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Arquivo : Danilo Siqueira

#NBADraft: os brasileiros em meio a legião estrangeira e muita névoa
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Giancarlo Giampietro

Simmons foi 'testado' pelo Sixers nesta terça. Já estava aprovado

Simmons foi ‘testado’ pelo Sixers nesta terça. Já estava aprovado

O Draft da NBA, nesta quinta-feira, é o último capítulo da liga antes de o calendário virar para temporada 2016-17. Este é o momento da turma do fundão brilhar e se encher de esperança. No caso, o Philadelphia 76ers e Los Angeles Lakers, que, segundo a previsão geral, vão selecionar supostos futuros All-Stars: Ben Simmons e Brandon Ingram, respectivamente.

De acordo com Chris Haynes, repórter do Cleveland.com, Simmons já foi informado pelo Sixers de que será a primeira escolha da noite. Haynes  é bastante ligado aos cupinchas de LeBron James, entre eles o agente Rich Paul – o mesmo do prodígio australiano. Por algumas semanas, havia um certo suspense e a possibilidade de o time de Philly ir ao encontro de Ingram. Desde a mudança no comando do clube, com a chegada de Bryan Colangelo, as especulações todas voltaram a apontar para Simmons. Cá estamos.

E aí que o magrelo Ingram vai sobrar para o Lakers em segundo lugar, algo sobre o que a família Buss não pode reclamar de jeito nenhum. Não só o talentoso ala pode se tornar um desses talentos versáteis, cestinha e defensor, como o clube corria sério desse recrutamento de calouros sem nenhum dos dois. Só lembrarmos que, se escorregassem na lista geral, sua escolha seria endereçada também ao Sixers.

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No ano passado, boa parte dos especialistas e dos scouts da liga imaginava que a franquia angelina escolheria Jahlil Okafor como o segundo do Draft, e aí due D’Angelo Russell. Então nunca se sabe. Nas últimas semanas, Mitch Kupchak organizou testes com outros calouros bem cotados, como o ala-pivô Marquise Criss, o ala Buddy Hield e o pivô Skal Labissierre, entre outros. Qualquer uma dessas opções seria uma baita surpresa, porém. A ESPN também á crava que a escolha está definida.

De resto, o que vem por aí?

Brasileiros
Assim como no ano passado, não há candidatos oriundos do NBB ao Draft. Lembrando aquela regrinha básica: só se declaram disponíveis aqueles atletas considerados “underclassmen”, aqueles que não pertencem à classe de dos atletas que participam automaticamente do recrutamento. No caso, qualquer jogador estrangeiro que esteja completando 22 anos em 2016 e os universitários que estejam se graduando nesta temporada.

Deryk mostra serviço na Europa

Deryk mostra serviço na Europa

O pivô Wesley Sena havia sido o único brasileiro – e sul-americano – a se declarar para o Draft, para forçar sua entrada no radar da liga. O plano do agente Alexandre Bento, em parceria com Aylton Tesch, era levar o jogador para o adidas EuroCamp, realizado entre os dias 10 e 12 de junho, em Treviso, na Itália. A partir do momento que o Bauru estendeu as finais do NBB contra o Flamengo até o quinto e último jogo, porém, sua viagem ficou inviabilizada. Sem exposição nenhuma aos olheiros, que compareceram em menor número ao país nesta temporada, não fazia sentido, mesmo, seguir no processo.

Em Treviso, todavia, se apresentaram dois brasileiros da classe de 1994, a classe estrangeira automática: Deryk Ramos, armador que causou sensação pelo Brasília, e Danilo Siqueira, ala-armador que não deu um grande salto durante o campeonato, mas segue como um dos talentos mais promissores dessa geração. Outro atleta que tem sido investigado é o pivô Leonardo Demétrio, revelação do Mins Tênis, agora no Fuenlabrada, da Espanha, também dessa mesma fornada.

Deryk teve rendimento superior, ganhando menção honrosa dos organizadores do camp entre os destaques do evento, como o melhor defensor. Faz parte do estilo agressivo do armador, com a bola e em cima dela, botando pressão nos adversários. Nos testes atléticos, também foi bem, especialmente nas medições de velocidade e impulsão.

Mas o que os scouts acharam? Consultei cinco profissionais que estiveram na pequena cidade italiana para ver tudo de perto. O rescaldo é que a dupla não impressionou tanto assim, pelo menos não como prospectos de NBA no momento. Não foram realmente as respostas mais animadas da turma que representava clubes americanos por lá. Entre os três olheiros com quem conversei e que são dedicados exclusivamente a franquias da liga, todos da Conferência Oeste, apenas um se mostrou entusiasmado. “Ramos foi bem. Eu diria que ele ajudou sua cotação. Mas ambos são bons prospectos para a Europa”, disse.

É isso. O ginásio também estava cheio de olheiros de clubes europeus. Não impressionar a turma da principal liga do mundo não significa o fim do mundo. Até porque foram apenas três dias de exposição, e nenhuma carreira se define ou se resume em 72 horas. O EuroCamp serve apenas para atiçar a curiosidade desses observadores. “Ei, é só lembrar que a grande maioria dos caras que estavam lá não são endereçados para a NBA. Então isso é normal. Eles não estão entre os melhores prospectos do Draft. Mas se conseguirem alguma proposta da Espanha ou Itália, deveriam aceitar na hora”, afirmou um olheiro ao blog, que é mais dedicado ao mercado do Velho Continente. “Fuzaro não foi bem, não cuidou muito bem da bola e não encontrou sua função em quadra. Mas gostei de Ramos. Ele mostrou que pode ser uma encrenca em quadra, jogando bastante duro e chegando ao aro driblando”, completou.

Seria uma surpresa ver algum desses brasileiros selecionados. Mas já vimos coisas mais malucas acontecerem em um Draft, como o caso de Bruno Caboclo em 2014, que derrubou a transmissão da ESPN. Num episódio mais bizarro, lembremos sempre do congolês naturalizado catari Tanguy Ngombo, que foi selecionado pelo Wolves no 57º lugar de 2011, um posto depois do inesquecível Chukwudiebere Maduabum, o “Chu Chu”. Acontece que o ala estava registrado como Targuy Ngombo, com idade considerada suspeita. Em vez de 22 anos, ele o ala teria 27 (!) anos e nem poderia mais ser participar do processo. E quer saber do que mais? O número 60 naquele ano foi Isaiah Thomas. E 59º, saiu o húngaro Adam Hanga, que se transformou num dos melhores defensores de perímetro na elite europeia. Saca? É essa loucura toda.

O Draft é complexo, envolve muitos interesses para além da composição de um elenco. Deryk, Danilo e Leonardo são representados, internacionalmente, por grandes agências. Então nunca se sabe. A segunda rodada está aí para ser preenchida, embora a concorrência entre os estrangeiros seja particularmente acirrada (mais sobre isso alguns tópicos abaixo).

*   *   *

Enquanto retornava de Treviso para São Paulo para se reintegrar à seleção brasileira que se prepara para o Sul-Americano, Deryk, que está sem contrato no momento, encontrou tempo para responder algumas perguntas do blog. Como sempre, o jovem de 22 anos mostra muita personalidade, com otimismo e confiança. Características tão como ou mais importantes que seu arremesso e rapidez para o futuro:

21: O que você achou do nível de competição no geral e em sua posição? O que deu para aprender por lá?
Deryk: O nivel do Eurocamp estava muito bom, tinha muitos jogadores com grande futuro. Na armação não era diferente. Realmente foi uma experiência muito proveitosa. É sempre bom você analisar o nível em que está, ter desafios novos, jogar com e contra jogadores que nunca viu na vida. Isso te faz amadurecer, evoluir. Sem contar a presença de muitos técnicos de times da NBA: vivenciar e ser comandado por eles é algo muito motivador.

O que você acha que conseguiu mostrar de melhor do seu jogo e o que acha que poderia ter saído melhor?
Fui lá com o objetivo de imprimir meu jogo. Não iria forçar uma situação com a qual não estou acostumado, nem querer mostrar algo que não tenho. Acho que essa é a melhor forma pra se aproveitar essas experiências! Com o passar do tempo, jogar de pick com o pivô e laterais em alguma situação passou a ser meu forte, e lá consegui imprimir bem esse tipo de jogada e colocar meus companheiros numa boa posição de ataque, além de estar envolvendo todos eles, que é o principal papel de um armador. Também é muito importante imprimir um ritmo forte na defesa. Sobre melhorar, sempre busco muito isso, me cobro muito sobre qual seria a melhor escolha, melhor opção ofensiva em cada momento do jogo, além de alguns turnovers. Sou sempre muito critico nesses aspectos.

O quão difícil é chegar por lá e jogar com é contra muitos jovens atletas que estava vendo pela primeira vez?
Realmente isso não é algo muito comum, e  no começo acaba tendo alguns desentendimentos dentro do jogo, pela falta de entrosamento, o que eh natural. Mas, apesar disso, acho que a adaptação minha foi bem rápida. Por se tratar de basquete – é sempre um só –, e por estar do lado de vários jogadores bons, tanto em quadra como pessoas, fica mais prazeroso e fácil.

Para a próxima temporada, planos definidos?  Segue em Brasília ou pensa em tentar um contrato já fora do Brasil?
Não tenho nada definido. Realmente procuro deixar as coisas acontecerem. Sobre Brasília, estamos em negociação. Agora, não tenho duvida nenhuma que meu sonho é jogar fora do Brasil, mas vou deixar as coisas fluírem naturalmente.

Tudo embolado

Bender tem tudo para liderar a Croácia a pódios no mundo Fiba

Bender tem tudo para liderar a Croácia a pódios no mundo Fiba. Um dos gringos bem cotados, mas sem ser unanimidade

A frase do momento é a seguinte: o Draft começa a partir do terceiro lugar, com o Boston Celtics, considerando que Simmons e Ingram já estão garantidos como os dois primeiros. Aí, rapaziada, está praticamente impossível de prever qual será o desenvolvimento desse recrutamento. O Celtics estaria interessado em cinco candidatos. Mas a prioridade de Danny Ainge, na real, é montar um pacote em torno desse terceiro posto para tentar uma troca por um veterano que possa chegar a Boston para fazer a diferença de imediato. Phoenix Suns, Sacramento Kings, Denver Nuggets e outros clubes também estariam interessados em sair da loteria do Draft, também de olho em jogadores preparados.

Fora a possibilidade de trocas, outro fator deixa o processo mais nebuloso: os principais prospectos não conseguem se distanciar entre si. Há um segundo pelotão totalmente abarrotado, por exemplo, com os armadores Kris Dunn e Jamal Murray, os alas Buddy Hield e Jaylen Brown e os alas-pivôs Dragan Bender e Marquese Chriss. O mesmo empastelamento continua por toda a primeira rodada. Na verdade, há quem diga que um atleta selecionado em 42º pode ter o mesmo nível daquele em 20º. Isso faz os times com escolhas tardia sorrirem (alô, San Antonio, Golden State…), mas também deixa os times do top 20, 25 mais susceptíveis a buscarem trocas também.

Legião estrangeira
Os gringos contra-atacam! Menosprezados por anos e anos, os prospectos internacionais voltam a chamar a atenção dos scouts, apoiados por uma safra bastante frágil local e também pelo impacto que Kristaps Porzingis causou em Nova York. Segundo a projeção do DraftExpress desta quarta de manhã, 14 atletas de clubes europeus estariam entre os 60 selecionados, com destaque para Bender, que, na minha modesta opinião, deveria ser selecionado pelo Celtics ou pelo Suns em terceiro ou quarto. Se você contar os jogadores estrangeiros que estiveram em ação pela NCAA, vai passar dos 25 nomes, incluindo o australiano Simmons e o canadense Murray, que enfrentou a seleção brasileira na final do Pan 2015.

Acúmulo de riquezas
Vocês já sabem: o Boston Celtics tem oito escolhas neste Draft, sendo cinco na segunda rodada. O Philadelphia 76ers também tem três escolhas na primeira fase, assim como o Denver Nuggets, que tem cinco no total, e o Phoenix Suns, que tem quatro. Juntos, esse quarteto concentram 20 postos, ou 1/3 de todo o recrutamento. aja WhatsApp, Skype e afins para dar conta de tanta conversa.

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Boi na linha: as novas espanadas de Magnano após pedidos de dispensa
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Giancarlo Giampietro

Ruben Magnano, Brasil, CBB, técnico, seleção

Deu boi na linha, gente. Como sempre.

Depois da conquista do Pan e de um breve momento para respiro — e alívio — pela vaga olímpica, a seleção brasileira reuniria a turma campeã para encarar uma Copa América muito interessante, pelo simples fato de esse time poder ser testado contra adversários muito mais fortes, jogando sem pressão alguma.

O grupo não será o mesmo, todavia, devido ao pedido de dispensa de Larry Taylor e Rafael Hettsheimeir. Sinceramente, não via problema algum em relação a esses desfalques. Afinal, Rubén Magnano já deve saber, nos mínimos detalhes, o que o armador do Mogi e o pivô do Bauru podem oferecer, ou não, à seleção. Já foram testados, avaliados nos mais diversos níveis. Além disso, era a chance de ver em ação Deryk, Danilo e talvez mais algum jovem pivô, quiçá Lucas Mariano — o que não aconteceu, com a convocação um tanto deslocada de Giovannoni.

Acontece que, para o treinador, a saída dos atletas não pegou nada bem. Em entrevista ao repórter André Sender, da Gazeta Esportiva, o argentino voltou a espanar ao lidar com um tópico recorrente na hora de se montar a equipe nacional. Não bastava ele se dizer “surpreso” uma vez, por exemplo. Não, em suas palavras, ele ficou “muito, muuuuuuito surpreso” com o que aconteceu. Não é a primeira vez que ouvimos essa história, e nem mesmo a segunda. Está mais para quinta, sexta vez em que atletas e clubes dão uma versão e o treinador e a seleção, outra.

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Nessa história toda, ao conflitar todos os discursos, o que fica claro em meio à confusão é que falham todos.

