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Arquivo : Gobert

Guia olímpico 21: a fortíssima França tem nova referência
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Giancarlo Giampietro

A partir da definição dos 12 jogadores da seleção brasileira, iniciamos uma série sobre as equipes do torneio masculino das Olimpíadas do #Rio2016:

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Dois desses talvez estejam se despedindo. O outro virou O Cara

O grupo
Armadores: Tony Parker, Nando De Colo, Antoine Diot, Thomas Heurtel.
Alas: Nicolas Batum, Mickael Gelabale, Charles Kahudi.
Pivôs: Boris Diaw, Florent Pietrus, Kim Tillie, Joffrey Lauvergne e Rudy Gobert.

A França é uma das raras seleções que pode colocar um quinteto em quadra que ao menos não seja esmagado atleticamente pelo Team USA. Mas não que consigam rivalizar, claro. Gobert, un monstre, pode com qualquer um – é um cara agora para fazer a diferença a cada partida. Parker, Diaw e mesmo, discretamente, Batum já viveram dias melhores. Mas ainda tem Kahudi, Pietrus, Gelabale e Lauvergne.

Um dado interessante para se ponderar é que os Bleus vêm para o #Rio2016 com cinco atletas de NBA. O que é bastante, mas não o máximo que poderiam convocar. Não é porque o cara está na melhor liga do mundo que deve ser convocado automaticamente, ainda mais no país que tem a maior produção de jogadores no mundo todo hoje, excluindo o território norte-americano. Na hora de se formar uma equipe, o treinador não deve pensar apenas em nomes, mas no modo como eles se combinam em quadra.

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Há, inclusive, atletas que nem mesmo querem jogar nos Estados Unidos. Acreditem, porque De Colo está aí para contar essa história. Depois de ser aclamado MVP da última Euroliga, evoluindo demais desde que deixou o Toronto Raptors, há dois anos. O cestinha francês certamente receberia uma oferta generosa nesta nova economia da liga americana, mas nem quis saber de conversa, renovando cedinho seu contrato com o CSKA.

A presença do armador alto, de 1,95m, ajuda a entender a exclusão de Evan Fournier entre os 12 finais. O técnico Vincent Collet não estava fechado em torno dos 12 atletas que disputaram o Pré-Olímpico em Manilla. Ao obter a vaga, não hesitou em trocar o talentoso Adrien Moerman, pivô emergente no mercado europeu, por Gobert. Muitos esperavam que o mesmo procedimento seria adotado com Fournier, que já está de contrato assinado com o Orlando Magic.

“Acredito que nossos sete jogadores do perímetro assumiram bem suas funções. Encontramos um grande equilíbrio nesse setor. Pelo contrário: tivemos dificuldades no garrafão, que poderiam se tornar mais graves para o torneio olímpico. Quando as pessoas veem as coisas de fora, podem fazer perguntas. Mesmo eu, antes de viajar para Manilla, acreditava que iria adicionar Fournier depois. Digo isso com tranquilidade, pois acreditava que pelo menos um jogador do perímetro não iria se encontrar, mas não foi o caso”, afirmou o treinador. “Houve um compromisso que assumi com meus jogadores que era o seguinte: se eles jogassem bem, permaneceriam na equipe. Se não honrasse isso, os estaria traindo.”

Agora, o talentoso arremessador se junta a Alexis Ajinça, Ian Mahinmi, Kevin Seraphin e Joakim Noah entre os franceses de NBA que não são olímpicos – embora eu relute a incluir Noah nesse grupo, já que o pivô está mais para cidadão do mundo, do que francês, e que, se estivesse disposto a defender o país, certamente contaria com a boa vontade de Collet. Também não vale mencionar os mais jovens, como Damien Inglis, recentemente descartado pelo Bucks, ou os recém-draftados Guerschon Yabusele, Timothé Luwawu, Isaia Cordinier, Petr Cornelie, que não estão prontos para a empreitada. Desses, apenas Luwawu está garantido na próxima temporada.

O Parker de 2016 está em forma muito melhor o que od e 2015

O Parker de 2016 está em forma muito melhor o que od e 2015

Rodagem
Em termos de quilometragem, a França é uma das três seleções olímpicas que entram nas Olimpíadas um pouco mais entrosadas – mas talvez mais cansadas também –, por ter sido obrigada a disputar o torneio de classificação nas Filipinas. Venceram seus quatro jogos por lá, contra os anfitriões e Nova Zelândia, Turquia e, por fim, Canadá, na hora de disputar a vaga. Somente o triunfo sobre os turcos foi por dígitos duplos. Mas não que pudessem esperar partidas fáceis, mesmo. Agora, entrar no último período do duelo com os neozelandeses com sete pontos de desvantagem também não era algo previsto, né? Já o confronto com o Canadá, que estava bastante desfalcado, foi equilibrado, mas sob controle dos Bleus do início ao fim:

A França tem um dos elencos mas experientes da competição e, assim como no caso de Brasil e Espanha, deve se despedir de algumas de suas principais figuras como os melhores amigos Parker e Diaw, além de Gelabale e Pietrus.

Para acreditar
Estamos falando de uma base que foi medalhista nos últimos três EuroBaskets, com direito a título em 2013, e que também foi bronze no último Mundial. Se fosse para fazer uma bolsa de apostas, esse retrospecto os coloca num segundo patamar entre os favoritos, ao lado da Espanha.

Independentemente da aceleração e impulsão dessa turma, que podem ser abaladas pela idade e ou pela quantidade de cheeseburgers ingeridos, um fator não se altera: a envergadura coletiva da equipe, que faz de sua defesa algo infernal. É muito difícil encontrar espaço ali para fazer uma infiltração em linha reta e simples, por iniciativa individual, sem que os marcadores tenham sido sacudidos com boa movimentação de bola. Esses porte físico também se manifesta em domínio dos rebotes, com uma das linhas de frente mais fortes que vão encontrar por aí.

Guia olímpico 21
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Do outro lado, Nando De Colo está no auge. Ele hoje, na real, é a grande referência da equipe, em termos técnicos, vindo de 17,2 pontos, 58,5% de acerto nos arremessos, além de 4,0 lances livres convertidos por partida durante o Pré-Olímpico de Manilla:

Algo providencial para aliviar a carga de Tony Parker, que em muitos torneios se sentia obrigado, ainda que desnecessariamente, a bancar o super-herói – uma tendência que se manifestou mesmo no ano passado, quando estava em péssimas condições físicas. Ao menos agora o armador se apresenta em melhor forma. Os dois ainda serão assessorados por Heurtel, que tem uma visão de quadra especial, e por Diot, mais um passador de mãos seguras, podendo olhar mais para a cesta.

Questões
Para uma seleção com mentes brilhantes como as de Parker, De Colo, Batum, Diaw e Heurtel, a França tende a jogar de modo muito, mas muuuuito lento, o que é um contrassenso, pensando nos atletas que são convocados. Era para essa equipe ser uma das mais divertidas das competições Fiba. Mas é uma das mais chatas.

O técnico Vincent Collet, porém, pode se proteger pelo sucesso recente. Mas fico imaginando como poderiam ser ainda mais perigosos com um maior liberdade para transição e um ataque menos arrastado.Você não precisa abrir mão de eficiência defensiva por um ataque mais criativo, ainda mais para um grupo que não tem tantos chutadores.

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Jukebox NBA 2015-16: Utah Jazz, “coloca o Raul”
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Giancarlo Giampietro

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Em frente: a temporada da NBA caminha para o fim, e o blog passa da malfadada tentativa de fazer uma série de prévias para uma de panorama sobre as 30 franquias da liga, ainda  apelando a músicas, fingindo que está tudo bem. A gente se esbalda com o YouTube para botar em prática uma ideia pouco original, mas que pode ser divertida: misturar música e esporte, com uma canção servindo de trilha para cada clube. Tem hora em que apenas o título pode dizer algo. Há casos em que os assuntos parecem casar perfeitamente. A ver (e ouvir) no que dá. Não vai ter música de uma banda indie da Letônia, por mais que Kristaps Porzingis já mereça, mas também dificilmente vai rolar algo das paradas de sucesso atuais. Se é que essa parada existe ainda, com o perdão do linguajar e do trocadilho. Para mim, escrever escutando alguma coisa ao fundo costuma render um bocado. É o efeito completamente oposto ao da TV ligada. Então que essas diferentes vozes nos ajudem na empreitada, dando contribuição completamente inesperada ao contexto de uma equipe profissional de basquete:

A trilha: “Tente Outra Vez”, por Raul Seixas

“Coloca o Raul!”

Se algum brasileiro estiver presente na plateia de um jogo do Utah Jazz, duvido muito que, depois de um copão de cerveja (porque lá é tudo gigante, mesmo), não tenha feito o trocadilho, sem que ninguém ao seu lado entendesse, muito menos o técnico Quin Snyder. Então aqui temos a única música brasileira na trilha sonora da temporada, por motivos óbvios. E, desculpem, piada era muito infame para ser evitada. : )

Por três, quatro meses, os pedidos foram atendidos: Raulzinho não só estava jogando em seu ano de novato, como havia sido eleito o titular. Quando foi selecionado para participar do jogo da garotada no fim de semana do All-Star, teve suas melhores atuações, a confiança visivelmente reforçada. Acontece que,  logo quando voltou das festividades em Toronto, recebeu uma notícia que servia como pulga atrás da orelha: o clube contratou um armador. Fosse uma estrela, um jogador de ponta, talvez fosse fácil de compreender. Mas, não, quem chegou foi Shelvin Mack, um cara que, até o momento, praticamente passou batido desde que foi selecionado pelo Wizards em 2011.

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Tom Thibodeau costuma dizer que, se o cara já está na NBA, é por ser um grande jogador. E está certo. Mas, entre esses grandes jogadores, há uma separação de castas, claro. E não dá para dizer que Mack faça parte da elite. Mesmo assim, bastou uma boa partida em sua estreia, para o armador de 25 anos assumir o posto de titular. Ele nem sabia as jogadas, muito menos seus nomes.

“Eu me senti muito bem. Não jogava tanto assim há um tempo. Venho trabalhando muito duro, aguardando por minha oportunidade. Foi muito bom sentir isso novamente”, afirmou o veterano, que tinha participado de 24 jogos com o Atlanta, com apenas 7,5 minutos, atrás de Jeff Teague e do Schrödinho. Se Snyder seguir prestigiando o recém-contratado, isso vai empurra o brasileiro para uma disputa ferrenha por minutos com Trey Burke. E o pesadelo de Rubén Magnano só fica mais intenso.
Será que Magnano tem o WhatsApp de Snyder?

Será que Magnano tem o WhatsApp de Snyder?

Então vem daí a escolha de “Tente Outra Vez”, então? Poderia ser, para que Raul mantenha a cabeça erguida e brigue por seus minutos. Mas a canção (separada antes de o campeonato começar, juro), tem mais a ver com o fato de o Utah tentar, enfim, voltar aos playoffs com seu segundo núcleo desde a era Stockton-to-Malone. O grupo com Deron, Boozer, Kirilenko e Okur (mais uma participação especial do Baby, por meia temporada!) até chegou a uma final de conferência, mas não teve chance nenhuma contra o Lakers. Agora, num processo bastante paciente de reformulação, depois de alguns anos de draga geral, a família Miller espera que sua diretoria tenha reunido peças em torno das quais possa se construir uma equipe vencedora.

As coisas estão caminhando bem nesse sentido, com o chefão de longa data, Kevin O’Connor, delegando poderes a Dennis Lindsey, mais um aluno do Instituto Gregg Popovich & R.C. Buford Spursiano de Basquete. Tal como o Philadelphia 76ers, mas sem fazer tanto estardalhaço, o clube vem bancando uma folha salarial barata para os padrões da liga, dando espaço a jovens apostas do Draft e buscando um ou outro talento na D-League. No ano passado, com a contratação de um verdadeiro professor, Quin Snyder, a equipe passou a ser mais competitiva. Depois do excelente rendimento que o time teve nos últimos meses da temporada passada, muitos esperavam que os garotos já pudessem se meter na briga com os grandes do Oeste, ou pelo menos incomodá-los mais. Que tivessem pelo menos um aproveitamento entre 55 e 60%, que o colocasse na briga pela quinta posição da conferência, ficando abaixo do quarteto Warriors/Spurs/Thunder/Clippers.

Não foi possível, por ora. A campanha na primeira metade da temporada foi gravemente atrapalhada por lesões e longo período de afastamento para Derrick Favors e Rudy Gobert. Quando o francês retornou, o americano saiu de cena. Agora estão reunidos, e fica a expectativa de que o time como um todo possa apertar o passo, no mesmo ritmo de 2015, e superar Mavs, Blazers e Rockets para se meter entre os oito melhores. Vamos ver.

Favors, Gobert e Hayward, pilares do Utah. Vão adicionar mais alguém?

Favors, Gobert e Hayward, pilares do Utah. Vão adicionar mais alguém?

Para isso, precisam que seu núcleo central, com os dois grandões acima e Gordon Hayward e o emergente Rondey Hood, se mantenha saudável. Pois, como pudemos ver, ainda há limitações no elenco para lidar com desfalques do tamanho de seus excelentes pivôs, em todos os sentidos. Jeff Withey e o habilidoso novato Treyl Lyles tiveram seus momentos, mas estão num nível abaixo, e a defesa icou comprometida.

