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De Colangelo a Caboclo, quem levou a melhor na loteria do Draft da NBA?
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Giancarlo Giampietro

Dessa vez não teve surpresa. O Minnesota Timberwolves não pôde reunir as últimas três primeiras escolhas do Draft. Chega, né? E dessa vez o Cleveland Cavaliers nem estava por ali para roubar a cena também. Para os dois, chega, né? Tá bom, já deu. Na verdade, sabe o que aconteceu? A ordem do top 3 do Draft da NBA deste ano seguiu precisamente a das piores campanhas da temporada regular, com Philadelphia 76ers em primeiro, Los Angeles Lakers em segundo e Boston Celtics em terceiro, num ato de cortesia do Brooklyn Nets. Foi o resultado mais provável de todos, com uma chance de… 1,9%!

Para quem ficou sem conexão na Sibéria, aqui estão:

nba-draft-lottery-results-2016

Se quiser ver a ordem completa, clique aqui.

O sorteio da loteria da NBA é um dos eventos mais absurdos que você vai encontrar no mundo esportivo. São mais de 14 torcidas envolvidas — pensando em clubes que tenham trocado suas escolhas –, botando fé num sorteio que acaba recompensando, em geral, a incompetência, ou premiando quem sabe se aproveitar dos deslizes dos concorrentes. E, tá certo que, para alguns times, também poderia ser um remédio contra o azar, para indesejadas lesões e tal, como aconteceu com o New Orleans Pelicans. Ao mesmo tempo, é muito divertido. Já que são 1.001 combinações possíveis de sorteio, podendo influenciar realmente o destino de uma franquia.

O clima é tanto de final de campeonato para os clubes ali representados, que é só ver, no vídeo abaixo, o nível de nervosismo de Brett Brown, o técnico-mártir do Philadelphia 76ers, Mitch Kupchak, o quase eterno gerente geral do Lakers, e Isaiah Thomas, a formiguinha atômica do Celtics. Eles mal conseguiram sorrir, mesmo que o pior já tivesse passado para dois deles — Sixers e Lakers. Thomas depois disse que se sentiu tão nervoso quanto no dia em que foi draftado, em 2011:

Neste momento, os três tradicionalíssimos clubes já sabiam que dividiram as três primeiras escolhas do recrutamento. Mas havia um segundo filtro aqui, segundo a opinião da vasta maioria dos olheiros da liga: ficar entre os dois primeiros, para ter a chance de selecionar os alas Ben Simmons e Brandon Ingram, considerados os dois grandes prospectos do ano, alguns degraus acima dos demais candidatos, como apostas, hã, certeiras de “franchise players”.

Mas é claro que ninguém pode trabalhar com certezas absolutas neste ramo. O que se pode constatar apenas é um consenso. Cada dirigente, treinador e olheiro tem sua opinião, mas eles não deixam de ser influenciados pelas opiniões que circulam por aí. E erros de avaliação acontecem aos montes. Há casos de escolhas altíssimas que não dão em nada, por lesões (Greg Oden) ou não (Wesley Johnson, Michael Beasley, entre tantos. E há também diversos jogadores subestimados demais por esse senso comum. Basta lembrar o próprio episódio de Isaiah Thomas. O tampinha, hoje um All-Star, foi selecionado apenas na última posição há cinco anos. Se não é um talento salvador como Anthony Davis ou Karl-Anthony Towns, joga o suficiente para influenciar muito positivamente o nível de um time. E cada equipe tem suas necessidades.

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Neste ano, segundo Jonathan Givony, chapa que chefia o DraftExpress, principal referência no assunto, há uma grande massa cinzenta em torno dos candidatos deste ano. “Há muito pouco de consenso entre os times sobre quais são os melhores jogadores, especialmente quando passamos de um grupo de cerca de 15 atletas pensados para a loteria. O que é especialmente difícil é que vários jogadores são descritos prospectos legítimos por alguns times e o exato oposto por outros. Você pode perguntar para os 30 clubes da liga sobre um mesmo jogador e receber 30 opiniões diferentes, com um alcance que varia demais”, afirmou. Quer dizer: a vida dos especialistas que tentam projetar o recrutamento dos novatos não será nada fácil. Boa sorte a eles.

O que a gente sabe, hoje: dificilmente algum atleta vai desbancar Simmons e Ingram das duas primeiras escolhas. A dúvida fica para quem sairá em primeiro, e acho que não vai ter furo de Marc Stein ou Adrian Wojnarowski que solucione este impasse antes do dia 23 de junho. Se o Sixers ou o Lakers vão aceitar trocar essas escolhas? Duvido muito. A não ser que astros do porte de Blake Griffin e Carmelo Anthony entrem na conversa, não teria por que seus diretores ouvirem muitas propostas. A não ser que não sejam fãs de nenhum desses promissores alas. Improvável.

Mas vamos lá. Ainda em meio a incertezas, quem saiu sorrindo da loteria? Quem saiu frustrado?

POR CIMA

A pose de Brown ao lado do número 2 da NBA, Mark Tatum, é de quem quase teve um treco

A pose de Brown ao lado do número 2 da NBA, Mark Tatum, é de quem quase teve um treco

Brett Brown: dos 321 técnicos de NBA registrados na base de dados do Basketball Reference, o ex-treinador da seleção australiana e ex-assistente de Gregg Popovich tem o pior aproveitamento, excluindo técnicos interinos ou aqueles que tenham trabalhado em apenas uma temporada como head coach, com escabrosos 19,1%. E não dá para julgar sua competência no cargo. Não quando o melhor armador com quem ele pôde trabalhar em Philadelphia até agora tenha sido Ish Smith. Depois de tantas derrotas, de tantas surras, se há alguém que merecia uma boa notícia nesta terça-feira, era Brown, que, segundo consta, é uma das pessoas de convívio mais agradável que você vai encontrar pela liga.

Bryan Colangelo: ele mal chegou e já vai colhendo os frutos do trabalho impopular e radical de Sam Hinkie. Enquanto vai fazendo alterações no departamento de basquete do Sixers, pode se preparar para fazer uma escolha difícil entre Simmons e Ingram. Difícil, mas é aquele tipo de problema que todo gerente geral gostaria de ter no dia 23 de junho.

Sam Hinkie: é, pois é. Pelo menos algum cantinho da alma do cara que foi meio que forçado a pedir demissão deve estar sorrindo. Mas, mesmo que seja para se autoenganar, pode dizer para os mais chegados que, no final, o plano dele seria agraciado pela sorte. Além disso, pode gravar o clipezinho abaixo e entregá-lo para seu agente. Em Philly, ainda há uma forte crença n’O Processo:

Lakers: Mitch Kupchak mal deve ter dormido de segunda para terça-feira. Estava obrigado a dar a cara a tapa na loteria e poderia ser humilhado caso o clube californiano não ficasse entre os três primeiros do Draft (as chances estavam na casa de 45%). Se acontecesse, seria obrigado a conceder sua escolha para o Philadelphia 76ers.  Agora, está numa posição confortável: receber quem quer que sobre entre Simmons e Ingram. A outra certeza que tinha: “Não quero estar aqui no ano que vem”. Sabe por quê? Porque o time será submetido ao mesmo drama, caso não chegue aos playoffs, com Philly à espera. O cartola tem de pensar positivamente, mesmo, mas, para escapar da loteria, o Lakers teria de vencer cerca de 30 jogos a mais na temporada 2016-17. Complicado, mesmo que seu badalado calouro já produza como estrela no primeiro ano, algo também que não se pode cobrar.

Celtics: não, o Boston não conseguiu entrar no top 2. Por outro lado, não foi ultrapassado por ninguém na ordem, e a probabilidade para que isso acontecesse era maior que 50%. Além do mais, para um time que venceu 48 partidas, nem deveria estar aqui. Tudo o que viesse seria lucro, graças à negociação com o Brooklyn Nets envolvendo Paul Pierce e Kevin Garnett.

Bruno Caboclo: para o Toronto Raptors, vale o mesmo raciocínio do Boston Celtics. Na noite em que abriu a disputa das finais do Leste (tomando uma pancada do Cavs, é verdade), o clube canadense também tinha uma pequena chance, de 9,2%, de conseguir o direito de selecionar Ingram ou Simmons. Este foi o legado deixado por Andrea Bargnani em sua troca para o New York Knicks. Não aconteceu, e o caçula brasileiro da NBA agradece. A chegada de Simmons ou Ingram seria um tremendo empecilho para seu aproveitamento e desenvolvimento no Canadá.

POR BAIXO

Simmons e D'Angelo Russell campeões pelo Lakers? Talvez no futuro, assim como pela Montverde Academy

Simmons e D’Angelo Russell campeões pelo Lakers? Talvez no futuro, assim como pela Montverde Academy

– Sam Hinkie: bem… Ele entra aqui também, e, se fosse para evitar a brincadeira, só teria lugar nesta lista. Seu plano de entrega-entrega, enfim, gerou sorte no Draft. Mas são os Colangelos que vão desfrutar.

Ben Simmons:  o cenário ideal para o prodígio australiano era que o Lakers tivesse a primeira escolha. Pois os rumores do momento indicam que o ala de 20 anos e seu agente, Rich Paul (o comparsa de LeBron) têm apenas o clube angelino na mira para este Draft. Entre outros motivos, como a badalação de L.A. e o peso da camisa, o que talvez seja mais importante é que este casamento poderia valer milhões em um contrato com as gigantes dos calçados. Com o Lakers em segundo, isso ainda pode acontecer, claro. Mas Simmons, badalado há muito tempo, perderia o status de número um do Draft. Então já ficam as dúvidas: estariam dispostos, jogador e agente, a boicotar o Sixers e se recusar a fazer entrevista e exames? Teriam coragem para peitar uma figura tão proeminente como Jerry Colangelo? (Talvez não seja necessário, já que Ingram, em tese, combina melhor com o atual elenco de Philly, oferecendo muito mais capacidade como arremessador.)

– A juventude de Boston: sem poder alcançar Simmons ou Ingram, cresce a possibilidade de que Danny Ainge vá tentar trocar sua escolha. Mas é pouco provável que ela, sozinha, renda ao time um jogador veterano que possa fazer a diferença para a equipe de Brad Stevens. Então o que se deduz é que o gerente geral vá tentar montar um pacote em torno desta seleção com alguns outros trunfos de Draft e, sim, alguns jogadores para tentar um superastro. Então é de se esperar que a rapaziada fique inquieta até o final de junho. Se for para manter o terceiro lugar, Ainge afirmou que a ideia é escolher o melhor jogador disponível. Segundo os scouts, as opções seriam o croata Dragan Bender, ala-pivô que enche os olhos, mas é o atleta mais jovem do Draft, os armadores Kris Dunn e Jamal Murray e o ala Buddy Hield. O histórico do Boston não é tão profundo assim com jogadores europeus. Por outro lado, com Marcus Smart, Isaiah Thomas, Avery Bradley, Terry Rozier e RJ Hunter no elenco, haveria espaço para mais um ‘guard’?

– James Dolan: o bilionário dono do Knicks deve ter mentido para todo mundo, dizendo que ia se retirar para seus aposentos para tocar guitarra quando, na real, estava acompanhando o Draft pela TV, só para saber se as trapalhadas que ele autoriza (e muitas vezes força!) renderia algo de positivo a quem estava do outro lado do telefone, tal como nos desastrados tempos de Isiah Thomas. Para lembrar: a escolha do time foi endereçada ao Toronto Raptors em troca por Andreeeea Bargnani. O engraçado disso? É que, quando percebeu que seu clube havia sido surrupiado por Masai Ujiri, ele proibiu que seus dirigentes fechassem uma nova transação com o Raptors no ano seguinte, quando o nigeriano estava pedindo mais uma escolha futura de Draft para poder ceder Kyle Lowry, um legítimo All-Star.

– Sean Marks: quando aceitou o cargo, o novo gerente geral do Brooklyn Nets já sabia que não haveria o que fazer quanto a sua escolha de Draft deste ano. Com o Boston Cetics ficando em terceiro, o neozelandês ao menos não tem de conviver com a ideia de que Simmons e Ingram poderiam ser alicerces na reconstrução do time. Mas, que deve doer, deve. Dragan Bender seria um ótimo projeto de longo prazo para a franquia.

– Wizards e Markieff Morris: caso tivesse saltado para o Top 3, o time da capital poderia manter sua escolha. Era difícil de acontecer, e, ao ficar no número 13, teve de cedê-la ao Phoenix Suns. É bom que o ala-pivô bote a cabeça no lugar e ajude John Wall numa campanha de reação do Wizards. Ou isso, ou ele e o gerente geral Ernie Grunfeld vão ter de secar seja lá qual for o calouro que Ryan McDonough selecionar aqui.

TROLLER GERAL

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Dikembe Mutombo causou nesta terça. No tweet acima, quatro horas antes do sorteio em Nova York, o ex-pivô do Philadelphia resolveu ir ao Twitter para parabenizar o clube pela vitória na loteria. Imagine a barulheira feita pelos torcedores do Sixers, comemorando — e dos demais envolvidos com o evento, reclamando e acusando a liga de manipular os resultados. Desde que, em 1985, o New York Knicks venceu a primeira loteria promovida pela NBA, ganhando o direito de escolher Patrick Ewing, as teorias da conspiração em torno desse processo. Mutombo só atirou gasolina nas mãos dos chutadores de três pontos do Cavs destes playoffs: virou um fogaréu que só. Quando questionado sobre o significado de seu tweet, o pivô disse que havia se confundido com as regras do Draft, ao ver que seu antigo clube tinha as maiores chances de chegar ao primeiro lugar. Apagou o tweet e garantiu não ter dom premonitório nenhum. A pergunta que fica agora é a seguinte: quem acredita? : )

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Steven Adams emerge para causar alvoroço no Oeste
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Giancarlo Giampietro

Não há nem sangramento que segure Adams contra os melhores do Oeste?

Não há nem sangramento que segure Adams contra os melhores do Oeste?

Quando o San Antonio Spurs contratou LaMarcus Aldridge, renovou com Tim Duncan, manteve Boris Diaw e ainda fez questão de fechar com David West e Boban Marjanovic, ficou claro: Gregg Popovich queria voltar aos tempos de jogo pesado no garrafão, para tentar fazer paçoca dos adversários e, ao mesmo, se preparar para um eventual embate com o Golden State Warriors. Não dava para correr, duelar em tiros de três pontos ou flexibilizar com eles, acreditava.

Bom, acontece que sua linha de frente envelhecida não conseguiu lidar com a do Oklahoma City Thunder pelas semifinais da conferência. E o duelo como os veteranos do time texano serviu como um bom aquecimento para Steven Adams e amigos. Ao lado de Serge Ibaka e Enes Kanter, o neozelandês saiu de quadra nesta terça-feira mais uma vez dominante, para conduzir seu time a uma intrigante vitória por 108 a 102, para roubar o mando pela final do Oeste.

O emergente pivô combinou 16 pontos com 12 rebotes e 2 tocos em raríssimos 37 minutos de ação por Billy Donovan, 12 acima de sua média nas últimas duas temporadas. Se o técnico mal tirou o folclórico gigante de quadra, é porque não dava, mesmo. A produção de Adams não o permite: com ele patrulhando o garrafão e finalizando com propriedade, seu time teve saldo favorável de 19 pontos.

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Foi o quarto double-double seguido pata o bigodudo nestes playoffs. Nestes quatro jogos, ele anotou surpreendentes 59 pontos, ou, podemos arredondar, 15,0 por rodada. Em termos de rebotes, se formos levar em conta as seis últimas partidas, foram 73, ou 12,1. Chegou a hora de treinadores adversários se prepararem melhor para marcar o kiwi em seus mergulhos no garrafão. Como se lidar com Kevin Durant e Russell Westbrook não fosse o suficiente.