Os clubes não ajudam, de fato. Se há o interesse de segurar um jogador, recém-contratado ou não, jovem ou veterano, qual o problema de expressar isso à confederação, ao treinador ou ao seu torcedor? Como no caso de Mogi e Larry. O armador tinha uma contusão para ser tratada, e o clube alega que queria supervisionar o processo, embora a comissão técnica da CBB diga que não fosse nada grave — ele já está jogando normalmente pelo Campeonato Paulista, aliás. Por que esperar o fogo cruzado de críticas públicas do treinador da seleção e a matéria do companheiro Fábio Aleixo, aqui do UOL Esporte, para, aí, emitir nota oficial tentando explicar o que estava acontecendo? A apuração de Aleixo também indica que o clube também estava um tanto ansioso para colocar o norte-americano, uma grande contratação, em quadra. Numa temporada muito longa de seleções, com Pan e Copa América, não deixa de ser compreensível esse anseio. É a mesma discussão que, no futebol, acontece mensalmente a cada convocação de Dunga, gente.

Sabemos bem que o ato de se pedir dispensa da seleção brasileira é um tema ainda bizarramente espinhoso no basquete nacional. Nesse contexto, se o clube tinha alguma preocupação em preservar a imagem de seu jogador, deveria ter se antecipado e assumido essa bronca. Não fizeram, e, depois da ofensiva de Magnano, Larry se sentiu impelido a esclarecer que não foi sua a decisão pelo desligamento e que estava “triste” por isso. “O clube pediu para eu me tratar lá. Fiquei triste, pois era uma coisa que não queria ter feito. É um direito do clube. Por mim eu teria continuado lá. Mas acabou se criando esta situação. Conversei com o Magnano e com a comissão técnica e disse que queriam que eu voltasse para Mogi”, afirmou.

Larry Taylor, Mogi, reforço, NBB

Da parte dos jogadores, de todo modo, também falta transparência e firmeza, convenhamos. Larry, mesmo, poderia ter aberto o jogo antes, embora estivesse numa situação delicada em relação ao clube, sendo o elo mais fraco da história. No caso de Rafael, apenas uma nota oficial, sem maiores detalhes, foi emitida pelo atleta quando ele optou por abrir mão da convocação. Soube, depois, que o pivô tinha uma questão particular, de saúde particular, para ser resolvida, que realmente demandava sua seleção para além dos treinos com a seleção ou um eventual teste para um clube da NBA de que fala Magnano, forçando sua estadia em Bauru.

O que não impediu que o treinador da seleção desse sua alfinetada. “Ainda estou esperando uma resposta, uma ligação, sobre a situação. Ele disse que faria um teste na NBA, mas ainda não deu respostas porque perguntei ‘quando é essa prova? Onde é essa prova?’ para tentar coordenar a possibilidade de ele voltar e jogar a Copa América”, relatou o técnico. Ao que o pivô respondeu: “Já conversei com o técnico e expliquei minha situação. A dispensa foi por motivos pessoais e já acertei isso com ele”, disse o pivô, via comunicado, à Gazeta.

Uma fonte próxima dessa situação assegura que o argentino tinha total ciência sobre os motivos para Hettsheimeir dizer que não poderia jogar o torneio continental e que, com suas declarações, estaria “jogando para a torcida”. Ele não estaria necessariamente mentindo, mas omitindo algumas informações em seu discurso para mandar seu recado aos atletas e à nação — e até para manter uma certa coerência com a chiadeira de verões passados. São os ecos de 2013, quando o argentino cuspiu marimbondos depois de campanha vexatória pela Copa América. Na ocasião, generalizou em seu desabafo e acabou atingindo muita gente.

Se Magnano se sentia obrigado a reforçar a mensagem de comprometimento com a seleção, especialmente a um ano das Olimpíadas em casa, talvez houvesse outro meio de fazê-lo. E aí chegamos à CBB, que, supõe-se, deve estar a par do desgosto de seu treinador pelas dispensas e de sua necessidade de se posicionar a respeito. Nesse caso, a entidade não poderia ter assumido o controle do processo e externado essa preocupação e lamentação, mas por outros canais, de preferência mais diplomáticos?

Hã… Sim, claro. Mas esta é a CBB, mesmo. A confederação desacreditada e endividada que não sabe o que é assumir uma posição firme há tempos. Além do mais, internamente, não há quem possa peitar Magnano por lá. E aí o argentino volta a roubar a cena, mas não do modo como o basquete brasileiro espera.


Porto Rico vence Brasil: notas sobre o amistoso
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Giancarlo Giampietro

Balkman, sempre dando trabalho à defesa brasileira

Balkman, sempre dando trabalho à defesa brasileira

A Copa Tuto Marchand é um evento meio estranho. Tem estatísticas da Fiba, nome de torneio, banca de oficial, mas não passa de um conjunto de amistosos que serve para seus participantes dar uma espiada nos adversários às vésperas de uma Copa América, embora todos saibam que nem tudo está sendo mostrado. Só uma coisa ou outra. Pegue a partida entre Brasil e Porto Rico pela primeira rodada desta edição 2015, neste domingo. Em um pedido de tempo no quarto período, com o jogo praticamente descarrilado já, Rubén Magnano abriu espaço para Gustavo de Conti passar uma jogada. Planejaram uma conexão direta em ponte aérea. O tipo de jogada para buscar uma cesta decisiva ao final da partida. Não deu certo, mas era uma cartada ali.

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Esse é um exemplo de situação que mostra como essas partidas em San Juan não devem ser levadas muito a sério, e não só pelo fato de a seleção ter sido derrotada pelo time da casa por 79 a 66. De qualquer forma, os jogos apresentam alguns indícios. Sem TV para registrar os acontecimentos, o canal oficial para se acompanhar o torneio é a LiveBasketball.TV, pagando por assinatura. Com base no que pudemos ver contra os porto-riquenhos, seguem algumas notas.

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Foi uma partida beeeem diferente em relação ao que aconteceu no Pan-Americano. Porto Rico jogou com muito mais pegada e estrutura, já devidamente influenciado por Rick Pitino. Imagino o célebre técnico da Universidade de Louisville tenha usado a surra histórica que a equipe tomou em Toronto a seu favor para pilhar seus atletas — e também para amainar um pouco o orgulho ferido. Os brasileiros conseguiram fazer apenas três pontos de contra-ataque, diante de uma defesa em transição muito atenta. Foi claramente uma prioridade para o treinador que é um mestre nesse tipo de lance.

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É preciso dizer que, a despeito do desfalque de José Juan Barea, John Holland e Maurice Harkless — supostamente o trio titular no perímetro –, esta já era uma seleção porto-riquenha também distinta daquela de semanas atrás, especialmente pela presença sempre energética de Renaldo Balkman no quinteto titular. O cabeleira é uma figura muito influente quando o basquete Fiba está em quadra.

Balkman deu muito trabalho a qualquer defensor que estivesse à sua frente. Com agilidade e vigor, passou facilmente por Giovannoni e Olivinha, para acumular 16 pontos, 4 rebotes, 3 assistências, 2 roubos de bola e 2 tocos em 26 minutos, batendo seis lances livres. Ele basicamente fez o que quis em quadra, iludindo os brasileiros com fintas para um chute suspeito do perímetro. Botava a bola no chão, e aí era um abraço, com ataques rápidos em direção à cesta. Fora da rotação, Marcus Toledo não teve a chance de bater de frente com o veterano. Seria um duelo muito interessante.

Esse aspecto de rapidez e velocidade chamou a atenção: mesmo quando o ala-pivô ex-Knicks e Nuggets estava no banco, os caribenhos em geral tiveram o time mais leve em ação, com Devon Collier e Ramon Clemente também prevalecendo em seus movimentos. Concentrando-se em propósitos defensivos, é provável que Rafael Mineiro tenha de ficar mais tempo em quadra durante a Copa América, ao lado de Augusto.

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Augusto Lima, do outro lado da quadra, fez das suas. Sem Daniel Santiago e Peter John Ramos, Porto Rico tem alas-pivôs móveis, mas pode enfrentar dificuldade na hora de proteger a cesta na busca por uma vaga olímpica, pelo menos a julgar por esta partida. Tanto o pivô do Murcia, extremamente atlético e voluntarioso, como JP Batista, mais lento, mas inteligente em seus cortes e com excelente munheca, se deslocaram muito bem pela área pintada e pontuaram com eficiência perto da tabela, enfrentando pouca resistência na cobertura. Foram 14 pontos e 4 rebotes ofensivos para Augusto, em 17 minutos (6-11 de FG) e 18 pontos em 20 minutos para João Paulo (com 8-12). Foram os dois jogadores mais lúcidos do Brasil.

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Os dois pivôs brasileiros tiveram atuação eficiente e arriscaram juntos 35% dos arremessos da seleção e tiveram boa assessoria da turma de fora.  No geral, porém, o time não movimentou bem a bola. Foi um nível bem abaixo de rapidez em relação ao que vimos em Toronto, isso é certo. E aqui não estamos falando só de contra-ataque, de transição. Mas de ritmo de jogo, mesmo, de movimentação de bola. É nesses detalhes — e, não, nos números — que vocês devem notar a diferença que um armador com a cancha e vocação de passe de Rafael Luz pode fazer, gente.

Parte disso se justifica pela postura mais combativa dos caribenhos, claro. Outra parte da resposta vem do fato de Magnano ter promovido uma rotação claramente alternativa, na qual Rafael jogou apenas oito minutos, Benite ficou com 17, enquanto os caçulas Deryk Ramos e Danilo Siqueira jogaram, respectivamente, 15 e 16 minutos. Mas por vezes os atletas parecem muito acomodados e confiantes em dar a bola para Marquinhos e deixar o veterano ala resolver as coisas em jogadas individuais. Isso já havia acontecido bastante nos amistosos em Brasília e não é saudável.

Não que o ala flamenguista não tenha bola para isso. É difícil encontrar um marcador no mundo Fiba que consiga freá-lo quando ataca a cesta. De toda forma, quando servido em movimento, em progressão em direção ao aro, ele fica ainda mais perigoso. Essa é uma opção para finais de jogada, lances mais apertados, claro. Talvez a preocupação aqui seja dar mais ritmo a Marquinhos, que está voltando de férias. Não à toa, foi o brasileiro que mais jogou, com 27 minutos (sete a mais que JP). Quando o torneio para valer começar, espera-se que o ala esteja mais entrosado e afiado. Com seu pacote de mobilidade, altura, visão de quadra e habilidade, é uma peça mais que bem-vinda, que cai como uma luva, caso a equipe repita o padrão de jogo que a levou à conquista do ouro na metrópole canadense.

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Outro ponto a ser considerado no ataque: , Giovannoni, Olivinha e Marquinhos vão precisar acertar seus disparos ou ao menos representar alguma ameaça nesse sentido. Do contrário, o espaçamento de quadra vai para o buraco, e os ângulos de infiltração serão tapados. De modo que as defesas poderão se dedicar muito mais à fiscalização de Benite, deslocando adversários para cobrir sua trilha longe da bola. Goste-se ou não de ver Rafael Hettsheimeir chutando de três pontos, o fato é que um pivô com chute hoje faz parte integral do plano tático de Magnano.

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Entre os mais jovens, Danilo teve seus momentos. Sua primeira passada é algo que pode ser explorado mais em movimentações fora da bola, ou em ataques após as tradicionais parábolas pelo fundo da quadra. Pode render bem como reserva de Benite, mostrando visão de jogo para distribuir a bola. Deryk foi um pouco mais comedido. Melhorou bem no segundo tempo, procurou buscar a bola em rebotes longos para tentar dar um pouco mais de velocidade à transição ofensiva, mas não conseguiu quebrar a primeira linha defensiva de Porto Rico, terminando com quatro assistências e quatro turnovers. Merece mais chances, de qualquer forma, contra Canadá e Argentina.

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No primeiro jogo da noite, a jovem seleção canadense, cercada de imensa expectativa, venceu os argentinos por por 85 a 80. Foi também um duelo de altos e baixos. Facundo Campazzo  ficou fora de um lado e Corey Joseph do outro. Sem o tampinha, a equipe de Sergio Hernández perde em velocidade e criatividade, dependendo ainda mais dos veteranos e infalíveis Scola e Nocioni. Os campeões olímpicos marcaram 23 pontos cada, em 57 minutos. Nicolás Laprovíttola anotou 16 pontos e deu 4 assistências, em 31 minutos. O caminho para os hermanos é ter o barbudo ex-Fla, agora no Lietuvos Rytas, ao lado de Campazzo. Do lado do Canadá, a linha de frente titular teve Anthony Bennett, que fez ótimo Pan, ao lado de Kelly Olynyk, o jogador de NBA deles mais experiente em competições Fiba. Andrew Wiggins marcou 18 pontos em 26 minutos.


Temporada brasileira começa com urgência no desenvolvimento de talentos
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Giancarlo Giampietro

Georginho já está de volta à LDB e agora ao time adulto do Pinheiros

Georginho já está de volta à LDB e agora ao time adulto do Pinheiros

Antes de embarcar para os Estados Unidos e iniciar seus treinamentos para os Estados Unidos, aquele veloz garoto estava impressionando a todos aqui no Brasil. Leandro Mateus Barbosa ralava de igual para igual com veteranos da seleção. Ralava? Esqueça: aos 20 anos, o armador já era um dos melhores jogadores do país, com média de 28,2 pontos por partida, abaixo apenas de um Mão Santa e acima de Charles Byrd, Rogério, Vanderlei e outros da velha guarda. Isso foi em 2003, ano em que o ligeirinho se candidatou ao Draft da NBA.

Era uma época diferente. Hoje, a partir do momento em que um jogador se declara para a liga americana, entra forçosamente no radar de todos os clubes (sérios). Ainda é possível que aconteça um caso como o de Bruno Caboclo, que foi tratado até mesmo com certo desdém no momento de sua inscrição no ano passado para, depois, a menos de um mês antes do evento, gerar um pandemônio na busca por informações. Acho que nunca telefonaram tanto para o Brasil. Há 12 anos, Leandrinho precisou usar o circuito de treinos privados com os clubes para fazer seu nome nos Estados Unidos, jogando duro para valer, a ponto de tirar Dwyane Wade do sério em um teste pelo Memphis Grizzlies, para deleite de Jerry West.

