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Arquivo : Batum

Mercado da Divisão Sudeste: Pat Riley virou a página
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Giancarlo Giampietro

Quem já leu os textos sobre a Divisão Central ou sobre a Divisão Pacífico, pode pular os parágrafos abaixo, que estão repetidos, indo direto para os comentários clube a clube. Só vale colar aqui novamente para o marujo de primeira viagem, como contexto ao que se vê de loucura por aí no mercado de agentes livres da NBA

riley-wade-miami-heat

As equipes da NBA já se comprometeram em pagar algo em torno de US$ 3 bilhões em novos contratos com os jogadores, desde o dia 1º de julho, quando o mercado de agentes livres foi aberto. Na real, juntos, os 30 clubes da liga já devem ter passado dessa marca. Cá entre nós: quando os caras chegam a uma cifra dessas, nem carece mais de ser tão preciso aqui. Para se ter uma ideia, na terça-feira passada, quarto dia de contratações, o gasto estava na média de US$ 9 mil por segundo.

É muita grana.

O orçamento da liga cresceu consideravelmente devido ao novo contrato de TV. O teto salarial subiu junto. Se, em 2014, o teto era de US$ 63 milhões, agora pode bater a marca de US$ 94 milhões. Um aumento de 50%. Então é natural que os contratos acertados a partir de 1o de julho sejam fomentados desta maneira.

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Vem daí o acordo acachapante fechado entre Mike Conley Jr. e Memphis Grizzlies, de US$ 152 milhões por cinco anos de duração, o maior já assinado na história. Na média anual, é também o mais caro da liga. O que não quer dizer que o clube o considere mais valioso que Durant e LeBron. É só que Robert Pera concordou em pagar ao armador o máximo que a franquia podia (no seu caso, com nove anos de carreira, 30% do teto salarial), de acordo com as novas regras do jogo.

Então é isto: não adianta ficar comparando o salário assinado em 2012 com os de agora. Se Stephen Curry, com US$ 12 milhões, ganha menos da metade de Conley, é por cruel e bem particular conjuntura. Quando o MVP definiu seu vínculo, estava ameaçado por lesões aparentemente crônicas e num contexto financeiro com limites muito mais apertados. Numa liga com toda a sua economia regulamentada, acontece.

O injusto não é Kent Bazemore e Evan Turner ganharem US$ 17 milhões anuais. O novo cenário oferece isso aos jogadores. O que bagunça a cabeça é o fato de que LeBron e afins não ganham muito mais do que essa dupla, justamente por estarem presos ao salário máximo. Esses caras estão amarrados de um modo que nunca vão ganhar aquilo que verdadeiramente merecem segundo as regras vigentes, embora haja boas sugestões para se driblar isso.

Feito esse registro, não significa que não exista mais o conceito de maus contratos. Claro que não. Alguns contratos absurdos já foram apalavrados. O Lakers está aí para comprovar isso. Durante a tarde de sexta-feira, recebi esta mensagem de um vice-presidente de um dos clubes do Oeste, envolvido ativamente em negociações: “Mozgov…  Turner…  Solomon… Sem palavras”. A nova economia da liga bagunça quem está por dentro também. As escorregadas têm a ver com grana, sim, mas pondo em conta o talento dos atletas, a forma como eles se encaixam no time, além da duração do contrato.

Então o que aconteceu de melhor até aqui?

Para constar: o blog ficou um pouco parado nas últimas semanas por motivo de frila, mas a conta do Twitter esteve bastante ativa (há muita coisa que entra lá que não vai se repetir aqui). De qualquer forma, também é preciso entender que, neste período de Draft e mercado aberto, a não ser que você possa processar informações como um robô de última geração como Kevin Pelton, do ESPN.com,  o recomendável não é sair escrevendo qualquer bobagem a cada anúncio do Wojnarowski no Vertical. Uma transação de um clube específico pode ser apenas o primeiro passo num movimento maior, mais planejado. A contratação de Rajon Rondo pelo Chicago Bulls no final de semana muda de figura quando o clube surpreende ao fechar com Dwyane Wade, por exemplo. No caso, fica ainda pior.

Agora, com mais de dez dias de mercado, muita coisa aconteceu, tendo sobrado poucos agentes livres que realmente podem fazer a diferença na temporada, deixando o momento mais propício para comentários:

– Atlanta Hawks
Quem chegou: Dwight Howard e os calouros Taurean Prince e DeAndre Bembry.
Quem ficou: Kent Bazemore.
Quem saiu: Al Horford (Celtics), Jeff Teague (Pacers) e Lamar Patterson (Kings).

Howard chorou em sua coletiva de apresentação

Howard chorou em sua coletiva de apresentação

Se você é torcedor do Atlanta Hawks, melhor não ler este artigo aqui de Zach Lowe. O melhor analista da NBA nos conta qual era o verdadeiro plano de Mike Budenholzer para este mês. A ideia basicamente era renovar com Horford, fazendo nova dupla com Howard, e trocar Paul Millsap.

Mas por que diabos trocariam o melhor jogador do time e um dos melhores alas-pivôs da liga? Por que, em 2017, ele vai virar agente livre, e seu próximo salário pode passar da casa de US$ 35 milhões anuais. Uma coisa é pagar isso a um cara de 30 anos. Outra, para alguém se aproximando dos 35, no finalzinho do contrato. Então eles poderiam repassá-lo agora, descolar de Phoenix, Denver ou Toronto algumas jovens peças e escolhas de Draft, dando um jeito de manter um time ainda bastante competitivo no Leste, ao mesmo tempo em que preparavam uma transição para um novo núcleo. Pois Horford não queria jogar com Howard, queria o máximo de dólares que Atlanta lhe poderia dar, não recebeu, então se mandou para Boston.  Agora Millsap retorna sabendo muito bem que poderia ter mudado de endereço. Um elemento incômodo para a química no vestiário. Bote aí uma também uma criançona como seu novo contratado, e o clima de paz e amor dentro do clube será desafiado.

Vamos ver como o antigo superpivô vai se comportar e jogar. Desde que saiu de Orlando, Howard basicamente só resmunga. Primeiro foi com Kobe. No ano passado, com Harden. Também reclama de técnicos quando a bola não chega e tem dificuldade para se manter em forma – não faz mais sentido recordar seus anos dourados quando sustentava uma forte defesa por conta própria. Enfim, faz tempo que ele dá dor-de-cabeça. Não havia, porém, gente tão boa assim disponível no mercado. Por US$ 23,5 milhões anuais, ele vai ganhar algo em torno de 40% a mais que Timofey Mozgov, sendo ainda muito mais jogador, de todo modo. Para assimilar o pivô, que nunca foi um grande passador e comete muitos turnovers, Budenholzer vai precisar adaptar bem seu sistema.

De resto, os dias de Jeff Teague estavam contados por lá, mesmo. É outro que vai pedir uma boa grana no ano que vem e, neste caso, já havia um substituto preparado. A NBA inteira agora vai ver se Dennis Schröder tem maturidade e bola para ser um titular numa equipe de ponta. O retorno por Teague na troca tripla com Indiana e Utah foi o ala Taurean Prince, um protótipo de DeMarre Carroll. Mesmo sendo mais velho que o novato comum, vindo de quatro anos de universidade, ainda não está pronto para entrar na rotação. O clube confia que sua comissão técnica dê um jeito nisso o quanto antes. A esperança é que ele eventualmente se transforme num defensor que possa incomodar o tal do LeBron. Já Bembry não só vai reforçar o time dos DeAndre na liga, algo sempre muito bem-vindo, como também tende a se encaixar na sinfonia de passes no ataque. Não representa ameaça nenhuma como atirador, mas deve ganhar seus minutos ao lado de Korver, Sefolosha e Bazemore. Pois é, Bazemore disse não ao Lakers e ao Rockets e ficou, ganhando agora mais de US$ 17 milhões por temporada. É um preço salgado, mas esta é a nova economia da liga. E estamos falando de um ala muito útil, que contribui ao time em diversas vertentes e, mesmo aos 26 anos, parece ainda ter potencial para ser explorado.

