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Brasil faz péssima apresentação e perde para o Uruguai pela estreia
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Giancarlo Giampietro

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É, a seleção brasileira tem sempre a chance de reagir. Restam mais três partidas pela primeira fase da Copa América. Mais três oportunidades para o time apagar a péssima impressão deixada por sua estreia desta segunda-feira contra o Uruguai. Três chances também para tentar resgatar a fagulha que vimos durante o Pan. Numa derrota por 71 a 57, com uma péssima apresentação, muito pouco, ou quase nada deu certo. Foi uma derrota de certa forma acachapante.

Nos amistosos e na Copa Tuto Marchand, você dá um desconto. Pode-se bater o pé e dizer que, quando uma seleção vai para a quadra, não existe essa de teste e de observação. Mas, nas últimas temporadas de Fiba Américas, vimos que os jogos preparatórios não serviram de bom parâmetro para o que aconteceria no torneio para valer. E aí chegamos a um ponto: para os uruguaios, o torneio na Cidade do México vale muito. Para o Brasil já classificado, nem tanto. Mas, agora, com jogos oficiais, não há desculpa para apatia ou para uma apresentação como a que acabamos de ver.

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Não que tudo o que aconteça numa quadra de basquete possa se explicar por esforço, obviamente. Isso não justifica os sete lances livres a mais que os uruguaios bateram (e converteram) e até mesmo o fato raro de que tenham conseguido equilibrar a disputa de rebotes com os brasileiros (perdendo por 39 a 37). Mas ajuda a entender o fato de o Brasil ter cometido 20 desperdícios de posse de bola e acertado apenas 35% dos arremessos de quadra.

uruguai-brasil-copa-americaQuando você se depara com números calamitosos como esses, tem de ponderar o quanto o mérito está do outro lado, ou o problema está no seu próprio colo. O nível de competição é bem superior ao do Pan, individualmente, mas, no caso dessa estreia, por mais estruturado que esteja, não podemos dizer que o Uruguai sem Esteban Batista, Jayson Granger e Leandro Garcia Morales seja uma potência continental. As derrapadas vêm da combinação dos dois fatores, queda no rendimento e oposição mais dura. Fato é que o Brasil jogou de modo emperrado novamente, mantendo o padrão das últimas partidas. No ataque, os atletas até se movimentam de lá para cá em jogadas ensaiadas, mas a bola estaciona.

O retorno de Rafael Luz, que está se recuperando de uma lesão que sofreu em treinamento na Argentina, era uma esperança por maior lucidez no ataque, mas talvez seja injusto pedir muito do novo armador do Flamengo, que vai ter de recuperar o ritmo de jogo em plena competição. Contra os uruguaios, Rafael cometeu cinco turnovers e deu quatro assistências. Marquinhos, o cestinha com 21 pontos, também perdeu a posse de bola em cinco ocasiões. O ala centralizou muito o ataque brasileiro, e aí também fica a questão se isso tem mais a ver com a evidente confiança de Magnano em suas habilidades — isto é, se isso está designado –, ou se é mero produto de um time que saiu dos trilhos e acaba dependendo de iniciativas individuais lutando não só contra uma defesa adversária, mas também contra o cronômetro.

Coletivamente, a seleção se mostra incapaz de buscar cestas fáceis em transição ou próximo ao aro. Por ironia, até mesmo quando os pivôs escaparam e se colocaram em boa para finalização, acabaram falhando em conclusões individuais. O que também podemos notar é um desequilíbrio no modo como dois pivôs tão contrastantes como Augusto e João Paulo foram utilizados em determinados momentos. JP foi acionado diversas vezes em pick-and-rolls, enquanto para Lima a bola foi pingada em post-ups, de costas para a cesta — quando os dois são notoriamente mais produtivos justamente em situações inversas. Trocaram as bolas na hora de jogar com eles, o que é difícil de entender depois de tantas semanas de treino.

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Magnano também não conseguiu encontrar uma rotação que ganhe coesão ofensiva e defensiva com Marquinhos e Giovannoni, por exemplo. Os dois mais experientes, por exemplo, estavam fechando este primeiro jogo ao lado de João Paulo na linha de frente e de Rafael, voltando de lesão, e Benite no perímetro. Ok, estava difícil fazer cestas. Beeeem difícil, que era uma tristeza. Mas esse quarteto não inspira confiança nenhuma na retaguarda, por outro lado. Não seria o caso de usar Augusto com os dois alas-pivôs abertos? Coisas desse tipo vêm acontecendo em meio às diversas trocas à procura do time ideal.

Como acontece isso? Como o time pode ter rendido tão bem no Pan e agora esteja capengando? O fator motivacional não deveria, mas influencia, embora, queiramos crer, de novo, que não diz tudo. A próxima dedução apontaria para o desequilíbrio troca por Hettsheimeir e Larry por Giovannoni e Marquinhos. São atletas  de perfil muito diferentes, tanto do ponto de vista técnico como do físico, aliás. sem contar que os dois alas-pivôs estavam vindo de férias e sendo encaixados num time que estava pronto. Não quer dizer que os dois que saíram sejam superiores aos dois que chegaram. Acontece que, entre uma habilidade perdida e outra somada, a rotação entrou em desequilíbrio, fato. Sem Larry, a tendência era de que o Brasil diminuiria os minutos com dois armadores em conjunto — daí que o corte de Danilo Siqueira machuca um pouco mais, de uma outra forma que vai além da simples oportunidade desperdiçada de se dar rodagem a um jovem talento.

Para compensar, Magnano estende os minutos de Benite, que ficou em quadra por 33 minutos. Isso implica em naus desgaste para o agora jogador do Murcia, que já está cercado de enorme responsabilidade no ataque, como a segunda opção de desafogo, logo depois de Marquinhos. Benite não cria muitas situações por conta própria e precisa da ajuda dos corta-luzes e de movimentação de bola mais inteligente e precisa para receber em movimento e agredir. Não vem acontecendo, exigindo um tromba-tromba incessante para ele. Pois, depois de sua ótima exibição em Toronto, as defesas simplesmente vão fazer de tudo para tirá-lo de uma zona de conforto. Benite está sendo contestado sem parar (3-15 nos arremessos, 0-6 nos três pontos). Mas não só ele. O perímetro em geral está supercongestionado, como prioridade de qualquer adversário brasileiro. E o time de Magnano não está conseguindo buscar outras alternativas, deixando no ar já uma série de questões que podem ser respondidas durante a semana. A ver.


Boi na linha: as novas espanadas de Magnano após pedidos de dispensa
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Giancarlo Giampietro

Ruben Magnano, Brasil, CBB, técnico, seleção

Deu boi na linha, gente. Como sempre.

Depois da conquista do Pan e de um breve momento para respiro — e alívio — pela vaga olímpica, a seleção brasileira reuniria a turma campeã para encarar uma Copa América muito interessante, pelo simples fato de esse time poder ser testado contra adversários muito mais fortes, jogando sem pressão alguma.

O grupo não será o mesmo, todavia, devido ao pedido de dispensa de Larry Taylor e Rafael Hettsheimeir. Sinceramente, não via problema algum em relação a esses desfalques. Afinal, Rubén Magnano já deve saber, nos mínimos detalhes, o que o armador do Mogi e o pivô do Bauru podem oferecer, ou não, à seleção. Já foram testados, avaliados nos mais diversos níveis. Além disso, era a chance de ver em ação Deryk, Danilo e talvez mais algum jovem pivô, quiçá Lucas Mariano — o que não aconteceu, com a convocação um tanto deslocada de Giovannoni.

Acontece que, para o treinador, a saída dos atletas não pegou nada bem. Em entrevista ao repórter André Sender, da Gazeta Esportiva, o argentino voltou a espanar ao lidar com um tópico recorrente na hora de se montar a equipe nacional. Não bastava ele se dizer “surpreso” uma vez, por exemplo. Não, em suas palavras, ele ficou “muito, muuuuuuito surpreso” com o que aconteceu. Não é a primeira vez que ouvimos essa história, e nem mesmo a segunda. Está mais para quinta, sexta vez em que atletas e clubes dão uma versão e o treinador e a seleção, outra.

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Nessa história toda, ao conflitar todos os discursos, o que fica claro em meio à confusão é que falham todos.

Os clubes não ajudam, de fato. Se há o interesse de segurar um jogador, recém-contratado ou não, jovem ou veterano, qual o problema de expressar isso à confederação, ao treinador ou ao seu torcedor? Como no caso de Mogi e Larry. O armador tinha uma contusão para ser tratada, e o clube alega que queria supervisionar o processo, embora a comissão técnica da CBB diga que não fosse nada grave — ele já está jogando normalmente pelo Campeonato Paulista, aliás. Por que esperar o fogo cruzado de críticas públicas do treinador da seleção e a matéria do companheiro Fábio Aleixo, aqui do UOL Esporte, para, aí, emitir nota oficial tentando explicar o que estava acontecendo? A apuração de Aleixo também indica que o clube também estava um tanto ansioso para colocar o norte-americano, uma grande contratação, em quadra. Numa temporada muito longa de seleções, com Pan e Copa América, não deixa de ser compreensível esse anseio. É a mesma discussão que, no futebol, acontece mensalmente a cada convocação de Dunga, gente.

Sabemos bem que o ato de se pedir dispensa da seleção brasileira é um tema ainda bizarramente espinhoso no basquete nacional. Nesse contexto, se o clube tinha alguma preocupação em preservar a imagem de seu jogador, deveria ter se antecipado e assumido essa bronca. Não fizeram, e, depois da ofensiva de Magnano, Larry se sentiu impelido a esclarecer que não foi sua a decisão pelo desligamento e que estava “triste” por isso. “O clube pediu para eu me tratar lá. Fiquei triste, pois era uma coisa que não queria ter feito. É um direito do clube. Por mim eu teria continuado lá. Mas acabou se criando esta situação. Conversei com o Magnano e com a comissão técnica e disse que queriam que eu voltasse para Mogi”, afirmou.

Larry Taylor, Mogi, reforço, NBB

Da parte dos jogadores, de todo modo, também falta transparência e firmeza, convenhamos. Larry, mesmo, poderia ter aberto o jogo antes, embora estivesse numa situação delicada em relação ao clube, sendo o elo mais fraco da história. No caso de Rafael, apenas uma nota oficial, sem maiores detalhes, foi emitida pelo atleta quando ele optou por abrir mão da convocação. Soube, depois, que o pivô tinha uma questão particular, de saúde particular, para ser resolvida, que realmente demandava sua seleção para além dos treinos com a seleção ou um eventual teste para um clube da NBA de que fala Magnano, forçando sua estadia em Bauru.

O que não impediu que o treinador da seleção desse sua alfinetada. “Ainda estou esperando uma resposta, uma ligação, sobre a situação. Ele disse que faria um teste na NBA, mas ainda não deu respostas porque perguntei ‘quando é essa prova? Onde é essa prova?’ para tentar coordenar a possibilidade de ele voltar e jogar a Copa América”, relatou o técnico. Ao que o pivô respondeu: “Já conversei com o técnico e expliquei minha situação. A dispensa foi por motivos pessoais e já acertei isso com ele”, disse o pivô, via comunicado, à Gazeta.

