Plantão médico: lista de enfermos é ameaça séria nos playoffs da NBA
Giancarlo Giampietro
Quer uma tradição impregnada nos Playoffs da NBA? Daquelas mais desagradáveis e, ao mesmo tempo, mais importantes para a definição de um título? Que pode ter tanta influência no resultado final de um campeonato como toda a preparação, todo o refinamento tático obtido em uma looooonga temporada? A contagem de feridos. As lesões, mesmo.
E aí que você pode falar também de sorte ou azar, ainda que o trabalho de um técnico e seu estafe médico possam ajudar na prevenção delas…
Mas pegue por exemplo o caso de Tiago Splitter. O pivô foi para as finais da liga por dois anos seguidos. Pode ter dito não a Rubén Magnano em 2013, mas aceitou nova convocação no ano passado, para a Copa do Mundo. Não dá para saber o quanto a carga extra de treinos e jogos, num mês que seria de férias, deixa o atleta em uma situação mais propícia para sentir algo. O que dá para dizer, imagino, é que ajudar, não ajuda, e que o catarinense não conseguiu fazer a pré-temporada ideal, perdeu quase 20 jogos no início da campanha e demorou um tempo para entrar em forma, lidando com problemas musculares na panturrilha (uma área sempre complicada). Sem pressa, com um elenco vasto, o clube texano teve toda a precaução do mundo com ele, como de praxe. Sabemos como Gregg Popovich é extremamente consciente no uso de seus atletas. Mesmo assim, Splitter teve o azar de, a duas semanas dos mata-matas, voltar a sentir dores bem incômodas.
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(Um parêntese importante: não estou dizendo que ele não deveria ter jogado o Mundial. O pivô muito provavelmente ficaria bem irritado só com a mera insinuação, por ser daqueles que só abriu mão da seleção uma única vez, e num torneio que, convenhamos, sua presença era totalmente desnecessária. Só faço a lembrança aqui para percebermos como esse tipo de questão é muito mais complexa do que ser patriota ou fugir da raia – e de como diversos fatores interferem na caminhada de um time de NBA. Do ponto de vista do torcedor brasileiro, tudo ótimo. Agora vá perguntar para os admiradores do Spurs o que eles pensam a respeito.)
Por mais formidável que seja o plantel de Pop e RC Buford, talvez o mais vasto da liga, que Aron Baynes tenha comprovado suas virtudes em sua melhor temporada nos Estados Unidos (joga duro demais, bom finalizador, mas um tanto robótico, nada criativo) e que Boris Diaw tenha redescoberto em março a alegria de se jogar basquete, já deu para reparar a importância do pivô na equipe, não? Com Splitter em quadra, a defesa fica bem mais sólida, aumentando a densidade demográfica no garrafão. Algo importante para enfrentar Blake Griffin e DeAndre Jordan, por exemplo. O ataque também funciona com ele, mas sua efetividade vai depender do sistema do adversário. De qualquer forma, pergunte ao seu técnico sobre sua importância. “Gostaríamos jogar com ele o máximo que pudéssemos”, disse antes de a série contra o Clippers começar. “Mas vamos ver.”
Neste domingo, no plantão corujão, pudemos ver, então, o brasileiro em ação, pela primeira vez desde o dia 3 de abril, numa vitória arrasadora contra o Denver Nuggets, quando o Spurs dava indícios de que havia novamente potencializado toda a sua fantástica química em quadra. Com uma escalação decidida apenas no domingo mais cedo, Tiago teve seu tempo controlado: jogou por exatos 9min57s de jogo, terminando com 4 pontos, 3 rebotes e 3 faltas, além de uma assistência e um roubo de bola. Foi máximo que Popovich pôde usá-lo. Afinal, ele só havia feito um treino, e com participação limitada, em 16 dias.
Baynes atuou por 20 minutos. Diaw, por 28. Tim Duncan ficou com sua tradicional meia hora de partida. Quando o veterano foi para o banco, a equipe sentiu. Ali poderia estar Splitter tentando ao menos incomodar uma figura assustadora como DeAndre Jordan – só Andre Drummond tem hoje essa combinação de altura, envergadura, impulsão e ombros largos. Jordan descansou por menos de dez minutos. Blake, por menos de seis. Estavam quase sempre em quadra, sendo muito agressivos, combinando para 35 pontos, 26 rebotes, 7 tocos e 7 assistências. Clippers 1 a 0, com 15 pontos de vantagem.