O Atlanta ainda tem talento para se manter entre os quatro melhores do Leste, desde que Howard produza um pouco mais do que fez em Houston, sem corroer o espírito da equipe, que Schrödinho responda como a franquia espera e que Millsap ignore o ruído das últimas semanas. Mas o elenco não evoluiu nem pensando no agora mesmo, nem para daqui a pouco.

– Charlotte Hornets
Quem chegou: Marco Belinelli, Roy Hibbert, Brian Roberts, Ramon Sessions e Christian Wood.
Quem ficou: Nicolas Batum e Marvin Williams.
Quem saiu: Courtney Lee (Knicks), Al Jefferson (Pacers), Jeremy Lin (Nets) e Troy Daniels (Grizzlies).

Batum é de Charlotte

Batum é de Charlotte, e ninguém tasca

A boa campanha na temporada passada teve seu preço para Charlotte: US$ 174,5 milhões em contratos para Batum e Williams e a perda de peças importantes como Lee, Jefferson e Lin. Considerando todas as possibilidades de mercado e as perdas e danos que o clube teve, Michael Jordan não tem do que reclamar.

O mínimo vacilo, hesitação que a franquia desse, e pode ter certeza que os dois agentes livres que renovaram seus contratos teriam saído. Batum ainda é um dos alas mais completos da liga, mesmo que nunca tenha ativado aquele instinto assassino que todos os seus talentos poderiam empregar muito bem. Já Williams foi um dos atletas que mais evoluiu nos últimos dois anos, se aproximando daquela imagem que muitos scouts projetavam quando ele foi eleito o número dois do Draft de 2005, logo acima de Deron Williams e Chris Paul.

Lee e Lin formaram excelente conjunto com o ala francês e o cestinha Kemba Walker, mas ficaram muito valorizados, sem que o Hornets tivesse condições de bancar seus contratos. A equipe vai sentir a falta de um na defesa e, do outro no ataque. Mas o técnico Steve Clifford foi competente o bastante desde que chegou a Charlotte para a diretoria confiar que o desenvolvimento interno pode compensar, de certa forma, essas baixas. Sob o comando de Gregg Popovich, Marco Belinelli jogou seu basquete mais consistente. No campeonato passado, foi um desastre para Sacramento. Mastalvez possa se recuperar em um time muito mais organizado. (É bom que o faça, já que custou uma escolha de primeira rodada de Draft, com bons prospectos ainda disponíveis.)

Já Al Jefferson, tão importante em 2014, mostrando que a cidade pode ser, sim, um destino para grandes contratações, acabou se tornando supérfluo depois de tantas lesões e de o gerente geral Rick Cho branquelos para o garrafão. Cody Zeller, Frank Kaminsky e Spencer Hawes não têm nem metade da habilidade do veterano para atacar em post ups, mas, coletivamente, podem suprir sua pontuação e contribuir para a movimentação e espaçamento do ataque. E ainda temos aqui Hibbert como alternativa, tentando esquecer o pesadelo que foi sua experiência em Hollywood.

– Miami Heat
Quem chegou: Derrick Williams, James Johnson, Wayne Ellington, Willie Reed, Luke Babbitt e Rodney McGruder.
Quem ficou: Hassan Whiteside, Udonis Haslem e Tyler Johnson.
Quem saiu: Dwyane Wade (Bulls), Joe Johnson (Jazz) e Luol Deng (Lakers).

Quem saiu: Dwyane Wade. Quem chegou: Wayne Ellington. É, meu amigo torcedor do Heat, eu sei que dói. Comparando assim de cara, é até um disparate. Com melhor diplomacia, mais jogo de cintura, Pat Riley poderia ter mantido Wade em Miami, sem dúvida. Agora… E se Riley, hã, por acaso, estiver certo nessa?

Vamos pensar por um instante: ainda que ele tenha disputado mais de 70 partidas de temporada regular pela primeira vez desde 2011, sua eficiência em quadra só vem diminuindo. Algo esperado, gente, para um ala-armador que foi um dos maiores atletas de sua geração e nunca desenvolveu seu arremesso de longa distância para compensar essa coisa infalível chamada envelhecimento.

Sim, Wade ainda é produtivo. Nos playoffs, conseguiu carregar a equipe nas costas uma última vez. E, sim, ele deu alguns descontos para o clube no passado, especialmente em 2010, para que LeBron e Bosh fossem contratados. Mas, veja bem: não é que só o Miami tenha se beneficiado nessa. O próprio Wade foi bem menos exigido com a chegada de mais duas estrelas, em vez de ficar sofrendo para tentar decifrar Michael Beasley.

Aos 34 anos, uma hora o fim vai chegar. E Riley simplesmente não estava disposto a pagar US$ 20 ou 25 milhões por ele. Foi uma traição? Foi desleal? Ou foi simplesmente pensando no melhor para o clube? Ou já nos esquecemos o que foram as últimas temporadas do Lakers com Kobe Bryant? A última campanha, especificamente, é algo que deve atormentar qualquer dirigente mais consciente.  Houve momentos comoventes, divertidos, surreais… E aqui está o Lakers no escuro, desamparado, sem nem mesmo conseguir uma reunião com Hassan Whiteside.

Para o pivô, era Heat ou Mavs. Ficou na Flórida, como um pilar para que a franquia se reconstrua. Sem a sombra de Wade, Goran Dragic vai assumir as rédeas do ataque e jogar mais ao seu estilo. A ameaça de pick-and-roll com Whiteside já é o suficiente para sustentar um bom ataque. Se Chris Bosh conseguir superar os temores por sua saúde e for liberado, é um núcleo para playoff. Se o pivô for barrado, vida que segue, com o clube contando com o progresso contínuo que os jovens atletas vêm apresentando.

Ainda vai levar um tempo para Justise Winslow ameaçar no ataque, mas sua presença em quadra já trás mais pontos positivos que negativos. Josh Richardson foi um tremendo achado no ano passado. Tyler Johnson obviamente não vale hoje os US$ 50 milhões que o Nets o ofereceu, mas tem potencial de sobra para eventualmente justificar o contrato ao final de sua duração. Reed será um ótimo reserva para Whiteside. E estou curioso para ver o que Derrick Williams pode render com Erik Spoelstra, tendo espaço para carregar uma boa carga ofensiva, correndo ao lado de Dragic e Whiteside.

– Orlando Magic
Quem chegou: Serge Ibaka, Bismack Biyombo, Jeff Green, DJ Augustin, Jodie Meeks, CJ Wilcox e Stephen Zimmerman.
Quem ficou: Evan Fournier.
Quem saiu: Victor Oladipo (Thunder), Ersan Ilyasova (Thunder), Brandon Jennings (Knicks), Dewayne Dedmon (Spurs), Andrew Nicholson (Wizards), Jason Smith (Wizards), Devyn Marble (Clippers) e Shabazz Napier (Blazers).

Só está faltando Mutombo de diretor em Orlando para a Conexão Congo ficar completa

Só está faltando Mutombo de diretor em Orlando para a Conexão Congo ficar completa

Está aqui um dos clubes mais enigmáticos da NBA. Com o gerente geral Rob Hennigan espera que Frank Vogel vá distribuir os minutos da linha de frente entre Ibaka, Biyombo, Vucevic, Green e Hezonja, é uma ótima pergunta.

