love renove (e seja mais bem explorado pelo treinador, diga-se) e que o contrato de Brendan Haywood e a escolha de Draft deste ano sejam bem aproveitados, o Cleveland tem tudo para voltar fortalecido e justificar a condição já de favorito nas bolsas de aposta.

LeBron, Finals, 2015, Cavs

Vai ter contra-ataque?

Por mais óbvia que seja a necessidade de mimar e convencer o astro, é preciso também encontrar um equilíbrio e não ceder todo o controle ao atleta. Acho. Com a divisão apropriada de tarefas é que poderemos saber até onde vai a culpa e o mérito de um e do outro. Com a disposição de LeBron de assumir as rédeas, fica tudo nebuloso. Peguemos a tática para desacelerar o jogo ao máximo, que deu tão certo nos três primeiros jogos. Quem teve maior influência aqui? Um jogo lento, porém, não significa que precise ser estagnado, com quatro atletas plantados em quadra esperando a definição do craque. Quem ditou o posicionamento deles?

Enfim, as questões são meio que retóricas, e, independentemente das incertezas, Blatt ainda merece muitos elogios. É inconcebível que o jogador tenha planejado tudo sozinho. De qualquer maneira, aguardo com ansiedade, desde já,  o ‘outro lado’ da história, o de LeBron. Das duas, uma: a) um artigo recheado de fatos que tentem menosprezar Blatt e explicar o desdém do astro por sua figura; ou b) um artigo que procure dizer que não existe nada disso, tentando descolar a imagem da estrela de uma eventual decisão drástica sobre o treinador – quiçá não haja resposta nenhuma até, estratégia que talvez seja ainda mais eficiente.

E admito: nas aulas (seculares) de história, ou nas histórias de fantasia, a ideia da existência de um rei, de um líder supostamente magnânimo, nunca me agradou tanto – e o Game of Thrones, galera, só faz esse sentimento piorar, né? Houve reis e reis, imaginários, ou não, é verdade, mas em geral não me deixo seduzir por qualquer aura que os homens da coroa possam ter. Logo, se você for juntar os pontos, deve imaginar que não curto o apelido (autodeclarado de) King James.

Em quadra, ele teve uma atuação soberana contra o Warriors, mesmo que aqui e ali tenhamos aqui e ali algum indício de declínio, a julgar pela dificuldade que teve para encarar Iguodala e o baixo aproveitamento nos arremessos de quadra, que despencaram nos playoffs em relação ao que andava fazendo em Miami. Claro que o contexto do time, desde os companheiros ao sistema tático, influencia de modo decisivo nessa queda de eficiência – mas, não, na consistência. A carga enorme carregada nessa última jornada, ao meu ver, só faz a lenda crescer. Foi um desempenho absurdo. Em quadra, já um dos dez melhores da história.

Por outro lado, os recentes relatos dos bastidores do Cleveland dão claramente outra contação a essa alcunha de Rei, nos remetendo a um déspota. Estaria LeBron verdadeiramente preparado para assumir toda a responsabilidade e adotar o esquema de “eu ganho” e “eu perco”, abolindo a primeira pessoa do plural? Ironicamente, é isso o que o seus críticos mais querem.


Campeão, Golden State é hoje o queridinho da NBA. Nem sempre foi assim
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Giancarlo Giampietro

CLEVELAND, OH - JUNE 16: The Golden State Warriors celebrates with the Larry O'Brien NBA Championship Trophy after winning Game Six of the 2015 NBA Finals against the Cleveland Cavaliers at Quicken Loans Arena on June 16, 2015 in Cleveland, Ohio. NOTE TO USER: User expressly acknowledges and agrees that, by downloading and or using this photograph, user is consenting to the terms and conditions of Getty Images License Agreement. (Photo by Ezra Shaw/Getty Images)

Eles estrelaram contra LeBron James as #NBAFinals de maior audiência nas transmissões da ABC. Stephen Curry foi alçado ao rol dos jogadores mais populares da liga. O estilo de jogo é vistoso, frenético, empolgante. Eles se tornaram os queridinhos da América, antes mesmo da conquista do título nesta terça-feira, com uma vitória por 105 a 97 sobre o Cleveland Cavaliers para fechar a série.

