Presidente da CBB questiona metas do governo, mas se perde ao falar da seleção feminina
Giancarlo Giampietro
Ontem foi dia de rebater o candidato da oposição à presidência da CBB, o presente de grego que tivemos, durante anos e anos e que agora quer voltar. Foram tantos pontos de questionamento que parece que pior que aquilo não dava para ficar. Mas dá, sim. Dá quando sabemos que a confederação ou ficará com Bozikis, ou com o candidato da situação, que também tropeçar nas próprias palavras em entrevista ao R7. Carlos Nunes, Carlos Nunes… Ele quer a reeleição. Ai.
A pergunta é direta e vital para aquele que já preside a entidade. A resposta vem murchinha e com um cinismo que impressiona: “Mais resultados, trabalhar mais com a base, mais ajuda do governo, saber o que ele quer realmente no esporte…”.
Sempre o governo. A grana do governo. O mesmo governo que já cedeu a Eletrobrás como patrocinadora? Ah, tá. A mesma desculpa de sempre.
Em termos gerais, claro, quanto mais sólidos os investimentos em educação, escola pública, parques, centros olímpicos etc., maior a chance de termos um craque. Mas em qualquer modalidade, né? Não especificamente o basquete. Tirando a Lituânia, que governo trabalharia especificamente para o basquete?
E, se não falha a memória, a presidenta não acabou de assinar um cheque trilhardário há alguns dias para todo o esporte? Mas, antes de o governo saber o que espera do esporte, será que e a CBB sabe o que quer do basquete?
Quer mais ajuda, mesmo! Porque tá precisando.
Ainda mais porque os R$ 22 milhões orçamentários não servem pra tocar uma confederação de ponta, explicando então os empréstimos, o saldo negativo, o balanço que flerta com a falência da entidade nos últimos anos. Se quiserem discutir que o valor é pouco para sustentar as operações, que mandou assinar e topar esse tipo de valor? Num quadriênio rumo a uma Olimpíada em casa, não dava para barganhar mais?
Aí, quem sabe, com mais dinheiro, talvez ele consiga coordenar dois departamentos de uma vez. Porque sua gestão foi totalmente incompetente no que diz respeito ao feminino. “Para a feminina foi mais difícil, pelas dificuldades que tivemos e que todo mundo sabe”, afirmou.
Se todo mundo sabe, então é de se supor que ele, Hortência e asseclas sabiam também em 2009, não? Das duas uma: ou não sabiam, ou falharam em se preparar. Não tem desculpa. “A preparação é diferente da masculina. Foi difícil conseguir adversárias para ter uma preparação mais adequada. E ainda temos o cancelamento dos Sul-Americanos… Não tivemos países para jogar. A feminina, só teve o Chile para amistoso.”
Quer dizer, então, que o Brasil se deu mal nas Olimpíadas porque simplesmente não conseguiu jogar contra times de ponta. Como se elas não tivessem ido para a Austrália, né? Ou que não tivessem enfrentado a França, naquele fim de semana inesquecível do corte de Iziane. Por que o presidente, então, diria que só enfrentamos o Chile? E, realmente, um ou dois amistosos preparatórios fariam tanta diferença assim no resultado final? Ese foi o ponto mais importante? Ou será que mais relevante não era ter mantido uma linha técnico-tática durante todo o ciclo? Em vez de trocar a cada temporada?
Deve ser bobagem isso. Já que tínhamos um projeto bem claro: chegar a Londres para um torneio ritualístico, de passagem, de experiência para as meninas rumo ao Rio, com as jovens Karla, Chuca, Adrianinha e Silvia todas escaladas na rotação de Tarallo. Tássia, Nádia e Franciele, das mais experientes, ficaram entre as que menos jogaram. Damiris, grande aposta, foi limitada a menos de 20 minutos por partida. Isso tem tenome: planejamento. “A masculina tem mais condições que a feminina, já tem base pronta. A feminina vai passar por renovação”, disse Nunes. Ué, mas o ciclo anterior, nas palavras de Hortência, não era justamente para isso?
A julgar por essa entrevista, com tantas imprecisões, choradeira e palavras vagas, não dá para se animar muito para uma reviravolta no cenário feminino. “Queremos ganhar o Sul-Americano, nos classificar para a Copa América, para o Mundial, e no Mundial ficarmos entre as quatro, pelo menos. Queremos ser semifinalistas no Mundial da Turquia 2014”, assegurou.
Percebem a incoerência? Primeiro diz que a preparação do time feminino é mais difícil. Que vem renovação, blablabla. Depois, diz que espera uma semifinal de Mundial daqui a dois anos! Depois-depois, volta a se desdizer ao falar sobre Olimpíadas: ” Queremos o ouro, no masculino. No feminino, claro que também queremos o ouro, mas se ficarmos entre as quatro… (estaria bom)”. Então é assim: no Mundial, que é daqui a dois anos, ele quer “pelo menos” ficar entre as quatro – isto é, brigar por medalha. No Rio de Janeiro, daqui a quatro anos, jogando em casa, a casa de Érika e Clarissa, por exemplo, a demanda seria menor. Faz todo sentido do mundo.
Então fica a pergunta reforçada: o que a CBB realmente espera do basquete brasileiro?