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Agora isso já é quase impossível. Estar no radar da NBA significa ser escrutinado pelos olheiros. Esses caras querem assistir ao garoto máximo que puderem, seja na ‘fita’, ou, de preferência, in loco. Neste ano, a revelação mais estudada foi o armador Georginho, do Pinheiros, que, sob muitos aspectos, remete a Caboclo como prospecto: muito jovem (nascido em 1996), atributos físicos impressionantes e o tanto de projeção que se pode fazer a partir daí. Os olheiros vieram para cá para conferi-lo de perto, para que não se repetisse a loucura do ano passado, para que seus clubes não fossem pegos desprevenidos. Foram pelo menos dez franquias na área. Desta forma, passaram a conviver com outras dezenas de garotos daqui e com a LDB como um todo. Os que não cruzaram a linha do Equador tiveram a oportunidade de ver George em quatro cenários diferentes: o Nike Hoop Summit, o Draft Combine, o adidas Eurocamp e workouts particulares. Lucas Dias, Humberto Gomes e Danilo Siqueira foram os outros que se inscreveram e também passaram pela lupa, mas com menos exposição lá fora.

O Leandrinho de 20 anos: segundo cestinha brasileiro e pouco avaliado pelos scouts

O Leandrinho de 20 anos: segundo cestinha brasileiro e pouco avaliado pelos scouts

Todos eles foram avaliados, no fim, mas preferiram adiar o sonho de encarar o Draft, retirando o nome da lista. Qual o veredicto? Bem, a opinião de um ou outro scout ouvidos pelo VinteUm varia em relação ao futuro dos jogadores. Natural. De qualquer forma, houve um tópico que era consenso entre as vozes divergentes: para os olhos da NBA, os garotos deveriam sair do Brasil o quanto antes em busca de melhor desenvolvimento.

“Não me parece um caminho muito bom”, diz o vice-presidente de um clube da Conferência Oeste ao blog, ao ser questionado sobre a decisão do quarteto de retornar ao país. “Deixar o Draft não é uma decisão ruim. George muito provavelmente seria selecionado. Mas não é essa a questão. Esperava que eles levassem a carreira adiante em outro cenário.”

Esse vice-presidente acreditava que o melhor caminho era tentar uma vaga em um clube na Europa. A opinião foi compartilhada por um scout de um time da Divisão Sudoeste, no que se refere ao armador. “Acho que o ajudaria ficar no Draft e deixar o Brasil. O time da NBA que o escolhesse encontraria para ele uma boa situação na Europa, onde ele pudesse dominar o inglês. Depois, teria a D-League. E aí a NBA.”

Pessoalmente, não acho que a transição para o basquete europeu fosse tão simples assim: na idade deles, os técnicos, sempre pressionados por resultados, já esperam contar com um atleta mais preparado para render em alto nível. A busca por um clube mais paciente não seria tão simples. Com o que concorda um olheiro de um time da Divisão Noroeste, em declaração já publicada aqui. “Jogar na Europa não faz sentido para ele. Afinal, precisa de um programa de desenvolvimento e de jogar aprendendo com seus erros. Os clubes na Europa têm a mentalidade de vencer para já. Seria uma perda de tempo para ele, na minha honesta opinião”, disse. “Em primeiro lugar, a prioridade geral, para mim, era sair do Brasil. O mais rápido possível.”

Quando você lê esse tipo de declaração, o que vai pensar? Pode bater um certo desespero, não?

Lucas vem novamente dominando a LDB: é o bastante?

Lucas vem novamente dominando a LDB: é o bastante?

Mas elas precisam ser relativizadas também: os scouts da NBA estão, na grande maioria, procurando produtos prontos ou semiprontos, para chegar aos Estados Unidos (ou Canadá) agora e já oferecer algo. O nível de exigência dos dirigentes e treinadores é, em geral, elevado. A aposta do Toronto Raptors em Caboclo no ano passado foi algo raro. O clube estava consciente de que, ao contratá-lo, cru toda a vida, deveria preparar um projeto de longo prazo, sem se importar em trabalhar com o caçula por um ano inteiro em que o principal objetivo era deixá-lo mais forte e fluente em inglês. Era este o tipo de comprometimento que os agentes Eduardo Resende e Alex Saratsis, que trabalhavam com o ala até este ano, esperavam para George ou Lucas, para que eles ficassem no Draft. Não aconteceu.

Por outro lado, os scouts internacionais assistem centenas de jogos de todos os países, algo cada vez mais fácil devido a softwares como o Synergy, hoje presente no cotidiano do NBB. Provavelmente não haja público mais bem informado do que essa classe na hora de falar sobre garotos mundo afora. Em suma, eles têm um ponto de vista que não pode ser ignorado.

Além do mais, a despeito de termos reunido duas seleções neste ano, cheias de jovens, para o Pan e a Universíade, não acho que seja necessário aparecer um empregado da liga americana para afirmar que a produção de base como um todo é duvidosa, especialmente quando se leva em conta o potencial atlético do país. Nas declarações dos olheiros, o que preocupa, mesmo, é o tom alarmista das respostas.

 O que acontece?

Uma chance
Existe, claro, um problema de origem macro. A massificação parece uma utopia, sem contribuição estratégica alguma da CBB e com o investimento federal imediatista. Gasta-se muito, hoje. São bilhões. Mas os programas são massivamente direcionados ao Rio 2016, com pouco impacto a longo prazo. Além disso, mesmo a grana que sai diretamente do Ministério do Esporte para a confederação acaba sendo aproveitada da forma mais bizarra possível. Seus convênios milagrosos recentes, como os R$ 7 milhões cedidos este ano, tinham como finalidade tão somente que uma ou outra seleção pudesse treinar para uma competição específica.

A LDB dá a um jogador como Arthur Pecos a chance de assumir maior protagonismo, é verdade

A LDB dá a um jogador como Arthur Pecos a chance de assumir maior protagonismo, é verdade

Para ser justo, também não dá para esquecer que a pasta também libera a grana da LDB, uma das poucas iniciativas realmente promissoras e consistentes que temos em termos de base no país, graças à administração da liga nacional. A competição, que já iniciou sua nova edição, tem boa repercussão. Em março, em viagem para Mogi das Cruzes para assistir a jogos da quarta etapa da LDB, tive a oportunidade de rever Lisandro Miranda, um argentino que trabalha para o Dallas Mavericks há mais de dez anos. Entre os que já tive contato, é hoje o único scout sul-americano oficial da liga e está mais que habituado a visitar as quadras brasileiras. Numa conversa informal, elogiou muito o progresso que nossa principal competição para jovens vinha apresentando. Em termos de estrutura, deixava claro, para que os garotos pudessem jogar e deslanchar.

Que o campeonato representa um avanço enorme, não há dúvidas. É uma competição que ajuda a dar rodagem aos atletas que estão na iminência de sair do juvenil, ou que já estouraram a categoria. Acontece que, em termos de evolução técnica, a liga não oferece tantos desafios aos talentos de ponta do país. Eles dominam nesse nível, mas a tradução desse rendimento para um nível maior de competitividade não é tão simples assim, até pelo desnível técnico que se testemunha entre algumas equipes da primeira fase.

Está claro que, tecnicamente, é preciso mais que a LDB para fomentar uma modalidade. Para sustentar todos os clubes, porém, não há verba do governo que dê conta. É preciso que o setor privado entre em quadra. Com crise ou estagnação econômica (como preferirem…), o dinheiro, que já não era tão volumoso assim, voltou a encurtar. Qualquer real investido tende a vir, então, com uma cobrança forte por vitórias, empurrando dirigentes e técnicos para estratégias conservadoras. Neste cenário, o desenvolvimento de jovens atletas fica bem complicado. Pode treinar o quanto e com quem for, mas nada substitui a experiência em quadra em jogos para valer. A questão não é exatamente de infraestrutura. Até porque, com um jovem jogador, o quanto mais é preciso do que uma bola, duas tabelas e uma boa cabeça para aplicar treinos? Com a palavra, Tiago Splitter, que saiu do país muito cedo e se formou como jogador na Espanha: “Tinha o preparador físico, nutrição, mas nada que não vá ter no Brasil num clube de ponta. A grande diferença foi a competição. Cheguei com 15 anos lá e já comecei a jogar adulto, na terceira divisão. Fui subindo, até a primeira. Foi essa competição que me ajudou a ser um bom jogador”.

Yuri Sena, Tiago Splitter e Guilherme Santos em NYC

Yuri Sena, Tiago Splitter e Guilherme Santos em NYC

No NBB 7, apenas dez atletas sub-22 (nascidos a partir de 1993) tiveram um mínimo de 20 partidas com média de minutos superior a 10 por jogo. Dez! Ou dois quintetos, entre 16 equipes inscritas. Se for para filtrar por 20 partidas e 20 minutos em média, apenas quatro passariam no corte: Danilo, Leo Meindl, Deryk Ramos e Henrique Coelho, todos, não por coincidência, convocados por Magnano ou Gustavo de Conti. Eles eram os únicos jogadores de fato preparados para encarar o NBB? Não jogam mais por que não estão preparados, ou não estão preparados por que não jogam mais? A resposta para essa pergunta seria a mais fácil: sim e não. Aí não tem como errar, né? Na verdade, a combinação de um assentimento e negativa indica que ela é bem mais complicada.

Fundamentalismo
Rumo ao Draft, Georginho, Lucas e Danilo saíram do país para passar por curtos períodos de treinamento nos Estados Unidos, em academias prestigiadas como a IMG, da Flórida, e a Impact, de Las Vegas. Mesmo que não tenham ficado na lista final de recrutamento da NBA, esse tipo de experiência foi valiosa para abrir os olhos dos garotos em relação ao tipo de preparação que existe lá fora. Os três rapazes foram uníssonos ao comentar os diferentes treinamentos que receberam: nunca haviam visto nada parecido.

Um ponto em comum atentava à “intensidade”. Que saíam esgotados de quadra e, quando achavam que havia acabado, eram chamados para mais uma sessão. E mais uma. E mais uma. O regime espartano, de todo modo, serve mais para prepará-los aeróbica e emocionalmente para os testes que os desgastantes treinos que eventualmente pudessem fazer pelos clubes americanos. Pensando longe, o legado maior está no refinamento de habilidades.

Em meio a treinos puxados, ainda pode rolar um mimo ou outro para George e Lucas

Em meio a treinos puxados, ainda pode rolar um mimo ou outro para George e Lucas

Quando estava em Vegas, Danilo disse o seguinte ao blog: “Estou treinando bem forte, para ver se consigo esse objetivo. É um treino muito mais puxado em termos de fundamento, algo que não fazemos muito no Brasil. Já sinto que melhorei em menos de uma semana. Só tive treinamento de contato, um contra um, uma vez só. O resto foi muito de fundamento, bandejas, floaters e outras, com intensidade”.

Na volta a São Paulo, Lucas afirmou em longa entrevista: “Foi pauleira. Você aprende umas coisas diferentes, uns detalhes que nunca percebe de movimento de perna, em seu arremesso, seu corte, bloqueio, tomar posição no pivô, jogar lá dentro etc. Uns detalhezinhos que você acha que já estão certos, mas que podem ser corrigidos. Ali aprendi muito. Que preciso melhorar demais, mas que posso chegar a um nível alto, que tenho capacidade, o talento e o físico. Você não pára nunca, é o tempo inteiro com eles cutucando. Na primeira noite nem consegui levantar da cama direito, algo que nunca havia sentido. A intensidade muito alta. Se treinar com aquela intensidade, sei que posso melhorar muito. Acho que minha cabeça voltou diferente nesse sentido: posso pegar o treino que aprendi lá e fazer aqui. Não preciso que alguém me coloque no colo e leve para treinar. Só preciso fazer”.

Os comentários coincidem, não? E estamos falando de dois jovens talentos brasileiros de ponta, que trabalharam nos últimos anos em dois clubes que realmente investiram no trabalho de base, com o Minas Tênis colhendo antes do Pinheiros os frutos por projeto, com um grupo que soube mesclar revelações e veteranos para fazer sucesso no NBB. Neste ano, por diversas circunstâncias, o clube de São Paulo tenta repetir essa trajetória. Vamos falar mais a respeito na semana que vem.

A Copa América Sub-16 pôs EUA, Canadá, Argentina, Rep. Dominicana e Porto Rico à frente do Brasil

A Copa América Sub-16 pôs EUA, Canadá, Argentina, República Dominicana e Porto Rico à frente do Brasil

Mas temos aí Lucas e Danilo maravilhados pelos exercícios de fundamentos básicos que fizeram em um curto período. O que tirar dessa avaliação? É por essas e outras que causa admiração geral o fato de o Brasil ainda encontrar um jeito de produzir mão-de-obra, mesmo que as estruturas do esporte no país não sejam das mais confiáveis. Como Splitter disse durante sua visita ao Basketball without Borders, camp conduzido pela NBA e pela Fiba, em sua edição global, realizada em fevereiro deste ano em Nova York: “Nós vemos jogadores surgindo, mas não por sermos bem organizados. Eles simplesmente aparecem”.

Nem sempre depende-se do acaso ou da sorte. Se Lucas e Danilo chegam a flertar com a NBA hoje, é porque seus clubes também lhes permitiram isso. Mas é inegável que, no processo atual de formação do basquete brasileiro, há uma lacuna muito grande entre projeções e realizações. Durante o mesmo camp nova-iorquino, em nota já dada aqui no blog, me lembro de ter sido questionado por um importante dirigente de um clube da Conferência Oeste, sobre a discrepância que se nota entre o nível de potencial atlético das revelações brasileiras e os seus fundamentos básicos. A mesma tecla. Se ela for batida muitas vezes, complica demais.

Peguem o fiasco da Copa América sub-16 deste ano. Mais um desastre: o Brasil agora terminou em quinto, ficando muito longe de brigar por uma vaga no Mundial sub-17 desta temporada. Na primeira fase, três derrotas em três jogos. Depois, pelo torneio de consolação, saíram dois triunfos para evitar a fossa geral da molecada. É complicado entender de longe o que aconteceu. Afinal, o técnico do time, Cristiano Grama, foi um personagem fundamental para a composição justamente do Minas, a jovial sensação do último NBB. É um cara antenado, bem conectado, envolvido com a base brasileira. Sem ter assistido aos jogos, fica difícil avaliar, mas os resultados estão aí para comprovar ques as coisas não saíram nada bem. Um dado que chamou a atenção, antes mesmo do torneio, era que, talvez pela primeira vez na história, a equipe brasileira tinha média de altura mais baixa que a da Argentina. Nossos vizinhos comemoravam isso, para se ter uma ideia. Conversando com agentes, creiam: no país de Nenê, Splitter, Augusto, Varejão, Bebê, Faverani, Felício, Morro, Caio, Mariano, Paulão, Murilo, Hettsheimeir, parece que anda realmente difícil de encontrar pirulões promissores nas competições de base vigentes. Ao que parece, a safra para daqui mais alguns anos não deve oferecer tantos “surgimentos”.

