Apresentando Georginho, o próximo alvo da NBA
Giancarlo Giampietro
Imagine a cena: a meninada do time mini do Círculo Militar toda eufórica no banco de reservas, achando que o jogo está no papo, que iriam levar aquele quadrangular do Campeonato Paulista. Talvez o primeiro caneco deles, nessa iniciação ao esporte. Estavam na frente no placar, restando poucos segundos para o fim. Aí, de repente, cai aquela bomba, para deixar todos esses mesmos garotinhos de coração partido – o esporte “ensina”, vão dizer os professores. Do outro lado, Georginho sai comemorando pela quadra, irradiante, também sem acreditar. Ele acabara de fazer uma bola de três pontos milagrosa, atirada do meio da quadra. O título era do Associação Clube, de São Bernardo.
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“Foi quando acreditei que poderia ser, mesmo, um jogador de basquete, quando achei que esse era o meu futuro”, afirma ao VinteUm o garoto que hoje defende o Pinheiros tanto no NBB como na LDB – mas especialmente na liga de desenvolvimento. É curioso isso: como, para os atletas, não importando a idade, parece que suas primeiras memórias estão sempre muito distantes, não importando a idade. Cada jogo é uma história, afinal, não? Quando George Lucas Alves de Paula relembra essa jogada mirabolante, parece estar falando de um século passado. Mas foi apenas há seis anos, quando tinha 12.
O armador conta que rolou aquela confusão de sempre: o técnico, os meninos e, claro, os pais dos adversários todos reclamando que havia estourado o tempo já, que não deveria ter validado. “Na hora, foi bem, digamos assim, polêmico, mas depois assumiram a derrota”, diz. Seu agente, Eduardo Resende, da EW Sports, completa: “A bola não bateu nem no aro, fui direto, nem tinha o que falar” Aquela coisa: foi um lance tão inacreditável que, depois de passado o susto, o pessoal admitiu que não havia muito o que fazer, que era conceder a vitória, e paciência.
Os ânimos ficaram tão calmos que, mais tarde, o familiar de um de seus amigos do São Bernardo lhe conseguiu a gravação da partida. Gravação feita justamente pelo pai de um dos jogadores do Círculo Militar, que fazia compilações de melhores momentos para os moleques. O armador já assistiu milhares vezes. Recentemente, porém, já não mais o revisita. “Não costumo ver agora mais. Não sobra tempo”, diz.
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Aos 18, Georginho tem uma rotina intensa de treinos no Pinheiros, com até três sessões diárias, dependendo da época, aproveitando-se de uma estrutura exemplar do clube paulista para desenvolver seu imenso talento. Um talento que já o coloca na mira da NBA.
Nesta semana, o armador está jogando em Mogi das Cruzes, com seus companheiros adolescentes de clube, pela quarta etapa da principal competição de base do país. Podem aguardar a presença de diversos scouts da liga americana. Em Nova York, seu nome já era assunto entre aqueles que observam os meninos ainda mais novos no Basketball Without Borders. Muitos tentando aprender a pronúncia correta para Mogi. Sai “Mougui”, invariavelmente. O burburinho só aumentou depois de o DraftExpress, do meu chapa Jonathan Givony, ter feito uma análise detalhada de suas qualidades, virtudes como prospecto. Givony, inclusive, tirou George da projeção para o Draft de 2016, inserindo-o na lista deste ano, como o 27º melhor prospecto.
Antes mesmo de o DX ‘causar’ geral, procurei aqui em São Paulo conversar com diversas fontes que acompanham o progresso desse garoto natural de Diadema. Também tive a chance de conversar por cerca de 30 minutos com o próprio jogador, naquela que seria a primeira entrevista, assim com ares de ‘oficial, exclusiva, de sua ainda incipiente carreira. “Não sei aonde posso chegar, mas sei que posso treinar muito. Não conheço meus limites ainda”, diz. Vamos embarcar nessa, então.
A primeira coisa que chama a atenção em Georginho como um jogador de basquete são seus atributos físicos. Estamos falando de um armador de excelente estatura (1,95 m), mãos e braços enormes – “Envergadura dois metros e tralalau”, segundo Marcel de Souza, o técnico do adulto – e já bastante forte para a idade. É rápido e muito habilidoso com a bola. Seus movimentos, se não tão explosivos, são muito fluidos, naturais, fáceis.