Não tem muito o que ser dito sobre este Jogo 6, em relação ao que se passou nos últimos duelos (comentários linkados logo abaixo). O Cavs fez o que podia com o que havia de disponível. David Blatt não conseguiu criar um fato novo na série – e sabe-se lá qual fato poderia ser esse, com um banco de reservas muito limitado devido aos desfalques de Kyrie, Love e Varejão e a surtada básica de JR Smith, dos profissionais milionários mais imaturos que a gente vai ver por aí. Não dava para esperar nada de Mike Miller, Shawn Marion ou Kendrick Perkins.

E não dava para pedir mais nada de seu grande craque, o ídolo local que ficou a uma assistência de mais um triple-double, com 32 pontos e 18 rebotes em 47 minutos. O camisa 23 terminou a série decisiva com 35,8 pontos, 13,3 rebotes, 8,8 assistências – é a primeira vez que um atleta lidera as finais nestes três quesitos –, em 45,8 minutos, mas com 39,8% nos arremessos de quadra. Amarga o quarto vice-campeonato em seis finais, mas não há absolutamente nada o que falar a respeito de seu desempenho desta vez. Está entre os maiores já.

A série
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A partir do quarto período da terceira partida, com uma arrancada que ameaçou aquela que seria a segunda vitória do Cleveland, os campeões do Oeste sobraram – mesmo que não tenham conseguido impor seu estilo seu ritmo. De modo que, agora, eles são também os campeões da liga como um todo, após 40 anos. Aclamados. Entre eles está Leandrinho, o segundo brasileiro campeão da liga, 12 anos depois de sua estreia. Com um papel limitado, mas jogando muito bem, importante na engrenagem de um grande time, que somou 83 vitórias e 20 derrotas em todo o campeonato.

Esse é o terceiro maior total de triunfos na história, atrás apenas do Bulls de 1996 e 97, e uma quantia que se explica pela combinação de ataque (o mais eficiente da temporada, num empate técnico com o Clippers) e também a melhor defesa, mesmo jogando no ritmo mais acelerado do campeonato. Uma combinação inédita, aliás, mas aplicada por um vencedor como Steve Kerr, em seu primeiro ano no cargo, para dominar uma Conferência Oeste inóspita.

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40 anos de sofrimento: as trapalhadas do #GSW

A grande surpresa foi, confesso, a eleição de Andre Iguodala a MVP das finais. Não que não merecesse: teve o meu voto virtual. Acreditava, porém, que Stephen Curry levaria, pelo maior cartaz (e não seria um absurdo, digamos) – já que seria muito difícil entregar o troféu para o melhor em quadra, mesmo, uma vez que ele saiu de quadra derrotado. A candidatura do ala teve como plataforma principal a defesa que fez para cima de LeBron. Incrível sua resistência diante de uma força da natureza. O astro adversário acumulou números espetaculares, mas o fato é que, quando marcado diretamente pelo antigo sexto homem do Warriors, seu rendimento foi ínfimo.

Mas não fica só nisso: Iguodala foi o atleta mais consistente para Steve Kerr durante as seis partidas e também contribuiu no ataque, com 16,3 pontos, 4,0 assistências, 40% nos arremessos de longa distância e 52,1% no aproveitamento geral de quadra. Para não falar dos 5,8 rebotes, importantíssimos para facilitar a decisão do técnico de promovê-lo ao time titular no Jogo 4, no lugar de Bogut. Com ele em quadra, o Golden State teve saldo de 62 pontos em 222 minutos de ação. Nos 76 em que descansou, sua equipe saiu com placar negativo (-19).

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Ao contrário do que se passou com o Cavs, contudo, com sua total dependência de LeBron, o Golden State realmente venceu como conjunto. É nessa hora que vale a pena recuperar o histórico de alguns dos personagens. Quem são esses caras, afinal? E aí que se dá conta de que nem sempre foi assim. Nem sempre foram as figuras mais aplaudidas do pedaço. Muitos daqueles que hoje são celebrados já ouviram muitos “nãos” na carreira, a começar pelo MVP da temporada regular:

Stephen Curry: filho de um jogador de sólida carreira na NBA, mas o sobrenome não foi o bastante para que conseguisse bolsa em uma universidade mais prestigiosa. Fechou então com a modesta instituição de Davidson, que mandou, no total, apenas seis jogadores para a grande liga. Quatro deles se aposentaram antes dos anos 80. Era considerado muito frágil, baixo, lento para que se tornasse um profissional, quanto menos seu jogador mais valioso.