E aí o que fazer quando a fonte seca? O basquete feminino, infelizmente, está aí para contar essa história. É nessa hora que entra a autocrítica. E, nesse sentido, ao menos faz bem ler uma carta de Alexandre Póvoa, vice-presidente de esportes olímpicos do Flamengo, o tricampeão do NBB, na qual ele escreve: “Somos totalmente conscientes que estamos longe da plena satisfação acerca do que alcançamos até agora. Por exemplo, precisamos melhorar MUITO o nosso trabalho nas categorias de base, atualmente muito aquém da história do Flamengo formador de atletas (aliás, situação comum em todos os esportes olímpicos do clube e que estamos lutando dia-a-dia para ajustar)”. O rubro-negro foi vice-campeão da última LDB, mas é honesto ao assumir suas deficiências de formação. Até porque a principal figura do time, Felício, é produto da base do Minas.

Sem fazer muito alarde, em termos de mídia, uma potência nacional que tem investido muito na base é o Bauru, estruturando seu departamento e fazendo a rapa na coleta de talentos, até mesmo em países vizinhos. Diversos jogadores talentosos têm sido recrutados recentemente, como o ala-pivô Gabriel Galvanini, o pivô Michael Uchendu (brasileiro filho de nigerianos), o armador Guilherme Santos, entre outros.  Com um patrocinador forte, o clube montou um timaço que ganhou o Paulista, a Liga Sul-Americana e a Liga das Américas na temporada passada. Poderia se dar por satisfeito com esses resultados, mas, em tempos de vacas gordas, é melhor preparar o terreno para o que vem pela frente e de um modo muito mais razoável e sustentável. É um projeto para se monitorar de perto.

Curiosamente, é o mesmo Bauru que escalava Leandrinho nos idos de 2003, quando o Nacional ainda era organizado pela CBB, muito antes da grave crise com os clubes que quase levou tudo para o buraco. Não seria prudente esperar que, dos garotos garimpados pelo clube, alguém vá chegar em breve ao estágio de competir com David Jackson, Marquinhos ou Shamell pelo título de cestinha do NBB, como, lá atrás, fez o armador, um caso excepcional de quem que já fez mais de 18 pontos em média nos Estados Unidos. O que dá para cobrar, mesmo, é que ao menos tentem, ainda mais para um clube em que o dinheiro não é problema. Entre esses jovens atletas, é natural que o sonho seja a NBA. Pode ser que alguns deles até se veja com condições de, no futuro, inscrever no Draft, tentar a sorte. Se vai dar certo ou não, impossível dizer agora. Só esperemos que, em caso de retirada e retorno ao país, a resposta dos olheiros norte-americanos seja mais amena.


Brasileiros retiraram a candidatura ao Draft da NBA. O que houve?
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Giancarlo Giampietro

Georginho, agora em Treviso: longo período de testes para o armador

Georginho em Treviso, e os scouts da NBA atrás

O que houve?

Bem, respondendo: não é que tenha sido algo anormal, para começo de conversa. Foram quatro os jogadores daqui que se declararam ao Draft da NBA deste ano e, no final, acharam por melhor retirar retirar a candidatura. Foram os três pinheirenses Georginho, Humberto e Lucas Dias, mais o mineiro Danilo Siqueira.

Todos os jogadores de fora dos Estados Unidos, que não completam 22 neste ano, tinham até esta segunda-feira para decidir se continuariam, ou não, no páreo para a cerimônia que será realizada no dia 25, em Nova York. Cada um saiu por seus motivos. Isso significa que não sejam bons jogadores, que não tenham talento e que não possam mais flertar com o recrutamento de calouros da liga americana no futuro. Danilo será um candidato automático em 2016, por  chegar aos 22. Para constar, qualquer jogador brasileiro nascido em 1993, como Leo Meindl e Henrique Coelho, ainda pode ser escolhido este ano – mas seria uma grande surpresa. Lucas e Humberto têm pelo menos mais dois anos para participar do processo. Georginho, mais três.

O mais jovem do quarteto de ex-candidatos, aliás, era o que tinha a melhor cotação. De quatro clubes consultados pelo blog na segunda-feira, três disseram que tinham 100% de certeza de que ele seria selecionado no Draft, enquanto o outro acreditava que isso não seria possível, já por acreditar que o armador não ficaria na lista. Mesmo que esta seja uma pequena amostra no contexto da liga (4 de 30 clubes opinando), dificilmente o caçulinha passaria em branco na lista, devido aos seus atributos físicos incomuns e a tenra idade. Então por que abrir mão disso?

Acompanhe a cobertura do 21 para o NBA Draft:
>> Qual o cenário para os quatro brasileiros inscritos?
>> Georginho conclui Nike Hoop Summit com status no ar
>> Técnico americano avalia o potencial de pinheirenses
>> Apresentando Georginho, o próximo alvo da NBA
>> Lucas Dias e preparação para encarar mais um teste

>> Danilo Siqueira: muita energia em trilha promissora

Existe uma diferença entre ser selecionado e ser pinçado especialmente por uma franquia que esteja disposta a elaborar um projeto detalhado, paciente, de longo prazo para um atleta de enorme potencial, mas muito jovem, longe de estar preparado para  encarar uma temporada regular – como nos moldes do Toronto Raptors com Bruno Caboclo, independentemente do sucesso dessa empreitada. Que ele fosse escolhido na segunda rodada do Draft e enviado ao basquete europeu estava descartado. Não seria nada fácil encontrar um clube disposto a investir num garoto que seria enquadrado já como adulto e não tem dupla cidadania. “Jogar na Europa não faz sentido para ele”, afirma um scout internacional ao VinteUm. “Ele precisa de um programa de desenvolvimento e de jogar aprendendo com seus erros. Os clubes na Europa têm a mentalidade de vencer para já. Seria uma perda de tempo para ele, na minha honesta opinião. A D-League provavelmente seria o melhor caminho, mas aí você tem de ter um time com afiliação única.”

Pois é: até para evitar a situação desconfortável que Caboclo enfrentou durante a temporada, jogando por um time que não tinha obrigação alguma de lhe dar minutos e oportunidades, o ideal era encontrar um dos 17 clubes com filial exclusiva na liga de desenvolvimento. Com um eventual contrato de quatro anos. E que tenha um histórico saudável no trato com atletas mais jovens. Você vai peneirando e peneirando, e os cenários fiam reduzidos. Os clubes ligaram para a base da poderosa Octagon nesta segunda-feira em Chicago, mas, no fim, não apareceu nada de concreto em relação ao tipo de comprometimento que esperavam.  Os agentes Eduardo Resende e Alex Saratsis decidiram, então, pela cautela e por mantê-lo no Pinheiros, com a perspectiva de receber muito mais tempo de quadra entre a elite nacional. “O projeto do clube para a próxima temporada é muito bom para os garotos. Optamos por este projeto”, disse Resende.

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O mesmo raciocínio se aplica ao ala Lucas Dias, que deve virar um ponto de referência para o técnico Claudio Mortari. Em relação a Humberto, os agentes declararam seu nome para que ganhasse evidência internacional e se fixasse no radar da liga para os próximos anos. Nem saiu do país, então. A diferença é que tanto George como Lucas já haviam tido mais exposição em quadras estrangeiras, devido ao currículo maior com a seleção brasileira. Eram mais comentados pelos scouts e também tiveram um papel de maior protagonismo na última LDB.

Em Las Vegas

Danilo em Las Vegas: uma semana de trabalho com fundamento

O caso de Danilo Siqueira está à parte. O ala-armador, representado pelo agente Vinícius Fontana, foi para os Estados Unidos passar por um período de treinamentos na academia Impact, em Las Vegas, a dez dias da data-limite para retirada do nome da lista. Na sexta passada, fez um workout em frente a uma plateia cheia de dirigentes, até mesmo com Phil Jackson presente. Os cartolas estavam lá para assistir ao letão Kristaps Porzingis, e Danilo pôde pegar carona nessa, num trabalho em conjunto com o superagente Andy Miller. Os planos em torno do atleta do Minas Tênis estavam voltados para o Draft de 2016 – ou para uma transferência para a Europa ao final de seu contrato.

(Aliás, existe um consenso entre as quatro fontes da NBA consultadas e que é  preocupante: eles acreditam que os jovens deveriam sair do Brasil “o quanto antes“, para acelerar sua curva de aprendizado. É um tema espinhoso, mas obrigatório de se abordar aqui no blog, mas em outro texto. Nos próximos dias, prometo.)

Georginho e Lucas encararam um périplo nas última semanas. Primeiro, passara duas semanas treinando na academia IMG, na Flórida e voltaram ao Brasil. Em abril, o armador participou do Nike Hoop Summit, em Portland. Depois, em maio, foi a vez do Draft Combine em Chicago – que o ala perdeu por conta de uma torção no tornozelo. Por fim, neste mês, viajaram até Treviso, na Itália, para disputar o adidas Eurocamp. Em volta disso, muitos workouts particulares nos Estados Unidos.

Lucas: não teve muitas chances para mostrar seu arremesso em Treviso

Lucas: não teve muitas chances para mostrar seu arremesso em Treviso

É raro que um prospecto, no caso de George, ganhe esse tipo de exposição rumo ao Draft. O brasileiro alternou boas e más partidas, algo natural para alguém tão inexperiente, que ainda está aprendendo inglês (e avançou bastante nesse sentido), ficou na estrada por um bom tempo e está habituado a um nível de concorrência muito inferior em quadras brasileiras (e aqui obviamente fez falta uma rodagem maior no NBB…). Em Chicago e Treviso ele jogou contra caras até cinco anos mais velhos. “Nos dois casos, não é um ambiente fácil para se jogar, devido ao fator competitivo entre os atletas, que querem nos impressionar”, afirmou um executivo de um clube da Conferência Oeste. “E pode anotar: não é fácil também para avaliar os jogadores nesse tipo de atividade.”

Para Lucas, o evento na Itália era essencial, mas no qual existe essa complicação para se afirmar, acentuada no caso de um ala-pivô, que depende dos companheiros para entrar em ação. “Ele não conseguiu fazer muita coisa nos dois primeiros dias. Não encontrou o seu nicho neste tipo de configuração, com tantos atletas que dominam a bola”, diz o scout internacional aqui já mencionado. “Ele foi ok. Teve alguns bons momentos no fim. Mas não me impressionou  muito com seu arremesso”, afirmou outro olheiro.

Para muitos avaliadores, os camps foram a primeira oportunidade de ver os brasileiros ao vivo. Nos treinos, o cenário já era outro. A maior parte das franquias que os convidaram foi de times que vieram ao Brasil para observá-los – caso de San Antonio, que compareceu duas vezes, Dallas e Portland, por exemplo. Em duas escalas em que a dupla visitou, ouvi de dirigentes que eles “competiram” muito bem, jogando de igual para igual com atletas já formados na NCAA. A tendência é que esses clubes que os acompanharam seu habitat os tenham em melhor conta. Foram avistados no mínimo dez times diferentes em ginásios brasileiros.

Houve quem se encantasse pelo garoto (como no caso de um dos clubes consultados pelo blog), outros que acreditavam que levaria muito tempo para que ele se desenvolvesse e se tornasse um atleta de NBA (dois clubes) e também os que não vinham nele as qualidades necessárias para se investir (o clube que não acreditava que ele fosse selecionado). Aqui é importante ressaltar a complexidade do universo dos scouts. Cada franquia tem um batalhão de observadores. Haverá conflitos naturais de opinião, gente com todo o tipo de ponto de vista possível.  Além disso, nem sempre o apreço de um scout signfique que seja possível a escolha do atleta. Como está a configuração do elenco? Eles já têm muitos jovens com quem trabalhar? Precisam reservar espaço no plantel para fechar uma troca? Precisam poupar dinheiro para não pagar multas? Etc.

E é aqui que fica uma lição para o blog, que repasso agora: esqueçam as projeções sobre o Draft dos sites especializados. Quer dizer: podem consultar, mas não é para levar ao pé-da-letra. Servem como indicativos, mas de uma forma bem flexível, digamos, e com a influência de muitos fatores externos. Haja lobby. O próprio Jonathan Givony, do DraftExpress, já disse que, se não desse tanta audiência, nem as faria, por achar bobagem. O esforço dele e de boa parte dos analistas dedicados a esta cobertura está quase todo voltado para a primeira rodada do recrutamento. O que já é difícil de acertar – e cujos palpites só tendem a se tornar mais precisos na véspera do evento, quando os times estão realmente encaminhados. Para a segunda rodada, então, com vendas e trocas de picks, então, não há como prever. Basta lembrar o que aconteceu com Bruno Caboclo no ano passado. O VinteUm até ouviu de múltiplas fontes que o ala tinha uma promessa do Toronto Raptors ou do Indiana Pacers. A informação estava circulando. Mas ninguém imaginava que o clube canadense fosse escolhê-lo em 20º. O plano nem era esse.

Caboclo só ficou no último Draft porque o Raptors, basicamente, pediu. Dessa vez, nenhum time se comprometeu, ou fez uma promessa desse tipo. As conjunturas mudam. E o que os quatro brasileiros têm ao seu lado, além do talento natural, é o tempo. Todos eles vão trabalhar com o técnico Gustavo de Conti, em Rio Claro, nos próximos dias para disputar a Universíade, na Coreia do Sul. Segue o jogo. Retornam provavelmente um tanto frustrados, mas certamente com mais bagagem e lições para serem revisadas durante a próxima temporada para, quiçá, tentar mais uma vez.


Danilo Siqueira, cheio de energia em trajetória promissora
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Giancarlo Giampietro

Eram três irmãos, a escadinha básica. Correndo para lá e para cá, dando aquele trabalho quando não estavam na escola em Uberlândia. É nessa hora que entra o esporte para tentar distrair a meninada. Danilo Fuzaro Siqueira, então, ia para o tatame, testar alguns golpes precoces como um carateca mirim.

