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#NBADraft: os brasileiros em meio a legião estrangeira e muita névoa
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Giancarlo Giampietro

Simmons foi 'testado' pelo Sixers nesta terça. Já estava aprovado

Simmons foi ‘testado’ pelo Sixers nesta terça. Já estava aprovado

O Draft da NBA, nesta quinta-feira, é o último capítulo da liga antes de o calendário virar para temporada 2016-17. Este é o momento da turma do fundão brilhar e se encher de esperança. No caso, o Philadelphia 76ers e Los Angeles Lakers, que, segundo a previsão geral, vão selecionar supostos futuros All-Stars: Ben Simmons e Brandon Ingram, respectivamente.

De acordo com Chris Haynes, repórter do Cleveland.com, Simmons já foi informado pelo Sixers de que será a primeira escolha da noite. Haynes  é bastante ligado aos cupinchas de LeBron James, entre eles o agente Rich Paul – o mesmo do prodígio australiano. Por algumas semanas, havia um certo suspense e a possibilidade de o time de Philly ir ao encontro de Ingram. Desde a mudança no comando do clube, com a chegada de Bryan Colangelo, as especulações todas voltaram a apontar para Simmons. Cá estamos.

E aí que o magrelo Ingram vai sobrar para o Lakers em segundo lugar, algo sobre o que a família Buss não pode reclamar de jeito nenhum. Não só o talentoso ala pode se tornar um desses talentos versáteis, cestinha e defensor, como o clube corria sério desse recrutamento de calouros sem nenhum dos dois. Só lembrarmos que, se escorregassem na lista geral, sua escolha seria endereçada também ao Sixers.

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No ano passado, boa parte dos especialistas e dos scouts da liga imaginava que a franquia angelina escolheria Jahlil Okafor como o segundo do Draft, e aí due D’Angelo Russell. Então nunca se sabe. Nas últimas semanas, Mitch Kupchak organizou testes com outros calouros bem cotados, como o ala-pivô Marquise Criss, o ala Buddy Hield e o pivô Skal Labissierre, entre outros. Qualquer uma dessas opções seria uma baita surpresa, porém. A ESPN também á crava que a escolha está definida.

De resto, o que vem por aí?

Brasileiros
Assim como no ano passado, não há candidatos oriundos do NBB ao Draft. Lembrando aquela regrinha básica: só se declaram disponíveis aqueles atletas considerados “underclassmen”, aqueles que não pertencem à classe de dos atletas que participam automaticamente do recrutamento. No caso, qualquer jogador estrangeiro que esteja completando 22 anos em 2016 e os universitários que estejam se graduando nesta temporada.

Deryk mostra serviço na Europa

Deryk mostra serviço na Europa

O pivô Wesley Sena havia sido o único brasileiro – e sul-americano – a se declarar para o Draft, para forçar sua entrada no radar da liga. O plano do agente Alexandre Bento, em parceria com Aylton Tesch, era levar o jogador para o adidas EuroCamp, realizado entre os dias 10 e 12 de junho, em Treviso, na Itália. A partir do momento que o Bauru estendeu as finais do NBB contra o Flamengo até o quinto e último jogo, porém, sua viagem ficou inviabilizada. Sem exposição nenhuma aos olheiros, que compareceram em menor número ao país nesta temporada, não fazia sentido, mesmo, seguir no processo.

Em Treviso, todavia, se apresentaram dois brasileiros da classe de 1994, a classe estrangeira automática: Deryk Ramos, armador que causou sensação pelo Brasília, e Danilo Siqueira, ala-armador que não deu um grande salto durante o campeonato, mas segue como um dos talentos mais promissores dessa geração. Outro atleta que tem sido investigado é o pivô Leonardo Demétrio, revelação do Mins Tênis, agora no Fuenlabrada, da Espanha, também dessa mesma fornada.

Deryk teve rendimento superior, ganhando menção honrosa dos organizadores do camp entre os destaques do evento, como o melhor defensor. Faz parte do estilo agressivo do armador, com a bola e em cima dela, botando pressão nos adversários. Nos testes atléticos, também foi bem, especialmente nas medições de velocidade e impulsão.

Mas o que os scouts acharam? Consultei cinco profissionais que estiveram na pequena cidade italiana para ver tudo de perto. O rescaldo é que a dupla não impressionou tanto assim, pelo menos não como prospectos de NBA no momento. Não foram realmente as respostas mais animadas da turma que representava clubes americanos por lá. Entre os três olheiros com quem conversei e que são dedicados exclusivamente a franquias da liga, todos da Conferência Oeste, apenas um se mostrou entusiasmado. “Ramos foi bem. Eu diria que ele ajudou sua cotação. Mas ambos são bons prospectos para a Europa”, disse.

É isso. O ginásio também estava cheio de olheiros de clubes europeus. Não impressionar a turma da principal liga do mundo não significa o fim do mundo. Até porque foram apenas três dias de exposição, e nenhuma carreira se define ou se resume em 72 horas. O EuroCamp serve apenas para atiçar a curiosidade desses observadores. “Ei, é só lembrar que a grande maioria dos caras que estavam lá não são endereçados para a NBA. Então isso é normal. Eles não estão entre os melhores prospectos do Draft. Mas se conseguirem alguma proposta da Espanha ou Itália, deveriam aceitar na hora”, afirmou um olheiro ao blog, que é mais dedicado ao mercado do Velho Continente. “Fuzaro não foi bem, não cuidou muito bem da bola e não encontrou sua função em quadra. Mas gostei de Ramos. Ele mostrou que pode ser uma encrenca em quadra, jogando bastante duro e chegando ao aro driblando”, completou.

Seria uma surpresa ver algum desses brasileiros selecionados. Mas já vimos coisas mais malucas acontecerem em um Draft, como o caso de Bruno Caboclo em 2014, que derrubou a transmissão da ESPN. Num episódio mais bizarro, lembremos sempre do congolês naturalizado catari Tanguy Ngombo, que foi selecionado pelo Wolves no 57º lugar de 2011, um posto depois do inesquecível Chukwudiebere Maduabum, o “Chu Chu”. Acontece que o ala estava registrado como Targuy Ngombo, com idade considerada suspeita. Em vez de 22 anos, ele o ala teria 27 (!) anos e nem poderia mais ser participar do processo. E quer saber do que mais? O número 60 naquele ano foi Isaiah Thomas. E 59º, saiu o húngaro Adam Hanga, que se transformou num dos melhores defensores de perímetro na elite europeia. Saca? É essa loucura toda.

O Draft é complexo, envolve muitos interesses para além da composição de um elenco. Deryk, Danilo e Leonardo são representados, internacionalmente, por grandes agências. Então nunca se sabe. A segunda rodada está aí para ser preenchida, embora a concorrência entre os estrangeiros seja particularmente acirrada (mais sobre isso alguns tópicos abaixo).

*   *   *

Enquanto retornava de Treviso para São Paulo para se reintegrar à seleção brasileira que se prepara para o Sul-Americano, Deryk, que está sem contrato no momento, encontrou tempo para responder algumas perguntas do blog. Como sempre, o jovem de 22 anos mostra muita personalidade, com otimismo e confiança. Características tão como ou mais importantes que seu arremesso e rapidez para o futuro:

21: O que você achou do nível de competição no geral e em sua posição? O que deu para aprender por lá?
Deryk: O nivel do Eurocamp estava muito bom, tinha muitos jogadores com grande futuro. Na armação não era diferente. Realmente foi uma experiência muito proveitosa. É sempre bom você analisar o nível em que está, ter desafios novos, jogar com e contra jogadores que nunca viu na vida. Isso te faz amadurecer, evoluir. Sem contar a presença de muitos técnicos de times da NBA: vivenciar e ser comandado por eles é algo muito motivador.

O que você acha que conseguiu mostrar de melhor do seu jogo e o que acha que poderia ter saído melhor?
Fui lá com o objetivo de imprimir meu jogo. Não iria forçar uma situação com a qual não estou acostumado, nem querer mostrar algo que não tenho. Acho que essa é a melhor forma pra se aproveitar essas experiências! Com o passar do tempo, jogar de pick com o pivô e laterais em alguma situação passou a ser meu forte, e lá consegui imprimir bem esse tipo de jogada e colocar meus companheiros numa boa posição de ataque, além de estar envolvendo todos eles, que é o principal papel de um armador. Também é muito importante imprimir um ritmo forte na defesa. Sobre melhorar, sempre busco muito isso, me cobro muito sobre qual seria a melhor escolha, melhor opção ofensiva em cada momento do jogo, além de alguns turnovers. Sou sempre muito critico nesses aspectos.

O quão difícil é chegar por lá e jogar com é contra muitos jovens atletas que estava vendo pela primeira vez?
Realmente isso não é algo muito comum, e  no começo acaba tendo alguns desentendimentos dentro do jogo, pela falta de entrosamento, o que eh natural. Mas, apesar disso, acho que a adaptação minha foi bem rápida. Por se tratar de basquete – é sempre um só –, e por estar do lado de vários jogadores bons, tanto em quadra como pessoas, fica mais prazeroso e fácil.

Para a próxima temporada, planos definidos?  Segue em Brasília ou pensa em tentar um contrato já fora do Brasil?
Não tenho nada definido. Realmente procuro deixar as coisas acontecerem. Sobre Brasília, estamos em negociação. Agora, não tenho duvida nenhuma que meu sonho é jogar fora do Brasil, mas vou deixar as coisas fluírem naturalmente.

Tudo embolado

Bender tem tudo para liderar a Croácia a pódios no mundo Fiba

Bender tem tudo para liderar a Croácia a pódios no mundo Fiba. Um dos gringos bem cotados, mas sem ser unanimidade

A frase do momento é a seguinte: o Draft começa a partir do terceiro lugar, com o Boston Celtics, considerando que Simmons e Ingram já estão garantidos como os dois primeiros. Aí, rapaziada, está praticamente impossível de prever qual será o desenvolvimento desse recrutamento. O Celtics estaria interessado em cinco candidatos. Mas a prioridade de Danny Ainge, na real, é montar um pacote em torno desse terceiro posto para tentar uma troca por um veterano que possa chegar a Boston para fazer a diferença de imediato. Phoenix Suns, Sacramento Kings, Denver Nuggets e outros clubes também estariam interessados em sair da loteria do Draft, também de olho em jogadores preparados.

Fora a possibilidade de trocas, outro fator deixa o processo mais nebuloso: os principais prospectos não conseguem se distanciar entre si. Há um segundo pelotão totalmente abarrotado, por exemplo, com os armadores Kris Dunn e Jamal Murray, os alas Buddy Hield e Jaylen Brown e os alas-pivôs Dragan Bender e Marquese Chriss. O mesmo empastelamento continua por toda a primeira rodada. Na verdade, há quem diga que um atleta selecionado em 42º pode ter o mesmo nível daquele em 20º. Isso faz os times com escolhas tardia sorrirem (alô, San Antonio, Golden State…), mas também deixa os times do top 20, 25 mais susceptíveis a buscarem trocas também.

Legião estrangeira
Os gringos contra-atacam! Menosprezados por anos e anos, os prospectos internacionais voltam a chamar a atenção dos scouts, apoiados por uma safra bastante frágil local e também pelo impacto que Kristaps Porzingis causou em Nova York. Segundo a projeção do DraftExpress desta quarta de manhã, 14 atletas de clubes europeus estariam entre os 60 selecionados, com destaque para Bender, que, na minha modesta opinião, deveria ser selecionado pelo Celtics ou pelo Suns em terceiro ou quarto. Se você contar os jogadores estrangeiros que estiveram em ação pela NCAA, vai passar dos 25 nomes, incluindo o australiano Simmons e o canadense Murray, que enfrentou a seleção brasileira na final do Pan 2015.

Acúmulo de riquezas
Vocês já sabem: o Boston Celtics tem oito escolhas neste Draft, sendo cinco na segunda rodada. O Philadelphia 76ers também tem três escolhas na primeira fase, assim como o Denver Nuggets, que tem cinco no total, e o Phoenix Suns, que tem quatro. Juntos, esse quarteto concentram 20 postos, ou 1/3 de todo o recrutamento. aja WhatsApp, Skype e afins para dar conta de tanta conversa.

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O Jogo 7 já é passado. Como fica a ressaca de Cavs e Warriors?
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Giancarlo Giampietro

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A reviravolta na vida de Richard Jefferson foi tamanha, tão positiva… Que ele tinha direito a falar o que bem entendesse, mesmo, ao ser entrevistado já como campeão da NBA. O veterano ala primeiro comemorou, tomando uma champanhe Moët. Depois, anunciou que aquele Jogo 7 havia sido o último de sua carreira. Estava aposentado. Acendeu um charuto. Por fim, disse que ia se dedicar a escrever, a produzir ensaios. Sim, ensaios. Talvez picantes. “Eles podem ser eróticos, eu não sei, mas sei que vou escrever vários ensaios”, afirmou, sorridente.

Aos 35 anos, Jefferson agora se sente um homem livre, totalmente realizado. Conseguiu aquilo que lhe faltava, numa carreira com mais de 14 mil pontos, 4.500 rebotes e 32 mil minutos, desde que se profissionalizou em 2001, para ganhar US$ 110 milhões em salário. Tudo ótimo, mas ainda buscava um título, e, por isso, assinou com o Cleveland Cavaliers. E aqui está Jefferson, campeão, se sentindo o máximo, já que não só caçou o seu título como deu sua contribuição valiosa para a conquista, como surpreendente peça no tabuleiro das #NBAFinals.

Agora, com todo o respeito ao aposentado, não dá para nos alongarmos muito num texto pós-título para Cleveland, no dia seguinte à consagração definitiva de LeBron para falar sobre quais contribuições foram essas. Registre-se apenas que, com Kevin Love, Matthew Dellavedova e Iman Shumpert jogando muito mal, tapou vários buracos. Deu flexibilidade à defesa de Tyronn Lue e foi combativo, sempre um dos primeiros a se atirar por uma bola perdida. No ataque, ainda foi eficiente no ataque, aproveitando as rebarbas. Pronto.

