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Brasil se recupera e vence a Argentina. Notas sobre o jogo
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Giancarlo Giampietro

Benite marcou 12 pontos, mesmo chutando 3-12. Compensou com cinco lances livres

Benite marcou 12 pontos, mesmo chutando 3-12. Compensou com cinco lances livres

Com um bom atraso, alguns comentários sobre a vitória do Brasil sobre a Argentina, por 80 a 71, na noite desta terça-feira. Nem o link oficial, nem os “alternativos” estavam funcionando aqui no QG, então ficou para o VT pela manhã. Foi o terceiro amistoso entre os rivais nesta preparação para a Copa América, de modo que os times já se conheciam bem. O interessante desta série é que diversos novos protagonistas estão sendo introduzidos à maior rivalidade basqueteira sul-americana, de ambos os lados. Como o Marcus, por exemplo…

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Antes de falar sobre o jogo em si, vocês vão me desculpar se nos atermos a um pequeno ingrediente para lá de saboroso em quadra: a batalha entre Marcus Toledo e Andrés Nocioni. Em linhas gerais, numa partida de basquete, um duelo individual costuma ser só uma de diversas peças de um grande embate no plano geral. As chispas entre Marcus e Chapu, porém, tiveram significado especial. Primeiro porque pudemos ver o ala do Basquete Cearense cumprir em quadra aquilo que muita gente imaginava que ele pudesse fazer há anos. Anos, e não apenas desde o NBB6 e seu ótimo campeonato nacional por Mogi. Marcus é um ala-pivô combativo desde sempre, ganhando cancha nas divisões menores da Espanha e também na Liga ACB, até aprender a canalizar toda sua inesgotável energia de um modo mais eficiente na defesa. Foi o que fez contra um craque como Nocioni — e levou a melhor. O veterano argentino, aliás, experimentou de seu próprio veneno.

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Geralmente cabe ao campeão olímpico a posição de intimidador/agressor. Dessa vez, ele foi a vítima, ficando evidentemente surpreso e incomodado pelos seguidos desarmes de Marcus, a ponto de, no último deles, já no terceiro quarto, reclamar horrores com a arbitragem e ser excluído com cinco faltas e duas técnicas. Por essas e outras, Marcus precisa ser considerado a cada convocação. Você nunca chama apenas 12 atletas. Vai reunir um grupo, fazer cortes e, diante do que vê em treino, define seu grupo. Nem todo mundo que for para o banco vai ter um grande papel, volume de jogo e muitas oportunidades de arremesso. Para encontrar um equilíbrio, existem os operários. Está aqui um que pode ser muito valioso, a ponto de tirar, literalmente, um Nocioni do jogo. Sua importância foi muito além dos seis pontos (todos no primeiro quarto) e dois rebotes.

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Marcus entendeu rapidamente — e apreciou, naturalmente — qual era a natureza desse (coff, coff!) amistoso. Brasil e Argentina, para variar, fizeram um jogo muito físico. Ao todo, foram batidos  44 lances livres, com 24 para os hermanos. Esse combate vigoroso partiu muito muito mais da seleção de Rubén Magnano, talvez frustrada por ter sido oprimida na véspera pelo Canadá, e também por vir de duas derrotas. A pegada defensiva esteve até mesmo num nível acima do Pan, forçando 14 turnovers por parte dos argentinos, compensando a derrota nos rebotes (35 a 29).

Ricardo Fischer era outro exemplo claro essa atitude, mordendo a barra dos calções de Laprovíttola e Richotti, de um modo que deu gosto de ver. O armador do Bauru era mais baixo e menos veloz que os dois oponentes, mas isso não o impediu de fazer excelente papel defensivo, e não só por uma questão de agressividade. Ele se movimentou muito bem lateralmente, com um jogo de pés ágil e impressionante, algo que ele já usa tão bem no ataque. Se formos pensar, Fischer não é um jogador explosivo. Mas, pela inteligência e fundamentos, ele consegue levar seu time adiante no NBB, chegando aonde quer em quadra. Aos poucos, com a extensa bagagem que vai carregando nesta Copa Tuto Marchand, percebe-se que está se ajustando ao nível de competição em seleções e vai produzindo.

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Contra a Argentina, Fischer atacou muito mais a partir da linha de três, mantendo a bola viva com seu drible bem controlado e matando tiros em flutuação, mesmo sem ter por muito tempo a companhia de Augusto Lima, o tipo de pivô que facilita a vida do armador com seus cortes para a cesta, atraindo a defesa. O jogador do Murcia ficou limitado por faltas, cometendo quatro em 16 minutos. Na defesa, quem apareceu para cobrir Augusto foi Rafael Mineiro, um jogador que, sinto, não recebe o devido valor por estas bandas. Você não encontra todo dia um jogador com sua altura e mobilidade. Essa mobilidade pode não ser muito explorada no ataque da seleção (às vezes até mesmo por hesitação do próprio atleta, uma vez que me parece que Magnano tem confiança na sua habilidade para atacar vindo do perímetro). Na defesa, porém, ele vem sendo extremamente útil na defesa, para fechar espaços e acertar a cobertura.

Outros jogadores que não vinham tendo sucesso nesta semana em Porto Rico e renderam bem mais ao mudar a abordagem ofensiva contra a Argentina: Leo Meindl, muito bem nos oito minutos que recebeu no primeiro tempo, forçando inclusive um pedido de tempo de um Sergio Hernández pasmo com suas infiltrações pelo centro da defesa, e Guilherme Giovannoni, que primeiro atacou perto da cesta, correndo para valer em transição, para depois usar o chute de fora (fundamento que mais uma vez deixou a desejar do ponto de vista coletivo, com 33% de acerto, em 5-15).