(PS: As produtivas atuações de Withey, todavia, depõem contra o gerente geral do Pelicans, Dell Demps, que tem de se explicar por permitir que o espigão fosse embora de graça, enquanto Omer Asik e Alexis Ajinça não conseguem dar cobertura a Anthony Davis. Já Lyles teve lampejos que mostram que Phil Jackson não estava tão maluco assim ao namorar o ala-pivô canadense antes do Draft.)

De qualquer forma, a maior carência, admitamos, estava na armação, como a contratação de Shelvin Mack não deixa negar. Lindsey falou com seu ex-companheiro Mike Bundeholzer para sondar a disponibilidade de Jeff Teague, não gostou do preço alto estipulado e, com o aval de Snyder e Hayward, se contentou com o terceiro armador da rotação do Hawks. Ao justificar a negociação, Snyder atentou para o fato de ter usado até seis jogadores diferentes na condução da equipe em minutos finais durante a temporada, com direito a improvisos. Quer dizer: em sua cabeça, repete-se um mantra que não podemos esquecer e que Manu Ginóbili sabe de cor: “Não importa quem começa o jogo, mas, sim, quem termina”.

Não é um demérito para o brasileiro, que, muito jovem, fez boas campanhas numa concorrida Liga ACB por anos e anos. A NBA é outra história, porém, e ainda estamos falando de um calouro se ajustando a este nível elevado de basquete. Como ponderação, basta observar o que se passa com Burke, oras. O rapaz foi uma estrela  de high school em Ohio e teve uma carreira bastante badalada pela Universidade de Michigan. Agora está prestes a ser descartado.

Raul estava se soltando. Agora luta por minutos

Raul estava se soltando. Agora luta por minutos

Além disso, também não podemos nos esquecer que o plano de Snyder e Lindsey era por o exuberante Dante Exum como dono da posição. Uma infeliz lesão em amistoso pela seleção australiana, porém, o tirou do campeonato, abrindo espaço para Raulzinho. Ele aproveitou do jeito que dava, ganhou elogios de seu treinador por seu empenho defensivo e por sua estabilidade, mesmo sendo um novato. Mas não convenceu o bastante.

“Tivemos, não vou dizer uma porta giratória, mas tivemos de encontrar opções internamente, essencialmente usando nossos caras fora de posição. Se tivesse três armadores no início do ano, você veria algum tipo de separação entre eles. Mas não aconteceu isso. O resultado é que esse processo acontece agora. Vou ter de tomar algumas decisões em relação a quem vai jogar”, afirmou Snyder.

“Será muito fácil questionar algumas dessas decisões num período tão curto. Mas tomara que, com o tempo, vamos ganhar mais continuidade nessas escalações. Para chegarmos a conclusões, é importante que usemos Shelvin. Ele não teve chance de jogar muito neste ano. E por isso conseguimos a contratação. Ele é um armador de porte físico maior. Vale cada centímetro de seu 1,91m de altura e cada grama de seus 94kg. Em algumas ocasiões, essa fisicalidade em um jogo desta natureza é importante. Tivemos algumas ocasiões recentemente em que fomos superados fisicamente. Ele é diferente dos outros dois. Eles são muito diferentes , na verdade.”

Parceiro de Hayward em campanhas históricas de Butler, Mack chegou para confundir

Parceiro de Hayward em campanhas históricas de Butler, Mack chegou para confundir

O que dá para entender da fala do técnico: o plano era ter Exum no time titular, e Raulzinho desafiando Burke por minutos vindo do banco, com o americano levando vantagem por ter mais poder de fogo, sendo utilizado mais como pontuador do que organizador vindo da segunda unidade. É algo que se encaixa melhor na rotação, e aqui precisamos ressaltar que tipo de jogador está ao lado dos armadores no perímetro.

Hayward tem muita habilidade e vai ser o criador primário em muitas ocasiões. Nas últimas semanas, Hood também entrou nessa discussão, ganhando mais e mais admiradores entre os scouts. Nenhum deles chega a ser um James Harden, retendo tanto a bola assim. Mas é fato que o armador do Utah, qualquer que seja, tem de dividir a bola de um jeito diferente do que um ataque mais tradicional sugeriria. “Espero apenas que esses caras sejam agressivos”, diz Snyder. “E aí vamos continuar observando e ver o que acontece.”

Seguindo o raciocínio do treinador, é provável, então, que, assim como nos botecos por aí, o grito de mais “Raul” não adiante muito. Nem mesmo vindo de Magnano.

 A pedida: playoffs, dãr.

A gestão: conforme dito acima, Dennis Lindsey vem tendo todo o cuidado na construção de seu elenco, numa transição lenta e, ao seu ver, segura. A diferença, em relação ao que o agressivo Sam Hinkie apronta em Philadelphia, é que, sitiado no alto das Montanhas Rochosas, seu ritmo como negociador é bem mais pacato.

Na tentativa de formar um novo time vencedor em Utah, Snyder é um grande trunfo para a diretoria, como um professor bastante eficaz

Na tentativa de formar um novo time vencedor em Utah, Snyder é um grande trunfo para a diretoria, como um professor bastante eficaz e daqueles que mete a mão na massa, surpreendendo até os mais veteranos. Corrige fundamentos mesmo durante partidas e tal, coisa que, em meio a jogadores milionários, não é de costume

Lembremos que, para chegar ao estágio atual, o clube abriu mão, de uma só vez, da dupla Al Jefferson e Paul Millsap. Assim como Philly fez com Thaddeus Young, Evan Turner & Cia. Desde então, porém, basicamente adicionou a sua base os escolhidos via Draft e algumas especulações pontuais da D-League. Mal investiu em agentes livres, mas também não participou de muitas trocas assim. De novo: precisando de alguma ajuda para se estabelecer no Oeste, eles se contentaram com Shelvin Mack.

Só fica uma dúvida: será que não era a hora de investir mais? Tudo bem evitar Teague se o Atlanta estivesse pedindo, realmente, uma escolha de primeira rodada mais um jogador jovem (de repente Alec Burks…). Aí não adianta se precipitar e pagar muito caro.  Mais:n um elenco jovem, Favors e Hayward já ganharam um bom aumento, e se aproxima a hora de que Rudy Gobert vai receber uma inevitável proposta de salário máximo. Num mercado pequeno, que não atraiu tanta gente assim nos últimos anos, você tem de ser cauteloso e guardar uma grana para tentar manter suas revelações.  O outro lado é que, num ano mais fraco do Oeste, há uma clara oportunidade subir na tabela. Chegar aos playoffs, mesmo com uma queda na primeira rodada, já rende um bom troco em bilheteria e TV. O desenvolvimento interno de Hood, Lyles, Raul e outros será o suficiente para compensar a inércia? É nisso que Snyder aposta, na certa.

De todo modo, em julho, chega a hora a de usar o largo espaço salarial em busca de um ou outro agente livre qualificado e mais experiente, dependendo especialmente da saúde de Dante Exum e Burks, caras talentosos, mas que agora são cercados por algumas questões físicas.

Olho nele: Rodney Hood.

A mecânica é estranha, com a mão direita interferindo mais do que devia, mas o chute funciona

A mecânica é estranha, com a mão direita interferindo mais do que devia, mas o chute funciona

Quanto mais alta sua escolha no Draft, a matemática histórica nos diz que você tem maior probabilidade de conseguir um jogador relevante. É uma loteria, então? Do ponto de vista do Utah Jazz, talvez não. Para um clube que selecionou Rudy Gobert em 27º e Hood em 23º, talvez essa lógica não cole. O pivô francês já tem uma baita moral na liga. Hood, mês a mês, vai chegando lá.

Que Hood tenha deslizado tanto assim no recrutamento de 2015 é difícil de entender. Talvez os olheiros estivessem muito mais atentos em Jabari Parker, ignorando seu arremesso suave de canhota, com uma boa elevação devido a sua estatura, e visão de quadra. Ele era um assessor em Duke, mas vai mostrando rapidamente em Salt Lake que tem muito mais recursos, funcionando até mesmo como arma na chamada de pick-and-rolls. Em 25 partidas desde a virada do ano, vem com médias de 18,3 pontos, 2,8 assistências (contra 1,7 turnover e 43,8% nos arremessos de fora e 88,6% nos lances livres. Numa divisão por shooting guards (algo que, na NBA de hoje, não diz muito), ofensivamente, o ala aparece como o sétimo no ranking de Real Plus-Minus do ESPN.com, atrás de Harden, Butler, DeRozan, Middleton, Klay e Redick, acima de Ginóbili, McCollum e J.R. Nada mal.

A defesa, porém, é outra história. Ele é facilmente batido em sua movimentação lateral e, em geral, precisa ser muito mais combativo. Ainda assim, já vale como um fator positivo para o time nessa reconstrução.

raul-lopez-trading-card-utahUm card do passado: Raúl López. Vocês se lembram? Raulzinho já teve, há 14 anos, um xará vindo do basquete espanhol que era aguardado por ansiedade por sua fanática torcida. Com algumas diferenças, claro: López tinha a missão de substituir ninguém menos que John Stockton e chegava a Salt Lake City mais bem cotado, como o 24º do Draft de 2001, quatro posições acima de outro jovem armador europeu, Tony Parker.

Acontece que o jogador que estreou pela franquia em 2003 não era o mesmo de dois ano antes, e não é que tivesse evoluído. Foi o contrário. No meio do caminho, a serviço pelo Real Madrid em 2001, o catalão sofreu uma grave lesão no joelho direito (ligamento cruzado anterior). Quando assinou com o Utah em 2002, teve a mesmíssima lesão em um amistoso pela seleção espanhola. Sem confiança, com menos velocidade e arranque (algo fundamental para um jogador de 1,82m (se tanto) fazendo a transição para os Estados Unidos, não teve sucesso.

Em sua temporada de novato, conseguiu disputar todas as 82 partidas, com médias de 7,0 pontos e 3,7 assistências em 19,7 minutos, acertando apenas 29,4% dos arremessos de três e 43,1% no geral. Em 2004-05, voltou a sentir o joelho, e foi limitado a 31 partidas. Na hora de renovar seu contrato, o Utah preferiu trocá-lo com o Memphis Grizzlies, que já contava com Pau Gasol. López, porém, nunca mais jogaria pela NBA, sem repetir a parceria com seu compatriota e velho amigo das divisões de base. Chegou a ganhar a prata olímpica em Pequim 2008, foi campeão europeu pela seleção, mas num nível bem abaixo do que se esperava. Hoje, aos 35, ainda joga pelo Bilbao, com 17 minutos em média.


O jogo verdadeiramente histórico de Gasol (e a questão Tony Parker)
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Giancarlo Giampietro

Ele contra os azuis

Ele contra os azuis

Muito provavelmente já fiz essa reclamação antes. Certo que na minha cabeça ela já foi repetida diversas vezes. Se for o caso, desculpem a repetição de uma autocrítica à classe dos cronistas esportivos. Seja por falta de criatividade ou cultura ou por simples preguiça, nunca escrevemos tanto palavras como “épico”, “mítico” e afins. Mesmo que tenha sido um hat-trick na Série B brasileira ou um golaço de sem-pulo no Maracanã. Num meio em que tantas e tantas vozes se dissiparam pela grande rede, parece haver um certo afã de se sentir parte dos registros históricos, nem que como testemunha.

Aí quando morre um Djalma Santos e ou um Moses Malone, na hora de se atribuir um devido valor a esses caras, os adjetivos mais indicados parecem ter perdido seu valor, banalizados. Mais do mesmo. Pois é. Essa sensação de impotência me ocorre quando vejo uma partida como a de Pau Gasol nesta quinta-feira, para derrubar a França por 80 a 75, em uma vingança particular pela semifinal do EuroBasket e classificar a Espanha para o Rio 2016. Foi um desempenho incrível e, dentro daquele contexto específico, me pareceu uma das melhores exibições individuais da… história.

Senão, vejamos: trata-se da maior rivalidade do basquete de seleções hoje; valia a vaga olímpica; foi com o drama de uma prorrogação; jogou diante da torcida do mesmo adversário que, um ano antes, havia estragado a sua festa na casa dele; Gasol, inclusive, não jogou conforme o esperado naquela ocasião, oprimido pela capacidade atlética de um oponente que, depois de tanto insistir, se inseriu no primeiro escalão; está com 35 anos, o relógio está batendo, e, para alguém tão envolvido com sua seleção, isso tem um peso enorme. O que ele fez? O… mítico pivô espanhol marcou 40 pontos em 36 minutos e acertou 12 de 21 arremessos, incluindo 63% nos arremessos de dois pontos, além de ter matado 16 de 18 lances livres e capturado 11 rebotes. Vale o slow:

Na verdade, essa coisa de aproveitar o momento vale muito mais para nós do que para o craque. Andrei Kirilenko já se foi, Dirk Nowitzki está nas últimas, Spanoulis diz que não vai mais jogar pela Grécia… Esses caras estão todos indo embora, então que o basquete como um todo possa curtir o vasto talento do camisa 4 espanhol. Excluindo os franceses desse grupo, claro.

Rudy Gobert, Nicolas Batum e o técnico Vincent Collet reclamaram uma barbaridade. “Pau é um grande jogador, mas ele não pode arremessar 18 lances livres, enquanto a França como um todo não chutou nem mesmo um no primeiro tempo. Houve diferentes modos de se apitar. Ele é um jogador gigante, vem num torneio fantástico, mas não pode ser favorecido desse jeito enquanto os outros atletas não ganham nada. A Fiba deveria fazer algo a respeito”, afirmou o treinador. “Não podia mesmo tocar nele. É difícil marcar assim. Quando você não pode usar suas mãos, ele é praticamente imarcável”, disse Gobert. “Não gosto de falar sobre arbitragem, mas Pau Gasol é protegido um pouco demais. Isso é o esporte, não tem jeito. Nunca vamos ganhar o respeito devido, e eles sempre serão os reis do mundo”, completou Batum.

