Vinte Um

Arquivo : Marc Gasol

Jukebox NBA 2015-16: Grizzlies, bala na cabeça e resistência
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

jukebox-rage-grizzlies

Em frente: a temporada da NBA caminha para o fim, e o blog passa da malfadada tentativa de fazer uma série de prévias para uma de panorama sobre as 30 franquias da liga, ainda  apelando a músicas, fingindo que está tudo bem. A gente se esbalda com o YouTube para botar em prática uma ideia pouco original, mas que pode ser divertida: misturar música e esporte, com uma canção servindo de trilha para cada clube. Tem hora em que apenas o título pode dizer algo. Há casos em que os assuntos parecem casar perfeitamente. A ver (e ouvir) no que dá. Não vai ter música de uma banda indie da Letônia, por mais que Kristaps Porzingis já mereça, mas também dificilmente vai rolar algo das paradas de sucesso atuais. Se é que essa parada existe ainda, com o perdão do linguajar e do trocadilho. Para mim, escrever escutando alguma coisa ao fundo costuma render um bocado. É o efeito completamente oposto ao da TV ligada. Então que essas diferentes vozes nos ajudem na empreitada, dando contribuição completamente inesperada ao contexto de uma equipe profissional de basquete:

A trilha: “Bullet in the Head”, por Rage Against the Machine

O Memphis Grizzlies é o símbolo da resistência nesta temporada da NBA. Desde o princípio. Se Chicago e Indiana haviam abandonado o movimento, os senhores do “Grit & Grind” ainda apostavam em sua dupla de pivôs, em atacar o garrafão com brutamontes, em vez de ágeis e serelepes armadores, para abrir a quadra. Só não estavam completamente isolados devido ao resgate desta forma pelo San Antonio Spurs.

O recuo de Gregg Popovich, de todo modo, talvez tenha mais a ver com a proposta que julgue mais oportunista para o contexto atual de sua equipe, para tentar derrubar o Golden State Warrirs. Creio que só resgatou a fórmula que tanto castigou o Phoenix Suns de Nash e D’Antoni, por entender que seria muito complicado apostar corrida com os atuais campeões, em vez acreditar que há uma nova velha tendência na liga a ser capitaneada.

Uma vez eliminado dos playoffs no ano passado em uma épica série contra o Clippers, Popovich pode muito bem ter largado tudo para curtir a rota vinícola californiana. Ou pode ter dado uma espiada na semifinal de conferência entre Warriors e Grizzlies, em que os Splash Brothers e parceiros sofreram um tanto, e pinçado uma ou outra dica dali, a ponto de abastecer seu time com cinco pivôs de nível excepcional para bater bife na zona pintada.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

Já Memphis… Bem, o Memphis, com todo o respeito que o clube a cultivou nos últimos anos, vindo de três temporadas acima das 50 vitórias e de uma liderança de 2-1 neste embate com Golden State, não poderia se planejar seu elenco precisamente por conta de um oponente. Por mais otimistas que seus diretores possam ser, deveriam saber que a luta pelo título era algo improvável. Mas o contrato de Marc Gasol estava renovado, Zach Randolph, ao que tudo indica, não foi envolvido em nenhuma negociação séria, e ainda trataram de contratar Brandan Wright para fazer a escolta do velho par, cobrindo a lacuna deixada por Kosta Koufos.

Acontece que, dessa vez, a tática falhou. Muito antes das lesões, a equipe estava com dificuldade para assumir seu posto entre a elite do Oeste. Não em termos de competir com Warriors e Spurs, dois times que se distanciaram do pelotão muito cedo e com propriedade. A defesa, consistentemente uma das mais fortes da liga, não funcionava, com seu gigante espanhol fora de forma, fazendo sua pior temporada nesta década. Até o All-Star Game, era apenas a 16ª retaguarda mais eficiente da liga. Comparando, o time sempre esteve no top 10 de 2011 a 2015. E não é que tenham perdido intensidade na contenção para inflamar o ataque: seu sistema ofensivo continuava sôfrego (apenas o 20º…), sem uma artilharia confiável de fora.

E aí começou. Mike Conley, Zach Randolph, Wright, as suspensões de Matt Barnes… Até Marc Gasol sofrer uma fratura no pé, passar por cirurgia e ser afastado da temporada. Parecia, à época, a gota d’água. Por mais que tivessem boa vantagem para os times fora da zona de classificação, a posição na zona de classificação aos mata-matas parecia seriamente ameaçada.  E ainda vieram as trocas de Courtney Lee e Jeff Green.  Sério: como você vai sobreviver a isso?

Randolph, um dos poucos rostos familiares por aí. Mas com problemas no joelho

Randolph, um dos poucos rostos familiares por aí. Mas com problemas no joelho

Simples: lutando, resistindo. Os caras não só se seguraram no quinto lugar da conferência, como conseguiram aumentar a vantagem para o sexto, que hoje é o Portland, mas já foi o Dallas. Não que tenham sido espetaculares, arrasadores – desde que seu principal jogador foi vetado, o Grizzlies disputou 20 partidas e venceu 11. Mas um aproveitamento superior a 50%, nessas condições, é algo fenomenal, ainda mais considerando que seu rendimento ofensivo e defensivo caiu desde o All-Star.

E quais são essas condições? Poderíamos dizer “calamitosas”, não fosse a resposta que mais importa, aquela que se dá em quadra, e por isso a trilha a de ser de porrada na orelha, ou, hã, bala na cabeça. É uma música que está entre as letras menos politizadas do Rage Against the Machine, mas entre seus seus sons mais raivosos.

Vejamos: até o início da semana, o time só estava atrás do Washington Wizards, de Nenê e Brad Beal, em termos de jogos perdidos por lesão, uma conta que aumentou recentemente com a ruptura que Mario Chalmers sofreu no tendão de Aquiles – algo muito cruel para um atleta que fazia um belíssimo campeonato e está prestes a entrar no mercado de agentes livres – e com a distensão na virilha de PJ Hairston.

Chalmers estava jogando muito até sofrer grave lesão. Rogaram praga?

Chalmers estava jogando muito até sofrer grave lesão. Rogaram praga?

Para compensar tantos desfalques, a diretoria e seus scouts tiveram de se desdobrar. Hoje já são 27 jogadores utilizados neste campeonato, o que dá mais de cinco quintetos e praticamente dois elencos completos (cada equipe pode ter 15 atletas no máximo). Para constar, as trocas realizadas durante a temporada também influenciam aqui, com a chegada de Lance Stephenson, Chris Andersen, James Ennis, Chalmers e Hairston. Mas foram as questões médicas, mesmo, que mais contribuíram para essa lista, pedindo as contratações de curto prazo, aqueles vínculos básicos de 10 dias. Ryan Hollins, Elliott Williams, Ray McCallum e Jordan Farmar nós conhecíamos de outros verões – e, para constar, quanto à semana passada, Farmar diz que estava sentado no sofá; em sua estreia, contra o Phoenix Suns, cobrou lances livres decisivos pela vitória.  Mas e quanto a Briante Weber, Xavier Munford e Alex Stephenson? Um chegando atrás do outro pela porta giratória. “Com todo o respeito, mas às vezes eu não sei… os sobrenomes deles. Esse é o tipo de temporada que tivemos”, afirmou Matt Barnes ao ESPN.com.

As idas e vindas causam uma bagunça. Se os próprios jogadores não se reconhecem com facilidade, imagine os oponentes como ficam? Depois da vitória mais expressiva desse grupo – um triunfo por 106 a 103 em Cleveland –, Kyrie Irving admitiu que havia se preparado para jogar contra Conley e afins e se viu surpreendido em quadra.  “Tem noite em que não vai ser bonito, mas vamos para a quadra competir e nos dar uma chance real de vencer. É fácil olhar para nosso time e rir, nos subestimar, se você é o jogador adversário. Mas se eles vão para o jogo e acham que podem te dominar cedo, pode ser uma longa e  dura noite para nós, então não queremos nos meter numa situação dessas”, afirmou o técnico Dave Joerger, para quem fazer esse tipo de observação deve ser uma ironia.

Se, para a NBA em geral, seu atual elenco é feito de remendos e renegados, para um treinador que iniciou sua carreira em ligas menores dos Estados Unidos, acostumado a pegar o busão, dormir em motéis à beira de estrada. De 1997 a 2004, passou pelo Dakota Wizards. Antes de chegar ao Sioux Falls Skyforce, pelo qual ficou de 2004 a 2006, ainda teve breve passagem pelo glorioso Cedar Rapids River Raiders. E aí voltou para mais uma temporada em Dakota, até ser contratado como assistente do Memphis.  Então não é que ele vá reclamar de poder contar com alguns veteranos como Tony Allen, Vince Carter e Barnes, que sabem o caminho das pedras, ou de jogadores ainda em busca de formação, mas promissores, que poderiam ser titulares em 90% da Euroliga.

Joerger: não há desconforto em Memphis depois de Dakota

Joerger: não há desconforto em Memphis depois de Dakota

O técnico destaca a liderança de seus atletas mais experientes, ajudando na aclimatação dos mais jovens. E esses caras que estão chegando sabem que pode ser a grande oportunidade de suas carreiras. A mistura vem dando certo. “Normalmente, quando temos tantas contratações pontuais, com jogadores da D-League, é para um time que não esteja competindo mais por nada. Mas o fato de estarmos lutando por uma posição nos playoffs, sustentando e até mesmo aumentando a vantagem, você tem de tirar o chapéu para esses caras que entraram e jogaram”, disse Barnes.

Neste mês, o time só levou sofreu duas derrotas de lavada, incluindo uma surra de 49 pontos contra o Rockets, em Houston. Em suas vitórias, só teve uma por duplo dígito, contra o Clippers, no dia 19. De resto, os placares se alternam entre -10 e +7 de saldo. Melhor é vencer como o Warriors, claro, ou como o Spurs. Mas nem todo mundo tem Splash Brothers. Aí procura-se um jeito. O curioso é que,  casualmente, Joerger encontrou uma formação de “small ball” funcional, mesmo sem arremessadores, mas com atletas versáteis, multifuncionais que cobrem uns aos outros, como Barnes, Carter, Stephenson, o calouro Jarell Martin, JaMychal Green. “Acho que somos uma equipe assustadora. Acho que somos o Golden State sem o poderio de chute. Nós todos podemos fazer muitas coisas em quadra, fazer jogadas”, disse Barnes.

Nesse contexto, gente, Allen tem média de 15,0 pontos neste mês, sendo que em sua carreira o máximo que teve foram 11,5 pontos no terceiro ano em Boston, com direito a jogos de 26 e 27 pontos. Ele não chegava a 20 pontos desde 2011-12. JaMycal é uma revelação (aliás, vale a regra: se um jogador tem o selo do Spurs, mas acaba dispensado, por razões diversas, não custa dar uma investidada).  Stephenson reencontrou a luz, se sentindo livre para criar. Ainda tentando entrar em boa forma, depois de uma lesão em sua última temporada por LSU, o calouro Martin tem seus momentos.

O que dá ainda mais graça nisso tudo é o conjunto de personalidades intrigantes agrupadas pelo gerente geral Chris Wallace. Tony Allen já pautava a loucura por lá, até com karaokê. Matt Barnes deu uma bela contribuição financeira ao clube e à liga em geral com suas suspensões, desde a briga com Derek Fisher a uma visita ou outra ao vestiário do oponente. Zach Randolph já se acalmou bastante desde o final da adolescência em Portland, mas vai aparecer aqui e ali com uma declaração de fazer chorar (de rir). Mario Chalmers é outro de frases daquelas. E aí, em trocas, Joerger ainda ganhou caras como Lance Stephenson, PJ Hairston e Chris Andersen. Para ficar nas referências ao universo pop, é como se fosse o Esquadrão Suicida. Ou como se Mike Conley se visse como Nicholas Cage em “Con Air”, clássico de “Temperatura Máxima”. Todo mundo merece uma segunda chance. Ou terceira. Ou quarta.

Com tanta excentricidade no vestiário, é capaz de os adversários realmente considerarem essa versão do Grizzlies assustadora, por outros motivos. Não era exatamente esse o plano, mas o “Grit & Grind” segue vivo.

A pedida: manter o quinto lugar e tentar infernizar ao máximo a vida dos velhos amigos/inimigos do Clippers na primeira rodada.

A gestão: com tamanho caos em quadra, a franquia passa por mais uma turbulência fora de quadra, como de praxe desde que o bilionário Robert Pera fechou sua compra. Segundo reportagem do ESPN.com, existe uma tensão entre os acionistas minoritários, que acusam um distanciamento de Pera, que os teria afastado das decisões diárias, mesmo que não esteja mais perto do clube, no dia a dia.

