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Arquivo : Pau Gasol

O dilema Pau Gasol: deveria o Lakers tentar trocar o craque espanhol?
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Giancarlo Giampietro

Kobe gosta de Mike D; Gasol... Ainda incerto

Kobe já se encontrou no sistema de D’Antoni; Gasol está longe

Pau Gasol não gostou, Mike D’Antoni também, não.

Depois da derrota do Lakers para o Memphis Grizzlies na última sexta-feira, o quase sempre gentil e ponderado espanhol não se aguentou em seu canto, botou a boca no trombone e disse que se sentia um pouco jogado de canto pelo ataque californiano, que não estava recebendo a bola nos lugares em que preferia, próximo ao garrafão, de costas para o adversário, para colocar em prática sua baita envergadura e seu eficaz e belo jogo de pés.

“Todas as chances que venho ganhando são em arremessos. Gostaria de tentar algo mais perto da cesta, e não apenas em movimento no pick-and-roll, especialmente quando Dwight está lá embaixo. Mas vamos ver. Ainda estamos descobrindo o que fazer”, falou. “Eu costumo render quando entro no garrafão e crio a partir dali. Historicamente é deste jeito que tive sucesso, que fiquei renomado e garanti meus contratos. Mas tomara que eu possa encontrar um caminho ou que possamos encontrar um caminho para me abrir novas oportunidades, para que eu possa render e ser mais efetivo.”

É um baita de um comunicado endereçado ao técnico, não? Bem atípico, mas provavelmente Pau deve ter ficado irritado com alguma provocaçãozinha de seu caçula Marc em Memphis. Mas tambeem deve ter contribuído o fato de ele ter ficado no banco durante o quarto período inteiro. Acho. 😉

Pê da vida pela derrota, dois dias depois de já terem perdido para o Sacramento Kings em um jogo para se esquecer, D’Antoni deu na canela ao rebater: “Eu estava pensando em como eu gostaria de vencer esse jogo, é nisso que eu estava pensando Odeio quando os caras dizem que não receberam a bola. Isso não faz sentido nenhum. Todo mundo recebe a bola. A bola deve girar para todos”. Sok! Pow! Crash!

Depois: “(No garrafão) você já tem um cara como Dwight ali”.

Na noite seguinte, uma vitória arrasadora sobre o Dallas Mavericks por 115 a 89, os dois fizeram as pazes, ou pelo menos tentaram.

D’Antoni consentiu que precisa achar um jeito de descolar umas cestas mais fáceis para Gasol – mas do jeito que ele gosta? “Pau é um cara ótimo, não estava tentando desrespeitá-lo. Ele é e sempre vai ser um grande jogador, então vamos continuar mexendo e remexendo no ataque e trabalhando. Estamos tentando descobrir como envolvê-lo mais. Não apenas ele, mas Dwight tambeem. Não podemos ter nossos grandalhões arremessando quatro, cinco ou seis vezes”, disse o técnico. “Estamos nisso juntos (Tamo junto!). Leva tempo para entender as cosias. É um período de ajustes”, afirmou Gasol.

Nas últimas três partidas, ele teve 25 arremessos, média de 8,3 por jogo, abaixo dos 13,5 a que se habituou em sua carreira – e dos 12,4 da temporada toda, aliás. Em termos de produção geral, o espanhol vem com 13,4 pontos por jogo e apenas 43,4% nos arremessos, as menores médias desde que entrou na liga em 2001, e de longe.

*  *  *

Esse boato corre Los Angeles há mais de um ano, no mínimo, mas creio que agora a pergunta realmente parece pertinente: será que não chegou a hora de o Lakers trocar Pau Gasol?

Usá-lo como uma espécie de Troy Murphy ou Channing Frye, o ala-pivô aberto da linha de três no ataque não faz o menor sentido. O problema: Howard ocupa tanto espaço no garrafão como Bynum fez na última temporada, e ainda é menos talentoso em alguns quesitos que facilitariam a vida do espanhol, já que não passa tão bem como o ex-companheiro e não consegue acertar nada a mais de dois ou quatro passos da cesta quando arremessa.

Numa liga em que os times atléticos, velozes e de jogadores extremamente versáteis, o Lakers ainda aposta numa formação mais tradicional e grande, com seus dois superpivôs lá dentro e um armador puro (que ainda não jogou diga-se) em Steve Nash. Vale esperar o retorno do canadense e sua reunião com o chapa D’Antoni para ver como o jogo coletivo vai se desenvolver? Talvez. Mas Nash e D’Antoni realmente vão ter de quebrar a cabeça para colocar a coisa para funcionar – e de um modo que não fira o orgulho do espanhol e que, mais importante, explore suas diversas habilidades.

A ordem agora é ter paciência com essa nova equipe, deixando os astros se entenderem – sem se esquecer que o Miami Heat perdeu para o Dallas Mavericks em seu primeiro ano e por semanas e semanas tinha um aproveitamento de 50% em sua campanha. Mas a pressão em Los Angeles, como Mike Brown e Phil Jackson podem testemunhar, se faz um pouquinho mais presente, né? Se o Lakers se arrastar com uma campanha medíocre até meados de fevereiro, aguarde para ver o burburinho aumentar.

Antes de fazer planos de troca para o barbudo, saibam de dois detalhe muito importantes:

– Gasol ganha US$ 19 milhões por ano (sim, são RS$ 38 milhões) e ainda em uma cláusula em seu contrato de que seu salário seria elevado em 15% caso seja trocado. Isto é, quem quiser tirar o pivô deverá arcar com um salário de quase US$ 22 milhões  – só Kobe Bryant ganha mais que isso na liga – ou convencê-lo a descartar esse gatilho. Ele toparia abrir mão de algum centavo para jogar no Hawks?

– O Lakers provavelmente vai querer incluir na transação um de seus veteranos armadores reservas: Chris Duhon ou Steve Blake. O que elevaria o valor dos salários para US$ 22 ou 24 milhões. É muito difícil que um time como o Rockets, cheio de bons e jovens jogadores, consiga construir um pacote que chegue a esse valor sem dar um time inteiro. Além disso, o Lakers não pode exceder o limite de 15 atletas em seu elenco, tornando a dinâmica da negociação bem complicada.