Dureza em francês escreve como?

Dureza em francês escreve como?

Gasol realmente cobrou mais lances livres que toda a seleção francesa: 18 a 17. No geral, porém, a diferença não foi tão gritante assim: os demais jogadores espanhóis somaram apenas oito lances livres. Então temos 26 x 17. A NBA já viu coisa muito pior que isso. Por mais que o craque tenha sido protegido, não pega nada bem para os falastrões franceses chiarem dessa maneira depois de uma partida daquelas.

Será que ocorreu para os magoadíssimos franceses que o pivô do Chicago Bulls tenha simplesmente se imposto, e não por paparicação? Que a arbitragem só deu tantas faltas nele pelo fato de ser, disparado, o jogador mais agressivo e lúcido em quadra? Gasol foi ao ataque do início ao fim. Em excelente forma, apostou corrida com os franceses mais jovens e mais atléticos e venceu.

Se Phil Jackson se deu ao trabalho de interromper a meditação em Montana para assistir ao jogo, deve ter ficado com inveja, matutando por que nem sempre tinha um pivô tão agressivo assim em quadra. Mike D’Antoni, então, depois de tantos maus-tratos ao espanhol em sua conturbada passagem pelo Lakers, deve ter desligado a TV, entediado ou arrependido que só. O técnico tem uma mente especial para desenhar o ataque, mas se perde em seu brilhantismo ao tentar dobrar todo e qualquer jogador de acordo com seu sistema. Desperdiçou muito do que o espanhol tem de melhor.

Gasol dançou a noite toda com Gobert, Lauvergne, Diaw e Pietrus. Giro daqui, giro para lá, gancho, o chute de média distância mortal, o drible absurdo para alguém de 2,13m , a visão de quadra. São vastos os seus talentos. Quando joga com a determinação que vem apresentando neste EuroBasket, não há quem segure em lugar algum. Nem mesmo um gigante como Gobert, que ainda é jovem e talvez tenha se empolgado demais com o que havia feito na Copa do Mundo do ano passado, quando levou a melhor sobre o craque.

Por mais compridos que sejam seus braços e pernas, não é sempre que vai acontecer, mon ami. E também serão raríssimas as vezes em que terá como missão parar uma… lenda viva dessas.

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Fala-se  muito em desfalques da Espanha. Mesmo durante a comemoração, o técnico Sergio Scariolo e sua grande estrela mencionaram as baixas para colocar sua seleção em condição de inferioridade e tentar entender a súplica que foi avançar no torneio. Sem tanto drama, meus chapas. Marc Gasol obviamente faz falta a qualquer equipe, mas é de se pensar se, hoje, sua presença em quadra não limita o jogo de seu irmão. Explico: por mais que possa jogar na cabeça do garrafão ou até na linha de três, numa quadra mais apertada como a da Fiba, acaba obstruindo um espaço precioso para o craque operar. Mesmo que não tenha chutado bem no EuroBasket, Nikola Mirotic desperta temor dos adversários, que ficam grudados nele. Além do mais, do outro lado, com dois Gasols em quadra, as coisas podem ficar ainda mais difíceis no jogo de hoje, pois um dos pirulões será obrigado a marcar um ala-pivô mais baixo e mais leve. Sobre Mirotic: de acordo com as regras da federação internacional, um país só pode usar um naturalizado por uma vez. Então era ele ou Ibaka, de modo que o congolês não pode ser considerado baixa. No perímetro, Juan Carlos Navarro teve sua temporada menos produtiva da década. Alejandro Abrines está crescendo, mas ainda não é uma certeza. Ricky Rubio e José Calderón? Também fariam parte do grupo. Mas os dois Sergios do Real Madrid são hoje atletas muito superiores. Mas muito, mesmo. Calderón é o melhor diretor e arremessador, mas, no momento em que entra em quadra, se torna um alvo do ataque adversário. Rubio não conseguiu jogar basquete na última temporada.

Agora, claro: quando você soma tantos nomes assim, dá meio time. A rotação ficaria mais encorpada. Mas, contra França e Grécia, no quarto final, o que a Espanha basicamente tem de melhor estava em quadra. Além do mais, assim como valeu para a França e para os Estados Unidos no ano passado, vale para eles agora: são tantos os jogadores de ponta disponíveis para uma convocação, que é obrigação de qualquer técnico montar um time não só competitivo, mas que entra para brigar por medalha e título.

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Sergio Llull, Espanha

Sergio Llull mostrou nesta semifinal por que o Houston Rockets não se cansa de tentar sua contratação. Acontece que é difícil tirar o rapaz do Real Madrid, onde é tratado como rei. Quando está mais concentrado na defesa, deixando o xará Rodríguez e Rudy Fernández com maiores encargos ofensivos, é que rende melhor em alto nível. Ele movimenta os pés com muita rapidez. Está, por isso, invariavelmente bem posicionado. Sua defesa para cima de Tony Parker não pode passar despercebida num jogão desses. No ataque, ele também não pára de acelerar. Às vezes força nas infiltrações, mas, por atacar sempre, joga pressão sobre a defesa. Já de Rodríguez não há muito mais o que escrever aqui. Dos armadores europeus hoje, é o que tem o jogo mais apropriado para fazer sucesso na NBA, como suas constantes infiltrações contra uma defesa fortíssima como a da França podem comprovar (15 pontos, 5-8 quando foi lá dentro, 3 assistências e só um turnover).

*   *   *

Sobre Tony Parker: pode ser demasiado cedo para ser alarmista, mas, LaMarcus Aldridge à parte, pode ser que Gregg Popovich tenha um problemaço para a próxima temporada. Llull fez um grande trabalho contra o astro francês, mas não foi o único a incomodá-lo bastante neste torneio. Se um viajante do tempo chegasse desavisado a Lille, não daria a mínima para o capitão francês, que chega à disputa pelo bronze com médias de 11,9 pontos, 4,3 assistências, mas 2,3 turnovers e sofríveis 35,4% os arremessos de quadra (sendo 37,1% de dois pontos — quer dizer, não é que ele tenha se acomodado no perímetro com seu arremesso de três suspeito). Aqui, valem as mesmas ressalvas feitas para Nowitzki: são veteranos que talvez não estejam nem mesmo em ritmo de pré-temporada, enfrentando defensores ferozes e vorazes. Pode ser que Parker ainda esteja, mesmo, avariado por tantas lesões que teve de tratar durante a última temporada e que vá demorar para recuperar a melhor forma. Você dá o benefício da dúvida a um jogador destes, claro. Fica quase na torcida para que seja isso, e não limitações que tenham chegado para ficar. Pois ele dificilmente conseguiu quebrar a primeira linha defensiva nos últimos dias. Também não conseguia criar a separação necessária para fazer seu chute de média distância funcionar. Sem velocidade, seu jogo evapora. Aos 33 anos, é uma situação para se monitorar com muita atenção.

Na semifinal, por mais que não funcionasse sua abordagem ofensiva, ele não arredava pé, e era bico atrás de bico. Foram apenas 10 pontos em 37 minutos, com 13 arremessos desperdiçados em 17 tentativas (23,5%) e um aro que precisará ser trocado para a sequência do torneio. É nessas horas que ter uma figura de tanta relevância em quadra pode até fazer mal a uma equipe, dependendo de suas condições. Por mais arrojado que seja Nando De Colo, não há como ele não deferir para seu capitão. E qual o nível de coragem que Collet precisaria ter para deixá-lo no banco? De qualquer forma, analisando friamente o desempenho do armador, imagino que o treinador esteja muito arrependido pelo corte de Thomas Heurtel, tendo priorizado a envergadura de Leo Westermann, com propósitos defensivos para cobrir Parker. No fim o ataque que precisava de ajuda.


Raulzinho é a mais nova adição ao núcleo jovem do Utah Jazz. E aí?
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Giancarlo Giampietro

Raulzinho esperou por dois anos, mas chegou a hora de botar no papel. Nesta quinta-feira, o armador assinou por três anos com o Utah Jazz para ser o sétimo brasileiro na NBA de hoje — e o 14o. na história. Existe uma grande diferença entre ser um jogador draftado pela liga e com um  contrato. “Achei que era um sonho sendo realizado quando fui selecionado, mas agora vejo o que é o sonho de verdade”, disse o armador já diante dos repórteres de Salt Lake City, no último dia da liga de verão local.

Com o acordo oficializado, então é a hora de tentar entender o que cerca a vida de “Raul Neto” (HA-OOL, nos ensinam) em seu novo clube e o quanto esta movimentação pode interferir em seu desenvolvimento.

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De cara, o que temos de informação: parece uma declaração óbvia para um clube que foi seguiu em seu encalço no Draft de 2013, mas a diretoria do Utah Jazz realmente adora seu prospecto de 23 anos. Durante a cobertura do All-Star Game em Nova York, tive a chance de conversar com o repórter Jody Genessy, setorista do clube pelo Desert News. Ele disse que o time não via a hora de trabalhar diretamente com o jovem atleta. A chance chegou, e as atividades já vão começar nesta semana, em Las Vegas. Segundo Genessy, porém, ele não vai jogar a liga de verão local, mas, sim, treinar com um grupo de veteranos do time.

(Um parêntese aqui: fico no aguardo pela reação de Rubén Magnano… O técnico, que apostou lá atrás num ainda adolescente Raulzinho,  esperava um papel de protagonismo para o atleta nos Jogos Pan-Americanos, e seria realmente interessante acompanhá-lo nessa empreitada. Ficou a ver navios nessa. A expectativa da CBB era a de que o armador se reapresentasse até esta sexta-feira para embarcar rumo a Toronto. Não rolou, por motivos óbvios. A dúvida: ele ainda vai jogar o Pan, mesmo perdendo tanto tempo de preparação? O torneio começa dia 20. Suponho que já esteja fora, e aí precisaria ver quem seria chamado para substitui-lo. Provavelmente alguém a serviço na Universíade, ficando a eventual vaga entre Gui Deodato, Deryk, Gegê, ou Henrique Coelho.  Vai rolar alguma mágoa? De todo modo, a seleção já está bem servida com Rafael Luz, Ricardo Fischer, Larry Taylor e Vitor Benite. Os dois mais jovens têm uma bela oportunidade para mostrar serviço agora.)

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Voltando ao Utah Jazz, Raulzinho entra em um clube com elenco jovem e cheio de potencial para fazer barulho na próxima temporada. Se a campanha depois do All-Star Game serve de algum indício, o time vai brigar por uma vaga pelos playoffs em 2016, já que venceu 19 de suas últimas 29 partidas, com um aproveitamento de 65,5%. Sétimo colocado neste ano, o Dallas Mavericks teve 61,0% de rendimento, enquanto o New Orleans Pelicans, oitavo, ficou com 54,9%.

Capitaneada pelos braços infinitos de Rudy Gobert, a equipe passou a ter a defesa mais dura de toda a liga, e de longe. Há quem acredite que esse tipo de progresso em meio a um campeonato não se traduz automaticamente para o seguinte, uma vez que os adversários vão se debruçar em estudos e já desenhar os ajustes necessários. Ação e reação.

Engraçado: mesmo depois de assinar com o Utah Jazz, Raulzinho chegou a ser barrado por um segurança da arena do clube durante a rodada final da liga de verão local nesta quinta à noite. Teve de apelar aos novos companheiros para ter acesso liberado a área restrita

Engraçado: mesmo depois de assinar com o Utah Jazz, Raulzinho chegou a ser barrado por um segurança da arena do clube durante a rodada final da liga de verão local nesta quinta à noite. Teve de apelar aos novos companheiros para ter acesso liberado a área restrita

Ainda assim, o núcleo do Utah também naturalmente vai evoluir, como se espera com atletas tão jovens. Gordon Hayward (o principal criador do time, versátil e confiante), Derrick Favors (em progressão gradual e segura, rumo ao All-Star, se é que alguém repara ou liga) e, principalmente, Gobert cresceram uma barbaridade durante a campanha e ainda têm mais o que render. Esses são os principais nomes, hoje, mas o elenco que o gerente geral Dennis Lindsey reuniu oferece diversas alternativas para o técnico Quin Snyder. Os alas Alec Burks e Rodney Hood já tiveram seus lampejos. O canadense Trey Lyles, muito bem cotado desde o colegial, acabou de chegar para reforçar o jogo interior.

E ainda tem o prodígio australiano Dante Exum, aparentemente efetivado como armador titular, tendo apenas 19 anos. Para uma escolha número cinco de Draft, é natural que a cobrança seja em outro patamar. Nesse sentido, a primeira campanha entre os profissionais foi tímida, para dizer o mínimo. Os críticos mais apressados, no entanto, ignoram o contexto. Se Bruno Caboclo teria dificuldades em deixar a LDB e a reserva do Pinheiros para se provar nos Estados Unidos, o que dizer de um carinha que jogava com adolescentes na Austrália? Que Exum tenha começado 41 jogos como titular e segurado as pontas na defesa, com sua agilidade e envergadura, já é um feito e tanto.