Quando a equipe anunciou sua  troca surpreendente com OKC, já havia questionado o que a chegada do congolês significava para o jogador mais promissor do elenco, que é Gordon. Para mim, me parece claro que o futuro desse superatleta é como ala-pivô explosivo e dinâmico”, em vez de “ala forte, alto, mas muito mecânico, travado com a bola”. Ao adicionar também Biyombo, parece que o objetivo é empurrar o rapaz para o perímetro, mesmo. Mas aí o cara vai e me contrata Jeff Green também? Por US$ 15 milhões por um só ano? Que é mais do que Tobias Harris vai receber neste próximo campeonato? Difícil de entender isso.

Enquanto isso, sua back court está bastante enfraquecida. Ou Elfrid Payton dá um passo adiante, assumindo o controle de fato do ataque, ou talvez não adiante nada ter tantos pivôs e atletas estocados assim, sem que eles possam receber a bola. DJ Augustin encontrou seu rumo na liga, mas como pontuador vindo do banco, e não como o organizador que se esperava quando saiu da universidade. Fournier e Meeks oferecem arremesso de longa distância, mas vão se revezar em quadra, de modo que a quadra pode ficar bastante apertada também. A não ser que Ibaka jogue aberto o tempo todo.

O Orlando vai de técnico em técnico, de plano em plano, como se fosse um Phoenix Suns do Leste, querendo brigar pelos playoffs, mas sem cuidar direito de seus atletas mais jovens também. Com Skiles, a equipe teve seus momentos na temporada passada, mas perdeu rendimento rapidamente. O sargentão já não consegue motivar um grupo nem mesmo por um campeonato que seja. Nesse sentido, o acerto com Vogel não poderia ser mais positivo – os dois são completamente diferentes no trato com os atletas. O ex-treinador do Pacers, porém, será ainda mais testado do que foi na temporada passada. E isso foi com Monta Ellis, Rodney Stuckey, CJ Miles e Jordan Hill recebendo muitos minutos…

Washington Wizards (Atualizado nesta terça-feira, dia 19)
Quem chegou: Ian Mahinmi, Tomas Satoransky, Andrew Nicholson, Jason Smith e Marcus Thornton.
Quem ficou: Bradley Beal.
Quem saiu: Nenê (Rockets), Jared Dudley (Suns), Garrett Temple (Kings) e Ramon Sessions (Hornets).

Mahinmi e Gortat vão dividir a zona pintada no quintal de Obama

Mahinmi e Gortat vão dividir a zona pintada no quintal de Obama

O Wizards foi outro clube que, tal como o Lakers, passou um carão danado ao ser rejeitado de imediato por Kevin Durant, que não quis nem mesmo cogitar a possibilidade de jogar em casa. Isso depois de o clube ter se planejado por três temporadas, no mínimo, para tentar contratá-lo.

Ao levar um fora desses, o clube parece ter ficado um pouco desnorteado. Assinou, então, com Bradley Beal por aproximadamente US$ 130 milhões. Para um atleta que, aos 22 anos, nunca disputou mais do que 73 partidas em quatro temporadas de liga – sem que seu tempo de quadra se aproximasse dos 40 minutos também –, esse é um compromisso, e tanto, hein? Especialmente quando Beal era um agente livre restrito. Isto é, o trunfo era de Washington nesse caso, podendo agir com paciência, para saber qual a temperatura do mercado – mesmo que isso pudesse, a princípio, irritar jogador e agente.

Depois, sem ter mais onde por seu dinheiro, o proprietário Ted Leonsis validou a oferta por Ian Mahinmi (US$ 64 milhões por quatro anos, o mesmo valor de Mozgov & Lakers). O pivô francês é um ano mais jovem que o russo e jogou muito mais na temporada passada. Não foi um contrato descabido. O problema é que, hã, o Wizards já tem um pivô titular bastante competente, e não há como o reforço dividir a quadra com Marcin Gortat. Tanto que o clube se sentiu impelido ainda a investir em Nicholson e Smith, grandalhões que são ótimos arremessadores.

Um reforço mais interessante é o tcheco Satoransky, que chega após quatro depois de seu Draft. O armador de 2,01m de altura chega aos Estados Unidos na hora certa, aos 24 anos, tendo disputado partidas e competições importantes pelo Barcelona. Satoransky empresta versatilidade ao técnico Scott Brooks, podendo vir do banco de reservas para render John Wall, Beal ou mesmo Otto Porter.

Enquanto Wall se recupera de uma cirurgia no joelho (toc-toc-toc), a principal aposta de melhora em quadra talvez seja mesmo Markieff Morris, que pode contribuir ainda mais para o time vindo de training camp completo, desde que esteja com a cabeça no lugar. Vamos ver também como Scott Brooks se sai sem dois dois cinco melhores jogadores da liga em seu time.

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O jogo verdadeiramente histórico de Gasol (e a questão Tony Parker)
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Giancarlo Giampietro

Ele contra os azuis

Ele contra os azuis

Muito provavelmente já fiz essa reclamação antes. Certo que na minha cabeça ela já foi repetida diversas vezes. Se for o caso, desculpem a repetição de uma autocrítica à classe dos cronistas esportivos. Seja por falta de criatividade ou cultura ou por simples preguiça, nunca escrevemos tanto palavras como “épico”, “mítico” e afins. Mesmo que tenha sido um hat-trick na Série B brasileira ou um golaço de sem-pulo no Maracanã. Num meio em que tantas e tantas vozes se dissiparam pela grande rede, parece haver um certo afã de se sentir parte dos registros históricos, nem que como testemunha.

Aí quando morre um Djalma Santos e ou um Moses Malone, na hora de se atribuir um devido valor a esses caras, os adjetivos mais indicados parecem ter perdido seu valor, banalizados. Mais do mesmo. Pois é. Essa sensação de impotência me ocorre quando vejo uma partida como a de Pau Gasol nesta quinta-feira, para derrubar a França por 80 a 75, em uma vingança particular pela semifinal do EuroBasket e classificar a Espanha para o Rio 2016. Foi um desempenho incrível e, dentro daquele contexto específico, me pareceu uma das melhores exibições individuais da… história.

Senão, vejamos: trata-se da maior rivalidade do basquete de seleções hoje; valia a vaga olímpica; foi com o drama de uma prorrogação; jogou diante da torcida do mesmo adversário que, um ano antes, havia estragado a sua festa na casa dele; Gasol, inclusive, não jogou conforme o esperado naquela ocasião, oprimido pela capacidade atlética de um oponente que, depois de tanto insistir, se inseriu no primeiro escalão; está com 35 anos, o relógio está batendo, e, para alguém tão envolvido com sua seleção, isso tem um peso enorme. O que ele fez? O… mítico pivô espanhol marcou 40 pontos em 36 minutos e acertou 12 de 21 arremessos, incluindo 63% nos arremessos de dois pontos, além de ter matado 16 de 18 lances livres e capturado 11 rebotes. Vale o slow:

Na verdade, essa coisa de aproveitar o momento vale muito mais para nós do que para o craque. Andrei Kirilenko já se foi, Dirk Nowitzki está nas últimas, Spanoulis diz que não vai mais jogar pela Grécia… Esses caras estão todos indo embora, então que o basquete como um todo possa curtir o vasto talento do camisa 4 espanhol. Excluindo os franceses desse grupo, claro.