2016 NBA Finals - Game Seven

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Agora, o curioso é o seguinte: se tudo tivesse dado certo segundo seus planos iniciais, o ala estaria bem longe de Oakland agora em junho. A ideia era que ele estivessem no Texas, mais precisamente em Dallas, clube com o qual já estava apalavrado, com a expectativa de compor uma linha de frente com outro craque histórico da liga, Dirk Nowitzki, e outro pivô superatlético dominante nos rebotes, DeAndre Jordan. Até que Jordan se perdeu naquele dramalhão todo no ano passado e decidiu ficar com o Clippers. Ao dar um passo para trás, o grandalhão estraçalhou os planos de Mark Cuban e Rick Carlisle. De time que pretendia lutar pelo título, o Mavs sabia que precisaria se esforçar o máximo para pelo menos chegar aos playoffs. Diferentemente do Cleveland Cavaliers, que também o havia procurado. Daí que, num ato raro, generoso, Cuban aceitou liberar o veterano, em conversa breve pelo telefone.

Até porque, convenhamos, no envelhecido elenco do Mavs, era até melhor, mesmo, espaço para o calouro Justin Anderson na rotação. E não é que Jefferson também tivesse estabelecido um vínculo emocionante com a franquia de Dallas. Já com uma vida de cigano pela liga, ele havia ficado apenas um ano por lá, mesmo, em 2014-15. Antes, havia feito escalas pelo breves pelo Utah Jazz e pelo… Golden State Warriors, entre outros.

Muito se falou nestas finais da situação estranha vivida por Anderson Varejão, por sua identificação com Cleveland, sua condição de ídolo por lá e por ter jogado pelos dois finalistas na mesma temporada. Mas Jefferson também tinha umas boas histórias para contar a respeito do balcão dos negócios da NBA e de como as dezenas de transações fechadas a cada temporada podem ter implicações a perder de vista.

Golden State Warriors forward Jefferson goes up for the shot in front of Dallas Mavericks guard Beaubois during their NBA basketball game in Dallas, TexasO ala não estava no elenco do Warriors no ano passado, como já dissemos. Mas, na formação campeã, havia um legado da sua parte. Seu antigo salário foi parte essencial para que o clube californiano contratasse Andre Iguodala em 2013, num pacote com o saudoso Andris Biedrins e múltiplas escolhas de Draft. Antes mesmo de servir moeda de troca por Iggy, ele foi adquirido em outra negociação, vindo do San Antonio Spurs, que tinha interesse em uma reunião com Stephen Jackson. O tresloucado ala estava mais valorizado à época. Então o Spurs precisou inteirar. Pagou uma escolha de Draft, que se transformou em Festus Ezeli. Por mais que tenha sido ridicularizado nestas finais, com dificuldade para dominar rebotes e finalizar perto da cesta, o nigeriano se transformou em uma peça valiosa em seu primeiro contrato. Com 26 anos, forte, alto e atlético daquele jeito, ele será cobiçado e vai receber propostas com salário acima de US$ 10 milhões anuais. Isso se não passar de US$ 15 milhões.

Dois anos depois, já com a aposentadoria em mente, o ala estava de volta a Oakland, onde também desempenhou importante papel como mentor dos jovens Curry, Thompson e, principalmente, Barnes, mas para ser campeão pelo time adversário. Esse Richard Jefferson destas finais ainda teria algum espaço no Golden State, por exemplo, como aconteceu nos playoffs de 2013, quando ele participou de sete partidas, com média de 5,6 minutos.

Para vermos como as coisas na liga funcionam de uma maneira torta até, com uma corrente de causas e consequências imprevisíveis. Obviamente que o gerente geral Bob Myers não se arrepende da troca por Iguodala, que é muito mais jogador. Mas jamais poderia imaginar que um refugo com RJ voltaria, três anos depois, para interferir na caminhada rumo ao bicampeonato. Essas coisas acontecem. É provável que cada time campeão da NBA neste século tenha causos semelhantes a esse. O Cavs, mesmo, tem outro: não fosse Mo Williams, a franquia não teria Kyrie Irving. Em 2011, meses antes do Draft, Maurice foi trocado por Baron Davis, com o Clippers cedendo uma escolha de primeira rodada de Draft para se livrar de um contrato maior. Essa escolha virou Irving. É uma ciranda.

Aí é de se pensar o que será de Cavs e Warriors para a próxima temporada. Sim, mal acabou, a gente mal recuperou a cor depois de suar frio no sofá com um inesquecível Jogo 7, mas a cabeça dos dirigentes já está a mil. Antes de os LeBrons voltarem para Cleveland para serem recebidos no aeroporto, fizeram uma parada animada em Las Vegas nesta madrugada de segunda. Têm todo o direito de cair na farra, de irem para as Bahamas, qualquer coisa. É passe livre. Mas os dirigentes, rapaziada, não param por enquanto. Na quinta-feira, o gerente geral David Griffin já tem um Draft pela frente, mesmo que o clube não tenha nenhuma escolha. Nem de segunda rodada. Depois, é montar o time para a liga de verão. Com uma folha salarial astronômica, o Cavs vai precisar de jogadores baratos para completar o elenco, como o ala Jordan McRae, que chegou no final do campeonato, ou um veterano como Dahntay Jones. Aí chega a hora de tratar com agentes livres. Só para meados de agosto e setembro que a cartolada vai respirar.

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A conquista do título tira muito da pressão para cima de Griffin, naturalmente. Pelo menos no que se refere ao proprietário Dan Gilbert e aos torcedores. Enquanto tiver LeBron James sob contrato, porém, nunca se vai ter viver na bonança. As operações de um clube jamais podem se basear somente em efeitos de curto prazo. Pelo menos não entre aqueles mais organizados. A presença de LeBron muda um pouco isso. O craque provou nas finais que ainda pode ser a força mais devastadora da liga. Mas está entrando na reta final de sua carreira. Seja qual for o clube pelo qual estiver jogando, o de casa ou de outros mercados, ele quer sucesso para agora.

E, por acaso, faz sentido falar de “outros mercados”? O cara acabou de ganhar um título. Abraçou Kyrie Irving em quadra como se ele fosse um irmão mais jovem, e o cestinha realmente tem um longo caminho pela frente. Vai abrir mão dessa companhia? Pois é. Não era para essas questões entrarem em pauta. Mas já estão, a partir do momento em que Adrian Wojnarowski, o superfurão da NBA, escreve que essa possibilidade circula pelos bastidores da liga. Antes do Jogo 7, o jornalista publicou artigo dizendo que um título lhe abriria as portas para mais algum movimento ambicioso em sua carreira, por já ter quitado sua dívida com Cleveland. Em sua coletiva neste domingo, diga-se, o craque fez questão de falar sobre o cumprimento da promessa.

De certa forma, pela estrutura dos vínculos que LeBron tem armado, a especulação era obrigatória. Quando voltou a Ohio, assinou por um ano, com a opção de renovação por mais uma segunda temporada. No ano passado, quando a franquia negociava com Kevin Love, Tristan Thompson (representado por sua agência) e Iman Shumpert, repetiu o mesmo processo. Não só esse tipo de vínculo lhe dá flexibilidade como também coloca Gilbert contra a parede. Era a melhor forma de assumir, extraoficialmente, o controle sobre a situação, ao mesmo tempo que se vingava do bilionário que incendiou a franquia e a cidade no momento em que o jogador foi para Miami.

Kevin Love, J.R. SmithO torcedor do Cavs, agora, espera que Wojnarowski esteja errado. É preciso dizer que o repórter/articulista não é dos maiores fãs de LBJ na cobertura da NBA. Quando não está se limitando a cantar escolha por escolha do próximo Draft e antecipar grandes trocas, as #WojBombs acabam se voltando mais para a bajulação ou importunação de personagens diversos. James está na lista de alvos a serem incomodados. Não está clara a motivação por trás da birra. Se o texto mais recente é, ou não, produto desta birra, vamos saber a partir de julho, quando o mercado reabrir.

Outro tema mais nebuloso envolve Kevin Love. Após dois anos de parceria com LeBron (ou algo perto disso…), o ala-pivô ainda não se integrou totalmente ao time. Teve uma boa fase na segunda metade desta temporada, jogou bem contra Detroit e Atlanta pelos playoffs, com double-doubles de média e os chutes de três caindo. Na final, porém, mal conseguiu ficar em quadra até despertar para o Jogo 7 – sem nos esquecermos da concussão, claro. Não é pouco, mas você espera mais de alguém com o segundo salário do clube. Por mais bonito e confortante que tenha sido o final da temporada, Griffin não vai se deixar levar por questões sentimentais. E aí é matutar se vale a pena investir tanto assim em seus talentos, ou se vale buscar um negócio por jogadores mais atléticos e, de preferência, com bons arremessos. Afinal, Channing Frye  – que também evaporou contra o Warriors –, mas já está mais que testado como uma peça complementar tática.

Quem vai estar livre para negociar com a liga é JR Smith. Numa bizarrice dessas, o contrato do ala lhe deu até o dia 16 de junho, quinta passada, data do Jogo 6, um prazo para decidir se validaria, ou não, seu último ano de contrato. Como não se meteu em confusão, arremessou bem e ainda marcou como nunca, JR tomou a decisão econômica mais esperta e agora espera receber uma bolada, ou pelo menos o dobro dos US$ 5,3 milhões que estavam previstos. Para o próximo campeonato, o Cavs já está com a folha salarial estourada em mais de US$ 12 milhões, caso LeBron continue com seu salário de US$ 24 milhões.

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Obviamente que LeBron conta com ele. Vai depender dos cheques de Gilbert – ou da insanidade de algum concorrente que queira se arriscar com ele sem ter um veterano astro ao seu redor para vigiá-lo. Mais dois atletas vão para o mercado: Timofey Mozgov (livre) e Matthew Dellavedova (restrito). Ambos banidos da rotação nas finais, mas ainda importantes para composição do banco. Numa série melhor-de-sete, você pode fazer sacrifícios. Numa temporada regular de 82 partidas, não. Mas haja grana, gente. Cada tostão aplicado no trio vai implicar em multas pesadas.

De resto, o certo é que Griffin já vai precisar buscar um substituto para Richard Jefferson na rotação. Dahntay Jones encaixa no perfil de veterano bom de vestiário, testado em batalhas, mas é mais baixo, menos atlético (hoje, porque no auge era uma encrenca que só) e não tem o chute. Em suma, não parece jogador para rotação de NBA. Parece uma tarefa simples. Comparando com as decisões sobre Love e JR, essa é bem mais tranquila, mas também deve ser precisa. No ano passado, com Shawn Marion, não deu certo.

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Essas são algumas questões para os campeões.  Então imagine como fica a agenda de quem perdeu a final?

Reunindo seus cacos, o Golden State Warriors ao menos já sabe que Stephen Curry está fora do #Rio2016, o que é providencial para se preservar seu joelho e talvez para afastá-lo de mais uma situação de estresse. Se é que, depois do que o Team USA executou no último Mundial, existe a possibilidade de os americanos se estressarem em competições de seleção. Klay Thopson e Draymond Green parecem dispostos, todavia. Andre Iguodala? Improvável.

Esse é um trâmite mais simples também, embora seja sempre arriscado, pelo excesso de jogos para seus astros. O assunto mais complicado será uma eventual reformulação da equipe. E aí vale a mesma reação, ponderada e assustada: mas vai desmontar um elenco de 73 vitórias na temporada regular, um recorde que não será ameaçado tão cedo? Tem de questionar isso, mesmo. Não é porque o time levou uma virada inédita na decisão, que o mundo caiu. Eles ficaram a apenas um triunfo do bicampeonato e de um lugar garantido no panteão.

Quando deixou que Harrison Barnes e Festus Ezeli virassem agentes livres restritos, ao final de seus primeiros contratos de calouro, a diretoria da franquia sabia muito bem o que estava fazendo. Deste modo, Bob Myers se permitiu um luxo: com título ou não, teria a flexibilidade para reforçar uma base bastante vitoriosa e talentosa, podendo também cobrir qualquer oferta pela dupla. E aí há o caso de males que vêm para o bem: se o desempenho do ala e do pivô foi desastroso nas finais, também pode esfriar os ânimos de eventuais interessados.

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Para os que observaram Barnes e Ezeli só nestas finais, porém, fica o aviso: estejam preparados para tudo, inclusive para que a soma do salário da dupla passe dos US$ 35 milhões na próxima temporada. Simplesmente porque, com o teto salarial subindo para US$ 95 milhões, haverá muito dinheiro para se gastar. A expectativa da liga é de loucura disseminada por todo o país. O que acabou de acontecer em Oakland e Cleveland vai afastar aqueles que não estavam tão animados assim com os prospectos, mas o conjunto da obra de ambos ainda pode prevalecer para seus admiradores. Os dois são jovens ainda e vêm de um programa com cultura vencedora. O Warriors obviamente torce para que o mercado tenha esfriado para valer.

Mesmo que eles aceitem ofertas, Bob Myers só espera que esse tipo de acordo demore um pouco para acontecer, para que eles tenham a possibilidade de flertar com… Kevin Durant. Sim, aquela história de novo. Em janeiro, o clube já estava preparado para entrar no leilão pelo astro, caso ele decidisse encerrar seu contrato. Já faz suas semanas que a temporada de OKC acabou e ainda não tivemos uma pista. Com o Golden State amargando o vice-campeonato, esse namoro só ficaria mais interessante. No caso de receberem um sinal positivo de Durant, os diretores teriam de fechar algumas trocas paralelas para limpar salário. Barnes não voltaria de modo nenhum. Seria um baita presente de consolação.

Mas, veja bem.

Muito desse eventual drama depende da palavra de dois dos cinco melhores jogadores da liga. Se LeBron ousar sair de Cleveland, a liga será consumida por mais um pandemônio. Se Durant disser que seu tempo em OKC chegou ao fim simultaneamente, a Internet simplesmente deixaria de existir. Guerra civil não poderia ser descartada.

Esses são os grandes nomes com os quais todos os 30 clubes da liga sonham. Richard Jefferson, de qualquer maneira, passou por aí para nos dizer como pequenas negociações também podem ter suas consequências.  Não chegam a ser tão emocionantes como um Jogo 7, mas podem causar impacto numa partida dessas.

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Virada inédita encerra maldição e ratifica LeBron entre os maiores
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Giancarlo Giampietro

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Todo Jogo 7, valendo título, é especial. Mas a partida deste domingo tinha isso e muito mais. Ao Golden State Warriors, estava sugerida a chance de concluir uma campanha única, depois das 73 vitórias pela temporada regular. Tivessem ganhado o bicampeonato, você só teria o Chicago Bulls de 1996 ao lado dos caras. Mas não aconteceu, porque LeBron James simplesmente não deixou.