Klay Thompson: mais um caso de prospecto que tinha tudo para se profissionalizar com tranquilidade. Afinal, também tinha um pai com currículo significativo, sendo inclusive campeão pelo Lakers e número um em seu Draft. Quando colegial, nas partidas mais relevantes, ficava mais tempo no banco, vendo um tal de James Harden, antes da barba, brilhar em quadra. Foi ignorado pelas principais universidades da Califórnia e teve de buscar uma vaguinha em Washington State, que, ao menos, revelou 16 jogadores de elite. Também teve um incidente com a polícia em sua época de universitário, detido com posse de maconha. Não curto muito a patrulha contra atletas fora de quadra, mas obviamente que se trata de uma notícia que poderia ter atrapalhado o lançamento de sua carreira. Hoje, um All-Star e campeão mundial.

Leandrinho e Steve Kerr: o título não saiu pelo Phoenix Suns. Mas veio após 12 anos na liga

Leandrinho e Steve Kerr: o título não saiu pelo Phoenix Suns. Mas veio após 12 anos na liga

Leandrinho: sair do basquete brasileiro para brilhar na NBA parece, hoje, algo fácil, devido ao constante influxo de talento daqui para lá. Balela. É uma transição ainda muito difícil. Mais complicado ainda é se fixar por lá e vencer (muitos jogos) e ganhar (uma bolada e prêmios). Foi o caso do ligeirinho, estreante em 2003. O tempo passa, porém, e, já veterano, o ala-armador passou por provações talvez ainda mais desafiadoras que o Draft. Com uma cirurgia por lesão do ligamento cruzado anterior, teve de retomar sua carreira no Brasil, com ajuda do Pinheiros, até retornar aos Estados Unidos pela porta dos fundos. Nem o Golden State Warriors confiava plenamente em sua recuperação, diga-se, tendo lhe oferecido um contrato sem garantias. Daqueles em que o clube pode cortar o atleta até janeiro, sem obrigação de pagar todo o salário acordado. Pouco provável que tenha de esperar tanto por um emprego na temporada que vem.

Ao sair de quadra, Draymond Green fez questão de relembrar como muitos lhe disseram que ele não teria a menor chance na NBA

Ao sair de quadra, Draymond Green fez questão de relembrar como muitos lhe disseram que ele não teria a menor chance na NBA

Draymond Green: um ala-pivô de 2,01 m? E lento? Sem impulsão? Na NBA? Ah, conta outra. A revelação de Michigan State construiu um grande currículo na NCAA, tinha os números ao seu favor, mas seu perfil não agradava tanto assim a grande parte dos scouts. Foi selecionado, como um senior, aos 22 anos, apenas na 35ª colocação, atrás, pela ordem, de Jae Crowder, Bernard James, Tomas Satoransky, Jeffery Taylor, seu companheiro Festus Ezeli, Marquis Teague, Perry Jones… Enfim, entenderam, né? Até Fabrício Melo, o 22º, saiu antes. Está preparado para receber um contrato na casa de US$ 15 milhões anuais.

Andre Iguodala: ok, um jogador elogiado basicamente durante toda a sua carreira. Como ele mesmo disse ao receber o prêmio em quadra: já foi comparado a um jovem Scottie Pippen, um jovem Grant Hill, Penny Hardaway… Para tê-lo no elenco, o Golden State pagou duas escolhas de Draft. Acontece que, neste ano, ao se apresentar para o training camp, foi puxado de canto por Steve Kerr para ser informado de que viraria reserva. O técnico o enxergava como o sexto homem do time. Pode parecer bobagem, mas há muitos atletas que não tolerariam um comunicado desses e pediriam troca. (Oi, Dion Waiters). Iguodala admite que estranhou a ideia a princípio. Mas topou a causa e não abriu o bico em nenhum momento durante o campeonato. Acabou, por isso, fazendo história, ao ser o primeiro MVP das finais sem ter começado sequer uma partida da temporada regular como titular.