Foi por influência do irmão mais velho, Nilton, que o basquete entrou em sua vida. O fato, de qualquer forma, era que os três estavam envolvidos desde cedo com o esporte em geral. Não que os pais sonhassem com medalhistas olímpicos ou qualquer coisa do tipo. “Não era uma preocupação deles em iniciar a gente como atleta”, afirma Danilo ao VinteUm, rindo. “Acho que a gente tinha muita energia, mesmo. Então era para gastar, e aí começamos a brincar. Sempre gostamos.”

Em Las Vegas

Em Las Vegas

Para quem acompanhou o progresso do ala-armador do Minas Tênis na temporada 2014-2015, chega-se a uma conclusão: o plano inicial da família Siqueira não deu tão certo assim. Afinal, energia é o que não falta em seu impressionante jogo atlético. Aos 21, anos tal como faz em suas infiltrações explosivas, deu passos largos para se fixar como uma das apostas mais promissoras. Ficou entre os três finalistas em duas categorias do NBB 7: destaque entre os jovens e jogador que mais evoluiu. Também foi convocado pelo técnico Gustavo de Conti para disputar a Universíade de Gwangju, na Coreia do Sul, ao lado de outros jovens talentosos.

Que bom, então, que as atividades recreativas não tenham aplacado o pique de infância. Pelo contrário, o levaram longe. Pegando este embalo todo, Danilo agora se vê numa posição talvez impensável quando estava de quimono: candidato ao Draft da NBA, está em Las Vegas para tentar impressionar os scouts americanos, realizando nesta sexta-feira um treinamento com garantia de ginásio cheio.

Mudanças
No começo, é tudo brincadeira, mesmo. Mas tudo evoluiu rapidamente para os irmãos basqueteiros, motivados até pela concorrência interna. “Jogávamos direto, tínhamos uma cesta na parte de trás de casa. E tinha aquela história de não gostar de perder”, conta. Imagine o quanto eles não estavam vidrados, para que os pais concordassem, em 2007, levá-los para Uberlândia para fazer peneira.

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>> Georginho e Lucas Dias vão declarar nome no Draft

Danilo foi aprovado e entrou no time sub-13. Os irmãos também ficaram. “Fui passando de categoria em categoria, comecei a jogar bem e as coisas ficaram mais sérias”, conta. E aí como faz? Chegou uma hora, então, que a família toda resolveu fazer a mudança, num deslocamento de cerca de 100 km, mesmo que o pai ainda trabalhasse em Uberaba. Essa fase durou relativamente pouco, no entanto.

Aos 16 anos, com Cristiano Grama em Ruvo

Aos 16 anos, com Cristiano Grama em Ruvo

O progresso do caçula foi tamanho que a troca de cidades no Triângulo Mineiro foi fichinha perto do que aconteceu em 2010, quando aproveitou a dupla cidadania e se mandou muito jovem para a Itália, enquanto Nilton, que começou tarde, cinco anos mais velho, já procurava outros caminhos fora do esporte.

O destino foi Ruvo di Puglia, uma cidadezinha (ou “comuna”) localizada na região de Bari, ao sul do país, um pouco acima do salto da belíssima Bota. Uma área muito mais conhecida por sua cultura vinícola do que por glórias esportivas, convenhamos. Jogando pelo clube local, da terceira divisão (Serie C), o brasileiro afirma que cresceu bastante – dentro de quadra, mas principalmente como pessoa. Natural, não? Mas não da forma que o bambino esperava. Ele passou por poucas e boas.

“Para mim foi um aprendizado fundamental, em muitos sentidos”, diz. “Tive dificuldade, ficando sem dinheiro, pois o clube não pagava direito. Almoço e jantar nunca faltou. Também pagavam o apartamento, que dividia com mais três garotos. Mas para coisas como café da manhã e outros gastos tive sorte de contar com a ajuda de companheiros muito legais e até mesmo de gente da cidade, que passava a conhecer. São as vantagens de estar em uma cidade pequena, hospitaleira.”

Ao contar o caso, Danilo fala com maturidade, com firmeza. É um aspecto que chama a atenção em sua entrevista, e parece claro que essa experiência que não teve nada de conto de fadas foi fundamental para isso. Pode até mesmo ter funcionado como um teste. Era isso que queria, mesmo? “Já tinha o objetivo, estava convencido de virar jogador. Sempre soube o que queria, sempre levei a sério. Ter passado pela Europa não mudava nada para mim. Tinha de treinar muito, com humildade.”

O jogador teve de se virar então como dava, o que ao menos forçou o aprendizado da língua italiana rapidamente. O bom é que, para amenizar os dias de pindaíba, o ala-armador podia ficar muito tempo dentro do ginásio, enfornado. “Passava em torno de seis horas no clube, no ginásio. O técnico Giulio Cadeo, que chegou a trabalhar com times da primeira divisão, foi muito importante. Eles me ensinaram muito. Ficava treinando com adulto, mas sem poder jogar com eles.”

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Os problemas fora de quadra, no entanto, motivou o retorno ao Brasil em 2012. “Estava sem receber e tinha medo de que pudesse acontecer a mesma situação em outro clube”, explica. Nesse período, já estava em contato constante com o treinador Cristiano Grama, do Minas Tênis, com quem já havia trabalhado em Uberlândia. O garoto voltou, então, mas não necessariamente para casa, parando em Belo Horizonte.

Passo a passo
Antes de jogar pelo Minas, Danilo teve sua primeira oportunidade com a camisa da seleção, na disputa da Copa América Sub-18, em São Sebastião do Paraíso. Uma campanha que foi um sucesso para a equipe, terminando com vice-campeonato, vencendo o Canadá de Andrew Wiggins no meio do caminho, perdendo para os Estados Unidos. Já contamos essa história com mais detalhes num perfil de Lucas Dias, o destaque aquele time de geração 1994/1995 que acabou decepcionando no Mundial de 2013.

Vibração de sempre, mas com resultados ruins para a seleção sub-19 em Praga

Vibração de sempre, mas com resultados ruins para a seleção sub-19 em Praga

“Primeiro, foi única para nós. Naquela idade que estávamos, eles tinham uma vitrine muito maior. Foi bom para sentir que não era nada de outro mundo jogar contra eles. Claro que no aspecto físico eles sobram e que a gente tinha de treinar muito, mas foi bom. Hoje a gente vê muitos daqueles jogadores já na NBA”, afirma. “Depois, o Mundial foi chato para todo mundo. A expectativa era muito boa, mas jogou bem. Perdemos a oportunidade de jogar bem e sermos cogitados para ligas melhores. Foi muito frustrante, não saiu nada do jeito que queríamos.”

Nestas campanhas, Danilo trabalhou pela primeira vez com Demétrius Ferraciu, o ex-armador da seleção brasileira e com quem, duas temporadas depois, conseguiu deslanchar na edição passada do NBB. Até chegar lá, precisou de paciência. Em seu primeiro ano clube mineiro, teve apenas sete minutos em média. Depois, sob a orientação do argentino Carlos Romano, recebeu mais que o dobro de rodagem, beirando os 20 minutos. Agora, se o tempo de quadra não progrediu tanto, o que aumentou, mesmo, foi sua produção. O jovem ala-armador obteve seus melhores índices nos arremessos de dois e três pontos, por exemplo. Numa medição mais avançada, foi o segundo jogador mais eficiente do campeonato entre os atletas sub-22, atrás apenas de seu companheiro de equipe, Henrique Coelho.

O Minas, aliás, foi um dos poucos times que verdadeiramente abriu as portas de seu time para a garotada, aproveitando-se de uma base talentosa e entrosada. “Querendo ou não, nossa equipe jogava junta há muito tempo. Pegaram essa base e adicionaram alguns veteranos que agregaram muito. O (americano Robby) Collum, o (pivô) Shilton e o (ala) Alex, com uma presença que fez muito bem ao time.”

O fato raro de ter uma base jovem no campeonato ‘adulto’ gera ansiedade, expectativa, claro. “A gente sabia que tinha de provar muito, e o caminho foi jogar com base na nossa capacidade atlética, velocidade, tirar proveito do que tínhamos de melhor”, afirma. Demétrius soube usar a vitalidade de seu elenco em torno de um excelente marcador domo Shilton para construir a terceira melhor defesa do NBB, atrás apenas dos finalistas Flamengo e Bauru.

Perdas e ganhos
A temporada, todavia, não terminou da forma que esperavam. O Minas foi a vítima da zebra da vez, o Macaé, clube que chegou aos playoffs na última posição e passou pelo cabeca-de-chave por 3 a 1, ignorando o mando de quadra. Sem a liderança tática e técnica de Robby Collum de um lado, e com outro americano, Jamaal Smith, arrebentando do outro.

A série contra Macaé e um nível elevado de produção

A série contra Macaé e um nível elevado de produção

“Para nós foi uma decepção. Perdemos nosso principal arremessador, o Collum, um cara que puxava bastante a defesa e deixava o jogo mais aberto. Foi difícil jogar em Macaé, com a torcida deles e uma quadra que não é muito boa, na qual eles estavam muito mais acostumados. O Jogo 2, que perdemos na prorrogação, em casa, foi decisivo. Creio que se tivéssemos vencido aquele, ganharíamos a série. O Jamaal fez a diferença também. Teve um aproveitamento absurdo, bem diferente do que havia feito na temporada contra a gente.”

A ausência de Collum, no entanto, abriu as portas para Danilo atestar sua evolução durante o campeonato, com grandes exibições, contribuindo nos momentos decisivos. Teve médias de 19,5 pontos, 3,2 assistências e 2,2 roubos de bola, em 30 minutos arredondados. “Individualmente foi um momento muito bom. Consegui pontuar bem e teve alguns momentos em que o time estava trabalhando para mim, algo que nunca havia acontecido antes na minha carreira. Ser o foco ofensivo, ver a bola chegando e a coisa fluir. Soube aproveitar.”

A produção não vem ao acaso. Tem a ver com as habilidades do jogador – ambidestro, excelente finalizador perto do aro, com impulsão impressionante, mãos largas, criativo em nas infiltrações até pela imprevisibilidade do lado do corte e força para trombar –, mas também com a chance de ele desenvolver esses recursos na prática. O que mais? Aos 21 anos, já tem uma boa noção em combinações de pick-and-roll, sabendo servir aos companheiros (seja o pivô mergulhando no garrafão, ou o chutador no lado contrário). Com os pés plantados, até pela estatura e envergadura, consegue passar por cima da primeira linha defensiva, com boa visão de quadra. Na defesa, porém, pode se distrair nas movimentações longe da bola, permitindo a escapada de seus adversários e também pode ser muito agressivo no combate individual, perdendo o equilíbrio. De qualquer forma, o simples fato de estar na quadra ajuda bastante a lidar com eventuais problemas. Natural, e é algo que faz falta para qualquer atleta, especialmente aos mais jovens.

Porém, quando desembarcou em Las Vegas na semana passada, no entanto, para um período curto de treinamentos na academia Impact, de Joe Abunassar, Danilo arregalou os olhos. Fez um tipo de trabalho que, de modo alarmante, julga estar em falta em quadras brasileiras. “Estou treinando bem forte, para ver se consigo esse objetivo. É um treino muito mais puxado em termos de fundamento, algo que não fazemos muito no Brasil. Já sinto que melhorei em menos de uma semana. Só tive treinamento de contato, um contra um, uma vez só. O resto foi muito de fundamento, bandejas, floaters e outras, com intensidade.”

Aqui, um vídeo de Mike Schmitz, do Draft Express, que acompanhou uma sessão na quinta-feira, em exercício de chutes de três pontos. Danilo aparece com uma mecânica muito mais regular e equilibrada em seu arremesso, comparando como o que pudemos ver há algumas semanas no playoff contra Macaé:

A companhia mais badalada no momento nestas hora de treino em Vegas é de Kristaps Porzingis, ala-pivô do Sevilla que é cotado como um escolha top 10 para o Draft da NBA deste ano. Para muitos dirigentes, ele tem potencial, mesmo, para ser o melhor dessa safra, e seu pacote de altura, agilidade e refinamento é realmente único. A presença do letão é muito benéfica para o brasileiro, que se exibe nesta sexta para diversos olheiros que vão à academia primordialmente para avaliar o europeu. Foi uma jogada do agente Vinícius Fontana, em parceria com o americano Andy Miller, dono de uma cartela respeitável de clientes.

Em seu primeiro dia no ginásio, como um alerta para se dar conta da situação especial que vive, Danilo deu de cara com o enigmático Lance Stephenson. Foi a primeira vez que encontrou um atleta da liga ao vivo. Confiante, ele espera que esse tipo de contato possa se repetir no futuro. Sua missão é exibir o mínimo de habilidades em uma sessão em torno de 40 minutos para que possa instigar o convite para um treinamento em privado, com datas muito apertadas. “Estou bem tranquilo quanto a isso. Sou bem religioso, deixo nas mão de Deus. Estou fazendo a minha parte. Com meu agente, o Vinícius, vimos essa oportunidade e tentamos. Não tenho nada a perder.”

Danilo e Lance Stephenson. Cuidado! : )

Danilo e Lance Stephenson. Cuidado! : )

Ele tem até o dia 15 para decidir se mantém seu nome na lista de inscritos. Dallas, Memphis, New Orleans, Portland e Dallas foram os primeiros times a manifestar interesse preliminar. A boa rodagem do ala-armador pelo Minas ajuda em sua avaliação, uma vez que seus clipes estão disponíveis no software Synergy, que catalogou o campeonato em parceria com a liga nacional nesta temporada.

Pensando em ligas maiores, seja na Europa ou na NBA, a projeção ideal, segundo os olheiros, é a de que Danilo se desenvolva como um armador, algo que não conseguiu cumprir por tantos minutos assim pelo Minas, até pela evolução de Coelho e pela contratação do argentino Enzo Cafferata, um jogador errático que não controla tão bem assim as partidas. “O que preciso melhorar é na hora de levar o ataque, saber comandar um time. Falta esse comando. O mais importante é ter a mente aberta para aprender”, disse Danilo. “Hoje me veem como o combo guard, como dizem aqui. E, se formos pensar, essa coisa de jogo de 1 e 2 é quase a mesma coisa hoje.”

Não importa e nem tem por que estratificar um talento desses, mesmo. O certo é que, sem importar a nomenclatura e a cidade que for. Uberlândia, Ruvo, BH, energia não vai faltar.


Loteria da NBA sorri para o torcedor do Lakers (e de Minnesota)
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Giancarlo Giampietro

Roda a roda! Bingo! Quem dá mais?