O craque do Cavs fez mais um triple-double, deu um dos tocos mais espetaculares e importantes da história da NBA e liderou sua equipe numa vitória dramática por 93 a 89 em Oakland, para fechar levar esse papo de façanhas para o outro lado. Este Cavs se tornou o primeiro time das #NBAFinals a vencer uma série após ter ficado atrás no placar por 3 a 1. E também encerrou a tal da maldição esportiva que pairava pelas cidade, que não comemorava um título pelas grandes ligas americanas desde 1964.

Coube a LeBron por um fim nisso. Melhor desfecho hollywoodiano – e para o marketing da liga – ninguém poderia roteirizar. O veterano foi simplesmente devastador desde o Jogo 5 e terminou o confronto com médias desproporcionais de 29,7 pontos, 11,3 rebotes, 8,9 assistências, 2,3 tocos, 2,6 roubos e 49,4% nos arremesso, em incansáveis 42,0 minutos. No jogo decisivo, foram 27 pontos, 11 rebotes, 11 assistências em 47 minutos (!), mais duas roubadas e três tocos, o terceiro deles valendo provavelmente como a grande jogada da década. Ele foi uma força indestrutível dessa vez, por mais que defensores do nível de Andre Iguodala e Draymond Green se esforçassem em pará-lo. Toda a dificuldade que ele teve contra esses marcadores ficou esquecida em algum quarto ou saguão de embarque nestas idas e vindas pela decisão.

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Aos mesmos saudosistas que adoram menosprezar o que o Warriors fez durante todo o ano, vale também a mesma missiva em relação a LeBron: desistam. Num contexto histórico, esse comportamento tende a ser ridicularizado. Para ser sincero: independentemente do do resultado destas finais, James já, segundo meus botões, já estava ali no primeiríssimo escalão. Mas agora não há mais o que se ponderar aqui. Fato é que ele está entre os maiores.  A gente pode se perder entre posicionamento, naquele exercício fútil de sempre. E só, por mais que, nestes 13 anos de liga, aqui e ali, sua conduta extraquadra não tenha sido sempre das mais inspiradoras.

Aquele torcedor mais apegado ao astro – e que teve a paciência de acompanhar o blog nos últimos anos – sabe de toda as restrições aqui registradas nesse sentido. De como, com toda sua voracidade, ultrapassou alguns limites para o meu gosto. Se nos momentos difíceis coube a crítica, não dá para fugir do registro mais ou menos elogioso agora na festa. Se LBJ forçou a barra na construção desse Cavaliers, ao menos vê sua visão premiada, enfim, com as memórias de David Blatt ficando bem distantes. Com um dos All-Stars escolhidos a dedo por ele Kyrie Irving, fazendo a cesta da vitória – depois de ter jogado apenas uma partida na decisão do ano passado. E o outro, Kevin Love, ao menos se aliviando com seu melhor desempenho pelas finais neste domingo, com 9 pontos e 14 rebotes, ajudando a manter o time no jogo em um primeiro tempo perigoso. Com o ala-pivô em quadra, os visitantes tiveram saldo de 19 pontos.

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Irving marcou 26 pontos em 23 arremessos. Não foi a partida mais eficiente destes playoffs para ele. Também só deu uma assistência no jogo todo – o tipo de estatística que realmente tirou LeBron do sério durante a temporada, não nos esqueçamos. Mas ninguém vai falar nada, e nem deveria. Pois o solitário passe para a cesta tem a ver com a dinâmica adotada pelo Cavs como um todo. Aquela de dar a bola na mão do veterano na esmagadora maioria das posses de bola e de, sim, confiar nas investidas de um contra um de seu ‘armador’ para cima de Stephen Curry ou mesmo de Klay Thompson, que teve uma noite miserável. Se foram 23 arremessos para o jovem nascido em Melbourne, o 23º é aquele que já pode definir sua carreira.

No pedido de tempo de Lue, a gente não sabe qual foi a ordem. Vamos ver se os repórteres in loco vão extrair essa informação, aliás. Mas desconfio que a prioridade fosse realmente atacar quem quer que sobrasse com Curry. Que LeBron tenha permitido, louve-se. Pois lá foi Irving dançar para a frente do bi-MVP e partir para um chute de longa distância daqueles que o mundo todo do basquete poderia considerar “maluco”. Mas que nas mãos de alguém tão talentoso assim parece coisa simples, fácil. A bola caiu, e o Cavs tinha três pontos de vantagem.  O tipo de lance que Curry fez com toda a liga nas últimas duas temporadas, aliás. Na sua cara. Acontece, segue o jogo. Segue a NBA.

No caso, o jogo seguiu por mais duas posses de bola para o Warriors, com Curry levando para o pessoal. Mas dessa vez o armador do Warriors não conseguiu se desvencilhar dos marcadores e também não conseguiu a cesta ‘impossível’. Depois de um lance livre de LeBron, a equipe que teve o ataque mais poderoso da NBA desde 2014 falhou novamente. E aí James pôde desabar imediatamente em quadra, caindo em lágrimas comoventes, que, de novo, nenhum marqueteiro poderia instruir. Sua audaciosa promessa naquela carta publicada pela Sports Illustrated estava cumprida. Há quem especule que o craque possa estudar, em julho, mais uma reviravolta em sua carreira e eventualmente buscar um novo clube. Seria bizarro, mas muito menos cruel, depois de um título desses, derrubando o supostamente invencível Golden State.

O Warriors se despede da temporada com 88 vitórias. Ficou faltando realmente a de número 89, aquela que os livros históricos e seus grandes atletas realmente vão dizer que era a que importava. Depois de uma virada dessas, é de se perguntar se o proprietário Joe Lacob ainda acredita que seu clube está anos-luz distante da concorrência.

Muito do que levou a equipe californiana a sua segunda final consecutiva não funcionou neste domingo. A começar pelos Splash Brothers, novamente sufocados em seus zigue-zagues pelo perímetro. Curry e Thompson anotaram 31 pontos em 36 arremessos. Um horror. De longa distância, foram apenas 6-24 (25%). Não obstante, ainda cometeram sete turnovers. Um final de temporada decepcionante e melancólico, mas que diz muito sobre como o Cavs elevou seu jogo. Se Draymond Green os deixou na mão ao ser suspenso do Jogo 5, dessa vez os chutadores falharam com o ala-pivô, que somou 32 pontos, 15 rebotes e 9 assistências também em 47 minutos.

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Que Kerr tenha mantido Draymond em quadra por tanto tempo nos mostra o quão fundamental é o All-Star para este clube. Desta forma, o torcedor do Warriors poderia até levantar a mão e dizer que, numa realidade alternativa em que ele não tivesse estourado o limite de faltas flagrantes nos playoffs, a série não teria passado da quinta partida. Mas este “se” não existe. O acúmulo de infrações faz parte de todo o pacote de um jogador especial. Assim como, por mais que se possa reclamar de uma ou outra marcação no sexto jogo, Curry também se permitiu se perder com faltas desnecessárias que complicaram a equipe como um todo. Não era só o caso de abalar seu ataque, mas também de bagunçar com as rotações de Steve Kerr.

Por falar nisso, temos aí outros dois pontos que deram errado: o modo como o brilhante treinador manipulou suas peças num Jogo 7, um jogo de exceções, e também a forma como alguns de seus coadjuvantes (não) responderam em quadra. Comecemos por dois titulares inócuos: Festus Ezeli e Harrison Barnes, dupla cuja escalação no retorno ao segundo tempo pode ter custado o título. A equipe da casa tinha sete pontos de vantagem. Em 3min05s de jogo, o placar estava empatado.

Barnes, em determinado momento, antes de ser substituído, estava numa terrível sequência de 3-28 nos arremessos de quadra, metade deles sem contestação nenhuma por parte de Cleveland. Se voltou um pouco mais produtivo mais tarde, isso não apagou mais uma linha estatística paupérrima, de 10 pontos e 2 rebotes, com sete chutes errados em dez tentativas, em 29 minutos. O ala entrou numa espiral terrível, daquelas que pode bagunçar com toda uma carreira. Agente livre restrito a partir de julho, seu nome se torna desde já um dos mais intrigantes para o mercado de transações da liga.

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O nigeriano Ezeli, aliás, está no mesmo barco. Elevado ao posto de titular para fazer as vezes de Bogut, o pivô foi um desastre. Se, nos primeiros minutos, ainda segurou as pontas no centro da garrafão como âncora defensiva, seus sucessivos erros no ataque (0-4) e a inabilidade para dominar rebotes (apenas um em 11 minutos) foram um fardo. No primeiro jogo parelho da série, esse ‘desfalque’ saiu caro demais. Em defesa do pivô, vale lembrar apenas que ele passou por uma cirurgia no joelho neste campeonato.

E aí não deu para entender também as decisões do próprio Kerr. Em pleno quarto período, talvez querendo dar algum respiro a Barnes, o técnico julgou que voltar com o gigantão, uma segunda vez, era a melhor solução. Não deu para entender. Passou da fronteira do absurdo, especialmente quando LeBron passou a puxar o pivô para o perímetro para atacá-lo sem clemência. Quando Ezeli saiu substituído, o placar estava 89 a 89, é verdade. Mas poderia ter saldo positivo para um time que ficou com menos espaço para atacar.

Está certo também que, com Andrew Bogut afastado, Anderson Varejão não ajudou seu comandante. O brasileiro, num dos jogos mais importantes de sua carreira – com todo o conflito de emoções por ver o Cavs do outro lado –, foi muito mal em sua participação. Não há pachequismo que possa amenizar.  Em oito minutos, o capixaba basicamente só fez faltas: foram três, mostrando que a arbitragem estava preparada para lidar com suas artimanhas. Agora fica a pergunta: será que Dan Gilbert vai autorizar a entrega de um anel de campeão ao brasileiro?

Também não é pachequismo questionar Kerr pelos minutos reduzidos de Leandrinho nesta jornada. Quando o Warriors abriu sete pontos de vantagem ao final do primeiro tempo, estava lá, novamente, o ala-armador em quadra. Dessa vez o ligeirinho anotou apenas três pontos, mas porque só teve dois chutes em suas mãos também. Não dá para entender o excesso de confiança em Ezeli e a falta de, quando o assunto foi Leandrinho. O processo de toda uma temporada não pode ser descartado de uma hora para a outra. Mas aqui estamos falando de um Jogo 7. Hora de matar ou morrer, de priorizar o que estava dando certo de imediato.

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De qualquer forma, mesmo que seja inegável que Leandrinho estivesse rendendo muito mais que Barnes e Livingston, por exemplo, talvez o brasileiro não fosse mudar a história. Não quando os Splash Brothers pouco efetivos daquela maneira. Num cenário ideal, os dois astros ficariam o máximo possível em quadra para fazer a diferença. Não aconteceu nem mesmo com os dois recebendo, juntos, 15 minutos de descanso. Outra estratégia duvidosa. Kerr e sua fizeram um ótimo trabalho em controlar os minutos de seus principais jogadores, mesmo numa campanha de 73 vitórias. Se eles foram preservados em partidas em dezembro, janeiro e março, não era justamente para fazer um sacrifício num Jogo 7 destes?

Enfim, agora entrando em férias, há um bom material para os integrantes do clube se torturarem, tamanha a decepção pela derrota, num campeonato desses. É o tipo de dúvidas e reflexões que atormentaram LeBron por anos e anos. Em 2007, ele ainda era muito jovem, e seu Cavs era fraquíssimo. Depois, o Celtics de Pierce e Garnett virou um fantasma para ele, impedindo que ele voltasse à final até que se mudasse para South Beach, para ver diversos torcedores do clube de Ohio atear fogo em suas camisas. Em 2011, tão bem acompanhado por Wade e Bosh, a virada do Dallas foi dolorosa pacas. Em 2014, mais uma pancada. Em 2015, outra!

Entre tantas decepções, parece que os críticos tinham facilidade para esquecer os dois títulos que já havia ganhado. Mesmo quem os tivesse em conta, também era capaz de sair com aquela: “Só dois?”, desdenhando. De novo: boa parte desse sentimento se deve também a atitudes do craque também, como a promessa de uma dinastia em Miami. De qualquer forma, depois do que acabamos de testemunhar agora, esse rolo todo fica para trás, como anedota de um passado distante. Daqui para a frente, LeBron vai ser conhecido pela história da NBA como este do Cavs de 2016, o líder de uma virada inédita, com uma vitória num Jogo 7 fora de casa, sobre um time que parecia destinado ao panteão da liga. Um dos grandes. Ponto.

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O Jogo 7 está aí, para testar quem tem cabeça
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Giancarlo Giampietro

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“Sentimos que era para ter fechado esta série há um tempão, mas aqui estamos. Está empatada em 3 a 3, e vamos voltar para casa para jogar. Vamos jogar com raiva porque sabemos que, com esta emoção – e nós sabemos canalizá-la do jeito certo –, somo um time muito, muito bom”, afirmou Klay Thompson, ainda em Cleveland, logo após a exasperante derrota para o Cavs, levando as #NBAFinals a um incômodo Jogo 7 em Oakland.

“Temos de mostrar alguma fagulha para esta partida. É uma grande oportunidade para nós, em casa, diante de nossos torcedores, para tentar, novamente, vencer um campeonato. Então vamos precisar de um pouco de garra e personalidade. Eu tinha algumas coisas que queria tirar do meu coração, para desabafar, e pelo modo como o jogo desenrolou, aconteceu isso”, disse, por sua vez, Stephen Curry, que teve um ataque de nervos em quadra e agora chega ao confronto deste domingo pressionado.

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Não só Curry, claro, mas o Golden State Warriors, como Thompson sugere. Na cabeça deles, já era para terem entrado em férias, como atuais bicampeões. Mas os LeBrons tinham planos bem diferentes, vencendo dois jogos seguidos

Em meio a uma campanha histórica, de 73 vitórias, foi fácil de detectar como essa equipe tendeu a jogar muito melhor quando se sentem incomodados, irritados: se distanciavam da complacência e arrebentavam com os adversários. Agora estão incomodados com os dois “match points” desperdiçados. Incomodado é pouco, aliás. Estão nervosos, mesmo. Se vão usar esse sentimento para se recompor em quadra, ou se vão se perder nesta ira.