– Andrew Bogut e Shaun Livingston: mais dois casos de atletas prestigiados desde cedo. A dificuldade que a dupla teve de enfrentar teve a ver com questões física. Gravíssimas lesões, daquelas que ameaçam uma carreira. Especialmente no caso de Livingston, quando ainda era um promissor armador pelo Los Angeles Clippers, aos 21, em 2007, e arrebentou o joelho num dos lances mais assustadores que você vai achar no YouTube. Ficou um ano parado, em recuperação. Desde que voltou, defendeu sete times diferentes (incluindo o Cleveland) até chegar nesta temporada ao Golden State. A lesão mais séria de Bogut aconteceu em 2010, quando, após uma enterrada em Milwaukee, caiu em quadra com tudo, sofrendo deslocamento no cotovelo, fratura no braço e torção do pulso.


Steph Curry merecia uma dessas, e Warriors fica perto do título
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Giancarlo Giampietro

stephen-curry-warriros-game-5

Stephen Curry estava precisando de uma partida dessas. Para fazer justiça ao seu campeonato magnífico. Não que estivesse jogando mal. Nas últimas duas partidas, já havia feito algumas coisas memoráveis. Mas estava faltando uma atuação seminal, assim como foi toda a sua campanha. Nas palavras de Everaldo Marques… Bingo! Aconteceu neste domingo, e o Golden State Warriors agora está a uma vitória do título, tendo vencido o Cleveland Cavaliers por 104 a 91.

LeBron James conseguiu o segundo triple-double nestas #NBAFinals, mas foi privado da comemoração, diferentemente do que havia acontecido no Jogo 2, quando saiu de Oakland com o mando de quadra ao seu favor. Aquela foi mais uma exibição primorosa do astro, o melhor jogador desta série decisiva, sem dúvida. Até mesmo coadjuvantes como Matthew Dellavedova e Andre Iguodala já tiveram seus momentos definitivos. Numa série sensacional, com suas idas e vindas, faltava, então, uma exibição magnífica do MVP da temporada. E aí vieram os 37 pontos em 42 minutos, com sete bolas de três pontos em 13 tentativas.

Melhor: boa parte de sua produção desenrolada no quarto final, respondendo a mais uma tentativa de marcha de James e seus aguerridos cavaleiros. Curry marcou 17 pontos na última parcial (um recorde nos últimos 40 anos), com 5-7 nos arremessos em geral, 3-5 de longa distância e mais 4-4 lances livres. Algumas de suas cestas desafiaram qualquer lógica pré-estabelecida – cujos vídeos deveriam ser acompanhados por algum aviso do tipo: “Não tentem repetir isso em casa. Ou melhor, na sua quadra”.

A série
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>> Jogo 4: O (outro) jogo de equipe do #GSW contra limitado Cavs

Sim, corre-se esse risco. Assim como Kevin Garnett influenciou sabe-se lá quantos pirulões a expandir seu arsenal de fundamentos, neste exato momento milhares de baixotinhos estão assistindo ao astro do Warriors, congelando a imagem frame a frame, para tentar imitar seus movimentos, acreditando ser possível. Provavelmente um pirralho chegue perto no futuro. Igualá-lo? Impossível. Estamos vendo alguém único, que realmente quebra paradigmas em quadra com sua destreza nos arremessos a partir de um controle de bola belíssimo.

Curry joga, de certa forma, no limite. É o máximo de refinamento técnico que se tem por aí hoje, mas por vezes passa a impressão de que está flertando com a displicência. Contra uma defesa feroz, combativa como a do Cavs, a eficiência não foi a mesma da temporada regular ou dos playoffs. Seus números em pontos, assistências e aproveitamento nos arremessos caiu, enquanto o de turnovers decolou, com média de cinco por partida. A segunda partida beirou o desespero, por exemplo, com 18 arremessos errados em 23 tentativas e mais desperdícios de posse de bola (seis) do que assistências (cinco).

Dellavedova foi bastante elogiado por seu trabalho, e com razão. Matéria do Plain Dealer, todavia, indica que talvez os elogios tenham sido exagerados. Pelo visto do ponto de vista do astro do Warriors, que estaria pê da vida com a atenção dada ao seu marcador. “As pessoas mexeram com o Steph, o que é positivo para nós”, afirmou Andrew Bogut, hoje relegado a assistente técnico no banco, sobre a badalação em torno de seu compatriota. “É algo que você não gostaria de fazer, mas que para nós funcionou muito bem. O Delly é um grande defensor, mas sabemos que não vai anular Curry.”