“A primeira coisa que impressiona no George é seu biotipo e sua desenvoltura atlética. Junto a isso vem também sua qualidade técnica. Para um armador alto, tem muita facilidade no controle de bola”, diz Brenno Blassioli, técnico que trabalhou com o garoto nos últimos dois anos no Pinheiros, mas que teve de se desligar do clube para acompanhar a esposa Sheilla, craque da seleção feminina de vôlei, na Turquia. “Ele é um jogador que passa segurança ao técnico na hora da pressão.”
Essa é uma combinação de tamanho e técnica faz do armador uma figura promissora para qualquer cenário. No Brasil, então, se torna ainda mais anormal. Vai ser muito difícil encontrar jovens jogadores que lhe consigam fazer frente na base. Daí a importância de ele, mesmo que não jogue, treinar com os veteranos, especialmente na atual composição do elenco do Pinheiros, com diversos concorrentes/mentores interessantes. Aos 37, Joe Smith tem mais tempo de carreira do que Georginho tem idade. Seu irmão Jason é absurdamente forte. Jéfferson é bastante explosivo. Paulinho hoje está afastado por conta de uma cirurgia no joelho, mas, em forma, é um pesadelo para ser marcado. O Pinheiros confia nisso: que o mero treinamento diário já vá empurrar o jogador na direção certa, pedindo paciência para quem vê de fora.
“Essa questão é muito relativa”, diz Brenno. “Você pode olhar por outro ângulo e ver que, num clube mais fraco, os garotos treinariam com jogadores mais limitados, criando vícios ruins técnica e taticamente. Hoje, com a LDB, os jogadores mais jovens têm a chance de treinar com jogadores de qualidade no adulto e colocarem em pratica na quadra. Prefiro que o George e Humberto compitam pela posição de Jeferson, Joe e Jason do que entrarem numa zona de conforto num time mais fraco.”
Essa competição vai, invariavelmente, forçar que qualquer jogador se aprimore. Quanto a isso não há dúvida, ainda mais para alguém que sabe ouvir bastante – e ainda que não represente exatamente os mesmos desafios de se ir para a quadra em jogos oficiais. “É muito bom estar na quadra com eles. O Joe, mesmo, é um cara que me dá muitas dicas, aprendo muito com ele. É um desafio para mim ter de conseguir marcá-los. Dá para tirar muito dessa experiência. Consigo pegar coisas que eles fazem contra mim e aplicar contra os da minha idade”, diz Georginho.
Em quadra na LDB ou pelo Sub-19, você vai ver o armador se impor fisicamente, atacando o aro, invadindo o garrafão com tranquilidade. Até por isso, há quem questione se o garoto vai se desenvolver como um armador completo, mesmo. Gente com receio de que ele possa terminar como um ala pontuador. Dos jogos a que assisti e por tudo o que ouvi das fontes diversas, só mesmo um acidente o empurraria nessa direção limitada. “No ano passado foi a primeira vez que ele jogou com atletas da mesma qualidade técnica, então o trabalho principal dele era fazer Lucas, Humberto e o Wesley jogarem, sem perder sua agressividade”, diz Brenno.
“Ele está longe de ser um puro armador, pelo fato de ser um bom finalizador. Porém, tem melhorado muito em sua visão de jogo. Foi o que mais trabalhei com ele ano passado. Está no caminho certo, mas precisa ainda melhorar muito mais. No basquete de hoje é muito difícil um puro armador ter sucesso se não tiver finalização. E ele tem tudo para representar um modelo de armador moderno, que é o combo guard“, detalha o treinador, numa excelente entrevista, diga-se.
Triplo-duplo
Falar em jogador completo, capaz de executar diversas tarefas em quadra, é algo que só vai agradar a Marcel, hoje em sua primeira temporada como treinador do time principal do Pinheiros. Ainda que não dê muito tempo de quadra para o jovem armador, o ex-jogador da seleção brasileira não esconde sua admiração pelo seu talento. Estão preparados?