Depois de bater Tim Duncan com vigorosa facilidade, pelo Jogo 1 da final de conferência foi a vez de fazer Andrew Bogut parecer bem velho, mesmo (só 3 rebotes, 2 tocos e nenhum arremesso tentado em 17 minutos). Quer dizer: Duncan e Bogut estão travadões, mesmo. Para ajudar, besta batalha de monstrengos da Oceania, o gigante australiano está se recuperando de um estiramento no adutor direito, ficando ainda mais limitado em seus deslocamentos.

Adams tenta segurar Curry no perímetro. Antes de declaração infeliz

Adams tenta segurar Curry no perímetro. Antes de declaração infeliz

Adams está se esbaldando em jogadas de pick-and-roll e nos rebotes ofensivos, prevalecendo atleticamente, mas também mostrando mais agressividade e habilidade para pontuar ao redor da cesta. Está claramente mais confiante, desenvolto, ganhando o respeito de seus companheiros. Isso aumenta muito sua cotação, para ir além da imagem de grandalhão atlético, enérgico, bom no rebote, mas marreteiro. De repente, a dupla Durant-Wess ganhou a companhia de um terceiro cestinha, e melhor: alguém cujo estilo se molda adequadamente ao que costumam fazer no ataque. Ao contrário de James Harden, que precisa criar com a bola em mãos.

Sempre o Harden, né? Até porque é difícil apagar uma transação dessas dos registros. Mas a menção aqui não é tão gratuita. O pivô neozelandês é justamente a única peça que veio naquela troca que ainda jogando para valer por OKC — Mitch McGary ficou para depois. Obviamente que Adams não é mais valioso, um jogador superior ao Sr. Barba. E também resta saber como o Warriors vai fazer para marcá-lo daqui para a frente. A série só começou. Mas o gerente geral Sam Presti deve estar se sentindo bem ao ver o desempenho recente do atleta.

Que Adams e Kanter tenham conseguido jogar juntos até contra a “escalação da morte”  dos atuais campeões, sem sofrer na defesa, então, é para fazer o chefinho de OKC pedir aumento. Isso muda tudo no tabuleiro.

No final do primeiro,.Donovan tentou usar Durant e Ibaka em sua linha de frente, numa formação mais leve. De imediato, Steve Kerr também rebaixou seu time, lançando a temível formação com Draymond Green como pivô solitário. Restando 4min04s, os anfitriões ampliaram sua vantagem de seis para 13 pontos.

No segundo tempo, não teve dupla light na zona pintada para Donovan, que voltou a apostar na parceria que deu tão certo pelos períodos finais contra o Spurs: Adams e Kanter. Juntos, os dois jogos pivôs deram saldo de 14 pontos para OKC em 7min45s. No geral, nos 24 minutos após o intervalo, a defesa do time forçou muitos turnovers, soube marcar os arremessos de fora e, completando o serviço, ainda contestou ou amedrontou os perigosos cestinhas do Golden State, que acertaram 8 de 19 arremessos de curta distância, aquela que vão se tornando uma especialidade de Adams. Dominando os rebotes a partir dos erros, tiraram velocidade da partida. No quarto período, o quinteto mortal da casa apanhou, sendo superado por -19,5 pontos por 100 posses, marca que ficaria bem abaixo até mesmo do Philadelphia 76rs no decorrer do campeonato.

Esse tipo de desempenho defensivo, consistente, não deixa de ser surpreendente. Durante a temporada regular, o Thunder intimidava poucos quando tinha de proteger sua cesta. Era o time que nunca tinha uma vantagem absolutamente segura. Como quando perdeu para o Los Angeles Clippers com folga aparentemente inapelável de 17 pontos no Staples Center. À época, Durant reclamou: “Eles tiveram disciplina, nós, não. Se quisermos virar um grande time, do modo como estamos jogando, estamos nos enganando”.

Contra o Warriors, na hora decisiva, foram muito mais sólidos marcando. Foi dessa forma que OKC venceu um jogo em que Durant e Westbrook converteram apenas 17 de 51 arremessos e no qual o time como um todo fez apenas uma cesta em oito tentativas durante o “crunch time”, fora de casa, contra um adversário que teve mais descanso (mas com Steph Curry também à procura de seu melhor ritmo, a despeito do show que havia dado em Portland — 26 pontos em 22 arremessos e sete assistências para sete turnovers).

A defesa fica mais forte com Adams em quadra. Se ele não representasse uma ameaça no ataque, seria muito difícil mantê-lo em um jogo de playoff, por comprometer o espaçamento. Como este terror, que tudo crava, pode, na verdade, contribuir para seus companheiros, puxando a marcação para dentro, como Tyson Chandler fazia por Dallas. Quando questionado durante a série contra o Spurs sobre esse paralelo, o neozelandês se surpreendeu.

À distância, parece natural o desenvolvimento de um pivô de 22 anos que passou a jogar em um grande centro apenas aos 19, quando recrutado pela Universidade de Pittsburgh. “Tudo isso (de progresso) acontece muito devagar. Vai levar um bom tempo ainda para eu chegar ao nível que quero. Estou bem distante, mas estou me esforçando. Estou acostumado com longas jornadas”, afirmou ao jornalista Brian Windhorst, do ESPN.com. “Eu me tornei um viciado em melhorar.”

Vigor de Adams foi importantíssimo para OKC eliminar San Antonio

Vigor de Adams foi importantíssimo para OKC eliminar San Antonio

Foi mais um desses perfis em somos lembrados sobre como Adams tem 17 irmãos e uma deles é bicampeã olímpica como lançadora de peso e sobre como ele vem de uma cidade ao Norte da Nova Zelândia, Rotorua, de 60 mil habitantes que atrai turistas devido a suas atrações termais, com direito a geysers que liberam enxofre. O que, nas palavras do rapaz, faz o local cheirar a… Precisa completar? Sim, infelizmente, para entendemos outra declaração mais polêmica desta terça. “Parece que alguém peida em sua cara o tempo todo”, diz

Quem acompanha o noticiário de OKC sabe que Adams é deste jeito. Não é dos mais recatados, digamos. Então é preciso cuidado antes de julgá-lo racista quando se referiu aos cestinhas do Warriors como “rápidos macaquinhos”. Obviamente que gerou polêmica, e, mais tarde, em entrevista ao USA Today, teve de pedir desculpas. Disse que a frase vinha de um dialeto de sua cidade natal. “Foi uma escolha infeliz de palavras. Não estava pensando direito. Estava tentando apenas expressar o quão difícil é perseguir estes caras. No dialeto, é diferente. Palavras diferentes, expressões diferentes, coisas do tipo. Estou assimilando, cara, ainda tentando descobrir quais os limites, mas eu definitivamente os ultrapassei hoje.”

Então. É o mesmo Adams que, na entrevista a Windhorst, comenta sobre uma refeição que experimentou em Taiwan. “Teve um prato que comi lá cuja tradução do nome é ‘O Monge Pula a Cerca’. É um prato de peixe com todos esses temperos. Era lindo, cara, era poesia. Tinha toda uma história”, disse.

Nem todo mundo está acostumado a pensar ou mesmo ouvir coisas dessas. Mas fique preparado. Quanto mais exibições de alto nível Adams tiver por OKC, maiores as chances de sair frases do tipo. Bem diferente de um Duncan ou de Aldridge. Mas esses caras não passaram. O problema do Golden State ainda é grande do mesmo jeito.

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Jukebox NBA 2015-16: Sixers, a loteria do Draft e uma tremenda sabotagem
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Giancarlo Giampietro

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Em frente: já estamos nos playoffs e o blog vai tentando fazer uma ficha sobre as 30 franquias da liga, apelando ainda a músicas, fingindo que está tudo bem. A gente se esbalda com o YouTube para botar em prática uma ideia pouco original, mas que pode ser divertida: misturar música e esporte, com uma canção servindo de trilha para cada clube. Tem hora em que apenas o título pode dizer algo. Há casos em que os assuntos parecem casar perfeitamente. A ver (e ouvir) no que dá. Não vai ter música de uma banda indie da Letônia, por mais que Kristaps Porzingis já mereça, mas também dificilmente vai rolar algo das paradas de sucesso atuais. Se é que essa parada existe ainda, com o perdão do linguajar e do trocadilho. Para mim, escrever escutando alguma coisa ao fundo costuma render um bocado. É o efeito completamente oposto ao da TV ligada. Então que essas diferentes vozes nos ajudem na empreitada, dando contribuição completamente inesperada ao contexto de uma equipe profissional de basquete:

A trilha: “Sabotage”, Beastie Boys

Haaaaaja coração amigo! É hoje! É final de campeonato!

(Mas, não, meu amigo torcedor, minha amiga torcedora do Toronto, do Cleveland ou do LeBron. Para vocês, começa a decisão do Leste, é verdade, mas ninguém está ligando muito para quem é campeão de conferência, mesmo que caia todo aquele confete em quadra e que o proprietário do clube vá fazer um discurso empolgado. Não vale nem mesmo para o Oeste Selvagem, com o Thunder já aprontando para cima dos atuais campeões.)

Vamos fazer uma pausa na programação regular dos playoffs e nos dedicar à outra atração da noite de NBA nesta terça-feira. No caso, a loteria do Draft, cientes de que para muitos clubes esse evento pode ser um marco da virada, de um mundo melhor. Dentre os 14 clubes participantes, nenhum está mais interessado do que o Philadelphia 76ers, que venceu um total de 28 partidas nos últimos dois campeonatos (quase um terço do que o Warriors conseguiu só neste ano, contando playoffs). O intuito é ser premiado com um novato que possa mudar o seu curso — de lanterna da liga, a candidato ao título num futuro breve.

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Ok. Essa última frase pode soar meio simplista demais. Quando Sam Hinkie convenceu os proprietários da franquia de seu plano audacioso, ele apostava fortemente na sorte do Draft, mas não só nisso. Havia todo um plano para manter a folha salarial baixa, o que lhe gerou oportunidades no balcão de trocas, e também para tentar garimpar talento jovem bruto, pouco badalado, com a esperança de desenvolvê-los em jogadores baratos e sólidos, para que estivessem prontos para o momento em que o time pudesse lutar por algo significante. De acordo com Hinkie e o acionista majoritário Joshua Harris, era o título e tão somente o título que eles queriam.

Para chegar lá, a história da NBA mostra que são necessárias basicamente as chamadas superestrelas, os jogadores transcendentais, em torno dos quais você vai montar seu elenco. É só ver os finalistas de conferência pata entender: o Toronto de Lowry e DeRozan é uma exceção em meio aos Durants, Westbrooks, LeBrons e Curries. O Detroit Pistons de 2004 foi o último time a quebrar este tabu, e escalava em seu quinteto inicial quatro eventuais All-Stars.

A matemática histórica, pelo qual o supernerd Hinkie tem profundo apreço, também diz que o Draft é a alternativa mais provável para conseguir esse tipo de jogador. Mais do que trocas e agentes livres. E aí a lógica, fria e feia, da liga, indica que é melhor você perder, perder e perder. Quanto mais derrotas, maiores as chances no recrutamento. E Philly (não?) jogou o tempo todo para isso. Está aí a primeira sabotagem — seguinndo as regras, diga-se — à qual os Beastie Boys fazem referência (numa das músicas mais legais e únicas dos anos 90, bem como num dos clipes mais cool da história, dirigido pelo genial Spike Jonze).

É loteria! Quem leva?

É loteria! Quem leva?

Acontece que, nesse processo todo, em meio a tanta racionalidade e paciência, você ainda vai precisar, sim, de sorte. O que não deixa de ser irônico ou até mesmo maluco, já que não passa de um exercício de fé em números e probabilidades. Para esta noite, o time agora comandado por Bryan Colangelo tem 26,9% de chances de obter a primeira escolha. Simultaneamente, torce para que o Lakers saia do Top 3 e seja obrigado a lhe repassar sua seleção. (Sim, para o Lakers também é dia de final, de um tipo beeem diferente ao qual Magic e Kobe estavam acostumados). Agora, nada disso está garantido. Existem cenários em que os argelinos podem assumir o primeiro lugar, com o Sixers caindo para quarto. É uma loteria, diacho.

Basta ver o que ocorreu com o próprio clube nos últimos dois anos. A pior campanha/maior chance de triunfo no Draft se transformou em duas terceiras escolhas seguidas e dois pivôs que são incógnitas. Aí entra o fator competência também. Os primeiros ativos acumulados por Hinkie não foram aproveitados da melhor forma. Pensem o seguinte: mesmo que Philly mão tivesse dado maiores saltos nos últimos três anos, Jahlil Okafor, Joel Embiid, Dario Saric, Nerlens Noel e Michael Carter-Williams ainda poderiam ser, hoje, Kristaps Porzingis, Aaron Gordon, Clint Capela, C.J. McCollum e Giannis Antetokounmpo.

Por mais cedo que seja para avaliar Okafor e, principalmente, Embiid, pelo fato de ele nem ter jogado na NBA ainda, acho que dá para dizer que a versão alternativa de Draft acima não teria resultado na demissão do mentor desse plano todo. Por mais planilhas e recursos que tenha utilizado, as coisas não saíram da melhor forma. De novo: está cedo para julgar tudo isso. Após dois extenuantes e aflitivos anos de reabilitação, rumores, tweets cômicos e viagens para o Catar, pode ser que o camaronês Embiid siga uma trilha diferente, deixe Greg Oden para trás e domine as tábuas. Pode ser que Noel e Okafor encontrem uma forma de dividir a quadra. Que Saric chegue em julho e produza mais até que Mirotic. Que Carter-Williams se transforme na quarta escolha deste ano, via Lakers. Enfim. Tem muito em jogo ainda.

O cruel aqui? Que Hinkie não vai estar por perto para ver nada disso. Aliás, toda a curiosidade para saber onde passará as noites da loteria e do Draft em si. À frente da TV? Tablet ligado? Torcendo para o quê? Pessoalmente, se o chamado “Processo” render dois jovens de talento neste ano e no início da virada para a franquia, ao menos vai ter o prazer de ver algo que planejou vingar. Mesmo que à distância.

Antes: Hinkie, Harris e Jerry

Antes: Hinkie, Harris e Jerry

Depois de se gabarem pela audácia e paciência que tinham com as ideias de Hinkie, os proprietários do Sixers acharam, por bem, contratar um Jerry Colangelo para supervisionar as ações do cartola, em dezembro. A parcimônia havia acabado, com a equipe novamente perigando não só ser a pior da temporada, como de toda a história. Quando foi anunciado como “chairman” do departamento de basquete, Colangelo disse que trabalharia ao lado do gestor, como um consultor, um conselheiro. Ninguém na NBA acreditou: um cara desta estatura não voltaria à liga só para fazer pose e dar alguns pitacos. Exatamente quatro meses depois, Hinkie pediu demissão, ao saber que não só o Colangelo pai ficaria por ali, como estavam contratando seu filho também, Bryan.

Por quê? Bem, ao que tudo indica, o breve convívio entre ambos deixou claro de que suas visões de gestão não poderiam ser mais diferentes. O Colangelo pai era a velha guarda, Hinkie representa um movimento que talvez nem tenha tanto fôlego assim na liga, pelo menos não em seus radicalismos. Um sempre foi dos mais comunicativos, a ponto de ser convocado por David Stern para salvar a USA Basketball. Deu no que deu: sob sua supervisão diplomática e atuante, a seleção americana está invicta desde 2007. O outro valorizava tanto o segredo como um trunfo que chegava a alienar até mesmo seus subalternos, técnicos e jogadores. Para não falar de agentes, concorrentes, e torcedores. A chiadeira era geral.