Rudy Gobert, Nicolas Batum e o técnico Vincent Collet reclamaram uma barbaridade. “Pau é um grande jogador, mas ele não pode arremessar 18 lances livres, enquanto a França como um todo não chutou nem mesmo um no primeiro tempo. Houve diferentes modos de se apitar. Ele é um jogador gigante, vem num torneio fantástico, mas não pode ser favorecido desse jeito enquanto os outros atletas não ganham nada. A Fiba deveria fazer algo a respeito”, afirmou o treinador. “Não podia mesmo tocar nele. É difícil marcar assim. Quando você não pode usar suas mãos, ele é praticamente imarcável”, disse Gobert. “Não gosto de falar sobre arbitragem, mas Pau Gasol é protegido um pouco demais. Isso é o esporte, não tem jeito. Nunca vamos ganhar o respeito devido, e eles sempre serão os reis do mundo”, completou Batum.

Dureza em francês escreve como?

Dureza em francês escreve como?

Gasol realmente cobrou mais lances livres que toda a seleção francesa: 18 a 17. No geral, porém, a diferença não foi tão gritante assim: os demais jogadores espanhóis somaram apenas oito lances livres. Então temos 26 x 17. A NBA já viu coisa muito pior que isso. Por mais que o craque tenha sido protegido, não pega nada bem para os falastrões franceses chiarem dessa maneira depois de uma partida daquelas.

Será que ocorreu para os magoadíssimos franceses que o pivô do Chicago Bulls tenha simplesmente se imposto, e não por paparicação? Que a arbitragem só deu tantas faltas nele pelo fato de ser, disparado, o jogador mais agressivo e lúcido em quadra? Gasol foi ao ataque do início ao fim. Em excelente forma, apostou corrida com os franceses mais jovens e mais atléticos e venceu.

Se Phil Jackson se deu ao trabalho de interromper a meditação em Montana para assistir ao jogo, deve ter ficado com inveja, matutando por que nem sempre tinha um pivô tão agressivo assim em quadra. Mike D’Antoni, então, depois de tantos maus-tratos ao espanhol em sua conturbada passagem pelo Lakers, deve ter desligado a TV, entediado ou arrependido que só. O técnico tem uma mente especial para desenhar o ataque, mas se perde em seu brilhantismo ao tentar dobrar todo e qualquer jogador de acordo com seu sistema. Desperdiçou muito do que o espanhol tem de melhor.

Gasol dançou a noite toda com Gobert, Lauvergne, Diaw e Pietrus. Giro daqui, giro para lá, gancho, o chute de média distância mortal, o drible absurdo para alguém de 2,13m , a visão de quadra. São vastos os seus talentos. Quando joga com a determinação que vem apresentando neste EuroBasket, não há quem segure em lugar algum. Nem mesmo um gigante como Gobert, que ainda é jovem e talvez tenha se empolgado demais com o que havia feito na Copa do Mundo do ano passado, quando levou a melhor sobre o craque.

Por mais compridos que sejam seus braços e pernas, não é sempre que vai acontecer, mon ami. E também serão raríssimas as vezes em que terá como missão parar uma… lenda viva dessas.

*    *    *

Fala-se  muito em desfalques da Espanha. Mesmo durante a comemoração, o técnico Sergio Scariolo e sua grande estrela mencionaram as baixas para colocar sua seleção em condição de inferioridade e tentar entender a súplica que foi avançar no torneio. Sem tanto drama, meus chapas. Marc Gasol obviamente faz falta a qualquer equipe, mas é de se pensar se, hoje, sua presença em quadra não limita o jogo de seu irmão. Explico: por mais que possa jogar na cabeça do garrafão ou até na linha de três, numa quadra mais apertada como a da Fiba, acaba obstruindo um espaço precioso para o craque operar. Mesmo que não tenha chutado bem no EuroBasket, Nikola Mirotic desperta temor dos adversários, que ficam grudados nele. Além do mais, do outro lado, com dois Gasols em quadra, as coisas podem ficar ainda mais difíceis no jogo de hoje, pois um dos pirulões será obrigado a marcar um ala-pivô mais baixo e mais leve. Sobre Mirotic: de acordo com as regras da federação internacional, um país só pode usar um naturalizado por uma vez. Então era ele ou Ibaka, de modo que o congolês não pode ser considerado baixa. No perímetro, Juan Carlos Navarro teve sua temporada menos produtiva da década. Alejandro Abrines está crescendo, mas ainda não é uma certeza. Ricky Rubio e José Calderón? Também fariam parte do grupo. Mas os dois Sergios do Real Madrid são hoje atletas muito superiores. Mas muito, mesmo. Calderón é o melhor diretor e arremessador, mas, no momento em que entra em quadra, se torna um alvo do ataque adversário. Rubio não conseguiu jogar basquete na última temporada.

Agora, claro: quando você soma tantos nomes assim, dá meio time. A rotação ficaria mais encorpada. Mas, contra França e Grécia, no quarto final, o que a Espanha basicamente tem de melhor estava em quadra. Além do mais, assim como valeu para a França e para os Estados Unidos no ano passado, vale para eles agora: são tantos os jogadores de ponta disponíveis para uma convocação, que é obrigação de qualquer técnico montar um time não só competitivo, mas que entra para brigar por medalha e título.

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Sergio Llull, Espanha

Sergio Llull mostrou nesta semifinal por que o Houston Rockets não se cansa de tentar sua contratação. Acontece que é difícil tirar o rapaz do Real Madrid, onde é tratado como rei. Quando está mais concentrado na defesa, deixando o xará Rodríguez e Rudy Fernández com maiores encargos ofensivos, é que rende melhor em alto nível. Ele movimenta os pés com muita rapidez. Está, por isso, invariavelmente bem posicionado. Sua defesa para cima de Tony Parker não pode passar despercebida num jogão desses. No ataque, ele também não pára de acelerar. Às vezes força nas infiltrações, mas, por atacar sempre, joga pressão sobre a defesa. Já de Rodríguez não há muito mais o que escrever aqui. Dos armadores europeus hoje, é o que tem o jogo mais apropriado para fazer sucesso na NBA, como suas constantes infiltrações contra uma defesa fortíssima como a da França podem comprovar (15 pontos, 5-8 quando foi lá dentro, 3 assistências e só um turnover).

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Sobre Tony Parker: pode ser demasiado cedo para ser alarmista, mas, LaMarcus Aldridge à parte, pode ser que Gregg Popovich tenha um problemaço para a próxima temporada. Llull fez um grande trabalho contra o astro francês, mas não foi o único a incomodá-lo bastante neste torneio. Se um viajante do tempo chegasse desavisado a Lille, não daria a mínima para o capitão francês, que chega à disputa pelo bronze com médias de 11,9 pontos, 4,3 assistências, mas 2,3 turnovers e sofríveis 35,4% os arremessos de quadra (sendo 37,1% de dois pontos — quer dizer, não é que ele tenha se acomodado no perímetro com seu arremesso de três suspeito). Aqui, valem as mesmas ressalvas feitas para Nowitzki: são veteranos que talvez não estejam nem mesmo em ritmo de pré-temporada, enfrentando defensores ferozes e vorazes. Pode ser que Parker ainda esteja, mesmo, avariado por tantas lesões que teve de tratar durante a última temporada e que vá demorar para recuperar a melhor forma. Você dá o benefício da dúvida a um jogador destes, claro. Fica quase na torcida para que seja isso, e não limitações que tenham chegado para ficar. Pois ele dificilmente conseguiu quebrar a primeira linha defensiva nos últimos dias. Também não conseguia criar a separação necessária para fazer seu chute de média distância funcionar. Sem velocidade, seu jogo evapora. Aos 33 anos, é uma situação para se monitorar com muita atenção.