Basta observá-lo em quadra por um ou dos minutos para salivar com seu potencial — por mais talentosos que Hayward, Favors e Gobert sejam, esse garoto pode se tornar algo maior, pasme. Não é garantia, mas ainda há muito o que sair dali, e Snyder tem reputação excelente no trabalho de fundamentos com os atletas. Em sua primeira partida nesta temporada de verão, encarando defensores encardidos como Marcus Smart e Terry Rozier, do Boston, Exum já botou para quebrar, até sair de quadra com uma torção no tornozelo. Estamos falando do dono da posição, mesmo.

Para desgosto de Trey Burke, que tinha plena fé de que chegaria à NBA para ser um armador de ponta. O baixinho, que custou duas escolhas de Draft ao Utah também em 2013, ainda não conseguiu encontrar uma zona de conforto em meio aos cachorrões. Seus dribles de hesitação não são o suficiente para conseguir a separação mínima para seus arremessos. Em duas temporadas, ele só acertou 37,4% de seus arremessos de quadra, 32,4% na linha de três, e não é que tenha compensado tantos erros com um bom número de lances livres (só cobra 1,8 por partida) ou controle de jogo apurado (mira muito mais a cesta que seus companheiros). Sair do banco, como pontuador, talvez seja o seu destino, ainda que precise elevar sua eficiência para cumprir bem esse papel.

Ninguém da franquia vai falar abertamente a respeito, até para não avariar ainda mais sua cotação, mas não é segredo que o clube tenha se decepcionado com Burke. Os scouts mais otimistas esperavam que estivesse saindo um líder da Universidade de Michigan, um jogador com personalidade e recursos técnicos para compensar o que fica devendo em físico. Não aconteceu até o momento. Ainda que só tenha 22 anos, ele não evoluiu nada entre a primeira campanha e a segunda. Dá para dizer que tenha regredido, inclusive. Se for para investir tanto em alguém, a bola da vez vem da Austrália.

Como fica Raulzinho nessa, então? Em tese, ele foi contratado para ser o terceiro armador da equipe. Foi o que a diretoria lhe passou, ao sondar a possibilidade de ele deixar o basquete espanhol para cruzar o Atlântico. Na NBA, porém, as coisas avançam com uma velocidade impressionante, e talvez baste uma proposta razoável por Burke para que o brasileiro seja promovido.

Se for para falar em hipóteses, no entanto, talvez o mais simples seja o próprio jogador desbancar a concorrência no dia a dia de treinos. Admiradores dentro do clube ele já tem. Agora resta confirmar essas sensações na prática. O que o atleta entrega desde já é a visão de quadra fora do comum, a predisposição ao passe, característica que cai bem a qualquer grupo, mas principalmente no tipo de ataque que Snyder projeta. É um perfil que já difere. “Só quero aprender a cada dia. Quero melhorar meu jogo. Ainda não falei com o técnico, mas vai ser a escolha dele os minutos que jogarei. Estou aqui para fazer meu trabalho”, afirmou o armador.

Mesmo que, num primeiro momento, encontre dificuldades, acredito que, a longo prazo, a decisão de encarar a nata do esporte nos Estados Unidos é a mais indicada. Por quê? Raul sempre foi um armador muito arrojado. A experiência na Espanha foi muito valiosa para que aprenda a cadenciar as coisas, a maneirar em seu ritmo de jogo, mas por vezes pode ser um tanto amarrada. É com um jogo agressivo que ele pode render mais. A despeito da capacidade atlética bem mais elevada que ele vai encarar daqui para a frente, as dimensões mais espaçadas e a própria velocidade do jogo tendem a favorecê-lo, a deixá-lo mais solto. E fazer coisas do tipo:

Em Utah, o armador vai ter de melhorar de modo significativo seu arremesso de três pontos para ter mais chances (em sua carreira pela Liga ACB, converteu míseros 22,9% em suas tentativas). Na defesa, o trabalho de pernas no deslocamento lateral será exigido como nunca viu antes. Enfim, há muito o que aprimorar, para além de seu talento natural. Vamos esperar para ver. Por enquanto, Raulzinho vai curtindo seu sonho. Para valer.

PS: um contrato de freelancer que começou neste mês deixará a atualização do blog um pouco intermitente durante a disputa dos Jogos Pan-Americanos.


Do MVP à maior decepção. Uma lista de prêmios da NBA 2014-15
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Giancarlo Giampietro

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O começo dos playoffs também coincide com as diversas coletivas de imprensa que a NBA vai marcar para anunciar os vencedores dos prêmios individuais da temporada. Ao divulgar a sede – Oakland, Atlanta, Houston etc. –, a liga já indicará o escolhido. Como leva um tempo para organizar cada anúncio, há anos em que a cerimônia pode até ser meio indigesta, creiam. Corre-se o risco de entregar o troféu para um jogador que acabou de ser despachado nos mata-matas, como aconteceu em 2007 com Dirk Nowitzki. Seu Dallas Mavericks havia voado na temporada regular, aparentemente se recuperando bem da derrota para o Miami Heat nas finais da temporada anterior. Mas aí eles deram de frente com o Golden State Warriors de Don Nelson, seu ex-mentor, e acabaram entrando na história como mais um cabeça-de-chave número um a ser  eliminado pelo oitavo colocado. Se formos pensar no equilíbrio da atual Conferência Oeste, corre-se um sério risco.

Mas não há o que fazer: os mata-matas começam quase que imediatamente após o final da temporada regular. Técnicos e scouts se apressam em preparar o estudo sobre seu adversário, para dirimir tudo e passar aos atletas. E a raça que atende pela alcunha de jornalistas também está apressada, tentando colocar no papel uma série de artigos que se replicam, mas parecem inevitáveis. Como o tradicional para revelar suas escolhas para a votação (aqui, no caso, imaginária) dos melhores da temporada.

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(Um parêntese, apenas: neste ano vamos ter um interessante contraponto entre as escolhas dos jornalistas e a dos jogadores. A associação dos atletas decidiu promover uma votação própria. “Os torcedores e os técnicos escolhem os all-stars. A mídia vota nos prêmios da liga. Nossos membros querem reconhecer as performances sensacionais de seus companheiros também. Os jogadores não têm votado para os prêmios desde 1980”, afirmou a advogada e diretora-executiva da entidade, Michele Roberts, em comunicado oficial divulgado na quinta-feira. Serão 10 categorias nessa seleção paralela, definidas pelos jogadores durante o intervalo do All-Star. “A nomenclatura exata para cada prêmio e o programa ainda estão sendo definidos”, diz. O estranho é que os votos foram dados antes do final da temporada. Como os atletas votaram para algo cujo nome ainda nem foi definido? Houve caras que se recusaram a participar do processo. Como John Wall, que levantou um ponto necessário: “Como jogadores, sabemos quem é quem, mas pode ser que nosso orgulho e nosso ego interfira. Pode ser que você não queira ver determinada pessoa ganhar um prêmio. Vai haver gente dizendo que é o MVP, ou o melhor jogador, então nunca vai ter uma disputa justa, na minha opinião.”)

Posto isso, vamos nessa, mas sem poder se estender muito sobre cada eleito. Cada um merecia um post próprio, mas há ainda muito o que ser digitado. Xô, tendinite..

MVP: James Harden
A disputa com Stephen Curry é muito torturante. Você tem muitos argumentos a favor dos dois, expostos aqui já, além de outros candidatos. Mas parece claro que, a essa altura, o troféu vai para Harden ou Curry. Steph é o melhor jogador no melhor time da liga. Faz coisas incríveis com a bola, seja arremessando, a ponto de comemorar uma cesta quando ela não cai, ou driblando, para descadeirar um CP3. Supera Harden em termos de índice de eficiência. Se quiser brincar com mais números, tudo bem. Em geral vai dar o líder do Warriors (e aqui que a gente precisa tomar cuidado com as estatísticas avançadas: de modo geral, os dados de Curry serão fora de série. E ele é brilhante, não temos dúvida. Mas, em termos de avaliação numérica, é muito difícil separar o que cada jogador faz do conjunto da obra de sua equipe. E o Golden State detonou a concorrência). Ainda assim, vou com Sr. Barba, pela carga pesada que carregou durante o campeonato para manter o Houston Rockets bem posicionado na Conferência Oeste – sem o seu astro, seria difícil até imaginar uma classificação aos playoffs. Foi aquele que ficou mais minutos em quadra e que mais cobrou lances livres. E melhorou consideravelmente sua defesa, marcando até mesmo gente como Z-Bo e Blake Griffin. Mais de uma bíblia já foi escrita a respeito da disputa dos dois, e geralmente os artigos todos têm terminado da seguinte maneira: “Veja bem, ambos merecem o prêmio, e a distância entre eles é mínima”. Não me parece que exista realmente uma “escolha errada” aqui. Mas deve dar Curry. Gostaria de ver Anthony Davis logo abaixo dos dois, e talvez a briga do Pelicans até o fim pelo oitavo lugar do Oeste o ajude. Os outros dois votos ficariam entre Wesbrook, LeBron e Chris Paul.

Melhor defensor: Draymond Green
Andrew Bogut é quem protege a cesta e vai ter um papel essencial nos playoffs para que seu time controle as batalhas mais importantes: aquelas da zona pintada. Qualquer torção de tornozelo ou lesão de ombro dele pode causar danos sérios ao favoritismo do Warriors, é verdade. Mas quem dá o recado, quem dita a intensidade da equipe na hora de parar o adversário. Ele é daqueles que fala horrores – mas que justifica tudo em quadra. Além disso, devido ao seu pacote de força física, inteligência, determinação e estatura mediana para a posição (2,01 m) permite a Steve Kerr confiar num sistema de trocas na defesa. É curioso isso: o fato de ser considerado baixo ao deixar a Universidade de Michigan State fez com que caísse para a segunda rodada do Draft. Hoje, é algo que joga a seu favor de modo único – com sua envergadura e senso de posicionamento, consegue marcar grandalhões. Ao mesmo tempo, é flexível o bastante para brecar as infiltrações de alas e armadores. Sua consistência durante todo o ano acaba valendo mais que os esforços impressionantes de Kawhi Leonard na reta final da temporada. Tivesse o jovem astro do Spurs disputado toda a temporada neste ritmo, acho que não haveria dúvida em apontá-lo aqui. Rudy Gobert seria outra escolha tranquila.

>> Os prêmios do 21 no meio da temporada: Oeste
>> Os prêmios do 21 no meio da temporada: Leste

Melhor 6º homem: Lou Williams
Nos momentos de crise, com DeMar DeRozan ou Kyle Lowry afastados, foi Williams quem carregou o Toronto Raptors. Sua habilidade para gerar oportunidades de pontuar por conta própria é vital num ataque que contradiz o ‘modelo Spur’: ao mesmo tempo que o clube canadense teve o terceiro sistema ofensivo mais eficiente do campeonato, ele foi apenas o antepenúltimo em cestas assistidas. Seus percentuais de arremesso são baixos, mas mudam de figura quando você vê o tipo de chute que lhe cabe em quadra, batendo adversários no mano a mano com velocidade e agilidade. Geralmente marcado no perímetro, tentando desafogar a vida de Dwane Casey. Basta conferir seu gráfico de tentativas de cesta e perceber que ele é ma ameaça constante, por toda o perímetro, interno e externo. É um perfil parecido com o de Isaiah Thomas, no fim. Agora, se o baixinho ajudou a devolver o Celtics aos playoffs, o simples fato de ele ter finalizado sua campanha em Boston já serve como um ponto contrário a sua candidatura – houve uma razão para o Phoenix Suns o liberar no mesmo dia em que havia trocado Goran Dragic, e ao que tudo indica ele dá trabalho no dia a dia. Dennis Schröder, Rodney Stuckey e o eterno Jamal Crawford também merecem consideração.

Jogador que mais evoluiu: Hassan Whiteside
Na temporada passada, ele estava no Líbano e na segunda divisão chinesa. Hoje, está posicionado entre os dez jogadores mais eficientes da liga. Em termos de custo-benefício, foi a melhor contratação da temporada. Acho que não precisa ir muito além disso – embora o próprio fato de ele nem ter jogado a temporada passada levante uma questão técnica sobre o prêmio: é possível comparar o desempenho atual com o de um passado um tanto distante? Caso o Utah Jazz tivesse se livrado de Enes Kanter mais cedo, Rudy Gobert poderia desbancá-lo aqui. Seu crescimento também foi impressionante, com o jogo desacelerando  para permitir que ele usasse seus atributos físicos de modo intimidador. Com o francês titular, sua equipe teve a defesa mais eficiente depois do All-Star Game, e foi de longe. Outros caras que vão ganhar votos justos estão no topo e participaram da festa em Nova York: Jimmy Butler e Klay Thompson, que trabalharam sério na virada de um campeonato para o outro e se tornaram cestinhas de elite.