Entre tantos ricaços, com as mais diversas origens no mundo dos negócios, imagine a fogueira de vaidades. Esse é o tipo de entrevero que deve acontecer com frequência ao redor da liga, mas que quase nunca alcança as manchetes. Dessa vez só veio à tona quando Steve Kaplan, um desses acionistas minoritários, se colocou como candidato à compra do Minnesota Timberwolves.

Até o momento, o departamento de basquete, com Chris Wallace estabelecido como gerente geral e assessorado pelo veterano Ed Stefanski e pelo supernerd John Hollinger, parece blindado, e nada mais merecido, com tanta dor-de-cabeça para montar o time. Na busca por novas peças, Wallace optou por uma estratégia menos conservadora, e deu certo. Se Ryan Hollins foi contratado, quem o pediu era Dave Joerger. De resto, a diretoria decidiu apostar. “Temos procurado jogadores jovens para se analisar, e é algo que meu histórico mostra. Já me vi envolvido nesse tipo de situação na minha época de Miami, Boston e aqui. E as melhores apostas, como quando trouxemos Bruce Bowen para Miami, Adrian Griffin para Boston, eram caras jovens que não tiveram muitas oportunidades. Eles não tiveram a oportunidade de serem rejeitados e de falharem, como muitos caras mais velhos. Tivemos sorte com alguns desses jogadores, e eles ficaram na liga por um bom tempo”, afirmou.

E o Memphis precisa desse tipo de jogador. Se renovar com Mike Conley, sua folha salarial  já deve atingir a marca de US$ 70 milhões, para oito atletas. Por mais que o teto esteja prestes a subir consideravelmente, não sobraria muito para reforçar uma base envelhecida e que, hoje, não se vê em condições de fazer muito barulho nos playoffs. Sob contrato, seriam apenas dois jogadores jovens para desenvolver:  Jarell Martin e o lesionado Jordan Adams, ala que até agora não disse a que veio.

Ao menos o clube conseguiu recuperar algumas escolhas de Draft com trocas que, no final, não atrapalharam em nada o rendimento do time em quadra.  Courtney Lee contribui para o sucesso do Charlotte Hornets, mas não faria diferença neste novo contexto do Grizzlies. Jeff Green é aquele vive de lampejos aqui e acolá, numa irregularidade que não o permite se fixar em lugar nenhum, mas ainda atrai algum concorrente, sendo trocado pela quarta vez na carreira. Ao cedê-los, conseguiu uma escolha futura de primeira rodada e mais quatro de segunda, compensando algumas negociações do passado, com seleções prometidas ao Denver Nuggets e ao Boston Celtics.

Olho nele: Lance Stephenson

Olho no Lance

Olho no Lance

Para a torcida do Memphis, o ala já virou um problema. Mas dos bons, quem diria. Depois de uma passagem desastrosa pelo Hornets e de mal ser aproveitado por Doc Rivers pelo Clippers, Stephenson chegou a Memphis totalmente desprestigiado. Em seu release para anunciar a transação, o clube citou primeiro a escolha de Draft que receberia de Los Angeles, para depois mencionar o desmiolado ala como complemento. Havia a possibilidade de ele ser dispensado logo de cara, mas alguns atletas se manifestaram internamente a seu favor, acreditando em sua recuperação, de que poderiam, digamos, controlá-lo.

Em 17 jogos, aproveitando-se de tantos desfalques e da carência de homens criativos na escalação, o antigo pupilo de Larry Bird promoveu uma reviravolta em sua temporada. Enquanto Conley não volta, Stephenson é aquele que tem mais recursos no elenco ativo para criar situações de cesta por conta própria, usando 26,2% das posses de bola da equipe, o maior da temporada, produzindo 15,1 pontos, 2,8 assistências e 5,1 rebotes, com 49,8% de acerto nos arremessos, em 26,2 minutos.

O que pega nisso tudo é que, para a próxima temporada, Chris Wallace vai ter decidir o que fazer com o talentoso, mas problemático jogador. Seu contrato prevê um salário de US$ 9 milhões, mas sem garantias. O diretor pode dispensá-lo até julho, sem precisar pagar um tostão sequer. É uma boa grana, sem dúvida, mas, daqui a alguns meses, com a previsão de inflação geral, pode parecer uma pechincha. Agora: obviamente que tudo que se refere ao ala tem de ser apreciado com moderação. Estabilidade nunca foi seu forte, e nas últimas partidas, desde a chegada de Jordan Farmar, seus minutos e arremessos já estão mais controlados por Joerger.

juan-carlos-navarro-grizzlies-cardUm card do passado: Juan Carlos Navarro. Que tal falar sobre oportunidades desperdiçadas? Em 2007, o clube conseguiu convencer Navarro a abrir mão de seu reinado catalão para se juntar ao amigão Pau Gasol no interior do Tennessee. Os direitos sobre o espanhol pertenciam ao Washington Wizards, mas a diretoria queria tanto o cestinha, que aceitou pagar uma escolha futura de primeira rodada para contratá-lo. Como sabemos, o cestinha ficou apenas um ano no time, foi um prejuízo danado. Mas isso não tem nada a ver com a incapacidade de JC de emplacar o apelido de “La Bomba” na NBA. Alguém com seu arremesso, velocidade de raciocínio e personalidade vai encontrar um lugar em praticamente qualquer time do mundo. Acontece que aquele Grizzlies em específico, a despeito da presença de Pau Gasol, não estava preparado para recebê-lo.

Navarro chegou a um clube que havia ficado fora dos playoffs na temporada anterior, depois de alguns anos bem-sucedidos com o genial Hubie Brown e o czar Mike Fratello. A bola da vez era Marc Iavaroni, assistente de Mike D’Antoni no badalado Phoenix Suns de então. Pois a passagem de Iavaroni por Memphis foi um desastre absoluto. É difícil encontrar ex-jogador, ex-diretor, qualquer um que seja, disposto a elogiar o treinador. A equipe entrou em colapso, venceu apenas 22 jogos e, para piorar, mandou seu principal jogador para o Lakers, deixando seu compatriota desolado. Ficou um aninho apenas nos Estados Unidos e logo retornou ao Barça, correndo. É a diferença que faz quando um clube consegue cultivar internamente uma cultura vencedora. Por maior que seja o número de malucos no vestiário hoje, Memphis ainda está segurando as pontas.


Duas lesões põem duas apostas certas de playoff a perigo pela NBA
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Chicago e Memphis sofrem duro baque com lesões

Chicago e Memphis sofrem duro baque com lesões

Os playoffs da NBA em 2016 podem ficar sem Chicago Bulls, de um lado, e Memphis Grizzlies, do outro.

Se fosse para escrever esta frase em outubro do ano passado, poderiam acusar o autor do blog de maluco depravado. Depois do infeliz anúncio das lesões de Jimmy Butler e Marc Gasol, porém, esse virou um cenário possível, para derrubar duas apostas antes certeiras. Os dois clubes estão verdadeiramente a perigo.

Butler deve ficar fora de ação de três a quatro semanas, com uma distensão no joelho esquerdo. Sobre Marc Gasol, o que se sabe apenas é que ele sofreu uma fratura no pé direito. O clube ainda não definiu um prazo, mas é algo muito grave para qualquer jogador de basquete, mas principalmente alguém de seu tamanho – e peso – e pode afastá-lo do restante da temporada. Até Sergio Scariolo, técnico da seleção espanhola, já está preocupado.

Qual pode ser o impacto desses desfalques para cada time?

Butler & Bulls

Agora Chicago sofre com o joelho de Butler

Agora Chicago sofre com o joelho de Butler

Se as estimativas médicas mais otimistas se ralizarem, Butler deve retornar ao time no início de março. Vamos supor que seja no dia 5 desse mês, contra o Houston Rockets, em casa. Até lá, serão nove partidas, com cinco em casa e quatro fora. Nesta sequência, eles vão ter algumas pedreiras: dois jogos contra Atlanta e duelos com Cleveland, Toronto e Miami, mais Washington, Portland e Orlando. A única baba seria o Lakers.

Seria. Pois, sem Butler e Joakim Noah, com Nikola Mirotic ainda sem data para retornar depois de uma cirurgia mais complicada do que se esperava para resolver uma apendicite, Chicago se vê com uma rotação enxuta e poder de fogo reduzido.

Pois Buttler é o cestinha do time, com 22,0 pontos, e  lidera o time em minutos (37,9!) e roubos de bola. É o segundo em assistências e o quinto reboteiro. Com o ala jogando o melhor basquete de sua carreira, Chicago já estava capengando e caindo pela tabela, perdendo sete dos últimos dez jogos. No geral, em 51 partidas, sua defesa sofreu mais pontos do que o ataque converteu, gerando um saldo de -0,3 na temporada. Agora como fica?

Pau Gasol é um porto seguro no ataque – supõe-se que qualquer possibilidade de troca envolvendo o craque espanhol esteja enterrada. Mas Mike Dunleavy Jr. já terá entrado em forma? Derrick Rose vai suportar uma carga maior? E como E’Twaun Moore, Doug McDermott e Bobby Portis vão se sair diante de maior atenção das defesas? Pior: como vai ficar a defesa, que ainda é o ponto mais forte do time? Fred Hoiberg vai encarar realmente muitas questões. Cada jogo será um desafio, e a única nota de consolo aqui fica por conta do intervalo em torno do All-Star, que impede um estrago maior.

Dupla que faz falta em diversos sentidos

Dupla que faz falta em diversos sentidos

A situação de Noah e Mirotic também limita a diretoria em tentativas de trocas. Se estiverem desesperados por reforços, a dupla John Paxson e Gar Forman tem um trunfo valiosíssimo em mãos: uma escolha de Draft devida pelo Sacramento Kings, que será entregue a Chicago se o clube californiano não estiver entre os dez piores nas próximas duas temporadas. É o tipo de escolha que pode render um jogador relevante, para uma franquia que esteja interessada em se desfazer de algumas peças.

Em anos passados, talvez todas essas incertezas não importassem tanto. Mas, na campanha 2015-16, o pelotão intermediário da Conferência Leste apresenta maior competitividade, e não é que o Bulls tenha muita margem de manobra. Com três vitórias a mais do que derrotas, a equipe vê o Charlotte Hornets, de 50%, bem próximo, disposto a voltar aos playoffs. Um Hornets muito bem dirigido por Steve Clifford e que já, ao que parece, enfrentou o pior em termos de lesões. No perímetro, Michael Kidd-Gilchrist voltou para reforçar a defesa e Nicolas Batum está recuperando o ritmo, se o dedão assim permitir. Já Al Jefferson está pronto para jogar depois do All-Star.  A cavalaria chegou.

Em termos de tabela até o final da temporada, há um fator que joga a favor do Hornets: a equipe tem três jogos a menos que o Bulls contra times de aproveitamento superior a 50% (17 a 14). Por outro lado, o time hexacampeão da NBA joga duas vezes a menos como visitante (17 a 15), e, longe de seus domínios, as abelinhas têm ido muito mal, com 17 reveses em 24 partidas.

Entre Charlotte e Chicago está posicionado o Detroit Pistons, que tem Brandon Jennings e alguns veteranos como moedas de troca para os próximos dias para consolidar sua rotação. A gestão de Stan Van Gundy já mostrou que não tem problemas em fechar os negócios, e há uma pressão para se matar a saudade dos mata-matas. Difícil imaginar uma queda de produção aqui. Pelo contrário.

Um pouco mais abaixo, Washington (46%) e Orlando (45,1%) ainda não jogaram a toalha, mas precisam primeiro curar sua inconsistência para, depois, esperar por uma derrocada dos concorrentes.

Gasol y los Osos Pardos

Marc Gasol saindo de quadra: não é tão normal assim

Marc Gasol saindo de quadra: não é tão normal assim

Nas cinco temporadas anteriores, o Grizzlies jogou sem Big Marc por apenas 27 jogos, sendo que 23 destes aconteceram em uma só temporada, 2013-14. Isto é: fica difícil de deduzir qual o impacto de um período extenso de tabela sem o pivô espanhol, que liderava a NBA em minutos entre jogadores de sua posição, com 34,4 por rodada. Nestas mesmas cinco temporadas, ele foi o grandalhão com o maior número de minutos também, com quase 500 a mais do que a aberração DeAndre Jordan, para termos uma ideia, segundo levantamento do colunista Chris Herrington, do Memphis Commercial Appeal. Isso sem contar as campanhas nos playoffs.