Na semifinal, por mais que não funcionasse sua abordagem ofensiva, ele não arredava pé, e era bico atrás de bico. Foram apenas 10 pontos em 37 minutos, com 13 arremessos desperdiçados em 17 tentativas (23,5%) e um aro que precisará ser trocado para a sequência do torneio. É nessas horas que ter uma figura de tanta relevância em quadra pode até fazer mal a uma equipe, dependendo de suas condições. Por mais arrojado que seja Nando De Colo, não há como ele não deferir para seu capitão. E qual o nível de coragem que Collet precisaria ter para deixá-lo no banco? De qualquer forma, analisando friamente o desempenho do armador, imagino que o treinador esteja muito arrependido pelo corte de Thomas Heurtel, tendo priorizado a envergadura de Leo Westermann, com propósitos defensivos para cobrir Parker. No fim o ataque que precisava de ajuda.


Portland Trail Blazers: aproveitando ao máximo a boa fase
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Giancarlo Giampietro

LaMarcus e Lillard, bela dupla de um belo time

LaMarcus e Lillard, bela dupla de um belo time

Cada um no seu quadrado. A sabedoria popular brasileira ainda nos oferece esse tipo de pérola, né? Que, neste caso, serve muito bem para os fiéis torcedores do Portland Trail Blazers. Esses caras têm novamente um dos times mais legais da NBA em sua cidade, que voltou aos playoffs, venceu uma série e se meteu com gente grande. Damian Lillard é uma das jovens estrelas mais populares, LaMarcus Aldridge encontrou a paz de espírito. O técnico Terry Stotts foi recompensado com uma renovação de contrato depois de uma campanha brilhante. Tudo muito bacana.

Por outro lado, depois do que o San Antonio Spurs fez com eles nos mata-matas passados, é muito difícil imaginar que, na complicadíssima Conferência Oeste, o Blazers tenha o suficiente para subir mais alguns degraus e lutar pelo título, como nos tempos de Clyde Drexler, Terry Porter e Rick Adelman.

Mas… e daí? Ter um time competitivo, com personagens carismáticos e talentosos não é o suficiente? Talvez para o fã americano mais radical, não, caso ele se deixe levar pelo vencer, vencer e vencer. Em Portland, uma cidade que vive em comunhão com sua única franquia nas quatro grandes ligas esportivas dos EUA, porém, cair nessa seria uma bobagem. São tempos para se curtir ao máximo.

Batum, o francês, bastante confiante

Batum, o francês, bastante confiante

Em termos de reforços, Steve Blake e Chris Kaman são as novidades, e basta perguntar aos rivais do Lakers o que pensam a respeito da dupla. A esperança é acreditar numa evolução contínua de Lillard e Nicolas Batum, que encerrou sua campanha na última Copa do Mundo em grande estilo. Somando a semifinal contra a Sérvia e a decisão pelo bronze contra a Lituânia, o ala acertou 10 de 17 arremessos de três pontos e 19 de 29 arremessos no geral, com média de 32 pontos por partida. Em apenas 35,5 minutos, algo muito raro de se ver em competições Fiba.

Blake é um caso especial da liga: os técnicos o adoram. Para quem vê de fora, porém, é difícil se enamorar. O que ele traz para uma equipe é QI, estabilidade e intensidade. Seu jogo deve combinar melhor com o arrojo de seu jovem armador titular – ao passo que, Mo Williams, embora tenha feito um belo campeonato, seria como uma duplicata do titular. Sobre Kaman? Imagino que a ideia seja reduzir para zero os minutos de Aldridge como o principal pivô em quadra, para preservar o físico da estrela. Para que ele esteja sempre escoltado por um grandalhão, mais com Robin Lopez, de preferência.

Por mais que a cotação de Lillard tenha decolado, o sistema ofensivo ainda depende bem mais de LaMarcus. Quando o pivô caiu de rendimento na segunda metade do campeonato passado, lidando com dores na virilha, a eficiência do time, que chegou a ter a principal artilharia da liga nos primeiros meses, foi junto. As equipes diminuíram a frequência da marcação dupla para cima dele, e os chutadores ficaram mais vigiados, por consequência.

Além disso, pela segunda vez seguida, os titulares do Portland perderam um pouco de rendimento no geral, como reflexo do quanto são exigidos. Eles saíram extenuados da emocionante série contra o Rockets e acabaram atropelados pela turma de San Antonio. Era outro nível de basquete, como a própria turma de Aldridge admitiu. Um nível que pediria um grande salto este ano para ser atingido.

O time: a boa notícia para o Blazers é que, se existe uma razão cristalina para Terry Stotts ter sido considerado um dos melhores treinadores da temporada passada, foi justamente a fabulosa melhora da equipe nos dois lados da quadra. De 2013 para 2014, o Blazers simplesmente subiu de 16º ataque mais eficiente para quinto e da 26ª melhor defesa para a 16ª. Como Phil Jackson sempre enfatizou: é muito provável que uma coisa leve à outra. Um sistema ofensivo balanceado facilita a transição de sua retaguarda, por exemplo. No caso de Stotts, sua contribuição também foi simplificar o tipo de cobertura desenhado para proteger sua cesta. Ele autorizava pouca flutuação em ajuda, recomendando expressamente para que seus atletas de perímetro ficassem grudados em seus respectivos oponentes. A troca em situações de pick-and-roll também era para ser evitada ao máximo. Com a base mantida, estaria o técnico mais confortável para experimentar mais nesta campanha?

Blake e Kaman agora querem sorrir em Portland

Blake e Kaman agora querem sorrir em Portland

A pedida: maaaaaais um time que sonha em avançar nos playoffs.

Olho nele: CJ McCollum. Se os veteranos contratados não levam o povo às ruas de Portland, pode ser que o principal reforço venha de dentro do plantel, mesmo. A melhor aposta nessa linha seria no armador segundanista, o décimo do Draft de 2010. McCollum foi comparado por muitos scouts como um jogador do perfil de Stephen Curry quando atuava pela modesta universidade de Lehigh, graças a sua habilidade como arremessador.  Pode ser um exagero, mas já serve para chamar a atenção. Seu ano de novato por atrapalhado por uma fratura no pé – que, aliás, é a mesma que tira Kevin Durant de ação nas próximas seis semanas, no mínimo: a “Fratura Jones”. Em depoimento ao Basketball Insiders, McCollum afirmou sobre a dificuldade de recuperação. Ele sofreu a primeira lesão jogando por Lehigh, passando por uma cirurgia. Durante o training camp, todavia, se tornou reincidente.  Nesse mesmo texto, imperdível – afinal, McCollum é um formando de jornalismo ; ) –, o atleta dá dicas aos novatos deste ano, sobre como controlar suas finanças, e também é bastante cândido ao falar a respeito dos ajustes necessários em quadra para os mais jovens. “Em vez de pensar nas razões por que o técnico deveria te pôr para jogar mais, honestamente pense nos motivos pelos quais o técnico não o está escalando”, disse. “O próximo passo é trabalhar em cima dessas coisas, melhorar nessas áreas específicas, para haver uma mudança em seu jogo.”