Melhor novato: Andrew Wiggins
Nikola Mirotic arrebentou nos últimos meses da temporada, especialmente quando Rose e Gibson estavam fora de ação. Tem os números avançados mais qualificados. Teve um papel importante em uma equipe que disputou jogos relevantes o campeonato todo, com ambição de título. Mas há dois pontos contra o montenegrino naturalizado sérvio, a meu ver: 1) não podemos nos esquecer que foi apenas a partir de março que ele ganhou minutos significativos, devido aos desfalques na rotação de Thibs – em fevereiro, por exemplo, jogou apenas 14,3; 2) não me sinto confortável em tratar o talentoso ala-pivô como “novato” – não quando ele já ganhou o prêmio de MVP do campeonato espanhol e vários troféus pelo Real Madrid. Tecnicamente ele é um calouro, sim. Na realidade, já é um “jovem veterano”. Então vamos de Andrew Wiggins, que teve o ano mais consistente entre todos os estreantes. Aliás, deu para perceber um padrão aqui, né? A preocupação de não se deixar levar apenas pelo que aconteceu nas semanas finais de campanha. Pode não ter tido o ano mais eficiente, mas conseguiu produzir em um nível elevado para um garoto só completou 20 anos em fevereiro e que mal teve a assistência de Ricky Rubio, ou de qualquer outro veterano para facilitar sua transição. É difícil ter uma exuberância estatística quando seu time tem um elenco inexperiente e estropiado. De qualquer forma, mostrou uma evolução regular mês a mês e dá toda a pinta de que vai se tornar a estrela cantada por olheiros há dois, três anos. Por isso, nas minhas contas, fica acima de Nerlens Noel, Jordan Clarkson e Elfrid Payton, calouros que jogaram muito, mas apenas depois do All-Star.

Melhor técnico: Steve Kerr
Tá, aqui vamos apelar sensivelmente aos números. O Golden State se despediu da temporada regular com o segundo melhor ataque;  a melhor defesa, embora jogue com o ritmo mais acelerado da liga; o melhor saldo de pontos, disparado, e essa é uma estatística notoriamente influente no resultado dos playoffs; melhor em percentual de arremessos, sem importar qual a medição usada; o segundo melhor rendimento em jogos apertados – nas raras ocasiões em que não conseguia atropelar os adversários; o segundo em cestas assistidas… Você precisa vasculhar bastante toda a magnífica seção de estatísticas do NBA.com para encontrar um ou outro ranking em que eles apareçam mal posicionados. Então tudo bem: em aproveitamento de rebotes, ocupam apenas o 12º lugar, sendo que, naqueles mais importantes, os defensivos, estão em 19º. Está certo que Kerr já assumiu uma base sólida, um grupo que havia disputado as últimas duas edições dos playoffs e que cresceu muito na defesa sob a orientação de Mark Jackson. Mas o fato é que o clube deu um salto de 16 vitórias na classificação geral, e desconfio que isso não se deve à chegada de Shaun Livingston, Leandrinho, Justin Holiday e James Michael McAdoo. Não obstante, o final de temporada um tanto morno do Atlanta Hawks acaba facilitando a escolha entre ele e Mike Budenholzer. O que não quer dizer que o treinador dos campeões do Leste não mereça um robusto pergaminho de elogios, ao por também ter elevado seu mesmo grupo a outro patamar. Terry Stotts, sempre subestimado em Portland, Kevin McHale, que revolucionou a defesa do Rockets mesmo com Dwight Howard no estaleiro, Brad Stevens, um mago ao ter endireitado um Boston Celtics em cosntante mutação,  e Jason Kidd, com uma rotação única por sua extensão e uma retaguarda sufocante com o jovem Bucks, são outros nomes que merecem atenção.

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David Griffin terminou a temporada sorrindo

Melhor executivo: David Griffin
Os mais chegados a LeBron James garantem que, se fosse para deixar Miami, apenas um retorno para Cleveland seria possível. Não se sabe até hoje o quanto a franquia de Ohio estava informada a respeito disso. E não importa. Quando a possibilidade de acertar a contratação de James se apresentou, o dirigente já havia tomado todos os passos necessários para acolhê-lo, num trabalho nada fácil: saber usar as escolhas de Draft acumuladas durante meses e meses para abrir espaço no teto salarial, tomando cuidado para não sabotar completamente o futuro da franquia se algo desse errado. Está certo que o segundo movimento – a troca por Kevin Love, cedendo uma promessa como Andrew Wiggins – não teve a repercussão (esportiva) esperada, mas não dá para ignorar o fato de que LBJ praticamente exigiu que a transação fosse feita. De qualquer forma, em meio a uma alarmante crise com menos de 50% da temporada disputada, Griffin foi nobre e valente o bastante para chamar uma coletiva e dar um basta aos rumores sobre uma possível demissão de David Blatt. Depois, voltou ao mercado para buscar reforços que salvassem seu treinador e, ao mesmo tempo, satisfizesse os anseios do astro. Agindo sempre sob uma pressão imensurável, tendo um dos proprietários de clube mais impacientes e ativos na sala ao lado. Bravo. O combo Bob Myers-Jerry West-Travis Schlenk-Kirk Lacob também merece aplausos por um entrosamento único na gestão do Warriors, assim como John Paxson e Gar Forman, que estão desgastadíssimos com Tom Thibodeau, mas deram ao técnico um elenco capaz de relevar as constantes lesões de Derrick Rose.

Por fim, alguns itens alternativos:

Melhor jogador sub-23: Anthony Davis, com 22 anos completos em março.  Steph Curry tem 27. Durant e Wess, 26. Harden, 25. Tim Duncan? 38. LeBron? 30. Assimilem isso.

Melhor segundanista: Rudy Gobert. Desculpe, Giannis. : (

Melhor estrangeiro: Pau Gasol, redivivo em Chicago e líder em double-doubles na temporada. Fica acima de seu irmão, que teve dois meses fantásticos na abertura do campeonato, mas depois caiu um tico.

Melhor brasileiro: Leandrinho? A despeito de seu entra-e-sai na rotação do Warriors. Mas convenhamos que não foi uma temporada das mais produtivas para os selecionáveis, com diversas lesões atrapalhando a trinca Splitter-Nenê-Varejão, da mesma forma que Vitor Faverani acabou dispensado por Boston sem poder mostrar serviço. Em Toronto, os caçulas mal jogaram.

Melhor importação da D-League: Whiteside, surrupiado pelo Miami Heat da toca do Memphis Grizzlies, o Iowa Energy. Aliás, Pat Riley foi o executivo que melhor usou a liga de desenvolvimento este ano. Basta ver como Tyler Johnson chegou ‘pronto’ quando foi promovido. Menção honrosa aqui para Robert Covington, um ala de muito potencial por sua habilidade atlética na defesa e o chute de fora no ataque. Veja aqui todos os jogadores que conseguiram elevar consideravelmente sua renda mensal ao serem chamados pela liga maior.

De Tyler Johnson para Whiteside. Dois D-Leaguers

De Tyler Johnson para Whiteside. Dois D-Leaguers

Melhor resultado de troca: se for pensar no curtíssimo prazo, a chegada de Timofey Mozgov ao Cleveland, por propósitos defensivos e também para animar LeBron, que, segundo consta, quase chorou de alegria ao ver o quão gigante o russo é de perto. Vale mencionar também a contratação de Isaiah Thomas pelo Boston. Sim, teve mais impacto que nomes como Rondo, Jeff Green e Goran Dragic. Ou mesmo Quincy Pondexter, que ajudou o Pelicans a estabilizar sua defesa e ainda recuperou seu arremesso de três pontos. Pensando longe, tudo vai depender de renovações de contrato. Dragic vai ficar em Miami, presumimos. Será que Rondo vai se encontrar em Dallas durante os playoffs? Como o Phoenix vai aproveitar tantas escolhas futuras de Draft? Será que Philly vai descolar o pick do Lakers já neste ano? Enfim, tudo em aberto.

Time mais azarado: Oklahoma City e Indiana Pacers têm uma alta conta hospitalar para competir aqui.

Maior decepção: New York Knicks. Phil Jackson prometeu os playoffs em setembro e terminou o ano falando que enfim tinha um plano para reerguer a franquia. O Los Angeles Lakers não fica muito atrás.

O jogador mais desmiolado: Nick Young, com seus devaneios de grandeza. Você quer acreditar que tudo não passa de uma grande piada, mas, quando percebe o conjunto da obra, começa a duvidar disso. Byron Scott não quer reencontrá-lo de modo algum na próxima temporada.

O dirigente mais intempestivo: Vivek Ranadive, dono do Kings, que demitiu Michael Malone depois o melhor início de campanha da equipe em muito tempo, efetivo Tyrone Corbin (um desastre), depois pressionou Chris Mullin a assumir o cargo durante a temporada para depois frustrar seu “consultor” ao contratar George Karl. Se não fosse o bastante, ainda trouxe Vlade Divac de volta para ser o novo chefão das operações de basquete. Com tudo isso, conseguiu sabotar DeMarcus Cousins de uma forma inacreditável, justamente no primeiro ano que o pivô se comportou do início ao fim. Aliás, Boogie também precisa ser incluído na lista de jogadores que mais evoluíram – e talvez seja hoje o jogador mais subestimado, por isso. Loucura geral.

A notícia que pode ter maior impacto a longo prazo: a NBA, depois de sua última reunião com os proprietários das franquias, indicando que o teto salarial pode passar dos US$ 100 milhões em 2017-18.


O povo de Utah tem um novo inimigo: Enes Kanter
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Giancarlo Giampietro

Gobert, aquele que herdou a vaga do "ex-jogador"

Gobert, aquele que herdou a vaga do “ex-jogador”

Existem aqueles caras que não falam nada, para desespero dos jornalistas. Você repete a pergunta de diversas formas, para ver se tira algo, e não sai. Mas também há aqueles que são os mais procurados por terem a matraca solta. Não importa se choveu ou fez sol, se teve derrota ou vitória, vão tagarelar.

E tem o Enes Kanter, que está numa classe só sua desde o sábado, quando retornou a Salt Lake City pela primeira vez como jogador de OKC e cuspiu marimbondos ao falar sobre sua ex-equipe.

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O pivô turco disse basicamente que só quando chegou ao Thunder que foi perceber o que era um time, um clube de NBA de verdade, embora não quisesse especificar quais os detalhes que o levaram a essa conclusão. O que importava é que, pela primeira vez, ele afirma que estava curtindo a liga americana. “Acho que a diferença provavelmente é que eu gosto de jogar aqui. É a coisa mais importante. Eu não gostei de jogar basquete antes em minha carreira de NBA. É a primeira vez que gosto de jogar basquete para meu time, meus torcedores, companheiros, treinadores, todos. Essa é a primeira vez. Não era uma frustração de um ou dois jogos. Mas, sim, uma frustração de três anos e meio.”

As declarações foram dadas em pleno ginásio do Utah Jazz, no treino leve da manhã, de aquecimento para a partida. Você pode imaginar o que aconteceu horas mais tarde…

(…)

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Acho que a expressão facial de Gordon Hayward e Trevor Booker diz tudo, né?

Sem a galera. As vaias constantes e a barulheira geral de uma fervorosa torcida, que que abraça sua jovem equipe – numa das raras cidades em que a franquia de NBA é a principal atração esportiva, no alto das montanhas, com uma religião predominante diferente do restante do país, entre outros fatores que sugerem um “isolamento”.

Vejam, por exemplo, o que o narrador das transmissões oficiais do Utah, David Locke, teve a dizer: “Numa nota oficial, sempre fui um fã de Enes. Conheço todos os seus defeitos, mas os aceitei e esperei que melhorasse. Mas ele se expôs tanto dessa vez que agora está sozinho, por conta. Nós o protegemos e cuidamos dele nos últimos anos e continuaríamos fazendo isso, mas agora ele está por conta”. Em tempo: Locke pode proteger alguns interesses do clube devido ao seu cargo, mas é um jornalista sensato, que não evita cobranças públicas e análises mais duras em tempos difíceis.

É justamente contra esse tipo de comunidade que você não quer ficar. Kanter deu de ombros e comprou a briga – resta saber se com plena consciência do que estava fazendo, ou se simplesmente sem se dar conta do péssimo timing para abrir o coração. Lembrete: sem Kevin Durant e Serge Ibaka, OKC e Russell Westbrook estão usando a reserva do tanque para garantir a oitava colocação da conferência.

Pois, naquela noite quente em Salt Lake City, tudo do que eles menos precisavam era uma cidade inteira querendo sangue. Sobrou cotovelo e empurrão para tudo que é lado na vitória do time da casa.

Westbrook e seus parceiros começaram o jogo em ritmo frenético, dando suporte ao turco. Do segundo período em diante, porém, intensidade dos enervados anfitriões prevaleceu. O Utah venceu o jogo por 94 a 89, mesmo que tenha acertado sofríveis 38,1% de seus arremessos e errado 23 de 29 chutes de três pontos. Por outro lado, forçaram 23 turnovers (contra apenas 11 cometidos) e cometeram 29 faltas. Foi um jogo feio, brigado, do jeito que desejavam, ao que parece.

Kanter somou um double-double, com 18 pontos e 11 rebotes, em 34 minutos, acertando 7 de seus 13 arremessos e deu dois tocos ainda – mas cometendo quatro desperdícios de posse de bola.

Pergunte, então, ao Trevor Booker, seu antigo reserva, o que ele tinha a dizer a respeito… “Ele conseguiu os números dele e também a derrota. Como sempre”, disse o ala-pivô.

Pow!

Essa foi a resposta mais ferina da noite – depois da vitória, claro. Mas tem muito mais. Gordon Hayward admitiu: “Ele nos deixou putos, honestamente. Queríamos essa vitória de qualquer maneira”. O mais engraçado foi que o novo astro da franquia se recusou a se referir ao turco pelo nome. “Todos nós ouvimos o que o ex-jogador falou.”