O torcedor do Spurs, porém, não é o único a se lamentar. Longe disso. Basta pegar o celular e trocar mensagens com a galera do Trail Blazers para sentir o drama. O departamento de infográfico de qualquer emissora de TV precisa estar muito atento nos jogos entre Portland e Memphis. A lista de enfermos é gigante, sempre com o risco de se adicionar mais um – ou de ter atualizar o status deles. Na série Rockets x Mavericks, teve atleta que precisou até mesmo calçar um tênis de numeração maior que a sua para devido a um inchaço no dedão.
E aí? Não há como negar que a temporada de 82 jogos causa um desgaste absurdo. Por mais que os atletas viagem em voos fretados, com acentos personalizados. Por mais que possam pagar um estafe médico e de preparação física por conta própria. Há um limite que o corpo pode aguentar. Dia desses, Rafael Uehara, que já deu sua contribuição valiosa aqui no VinteUm, destacou no Twitter uma passagem interessante no livro Soccernomics, sobre como o excesso de jogos do futebol inglês impede que a seleção do país faça boas campanhas em seus torneios. É uma declaração de Daniele Tognaccini, chefe do departamento atlético do Milan Lab, explicando o que acontece quando um jogador de futebol tem de disputar 60 partidas em um ano: ‘O nível de performance não é otimizado. O risco de lesão é muito alto. Podemos dizer que o risco de lesão em um jogo, depois de uma semana de treino, é de 10%. Se você joga a cada dois dias, o risco cresce para 30 a 40%. Se você joga quatro ou cinco partidas seguidas sem a recuperação certa, o risco de lesão é incrível. A probabilidade de você ter uma performance abaixo de sua capacidade é muito alta”.
Agora tente traduzir essa declaração para o mundo da NBA. O jogo de futebol pode ter maior duração (90 minutos x 48), mas vá falar para um ala do basquete ficar encostado na ponta direita da quadra, na sombra, esperando que seus quatro companheiros protejam a cesta do outro lado… Quer dizer: é difícil de dimensionar quais os cálculos que Tognaccini faria. O comissário Adam Silver sabe disso. Tanto que, em sua coletiva após a última reunião com os proprietários de clubes, afirmou que há uma preocupação (enfim!) séria em reduzir os famigerados back-to-back (dois jogos em duas noites consecutivas) e as semanas de quatro partidas em cinco dias.
Pensando nisso, segue a relação dos lesionados. Ou, pelo menos: dos atletas oficialmente lesionados. Aqueles que os clubes se sentem obrigados a informar. Inúmeras ocorrências não vêm a público, como Serge Ibaka nos explicaem uma entrevista bem bacana ao HoopsHype: “Veja, há muitas pessoas, torcedores e aqueles não estão dentro do time, que não sabem o que se passa. Você ouve gente falando que tal cara não está jogando bem. Mas eles não sabem o que está acontecendo. Posso dizer a você o que aconteceu comigo, por exemplo. Meu tornozelo estava doendo a temporada inteira. As costas também. Não é que eu tenha me lesionado apenas no final, que é o que todo mundo sabe. Eu machuquei meu tornozelo jogando com a seleção (espanhola, na Copa do Mundo…) durante o verão, e ele ficou ruim o tempo todo. Tive de tomar pílulas para poder jogar sem dor. Não sou só eu. Muitos dos meus companheiros passaram pelo mesmo problema”.
Também juntei aqui um ou outro caso de atletas que acusaram problemas em quadra ou em entrevistas, ainda que não tenham sido afastados. Sim, a temporada é desgastante demais, e suas consequências podem ser graves:
Atlanta Hawks
– Thabo Sefolosha: o ala suíço está fora da temporada devido a uma fratura na perna causada por ação de policiais em uma casa noturna nova-iorquina – sim, essa não teve nada a ver com a quadra. A diretora executiva do sindicato dos jogadores, Michele Roberts, está em cima do caso, cheia de suspeitas. Sem o suíço, Kent Bazemore vai receber minutos importantes numa equipe de playoff pela primeira vez, com a missão de sustentar uma forte defesa no perímetro quando DeMarre Carroll for para o banco. Sefolosha era o nome ideal para a função.
– Paul Millsap: jogando com uma camisa que faz compressão, além de uma proteção no ombro direito, depois de sofrer uma torção em jogo contra o Brooklyn Nets, na reta final da temporada. Mike Budenholzer ao menos respirou aliviado, por não ser algo mais grave. De qualquer modo, para um ala-pivô, não é nada legal jogar com o ombro dolorido. Pense nos movimentos que ele precisa executar em quadra.