Quanto tempo vai levar para Gasol sair da enfermaria? Vale a pena apressar o pivô e correr riscos? Aliás, o departamento médico do clube e seus diretores agora estão sob pressão, uma vez que o gigantão acusava dores no pé e, ainda assim, foi escalado contra Portland na segunda-feira e suportou apenas 11 minutos. O pé já estava fraturado? Ou a fratura aconteceu em quadra? Era uma questão de tempo? Acho que o diagnóstico independe. Foi irresponsabilidade usá-lo nessas condições.  Nessa discussão, não dá para ignorar também a personalidade de Gasol, que é daqueles que não permite que qualquer contusão o tire de quadra – e que, segundo diversos relatos internos, se apresentou fora de forma para este campeonato. Por mais valente e teimoso que seja o  jogador, os interesses do time a longo prazo devem prevalecer. Que ele volte só quando estiver 100%.

Há três anos, Mike Conley, Tony Allen, Courtney Lee e Zach Randolph estavam no núcleo central da rotação, mas o restante mudou muito, com a saída de Kosta Koufos, Ed Davis, Quincy Pondexter, Mike Miller, James Johnson e Nick Calathes. Koufos, aliás, é o grande diferencial aqui, como um pivô mais do que competente para suprir a a ausência do craque do time por algumas semanas. Para não falar da capacidade atlética de Davis.

Wright jogou apenas sete partidas na temporada. Perfil bem diferente em relação a Gasol, também

Wright jogou apenas sete partidas na temporada. Perfil bem diferente em relação a Gasol, também

Hoje, Dave Joerger olha para o banco e vê… Ryan Hollins. Ai. Brandan Wright está se ajeitando para voltar, mas é um pivô de características muito diferentes (é só colocar um pivô do lado do outro para fazer o jogo dos sete erros). Em tese, se nenhuma troca acontecer para o técnico pode rever seu plano de jogo e confiar numa formação mais baixa, dando mais minutos a Jeff Green, Matt Barnes, Vince Carter e, quiçá, JaMychal Green. Hoje, o Grizzlies tem o quarto ritmo mais lento da liga, trotando mais que Utah, Miami e Cleveland.

Nesta temporada, o quinteto que mais minutos recebeu sem Gasol teve Mario Chalmers, Carter, Barnes, Jeff Green e Hollins, com apenas 31min57s (apenas o 13º no geral). Essa formação teve saldo negativo de -11,6 pontos por 100 posses de bola. Em geral, sem Gasol, o Memphis tende a apanhar. A única formação que se deu bem desfalcada do pivô foi a de Chalmers, Lee, Barnes, Green e Randolph, com +35,4 em 31min18s. Mas estamos falando de pouquíssimos minutos aqui.

O perfil de Wright, como vimos em Dallas, favorece um jogo mais aberto, usando a ameaça que seus mergulhos no garrafão representam. Mas aí precisa ter tiro de três pontos ao seu redor. E tem artilharia para isso? Lee converte 37,5% de suas tentativas. Conley, 35% e Barnes, 34,1%, acima da média do time. O restante? Chalmers vai de 33,6%, Jeff Green, 30,2% e Carter, 26%. Não anima tanto, né? Não por nada, o time é o quarto que menos usa os tiros de longa distância, com 21,6% de todos seus arremessos, e o  o terceiro que menos pontua com esses disparos, com 18,3% do total. Sem o hi-lo de Gasol e Randolph, isso deve mudar.

E a defesa? Aí, rapaz, é o maior enigma. A queda de rendimento do Grizzlies nesta temporada passa justamente pelo modo como o time despencou em sua eficiência defensiva, apenas a 15ª no geral. Em percentual de rebotes coletados, o time caiu 12º para 23º. Isso com o Big Marc escalado. Vai ficar como agora? A verdade é que, nesta campanha especificamente, o espanhol não exerceu a influência costumeira, despencando no ranking de Real Plus-Minus, por exemplo, até por não ter chegado tão preparado como em 2014, quando teve seu melhor ano na liga. Mas seria uma surpresa que as coisas melhorassem daqui para a frente.

Fato é que o Memphis não tem muitos incentivos para entregar os pontos, uma vez que sua escolha de Draft seria transferida para Denver no caso de o time ficar fora dos playoffs (e não der a sorte de saltar para o grupo dos três primeiros do recrutamento). Nos últimos anos, a diretoria se mexeu prontamente para compensar lesões, como no caso de Shane Battier e Marreese Speights. Agora, contudo, há poucas alternativas para negociar. As escolhas de Draft estão comprometidas e os jovens Jordan Adams e Jarrell Martin mostraram muito pouco.

Lillard foi ignorado mais uma vez e está fulo da vida

Lillard foi ignorado mais uma vez e está fulo da vida

Em termos de classificação, qual a maior ameaça? O sobreviente “grit and grind” de Memphis tem hoje quatro vitórias a mais e cinco derrotas a menos do que o renovado Portland, o nono. Com um trabalho magnífico de Terry Stotts e Damian Lillard ainda mais enfezado, o Blazers venceu oito de seus últimos dez jogos. No geral, a garotada já apresenta um saldo de pontos superior ao de Grizzlies, Mavericks e Rockets. Ou seja: o panorama atual aponta um time em ascensão e outro que sofreu um duro golpe. Nessa disputa, os dois maiores trunfos de Memphis são a vantagem atual na tabela e o fato de o Blazers encarar 19 oponentes de aproveitamento igual ou superior a 50% até o final da temporada, contra 15 do Grizzlies.

Dallas, Utah e Houston estão no meio do caminho. Desse trio, tudo indica que o Utah possa alcançar a quinta colocação. Se o time soma 26 triunfos e 25 reveses, vem de sete vitórias consecutivas, enfim reunindo Derrick Favors e Rudy Gobert no garrafão, com Rodney Hood crescendo semanalmente para ajudar Gordon Hayward na criação. Desde a virada do ano, o jovem time de Quin Snyder já tem a quinta defesa mais eficiente, reencontrando a receita que deu tanto certo na reta final da temporada passada. Mais: desde que Favors retornou ao time em 25 de janeiro, é a terceira melhor defesa neste período.

Quanto aos texanos Mavericks e Rockets, é difícil fazer qualquer previsão. São dois times que sobrevivem por seus ataques poderosos, mas com problemas defensivos gravíssimos, independentemente da química, no caso: o vestiário de Dallas é dos mais tranquilos da liga, enquanto em Houston o caldeirão borbulha – é a equipe mais frustrante da liga, e de longe. Não seria de se espantar que o Grizzlies ainda os supere na tabela, mesmo sem Gasol. Mas será uma disputa bem interessante. E, imprevisível.


Como o Golden State Warriors vai reagir à adversidade?
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Tony Allen, uma peste infernizando os Splash Brothers

Tony Allen, uma peste infernizando os Splash Brothers

O Golden State Warriors viveu um ano praticamente perfeito. Um técnico novo brilhante, um sistema repaginado, e a dominância da NBA.  A melhor defesa, o segundo melhor ataque, sufocando e correndo. O MVP Stephen Curry. O grande salto de Klay Thompson e Draymond Green. Um elenco versátil. Tudo isso para desembocar na melhor campanha da liga, com sete vitórias a mais que o Atlanta Hawks, com um aproveitamento de 81,7%. Não só isso, mas a sexta melhor campanha da história, ao lado de outros times históricos.

Agora, esse mundo perfeito se vê seriamente ameaçado, após duas derrotas seguidas para o Memphis Grizzlies, que se vê liderando a série pelas semifinais do Oeste ao limitar o poderoso ataque californiano a apenas 89 pontos no Jogo 3. A pauta obrigatória, então, é a seguinte: como o Warriors vai responder a tamanha adversidade? A primeira verdadeira resistência que enfrenta desde o início da temporada. “Esse é um processo de aprendizado para nós. Somos um time muito jovem”, afirma o treinador Steve Kerr. “Agora este é o nosso momento da verdade. Você tem de aprender durante os playoffs.”

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

Talvez a intenção de Kerr seja dizer que seu elenco é inexperiente, não jovem de idade, uma vez que a média de idade do elenco é de 27 anos, contra 27,7 do Memphis Grizzlies. O núcleo de Stephen Curry (27), Klay Thompson (25) e Draymond Green (25) chegou a esta edição dos mata-matas com apenas três séries disputadas em 2013 e 2014. Do outro lado, o Memphis Grizzlies já tem uma base que está em seu quinto ano de competição em alto nível, com sete séries e 42 partidas na caixola. Entre tantos componentes táticos do confronto, a experiência, o emocional também faz diferença, não há como negar.

As coisas ameaçam sair, ou já saíram do controle de Curry

As coisas ameaçam sair, ou já saíram do controle de Curry

Agora fica essa dúvida sobre como esses caras vão se comportar no Jogo 4, claramente decisivo, nesta segunda-feira. Após a segunda derrota seguida, a resposta deles foi de tranquilidade. De que, obviamente, as coisas não haviam saído como queriam, mas que tinham plena capacidade de reverter o quadro e acalmar a turbulência que, sabem, já gira em torno do time, fora do vestiário. Aliás, é o que eles ouvem durante todo o campeonato, aquela de sempre: o sucesso da temporada regular vai se traduzir para os playoffs? Esse estilo de jogo pode ser vencedor? “Eles são uma equipe que só ataca com arremessos. Arremessos não dão certo. Todo esse tipo de coisa vai aparecer agora”, afirma Draymond Green, com a personalidade de sempre. “É frustrante, mas é divertido”, diz Curry.

Personalidade? Green pode ter atacado muito mal, acertando apenas uma de oito tentativas de cesta, mas ele mesmo diz que não é chutando que ele vai ajudar o Golden State a virar a série. Sua relevância maior está na defesa, na liderança e nos pequenos detalhes. Porém, no quarto período deste sábado, quando o Warriors já tentava antecipar sua reação antes de conceder mais uma derrota, o ala-pivô falhou clamorosamente.

Primeiro, invadiu o garrafão durante um lance livre cobrado por Curry, o maior arremessador desta geração. Perdiam por seis pontos, a 3min35s do fim, e cada cesta era importante. “Foi apenas uma jogada estúpida que você não pode cometer num jogo desta magnitude, e assumo toda a responsabilidade por isso, já que não fez o menor sentido. Você está falando de um cara que supostamente tem um elevado QI”, afirmou, de novo, com a mesma sagacidade de sempre. O atleta é duro ao falar sobre os outros. Não ia mudar o tratamento em uma autorreferência.

Draymond Green corre em direção a Coutrney Lee e ao turnover

Draymond Green corre em direção a Coutrney Lee e ao turnover

O problema é que, dois minutos depois, precisamente a 1min13s do fim, Green se atrapalharia novamente. O Grizzlies já não tinha Marc Gasol em quadra, excluído com seis faltas, e o placar apontava cinco pontos de diferença, com posse de bola para os veteranos. O ala-pivô saiu em disparada com a bola, driblando-a feito um maluco, na tentativa de acelerar o jogo e pegar a defesa desprevenida. Na verdade, quem não estava preparado para a transição era o próprio jogador, que deu de cara com Courtney Lee, pronto dar o bote e recuperar a bola. Um baita estrago.

E aí a gente se pergunta: o que levou Green a deslizar desta maneira? Foram dois erros bestas na conta de um jogador que, sim, continua sendo um dos mais inteligentes da liga. Talvez só mais difíceis de entender do que os três lances livres errados em quatro batidos por Klay Thompson em todo o jogo. Ou o fato de Curry ter desperdiçado também outros dois chutes em sete disparos a partir da linha. Na temporada regular, eles acertaram, respectivamente, 91,4% e 87,9%. Nos playoffs, os números despencaram para 83% e 65%. Nesse contexto, a invasão de Green fica um pouco menos grave, já que não era um ponto tão garantido assim. Nota-se um desequilíbrio do time para além dos lances livres, contudo. Nos tiros de longa distância, mesmo quando bem posicionados e se contestação, os atletas do Warriors falharam nos últimos dois jogos. Acertaram apenas 4 de 18 chutes quando estavam “totalmente livres”, segundo a medição do SportVU, o sistema que digitaliza toda a ação das partidas em cada ginásio de NBA. Quando tinham defensores entre 1,2 e 1,8 m de distância, o aproveitamento foi de apenas 4 em 16. Baixíssimo.

Então será que eles realmente estão se divertindo em quadra? Talvez simplesmente não tenha sido a melhor escolha de palavras por Curry. E outra: mesmo que estejam com a confiança abalada, o erro maior seria acusar o golpe e revelar dúvidas. Não não poderiam jamais fazer isso. Os números, por conta, já são preocupantes. O Golden State converteu neste sábado apenas 43,2% dos arremessos e 23,1% em três pontos (errando 20 de 26) – contra, respectivamente, 47,8% e 39,8% na temporada. No Jogo 2, derrota em casa,  foi ainda pior: 41,9% e 23,1%. O estrago maior acontece no primeiro tempo: segundo dados do Synergy, o time estava acertando 51,2% de seus arremessos e desperdiçando 7,3 posses de bola no primeiro tempo durante os playoffs até o sábado. Neste Jogo 3, foram 38,1% e nove erros em 24 minutos.