De todo modo, se quiser levar o plano adiante, é de se imaginar que o clube californiano vá atrás de um ala-pivô sólido, de bom arremesso de média e longa distância e de múltiplos chutadores e jogadores atléticos para o banco de reservas, algo que combina mais com  sistema de D’Antoni.


Afeito ao drama, Lakers escolhe Mike D’Antoni e ignora pedidos por Phil Jackson
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Giancarlo Giampietro

Mike D'Antoni x Phil Jackson

Depois de fracassar com um Mike, Lakres escolhe outro, com Phil Jackson disponível

O Lakers deu na manhã desta segunda-feira mais uma boa amostra de que, em Hollywood, o dramalhão pode ser tão, ou mais importante do que o star power. Só assim para entender a mudança repentina de direção do alto comando da franquia (Jerry Buss pai, Jim Buss filho) na hora de contratar o próximo técnico do clube. Depois de se atirarem para cima de Phil Jackson em desespero, recuaram cheios de orgulho para suas trincheiras, ligaram para Mike D’Antoni ontem pela noite já sabendo que dessa vez ouviriam um “sim, senhores” de cara.

É até engraçado: a franquia divulgou comunicado bem cedinho – antes mesmo de o Twitter norte-americano sair da cama, especialmente em Los Angeles e seu fuso horário do Pacífico. Talvez para dar algum tempo, alguns minutos preciosos que fossem, para que jogadores, a liga toda, jornalistas e torcedores assimilassem aos poucos a surpreendente contratação. Se eles fizessem isso, digamos, ao meio-dia em LA, meio da tarde no Leste, era bem provável que toda a Internet mundial viesse abaixo, e o Vinte Um funcionaria apenas em um espaço virtual: a mente delirante de um blogueiro.

Existem duas correntes lá fora para tentar explicar a opção por D’Antoni:

1) a oficial, na qual a família Buss assegura que a preferência de toda a direção (Jerry Buss pai, Jim Buss filho e o gerente geral Mitch Kupchak) foi, sim, por D’Antoni, de modo unânime. Os três acreditariam que o ex-treinador de Nuggets, Suns e Knicks combina melhor com o elenco atual e que o sistema de triângulos seria muito semelhante ao de Princeton, considerado um fiasco neste início de campanha;

2) a teoria da conspiração, na qual os rumores dizem que Jackson teria pedido mundos e fundos para aceitar o emprego de volta, o que teria voltado a injuriar o ego do Buss filho, com quem já havia travado uma disputa ferrenha nos bastidores durante sua última gestão;

No fim, pode ter sido um pouco dos dois. Não são argumentos excludentes. Talvez por uma picardia contra o desafeto, Phil Jackson tenha feito algumas exigências inéditas. Vai saber: tem quem diga que sim, tem que diga que não, que exageraram na boataria e que não haveria nada de absurdo no pacote Zen. Então talvez a decisão tenha sido mais técnico-tática: instaurar o sistema de triângulos no meio de uma temporada, porém, também não seria muito fácil e, embora Kobe, Gasol, Artest e, alto lá!, Steve Blake estivessem habituados a ele, outros 12 jogadores começariam do zero. Mike D’Antoni, por outro lado, emprega um ataque muito mais simples e também bastante eficiente. O coordenador ofensivo do Coach K na seleção norte-americana também tem uma boa relação com Kobe e Howard. Sobre Nash, nem precisa dizer: é seu cabo eleitoral.

D'Antoni, amigão de Nash

Steve Nash acordou feliz nesta segunda-feira

Agora, ficamos por aqui com os argumentos razoáveis.

Não por achar que D’Antoni é uma mula irrecuperável. Seus times históricos do Phoenix Suns ficaram muito perto da glória no Oeste durante quatro, cinco anos. Apenas tiveram uma tremenda falta de sorte em alguns anos, ou se depararam com uma combinação Tim Duncan-Tony Parker-Manu Ginóbili-Gregg Popovich que foi boa o bastante para derrotar até mesmo o Lakers de Jackson nos playoffs. Dizer que o Suns fracassou com o ataque do “Sete Segundos ou Menos” seria subestimar demais o basquete do Spurs.

Mas tem um baita problema: se D’Antoni quiser colocar seus rapazes para correr mesmo depois de o adversário fazer uma cesta, como acontecia de praxe no Arizona, provavelmente vai ter de jogar o quarto período com Darius Morris, Jodie Meeks, Devin Ebanks, Jordan Hill e Dwight Howard. O restante da velharada estaria na enfermaria. O elenco do Lakers DEFINITIVAMENTE não foi feito para jogar em transição, quanto menos uma transição enlouquecida, intensa, sem-parar. A família Buss pode querer o showtime, mas ot ime aguenta?

Kobe, mais orgulhoso não tem, vai dizer que é como se fosse uma caminhada no paraque. Nash vai lembrar dos bons tempos, mas a quantidade de minutos jogados pela dupla durante toda a sua carreira não pdoe ser ignorada. Tem de maneirar com os velhinhos para tê-los inteiros nos playoffs – ainda mais com o Capitão Canadá distante do estafe mágico de preparadores físicos do Suns. Sem contar que o MettaWorldPeace que nunca foi um velocista. Nem Pau Gasol, também muito mais habituado a operar em meia quadra. O sexto Antawn Jamison já correu muito pelo Warriors no início deprimente de sua vida na liga que já está cansado disso também, aos cacarecos. Contra-ataque não combina.

Outro ponto: Quentin Richardson, Jim Jackson, Joe Johnson, Raja Bell, Leandrinho, James Jones, Tim Thomas, Jared Dudley e mesmo Shawn Marion foram atiradores de três pontos minimamente competentes que ajudavam a abrir a quadra para Nash operar seus pick-and-rolls com Amar’e Stoudemire. Seria uma ação que poderia ser replicada agora com Howard. Mas, sem chutadores com 40% de aproveitamento de fora, pode ser muito mais fácil de se conter. E mais: se Marion ficou magoado por muitas vezes achar que estava posto de escanteio, imaginem o quão feliz um Kobe Bryant ficaria nesse contexto. O astro precisa ser envolvido de todas as formas, e a bola nas mão de Nash o tempo todo não faria bem algum para a química do time nesse sentido.