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Não dá para negar que, entre os três primeiros adversários em San Juan, a Argentina é a que tem a capacidade atlética mais reduzida, de modo que o Brasil conseguiu se impor nessa esfera. De qualquer forma, observando essa atual formação de Hernández, percebe-se aqui e ali alguns jogadores que elevam o padrão habitual da seleção dos últimos anos. Nícolas Richotti já faz sucesso com suas arrancadas pela Liga ACB, então não é uma surpresa. O destaque aqui fica para os jovens alas Patrício Garino, da Universidade de George Washington, um excelente defensor, e Gabriel Deck, sensação nas competições de base da Fiba como um ala-pivô técnico, mas baixo e lento, e que reinventou seu jogo no adulto. São dois caras que vamos ver por anos e anos nas competições continentais.

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Magnano deu uma enxugada em sua rotação nesta terça, mesmo sendo o terceiro jogo em três noites. Sinal do que vem por aí? Danilo Fuzaro não foi para o jogo, assim como Olivinha. Meindl recebeu oito minutos e Marcus ficou com 16. Deryk, muito tímido com a bola, ganhou apenas cinco. Rafael Luz mais uma vez não se fardou. Esperemos que ele esteja bem para a Copa América, e que não seja nada além de medida cautelar da comissão técnica. Mesmo sem jogar, Olivinha dava sua contribuição em termos de animação no banco de reservas. Quando Marcus forçou a quarta falta de Nocioni, após um desarme, o ala-pivô do Flamenguista quase invadiu a quadra para cumprimentar o companheiro. Mesmo que, em teoria, eles sejam concorrentes.

O bacana foi ver novamente a pontuação distribuída, com quatro jogadores em duplos dígitos, liderados por um João Paulo Batista sempre eficiente (15 pontos, 56% de quadra e 5-5 nos lances livres). Da turma que foi para quadra, só Deryk ficou zerado, errando seus dois únicos arremessos, ambos de três.

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Todo paz e a mor com as câmeras de TV, o que é algo chocante, Magnano, pela primeira vez, censurou uma transmissão de TV contra a Argentina. Num determinado momento do quarto período, os adversários ensaiavam uma reação, e ele chamou tempo. Na hora de rabiscar uma jogada na prancheta, percebeu o que estava fazendo e, discretamente, se deslocou na rodinha para colocar seu traseiro de frente para as câmeras. Não era um gesto de ostentação, fiquem tranquilos. Ele só não queria que a concorrência tivesse acesso àquela jogada específica. A preocupação com esse trâmite era tanta que a instrução foi para que os atletas nem mesmo chamassem a jogada em quadra, para não dar bandeira. Jogos secretos, a gente se vê por aí.

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Por fim, reproduzo uma observação do narrador Álvaro Martín, da Fiba e da ESPN, sobre Magnano, que é algo que estamos realmente testemunhando mais vezes neste giro: o argentino tem por vezes deixado os pedidos de tempo na mão de José Neto e/ou Gustavo de Conti. De um modo geral, o treinador tem adotado postura mais leve também (sem deixar de espernear com seus atletas quando achar necessário, diga-se). Estaria o argentino preparando a transição para um mundo pós-Rio 2016? Martín falou sobre o treinador começar a se dedicar às categorias de base brasileiras, mas aí não ficou claro se era apenas especulação de sua parte ou resultado de conversas durante a semana. Magnano tem vocação para lidar com garotos e fez isso constantemente quando técnico da geração dourada de nossos vizinhos. Lembro muito bem de um Sul-Americano Sub-19 em Ancud, no Chile, em 2004, para o qual ele chegou durante a competição e, na hora da disputa por medalhas (e vaga na Copa América), rendeu um de seus assistentes para assumir o comando do time. Estava sempre perto das canteras, tal como faz Óscar Tabárez no futebol uruguaio. A ver.


Ritmo, energia, química, e a tempestade perfeita para a seleção
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Giancarlo Giampietro

seleção brasileira campeã do Pan de Toronto

Sendo julho, período de férias da garotada, a queda de produção do blog tem um timing ligerimante suspeito. Mas ainda não existem pimpolhos circulando pela base do conglomerado 21, e o mês foi de muito trabalho, mesmo, com algo como 33 dias trabalhados de 35 possíveis, em ritmo intenso. Só para deixar claro o porquê do sumiço e de como foi bem-vinda a colaboração de Rafael Uehara, para ao menos publicar algo durante o mês.

Posto isso, não quer dizer que não tenha dado para assistir a um jogo ou outro de basquete nesse meio-tempo, para evitar aplacar a tremedeira nas mãos e evitar que chegasse a uma crise de convulsão.

As ligas de verão? Infelizmente só consegui ver a de Orlando, perdendo a apresentação dos brasileiros em Las Vegas. Mas isso o Rafael conseguiu remediar, com seus scouts atenciosos em relação a Bruno Caboclo e Lucas Bebê. Nesta terça-feira, vou publicar também as notas de um experiente olheiro da NBA, que estava presente no ginásio, às quais tive acesso.

Antes disso, todavia, melhor falar sobre o que pude assistir para valer, e com grande satisfação, que foi a seleção brasileira campeã pan-americana – e que acaba de vencer Uruguai e Argentina em amistosos em Brasília.

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Bom, entre o torneio valendo ouro e o amistoso, já são sete vitórias seguidas. O basquete apresentado no Nilson Nelson foi o mesmo de Toronto? Claro que não. Nem poderia ser, e isso tem mais a ver com o calendário um tanto espaçado e traiçoeiro do que com o nível dos adversários. A seleção teve de ser preparada para um pico de performance, tanto do ponto de vista técnica como do físico de 21 a 25 de julho. Agora, encaminha nova preparação para um torneio que vai começar mais de um mês depois, de maior duração (espera-se…), lembrando que estamos falando de meses nos quais, supostamente, esses caras deveriam estar parados.