– Mike Scott: o ala perdeu 11 jogos em março devido a uma bipartição e uma torção aguda no osso sesamóide do pé direito. Não, não foi uma fratura. Voltou em abril e sentiu uma contusão nas costas, perdendo treinamentos e mais uma partida.
– Al Horford: essa aconteceu na primeira partida da série contra o Nets, mesmo. Coisa de jogo, com o dedinho da mão direita virando para o lado contrário. Não houve fratura, só um deslocamento.
Boston Celtics
– A rotação vasta de Brad Stevens parece render benefícios: seus atletas simplesmente não constam no prontuário médico recente da liga.
Brooklyn Nets
– Bem… Deron Williams e Joe Johnson parecem jogar machucados o tempo todo, não?
– Mirza Teletovic: considerando a gravidade de sua questão médica, ao ser afastado por conta de uma embolia pulmonar, ter o bósnio de volta aos treinos é uma excelente notícia, na verdade. Mas ele ainda não está liberado para jogar. Já o ala Sergey Karasev está fora de vez, com uma lesão no joelho.
– Alan Anderson: o ala-armador reserva perdeu sete partidas em abril devido a uma torção de tornozelo.
Chicago Bulls
– Derrick Rose, vocês lembram, passou por mais uma cirurgia no joelho, dessa vez por causa de uma ruptura no menisco, e perdeu 20 partidas entre março e abril. Na primeira partida da série contra o Bucks, jogou demais, e era como se a torcida de Chicago vivesse um sonho. Rose pode ser uma influência para lá de positiva para a equipe. Só é preciso evitar a armadilha de pôr muita responsabilidade nas costas de um atleta que sofreu tanto nas últimas temporadas.
– Kirk Hinrich sofreu uma hiperextensão no seu joelho esquerdo na última semana do calendário regular. Há quem despreze tanto o veterano (um cara ainda muito útil na defesa), que essa ausência pode ser até comemorada.
– Taj Gibson sofreu um estiramento no joelho direito no primeiro duelo com o Bucks. Por sorte, Nikola Mirotic está pronto para receber mais e mais minutos, no caso de o excepcional defensor estiver abalado.
– Joakim Noah, para variar, joga com uma tendinite no joelho esquerdo.
Cleveland Cavaliers
– Anderson Varejão só poderá torcer por seus companheiros, em recuperação de uma cirurgia para reparar o tendão de Aquiles.
– Kevin Love (principalmente) e LeBron James foram poupados de treinos e jogos durante todo o campeonato devido a dores nas costas.
Dallas Mavericks
– Chandler Parsons está com uma joelheira direita mais larga que a coxa de Karl Malone. Vem enfrentando inchaço e dores daquelas. Na primeira partida, precisou sair de quadra e ir para o vestiário para receber tratamento. O Mavs precisa de suas habilidades ofensivas, especialmente o arremesso de longa distância, para abrir a quadra para infiltrações de Rondo e Ellis.
– Devin Harris: o inchaço é no dedão do pé esquerdo. Está tão inchado que o armador reserva enfrentou o Rockets no sábado usando um tênis maior na canhota, para tentar aliviar o desconforto. Sim, é verdade.
Golden State Warriors
– David Lee: fora do início da série contra o Pelicans devido a um estiramento muscular nas costas. E ninguém parece nem reparar, tamanho o crescimento de Draymond Green.
Houston Rockets
– Uma ruptura nos ligamentos do pulso esquerdo tirou o armador e excelente defensor Patrick Beverley da temporada. Quem também não joga mais pela equipe nesta jornada é o ala-pivô lituano Donatas Motiejunas, devido a uma lesão nas costas. Duas peças que ganhariam bons minutos. Beverley é um dos melhores marcadores em sua posição, jogando com uma energia descomunal, enquanto Motijeunas ofereceria uma referência no jogo interior mais segura que Josh Smith e Terrence Jones, para os momentos em que Howard for para o banco.
– Terrence Jones levou uma joelhada de Kenneth Faried nas costelas em duelo com o Denver Nuggets em março e teve uma perfuração no pulmão. É o mesmo ala-pivô que mal jogou em novembro e dezembro por conta de um problema nevrálgico nas pernas.
– Dwight Howard parou por cerca de dois meses para tratar de uma lesão no joelho direito, embora não houvesse nenhuma lesão estrutural. Ainda não está 100%, e seus minutos são vigiados até hoje por Kevin McHale.
– O ala novato KJ McDaniels tem uma lesão no cotovelo, mas dificilmente iria jogar, mesmo.