Mike Woodson x Mike D'Antoni

Com uma mãozinha de Mike Woodson (e), D’Antoni conseguiu montar um Knicks com boa defesa no ano passado. Quem vai ajudá-lo em LA?

Estamos falando só do ataque. O lado da quadra que, pasme, talvez não estivesse precisando de reparos! Quando Brown foi demitido, a equipe angelina tinha a quinta ofensiva mais eficiente da liga. Jogando com Princeton e tudo. Posto mantido até esta segunda-feira: cliquem aqui para conferir. E o que dizer da defesa? Com Howard ainda recuperando a boa forma, a atual configuração do time se provou tão vulnerável como no ano passado. No geral, o Lakers simplesmente é mais lento que boa parte de seus concorrentes, para não der muito mais lento. Para proteger sua cesta, esse time tem de jogar com uma formação bem compacta e com muita disposição por parte dos jogadores. Brown, que havia montado grandes defesas durante toda a sua carreira, não conseguiu em Los Angeles. E D’Antoni jamais vai ser considerado um mestre retranqueiro – as más línguas se referem a ele como Mike No-D.

Mas, calma.

Calma que tem mais.

O problema vai além do ponto de vista tático.

Nos últimos dois jogos do Lakers em casa, vitórias contra as babas que são Warriors sem Bogut e Kings sem Cousins, a torcida não parou de gritar por Phil Jackson. Star power, lembrem-se. Dirigir essa equipe não se limita a uma prancheta, a uma lousa mágica. Você precisa ser bom de relações públicas também para cruzar o caminho de Jack Nicholson, oras. Foi a grande dificuldade de Mike Brown por lá, tanto para convencer uma exigente base de seguidores, como para administrar seus atletas. D’Antoni sempre se deu bem com quem treinou, tirando Carmelo Anthony e Shaquille O’Neal. Em Nova York, porém, ele penou para lidar com a pressão. E lá vem chumbo grosso.

Seu início no cargo, aliás, já não vai ser dos melhores. É até difícil de acreditar, mas, entre Jackson e o novo técnico, o Mestre Zen, aquele que se arrastou para sair de quadra na humilhante derrota para o Mavs nos playoffs de 2011, é quem está mais saudável no momento. O escolhido acabou de passar por uma cirurgia no joelho e está impossibilitado de viajar. Ele foi anunciado, mas sua apresentação deve ficar só para terça-feira, no mínimo. Bernie Bickerstaff teria de seguir, então, como o interino até seu substituto juntar forças e se dizer pronto. Agora imagine uma noite qualquer em que o time vá para a quadra, tropece e, de repente, sem nem mesmo o cara chegar, os cantos por “We Want Phil!” fossem ecoados no Staples Center? Como fica?

É bom que Mike D’Antoni se apresse e corra tão rápido feito um Leandrinho.

Porque de drama o Lakers já está bem servido. Não precisa de mais.


Veterano espanhol adia aposentadoria e dá aula de defesa em vitória do time de Augusto
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Giancarlo Giampietro

Augusto faz festa com Jiménez

Augusto pode aprender muito mais ao lado de Jiménez em Málaga

Carlos Jiménez Sánchez acreditava que já havia virado aquela famosa página, a da aposentadoria das quadras, e estava procurando o que fazer da vida até que o telefone tocou. Ou recebeu o email, o SMS, o whatsapp?, sabe-se lá o quê.

Fato é que chegou o convite inesperado, e lá estava ele se fardando novamente como jogador de basquete, a convite do Unicaje Málaga, clube que havia defendido por cinco temporadas, em meio a duas passagens pelo Estudiantes.

A equipe do brasileiro Augusto Lima tinha uma emergência: o experiente Sergi Vidal foi afastado devido a uma cirurgia no púbis, e o norte-americano James Gist também enfrentava problemas físicos. Calhava, então, que Jiménez poderia cobrir provisoriamente os dois atletas. Foi chamado em setembro e, meio desprevenido, assinou um contrato de um mês, com mais 30 dias opcionais.

Neste domingo, o veterano, 36, não só atuou pela equipe dirigida por Jasmin Repesa, como arrancou elogios do técnico croata e foi o jogador mais eficiente do Málaga em vitória sobre o Joventut de Badalona. Mesmo que tenha jogado por apenas 15 minutos e 45 segundos. Mesmo que tenha feito apenas quatro pontos só na linha de lances livres, sem ter convertido nenhum chute de quadra.

E como se faz isso? Fazendo as pequenas coisas por sua equipe: foram seis faltas recebidas, quatro rebotes apanhados, uma assistência e um roubo de bola. De tudo um pouco para ajudar na vitória e ser aclamado no ginásio Martín Carpena.

Também porque ele foi responsável pelo lance crucia da partida: com cerca de quatro segundos no cronômetro e a chance de definir o confronto, o pivô Fran Vázquez errou dois lances livres, mas foi salvo por um reboe ofensivo de Jiménez. A posse de bola extra rendeu mais dois arremessos para Vázquez, o fujão do Orlando Magic, fechando a conta em 73 a 71.

Um lance emblemático para um grande jogador. Por anos e anos Jiménez foi o chamado “glue guy”, aquele que dava a liga para a formidável Espanha, movendo a bola no ataque, abrindo caminho para suas estrelas e se matando na defesa.

Ele nunca precisou de uma média de 20 pontos por jogo para prosperar e empilhar medalhas em casa – sua contagem de pódios pela seleção espanhola só perde para a de Pau Gasol, Juan Carlos Navarro e Felipe Reyes. Os quatro foram juntos campeões mundiais em 2006.

 “É incrível. Que faz a diferença na defesa. Defendeu melhor do que Calloway, Gist ou Simon. Ele encontrou seu nicho”, elogiou o treinador, que sabe que é hoje um croata de sorte. Jogar sem a bola, em prol do time, se adaptar: são essas raras características e valiosas estão agora à sua disposição. É isso o que Jiménez faz melhor.