Aliás 1: como chamar essa temporada de seleção tão longa? Pré-e-pós-temporada-tudo-ao-mesmo-tempo? Flamengo, Bauru, Murcia… É bom que os clubes estejam atentos desde já em relação ao estado dos atletas em sua apresentação. Por mais jovem que seja o grupo, tem de tomar cuidado.

Aliás 2: se o plano de Magnano é contar com a tropa de choque veterana da NBA nos Jogos do Rio 2016, tanto melhor que não a usasse agora, especialmente depois de uma campanha pela qual só Leandrinho passou incólume.

Aliás 3: a vaga olímpica ter sido garantida ao país-sede vale como um alívio ainda maior considerando os dois fatores acima. Mais a respeito será tratado durante a semana, mas dá para dizer aqui que, esportivamente, comemora-se. Pensando nas constantes vezes que a CBB flerta com o desastre e até mesmo faz da vergonha um eufemismo, não há nada o que festejar, pensando no futuro.

>> Ouro em Toronto só confirma a impressionante ascensão de Augusto Lima
>> Teria Rafael Luz feito o suficiente para se garantir na armação da seleção?

Agora, voltando à quadra. Deu para se notar um certo zum-zum-zum sobre como este Pan não poderia valer tanto assim, já que todos os principais adversários estavam formados por times em versão beta. Inegável isso, mas a seleção brasileira também não era, até a hora que entrou em quadra, favorita a nada.

Benite chegou ao Pan embalado por excelente playoff do NBB

Benite chegou ao Pan embalado por excelente playoff do NBB

O time de Ruben Magnano simplesmente dominou rivais de nível técnico – ou bagagem internacional, no mínimo – equivalente. E dominou devido ao excelente padrão de jogo apresentado. Padrão de jogo que turbina o talento disponível, como em qualquer time campeão. Você não vai vencer só pela técnica ou pela tática. Vai vencer quando as duas andam em conjunto, quando um treinador faz uma boa lista e tira o melhor daquilo que tem em mãos. Não há outro “se”, ao meu ver, para ser ponderado aqui. Acho que podíamos combinar uma coisa: falar que é a seleção jogando. Sem B, C ou D. É o time convocado, que se apresentou, treinou e ganhou.

Foi o que aconteceu em Toronto, e algo bem diferente do que vimos em Guadalajara 2011 ou na Copa América 2013, por razões diferentes. Para o México, Magnano admitiu que reuniu o time já no avião, indo à base de catadão, mesmo. Dois anos depois, na Venezuela, o treinador jurava que contaria com seus principais nomes (mesmo num torneio em que Luis Scola e Greivis Vásquez eram verdadeiras aberrações) e se atrapalhou todo na hora de fazer as emendas necessárias. Ficou com um arremedo de equipe, sem coesão alguma entre as peças, perdendo para Uruguai e Jamaica. O maior vexame sobre o qual se tem nota, na quadra.

Desta vez, com planejamento adequado, tudo mudou. O título pan-americano obviamente começou a partir da convocação, muito mais razoável. Magnano formou uma equipe balanceada. Tão importante também foi o respeito pelo que aconteceu durante a temporada – algo que, por uma razão difícil de compreender, nem sempre acontece. Os nomes podem não ter sido tão revolucionários assim, em termos de material novo, mas foram pinçados todos atletas que jogaram muita bola no Brasil ou na Europa. Benite e Olivinha terminaram o ano voando pelo Fla. Augusto foi um dos cinco melhores pivôs da Liga ACB, sob qualquer avaliação. Rafael Luz se despediu do Obradoiro aclamado pela torcida. João Paulo foi campeão francês. Ricardo Fischer e Rafael Hettsheimeir ganharam quase tudo por Bauru. Marcus já atormenta os atacantes do NBB há tempos. Etc. Etc. Etc. Isso serve para confirmar o talento brasileiro por vezes subestimado. Não precisa de um selo de NBA ou Euroliga para se corroborar a qualidade de um atleta e, principalmente, de uma equipe.

A partir daí, foi entender a melhor forma como encaixar essas peças. Não era tão difícil assim. O grupo tinha bons armadores com propensão ao passe. Rafael e Ricardo podem ser jovens, porém já têm boa cancha, se não em competições pela seleção, mas em jogos de grande relevância por seus clubes. Havia bons arremessadores, com Benite, Meindl, Hetthsheimeir. Pivôs flexíveis como Augusto e Olivinha, e de habilidades distintas que combinavam muito bem, como os bons corta-luzes e cortes para a cesta de Augusto, o jogo de costas para a cesta de JP e mais chute.

De nada adiantaria, porém, se não houvesse química entre esses atletas, e até nesse aspecto a lista é, vá lá, extremamente feliz. É só ver o Marcus vibrando (em vez de urrando de dor), estirado na quadra do Nilson Nelson, depois de cavar uma falta de ataque da Argentina. O ala, agora do Basquete Cearense, é uma das tantas personalidades agrupadas de astral e energia elevados.

Isso não é conversa fiada e facilita o entendimento em quadra. Algo que foi basicamente impecável durante o Pan. A agressividade na marcação exigida por Magnano ganhou também a cobertura de uma defesa interior muito sólida. A boa defesa leva ao contra-ataque, e a execução em transição está no DNA. Quando não houve oportunidade para a definição rápida, o time cumpriu, creio, o melhor ataque em meia quadra sob gestão do argentino, com espaçamento e ritmo.

Por falar em ritmo, retomamos a produção normal do blog nesta semana, acompanhando como a seleção, com essa tempestade perfeita que vimos em Toronto, vai se virar contra oponentes mais qualificados.


CBB divulga time do Pan, rodeada por questões financeiras e políticas
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Giancarlo Giampietro

Um dos treinadores da seleção no Pan está na foto

Um dos treinadores da seleção no Pan está na foto

Começou, e daquele jeito.