“O Georginho vai ser o novo Magic Johnson. Não vou falar mais nada”, afirmou Marcel, ao VinteUm. É o tipo de declaração que pode fazer um estrago, né? Então, depois da conclusão da resposta, fiz questão de perguntar ao técnico que história era essa de Magic Johnson, e ele respondeu: “Anota, e depois vamos ver.”
Agora, antes que coce a vontade de sair tuitando por aí essa declaração, é melhor entender, enfim, o que Marcel estava pensando. O treinador se referia ao tipo de jogador que Georginho pode virar, e não, sobre o jogador que vai se tornar: “Ele cobre várias funções, marca qualquer um e tem tudo para ser um triple-double de média. Teve um dia em que cheguei e falei para ele isso, que só era para voltar a falar comigo quando fizesse um triple-double. Tem de dar meta para o jogador”, afirma.
Pois, na volta de Joinville, depois da segunda etapa da LDB, o armador tinha uma notícia para o treinador: havia somado 11 pontos, 10 assistências e 10 rebotes em triunfo sobre o Grêmio Náutico União. “No dia que voltei de viagem, nos encontramos no clube, e ele perguntou se eu estava bem. Só respondi: ‘triplo-duplo’. Acho que ele já estava sabendo (risos)”, conta, sorridente. Marcel adora. “Ele tem potencial para fazer isso. O último jogador que vi atingir isso de média no juvenil foi o Dedé, hoje treinador do Limeira: passava, pegava rebote, chutava, tinha leitura de jogo. O Georginho é assim.”
Nesta terça-feira, aliás, em Mogi das Cruzes, Georginho repetiu a dose e conseguiu o segundo triplo-duplo da carreira, com 14 pontos, 10 rebotes e 10 assistências em vitória sobre o Joinville.
Da sua parte, mesmo que não seja utilizado na rotação do time principal, o jovem armador reconhece alguns benefícios de se trabalhar com uma lenda do basquete brasileiro feito Marcel – e sua tentativa de incentivar um basquete mais orgânico, menos ensaiado no Pinheiros.
“Todo mundo conhece a história do Marcel, sabe o que ele conquistou. De todos os técnicos que tive até agora, ele tem a visão mais diferenciada. É bom ter um técnico que vê por outro lado. Ele pede para a gente apostar no sistema. Ele aposta 100% no sistema, não gosta de chamar jogadas que possam auxiliar durante o jogo. Ele tem uns ataques que fala que são propositais, para desestabilizar os outros times. Dá uns treinos diferentes, são mais livres. Vou ficando mais versátil com isso.”
A ideia é desenvolver diversas facetas de seu jogo, no fim. E pensar que nada disso poderia valer de nada. Se os planos lá atrás tivessem dado certo, Georginho poderia ser hoje uma promessa do… Vôlei brasileiro.
Outras quadras
Georginho tinha “de sete para oito anos” quando seus pais, Maurício e Suzana, acharam que era uma boa hora para iniciá-lo no esporte. Foram até um clube municipal em Diadema, na Grande São Paulo, para ver o que havia disponível de atividades para meninos da sua idade. Talvez para decepção deles, não havia aulas da modalidade que praticavam como profissão. O vôlei.
“Eu ficava sempre com eles brincando na quadra. Aí fui atrás de treino, mas não encontrei num poliesportivo que tinha no bairro aonde eu morava. Mas tinha basquete, e meu pai havia jogado basquete até os 18, quando optou pelo vôlei. Então já tinha um pouco de vontade de conhecer também”, diz a revelação pinheirense. Azar do vôlei, que perdeu aquele que poderia ser um belo ponteiro de 1,95 m, sorte do basquete que ganhou um armador de tremendo potencial. E “nenhum arrependimento” da parte do garoto.
Ter pais ex-atletas pode ser um privilégio para qualquer atleta infantil – desde que não haja cobrança excessiva, ou, em casos mais graves, aquela necessidade de tentar fazer do filho a realização de sonhos frustrados do passado. No caso de George, a relação é benéfica. “Eles sempre me dão conselhos, quando chego estressado ou chateado com alguma coisa. Podem não entender o basquete como entendo, mas a parte psicológica de qualquer esporte é muito parecida”, diz.