O Fantástico Mundo de Ron Artest: “O maior engima”
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Giancarlo Giampietro

Antes da criação do Vinte Um, um projeto mais modesto, mas seguramente mais divertido era criar um blog todo voltado ao ala Ron Artest, do Los Angeles Lakers.

E bancaria como? A começar pela leitura do site HoopsHype, obrigatória para qualquer fã de basquete, devido ao acúmulo absurdo de informação oferecido diariamente, com tweets e declarações dos jogadores, jornalistas, dirigentes e trechos de reportagem do mundo todo.

As novelas das negociações de LeBron James e Carmelo Anthony foram certamente as líderes em manchetes nos últimos anos desse site agregador de conteúdo. Afinal, é o tipo de assunto que rende boato, respostas a boato e os boatos que, então, brotam desse processo.  Mas há também um personagem que dia sim, dia não vai estar presente por lá, geralmente no pé dos boletins de rumores, puxando a fila dos faits divers. Ron Artest, senhoras e senhores.

Sucessor natural de Dennis Rodman na prática do lunatismo – embora com personalidades e natureza completamente diferentes, num mano-a-mano que deve ser explorado em uma ocasião futura  –, Ron-Ron vai ganhar o seu próprio quadro aqui. Nos tempos em que a ordem é racionar na vida em sustentabilidade, o jogador não nos priva de sua condição de fonte de humor inesgotável.

*  *  *

Pete Carril, 82, é considerado o patrono do sistema ofensivo de Princeton, embora não seja certo de que ele tenha criado essa linha de ataque que foi empregada com excelência pelo Sacramento Kings no início da década passada. Por que Princeton? Foi a universidade na qual Carril trabalhou de 1967 a 1996, coordenando seu time de basquete. Depois, passou a trabalhar no clube instalado na capital californiana, integrando a comissão de Rick Adelman, hoje treinador do Minnesota Timberwolves.

Em sua vasta experiência, trabalhou com centenas de jogadores liderados, entre eles o inestimável Ron Artest, o Metta World Peace, que atuou pelo Kings entre 2006 e 2008.

Em entrevista ao site da Sports Illustrated, um dos crânios do basquete discorreu sobre Ron-Ron, refletindo sobre sua complexidade. Não falta assunto, mesmo, nesse caso. “É o maior enigma que já vi porque eu realmente gosto desse cara”, afirmou. “Gosto bastante dele. Eu o via com seus garotos, e seus filhos o idolatravam. Eles vinham depois do jogo pedir refrigerante, se agarravam a suas pernas, era incrível o quanto eles se amavam. Então eu ficava me perguntando: este cara ama essas crianças e eles o amam, então porque ele não pode ser diferente como um jogador?’ O que o leva a fazer as coisas malucas que ele faz?”

Carril relembra: no momento em que o Kings trocou Peja Stojakovic por Artest, o Kings subiu de 29ª defesa da liga para 16ª. Tudo com uma simples substituição, estando o ala, então, em seu auge físico, quando tinha a força para cuidar de adversários maiores e ainda era ágil o suficiente para se posicionar diante de Kobe Bryant.

Pete Carril, Princeton

Artest pode deixar um Carril maluco

Feito o ponto, ele, então, arrisca uma tese que, depois de ouvida, parece a coisa mais óbvia para entender o que motiva Ron-Ron a praticar o lunatismo: “Ele tem de saber que vai receber o crédito pelo que ele faz”.

Não bastaria, então, o salário acima da média da liga e o respeito de seus oponentes. “Ele deve ser um desses caras que acha que não recebe o devido reconhecimento. E reconhecimento no mundo de hoje é algo muito, mas muito forte. Hoje não existem mais caras que tiveram ótima performance no nível mais alto, mas fazendo isso de modo quieto. Esses não existem mais. Agora temos os que fazem barulho”.

Só acontece de Artest fazer um pouco mais de barulho que os outros.

*  *  *

Com a contratação de Eddie Jordan como assistente de Mike Brown, o Lakers pode adotar o modelo Princeton de ataque. É um sistema que pode muitos jogadores versáteis em quadra e que, de alguma forma, pede que o conceito de posições seja abolido em quadra. Nos tempos de Kings, por exemplo, Vlade Divac ou Brad Miller poderiam dar mais passes para cesta do que o ‘armador’ Mike Bibby. Chris Webber tinha liberdade para explorar todos os seus inúmeros talentos. No elenco atual do Lakers, Pau Gasol parece ser uma peça perfeita para isso. Artest também é uma boa pedida. Steve Nash (acostumado a ter a bola em mãos), Kobe (idem), Dwight Howard (não exatamente o exemplo de um grande passador e arremessador)? Precisamos ver.


Falatório olímpico: a volta da hegemonia norte-americana
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Giancarlo Giampietro

A campanha olímpica na boca dos protagonistas. Amanhã voltamos com declarações de argentinos, espanhóis, franceses e um canhoto bom daqueles.

“É o coração que primeiro é provado,  e estou feliz que temos um monte de grandes corações na nossa equipe”, LeBron James, bicampeão olímpico.
>> Um tanto cafona, ok, mas só mostra a reviravolta por que passou a vida deste sujeito. Em agosto de 2011, era a pessoa mais achincalhada do esporte. Agora pode falar com propriedade sobre como ser campeão, coração de guerreiros, física nuclear, sistema público de saúde norte-americano etc.

LeBron, no auge“Ele é o melhor jogador e o melhor líder. Não tem jogador mais esperto que ele no basquete hoje em dia”, Coach K, sobre LeBron.
>> Nada bobo o técnico norte-americano, reforçando seu vínculo com aquele que deve dominar a NBA não apenas nos próximos dois anos, como no terceiro, quarto, quinto… 😉

“Sou jovem! Só tenho 28”, Carmelo Anthony, sobre a possibilidade de jogar no Rio-2016.
>> LeBron está em dúvida, mas contem com o Melo, que disputaria um recorde de quatro Olimpíadas caso marque mesmo sua passagem para a Cidade Maravilhosa. O ala do Knicks certamente é um dos astros da NBA que mais se diverte nos torneios da Fiba.