ACBB divulgou nesta segunda-feira a primeira lista de Rubén Magnano para a temporada 2015 da seleção brasileira. Foram 12 atletas relacionados para a disputa do Pan de Toronto, a partir do dia 21 de julho. Não consta nenhum  nome da NBA. Em relação ao time da Copa América do ano passado, são apenas três caras. Até aí tudo normal, compreensível. O inacreditável, mesmo, é que, a menos de dois meses para a competição, o argentino não sabe se vai para o Canadá, ou não, já que a Fiba ainda não se posicionou de modo definitivo a respeito de uma vaga para o Brasil no torneio olímpico do Rio 2016.

Para quem está por fora do ba-fa-fá, é isso aí: a federação internacional faz jogo duro e ameaça acabar com essa história de posto automático para o país-anfitrião nos Jogos. Algo com que até mesmo a Grã-Bretanha, sem tradição alguma, com um catado de jogadores, foi agraciada em 2012. Por quê? Pelo simples fato de a CBB enfrentar problemas para pagar uma dívida com a entidade, conforme relatam Fabio Balassiano e Fabio Aleixo. Dívida que decorre do pagamento de US$ 1 milhão por um humilhante convite para a disputa da Copa, depois de um fracasso na Copa América de 2013, no qual a seleção saiu sem nenhuma vitória e com derrotas até para Jamaica e Uruguai. Lembrando que faz tempo que a confederação nacional está no vermelho e hoje faz um apelo em Brasília por algum patrocínio estatal para complemento de renda.

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Quer dizer: nos bastidores, o Brasil já está sendo derrotado, e isso não ajuda em nada a vida de um técnico. Seja um campeão olímpico que nem Magnano ou um bicampeão do NBB, como José Neto, a quem caberia o comando da seleção pan-americana caso o argentino precise concentrar esforços na equipe da Copa América, o torneio que classifica as equipes do continente para as Olimpíadas. Ambos os técnicos trabalham juntos há anos, e, numa eventual divisão de esforços, supõe-se que não haverá problema de choque de gestão. Mas, claro, não é um cenário ideal.

Escritório de Carlos Nunes ainda aguarda o fax da Fiba

Escritório de Carlos Nunes ainda aguarda o fax da Fiba

Há dois meses, assistindo a embate entre Flamengo e Mogi, numa de suas raras aparições públicas durante a temporada 2014-15, o treinador principal da CBB  julgou que havia “muita possibilidade” de que não iria para o Pan.  O torneio de basquete dos Jogos de Toronto vai ser disputado entre os dias 21 e 25 de julho. Já a Copa América vai ser realizada no México a partir de 31 de agosto. “As datas de preparação batem e não posso me descuidar. O foco está na classificação para os Jogos Olímpicos”, afirmou.

Caçulas da NBA estão fora
Outro conflito de agenda ligado à metrópole canadense resultou na exclusão de dois nomes da lista pan-americana: Bruno Caboclo e Lucas Bebê. No caso, a restrição é da parte do Raptors, a única franquia canadense da NBA, que solicita a presença do ala e do pivô no time que vai disputar a Liga de Verão de Las Vegas de 10 a 20 de julho. Os dois estavam nos planos para esse time mais jovem, mas nem foram convocados. Ao menos este foi um avanço, para se evitar o desgaste de uma convocação que certamente resultaria num pedido de dispensa.

“Quero agradecer ao Magnano por ter sido compreensivo e continuar acreditando em mim. É uma decisão difícil, deixar de disputar um campeonato como o Pan, especialmente na cidade em que eu moro atualmente, mas é um investimento que estou fazendo na minha carreira, preciso me dedicar ao Toronto nesse verão”, disse Bebê, em comunicado. “Ele entendeu meus motivos e agradeço. Deixei claro que pode contar comigo, mas que esse era um momento de mostrar meu basquete e buscar meu lugar no Raptors para a próxima temporada. Quero que o meu futuro seja na Seleção Brasileira, ter a minha história com a camisa do Brasil, e vou fazer o meu máximo para que isso aconteça”, completou Caboclo, no mesmo despacho.

Temporada teve mais atividades extraquadra do que em jogos oficiais

Temporada teve mais atividades extraquadra do que em jogos oficiais

Aqui vale uma observação: o Raptors investiu muito para contratar os brasileiros, e a liga de verão é encarada pela diretoria como um evento importantíssimo para o estabelecimento de ambos os jogadores, que tiveram pouquíssimo tempo de jogo em uma temporada cheia de percalços na liga americana. Ambos precisam mostrar serviço, ainda mais depois do frustrante desempenho que o time teve nos últimos meses, até ser varrido pelo Washington Wizards nos playoffs. Mais: se os dois mal jogaram durante o ano, não dá para dizer que mereciam um lugar automático na seleção. Devido ao potencial, poderiam ser chamados, mas o  justo era que lutassem por uma vaga durante o período de treinos.

Os caras do Pan
Até porque a lista divulgada sob a capitania por Magnano é forte, com alguns nomes jovens, mas já de boa rodagem internacional. O destaque da convocação fica por conta do pivô Augusto Lima, um dos atletas que mais se valorizou na temporada europeia, arrebentando pelo Murcia, da Liga ACB. Raulzinho, seu companheiro de clube, e Rafa Luz, também muito elogiado pelo campeonato que fez pelo Obradoiro, são os demais estrangeiros. De resto, nove caras do NBB, divididos entre os finalistas Bauru (três) e Flamengo (dois), além de Franca, Limeira, Mogi e Pinheiros, com um cada. São eles: Ricardo Fischer, Larry Taylor, Vitor Benite, Leo Meindl, Marcus Toledo, Olivinha, Rafael Mineiro, Rafael Hettsheimeir e Gerson do Espírito Santo.