Reflexo, claro, da forte defesa do Memphis. Porque tem isso também: não é que o Golden State esteja se afundando contra um Minnesota Timerwolves ou, glup, um New York Knicks. Com formação completa nos playoffs – leia-se: com Mike Conley na armação –, os caras disputaram cinco jogos e ainda não perderam. Só não dá para se ater apenas ao sucesso recente, já que esse núcleo experiente somou mais de 50 vitórias nas últimas três temporadas – e que, na atual, foi por muito tempo o segundo melhor time da conferência, até perder rendimento a partir do All-Star Game. Para ser mais específico, até o dia 18 de fevereiro, o clube tinha a terceira melhor campanha da liga, com 73,6% de aproveitamento.

A identidade, sabemos todos, é fortemente vinculada aos seus pivôs e a opressão física que eles podem proporcionar, com a assessoria da tenacidade de Tony Allen (que já soma 11 roubos de bola na série e 23 nos playoffs, com mais de três por jogo nas últimas quatro rodadas) e da agilidade de Courtney no perímetro. O jogo pesado com a dupla Gasol e Z-Bo, e tal, como uma das raras exceções seguindo essa linha, ao lado do Indiana Pacers de West e Hibbert.  Para o atual campeonato, porém, Joerger também conseguiu desenvolver seu sistema ofensivo, terminando com o 13º ataque mais eficiente – sendo que até o All-Star era o 11º. Nada de outro mundo, de amedrontar oponentes, mas um avanço para quem não havia passado da 17ª colocação nas três temporadas anteriores, seja com Dave Joerger ou com Lionel Hollins.

Mas, sim, a defesa continua o ganha-pão. É a segunda melhor dos mata-matas, atrás apenas do Chicago Thibs. Contra o Warriors, vemos essa retaguarda se recompor rapidamente em transição, com muita consciência do que precisa ser feito. O vício, a força do hábito empurra os jogadores para perto da cesta, certo? Contra Curry e Thompson, você precisa desacelerar alguns metros atrás para contestar os arremessos de longa distância. A ideia é inibir a definição rápida do time que mais acelerou durante a temporada.

Uma vez contido o contragolpe, o serviço continua. Os defensores precisam povoara linha perimetral, com participação dos pivôs, aliás, já que Andrew Bogut, hoje, não representa ameaça alguma lá embaixo. Tantas lesões gravíssimas acumuladas na carreira custam muito ao australiano. Então lá está Gasol, gigante e inteligentíssimo, aparecendo numa cobertura imediata diante dos chutadores, fechando espaços e impedir infiltrações. Com menos gente agredindo com a bola, você também contém a troca de passes, ou pelo menos passes que possam liberar os arremessadores. Sem corredor e sem paciência para entender a melhor hora de atacar, o que temos é um aro amassado, mesmo. Segundo Kerr, seus atletas estão correndo, apressados, em vez de jogar com velocidade, pensando.

Para buscar a virada, é bom pensar com carinho no que aconteceu nas últimas duas partidas. Foi realmente falta de sorte na finalização? Ou tranquilidade? Stephen Curry não se mostra intimidado. “Eles tentam tirar nossas oportunidades de arremesso livre de três, seja em transição ou em meia quadra. Ainda assim, consegui me liberar e tive boas chances, o que me deixa bastante encorajado. Basta manter esses movimentos. Sei que os chutes vão cair”, afirmou o MVP da temporada. Draymond Green assegura que ninguém está surtado: “Perder duas em sequência não vai te deixar feliz. Mas, ao mesmo tempo, ninguém está abandonando o navio aqui. Ninguém está entrando em pânico e jogando a toalha”.

O Warriors sofreu duas derrotas consecutivas em três ocasiões durante sua jornada na temporada regular e, de imediato, reagiu com séries de 8, 9 e 16 triunfos. Qualquer arranque desse nível lhes colocaria na decisão da NBA, perto do título. Os playoffs, porém, são outro assunto, ainda mais enfrentando um adversário de respeito. Agora só resta saber se o aprendizado apregoado por Kerr será acelerado, para que eles possam tentar terminar a história da forma como esperavam.


Os playoffs começaram! Panorama da Conferência Oeste
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Se for para comparar com a outra metade da liga, a Conferência Oeste ainda é uma dureza que só. A perspectiva é de séries muito mais equilibradas daqui. Acontece que o nível talvez não seja o mais elevado, especialmente se formos comparar com o que muitos desses times estavam fazendo há dois ou três meses. As lesões interferiram bastante. Hoje, o Golden State Warriors desponta mais favorito do que nunca, especialmente pelo fato de o San Antonio Spurs ter perdido o mando de quadra na primeira (e na segunda rodada), sobrando ainda com o lado mais complicado da chave. A equipe de Gregg Popovich fechou a temporada regular em alta, mas vai precisar fazer uma campanha memorável para alcançar a final da liga pelo terceiro ano seguido, em busca de seu primeiro bicampeonato.

NBA: San Antonio Spurs at Los Angeles Clippers

Não poderia ter ficado para mais tarde?

Palpites, que é o que vocês mais querem
Warriors em 4: o time californiano tem o melhor ataque, a melhor defesa e mais experiência. Pode ser que o Monocelha consiga uma vitória em casa, mas…
Rockets em 7: dependendo sempre do joelho e das costas de Dwight Howard. O Dallas está em crise existencial, Dirk envelheceu, mas Carlisle tem truques.
Spurs em 6: é o que o Monocelha aprontou na última rodada. O elenco mais vasto de San Antonio e a defesa de Kawhi em CP3 fazem a diferença.
Grizzlies em 7: a série que mais depende dos médicos do que de qualquer outra coisa; o mando na Grindhouse joga a favor de Marc e Z-Bo

Números
47,7% –
O percentual de acerto de Chris Paul nos arremessos a partir do drible (pull up shooting), liderando toda a liga. Fiz o filtro com uma média de ao menos cinco tentativas por jogo, para deixar claro que esse recurso realmente faz parte de seu repertório. CP3 tenta em média 9,7 por jogo. Tony Parker vem atrás, praticamente num empate técnico com Stephen Curry. Agora, se você for falar de chutes a partir do drible de longa distância, com um mínimo de duas tentativas por jogo, Curry sobe para segundo, com incríveis 42,3%, perdendo somente para Isaiah Canaan, do Philadelphia. Se for para filtrar com um mínimo de quatro tentativas, apenas o craque do Warriors se qualificaria. : )

41,4% – O percentual de arremesso que Andrew Bogut permite ao seus adversários nas imediações do aro. É a terceira menor marca da temporada, atrás de Rudy Gobert e Serge Ibaka, logo acima de Roy Hibbert, Derrick Favors, LaMarcus Aldridge e Nerlens Noel. Mostra o quanto o australiano sabe usar seu tamanho, se posicionando muito bem, para compensar a movimentação lateral bem reduzida e a impulsão quase zero. Claro que há outros fatores que influenciam essa contagem também: há ajuda de marcação dupla? Como os oponentes chegam ao aro? Estão equilibrados? Estão rodeados por bons arremessadores? Mas, enfim, é um dado que comprova a eficiência do antigo número um do Draft na proteção de cesta.

Ao ataque, Harden

Ao ataque, Harden

14,3 O total de pontos por partida que James Harden gera o Houston Rockets em suas infiltrações, seja com suas próprias finalizações, em assistências ou em lances livres. Na temporada regular, apenas Reggie Jackson, contando apenas seu desempenho pelo Detroit Pistons, gerou mais pontos no ato de bater para a cesta. O interessante é notar Stephen Curry logo abaixo do barbudo, com 12,0 pontos em média. Ou seja: um atacante completo, não apenas um chutador.

+7,5 O saldo de pontos do quinteto titular do Clippers na temporada, quando completo em quadra. Essa é a melhor marca da liga, acima de Cavs, Hawks e Warriors – pelo menos entre os quintetos que jogaram um mínimo de 30 partidas. Quando Jamal Crawford entra nas alas, na vaga de Redick ou Barnes, o time ainda rende muito bem, com as 15ª e 16ª melhores marcas. Nos playoffs, com maior tempo de descanso e numa última arrancada, Doc Rivers vai poder  limitar os minutos de seu banco. Mas uma hora Spencer Hawes, Glen Davis e/ou seu filho vão precisar entrar em quadra. Aí que seu péssimo trabalho como dirigente deverá ser exposto.

7,2 – na soma de todos os deslocamentos de um jogador pela quadra, a SportVU consegue calcular sua velocidade média em quadra – o que não quer dizer que eles sejam os mais velozes de uma ponta a ponta de quadra. Patty Mills, armador reserva do Spurs, é o que aparece com a maior média, com 7,2 km/h. Um dado muito curioso: Cory Joseph, justamente como quem o australiano briga por minutos na rotação do Coach Pop, é o segundo. E quer saber do que mais? Tony Parker, o titular da posição, é o quinto no ranking. Se você quer se candidatar a armador em San Antonio, sabe que vai ter de correr muito…

Os brasileiros
Leandrinho vai ganhar seus minutos aqui e ali pelo Warriors, dependendo do andamento das partidas. Se a pedida de Steve Kerr for mais fogo no ataque, o ligeirinho será acionado – e ainda tem a velocidade e, especialmente, a experiência para entrar em quadra nesse tipo de situação. Nos jogos que se pedir mais defesa, Shaun Livingston deve ficar mais tempo em quadra (não sei se confiará em Justin Holiday). Em San Antonio, a grande interrogação rumo aos playoffs gira em torno da panturrilha de Tiago Splitter. O pivô catarinense teve o início e o final de temporada atrapalhados devido a dores na panturrilha direita. Por isso, foi poupado dos últimos cinco jogos, depois de ter perdido 19 dos primeiros 20. Gregg Popovich já afirmou que usar de toda a precaução possível com Splitter, admitindo até mesmo a possibilidade de ele ficar fora de algumas partidas dos playoffs. Isso foi antes de saber que teria o Clippers pela frente. Aron Baynes pode trombar com DeAndre Jordan, assim como Jeff Ayres. Mas nenhum deles tem a inteligência e a capacidade defensiva do brasileiro.

Splitter vai conseguir sair do banco para combater DeAndre?

Splitter vai ser liberado para sair do banco e combater DeAndre?

Alguns duelos interessantes
Anthony Davis x Andrew Bogut: a tendência é que o Pelicans precise limitar os minutos de Omer Asik, para dar conta de correr atrás dos velozes e versáteis atletas do Warriors. É até melhor: se Davis ficasse com Draymond Green, precisaria flutuar muito longe da cesta e ficar de certa forma alienado na defesa. Dante Cunningham pode assumir essa, e aí teríamos toda a vitalidade e explosão física do Monocelha contra um gigante cerebral como Bogut. O que tem mais apelo aqui é o embate no ataque de New Orleans, com as investidas de frente para a cesta do candidato a MVP, que será testado pelas contestações (e, especialmente, as bordoadas) do australiano.

Terrence Jones x Dirk Nowitzki: Rick Carlisle seguiu a cartilha de Gregg Popovich e controlou o tempo de quadra do craque alemão durante a temporada. O alemão de fato chega, na medida do possível, descansado para a fase decisiva. Mas o quanto ele pode render esses dias? Sua mobilidade parece já bem reduzida. No ataque, seu arremesso ainda é uma arma a ser temida, tudo bem. O problema é a defesa, ficando muito vulnerável aos ataques frontais de Jones, um oponente jovem, atlético e de personalidade. Josh Smith também pode se aproveitar disso. O pior: Tyson Chandler já vai estar ocupado com Dwight Howard, sem poder dar tanta cobertura como de praxe. Mesmo que consiga pará-los no garrafão, ambos os alas-pivôs têm boa visão de quadra e podem municiar os arremessadores da equipe.

Terrence Jones tem uma lenda com quem duelar

Terrence Jones tem uma lenda com quem duelar

Tony Parker x Chris Paul: creio que Kawhi Leonard e Danny Green vão alternar na tentativa de contenção do armador do Clippers, deixando Parker com Matt Barnes, que é muito mais alto, mas não tem autonomia e talento para colocar a bola no chão e criar em situações específicas de mano a mano. A importância do francês vai ser para desgastar seu adversário do outro lado da quadra. Precisa atacar, atacar e atacar, movimentando-se com e sem a bola. Paul jogou uma de suas melhores temporadas, é forte e sabe que o tempo já está passando. Mas não tem muita ajuda do banco e pode ser levado ao limite.