“Já deu para mim. Quatro anos é muito tempo. Os caras mais novos vão assumir no Rio e talvez eu esteja lá para torcer por eles”, Kobe Bryant, ancião.
>> O Laker terminou o torneio jogando bem, depois de algumas apresentações questionáveis, que criaram histeria entre os setoristas norte-americanos no Twitter. Na NBA desde 1996 (!!!), com uma rodagem nos joelhos (costas, tornozelos, pulso, dedo, cotovelo…) de Brasília amarela modelo 1981, é hora do bom e velho Kobe dar uma descansada mesmo e fazer aquilo que ele curte, e muito: prestigiar os compatriotas nas arquibancadas, voltando de trem para casa.

“Grande jogo… A Espanha sempre nos empurra até o limite, mas os EUA são os melhores”, Dwyane Wade, em tweet imediato ao bicampeonato olímpico.
>> A lesão no joelho tirou o jogador de Londres, mas ninguém ia reparar. Com muitos desfalques, a equipe norte-americana ainda é uma força evidentemente superior.

“Chegamos perto, mas você tem de jogar praticamente uma partida perfeita contra eles para poder vencê-los em 40 minutos. Eles são talentosos, têm muitas habilidades e podem fazer cestas sem aos montes”, Pau Gasol, duas vezes prata nas Olimpíadas.
>> O pivô espanhol não tem muito a ver com Rudy Fernández e é um dos caras mais legais do basquete. Jogou barbaridades na final, mas ainda assim não foi o suficiente para desbancar os americanos, apesar do susto.

“É pesada, é uma medalha grande”, Andre Iguodala, com o peito dourado.
>> O (agora) ala do Denver Nuggets nos abre a possibilidade de resgatar a metáfora clássica do mundo dos quadrinhos, reforçada no primeiro Homem-Aranha de Sam Raimi: “Grandes poderes, grandes responsabilidades”. O ouro é pesado para carregar, mas o Team USA parece bem encaminhado para lutar pela extensão de sua hegemonia

Kobe e Oscar Schmidt

Kobe jogou na Europa, admirando de perto um Oscar Schmidt no auge

“Não” e “Não estou certo se sei tudo do jogo, mas eu sei mais que eles”, Kobe Bryant.
>> Duas respostas tipicamente de um Kobe Bryant ao ser questionado se 1) ele poderia aprender alguma coisa com os companheiros mais novos e 2) se, no fim, ele já manjava tudo de basquete, mesmo. Sensacional. Velha guarda, com orgulho.

“Sou extremamente sólido em meus fundamentos. Isso vem de ter crescido fora dos Estados Unidos. Se você olhar para a maioria dos caras aqui, eles fazem as coisas a partir do drible. Eu fico muito confortável numa posição em que possa atacar de três maneiras diferentes. É muito confortável para mim fazer fintas, usar o passes de jab e trabalhar com os pés. Quando estava crescendo, no meu clube nós tínhamos treinos em que você literalmente não poderia fazer o drible durante toda a sessão”, Kobe Bryant.
>> Sem mais. Ou melhor: é sempre legal lembrar essa infância e adolescência diferentes que Kobe viveu, seguindo a carreira do pai pela Europa, onde idolatrou o armador Mike D’Antoni e babou pelas cestas de Oscar.

“É difícil explicar. Se você nunca fez isso em quadra, não saberia do que e eu estaria falando”, Carmelo Anthony.
>> Sobre os 37 pontos que marcou em mágica noite contra a Nigéria, recorde olímpico norte-americano em apenas 14 minutos de ação. Este número é realmente estarrecedor, e para sempre. Lembro de já ter feito uns 30 pontos num jogo de meia-quadra que durou aproximadamente umas 19 horas. (E isso vale para aqueles que acham que o blogueiro é o mauricinho que nunca pisou na quadra. Tenho provas! Hmpf!)

Coach K

Coach K não fez nada, claro

“Não estamos acostumados a ficar livres na NBA. Então, quando isso acontece a quem… É, tipo… Uau”, Kevin Durant.
>> Durant é um dos meus prediletos. Idade de moço, cara de moço, frases de moço. E ainda falta um apelido que faça jus ao seu talento e carisma. Força, Greg Oden.

“Nenhum. Você sacou tudo. Absolutamente nenhum. Saio todas as noites com minha família, bêbado feito um gambá. Espere só para me ver hoje de noite. Volto umas 6 da manhã e você está convidado para sair comigo. Nós apenas deixamos a bola rolar. É isso. Não sei como você descobriu isso”, Coach K.
>> Pê da vida e cheio de ironias, respondendo a uma pergunta bem deselegante – para dizer o mínimo – sobre se o seu trabalho não seria muito fácil com tanta gente boa seu dispor. Afe.

PS: como os brasileiros não falaram após a derrota para a Argentina, não vamos peneirar nada a respeito deles. Não faria sentido ter um começo, um meio, mas sem fim nesta seção. A cobertura do Bruno Freitas em Londres e do UOL Esporte dá conta do recado.


Na final, não tinha como evitar: ouro para os Estados Unidos
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Giancarlo Giampietro

Kevin Durant e LeBron James

Kevin Durant e LeBron James: “We’re togetha!”

A Espanha guardou tudo o que tinha para o fim. Juan Carlos Navarro, enfim, soltando bombas nas Olimpíadas – até que Kobe Bryant o vigiou no segundo tempo. Rudy Fernández estava para todos os rebotes ofensivos, trombando com os astros norte-americanos, tentando fazer cara de mau, cometendo 87 faltas. Seus atletas aprontaram um escarcéu danado com a arbitragem, reclamaram de tudo o que era marcado ou deixava de ser marcado. Queriam o ouro de qualquer jeito, naquele confronto que tanto esperavam – e evitavam. Mas na final não tinha para onde fugir.