Parece gincana até, mas a loteria da NBA é coisa séria. Ou melhor, a liga americana conseguiu transformar até mesmo o sorteio da ordem de seu recrutamento de calouros num grande evento para TV. Um trabalho de marketing, de valorização do produto incomparável, fale a verdade. A audiência desta terça teve a maior audiência desde que a ESPN passou a transmitir a cerimônia, com um aumento de 10% em relação ao ano passado. Ajuda, claro, que Los Angeles Lakers e New York Knicks estivessem envolvidos no processo.

Para quem não viu, a ordem dos dez primeiros ficou a seguinte:

NBA Draft order, 2015

Pois é. O Minnesota Timberwolves, a pior campanha da temporada, conseguiu, hã, defender sua posição no topo da tabela, enquanto o Knicks, vice-lanterna, caiu para quarto. O Los Angeles Lakers, numa condição extremamente preocupante, poderia se ver obrigado a ceder sua escolha para o Philadelphia 76ers, caso ficasse fora do Top 5. Acabou, para alívio geral de Byron Scott, pulando para segundo. Enquanto o Philadelphia 76ers, que no final das contas não conseguiu ter nem mesmo o maior número de derrotas em seu questionado projeto, continuou em terceiro.

Alguns comentários, então, a respeito:

– Caso Flip Saunders não tente fazer nenhuma loucura, o Minnesota Timberwolves vai ter em seu elenco o número um dos últimos três Drafts. Isso jamais aconteceu na história da liga. E quem deve ser o primeiro colocado, o escolhido? A esmagadora maioria dos scouts aponta o jovem pivô Karl-Anthony Towns, de Kentucky, como o melhor prospecto. O torcedor brasileiro mais antenado vai lembrar que Towns já enfrentou a seleção brasileira vestindo a camisa da República Dominicana. É um talento formidável, mesmo, com muita versatilidade no ataque e uma presença defensiva respeitável. Tem apenas 19 anos e talvez só não esteja pronto para causar impacto imediato. Mas é visto como uma aposta segura em seu desenvolvimento. Acontece que, segundo as especulações de bastidores, entre todos os principais candidatos ao topo do Draft, o Wolves seria o único na dúvida entre Towns e o imenso Jahlil Okafor, de Duke. Saunders e seu estafe não estariam tão preocupados assim com as supostas deficiências do pivô (a falta de mobilidade ou interesse na defesa e o lance livre deficitário). Lembramos que Okafor começou a temporada por Duke como o candidato mais badalado, mesmo.

– Os dois são os favoritos a primeira e segunda escolhas. O que quer dizer que estariam dividos entre os lagos de Minnesota e os Lakers de Los Angeles.

Minneapolis_lakers_logo(…)

Sacou?

(Tu-tu-tun-tá!)

Para quem não pegou, o trocadilho vem do apelido Lakers. Não existem lagos em Los Angeles, gente. Essa foi apenas uma herança de uma franquia que saiu dos arredores da geralmente gélida Minneapolis para se basear em Hollywood, perto da praia. Uma mudança pouco estratégia, não é verdade? Aliás, a contraposição dessas duas cidades já gerou logo na noite do Draft a especulação de que os agentes dos novatos mais bem cotados possam fazer jogo duro com o Wolves, tentando empurrar seus clientes para o Lakers, que, além de qualquer fator geográfico ou climático, ainda é a segunda franquia mais vitoriosa da liga, a despeito dos fracassos recentes.

E aí? Quem está disposto a ser maltratado por Kobe?

– Só para ficar no clima piadístico ainda, talvez o fato mais comentado  que a própria definição do Wolves como o primeiro colocado – e a do Lakers, como segundo – tenha sido o de que Jahlil Okafor conseguiria segurar até 13 bolas de tênis em uma de suas mãos. Sim, mais de uma dúzia. Ver para crer:

A brincadeira aconteceu em um estúdio de gravação do Bleacher Report

A brincadeira aconteceu em um estúdio de gravação do Bleacher Report

Com a seguinte imagem, fica mais fácil de entender como é bem possível essa quantia:

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 – Sobre o Knicks: Phil Jackson não compareceu ao evento, que, talvez para os padrões vencedores do Mestre Zen, pode parecer humilhante. Os jornalistas mais combativos de Nova York, porém, relembraram o fato de Pat Riley ter subido ao palco no ano em que o Miami Heat teve a pior campanha de sua história. Fato é que, antes de tentar seduzir agentes livres para jogar ao lado de Carmelo Anthony e aceitar o sistema de triângulos, Jackson vai ter de se concentrar no Draft e caprichar na quarta escolha – ou trabalhar com o telefone sem parar para encontrar alguma proposta que lhe agrade. Seria uma bobagem o Knicks trocar o pick. Afinal, vai ter a chance de adicionar um jovem, barato e provavelmente talentoso jogador ao seu elenco. Caso queira fazer uma troca, vai ser obrigado a assimilar um salário muito provavelmente bem maior e que poderia interferir até mesmo nos planos a partir de julho. Sim, o técnico mais vencedor da liga, mas um executivo inexperiente ainda, está sob pressão, depois de uma campanha ridícula em Manhattan.

– A lista dos representantes dos clubes na loteria contou com gente como Larry Bird, Russell Westbrook, Byron Scott, Vlade Divac, Alonzo Mourning e Nerlens Noel. Cabia, então, para o Knicks um Jackson ou um Carmelo, não? Pelo menos alguém mais carismático – e que tenha muito mais responsabilidade sobre os problemas nova-iorquinos – do que o gerente geral Steve Mills. “Acho que estamos abertos a muitas coisas”, disse Mills, após a decepção do quarto lugar. “Sabemos que podemos conseguir um bom jogador nessa escolha, mas estamos abertos a conversas com os outros times e avaliar opções diferentes.”Se o Knicks mantiver seu posto no Draft, deve se dividir entre os armadores D’Angelo Russell (mais técnico, chutador, comparado a James Harden) e Emmanuel Mudiay (atlético, explosivo, no estilo de um Derrick Rose), dependendo de quem sobrar. O ala Justise Winslow, campeão por Duke, também correria por fora. Dia desses, inclusive, foi a um jogo do Yankees com Carmelo.

– Ficar em terceiro talvez tenha evitado mais dor-de-cabeça ao torcedor do Philadelphia 76ers. Sim, estamos cientes que os mais fanáticos abraçaram o projeto de Sam Hinkie com ardor, confiando naquilo que já se chama de O Processo, com caixa alta. O Processo é como se fosse uma pessoa já, sempre presente na tomada de decisão do dirigente. De qualquer forma, voltando ao ponto: a não ser que Wolves e Lakers sobrevivam, não vai passar nenhum pivô por eles, o que empurraria Philly para a seleção de Russell ou Mudiay, que cobririam a lacuna deixada por Michael Carter-Williams. Empilhar Okafor com Joel Embiid e Nerlens Noel não faria o menor sentido, ainda que o discurso seria o de que Hinkie não se importa com o entrosamento do time agora e esteja pensando no futuro.

– No final das contas, não teve nenhum susto. Do tipo: o Utah Jazz saltar da 12ª posição para a terceira. Se fosse o caso, a torcida do blog ficaria para Indiana Pacers e Oklahoma City Thunder, dois clubes que não tinham a menor intenção de participar da loteria, mas se viram forçados a entrar na roda devido a uma sucessão de graves lesões. Um novato de ponta seria uma bela recompensa. Não rolou: continua, respectivamente, em 10º e 14º. Vestido desta maneira, porém, não havia como Wess dar sorte ao seu clube:

Mais uma edição da Russell Fashion Week

Mais uma edição da Russell Fashion Week

– Uma atualização sobre Georginho e Lucas Dias: os dois estão treinando numa academia no Arizona neste momento, se preparando para um giro de treinos/testes individuais com os clubes americanos. A procura está grande, e pelo menos seis convites já foram feitos. Ambos estão listados para participar do adidas Eurocamp em Treviso, entre os dias 6 e 8 de junho. Danilo Fuzaro, que passa a ser discutido com mais frequência e aparecer nas projeções pré-Draft, também aguarda um convite para o evento, que dá exposição boa não só para os times americanos como também para grandes clubes europeus.


Lucas Dias no Draft, pronto para mais um teste
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Giancarlo Giampietro

Lucas Dias, NBA Draft, Pinheiros, 1995

É algo que, confesso, sempre me admira. Quando você vai conversar com um jogador jovem, é preciso todo o cuidado na hora de elaborar as perguntas, deixar bem claro o que está abordando, o que seria minha própria opinião e aquilo que tomo como fatos, o que você ouve a respeito de determinado assunto ou caso que possa ter envolvido o garoto.

Quando começa a entrevista, então, também não é raro que o dono do microfone se veja surpreendido: por mais tenra idade, muitos desses atletas já têm boas histórias para contar. Aconteceu em muitos casos comigo em coberturas de Mundiais Sub-Alguma-Coisa de futebol. A galera do atletismo. Do vôlei. Etc. Especialmente quando falamos de um país como o Brasil, com toda a sua dimensão e seus problemas, causos geralmente não faltam em suas trajetórias. Lembro de um papo agradável e revelador, por exemplo, com o volante Rômulo, ex-Vasco, saindo de Picos, no Piauí, para, hoje, morar na Rússia. Mas, enfim, obviamente não é sobre o meio-campista o artigo.

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Lucas Dias não veio de tão longe assim para um jornalista baseado em São Paulo, tendo saído de Bauru. Mas o ala do Pinheiros, um dos quatro candidatos brasileiros ao Draft da NBA, já tem realmente uma trajetória que deu e dá o que falar, estando a dois meses de completar 20 anos de idade. A pressão desmedida que uma das grandes apostas do basquete nacional enfrentou em temporadas anteriores já foi abordada aqui. Agora, é hora de abrir espaço para o ala falar a respeito do peso que lhe foi atribuído, mas decididamente não apenas sobre esse tema em – aquela que era para ser uma entrevista de 15, 2o minutos acabou durando exatos 54min05s, nas vizinhanças do clube Pinheiros. Isso, claro, com o atleta se dizendo “tímido” durante a gravação.

É interessante notar como ele já foi submetido a bons testes durante a adolescência. Mas nem é preciso fazer muito drama aqui, por mais que seja mais uma história de alguém que saiu bem cedo de casa, foi para a capital, vindo de origem humilde. Não é dessa forma que Lucas encara as coisas, mesmo. Sabe que enfrentou alguns momentos difíceis, mas não os glamoriza. Gosta de repassá-los em sua cabeça, é verdade, mas muito mais como fatores de motivação e também por força do hábito. “Sou daqueles que vai deitar e não tira a história da cabeça”, afirma ao VinteUm.

Mais agressivo pela LDB 2014

Mais agressivo pela LDB 2014

Para o repórter, então, fica mais fácil de retransmitir:

Teste 1: vida de atleta, em São Paulo, aos 14 anos
Lucas Dias Silva não foi o primeiro a deixar a família, em Bauru, para tentar dar um salto com suas pretensões basqueteiras. O irmão Diego (ou Diegão), pivô, embarcou para Belo Horizonte um tempo antes, para jogar na base do Minas Tênis. A mãe, Neia, já havia chorado quando ele saiu. Mas comigo foi mais. Ele já era mais velho, tinha sua confiança. Não que eu não tivesse, mas eu era muito novo na época, só com 14 anos”, afirma. De qualquer forma, quando estava preparado para se mudar para São Paulo, o irmão retornou, o que acabou compensando, de alguma forma. “Foi uma coincidência boa”, diz.

Federado : )

Federado : )

A mãe passou duas semanas com o filho na capital para facilitar a transição. Isso era janeiro de 2010, depois de o então pivô ter sido aprovado em testes em julho do ano anterior. A mudança levou um tempo para ser realizada, enquanto jogava pelo time da Associação Luso Brasileira em sua cidade natal – enquanto os primeiros treinos haviam sido pelo Greb (Grêmio Recreativo Energético de Bauru).  “Comecei com meu irmão. A gente trabalhava na rua entregando folheto. De repente, parou uma técnica do lado dele, dizendo que tinha potencial para jogar. Ele estava com 14 anos e foi treinar. Ficou lá umas duas semanas, enquanto eu estava na minha, estudando, brincando, jogando futebol, essas coisas. Ele cuidava de mim naquela época e perguntou seu eu queria treinar. Minha mãe trabalhava, também meu pai. Topei e comecei a gostar do basquete. Tinha nove anos”, relembra.

O progresso foi rápido e, cinco anos depois, era indicado para a base do Pinheiros, coordenada por Telma Tavernari. Impressionou a todos prontamente, entre eles o técnico Danilo Padovani. “Logo no primeiro dia já disseram que gostaram muito de mim perguntaram se eu queria ficar para assistir ao jogo do adulto”, conta, rindo. “Quando voltei, eles deram a maior força para mim e cuidaram da minha família também. Foram pessoas que entraram na minha vida, assim como meu técnico em Bauru, o Marco Aurélio, que não me forçou ficar.”

Assim como a mãe não ficou na metrópole. “Na primeira semana que ela foi embora, o primeiro fim de semana sem ela… Foi uma sensação muito ruim. Em Bauru, tem uma feirinha que a gente gosta ir aos finais de semana. Todo o domingo, era o passeio da família. Ficar sem isso, sem esse tipo de coisa, a ida à igreja com ela. Foi difícil”, diz. Hoje, o contato com a mãe acontece quando consegue viajar para sua cidade. Quando tem jogo pelo NBB ou pelo Paulista, tem torcida infiltrada entre os bauruenses.

Avançando com a carreira, Lucas teve de se virar para concluir os estudos. No primeiro ano, tudo corria bem. “Não tinha seleção, não era conhecido, conseguia manter. Mas no ano seguinte comecei a fazer parte daquela seleção  permanente, ficando seis meses com eles (em São Sebastião do Paraíso, em Minas Gerais). Lá não consegui. Era para ser à noite, mas tinha treino de manhã e de tarde. Não dava para descansar. Fui levando não sei como, não só eu, mas os outros também. Quando voltei, retomei a escola anterior. Treinava em duas categorias aqui no Pinheiros, e aí o adulto também me chamou. Era sair 10h da escola para vir ao clube. Foram dois anos para terminar a escola. Houve também as viagens. Mas o bom é que a escola (estadual Ministro Costa Manso) teve muita paciência, a Costa Manso. Deram trabalho para eu fazer, provas em dias diferentes, abonaram minhas faltas por causa da seleção, o que não eram obrigados a fazer. Graças a Deus terminei. Era algo que minha mãe cobrava muito. A faculdade ela também quer que eu faça, mas sabe que não tenho tempo hoje. A escola era obrigação. De qualquer forma, se fosse passar por tudo de novo, passaria”, afirma.