Se foi essa sensação de desrespeito, se acabou o gás do adversário ou se simplesmente o cestinha do Warriors teve duas noites pouco inspiradas, a gente dificilmente será comunicado oficialmente a respeito. Fato é que demorou um pouco para que ele se encontrasse no duelo. Quando achou o rumo… Aí danou-se tudo. Depois de acertar apenas 4 de 21 disparos de fora, converteu 18 de 33 nas últimas três. Faz parte do pacote, e o torcedor do Golden State já está mais que acostumado – e maravilhado – com isso. Nas finais, o restante do público pode se entregar.

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Claro que uma diferença dessas não acontece ao acaso. Steve Kerr mudou o modo como explorar seus talentos, deixando quele retomasse alguns hábitos dos tempos de Mark Jackson com mais investidas individuais, uma vez que Dellavedova estava fazendo um excelente papel em lhe negar a bola a partir de trilhas do lado contrário. Outro fato é o simples cansaço de seus oponentes em geral. Algo difícil de quantificar, mas que é inegável e muito relevante.

Nos últimos três jogos, a equipe californiana venceu o quarto período por um placar agregado de 94 a 57. São 37 pontos de vantagem em 36 minutos. O Cavs faz um jogo duro por três parciais e despenca na última, cai por terra. Neste domingo, enquanto o Warriors marcou 19 pontos nos últimos cinco minutos, com 5-8 de quadra, os visitantes ficaram, respectivamente, com 7 e 2-10. Uma discrepância de rendimento que impediu mais um desfecho ao estilo thriller, como tivemos nas duas primeiras partidas em Oakland.

Mas foi um jogaço, de todo modo. Se, bem no início, o basquete apresentado era tenebroso, com direito a cinco turnovers e três airballs em pouco mais de quatro minutos de ação, depois o nível subiu consideravelmente. A emoção foi junto. Foram 20 trocas de líder no placar e 10 empates até o Warriors desgarrar nos últimos quatro minutos. Quando cronômetro ainda mostrava 4min52s, a vantagem dos anfitriões era de apenas um ponto, 85 a 84, depois de uma cesta de Tristan Thompson. Um pouco antes, a 7min47s, com uma bola de muito longe de LeBron, o Cavs chegou a liderar por 80 a 79. Mas o time não teria, então, condições de esfriar Curry, nem mesmo com as faltas intencionais para cima de Andre Iguodala.

Blatt e LeBron tentaram de tudo, aliás. Da parte do treinador, o ajuste maior foi a redução significativa dos minutos de Mozgov, que terminou com apenas nove – e zerado em pontuação, depois de fazer muito provavelmente a melhor partida de sua vida na quinta-feira. Houve momentos em que o superastro era o mais alto do time em quadra, acompanhado por James Jones, Iman Shumpert, JR Smith e Matthew Dellavedova. E, por um bom tempo, deu certo.

É o que dá ter um talento como o de LBJ no elenco. Mesmo em sua formação mais baixa, o Cavs era o time mais forte e físico por causa da mera presença de seu camisa 23, um jogador realmente transcendental, que se juntou a Magic Johnson no clube daqueles que foi armador e pivô num mesmo jogo pelas finais da NBA. A diferença: Magic fez isso em 1980, outra época, com jogo muito mais concentrado no garrafão, claro. (E foi campeão).

Mas, por favor, creio que não há nada que se possa atirar na direção do craque do Ohio, independentemente do que vai acontecer na próxima terça. Se vai ter empate, ou se a conta fecha em seis a favor do Warriors. Dessa vez ele saiu de quadra com 40 pontos, 14 rebotes e 11 assistências, sendo apenas o segundo jogador na história da liga a conseguir um triple-double com 40 pontos na série decisiva. O outro foi Jerry West, em 1969, pelo Los Angeles Lakers. Ironicamente o raro ano em que um jogador do time derrotado foi eleito o MVP do confronto – e ninguém do Boston Celtics estranhou. Não seria absurdo algum repetir esse feito agora com James.

Pois, de novo, não foi só uma questão de brilho estatístico, mesmo que ele tenha tido sua partida mais eficiente nos arremessos (15-34). O que engrandece mais seu desempenho é a dinâmica desses jogos, com o craque carregando o time enquanto pode. No primeiro tempo, das 17 cestas de quadra de Cleveland, 16 tiveram seu envolvimento direto ou indireto. No final, nos ataques em que LeBron não arremessou ou não deu um passe para chute, seus companheiros acertaram apenas 6 em 25 tentativas, com 1-11 nos três pontos.