Eles jogaram, enfim, o que sabiam, de acordo com o que se esperava a caminho do torneio, como a segunda grande força do basquete mundial e candidata a destronar os norte-americanos. Deixaram o ginásio estranhamente silencioso – quando o locutor histérico da arena permitia, claro –, tenso, irrequieto, com muito suspense: quem venceria??? Jogão.

Acontece que, do outro lado, o talento reunido era enorme, além de muito determinado e bem treinado. Uma artilharia incomparável, com três, quatro ou até cinco atletas espalhados pela quadra com potencial de acabar com a partida em um instante.

São 30 pontos de Kevin Durant, que nunca arremessou livre de três pontos tantas vezes em sua carreira, 19 de LeBron James, 17 de Kobe Bryant e, na hora de desafogar, mais 11 para Chris Paul, todos no segundo tempo. E pensar que ainda faltaram cestinhas como Dwyane Wade, Derrick Rose e Chris Bosh.

17 pontos para Kobe

17 pontos para Kobe

Com tanta gente boa, a defesa adversária não sabe muito o que fazer. Cobre de um lado, descobre o outro, e convive com um aproveitamento de 41% nos tiros de fora, com 45 pontos produzidos desta maneira. Abre sua defesa e permite as infiltrações dos mesmos atletas versáteis, com um aproveitamento de 58% no jogo interno. Chumbo grosso.

O que faltou aos Estados Unidos na final só foi uma defesa mais eficiente, mais intensa, a qual seus superatletas poderiam conduzir – ou será que até eles se cansam numa temporada extenuante dessas? Pode ser. Eles só conseguiram a separação no placar no início do quarto período depois de encaixarem seguidamente boas defesas que resultaram em desarmes. E, de todo modo, não se pode subestimar quem estava do outro lado, porém: a Espanha escalou muita gente habilidosa e experiente para cuidar da bola – foram apenas 11 desperdícios de posse.

Essa estabilidade ofensiva ajudou a alimentar o excepcional Pau Gasol. Que os torcedores do Lakers tenham assistido a esse jogo atentamente, para não se esquecerem do talento formidável de seu pivô. Firme, sem fugir do contato e, melhor, sem perder a cabeça, terminou com 24 pontos, 8 rebotes e 7 assistências. Sete assistências do pivô! Mais do que LeBron e Paul juntos.

Gasol tentou de tudo, mas não contou com a ajuda de seu irmão – esse, sim, mais desequilibrado no jogo, cometendo quatro faltas em 15 minutos de partida, privando a Espanha de sua cartada supersize. No fim, foram os Estados Unidos que venceram a batalha por rebotes, mesmo com Tyson Chandler limitado a oito minutinhos. Palmas aqui para Kevin Love (9 rebas), Durant (mais nove) e LeBron (com sete).

Jogando com esta gana e preparação, vai ser difícil que alguém os derrote. Agora são 62 vitórias e uma derrota na gestão de Coach K, e apenas uma derrota, a da semifinal para a Grécia de Theo Papaloukas e Sofoklis Schortsanitis. O técnico não segue mais com a equipe para o próximo ciclo olímpico, mas Jerry Colangelo fica por lá, com a estrutura mantida. Aí fica difícil de competir, não importando os atalhos que queiram tomar.

O Coach K se despede do Team USA

O Coach K se despede do Team USA

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LeBron James é o primeiro jogador desde Michael Jordan a vencer o título da NBA, com os prêmios de MVP da temporada e das finais, na mesma temporada em que conquista o ouro olímpico. Um ano incrível e redentor para o fenômeno, realmente.

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Kevin Durant terminou as Olimpíadas com 156 pontos em oito jogos, sendo o cestinha (no total) do torneio, batendo um recorde. Em média, Patty Mills foi o melhor, com 21,2 por partida, contra 19,5 do americano, que dessa vez não precisou carregar o time nas costas como aconteceu no Mundial de 2010.

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Na disputa do bronze, não deu o terceiro pódio seguido para nossos vizinhos. Ginóbili e Scola foram até o fim também (37,4 pontos por jogo para os dois, somados), mas não deu. Medalha para Rússia, e um talento como Andrei Kirilenko merecia a dele. Assim como o técnico David Blatt. Se temos nosso técnico argentino, precisou um norte-americano para reformular a seleção russa, realizando o potencial do país.

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A carreira de Anthony Davis, 19, começou bem, não? Um título universitário, quatro meses depois o ouro olímpico. Simbolicamente, a bola terminou em suas mãos. Que venha o futuro.


Nada de entregar: Espanha batalha no segundo tempo e está na semifinal
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Giancarlo Giampietro

Marc Gasol vibra contra a França

Marc Gasol entrou um pouco mais cedo no quarto final e decidiu

O quarto período avançava equilibrado, e lá estavam Marc Gasol, Rudy Fernández e Juan Carlos Navarro novamente enterrados no banco de reservas. Mas dessa vez dá para cravar: a Espanha não entregou a vaga nas semifinais para a França.

😉

Os campeões europeus fizeram mais uma partida apática no primeiro tempo, com problemas defensivos tanto como ofensivos. Vai ver que, ao justificar a derrota para o Brasil no encerramento da primeira fase, alegando que tem em seu elenco uma série de jogadores avariados fisicamente, o técnico Sergio Scariolo não estivesse blefando tanto assim. (E, de novo: se estava, a seleção não tinha nada com isso, embora não tenha se esforçado tanto assim.)

Ou estava, mesmo. No segundo tempo, sua equipe apertou o cerco, permitiu apenas 22 pontos em 20 minutos – tendo levado no quarto período apenas seis. Foi um desempenho bem  mais de acordo com o que a Espanha mostrou nos últimos anos.

Pois era difícil de entender: eles estão com o time completinho, incluindo o contratado Serge Ibaka pare formar, teoricamente, o melhor garrafão de Londres-2012. Sua base atua junto há mais de uma década. Nunca faltou intensidade para esta seleção, que, quando escalou Pau e Marc Gasol, se habituou a dominar os adversários nas últimas temporadas, esbarrando apenas nos Estados Unidos em Pequim-2008.