Rafael, Augusto e Raul: boa temporada na Espanha e entrosamento

Rafael, Augusto e Raul: boa temporada na Espanha e entrosamento

Oito desses atletas disputaram o Sul-Americano de 2014, em Isla Margarita, na Venezuela: os três ‘espanhóis’, Benite, Meindl, Olivinha, Mineiro e Hettsheimeir – ficaram fora Gegê, Arthur, Jefferson William e Cristiano Felício. O que supõe uma continuidade de trabalho. Sob a orientação de José Neto, terminaram u com a medalha de bronze, derrotados pela Argentina na primeira fase e pelos anfitriões na semifinal. Foram partidas equilibradas e inconsistentes de um time com potencial para ser campeão. Fischer estava na lista preliminar, mas foi cortado por lesão. Gerson, uma das boas novidades do NBB, é estreante de tudo. Marcus retorna a uma lista oficial pela primeira vez desde a era Moncho, se não falha a memória. Embora, no meu entender, não tenha feito um grande NBB, Larry aparece como uma espécie de homem de confiança da seleção, tendo participado de todas as principais competições desde 2012.

É um grupo com muito talento, de qualquer forma, com jogadores versáteis e um bom equilíbrio entre velocidade, força física e capacidade atlética. “Formamos um grupo de trabalho que mescla jogadores experientes e jovens que vão atuar pela primeira vez na seleção adulta. O importante é que temos um bom tempo de preparação. Posso garantir que é uma equipe bastante sólida e alguns atletas poderão ser convocados para a Copa América”, disse Magnano, que começará a trabalhar com os atletas no dia 14 de junho, em São Paulo, tanto no Paulistano como no Sírio. Resta saber apenas se ele vai estar no Canadá, ou não. Era para ser uma reposta simples, mas, quando o assunto é a confederação nacional, isso tem se tornado cada vez mais raro.

Boi na linha
Se Magnano não compareceu ao fim de semana do Jogo das Estrelas do NBB, em Franca, em março, o presidente da CBB, Carlos Nunes, ao menos esteve por lá. Em entrevista à repórter Karla Torralba, o dirigente já havia descartado a presença do argentino no Pan. Bom, parece que ele se antecipou um tanto, né? Na ocasião, afirmara que um problema relacionado à mudança do treinador para o Rio de Janeiro seria uma barreira para tanto. Não fazia o menor sentido a declaração. Agora, como vemos, a questão era mais complicada. No mesmo texto, para constar, tivemos mais esta frase aqui: “Vamos ter todos os melhores jogadores. Ainda temos que conversar a liberação dos atletas da NBA, mas a intenção é mandar todos”. Também não foi bem isso o que aconteceu. Havia uma preocupação política: agradar ao COB, lutando por medalha no Pan, para fortalecer o currículo desportivo brasileiro às vésperas de uma Olimpíada em casa. Ainda não sabemos qual o nível das equipes que vai para o torneio. O Canadá promete ser forte – Andrew Wiggins e Kelly Olynyk já sinalizaram que vão participar. Os Estados Unidos, por outro lado, vão com um time alternativo. Mark Few, técnico de Gonzaga, deve mesclar universitários e profissionais, mas não gente da NBA. Talvez atletas da D-League ou do mercado europeu.


NBB7 tem Flamengo favorito ao tri, mas com nova ameaça
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Giancarlo Giampietro

flamengo-2014-carioca-basquete

O NBB que começa nesta sexta-feira promete o melhor nível técnico do campeonato em sete edições. São ao todo dez atletas que disputaram a última Copa do Mundo, algumas importações de talento interessantes e jovens promissores – sim, eles ainda existem, mesmo que dependam da boa vontade de seus técnicos para jogarem. Fazer um bolão para adivinhar os quatro semifinalistas também será uma tarefa complicada, com muita gente se achando no direito de entrar nessa parada, o que é extremamente saudável. Resta saber o que todos os técnicos por trás dessas forças poderão aprontar, para fazer suas equipes se diferenciarem e subirem na tabela, tirando o máximo da técnica que tiveram à disposição.

De todo modo, em meio a essa crença de imprevisiblidade, uma tese é difícil de se evitar. Nem há muito como escondê-la: por tudo o que conquistou na última temporada – e no início desta –, o Flamengo é o grande favorito, principalmente depois que as negociações de Marquinhos com a NBA não foram adiante. Um jogador único dentro da liga nacional.

Se o time rubro-negro confirmar essa condição, chegará a um tricampeonato, repetindo o feito de seu rival Brasília, que ganhou três taças consecutivas entre 2010 e 2012. Se, para enfrentar adversários da liga norte-americana, em partidas de mais longas, o elenco de José Neto se mostrou reduzido, em cenário nacional, com os 40 minutos regulares da Fiba e uma concorrência mais justa, plantel não será um problema. Nem mesmo o tão sonhado pivô extra, que poderia ter sido JP Batista, parece necessário.

Dessa vez ele terá Vitor Benite desde o início da campanha – em vez de apenas na partida final –, ganhando  mais poder de fogo. Mas o grande chamariz, mesmo, em termos de novidade fica por conta de Walter Herrmann, que, aos 35 anos, tem muito o que render em quadra:

Demais, né? É o tipo de lance que você não cansa de rever. De tão sofisticado que foi o movimento, a cada reprise pode-se reparar em um novo detalhe: nada como fazer da bola de basquete uma bolinha de tênis. Herrmann, Marquinhos e Olivinha formam um trio de atletas intercambiáveis, que podem exercer múltiplas funções, entregando um pacote de características diversas que facilitam muito qualquer riscado de prancheta. A linha de frente é complementada pelo excelente Jerome Meyinsse, que comprovou contra Maccabi e NBA que não é só forte e atlético para os padrões sul-americanos, e Cristiano Felício, que já provou merecer seus minutos em sua turnê pelos EUA.