Já Curry obviamente não fez as coisas sozinho. A disparidade de talento entre um plantel e o outro (desfalcado) é enorme. O Warriors conseguiu 67 pontos com jogadores que não atendem pelo nome de Stephen. Já os atletas de sobrenome diferente de James marcaram 51. Tristan Thompson foi o único parceiro que conseguiu produzir em alto nível neste Jogo 5, com 19 pontos e 10 rebotes. JR Smith deu sinal de vida no primeiro tempo, com 14 pontos, mas voltou a se atrapalhar no segundo. Iman Shumpert foi bem nos chutes da zona morta (3-6), mas tem sérias dificuldades para colocar a bola no chão e completar uma bandeja. As limitações de Dellavedova foram expostas. Já Mike Miller provou, nos surpreendentes 14 minutos que recebeu, que não sua presença neste tipo de jogo já não é mais justificável – se mexe pela quadra com as costas travadas e não dá conta de parar ninguém, sendo até inexplicável a o número reduzido de tentativas do Warriors para atacá-lo no um contra um.

Do outro lado, Andre Iguodala pode ter vivido um pesadelo nos lances livres, errando 9 de 11, mas jogou demais novamente, com 14 pontos, 8 rebotes e 7 assistências. Em termos de consistência e esforço, o ala é o melhor jogador do Warriors nas últimas duas semanas. Depois do que o Chef Curry fez, porém, dificilmente vai perder o prêmio de MVP das finais, a não ser que os eleitores quebrem o protocolo, indicando James.

Draymond Green foi outro que entregou de tudo um pouco a Steve Kerr, com 16 pontos, 9 rebotes e 6 assistências (ainda que se atrapalhando com a bola quando enfrentou jogadores mais baixos, cometendo quatro turnovers). Harrison Barnes atacou os rebotes como nunca, terminando com 10 no total e ainda se impôs atleticamente em alguns embates com James. Se Klay Thompson esteve bem abaixo da média, com 12 pontos em 14 arremessos, seu deslize permitiu a Leandrinho mais minutos, e o ala-armador respondeu muito bem, com sua melhor exibição na série: 13 pontos em 17 minutos, agressivo e novamente eficiente (4-5 nos arremessos, 4-4 nos lances livres). É de se imaginar que o brasileiro não vá ter problema algum para assinar seu próximo contrato:

Isto é, Steve Kerr tem mais alternativas com quem trabalhar. Dessa vez, ele usou até mesmo o pivô Festus Ezeli em alguns minutos estranhos de rotação para abrir o quarto final, enquanto Blatt tinha Mozgov em quadra. O técnico do Cavs foi novamente superior, mas seu raio de ação, porém, se encerra com as limitações da equipe. Kerr, porém, sempre vai ter o mérito de ter feito sua mudança drástica antes do Jogo 4 e também por lidar da melhor forma com os jogos incríveis de LeBron. “Ele tem a bola em mãos por muito tempo. Nós temos de continuar com nosso plano e não esmorecer se ele acertar seus arremessos. Ele vai, não tem jeito”, diz Curry, sobre seu concorrente, meio que repetindo um mantra desde o Jogo 1. “Mas, no decorrer de 48 minutos, esperamos desgastá-lo e deixar as coisas muito difíceis para ele.”

É o que tem acontecido. LeBron vem produzindo, mas corre o risco de, com o distanciamento histórico, ver suas exibições relevadas. O craque sabe como as coisas funcionam, após ter conquistado dois títulos e enfrentou muitas decepções. Curry também está ciente a respeito. Por isso, não vai se gabar de um outro lance que tira do sério até mesmo os jogadores que estão na plateia. Como quando passou a descadeirar um australiano já sem se incomodar com a pegada do australiano, entendendo como responder ao desafio. Continua com os lances de efeito, mas com os olhos para a cesta, para o título. O espetáculo que aconteça de maneira inerente. “Foram alguns momentos legais, mas eles só vão significar alguma coisa se formos campeões. Provavelmente terei uma resposta melhor para essa pergunta depois de vencermos o campeonato”, afirmou o armador do Warriors, torcendo para que isso aconteça o quanto antes. “Momentos definitivos só acontecem para os jogadores que estão segurando o troféu.”