Neste torneio, no entanto, estavam correndo o risco nesta quarta de se despedirem com três vitórias e três derrotas, o que só faria crescer a frustração olímpica de seu país, que tanto precisa de glórias na capital inglesa para amenizar (naquelas) sua penúria financeira.

Supostamente, Navarro e Marc Gasol não estão disputado o torneio na melhor forma – daí os minutos poupados no início do quarto final? Rudy Fernández também passou por uma cirurgia nas costas no último mês de março. Seriam, então, três titulares baleados. Mas a grande força da equipe era justamente o volume de seu plantel, podendo selecionar 12 atletas que jogam nas duas principais ligas nacionais do mundo, a NBA e a ACB, oras.

Sergio Llull tratou de provar essa força no segundo tempo, perseguindo e anulando Tony Parker, sem aceitar o corta-luz de Boris Diaw. O armador zerou no quarto período, limitado a apenas quatro chutes, todos errados.

Nos minutos finais, a envergadura dos irmãos Gasol também fez a diferença. A França buscou as infiltrações, mas suas investidas eram contestadas pelos dois gigantes. Do outro lado, Marc foi quem apareceu para o desafogo. Uma bandeja sua a 40 segundos do fim abriu uma vantagem de cinco pontos. Num jogo tão equilibrado como esse, com duas defesas muito intensas, os cinco pontos eram uma enormidade, de modo que o destempero de Ronny Turiaf e Nicolas Batum só veio para confirmar o triundo daqueles que enfim jogaram como campeões.

Agoram, com muito custo, a Espanha conseguiu o que queria: está na semifinal, sem ter os Estados Unidos pela frente. Revanche marcada contra a Rússia.


Teve entrega? Não importa: seleção faz sua parte, derrota Espanha e ruma ao mata-mata
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Giancarlo Giampietro

Seleção aplaudida: quarta vitória na primeira fase

Seleção aplaudida: quarta vitória na primeira fase sobre poderosa Espanha

Vamos colocar assim: dá para considerar no mínimo curiosa a decisão de Sergio Scariolo de manter Marc Gasol sentado por seis bons minutos no quarto final. Ainda mais considerando o carnaval que ele e seu irmão mais velho, que ficou fora por cinco minutos, estavam fazendo na defesa brasileira, e Felipe Reyes não produzia nada. Sergio Scariolo chegou a parar o jogo com 8min05s para o fim, quando sua vantagem havia caído de 11 pontos para quatro. Teve a chance de chamar a cavalaria, mas manteve seu quinteto. Ele só voltaria a pedir tempo aos 4min17s, quando o Brasil assumiu a liderança após bola de três de Leandrinho.

A Espanha entregou o jogo, então?

Sei lá. Não dá para cravar.

E quer saber? De que importa?

Marc Gasol

Marc Gasol marcou 20 pontos, deu 4 assistências e acertou 7 de 10 arremessos e foi punido por Scariolo no 4º período?

Assim como atropelou a apática China na quarta rodada, a seleção tratou de fazer sua parte nesta segunda-feira.

Mesmo que não tenha feito sua melhor partida na defesa, a equipe de Magnano compensou com seu melhor rendimento no ataque, bateu – sem Nenê, diga-se – um adversário que era tido como a segunda principal força das Olimpíadas e só pode ir cheio de confiança para os mata-matas.

Em 40 minutos, a seleção cometeu apenas nove desperdícios de bola, num controle excepcional do ritmo da partida. Buscou os tiros de três pontos muito mais em jogadas pensadas do que forçadas – homens posicionados na zona morta para o disparo em contra-ataque equilibrado, com o passe vindo de dentro para fora, corta-luzes fora da bola para livrar os alas etc. Acertou, no total, 51,4% de seus arremessos de quadra, disparado seu melhor aproveitamento no torneio. (Ingoremos qualquer número que venha do coletivo contra a China, tá?)

Se os espanhóis se empenharam, ou não, para vencer o jogo, eles que respondam a sus compinches.

*  *  *

Aqui no QG 21, a opinião de uma só cabeça (quase) pensante é a de que, na real, faltou intensidade em boa parte do jogo para ambos os lados. Seria exagero dizer que, em alguns momentos de jogo, parecia muito mais um amistoso do que uma partida valendo algo nas Olmpíadas? Veja os números ofensivos combinados: apenas 25 erros cometidos e convertidos 51% dos arremessos de quadra (64 de 124). Não condiz com o histórico das equipes.

Huertas x Calderón

Huertas pôde descansar mais um pouco

Depois, em bate-papo rápido com o Murilo Garavello, gerente da casa aqui – e, nos bons tempos, um tratorzinho na hora de partir para a cesta, creiam –, ele levantou um ponto a ser levado em conta: com a classificação decidida, nenhum dos treinadores iria se submeter a um alto risco neste jogo. Faz sentido. Por que exatamente você vai gastar todas as suas energias, flertar com o limite para ter o direito de enfrentar França ou Argentina nas quartas?

Daí que, do lado brasileiro, essa pergunta é bem relevante, considerando que Nenê ficou fora do jogo nesta segunda. O pivô do Washington Wizards estava realmente incapacitado de jogar hoje ou foi meramente poupado, para preservar seu pé, para a batalhas maior que teremos na quarta-feira? Se for o segundo caso – como afirma Magnano –, sinal de que a seleção não encarou a Espanha como uma questão de vida ou morto. Mas também nem precisava.

(Se ele realmente voltou a sofrer mais do que a conta com as dores crônicas no pé, aí complicou um bocado. Está certo que nenhum time tem um jogo interior como o da Espanha neste torneio, mas não custa mencionar que Caio saiu excluído de jogo com cinco faltas em dez minutos.)

*  *  *

Primeiro contra a Rússia. Agora contra a Espanha. Os dois adversários mais fortes da chave. E dois jogos em que Marcelinho Huertas descansou por oito minutos no quarto período simplesmente pelo fato de que sua presença não era necessária em quadra. E dessa vez quem segurou o rojão foi o caçula Raulzinho, que jogou por 16 minutos e foi bem, com seis pontos, quatro assistências e muita energia contra alguns de seus conhecidos de Liga ACB. No quarto período, tendo Larry ao seu lado por três minutos, comandou bem uma sucessão de contra-ataques brasileiros, acelerando a partida para Leandrinho deslanchar – ele marcou 12 pontos em seis minutos.