Los Angeles Clippers
– Também está no grupo dos times menos abalados no momento. Jamal Crawford, com uma lesão na panturrilha, era quem mais preocupava, mas parece devidamente recuperado. Blake Griffin também não dá sinais de que sinta algo no cotovelo
Memphis Grizzlies
– Mike Conley Jr.: ultimamente, só se fala de sua fascite plantar no pé esquerdo, com inflamação e dores, que quase não se comenta o fato de ele também estar jogando com dores no pulso esquerdo durante quase todo o campeonato. “Não acho que vou estar nem perto de 100%, mas nunca pensei que perderia um jogo de playoffs”, afirmou, antes da estreia contra o Blazers. Beno Udrih fez uma bela temporada, mas a equipe precisa demais de seu armador titular, pela defesa e a liderança.
– Tony Allen: o pitbull da equipe ficou fora das últimas dez partidas da temporada regular por conta de uma lesão na coxa. Retornou contra Portland e jogou por 25 minutos, ao menos. Está aqui o caso de um atleta que precisa estar bem fisicamente para render (pressionando os adversários de um modo sufocante, não importando a altura e o currículo deles), uma vez que sua habilidade com a bola deixa a desejar.
– Marc Gasol sofreu uma torção de tornozelo na penúltima partida da temporada, mas não parece nada grave.
Milwaukee Bucks
– Considerado um sério candidato ao prêmio de novato do ano, o ala Jabari Parker teve sua primeira temporada abreviada em dezembro por uma ruptura no ligamento colateral do joelho esquerdo. Khris Middleton aproveitou essa brecha, mas, para o futuro da franquia, é uma pena o atraso no desenvolvimento do número dois do Draft.
New Orleans Pelicans
– Tyreke Evans, um cara que depende muito de seu arranque para a cesta, sofreu uma pancada no joelho esquerdo no primeiro jogo contra o Warriors e foi para o segundo duelo no sacrifício. Talvez tivesse minutos controlados, mas Jrue Holiday não retornou bem de uma reação por estresse na perna direita que o afastou por metade do campeonato.
– Anthony Davis está jogando com o dedinho da mão esquerda protegido, depois de tê-lo deslocado. Aparentemente algo simples? Bem, no primeiro jogo ele estava segurando a mão sem parar, claramente desconfortável.
Portland Trail Blazers
– Wesley Matthews ficou fora de combate, após uma ruptura no tendão de Aquiles. Recuperado de cirurgia, tenta dar apoio moral aos parceiros no banco de reservas. Arron Afflalo, aquele que seria seu substituto, sofreu um estiramento no ombro em jogo contra o Warriors, no dia 9 de abril. Está fazendo treinos leves e pode retornar no segundo ou no terceiro jogo da série.
– LaMarcus Aldridge está jogando desde janeiro com um tendão da mão esquerda rompido. Precisa de cirurgia.
– Dorell Wright sofreu uma fratura na mão esquerda no início de abril também, em derrota para o Clippers. Só poderá jogar em maio, se o time estiver em atividade até lá.
– Como se não bastasse, Nicolas Batum (numa temporada para se esquecer) e CJ McCollum (o jovem ala-armador que estava começando a engrenar), se contundiram em jogo contra OKC no dia 13. O problema do francês foi no joelho direito, enquanto McCollum torceu o tornozelo esquerdo.
– Sim, tem mais um: Chris Kaman, limitado por contusão nas costas. E uma temporada que se desenhava muito promissora… ficou complicada demais.
San Antonio Spurs
– Tony Parker sofreu uma torção de tornozelo no primeiro jogo contra o Clippers. Teve uma campanha bem fraca para os seus padrões ao lidar com lesão e dores na coxa.
– Sobre Splitter, já falamos o bastante.
Toronto Raptors
– Kyle Lowry mal consegue parar em pé esses dias sem colocar a mão nas costas. É sempre um problema quando o jogador acusa dores ali. Inicialmente, os médicos na metrópole canadense não se mostravam preocupados. Três semanas depois, Dwane Casey já estava dizendo que ele não teria condição de jogar nem se já tivessem chegado aos playoffs. Foi afastado por nove partidas e, quando retornou, definitivamente não era mais o mesmo, acertando apenas 34,4% de seus arremessos nas últimas quatro rodadas, embora a pontaria de três pontos tenha sido elevada em relação a sua média.
Washington Wizards
– Para fechar, outro time que está abaixo da média em termos de uso de medicamento. Até mesmo Nenê parece estar bem, na medida do possível.