LaMarcus Aldridge x Marc Gasol/Zach Randolph: aqui há diversas possibilidades. Z-Bo precisa cuidar de Robin Lopez, que pode ser consideravelmente menos talentoso que seu irmão gêmeo no ataque, mas ainda causa problemas perto da tabela e tem um bom chute de média distância. Digo: Randolph será requisitado na defesa perto da tabela e não apenas na proteção de rebotes. De qualquer forma, é provável que o espanhol fique, mesmo, com Aldridge, mesmo que a estrela do Blazers jogue afastada do garrafão, apostando no seu arremesso. Em geral, Gasol tem feito um bom trabalho contra seu companheiro de All-Star, que tem um aproveitamento de quadra de apenas 43% nas últimas três temporadas contra Memphis. Do outro lado, porém, imagino que Portland também prefira deixar Lopez com Randolph, que tem um jogo muito mais físico e poderia cansar Aldridge. As partidas são longas e um pivô vai se ver com o outro em algum momento.

Ranking de torcidas
1 – Warriors. Além de todo o talento que Steve Kerr tem em seu elenco, há uma outra razão para o fato de o Golden State só ter perdido duas partidas em casa durante a temporada regular. Essa galera sabe fazer barulho e esperou por anos e anos para que o clube voltasse a ser competitivo. O único risco aqui é o fator ‘modinha’. De ter gente muito mais interessada em festa do que no jogo dentro do ginásio num jogo importante.

Curry rege uma torcida fanática, que agora pode soltar a voz

Curry rege uma torcida fanática, que agora pode soltar a voz

2 – San Antonio. Até mesmo ranquear torcidas na Conferência Oeste é complicado. O clima nos jogos do Spurs também é de euforia. Além disso, de tantas batalhas que esses caras viram nos últimos anos, são aqueles que mais cultura e sapiência adquiriram, entendendo os momentos críticos para ajudar seu time, um esquadrão que briga pelo título há mais de 15 anos

3 – Portland. O Blazers é o time da cidade – uma situação rara nas sedes da NBA. Historicamente, Portland estaria acima tanto de Memphis como Oakland com a arenas mais complicada de se jogar. Hoje, porém, creio que os dois times acima vivam momentos mais especiais. No fim, até mesmo ranquear as torcidas é algo complicado de se fazer no Oeste (vide logo abaixo). Então usei como critério de desempate o recorde como anfitrião nesta temporada.

4 – Memphis. A sinergia entre o time e seu público é praticamente incomparável. Jogadores e torcedores querem moer a alma do adversário. (Sim, uma frase que, isolada no vácuo, não faz sentido algum, mas a linguagem esportiva nos permite certas liberdades, né?)

Antes de moer, eles podem tostar também

Antes de moer, eles podem tostar também

5 – Houston. Eles ainda se lembram do bicampeonato de 94 e 95. Querem mais e já abraçaram James Harden e seu jogo metódico.

6 – Dallas. Tudo vai depender de Nowitzki. Se o alemão esquentar a mão, a torcida vai explodir, inevitavelmente. Nesta temporada, porém, tiveram a pior campanha como anfitriões entre todos os oito classificados do Oeste.

7 – Nova Orleans. Eles vão estar empolgados pela primeira participação nos playoffs nessa fase da franquia. Até por isso, tudo é muito novo. Mais: já puderam celebrar bastante na última rodada da temporada regular e dá para imaginar casos e casos de  garotos confusos por lá: mas a gente não era o Hornets?

8 – Clippers. O Staples Center roxo e amarelo é uma coisa. O vermelho, branco e azul, outra – Billy Cristal sabe disso. Tirando Milwaukee, pela proximidade a Chicago, é o único ginásio em todo estes playoffs em que será possível escutar gritos pelo time ou por um jogador adversário. Isso incomoda até mesmo os astros da equipe.

Meu malvado favorito: Draymond Green. O ala-pivô do Warriors batalha perto da cesta, se movimenta bem pelo perímetro, procura o contato e fala bastante. Fala muito como diria o outro. As provocações são automáticas. Some tudo isso, e você tem uma atitude que invariavelmente chama a atenção/desperta a ira das torcidas adversárias. É o tipo de jogador que você adora ter ao seu lado e odeia enfrentar. Por isso, quando virar agente livre ao final do campeonato, Green será bastante cobiçado. Mas é impossível imaginar que o time californiano vá deixá-lo sair.


Memphis Grizzlies: moendo carne, batendo bife
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

A torcida também vai tentar moer o adversário

A torcida também vai tentar moer o adversário

Lá pelos idos de maio de 2013, o que na era da Internet já é mais que um século atrás, havia o temor de que a cultura de “Grit & Grind” – praticamente impossível de se traduzir ao pé da letra, mas que tem a ver com a bravura do estilo de jogo do Grizzlies – estivesse seriamente ameaçada em Memphis. O técnico Lionel Hollins estava de saída, Tony Allen era agente livre, Zach Randolph também tinha futuro incerto. Mas o assistente Dave Joerger segurou muito bem as pontas desde que foi promovido,  o pitbull preferido da cidade tinha ganhado um novo contrato, e tudo caminhou bem. Mesmo com a lesão  de Marc Gasol, o time chegou aos playoffs e incomodou bastante. Ponto.

Aí que, ao final do campeonato, as coisas novamente ficaram tensas, de modo chocante. Subitamente, o CEO Jason Levien, que mal havia acabado de assumir a posição, foi derrubado pelo proprietário Robert Pera. Ao mesmo tempo, Joerger foi liberado para conversar com o Minnesota Timberwolves, de sua terra natal. No fim, o magnata tirou o antigo gerente geral Chris Wallace do ostracismo, para lhe reempossar, e decidiu segurar Joerger. Z-Bo ganhou sua extensão contratual. A estrutura, então, foi mantida.

Fora da cidade, pode ter certeza que caras como Blake Griffin, Kevin Durant, Tim Duncan e Dirk Nowitzki acompanhavam tudo com muita atenção. Qualquer passo em falso, qualquer sinal de derrocada do time poderia ser um alívio danado para eles. Afinal, estamos falando do time mais casca grossa da Conferência Oeste. Ou melhor: com a iminente derrocada do Indiana Pacers, já dá para falar no time mais pesado, aquele que a liga toda vai querer evitar. Ainda mais numa série de mata-mata.

Vai encarar? Ninguém quer

Vai encarar? Ninguém quer

Já escrevemos aqui qual a dificuldade de escolher os termos apropriados para explicar do que se trata o lema oficial desta geração do Grizzlies, elaborado num estalo de genialidade por Allen.  No final das contas, o melhor a ser feito é apelar ao populacho: trata-se do famoso moedor de carne. Esses caras fazem isso, como se o FedExForum representasse um grande açougue humano. Não é nem um pouco bacana bater de frente, de lado, ou de costas com gente com Randolph e, especialmente, Marc Gasol, por mais magro que o espanhol esteja esses dias. E aí você põe mais um corpanzil de Kosta Koufos na jogada e alguns alas que aporrinham a vida de qualquer um, e o que temos daí é uma das defesas mais sólidas e nocivas que se pode encontrar.

Tom Thibodeau tem o esquema e excepcionais marcadores em Chicago. Roy Hibbert e David West ainda vão tentar proteger uma fortaleza em Indianápolis. Mas o desgaste físico causado por essa galera encrespada de Memphis deve ser o maior tormento no longo e cansativo calendário de cada equipe.

De estrela a operário, Vince Carter segue relevante

De estrela a operário, Vince Carter segue relevante

O time: Z-Bo já não é mais o mesmo de sua primeira temporada de All-Star, justamente a primeira em Memphis. Mas seu jogo nunca dependeu de impulsão, explosão física ou elasticidade. Enquanto chega aos 33 anos, sua técnica e força física ainda causam estrago perto da cesta o mantêm produtivo. Suas características combinam perfeitamente com as de Gasol, que tem uma visão de quadra privilegiada encarando a cesta como um maestro na cabeça do garrafão, também matando bolas dali. Além do mais, o posicionamento dos dois pode ser facilmente intercambiável. Não sabemos muito bem o quão consciente Wallace foi ao montar essa dupla em 2010, mas deu muito certo. Para assessorar esse núcleo, quietinho da silva, Mike Conley se tornou um dos principais armadores da liga, vindo também sua melhor temporada.

O que sempre falta em torno dessa trinca foram arremessadores que metessem medo. Já não é um problema tão grave assim. Mike Miller fez o serviço em 2013-2014, mas preferiu seguir os passos de LeBron em Cleveland. Para seu lugar, todavia, chegou Vince Carter, que se reinventou em Dallas como atirador de três pontos e marcador e, aos 37,  chega com moral a Memphis. E o veterano não está solitário nessa.

De volta de lesão, Pondexter está preparado para enfrentar os alas mais fortes da liga

De volta de lesão, Pondexter está preparado para enfrentar os alas mais fortes da liga

Courtney Lee foi fruto de outra bela negociação incentivada pelo supernerd John Hollinger que deu certo. Ele liderou a NBA no aproveitamento de arremessos movimento na temporada passada e também consegue incomodar bastante os alas mais baixos, fazendo ótima dupla com Allen, um atacante arrojado, mas, no mínimo, inconstante. Por fim, em seu último sopro, Tayshaun Prince ainda tem envergadura para deixar as linhas defensivas mais rígidas esporadicamente. Em resumo: por mais que não sejam tão discutidos assim na grandes plataformas, este pode ser o elenco mais forte que o Grizzlies já teve.

Olho nele: Quincy Pondexter. O ala, que retorna de uma fratura na perna que o tirou por mais de 60 partidas da última temporada, foi esquecido deixado de fora do parágrafo acima propositalmente. Quando comparado a Allen, Lee, Carter e Prince, tem ainda menos fama, mas pode ser tão ou mais relevante que eles durante a jornada, desde que consiga sustentar um aproveitamento de três pontos próximo aos 39,5% que teve na temporada retrasada. Pondexter é mais alto e forte que Lee e Allen e mais forte e ágil que Prince, oferecendo um meio termo interessante.

Abre o jogo: “Tem tanto chão para isso, que não passa pela minha cabeça. Apenas quero fazer a porcaria do meu trabalho diariamente. Você nunca sabe o que pode acontecer em sete ou oito meses. A franquia pode decidir seguir em outra direção. Vamos ver como todos nos sentimos em julho. Toda essa conversa de agora não vai mudar isso”, Marc Gasol, sobre sua entrada no mercado de agentes livres ao final da temporada, sem firula alguma. Os bastidores da liga já dão como certa a investida de Phil Jackson e o Knicks pelo pivô em 2015.

Você não perguntou, mas… ao lado de San Antonio Spurs, Miami Heat, Oklahoma City Thunder e Los Angeles Clippers, apenas um clube venceu mais de 50 jogos nas últimas duas temporadas, não importando que desfalque tinha. Justamente a franquia que tem a ver com ursos-pardos, mesmo que eles não sejam encontrados tão facilmente assim em Memphis.

kevin-pritchard-grizzlies-cardUm card do passado. Kevin Prichard. Ele, mesmo, o ex-dirigente do Portland Trail Blazers e gerente geral de Larry Bird no Pacers, hoje. Se formos pensar em gente do passado da franquia, ainda em sua encarnação na Costa Oeste do Canadá, dá para lembrar da figura pastosa de Bryant Reeves, além de Anthony Peeler, Blue Edwards, Shareef Abdur-Rahim, Felipe López, entre outros. Mas está nos livros históricos – uns três, pelo menos – que foi Pritchard foi o primeiro jogador a assinar contrato com o clube. Assinou, mas não brilhou. Cortado antes de a temporada 1995-96 começar, não disputou uma partida sequer pela franquia. Naquele ano, faria dois joguinhos pelo Washington Bullets. Depois, adeus, NBA. Formado em Kansas, Pritchard chegou a ser, antes, reserva de Tim Hardaway e Sarunas Marciulionis no Golden State Warriors de Don Nelson. Jogou na Itália, na Espanha e na Alemanha. Mas foi como cartola, mesmo, que ele deixou sua marca. Foi o grande arquiteto da reconstrução do Blazers na década passada, depois dos anos de Jail Blazers, nos quais ganharam mais manchetes policiais do que esportivas. Seu relacionamento com o bilionário Paul Allen e sua trupe, porém, desandou a ponto de ele ser demitido do cargo de gerente geral cerca de uma hora antes do draft de 2010. Cruel. Ele ainda fez uma troca e selecionou Luke Babbitt e Elliot Williams. Vingança em prato frio de carne moída.

 


Fla conclui giro pelos EUA com sua pior derrota
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

O novo e bem mais magro Marc Gasol: outro nível de desafio para o Fla

O novo e bem mais magro Marc Gasol: outro nível de desafio para o Fla

A turnê de NBA do Flamengo não terminou da mesma forma que começou. Depois de fazer dois bons jogos, competitivos, contra Phoenix Suns e Orlando Magic, o time carioca levou uma surra nesta sexta-feira do Memphis Grizzlies: 112 a 72.