Jogo de pôquer entre os favoritos ao pódio em Londres chega ao fim
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Giancarlo Giampietro

Durante as últimas duas semanas, com uma série de amistosos no basquete, a frase mais repetida em diversos idiomas foi esta daqui: “Mes ne rodyti viską*”.

É uma combinação de palavras lituanas que quer dizer  algo simples como “Nous n’allons pas montrer tout” em francês, que quer dizer “We will not show everything” em inglês, que quer dizer, por fim, “Não vamos mostrar tudo” em português.

LeBron e sua poker face

LeBron e sua poker face

Grandes favoritos, EUA e Espanha se enfrentaram nesta segunda-feira. Brasil e Austrália, que se encaram na estreia, jogaram domingo. A Argentina, que ainda sonha alto com sua geração dourada, não se esquivou dos norte-americanos, espanhóis e de dois clássicos contra os brasileiros.

Tudo muito indiscreto, não?

Agora, independentemente dos resultados desses embates, a frase antes e depois das partidas girava em torno desse mote: teriam escondido o jogo até agora.

Como disse José Calderón antes da derrota para os EUA: “Você não vai mostrar muitas coisas”. Seu compatriota Pau Gasol postou no Twitter: “Não conseguimos hoje, mas espero que tenhamos aprendido algumas coisas para um eventual próximo jogo”.

Do outro lado, o vitorioso, LeBron James falou o seguinte: “Não mostramos todas as nossas cartas ainda. Temos muitas opções, mesmo, e tantas coisa que podemos fazer com nosso time. A melhor coisa sobre a vitória foi que melhoramos, mas ainda temos espaço para evoluir e mais cartas para mostrar.”

Em ótima fase para tudo, LeBron usou realmente o termo mais apropriado. Teoricamente, o que vimos nas últimas semanas um foi baita jogo de pôquer entre mentes mirabolantes de treinadores e gigantes atléticos na quadra.

O quanto cada um revelou e blefou? Impossível dizer. A partir de sábado, as respostas, enfim, começam a aparecer, e mal podemos esperar.

*Confiando no tradutor do Google, ok? Se tinha dúvida, em chinês fica desta maneira: “将不会示一切”; em russo, sai assim: “Мы не будем показывать все”., 


Prévia olímpica: Espanha se apresenta como a grande resistência à revolução dos EUA
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Giancarlo Giampietro

No título postado acima, a palavra-chave é “grande”.

Se os Estados Unidos estão, digamos, desencanando de jogar com pivôs tradicionais nas Olimpíadas, seja por opção tática ou porque não tinham outra solução, a Espanha ainda aposta em uma versão mais tradicional, com duas torres no garrafão. Os irmãos Gasol estão aí para isso.

Poupado (estrategicamente?) do amistoso desta terça contra os próprios EUA, Marc Gasol está listado oficialmente pela NBA como um jogador de 2,16 m de altura. Já seu irmão mais velho, Pau,  tem 2,13 m. São bem grandes. Sem falar no Serge Ibaka, de 2,08 m, que impressiona mais pela capacidde atlética e envergadura.

Pau e Marc Gasol dividem um toco

Do lado norte-americano, o discurso é de que eles não se importam muito com isso. “Há muitos grandões que não conseguem jogar. Há jogadores mais baixos que são melhores que eles. Já vimos Griffin encarar o Marc Gasol. E esses duelos valem dos dois lados: eles precisam marcar nossa rapidez e velocidade”, afirmou Jerry Colangelo, o chefão da equipe norte-americana, grande responsável sobre a revitalização das seleções do país.

O problema nesse raciocínio é que, além de gigantes, os dois barbudos sabem jogar, e muito. Chutam de média distância. São ótimos passadores. Jogam bem de frente e costas para a cesta. O que deixa os espanhóis bastante confortáveis a respeito.

Em enquete promovida pelo site HoopsHype com seis jogadores da atual campeã europeia, Marc Gasol e José Calderón tentaram esconder o jogo quando questionados sobre qual seria a fraqueza dos grande rivais pelo ouro, mas o restante não se aguentou. “Jogando com Pau, Marc e Serge IBaka, temos uma vantagem importante”, disse Rudy Fernández. “Algumas vezes eles não vão ter pivôs no garrafão, então com Serge e os irmãos Gasol acho que podemos machucá-los um pouco”, disse Juan Carlos Navarro. Sergio Rodríguez e Victor Claver assentiram.

Pau e Marc GasolAgora… A parte em que Colangelo fala sobre o jogo ser disputado dos dois lados não deixa de ser verdadeira também. Mesmo que o Griffin por ele citado tenha se lesionado depois, o conceito pregado pelo cartola e aplicado praticamente pelo Coach K vale da mesma forma. O próprio Rudy Fernández  concordou: “Quando eles atacarem, vamos ter dificuldades, porque eles são menores e se mexem muito bem pela quadra”.

Com Splitter, Varejão e Nenê, o Brasil seria também uma equipe capaz de criar esse tipo de problema para os norte-americanos com seu tamanho. Por outro lado, sabemos que nenhum dos três tem a categoria de um Pau Gasol.

De resto, em termos de garrafão e formações mais tradicionais, não há muito o que temer, não, como analisamos neste post aqui.

Outro ponto importante: não é que os Estados Unidos tenham apenas seus homens de garrafão mais velozes do que a média. Apostar corrida com Russell Westbrook, Andre Iguodala e Chris Paul também não é fácil.

Ficamos, então, diante daquele jogo de gato-e-rato que torna o basquete um esporte taticamente especial.

Prévias olímpicas no Vinte Um:

Coach K promove revolução tática. Mais ou menos como o Barcelona

No torneio masculino, pelo menos nós “voltamos a falar de basquete”

No torneio feminino, as meninas têm a chance de priorizar o time

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