Progredindo bem nos primeiros anos, o próximo passo foi procurar uma estrutura melhor. Passou a jogar, então, pela Associação dos Funcionários Públicos de São Bernardo, como a criançada do Círculo Militar bem soube depois. Ficou lá até os 16, em 2013, quando chegou ao Pinheiros, clube no qual iria encontrar, pela primeira vez, jogadores da sua idade com o mesmo nível de jogo. Antes, estava habituado a resolver as coisas por conta própria em quadra. Hoje, está com os estudos parados, somente se dedicando ao esporte. “É algo totalmente diferente para mim. Fico mais afastado da família, vejo meus pais nos finais de semana que tenho livre, mas meu foco mudou completamente. Agora estou voltado 100% ao basquete.”
No Pinheiros, você só vai ouvir maravilhas sobre o empenho de Georginho numa rotina longa de treinos. O menino, se puder, vai dormir no ginásio – e é quase isso, mesmo, que acontece, já que divide um flat com seus companheiros a poucas quadras do clube. “Alguns dias estou bem cansado, mas aí tem de tirar forças de outro lugar. Esqueço que estou com uma ou outra dor porque preciso continuar treinando”, diz. E pode botar uma ênfase em “preciso” aí. No final do ano passado, o armador estava jogando o Paulista Sub-19, a LDB e, digamos, acompanhando, treinando com a equipe adulta. Além disso, realiza trabalhos específicos de fundamento com outros garotos, sob a orientação de Bruno Mortari.
“O Georginho é um dos que mais me encanta, mas não só pela habilidade. Encanta tanto como pessoa como pela vontade que ele tem de melhorar seu jogo no dia a dia, e o Pinheiros dá para ele toda a estrutura necessária para crescer”, diz o veterano ala-pivô Felipe Ribeiro, desses casos que chegou ao profissional sem nem mesmo ser burilado em categorias de base.
Fala, caboclo
Essa coisa de ser um rato de ginásio é um dos tantos paralelos que vamos encontrar na sua história com a de Bruno Caboclo. Os dois, que são muito amigos, por sinal, jogavam em clubes menores da grande São Paulo até chegarem ao Pinheiros. Extremamente dedicados e apaixonados pelo esporte. “O Bruno conseguiu chegar aonde está com muito trabalho. É uma coisa na qual posso me espelhar. Treinar muito forte o tempo inteiro.”
Outro ponto que une os dois? Ambos não são de falar muito. São bastante tímidos.
Em alguns momentos durante nosso bate-papo, George ficava um pouco quieto e parava um pouco, antes de começar ou terminar uma resposta. Diga-se nada parecido como aquela ocasião em que Bruno empacou diante de um repórter do SporTV nas finais da LDB do ano passado. E aí, quando você pega a gravação, porém, se depara algo interessante: ele pode não ficar muito de lero, mas diz aquilo que julga necessário dizer. Vai direto ao ponto.
Em quadra, essa é uma, hã, questão que também se manifesta. O armador não vai ficar gritando o tempo todo, dirigindo os companheiros com discurso. Não é um líder vocal como muitos podem esperar para a posição. Seria uma espécie de líder que dá o exemplo pelo que faz em quadra, pelo modo como se comporta. Mas é algo que vem sendo trabalhado. “Fiquei contente com a evolução do George ano passado nessa área. O mais importante eu já coloquei na cabeça dele: jogador que não se comunica, não joga. Houve várias situações várias situações em que ele se comunicou de forma positiva, e os companheiros respeitaram. Naturalmente, ele irá ser um líder”, diz Brenno. “Nos times anteriores em que esteve, ele sempre jogou ‘sozinho’, então não precisava estimular a parte da comunicação. Líder silencioso não existe na minha opinião, por mais que ele de bom exemplos, vai haver horas em que ele vai ter que se comunicar se quiser jogar em alto níel, especialmente por ser um armador.”
Agora, existe aquele dilema também: Georginho tem apenas 18 anos e treina com marmanjos. Se, como armador, precisa falar, como seria na hora de lidar com gente muito mais rodada que ele? No começo, na dúvida, ficava de bico calado, mesmo. “Eu era muito fechado, e eles brincavam que eu não falava, me enchiam o saco por ser muito quieto. Hoje estou brincando mais com eles, e acabo apanhando. Acho que é melhor assim.”