De modo que, quando Hinkie entregou sua carta de demissão aos proprietários, não poderia realmente acreditar que ficaria naquilo mesmo. Não levou nem mesmo duas horas para que o documento de 13 páginas (!) vazasse, e via ESPN ainda. Essa foi a segunda sabotagem, como consequência da primeira. Que o dirigente tenha ficado mordido com isso é muito revelador sobre sua maneira de enxergar a liga como um universo de Jogos Vorazes, e só. São 30 clubes apenas, a competitividade é enorme, claro. Mas uma pequena comunidade dessas também não se sustenta sem ombros amigos.

Em dois anos, Brett Brown mal pôde trabalhar com Embiid em quadra

Em dois anos, Brett Brown mal pôde trabalhar com Embiid em quadra

A abordagem silenciosa e meticulosa de Hinkie foi até mesmo equivocadamente vangloriada por seus seguidores. Era um modo de controlar o fluxo de informação e lhe colocar em vantagem. Ele realmente acreditava nisso. Quando Colangelo chegou e lhe sugeriu que se expusesse mais, talvez tenha dado mais entrevistas em semanas do que havia feito em dois anos. Mas o estrago de relações públicas já era imenso.

Hinkie não foi o primeiro a adotar a estratégia do quanto pior, melhor. Em 2002, Cleveland e Denver fizeram de *nada* para terem a chance de selecionar LeBron ou Carmelo (e Darko!). Sam Presti conseguiu Kevin Durant em 2007 e não quis saber de acelerar a construção do antigo Seattle SuperSonics. Aí, em OKC, adicionou Westbrook e Harden e mais. Presti também não lá tão afeito assim a entrevistas, por exemplo. Mas o que se viu em Philadelphia foi algo mais drástico, supostamente com o aval dos donos da franquia e que, até o momento, não conseguiram nenhum jogador que desperte tanto interesse assim como acontecia com LBJ e Melo há 14 anos.

Se for para falar do futuro do clube, todavia, é inegável que Bryan Colangelo assume um departamento de basquete em situação muito melhor que a que de seu predecessor. Jrue Holiday, Evan Turner, Thaddeus Young e Spencer Hawes são bons jogadores, bacanas e tal, mas este núcleo não prometia muito mais do que as 34 vitórias que haviam somado em 2013. Ah, eles tinham o fantasma de Andrew Bynum rondando por lá também.

Agora o clube tem três pivôs jovens e promissores, um ala-pivô croata de visão de quadra rara, alguns atletas jovens, interessantes e baratos (como Robert Covington, Jerami Grant, Richaun Holmes e TJ McConnell) mais duas escolhas extra neste Draft (e potencialmente a do Lakers ainda). É verdade, de todo modo, que não está claro se Okafor e Noel podem jogar juntos. Os resultados do primeiro ano da jovem parceria não foram animadores. Embiid perdeu seus dois primeiros anos de desenvolvimento e, como Andrew Wiggins, seu companheiro de Kansas, pode comprovar, leva tempo para entender e encarar os desafios da liga – logo, pode ser que, na melhor das hipóteses físicas e clínicas, o pivô chegue ao final de seu ano de contrato ainda aprendendo em quadra, e aí terão de pensar no que fazer com tantos grandalhões. Existe um núcleo montado aqui, mas que ainda pedirá uma ou outra troca até ficar balanceado.

Em geral, Philly levou a melhor na grande maioria das trocas que realizou de 2013 para cá. Peguem, por exemplo, o roubo cometido contra Sacramento no ano passado, sendo a arma um telefone celular ou um charuto, sei lá, apontada para um inexperiente Vlade Divac. Vamos lá: Philly tem o direito de trocar sua escolha com a do Kings neste recrutamento. Isto é, caso o clube da capital californiana os ultrapasse no sorteio, serão obrigados a lhes conceder a honra. E quer saber mais? O 76ers tem o direito de repetir isso no ano que vem. Além disso, vai ganhar a escolha de 2018.  E ainda pode ver se Nik Stauskas vai se dedicar um pouco mais nos treinos e virar o ala que conquistou os olheiros em Michigan. Danny Ainge e Daryl Morey certamente aprovariam um negócio desses.

Foram muitas negociações fechadas por Hinkie, mas quase sempre pensando adiante. Josh Harris e seus sócios só não tinham a confiança de que ele seria o homem certo para assumir esta segunda fase do plano de reconstrução, como avaliador de talentos e comunicador. Agora, outro cartola vai ter o privilégio de decidir o que fazer com tantos recursos disponíveis. Certamente os demais candidatos ao cargo de gerente geral liga afora acompanharam tudo com muita atenção. S conduta agressiva de alguma forma feriu um código que não está escrito, nem divulgado em lugar nenhum. Seu rebaixamento também mostra que a paciência dos proprietários com o processo de detrimento dos resultados sempre vai ter limite, independentemente do ramo de negócios que venham. Esses caras, bilionários, produtores da própria riqueza, agora se levantam em suas bases – não necessariamente em Philly –, tomam um bom café nutritivo, dão aquela corridinha ou malhada, botam o header, disparam emails e mensagens, mas estão suando frio, ansiosos, como qualquer torcedor comum, esperando que tantas derrotas tenham acontecido por um bom motivo. Eles precisam de sorte.

A pedida? Uma escolha número dois de Draft e que o Lakers saia do Top 3.

Depois: sobraram Bryan e Harris

Depois: sobraram Bryan e Harris

A gestão: não dá para falar muito sobre o que Bryan Colangelo está fazendo em Philly. Afinal, até agora, de concreto, o que sabemos é que ele só contratou um braço direito: Marc Eversley, com quem trabalhou em Toronto e estava em Washington como vice-presidente de scouting. Por enquanto, também decidiu manter Brett Brown, por mais que a presença de Mike D’Antoni, com quem o dirigente se deu tão bem em Phoenix, seja uma ameaça considerável. O resto está por vir.

Jerry tem mais moral, claro, na liga. Seja como técnico, gerente geral ou dono, o Phoenix Suns teve muito sucesso com sob seu controle. Ele foi, na verdade, o primeiro ‘GM’ do clube, em 1968. Ficou por lá até 2004, quando, já como proprietário, vendeu o clube para um grupo de investidores liderado por Robert Sarver. Nestes 36 anos, o clube ‘só’ foi a duas finais, mas foi aos playoffs em 23 ocasiões, incluindo uma sequência de 1988 a 2001.  Foi eleito quatro vezes o Executivo do Ano, um recorde.

Não está claro qual será a sua influência nas próximas semanas. Assim que contratou o filho, abriu mão da nomenclatura de ‘chairman’ do departamento de basquete para ser um consultor especial do sócio controlador, Joshua Harris. Mesmo o fã mais ligado a Hinkie espera que ele não fique tão distante assim.

Não que Bryan seja um simples produto do nepotismo. Ao ser eleito o melhor cartola da NBA em 2005, ainda em Phoenix, e em 2007, já em Toronto, elevou a seis o número de troféus da família. O problema é que a última impressão que deixou na metrópole canadense não foi das melhores.

Com uma base europeia em torno de Chris Bosh, o Raptors foi aos playoffs nos dois primeiros anos de administração. Em 2010, ainda conseguiu 40 vitórias, mas bateu na trave e perdeu Bosh. Em 2011 e 2012,  não passou de 23 vitórias. Em 2013, foi afastado da gerência da equipe e se demitiu. Um desfecho deprimente. A busca por talento de fora (seja jogadores em atividade na Europa como Anthony Parker, José Calderón e Jorge Garbajosa ou de estrangeiros como Rasho Nesterovic e Carlos Defino) foi uma boa sacada para uma cidade que tinha dificuldade para atrair atletas americanos de ponta. Receber Kyle Lowry de Houston em troca de uma escolha de Draft foi excelente também, assim como a escolha de DeMar DeRozan em 2009.

(Aliás, em termos de Draft, teve grandes acertos em Phoenix ao selecionar tanto Amar’e Stoudemire como Shawn Marion em oitavo. Steve Nash ele topou em 15o, mesmo com Jason Kidd e Kevin Johnson no elenco. Leandrinho saiu no final da primeira rodada. Se Casey Jacobsen e Zarko Cbarkapa não deixaram tanta saudade assim, seus achados foram mais relevantes.)

No geral, porém, falhou em montar em Toronto elencos competitivos mesmo numa conferência esvaziada. E o símbolo da derrapada acaba unindo por coincidência o interesse por europeus e o tino para o Draft, quando Andrea Bargnani foi eleito o primeiro europeu número um de Draft, em 2006, logo que chegou.

O italiano foi mais um candidato a próximo Nowitzki que deu errado. Ao contrário de Nikoloz Tskitshvili, porém, saiu do Bennett Treviso como um jovem produtivo, que ia para a quadra. Na NBA, porém, nunca sr tornou um reboteiro minimamente decente para ganhar a confiança de treinadores. O italiano mostrava potencial, mas não conseguiu montar o quebra-cabeça inteiro. Foi mais um a sair vaiado de Toronto, sem encontrar seu lugar ao lado de Bosh (são jogadores similares, no fim), mas também irritando uma torcida passional pela passividade em quadra.

Para quem venerou ou aturou Hinkie por quase três anos, só esperam que, num posto tão alto de Draft, o mesmo tipo de história não aconteça.

(Bônus: o Philadelphia 76ers se tornou nesta segunda-feira o primeiro clube a vender o pequeno espaço para patrocínio em sua camisa. O parceiro foi ligeiramente estranho, devido à grande ameaça de um conflito de interesses: o site StubHub.com, de compra e venda de ingressos para eventos esportivos e culturais. O acordo vale por três temporadas e US$ 15 milhões no total.)

card-allen-iverson-sixers-rookieUm card do passado: Allen Iverson. O Sixers é um dos times mais tradicionais da NBA, podendo pendurar a camisa de diversos craques da liga. Wilt, Dr. J, Moses, Barkley, Greer, Cunningham e muito mais. Mas isso não quer dizer que o período atual de draga. Que tal voltarmos 20 anos no tempo?

No início da década de 90, o próprio Barkley já tinha sacado tudo: se ficasse em Philly, iria se se lascar geral, e, talvez, ao final de sua carreira, não houvesse legado nenhum, Dream Team à parte. Antes de Chuckster forçar troca para Phoenix, o time havia vencido 35 partidas. Nos quatro anos seguintes, entre 1992 e 96, caiu de 26 para 18 triunfos. Claro que, segundo os padrões de hoje, isso poderia ser visto até como um sucesso. Para um clube que ganhou três títulos e chegou a nove finais, é ridículo. Como Hinkie bem sabe, todavia, sucessivas campanhas ruins levam ao acúmulo de altas escolhas de Draft. E aí chegamos a 1995-96, o fundo do poço desta era, com os 18 triunfos que resultariam no pick #1 daquele ano, Allen Iverson, que dispensa apresentações, embora até possa ser irreconhecível sem as trancinhas, a proteção no braço e tantas tatuagens.

Iverson foi a segunda escolha número um da história do clube, depois de Doug Collins, em 1973,  logo depois da final olímpica mais controversa da história. As lesões no joelho abreviaram a carreira de Collins, que foi eleito quatro vezes All-Star, mas parou aos 29 anos. Iverson, baixinho e magrinho que só, foi mais longe. Jogou 13 anos, até os 34, dos quais 11 foram pelo time que o selecionou.

Com cinco anos de franquia, num Leste enfraquecido, Iverson conseguiu levar o Sixers de volta às finais da NBA pela primeira vez desde o título de 1983, quando Barkley ainda nem havia entrado na liga (foi novato em 1984). Se Embiid, Okafor, Noel, ou, quiçá, Ingram/Simmons puderem um dia levar o clube até uma nova decisão, todas essas derrotas terão valido a pena?

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Chegou a hora para Tim Duncan? Ele não diz
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Giancarlo Giampietro

O jogo já havia acabado há um tempo, mas era questão de cumprir os 48 minutos regulamentares. O San Antonio Spurs até tentou uma última reação, com a possibilidade de reduzir uma enorme diferença para a casa de um dígito. Mas não rolou. Era demais até para o time mais vencedor das últimas duas décadas da liga. Quando a buzina estourou em quadra, mal dava para ouvi-la, de tão alto que animados que estavam os fervorosos torcedores de OKC. Depois de saudar os vencedores, Tim Duncan se dirigiu sozinho a um dos corredores de acesso, de cabeça baixa, tipicamente, enquanto era aplaudido por um ou outro anfitrião. O máximo que fez foi erguer o braço direito e apontar o dedo indicador para cima, num gesto austero de agradecimento.

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É o máximo de emoção que Timmy vai mostrar

Se este foi o último jogo de sua carreira, dá para dizer que ele saiu de quadra ao seu modo. Sem papel picado, fogos, música, tributos, meias especiais ou milhões de merchandising. Sem choro, sem emoção, totalmente frio, depois de competir do jeito que dava contra adversários hoje muito mais vigorosos. O único detalhe que não cabia ali? Que ele tivesse saído após uma derrota acachapante – 113 a 99, cujo peso é muito maior pela virada sofrida na série contra o Thunder, do que pelo placar em si. Isso definitivamente não combina com um notório vencedor.

(Nos registros da NBA, tem a companhia de Kareem Abdul-Jabbar e Robert Parish num clubinho exclusivo de jogadores com mais de mil vitórias na carreira. São os três apenas, e, entre eles, o aproveitamento de Timmy é consideravelmente superior: triunfou em 71,9% de seus jogos, contra 68,8% de Kareem e 62,9% do Chief.)

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Foi o fim mesmo? Talvez nem ele mesmo tenha certeza. O máximo que soltou, quando questionado sobre seu futuro, foi: “Vou pensar nisso quando me mandar daqui e aí ver o que fazer da vida”. De novo, contido de tudo, econômico que só. É muito provável também que, mesmo que saiba qual a sua decisão, não fosse falar assim de imediato, por se recusar a atrair manchetes, ainda mais numa hora dessas, após a eliminação.  Já Gregg Popovich preferiu desconversar, com suas respostas ora rabugentas, ora engraçadas, se negando a nos contar qual foi o assunto em sua conversa com o pivô na saída de quadra. Duncan admitiu, porém, que o técnico o procurou e perguntou se queria seguir jogando. “Sempre quero jogar. Então ele me disse para seguir em frente. Foi isso. Então continuei jogando o tempo todo.”

Mas Pop nem precisava dizer nada, mesmo. Que ele tenha mantido Duncan até o instante final do quarto período, mesmo depois de a reação de sua equipe ser encerrada, já diz muito sobre qual é a sensação, o palpite do técnico-presidente. Não é que estivesse dando um recado ao veterano – como sempre fez, sem fazer concessões a seu status –, ou tentando humilhá-lo, dãr. A impressão que passou é que, se aquela era a saideira de seu velho companheiro, sua despedida do basquete, que ele pudesse aproveitar até o finalzinho, mesmo. Mesmo que ele já tivesse jogado 47.368 minutos pela temporada regular e mais de 9.300 pelos playoffs.

Se o Spurs perdeu, ao menos Duncan, aos 40 anos, pôde fazer seu melhor jogo na série, com 19 pontos em 14 arremessos, com 50% de aproveitamento, em 34 minutos, bem acima de médias melancólicas que teve no confronto. Com ele em quadra, mais importante, o time texano ainda teve saldo positivo de 13 pontos, vejam só. Mas não pensem que isso vá servir de algum consolo para o gigante.

Em sua carreira, o pivô nunca teve sequer um arroubo individualista de que tenha memória. A gente mal sabe o que ele pensa sobre a liga e sobre a vida (risos). O máximo que se ouviu sobre ele foi de um divórcio (e daí?) e de que ficou pê da vida quando David Stern instaurou um código de vestimenta para os atletas — seu negócio era usar bermudão, e pronto. Redes sociais? Por favor. É como se ele estivesse em outro mundo, mesmo, de outros tempos também. De resto, são apenas frases nada eloquentes, mas preocupadas com seus companheiros, seu clube. O time sempre à frente.