Até porque esse sentimento de nada valeu na quinta-feira, certo? Era o jogo em que supostamente eles iriam vingar a suspensão de Draymond Green, né? Ao perder o primeiro quarto por 31 a 11, claramente não estavam preparados ou empolgados assim. Até reagiram ainda em Cleveland, o tal do James não os deixou concluir mais uma virada histórica. Aí deu Jogo 7. Para o qual eles vão todos irados – mas também feridos:

– Andrew Bogut não joga mais, e nem no #Rio 2016. Até dá para viver sem o australiano, ainda que Festus Ezeli não seja mais o mesmo do início do campeonato, desde que retornou de uma lesão no joelho.

– Andre Iguodala preocupa muito mais. O departamento médico e atlético do Warriors é um dos mais badalados da liga. São 72 horas, ou um pouco menos, para que tenham dado um jeito nas suas costas. Do contrário, a vida para um surtado LeBron James fica ainda mais fácil.

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– Harrison Barnes, Deus o tenha. O ala está inteirinho fisicamente. Mas a cabeça… Depois de errar 20 de 22 arremessos nas últimas duas partidas, como fica? Se o futuro agente livre não se mostrar reabilitado logo de cara, Kerr vai insistir com ele? Ou vai dar mais minutos para Leandrinho, que vive o melhor momento de sua carreira em muito tempo?

Aí são três peças integrais da rotação com problemas. Isso compromete qualquer time. Se Iguodala e Barnes não chegarem nem perto de seu potencial, vai ficar complicado demais para os Splash Brothers, e o Golden State muito provavelmente se tornará o primeiro time na história da liga a perder uma final depois de abrir 3 a 1 e o primeiro a cair num Jogo 7 em casa desde o Seattle em 1978.  Curry e Thompson chutam muito, podem demolir qualquer oponente, mas precisam de ajuda, mesmo naquelas jornadas mais brilhantes. O Warriors não venceu 171 partidas nas últimas duas temporadas só com seus arremessos de três. E vão precisar de mais do que isso para derrotar um majestoso LeBron.

O craque do Cavs chega ao último jogo como o líder em pontos, assistências, rebotes, tocos, roubos de bola e índice de eficiência. Está bom? Sob qualquer argumento, deve ser eleito o MVP das finais, salvo alguma catástrofe neste domingo, independentemente de quem ganhar o título.A essa altura, não caberia a Curry a ambição de superá-lo. Por mais que tenha ‘jurado’ o veterano em quadra, o armador do Warriors não deve transformar uma partida dessa grandeza em algo pessoal. Tem de se concentrar em seu jogo e evitar faltas desnecessárias (não importando os critérios de arbitragem) e os turnovers por displicência.

Curry será atacado desde o início. De preferência, LeBron vai forçar uma troca de defesa que o coloque de frente para o armador. Nessas situações, seu defensor deve tentar evitar ao máximo que a troca seja feita depois do corta-luz. Se ela acontecer, talvez seja o caso de fazer uma dobra imediata no veterano, para tentar tirar a bola de suas mãos o mais rápido possível, assim como têm feito com Kyrie Irving. O perigo é que LeBron é muito mais alto e um passador muito mais capaz também, podendo antever jogadas e encontrar arremessadores  num estalo. O que vai exigir deslocamento e recuperação rápidas dos demais defensores.

Como um todo, o Warriors tem de se reconectar defensivamente, depois de tomar 227 pontos nas últimas duas partidas. Não sei o quanto a “raiva” pode contribuir para isso. Se Curry, Green e Iguodala maneirarem nos passes mais arriscados de um lado, já será uma baita ajuda, para conter o contra-ataque devastador de seu adversário. O Cavs anotou 47 pontos em transição pelos Jogos 5 e 6 – e só tomou 19. Você não quer deixar um time com o trator LBJ correr. A única chance de pará-lo será em meia quadra, mesmo. Embora, se o seu arremesso de longa distância continuar caindo 50% das vezes, talvez não haja muito o que fazer, mesmo.

Essa é uma das questões cruciais para Cleveland, inclusive. A principal delas, na real, acompanhadas de: 2) se Kyrie Irving vai estar em forma, depois de mancar um pouco durante o segundo tempo do Jogo 6, por conta de alguma contusão/dor no pé, limitando sua produção a apenas uma cesta de quadra em seis tentativas; 3) se Kevin Love vai oferecer algo para Tyronn Lue no ataque e se isso seria o suficiente para compensar sua vulnerabilidade defensiva; 4) se a arbitragem vai procurar remediar qualquer desconforto com o time da casa, em resposta aos ‘apelos’ de Kerr, Curry e amigos; 5) por fim, se Dahntay Jones vai marcar mais pontos que Harrison Barnes e Shaun Livingston?! (Risos.)

De resto, poderíamos questionar se Tristan Thompson vai seguir perseguindo Stephen Curry pelo perímetro como se fosse um Scottie Pippen, mas acho que não há mais dúvida de que o canadense pode executar esse tipo de marcação, mesmo. Quando o pivô está na contenção no perímetro, o armador soma apenas 0,78 ponto por posse de bola. Contra Irving, o número sobe para 1,37. Impressionante.

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Esse tem sido um dos elementos para o excelente desempenho defensivo do Cavs nas últimas partidas. Assim como, vejam só, a concussão de Kevin Love, que abriu mais espaço para Richard Jefferson na rotação, dando maior flexibilidade. O trabalho de Tyronn Lue ficou menos complicado, sem perder muito tempo com as politicagens do cargo – a redução do tempo de quadra de um ala-pivô de US$ 20 milhões anuais. Não é que Jefferson seja melhor que Love. Claro que não. É só que, particularmente contra o Warriors, o astro será explorado em cada instante que estiver na defesa. Contra OKC, provavelmente a situação seria outra. Além do mais, LeBron James foi deslocado para a marcação de Draymond Green, praticamente anulando o All-Star e seus temíveis pick-and-rolls com Curry.

São diversos os detalhes e ajustes que uma série melhor-de-sete com placares tão díspares pede – embora, tenhamos um curioso empate na soma dos pontos dos dois times, com 610 para cada. Coração e determinação têm o seu peso, claro, e o fato de jogar em casa vai empurrar o Warriors nessa direção. Mas é preciso cabeça também, e o jogo mental pendeu para o lado de Cleveland desde que LeBron forçou a suspensão de Green. Depois de induzir o ala-pivô ao erro e dominar os oponentes, o craque chega ao Jogo 7 sem tanto peso nos ombros. Deve ser a primeira vez que se escreve essa frase sem que ela pareça maluca.

Não que não exista pressão. James ainda tenta dar o primeiro título a uma cidade cujos times profissionais não nenhum título desde 1964, mesmo tendo franquias em todas as grandes ligas do país. Também seria o seu terceiro título, com uma virada inédita, o que realmente valeria como um nocaute contra aqueles que o perseguem. Já o Warriors tem mais 48 minutos para confirmar seu lugar entre os maiores times da história.

Se Draymond Green tivesse jogado a quinta partida, talvez a série já pudesse ter acabado, mesmo, como palpitou Klay Thompson. Nunca vamos saber, e não há como o ala-pivô retornar no tempo para corrigir sua bobagem. Ela faz parte da história, e vamos para o sétimo jogo. O que a gente pode pedir, ao menos, é que tenhamos uma partida que chegue competitiva aos seus minutos finais. Com LeBron jogando o que sabe e Steph Curry também. Sem ataques de fúria.

(Que sejam 48 minutos, mesmo, né? Se houver prorrogação, acho que teremos um colapso de 20 mil pessoas no ginásio. Melhor evitar.)

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Bem-vindo ao clube: LeBron joga pressão para Curry
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Giancarlo Giampietro

Curry primeiro rouba a cena. Agora tira a pressão de LBJ

Curry primeiro rouba a cena. Agora tira a pressão de LBJ

Se é para falar de esculhambação em público, LeBron James está mais que escolado. Pode ser escaldado, mesmo.  Cada deslize, cada revés foi ampliado com uma lupa bastante cruel, impiedosa. Desde a saída para Miami, a derrota de virada para o Dallas na final de 2011 e uma nova pancada na cabeça vindo do Texas, de San Antonio, três anos mais tarde. Se era para avacalhar com o LeBron, tudo bem.

Em alguns casos ele não se ajudou, claro. O show para anunciar a mudança para South Beach foi um horror. Mesmo agora no retorno a Cleveland, vimos o astro estrelar alguns episódios dispensáveis, ainda mais para alguém que sabe que está sob constante, incessante escrutínio.

De tanto que ouviu, já é capaz que LBJ tenha chegado, mesmo, ao estágio de que não se importa mais com o que os outros dizem. Daí que, após o Jogo 4 das #NBAFinals, não se incomodou de dizer em coletiva que Draymond Green o havia ofendido, que havia passado do limite e tal. Houve muita gente, especialmente aqueles que torcem pelo Warriors – por que será? –, que ficaram malucos e não perderam tempo em detoná-lo. Que ele era um bebê chorão, que não sei o quê. Em tese, o veterano estava se submetendo ao ridículo, ainda mais depois de uma derrota em casa, ficando perto de mais um vice-campeonato. Acontece que, internamente, os diretores, técnicos e atletas de Golden State já estavam cabreiros por entender o que James estava fazendo. Ele estava preparando, politicamente, o terreno para que Draymond fosse suspenso, enfim. Depois, para completar, o ala se aproveitou da situação e fez as duas melhores partidas da temporada para empatar a série. Pronto! Temos um Jogo 7, 3 a 3.

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Tudo isso para dizer que, cedo ou tarde, a maré pode virar para uma superestrela. De sensação, bajulado, o jogador passar a a alvo, a perseguido. Depois dos episódios desta quinta-feira e do que acontecer no domingo, último dia do campeonato, Stephen Curry pode passar por esse processo. Exagero? Sim, mas claro que é um exagero, e é assim que consumismos esporte hoje. Também existe essa má vontade latente, uma predisposição muito maior do que se imagina para se por em descrédito tudo o que o MVP dos últimos dois anos e sua equipe fizeram durante toda a temporada. Um ponto de vista do qual discordo totalmente, acho que já deu para perceber, mas que está por aí, e não só de forma latente.

Até a bola subir para o Jogo 6, o armador e sua equipe estavam por cima. Estavam vencendo, para variar. Foi algo que o Warriors só fez desde o início da temporada 2014-15, mesmo. Neste ano, já foram 88 vitórias – a de número 89 que está difícil de sair. Fica difícil de implicar com alguém nessas condições. O carisma e as peripécias do astro só reforçavam essa aura especial ao seu redor. Mas aí começou a partida em Cleveland, cujo desfecho foi para ele foi o disparo de um protetor bucal (eca!) na direção de um torcedor.

Ao perder a cabeça neste ato de, hã, fúria, Curry se juntou a Draymond Green  e deixou seus companheiros na mão. Foi um pirado e antecipado fim de partida para o armador, que estava com 30 pontos e, ao lado de Klay Thompson, tentava liderar uma nova reação histórica dos atuais campeões nestes playoffs. LeBron, com 18 pontos no quarto final, fazia de tudo para afastá-los. Mas ainda tinha jogo. Até que sua sexta falta foi marcada, e teve aquele chilique todo. Curry ficou descontrolado de um modo como nunca havia visto. Além da reclamação, de uma falta técnica, de um ato pouco higiênico, ainda ficou no fundo da quadra, encarando árbitros e adversários, mandando recado, inclusive, para LBJ:

Agora imaginem se fosse o próprio LeBron armando uma cena dessas. Ou Chris Paul. Ou Carmelo. A gritaria já seria imensa. No caso de Steph, foi a tal da primeira vez. Acontece que uma reincidência e/ou um jogo fraco no domingo, com o Cleveland acabando seu jejum histórico de títulos expressivos, aí não sei bem o quanto os mais corneteiros vão se segurar. Aí pode ser que a imagem de queridinho da América seja atingida para valer. “Já havia feito isso antes, de jogar o protetor, mas geralmente eu miro na mesa dos estatísticos”, disse Curry. “Eu estava fora do ar. Definitivamente não tinha a intenção de arremessar em um torcedor, mas aconteceu. Fui até ele e pedi desculpas, porque não era nele que eu gostaria de descontar minha frustração.”

Em quadra, como já dito, ele estava se acertando. Havia chegado aos 30 pontos em 35 minutos. Poderia, talvez, bater seu recorde pessoa na série, de 38 pontos, que havia estabelecido na mesma quadra, em Cleveland, para abrir a vantagem de 3 a 1. Seria mais uma grande exibição para ser adicionada ao currículo. Seria. É muito difícil aplaudir um jogador que tenha saído com seis faltas num jogo desses, ainda mais pelo contexto da confusão. Primeiro que Curry não é o principal defensor do Warriors. Há quem o julgue um péssimo marcador, com base na maneira como se comportava no passado. Ele melhorou muito nesse sentido nos últimos dois, três anos. Posto isso, não é que deva ser considerado um perseguidor implacável também. Nem tanto lá, nem cá.

Para alguém tão importante  para o ataque do time, o chutador deveria, então, ter todo o cuidado para não se perder em quadra com faltas desnecessárias, mesmo que ele sobre com LeBron James em uma troca a partir de um corta-luz. No caso desta quinta-feira, a sexta e última infração apontada foi realmente patética. Quando Curry conseguiria desequilibrar alguém como LeBron? Especialmente quando nem foi tão forte assim atrás da bola. Não existe. Agora, em sua contagem, Steve Kerr afirma ter pelo menos três faltas que julgou ridículas. “Fico feliz que ele tenha jogado o protetor. Ele tinha o direito de estar chateado, mesmo”, disse o treinador.

Curry tem sobrado com LeBron em muitas posses. Não está sabendo lidar com a situação

Curry tem sobrado com LeBron em muitas posses. Não está sabendo lidar com a situação

Imagino que nessa lista esteja o lance em que seu atleta desarma Kyrie Irving pela faixa central da quadra. Pelo que entendo, a falta não foi dada no momento em que ele toca na bola. Mas, sim, por um ato contínuo em que o armador do Cavs é segurado, contido, pelas mãos espalmadas do defensor. Um movimento que era permitido até 2004. E que hoje não é mais, para beneficiar justamente talentos como Curry e Irving. Enfim. É uma questão de interpretação. Se o craque do Warriors tivesse se preservado no início da partida – suas duas faltas aconteceram no primeiro período –, não haveria polêmica. É o mesmo raciocínio para as faltas flagrantes de Draymond Green, por sinal.