Rancor é pouco. “Virou muito pessoal para nós. Tentamos nos afastar desse tipo de coisa, mas dessa vez nos sentimos desrespeitados”, afirmou Trey Burke. “A quadra sempre fala melhor do que qualquer palavra”, disse Rudy Gobert, justamente o maior beneficiado pela saída de Kanter. Aliás, a ascensão do pirulão francês combinada com a troca de Kanter transformou a equipe em quadra. Esse fator, na verdade, é o que pega mais mal nas declarações de Kanter.

Westbrook, o técnico Scott Brooks, o ala Anthony Morrow e todos em OKC estão vendo de perto o potencial do pivô turco no garrafão, como cestinha e reboteiro. Ex-dirigente do Phoenix Suns, analista do ESPN.com, Amin Elhassan conta um pouco mais a respeito, dando bons argumentos que ajudam a entender o discurso do atleta. Em Utah, Kanter nunca pôde ser uma referência ofensiva no jogo interior, como seu pacote técnico pede. Primeiro, estava no banco de Millsap e Jefferson. Depois, a dupla com Favors, por incapacidade, ou não, de Tyrone Corbin, não teve uma química. Com Snyder no comando, sua principal função era espaçar a quadra – uma tarefa que, conforme notado agora, não lhe caiu bem, nem lhe apeteceu.

Acontece que o basquete não se resume a isso, a esses números básicos. Eles possam influenciar os rumos de uma partida ou de uma temporada? Sim, claro. Mas não podem ser tomados como única razão para investimento ou aclamação para um jogador – ainda mais um atleta que tem dificuldade para gravar e entender jogadas de ataque, em seu quarto ano como profissional.

O Thunder vai ter de fazer as contas certinhas ao final do campeonato para saber o quanto vale o turco, colocando na mesa suas contribuições estatísticas mais óbvias, e aquilo que ele subtrai nos meandros do jogo. Snyder, o gerente geral Dennis Lindsey e o vice-presidente Kevin O’Connor certamente estão contentes em ter passado esse dilema do mercado de agentes livres para a frente.

O que Enes Kanter fazia no ataque não compensava o que tirava na defesa. Com Gobert, foi o inverso

O que Enes Kanter fazia no ataque não compensava o que tirava na defesa. Com Gobert, foi o inverso

Desde que a rotação do treinador passou a ter Gobert como titular efetivo, enquanto seu ex-jogador conhecia um time de verdade, o Jazz se transformou na melhor defesa da NBA. Sério. E bem acima do Golden State Warriors, o segundo colocado. Sofrem apenas 93,3 pontos por 100 posses de bola. Sabe qual era a situação até a troca? Tinham a quarta pior defesa, com 106,1 pontos. Sem ele, perderam em eficiência ofensiva, mas nada que atrapalhasse a melhora do outro lado da quadra. Os reflexos você vem em quadra: desde a troca, a equipe venceu 13 de 20 partidas – aproveitamento de 65% que lhe colocaria nos playoffs.

Isso pode ter muito mais a ver com a mera promoção de Gobert e suas habilidades assustadoras, claro. Mas qualquer torcedor mais sério da equipe também vai testemunhar o quanto o pivô turco pode ser desatento e/ou lento para brecar um adversário. Derrick Favors tinha de se desdobrar para cobri-lo. São dois pontos indissociáveis. Até porque o Thunder piora sensivelmente na defesa quando com o jogador. Quando ele está em quadra, o time leva 110,8 pontos por 100 posses de bola. Sem ele, cai para 103,8. Tirando suas contribuições positivas no ataque, o saldo ainda é negativo.

Isto é: mesmo um Kanter empolgado, feliz da vida ainda não é um produto refinado ou decisivo – e nem pode ser considerado “um dos jogadores mais dominantes” de sua geração, como já bradou o seu agente. Se formos considerar apenas os atletas nascidos em 1992 e se trocarmos “mais dominantes” por “um dos melhores”, pode ser que, eventualmente, ele tenha razão. Agora, se formos expandir o conceito de geração para um ou mais anos e pensarmos na turma de 1991 e 1993 também, aí a coisa fica mais difícil, não importando o filtro (se mais dominante, ou dos melhores). Temos Anthony Davis, Andre Drummond, Kyrie Irving, Kawhi Leonard, Nikola Mirotic, Bradley Beal, entre outros. Competições de base da Fiba? Já faz tempo e nem tem como comparar com o que se produz na vida adulta.

De todo modo, não importa. Kanter não precisa ser um jogador de elite para dar suas entrevistas. Jornalistas e, na verdade, a NBA como um todo precisa de gente assim, que fale o que pense, o que sinta, em vez de adotar o discurso treinado de sempre. Serve para mostrar como as coisas são de fato.

Ainda mais fora dos Estados Unidos, nota-se uma idolatria desmedida aos caras e ao universo da liga, sendo que, nos bastidores, são várias e várias as histórias de problemas, desavenças, intrigas. Algo totalmente normal, já que estamos falando de um ambiente extremamente concorrido, competitivo.

Com o que o turco precisa tomar cuidado é apenas o fator de “quando” e “onde” falar. Em Salt Lake City, virou inimigo público.


Notas de um fim de semana de estrelas: parte 1
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Giancarlo Giampietro

Já é sábado, mas essas são notas sobre uma looooonga sexta-feira de puro amor basquete em Nova York, longe da Senhora 21 em pleno Valentine’s Day, mas ao lado de um monte de gente enorme, que te faz parecer totalmente insignificante. Sério: se quiserem passar o dia perto de jogadores de basquete, é preciso primeiro sentar no divã na véspera. Ou fazer um semestre de coaching. Cada um na sua.

Existe toda uma dificuldade logística que não permite que um blogueiro brasileiro atualize tudo em cima do lance, como pedem os tempos de 60/24/7/365. Os eventos são bem espaçados, a conexão sem fio nem sempre funciona etc. etc. etc. E as informações vão se acumulando. Coisa que não justifica um post único aqui para este espaço, mas que, juntas, podem valer alguma coisa. Então é hora de soltar algumas notas e impressões sobre o primeiro dia de atividades, hã, oficiais do All-Star Weekend da NBA:

– Num universo paralelo, a liga americana também está organizando, com ajuda da Fiba, mais uma edição do Basketball without Borders, o camp que reúne a garotada do mundo todo. Neste ano, são mais de 40 inscritos, vindo de mais de 20 países, incluindo dois brasileiros: o armador Guilherme Santos e o pivô Yuri Sena, ambos de 17 anos e do Bauru. Eles estão reunidos no ginásio do Baruch College, no Midtown nova-iorquino, cercados de olheiros por todos os lados. Segue abaixo um vídeo que dá um panorama da área de trabalho com treinadores:

Aqui está Guilherme, que chama a atenção por seu porte físico e capacidade atlética – mas ainda é muito cedo para tirar qualquer conclusão:

Guilherme trabalhando com armadores sob orientação de Jama Mahlalela, do Raptors

Guilherme trabalhando com armadores sob orientação de Jama Mahlalela, do Raptors

E aqui está um vídeo curtinho com Yuri, que lembra, e muito, seu irmão Wesley, que já recebe tempo de quadra aqui e ali pelo time principal bauruense. Dá para ver o tipo de exercício que ficam executando, até trabalhar movimentação de bola e se agruparem para coletivos ao final da sessão:

– O principal nome entre as dezenas de inscritos é a sensação croata Dragan Bender, que vai fazer 18 anos apenas em novembro. Então vale sempre a menção atenuante para termos como “principal” e “sensação”. De qualquer forma, o jogador de 2,13 m de altura chama, mesmo, a atenção. O modo como se movimenta com a bola é impressionante, para alguém de sua idade e pouca experiência. Está claro que ainda precisa fortalecer a base, para ganhar mais equilíbrio, mas tem potencial enorme. Já está sob contrato com o Maccabi Tel Aviv há quase um ano, num movimento inovador do gigante israelense, que vinha investindo pouco em jovens talentos. O Maccabi inclusive enviou seu gerente geral para a festa: Nikola Vujcic, compatriota de Bender que se consagrou como jogador da equipe israelense na década passada. Foi um craque, mesmo. Aqui está o reencontro dos dois gigantes croatas, rodeados por uma criançada do Maccabi, que assistia aos exercícios com muita atenção:

Uma lenda croata (d) e uma aposta do país, para se juntar a Saric e Hezonja

Uma lenda croata (d) e uma aposta do país, para se juntar a Saric e Hezonja

– O BwB começou com atraso, o que me impediu de acompanhar os coletivos até o fim. Tive de sair correndo em direção ao hotel que acolheu os protagonistas do fim de semana: os integrantes das seleções do Leste e do Oeste. Quando cheguei ao Sheraton, na Times Square, foi aquele choque pelo volume de profissionais de mídia presentes – como já relatei em texto sobre Tim Duncan. A NBA estima que 600 estiveram presentes para entrevistas nesta sexta. LeBron, Carmelo e Stephen Curry foram os mais concorridos, claro. Mas surpreendeu também o volume de gente em volta dos irmãos Gasol, cada um ao seu tempo (primeiro falou a turma do Oeste, depois veio a do Leste).

– Ah, sobre entrevistas… Foi engraçado notar que, em meio ao caos, a estação de Russell Westbrook até que estava bem tranquila. Na hora, imaginei: é por que ele não está falando nada. E foi isso, mesmo. Wess apelou a sua rotina de sempre, respondendo as perguntas mais pertinentes ou birutas com quatro ou cinco palavras. Isso quando não se limitava a dizer apenas “não”. Então, ao contrário do que aconteceu com Marc Gasol, ao menos era possível vê-lo. Não perdi tempo – e o respeito próprio, aliás – para me aproximar, mas deveria ter filmado a cena. #FailGeral

"Ambos os times executaram muito bem seus planos de jogo"

“Ambos os times executaram muito bem seus planos de jogo”

– Outro que atrai multidões: Rudy Gobert, com diversos franceses em sua cola durante os eventos em torno do jogo das estrelas ascendentes. Tanto em atividade descontraída na quinta, como no pós-jogo desta sexta. São muitos os jornalistas europeus credenciados para a cobertura, com poloneses, croatas e mais. Para os franceses, faz muito sentido, já que são dez seus representantes na liga americana. O Brasil, em compensação, com seis jogadores, tem, que eu tenha visto, apenas quatro jornalistas confirmados, sendo que três vieram a convite do Canal Space, como o caso deste blogueiro. A galera da Espanha, com cinco atletas, causa um alvoroço. Para constar.

C'est un monstre! Gobert encontrou diversos compatriotas na zona mista

C’est un monstre! Gobert encontrou diversos compatriotas na zona mista

– Por falar em Gobert… Mon Dieu! Se em quadra ele consegue intimidar um Mason Plumlee, imagine lado a lado na sala de entrevistas? O mais espigão do dia. Durante o jogo, proporcionou realmente excelentes momentos, com tocos assustadores, mesmo para cima de Mason P, um pivô de 2,11 m, ágil e experiente já. O jovem pivô francês veio para ficar, acostumem-se. Foi prudente da parte do agente de Enes Kanter abrir uma campanha para tirar o turco de lá.

– Imagino só um time de verdade com Exum, Wiggins, Giannis, Mirotic e Gobert, como vimos em alguns momentos nessa sexta. Nas mãos do Jason Kidd. Seria demais. Envergadura é pouco. Potencial para uma defesa sufocante – uma versão turbinadíssima do que o Milwaukee Bucks faz hoje –, além da versatilidade no ataque, com chute, arranque para a cesta, presença física no garrafão e muita velocidade. Afe.

– Zach LaVine é muito mais explosivo que Andrew Wiggins – e, ao que tudo indica, vai deixar sua marca no torneio de enterradas deste sábado. Mas a leveza como o canadense se desloca pela quadra é cativante. Parece que está andando sobre a água, flutuando na verdade.


 -Presenciamos também o momento histórico em que um integrante da família Plumlee dividiu a quadra com um Zeller. Os Plumlee, vocês sabem, são uma dinastia da Universidade de Duke, tendo o Coach K como conselheiro. Miles, Mason e agora o Marshall por lá. No ex-jogo dos novatos, Mason P, que é o filho do meio em seu clã, teve como companheiro o Cody Z, o caçula da outra gangue. Ficaria estranho, mesmo, se a companhia fosse de Tyler Zeller, que teve uma carreira produtiva pela Universidade de North Carolina – o ala-pivô do Hornets jogou em Indiana. Ao menos os deuses do basquete universitário nos pouparam dessa.

– Contagem de consumo até aqui:

11 viagens de metrô
1 corrida de táxi
1 carona de ônibus, com Rick Rox e Brent Barry, emperrado no trânsito
1 cheeseburguer (juro!)
4 donuts
8 chocolates quentes


Prêmios! Prêmios! Os melhores do Oeste antes do All-Star
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Giancarlo Giampietro

Estamos na fase de premiação, né? Logo mais o Boyhood deve, precisa, merece ganhar os prêmios mais importantes na cerimônia do Oscar. Bem longe do glamour de Hollywood, aqui na base do conglomerado 21, sediado na Vila Bugrão paulistana, é hora de olhar para o que aconteceu em mais de metade da temporada da NBA e distribuir elogios. Claro que elogios totalmente irrelevantes para os astros da NBA, mas tudo bem.