Nesse sentido, se foi o último jogo, mesmo, ouso dizer que foi muito mais significativo que os 61 pontos de Kobe, episódio sobre o qual ainda estou devendo texto (posso dizer que está ficando enorme e, por isso, de difícil conclusão). A matemática não nos deixa mentir, que 61 > 19. Além disso, o Lakers venceu o Utah Jazz, enquanto seu Spurs perdeu. Mas a questão é que, para Duncan, essa história de números nunca foi a prioridade, por mais que sua consistência (vejam isto aqui) o coloque entre os melhores também estatisticamente: é 14o maior cestinha da liga, sexto em rebotes e quinto em tocos, enquanto, nos playoffs, ele é o sexto, terceiro e primeiro, respectivamente, nesses quesitos.

Um card de novato de Duncan

Um card de novato de Duncan. Faz muito tempo

Ah, os playoffs, né? Sim, os texanos estavam jogando pela fase decisiva, enquanto o Lakers fechava a pior campanha de sua história contra um time desmotivado por sua eliminação na última rodada. No ocaso de sua carreira, Kobe primeiro teve de lutar contra graves lesões e, depois, contra as próprias limitações de um elenco abaixo da mediocridade. São os piores anos da franquia angelina. Não é culpa direta do ala, claro, embora seu salário astronômico tenha sido um empecilho, assim como Duncan não é a única razão pelo período de excelência de seu clube, tenso sacrificado alguns milhões para que LaMarcus chegasse. O que não dá para negar? Que os dois, dos maiores da história, são, foram as faces de suas franquias.

Um ponto que os une é especialmente esse: de serem os caras de um time só, por tanto tempo. Para Kobe, foram 20 anos como Laker. Foram 19 anos como Spur para Duncan, igualando a marca de John Stockton pelo Utah Jazz. Esses 19 anos atravessaram três décadas, e em todas elas ele ganhou um título. Só mesmo o operário John Salley, ex-Pistons, Bulls e Lakers, havia conseguido isso antes, mas já como conselheiro de vestiário nos últimos dois clubes, depois de surgir na liga no final dos anos 80 como um ala-pivô extremamente atlético. Spurs e Lakers se cruzaram diversas vezes durante todos estes anos. Quase sempre com chance de título. Desde 1997, quando o pivô das Ilhas Virgens entrou na liga, os dois ganharam 10 troféus e disputaram 13 finais, mais de 50% do que esteve em disputa.

A diferença é que, nesta reta final Duncan e o Spurs ainda estavam envolvidos em jogos relevantes. E que Duncan, mesmo no primeiro ano em que não passou dos 10,0 pontos em média, se manteve como uma influência positiva em quadra durante a temporada. Um dos criadores da medição de “Real Plus-Minus” do ESPN.com, Jeremias Engelmann atesta que, com o quarentão, o Spurs melhora sua eficiência defensiva em 5,3 pontos por 100 posses de bola. Isso é muita coisa e o deixou na segunda colocação do ranking.

O problema é que no ataque sua mobilidade o limita demais já. Quando confrontado com atletas como Steven Adams, Serge Ibaka e Enes Kanter, isso ficou ainda mais evidente. Não sabemos se ele sentiu alguma coisa a mais do a mera trava nos joelhos e costas. Até o Jogo 6 desta quinta-feira, porém, a coisa estava feia. A primeira questão é saber se foi algo pontual, pelo desgaste da temporada, a despeito da menor carga de minutos da carreira e pela característica dos rivais, ou se o declínio é permanente. Uma hora acontece. Depois, precisaria ver se Duncan poderia tolerar este declínio, se teria vontade e pique para isso – certeza ao menos de que estaria num time muito forte ainda, podendo contratar mais um jogador de ponta em julho. Ele simplesmente não fala sobre essas coisas. Se vai jogar mais um ano, ou não, não dá para esperar estardalhaço nenhum.

(Nenhuma palavrinha sobre Manu Ginóbili? Ainda não é hora, pois já sabemos que ele vem ao #Rio2016, e,se for para pensar de modo egoísta, o técnico Sérgio Hernández até pode comemorar o fato de que a campanha do Spurs terminou antes de junho, dando um respiro ao seu craque.)

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Quando o prêmio da NBA vem na hora certa. Ou não
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Giancarlo Giampietro

Duas vezes Chef Curry

Duas vezes Chef Curry

Stephen Curry foi aclamado nesta terça-feira como o MVP da NBA 2015-16 de modo unânime. Foi a primeira vez na história que isso aconteceu. Ao receber todos os 131 votos dos jornalistas americanos que participaram da eleição, o astro do Golden State Warriors sobrou mais que o dobro de pontos do segundo colocado, Kawhi Leonard. Michael Jordan, em 1995-96, não por coincidência o ano das 72 vitórias, foi quem mais chegou perto dos 100% de votos: 96,5%.

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Curry também foi o MVP que mais aumentou seu índice de eficiência de uma temporada para a outra, subindo em 3,5 pontos, para alcançar a marca de 31,56 — para comparar, Kevin Durant foi o segundo nesse quesito, com 28,25. Até este ano, o legendário Larry Bird foi quem havia mais crescido, entre 1984 e 85, no auge, quando ganhou 2,3 pontos de eficiência. Quer dizer: não teve título ou fama que fizesse o astro do Warriors se acomodar. Não é tudo o que se espera de um jogador profissional e tal? Nem cabe polêmica aqui, gente. Deixemos de chatice, por mais que aquela célebre frase de Nelson Rodrigues seja engraçada e instigadora.

Dito isso, então não houve melhor data para que Steph tivesse seu prêmio confirmado pela liga americana, já que isso aconteceu apenas algumas horas depois de mais uma exibição incrível do armador. Voltando de uma contusão no joelho e de um baita susto, ele retornou em Portland para livrar o Golden State de um aperto desnecessário antes da final do Oeste. Depois de levar uma bronca de Steve Kerr pelo empenho abaixo do nível pelo Jogo 3, o time surpreendentemente não deu a resposta de imediato na partida seguinte, tomando uma surra do Trail Blazers nos primeiros minutos. E aí que o técnico se viu obrigado a lançar seu principal atleta um pouco mais cedo do que esperava.

Inicialmente, o plano era que Curry ficasse em quadra aproximadamente por 25 minutos. Mas aí aconteceram o péssimo início de partida e, pior, a exclusão de Shaun Livingston (quem diria?!) ao final do primeiro tempo, se o Warriors quisesse fazer frente aos anfitriões e retornar a Oakland em condição confortável, não teria como limitar os minutos d’O Cara assim. Jogou por 37 minutos e, vocês sabem, anotou 40 pontos, 17 dos quais na prorrogação. Foi um soco no estômago dos jovens valentes do Blazers e mais uma atuação mágica do armador nesta temporada. Mais uma na lista encabeçada por aquela exibição inacreditável em OKC.

Acontece que, por alguns minutos, a cerimônia de entrega do prêmio poderia ter ficado um pouco estranha. Não que uma derrota em Portland fosse desmerecer o conjunto da obra. Claro que não. Mas é que o armador estava encontrando dificuldade em seu retorno às quadras, em busca de ritmo de jogo. Ele chegou a errar nove arremessos de três pontos consecutivos, algo impensável neste ano em condições normais, mas muito natural para quem havia parado por tanto tempo. Então imagine se ele não tivesse reencontrado o rumo? Imagine se não houvesse aquela prorrogação incrível? Enfim. Curry ainda seria o MVP unânime, merecidamente. Mas seria chato, ainda assim.

Muito pior, sem dúvida, foi a experiência que Dirk Nowitzki viveu em 2007, quando seu Dallas Mavericks fez a melhor campanha da temporada regular, liderado pelo craque alemão em seu auge técnico-atlético, atingindo invejável marca de 67 vitórias. Só para, durante os playoffs, se tornar um dos casos raros de cabeça-de-chave número um a cair logo na primeira rodada, eliminado pelo Golden State Warriors por 4 a 2. O Mavs foi derrotado por um elenco de atletas explosivos (em todos os sentidos) como Baron Davis, Monta Ellis, Stephen Jackson, Jason Richardson, liderados pelas traquinagens de Don Nelson, seu antigo mentor.

Quando a NBA programou a entrega do troféu para Dirk, o time texano já havia sido eliminado, e a repercussão da época foi humilhante. Lembremos que isso foi quatro anos antes de chegarem ao título. Até 2011, a verdade é que o ala-pivô era visto por muitos como um tremendo de um amarelão (argh!!!), leão de temporada regular que morria sempre na praia. Acho que LeBron James e Dwyane Wade não concordariam com essa versão hoje. De qualquer forma, esta lenda viva do basquete estava simplesmente desmoralizada na hora de dar a coletiva. Foi um episódio deprimente.

*   *   *

O prêmio de MVP é aquele que recebe mais atenção em uma temporada. Muito mais que o de Executivo do Ano, que R.C. Buford recebeu este ano, claro. O gerente geral do San Antonio Spurs, que trabalha em parceria com Gregg Popovich (o presidente do clube) ganhou seu troféu na segunda-feira, um dia antes de Curry e um dia depois da derrota de sua equipe para o Oklahoma City Thunder pelo Jogo 4 das semifinais. A série estava empatada naquele momento. Hoje, depois de mais um jogo muito equilibrado e nervoso, Russell Westbrook e Kevin Durant conseguiram a virada e voltam para casa com a chance de fechar o confronto nesta quinta.

A ameaça da derrota perante OKC não tira o brilho das operações que Buford conseguiu realizar em julho do ano passado, arrumando espaço em sua folha salarial para contratar LaMarcus Aldridge, o principal agente livre no mercado. Ao fechar o negócio, Buford não só deu a Tim Duncan a chance de reeditar essa história de Torres Gêmeas em San Antonio, fazendo do time um candidato ainda mais forte ao título, como também já garantiu ao clube a composição de um núcleo para o futuro, emparelhando o pivô e Kawhi Leonard. A visão de futuro, aliás, é algo que diferencia a celebração do Executivo do Ano das demais votações, que avaliam estritamente a relevância mais urgente dos fatos.

Na temporada regular, em termos imediatistas, o novo San Antonio já foi um sucesso, conseguindo 67 vitórias. Dá para dizer que só não atingiram a marca de 70 triunfos porque, na cabeça de Gregg Popovich, há coisas mais importantes que um números simbólico. Em termos de estatísticas, valoriza-se mais o fato de terem combinado a melhor defesa com o terceiro melhor ataque. Em casa, a equipe sofreu apenas uma derrota em 41 partidas. Tudo redondinho, e não seria o combalido Esquadrão Suicida do Memphis Grizzlies que os incomodaria na primeira rodada dos playoffs. Até que chegou a hora de mais um duelo com o Okalhoma City Thunder…

Negócio surte efeito de curto a longo prazo

Negócio surte efeito de curto a longo prazo

Não tem o que apagar aqui: admito que não imaginava chegar ao dia 11 de maio com o Spurs a uma derrota da eliminação. Um time foi uma máquina e fez uma campanha memorável. O outro tinha dois dos melhores atletas da liga, mas foi bastante inconsistente na temporada, especialmente na hora de proteger sua cesta. Com atletas de alto nível como Serge Ibaka, Steven Adams, Andre Roberson, Kevin Durant, Russell Westbrook e Dion Waiters, Billy Donovan não conseguiu forjar mais do que o 12o. sistema defensivo mais eficiente da liga. O mesmo sistema que deu ao Dallas algumas chances pela primeira rodada.

Acontece que o Thunder apertou os ponteiros. Pensando assim, a vitória arrasadora do Spurs pode ter sido um divisor para este elenco. Basta recuperar as declarações de Durant e Westbrook para ver o impacto. Foi vergonhoso, ainda mais pensando em todo o histórico recente compartilhado por estes núcleos. Excluindo este primeiro resultado, temos um saldo geral de 15 pontos para o Thunder. Está muito parelho, e que OKC tenha vencido três dessas quatro partidas é algo inesperado, mas que nos diz muito sobre a virada de uma equipe, já que, pela primeira fase, esses caras se notabilizaram pela derrocada nos minutos finais. É verdade que a arbitragem cometeu erros absurdos na segunda partida e também nesta terça-feira, ao deixar dr marcar falta de Kawhi Leonard em Russell Westbrook na última posse do adversário. Mas San Antonio teve chances em ambos os casos para triunfar antes e depois dos deslizes e não as aproveitou.

Dos Jogos 2 ao 5, tivemos partidas com dinâmica bastante parecida. O Spurs abrindo alguma vantagem mas primeiras parciais, e o Thunder zerando consistentemente esse prejuízo, e não só por ter dois cestinhas que aterrorizam qualquer marcador. Até o momento, o elenco de apoio a Durant e Wess tem sido determinante. Steven Adams e Enes Kanter têm trucidado seus oponentes na disputa por rebotes. Dion Waiters também está acabando com Manu Ginóbili, a despeito da barbaridade que cometeu no Jogo 2. Randy Foye também pode incomodar quando aberto na zona morta e compete muito mais que Anthony Morrow.

A novidade aqui é o ganho coletivo de OKC. Demorou, precisou que levassem uma sova, mas o time se encaixou. Quando a química funciona, jogadores tendem a se soltar e crescer. Do lado de San Antonio, porém, Buford e Popovich não podem se declarar inteiramente surpreendidos. À parte de LaMarcus, a dupla formou um elenco bastante velho, e o risco de que pudessem penar física e atleticamente, contra o Thunder — ou Warriors, Clippers, Rockets etc. Até o caçula de San Antonio, o ala Kyle Anderson, de apenas 22 anos, fica devendo, por ironia.

Não está fácil a vida de West contra OKC

Não está fácil a vida de West contra OKC

Para diminuir essa possibilidade, Pop administrou mais uma vez muito bem seus minutos. Beirando os 40 anos, Duncan ficou fora de 21 jogos e não poderia passar dos 25 minutos em média, mesmo. LaMarcus tromba mais, mas ficou em 30,6 minutos. Diaw e West receberam 18 minutos. Tony Parker, 27. Danny Green, 26. Eles chegaram descansados, gente. Mas nem isso foi o bastante para que possam equilibrar a disputa com o Thunder. Uma hora a idade poderia pesar, e infelizmente, para Duncan e West, isso parece ter acontecido na pior hora. O resultado: o time tem simplesmente uma enorme defasagem em termos de capacidade atlética, e isso tem interferido diretamente na técnica também. Por vezes parece que Kawhi está lutando sozinho em quadra — que ele, ainda assim, consiga incomodar os caras, só mostra o quanto é excepcional.

Peguem o Jogo 5 novamente. Juntos, Duncan, Diaw e West somaram míseros nove pontos e sete rebotes. Três jogadores para isso. Steven Adams saiu de quadra com 12 pontos e 11 rebotes. Enes Kanter teve 8 pontos e 13 rebotes. Westbrook pegou mais rebotes que Duncan, West e Kawhi juntos, ou mais que LaMarcus e West. Em 19 minutos, Ginóbili só tentou quatro arremessos e anotou três pontos. Waiters anotou o triplo. Por aí vai, saca? Num estalo, tudo o que San Antonio construiu na temporada vai ruindo.  O torcedor e os treinadores da fantástica franquia texana sabem que seu time não vai rejuvenescer em dois dias. Podem sempre jogar mais animados, concentrados, preparados. Mas está complicado.