O que deixa a situação mais crítica é a reincidência, mesmo. Não foi um fato isolado para Steph nestas finais. Em seis jogos, ele já cometeu 21 faltas, ou 3,5 por partida. Para um atleta que não era excluído de quadra desde 2013, parece um disparate. Para termos uma ideia, nos nove jogos que fez contra Portland e OKC, voltando de lesão, ele havia cometido 14 faltas. Esse excesso de apitadas em sua direção não significa exatamente maior combatividade elogiável. É mais uma autossabotagem. É a melhor forma que seus oponentes poderiam achar para atrapalhá-lo do outro lado da quadra.

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Outro ponto negativo que já se tornou recorrente é a sua incapacidade, no momento, de evitar os turnovers. Curry não só está falhando no controle de bola, algo inimaginável em fevereiro, como tem insistido em passes ‘mágicos’ mal concluídos, que podem ter origem ou numa displicência incompreensível para o palco em que estão jogando ou na simples tomada de decisão equivocada. Fato é que ele soma mais desperdícios do que assistências na série (26 x 24). Sua média de turnovers é maior até do que a que teve contra a defesa sufocante do Thunder (4,3 x 4,0).

Segundo o padrão estabelecido pelo craque, seus números como um todo estão aquém do esperado. Caminhando para o Jogo 7, suas médias são de 23,5 pontos, 4,0 assistências, 41,9% de quadra, 42,4% de três e 0,8 roubo de bola. Há jogadores que nem mesmo dopados teriam um rendimento desses. Mas estamos falando do MVP de 2015 e deste ano. Sua temporada regular, comparando, foi fechada com 30,1 pontos, 6,7 assistências, 50,4% nos arremessos e 45,4% de longa distância. Mesmo na complicadíssima final de conferência, produziu mais, com 27,9 pontos, 5,9 assistências, 44,3% de quadra e 2,1 roubos, ficando abaixo só nos tiros de fora (41,6%).

Isso tem a ver com um ótimo plano de jogo do Cavs, mas também já chegou a um ponto que passa pela incapacidade de o astro e seus treinadores encontrarem uma solução, um contra-ataque que possa liberá-lo. Os corta-luzes diversos que Kerr desenha pelo caminho, na trajetória do armador, não têm surtido tão efeito. Isso vem desde o primeiro jogo, com a diferença de que o Cavs conseguiu fazer os ajustes necessários para que os demais atacantes do Warriors não sobrassem livres de frente para a cesta. A prioridade, de todo modo, ainda é de que a bola não fique nas mãos do cestinha. E, se ficar, precisa ser contestado de perto, algo que, mesmo com trocas, vem sendo muito bem feito por Tristan Thompson, por exemplo. Kerr também reclama de faltas. “Temos um ataque que depende de ritmo. Se os árbitros forem deixar Cleveland puxar e segurar nossos caras constantemente em seus cortes e ao mesmo tempo vai marcar essas faltinhas no MVP da liga, para excluí-lo, não vou concordar”, disse.

LeBron está adorando o desenrolar das #NBAFinals

LeBron está adorando o desenrolar das #NBAFinals

Agora, você pode interpelar o treinador, o blogueiro e LeBron e apontar que, sim, Curry tem 31,0 pontos por partida nas últimas três partidas. Acima do que fez no campeonato. O que essa média não diz, de cara, é o quanto tem sido custosa, com 40,9% nos arremessos e o mesmo número de turnovers e assistências (11). Essa queda passa também por suas dificuldades para concluir jogadas perto da cesta. Nas finais, na área restrita, seu aproveitamento é de apenas 45,5%, contra 64,5% da temporada regular. Pode ter certeza de que o armador, um perfeccionista, não se contenta com isso nem um pouco, ainda mais vindo de duas derrotas seguidas, quando ambas as partidas já valiam o título.

O armador tem essa cara de bom moço, aquele ídolo perfeito para um marketing limpinho da silva, como a NBA está curtindo sem parar. Mas, segundo todos os relatos de Oakland, é um cara competitivo pacas. Ninguém atinge seu nível só por puro talento.  Seu rompante está diretamente ligado a essa insatisfação, algo sobre o qual os jogadores falam abertamente. Só não vinha sendo normal ver uma explosão dessas. Quem cobre o time também diz que, no dia a dia, o armador é a força otimista do grupo, alguém que tem plena confiança em suas capacidades, sem se estressar tanto, e que leva os companheiros junto, num equilíbrio interessante em relação ao discurso mais picante de Draymond Green. “Eu me deixei levar pelo momento, mas vou numa boa para o próximo jogo”, afirmou o astro.

Bem-vindo ao clube, deve pensar LeBron. Depois de se doer o ano inteiro pela atenção que o Warriors e Curry estavam recebendo, o craque do Cavs deve estar gostando dessa ideia, ao vê-los agora mais de perto. Ele passou por esse tipo de situação de exame público diversas vezes na carreira, estampando capas de revista já quando adolescente. Agora, pela primeira vez em muito tempo, o veterano entra num jogo decisivo no qual a a pressão bem maior está toda do outro lado, toda voltada para outro atleta que domina outdoors. Afinal, nesta série, ele mesmo já deu sua resposta. Vamos ver no domingo qual será a de Curry.

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LeBron volta a reinar, e Cavs vai ao Jogo 7 crendo em virada inédita
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Giancarlo Giampietro

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O Golden State Warriors fez uma vez. Por que o Cleveland Cavaliers também não pode?

Parece que já passou um século já, mas foi há questão de semanas apenas que os atuais campeões completaram uma virada incrível para cima do Oklahoma City Thunder pela decisão do Oeste, quando estava perdendo por 3 a 1. Pois é. Era a mesma desvantagem que o Cavs enfrentava pelas #NBAFinals, e cá estamos: após mais um massacre jogando em casa, triunfando por 115 a 101 nesta quinta-feira, o a série está empatada, caminhando para um sétimo jogo realmente proibido para cardíacos, como diria o outro, no domingo.

Primeiro foi um quarto arrasador para abrir os trabalhos, vencido por 31 a 11. Depois, teve a cabeça fria para lidar com duas reações dos perigosos visitantes. E aí veio um LeBron James soberano no segundo tempo, para marcar 41 pontos pelo segundo jogo seguido e fazendo de tudo em quadra. Após uma grande partida, sem dúvida, seu time chega a Oakland acreditando ser plenamente plausível sua missão de ser o primeiro time a sair do 3 a 1 contrário para levar o título.

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Além dos 41 pontos, foram 11 assistências, 8 rebotes, 4 roubos de bola e 3 tocos para LBJ, em 43 minutos, com um saldo de 26 pontos. Ele acertou 16 de 27 arremessos, com 3-6 no perímetro. Sozinho, ele conseguiu o mesmo número de passes para cesta, recuperações e bloqueios que os cinco titulares do Warriors somaram. Impressionante. Acho que, a não ser no caso de um dos Splash Brothers marcar 60 pontos na sétima partida, com vitória, não dá para imaginar um cenário em que o troféu de MVP da decisão não vá para o camisa 23. Nos últimos dois jogos, ele tem 82 pontos, 24 rebotes, 18 assistências, 7 roubos e 6 tocos, com 7-14 de longa distância, algo que faz toda a diferença.

A gente pode falar de “cabeça fria” para o Cavs, sem problema. Porque não é fácil manter a compostura quando um time como o Warriors vem para cima. Kevin Durant e Russell Westbrook que o digam. Mas o coração dos caras estava a mil, desde o tapinha inicial, com mil batimentos por segundo, mesmo, de tanta energia que levaram para quadra, como num repeteco do Jogo 3. Foram oito pontos seguidos, e não pararam por aí. Cesta após cesta, enquanto, do outro lado, fechavam a porta na cara de todos, permitindo apenas o moribundo Harrison Barnes arremessar.

Steve Kerr parou o jogo e, o pior: não havia nem mesmo um Andrew Bogut para substituir e uma “Escalação da Morte” para ativar. Na verdade, sem o pivô australiano, que não volta mais nesta temporada, o técnico já havia começado o duelo com seu melhor quinteto, que havia terminado as finais do ano passado com 42 pontos de saldo. Em seus primeiros minutos, essa escalação saiu perdendo por oito. Em nenhum momento, conseguiram assumir o controle da partida como a unidade que se tornou a mais temida da liga desde a decisão de 2015.

A primeira parcial terminou com placar de 31 a 11. Os 11 pontos do Warriors não eram só a pior marca da equipe nesta temporada em um quarto inicial como foi a pior de toda a história das finais na era de posse de bola cronometrada. Isso aconteceu com a receita básica de defesa + transição. Nos três jogos mais acelerados destas finais, o Cavs saiu vencedor, numa reviravolta muito interessante. O Cavs realmente marcou demais, especialmente na hora de contestar Klay Thompson, que não encontrava espaço nenhum para chutar e, frustrado, passou a se precipitar, e Draymond Green. Sim, ele estava de volta e, por um período que fosse, não fez diferença nenhuma no plano geral.

Green saiu com um saldo negativo de 12 pontos. Curry, com -11. Thompson, com -22. Foi feia a coisa. Eles foram dominados, por mais que tenham em duas ocasiões, nos segundo e terceiro períodos, encurtado seu déficit, para um só dígito, tendo posses de bola extra para encostar de vez. Mas não conseguiram. E não só pelos méritos de LeBron, que anotou 17 pontos no quarto final.

Curry se perdeu em faltas e perdeu a cabeça em sequência. Rara expulsão

Curry se perdeu em faltas e perdeu a cabeça em sequência. Rara expulsão

O Warriors, por conta, também cometeu erros tolos, para além dos chutes bizarros de Thompson. Os mais custosos foram as faltas, novamente, desnecessárias de Stephen Curry. O acúmulo o tirou de quadra cedo e depois o deixou em posição precária para marcar um cara como Kyrie Irving. E que, a 4min22s do fim, o levaram a uma rara exclusão, quando seu time perdia apenas por 12 pontos, algo que não acontecia desde dezembro de 2013. E, sim, 12 pontos entra na conta do “apenas” quando é o Warriors que está em quadra. Se a sexta falta foi bastante duvidosa, as outras cinco, não achei – para Kerr, foram três. O problema é maior por ser recorrente e por ter atrapalhado uma noite em que havia chegado a 30 pontos em 20 arremessos e 35 minutos. (Steph, aliás, converteu seis bolas de longa distância e quebrou o recorde de Danny Green numa série final. Como se estivesse valendo algo agora…)

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Ao seu lado, Thompson demorou quase 30 minutos para esquentar a mão. Fez estragos no terceiro período em mais uma investida preocupante do Warriors, que tornou a baixar seu déficit para um dígito, mas aí LeBron estancou tudo. O ala terminou com 25 pontos em 21 arremessos, e apenas 30% de acerto em 10 tentativas. Ao menos reencontrou o rumo da cesta para não voltar para casa tão perturbado assim.

O mesmo não pode ser dito sobre Harrison Barnes, que teve mais um jogo de doer, saindo zerado de quadra em oito arremessos. Ainda no quinteto inicial, Draymond Green ficou em oito pontos. Já Andre Iguodala sentiu um desconforto lombar logo no início da partida e se arrastou pela quadra. Recebeu tratamento especial quando era substituído, bateu o pé com a comissão técnica para seguir atuando e simplesmente não conseguiu ser efetivo. Marcou cinco pontos e deu três assistências. Produção muito baixa.

As mazelas dos atuais campeões não se limitaram ao seu poderoso, mas agora irregular ataque. Sua defesa permitiu novamente que o Cavs conseguisse ótimos índices de acerto, com 51,9% nos arremessos. Sofreram tanto nos tiros de longa distância (37%, com 10-27) como no garrafão, levando 42 pontos na zona pintada. Ao menos impediram que Thompson engolisse a tabela ofensiva, com muito suor de Draymond  – ainda assim, foram 15 pontos e 15 rebotes para o pivô canadense. No geral, o Cavs conseguiu oito rebotes na tábua do aversário.

A coisa seria ainda mais feia não fosse mais uma bela apresentação de Leandrinho. Um dos destaques pelo Jogo 1, o ala brasileiro entrou muito bem no segundo período, com firmeza, decidido, e anotou 14 pontos em 18 minutos, com 50% de acerto. O ligeirinho merece mais minutos na sétima partida, ainda mais se Barnes não retornar do Ártico. Anderson Varejão também teve boa participação e, na partilha dos minutos de Bogut,  deveria ter prioridade em relação a Ezeli. Não por serem convocados de Magnano. Mas pela produção recente, mesmo.

Ah, o Jogo 7… Vai demorar um tanto para chegar o domingo. Em sua entrevista, tentando manter a cabeça erguida, Kerr lembrou que foi para isso que eles detonaram na temporada regular: para ter o mando de quadra. Isso é fato. Ninguém vai tirar isso do Warriors, e o retrospecto é todo favorável aos anfitriões. Das 18 séries que acabaram na sétima partida, o time da casa saiu vencedor em 15 delas. Agora, o mesmo Warriors sabia que jogava contra os números ao aprontar para cima de OKC. Naquela ocasião, o Cavs estava descansando, tomando nota. Pelo fato de terem estendido o confronto, já foi uma proeza. Essa é apenas a terceira vez na história em que um time se recupera de uma derrota parcial por 3 a 1. O último havia sido o Lakers de 1966, para termos uma ideia. E nunca esse time chegou a completar a virada. Após duas grandes vitórias, podem ter certeza de que, na cabeça dos LeBrons, esse retrospecto não vai dizer nada.

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Jogo 5 teve convergência perfeita para o Cavs. É sustentável?
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Giancarlo Giampietro

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Em qualquer cobertura mais vasta, daquelas chamadas especiais, hoje em dia, parece impossível fugir do tópico “sustentabilidade”. Nesta série de textos sobre as #NBAFinals, como ficar fora dessa onda? Não dá, vai.

Na liga americana, o termo também está em voga, à medida em que o uso e a análise das estatísticas se aprofunda. A abordagem um pouco mais fria procura colocar em perspectiva a boa fase de um ou jogador, por exemplo. Daí o uso também de outros conceitos como “amostra pequena”. Tudo isso é processado para que as exceções sejam cada vez mais classificadas como exceções, mesmo, bem diferente da regra. Daí que, quando um Channing Frye acerta sete bolas de três pontos em dois jogos seguidos de playoff, em vez de elegê-lo já como o maior chutador da história, o raciocínio mais prudente e correto seria questionar se essa produção seria… sustentável.