Uma fonte próxima dessa situação assegura que o argentino tinha total ciência sobre os motivos para Hettsheimeir dizer que não poderia jogar o torneio continental e que, com suas declarações, estaria “jogando para a torcida”. Ele não estaria necessariamente mentindo, mas omitindo algumas informações em seu discurso para mandar seu recado aos atletas e à nação — e até para manter uma certa coerência com a chiadeira de verões passados. São os ecos de 2013, quando o argentino cuspiu marimbondos depois de campanha vexatória pela Copa América. Na ocasião, generalizou em seu desabafo e acabou atingindo muita gente.

Se Magnano se sentia obrigado a reforçar a mensagem de comprometimento com a seleção, especialmente a um ano das Olimpíadas em casa, talvez houvesse outro meio de fazê-lo. E aí chegamos à CBB, que, supõe-se, deve estar a par do desgosto de seu treinador pelas dispensas e de sua necessidade de se posicionar a respeito. Nesse caso, a entidade não poderia ter assumido o controle do processo e externado essa preocupação e lamentação, mas por outros canais, de preferência mais diplomáticos?

Hã… Sim, claro. Mas esta é a CBB, mesmo. A confederação desacreditada e endividada que não sabe o que é assumir uma posição firme há tempos. Além do mais, internamente, não há quem possa peitar Magnano por lá. E aí o argentino volta a roubar a cena, mas não do modo como o basquete brasileiro espera.


Ritmo, energia, química, e a tempestade perfeita para a seleção
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Giancarlo Giampietro

seleção brasileira campeã do Pan de Toronto

Sendo julho, período de férias da garotada, a queda de produção do blog tem um timing ligerimante suspeito. Mas ainda não existem pimpolhos circulando pela base do conglomerado 21, e o mês foi de muito trabalho, mesmo, com algo como 33 dias trabalhados de 35 possíveis, em ritmo intenso. Só para deixar claro o porquê do sumiço e de como foi bem-vinda a colaboração de Rafael Uehara, para ao menos publicar algo durante o mês.

Posto isso, não quer dizer que não tenha dado para assistir a um jogo ou outro de basquete nesse meio-tempo, para evitar aplacar a tremedeira nas mãos e evitar que chegasse a uma crise de convulsão.

As ligas de verão? Infelizmente só consegui ver a de Orlando, perdendo a apresentação dos brasileiros em Las Vegas. Mas isso o Rafael conseguiu remediar, com seus scouts atenciosos em relação a Bruno Caboclo e Lucas Bebê. Nesta terça-feira, vou publicar também as notas de um experiente olheiro da NBA, que estava presente no ginásio, às quais tive acesso.

Antes disso, todavia, melhor falar sobre o que pude assistir para valer, e com grande satisfação, que foi a seleção brasileira campeã pan-americana – e que acaba de vencer Uruguai e Argentina em amistosos em Brasília.

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Bom, entre o torneio valendo ouro e o amistoso, já são sete vitórias seguidas. O basquete apresentado no Nilson Nelson foi o mesmo de Toronto? Claro que não. Nem poderia ser, e isso tem mais a ver com o calendário um tanto espaçado e traiçoeiro do que com o nível dos adversários. A seleção teve de ser preparada para um pico de performance, tanto do ponto de vista técnica como do físico de 21 a 25 de julho. Agora, encaminha nova preparação para um torneio que vai começar mais de um mês depois, de maior duração (espera-se…), lembrando que estamos falando de meses nos quais, supostamente, esses caras deveriam estar parados.

Aliás 1: como chamar essa temporada de seleção tão longa? Pré-e-pós-temporada-tudo-ao-mesmo-tempo? Flamengo, Bauru, Murcia… É bom que os clubes estejam atentos desde já em relação ao estado dos atletas em sua apresentação. Por mais jovem que seja o grupo, tem de tomar cuidado.

Aliás 2: se o plano de Magnano é contar com a tropa de choque veterana da NBA nos Jogos do Rio 2016, tanto melhor que não a usasse agora, especialmente depois de uma campanha pela qual só Leandrinho passou incólume.

Aliás 3: a vaga olímpica ter sido garantida ao país-sede vale como um alívio ainda maior considerando os dois fatores acima. Mais a respeito será tratado durante a semana, mas dá para dizer aqui que, esportivamente, comemora-se. Pensando nas constantes vezes que a CBB flerta com o desastre e até mesmo faz da vergonha um eufemismo, não há nada o que festejar, pensando no futuro.

>> Ouro em Toronto só confirma a impressionante ascensão de Augusto Lima
>> Teria Rafael Luz feito o suficiente para se garantir na armação da seleção?

Agora, voltando à quadra. Deu para se notar um certo zum-zum-zum sobre como este Pan não poderia valer tanto assim, já que todos os principais adversários estavam formados por times em versão beta. Inegável isso, mas a seleção brasileira também não era, até a hora que entrou em quadra, favorita a nada.

Benite chegou ao Pan embalado por excelente playoff do NBB

Benite chegou ao Pan embalado por excelente playoff do NBB

O time de Ruben Magnano simplesmente dominou rivais de nível técnico – ou bagagem internacional, no mínimo – equivalente. E dominou devido ao excelente padrão de jogo apresentado. Padrão de jogo que turbina o talento disponível, como em qualquer time campeão. Você não vai vencer só pela técnica ou pela tática. Vai vencer quando as duas andam em conjunto, quando um treinador faz uma boa lista e tira o melhor daquilo que tem em mãos. Não há outro “se”, ao meu ver, para ser ponderado aqui. Acho que podíamos combinar uma coisa: falar que é a seleção jogando. Sem B, C ou D. É o time convocado, que se apresentou, treinou e ganhou.

Foi o que aconteceu em Toronto, e algo bem diferente do que vimos em Guadalajara 2011 ou na Copa América 2013, por razões diferentes. Para o México, Magnano admitiu que reuniu o time já no avião, indo à base de catadão, mesmo. Dois anos depois, na Venezuela, o treinador jurava que contaria com seus principais nomes (mesmo num torneio em que Luis Scola e Greivis Vásquez eram verdadeiras aberrações) e se atrapalhou todo na hora de fazer as emendas necessárias. Ficou com um arremedo de equipe, sem coesão alguma entre as peças, perdendo para Uruguai e Jamaica. O maior vexame sobre o qual se tem nota, na quadra.

Desta vez, com planejamento adequado, tudo mudou. O título pan-americano obviamente começou a partir da convocação, muito mais razoável. Magnano formou uma equipe balanceada. Tão importante também foi o respeito pelo que aconteceu durante a temporada – algo que, por uma razão difícil de compreender, nem sempre acontece. Os nomes podem não ter sido tão revolucionários assim, em termos de material novo, mas foram pinçados todos atletas que jogaram muita bola no Brasil ou na Europa. Benite e Olivinha terminaram o ano voando pelo Fla. Augusto foi um dos cinco melhores pivôs da Liga ACB, sob qualquer avaliação. Rafael Luz se despediu do Obradoiro aclamado pela torcida. João Paulo foi campeão francês. Ricardo Fischer e Rafael Hettsheimeir ganharam quase tudo por Bauru. Marcus já atormenta os atacantes do NBB há tempos. Etc. Etc. Etc. Isso serve para confirmar o talento brasileiro por vezes subestimado. Não precisa de um selo de NBA ou Euroliga para se corroborar a qualidade de um atleta e, principalmente, de uma equipe.

A partir daí, foi entender a melhor forma como encaixar essas peças. Não era tão difícil assim. O grupo tinha bons armadores com propensão ao passe. Rafael e Ricardo podem ser jovens, porém já têm boa cancha, se não em competições pela seleção, mas em jogos de grande relevância por seus clubes. Havia bons arremessadores, com Benite, Meindl, Hetthsheimeir. Pivôs flexíveis como Augusto e Olivinha, e de habilidades distintas que combinavam muito bem, como os bons corta-luzes e cortes para a cesta de Augusto, o jogo de costas para a cesta de JP e mais chute.

De nada adiantaria, porém, se não houvesse química entre esses atletas, e até nesse aspecto a lista é, vá lá, extremamente feliz. É só ver o Marcus vibrando (em vez de urrando de dor), estirado na quadra do Nilson Nelson, depois de cavar uma falta de ataque da Argentina. O ala, agora do Basquete Cearense, é uma das tantas personalidades agrupadas de astral e energia elevados.

Isso não é conversa fiada e facilita o entendimento em quadra. Algo que foi basicamente impecável durante o Pan. A agressividade na marcação exigida por Magnano ganhou também a cobertura de uma defesa interior muito sólida. A boa defesa leva ao contra-ataque, e a execução em transição está no DNA. Quando não houve oportunidade para a definição rápida, o time cumpriu, creio, o melhor ataque em meia quadra sob gestão do argentino, com espaçamento e ritmo.

Por falar em ritmo, retomamos a produção normal do blog nesta semana, acompanhando como a seleção, com essa tempestade perfeita que vimos em Toronto, vai se virar contra oponentes mais qualificados.


CBB divulga time do Pan, rodeada por questões financeiras e políticas
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Giancarlo Giampietro

Um dos treinadores da seleção no Pan está na foto

Um dos treinadores da seleção no Pan está na foto

Começou, e daquele jeito.

ACBB divulgou nesta segunda-feira a primeira lista de Rubén Magnano para a temporada 2015 da seleção brasileira. Foram 12 atletas relacionados para a disputa do Pan de Toronto, a partir do dia 21 de julho. Não consta nenhum  nome da NBA. Em relação ao time da Copa América do ano passado, são apenas três caras. Até aí tudo normal, compreensível. O inacreditável, mesmo, é que, a menos de dois meses para a competição, o argentino não sabe se vai para o Canadá, ou não, já que a Fiba ainda não se posicionou de modo definitivo a respeito de uma vaga para o Brasil no torneio olímpico do Rio 2016.

Para quem está por fora do ba-fa-fá, é isso aí: a federação internacional faz jogo duro e ameaça acabar com essa história de posto automático para o país-anfitrião nos Jogos. Algo com que até mesmo a Grã-Bretanha, sem tradição alguma, com um catado de jogadores, foi agraciada em 2012. Por quê? Pelo simples fato de a CBB enfrentar problemas para pagar uma dívida com a entidade, conforme relatam Fabio Balassiano e Fabio Aleixo. Dívida que decorre do pagamento de US$ 1 milhão por um humilhante convite para a disputa da Copa, depois de um fracasso na Copa América de 2013, no qual a seleção saiu sem nenhuma vitória e com derrotas até para Jamaica e Uruguai. Lembrando que faz tempo que a confederação nacional está no vermelho e hoje faz um apelo em Brasília por algum patrocínio estatal para complemento de renda.

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Quer dizer: nos bastidores, o Brasil já está sendo derrotado, e isso não ajuda em nada a vida de um técnico. Seja um campeão olímpico que nem Magnano ou um bicampeão do NBB, como José Neto, a quem caberia o comando da seleção pan-americana caso o argentino precise concentrar esforços na equipe da Copa América, o torneio que classifica as equipes do continente para as Olimpíadas. Ambos os técnicos trabalham juntos há anos, e, numa eventual divisão de esforços, supõe-se que não haverá problema de choque de gestão. Mas, claro, não é um cenário ideal.