Se o que vimos até aqui é tudo o que seus veteranos podem oferecer, mesmo, talvez seja a hora de Popovich tentar uma cartada mais ousada nesta quinta-feira. Mesmo que não tenha tantas opções assim. Daí que não dava para entender bem a contratação de Andre Miller durante o campeonato. O que um armador de 39 anos poderia acrescentar a este time de diferente? Kevin Martin ao menos representava uma apólice de seguro para Ginóbili. Miller não teria condições de fazer nada se Tony Parker se lesionasse. Seria improvável que um jogador de D-League pudesse fazer a diferença neste nível. Mas tivemos vários casos recentes de atletas que conseguiram ajudar os times que os valorizaram, nem que tenha sido de modo pontual. Troy Daniels, ex-Rockets, hoje do Hornets, foi um. Tyler Johnson, do Heat, é outro. Mesmo James Michael McAdoo, pelo Golden State, oferece algo de diferente a Steve Kerr.

Quem sabe Boban Marjanovic? Por mais que o gigante tenha ficado mais famoso em seu primeiro ano de NBA como figura cult, ou até uma mascote, não dá para esquecer que ele que ele foi muito produtivo nos poucos minutos que recebeu. Também é um calouro só por nomenclatura. Obviamente que não seria o caso de por o sérvio de titular e para jogar por 40 minutos. Mas vindo do banco no lugar de um dos veteranos?  Por que não? Com 2,22m de altura, pesado, ficará vulnerável em situações de pick-and-roll, e não é que os pivôs utilizados possam impedir infiltrações de Westbrook e Durant, mesmo. Mas Boban pode ao menos bloquear Enes Kanter nos rebotes. Em caso de problema de faltas para Danny Green, talvez valha tentar Jonathon Simmons na vaga de Anderson?  Você abre mão de chute de média distância e passe, mas ganha muito em vigor e explosão.

Seriam as alterações possíveis em relação ao que Pop vem tentando. O fato de todos os últimos quatro jogos terem sido equilibrados talvez pese na cabeça do técnico. De não é momento para chacoalhar a rotação, nem necessário. Pode muito bem ser isso, mesmo. Decisão difícil.

Pelo fato de ter assegurado contrato de LaMarcus para os próximos três anos, perder agora não seria um desastre para o Spurs. Porém, com a possível aposentadoria de Duncan e Ginóbili, o envelhecimento também de Parker e a campanha que fizeram até aqui seria uma dura derrota, maior que qualquer prêmio individual.

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Na série OKC-Spurs, não é só Durant que tenta adiar despedidas
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Giancarlo Giampietro

Tem mais jogo para Durant em OKC

Tem mais jogo para Durant em OKC

Se Kevin Durant vai continuar jogador do Oklahoma City Thunder na próxima temporada, não sabemos. Neste domingo, de todo modo, o ala fez de tudo para que o Jogo 4 contra o San Antonio Spurs não fosse o último pela equipe na condição de anfitrião ao marcar 29 pontos no segundo tempo e liderar uma vitória dramática por 111 a 97 (que marcava 101 a 97 com 2min39s para o final).

Parece redundância falar em dramaticidade, né? É assim que acontece nos #NBAPlayoffs anualmente. Mas o mais recente embate entre Thunder e Spurs teve muito mais tensão do que o normal, por tudo o que estava na mesa, a começar justamente pela narrativa em torno de uma possível saída de Durant, algo que acompanhou o time durante toda a temporada, mesmo que de modo mais tênue do que se esperava. Foi um jogo absolutamente estranho, muito por conta de toda a enorme pressão no ar. Com o Spurs à frente no placar por 53 a 45, no intervalo. Resultava que os últimos 24 minutos eram, provavelmente, os mais importantes da dupla Wess-KD.

O cestinha de OKC reagiu da melhor forma para adiar essa discussão mais um pouco, tomando rédeas da partida, depois de um primeiro tempo pouco chamativo, no qual anotou 12 pontos em 12 arremessos, com 25% de aproveitamento. No quarto período, ele esteve no auge da forma, sem se importar que Kawhi Leonard, melhor defensor das últimas temporadas, estivesse em sua perseguição. Veja o que ele aprontou:

Foi incrível. Durant estava no piloto automático, anotando 15 pontos em cinco arremessos, sendo que quatro deles foram efetuados diante de Leonard. Não houve o que o jovem All-Star de San Antonio pudesse fazer, contestando um ala de 2,11m de altura, com arremesso muito elevado. Ninguém dá conta disso, na verdade. Teria de ser um esforço coletivo, algo que os texanos não conseguiram orquestrar em tempo real.

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“Esta é razão de nossa derrota. Nossa defesa não estava tão boa como nos últimos jogos. Definitivamente, quando uma equipe passa dos 100 pontos, ficará difícil para nós venceremos. Esta tem sido nossa principal ênfase e deve ser a mesma para a próxima partida”, afirmou Boris Diaw, que jamais pode ser considerado como um grande marcador, mas cuja visão de jogo é inquestionável.

Os problemas de San Antonio, no entanto, não se limitam à defesa, a princípios defensivos. Num plano geral, o que vimos nos últimos três jogos foi um time de veteranos tendo muita dificuldade para lidar com um oponente que tem muito mais vitalidade e capacidade atlética, que representou um grande desafio nos últimos anos (quando estavam com força máxima). Se Kawhi e LaMarcus Aldridge estão se virando bem, muitos do elenco do apoio têm produzido muito pouco, e não por se descobrirem incapazes de uma ora para a outra, mas basicamente por estarem oprimidos fisicamente pelos adversários, mesmo.  “Eles foram muito mais durões que nós”, disse Gregg Popovich.

A boa notícia para o Spurs nesse sentido? O Jogo 5 será em casa, ginásio no qual perderam apenas duas vezes neste momento, uma para Golden State e o próprio Jogo 2 contra Thunder. A má? É que a partida já será disputada nesta terça-feira. Não tem muito tempo para descansar, não, e já pudemos ver muita gente parecendo pregada em quadra. OKC exige muito deles e, no último quarto, pareceu estar em quinta, enquanto os visitantes não passavam da terceira marcha:

Como você vai solucionar isso? À parte de Kawhi Leonard, qual seria o jogador que Popovich poderia lançar à quadra para competir com aberrações como Westbrook, Adams e Ibaka? Jonathon Simmons? Obviamente o calouro surpreendente e garimpado pelo Spurs não pode ser considerado como resposta num momento tão crítico assim da temporada. O Spurs pode jogar mais duro, mais compenetrado, mas não tem tantas reservas assim como o Golden State Warriors, criticado pelo seu treinador, Steve Kerr, pelo mesmo motivo, após derrota para o Portland Trail Blazers pelo Jogo 3.

E não é que San Antonio tenha perdido só pela falta de virilidade, gente. Em dois dias, Pop também tem de confabular com sua excelente comissão técnica e tentar entender o que fazer para o time também atacar melhor. Não sei o quanto isso é intencional — os treinadores e jogadores jamais vão abrir o jogo –, ou ou se tem a ver com queda de produção dos jogadores ao redor da dupla, mas é preciso refletir sobre os resultados da dieta de ataque em isolamento com Kawhi ou LaMarcus.

Para ficar claro: os dois All-Stars estão dando conta do recado. Veja o aproveitamento de quadra combinado de ambos durante os playoffs, até este domingo:

Brincando aqui, podemos dizer que basta colocar Danny Green neste quadrante à direita, só para chutar de fora, e que estaria tudo bem, certo? Popovich adoraria que sim, mas no basquete, ainda mais em uma série de playoff deste nível, nada é tão simples assim. Do contrário, já teriam varrido seu rival, em vez de claudicar desta forma. E aí fica a pergunta sobre onde estaria a movimentação de bola tão característica dos últimos anos?

(O jornalista do Yahoo! Sports brinca bem com a inversão de papéis deste Jogo 4: “O ataque de isolamento do Spurs não pode competir com a pontuação mais balanceada do Thunder”, escreveu.)

Quer um número impressionante para atestar essa piada e essa impressão geral? Bem, sozinho, Russell Westbrook deu mais assistências que toda a equipe adversária: 15 x 12. As 12 assistências para 40 cestas de quadra (30% de cestas assistidas, então), também representam a pior marca do Spurs desde 1987. Para comparar, a proporção de assistências para cestas dos três jogos anteriores foi de 39 para 51 (Jogo 1, 76,4%), 19 para 40 (Jogo 2, 47,5%), 19 para 33 (Jogo 3, 57,5%). Repetir o que aconteceu no primeiro confronto seria muito difícil, claro. Aquilo é o ápice que uma equipe atingir em termos de movimentação. As 19 assistências das duas partidas anteriores, porém, não são nada de outro mundo para um conjunto deste nível.

A gente se acostumou a ver o Spurs a vencer compartilhando a bola. Daí a enorme estranheza por seu desempenho. Além da abordagem em cima de dois apenas atletas, chama a atenção que ambos tenham sido acionados diversas vezes em isolamento para cima de um time gigante e atlético. Nem mesmo um pick-and-roll básico entre Kawhi e LaMarcus era utilizado, para tentar explorar a péssima defesa de Enes Kanter em movimentação lateral distante da cesta. Pelo contrário. Era LaMarcus recebendo a bola nas imediações do garrafão, de costas para a cesta, marretando Ibaka ou Kanter, ou Kawhi ciscando com a bola a partir da linha de três, com a quadra relativamente espaçada. Pode funcionar para cada um. Além do mais, o time só foi converter no domingo suas primeiras bolas de longa distância nas últimas duas posses de bola do primeiro tempo. Isso lhes rende muitos números, mas a equipe aos poucos vai minguando.

Matt Moore, da CBS-Sports.com, o jornalista mais hiperativo do Twitter basqueteiro, andou fuçando no software Synery e na vasta planilha de estatísticas do NBA.com e constatou mais alguns dados interessantes: o Spurs está produzindo a segunda menor quantidade de arremessos de três pontos livres pelas semifinais de conferência. Com os pés plantados, abertos na linha de três, seus jogadores estão acertando apenas 35%. Depois de estourar o cronômetro ofensivo apenas uma vez em casa pelos Jogos 1 e 2, isso aconteceu quatro vezes em OKC. Que tal? São três ocorrências que nos mostram que o time está sendo marcado com mais precisão (ou facilidade).

LaMarcus Aldridge acertou em San Antonio 33 de 44 arremessos de quadra, um aproveitamento ridículo de bom (75%). Fora de casa, porém, o número caiu para 16-39 (41%). Pelo Jogo 4, ele converteu 8-18 (44,4%) para 20 pontos, contando com apenas cinco lances livres batidos e seis rebotes. O pivô nunca foi uma maravilha atlética, mas pareceu mais cansado do que o normal. Reflexo da carga excessiva? Ele bate no post up, mas também apanha. Até mesmo uma mistura de Terminator com Matrix como Leonard tem seus limites, fazendo seu pior jogo até o momento, com 21 pontos em 19 arremessos (só 36,8% de acerto) e quatro turnovers, em 40 minutos. O cara ficou em quadra por todo o quarto período, tendo de fazer praticamente de tudo para o Spurs: atacar o rebote ofensivo e as linhas de passe em transição defensiva, criar por conta própria de um lado e perseguir Durant do outro. Haja.

E aqui é a hora de virar o jogo também e apontar o que OKC tem feito de bom. Bastante criticado nos Estados Unidos, Billy Donovan fez um trabalho excepcional no segundo tempo, contando com uma ajudinha se Russell Westbrook, que não sequestrou o ataque do time, mas não deixou de agredir, como havia acontecido pelos primeiros 24 minutos, com uma postura muito passiva. Conforme dito aqui, Wess não pode se descontrolar em quadra, mas também não deve jogar muito controlado — deu 15 assistências, mas errou 13 de seus 18 arremessos, totalmente fora de ritmo, num reflexo claro da autocrítica que fez após o Jogo 3.

No momento em que Durant esquentou a mão, seu parceiro All-Star e demais companheiros não deixaram de acioná-lo. Assim como Kawhi, o ala só descansou no quarto período quando um dos técnicos chamou um tempo e nos últimos 43 segundos, quando foi substituído pelo calouro Cameron Payne. Antou 13 pontos na parcial e ainda deu duas assistências para dois chutes de longa distância, para Randy Foye e Dion Waiters.

Waiters? Sim, aquele doidinho, que talvez tenha feito a melhor partida de sua instável carreira, com 17 pontos, 3 assistências, 3 rebotes e 7-11 nos arremessos, matando suas duas tentativas de fora em 29 minutos. O ala dessa vez ficou em quadra para os minutos finais no lugar de Andre Roberson. Antes tarde do que nunca. Por mais voluntarioso que seja, dedicado à defesa e bom reboteiro, Roberson provoca um tremendo congestionamento no ataque de OKC (em 20 minutos, errou e tentou apenas dois arremessos). De novo: neste nível de jogo, não dá para jogar com um atleta tão limitado assim por muito tempo. Com um companheiro de perímetro, que não tem Russell como primeiro nome, produzindo e matando seus tiros de longa distância, não havia como San Antonio exagerar em dobras para cima de Durant.

(Um parêntese sobre Waiters: seu talento é inquestionável. Desde Syracuse, a gente sabe que ele pode fazer um pouco de tudo em quadra, sendo as infiltrações seu carro-chefe, além do vigor físico. A primeira questão, porém, era juntar os pontos, saber quando fazer o quê. A segunda é ter consistência. Nenhuma delas foi solucionada até agora, o que não lhe dá o direito de agir com tanta marra assim como fez neste domingo. Ele já foi comparado pelos Scouts a Dwyane Wade, quando universitário, mas ainda não fez nada em sua carreira para se comportar assim. Aos 24 anos, está na hora de amadurecer. OKC já perdeu James Harden, Kevin Martin e Reggie Jackson em sua rotação e precisa de um terceiro pontuador, criador para ajudar as estrelas.)

Outro fator que ajudou a liberar o cestinha foi a participação ativa de Steven Adams no primeiro quarto. Sua função primária no ataque é fazer corta-luzes para a dupla Wess-KD. Desta vez, porém, ele começou a sair um pouco antes do contato com o defensor para ‘mergulhar’ no garrafão. Muito mais atlético que os oponentes, enfrentando um Tim Duncan que parece nas últimas, anotou 12 pontos e recebeu três faltas no ato de arremesso no primeiro tempo. Mesmo que não seja nenhum Hakeem Olajuwon, virou mais uma arma a ser vigiada, forçando com que os defensores invertessem a marcação, em vez de ficarem os dois com Durant. Adams  terminando com double-double de 16 pontos e 11 rebotes e uma defesa sempre atenta contra os velhacos do outro lado. Já Durant pôde atacar os grandalhões do Spurs a partir do drible. OKC ganhou as duas batalhas nessa.

Por falar em velhaco, o grande erro de Donovan foi ter colocado Nick Collison em quadra no primeiro quarto. Essa não dá para entender. O pivô é inteligente, claro, sabe se posicionar muito bem na defesa e dificilmente vai cometer alguma bobagem na quadra. Fora isso, não vai produzir mais nada na carreira em jogos relevantes. O veterano não tardou a ser substituído e terminou com saldo negativo de seis pontos em quatro minutos, a pior marca do time. Malandro por malandro, os do Spurs são, hoje, muito melhores. Se for para jogar com um par de pivôs, precisa manter sempre dois entre Ibaka, Adams e Kanter.

O pivô turco foi uma grata surpresa na jornada, aliás. A NBA inteira mal pôde acreditar em sua defesa no mano a mano no quarto período. Contra LaMarcus até! Algo que Ibaka não estava conseguindo tanto. Mais descansado e jovem, aguentou o tranco e mostrou que não é tão incapaz assim na arte de marcar o adversário. Seu problema maior é o posicionamento fora da bola, bastante avoado, e na contenção de baixinhos atacando no pick-and-roll (basicamente atividades que o forcem a pensar e tomar decisões rapidamente em quadra). Donovan apostou no pivô durante o ano todo e colheu os frutos na melhor hora possível. Agora precisa ver se Waiters e Kanter vão conseguir repetir a dose em San Antonio. Confiança não vai faltar.