Fizemos o paupérrimo Leste nesta terça. Agora é a vez das enchentes do Oeste, no qual o Golden State Warriors aparece com chances de fazer a rapa:

Uma foto já com ar de clássica para um jogador que ainda vai dar muito o que falar

Uma foto já com ar de clássica para um jogador que ainda vai dar muito o que falar

MVP do Oeste Selvagem: Anthony Davis
Enquanto ainda vivemos o suspense em torno do New Orleans Pelicans – se eles vão conseguir, ou não, uma vaga nos playoffs –, não consigo apontar em outra direção que não para a espetacular monocelha de Anthony Davis. Existem aqueles que só toleram a ideia de eleger um Jogador Mais Valioso que defenda um clubes vitorioso, não? Pois nem mesmo estes podem virar a cara para o garoto de apenas 21 anos (sim, podem se assustar!), que barbarizou na temporada até aqui. Afinal, o Pelicans ainda está na briga por uma vaga nos mata-matas. Só não está garantido por jogar nessa conferência infernal. Isso já diz muito sobre seu talento.

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>> 30 times, 30 fichas sobre a NBA 2014-2015

Davis pode fazer quase tudo em quadra (proteger o aro, finalizar com maestria, chutar de média distância, atacar os rebotes, atropelar quem acha que pode bloqueá-lo etc.). E ele executa de modo impressionante, com plástica, inteligência e aproveitamento altíssimo – aliás, sustenta o maior índice de eficiência da história.  De qualquer forma, entendo: Stephen Curry e James Harden são opções absolutamente viáveis. Não precisa falar muito sobre eles, né? Curry lidera a melhor equipe da conferência, sendo um pesadelo no ataque (a partir do momento que cruza a linha central, as defesas precisam grudar nele) e também apresentando significativa melhora na marcação. Sem ele, o Warriors seria bem mais fraco. Porém, não dá para ignorar o baita elenco ao seu redor. Já o Sr. Barba está jogando o melhor basquete de sua vida, inclusive, acreditem, pressionando os adversários. Sem Dwight Howard, o Rockets tem campanha de 13-4. É um número impressionante que faz de Harden o vice nessa lista e que valeria, admito, como excelente argumento para destronar Davis. Howard vai ficar afastado por um mês, no mínimo. Dependendo dos acontecimentos, ao final do campeonato esse voto pode mudar.

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Escapou de Nova York

Melhor técnico: Steve Kerr
Terry Stotts, coitado, acaba ofuscado novamente, mesmo que ele tenha elevado o padrão de seu Portland. Dave Joerger conseguiu adicionar elementos interessantes para o ataque do Memphis Grizzlies, sem perder a intensidade defensiva, deixando a equipe muito mais equilibrada. O Doc Rivers executivo atrapalha a vida do Doc Rivers técnico, que faz ótimo trabalho mesmo sem ter um banco de reservas. São todos candidatos sólidos. Mas o impacto que Steve Kerr causou no Golden State Warriors supera tudo isso.

Sob sua direção, o time tem a defesa mais eficiente, o segundo melhor ataque. O que resulta no maior saldo de pontos (disparado, com 11,6 por partida, contra 6,9 do Atlanta e 5,3 do Memphis) e um aproveitamento sempre acima dos 80% no campeonato. Se compararmos o elenco do ano passado com o deste ano, as novidades são Leandrinho – que recuperou seu lugar na rotação e vem jogando muito bem, por sinal – e Shaun Livingston. Quer dizer: não foi no mercado de jogadores que o time se reforçou para dar esse salto. Mark Jackson fez um trabalho até que competente em elevar o senso competitivo do clube. Mas Kerr os colocou em outro patamar. Se fosse para se pautar exclusivamente pelos números, este é o grande favorito ao título.

Melhor defensor: Draymond Green
Green foi um baita achado para o Warriors no Draft e é uma das grandes forças por trás dessa maravilhosa campanha. Curry e Thompson ganham os holofotes com razão, mas este curinga, um verdadeiro pau-pra-toda-obra, é o cara que ajuda a dar a liga. No ataque, mesmo que converta apenas 33% de seus arremessos de três, ele conseguiu desenvolver a reputação de ser uma ameaça a ponto de abrir as defesas. Mas é do outro lado da quadra, mesmo, que ele causa para valer, marcando quem quer que Steve Kerr peça, incluindo os pivôs pesos pesados para as ocasiões em que Andrew Bogut estiver de molho. Com o australiano ao seu lado, fica mais solto para romper linhas de passe e brecar os oponentes no mano a mano, com a rara combinação de mais de um toco e um roubo de bola por partida.

O mais legal: Green faz isso tudo sem ser o jogador mais alto (listado oficialmente com 2,01 m), ou o mais ágil, ou quem mais salte. É tudo energia, força e, principalmente, visão de quadra. Sua ascensão cria um problema até: o passe já se valorizou bastante, e o Warriors pode ter dificuldades financeiras para segurá-lo. De modo que Andre Iguodala e David Lee se tornam descartáveis. Mas essas discussões ficam para depois: o time sonha com o título primeiro, e tem em Green um jogador vital para as batalhas dos playoffs. Outras alternativas: Marc Gasol (o de sempre em Memphis), Tim Duncan (idem em San Antonio), Tyson Chandler (ibidem em Dallas), Rudy Gobert (um freak) e Patrick Beverley (uma peste em Houston).

Green e Speights dão profundidade ao elenco do Warriors

Green e Speights dão profundidade ao elenco do Warriors

Melhor sexto homem: Marreese Speights
É, amigos, eu avisei: corria o risco de dar só Golden State. Entre todos os jogadores do Oeste que começaram um máximo de 15 partidas como titular, Isaiah Thomas e Jamal Crawford despontam como os cestinhas no Oeste, respectivamente com 15,7 e 15,4 pontos no momento em que fechei esse texto (sexta-feira). Não é nenhuma surpresa. Enquanto Spencer Haweks não encontra seu lugar em L.A., Crawford é o banco do Clippers. Já Thomas, com sua velocidade, ignora qualquer um que esteja em seu caminho para a cesta. Até mesmo os companheiros. Speights tem 12,3 pontos – mas com seis minutos e três arremessos a menos de quadra em média. O pivô também supera a dupla em índice de eficiência, ainda que Thomas o siga de perto que Rudy Gobert e Brandan Wright estejam acima na tabela.  Entre volume e eficiência, ele está no meio do caminho, ajudando a dar um descanso salutar a Andrew Bogut e mantendo o banco de reservas do Warriors com alto volume ofensivo, compensando também a baixa de David Lee por um bom tempo. Gobert, pelo modo como altera a retaguarda do Utah Jazz (mesmo com a ótima presença defensiva de Derrick Favors no time titular), e os dois arremessadores de Seattle são os principais concorrentes, além de um revigorado Beno Udrih em Memphis. Agora, um comentário que não acrescenta em nada: Speights pode fazer o que for em quadra, mas sua profissão, com esse nome, com aquela cara, deveria ser boxeador. E pronto.

Gobert, Wiggins (e Dieng entre eles): novíssima geração

Gobert, Wiggins (e Dieng entre eles): novíssima geração

Jogador que mais evoluiu: Rudy Gobert
Acho que, desde a Copa do Mundo, já deu para perceber o mais espigão dos franceses ganhou muitos pontos aqui no VinteUm, né? O pivô melhorou demais em Salt Lake City e forçou sua escalação pelo técnico Quin Snyder. Enes Kanter vai dançar nessa. Ainda em Utah, Gordon Hayward se tornou o líder e a referência ofensiva com que os torcedores e as meninas da cidade tanto sonhavam. Shabazz Muhammad reinventou seu corpo e virou uma máquina de fazer cesta dentro do garrafão com seus ganchinhos de canhota. Há um ano, muitos acreditavam que ele estaria na China a essa altura do campeonato.

Melhor novato: Andrew Wiggins
Não muito o que discutir aqui. O mais engraçado, mesmo, é que havia gente bem dividida antes de o canadense ir para a quadra: os que apostavam piamente em seus atributos atléticos, imaginando que seu amadurecimento técnico chegaria prontamente, enquanto, do outro lado, os avaliadores estatísticos questionavam bastante o potencial do ala, devido aos números que produziu em sua única temporada em Kansas. E como ele tem se saído até agora? Um pouco no meio do caminho, claro. Wiggins jogou dois primeiros meses de certo modo preocupantes, cometendo mais turnovers do que qualquer outra coisa e tendo dificuldade para acertar a cesta. Aí veio janeiro, e o ala alcançou a marca de 20 pontos em sete partidas, incluindo um recorde pessoal de 33 contra o Cleveland Cavaliers, o time que lhe virou as costas. Nesse mês, ele teve médias de 19,8 pontos, 4,6 rebotes, 2,5 assistências e 47,1% nos arremessos, contrariando qualquer previsão numérica. O suficiente para lhe colocar acima de Jusuf Nurkic, que vem sendo o calouro mais eficiente, mas não carrega responsabilidade similar em Denver. Porque é o seguinte: com adolescentes nunca é cedo demais para ser precavido. Se o que Wiggins produziu em Kansas ficou aquém ou acima, por exemplo, do que Tyreke Evans fez em Memphis, por exemplo, não quer dizer que seja um deles seja um fiasco. Cada um se desenvolve ao seu tempo.

Primeiro time
Chris Paul
Stephen Curry
James Harden
Anthony Davis
Marc Gasol

Segundo time
Damian Lillard
Russell Westbrook
Klay Thompson
Blake Griffin
LaMarcus Aldridge

Terceiro time
Mike Conley
Gordon Hayward
Kawhi Leonard
Tim Duncan
DeMarcus Cousins

Observações: Kevin Durant jogou muito pouco para entrar no primeiro time, embora ele seja do primeiro time de todo O Universo; a linha de frente no Oeste é ridícula a ponto de Zach Randolph ficar fora – posso ‘roubar’ um pouco ao escalar CP3 e Curry na mesma backcourt, mas mandar Z-Bo, Timmy e Boogie juntos na terceira equipe seria exagerar na dose, e a campanha do Spurs com Kawhi mostra o quanto o ala se tornou relevante por lá. DeAndre Jordan também fica fora, mas isso não quer dizer que não tenha seja um grande pivô, assim como Tyson Chandler. Monta Ellis é o motor do excepcional ataque do Dallas, mas prefiro optar por Hayward, que se transformou em tudo o que a torcida do Utah Jazz sonhava e acaba sendo o único atleta selecionado aqui cujo time perdeu (muito) mais do que ganhou.


Bronze inédito confirma: a França veio para ficar
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Giancarlo Giampietro

Após o título europeu, o bronze mundial. Sem sua principal estrela

Após o título europeu, o bronze mundial. Sem sua principal estrela

A terceira posição assegurada pela França nesta Copa do Mundo confirma: eles vieram para ficar. Foi um bronze inédito para os Bleus, um ano depois de eles terem conquistado o EuroBasket também pela primeira vez. Além da façanha em si de valer o pódio, a vitória deste sábado sobre a Lituânia, por 95 a 93, também tem um simbolismo especial para a estrutura do basquete francês, que, a despeito dos muitos desfalques, vê um trabalho todo coroado, mostrando que é mais do que um ou dois nomes.

Os cronistas esportivos estão todos muito habituados a se referir ao time de fulano de tal. A Alemanha de Dirk Nowitzki, o México de Gustavo Ayón etc. Em alguns casos, como no dos alemães, obviamente ainda é um caso. Não há meios de a Nationalfünf conquistar algum resultado de respeito, por ora, sem a presença de Nowitzki. Assim como a presença de Ayón permite que os mexicanos voltem a um Mundial depois de quatro décadas.

No caso dos franceses, por conta de tudo o que seu grande ídolo fez desde que chegou a San Antonio, seria normal se referir ao seu time nacional como algo que pertencesse a Parker. Foi com ele, mesmo, que subiram, ano a ano, de produção, para se colocar definitivamente entre os melhores do mundo neste biênio 2013-14. E, convenhamos, o cara joga demais. É um dos melhores armadores europeus da história, já. Com ausência do ligeirinho nesta Copa do Mundo, a maneira obrigatória de se referir a esta seleção pareceu a seguinte: “Ainda é um bom time, mas, sem Parker, vai ficar difícil”.

E foi difícil, mesmo. Mas competiram. Os caras perderam para o Brasil e a Espanha na primeira rodada. Suaram para bater Sérvia e, pasme, Irã e confirmar a classificação. Depois, fizeram um jogo equilibrado contra a Croácia pelas oitavas e se colocaram entre os oito melhores. Aí era a hora de encarar a Espanha, grande favorita do torneio ao lado dos Estados Unidos. Todo mundo estava pronto para dizer adieu, incluindo este blog que logo considerou o Brasil o quinto colocado da competição após a derrota para Sérvia. Mas, não: os franceses empurrariam os brasileiros um degrau abaixo ao chocar Madri, eliminando os anfitriões. Contra a Sérvia e a Lituânia, mais dois jogos duros, com uma derrota e uma vitória, e lá estava o bronze garantido para a galeria.