Escritório de Carlos Nunes ainda aguarda o fax da Fiba

Escritório de Carlos Nunes ainda aguarda o fax da Fiba

Há dois meses, assistindo a embate entre Flamengo e Mogi, numa de suas raras aparições públicas durante a temporada 2014-15, o treinador principal da CBB  julgou que havia “muita possibilidade” de que não iria para o Pan.  O torneio de basquete dos Jogos de Toronto vai ser disputado entre os dias 21 e 25 de julho. Já a Copa América vai ser realizada no México a partir de 31 de agosto. “As datas de preparação batem e não posso me descuidar. O foco está na classificação para os Jogos Olímpicos”, afirmou.

Caçulas da NBA estão fora
Outro conflito de agenda ligado à metrópole canadense resultou na exclusão de dois nomes da lista pan-americana: Bruno Caboclo e Lucas Bebê. No caso, a restrição é da parte do Raptors, a única franquia canadense da NBA, que solicita a presença do ala e do pivô no time que vai disputar a Liga de Verão de Las Vegas de 10 a 20 de julho. Os dois estavam nos planos para esse time mais jovem, mas nem foram convocados. Ao menos este foi um avanço, para se evitar o desgaste de uma convocação que certamente resultaria num pedido de dispensa.

“Quero agradecer ao Magnano por ter sido compreensivo e continuar acreditando em mim. É uma decisão difícil, deixar de disputar um campeonato como o Pan, especialmente na cidade em que eu moro atualmente, mas é um investimento que estou fazendo na minha carreira, preciso me dedicar ao Toronto nesse verão”, disse Bebê, em comunicado. “Ele entendeu meus motivos e agradeço. Deixei claro que pode contar comigo, mas que esse era um momento de mostrar meu basquete e buscar meu lugar no Raptors para a próxima temporada. Quero que o meu futuro seja na Seleção Brasileira, ter a minha história com a camisa do Brasil, e vou fazer o meu máximo para que isso aconteça”, completou Caboclo, no mesmo despacho.

Temporada teve mais atividades extraquadra do que em jogos oficiais

Temporada teve mais atividades extraquadra do que em jogos oficiais

Aqui vale uma observação: o Raptors investiu muito para contratar os brasileiros, e a liga de verão é encarada pela diretoria como um evento importantíssimo para o estabelecimento de ambos os jogadores, que tiveram pouquíssimo tempo de jogo em uma temporada cheia de percalços na liga americana. Ambos precisam mostrar serviço, ainda mais depois do frustrante desempenho que o time teve nos últimos meses, até ser varrido pelo Washington Wizards nos playoffs. Mais: se os dois mal jogaram durante o ano, não dá para dizer que mereciam um lugar automático na seleção. Devido ao potencial, poderiam ser chamados, mas o  justo era que lutassem por uma vaga durante o período de treinos.

Os caras do Pan
Até porque a lista divulgada sob a capitania por Magnano é forte, com alguns nomes jovens, mas já de boa rodagem internacional. O destaque da convocação fica por conta do pivô Augusto Lima, um dos atletas que mais se valorizou na temporada europeia, arrebentando pelo Murcia, da Liga ACB. Raulzinho, seu companheiro de clube, e Rafa Luz, também muito elogiado pelo campeonato que fez pelo Obradoiro, são os demais estrangeiros. De resto, nove caras do NBB, divididos entre os finalistas Bauru (três) e Flamengo (dois), além de Franca, Limeira, Mogi e Pinheiros, com um cada. São eles: Ricardo Fischer, Larry Taylor, Vitor Benite, Leo Meindl, Marcus Toledo, Olivinha, Rafael Mineiro, Rafael Hettsheimeir e Gerson do Espírito Santo.

Rafael, Augusto e Raul: boa temporada na Espanha e entrosamento

Rafael, Augusto e Raul: boa temporada na Espanha e entrosamento

Oito desses atletas disputaram o Sul-Americano de 2014, em Isla Margarita, na Venezuela: os três ‘espanhóis’, Benite, Meindl, Olivinha, Mineiro e Hettsheimeir – ficaram fora Gegê, Arthur, Jefferson William e Cristiano Felício. O que supõe uma continuidade de trabalho. Sob a orientação de José Neto, terminaram u com a medalha de bronze, derrotados pela Argentina na primeira fase e pelos anfitriões na semifinal. Foram partidas equilibradas e inconsistentes de um time com potencial para ser campeão. Fischer estava na lista preliminar, mas foi cortado por lesão. Gerson, uma das boas novidades do NBB, é estreante de tudo. Marcus retorna a uma lista oficial pela primeira vez desde a era Moncho, se não falha a memória. Embora, no meu entender, não tenha feito um grande NBB, Larry aparece como uma espécie de homem de confiança da seleção, tendo participado de todas as principais competições desde 2012.

É um grupo com muito talento, de qualquer forma, com jogadores versáteis e um bom equilíbrio entre velocidade, força física e capacidade atlética. “Formamos um grupo de trabalho que mescla jogadores experientes e jovens que vão atuar pela primeira vez na seleção adulta. O importante é que temos um bom tempo de preparação. Posso garantir que é uma equipe bastante sólida e alguns atletas poderão ser convocados para a Copa América”, disse Magnano, que começará a trabalhar com os atletas no dia 14 de junho, em São Paulo, tanto no Paulistano como no Sírio. Resta saber apenas se ele vai estar no Canadá, ou não. Era para ser uma reposta simples, mas, quando o assunto é a confederação nacional, isso tem se tornado cada vez mais raro.

Boi na linha
Se Magnano não compareceu ao fim de semana do Jogo das Estrelas do NBB, em Franca, em março, o presidente da CBB, Carlos Nunes, ao menos esteve por lá. Em entrevista à repórter Karla Torralba, o dirigente já havia descartado a presença do argentino no Pan. Bom, parece que ele se antecipou um tanto, né? Na ocasião, afirmara que um problema relacionado à mudança do treinador para o Rio de Janeiro seria uma barreira para tanto. Não fazia o menor sentido a declaração. Agora, como vemos, a questão era mais complicada. No mesmo texto, para constar, tivemos mais esta frase aqui: “Vamos ter todos os melhores jogadores. Ainda temos que conversar a liberação dos atletas da NBA, mas a intenção é mandar todos”. Também não foi bem isso o que aconteceu. Havia uma preocupação política: agradar ao COB, lutando por medalha no Pan, para fortalecer o currículo desportivo brasileiro às vésperas de uma Olimpíada em casa. Ainda não sabemos qual o nível das equipes que vai para o torneio. O Canadá promete ser forte – Andrew Wiggins e Kelly Olynyk já sinalizaram que vão participar. Os Estados Unidos, por outro lado, vão com um time alternativo. Mark Few, técnico de Gonzaga, deve mesclar universitários e profissionais, mas não gente da NBA. Talvez atletas da D-League ou do mercado europeu.


Sumido dos ginásios, de mudança, Magnano reaparece em entrevista. E aí?
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Giancarlo Giampietro

Magnano pode ir ao ginásio sem ter de dar treino

Magnano pode ir ao ginásio sem ter de dar treino

A LDB se encerrou nesta terça-feira, em Fortaleza, com o Basquete Cearense sendo campeão, e nada. Ainda pelo mesmo campeonato, foram realizados, na semana passada, dois quadrangulares em São Paulo, e ninguém viu também. Durante transmissões do NBB e da Liga das Américas, nenhuma câmera conseguiu registrar sua presença também.

Rubén Magnano, o treinador da seleção brasileira, está sumido dos ginásios e também andava desaparecido do noticiário. Ao menos agora reaparece para quebrar o silêncio em entrevista para o site da CBB, para explicar o que anda fazendo até chegar o momento de bolar duas convocações para uma Copa América/Pré-Olímpico e o Pan de Toronto.

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Segundo a assessoria da confederação, Magnano compareceu a alguns jogos em São Paulo, sim, no ano passado e tem acompanhado tudo de casa pela TV e também por um programa que lhe permite assistir a todas ligas – muito provavelmente o Synergy. “Felizmente hoje temos à disposição na internet praticamente todos os jogos da Liga de Desenvolvimento e da Liga Nacional. Temos na CBB um programa que nos permite estar muito perto dos nossos jogadores nas ligas pelo mundo”, disse o treinador.

OK, isso é ótimo. Mas, ao mesmo tempo, não passa de dever da profissão, né? E mais: acredito que 10 a cada 10 scouts/técnicos/dirigentes vão dizer que nada substitui a experiência de ver uma partida in loco. Daí o estranhamento por esse chá de sumiço. Até porque Magnano, sabemos, é um junkie de basquete. “Não sei qual o contrato dele com a CBB, mas acho que é um cara que acrescentaria um técnico desse nível assistir ao nosso All-Star Game. Valorizaria o evento”, disse Guerrinha, comandante do Bauru e ex-assistente da seleção, ao VinteUm.

Pedrocão, envelopado e lotado, nove anos depois do fundo do poço

Muita gente foi ao Pedrocão para ver o Jogo das Estrelas

Detalhe: ao site da CBB, Magnano afirma que vai viajar aos Estados Unidos em abril para falar com a legião nacional da NBA. Esse é um assunto interessante que vale uma abordagem mais detalhada mais adiante. Só fica o registro: a liga americana vai se encerrar em maio para a maioria dos brasileiros que lá estão. Vale a pena mesmo conversar eles de modo antecipado, sem saber o que vai acontecer adiante? Enfim, sigamos em frente. E por que a distinção? Por que a turma em atividade nos Estados Unidos (e Toronto) precisa de um bate-papo, e quem está no interior paulista ou Brasil afora não? Já se sabe absolutamente tudo sobre quem está em quadras nacionais? O que eles estejam sentindo não importa?

“Aqui está a maioria dos jogadores que vai trabalhar com ele, para trocar uma ideia”, afirma Guerrinha. “Também sinto falta dos assistentes dele. É muito importante essa troca. Pois também haveria o diálogo com os treinadores, para saber sobre o que está acontecendo, perguntar sobre o Ricardo, o que estou achando do Alex etc. Ninguém fala nada, ninguém conversa nada.”

Ex-treinador principal da seleção, hoje em Franca, Lula Ferreira foi um pouco mais diplomático quando questionado sobre o assunto: “Para poder emitir uma opinião, eu teria de saber o motivo de ele não ter vindo (ao Jogo das Estrelas). Claro que, analisando teoricamente, você espera que num evento desses ou em jogos do NBB, por ser uma pessoa de peso que pode ajudar no crescimento, como tem ajudado. Mas eu não posso julgar sem saber o motivo. Seria leviano da minha parte”.