O atual campeão intercontinental conseguiu equilibrar as coisas no primeiro quarto, mas teve muita dificuldade para lidar com o time titular do Grizzlies em geral. Com Mike Conley e Marc Gasol em quadra, o adversário tem uma das defesas mais fortes da liga norte-americana. Uma retaguarda muito mais forte que as de Phoenix e Orlando. Isso faz diferença.

Conley, por exemplo, azucrinou com a cabeça de um já desligado Nico Laprovíttola. Além do mais, pode colar no adversário sabendo que, na sua cobertura, está um dos pivôs mais inteligentes – e imponentes – do mundo, o ex-Big Marc Gasol. Impressionante como está afinado o gigante espanhol. Sua temporada regular promete, e muito.

Além disso, Tony Allen é um animal na pressão em cima da bola e na perseguição de seus alvos do lado contrário. Courtney Lee dosa um pouco da velocidade de Allen, mas sem se arriscar muito atrás de roubadas ou tocos. É uma combinação ingrata, que o ataque do Fla sentiu logo de cara, depois de ter aberto de modo surpreendente uma vantagem de 10 a 2 em menos de três minutos.

Aí o técnico Dave Joerger pediu tempo, e a coisa mudou de figura. Embora de um modo curioso. Ainda com seus titulares, empatou o jogo rapidamente em 12 a 12 e chegou a abrir 27 a 12. Já com os reservas em quadra, os brasileiros voltaram a apertar, empatando em 36 a 36. A partir desse ponto, porém, desandou: o Grizzlies já voltaria para o vestiário com uma vantagem de 62 a 41. Fim de jogo.

Ainda mais que Laprovíttola estava numa jornada completamente desastrada. O armador cometeu sete turnovers apenas na primeira metade da partida. Além do mais, o argentino precisa tirar de seu arsenal – ou reduzir drasticamente o volume de tentantivas –  esse tiro de três pontos depois do drible. Essa é uma bola para poucos, em qualquer nível, seja em amistoso contra time de NBA, ou em playoff do NBB. Ainda mais quando se está pregado em quadra. Não havia explosão nenhuma em seu jogo nesta sexta. Já que foi até Memphis, todavia, o armador ao menos tem a chance de visitar a antiga residência do Elvis Presley. Graceland é logo ali.

O jovem Gegê foi bem melhor nesta sexta. Por outro lado, encarou por muito mais tempo o esloveno Beno Udrih, em vez de uma peste como Conley. Udrih está há 10 anos na NBA, mas muito mais por sua habilidade e visão de quadra no ataque do que pelo empenho ou agilidade na defesa, sabemos.

Marquinhos teve sua melhor atuação individual neste giro, combatendo na defesa, matando seus chutes de fora e correndo bem a quadra. Cristiano Felício voltou a bater de frente com pivôs de ponta, como Kostas Koufos, e segurou a bronca.

*   *   *

Bem, agora é ouvir diretoria, comissão técnica e jogadores do Flamengo na volta para saber que tipo de lição, experiência eles tiram dessa viagem marcante. Com a relação de NBA e LNB se estreitando, é de se imaginar que esse tipo de oportunidade vá se repetir no futuro para outras equipes daqui.

*   *   *

Um lance engraçado aconteceu logo no início de partida, quando Marcelinho Machado matou uma bola de três na zona morta na cara de Tony Allen. Foi ali que Joerger parou o jogo. E ficou aquele medo na massa rubro-negra: seria um verdadeiro teste de imortalidade para o camisa 4 flamenguista, uma vez que o pitbull do Memphis certamente voltaria para quadra querendo devorá-lo vivo. Felizmente nada de mais grave aconteceu.*   *   *

E Marcelinho, aos 39 anos, terminou sua turnê de NBA com 13-27 nos seus chutes de três pontos, ou 48% de aproveitamento. Contra o Grizzlies, foi de 4-7, depois de 6-12 contra o Suns.

 


Cresce nos EUA movimento para limitar NBA em torneios Fiba
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Raduljica está sem contrato. Então, tudo bem para todos menos o Boogie?

Raduljica está sem contrato. Então, tudo bem para todos menos o Boogie?

Em um texto nada celebratório sobre a conquista do bicampeonato mundial pelos Estados Unidos neste domingo, o jornalista Adrian Wojnarowski, do Yahoo! Sports, praticamente decretou o fim da farra que a USA Basketball vem fazendo nos últimos anos. Farra no bom sentido: ganhando ouro após ouro para restaurar a hegemonia na modalidade. Para ele, o mundo Fiba está prestes a passar por um processo drástico de reformulação, cujo ponto principal será o êxodo dos grandes talentos da NBA. Conforme escrito aqui ontem: a maior ameaça à soberania dos Estados Unidos em cenário global hoje é interna.

Para quem não está familiarizado com o escbriba, Wojnarowski é o repórter mais quente entre as centenas (milhares?) que acompanham o dia-a-dia da NBA nos Estados Unidos. No dia do Draft, por exemplo, está habituado a cantar pedra por pedra, escolha por escolha a noite toda, minutos antes de as seleções acontecerem. Em tempos de agente livre, virou praticamente canal obrigatório de veiculação de acordos – e ameaças – de agentes e/ou dirigentes. É um cara evidentemente bem conectado que, por conta do acúmulo de furos, ganhou uma credibilidade imensa. É como se tudo o que ele escreve seja fato, ou esteja em vias de se concretizar como tal.

Então, meus amigos, anotem aí algumas de suas frases do artigo:

– A distância (entre o Team USA) e o resto do mundo aumentou novamente, e o romance de Times dos Sonhos está lentamente, mas seguramente morrendo. Competições Sub-22 são o caminho, com os melhores jogadores jovens da NBA e uma ou outra superestrela universitária sendo introduzidos para o mercado global.

– O começo do fim para a USA Basketball aconteceu naquela noite de agosto, quando Paulo George tombou na quadra, e um osso explodiu de sua carne. Foi um momento cruel e de autoanálise, e os jogadores dos EUA ainda estavam falando sobre isso no domingo em Madri. Aquela imagem foi chocante, e vai ficar na cabeça das pessoas por um looongo tempo. Será um dos catalisadores para tirar as estrelas da NBA do basquete Fiba.

– George será o ímpeto para acabar com a participação das estrelas da NBA, mas longe de ser a única razão. Depois das Olimpíadas de 2016 no Rio, a Copa do Mundo de Basquete e os Jogos Olímpicos estão destinados a se tornar um torneio sub-22, de desenvolvimento.

– “Temos de tirar nossos veteranos de lá e colocar nossos jogadores mais jovens. Já existe apoio para esta mudança, e está ficando mais forte”, afirmou um gerente geral da liga ao repórter.

Coach K e os sub-22 Drummond e Davis

Coach K e os sub-22 Drummond e Davis

Bem, antes de mais nada, essas declarações não chegam a ser bombásticas para quem vem acompanhando gente como Mark Cuban, dono do Dallas Mavericks, chiando barbaridade a cada convocação das seleções internacionais nos últimos anos. A fratura exposta sofrida por George no jogo-treino interno da seleção ianque, televisionada para o mundo todo, apenas intensificou esse sentimento, por tudo o que a mídia americana tem publicado. Cada vez mais se discute e se especula sobre um limite de idade, da mesma forma que acontece com o futebol olímpico.

Em sua argumentação/exposição sobre a submergente relação entre os interesses da NBA com os da Fiba, Wojnarowski parte para um ataque frontal contra o celebrado Coach K, dizendo que seu envolvimento com a federação e a equipe nacional se deve muito mais pelos benefícios que tira disso para seu trabalho do dia-a-dia, em Duke, do que por qualquer noção patriótica. Estar envolvido com a nata do basquete norte-americano só vai lhe ajudar na hora de recrutar os melhores adolescentes do país. Mas é um tanto óbvio, não? Além do mais, fica a pergunta: um técnico que já está presente na TV o tempo todo, independentemente de uma medalha de ouro num Mundial, precisa disso? Dá vantagens, mas o quanto isso difere do que John Calipari vem fazendo em Kentucky, estocando talentos top 10, 20 do colegial, formando supertimes com talentos que vão dominar o Draft do ano seguinte? Exposição por exposição, influência por influência… O jogo de poder e marketing da NCAA é pesado e um tanto sujo há tempos.

Agora, se o treinador de Duke e da seleção americana tem seus próprios objetivos no trabalho com a seleção, quais são as intenções, então, das fontes anônimas por trás desse específico texto? Estão claras, né? Há muita gente querendo desvincular a NBA do mundo Fiba. Resta saber se Wojnarowski escreve em nome de uma maioria, ou se o artigo serve justamente como instrumento de… recrutamento para a “causa”.

Raulzinho na liga de verão de Orlando no ano passado: muito mais emoção, né?

Raulzinho na liga de verão de Orlando no ano passado: muito mais emoção, né?

A lógica por trás do argumento de limitar a idade dos atletas nos torneios é um tanto arrogante – parte do pressuposto que só a NBA importa no tabuleiro do basquete. “Tirando a seleção americana, há mais talento e interesse dos torcedores de basquete em jogos das ligas de verão do que neste evento”, disse um gerente geral, sem se identificar.

Ligas de verão são os torneios que acontecem logo após o Draft da NBA, em julho, para que os recém-escolhidos comecem seu processo de adaptação, enquanto dúzias e dúzias de atletas, jovens ou não, que estão fora da liga, tentam uma vez mais impressionar cartolas e treinadores em busca de um tão sonhado contrato.  A maioria deles, porém, terá de se contentar com a D-League ou com uma viagem para a Europa. Não são competições oficiais: os clubes nem jogam com seus uniformes principais, deixando bem claro que uma coisa é uma coisa, e a outra, bem diferente.

A parte sobre o talento? Pode até ser. O único paralelo possível para os basqueteiros americanos, em termos de quantidade, são os boleiros brasileiros. E isso nem precisa ser discutido, até porque, num Mundial de basquete, há muito mais paixão envolvida do que nas peladas de Las Vegas ou Orlando. Sabe essa coisa de se importar com algo? Acreditem: ainda existe no esporte.

Dentro dos Estados Unidos, o público em geral só parece valorizar o torneio olímpico. Por outro lado, a reação dos jogadores é bem diferente. Kevin Durant estava eufórico ao conquistar o título em 2010, assim como James Harden neste ano. Só não vale falar em empolgação do Kenneth Faried, contra o qual chinês algum gostaria de jogar nem mesmo uma partida de tênis de mesa. Periga ele devorar a tábua toda. (Outra discussão seria o que a dominância desses caras significa para o mundo Fiba. Tira a graça? Força naturalmente o crescimento dos rivais? Mas essa fica para outra ocasião.)

Mesmo que toda a empolgação dos rapazes de Colangelo fossem fake, daí a falar sobre a falta de apelo global é ir muito além da linha do razoável. Pau Gasol e a Espanha não me pareceram indiferentes depois da eliminação contra a França. Boris Diaw pode ter cara e jeito de indiferente, mas estava bem animado com seus companheiros na hora de receber a medalha de bronze no sábado. Os sérvios vararam madrugada adentro após a vitória sobre os franceses na semifinal.  Claro que a NBA é a maior força financeira e técnica da modalidade, e de longe. Mas há vida aqui fora. Além do mais, se as competições fossem tão irrelevantes assim, por que Cuban clamaria publicamente para que seus comparsas dessem um golpe em Fiba/COI e assumissem eles a organização – e o faturamento – do torneio? Aí não teria problema, imaginem.

Manimal e Curry parecem estar se divertindo um bocado

Manimal e Curry parecem estar se divertindo um bocado

O que pega, mesmo, não é discussão sobre popularidade, e, sim, os interesses estratégicos de cada franquia e da liga como um todo. Para elas, dãr, o que conta é a temporada que vai de outubro a junho – para muitos.  Além de dinheiro o, que os dirigentes uerem é que seus jogadores (leia-ses “investimentos”) sejam preservados, que não se avariem – ou melhor, eles até podem se lesionar numa tabela massacrante de 82 jogos, mas aí não tem problema, já que estão a serviço de quem assina cheque.

O Spurs simplesmente fez uso de uma cláusula acordada com a Fiba para vetar a participação de Manu Ginóbili na Copa: se o atleta não estiver 100%, se houver o risco de ele agravar uma condição médica nas competições internacionais, as franquias podem proibi-los de jogar. Se o narigudo e genial argentino não foi liberado, Gregg Popovich ao mesmo tempo deve ter ficado satisfeito com o Mundial de Diaw, que sempre pode usar uma competição ou outra para controlar o peso (foram 25,4 minutos para ele em média em nove partidas). O Phoenix Suns não iria contrariar Goran Dragic a uma temporada de o astro esloveno virar um agente livre: se Dragic quer jogar o Mundial, que vá. Num time em que era a principal referência, ele ficou em quadra por apenas 26,1 minutos, de 40 possíveis. O que poucos divulgaram: houve acordo entre a franquia do Arizona e a federação, para estabelecer esse limite.