Exposição
No que Georginho e Caboclo divergem em suas trajetórias? Na mesma idade, o armador tem muito mais experiência internacional. Antes de ir para a NBA, Bruno Caboclo não jogou sequer por uma seleção nacional. Seu contato com o mundo lá fora havia sido se limitado ao Basketball without Borders das Américas em Buenos Aires, em 2013, e a bons minutos contra um time colombiano pelo Pinheiros na Liga das Américas. Duas boas competições, mas que não tem o peso de um torneio de seleções.
George, por outro lado, já disputou três campeonatos nessas condições. O primeiro foi o Sul-Americano Sub-17 de Salto, no Uruguai, em 2013. Que já serviu para lhe mostrar algumas coisas logo de cara. “Eram 18 jogadores convocados e já tinha uma competição interna muito forte, treinos mais puxados, para definir o grupo”, diz. O time ficou com a terceira posição no torneio, perdendo para a Argentina na semifinal. Valeu a classificação para a Copa América sub-18, em 2014, em Colorado Springs (EUA). E aí veio um tapa na cara.
“O primeiro jogo foi contra o Canadá, e foi o primeiro impacto que tive contra jogadores de nível internacional. Era muito diferente fisicamente, acho que não esperava tamanha superioridade deles”, disse. “Eles eram superiores em um pouco de tudo. Os jogadores do Canadá estão, em sua maioria, nos Estados Unidos. A gente sentiu essa diferença na formação para a deles.”
O armador admitiu também que entrou um tanto tímido em quadra. Aos poucos, se soltou durante a competição em que o Brasil foi um fiasco e, a despeito da campanha frustrada, foi um dos melhores jogadores do torneio, ao lado do ala Wesley Mogi, do Paulistano. Foi lá que entrou oficialmente para a lista de prospectos a serem observados pelos olheiros da NBA. Tão ou mais relevante, o garoto descobriu que existia outro nível de habilidade e intensidade para ser atingido: “Percebi que não posso levar como parâmetro bater só os jogadores daqui, que não vai ser suficiente. Tem que fazer algo a mais para superar os canadenses e os dos Estados Unidos”.
Quando retornou aos Estados Unidos em agosto, em Chicago, Georginho confirmou as expectativas na disputa do Nike Global Challenge, já muito mais solto e agressivo desde o princípio. “Na Copa América havia times fracos e três muito fortes (EUA, Canadá e Argentina). No Global Challenge, eram quase todos do mesmo nível (três eleções regionais americanas, Canadá, China e um combinado africano), dois ou três um pouco acima. Então tinha a possibilidade de ganhar ou perder de qualquer um. Foi legal para ver o que eu poderia fazer numa segunda chance”, diz. Foi lá que ele fez isto aqui:
As exibições de talento natural vasto a ser explorado e a combinação com a incrível história de Bruno Caboclo e o Toronto Raptors acabou, então, invertendo a ordem das coisas. Agora não é mais Georginho que precisa ir ao encontro dos Estados Unidos. Os olheiros de lá já estão vindo ao seu encontro.
Eles chegaram
Segundo consta, até esta semana, ao menos quatro clubes já haviam viajado ao Brasil para ver de perto o armador. O último havia sido o Sacramento Kings, representado pelo Hall da Fama Mitch Richmond, com quem me deparei no ginásio do Pinheiros. Isso apenas nesta temporada, já que, em 2013-2014, já tivemos clubes por aqui para assistir e até aplicar treinos para Bruno Caboclo e seus antigos companheiros – os famosos workouts. Depois de muito tempo, o fenômeno Caboclo fez a NBA reabrir os olhos para o mercado de jogadores brasileiros. Como sabemos, isso aqui é uma mina de ouro em termos de capacidade atlética, atributos físicos. Resta saber explorar e aproveitar – algo que boa parte dos clubes daqui mal faz. Hoje, conto apenas 11 garotos sub-22 com mais de 10 minutos em média na liga nacional.