O Rio de Janeiro acolhe Magnano

O Rio de Janeiro acolhe Magnano

Do seu lado, a CBB dá a entender que esse período de distanciamento em específico tem a ver com a mudança do argentino para o Rio de Janeiro. Em sua entrevista, o técnico afirma que estava em seu país natal até dias atrás. “Eu vim na semana passada da Argentina, cheguei em São Paulo, peguei o carro e vim para o Rio”, afirmou. Aliás, o presidente da CBB, Carlos Nunes, disse à colega Karla Torralba, aqui do UOL Esporte, que essa mesma mudança seria um entrave para a participação do treinador nos Jogos Pan-Americanos de Toronto. Em julho, no caso – meio longinho, não? Ao site da confederação, Magnano dá uma resposta mais plausível, claro. “Hoje, infelizmente, não tenho como falar onde vou estar, dizer o que vai acontecer com a comissão técnica. A possibilidade é grande de eu não ir ao Pan porque bate com as datas de treinos para o Pré-Olímpico. Mas não posso afirmar porque depois posso ter de desdizer. Essa situação de não ter resposta pode mudar muito nossa maneira de encarar cada torneio. Minha ideia é levar a melhor equipe em cada um. No momento que um torneio bate com a preparação de outro você precisa montar times diferente.”

Para quem não está por dentro, vale o esclarecimento: a CBB ainda nem sabe direito como planejar a vida de suas seleções masculinas para esta temporada, uma vez que a Fiba faz um interessantíssimo jogo duro com a confederação. E aí: vai ter vaga olímpica direta, ou não? A lógica diz que sim: se até a Grã-Bretanha ganhou, por que o Brasil, quinto em Londres 2012, não levaria? O problema, meus amigos, é que há claramente coisas pendentes no bastidor, ainda mais depois que o time de Magnano dependeu de um favor/convite/venda por parte da entidade internacional para evitar um vexame de apenas assistir ao Mundial da Espanha. Aí, sim, da TV, mesmo.

Essa pendenga, porém, não influencia, ou não deveria influenciar no afastamento de Magnano dos ginásios brasileiro. Nem mesmo a mudança, creio. Sabemos que essa história de empacotar as coisas torra a paciência, com todos os detalhes e os cuidados a serem tomados. A correria. Ainda mais quando você está saindo de uma cidade para a outra, e organizando as coisas de um país diferente. Porém, é de se perguntar o quanto demorou tal trâmite. Questão de meses?

Outro ponto que merece o debate: por mais que a confederação esteja sediada no Rio de Janeiro, não seria mais produtivo que o técnico permanecesse em São Paulo, cidade que tem três clubes do NBB e está muito mais próxima de outras tantas no interior do estado? “Quando vim para o Brasil decidi ficar em São Paulo porque era mais conveniente”, diz Magnano.

Agora, ao que parece, a conveniência mudou de lado. “Foi uma decisão (a de mudar-se pessoal combinada com a CBB, focada basicamente em nossas necessidades futuras. Hoje é necessário estar mais perto da CBB e do COB. Tenho um calendário de palestras com o COB muito interessante.”

Palestras com o COB? Epa. Não custa lembrar que é o comitê olímpico nacional que paga o salário do argentino. E não paga pouco. Quer dizer… Há uma gama de interesses aqui a serem atendidos. Como se fosse uma dívida, mesmo. Mas tudo bem: dependendo da agenda do argentino, sobra mais que o tempo necessário para acompanhar a temporada nacional, que já entrou em sua fase decisiva.

Na hora de falar está se passando em quadra, Magnano foi bastante genérico em suas respostas. Da turma da NBA: “Infelizmente o Anderson Varejão se machucou. Havia feito uma Copa do Mundo muito boa. Nenê está jogando em um nível bom. Tiago Splitter voltou bem. Leandrinho não começou bem, mas já melhorou muito”. Do que temos na Europa, registrou que “Augusto Lima está fazendo uma grande Liga ACB na Espanha eRaulzinho e Rafael Luz também” – Augusto já era um dos melhores pivôs da Espanha na temporada passada, diga-se. “E o Marcelinho Huertas é o armador do Barcelona. A equipe está com altos e baixos, mas ele continua sendo o armador de uma grande equipe”, completou, sem dizer que o brasileiro, no momento, perdeu o posto de titular para o jovem tcheco Tomas Satoransky.

Ao menos Magnano sabe que não é preciso um contato com Varejão, certo?

Ao menos Magnano sabe que não é preciso um contato com Varejão, lesionado, certo?

Sobre a garotada da LDB ou os mais jovens em geral, o argentino se entusiasmou mais um pouco em sua explanação:” Temos muitos jovens fazendo bons trabalhos. O Davi (Rossetto), do Basquete Cearense, é o garoto que mais evoluiu. É um exemplo para muitos jovens que, com trabalho, você consegue chegar ou ficar perto das suas metas. (Henrique), Coelho, do Minas. Gostei muito do que está fazendo nos últimos 50 dias o Cristiano Felício. Melhorou muito. Também tem o Lucas Mariano, Leo Meindl, Ricardo Fischer. O Sualison (Tavares, também do Basquete Cearense) também vem bem. E não podemos esquecer do Bruno Caboclo. Um jogador de futuro na Seleção. Pena que não está jogando tudo que eu gostaria por conta dos poucos minutos em quadra”.

Na hora de abordar os veteranos em atividade no NBB, foi mais evasivo. Disse que “Marquinhos está fazendo um trabalho interessante”. Até aí é o mesmo que dissermos que o Corinthians do Tite “tem defendido bem”. Qual a novidade? O mais preocupante, contudo, foi mencionar logo depois que “Marcelinho Machado “segue como um grande arremessador de três”. Sim, o cara é o bicampeão do torneio de chutes de longa distância, por sinal.

Mas… hã… Estaria o treinador pensando seriamente em mais uma convocação para o veterano ala, hoje reserva flamenguista? De novo: nada contra o camisa 4 num âmbito pessoal, mas levá-lo para mais um torneio não seria uma perda de tempo valioso no desenvolvimento de novas opções, dois anos depois de o veterano ter anunciado que se aposentaria da seleção (só para ser convencido a retornar na temporada passada, depois de ganhar o prêmio de MVP do Final Four da Liga das Américas)?

Para ser justo, Magnano talvez esteja apenas citando um fato corriqueiro para dizer que tem acompanhado as coisas. Ou pode dar a entender também de que as coisas não mudaram tanto assim de um ano para o outro. E, se for essa última alternativa, aí acho que temos um problema. Afinal, a tabela do NBB mostra algumas boas surpresas na parte de cima, assim como o Jogo das Estrelas também já ofereceu alguns nomes um pouco diferentes dos habituais. Nada disso valeria uma citação?

Coelho, mencionado por Magnano. Não poderia ver mais de perto?

Coelho, mencionado por Magnano. Não poderia vê-lo mais de perto?

De qualquer forma, há mais uma possibilidade que pode atenuar um eventual julgamento precipitado: o argentino obviamente não nasceu ontem e provavelmente não entregaria nenhuma bomba em uma entrevista ao veículo oficial da entidade, assim tão cedo, em março, para não interferir no desempenho de um alvo, digamos, alternativo. Aquela coisa de não mexer na cabeça de jogador e também para não alertar os adversários. Ainda mais se o Brasil tiver de jogar por uma vaga olímpica.

Felício, Fischer, Meindl e Mariano, convenhamos, não são mais segredo para ninguém, nem mesmo para o treinador que já os havia chamado para compor elenco de grupo em jornadas anteriores. Assim como Caboclo, já com seleo NBA. A menção a Coelho e a Davi, por outro lado, é algo que já anima um pouco mais. Não só pelo fato de o os armadores estarem fazendo uma ótima temporada, mas por serem caras que ainda não foram incluídos em nenhuma lista de seleção até aqui – se merecem, ou não, uma vaga, essa é outra discussão, que valeria outro texto, mais trocentas palavras. Os dois seriam de fato novidades e uma prova de que, mesmo distante, o argentino estaria antenado.

Precisa estar, mesmo: num piscar de olhos, a temporada dos clubes vai estar encerrada, e será o momento de anunciar as convocações. Fazer uma lista podendo chamar a cavalaria da NBA é algo relativamente fácil. Quando os caras não se apresentam, porém, pode dar num vexame como o da Copa América de 2013 – formando uma equipe sem equilíbrio nenhum e da qual, de modo absurdo, Magnano procurou se distanciar, lavando as mãos, acusando falta de talento.

Com seu currículo e salário elevado, esperava-se muito mais. Ao menos foi o que o VinteUm cobrou insistentemente na época, sem cair nessa de que só dá para montar uma boa seleção com Splitter & Cia. Isso tudo, claro, pode ser debatido tranquilamente. A ausência do argentino dos ginásios e principais eventos já é outra história. Com o Final Four da Liga das Américas programado para o fim de semana, se apresenta uma chance para retomar o contato com o basquete nacional. E olha que está fácil: os jogos serão disputados no Rio de Janeiro.


Exclusiva com JP Batista: na Euroliga, seguindo em frente
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Giancarlo Giampietro

JP Batista, agora em ação pelo campeão francês

JP Batista, agora em ação pelo campeão francês

Prestes a completar 33 anos, o pivô João Paulo Batista apenas segue em frente. Ao que parece, vai sempre pelas beiradas, mas construindo uma carreira única para os padrões brasileiros. Ele acabou de abrir sua nona temporada seguida na Europa, agora defendendo o Limoges, campeão francês, com direito a mais uma participação na Euroliga.

“Olha, é difícil de responder, pois fica um pouco fora do meu controle. Quem me conhece sabe de onde eu vim e o caminho que tive que percorrer pra chegar onde estou”, afirmou ao VinteUm, em generosa entrevista por email.

O pernambucano já está mais que acostumado a batalhar e ser, de certa forma, relevado. Acontece desde cedo, vindo de uma região que ainda está muito afastada dos principais centros de captação de talentos no país. Até chegou a jogar em São Paulo, por Paulistano e São José do Rio Preto, mas nada que prometesse muito. Resolveu, então, pegar as malas e embarcar em busca de um literal “sonho americano“.

É aquilo: você chega a uma cidade no interior dos Estados Unidos, sem saber exatamente o que te espera, sem falar inglês fluente – e “sem nada no bolso”, lembra –, apenas empenhado em fazer as coisas acontecerem. Que tal um junior college em Western Nebraska? Ou, quiçá, o Barton County Community College? Foi a rota que o pivô tomou, mesmo, até entrar no radar de times de ponta da NCAA. Entre um punhado de propostas, escolheu a de Gonzaga, na qual teria a companhia de um certo Adam Morrison – além do armador Jeremy Pargo, que a torcida do Flamengo conheceu tão bem neste mês e quem reencontrou recentemente:

Com seu cabelo desgrenhado, bigode ralo e meiões estendidos, Morrison havia virado uma coqueluche jogando pelos Bulldogs, com aparições regulares em ESPN, Sports Illustrated, New York Times e afins. Em 2006, a equipe estava debaixo do holofote nacional, mas não quer dizer que JP estivesse dominando o noticiário. De qualquer maneira,  era uma das peças mais importantes do time e ao menos ganhou a atenção de quem mais valia. “Ele é o nosso herói anônimo”, afirmou, na época, o técnico Mark Few, sobre o atleta de médias de 19,3 pontos e 9,4 rebotes. “Ele segue entregando, entregando e entregando todas as noites para nós.”

