Após exílio de 9 meses, folclórico Chris Andersen se torna peça-chave para o Miami Heat
Giancarlo Giampietro
Quem ainda acreditava no Homem-Pássaro?
Tirando Brook e Robin Lopez e sua fixação por histórias em quadrinhos, acho que ninguém.
Até que o Miami Heat topou abrir suas portas para Chris Andersen, o mítico Birdman. Primeiro, um contrato de dez dias. Depois outro. Até que decidiu renovar de vez com mais um jogador extremamente atlético para sua coleção, conseguindo um pivô que se encaixava perfeitamente com a nova proposta de jogo de Spoelstra. Acho que deu certo. Diga lá, Dwyane Wade?
“Ele é perfeito. Perfeito”, afirmou o ala-armador, que depois procurou filosofar sobre seu novo companheiro, tentando entender o fenômeno.
“Quando você olha para tudo que o Birdman é, o que as pessoas dizem que ele é e até mesmo o que ele é de certa maneira, ele não corresponde. Mas quando você olha para o modo como ele joga, sua produção na quadra e do que precisamos, é um ajuste perfeito”, disse.
Bem, deu uma viajada, né? Mas o que dá para entender dessa avaliação é que, para Wade, é fácil observar Andersen e se concentrar apenas nas caretas, bandanas, os mais diversos cortes de cabelo e, especialmente, nas tatuagens, tirando daí uma conclusão simples de que estamos diante de um tresloucado, de um jogador irresponsável, rebelde.
Aí você pega este, digamos, problema de imagem e soma o fato de ele já ter sido banido da liga por uso de drogas e envolvido, no ano passado, em nebulosa investigação em Denver, que levou à apreensão de computadores em sua residência, e o resultado foi que a NBA como um todo se distanciou do pivô, que ficou nove meses parado.
Não que George Karl e a comissão técnica do Nuggets tivesse alguma reclamação, uma postura contrária ao jogador. A equipe simplesmente não tinha espaço mais em sua rotação de pivôs, na qual Timofey Mozgov mal entra em quadra. Mas, quando procurados pelos treinadores de Miami, avalizaram qualquer negócio.
O que Spoelstra enxergava no pacote técnico de Andersen? Um jogador capaz de ampliar o espaçamento da quadra para sua equipe – para cima. Sim ele poderia – e conseguiu – adicionar mais uma dimensão ao ataque e a defesa dos atuais campeões. Com muita impulsão e mobilidade, ótimo tempo de bola e muita munheca, representou uma evolução considerável para a equipe que já contou com o mão-de-pedra Joel Anthony nesta função.
Aproveitando-se de excelente movimentação de bola de sua equipe, dos espaços abertos em infiltrações por LeBron e Wade, Andersen converteu 60,36% de seus arremessos na zona mais próxima da cesta. Mas a melhor notícia ainda é o fato de que 90,24% de seus arremessos durante todo o ano saíram dessa região. Estamos falando de 111 em 123 arremessos no total, com muita consciência tática – veja no gráfico abaixo. Para comparar, no ano passado, 77,8% de suas tentativas foram nessa faixa de curtíssima distância para o aro.
“Sabe, o clube me permite ser o jogador o que sou. Este tipo de liberdade dá uma grande margem de confiança para mim. Isso me inspira a voltar para o ginásio e trabalhar ainda mais duro, muito mais, para me esforçar em ser um jogador melhor”, disse Andersen, que tem 80% de suas cestas de quadra oriundas de assistências dos companheiros.
Além disso, com sua presença sui generis, o pivô se encaixou rapidamente em um elenco que o próprio técnico diz não ser dos mais fáceis: “Acho que este foi um ponto-chave com Cris, que ele se encaixou em um vestiário complexo. Você precisa ter personalidade, tem de ser confiante. Se não tiver a personalidade certa, você pode ser destroçado numa situação dessas”.
Hoje, o reforço é intocável. “Ninguém vai mexer com o Bird. Há dois caras que você não tem permissão para mexer aqui: ele e o UD (Udonis Haslem)”, afirmou LeBron.
A personalidade de Andersen é tamanha que ele dobrou até mesmo uma das regras pessoais de Spoelstra, que havia prometido que não se referiria a nenhum atleta por seu apelido e deixou escapar vez ou outra um “Bird” em suas entrevistas, se desculpando em tom de brincadeira na sequência. E nem precisava se desculpar, nem nada. Com Andersen, ou Bird, no time, o Heat decolou, acumulando 38 vitórias em 41 partidas. “Por alguma razão, ele é diferente”, explicou Spoelstra.
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Não há dúvida de que Chris Andersen seja um personagem cult, e há um certo cuidado para valorizar sua marca. Um dia desses ele corrigiu um repórter sobre seu hábito de simular batidas com os braços em quadra como se fossem asas. “Batida. Eu bato apenas uma vez, então não são batidas.”
(Se bem que, na abertura do Harlem Shake do Miami Heat, ele bate o braço no mínimo umas 13 vezes:
Figura.
Já um dos queridinhos da torcida do Miami, agora com exposição nacional nos EUA, chegou a hora de Andersen se apropriar do codinome Birdman como sua marca profissional. “Eu preciso registrar. Estamos tentando”, afirma. Seu agente, porém, só esclarece algo. “Tudo o que ele faz vai para caridade. Ele está envolvido demais com ciranças. Vamos lançar a Fundação Freebird para ajudar crianças desfavorecidas. Qualquer um que estiver vendendo camisetas ilegais do Birdman na Internet está roubando dinheiro da caridade”, disse.
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Veja abaixo as duas participações de Andersen na disputa de enterradas do All-Star Weekend em anos consecutivos, 2004 e 2005. Destaque, claro, para sua épica apresentação no segundo ano, na qual testou a paciência de toda uma nação. Reparem também como seu corpo ainda estava limpinho, limpinho, e como Gilbert Arenas ainda era uma estrela naquela época:
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E aqui o Chris se junta ao PETA num belo esforço de relações públicas, exibindo todas suas tatuagens:
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Chris Andersen foi o primeiro jogador a ser promovido da D-League para a NBA, em 2001, pelo Denver Nuggets, clube no qual foi companheiro de Nenê por seis temporadas. Antes de defender o Fayeteville Patriotas na liga de desenvolvimento, passou pelo basquete chinês e pela extinta IBA (International Basketball Association).