McCollum, o basqueteiro jornalista, conta tudo. Leiam

McCollum, o basqueteiro jornalista, conta tudo. Leiam

Abre o jogo: “Vou definitivamente arremessar mais de três. O técnico vem tentando me fazer arremessá-lo pelos últimos dois anos. Acho que sou o último jogador que não queria chutar de três. Mas só queria esperar até que me sentisse confortável com isso. Definitivamente trabalhei neste verão e me sinto mais confortável para isso. O técnico já me colocou em algumas jogadas em que estarei na zona morta, para fazer de lá. Acho que vai ser uma das coisas que trarei para o time neste ano”, LaMarcus Aldridge, sobre a coqueluche tática da liga com as bolas de longa distância, que tem em Stotts um grande entusiasta. Na mesma entrevista, o pivô assegurou que vai renovar com a equipe no ano que vem, ao final de seu contrato. Só descartou uma extensão porque esse tipo de recurso já não faz mais sentido financeiramente.

Você não perguntou, mas… na enquete com os gerentes gerais da liga promovida pelo NBA.com, os cartolas tiveram de responder sobre o melhor atleta do mundo fora da NBA. Dos três mais votados, dois já defenderam o Blazers no passado e saíram do Oregon para lá de infelizes com o técnico Nate McMillan: o ala Rudy Fernández, número um da lista, e o armador Sérgio Rodríguez, MVP da última Euroliga. Os dois jogam pelo Real Madrid.

rolando-ferreira-portland-blazers-cardUm card do passado: Rolando! O gigante de 2,15 m não só foi o primeiro brasileiro a jogar na NBA, como também foi o primeiro sul-americano, em 1988-89, depois de ter sido selecionado pelo Portland Trail Blazers na 26ª colocação do Draft daquele ano – que equivalia ao primeiro lugar da segunda ronda do recrutamento. Saindo da universidade de Houston, o curitibano teve, no entanto, uma passagem muito curta pela franquia. O chapa Fábio Aleixo conta essa história com muito mais detalhes.  O card ao lado tem uma peculiaridade, que é a marca. Os colecionadores devem se perguntar: que raios de “Franz” é essa? Definitivamente não é uma das grandes do ramo. Na real, é a “Franz Bakery”, uma tradicional rede de padarias de Portland que, em 1984, decidiu criar um set dedicado ao único clube. As figuras eram distribuídas em pacotes de pão: um por paquete. Rolando também entrou nessa.


Bronze inédito confirma: a França veio para ficar
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Giancarlo Giampietro

Após o título europeu, o bronze mundial. Sem sua principal estrela

Após o título europeu, o bronze mundial. Sem sua principal estrela

A terceira posição assegurada pela França nesta Copa do Mundo confirma: eles vieram para ficar. Foi um bronze inédito para os Bleus, um ano depois de eles terem conquistado o EuroBasket também pela primeira vez. Além da façanha em si de valer o pódio, a vitória deste sábado sobre a Lituânia, por 95 a 93, também tem um simbolismo especial para a estrutura do basquete francês, que, a despeito dos muitos desfalques, vê um trabalho todo coroado, mostrando que é mais do que um ou dois nomes.

Os cronistas esportivos estão todos muito habituados a se referir ao time de fulano de tal. A Alemanha de Dirk Nowitzki, o México de Gustavo Ayón etc. Em alguns casos, como no dos alemães, obviamente ainda é um caso. Não há meios de a Nationalfünf conquistar algum resultado de respeito, por ora, sem a presença de Nowitzki. Assim como a presença de Ayón permite que os mexicanos voltem a um Mundial depois de quatro décadas.

No caso dos franceses, por conta de tudo o que seu grande ídolo fez desde que chegou a San Antonio, seria normal se referir ao seu time nacional como algo que pertencesse a Parker. Foi com ele, mesmo, que subiram, ano a ano, de produção, para se colocar definitivamente entre os melhores do mundo neste biênio 2013-14. E, convenhamos, o cara joga demais. É um dos melhores armadores europeus da história, já. Com ausência do ligeirinho nesta Copa do Mundo, a maneira obrigatória de se referir a esta seleção pareceu a seguinte: “Ainda é um bom time, mas, sem Parker, vai ficar difícil”.

E foi difícil, mesmo. Mas competiram. Os caras perderam para o Brasil e a Espanha na primeira rodada. Suaram para bater Sérvia e, pasme, Irã e confirmar a classificação. Depois, fizeram um jogo equilibrado contra a Croácia pelas oitavas e se colocaram entre os oito melhores. Aí era a hora de encarar a Espanha, grande favorita do torneio ao lado dos Estados Unidos. Todo mundo estava pronto para dizer adieu, incluindo este blog que logo considerou o Brasil o quinto colocado da competição após a derrota para Sérvia. Mas, não: os franceses empurrariam os brasileiros um degrau abaixo ao chocar Madri, eliminando os anfitriões. Contra a Sérvia e a Lituânia, mais dois jogos duros, com uma derrota e uma vitória, e lá estava o bronze garantido para a galeria.

Diaw e seu ano perfeito: campeão europeu, bronze mundial e campeão da NBA. Contra a Lituânia, foram 15 pontos, 4 assistências, 2 rebotes e 2 roubos de bola em 33 minutos. Com muita visão de jogo, versatilidade, experiência e boa defesa, a influência do ala-pivô é enorme sobre o time, de modo que é até injusto batermos sempre na tecla de que Parker não foi para o torneio. Para mim, a ausência de Diaw seria igualmente significativa

Diaw e seu ano perfeito: campeão europeu, bronze mundial e campeão da NBA. Contra a Lituânia, foram 15 pontos, 4 assistências, 2 rebotes e 2 roubos de bola em 33 minutos. Com muita visão de jogo, versatilidade, experiência e boa defesa, a influência do ala-pivô é enorme sobre o time, de modo que é até injusto batermos sempre na tecla de que Parker não foi para o torneio. Para mim, a ausência de Diaw seria igualmente significativa para a química de sua seleção

Sem Parker, a França perde em força ofensiva, criatividade, obviamente. Mas mantém uma defesa muito chata, que incomoda demais. Foi pela defesa que eles nivelaram praticamente todos os jogos que disputaram no Mundial, especialmente contra a Espanha. Uma consistência que o time já trás do EuroBasket, isso para não falar das Olimpíadas de 2012.

O técnico Vincent Collet, no cargo desde março de 2009, tem muito mérito nisso, mas também pesa bastante a vasta gama de atletas da qual ele pode pinçar seus jogadores. O país tem, hoje, dez jogadores sob NBA que foram produzidos em sua categoria de base. Atentem que são, na verdade, 11 os franceses na liga americana quando incluímos Joakim Noah na relação. O pivô escolheu defender a nação de seu pai, mas nasceu nos Estados Unidos e se fez como atleta por lá, da mesma forma que o “gaúcho” Scott Machado.

Inglis: tem muita gente que julga ser um prospecto de muito potencial. O ala da Guiana Francesa tem 19 anos e foi selecionado pelo Bucks no início do 2º round do Draft. Não jogou a liga de verão de Vegas ao lado de Jabari e Giannis devido a esta lesão no tornozelo direito. Fica o aviso

Inglis: tem muita gente que julga ser um prospecto de muito potencial. O ala da Guiana Francesa tem 19 anos e foi selecionado pelo Bucks no início do 2º round do Draft. Não jogou a liga de verão de Vegas ao lado de Jabari e Giannis devido a esta lesão no tornozelo direito. Fica o aviso

Desses 10, temos gerações bem diferentes: Parker e Boris Diaw são de 1982. O caçulinha Damien Inglis, recém-draftado e contratado pelo Bucks, nasceu em 1995. Entre eles, aparecem Ronny Turiaf, de 1983, Ian Mahinmi, de 1986, Nicolas Batum e Alexis Ajinça, de 1988, Kevin Seraphin, de 1989, e Rudy Gobert e Evan Fournier, de 1992. Isto é, a produção é consistente – isso falando apenas dos atletas que estão hoje na maior liga do mundo.  Detalhe: apenas Turiaf usou algum estágio para ingressar na NBA, passando pela universidade de Gonzaga. O restante? Saíram todos diretamente de clubes franceses.