Em Gonzaga, luzes, ainda que para outro, e o serviço sujo bem feito

Em Gonzaga, luzes, ainda que para outro, e o serviço sujo bem feito

Gonzaga acabou caindo precocemente naquele torneio, perdendo na terceira rodada para uma UCLA de eventuais cinco jogadores de NBA (Arron Afflalo, Jordan Farmar, Luc Richard Mbah a Moute, Darren Collison e Ryan Hollins). Com o pessoal de sua turma, está sempre em contato. “Todas as férias vou para lá treinar”, afirma. Neste ano, encontrou Morrison, que está concluindo seus estudos e estudando a possibilidade de virar técnico.

No Draft de 2006, João Paulo passou batido. Disputou uma liga de verão pelo Minnesota Timberwolves, mas foi se profissionalizar, mesmo, apenas na Europa, pelo Lietuvos Rytas, da Lituânia. Está na Europa desde então, numa carreira bastante sólida – e incomum para brasileiros, ainda que poucos deem bola. Já são oito anos por lá.

Sobre a seleção? Neste longo intervalo, foi chamado por Lula Ferreira em 2007, sendo campeão pan-americano. Participou também do fatídico Pré-Olímpico de Las Vegas 2007, assim como da campanha do Pré-Olímpico mundial em 2008, já com Moncho Monsalve, num elenco dizimado por desfalques. Seguiu no time para ser campeão da Copa América de 2009. Na gestão de Rubén Magnano, porém, só foi lembrado em duas ocasiões e sempre de última hora, em situações emergenciais. Em 2010, foi o substituto de Nenê, cortado por lesão. Em 2013, para mais uma Copa América, teve de interromper suas férias no Recife para novamente socorrer o argentino. O time foi um desastre, mas, nos poucos minutos que teve, o massa-bruta rendeu.

Mas precisamos entender: aos 32 anos, JP continua bastante produtivo em quadra, mesmo sem nunca ter sido um dos pivôs mais atléticos – pelo contrário. Forte toda a vida, joga com os pés no chão, um jogo terreno, de feijão com arroz, que dificilmente vai gerar lances de arromba, que virem sucesso no YouTube. E não tem problema: o basquete não seria feito só de acrobatas ou velocistas. Não se trata de um jogador perfeito, claro. Sua movimentação limitada pode ser explorada na defesa. Com pouca envergadura, também não é o protetor do aro mais temido. Por outro lado, com discrição, inteligência e seriedade, porém, começa sua terceira campanha de Euroliga, pelo Limoges, após jogar seis temporadas pelo Le Mans.

Dois pontos de João Paulo pelo campeão francês Limoges

Dois pontos de João Paulo pelo campeão francês Limoges

Na entrevista abaixo, ele nos conta sobre sua experiência no basquete francês, mas não se sente tão confortável em falar sobre a baixa popularidade em sua terra, para a qual pensa em voltar o quanto antes. Aliás,  o pivô revela ter entrado em negociações sérias com o Flamengo neste ano e que estava preparado para fechar um contrato, só para ver o negócio desfeito na última hora. Assinou, então, por mais duas temporadas com Limoges. Confira:

21: Depois de seis anos no mesmo clube, você chega ao Limoges, atual campeão francês. Como tem sido sua adaptação? Há muita diferença no estilo de jogo de um time para o outro?
JP: Minha adaptação tem sido muito boa. Sou um jogador de mente aberta e com facilidades de me adaptar rapidamente. O sistema do meu novo treinador é muito parecido com o que eu joguei os últimos seis anos, facilitando ainda mais.

Qual a sua expectativa para a Euroliga deste ano? A meta é chegar ao Top 16? Dá para sonhar mais alto? O clube chega para brigar nas duas frentes: continente e defesa do título nacional?
Acho que Maccabi é CSKA são os gigantes no nosso grupo. Muito superiores devido ao seu maior orçamento etc. Estamos com um time muito interessante neste ano e podemos surpreender. Não tem muita gente acreditando em nossa equipe, mas temos confiança e vamos brigar por uma vaga no Top 16, que é o nosso objetivo na Euroliga. Sem dúvida temos um time forte e vamos brigar pelo título francês.

A posição de pivô é a mais concorrida do basquete brasileiro há muito tempo. São vários grandalhões na NBA, outros jovens que surgiram nos últimos, e tudo o mais. Você acha que, nesse contexto, acabou ficando um pouco esquecido ou subestimado em seu país, embora tenha uma carreira bastante sólida na Europa?
Olha, é difícil de responder, pois fica um pouco fora do meu controle. Quem me conhece sabe de onde eu vim e o caminho que tive que percorrer pra chegar onde estou. Devido à pouca popularidade do basquete no Brasil acho que a mídia sempre deu muito foco a NBA, Euroliga e ACB e pouco ao resto.

No ano passado, JP e a seleção não renderam em fiasco na Copa América

No ano passado, JP foi chamado de última hora para a Copa América

Saindo de Olinda, longe dos grandes centros de basquete do Brasil… Depois fazendo sua trilha nos Junior Colleges até chegar a Gonzaga… Pelos Bulldogs, era um dos coadjuvantes do Adam Morrison… E agora vai tocando sua carreira na Europa, na França, indo sempre pelas beiradas, seguindo em frente. Essa, digamos, discrição seria algo que te ajudou?
Sem dúvida. Acho que passei um pouco despercebido pelo Brasil, quando joguei pelo Paulistano e São José do Rio Pardo. Agarrei com unhas e dentes quando a oportunidade de ir pros EUA apareceu, e hoje agradeço a Deus todos os dias por estar vivendo o que sempre sonhei quando criança.

Você ainda mantém contato com seus companheiros de Gonzaga? Quando falou pela última vez com o Morrison?
Sim, mantenho um pouco de contato com a maioria. Todas as férias eu volto para lá para treinar. Vi Morrison em julho, quando estive pela universidade. Ele está terminado seus estudos e fazendo parte da comissão do time masculino de Gonzaga como voluntário, para ganhar experiência.

Daqueles tempos do basquete universitário americano, qual a lembrança mais forte que tem? O jogo em que foram eliminados no Torneio Nacional? Ou  as coisas mais corriqueiras, dos tempos de estudante, como o esforço de chegar aos EUA sem saber direito o que seria de sua vida por lá?
Sem dúvida a eliminação do torneio da NCAA doeu um pouco. Mas foram muitos obstáculos no caminho, ainda mais por ir para os Estados Unidos sozinho, sem saber o que esperar, sem nada no bolso. Tinha somente a fé e a determinação de vencer como pessoa e como atleta, e isso vai sempre marcar mais.

Você começou sua carreira profissional pelo Lietuvos Rytas, num verdadeiro “país do basquete”. Como foi sua experiência num país desses?
Na Lituânia realmente foi uma experiência única. É um lugar onde o povo respira basquete. É como o futebol no Brasil. Sem palavras.

JP quase fechou com o Flamengo. Mas joga de alviverde, mesmo, este ano

JP quase fechou com o Flamengo. Mas joga de alviverde, mesmo, este ano

Sabemos que, embora o orçamento dos clubes não esteja entre os maiores da Europa, a liga é muito bem organizada do ponto de vista financeiro. O que mais você pode nos contar nesse sentido, em relação ao que se faz no restante da Europa? Já teve problemas com salários atrasados, por exemplo? Que tipo de lição a Liga Nacional Brasileira poderia tirar daí?
Uma das razões pelas quais estou aqui por tanto tempo é devido a essa estabilidade da liga e do país. Nunca recebi um salário atrasado aqui na França. O basquete aqui é muito bem divulgado, e a cobertura pela TV, muito boa e organizada. Os ginásios estão muito bem estruturados e limpos. E o campeonato tem cinco divisões. Acho que o basquete tem evoluído muito no Brasil, mas, num país dominado pelo futebol, a exposição é muito pouca. Futebol é muito popular aqui, mas, mesmo assim, tem transmissão de jogos de basquete quase todos os dias na TV.

Em termos de resultado de seleção, o basquete francês talvez viva seu melhor momento na história. Qual o impacto das recentes conquistas para a liga francesa, em termos de investimento e público?
O basquete sempre foi um esporte de boa popularidade aqui na França. Estes últimos resultados só têm ajudado ainda mais a valorizar o investimento que sempre foi feito, com mais eventos envolvendo torcedores etc. As grandes empresas estão investindo sem medo, e a criançada, se interessando cada vez mais.

Os times franceses estão constantemente revelando talentos, em geral muito atléticos. Tanto que o país é aquele que tem hoje o maior número de estrangeiros na NBA. Como acontece essa integração dos garotos da base? Existe alguma obrigação nesse sentido, ou é algo que acontece mais devido a circunstâncias de mercado?
O campeonato juvenil acontece paralelamente ao adulto. E todos os times da primeira divisão fazem um trabalho de base espetacular. Todas equipes fornecem alojamento, educação e alimentação a todos jogadores do cadete e juvenil. E aí os jogadores de talento do juvenil são integrados à equipe profissional para treino e jogo. Geralmente uns dois ou três. A maioria acaba sendo revelada desta forma.

Para fechar: seu contrato com o Limoges é de dois anos, né? O segundo ano é totalmente garantido? Você tem algum tipo de plano para quando o vínculo se encerrar? Pensa em jogar o NBB?
Sim, assinei um contrato garantido de dois anos. Quero muito voltar ao Brasil. Fui sondado pelo Flamengo em junho quando meu contrato em Le Mans terminou. Infelizmente não conseguimos entrar em acordo e ao mesmo tempo tinha a proposta do Limoges com um prazo para dar uma resposta. Confesso que estava pronto pra fechar com o Flamengo, mas infelizmente não deu certo.


Depois da eliminação, as pérolas de Carlos Nunes
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Giancarlo Giampietro

"Aqui não é futebol", afirma Carlos Nunes. E...?

“Aqui não é futebol”, afirma Carlos Nunes. E…?

Carlos Nunes ataca novamente! Numa rara aparição pública, o presidente da CBB topou falar ao GloboEsporte.com depois da eliminação da seleção brasileira na Copa do Mundo. Suas respostas, para manter a coerência, beiram ou atravessam a linha do trágica. Um ou outra resposta você entende de onde saem: Nunes é um político e vai falar como tal, na pior acepção da palavra. Vai distorcer fatos, ignorar os percalços gerais de sua administração e encher a boca para garantir uma série de coisas que estão fora de sua alçada. A não ser que ele resolva endividar ainda mais a confederação, pegar empréstimos, passar o chapéu em Brasília de novo e de novo para assinar cheques de um milhão de euros para fazer valer qualquer discurso. Aí, meus amigos, até eu. Então, sem mais delongas, aqui estão as declarações para o repórter Fábio Leme seguidas de comentários:

País-sede vai ter de disputar vaga olímpica?
“Estamos absolutamente tranquilos. O Brasil, como país-sede das Olimpíadas, não vai ter basquete? Isso não existe. Evidente que há uma especulação, pois o regulamento é omisso nesse assunto, mas não tenho dúvida. Veja só nas Olimpíadas de Londres quem participou? Não foi a Inglaterra, foi a Grã-Bretanha, e o time deles não chega nem aos pés do nosso, com o perdão da expressão.”
>> Comentário: e quanto foi Brasil x Grã-Bretanha nas últimas Olimpíadas? Só 67 a 62? Ah, tá… Agora, sim, todos sabemos que o Brasil tem mais tradição que os britânicos nessa brincadeira toda, tem mais jogadores disponíveis, mercado etc. Só não dá para alguém intelectualmente honesto se referir ao atual basquete brasileiro com essa soberba toda. Simplesmente não dá: pelo que a CBB faz, não cabe expressão espirituosa nenhuma. Além do mais, não sei se o presidente sabe, a Inglaterra não disputa os Jogos Olímpicos, mesmo. Nem no futebol, em que os inventores do esporte dividiram time com galeses e vizinhos.

