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Iguodala: o homem de US$ 12 mi que aceitou a reserva e roubou a cena

Giancarlo Giampietro

Chef Curry teve quem cumprimentar no Jogo 1 das finais

Chef Curry teve quem cumprimentar no Jogo 1 das finais

Andre Iguodala embolsou mais de US$ 12 milhões por esta temporada – na carreira, já passou dois US$ 86 milhões. Foi campeão olímpico e mundial pelos Estados Unidos nos últimos três anos e um All-Star em 2012. Então como é que você espera que um cara desses vai reagir quando vem o técnico, que mal acabou de chegar, dar a seguinte ideia: que tal você ir para o banco de reservas?

O ala admite que matutou um pouco de primeira. Mas concedeu. Disse a Steve Kerr que confiava no que ele estava fazendo, e que tudo bem ficar no banco de Harrison Barnes, um jovem de 23 anos que nunca marcou mais de 10 pontos por jogo em média em sua carreira.

Nesta quinta-feira, na abertura das #NBAFinals, o veterano comprovou a tese de que pouco importa a forma como você começa o jogo. Se está em volta do círculo central no bola ao alto ou no banco, com a faixa de capitão ou sendo ovacionado pela torcida. O que vale, mesmo, é como você o termina – e o que se faz em quadra até o cronômetro zerar.

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Foi Iguodala o único defensor do Golden State Warriors que, enfim, encontrou um meio de incomodar LeBron James na última posse de bola do tempo regulamentar, impedindo que o craque subisse equilibrado para o arremesso. Deu aro, e a prorrogação estava garantida. ''É o que pretendemos fazer durante toda a série: que ele precise de arremessos difíceis'', disse o ala. No tempo extra, a equipe da casa passou, então, o trator – não sem mais uma grande cartada de Steve Kerr, que sacou seus dois cincões, usou pela primeira vez na partida sua perturbadora formação mais baixa e viu os tampinhas destroçarem um estarrecido Cleveland Cavaliers para vencer uma partidaça, por 108 a 100. O Jogo 2 será realizado no domingo.

LeBron fez o que pôde: 44 pontos em 46 minutos, seu recorde pessoal em sua quinta participação nas finais da liga americana. Mas acabou derrotado por um time. Um coletivo que teve em Andre Iguodala sua maior expressão neste primeiro embate eletrizante, que já é um clássico instantâneo.

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O ala de 31 anos terminou com 15 pontos, 3 rebotes, 2 assistências, 1 roubo de bola e 1 toco, em 32 minutos, pontuando com eficiência impressionante para os seus padrões. É uma bela linha estatística, não? Bem superior à que produziu durante a temporada na qual sacrificou seu rendimento em prol da equipe: 7,8 pontos, 3,0 assistências, 3,3 rebotes em 26,9 minutos, todas elas as menores médias de sua carreira.

Mas é também só mais um caso de como os números, ainda mais nessa versão simplificada, não contam toda a história. No ataque, Iguodala jogou com uma desenvoltura impressionante e muita versatilidade. Deu duas enterradas belíssimas em jogadas de muita habilidade com a bola para encerrar os primeiro e terceiro quartos e converteu até mesmo uma cesta de três com o pé esquerdo descalço (veja abaixo). ''Quando você está no ritmo, dá para jogar até de meias. É como nós todos fazemos em nossos quartos'', disse.

De três, da zona morta, só de meia no pé esquerdo

De três, da zona morta, só de meia no pé esquerdo

Mas foi na defesa que ele teve mais importância, como de praxe. No primeiro tempo, ao lado de Shaun Livingston, apertou as coisas e impediu que o Cavs estendesse uma vantagem que já era de 13 pontos. Depois, não se deixou intimidar pela exuberância atlética e técnica de LeBron e batalhou até o final, até frear o supercraque. Veja o aproveitamento nos arremessos do camisa 23 do Cavs quando marcado pelo número 9 do Warriors e, depois, um desarme que resultou em contragolpe com enterrada:

Contra Iguodala, LeBron acertou 9 de 22 chutes, num aproveitamento de 40,9%. Contra o restante da defesa do Warriors, os números foram 9-16 (56,2%)

Contra Iguodala, LeBron acertou 9 de 22 chutes, num aproveitamento de 40,9%. Contra o restante da defesa do Warriors, os números foram 9-16 (56,2%)

LeBron que deve reconhecer, intimamente, a grande oportunidade desperdiçada pelo Cleveland em Oakland, ainda mais depois de ver Kyrie Irving sair mancando, com muitas dificuldades, rumo ao vestiário, com 23 pontos, 7 rebotes, 6 assistências, 4 roubos de bola e dois bloqueios em 44 minutos. A espera de uma semana parece ter feito maravilhas para o joelho do armador, aliviando sua tendinite.

O jovem astro estava muito bem quadra, jogando com energia surpreendente para alguém que mal pôde contribuir na varrida para cima do Atlanta Hawks na decisão do Leste. Não só pontuou, como defendeu muito bem, dando inclusive um toco no MVP Stephen Curry naquela que poderia ter sido a última investida do Warriors no confronto. Até LeBron errar seu chute – e Iman Shumpert também, com um arremesso maluco, no estouro do cronômetro, pegando a bola diretamente no ar e a devolvendo em direção ao aro no mesmo movimento. Se cai… O impacto na fanática torcida do Warriors seria o de um terremoto. ''No final do dia, nós nos permitimos ganhar o jogo, cara. Errei um arremesso duro'', disse James.

Irving saiu do ginásio amparado por muleta. Palpite inicial dos médicos é de que não sofrido nenhuma ruptura no joelho esquerdo

Irving saiu do ginásio amparado por muleta. Palpite inicial dos médicos é de que não sofrido nenhuma ruptura no joelho esquerdo

Mas não caiu, gente, para um empate de 98 a 98. E na prorrogação o Cavs só marcaria mais dois pontos, enquanto os anfitriões assumiam o controle. Curry foi fundamental nas primeiras posses de bola para cavar faltas e ir para a linha de lance livre – ele somou 26 pontos, 8 assistências e matou 10-20 nos arremessos em 43 minutos.. Depois, o que fez a diferença foi o quinteto baixo de Steve Kerr, num ato muito corajoso e esperto, claro, já que Andrew Bogut e Festus Ezeli não estavam conseguindo frear o russo Timofey Mozgov (16 pontos e 7 rebotes em 33 minutos). Juntos, Draymond Green, Barnes, Iguodala, Klay Thompson e Curry deram conta do recado.

Do outro lado, LeBron perdeu as rédeas. E aí que a abordagem de jogo isolado no craque acaba se revertendo. Quando a estrela foi contestada, o restante do time estava emperrado. Do segundo tempo em diante, aliás, só ele, Irving e Mozgov pontuaram por Cleveland. Muito pouco. No geral, seis visitantes apareceram nas tábua de pontuadores (com apenas os três aqui já citados com mais de dez pontos), enquanto o Warriors teve dez e cinco jogadores, respectivamente, nessas condições.

Fazia parte da estratégia de Kerr (e do excepcional Ron Adams, o responsável pela coordenação defensiva): grudar em JR Smith, Iman Shumpert e Kyrie Irving, sem mandar dobras para cima de James. Que ele derrubasse a melhor defesa do campeonato por conta. E foi quase, numa prova do talento imenso do jogador, já um dos dez maiores da história da liga. O interessante foi ver as diversas formas como LBJ foi para a cesta. Se era previsível que o ataque fosse canalizado em suas mãos, por outro lado as ações individuais começaram em diferentes pontos da quadra, o que confundiu a defesa do Golden State em muitas ocasiões, inibindo a cobertura de Bogut. Se Harrison Barnes foi basicamente engolido por LeBron, Iguodala conseguiu encará-lo nos momentos finais e acabar com essa festa. O reserva Iguodala, no caso.