Podem entrar nessa conta da base muito mais nomes, como o ala-armador Nando De Colo, que acabou deixando o Toronto Raptors para defender o CSKA Moscou, que é de 1987. O armador Rodrigue Beaubois, depois de graves lesões, ainda sonha com um retorno, nasceu em 1988. Johan Petro, ex-Nuggets, Nets e Hawks, é de 1986. Os alas Yakhouba Diawara, que já atuou por Nuggets e Heat e recebeu sondagens este ano, e Mickael Pietrus, uma cacetada de times, se juntam a Parker e Diaw como de 1982. Mickael Gelabale, ex-Sonics e Wolves, é da turma de 1983.

Quer mais? Da atual seleção, o pivô Joffrey Lauvergne (1991) também já foi draftado pelo Denver Nuggets em 2013 e vem progredindo mês a mês na Europa, trocando o Partizan Belgrado pelo Khimki, da Rússia, para ganhar bem mais. Em breve, estará no Colorado. O ala-pivô Livio Jean-Charles (1993) foi selecionado pelo Spurs e joga pelo ASVEL, o clube do qual Parker é um dos donos.

Veja o tanto de gente E saiba que esta foi apenas uma passada rápida por aqueles nomes mais discutidos em cenário internacional, até por conta do vínculo que criaram com a NBA. Mas não dá para ficar sem falar dos armadores Thomas Heurtel e Antoine Diot (ambos de 1989) que substituíram Parker no Mundial e passou batido pelo Draft.

São muitos, mas muitos nomes para Collett filtrar. Entre possuir os nomes e formar uma grande equipe, são outros 500. Mas está claro que o pódio da França não é um acidente. A Espanha que se acostume com isso.

*  *  *

Batum foi espetacular nas últimas duas partidas francesas, marcando 62 pontos no total contra sérvios (35) e lituanos (27). Pegou fogo, acertando 10 de 17 arremessos de três pontos. Nas sete partidas anteriores, havia somado 69.

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O legendário armador Bob Cousy, considerado o primeiro símbolo de sua posição nos tempos em que jogava com Bill Russell no avassalador Boston Celtics dos anos 50 e 60, tem ascendência francesa. Nasceu em Nova York, filho de imigrantes.

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O ala Antoine Rigaudeau foi talvez o grande ídolo francês da geração que antecedeu a de Parker – prata nos Jogos de Sydney 2000 e cinco vezes o MVP da liga nacional. Ele é 10 anos mais velho que o armador, mas só foi se testar na NBA dois anos depois, em 2003. Sua passagem pelo Dallas Mavericks foi um desastre, porém. Aos 31, mal entrava em quadra: disputou apenas 11 partidas, com 17 pontos e 91 minutos no total. Dos 35 arremessos que tentou, acertou apenas 8. Maldosamente, ficou conhecido no Texas como Rigaudon’t (não, Antoine, por favor: não arremesse dessa vez).


0% NBA, Sérvia bate França e encontra EUA na final da Copa
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Giancarlo Giampietro

Teodosic, Bogdan-Bogdan: são de NBA, só não estão lá. Há vida na Europa

Teodosic, Bogdan-Bogdan: são de NBA, só não estão lá. Há vida na Europa

Algoz do Brasil, a Sérvia fez mais uma partidaça nesta sexta-feira. Tomou um susto danado da França, é verdade, mas conseguiu se segurar acima no placar para se garantir na final da Copa do Mundo. Vão desafiar os Estados Unidos no domingo.

É um confronto muito interessante, do ponto do vista brasileiro. Por aqui, a impressão é de que, no mundo do basquete, só a NBA importa, não? Este blog, mesmo, sublinha a tese, provavelmente com 95% de seu conteúdo dedicado à liga americana no decorrer de sua temporada. Mas a modalidade tem muito mais que isso. Como os sérvios podem atestar: em seu elenco, não há ninguém com contrato assinado com uma franquia dos Estados Unidos ou com o Toronto Raptors. Na decisão, vão enfrentar o Team USA, que… Bem, vocês entenderam, né?

Então está aí a seleção balcânica, mostrando que existe todo um mundo lá fora para ser observado. Agora, uma coisa é dizer que a Sérvia não tem nenhum atleta na NBA hoje. Outra, bem diferente, e afirmar que a equipe não tem nenhum atleta de NBA. Boa parte de seu elenco poderia estar por lá. Por diversas circunstâncias, só não há ninguém em atividade nos Estados Unidos neste exato momento.

(Antes de mais nada, um clamor aos navegantes: por favor, ignorem o fato de que na ficha do pivô Miroslav Raduljica, no site oficial do torneio, apareça “Milwaukee Bucks”. Reforçando: por favor, ignorem isso. Primeiro que, antes de o Mundial começar, ele foi trocado para o Clippers. Durante a primeira fase, acabou dispensado pelo ex-primo pobre de Los Angeles. Seu contrato foi rescindido. Está desempregado. Dizer que ele é da NBA, é a mesma coisa que, na Copa de futebol, falar que o David Luiz era o zagueiro do Chelsea, quando todos sabiam que já havia sido negociado com o Paris Saint-Germain.)

Gobert está na NBA: são 4 na França

Gobert está na NBA: são 4 na França

Seus melhores atletas já ganham uma boa grana defendendo gigantes europeus ou times de Euroliga: Milos Teodosic, Nemanja Bjelica, Nenad Krstic, Stefan Markovic e Bogdan Bogdanovic – provavelmente o mesmo destino de Raduljica após um torneio excepcional. Outros são muito jovens, ainda com tempo pela frente: Nikola Kalinic e, mais uma vez, Bogdan-Bogdan, que já foi selecionado pelo Phoenix Suns no último Draft e sobre o qual já escrevemos muito aqui. O restante está todo espalhado pelo continente e talvez não possa sonhar alto. Apenas o pivô Rasko Katic, de 33 anos, joga em seu país, pelo Estrela Vermelha – e ele mal entra em quadra pela seleção.

Desse grupo, é de se pensar o que o genial e genioso Milos Teodosic  poderia fazer na liga americana, ainda mais quando ele se apresenta tão solto e confiante como vem fazendo no Mundial, sem aquela nuvenzinha na cabeça. Por um lado, é um dos jogadores mais perigosos nas situações de pick-and-roll, algo que sempre vai ser feito na NBA. Tem visão de jogo e um arremesso em movimento que é espetacular. Por outro, sua aversão pela defesa é até folclórica na Europa, combinando com o jeito, hã, boêmio de tocar a carreira.

Nesta sexta, na partida mais emocionante da competição, Teodosic e seus companheiros derrubaram uma França que, mesmo com todos os seus desfalques, jogou o Mundial com jogadores sob contrato com clubes da NBA: Boris Diaw (Spurs) e Nicolas Batum (Blazers), sensacionais e importantíssimos para seus times, e os promissores Rudy Gobert (Jazz) e Evan Fournier (Magic), que ainda estão no início de suas trajetórias. Desse quarteto, Batum foi instrumental para que os franceses chegassem muito perto de uma vitória histórica.