Com Marcelinho, Giovannoni, Benite, Murilo e jovens atletas, o Brasil caiu na 1ª fase do Pan de 2011, perdendo inclusive para uma seleção norte-americana composta por veteranos da D-League

Com Marcelinho, Giovannoni, Benite, Murilo e jovens atletas, o Brasil caiu na 1ª fase do Pan de 2011, perdendo inclusive para uma seleção norte-americana composta por veteranos da D-League

Calendário 2015: Pan + Copa América
“Eu acho que temos equipe para cumprir os dois eventos. Não vamos com a equipe A nos dois, vamos fazer uma mescla. Estamos avaliando qual a nossa prioridade agora, mas, a princípio, é o Pan-Americano, porque a vaga olímpica nós temos, apesar de a Fiba nunca ter dado essa segurança. No Pan, nós não vamos com os jogadores da NBA, mas vamos com uma equipe forte, com o objetivo de ganhar medalha. Acho que não teremos problemas para ter os atletas que atuam no basquete europeu. Isso tudo vai ser discutido pelo departamento técnico, eu estou dando as informações de algo que discutimos mais ou menos. No Pré-Olímpico, nós vamos com os da NBA.”
>> Discutir “mais ou menos” não é a cara da CBB? Mas tudo bem, né? Está cedo para fazer plano para o ano que vem. Acabamos de jogar um Mundial, gente. Vamos deixar de chatice. Deixa primeiro aproveitar o resto da estadia em Madri. O futuro fica para amanhã. De longo prazo, só vive gente séria. Além do mais, obviamente que o Brasil tem dois times fortes para disputar medalhas o tempo todo. Como a Copa América do ano passado comprovou, com as derrotas para Jamaica e Uruguai. Da mesma forma em que ocorreu no Pan de Guadalajara 2011, em que ficou fora das semifinais. O fato até agora é um só: quando Rubén Magnano não teve nenhum representante da NBA em seu time, se lascou.

E tem mais: Carlos Nunes por acaso sabe quem são os atletas brasileiros hoje na Europa? Vamos contar: Huertas, Rafael Luz, Raulzinho, Augusto, JP Batista, Tavernari e quem mais? De repente ele esteja se referindo aos meninos de 1996 (Daniel Bordignon, do Baskonia) ou mesmo de 1998 (Felipe dos Anjos, o espigão do Real Madrid, ou Gabriel Galvanini, do Fuenlabrada)? Pode ser.

Lembrando que a seleção brasileira de base europeia, junto com os veteranos de sempre do NBB, foi a que naufragou na Copa América. Em 2011, no Pré-Olímpico em que o Brasil derrotou a Argentina, sabe quantos de NBA estavam lá? Só Splitter. Então como ele pode garantir que todos estarão no ano que vem? Isso representaria três anos seguidos de convocação desses caras, que já não são os mais jovens do mercado. Como eles chegarão ao Rio 2016? Enfim, há muito o que ser discutido, especulado. Mas depois a gente fala mais a respeito.

Quando o dever com o COB te chama
“Quanto ao Pan-Americano, nós também queremos medalha, até porque o COB está nos dando um apoio muito grande. Então, nós temos que honrar esse apoio conseguindo uma medalha no Pan.”
>> O repórter traz uma informação que desconhecia (se estava amplamente divulgado, podem me espezinhar): a de que o Comitê Olímpico Brasileiro está bancando o salário da comissão técnica da seleção. Ajuda providencial, depois dos R$ 3 milhões que gastamos apenas para entrar no Mundial a “convite” – sem contar a grana torrada com a delegação de 2013, no fiasco que foi a campanha na Venezuela. Aí a CBB se vê de mãos atadas: se a Fiba por um acaso optar por ferrar o basquete brasileiro e deixar o país-sede sem vaga olímpica definida, como faz? Vai jogar com dois times “fortes” no Pan e Pré-Olímpico? Em tempo: sinceramente, acho possível ter duas equipes competitivas, mesmo só com atletas do NBB. Desde quem bem preparados. Infelizmente não aconteceu nas últimas oportunidades, com críticas cabíveis ao trabalho do argentino, que simplesmente lavou as mãos e afirmou que, sem os melhores, não havia o que se fazer.

Magnano, tem salário pago pelo COB. Aqui, o Pan de 2011 novamente. Crédito: Vipcomm

Magnano, tem salário pago pelo COB. Aqui, o Pan de 2011 novamente. Crédito: Vipcomm

A derrota para a Sérvia e a Copa em geral
“Nós não precisávamos de um resultado acachapante como foi, no caso mais de 30 pontos, mas, no total da campanha, foi ótimo. Quebramos um tabu, recuperamos a hegemonia sul-americana diante de nosso mais assíduo inimigo, comprovamos ter um time forte e ganhamos do campeão europeu. O Brasil mostrou que tem condições. Nosso planejamento está correto, estamos vendo 2016 e seria importantíssimo chegar ao pódio. Nossos atletas demonstraram que têm amor pelo Brasil, pois vieram todos. Da outra vez, não vieram por problemas de saúde ou porque os clubes não liberaram, como foi na Venezuela.”
>> Amor pelo Brasil. Carlos Nunes tem? E ele conversou sobre esse amor com Rubén Magnano quando o argentino saiu disparando para todos os lados, no ano passado? Entendo que o argentino tinha alvos específicos, que deve ter revelado em conversas posteriores aos veteranos, mas vocês se lembram do fuzuê que foi, não? Com Oscar e outros detonando o time, o discurso do treinador serviu como gasolina. As coisas foram contornadas, ainda bem, mas o ponto aqui é: a CBB falha, e muito, em sua comunicação corporativa.

Faverani, 26 anos, um novo talento que acaba de despontar para os olhares de Nunes

Faverani, 26 anos, um novo talento que acaba de despontar para os olhares de Nunes

Rio 2016: pódio?
“A pressão vai ter, sempre vai. Mas a equipe está madura, acho que a pressão não vai influenciar. Nós vamos chegar fortes, aliás, temos de chegar fortes. No nosso país, as Olimpíadas nos exigem uma medalha. Aqui, nosso time deu o recado e essa derrota em nada vai nos abalar. Sempre costumo dizer que aqui não é futebol. Temos um planejamento com o Rubén (Magnano) até 2017 e ele só não vai cumprir se não quiser. Se depender de nós, ele está confirmadíssimo.”
>> De novo o descuido com as palavras: “exige”. A seleção brasileira não tem condição de falar nesses termos. No Mundial, o time estava mais uma vez completo e não conseguiu se posicionar para disputar medalhas, caindo novamente nas quartas. Poderiam ter avançado? Claro que sim. Mas é tudo muito equilibrado e, por consequência, incerto, que não dá para falar em garantias ou exigências. De modo que o basquete em diversos sentidos “é futebol”, sim, com uma penca de times competitivos que sonham com um pódio olímpico. Sobre a CBB ter planejamento e tal, melhor nem comentar. Tou limpando as lágrimas aqui.

Renovação na seleção?
“Essa avaliação quem vai fazer é o Rubén, mas eu entendo que a maioria tem condições de chegar em 2016. Também existem novos valores despontando como o Bebê, o Caboclo e o Faverani, que não pôde vir porque estava machucado. Nós vamos ter uma equipe forte e preparada.”
>> Faverani é um novo valor, que está despontando. Ele, que vai fazer 28 anos em 2016.

 Eu não recebi a informação de que estaríamos garantidos desde que jogássemos com um time forte no Pré-Olímpico mas, se isso for o que a Fiba decidir, nós vamos cumprir


Argentina acelerou mais que o Brasil na 1ª fase. E neste domingo?
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Giancarlo Giampietro

Alex é um dos veteranos do Mundial. Mas ainda acelera como poucos

Alex é um dos veteranos do Mundial. Mas ainda acelera como poucos

Na onda de medição de estatísticas ditas avançadas do basquete, uma das mais interessantes á de “pace”. Ao pé da letra, mesmo: ritmo. O ritmo de jogo de cada time, o número de posses de bola que cada equipe usa durante os 40 minutos.

Em sua prévia sobre os confrontos de oitavas de final da Copa do Mundo, o jornalista John Schuhmann, do NBA.com, apresentou o ritmo de ataque de cada uma das 16 seleções que seguem na disputa pelo título. Para minha surpresa, a Argentina teve uma proposta mais acelerada do que o Brasil na primeira fase.

Justo a Argentina que, em sua rotação, tem um dos conjuntos mais lentos de todos os 24 elencos inscritos. Nos cálculos do analista, nossos vizinhos usaram 74 posses de bola em média nas cinco primeiras partidas, contra 72,6 da seleção brasileira. Pode não parecer muito numa primeira piscadela, mas é o suficiente para separar cinco equipes (é a diferença entre o 11º colocado e o 16º).

Para comparar, a Espanha tem 75,8 (em quinto), enquanto os Estados Unidos deixam todos os concorrentes comendo poeira, com 85,8 (em primeiro). Run, baby, run! Tendo em vista o ritmo empregado pelo Team USA, os dois rivais sul-americanos parecem tartarugas. O que não chega a ser uma surpresa, do ponto de vista deles. Agora, ver o Brasil abaixo da Argentina nesta relação só comprova a grande influência de Rubén Magnano sob seus comandados.

Quem se lembra do tempo em que esta geração brasileira, mesmo, era julgada por suas precipitações com a bola e os ataques tresloucados? Essas assertivas ficaram no passado já. Todavia, diante dessa 16ª posição brasileira no ranking – ainda mais com fracos adversários como Egito e Irã, com uma transição defensiva esburacada pesando positivamente na conta –, será que não é o caso de pensar se o time não poderia arrancar um pouco mais?

Huertas, em contragolpe, pode ser classificado na categoria de "mago"

Huertas, em contragolpe, pode ser classificado na categoria de “mago”

(E, tá certo, aqui abro espaço para todo os que queiram reclamar: “Caceta, mas não está bom nunca?! Vai ser do contra assim lá em Buenos Aires, meu irmão!” )

(…)

(Agora voltamos.)

Acho que a pergunta é justa se formos considerar as características dos atletas brasileiros convocados – ou do basquete brasileiro em geral. Mesmo que seja o time mais veterano do torneio, a característica geral do plantel é de velocidade, mesmo entre os grandalhões. Varejão, Nenê e Splitter são muito mais rápidos que a média de gente de seu tamanho. Inteligentes, ágeis, experientes, também rendem bem em situações de meia-quadra por seus respectivos clubes, mas, em quadra aberta, acho são bem produtivos, sim.