O fim?

O fim?

A matemática histórica da liga ainda aponta San Antonio como favorito. Em uma série melhor-de-sete empatada em 2 a 2, o time com o mando de quadra passou em 79% das vezes. Mas cada série é uma série, e Gregg Popovich tem algumas dúvidas para tirar, também com alguns pontos bastante sentimentais pesando. Como bem nos alerta o colunista Buck Harvey, do Express News, o é só Kevin Durant que pode estar se despedindo de sua cidade neste confronto. Duncan e Ginóbili, arrisco dizer, estão muito perto da aposentadoria.

Um ano atrás, quando questionado sobre seu legendário pivô, um dos dez maiores de todos os tempos, Pop disse que confiava na renovação de seu contrato, já que, olhando para o jogo, não havia motivos para ele parar, mesmo. Por mais que os texanos tenham perdido muito cedo nos playoffs, naquela série inesquecível contra o Clippers, Duncan havia somado 17,9 pontos, 11,1 rebotes, 3,1 assistências e 2,3 tocos em 35,7 minutos, contra Blake Griffin e DeAndre Jordan, em sete partidas. O técnico disse acreditar que, enquanto seu velho companheiro estivesse se sentindo bem em quadra, não se aposentaria. Neste ano, em oito rodadas, tem 4,4 pontos, 5,0 rebotes, 1,6 assistência e 1,3 toco em 19,5 minutos, acertando apenas 43,8% de suas tentativas de cesta, menor marca da carreira…

Ginóbili tem sido mais produtivo, com 7,4 pontos, 3,0 rebotes e 2,6 assistências em 18,8 minutos, matando 43,8% dos chutes de três nos playoffs. Está mais ou menos de acordo com o que fez no ano passado. Mas vem tendo muita dificuldade quando pressionado por Waiters, sem conseguir escapar da marcação sem a ajuda de um corta-luz, algo impensável para um dos atletas mais elásticos, criativos e determinados que o basquete já viu. Quando o argentino anunciou que disputaria os Jogos do #Rio2016, pareceu a situação perfeita para dar seu adiós.

“Popovich tem um time com talento e veteranos, mas enfrenta uma crise do mesmo modo que o Thunder sente. Em uma semana, afinal, ele pode perder mais que uma série. Pode perder a companhia de trabalho de dois bons amigos”, escreveu Harvey.

Imagine o nível de tensão para o Jogo 5 nesta terça-feira…

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Por uma noite, pelo menos, o pesadelo de Kyle Lowry acabou
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Giancarlo Giampietro

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Kyle Lowry mal podia acreditar no que acontecia em Miami. Era final de primeiro tempo, e o aro parecia tão vedado como o do Air Canada Centre. Ele seguia para o vestiário ainda cabisbaixo, com quatro pontos anotados em seis chutes, tendo desperdiçado todas as três tentativas de longa distância, sem nenhum lance livre batido. Continuava seu pesadelo pelos #NBAPlayoffs 2016.

Até aquele momento, o armador e líder do Toronto Raptors havia acertado apenas 43 de 139 arremessos de quadra, ou 30,9%. Se for para ficar apenas com os tiros de fora, estava encarando o fato de que 51 dos 60 havia tentado pelos mata-matas haviam dado aro, se tanto. Mesmo nos lances livres a coisa não estava tão boa assim, com 68,8%. Tudo isso lhe dava média de 13,5 pontos por partida.

Não podemos confundir Lowry com um Stephen Curry de jeito maneira. Mas não é que ele estivesse no nível de um Rafer Alston ou Mike James também. Pela temporada regular, suas médias foram de 21,2 pontos, 42,7% nos arremessos, 38,8% de fora e 81,1% nos lances livres. Um All-Star e com cartaz para ser eleito para um dos três quintetos ideias da temporada. Mais que justo.

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Daí que era muito complicado de entender o que se passava nestes playoffs. Ninguém conseguia dar uma explicação razoável. Nem ele, nem seus companheiros ou técnicos. Até que, na volta do intervalo, de repente alguém se lembrou de ligar a chavinha. Em um segundo tempo espetacular, o armador acertou 9 de 13 tentativas de cesta no geral, com 100% nos chutes exteriores (5-5!), somando 29 pontos no segundo tempo, o mesmo que um Dwyane Wade. Era como se, do nada, de lacrado, o aro tivesse ganhado a vastidão de todos os mares pelos quais passam os navios de Micky Arison, proprietário do Miami Heat e também da maior operadora de cruzeiros marítimos do mundo. Era tão inexplicável quanto o período de seca.

“Kyle voltou a ser o Kyle”, disse Dwane Casey. “Este é o Kyle que conheço”, disse DeMar DeRozan. “Eu não duvido de mim. Não existe essa coisa de duvidar de si mesmo”, afirmou o astro do Raptors.

Ah, então é simples assim? Que uma hora a maré tinha de virar a seu favor.

Acho que foi o Paulo Cleto que inventou o termo: confiatrix. Como se fosse uma das poções mágicas dos quadrinhos de Asterix que o atleta pudesse tomar entre um jogo e outro e aí desembestar a ganhar. Para o tênis, seu metiê, isso fica muito claro. Afinal, os tenistas estão por conta em quadra, encarando o jogo que considero o mais exigente, em termos de precisão técnica, desgaste físico e, principalmente, força mental.

Mas essa coisa de crise de confiança, ou excesso de, vale para qualquer esporte, claro, inclusive o basquete. Se a tal da poção existisse, e não fosse doping, Lowry muito provavelmente não hesitaria em pagar um ano inteiro de seu salário para usá-la. No seu caso, seriam US$ 12 milhões. Tudo para poder reencontrar a boa forma durante os playoffs. Até sexta-feira, o cara vinha com o terceiro pior aproveitamento de quadra dos mata-matas entre jogadores que arriscam pelo menos dez chutes em média, acima apenas de Jae Crowder e Trevor Ariza. Nenhum desses alas já foi considerado um cestinha de mão cheia, e Crowder jogou sua série contra o Atlanta Hawks com o tornozelo estourado. Se fosse para ampliar o escopo, o departamento de estatísticas da NBA havia encontrado um dado ainda mais estarrecedor. Com um mínimo de 100 arremessos realizados, Lowry tinha o pior aproveitamento dos últimos 50 anos:

Estava sofrendo. Acredite, é possível ver um esportista milionário sofrer. Por isso, na madrugada de terça para quarta-feira, estava de volta à quadra do Air Canada Centre para ficar arremessando por conta própria, sem nenhum membro do estafe do Raptors, com uma escada embaixo da tabela, e o ranhido de seu tênis e a batida da bola no tablado ecoando pela arena.  Só deixou o ginásio depois da 1h, pouco depois da derrota para o Miami pelo Jogo 1 das semifinais — de novo a franquia canadense abria uma série em casa com revés, repetindo o que havia acontecido contra Brooklyn em 2014, Washington em 2015 e Indiana pela primeira rodada este ano. Lowry estava ouvindo música e chutando, sem ninguém por perto. A explicação: queria voltar às raízes, quando passava hora e horas com a bola, por conta, arremessando em algum parque ou quadra de Philly, se divertindo, sem distração ao redor — ou justamente para se distrair. Quem nunca? (O mais cínico vai falar em golpe de marketing, já que os jornalistas ainda estavam presentes, despachando seus textos em altas horas. Mas não faz muito o estilo do baixinho.)  

Quando alguém se envolve com um jogo, pressupõe-se que esteja lá para ganhar, competir, fazer dinheiro e, sem problema, se divertir também, seja lá qual dor a ordem de prioridades aqui. Pela NBA, haaaaja competição, amigo. São 82 partidas de temporada regular, 3.936 minutos. O atleta, então, supostamente encara essa maratona para só cumprir tabela. Essa briga toda é para chegar aos playoffs, a não ser que jogue pelo Philadelphia 76ers. Para a maioria alguns times, disputar a fase final já é gratificante o suficiente: esportivamente, com a sensação de missão cumprida, e financeiramente, com mais ingressos vendidos a um preço elevado, a renovação de carnês e patrocínios.

Para Lowry, o que está em jogo é a reputação em quadra. Grana não é problema: ele tem mais um ano de contrato com a franquia canadense, valendo mais US$ 12 milhões, e vai entrar no mercado de agentes livres em 2017 preparado para receber mais uma bolada. A não ser que seu desastroso desempenho pelos playoffs se estendesse à temporada seguinte, o que seria impossível, né? “Estou apenas tentando reencontrar meu caminho, meu toque. Não sei por onde ele anda, é algo que está mexendo com minha cabeça. É frustrante”, disse, mesmo depois da vitória pelo Jogo 2, quando voltou a patinar. “É maluco. Quando estou sozinho, sem ninguém, arremesso bem. É muito diferente. Jogar mal assim quando todos os olhos estão em mim me enche, porque sei que sou muito melhor que isso. Só tenho de dar um jeito nesta m…”, afirmou, completando também que não se tratava mais da bursite no cotovelo que o incomodou na reta final da temporada. O repórter Josh Lewenberg, setorista pelo grupo TSN, porém, postou uma imagem supostamente destes playoffs que apontaria o contrário, todavia. Aí o armador se sai com algo ambíguo: “Sempre digo a verdade para vocês, caras, na maioria das vezes… Exceto quando estou contundido”, disse, sorrindo.

Neste sábado, aparentemente num intervalo de cerca de 20 minutos, se havia algum incômodo no cotovelo, desapareceu. Era como se as mais de 19 mil pessoas presentes à American Airlines Arena também tivessem sumido. Só estavam ele e Dwyane Wade por ali, ralando, para ver quem conseguia desempatar a série. (Em termos de confiatrix, também, convenhamos que Wade vivia algo inexplicável também. Depois de acertar apenas 7 de 44 chutes de fora durante a temproada regular, ele converteu 4 de 6 pelo Jogo 3 em Miami, chegando a 8 de 11 pelos playoffs em geral. Quem explica isso?)

Como que num estalo, Lowry desembestou a fazer cestas e terminou a partida com 33 pontos, o máximo desde o dia 14 de março — desde então, haviam se passado 23 partidas. Já os 58% de quadra e as cinco bolas de três pontos foram seu recorde desde 18 de março, com 20 jogos.

“Não fiz nada diferente. As pessoas mais próximas vieram até a mim, me procuraram. Mas, na maior parte, o que diziam era para ir para a quadra e seguir jogando. Tenho um cara aqui (apontando para DeRozan, no vestiário), que é provavelmente aquele que mais me apoia, e ele disse isso, para seguir em frente. Ele sempre vai me seguir minha liderança, não importa como, assim como meus companheiros de time. Apenas fui lá e tentei os mesmos arremessos que tentei o ano todo.”

Dessa vez caiu, e, se Lowry conseguiu ignorar as tentações de South Beach, pôde ir para a cama muito mais cedo.

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Quando o ‘velho’ Westbrook não consegue domar a fera
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Giancarlo Giampietro

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Não se trata de uma versão de Jekyll & Hyde. Talvez esteja mais para Bruce Banner, em seus dias mais melancólicos, tentando se afastar de grandes centros urbanos, com o medo de que o Hulk apareça para esmagar tudo. Deve ser assim mais ou menos assim que funciona para Russell Westbrook, tentando domar seu lado mais agressivo em quadra para o bem de seu time. Não que suas explosões em quadra tenham de ser evitadas a qualquer custo. A questão é ter um controle sobre elas, sobre quando e como fazer. Em mais um jogo tenso entre OKC e San Antonio na noite desta sexta-feira, Wess perdeu ambas as batalhas: a interna, que levou ao revés na externa, permitindo que o Spurs recuperasse o mando de quadra e reassumisse a liderança na série pelas semifinais do Oeste.

Westbrook terminou a partida com 31 pontos, oito assistências e nove rebotes. Números fenomenais. Mas que não compensam a parte negativa de sua linha estatística, com 21 de seus 31 arremessos desperdiçados, além de cinco turnovers, três dos quais acontecendo no quarto período. Os últimos dois foram os mais custosos, aos 3min25s e aos 1min55s, a partir dos quais os visitantes texanos conseguiram cinco pontos diretos para reassumir o controle do placar e, aí, não perder mais, triunfando por quatro pontos de diferença, ou 100 a 96.

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Os 21 chutes que Westbrook desperdiçou são três a mais do que Kevin Durant tentou durante toda a partida. KD terminou com 26 pontos em 18 arremessos (1,44 na média). Do outro lado, Kawhi Leonard chegou aos mesmos 31 pontos em 17 arremessos (1,82). Então estamos de volta, né? Aos maus e velhos tempos em que o armador era constantemente achincalhado, muitas vezes com razão, por segurar demais a bola, arriscar chutes tresloucados e ignorar um dos cestinhas mais talentosos que a NBA já viu logo ao seu lado.

Essas críticas andavam abafadas. Primeiro porque Durant mal jogou na temporada passada, e aí sobrou para esse furacão carregar o que restou de time por conta própria. Nesta temporada, porém, reencontrando o cestinha, vimos o melhor de Wess como distribuidor. Ele finalizou sua campanha com recordes pessoais em assistências para todos os gostos: total (834), média (10,4), média por minuto (10,9 por 36) e também em cestas assistidas de seus companheiros (49,6%). Se você clicar nestes links todos, vai reparar também numa tendência: como, desde a campanha 2011-12, na qual foram bicampeões, seus números foram progredindo constantemente. Dos seus 23 aos atuais 27 anos, num amadurecimento mais que natural, mas que os mais tinhosos relutavam em aceitar, sendo tão teimosos como o jogador pode ser em quadra.

Essa atenção maior aos passes e aos parceiros, porém, não o deixou menos agressivo. Ele ainda arriscou 18,1 arremessos por partida e bateu 7,2 lances livres, ainda acima das médias pessoais na carreira. Por minuto — excluindo, claro, a temporada passada de exceção –, seu volume de jogo não destoa muito do que vinha fazendo antes, atacando de maneira incessante. Porque tem isto: você não vai pegar um jogador de capacidade única e tentar transformá-lo em José Calderón. Simplesmente não dá, seja por características técnicas (nunca vai ser um chutador daquele nível), psicológicas (calmaria você não vai ver por aqui) ou dinâmicas, atléticas (seria como comparar um leopardo a um leão marinho solto em terra). O sucesso do Thunder passa por seu jogo nuclear.

Westbrook não deve deixar de atacar nunca, mesmo passando como nunca na carreira

Westbrook não deve deixar de atacar nunca, mesmo passando como nunca na carreira

A questão era encontrar um equilíbrio. Ou melhor:  diminuir o desequilíbrio, entre pensar o sistema ofensivo só como produto para seus arranques inigualáveis e infiltrações devastadoras e passar a olhar com mais cuidado o que está acontecendo ao seu redor. Isso vinha acontecendo, conforme registrado nos números acima, e atingiu o balanço ideal agora, com a menor taxa de uso (posses de bola que terminam com ações individuais dele) desde 2011. Além disso, percebe-se também uma alteração sutil, mas importantíssima em sua seleção de arremessos. Westbrook nunca enterrou tanto em sua vida. Foram 69 cravadas na temporada, contra 59 de seu ano de novato, quando tinha 20 aninhos apenas. Isso significa, sim, que ele disparou em direção ao garrafão muito mais do que nos últimos anos: 37,7% de seus arremessos saíram na região do semicírculo, contra 33,1% de 2013-14, por exemplo. Esse tipo de troca foi consistente, tirando sempre dos tiros de média distância mais indesejáveis (os de dois pontos mais longos, que caíram de 17,1% há dois anos para apenas 10,6%). O que caiu também foi o volume de três pontos, de 27,1% para 23,6%.