Quando chegamos às finais de um campeonato, então, esse tipo de questionamento se torna ainda mais forte, já que cada time – no caso, Golden State Warriors e Cleveland Cavaliers – chega para decidir o título com uma extensa rodagem, com uma profunda base de dados para efeito comparativo.

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Depois da grande vitória do Cavs pelo Jogo 5, em Oakland, nesta segunda-feira, com LeBron James e Kyrie Irving se aproveitando das chamas produzidas por Klay Thompson no primeiro tempo para incendiar todo o ginásio, vale dar um passo atrás e avaliar o que aconteceu de normal ou anormal na partida. O quanto disso pode ser carregado para o Jogo 6 na quinta-feira? E a um eventual eletrizante Jogo 7? Certamente cada uma das comissões técnica, vindo de vitória ou derrota, vai fazer esse exercício. Então vamos lá:

A dinâmica LeBron/Kyrie

LeBron, Kyrie, NBA Finals, Game 5, Jogo 5

Botaram para quebrar

Em quadra, essa foi a manchete: James e Irving formaram a primeira dupla de atletas a passar dos 40 pontos em uma partida pelas finais, com 41 cada. Foi um estrondo, mesmo, sem que defensores ultracapacitados como Klay Thompson e Andre Iguodala pudessem fazer muita coisa.

Um dado curioso é que nem o ala, nem o armador ainda haviam marcado 40 pontos nesta temporada. A estreia neste clube dos quarentões só havia acontecido três vezes antes na história, com  Cliff Hagan (em 1961, pelo Hawks), Magic Johnson (em 1980, pelo Lakers) and James Worthy (em 1989, pelo Lakers).

Para chegar a 112 pontos, o Cavs certamente atacou bem, com eficiência. Agora, eles atingiram um elevado índice de acerto, com 53% nos arremessos, 41,7% de três pontos e 23 lances livres batidos, com uma abordagem bastante individualista de seus astros, e não com um jogo mais solidário que procurasse esgarçar a defesa do Warriors. Somente 34,1% das cestas de quadra da equipe foram assistidas (15 de 44). Segundo o NBA.com/Stats, essa foi a primeira vez em 50 anos que um time passou dos 110 pontos com um percentual tão baixo de assistências. Além disso, as 29 cestas em investidas solitárias foram o máximo em um jogo pelas finais desde 1967, quando o San Francisco Warriors triunfou por 30 pontos na Filadélfia.

A concentração de jogo em seus craques foi absurda até. Dos 112 pontos, 97 saíram direta ou indiretamente das mãos da dupla, ou 87%, entre cestas e assistências. Essa é a segunda maior média da história das finais. Curiosamente, só fica atrás do que vimos no Jogo 1 do ano passado, antes de Irving se lesionar, numa derrota dramática definida apenas na prorrogação. Todas as últimas 25 cestas foram feitas ou assistidas pelos dois astros. A última cesta que não passou pelas mãos dos dois foi uma bandeja de Iman Shumpert na metade do segundo quarto. Os dois vão conseguir sustentar um desempenho desse na volta para casa?

Kyrie Irving
Vale lembrar que o armador anotou 22 de seus 41 pontos em Oakland em jogadas na qual ele avançou pela quadra driblando e não fez nenhum passe. Nesse tipo de situação, acertou inacreditáveis 10 de 15 arremessos (66,6%). Sabe qual era o seu rendimento entre os Jogos 1 e 4 com essas investidas em total isolamento? De 13-39, ou 33,3%, a metade. E aí? Qual é o número mais real? De repente um meio termo entre ambas as marcas?

Fato é que, desde que a série foi para Cleveland, o desempenho de Irving vem sendo bem superior:

Essa tinta verde espalhada pela foto da direita, no entanto, se deve muito ao que aconteceu nesta segunda-feira, mesmo. O jovem astro terminou com o quarto melhor aproveitamento da história das finais entre atletas que tenham tentado ao menos 20 arremessos. Ficou atrás só de atuações de gente como Shaquille O’Neal (em 2004 pelo Lakers), Larry Bird (em 1984 pelo Celtics) e Wilt Chamberlain (em 1970 pelo Lakers, o único deste trio que também passou dos 40 pontos).

LeBron James
Que LBJ costuma responder bem quando está enfrentando a eliminação pelos playoffs, Iguodala acabou de perceber. Acreditem: para alguém que é julgado de maneira irascível como um amarelão, o craque do Cavs, contra a parede, tem números e retrospecto superiores aos de Michael Jordan e Kobe Bryant. (O que não quer dizer que seja o melhor jogador da história. Esses dados só contrariam o imaginário popular que se construiu em torno de sua figura.)

O ala geralmente vai se impor em quadra, mesmo, e o máximo que seu marcadores podem fazer é tentar deixar as coisas um pouco mais difíceis, pelo menos.  Por muito tempo, em seus primeiros anos na liga, a melhor e mais óbvia era receia era realmente pagar para ver seu arremesso. Os marcadores recuavam e o induziam ao chute de longa distância. Em 2010-11, em seu primeiro ano pelo Miami, ele matou só 33%. Tudo era melhor do que a ideia de ver aquele trator ganhando o garrafão e destruindo o aro. Acontece que, cansado de enfrentar esse tipo de estratégia, LeBron trabalhou esse fundamento até alcançar percentual mais elevado entre 2012 e 2014, com pico de 40,6%. Seja por falta de treino, pelas pernas mais pesadas ou por uma combinação desses dois fatores, de um ajuste a sua atual condição física, o ala permitiu que seu rendimento caísse muito, para 30,9%, o pior de sua carreira.

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Esse número foi muito bem recebido pela oposição. Era quase uma benção. Nas finais, para o bem de Iguodala, ele estava com 31,2%. Daí a surpresa ou mesmo incredulidade com o que ele fez pelo Jogo 5, silenciando as vaias que o perseguiram pela Oracle Arena. Dessa vez, James acertou 8 de seus 19 arremessos fora do garrafão (42,1%). Não é algo expressivo assim comparando com o que Kyrie Irving matou de bola ao seu lado, mas é muito melhor do que 9 cestas em 28 tentativas (32,1%), das primeiras quatro partidas. Contra Iguodala, ele acertou 6-10 nos arremessos e 3-4 de longa distância.

Sem Draymond Green
O ala-pivô ficou arrasado ao ver o Jogo 5 de um dos camarotes do estádio do Oakland A’s, vizinho da Oracle Arena, segundo seu ex-técnico em Michigan State, Tom Izzo. Sentiu que havia deixado seu time na mão. Podem ter certeza que o impacto maior causado por sua ausência foi sentido em quadra. Especialmente quando o Warriors precisava defender. Sem ele, o Cavs tentou explorar ao máximo o quarteto Bogut, Ezeli, Speights e Varejão situações de pick-and-roll e teve sucesso. O trio de pivôs era presa fácil para LeBron e Kyrie, enquanto James Michael McAdoo, muito mais ágil, não intimidava ninguém. A formação bastante baixa com Curry, Thompson, Livingston, Iguodala e Barnes também não colou.

Para termos uma ideia do quão vulneráveis os atuais campeões estiveram, o Cavs anotou 46 pontos apenas dentro do garrafão, com aproveitamento de 60%, com 24-40. Para comparar, o Warriors somou 42 pontos em tiros de três. Nas duas primeiras partidas como visitante, o Cavs havia anotado apenas 85 pontos por 100 posses de bola. Nesta segunda, sua média foi de 110 pontos. A jornada inspirada de Irving e James, que mataram 19 de 30 arremessos contestados, ajuda a entender essa guinada.  Draymond, sozinho, não iria impedir essas 19 cestas. Mas podem ter certeza de que os dois cestinhas encontrariam mais obstáculos, pelo fato de o ala-pivô ser muito mais ágil que o quarteto usado por Kerr em rodízio e entender perfeitamente o que precisa ser feito na cobertura de espaços. Pode não ter estatura, mas tem força, envergadura e inteligência para ser um candidato perene ao prêmio de defensor do ano. Não existisse um certo Kawhi Leonard em San Antonio, certamente já teria ganhado ao menos um troféu nesta categoria.

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As cestas de três do Warriors
Aquela turma que precisa evitar o consumo daquele amendoim, do queijinho ou do presunto cru durante as partidas do Warriors, sob risco de engasgo, deve ter se divertido pacas com o segundo tempo da vitória do Cavs. Afinal, nessa parcial, os atuais campeões erraram simplesmente 18 de 21 chutes de três pontos, sendo 9 em 10 pelo último quarto. No geral, o time acertou apenas 14-42 (33,3%). Na temporada, sua média foi de 41,6%, enquanto nos mata-matas é de 39,5%. O baixo rendimento num jogo que valia o título muito se deve ao empenho dos defensores do Cavs, com destaque improvável para JR Smith, por exemplo, especialmente no segundo tempo. Mas não foi só isso.

Esmiuçando esse aproveitamento, você encontra um dado surpreendente. Segundo as medições do sistema SportVu – com suas câmeras invasivas acompanhando toda a movimentação dos jogadores –, o Warriors teve ainda nada menos que 19 arremessos de longa distância com atletas “completamente livres”. A tendência é achar que os marcadores jamais poderiam permitir um número tão elevado de tentativas sem resistência ao time de Steve Kerr. Pois nesta segunda não teve problema: apenas 4 desses 19 chutes foram convertidos. Harrison Barnes, aliás, foi a ‘estrela’ aqui. O ala não é um dos Splash Brothers, mas chegou ao duelo com 42,8% de acerto – e 60% nos dois jogos anteriores – e matou apenas uma em seis tentativas, desperdiçando diversas tentativas em total liberdade.

Surras?
Até agora, o mais perto de um jogo parelho que tivemos foi o quarto, com vitória tensa do Golden State, mas a qual já estava decidida a dois minutos do fim. Somando o saldo dos cinco primeiros jogos, são 104 pontos de sobra no placar, ou mais de 20 por confronto. Essas serão, digamos, as finais mais desequilibradas jogo a jogo em mais de 50 anos, desde 1965, com um dos tantos duelos Lakers x Celtics gerando uma sobra de 105 pontos. Dependendo da resolução das equações acima será que vamos ter pelo menos uma partida mas apertada? Queremos drama e emoção. Sustentabilidade tem limite.

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LeBron aceita papel de vilão e vê Kyrie explodir para estender as finais
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Giancarlo Giampietro

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LeBron James fez sua melhor jogada antes mesmo de o Jogo 5 começar. Quando, ainda em Cleveland, atropelou Draymond Green, tirou o oponente do sério e forçou sua suspensão com uma quarta falta flagrante pelos playoffs. Nesta segunda-feira, porém, ele fez questão de estender sua contribuição com uma das melhores atuações de sua carreira. Foi um ato de sobrevivência, e o Cavaliers bateu o Golden State Warriors por 112 a 97 para forçar o sexto jogo na quinta-feira.

Em 42 minutos, sem mal descansar em quadra ate que o “garbage time” fosse instaurado, LeBron anotou 41 pontos, apanhou 16 rebotes, deu 7 assistências e ainda acumulou 3 tocos e 3 roubadas, com 16-30 nos arremessos. Além disso, matou 50% nos tiros de três, em oito tentativas. Espetacular e, a julgar por seu currículo, não surpreende. Para quem ainda lê e ouve por aí tanto sobre uma suposta fama de amarelão, o craque tinha médias de 31,9 pontos, 10,7 rebotes e 6,6 assistências em partidas pelas quais sua equipe lutava contra a eliminação. Agora tem a melhor média de pontos da história dos mata-matas nesse tipo de situação. A diferença é que, a despeito de suas exibições marcantes, o aproveitamento de seus times era de 7 vitórias em 15 jogos.

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Para devolver a série a Cleveland, o veterano não agiu sozinho, obviamente. Assim como no Jogo 3, contou com nova exibição primorosa de Kyrie Irving no ataque. O armador do Cavs voltou a esfomear em quadra, mas dessa vez guardou seus arremessos com uma precisão assustadora, de causar inveja a Curry. Anotou os mesmos 41 pontos, com 17 cestas em 24 tentativas (70,8%). Nem mesmo um marcador como Klay Thompson o incomodou.

“Foi provavelmente uma das melhores atuações que já vi ao vivo”, disse James, seguindo a mesma linha de Jeff Van Gundy, durante a transmissão. E não é exagero. Na história das finais, apenas só teve um jogador além de Irving que conseguiu marcar 40 pontos e acertar mais de 70% em uma partida: Wilt Chamberlain. Glup. Aconteceu em 1970, pelo Lakers, respectivamente, com 45 e 74,1%. Aí vale a gente lembrar que Wilt era a maior aberração atlética do mundo e que, para a época, era como se tivesse 2,58m de altura e estava sempre pertinho da cesta. Irving é um cara de 1,91m que vaga pelo perímetro.

Foi a primeira vez na história das finais que dois companheiros passaram dos 40 pontos na mesma partida. Entre cestas e assistências, os dois estiveram envolvidos em 97 pontos dos 112 dos visitantes. A mesma quantia que todo o elenco do Warriors. Incrível. Vale o abraço:

Era como se James e Irving, de repente, tivessem se tornado os Splash Brothers. Ninguém duvida da capacidade do armador para converter os chutes que arriscou nesta partida. O problemão para Steve Kerr foi ver o ala alcançar um percentual elevado mesmo quando buscava pontuar longe da cesta. Qualquer defesa bem-sucedida contra uma equipe de LBJ espera, conta que ele vá falhar neste tipo de fundamento. Se, por um acaso, ele conseguiu virar a chavinha para valer nestas finais, será uma tremenda dor-de-cabeça para o Golden State, independentemente da presença de Draymond Green em quadra.

O ala-pivô fez muita falta para os atuais campeões, especialmente na defesa. Não só na ajuda para a contenção de LeBron, como para a coesão da equipe, mesmo. A cobertura, a recuperação de posição, a comunicação nas trocas de marcadores, a proteção de cesta…  Faltou um pouco de tudo, abrindo caminho, corredores para os 53% nos arremessos do Cavs e os 41,7% dos três pontos. No momento, o combo de Bogut-Ezeli-Varejão não vem dando conta do recado, com Irving e LeBron explorando sua lentidão sempre quando podem no pick-and-roll. Para piorar, Bogut ainda sofreu uma contusão no joelho no segundo tempo e vai passar por uma ressonância magnética.