Leandrinho Barbosa, o Vulto Brasileiro, representa um contragolpe de um jogador só – Marquinhos, com suas passadas largas, também é difícil de ser pego. Huertas dificilmente corre com o brasileiro, mas, quando recebe sinal verde, encanta com seu controle de bola em disparada. Raulzinho e Larry também têm boa “largada”, assim como o incansável Alex. Enfim, já passamos aqui por grande parte da seleção. Deste grupo, diria que apenas Rafael Hettsheimeir não se beneficia diretamente de uma proposta de jogo mais arrojada.

Magnano obviamente pode apresentar os resultados da primeira fase para dizer que a cadência recomendada é a correta – o time foi o segundo que menos cometeu desperdícios de bola, por exemplo, com 11,4 por jogo (contra 14,7 dos norte-americanos). De fato, com essa abordagem, foram quatro vitórias e uma derrota pelo Grupo A.

Agora, qual foi justamente o melhor momento de sua equipe no Grupo A? Acho que não há dúvidas de que tenha sido o primeiro quarto contra os sérvios, não? Justamente um dos períodos em que a equipe mais golpeou em velocidade, para alcançar os seguintes números: 5 assistências para 9 cestas de quadra, 9/14 nos arremessos (64%). Uma execução de primeira.

As dificuldades do ataque brasileiro em situações de meia quadra já estão bem documentadas. Contra um garrafão poderoso como o da Espanha ou uma defesa extremamente atlética como a da França, o aproveitamento dos arremessos de quadra despencou. Diante dos franceses, talvez o convite para a corrida não fosse uma boa ideia. Agora, contra os irmãos Gasol? Ainda que eles estejam assessorados por quatro armadores de alto nível, é muito melhor do que desafiá-los no mano-a-mano na zona pintada.

A Argentina não tem, claro, nenhum Gasol ao seu lado. Por mais que Luis Scola seja um dos melhores pivôs do mundo Fiba, seu impacto num jogo está praticamente direcionado todo para o ataque. O craque é muito mais vulnerável na defesa, podendo ser atacado com frequência. Desde que com bom movimento de bola. Do contrário, seu time tende a fazer boas rotações defensivas, com dobras vindo de ambos os lados, variadas, para atrapalhar os pivôs brasileiros.

Se o Brasil tentar acelerar, no entanto, há pouca gente do outro lado que consiga se manter no páreo. Facundo Campazzo, Nicolás Laprovíttola? Sim, tranquilamente. Pablo Prigioni? Talvez. Agora, por mais que deem um duro danado em quadra, Andrés Nocioni, Marcos Mata, Walter Herrmann e Léo Gutiérrez teriam muita dificuldade. Para não falar de Scola.

Influente Magnano se vê novamente na posição de enfrentar seus compatriotas

Influente Magnano se vê novamente na posição de enfrentar seus compatriotas

Não que Magnano deva jogar todo o seu planejamento para o alto, orientando que seus atletas virem todos aríetes em quadra. Aliás, correr não significa precipitar. Não são sinônimos, se e a movimentação dos jogadores estiver bem esboçada. Num basquete cada vez mais competitivo, estudado e de atletas imensos, uma definição rápida tende a ser jogada mais eficiente, propensa a menos erros.

É de se esperar que, durante a fase de preparação, o argentino também tenha coordenado muitas ações de transição mais oportunistas, de acordo com as situações apresentadas numa partida. Talvez seja a hora empregá-las um pouco mais neste confronto específico?

Historicamente, o Brasil é o que acelera, e a Argentina, administra. Se os papéis não estão exatamente invertidos neste Mundial, percebe-se uma alteração significativa em suas dinâmicas. Se esse padrão do Mundial for mantido no jogo deste domingo, temos aí mais um componente tático bastante interessante no tabuleiro de Magnano e Lamas, que vai além do emocional.


Como não? Brasil reencontra Argentina; veja o retrospecto
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Giancarlo Giampietro

Flamenguista Laprovíttola e a duplinha Scola e Prigioni. De novo

Flamenguista Laprovíttola e a duplinha Scola e Prigioni. De novo

Sí, sí. É isso, mesmo. Deu Brasil x Argentina novamente.

Para que o clássico sul-americano se repetisse logo de cara nos mata-matas da Copa do Mundo de basquete, era necessária pelo menos uma combinação de três resultados no Grupo B: que as Filipinas lavassem a alma com pelo menos uma vitória sobre a outra zebra do torneio, Senegal; que a Croácia afastasse os rumores sobre autocombustão (mais uma!?) e vencesse Porto Rico; e que a Grécia provasse sua consistência redescoberta para derrotar nossos vizinhos do Sul, para que  eles terminassem em terceiro. Check, check, check. Confere, e cá estamos em mais um jogo decisivo entre os dois rivais.

Em competições intercontinentais, o confronto acontece pelo terceiro evento consecutivo. Sem brincadeira: rolou no Mundial passado, em 2010, e também nas Olimpíadas de Londres 2012. Vocês me deem licença, então, para resgatar e editar um texto de dois anos atrás, recuperando o retrospecto – já nem mais tão recente assim – entre as duas gerações que vão se reencontrar no domingo (17h, horário de Brasília). Uma experiência dolorosa para muita gente, eu sei. Mas esse histórico, que vem de 2002 para cá, é um componente emocional inegável, que tem de ser enfrentado nas próximas 40 e poucas horas.

Desde o torneio de Indianápolis, 12 anos atrás, muitas figuras fundamentais se despediram das quadras. Deu tempo de Marcelinho Machado, por exemplo, anunciar em duas ocasiões que não jogaria mais pela seleção brasileira, para reconsiderar prontamente. Do outro lado, Walter Herrmann também alternou bastante: foi, voltou, foi, voltou. De constantes, mesmo, temos Luis Scola e seu vasto arsenal ofensivo, que continua superprodutivo e eficiente (21,6 pontos por jogo no atual campeonato, mais 8,8 rebotes, 2,2 assistências e 52% nos arremessos).

Splitter, Leandrinho, Huertas e muito mais: Brasil dessa vez é quem tem força máxima

Splitter, Leandrinho, Huertas e muito mais: Brasil dessa vez é quem tem força máxima

A diferença é que dessa vez são os argentinos que entram com desfalques. Manu Ginóbili e Carlos Delfino fazem uma falta danada no perímetro: não só como pontuadores, mas também como criadores e defensores. Já o Brasil surge com força máxima. A primeira vez em muito, muito tempo, com todos os seus atletas apresentados, fisicamente bem (ao menos segundo as aparências e os relatos oficiais). Esse é um fator que deve passar obrigatoriamente mais confiança para os rapazes de Rubén Magnano – algo que compense de alguma forma o desequilíbrio emocional gerado por tantas derrotas no decorrer da última década (pensando apenas em grandes competições, ok? Sul-Americano, isto é, excluído). Vamos lá, passo a passo:

Varejão x Oberto

O jovem Anderson Varejão disputa rebote com Fabricio Oberto – Rogério Klafke também estava lá

– Os argentinos conseguiram sua primeira grande vitória em clássico pelo Mundial de 2002, em Indianápolis, onde seriam vice-campeões. A seleção ainda era treinada por Hélio Rubens, havia dois irmãos Varejão no garrafão, Tiago Splitter estreava com 17 anos, Nenê já estava fora (havia acabado de ser draftado pelo Nuggets), e a armação era dividida por Helinho e Demétrius, hoje assistente de Rubén Magnano. Que, na época, trabalhava para seu país natal. O primeiro tempo terminou empatado em 29, mas os caras abriram boa vantagem no terceiro quarto e triunfaram por 78 a 67.

– Eles repetiram a dose no Pré-Olímpico de 2003. Um ano depois, se consagrariam como campeões olímpicos em Atenas. Em San Juan, Porto Rico, ajudaram a empurrar ladeira abaixo a seleção braileira, agora com Lula Ferreira no comando e bastante renovada. Os ainda garotos brasileiros sofreriam mais três reveses – até para o México de Nájera! – e seriam eliminados. Aquele foi um jogo feio, arrastado e equilibrado do início ao fim, com 35 (!!!) desperdícios de posse de bola.

– Avançamos no tempo consideravelmente agora, ignorando a esvaziada Copa América de 2005, e chegamos a Las Vegas, 2007. Só jogatina e ressaca: o Brasil sem Anderson Varejão, mas com Splitter já bem crescido na Europa e Nenê retornando após quatro anos, e a Argentina sem: 1) Ginóbili, 2) Nocioni, 3) Oberto e 4) Herrmann. Foram duas derrotas para os campeões olímpicos: uma pela segunda fase e a outra, valendo vaga nos Jogos de Pequim, pelas semifinais. Este blogueiro aqui estava lá, ganhou muitos pontos na escala de animosidade com boa parte do atual grupo, em uma cobertura de ambiente tumultuado, extremamente tenso. Luis Scola jogou uma barbaridade, Delfino acertava tudo de fora, Kammerichs tinha o bigodão mais legal do basquete, e foram duas pauladas bem doloridas que custaram a demissão de Lula. What happens in Vegas, stays in Vegas, baby!

Marcelinho x Delfino

Em Las Vegas-2007, Marcelinho viu a Argentina de Delfino vencer mais uma vez

– Agora estamos em 2009, com o tiozão Moncho Monsalve no comando, bem piradão, e voltamos a San Juan, pela Copa América, para enfim derrotar uma Argentina que tenha escalado o tal do Scola. Foi pela primeira fase, não tinha vaga em jogo, nem nada. Das principais peças, eles tinham apenas o ala-pivô número 4 e Prigioni, enquanto o Brasil jogou com Varejão, Splitter, Huertas, Leandrinho, Alex e, sim, Duda. Injusto? O trauma era tão grande, que não importava.

– Em 2010, Mundial de Istambul, ainda ouvindo instruções em espanhol, mas com um sotaque argentino: Magnano foi contratado para o lugar de Moncho. A seleção apresenta uma defesa combativa de um modo nunca visto nesta geração, quase derrota os Estados Unidos, mas é eliminada pelos caras nas oitavas de final. Foram 37 pontos de Scola, santamãe, com um quarto período, infelizmente, inesquecível. Para completar, Delfino e Jasen (lembra dele!?) mataram juntos 21 pontos de longa distância. Nocaute.

– Que tal lavar, um pouco, da alma, então, derrotando os arquirrivais logo na casa deles, em Mar del Plata-2011? Foi o que fez a seleção de um Marcelinho Huertas dominante na armação e de um Hettsheimeir surpreendente, não importando que os grandes ícones da Geração Dourada estivessem reunidos por ali. Foi um triunfo que encaminhou a equipe nacional para a primeira vaga olímpica desde Atlanta-1996. Já classificados, os dois times se enfrentaram, então, na final: de moicano, e ressaca das brabas, a trupe tupiniquim perdeu por cinco pontos.