Acompanhe a cobertura do 21 para o NBA Draft:
>> Qual o cenário para os quatro brasileiros inscritos?
>> Georginho conclui Nike Hoop Summit com status no ar
>> Técnico americano avalia o potencial de pinheirenses
>> Apresentando Georginho, o próximo alvo da NBA
>> Lucas Dias: da impaciência ao desenvolvimento

Teste 2: a fama precoce e as cobranças
Em 2011, Lucas foi disputar seu primeiro torneio internacional: o Sul-Americano, sendo um ou dois anos mais jovem que a maioria de seus companheiros. Foram campeões de forma invicta, vencendo a Argentina duas vezes. Algo raríssimo em tempos recentes de competições de base. Logo… Chamaram a atenção. “Todo mundo falava que nossa seleção era fraca, que não ia chegar a lugar nenhum. Quando vencemos a Argentina, invictos, começaram a assediar um pouco”.

Lucas, nos treinos para o Sul-Americano em Cúcuta, na Colômbia

Lucas, nos treinos para o Sul-Americano em Cúcuta, na Colômbia

No ano seguinte, veio uma convocação surpreendente para a disputa do amistoso internacional do Jordan Brand Classic, evento que reúne, nos Estados Unidos, alguns dos jovens mais promissores do mundo. Quando questionado a respeito daquela experiência, os olhos do garoto brilham. “Vou falar para você”, anuncia. (Então deixe ele contar… Que a história é divertida. Está nas notas abaixo). Fato é que, com 18 pontos e 12 rebotes, o brasileiro foi eleito MVP da sua equipe, num evento do qual participou, entre outros, Domantas Sabonis, filho do legendário pivô lituano e hoje destaque da Universidade de Gonzaga, nos EUA.

Aí você imagina a repercussão. Para uma modalidade há muito carente de conquistas internacionais, o bafafá foi grande. Para completar, veio a Copa América Sub-18 em São Sebastião do Paraíso. A seleção foi vice-campeã, perdendo para os Estados Unidos na final. No meio do caminho, bateram um Canadá fortíssimo, com direito a Andrew Wiggins, Tyler Ennis e Trey Lyles em quadra. Definitivamente não é pouco. O elenco americano tinha: Marcus Smart, Julius Randle, Jerami Grant e Jarnell Stokes, todos já na NBA, e Sam Dekker e Montrezl Harrel, a caminho. Lucas brilhou, com médias de 15,6 pontos, 8,4 rebotes e 1,4 toco, convertendo 52,9% de seus arremessos de três pontos. Combinava envergadura e faro para a cesta.

De novo: era um ano mais jovem que a grande maioria dos adversários. Então você pode imaginar como as coisas ficaram. “Nossa seleção mostrou que podia competir com aqueles caras, chegando junto no jogo, correndo de igual para igual, e até mesmo com um jogo de contato. Só não deu para manter o ritmo na final. “Foi uma experiência legal, de ver onde a gente poderia chegar e conferir meu nível também”, diz Lucas.

Foi nessa época que o garoto passou a conviver com nós, abelhudos da mídia. Teve de aprender a se comportar diante dos jornalistas na marra, depois de um ou outro tropeço natural. As expectativas em torno do jogador basicamente saíram do controle. Quando chegou o Mundial Sub-19 em 2013, e o time venceu apenas três de seis partidas, contra China, Irã e Senegal e terminou em nono, uma posição frustrante. Um tremendo baque, e as primeiras críticas mais pesadas.  Do ponto de vista pessoal, foi difícil assimilar um rendimento de 6,4 pontos, 3,8 rebotes e, principalmente, os poucos minutos que teve (22,5). “Toda a seleção jogou mal”, afirma. “Ali comecei a me sentir mais pressionado. Todos esperavam um desempenho bom de nós, e o foco estava em mim. Acho que não estava preparado para isso.”

Lucas Dias x Domantas Sabonis no Jordan Brand Classic

Lucas Dias x Domantas Sabonis no Jordan Brand Classic

Teste 3: a fossa e a concorrência interna
“Quando voltei para o Pinheiros, não acreditava no que havia acontecido, justo naquele campeonato”, diz Lucas. O semblante muda nitidamente ao falar sobre a campanha. É difícil saber o que machucou mais: o que se falava pela rede, ou o que se passava pela cabeça do jovem que completara 18 anos durante a competição em Praga. “Comecei a me cobrar bastante. Eu mesmo me sentia pressionado. Aqui no Pinheiros nunca ninguém chegou cobrando dessa forma. Mas fiquei muito chateado. Foram uns quatro meses pensando na mesma coisa. A gente jogando aqui, mas minha cabeça não estava boa.”

Se houve algum ponto positivo para ser tirado, era o simples fato de ter saído um pouco do radar depois daquela tremenda decepção. Acontece em muitos lugares, mas no Brasil, sabemos bem, caprichamos: com a mesma rapidez que se infla uma história, facilmente pode-se virar as costas para ela. Para o jogador, depois de curtida a fossa, o evento acaba valendo como um marco pessoal, de toda forma. “Depois, entendi que aquele momento de decepção poderia ter acontecido para o bem. De que se aquele Mundial não correu bem, se eu tivesse um próximo Mundial, ou qualquer campeonato grande desses, que não ia deixar isso acontecer de novo. Comigo, não”, assegura. “Foi um momento de decepção para todo mundo. Se formos ver, muitos daqueles jogadores estão se destacando hoje: Deryk (Ramos) em Limeira, o Danilo (Fuzaro) em Minas, cada um subindo de pouquinho e pouquinho, se lembrando daquele Mundial, fazendo o que não mostrou naquela época. Foi bom para a gente. Não foi bom para o Brasil, mas, no pessoal, teve uma boa repercussão.”

Da Copa América (foto) para o Mundial, queda geral de rendimento

Da Copa América (foto) para o Mundial, queda geral de rendimento

Enquanto colocava a as coisas em ordem, começava a despontar em seu clube outra sensação. Mais uma contratação pontual do Pinheiros, vindo de uma cidade com nome até parecido: Barueri. Sim, estamos falando de Bruno Caboclo. Só mesmo o basqueteiro nacional mais hardcore o conhecia. Mas isso mudaria rapidamente, depois de suas exibições pela LDB. O ala, hoje coqueluche em Toronto, era o dono do time juvenil que competia na liga de base. Ainda que tivesse a mesma idade, Lucas, a essa altura, treinava em tempo integral com o adulto, ao lado do comparsa Humberto. (“É o companheiro que vou levar para a vida inteira. Podemos até brigar em quadra, mas estamos sempre juntos.”)

“Depois do Mundial, deu acalmada, e comecei a trabalhar mais empenhado no Pinheiros. Aí chegou o Bruno também, e o foco foi totalmente. Fiquei treinando mais duro ainda. Isso também foi outro motivo pessoal para mim, ver o Bruno treinando ali forte. Éramos amigos, mas cada um fazia o seu”, afirma. “No começo foi um pouco difícil. Quando está treinando no adulto, sem muitas chances, enquanto o time juvenil estava na LDB, ganhando destaque. Você queria fazer parte daquele conjunto, ficava meio triste com isso. Todo mundo subindo, e ficávamos eu e o Humberto aqui, sabe? Treinando, enquanto eles estavam jogando, se divertindo, fazendo com que o time crescesse.”

Em 2013, maior rodagem com o time adulto: 14 minutos em média

Em 2013, maior rodagem com o time adulto: 14 minutos em média

Na fase final, Lucas e Humberto reforçaram o Pinheiros na fase final da LDB e integram o time que conquistou o terceiro lugar: “Eu ficava pensando sobre como seria nossa seria chegada. Se ia piorar, se ia melhorar. O time comigo, Humberto, Bruno e George seria diferente. Fui para lá para ajudar a equipe, fiz bons jogos, mas não foi a LDB que eu esperava para mim. Isso foi, então, outra motivação para voltar melhor na (edição) seguinte. Não via a hora que começasse outra”. Um consolo foi retornar ao time principal para os playoffs do NBB 6 e ganhar minutos no playoff contra Mogi, produzindo. “Consegui botar em prática o que estava encontrando em meu jogo. Fomos eliminados, outra sensação ruim, mas estava me preparado já para a próxima temporada.”

Teste 4: a retomada
Ainda que estivesse jogando com o juvenil e curtindo a boa fase daquele time, não quer dizer que Lucas não se divertia do seu jeito. Nos treinos do adulto, era o alvo prioritário dos veteranos, sempre pontos para desafiá-lo. Pode pensar aí em Shamell e Márcio Dornelles… “Nossa, eles estavam sempre pegando no meu pé (risos)”, conta, bem-humorado. “Olha, só quem viu para poder falar. Tinha dia que eu saía bravo com eles, com um bico para o lado. Mas eles me chamavam e diziam que era para o meu bem. No coletivo era mais o Márcio, que batia. Depois do treino, era mais o Shamell, no um contra um, por várias horas.”

Título da LDB ficou com o Basquete Cearense; Lucas terminou como cestinha

Título da LDB ficou com o Basquete Cearense; Lucas terminou como cestinha

Depois de tantos treinos e aulas práticas dessa, Lucas se sentia pronto para arrebentar em quadra. Houve uma diferença, no entanto: dessa vez ele teria muito mais minutos com as equipes menores do que no adulto. “Foi um pouco desgastante no fim. Tinha dia que treinávamos com o adulto, jogar com o juvenil ou LDB. Teve uma semana que jogamos em Osasco com o Juvenil e voltamos para disputar a LDB, ainda treinando com o adulto. Mas foi uma temporada de colher o que se plantou durante todos os treinos, com muita paciência depois daquele Mundial.”

Na liga de desenvolvimento, foi o principal jogador, com médias de 20,8 pontos,  9,4 rebotes, 1,9 roubo, 1,5 assistência, em 32,1 minutos. Estabeleceu o recorde histórico de pontos (44) e de índices de eficiência do campeonato. “Consegui jogar em alto nível, foram jogos maravilhosos, para quebrar alguns recordes. Também fui eleito o melhor jogador da categoria juvenil no país. Fico quieto no meu canto. Os caras podem falar o que achar de mim, mas vou ficar no meu canto fazendo o que preciso. E o time fez uma grande LDB, mesmo que não tenha ficado entre os três primeiros.”

A frustração mais significativa da temporada 2013-2014 acabou sendo o papel limitado que teve na equipe de Marcel de Souza no NBB 7 – algo, aliás, cobrado por muita gente nos bastidores. Mas as chances reduzidas aos mais jovens não foi algo específico, particular ao Pinheiros. Poucos jogadores sub-23 tiveram espaço, ou, pior ainda, protagonismo em seus clubes. Lucas entrava e saía do time.

“No caso de nós três (Lucas, Georginho e Humberto), fiquei um pouco pensativo a respeito, de não termos jogado. Nunca critiquei. O Marcel era quem decidia. Acho que, pelo trabalho que vinha fazendo, merecia um pouco mais de tempo e que poderia ajudar a equipe. Mas nunca vou chegar no técnico e falar que tenho de jogar. Talvez fosse medo de não prejudicar a gente. Não tenho nada contra”, afirma o ala. “O mais curioso é que, para mim, o time do ano passado era muito mais forte que o deste ano, tinha mais investimento, e eu recebi mais minutos, mesmo achando que neste ano eu estava muito melhor. Chegando em casa bravo, minha namorada (Larissa) podia ver. (Risos)”

No final, Lucas teve médias de 11,3 minutos por jogo, depois de 14,1 minutos na campanha anterior. “Todo mundo esperava que eu talvez jogasse pelo menos uns dez minutos regularmente, mas nem isso. O Humberto apareceu agora só no finalzinho, nos playoffs, por causa da defesa”, afirma. “Acabou a temporada, não posso ficar remoendo o que já passou, mas agora tenho objetivos maiores.”

Lucas Dias: foi difícil de pará-lo na última LDB

Lucas Dias: foi difícil de pará-lo na última LDB

Teste 5: aqui estamos
O próximo passo é o Draft da NBA. O fato de o ala ter sido convidado para participar do Combine em Chicago mostra que desperta o interesse dos dirigentes. O que não signifique que tenha escolha garantida no dia 25 de junho, em Nova York. Nas próximas semanas é que as discussões vão esquentar. No momento, Georginho é o atleta nacional mais comentado. Humberto também está inscrito, assim como Danilo Fuzaro – mas ambos devem retirar seus nomes da lista até o dia 15 de junho, prazo para que uma decisão seja tomada.

Quanto mais os scouts avaliarem os jogos do Pinheiros na temporada, a tendência é que seu nome surja com mais força, devido a uma combinação de estatura (2,11 m, segundo as medições recentes do Pinheiros) e capricho nos arremessos de média para longa distância. “No final das contas, é provável que ele seja o mais habilidoso do trio do Pinheiros”, afirmou um olheiro da Conferência Oeste ao o VinteUm. Sua grande chance para impressioná-los vai acontecer em junho, no adidas Eurocamp em Treviso, o camp que reúne boa parte dos melhores jogadores até 22 anos fora dos Estados Unidos.

Versátil, Lucas será propagandeado como um possível “strecht four”, o ala-pivô aberto, uma função tática em voga no basquete internacional. É algo que os treinadores da IMG identificaram e que assimila o talento para chute e rebote do brasileiro. “Vai depender da ocasião, não tenho preferências. Na Copa América Sub-18, no nosso time sub-22, falavam também em me usar como um três, para o time ficar mais alto, forte no rebote. Não tem posição fixa. Acho que depende do jogo, cada um pede uma coisa. Entre as duas posições, acho que consigo render da mesma forma.”

“Tomara que aconteçam algumas coisas melhores para a minha vida agora. Estou torcendo muito para isso. É o objetivo maior. Acho que cada jogador de basquete que pega uma bola começa a sonhar com a NBA. Seria uma satisfação fechar esse ciclo com uma grande notícia, de estar lá. Aí começaria um novo ciclo, lembrando o que passei”, diz. “Agora, se não for para este ano também, não vou me decepciona. Vou ficar pensando uns três meses nisso, claro mas depois segue em frente.”