Não fica só nisso. Nícolas Laprovíttola é o melhor armador em atividade no país hoje, com um arsenal de fintas para entrar no garrafão quando bem entender. O que facilita a conexão com Olivinha, Herrmann, Meyinsse e Felício e, ao mesmo tempo, abre espaço para os chutes de fora de seus companheiros. Se o argentino maneirar um pouco no ímpeto e desistir dessa ideia de chutes de três em movimento, a partir do drible, sua eficiência vai decolar, impulsionando toda a equipe. Sim, há sempre detalhes para corrigir e o que melhorar, mesmo para os campeões. Mesmo para um time com o luxo de contar com um Gegê em constante evolução, saindo do banco. Enfim, um esquadrão, que deve imprimir um estilo de jogo agressivo, de velocidade e combativa defesa.

Uma nova ameaça
O Fla tem três quatro (1, 2, 3, 4) jogadores que disputaram a última Copa do Mundo. O único clube que repete essa marca é justamente aquele que, em teoria, desponta como a maior ameaça ao seu reinado: o Bauru. Campeã nacional em 2002, com os veteranos Raul, Vanderlei e Josuel, um emergente Leandrinho e os adolescentes Marquinhos e Murilo, a cidade só se viu entre os quatro melhores do NBB na edição retrasada, quando terminou em terceiro lugar.

Rafael e Larry, dois selecionáveis

Rafael e Larry, dois selecionáveis em Bauru

Para esta sétima edição, porém, a equipe do interior paulista foi a que mais se reforçou. Num projeto bastante ambicioso, a diretoria entregou a Guerrinha quatro grandes nomes: Alex, Rafael Hettsheimeir, Jefferson William e Robert Day, que se juntam a um núcleo já bastante forte.  As contratações do veterano Alex, que aos 34 ainda tem um vigor físico assustador, e de Hettsheimeir são as que chamam mais a atenção, e não necessariamente pela grife de seleção brasileira. Tirar o ala-armador de Brasília foi uma surpresa, um negócio que causa impacto em duas equipes de ponta de uma vez. Já o pivô passou os últimos nove anos na Espanha, estava em clubes de ponta do campeonato nacional mais forte da Europa e que poucos imaginavam que poderia voltar aos 28. Pois ele queria faz tempo, como revelou ao VinteUm.

O Bauru tem todas as peças que precisa para montar um ataque poderosíssimo. São três pivôs versáteis com Murilo, Hettsheimeir e Jefferson. Larry Taylor e Ricardo Fischer dividem a armação. Guilherme Deodato, o americano Day e Alex rodam nas alas. Esperem trovejadas de três pontos aqui. Constam também os caçulas Wesley Sena (se conseguir bater Thiago Mathias, já será ótimo sinal), Carioca (um tanque em direção ao aro), Vezaro e Gabriel para completar a rotação. As interrogações ficam por conta do joelho de Murilo, que vem dando trabalho, e da consistência defensiva de um time que é baixo no perímetro e vai depender de muita pressão em cima da bola para se proteger – algo que Alex, Larry, Fischer e Gui podem muito bem fazer.

É um plantel mais volumoso e com mais apelo que o do velho candidato Brasília, que tem José Vidal novamente na beirada da quadra. Giovannoni é um sério candidato ao prêmio de MVP do ano, agora com ainda mais responsabilidades ofensivas, enquanto Arthur vai correr ao redor das defesas, se desmarcar e converter seus chutes. Fúlvio é o tipo de armador que vai satisfazê-los em sua sede de pontos. Para a equipe candanga voltar ao top 4, porém, dois pontos são importantes: que o americano Darington Hobson se encaixe e se adapte – já ouvi por aí que ele tem um senso de grandeza um pouco desproporcional ao que produz… – e que Ronald e Isaac esteja prontos para carregar uma carga maior. A defesa vai depender muito dos três.

Mais que o CV
Esses são evidentemente os times mais estrelados da competição. Considerando a divisão de títulos bipolar dos seis primeiros campeonatos, sabemos que isso tende a fazer diferença por estas bandas. Por outro lado, a lista de vice-campeões nos permite pensar, sim, em mais candidatos, ou surpresas. Não é que Flamengo e Brasília tenham chegado a todas as decisões. Nos últimos quatro anos, a equipe derrotada foi diferente.

O Paulistano entra como vice-campeão, sem Mineiro (d), com Hardin

O Paulistano entra como vice-campeão, sem Mineiro (d), com Hardin

O Paulistano, segundo colocado do ano passado, fez por merecer o respeito de todos e também mantém seu núcleo, com um elenco bastante homogêneo em que os americanos Kenny Dawkins e Desmond Holloway carregam a pontuação e uma série de companheiros os ajudam com defesa, movimentação de bola e espaçamento. Para este ano, chegaram o experiente Fernando Penna (um jogador de que gosto, mas que não sei bem o quanto era necessário num elenco que já tinha o jovem Arthur Pecos para ajudar Dawkins e Manteiguinha) e o americano DeVon Hardin, um gigante extremamente atlético que chega para substituir um Rafael Mineiro, que foi para o São José. O pivô havia feito ótimo campeonato na temporada passada patrulhando o garrafão, ocupando espaços na defesa. Para isso, Hardin, que já foi selecionado no Draft da NBA de 2008, vai ter de mostrar que é muito mais que um campeão de enterradas. E, sim, Fabrício Melo poderia estar aqui, mas acabou dispensado por questões extraquadra. Gustavo de Conti vai tentar fazer dessa turma uma nova encrenca para os adversários.