Agora, para alguém que chuta tão mal de longa distância, o All-Star ainda tem insistido demais. São 4,3 por jogo, com acerto pífio de 29,6% neste ano. Em sua carreira, ele acertou apenas 30,2% de suas 1.675 tentativas. De acordo com dados do Basketball Reference, apenas Charles Barkley e Ron Harper têm um rendimento pior entre atletas com pelo menos 1.500 disparos, respectivamente com 26,6% e 28,9%. Argh. Eaí chegamos aos dez tiros de três que ele tentou nesta sexta-feira, inexplicáveis ou indesculpáveis, independentemente do contexto.

Quer dizer, o contexto específico do duelo com o Spurs não pode ser ignorado. Justamente por ser algo que Gregg Popovich queira induzir — assim como vários inimigos do Hulk fazem nos quadrinhos e nas telonas, para desestabilizá-lo, mesmo que ativar o monstrão verde seja um perigo danado. A famosa armadilha que seu time já preparou diversas vezes, desde a época em que era forçado a lidar quase que anualmente com um Kobe Bryant no auge atlético. O mesmo foi repetido contra LeBron James em duas finais consecutivas. Contra um OKC que tem dois cestinhas explosivos, a julgar pelo que vimos na sexta, a prioridade de San Antonio é que Kevin Durant não seja o definidor. Por isso, vão atirar dobras para cima dele sempre que possível, tentando desestimulá-lo. Westbrook tem ficado mais no mano a mano, por isso. Se, de 31 tentativas de arremessos de Westbrook, dez virão de longa distância, Pop vai achar o máximo. Pelo Jogo 3, ora, ele teve 30% de acerto, precisamente a média de sua carreira.

Tentando bloquear as linhas de passe para Durant, o Spurs deixou a bola nas mãos do armador do Thunder, e dessa vez ele não soube o que fazer com ela, seja por fome ou por inoperância de sistema contra uma das melhores defesas da história. Levantamento estatístico da ESPN mostra que 21 dos 31 arremessos de Wess nesta sexta aconteceram em posses de bola que ele começou e finalizou sem ter feito um passe sequer.  Quer mais? Desses 21 chutes, apenas dois não foram contestados. Eles sabiam exatamente o que estavam fazendo.

Westbrook ainda ganhou o garrafão, região na qual saíram 17 de suas 31 tentativas de cesta. Com LaMarcus Aldridge, Tim Duncan, David West ou Boris Diaw quase sempre na cobertura, a aberração atlética de OKC dessa vez teve dificuldade para converter suas infiltrações, com 45,9% de seus arremessos. É provável que, ao analisar a gravação do jogo, perceba como os defensores o abordaram em ajuda e que possa encontrar alternativas. Ou talvez ele simplesmente atropele todo mundo como bem entende. O importante é seguir agredindo. Cada arremesso que fizer de média para longa distância será ao gosto da defesa. (O bloqueio defensivo, aliás, não foi apenas contra Westbrook. O armador até bateu oito lances livres na partida. No geral, porém, o Spurs cobrou muito mais do que os donos da casa, com 34 a 24. Apesar de seu baixo percentual, acertou seis a mais, e essa foi a primeira vez nestes playoffs em que OKC foi superado nesse quesito.)

Esse é o tipo de arremesso que Tony Parker não vai ligar de ver

Esse é o tipo de arremesso que Tony Parker não vai ligar de ver

A boa notícia para Kevin Durant, Billy Donovan e seu fiel séquito trovejante é que, em sua coletiva pós-jogo, Wess acusou o golpe. Num gesto de humildade totalmente surpreendente, não se cansou de assumir a culpa pela derrota, talvez até de modo exagerado. Ele não fez uma boa partida, de certo. Mas não é que possa ser responsabilizado pelos atos igualmente ultra-atléticos de Kawhi, por exemplo.

Mas foi interessante que tenha repetido sem parar sua falha na condução do time, citando o verbo “executar” e seus derivados à exaustão. Esse é o termo mais usado em entrevistas da liga, claro, mas o astro de OKC se superou dessa vez. E isso é um bom sinal. Em outros tempos, talvez adotasse uma postura blasé diante das perguntas, apelando ao sarcasmo, se tanto, para prestar contas sobre o que havia acabado de acontecer em quadra. Dessa vez chamou a bronca.

“Execução. Isso começa comigo. Tenho de fazer um trabalho melhor de execução e colocar nossos caras em posição para fazer a cesta, especialmente no final do jogo e contra uma boa defesa. Você tem de encontrar maneiras de fazer a bola rodar, e isso começa comigo”, afirmou, para aí listar seus erros. “Foram muitos arremessos, mesmo. Honestamente, tenho de fazer melhor esse trabalho, de descolar arremessos para os caras, como disse. Steven (Adams) só tentou um chute. Eles precisam ser envolvidos para nós batermos esta equipe. Também desperdicei a bola quando era hora de decidir o jogo. Assumo a responsabilidade quando a bola está em minhas mãos, para criar para os meus companheiros, e não fiz isso. Assumo a culpa.”

Westbrook perdeu o controle do jogo em quadra, e o Thunder, o da série. Para avançar à final da conferência, sua equipe vai precisar vencer três das próximas quatro partidas, sendo duas delas em San Antonio. Tarefa duríssima. Mas tem muito chão pela frente ainda — algo que me surpreende em dizer, confesso.

Depois de uma surra levada na primeira partida, vimos dois confronto muito equilibrados, nos quais o elenco de apoio do Spurs encontrou muita dificuldade para jogar. Tim Duncan (no geral) e Manu Ginóbili (nesta sexta) pareceram tão velhos quanto suas fichas de inscrição mostram, travados, sem conseguir lidar com oponentes muito mais vigorosos. Boris Diaw está marginalizado, e, quando isso acontece, ele mostra seu pior lado: desencana da vida e fica murchinho (metaforicamente falando, que fique claro). Em 13,0 minutos, tem médias de 3,0 pontos, 2,3 assistências, 1,7 rebote. Nos últimos dois jogos, foram apenas três pontos no total, três assistências, um rebote e uma cesta de quadra em 21 minutos. David West vai brigar sempre, não importando se está sendo mimado, ou não. Contra Adams, Serge Ibaka e Enes Kanter, porém, não consegue ser tão efetivo assim mais, com médias de 6,0 pontos, 2,7 rebotes e 44,4% nos arremessos. Até agora, só conseguiu bater dois lances livres. Esses dois pivôs reservas fazem muita falta, ainda mais com Duncan inócuo.

Com tanta gente produzindo abaixo, o Thunder tem conseguido equilibrar as coisas em meia quadra, no coletivo, algo totalmente inesperado depois da série que fizeram contra Dallas. Westbrook entende isso, o que é um tremendo avanço, comparando com sua versão mais jovem. Precisa ver apenas o quanto seu ímpeto, sua força anterior serão maiores que isso neste momento de pressão. O Thunder não pode vencer com ele afastado, é certo. Mas, se perder o controle novamente, as chances de estrago também são enormes.

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Campanha sem Curry mostra várias razões que tornam o Warriors especial
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Giancarlo Giampietro

Klay Thompson, estrelando "Prenda-me Se for Capaz"

Klay Thompson, estrelando “Prenda-Me Se for Capaz”

Pode tirar o asterisco, vai, depois do que o Golden State Warriors fez nesta madrugada contra o Portland Trail Blazers. Para quem dormiu mais cedo achando que já era, para quem não checou o Twitter, o HoopsHype, o ESPN.com, ou qualquer outra fonte factual, foi o seguinte: os atuais campeões entraram no quarto final com desvantagem de 11 pontos, a maior que encarou por estes playoffs em três parciais — no primeiro tempo, o déficit chegou a 17; daí que venceu o restante da partida por 22 pontos de diferença (34 a 12) para triunfar por 110 a 99. Foi o melhor saldo no quarto período de um jogo do mata-mata desde 1987. Apenas outros dois times haviam entrado no quarto com um déficit de dígitos duplos e terminaram com uma folga sob as mesmas condições. O segundo desses times? O Houston Rockets, contra o Clippers, pelas semis do Oeste no ano passado. Sim, aquela virada incrível, com -12 ao fim de três períodos e saldo de +13 para colocar seu adversário em choque.

Tá. Sensacional, né?

Tudo isso, sem Stephen Curry.

O que não quer dizer, de modo nenhum, que Curry não faça diferença, como tenho certeza que muitos críticos persistentes ao armador gostarão de apontar como argumento para desvalorizar o que o MVP da liga fez pelos últimos dois campeonatos. Curry é parte integral do sucesso do Warriors. Mas o que a gente aprende, ou deveria aprender, com o passar dos jogos e dos dias, é tentar não simplificar tudo. O Warriors não era um timaço só porque tinha Curry, nem Curry é irrelevante só porque o Warriors segue um timaço durante a sua ausência — até porque, por mais que esteja enfrentando um Blazers que é muito mais forte, hoje, que o Rockets, mas não é um candidato ao título. Para além do desfecho tranquilo da primeira fase, nestes dois primeiros jogos pelas semifinais, em especial nestes 12 minutos demolidores, o que a equipe de Steve Kerr nos mostra são as diversas partes que, somadas, a tornam especial.

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Peguem, por exemplo, Klay Thompson. Depois de acertar sete bolas de longa distância em suas últimas três partidas, decepcionou pelo Jogo 2 em Oakland: matou apenas cinco. Ele foi novamente o cestinha, com 27 pontos no total, em 20 arremessos. Não foi a jornada mais eficiente de sua carreira, mas não ouse falar isso para ele ou levantar a questão como algo importante.  Pois é um pouquinho complicado ficar o tempo todo marcando o melhor jogador do adversário (esse tal de Damian Lillard) e, do outro, ter a obrigação de, se não carregar, produzir muito para fomentar um ataque que está carente de seu melhor armador. Sem Curry, as defesas se concentram mais no ala, claro. Ainda assim, ele está se virando muito bem, obrigado. Sua cotação na NBA só sobe, enquanto Kerr e Jerry West se sentem cada vez mais felizes com o veto a uma possível troca por Kevin Love dois anos atrás.

Não dá mais para falar só de sua mecânica extremamente rápida. É preciso valorizar o quanto ele se desloca no ataque, de um lado para o outro da quadra, para a frente e para trás, buscando os corta-luzes ferozes de seus grandalhões, que abrem linhas de passe que, um segundo antes, não estavam apresentadas, nem sugeridas. Incansável, como neste vídeo abaixo. O Coach Nick, do Basketball Breakdow (conta obrigatória para as jornadas de NBA), dá uma cornetada em Maurice Harkless, mas seu clipe em flash não mostra o tanto que o jovem ala do Blazers teve de se movimentar para acompanhá-lo durante o quarto período. Chega uma hora que você se perde, mesmo, ou que quer abreviar a maratona e tentar um bote infeliz:

(E Harkless havia marcado Thompson muito bem no primeiro tempo, sendo um dos grandes responsáveis para que o ala tenha desperdiçado 13 de seus 20 arremessos. Era um belo ajuste de Terry Stotts, que não poderia mais conviver com a ideia de ver o gatilho abusar de Lillard ou CJ McCollum, e que colocou Portland em situação tão favorável ao final de três períodos.)

E quem faz o passe para Klay matar? Draymond Green, claro, com uma de suas sete assistências. E, sim, ele foi o armador do time durante a virada, por mais que, na escalação oficial, Shaun Livingston recebesse tal denominação. O ala-pivô-armador-faz-tudo soma agora, em duas partidas da série, 40 pontos, 27 rebotes e 18 assistências. Nos últimos dez anos, apenas LeBron James e Blake Griffin, justamente pelo último playoff, conseguiram esse tipo de soma.

Green ficou todos os 12 minutos do quarto final em quadra. O cara talvez se sentisse endividado com os companheiros, depois de um primeiro tempo, hã, tímido — se é que esse termo pode ser associado a uma figuraça, que é a mais abusada da NBA hoje e, ainda assim, só não vem para o #Rio2016 se não quiser. Ou talvez Steve Kerr soubesse que não poderia tirá-lo de jeito nenhum, mesmo. Pois o cara se tornou um monstro de jogador, para surpresa geral. “Assisti a VÁRIOS jogos de Draymond na universidade. Achava que haveria um lugar para ele na liga. Mas não pensava que ele iria CRIAR um lugar só dele”, observou o repórter Vincent Goodwill, repórter nativo de Detroit e cobriu o basquete local por muito tempo, incluindo Michigan State, antes de se mudar para Chicago. Ele é um jogador único, mesmo:

Mas não vamos ficar aqui falando de mais individualidades como a dupla de All-Stars do Warriors quando dizemos que o time não é feito só de Steph Curry. Na verdade, é a combinação desses diversos talentos que funciona. Colocando na conta a presença física e inteligente de Andrew Bogut perto da tabela, os ganchinhos hoje aparentemente imarcáveis de Shaun Livingston, a ameaça que Harrison Barnes representa como chutador do lado contrário, o combate e versatilidade de Andre Iguodala etc. E, ainda assim, a soma de todas essas habilidades dá tão certo assim porque Steve Kerr soube criar um sistema para aproveitá-las ao máximo. Num ataque mais estático, apostando em isolamento, Thompson seria tão efetivo? Green teria espaço para infiltrar vindo de trás da linha de três pontos?

Mais: não fosse o controle de minutos mais rígido que o Warriors pratica durante a temporada regular, Thompson, com 33,3 minutos, teria condições para correr tanto no ataque e ao mesmo tempo pressionar um cara como Lillard do outro lado? O mesmo raciocínio vale para Draymond Green, que jogou um pouquinho mais (34,7 minutos, o líder da equipe nesse quesito). Andre Iguodala, que, aos 32 anos, é o mais velho dos jogadores fixos na rotação, se beneficiou ainda mais, limitado a apenas 26,6 minutos por partida. Estão todos descansados, ou relativamente descansados para assimilar mais responsabilidades enquanto Curry não retorna. Para os machões de plantão que acham que o controle de minutos não influencia nada nos mata-matas, é só perguntar a Popovich, Duncan, Ginóbili e Parker o que eles pensam disso. Acho que o Spurs até que foi bem nos últimos anos ao adotar esse tipo de estratégia, né?

Curry, retorno pode esperar

Curry, retorno pode esperar

Com pernas e confiança bem elevada, o Warriors promoveu uma blitz para cima do Blazers no quarto final do Jogo 2, com uma defesa realmente assustadora. No quarto período, os visitantes tiveram o mesmo número de turnovers e cestas de quadra: cinco. “Pensar em buscar uma virada sem Steph é diferente. Tivemos de contar com nossa marcação”, disse Kerr. Isso só mostra mais uma vez que tem muito mais do que um ataque potente. Para virar o placar, na real, eles contaram com sua defesa, que foi a quarta mais eficiente da temporada, empatada com a do Celtics e a do Clippers. Na temporada passada, eles haviam sustentado a melhor defesa da liga também — não custa repetir essa informação aqui, pois ainda há muita gente que pensa que o sucesso do time se deve apenas a sua artilharia exterior. (Aliás, em noite em que acertou apenas 33,3% de seus arremessos de fora, levando 15 pontos de prejuízo na comparação com o Blazers, a equipe venceu o jogo pontuando no garrafão, área em que fez exatamente o dobro do oponente: 56 a 28).