No Brasil, Leandrinho foi quem mais jogou: 24 minutos, seguido por Anderson Varejão, com 23,6. Os irmãos Gasol não passaram de 27. E por aí vamos. Os jogos são intensos, sim. Há toda uma fase de preparação, de treinos duros e amistosos. Mas quem aí acredita que todos esses atletas ficariam o mês de agosto e setembro de pernas para o ar? Caso o fizessem, o departamento médico e físico de cada time da NBA teria sérios problemas na última semana do mês, quando os elencos se reúnem para a realização (já!!!) dos campos de treinamento. Aí, meus amigos, Diaw não seria mais a exceção.

A reação em quadra depois da lesão do Paul George. E o que vem depois?

A reação em quadra depois da lesão do Paul George. E o que vem depois?

Quando vão para quadra, os atletas estão sujeitos, mesmo, a contusões e lesões. Algo como o que aconteceu com Paul George, porém, é um baita acidente. Uma tristeza, mas um acidente. Assim como o que ocorreu com Monta Ellis em 2008, quando o armador se arrebentou todo… andando de mobilete. Nas férias, depois de ter assinado um contrato milionário. Ainda assim,

“Não há dúvida sobre o impacto (da lesão) em nosso time”, afirmou em comunicado  o legendário Larry Bird, presidente do Pacers. “Mas mantemos nosso apoio à USA Basketball e acreditamos nas metas da NBA de dar uma exposição ao nosso jogo e nossos jogadores no mundo todo. Essa foi uma lesão extremamente infeliz que ocorreu num palco de grande visibilidade, mas que poderia ter acontecido em qualquer momento, em qualquer lugar.”

Na mesma noite de agosto, o comissário Adam Silver foi bem mais sucinto em seu pronunciamento. “Foi difícil assistir à lesão que Paul George sofreu nesta noite, enquanto representava seu país. Os pensamentos e as orações de todos nós da NBA estão com Paul e sua família”, disse. Resta saber e acompanhar se os pensamentos de Silver e de outros proprietários das franquias de lá também acompanham o das fontes de Wojnarowski nesse tópico e se eles vão realmente seguir em frente com essa ofensiva.


A Espanha chora mais uma vez
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Espanha, baloncesto, basket, basketball, França, Copa do Mundo, Madri

Geração dourada realmente reunida. Torneio em casa, hora de celebrar com a torcida, e os grandes astros dos Estados Unidos nem estavam por perto, mesmo. A Espanha com a confiança lá em cima. E vem uma derrota chocante.

Aconteceu sete anos atrás, no EuroBasket 2007, voltou a ocorrer neste ano na Copa do Mundo, num filme que os irmãos Gasol e toda a família real espanhola do basquete não esperavam rever tão cedo. Sete anos atrás, eles foram desbancados pela Rússia de Andrei Kirilenko, Viktor Khryapa – e dos importados JR Holden e David Blatt, claro. Agora foi a vez de perderem para a França por 65 a 52, fazendo, sem brincadeira, Madri chorar. Vocês sabem que cronistas esportivos adoram carregar na tinta, ser piegas, e tal. Neste caso, o dramalhão especial foi real. Quem não estava atônito no ginásio estava ocupado com prantos, mesmo.

Difícil dizer qual revés é o pior, mais dolorido: perder a decisão como anfitrião, ou cair tão cedo no torneio? Desconfio que a segunda, até pela sensação para eles de que é o final de uma era e de que os campeões deles não mereciam um desfecho desse jeito – depois de um título mundial em 2006, duas pratas olímpicas e dois troféus continentais em 2009 e 2011. Para os jogadores, no calor da quadra, outro fator não pode ser subestimado: a crescente rivalidade com os franceses. Se você acha que o basqueteiro brasileiro se deprimiu nesta semana, espie só como andam os espanhóis nas redes sociais – horas depois do revés, os tópicos mais comentados eram dominados pelo tema. Sinta o peso:

A orelha do técnico Juan Orenga está ardendo, com a mídia de lá pegando muito mais pesado do que o pessoal por aqui. Pudera: o cara não tem apenas um, mas dois Gasols no garrafão. São quatro armadores de primeiro escalão no elenco. Jogando em casa. Não havia outro resultado aceitável que não o ouro ou, pelo menos, uma derrota dramática para os Estados Unidos.

Porque, dãr, se no EuroBasket os americanos não jogam, no Mundial o Team USA não falta. Acontece que, apara eles, a aura do seu rival, que lhe bateu em Pequim e Londres, estava exaurida, depois de ausências se acumularem: LeBron, Durant, Carmelo, Paul, Westbrook, Love, Griffin, Aldridge e, caceta, até George. Então aí está: o sentimento entre os espanhóis foi que, a partir do momento que Durant anunciou que não iria mais defender sua seleção, o favoritismo havia mudado de lado. Que eles seriam, mesmo, os grandes candidatos ao título. Sentimento reforçado pelos acontecimentos da fase de grupos.

Eles só esqueceram de combinar tudo isso com a França, time que já haviam surrado na primeira fase e que estava também com uma longa lista de ausências. Eles contam cinco baixas, dois titulares absolutos entre eles: Tony Parker e Joakim Noah + Nando De Colo, Alex Ajinça e Ian Mahinmi. Se fossem mais honestos, contariam apenas quatro, já que o Mahinmi não deveria contar. ; )

Se cada jogo é uma história, como brasileiros e sérvios provaram mais cedo, não havia motivo para os Bleus entrarem em quadra em Madri sem acreditar em melhor sorte. Daí que, após a chocante vitória, Boris Diaw disse tudo: “Nós tínhamos a motivação para vencer, e eles tinham a motivação para não perder”. O Diaw é uma figuraça. Fácil falar desse jeito quando seu time saiu vencedor, né? Mas, segundo o que consta, o ala-pivô francês está cheio dessas sacadas, inteligente pacas.

O líder e poeta Boris Babacar Diaw-Riffiod

O líder e poeta Boris Babacar Diaw-Riffiod

Em termos de motivação, os franceses mostraram que estavam imbatíveis, mesmo. Abraçaram o plano tático desenhado por Vincent Collet – que, se antes do Mundial não estava na sua lista de melhores técnicos do mundo, agora não pode faltar –, competiram para valer, ignoraram as circunstâncias desfavoráveis (não se importaram com uma arbitragem evidentemente tendenciosa/caseira, por exemplo), relevaram quaisquer desfalques e fizeram uma partidaça.

Vai ser difícil encontrar uma exibição tão boa na defesa como a que esses caras fizeram no fechamento das quartas de final. Os Bleus simplesmente seguraram a Espanha em 52 pontos. Isso dá 13 pontos por período, por 10 minutos. Isto é, 1,3 ponto por minuto, para um time que conta com Pau Gasol, Juan Carlos Navarro, Rudy Fernández, Sérgio Rodríguez, José Calderón e tantos outros luminares ofensivamente. Absurdo, sufocante.

O que pega é o seguinte: tirando Rudy Gobert (que pede um texto próprio, antes da semifinal contra a Sérvia, prometo), a França pode nem ter muita estatura. Mas eles têm envergadura, que é a medida que mais importa, na verdade. Diaw, Batum, Gelabale, Gobert, Forent Pietrus, Lauvergne: eles são muito compridos. É braço para todo lado, fechando linhas de passe, desencorajando as assistências, apressando e amedrontando arremessos. Eles não forçam turnovers, não defendem de modo adiantado, mas atrapalham muito a conclusão dos lances. Não subestime isso de modo algum. Afeta até mesmo um adversário qualificado como a Espanha, a ex-favorita ao ouro.

La Bomba estourou contra a Espanha

La Bomba estourou contra a Espanha

Os donos do ginásio acertaram apenas 32,3% de seus arremessos de quadra. Isso é praticamente inclassificável, considerando as circunstâncias. Pau Gasol marcou 17 pontos em 31 minutos, porque é Pau Gasol. O restante do seu time? Apenas 35 pontos! Sim, 12 atletas totalizaram 35 pontos, menos de 3 pontos por cabeça. Marc Gasol e Serge Ibaka, dupla que, na NBA, ganha mais de US$ 25 milhões por temporada, acertaram apenas dois de 14 arremessos.

Atingindo esses números na defesa, nem tem problema atacar de maneira horrorosa. Não é que a França tenha feito uma exibição de gala. Seu ataque só aproveitou 39,3% dos arremessos. Mas estava tudo dentro do plano. Digo: obviamente prefeririam acertar mais (risos). Mas a ordem óbvia era girar a bola, trocar passes, gastar o cronômetro o máximo possível. Um ataque controlado, de abordagem para lá de sistemática e para lá de curiosa – e que merece mais atenção.

Se você for pegar o nível de capacidade atlética que os franceses apresentam em seu elenco, de primeira sai a ideia de que poderiam formar um dos times para correr mais no torneio. Mas não tem nada disso. Eles gostam de um bom e velho ugly basketball. Em francês, deve dar algo como basket-ball de la m…e. É um jogo muito feio, arrastado, que vai te exigir o máximo de paciência, que vai te extrair a alegria. Mas foi mais ou menos deste modo como eles se tornaram campeões europeus no ano passado, tendo batido os espanhóis na semifinal, inclusive. Sem Tony Parker, decidiram levar essa proposta ao extremo. E, pelo menos por uma notite em Madri, deu mais que certo.

* * *

A pergunta engraçadona que todo mundo fez ao final do jogo: “Quem precisa de Tony Parker quando se tem um Thomas Heurtel?”

Muito original, né? Mas pode me incluir nessa: foi realmente a primeira coisa que bateu na telha quando o armador do Baskonia resolveu roubar toda a cena nos tensos minutos finais do confronto, quando os espanhóis ainda alimentavam o sonho de uma virada. O jogador de 25 anos anotou 9 de seus 13 pontos nos quatro últimos minutos, quando voltou para a quadra para no lugar de Antoine Diot.

Heurtel, no caminho certo

Heurtel, no caminho certo

Quem deve ter comemorado: o italiano Marco Crespi e a diretoria do Baskonia, que vão receber para as próximas Euroliga e Liga ACB um jogador muito mais confiante. Huertel é muito talentoso com a bola. Foi um dos eleitos pelo time basco para substituir Marcelinho Huertas, desde que o brasileiro foi levado pelo Barcelona. Para um armador, porém, nunca foi muito afirmativo em quadra. Após um jogo desses, justamente no país aonde joga durante a temporada, improvável passar incólume.

* * *

Como o veterano e espirituoso Marc Stein, jornalista do ESPN.com, disse: “Vai ser difícil encontrar um jogador de basquete que tenha vivido um ano mais feliz do que Boris Babacar Diaw-Riffiod”. Com esse nome já não tem quem fique triste. Mas, se for para ganhar o EuroBasket, seu primeiro título da NBA, voltar a bater a França e, no meio da jornada, assegurar mais US$ 15,5 milhões em contrato e um vale Royale with Cheese do McDonald’s mais próximo, melhor ainda.

* * *

A semifinal de sexta-feira tem, então, França x Sérvia. Respectivamente os segundo e terceiro e colocados do Grupo A, duas equipes vencidas pelo Brasil na primeira fase. Sorteio camarada o da Fiba… Quem vencer, para quem chegou agora, pega o time que sair de EUA x Eslovênia.

* * *

Não é a primeira vez que falamos de carma nesta Copa do Mundo, mas, enquanto as seleções não pararem de manipular a tabela, vamos insistir: essa é a segunda derrota em dois jogos da Espanha contra a França desde que se enfrentaram nas Olimpíadas de 2012. Naquela ocasião, vocês vão se lembrar, houve uma grande suspeita de que teriam entregado um jogo para o Brasil na fase de grupos de modo que pudessem controlar a posição em que ficariam na tabela. A ideia era cair do outro lado da chave dos Estados Unidos. No meio do caminho, escolheram, então, encontrar os franceses. Que ficaram pês da vida com a história. Teve soco de Nicolas Batum em Rudy Fernández e muito mais em quadra. Agora estamos aqui, comentando esse desfecho inesperado e um tanto trágico.