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Lucas Dias relembra sua participação no Jordan Brand Classic de 2012, em Charlotte:

“Naquela seleção permanente, tinha um moleque da minha idade que já havia sido chamado para este jogo, o Guilherme Saad. Fiquei interessado, vendo que ele foi chamado, sabendo que havia  participar de um evento desse. Depois disso aí esse Jordan não tinha saído da minha cabeça. Seria uma oportunidade legal para mostrar meu jogo para todo mundo. Passou um tempão até o (então diretor de basquete pinheirense, João Fernando) Rossi chegar e falar do convite. Fiquei umas duas semanas só pensando nisso, no Jordan, no Jordan… Aí quando deu uns dois dias antes de viajar para o evento, liguei meia noite para o Rossi e disse que não queria ir. Não sei o que aconteceu comigo, mas não queria mais”.

Ele conversou comigo, perguntou o que tinha, falei que estava com medo de jogar mal lá. Mas me convenceu e mandou o Brenno (Blassioli, ex-técnico da base) comigo. A experiência foi toda diferente, mesmo, de tudo o que havia feito, até da seleção. Antes do jogo teve uma palestra, para pegar o diplominha do evento. Falei para o Brenno que estava ansioso, mas confiante para mostrar o que podia. Até brinquei com ele que, se Deus quisesse, poderia até rolar um MVP (risos). Ele: ‘Pára de pensar isso, só pense em fazer seu jogo’. Sempre quando boto uma coisa na mente, quando deito a cabeça no travesseiro, fico pensando. E foi isso: ‘Amanhã é o dia, amanhã é o dia’…”

“Entrei no ônibus, achando que as pessoas estavam olhando estranho para mim, aquela paranoia. Quando entrei na quadra para aquecer, já senti que era o dia. Sobe dois, e foi uma sensação muito gostosa. Ginásio cheio, parecia que minha família estava do meu lado. Se algo dava errado em quadra, era como se algum deles estivesse me apoiando.. Cada lance eu lembrava das primeiras semanas aqui em São Paulo, da minha mãe, da minha namorada (Larissa) dando força. Quando chegou a premiação, foi a melhor coisa. Não sabia o que fazer. Se ficava em quadra, se ia pro vestiário, se ia falar com o Brenno, se ligava para a minha mãe, se ia para a arquibancada. Na hora de comer, não acreditava, não estava lúcido. Era uma coisa gigantesca para mim. Ali foi o começo, cara. Uma gratificação muito boa.”

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Lucas hoje está treinando no Pinheiros, em sua preparação para o recrutamento de calouros da NBA, dia 25 de junho. A ideia era que ele estivesse bem distante dali, em Chicago, onde está sendo realizado o Draft Combine. O ala recebeu o convite da liga, mas teve de recusar devido a uma torção de tornozelo que sofreu contra o Brasília, pelos playoffs do NBB. Já está recuperado, mas não viajaria nas melhores condições para ser, hã, testado contra jogadores muito mais experimentados, aos olhos de centenas de dirigentes e scouts.

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Lucas também fala sobre os treinos que teve no mês passado na academia IMG, na Flórida, ao lado de Georginho: “Foi pauleira. Você aprende umas coisas diferentes, uns detalhes que nunca percebe de movimento de perna, em seu arremesso, seu corte, bloqueio, tomar posição no pivô, jogar lá dentro etc. Uns detalhezinhos que você acha que já estão certos, mas que podem ser corrigidos. Ali aprendi muito. Que preciso melhorar demais, mas que posso chegar a um nível alto, que tenho capacidade, o talento e o físico. Você não pára nunca, é o tempo inteiro com eles cutucando. Na primeira noite nem consegui levantar da cama direito, algo que nunca havia sentido. A intensidade muito alta. Se treinar com aquela intensidade, sei que posso melhorar muito. Acho que minha cabeça voltou diferente nesse sentido: posso pegar o treino que aprendi lá e fazer aqui. Não preciso que alguém me coloque no colo e leve para treinar. Só preciso fazer. Comecei a fazer isso na primeira semana, nas no primeiro jogo contra Brasília torci o pé. Nada grave. Nada grave. Tenho de agradecer ao Edu (Eduardo Resende, seu agente) por proporcionar isso para a gente.  Ele é o que tem mais paciência com a gente.”


Qual o cenário para os candidatos brasileiros ao Draft?
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Giancarlo Giampietro

Humberto (e) e Georginho estão inscritos

Humberto (e) e Georginho estão inscritos

A NBA divulgou nesta semana a lista de inscritos em seu processo de recrutamento de novatos, o Draft. Quatro brasileiros apareceram nela como candidatos: o trio pinheirense Georginho, Lucas Dias e Humberto Gomes, além do armador Danilo Fuzaro, do Minas Tênis.

O curioso é que lista poderia ter sido maior. Scouts da NBA me procuraram para coletar informações sobre Wesley Sena, aposta do Bauru para longo prazo, e Adriano Alves Júnior, um pivô do Minas Tênis que não jogou tanto pela última LDB, mas tem um físico impressionante. Os dois foram especulados nas últimas semanas nos Estados Unidos – seriam representados pelo poderoso WMG (Wasserman Media Group), do superagente Arn Tellem. O grupo avaliou os atletas e abriu discussão com os olheiros e dirigentes da liga. No final, ficaram fora. Ainda assim, quatro é um número elevado de brasileiros, numa espécie de ‘efeito Bruno Caboclo’ – apenas potências como Espanha e França têm mais apostas, com cinco cada.

Acompanhe a cobertura do 21:
>> Georginho conclui Nike Hoop Summit com status no ar
>> Semana crucial, enquanto a concorrência cresce
>> Apresentando Georginho, o próximo alvo da NBA
>> Lucas Dias: da impaciência ao desenvolvimento
>> Georginho e Lucas Dias vão declarar nome no Draft

>> Técnico americano avalia o potencial da dupla

Antes de prosseguir avaliando os planos e chances dos quatro brasileiros inscritos, é importante esclarecer três pontos específicos sobre o evento, para não dar confusão:

– Só vai se declarar para o Draft aqueles que não são automaticamente inscritos. No caso de jogadores nascidos fora dos Estados Unidos, sem passagem pelo basquete universitário, a faixa etária para candidatura neste ano envolve os atletas nascidos entre 1994 e 1996. A idade mínima, portanto, é de garotos que vão completar 19 anos em 2015, como o caso de Georginho.

– E quem entra no processo automaticamente? Entre os estrangeiros (de novo: sem passagem pela NCAA), são aqueles nascidos em 1993, que já completaram ou vão  22 anos, como o caso de Leo Meindl, Henrique Coelho e outros tantos jovens talentos do NBB – só não podem incluir Lucas Mariano nessa, uma vez que o pivô de Franca se inscreveu no ano passado e não foi selecionado. Uma vez que você passa batido, perde a chance. A diferença aqui é de terminologia: Meindl, Coelho e os rapazes de sua geração não precisam declarar seus nomes. São elegíveis naturalmente. Jogadores nascidos até 1992, como Augusto Lima, só podem entrar na liga como agentes livres.

Leo Meindl já faz parte automaticamente da lista de selecionáveis no Draft, pela idade

Leo Meindl já faz parte automaticamente da lista de selecionáveis no Draft, pela idade

– Uma exceção brasileira consta na lista: o ala-armador Ricardo Barbosa, sobrinho de Leandrinho. Seu caso é o seguinte: o garoto nascido em 1994 passou pelo Draft da D-League no ano passado, fazendo a pré-temporada pelo Bakersfield Jam, a filial do Phoenix Suns. Mesmo que tenha sido dispensado precocemente, acaba inscrito incluído na lista de “draftáveis” também de modo automático. É o mesmo que acontece com o armador Emmanuel Mudiay, do Congo, que jogou no High School americano e atuou na liga chinesa como profissional.

Posto isso, qual o cenário que temos hoje para os brasileiros?

A lista publicada pela NBA aponta um número de 91 candidatos chamados underclassmen, aqueles que entraram na seletiva antes do limite para eles. Foram 43 estrangeiros e 48 universitários no total. Sabemos que o número de posições no Draft é de 60, então já há muita gente sobrando. A conta fica ainda mais excessiva quando levamos em conta os atletas que concorrem automaticamente, como o caso dos formandos da NCAA e estrangeiros nascidos em 1993. Gente como Mudiay, Frank Kaminsky (vice-campeão por Winsconsin), Jerian Grant (armador que foi a estrela de Notre Dame), Delon Wright (armador de Utah) e o ala espanhol Daniel Diez (revelado pelo Real Madrid, hoje no Gizpuoka San Sebastián).

Agora, desse número inicial, muitos já podem ser descartados. Especialmente no caso das revelações de fora dos Estados Unidos que entram na lista para ganhar exposição no mercado internacional e, depois, retiram seus nomes na última hora para manter elegibilidade para as próximas edições. Cada gringo pode se candidatar até três vezes – comparando com os americanos, eles têm outra vantagem: podem tomar uma decisão até 15 de junho deste ano, 10 dias antes do Draft, enquanto os pratas-da-casa que declaram já abriram mão por completo de sua carreira na NCAA.

Danilo: uma rara revelação nacional que teve tempo de quadra no NBB

Danilo: uma rara revelação nacional que teve tempo de quadra no NBB

A não ser que algo de imprevisto ocorra daqui até essa data-limite, podemos incluir nesse grupo de jogadores tanto Humberto, o armador do Pinheiros, como Danilo, armador do Minas. A ideia é realmente chamar a atenção de olheiros e dirigentes para acompanhamento futuro. Caso permaneçam com seus nomes na lista final, podem suspeitar que tenha coisa aí. Leia-se: a famosa promessa.

Por ser companheiro de clube de Georginho, o prospecto nacional mais visado nesta temporada, Humberto já foi avaliado por um número considerável de franquias. Ao menos 10 clubes estiveram persentes em quadras brasileiras durante a última LDB para assistir a jogos do Pinheiros. Fora a observação in loco, sempre mais valiosa para os empregados da NBA, outra ferramenta que facilita o estudo dos atletas é o sistema Synergy, que tem em seu catálogo horas e horas de filme dos jogos do NBB 7, no qual Danilo teve muito mais rodagem que os pinheirenses – e já vem sendo avaliado por alguns clubes espanhóis de ponta. Os dois, por ora, não aparecem com intensidade no radar da liga americana. Como é o caso de dezenas dos estrangeiros declarados, claro.

Georginho, por outro lado, tem, hoje, maiores chances. O armador hoje aparece cotado pelo DraftExpress, de Jonathan Givony, referência no ramo, como o 29º melhor prospecto. Já Chad Ford, do ESPN.com, o projeta como o 52º prospecto. Essas projeções são feitas com base no que os especialistas ouvem de dirigentes e scouts, mas também com base em suas impressões pessoais. O polivalente atleta de apenas 18 anos tem status incerto depois de uma participação irregular no Nike Hoop Summit, mas desperta muito interesse devido ao seu potencial de longo prazo, com atributos físicos impressionantes e movimentos interessantes com a bola. Olheiros ouvidos pelo VinteUm enxergam o garoto hoje como uma possível escolha de primeira rodada, no terço final, ou na segunda. Creem que dificilmente ele não seria selecionado por uma franquia na segunda ronda. A questão é saber se o clube interessado gostaria de contá-lo para agora, ou se o mandaria para a D-League e/ou Europa. De qualquer forma, a simples exclusão dos armadores Kris Dunn e Demetrius Jackson (Notre Dame) e do ala-armador Caris LaVert (Michigan) lhe abre caminho.

Quanto mais for estudado, tendência é que Lucas suba: potencial ofensivo e muito jovem

Quanto mais for estudado, tendência é que Lucas suba: potencial ofensivo e muito jovem

Já Lucas Dias é um nome que começa a ser mais comentado, e o reflexo disso aparece nas listas do DX e da ESPN. Há questão de cerca de 20 dias, o talento cestinha estava fora de ambas as relações. Hoje, já é o 69º para Givony e o número 80 para Ford. Fora os armadores citados acima, o austríaco Jakob Poeltl (Utah), os alas Nigel Hayes (Winsconsin) e Justin Jackson (North Carolina), o lituano Domantas Sabonis (Gonzaga) e o turco Egemen Guven (Karsiyaka) eram alguns dos prospectos que tinham praticamente certeza de que seriam selecionados, mas optaram por não se candidatar, pacientes. Isso também ajuda.

A segunda rodada do Draft parece mais realista para o ala, enfrentando, de qualquer forma, uma concorrência dura, especialmente de outros talentos estrangeiros como o ala-armador turco Cedi Osman, o pivô francês Mouhammadou Jaiteh, o pivô sérvio Nikola Milotinov, o ala búlgaro/cipriota Aleksandar Vezenkov e o pivô espanhol Guillhermo Hernángomez, todos mais experientes e mais badalados hoje. Não são necessariamente concorrentes diretos de posição, mas que podem atrair equipes propensas à seleção de um calouro que não precisa ser aproveitado de imediato.

Tanto George como Lucas aguardam um convite para disputar o adidas Eurocamp de Treviso, na qual dividiram quadra com a elite dos prospectos europeus, de diferentes idades. Seria um ambiente mais propício para mostrarem serviço, com mais jogos e atividades com bola. Existe a possibilidade de eles serem chamados também para jogar no Draft combine em Chicago, evento oficial da liga, no qual os principais prospectos geralmente só se apresentam para serem avaliados física e atleticamente e serem entrevistados pelos dirigentes, fugindo da ação em quadra com receio de que possam derrubar sua cotação.

O aviso de sempre: com quase dois meses restando ainda até o Draft, ainda está muito cedo para se apegar a essas projeções. Quano mais avançam os playoffs da liga, mais equipes terão sido eliminadas, o que significa mais e mais gente se voltando para o recrutamento de calouros. Os debates internos dos clubes começam a esquenta, uma vez que os técnicos também começam a dar seus palpites, depois de assistirem a jogos da molecada e, principalmente, depois de aplicarem os chamados workouts, os treinos privados das próximas semanas. Os índices atléticos, as entrevistas com os dirigentes, o desempenho nesses treinos – enfrentando concorrentes diretos de posição –, o trabalho dos agentes, o exame médico… Todos fatores que influenciam na tomada de decisão.


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