Quem via o jogo poderia até estranhar o que Mason Plumlee estava fazendo tanto com a bola em mãos, desperdiçando a bola sem parar, seja em desarmes em ataques ao garrafão, ou tomando algumas raquetadas na hora de buscar a cesta: foram seis turnovers para ele em toda a partida e três tocos sofridos. Não é que Mason P tenha ficado maluco. (Mason P?! Sim, uma licença poética, tá? Imaginemos todos os irmãos Plumlee como MCs. Miles P. Mason P. E Marshall P, o caçula.) O Plumlee de Portland até pode dar assistências em movimento contra um time desprevenido — tem 5,5 em oito partidas destes playoffs e é o líder da equipe, acreditem. Acontece que dessa vez o Warriors estava preparado pressioná-lo, forçando o adversário a jogar com seu pivô, tirando a bola das mãos de Lillard com sucesso.

No terceiro período, a estrela do Blazers havia anotado 17 pontos, com quatro bolas de três em cinco tentativas. Para tanto, foi fundamental a substituição de Andrew Bogut por Festus Ezeli, em vez de Anderson Varejão, registre-se — o pivô brasileiro ainda não se encontrou no time. O gigante australiano não tem condições de se manter à frente de um armador no perímetro, quando o oponente força a troca da marcação com um corta-luz (algo que Plumlee faz muito bem, registre-se). Ezeli, também imenso ao seu modo, tem mais agilidade no deslocamento lateral e conseguiu impedir ações rápidas de Lillard, até que Klay Thompson também se aproximasse para fazer o abafa. Deu muito certo. Depois de voltar de um breve descanso, o armador não conseguiu mais pontuar. Saiu zerado naquela parcial, tendo tentado apenas três arremessos.

Mason P penou no segundo tempo contra o Warriors

Mason P penou no segundo tempo contra o Warriors

Ezeli, que topou defender a Nigéria no #Rio2016, só foi substituído a 3min16s do final, quando Warriors já havia assumido a liderança (98 a 95). Harrison Barnes veio para o seu lugar e se juntou a Livingston, Thompson, Iguodala e Green. Esse é o Kerr controlando sua rotação perfeitamente, e estava formada, então, uma versão alternativa da “escalação da morte” dos atuais campeões, e aí virou espanco, como diria o chapa Maurício Bonato, aumentando a intensidade defensiva. Foi estonteante até. O Portland, tão bem dirigido por Terry Stotts e guiado em quadra por dois armadores excepcionais, mal conseguia completar suas jogadas.

Ao completar a virada, o Golden State pode, de certa forma, ficar um pouco mais relaxado. Por ter defendido seu mando de quadra e para impedir um ganho de confiança de um time jovem e perigoso. Pensando mais longe, porém, o mais importante é o reflexo que a vitória tem para tirar pressão de Steph Curry e do departamento médico. Não há porque apressar seu retorno. O Jogo 3 será apenas no sábado, mas sua presença não se faz mais tão urgente assim na série. Segunda-feira, para o Jogo 4? De novo: só ele estiver totalmente liberado. Para lesões de ligamento no joelho, cautela e preparação nunca é demais. O retrospecto histórico dos playoffs mostra que o time que tenha vencido os dois primeiros jogos em casa avançou em 94% das vezes. Dependendo do desempenho em Portland, então, sem menosprezar o Blazers, o Warriors poderia até mesmo se dar ao luxo de guardar seu MVP para as finais da conferência. Eles ganharam, em quadra, esse direito.

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OKC vence em San Antonio: dissecando os 13s5 mais loucos dos #NBAPlayoffs
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Giancarlo Giampietro

O que foi tudo aquilo que aconteceu?

Bom, vocês viram. Faltavam 13s5 no cronômetro, e o Oklahoma City Thunder defendia uma vantagem de um ponto, com o direito de repor a bola. Só precisavam colocá-la na mão de Kevin Durant ou Russell Westbrook e esperar pelo melhor — no caso, a conversão de dois lances livres e uma boa defesa para evitar o empate. Dion Waiters surtou, agrediu Manu Ginóbili na cara do ‘seo juiz’ e atirou um balão na direção de Kevin Durant. Danny Green interferiu, Durant cai desequilibrado, e o Spurs tem a chance. Green passa para Patty Mills, que não tem ângulo para finalizar. O australiano aciona Manu Ginóbili. O craque argentino não vai para a cesta e devolve para a formiguinha atômica. Sai um airball da zona morta. Serge Ibaka está lutando pelo rebote sozinho com LaMarcus Aldridge e Kawhi Leonard. Os dois All-Stars do Spurs não conseguem subir coma  bola na cesta. Final de jogo.

Resumido assim, já é uma loucura, né? Tudo em 13,5s frenéticos, envolvendo duas das quatro melhores equipes da temporada regular. Elencos experientes, estrelados, orientados por um técnico cinco vezes campeão pela NBA e outro bicampeão universitário. E nada disso importou em meio à tensão de um jogo de playoff, com o Thunder tentando apagar o vexame que havia passado pelo Jogo 1 e o Spurs tentando validar seu mando de quadra, ciente de que um triunfo por 30 pontos tem o mesmo valor de uma derrota por um pontinho.

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Mas e se a gente fizer (quase) frame a frame? Separar as imagens abaixo terminou de apagar o sinal de “pause” do botão do controle. Por sorte, não o afundou de vez. Tem imagem que você congela para ver uma coisa, e acaba percebendo outra. Simbora:

Spurs x OKC - 2016 playoffs - Game 3

Tudo começou assim. Waiters fazendo a reposição. Os quatro demais jogadores do Thunder (Durant, Westbrook, Ibaka e Adams) posicionados no perímetro interno. A primeira dúvida, mais óbvia, aqui é a escolha de Waiters para fazer a reposição. Não estamos falando do sujeito mais equilibrado emocionalmente, por mais que até viesse com uma boa atuação pelo quarto período. O problema é que talvez não houvesse opção melhor. A presença de dois dos maiores cestinhas da liga no mesmo elenco esconde um problema sério: estamos falando da versão menos talentosa do time desde a saída de James Harden. Uma opção talvez fosse Andre Roberson? Ao menos é mais alto. Para além de Waiters, a grande questão é: o que diabos Steven Adams está fazendo em quadra? Para fazer corta-luz, ok. Ao mesmo tempo, é menos um jogador para receber o passe, com seu aproveitamento de 58,5% nos lances livres. Não à toa, foi marcado por Patty Mills (veja a diferença de tamanho). Pop sabe que ele não vai receber o passe de modo nenhum.

Spurs x OKC - 2016 playoffs - Game 3

Aqui, Manu começa a sassaricar à frente de Waiters, com o juizão fazendo a contagem (1 segundo). Westbrook dispara para o lado contrário, para abrir espaço. Acredito que a ideia foi sempre foi passar para Durant. Adams olha em sua direção, provavelmente para fazer o tal do corta-luz. Acontece que o Spurs tem dois excelentes defensores em sua formação: Danny Green e Kawhi Leonard, podendo colocar cada um deles em uma das superestrelas adversárias. Green, sendo muito mais baixo, faz um ótimo trabalho e não desgruda de Durant.

DSC_0724

O corta-luz de Adams não rolou. Durant já veio para o centro da quadra, ainda pressionado por Green. Além disso, Manu cortou aquela linha. Por outro lado, havia um corredor claro aqui para Ibaka, um chutador de lance livre mais competente (75,2% no ano). De todas as opções de passe que se apresentaram, esta seria a mais segura — mas não a ideal, claro. Além disso, seu posicionamento na lateral da quadra seria muito propício para uma dobra agressiva de Aldridge e Ginóbili. Não precisava fazer a falta de imediato. É fácil falar daqui do sofá, com o controle remoto em mãos. Mas os jogadores fazem isso todo santo dia e têm de estar preparados para tomar a decisão num instante que seja. O juiz segue contando (2 segundos). Westbrook breca e volta em direção à bola com Kawhi em seu cangote.

Waiters, Ginobili, push, offensive foul, inbound

Dion Waiters, que figura. “Nunca vi isso antes”, disse um enervado Chris Webber, comentarista da TNT. Essa frase seria repetida durante toda a noite, madrugada adentro. Talvez Ginóbili estivesse muito perto (convenciona-se uma distância de três pés para a marcação da reposição). Por outro lado, essa coisa de empurrar o defensor com o antebraço, antes de fazer o passe, não existe. Quer dizer: não existia até a noite de segunda-feira. Na cara da arbitragem, claramente de olho no lance. Seja pelo ineditismo do lance, sem saber como proceder naquele momento, ou por pura esquiva, deixaram passar. Enquanto isso, no canto direito, Kawhi permite que Westbrook escape e, por isso, apela, puxando-o pela camisa.

dion-waiters-push-kawhi-hold

Aqui, o puxão de Kawhi fica bem claro. Esse ângulo também nos permite ver o quanto Waiters invadiu a quadra. Ao fundo, pode ser que LaMarcus esteja segurando o braço esquerdo de Ibaka. Dois juízes têm plena visão do lance, a não ser que tenham se distraído com a torcida…

Waiters inbound play, push

Depois do empurrão em Ginóbili (aqui desequilibrado), Waiters comete uma segunda atrocidade: um balãozinho de passe, todo suave, para o centro da quadra, com Danny Green já preparadíssimo para saltar. Não há tanta separação entre ele e Durant.

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Não deu outra. Green contesta Durant antes mesmo de ele alcançar a bola. Mills e Adams estão mais próximos — os dois vão se reencontrar ainda. Ginóbili observa, com Dion Waiters alguns passos preciosos para trás.

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Durant desaba na disputa com Green (ao meu ver, não houve falta ali, foi uma disputa no ar), e o Spurs ataca com três jogadores contra Adams, graças ao avanço de Ginóbili. Reparem na voto de cima de novo e vejam de onde ele saiu. Com 10s3 no cronômetro, era tempo suficiente para realizar o ataque e, olhando este cenário, acho que Gregg Popovich acerta em não pedir o tempo (tinha mais um breque de 20 segundos). Olhando este frame, a dúvida que surge: não teria sido melhor Green respirar por um segundo e acionar Ginóbili pela direita? Entre ele e Mills, estava um pivô superatlético de 2,11m, com alto risco de interceptação. Se a bola fosse para Ginóbili, seria num passe mais rápido também, aproveitando a superioridade numérica, e ele poderia seguir no trilho e se apresentar como nova opção a um novo passe, no caso de contestação do neozelandês contra o argentino. Mais uma decisão fácil de se questionar em slow-motion.

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Para evitar Adams, Green faz o passe muito alto, mesmo. Mills vai receber o passe, mas sem condições de fazer a finalização. Dion Waiters chega bem atrasado, enquanto Durant e Ibaka estão fora do quadro. Do Spurs, só LaMarcus não consta aqui.

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A bola não só demora a chegar, permitindo a recuperação de Westbrook e Waiters, como o deixa numa posição desconfortável. Ginóbili, como sempre, bem posicionado, aparece para o resgate. Restam 8s3 ainda. Seria o caso aí de Gregg Popovich pedir tempo?

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Ginóbili é acionado e tem espaço para atacar. Restando 7s3 no cronômetro, Kawhi e LaMarcus já estão no garrafão, acompanhados por Ibaka, Waiters e Adams. Não era o caso de pelo menos o ala ter estacionado na linha de três pontos para abrir mais espaço? Não era uma situação de desespero, de dois segundos, em que era pegar e chutar. Logo, não eram necessários dois homens posicionados para rebote.

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Ginóbili ataca o garrafão congestionado. Ainda assim, tem espaço para criar. Adams subiria para a contestação na certa. Canhoto, ainda ágil e elástico, afeito a lances improváveis, será que o argentino não poderia ir para um gancho de esquerda? Ou um tiro em flutuação justamente de onde está com a bola? Mills está voltando para quadra, para a zona morta. À esquerda, Durant caça borboletas, e se distancia de Green.

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Manu opta pelo passe para Mills, porém, de costas, por cima do ombro esquerdo, como só alguém de sua categoria, criatividade (e coragem) poderia pensar em fazer. Acontece que a bola não sai com tanta precisão assim. Mills tem de abaixar para fazer a recepção, enquanto Adams já vem feito um louco em sua direção.

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O instante que Mills perdeu para dominar a bola foi o instante que permitiu a aproximação do pivô. Pela foto, não dá para notar, mas tenho quase certeza, olhando atentamente ao vídeo, que Adams consegue dar o toco, nem que tenha sido com a pontinha do dedo. Quer dizer: por vias tortas, Donovan acertou em deixar o grandalhão em quadra. A bola sobe levemente e cai muito antes de chegar à cesta. O detalhe aqui? Vejam como Danny Green está chegando livrinho à linha de três pontos. Um pouco mais de paciência, e talvez o australiano pudesse ter passado para um companheiro que havia matado duas bolaças minutos antes.

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Enquanto LaMarcus tenta subir com a bola lá embaixo da cesta, repare que Adams está imóvel aqui no canto direito, e, não, por estar petrificado como Kevin Durant (enquanto Ginóbili e Green estão abertos para um chute, com 2s2). Mas, sim, pelo fato de um torcedor do Spurs o segurar. O imbecil está coberto pelo placar da TNT aqui.

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A NBA TV depois mostrou. Lamentável. Poderia o Spurs ser multado por isso? É o mínimo.

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Adams, aqui, tenta se desvencilhar do torcedor, enquanto Aldridge tenta subir para a cesta, com marcação dobrada de Waiters e Ibaka. Ele já saltou, mas não conseguiu subir com a bola. A gente vai ver este lance mais de perto:

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Enquanto o chute de Mills ainda estava longe de ser completo, a camisa de Aldridge já é puxada com tudo por Ibaka.

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Quando Aldridge tentou subir com a bola, sua camisa segue esgarçada por Ibaka. Sinceramente? Esse é o tipo de falta de escanteio, que acontece direto. Se a arbitragem não viu, dá para entender. O empurrão de DeMar DeRozan em Ian Mahinmi pelo Jogo 7 de Raptors x Pacers foi muito pior. Assim como o de Waiters em Ginóbili. No meio desse empurra-puxa, os dois segundos se foram.

*   *   *

OKC venceu esta partida no primeiro quarto, muito antes do conturbado final. Entrou em quadra determinado a agredir seu adversário, no bom sentido, e conseguiu, saindo em transição com Westbrook (29 pontos em 25 arremessos, 10 assistências e 3 turnovers), sem permitir que a parede Aldridge-Duncan fosse erguida no garrafão. Abriu vantagem, e, a partir dali, o San Antonio tinha de se virar para correr atrás. Em diversos momentos, no final do segundo período, meio do terceiro e metade final do quarto, conseguiram, mas o Thunder soube responder. Foram 21 pontos em contra-ataques em toda a noite para eles.

Estranhei a passividade com que Kawhi aceitava o corta-luz e a inversão de marcação no segundo tempo, dando a Westbrook a liberdade para atacar um cara pesado como Aldridge. Pelo menos seis pontos foram gerados desta forma. Outra jogada que funcionou bem para os visitantes: a corrida em arco de Durant 28 pontos em 19 arremessos, 4 assistências e 5 turnovers), saindo do fundo da quadra para o centro ou para as alas, aproveitando um corta-luz no meio do caminho para se livrar de Green e subir para matar seu belíssimo arremesso.

Na defesa, no início, o time decidiu que, se fosse para alguém sobrar, que fosse Duncan, e dessa vez deu certo, com o pivô tendo dificuldade para acertar (errou sete de oito arremessos). Os visitantes ainda tiveram suas penas já tradicionais, mas simplesmente viram os jogadores do Spurs desperdiçarem arremessos livres (7-18 para Kawhi, 3-11 para Green e 3-9 para Parker). Kawhi, em particular, estava fora de ritmo, sem confiança no ataque. Como as coisas podem mudar de um jogo para o outro… Agora temos de esperar até sexta-feira pelo Jogo 3. Precisava de tanto descanso assim?

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