Georginho tem idade para se declarar a um Draft cuja classe de armadores, segundo todos os avaliadores de talento com quem falei em Nova York, é muito fraca. No topo, D’Angelo Russell e Emmanuel Mudiay são unanimidades. Depois, porém, não despontam muitos os atletas da posição com muito prestígio no momento. Os scouts vão alternar entre o calouro Tyus Jones, de Duke, e os veteranos Jerian Grant, de Notre Dame, e Delon Wright, de Utah. Há, então, uma óbvia lacuna a ser preenchida, especialmente para times que estejam selecionando na parte final da primeira rodada do Draft e estejam interessados em um armador.
De qualquer forma, acreditem, ainda está muito cedo para ir além nesse tipo de especulação. Georginho, primeiro, tem uma LDB a cumprir, na qual joga por um dos favoritos ao título – em que pese a derrota no fim de semana para o Sport, apenas a segunda nos primeiros 18 jogos. O campeonato paulista Sub-19 também vai começar em breve, ainda que o esfacelado site da federação estadual não nos ofereça dica nenhuma de quando vai ser. Melhor ele aproveitar ao máximo essas duas competições, mesmo, para se desenvolver e mostrar serviço. NBB? Por ora, algo muito difícil de acontecer: só foi acionado por Marcel em quatro partidas, sempre com o resultado decidido, acumulando 21 minutos de rodagem.
Na LDB, após as três primeiras etapas do torneio, teve médias de 11,4 pontos, 5,5 rebotes, 3,8 assistências e 2,01 roubos de bola em 26,4 minutos, com aproveitamento de 60,7% nos arremessos de dois pontos e 29,2% de três. Em geral, divide a responsabilidade de armar o time com Humberto Gomes, de 19 anos – também um prospecto para a liga, ao meu ver, que pode pegar carona nessa caravana. Além disso, Lucas Dias fica muito mais tempo com a bola do que no time adulto. Nas duas primeiras partidas em Mogi, teve os altos e baixos normais. Contra o Sport, domingo, atingiu seu recorde pessoal de pontos: 34 pontos em 38 minutos, em derrota na prorrogação. Acertou impressionantes 6 de 13 chutes de três pontos. Na segunda-feira, contra o Minas, o Pinheiros venceu, e o armador esteve mais contido, com 9 pontos em 24 minutos, sofrendo muitas faltas dos adversários (nove no geral), tendo arremessado apenas sete vezes. Foi Humberto que roubou a cena aqui, com 20 pontos em 25 minutos.
Depois da LDB, cuja fase final, com os oito melhores classificados, ainda não tem data, nem sede anunciada, tem o Paulista. Mas o compromisso mais importante para o futuro imediato do brasileiro será o Nike Hoop Summit, em abril. O tradicional evento realizado em Portland reúne invariavelmente os melhores prospectos do mundo todo e dos Estados Unidos. Andrew Wiggins, Nicolas Batum, Dennis Schröder, Tony Parker, Dirk Nowitzki, Dario Saric e até Marquinhos já deram as caras por lá. Georginho foi convidado para a edição deste ano.
Se aceitar, será rodeado por alguns dos melhores jogadores de sua idade,para uma semana toda de treinos, antes de enfrentar os destaques do high school americano. De acordo com os scouts, este evento pode ser crucial nas pretensões de Draft. Se for bem, não só se fixaria como um candidato a primeira rodada, como teria chance de elevar sua cotação até mesmo para um top 20. Se o seu rendimento não for dos melhores, aí, talvez, o ano de 2016 fique algo mais plausível. É tudo muito volátil, porém. Como dizem: basta um time se apaixonar para que qualquer previsão vá para o espaço, como a história de Toronto e Bruno nos mostrou.
Com tanta coisa grande (já!) pela frente, é natural, mesmo, que Georginho deixe de lado aquele DVD de sua primeira grande cesta. Afinal, ainda tem muito o que fazer em quadra, para produzir mais e mais clipes. “Meu sonho eu consigo alcançar com dia a dia de treino, competições e disputas”, afirma. “Antes do Bruno, acho que isso era uma coisa completamente distante para nós. Com esse avanço dele, acho que ficou uma coisa, se não mais próxima, mas que acreditamos que dá para alcançar.”