E, se for para falar em surpresa, não há como ignorar o que o Mogi das Cruzes também balançou o NBB6. Honestamente, talvez nem mesmo o técnico Paco Garcia esperasse que sua equipe poderia alcançar a semifinal e endurecer contra o Flamengo numa série melhor-de-cinco. O problema do sucesso é o desmonte. Quatro de seus atletas migraram para o próximo clube dessa lista. Em contrapartida, chegaram caras de ponta como Shamell e Paulão, além do ala Tyrone Curnell, referência do Palmeiras no campeonato passado, do armador Elinho e do jovem pivô Gerson Espírito Santo, formado em Colorado State. O Mogi pode manter a pegada de  um garrafão pesado, massacrante que o levou  longe, mas também conta hoje com mais alternativas para acelerar o jogo. Tantas trocas, porém, pedem tempo para o acerto. O que não deve mudar é o apoio de sua torcida. Lá o mando de quadra faz realmente diferença.

Tyrone Curnell crava: do Palmeiras para o reformulado Mogi

Tyrone Curnell crava: do Palmeiras para o reformulado Mogi

Também semifinalista, mesmo numa temporada conturbada em que contou com três técnicos, o São José é outro que tem algumas caras novas para entrosar. E pior: algumas delas chegando de última hora, perdendo a fase de preparação, a ponto de faltar contingente para o técnico Zanon – recém-egresso do Mundial feminino, diga-se – realizar coletivos. Além disso, Caio Torres vem sofrendo com uma tendinite no joelhor direito. A contratação de Mineiro ganha relevância por isso. Valtinho é quem assume a direção agora – Manny Quezada, o homem dos 50 pontos, foi embora. Nas alas, Betinho vai ter a companhia de dois americanos: Andre Laws, que está de volta (e nem dá para entender por que havia sido liberado), e Jimmy Baxter, mais um que vem da Argentina.

Agora vai?
O continente paulista, aliás, talvez chegue com sua maior força ao campeonato nacional, desde que ele passou a ser organizado pela LNB. O estado, maior polo produtor do país, ainda não conquistou o título do NBB, tendo de se contentar com três vice-campeonatos, quatro terceiros lugares e três quatro lugares. Tem mais gente querendo entrar nessa briga.

O Pinheiros estoca as revelações mais tentadoras do basquete brasileiro, com o novato Georginho chegando para a festa, mas tem na contratação do técnico Marcel de Souza seu ponto mais intrigante, que promete algo de diferente no plano tático, encerrando seu exílio. A receita na montagem do elenco é semelhante à de seu rival da capital: nomes não muito badalados, mas com bons jogadores em quantidade (são quatro armadores que pedem tempo de quadra, por exemplo: os irmãos Smith, Paulinho e Jéfferson Campos, sem contar Humberto). Subestimem o quanto quiserem um trator como Marcus Vinícius Toledo, que isso não costuma sair bem. Os resultados recentes do time, campeão da Liga das Américas 2013, também o credenciam.

De volta ao interior, armadores também não faltam a Limeira, agora com Nezinho ao lado de Ronald Ramon e Deryk. A presença de um cestinha como David Jackson e de Rafael Mineiro, Teichmann e Fiorotto também encoraja muito. E quanto a Franca? O time da capital basqueteira dosa, entre seus protagonistas, a cancha de Helinho, que está de volta para trabalhar, veja só, com Lula Ferreira, e dos argentinos Juan Figueroa e estreante Marcos Mata (candidato a MVP?) dois alguns prospectos para a seleção brasileira como Leo Meindl e Lucas Mariano – mas talvez que talvez só sejam aproveitados com maior frequência no outro ciclo olímpico, a julgar pelo progresso deles e o conservadorismo de Rubén Magnano. A rotação, porém, é enxuta.

David Jackson, candidato a cestinha do NBB por Limeira

David Jackson, candidato a cestinha do NBB por Limeira

São todos ótimos times, com muito potencial para ser explorado por seus treinadores. Depois do que Paulistano, São José e Mogi fizeram no NBB6, cada um ao seu modo, com trilhas diferentes, está claro que o equilíbrio da competição permite diversos desdobramentos. O maior orçamento, os nomes mais consagrados…  Essas coisas talvez não importem mais. Vai pesar o melhor trabalho de quadra, mesmo.

No Rio, pensando nisso, o Flamengo tem algo que costuma fazer a diferença no basquete: química e continuidade, como o Spurs demonstra na NBA. No caso do gigante carioca, a diferença é que, em seu elenco, estão muitos dos melhores jogadores da liga também. Uma combinação dura de derrubar.


Ataque estagnado ou cansado? Torneio em Porto Rico serve para seleção tirar prova
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Giancarlo Giampietro

Vamos ver, Rubén

Rubén Magnano, preparação dura num ano duro para a seleção

O ala Arthur, veterano de NBB, mas um novato aos 30 anos quando falamos de Copa América, tem como uma de suas principais características a incessante e inteligente movimentação fora da bola. Se aqueles com o drible mais habilidoso e explosivo são os que aparecem com mais frequência nos melhores momentos e contagens regressivas, os jogadores que sabem encontrar ou gerar estes espaços nos, digamos, bastidores, também podem se tornar cestinhas de mão cheia. Eles só trabalham de outra maneira, muito mais sutil, mas, nem por isso, menos desgastante, cortando de um lado para o outro na quadra, usando bem os corta-luzes, backdoors e tudo o mais, até que se cause a mínima separação e ativar o arremesso. Para os mais habituados com a NBA, é só pensar em caras como Reggie Miller, Richard Hamilton e JJ Redick.

Nos primeiros amistosos da seleção brasileira antes do embarque rumo a Porto Rico e, depois, Venezuela, o jogador do Brasília até que tentou criar situações de ataque para a equipe se mexendo na zona morta, buscando ângulos diversos para a recepção do passe, mas nem sempre foi recompensado, por vezes ficando com as mãos espalmadas aguardando a assistência que não vinha.

Agora calma: não era nada pessoal.

Essa foi apenas uma das consequências negativas de um sistema ofensivo bastante estagnado que vimos em ação nestes primeiros jogos preparatórios do time de Rubén Magnano, num padrão preocupante, caso não seja alterado até o início da Copa América, no dia 31 de agosto.