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No ataque, a visão de quadra e versatilidade de Draymond também foi sentida, como um assessor extremamente qualificado para seus chutadores, ajudando a organizar o jogo e se aproveitando das oportunidades proporcionadas pelo terror que eles representam no perímetro. No primeiro tempo, Stephen Curry e, principalmente, Klay Thompson mataram algumas bolas malucas de longe, mas se aproveitaram ao mesmo tempo da conivência defensiva dos caras de Cleveland. Sim, alguns daqueles chutes não existem no plano tático de ninguém, mas a marcação em geral foi uma calamidade, muito frouxa, deixando que um empolgado Thompson se desprendesse com facilidade. Antes do intervalo, o ala tinha mais pontos do que LeBron (26 a 25). Terminou com 37 pontos em 20 arremessos, 41 minutos e seis tiros de fora certeiros.

Porque as coisas mudaram. Na segunda etapa, adefesa do Cavs enfim entrou em quadra, para não desperdiçar, anular a soberba combinação de James e Irving. Em vez de seguir no tiroteio com confiança, os cestinhas do Warriors tiveram de lutar muito mais para enxergar a cesta, sem que os corta-luzes lhes dessem respiro. Valeu pela contestação e, muito mais, pelo desgaste gerado. A equipe da casa, como um todo, converteu apenas 12 de 45 (26,6%) de quadra. Foram 36 pontos, contra 39 de LBJ e Kyrie. Em alguns momentos, Curry apareceu livre, mas falhou na pontaria, para fechar sua participação com 25 pontos em 21 arremessos (38%) e 5-14 de três, em 40 minutos. O atual bi-MVP já não tinha pernas. Antes de baixar a energia, é preciso registrar, o armador voltou a ser displicente com a bola, cometendo alguns turnovers dos mais bestas possíveis.

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De Andre Iguodala, não houve o que se queixar. O veterano fez de tudo para tentar amenizar o impacto da ausência de Green, com 15 pontos, 11 rebotes, 6 assistências em 41 minutos. O que não deu para entender muito bem foi a estratégia de Kerr de colocá-lo para marcar Kevin Love em diversos momentos. Suponho que fosse para preservar o ala, resguardá-lo para os minutos finais, em vez de uma preocupação com o apagado ala-pivô. Acontece que Shaun Livingston e Harrison Barnes não conseguiram fazer nem cócegas contra LeBron James.

Barnes, aliás, foi uma tremenda decepção para o torcedor do Warriors. Quer dizer, nem tanto: durante o ano, fui descobrir que o ala não tem tanto prestígio assim em Oakland. Ainda assim, nem o mais pessimista poderia imaginar uma partida tão inócua assim, com míseros 5 pontos e 5 rebotes em 38 arremessos, acertando apenas 2 de 14 arremessos, muitos deles completamente livres. Considerando o que estava em jogo e o desfalque na linha de frente, esta atuação definitivamente não vai entrar no DVD, na hora de negociar um novo contrato em julho – e vocês desculpem a insistência com essa sub-história, mas é que, logo mais, vai aparecer algum clube para pagar uma bolada para este irregular ala. E aí não vai ter do que reclamar. Do outro lado, a frustração ficou novamente por conta de Kevin Love, que retornou ao time titular, ganhou 33 minutos e não passou de 2 pontos, 3 rebotes, 1 assistência e 3 tocos. Independentemente do desfecho da série, numa análise fria, é provável que a diretoria do clube se sinta inclinada a trocá-lo. Mas isso é papo para depois.

Por ora, o Cavs volta para a casa, com um cenário bem diferente para LeBron, que foi eleito inimigo público número um em Oakland. A julgar por seu rendimento, talvez o torcedor mais esclarecido do Warriors possa se sentir arrependido pelo tanto de vaia que se ouviu no ginásio, desde o aquecimento – historicamente, o ala responde muito em nesse tipo de cenário. Já o torcedor menos fanático e rancoroso do time californiano, a despeito de sua paixão por Draymond, deve ter, secretamente, pelo menos mentalmente, se permitido aplaudir o camisa 23. E Kyrie Irving.

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Draymond está suspenso. E a festa do Warriors também?
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Giancarlo Giampietro

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Polêmica,falta flagrante, e… rua

Ao vencer uma partida em Cleveland, a melhor da série, o Golden State Warriors imaginava que retornaria à quadra nesta segunda-feira relativamente tranquilo, ou, melhor, confiante em fechar as #NBAFinals em 4 a 1, para ganhar o bicampeonato. Isso tinha a ver com seu excepcional rendimento como time da casa, o domínio que teve pelas primeiras partidas da série, a grande virada pelo Jogo 4 e o retrospecto geral para quem abriu uma vantagem como essas no placar geral. Todos argumentos sólidos para quem acreditava em um desfecho iminente. Acontece que, neste domingo, Draymond Green e Steve Kerr receberam a notícia que tanto temiam: o ala-pivô está suspenso da quinta partida, depois do tolo entrevero com LeBron James pela última partida.

Vocês veem acima o enrosco. LeBron empurrou Draymond e ainda passou por cima do adversário. Poderia ter evitado? Mudado de direção? Ou foi muito rápido? Independentemente de suas intenções, vemos aqui uma sequência de ação e reação na qual a resposta do All-Star do Warriors foi mais gritante e, digamos, fora do comum.

Pelo soco baixo que o ala-pivô deu, a NBA o penalizou com uma falta flagrante um — que não foi vista em tempo real, diga-se. Essa infração isolada não teria problema. O que pega é que, depois de já ter cometido três infrações desse tipo durante estes playoffs, Green estava por uma. Se LeBron estava totalmente ciente disso e o instigou, não dá para saber. E, num contexto maior, talvez não fizesse a menor diferença nas investigações da liga.

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Draymond estava jogando já com um alvo enorme nas costas. O episódio de um chute (?) involuntário em Steven Adams já havia chamado muita atenção. Seu estilo abrasivo também vinha despertando a ira e as críticas se muitos atletas e treinadores no decorrer do campeonato. Ao ser flagrado pelas câmeras mais uma vez aprontando das suas, seria muito difícil que escapasse dessa, pelo conjunto da obra, que cobrou seu preço agora. Ainda mais com LeBron envolvido. De qualquer forma, foi um caso muito espinhoso, que o comissário Adam Silver certamente preferia evitar. Imagine a pressão nos bastidores à qual sua administração não foi submetida no sábado quando conduzia uma investigação a respeito.

Draymond, Kerr e o gerente geral Bob Myers discutem a suspensão

Draymond, Kerr e o gerente geral Bob Myers discutem a suspensão. Crédito: Ethan Sherwood Strauss/ESPN.com

Segundo Marcus Thompson II, do San Jose Mercury News, a defesa do Golden State se baseava em três tópicos principais: 1) que o movimento de seu jogador não terminou exatamente com um soco; 2) LBJ havia começado tudo; 3) não foi um incidente tão grave a ponto de causar impacto nas finais. Nessa linha de raciocínio, o segundo tópico já havia sido rebatido pelo Cavs ainda na sexta. Draymond teria xingado LeBron. Uma coisa justifica a outra e a outra também?

Outro ponto levantado foi que Matthew Dellavedova também teria agredido intencionalmente Andre Iguodala pelo Jogo 1 ao tentar um desarme em transição. Vindo por trás, o australiano fechou a mão e acertou Iggy também nas partes baixas. Não recebeu nenhuma punição. A questão é que, naquele, lance, existe a possibilidade de que o armador estivesse apenas tentando o desarme — ao menos é i que os cartolas dkb. Além disso, depois do carnaval do ano passado, Delly se comportou relativamente bem por estes mata-matas.

A punição ‘tardia’ causou estranhamento em alguns. Reggie Miller acreditou que seu chute em Steven Adams teria sido mais grave. “Apostaria meu braço direito que, se a série estivesse empatada em 2 a 2, Green não seria suspenso. O que aconteceu em OKC foi muito pior”, disse o ex-ala, atual comentarista. Patrick Patterson, ala-pivô do Raptors, fez eco: “Estranho que ele tenha sido suspenso nas finais, mas não na decisão da conferência”.

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Como estamos falando de NBA, uma final com muita audiência e LeBron na tela, a teoria da conspiração que passou a circular desde o sábado é a de que, para a liga, o prolongamento da série só faria bem, pensando em audiência e faturamento. Eu, sinceramente, não compro essa: Draymond já havia gerado muita controvérsia para escapar dessa de modo impune. Seu estilo abrasivo teve um custo elevado agora.

O ala-pivô sabia disso. Com a virada praticamente consumada em Cleveland, deveria ter deixado que sua inteligência prevalecesse sobre o orgulho e agressividade. Que Charles Barkley seja um de seus defensores neste episódio, significa muito. Antes de se mandar para Cuba, de férias, e de a liga anunciar sua decisão, afirmou: “Quando alguém pisa sobre você, faz internacionalmente para esfregar na sua cara. Você fica moralmente obrigado a retaliar”.

Draymond é o que é devido a essa personalidade intensa, seu espírito extremamente competitivo. Ao Orange County Register, em entrevista recente, já havia sido questionado se havia algum limite para ele em quadra. “Absolutamente não”, disse. “Vou cruzar qualquer linha para vencer”. Quando foi para cima de LeBron, restavam 2min42s ainda, mas o Warriors estava em momento muito favorável, à frente do placar por dez pontos já. A vitória estava encaminhada. Talvez Green estivesse apenas se defendendo. Ou imaginasse que poderia tirar LeBron do jogo? Forçar uma briga? Se fosse esse o caso, foi uma aposta arriscada e besta demais. Pois, em termos disciplinares, sua situação era muito mais delicada que a do astro. De certa forma, poderia ter sido ainda pior: caso fosse marcada uma falta flagrante, o atleta seria suspenso também de um eventual Jogo 6.

*   *   *

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Agora Steve Kerr vai ter de quebrar a cabeça para armar a equipe para o Jogo 5. Sabe de quantos jogos o Warriors seu versátil ala-pivô ficou fora nesta campanha? Um. Apenas um, contra o Denver Nuggets, no dia 13 de janeiro. Foi uma das nove derrotas do time no campeonato, por 112 a 110.

É um péssimo sinal. Quer dizer: muito mais a partida com desfalque isolada do que o revés no Colorado em si. Afinal, isso quer dizer que nem Kerr, nem Luke Walton tiveram muitas chances de entender como o Golden State funciona desde que Draymond Green se tornou uma figura tão essencial para o seu sucesso. Nos tempos de Mark Jackson, era reserva de David Lee. Mas muito aconteceu desde então.

Sem Green, a primeira certeza é que time não terá em nenhum momento sua chamada “Escalação da Morte”, com Barnes e Iguodala ao seu lado na linha de frente e os Splash Brothers barbarizando no ataque. Essa formação tem saldo positivo de 14,1 pontos em 100 posses de bola pelas finais e, entre aquelas que receberam um mínimo de 15 minutos durante a série, é a que tem o melhor rendimento. Algo que não surpreende ninguém, já que também foi o quinteto mais produtivo da temporada regular, entre aqueles que acumularam pelo menos 100 minutos, e de longe.

Barnes vai ter de jogar MUITO nesta segunda-feira

Barnes vai ter de jogar MUITO nesta segunda-feira

Ignorando quem está ao redor, nos 152 minutos que o fogoso ala-pivô jogou contra o Cavs nesta final, o Warriors teve vantagem de 36 pontos. Sem ele, em 40 minutos, déficit de sete pontos (veja qual o impacto específico sobre Curry também). Agora serão mais 48 por jogar. Faz como? O problema não é apenas suprir os 14,8 pontos, 9,3 rebotes, 5,8 assistências, 1,8 roubo, 1,3 toco em 38,0 minutos, que têm feito pelas finais. O que já seria bem complicado, aliás. A importância de Green, no entanto, vai muito além do números mais básicos computados na súmula oficial.  Para não falar do aspecto emocional. É o líder, o coração do time.

Estamos falando de um conjunto de habilidades praticamente inigualável na NBA. (E, se você nunca pensou no cara neste modo, fica o convite. Não precisa somar 25 ou 30 pontos por jogo para ser caracterizado como “craque”, a despeito do que ainda se prega por aí). Draymond pode, ao mesmo tempo, ser o último homem da linha defensiva do Warriors, protegendo o aro, enquanto, no ataque, é capaz de jogar como um armador de fato, criando a partir da cabeça do garrafão, mesmo que Shaun Livingston esteja em quadra – coisa que aconteceu diversas vezes no período em que Curry estava afastado, se recuperando de uma torção no joelho. Draymond também é o principal reboteiro do time, enquanto estica a defesa com a ameaça do chute de três, mesmo que tenha errado seus últimos oito arremessos em Cleveland. Draymond vai fazer de tudo para atrapalhar LeBron na defesa e, se conseguir brecar o astro, já é mais uma opção para o desafogo em transição.

Enfim, o cara faz de tudo em quadra e é a figura essencial para essa “Escalação da Morte”, para além do poderio ofensivo de Curry e Thompson, e simplesmente não há como substituir tudo o que ele entrega em quadra. Se os Splash Brothers estiverem no melhor ritmo, caminhando para os 30 pontos cada – tal como naquele histórico Jogo 6 contra OKC –,  fica mais fácil. Mas não dá para contar o tempo todo com isso, nem mesmo com a estreia extraoficial da dupla na quinta partida. O que resta a Kerr, então? Uma sensibilidade aguçada para atender a qualquer necessidade imediata da equipe, com alterações pontuais, imaginando que o quinteto inicial terá Curry, Thompson, Iguodala, Barnes e Bogut.

Varejão pode muito bem ser requisitado para ajudar defesa e rebote do Warriors

Varejão pode muito bem ser requisitado para ajudar defesa e rebote do Warriors

O problema é tentar remediar um lado e se atrapalhar do outro. Taí a relevância de Draymond. Pela terceira vitória, ele ficou em quadra por 42 minutos, que terão de ser distribuídos entre reservas, justamente num momento no qual Kerr estava preparado para enxugar a rotação. Curry (40), Thompson (39) e Barnes (40) já haviam recebido pesada carga, assim como Iguodala (37). Supondo que nenhum deles tenha problemas com falta e que, a essa altura do campeonato, o técnico possa dar mais alguns minutinhos aqui e ali, você até poderia descontar mais seis minutos dos 42 que vai ter de repor. Sobram, ainda, 36. Três períodos inteirinhos.