Diaw e seu ano perfeito: campeão europeu, bronze mundial e campeão da NBA. Contra a Lituânia, foram 15 pontos, 4 assistências, 2 rebotes e 2 roubos de bola em 33 minutos. Com muita visão de jogo, versatilidade, experiência e boa defesa, a influência do ala-pivô é enorme sobre o time, de modo que é até injusto batermos sempre na tecla de que Parker não foi para o torneio. Para mim, a ausência de Diaw seria igualmente significativa

Diaw e seu ano perfeito: campeão europeu, bronze mundial e campeão da NBA. Contra a Lituânia, foram 15 pontos, 4 assistências, 2 rebotes e 2 roubos de bola em 33 minutos. Com muita visão de jogo, versatilidade, experiência e boa defesa, a influência do ala-pivô é enorme sobre o time, de modo que é até injusto batermos sempre na tecla de que Parker não foi para o torneio. Para mim, a ausência de Diaw seria igualmente significativa para a química de sua seleção

Sem Parker, a França perde em força ofensiva, criatividade, obviamente. Mas mantém uma defesa muito chata, que incomoda demais. Foi pela defesa que eles nivelaram praticamente todos os jogos que disputaram no Mundial, especialmente contra a Espanha. Uma consistência que o time já trás do EuroBasket, isso para não falar das Olimpíadas de 2012.

O técnico Vincent Collet, no cargo desde março de 2009, tem muito mérito nisso, mas também pesa bastante a vasta gama de atletas da qual ele pode pinçar seus jogadores. O país tem, hoje, dez jogadores sob NBA que foram produzidos em sua categoria de base. Atentem que são, na verdade, 11 os franceses na liga americana quando incluímos Joakim Noah na relação. O pivô escolheu defender a nação de seu pai, mas nasceu nos Estados Unidos e se fez como atleta por lá, da mesma forma que o “gaúcho” Scott Machado.

Inglis: tem muita gente que julga ser um prospecto de muito potencial. O ala da Guiana Francesa tem 19 anos e foi selecionado pelo Bucks no início do 2º round do Draft. Não jogou a liga de verão de Vegas ao lado de Jabari e Giannis devido a esta lesão no tornozelo direito. Fica o aviso

Inglis: tem muita gente que julga ser um prospecto de muito potencial. O ala da Guiana Francesa tem 19 anos e foi selecionado pelo Bucks no início do 2º round do Draft. Não jogou a liga de verão de Vegas ao lado de Jabari e Giannis devido a esta lesão no tornozelo direito. Fica o aviso

Desses 10, temos gerações bem diferentes: Parker e Boris Diaw são de 1982. O caçulinha Damien Inglis, recém-draftado e contratado pelo Bucks, nasceu em 1995. Entre eles, aparecem Ronny Turiaf, de 1983, Ian Mahinmi, de 1986, Nicolas Batum e Alexis Ajinça, de 1988, Kevin Seraphin, de 1989, e Rudy Gobert e Evan Fournier, de 1992. Isto é, a produção é consistente – isso falando apenas dos atletas que estão hoje na maior liga do mundo.  Detalhe: apenas Turiaf usou algum estágio para ingressar na NBA, passando pela universidade de Gonzaga. O restante? Saíram todos diretamente de clubes franceses.

Podem entrar nessa conta da base muito mais nomes, como o ala-armador Nando De Colo, que acabou deixando o Toronto Raptors para defender o CSKA Moscou, que é de 1987. O armador Rodrigue Beaubois, depois de graves lesões, ainda sonha com um retorno, nasceu em 1988. Johan Petro, ex-Nuggets, Nets e Hawks, é de 1986. Os alas Yakhouba Diawara, que já atuou por Nuggets e Heat e recebeu sondagens este ano, e Mickael Pietrus, uma cacetada de times, se juntam a Parker e Diaw como de 1982. Mickael Gelabale, ex-Sonics e Wolves, é da turma de 1983.

Quer mais? Da atual seleção, o pivô Joffrey Lauvergne (1991) também já foi draftado pelo Denver Nuggets em 2013 e vem progredindo mês a mês na Europa, trocando o Partizan Belgrado pelo Khimki, da Rússia, para ganhar bem mais. Em breve, estará no Colorado. O ala-pivô Livio Jean-Charles (1993) foi selecionado pelo Spurs e joga pelo ASVEL, o clube do qual Parker é um dos donos.

Veja o tanto de gente E saiba que esta foi apenas uma passada rápida por aqueles nomes mais discutidos em cenário internacional, até por conta do vínculo que criaram com a NBA. Mas não dá para ficar sem falar dos armadores Thomas Heurtel e Antoine Diot (ambos de 1989) que substituíram Parker no Mundial e passou batido pelo Draft.

São muitos, mas muitos nomes para Collett filtrar. Entre possuir os nomes e formar uma grande equipe, são outros 500. Mas está claro que o pódio da França não é um acidente. A Espanha que se acostume com isso.

*  *  *

Batum foi espetacular nas últimas duas partidas francesas, marcando 62 pontos no total contra sérvios (35) e lituanos (27). Pegou fogo, acertando 10 de 17 arremessos de três pontos. Nas sete partidas anteriores, havia somado 69.

*  *  *

O legendário armador Bob Cousy, considerado o primeiro símbolo de sua posição nos tempos em que jogava com Bill Russell no avassalador Boston Celtics dos anos 50 e 60, tem ascendência francesa. Nasceu em Nova York, filho de imigrantes.

*  *  *

O ala Antoine Rigaudeau foi talvez o grande ídolo francês da geração que antecedeu a de Parker – prata nos Jogos de Sydney 2000 e cinco vezes o MVP da liga nacional. Ele é 10 anos mais velho que o armador, mas só foi se testar na NBA dois anos depois, em 2003. Sua passagem pelo Dallas Mavericks foi um desastre, porém. Aos 31, mal entrava em quadra: disputou apenas 11 partidas, com 17 pontos e 91 minutos no total. Dos 35 arremessos que tentou, acertou apenas 8. Maldosamente, ficou conhecido no Texas como Rigaudon’t (não, Antoine, por favor: não arremesse dessa vez).


Espanta-Gasol, Gobert mostra seu potencial pela França
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Giancarlo Giampietro

“Tamanho é uma das coisas que você não ensina.”

Que o diga o Pau Gasol, ele mesmo um gigante, depois deste encontro pouco amistoso com Rudy Gobert:

Ginga daqui, ginga dali. Gasol e seus movimentos belíssimos. Sobe para o ganchinho, e tome raquetada.

C’est un monstre!

Esse, sim, um toco que merece aplausos e te faz levantar da cadeira. Não só por ser em cima de quem foi, mas pela reação extremamente rápida desse imenso pivô francês, que fez uma partida inesquecível para ancorar a inapelável defesa francesa na vitória sobre a Espanha, pelas quartas de final da Copa do Mundo. A vitória que fez Madri chorar, mais uma vez. A equipe da casa acertou apenas 32,3% de seus arremessos, com a porta fechada na cara. Baita falta de modos!

Gobert contribuiu com apenas 5 pontos no ataque e um toco. Justamente o bloqueio acima, que você não vai cansar de ver. Mas apanhou, sozinho, 13 rebotes – um a mais que dois irmãos Gasol juntos. Esse já é um dado um tanto estarrecedor, mas aqui estamos diante de mais um caso em que a linha estatística definitivamente não conta toda a história. É de se perder a conta do tanto de arremessos que ele alterou ou inibiu durante um segundo tempo de batalha no garrafão.

Rejeitado! Gobert protege a cesta

Rejeitado! Gobert protege a cesta

O craque espanhol pode ter feito 17 pontos, e tal, acertando 7 de 12 arremessos. Um cara talentoso desses vai encontrar um jeito de pontuar e de te ferir em quadra, não tem jeito. Mas o jovem pivô francês ao menos segurou seu adversário abaixo de suas médias no torneio. Algo que nem mesmo um trio de veteranos e excelentes defensores como Splitter, Nenê e Varejão chegou perto de fazer.

E pensar que o rapaz talvez nem fosse jogar o Mundial, caso o técnico francês Vincent Collet pudesse contar com Joakim Noah, Alex Ajinça e, glup!, Ian Mahinmi. O grandalhão reserva do Indiana Pacers – atlético ao seu modo, é verdade – foi o último desfalque na linha de frente, abrindo caminho para Gobert. Acabou sendo uma benção.

No ataque, por enquanto, só enterrada

No ataque, por enquanto, só enterrada

A exibição mostra todo o potencial do jogadort – e também deixa claro para o Utah Jazz e o comandante da seleção francesa que a realização desse potencial está muito mais perto do que poderiam imaginar. Para quem acompanhou o espigão na Liga de Verão de Las Vegas e nos amistosos dos Bleus, a sensação foi essa, mesmo. O rapaz de 22 anos já estava anunciando um jogo desses. Azar da Espanha que tenha acontecido na sua casa, numa hora dessas.

Um salve, então, para os treinadores da franquia de Salt Lake City e da seleção francesa que o empurraram nessa direção. Um salve também o próprio pivô, que mal jogou no ano passado em sua campanha de novato, mas, pelo visto, aproveitou bem o tempo “livre” para evoluir consideravelmente. O francês foi escalado pelo técnico Tyrone Corbin em apenas 45 partidas, pouco mais do que a metade da temporada. Teve médias de 9,6 minutos, nos quais somou 2,3 pontos, 3,4 rebotes e 0,9 toco. Se você projetar esses números para 36 minutos, terá algo mais que razoável, registre-se: 8,6 pontos, 12,9 rebotes e 3,4 tocos; quer dizer, os flashes já estavam lá para serem notados.

(Aliás, cabe um parêntese endereçado aos jovem Bruno Caboclo: a ideia da gerência do Toronto Raptors e de sua comissão técnica é a de que o brasileiro vai ser muito mais trabalhado em treinos, particulares ou não, do que em partidas. Todo atleta gosta de ir para a quadra para valer, mesmo. Para o ala, porém, este começo vai ser de muita paciência,  e ele sabe, na verdade. Tem impressionado todos os seus treinadores com seu empenho. O importante aqui é notar que, seguindo o modelo de Gobert, se bem feito, esse tipo de trabalho pode render frutos, mesmo. Pode ser que a nota sirva para Lucas Bebê também, dependendo dos planos que o único clube canadense da NBA tem para ele).

Paredão Gobert: com os braços erguidos e os pés no chão, ele alcança algo como 2,91 m de altura. De chinelo, para dar um charme. Envergadura inerminável

Paredão Gobert: com os braços erguidos e os pés no chão, ele alcança algo como 2,91 m de altura. De chinelo, para dar um charme. Envergadura inerminável

Imagino a satisfação que o gerente geral Dennis Lindsey, do Jazz, deve estar tendo ao acompanhar a Copa do Mundo do pivô francês e todo o seu desenvolvimento. No nosso mundo de seres humanos baixinhos, pode-se realmente superestimar a importância de um pirulão de 2,13 m de altura para uma equipe de basquete. Diversos técnicos, dirigentes e torcedores já gastaram uns 3,5 milhões de anos-luz, contando por baixo, em trabalho ou sonhos com projetos desse tipo. Descobrir aquela girafa em uma fazenda no meio do nada e transformá-lo no próximo superpivô que vai dominar o mundo. Um atleta com o tamanho de Gobert, de envergadura interminável, que se mexa com reflexos tão ágeis, já teria vantagens consideráveis para se acertar em quadra.

Mas é difícil, né? Fabrício Melo, agora fora do Paulistano, está aí na luta, por exemplo.

O brasileiro trabalhou por alguns anos numa universidade de ponta como Syracuse, mas um time que trabalha quase que exclusivamente com a defesa por zona – e que, no ataque, não tinha muito tempo para desenvolver seu gigantão com a pressão de ter de competir em alto nível sempre. Quando o mineiro saltou para a NBA, tinha um porte físico impressionante, um senso de humor agradável, mas pouco além disso. Em termos de noções táticas e técnicas, estava bem aquém. Isso não foi o suficiente para desviar um caça-talentos respeitado como Danny Ainge de sua direção.

Um ano depois, porém, o Boston Celtics despachou o mineiro de Juiz de Fora. O Memphis Grizzlies nem quis saber, mesmo pagando o salário. O Dallas Mavericks foi atrás, para ver o que ele poderia oferecer, mas também o deixou passar rapidamente.  Há casos e casos. Existem aqueles que tinham o talento, mas se perderam por razões disciplinares, motivacionais, psicológicas e monetárias: (alô, Michael Olowakandi, Jerome James, Eddy Curry). Mas também são muitos os que simplesmente não se desenvolveram do modo que se esperava, seja por limitações próprias ou por treinamento falho. O torcedor deprimido do Seattle SuperSonics pode dizer algo nessa linha sobre Saer Sene, Robert Swift e Johan Petro. Enfim, são vários os nomes, e cada um vai ter o seu preferido.

Gobert, ao que tudo indica, deve passar longe dessa lista.

Algo para o qual, na disputa pelo bronze, Jonas Valanciunas será alertado. Enquanto isso, em Utah, é bom que Enes Kanter nem arranje muitos compromissos, que seus minutos podem estar a perigo. Gobert tem o tamanho que não se ensina e vem aprendendo os macetes que fazem a diferença entre se ter um poste no garrafão ou um verdadeiro paredão. O voto de Pau Gasol ele já tem.

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Uma curiosidade: Rudy Gobert e Raulzinho foram companheiros na Liga de Verão de Orlando de 2013, quando o armador também foi draftado pelo Jazz. O francês recebeu alguns passes açucarados da revelação brasileira. Ainda não será neste ano que os dois se reencontrarão em Salt Lake City. Quem sabe na temporada 2015-16?

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No ataque, Gobert ainda não faz muito mais coisa do que pegar a bola perto da cesta e cravar. Seus movimentos no mano-a-mano ainda são desengonçados, pouco efetivos. Do modo como influenciar uma partida na defesa, porém, ninguém vai cobrar que se torne nem mesmo uma referência de costas para a cesta.