Espanha domina Brasil, com Pau Gasol soberano e sem apito
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Pau Gasol, Espanha, Copa do Mundo, Brasil

Chega uma hora em que você apanha, apanha e apanha, que não adianta mais reclamar de qualquer apito amigo para o adversário. Apanha na bola, no caso. Sim, houve marcações bem duvidosas para o time… da casa. Mas se formos ver o número de faltas apitadas nesta segunda-feira, teremos 21 de jogadores espanhóis, contra 20 de brasileiros. Essa, ao meu ver, seria a principal forma de uma arbitragem influenciar um jogo, e os anfitriões foram mais penalizados em 40 minutos.

Como se fosse necessário recorrer a isso. Na terceira rodada desta Copa do Mundo de basquete, o Brasil conheceu sua primeira derrota, e de modo acachapante, perdendo por 82 a 63 para a Espanha.

Um placar dilatado, mas que não chega a ser absurdo. Os atuais vice-campeões olímpicos têm muito mais time, tecnicamente. Do 4 ao 15, vão vencer praticamente todos os embates individuais. E isso significa muito menos uma crítica aos homens em que Rubén Magnano confia para sua rotação do que um elogio ao que os caras têm para oferecer hoje. Quer dizer: hoje, não, mas há tempos.

Pau Gasol sobe com liberdade para o chute. Arsenal completo de um jogador superior

Pau Gasol sobe com liberdade para o chute. Arsenal completo de um jogador superior

Os mais velhos dessa seleção espanhola já ganharam um Mundial em 2006. Levaram também duas medalhas de prata nos últimos dois Jogos Olímpicos. Chegaram ao pódio nas últimas quatro edições do EuroBasket, ganhando duas delas. Vocês vão me desculpar se tudo isso parece muito redundante, mas talvez não custe relembrar esses feitos. Para sabermos bem, exatamente quem estava do outro lado.

Há mais dados para serem considerados. Como o simples fato de que o atual elenco espanhol tem mais rodagem, mais minutos de quadra em jogos de NBA do que o próprio Team USA. Se aceitarmos a liga norte-americana como a melhor do mundo, isso diz muito, não? Vamos notar que nessa seleção apenas o ala-pivô Felipe Reyes não tem um vínculo direto com o campeonato. De resto, todos jogam, jogaram ou vão jogar por lá – dependendo do interesse de Sergio Llull e Álex Abrines.

Enfim… Poderíamos ir longe aqui.

Mas basta ver um primeiro quarto de domínio completo por parte de Pau Gasol para entendermos que a superioridade nem precisa ser justificada em números e retrospecto. Depois de passar dois anos inteirinhos sendo mal-tratado e alienado por Mike D’Antoni em Los Angeles, o camisa 4 espanhol parece determinado a mostrar que é, sim, um dos melhores do mundo ainda – e que o Chicago Bulls pode tê-lo contratado a peso de banana.

O astro tirou do fundo do baú até mesmo um elemento que andava esquecido em seu arsenal: o chute de longe, acertando três em cinco tentativas. Segundo o estatístico Mr. Chip (não riam, o cara é sério e bom pacas), ele não matava três chutes de longa distância pela Espanha há 13 anos. A última vez havia sido em setembro de 2001, contra a Alemanha. Agora, o fato de ele não converter esses arremessos com frequência não quer dizer que ele não possa fazer um estrago dali. Ainda mais quando livre, leve e solto. O que não pode acontecer com um atleta tão decisivo: a Espanha venceu seus últimos 13 jogos com ele em quadra, por uma média de 22 pontos de diferença.

Os pivôs brasileiros são excelentes, mas foram oprimidos pelo craque e seu irmão(zinho?!) Marc. Tentaram combater enquanto foi possível, mas os hermanos catalães são mais altos, mais fortes e mais técnicos. De novo: isso não é um pecado brasileiro, mas, sim, virtudes espanholas. Temos ouvido durante os amistosos e toda a competição como o nosso garrafão seria o melhor do mundo. Esqueceram, convenientemente ou não, os Gasol (e de Ibaka e Reyes).

A Espanha levou a melhor nos rebotes (41 a 32) – em praticamente todos os fundamentos. Além disso, mais importante, protegeu sua cesta com muito mais propriedade, com uma defesa compacta, que forçou apenas seis desperdícios de posse de bola, mas soube se fechar. Se, no total de pontos no garrafão, tivemos um escore equilibrado (28 a 26 para os donos casa), em termos qualitativos o rendimento dos oponentes foi bem superior: 54% nas bolas de dois contra 43%. Limitar o jogo interno brasileiro é essencial, uma vez que a equipe de Magnano não oferece muito perigo nos tiros de fora (3/10 hoje, 31,7% no geral em três partidas).

Sergio Rodríguez deixa defensores brasileiros para trás para um chute sem contestação

Sergio Rodríguez deixa defensores brasileiros para trás para um chute sem contestação

Do outro lado, aliás, a defesa brasileira não conseguiu desestabilizar a armação espanhol do jeito que gosta. Não era fácil, mesmo: Ricky Rubio, Juan Carlos Calderón e os dois Sergios seriam titulares em grande parte da concorrência, se contratados naturalizados. Larry, Alex, Raulzinho e qualquer outro poderiam apertar o quanto quisessem, que o controle de bola desse quarteto não sofreria muito.

Enfim, num grande tabuleiro, é difícil encontrar uma área em que o Brasil tenha se imposto em quadra – ou, na verdade, em que pudesse se impor. A Espanha não tem muitos pontos fracos a serem explorados. Do ponto de vista individual, sempre que Navarro e Calderón estivessem em quadra, deveriam ser atacados se modo incessante por Leandrinho, ou Marquinhos, por exemplo. Esse jogo de gato-e-rato, porém, foi pouco praticado. Desde o início de jogo, o ataque brasileiro partiu para o confronto interno, mas em bolas previsíveis, diretas, em ações de mano-a-mano, nas quais os Gasol sobraram. Juntos, Nenê, Splitter e Varejão somaram 23 pontos. Pau Gasol, só ele, terminou com 26. Ibaka e Big Marc combinaram para 13 pontos. A partir do momento em que os titulares se estabeleceram, as dobras começaram a vir, e a turma do perímetro aproveitou (8/19, 42%, descontados os disparos do camisa 4).

Diante de um cenário desses, ao menos valeu ouvir um ponderado Varejão em entrevista ao SporTV ainda em quadra. Falando muito mais em erros próprios, que precisam ser estudados e repassados em vídeo, pensando, quem sabe, num eventual reencontro mais adiante, se ele chegar. Sem importar o apito, tentando encontrar um modo de parar Pau Gasol e um timaço.


EUA definem time com a Espanha na mira
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

A ascensão de Mason Plumlee também empurrou Coach K para decisão surpreendente

A ascensão de Mason Plumlee também empurrou Coach K para decisão surpreendente

LaMarcus Aldridge, Blake Griffin e Kevin Love disseram não, obrigado. LeBron e Carmelo, que também quebram um galho por lá, assim como Kevin Durant, também pularam fora. Mas quem disse que o Coach K não conseguiria montar um Team USA grande – ou gigante – para a Copa do Mundo de basquete na Espanha?

Na calada da noite, madrugada de sexta para sábado já no horário de Brasília (sacanagem!!!), o gerentão Jerry Colangelo e o técnico Mike Krzyzewski anunciaram os cortes finais – Damian Lillard, Kyle Korver, Gordon Hayward e Chandler Parsons – para definir seu elenco de 12 atletas. Com muitas surpresas, sendo o estoque de grandalhões a maior delas.

Da turma meio que exclusiva de garrafão, eles terão: Anthony Davis, Kenneth Faried (titulares), Mason Plumlee, DeMarcus Cousins e Andre Drummond. São cinco pivôs, mais o Rudy Gay que pode fazer o papel de strecht 4 pontualmente, dependendo do time que estiver do outro lado. Uma linha de frente abarrotada, , principalmente quando comparamos esta escalação com a de outras temporada. Vejam só:

– 2010: Tyson Chandler, Odom, Love (+ Gay, Granger e Durant)

-2012: Tyson Chandler, Davis, Love (+ LeBron, Carmelo e Durant)

Temos aí a mesma composição: três pivôs mais três “híbridos”, que seguravam as pontas de quando em quando para marcar lá embaixo – ainda que, no sistema promovido pelo Coach K, esse conceito de posições fosse bastante dissipado. Além do mais, caras como Odom, Love e Davis fazem muito mais em quadra do que simplesmente proteger o aro e rebotear. Você pega esses duas listas e vê um esbanjo de versatilidade. No sexteto de 2014, não é bem assim.

Claro que DeMarcus Cousins tem uma habilidade fora do comum para alguém do seu porte. Kenneth Faried é consideravelmente dinâmico e vem expandindo seu raio de ação. Mason Plumlee, que ganhou sua vaga feito um autêntico azarão nos coletivos dos “aspirantes” contra o time principal, também é um excelente passador. Mas não dá para comparar.

Então o que acontece?

Isso se chama respeito. Pela Espanha, basicamente.

Ninguém da USA Basketball vai admitir em público, até para não soar prepotente e não encher de confiança os donos da casa. Mas os americanos entram na competição com um único objetivo: alcançar a final e levar mais ouro para casa. Creem piamente que os irmãos Gasol e o contratado Serge Ibaka estarão do outro lado. Um trio de arromba, que, num jogo travado, físico (e, quiçá, com arbitragem caseira?), pode te carregar de faltas. Daí a mudança de curso.

Hermanos Gasol, estão de olho em vocês

Hermanos Gasol, estão de olho em vocês

“Não consigo reforçar o quanto foi impressionante a dedicação e o comprometimento de cada um dos finalistas”, disse Colangelo. “Desde que assumi a gerência do programa em 2005, esse foi sem dúvida o processo de seleção mais difícil pelo qual passamos. Gostaria de deixar claro que isso não tem a ver apenas com talento. Cada um desses jogadores é incrivelmente talentoso e cada um oferece habilidades únicas. No fim, o que pesou foi a formação da melhor equipe possível, selecionando os caras que sentimos que se encaixariam da melhor forma com o estilo que temos em mente para esta equipe.”

No programa que restaurou a hegemonia ianque no basquete mundial,  a explosão, a velocidade, a capacidade atlética como um todo foram elementos fundamentais em suas seleções Claro, desde que esses atletas também fossem multifundamentados. Ajuda poder contar com Westbrooks, LeBrons, Georges e tudo o mais, né? Aberrações do ponto de vista físico, mas igualmente fenomenais com a bola.

Sem esses caras do primeiro escalão, o Coach K tinha ao seu dispor a ala, digamos, branca que sobrou – Chandler Parsons e Gordon Hayward, que supostamente poderiam quebrar o galho como jogadores híbridos (simplesmente “forwards”). Após Durant pedir dispensa, não demorou, no entanto, para que a federação recorresse a Rudy Gay, um campeão mundial em 2010, mas que nem havia sido convocado para o novo ciclo olímpico que se inicia. Já era uma pista a respeito dos alas de Dallas Mavericks e Utah Jazz.

Já Kyle Korver era visto como o sniper do elenco. Aquele que seria utilizado para derrubar as defesas por zona mais coordenadas, com seu arremesso perfeito – sim, ele também tem um QI acima da média, se mexe como poucos fora da bola, ajuda na coesão defensiva e tem bom passe, mas seu chamariz, em meio a tamanha concorrência, é o chute de três. Num time que já conta com Stephen Curry, Kyrie Irving, James Harden e Klay Thompson, porém, sua especialidade pôde ser sacrificada.  Os recursos atléticos e técnicos de DeMar DeRozan se tornaram mais atraentes.

Derrick Rose: voto de confiança (em seu físico)

Derrick Rose: voto de confiança (em seu físico)

O corte inesperado, mesmo, pensando na primeira lista divulgada, foi o de Damian Lillard. Não só por ser um senhor (e destemido) arremessador, mas principalmente por todas as dúvidas que ainda vão rondar Derrick Rose por um bom tempo. O armador jogou contra o Brasil no domingo e, segundo consta, sentiu dores no corpo inteiro, e, não, apenas nos joelhos operados. Tantas dores que, na quarta-feira, não foi para a quadra para enfrentar a República Dominicana, pulando também os treinos no meio do caminho. Num Mundial com uma sequência desgastante de jogos, como fica essa equação? Não seria prudente levar Lillard? Talvez o simples fato de que Colangelo e Krzyzewski tenham pensado que não seja a melhor notícia que o torcedor do Bulls poderia receber.

Agora, numa Conferência Oeste que já é brutal, os adversários do Portland Trail Blazers que se cuidem, porque Lillard vai ter ainda mais um bom motivo para incendiar cada ginásio que visitar na próxima temporada. John Wall ganhou companhia.

Mas ainda tem chão para os Irmãos Gasol e Ibaka pensarem no quão enfezado Lillard vai estar em quadra. Antes, eles vão acompanhar com curiosidade como os Estados Unidos vão trabalhar com tantos pivôs.