– Em Londres 2012, depois de a Espanha supostamente manipular a tabela, o Brasil terminou em segundo em seu Grupo A. E quem estava em terceiro no B? Sim, a Argentina, numa repetição do atual cenário. As duas equipes contavam com seus grandes nomes, e isso pesou a favor do time que já tinha duas medalhas olímpicas (o ouro de Atenas e um Bronze em Pequim). Os argentinos abriram vantagem de até 15 pontos, viram os brasileiros reagirem, mas ganharam no final. Um drama particular daquele jogo? Os lances livres…

Passando por tantas derrotas assim, não dá para dizer, mais uma vez, que o jogo deste domingo sirva de tira-teima, né? Apenas valeria se nos limitássemos aos confrontos deste ano, em que já se enfrentaram em dois amistosos, com uma vitória para cada lado, cada um vencendo em casa. Mas eram apenas amistosos, bem no início da fase de preparação. No primeiro, no Rio, o Brasil venceu bem, explorando seus pivôs, mas Luis Scola não estava do outro lado. No segundo, em Buenos Aires, um bombardeio de três pontos desarmou a defesa de Magnano. Dois jogos que provavelmente não dizem nada.

Agora, com tanta história envolvendo os rivais, é impossível relevar o retrospecto geral. Os brasileiros vão precisar de toda a maturidade que puderem acessar para encarar esses diversos tropeços, erguerem a cabeça e partirem para mais um clássico para se acrescentar neste relato. Em 2016, vai ter mais?


O fator Hettsheimeir nos três pontos
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Giancarlo Giampietro

O fato novo nos amistosos da seleção brasileira rumo ao Mundial de basquete é a versão gatilho-de-três de Rafael Hettsheimeir. O pivô, que primeiro teve de disputar o Sul-Americano para, depois, garantir sua vaga na seleção principal, se transformou aparentemente no principal arremessador de três pontos de Rubén Magnano.

Quer dizer, pelo menos em oito jogos-teste.

É uma amostra muito pequena de partidas para ficar plenamente empolgado e eleger um novo Dirk Nowitzki. O que temos, por certo, é um jogador completamente confiante, se posicionando aberto na maior parte do tempo em que está na quadra, flutuando no perímetro, pronto para fazer o disparo.

Marcelinho Machado mostra para Hettsheimeir aonde receber o passe. : )

Marcelinho Machado mostra para Hettsheimeir aonde receber o passe. : )

Não se configura uma aberração, todavia.

Rafael vem realmente trabalhando esse fundamento, e não é de agora. Basta dar uma espiada em seus números desde que migrou para a Europa, para constatarmos que este elemento faz parte de seu repertório. Já tinha, vejam, um volume alto de tentativas sete anos atrás. Dependendo do clube por onde passou, a quantia pode ter variado, mas estavam lá os arremessos.

Numa já longínqua temporada de 2005-06 pelo CB Vic, egresso do Ribeirão Preto, o brasileiro começava sua longa trajetória Espanha, na LEB 2 (hoje LEB plata, terceira divisão  do país), com 29 arremessos de três em 25 partidas. Média de 1,16 por jogo e aproveitamento de 37,9%. No ano seguinte, com mesmo clube e mesma competição, foram 79 arremessos em 43 partidas (média de 1,83 e 35,4%).

O bom rendimento (geral) pelo clube catalão lhe valeu uma promoção. Subiu um degrau para disputar a LEB oro (segundona), defendendo o CE Lleida em 2007-08. Aparentemente, seu treinador de então, Eduard Torres, não gostava muito dessa ideia de pivô aberto – ou precisava do brasileiro no poste baixo, mesmo. Em 36 rodadas, ele tentou apenas sete chutes de fora. Não demorou, contudo, para que ganhasse o sinal verde novamente: 42 tentativas em 36 compromissos, mas com um aproveitamento bem baixo (23,8%).

O Lleida foi rebaixado para a quarta divisão espanhola, a EBA, por conta de problemas financeiros, e Hettsheimeir escapou dessa ao acertar com o Zaragoza, matendo-se na LEB. De todo modo, já significava mais um salto, uma vez que se tratava de um clube mais relevante. É verdade que a equipe havia acabado de cair. Porém, sempre foi mais habituada a jogar na elite espanhola, para a qual já voltariam em 2010-11.

O pivô, porém, sofreu uma lesão e ficou fora de ação por meses. Quando voltou, teve sorte: acabou cedido por empréstimo por um mês para o Obradoiro, pelo qual faria sua estreia na Liga ACB. Disputou 11 jogos pelo time (que hoje conta com Rafael Luz) em fevereiro. Foi muito bem, mas atuando nas cercanias da tabela. No ano seguinte, novamente pelo Zaragoza, já estava na Liga ACB em tempo integral, e também foi mais contido no perímetro, com dez arremessos em 34 jogos. Em geral, foram dois anos em que o tiro de fora esteve em segundo plano.

Hettsheimeir nos tempos de Zaragoza: grande fase

Hettsheimeir nos tempos de Zaragoza: grande fase

Foi ao final deste campeonato, aliás, que ele mostraria seu cartão de visitas para Luis Scola – e a boa parte da audiência brasileira também – no Pré-Olímpico de Mar del Plata. Turbinado depois de uma ótima Copa América, voltou para a Espanha para fazer a melhor temporada de sua carreira. Estava novamente assanhado no perímetro, tendo praticado bastante nas férias, ainda que não tenha apresentado um bom rendimento imediato: 56 arremessos em 33 jogos (1,69 por jogo e 33,9%). Acabou, também, sofrendo uma lesão no joelho, que lhe tiraria das Olimpíadas.  De qualquer forma, receberia sondagens da NBA e acertaria com o Real Madrid.

Hettsheimeir jogou no Real e no Unicaja Málaga nos últimos dois anos. Dois clubes de ponta da Europa, no qual infelizmente não teve muito tempo de quadra. Aí é uma situação difícil: qualquer arremessador precisa de ritmo, confiança e, claro, alguém que lhe passe a bola para produzir. Batalhando por um espaço na rotação, o brasileiro ainda tentou marcar presença como um pivô aberto, mas sem muito sucesso. No total, contando jogos de Euroliga e ACB, arriscou 107 arremessos de fora em 69 jogos (1,55 por jogo e 32%).

Na hora de processar tantos números, como em qualquer esporte, é preciso encarar o contexto. Cada equipe funciona de um modo diferente, tanto na tática quanto na combinação dos diversos talentos de cada elenco. Há uma referência interna que vá chamar uma dobra e abrir a quadra para o chute? O armador é um fominha? O time joga em transição, apostando nos arremessos rápidos e equilibrados, não importando de qual ponto da quadra saia? Etc. Etc. Etc.

O que vemos, de qualquer forma, é que Hettsheimeir invariavelmente procurou pontuar do perímetro, tentando fazer disso um diferencial em seu jogo. Vale destacar que, na Europa, o stretch 4 (ou 5) – o pivô aberto – já é utilizado há tempos. O objetivo primário desse movimento é espaçar a quadra, em vez de ficar com dois cones parados nos arredores do garrafão, congestionando o setor. Isto, claro, se o seu time não tiver um ataque inventivo, dinâmico, com boa movimentação fora da bola. Tipo o Brasil de Magnano.

Pelos últimos trabalhos com a seleção brasileira, está claro que o argentino vê muito valor num pivô que possa chutar de fora. Depois de anos e anos escalado basicamente como um lateral, Guilherme Giovannoni foi, enfim, aproveitado na seleção desta forma no último Mundial e em Londres 2012. No ano passado, depois de um período de treinos com sua supervisão e muito incentivo, Lucas Mariano desandou a arriscar de três pontos na Universíade – com resultados desastrosos, mas que melhorariam na sequência da temporada pelo Franca, pelo qual mandou ver 3,8 arremessos no último NBB, com 35,1% de acerto.

Agora temos Hettsheimeir cumprindo essa função tática. Algo que não aconteceu no ano passado durante a desastrosa Copa América e que tampouco vimos durante o Sul-Americano de julho na Venezuela. A diferença é que, nesses dois torneios, sem a cavalaria da NBA, ele era, na real, a principal esperança de pontuação interna da seleção. Ao lado de um Splitter ou de um Nenê em forma, vira opção secundária. E bem afastado da cesta. Veja só uma coleta de seus dados como arremessador nos oito amistosos que o Brasil fez até aqui:

Hettsheimeir: amistosos de 2014

Do jogo para o México em diante, Hettsheimeir não hesitou, hein? Se descontarmos os três primeiros amistosos, foram em média cinco arremessos de três por jogo, com sucesso, pelo que podemos ver. Levando em conta, porém, os números de sua carreira, é razoável ponderar se esse rendimento é sustentável. De novo: são poucos jogos para julgarmos o pivô como o maior chutador da paróquia. Não quer dizer que ele não possa fazer. Afinal, ele está fazendo. Também não significa que ele não possa melhorar de um ano para o outro. Pode, sim, ainda mais se estiver trabalhando tão duro conforme o relatado – sem contar o fato de que houve uma mudança no posicionamento de seus chutes em relação ao que vi nas últimas duas Euroligas: muito mais na zona morta do que frontal à cesta (menor distância, maior probabilidade de acerto). Só não sei se é prudente esperar que ele vá produzir desta maneira. Se mantiver o ritmo, Magnano tem uma belíssima arma ao seu dispor. Na seleção, a consequência pode ser uma possível redução drástica no uso de Giovannoni, que torceu o tornozelo e pode ter perdido seus minutos nessa. Acontece.

A fotinho de Hettsheimeir vai ser distribuída de vestiário em vestiário se o volume de três pontos seguir elevado desta maneira

A fotinho de Hettsheimeir vai ser distribuída de vestiário em vestiário se o volume de três pontos seguir elevado desta maneira

Por outro lado, durante uma competição, o estudo de cada seleção começa a se intensificar. Se Hettsheimeir virar bola cantada, como vai reagir? Contra a Lituânia, ele acertou três tiros de três consecutivos no primeiro tempo. No segundo, os marcadores correram desesperados em sua direção para desencorajá-lo. Em algumas situações, teve paciência para fazer o passe e ver o ataque brasileiro aproveitar um corredor aberto (causa e efeito). Mas também desafiou as contestações e errou três de seus próximos quatro chutes. Obviamente que seu aproveitamento é muito maior quando está com os dois pés plantados e com espaço para projetar a bola. Sabemos também que ele não é um dos pivôs mais ágeis ou explosivos, com dificuldade para por a bola no chão e executar em movimento, em progressão.

Qualquer jogador que acerte acima de 40% nos disparos de fora já tem de ser vigiado. Agora, se isso vem de um pivô, a defesa adversária vai ter um problemão para resolver.  Por exemplo: como fará suas coberturas no pick-and-roll? Se você puxa alguém do lado contrário para fazer frente ao mergulho de Splitter, vai pagar pra ver e deixar Hettsheimeir livre da zona morta? Se um de seus pivôs tiver de sair para contestá-lo longe do aro, como fica o rebote? Se o pivô e seus companheiros girarem a bola, sua rotação está coordenada para perseguir cada oponente, sem quebras? Os técnicos são obrigados a fazer cálculos e tomar decisões desagradáveis.

Pensando nesse tipo de desequilíbrio, a NBA abraçou essa tendência europeia e a transformou em uma coqueluche que agora ganha evidência na seleção brasileira. Rafael batalhou para ganhar esse status e terá um grande palco para mostrar o quão refinada está realmente sua habilidade. Em Bauru, a torcida assiste com um conflito de interesses. Dependendo da resposta que grandão der, pode ser que eles nem o vejam usar a camisa do time nesta temporada.