Após a vitória sobre o México, em São Paulo, num jogo bastante enjoado (em muitos sentidos), Arthur foi simpático o suficiente para interromper uma sessão fotográfica animada com a pirralhada na quadra do Paulistano para conversar sobre isso. Ele concordou com a observação feita sobre o ataque pesado, arrastado que a seleção vinha demonstrando. Mas ofereceu um bom motivo para tanto: o simples cansaço.

Naquela terça-feira, por exemplo, o time entrou em quadra por volta das 19h para disputar o amistoso. O que não impediu que Magnano os convocasse para um treino com bola pela manhã, acompanhado de mais uma bateria de exercícios na academia, puxando ferro sem parar. Um episódio que não foi isolado. Na segunda-feira passada, antes de viajar para San Juan, o time também repetiu a dose em São Paulo.

Lembrei disso na hora em que li a seguinte declaração de Marcelo Huertas, o capitão do time, em texto de divulgação da CBB, comentando a partida de estreia na Copa Tuto Marchand, em San Juan, nesta quinta-feira. “Tivemos uma fase de treinamento muito boa, em que conseguimos alcançar uma ótima condição física e técnica. Agora é hora de tirar o pé, fazer os últimos ajustes para chegar à Copa América na melhor condição possível”, disse o armador.

“Tirar o pé.”

Os treinos comandados pelo técnico argentino são notoriamente pesados, dando vontade aqui de usar até o termo “mutiladores”, o que não seria de bom tom, evidentemente, e também se trata de uma palavra bastante feia, que faz jus ao seu significado. Não importa a origem do jogador, se está vindo da NBA, da Europa ou dos clubes nacionais – o fato é que múltiplos relatos dos atletas que trabalharam com Magnano dão conta do quão puxada tende a ser sua preparação. A ideia, acho, é que eles cheguem para os torneios oficiais achando que tudo é uma moleza, depois do tanto que ralaram nas semanas que antecedem a competição.

Bem, nas últimas temporadas, a seleção tem apresentado esta tendência, de oscilar em amistosos até que eleva seu jogo na hora do vamo-vê. Neste ano, essa transformação se faz urgente. Se a pegada defensiva foi regula, é preciso considerar que a equipe enfrentou adversários consideravelmente mais fracos na maioria das vezes – tirando uma Argentina com Scola & chicos em Anápolis, contra a qual o “abafa” não deu muito certo. Mas o que fez coçar a cabeça mais foi o ataque, ainda mais dependente das chamadas “cestas fáceis” de contra-ataque.

Quando o time parou em situações de meia quadra, de cinco encarando cinco, as coisas ficaram bem mais complicadas, especialmente quando a mesma Argentina resolveu brincar de gato e rato e alternou sua retaguarda sem parar, entre zona e defesa individual, deixando os brasileiros sem rumo em quadra.

Isso naturalmente deve ter aberto os olhos de Magnano, quando este optou por colocar dois ou até mesmo três eventuais armadores em quadra.

“Eventuais” porque Larry Taylor e Benite pouco passaram a bola nestes amistosos. Se o jovem flamenguista ainda tem a desculpa de estar sendo muito mais utilizado do outro lado do passe – ele também investindo nas trajetórias e parábolas por trás da marcação adversária –, o americano não colaborou muito no sentido coletivo da coisa. Em Bauru, Larry tem a bola por boa parte do tempo, podendo produzir de acordo com sua preferência. Na seleção, não há espaços para tanto drible, fazendo da bola uma prisioneira.

Contra o México, de novo, ficou evidente o quanto sua presença em quadra ajudava a estacar a coisa toda. Se a bola está com Huertas, o carequinha tende a se posicionar na quinta da linha de três pontos e por ali estacionar. Atlético, explosivo, seria muito mais produtivo se tentasse encontrar outras formas de atacar a cesta que não em situações de mano-a-mano ou de pick-and-rolls nem tão em realizados.

Mas isso, claro, não tem a ver apenas com o americano. O time todo precisa estar envolvido, engajado em trocar passes de um lado a outro, se movimentando como uma só máquina, em busca das melhores situações de arremesso. Ou isso, ou estaremos destinados a exigir o máximo da criatividade de Huertas e da sede de cestas de Hettsheimeir.

A partir desta quinta, contra os dominicanos, chegou a hora de medir o quanto era cansaço, mesmo, ou limitações técnico-táticas. É hora de acelerar em quadra.

*  *  *

Depois do corte de Marquinhos, cresceu a responsabilidade de Arthur na seleção, em sua primeira grande (?) competição. Até este ano, o ala de Brasília só foi aproveitado nos Sul-Americanos, tendo sido curiosamente convocado para a competição regional, relegada a times “B” brasileiros, em suas últimas quatro edições (2006, 2008, 2010 e 2012). Sua média geral na competição é de 8,5 pontos e 2,6 rebotes.

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Arthur nunca foi reconhecido como um reboteiro voraz, mas vai ter de se desdobrar neste fundamento quando for para quadra. Com desfalques  e uma rotação baixa no perímetro, o ala vai precisar descer muito mais para o garrafão do que está habituado, ainda mais num eventual confronto com a Argentina e seus alas altos, fortes e raçudos.

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Um jogador como Marcus Vinícios Toledo, hoje no Mogi, depois de anos e anos na Espanha, pode fazer falta. Embora não seja o mais talentoso ofensivamente, Marcus poderia ajudar, e muito, Alex na contenção de perímetro, com muita energia, força e capacidade atlética. Um jogador extremamente útil, se bem encaixado na rotação. Outra opção para a posição, mas inviabilizada por lesão, era Jhonatan, do Franca. Ele foi ao ginásio do Paulistano para ver o jogo contra o México, mas ainda tem limitações durante os treinamentos com o clube. Deve demorar ainda cerca de um mês para que ele esteja liberado para atividades regulares com bola e contato.


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