Uma certeza: Harrison Barnes vai ter de jogar muito. Talvez a partida de sua vida, com um foco inicial: rebotes. Dormir pensando em rebote, acordar pensando em rebote. Almoçar pegando em rebote. Dirigir para o ginásio pensando em rebote. Deu para entender, né? Na temporada regular, ele teve média de 4,9 por jogo. Na série final, 5,5. Em apenas três rodadas, o atlético ala de 2,03m, forte toda a vida, saiu de quadra com mais de 10 rebotes: 12 no Jogo 1 contra Portland, e 11 contra Utah e Indiana pela temporada regular. Mas você acha que é só? Não, também seria bom converter seus arremessos de fora (tal como aconteceu no último duelo, com quatro cestas) e, se possível, ainda colocar a bola no chão para atacar a cesta se houver brecha. Uma atuação para quem pensa em ganhar mais de US$ 20 milhões anuais já a partir de julho.

FINAIS DA NBA
>> Jogo 1: Livingston! Os reservas! São as finais da NBA

Mais: Leandrinho voltou a ser um vulto. Na melhor hora
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Mais: São sete derrotas seguidas, e LeBron está cercado
>> Jogo 3: Enérgico, Cavs responde na série das lavadas
Mais: Love sai do banco, mas como fica o Cavaliers?
>> Jogo 4: Curry desperta, mas não só. GSW perto do bi

Será que Bogut vai conseguir se segurar em quadra? Improvável. O australiano jogou apenas por dez minutos em Cleveland, e a verdade é que, nestas finais, sua presença em quadra tem significado basicamente. Dentre os quatro quintetos mais utilizados na série, aquele que tem o gigante no garrafão é o único de saldo negativo. Um saldo pavoroso, na verdade, com -19,7 pontos. Isto é: a “Escalação da Morte” ganha outro sentido. É a morte do próprio Golden State.

Quem deve jogar muito mais é Shaun Livingston, que recebeu 19 no último jogo. A dúvida que fica é se um reserva, mesmo de alto nível assim, pode manter sua efetividade em um período mais longo. Leandrinho também deve retornar ao time. Os dois são importantes como criadores e agressores no ataque. Mas o tempo de ambos depende muito da produção do Cavs também. Se Tristan Thompson e, principalmente, Kevin Love estiverem inspirados, assertivos no garrafão, aí o Warriors vai ter problemas. Aí Varejão deve ser chamado, a julgar pelo que o treinador anda fazendo nos playoffs. Festus Ezeli está jogando muito mal. James Michael McAdoo tem mobilidade e impulsão para brigar e sua mobilidade e até foi acionado para jogar na sexta, de modo surpreendente. Mas ainda é muito cru para receber muito mais do que sete minutos. As próximas reuniões de Kerr com seus assistentes vão ser muito interessantes.

De repente, os atletas do Warriors, pês da vida, joguem muito e esculhambem com o Cavs e a liga, para ‘vingar’ seu All-Star. Foi o tema das entrevistas deste domingo, claro. Vejam esta obra de arte de Marreese Speights, por exemplo: “É muito zoado suspender um cara por nada. Se alguém põe as bolas em sua cabeça, o que você deveria fazer? As bolas estavam na parte de trás de sua cabeça. É meio que zoado, cara, mas fazer o quê?”, manifestou o pivô que ainda usaria o Twitter para postar um emoji de uma mamadeira. “Quando alguém faz uma coisa dessas, você meio que perde o respeito por ele. Tinha muito respeito por LeBron por sua carreira, desde que estava no high school. Mas fazer uma coisa dessas só para causar a suspensão de alguém? Isso é meio que desrespeitoso.”

Vai ter de ser uma partidaça, mesmo, para substituir alguém que, para o seu sistema, é insubstituível. Pelo menos não por um atleta só. Ao ser suspenso, Draymond Green está até mesmo proibido de entrar na Oracle Arena. Assim diz a regra liga. Se o Warriors vencer e garantir o bicampeonato, ainda está sendo discutido se ele poderá se juntar aos companheiros, pois o protocolo aparentemente não dava conta de uma situação destas. Depois de tomar uma decisão sobre um episódio controverso como o do entrevero em quadra, isso parece muito mais fácil, de qualquer modo.

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Love pode ser reserva no Jogo 4. Como fica o Cavs?
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Giancarlo Giampietro

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Entrando com link ao vivo direto do vestiário do Cleveland Cavaliers, o repórter Renato José Ambrósio, da ESPN Brasil, relatava como Kevin Love havia passado todo sorridente pelo recinto, saudando seus companheiros, após a espantosa vitória por 30 pontos sobre o Golden State Warriors pelo Jogo 3 das finais da NBA.  Resta saber se ele ainda ficaria tão empolgado assim caso consultasse o Google para ver o que os jornalistas estavam repercutindo sobre esta surra que havia acabado de testemunhar fora da quadra. Mas não só essa corja do reportariado, não. Jogadores dos mais diversos perfis, como o classudo Vince Carter e o descontrolado Markieff Morris, também empunharam a corneta.

Independentemente do que estava sendo publicado, LeBron James saiu de peito estufado, mas isso é o natural. Kyrie Irving redescobriu sua ginga e JR Smith, seu arremesso e a coragem para arremessar também. Richard Jefferson deveria estar fazendo flexões que nem um maluco pilhado. Tyronn Lue talvez tenha se dado ao luxo de acender um charuto e abrir a melhor champanhe disponível na arena, se livrando de um fardo – pelo menos por uma noite. Agora… Quanto a Love, o que dá para dizer é que o amor realmente não estava no ar. (Mil perdões pelo trocadilho, mas é que parece obrigatório fazê-lo, não? É maior do que o bom senso.)

A partida ainda não havia nem acabado. Ainda estava rolando o primeiro tempo, na real, quando o desempenho arrasador dos donos da casa já sugeria esse questionamento que vai durar até a noite de sexta-feira, quando a bola subir para o Jogo 4: será que o Cavs melhora sem o ala-pivô? Lembrando, para quem não sabe, que o jogador ainda está vetado pelo departamento médico do clube, ainda sob efeitos de uma concussão, causada por uma cotovelada involuntária de Harrison Barnes pelo segundo jogo.

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De primeira, considerando o resultado de 120 a 90, a resposta parece óbvia e inclemente, não? Deu no que deu. Mas não dá para dizer que tudo se explica pela ausência. Seria muito simplista atribuir uma vitória desse tamanho ao fato de Love estar assistindo ao espetáculo. Da mesma forma que a equipe não apanhou em Oakland só por contar com ele. Cada jogo conta uma história, como bem podemos notar nesta série, e a alternância de um dia para o outro pode ser influenciada pelos fatores mais aleatórios. Nesta quarta, o Cavaliers precisava vencer de qualquer maneira. Ou isso, ou seriam obrigados a vencer quatro partidas seguidas contra um adversário que, no ano inteiro, só foi derrotado 14 vezes em 101 partidas. Para o time anfitrião, como LeBron havia colocado, era matar ou morrer, exigindo esforço absoluto. Uma situação extrema, por mais que pensar os Jogos 1 e 2 de uma decisão de NBA como temas menos urgentes seja absurdo.

Nos 38 minutos em que o ala-pivô esteve fora de quadra durante as duas primeiras partidas, o Cavs foi superado por 32 pontos – dos 48 negativos que havia acumulado, vejamos. Em termos de pontos por posse de bola, o quinteto titular com Irving, JR, LeBron, Love e Tristant, a formação mais usada nos playoffs e vinha tendo sucesso. Ainda nestas finais (com 32 minutos), teve o saldo menos pior, com -8,9 pontos.

Ok. Mas perder por 8,9 pontos a cada 100 posses deixaria o Cleveland entre os piores times da liga durante a temporada regular, por exemplo. Estava longe do ideal. Então talvez, independentemente de uma concussão, fosse a hora de Tyronn Lue buscar novas soluções. Pois o Jogo 3 vai forçar o treinador a abrir a cabeça, mesmo, e pensar bem no que fazer daqui para a frente. Quais foram as consequências mais óbvias dessa mudança?

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Mais: São sete derrotas seguidas, e LeBron está cercado
>> Jogo 3: Enérgico, Cavs responde na série das lavadas

Ao escolher Richard Jefferson como o substituto, em vez de Channing Frye (que tem posicionamento e papel semelhante ao de Love), Lue viu o Cavs ganhar muito mais agilidade e mobilidade, atacando e defendendo. Por mais peso que Kevin Love tenha perdido desde sua entrada na liga em 2008, ainda estamos falando de um jogador que contribui em transição muito mais com seus maravilhosos passes longos logo na sequência de um rebote ou como chutador de três pontos sendo justamente o último a chegar ao ataque, recebendo o passe de dentro para fora. Não que Jefferson seja superior, por mais que esteja contribuindo nas últimas duas partidas. Foi só uma questão do encaixe, da composição de um quinteto que renda melhor especificamente contra o Golden State.

Jefferson, aos 35 anos, simplesmente não pára em quadra e ainda tem capacidade atlética para incomodar quando corta para a cesta sem a bola, balançando a defesa do Warriors, e também colocando seu próprio time em movimento. Para Love, a dinâmica é a aposta. Em Cleveland, o jogador de 27 anos geralmente é acionado de costas para a cesta para jogar em mano a mano ou tem de abrir e estacionar na linha de três esperando o desfecho de alguma trama de LeBron ou Irving. Ainda é um jogador efetivo nesse tipo de jogada, mas está basicamente parado em quadra.

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Contra uma defesa tão agressiva e bem preparada como a do Warriors, essa abordagem permite que os marcadores se aproximem dele e recuperem sua posição original com maior facilidade. Na defesa, o veterano ala também cobre muito mais espaço, combatendo Harrison Barnes ou Andre Iguodala tranquilamente, assim como o espigão Shaun Livingston. Já Channing Frye, regristre-se, foi constantemente atacado por Barnes no segundo período, sem conseguir parar o ala, justamente no melhor momento do adversário no confronto.

Outro fator que pode ter contribuído: sem Love, LeBron e Irving tiveram mais chance para atacar. Não só em termos de espaçamento como em oportunidades, mesmo, de ficar com a bola. Não havia a preocupação de envolver o ala-pivô e deixá-lo motivado – uma novela que se arrasta desde 2014, com seus treinadores buscando soluções para tirar o máximo de proveito dos recursos do jogador . Os dois astros que foram para a quadra tentaram juntos 51 arremessos, praticamente divididos em 50% para cada. LeBron, operando basicamente na cabeça do garrafão, atacando frontalmente, só tentou um a mais.

Dado o resultado surpreendente da partida, já há, então, esse forte clamor para que Love fique no banco. Isso para quem ainda conta com o jogador. Houve mesmo que sugerisse, fazendo piada ou não, que ele nem voltasse. Ainda que Lue pareça disposto a enxugar ainda mais sua rotação, banir Love seria um exagero. Se for manter o quinteto com Jefferson, LeBron e Thompson entre os titulares, Love poderia ser utilizado de modo pontual, contra a segunda unidade do Golden State, tal como OKC fez com Enes Kanter na final do Oeste ou como o próprio Golden State lidou com David Lee no ano passado. O problema? Mesmo nesse cenário, o ala-pivô ainda teria de perseguir Draymond ou Barnes. A não ser que Marreese Speights ou Festus Ezeli estejam em quadra.

O mistério é saber como Love reagiria a um eventual rebaixamento. Em tese, como Andre Iguodala nos ensina, deveria valer tudo em nome do time, né? O sucesso coletivo viria antes do brilho individual. Acontece que o ala-pivô  não é dos personagens mais fáceis de se dobrar. Segundo Marc Stein, do ESPN.com, após participar de um treino leve pela manhã, ele estava crente que iria para o jogo. Mas não foi liberado pela equipe composta pelo médico Dr. Alfred Cianflocco e o fisioterapeuta Steve Spiroe, ambos da franquia,  e do médico Jeffrey Kutcher, da NBA, e ficou pê da vida. (Atualização: a mídia de Cleveland agora diz que um retorno do jogador é provável para esta sexta-feira, e como reserva, mesmo, sem citar fontes oficiais.)

Também há um contexto complicado aqui, com muita história. Dependendo da reação, do que se passar em quadra e do desfecho da série, não é descabido dizer que Love pudesse até mesmo estar se despedindo do clube. Isso são os repórteres que cobrem o Cavs diariamente que dizem. (A propósito, que tal Love por Melo?)

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Agora sob luz mais intensa ao lado de LBJ, o veterano viu sua cotação se desvalorizar bastante desde a saída de Minnesota, de forma justa ou não. Depois de ter custado ao Cavs um prodígio como Andrew Wiggins, o número um de seu Draft, em 2014, agora há quem duvide que o clube conseguiria até mesmo um combo de Avery Bradley e Jae Crowder (independentemente da matemática salarial) pelo jogador. Os mais críticos falam sobre sua lerdeza e desatenção na defesa. Além de sua dificuldade para se integrar a um grupo – neste caso, LeBron foi um dos que jogou gasolina na fogueira, com diversas indiretas em redes sociais ou mesmo em entrevistas, reclamando de sua suposta postura de lobo solitário.

Tyronn Lue está ciente de tudo isso, claro. Os dirigentes e companheiros de time também. Se o técnico, jogador, elenco a diretoria vão se deixar influenciar por esse dilema, se vão pensar tão somente naquilo que acreditarem ser o mais útil para tentar empatar a série e lutar pelo título, talvez seja a principal pergunta do momento. Em sua coletiva pós-jogo, Lue se saiu bem e ganhou tempo. Um repórter o questionou: se Love estiver liberado para jogar na sexta, ele espera usá-lo? O treinador respondeu com uma pergunta, se precisava realmente dizer isso ali em público. O jornalista rebateu que isso era ele quem decidiria. Lue sorriu e emendou: “Não vou te dizer”. Talvez esteja jogando com a concorrência, para deixar Steve Kerr e seus assistentes em dúvida, no que teria toda a razão. Talvez nem tenha uma decisão tomada. De qualquer forma, a resposta é difícil. Por ora, o nome e o jogo de Kevin Love ficam no ar, mesmo .

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