A série “Cada Jogo É Uma História”, alardeada durante todo o campeonato, correu sério risco,. As duas seleções se reencontraram 12 dias depois do confronto pela fase de grupos, o qual os Bleus venceram por 74 a 73. E de virada – os sérvios chegaram a abrir 11 pontos na liderança. Na semi, a vantagem chegou a ser de 18, e os caras voltaram a levar um susto danado. não que não tenham assustado: chegaram a apertar as coisas de modo dramático no quarto período, 64 a 60, com 4min30s restando no relógio. A Sérvia, porém, se segurou, aproveitando seus lances livres e criando algumas boas jogadas contra uma forte defesa  para vencer por 90 a 85.

Sérvios comemoram com o técnico Sasha Djordjevic, que faz ótimo trabalho

Sérvios comemoram com o técnico Sasha Djordjevic, que faz ótimo trabalho

No primeiro tempo, os franceses simplesmente não conseguiram reproduzir a energia dos jogos anteriores contra Croácia e, principalmente, Espanha. Muito por conta da excelência de seu adversário, mas também por conta do forte componente emocional do triunfo contra os espanhóis, por tudo o que envolvia a partida: rivalidade entre as gerações, um favorito ao título e, ao mesmo tempo, o time da casa e o ginásio bombando.

O time chegou entre os quatro melhores do torneio com uma defesa sufocante, de muita envergadura, sem forçar muitos turnovers, mas contestando todo e qualquer arremesso, desde o semicírculo até a linha de três pontos. Nesta sexta, isso só aconteceu no quarto período. Os sérvios mataram 59% de dois pontos e 53% de três e conseguiram uma terceira vitória seguida impressionante. Recordem que, nas oitavas, haviam batido a Grécia por 90 a 72. Depois, aiaiai: 84 a 56 para cima do Brasil. Agora, o triunfo nem foi tão elástico, mas não deixa de ser convincente.

A Sérvia encontrou uma química perfeita em quadra, combinando força e leveza. Pode punir a defesa adversária tanto com o jogo físico de Raduljica e Nenad Krstic, como no jogo exterior ultralentoso de Teodosic e Bogdanovic, com a ajuda da consistência de Stefan Markovic e da explosão física de Nikola Kalinic. Claro que, no final das contas, num jogo de alto nível desses, foi o armador Teodosic quem mais desequilibrou. Tal como no duelo com o Brasil, destruiu no primeiro tempo com 18 pontos.

Outro de NBA, Batum jogou demais dos 2 lados da quadra

Outro de NBA, Batum jogou demais dos 2 lados da quadra

Embora o craque canalize muito do ataque, seu time tem se comportado de modo solto no setor ofensivo, com muita movimentação de bola, diversos passes extras e  saídas precisas e oportunistas no contragolpe. Agora, quando Batum praticamente tirou a estrela sérvia, de ação, as coisas engrossaram, mesmo. Teodosic só havia matado um arremesso em todo o segundo tempo, até converter um chute extremamente pressionado 2min55, para o fim (77 a 68). Ele usou muito bem os corta-luzes para se desmarcar. O duro é que, na sequência, Batum respondeu na medida, com mais uma bomba de três.

Os chutes de longa distância voltariam a cair com Diaw e Heurtel, diminuindo a vantagem para três, com menos de dois minutos. A pressão era extrema, mas Bogdan-Bogdan, Krstic e Kalinic fizeram o suficiente no ataque para estancar a hemorragia e marcar o encontro final com os Estados Unidos. Uma final de 12 astros da NBA contra o… Resto?

*  *  *

Foi uma partidaça de Batum: 35 pontos (24 em bolas de 3!!!) e toda a defesa em cima de Teodosic. Incrível. E algo que muita gente esperava do ala francês. Seu talento não se contesta. Nos Estados Unidos, porém, muita gente estava esperando sentado para ver quando o francês ligaria o modo “matador” em seu jogo. Aconteceu nesta semi: 11/16

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Raduljica fez a cesta mais inusitada do Mundial, em uma situação delicada: a França havia encostado no placar, diminuindo a vantagem sérvia para apenas seis pontos. Restando 5min44s, Bogdan-Bogdan soltou uma bomba de passe na direção do seu pivô, que não conseguiu fazer o domínio. Era impossível, mesmo. Acontece que, involuntariamente, o grandalhão acabou espalmando a bola, que subiu o suficiente para bater no quadradinho e entrar para dois pontos. Ufa! Raduljica sorriu, enquanto, no banco, o capitão Nenad Krstic fez o sinal da cruz.

Na descrição do site da Fiba, foi computada como uma bandeja. No fim, não tem com descrever melhor que isso, mesmo:

raduljica-espalmada

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O técnico Aleksandar “Sasha” Djordjevic está de parabéns. Um armador cerebral e histórico nos tempos de Iugoslávia, ele faz apenas seu terceiro trabalho como treinador, depois de ter dirigido o Olimpia Milano em 2006-07 e o Benneton Treviso em 2011-12. Assumiu a seleção balcânica no ano passado, com um EuroBasket no currículo, ficando em sétimo. Para constar, seu currículo como jogador: tricampeão europeu, vice-campeão olímpico (Atlanta 1996) e campeão mundial em 1998 (sem NBA). Aos 47 anos, aposentado em 2005, parece ter excelente relação com seus comandados, falando a língua deles. Para quem preenche a folha corrida dessa equipe, sabe que não é das tarefas mais fáceis: os problemas de vestiário são uma constante por lá.

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Quem está adorando a capanha da seleção sérvia é este cara aqui:

Olha o que o tradutor do Google nos deu: “Que defesa, algumas duplas, que coragem! Bem feito. Teo, eu te amo na mão! Equipes contribuíram com um sorriso! O prazer é vê-los” (risos). Sem rodada de Copa Davis para disputar, o número um do mundo no tênis também vai se deleitando com sua seleção nacional. Ama o Teodosic e acha que o Raduljica faz todo mundo sorrir.

*  *  *

Uma curtinha, para fechar. Ao comentar a barba de Raduljica, a dupla da ESPN – Cledi Oliveira e Wlamir Marques – chegou ao James Harden, claro, e a frase do verdadeiramente mítico Wlamir  para fechar o assunto foi:  “Aquele lá (Harden) acho que é o maior peladeiro que tenho visto hoje no basquete mundial”. Demais. : D


As semifinais da Copa do Mundo em números
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Giancarlo Giampietro

Gente, vocês querem números? Faltam apenas quatro jogos para o sonho de uma Copa do Mundo de basquete de verão terminar. Com quatro times em disputa, sendo que um vai sair de mãos abanando, assim como aconteceu com Brasil e Espanha. Mas, isso, claro, vocês já sabiam. Vamos com outros dados, então:

No poderoso ataque americano, tem até para DeRozan. Dale, cravada

No poderoso ataque americano, tem até para DeRozan. Dale, cravada

102,3 – Os EUA têm o melhor ataque da Copa, e o restante não chega nem perto. Com 102,3 pontos por jogo, abriram quase 20 de vantagem para a Espanha, que agonizou diante da defesa sufocante dos franceses nesta quarta. Entre os que ainda estão no páreo, a Sérvia aparece em segundo, com 80,1, ajudada pela sacolada que deram no Brasil. A Lituânia anotou 76 pontos em média, enquanto a França tem 72,9 (apenas a 14ª no geral).

68,8% – Sérvia e França estão empatados com este fraco aproveitamento em seus lances livres, valendo as 17ª e 18ª posições no ranking geral. Os EUA, com 71,3%, aparecem em 13º. A Lituânia tem 75,2%, em quarto. Por curiosidade, as Filipinas lideraram o quesito, com 79,6%.

44 – Este a gente colocou no primeiro dessa texto dessa série estatística, mas, depois da tragédia espanhola, vale o reforço: foi em 1970, há 44 anos, a última vez em que o país anfitrião viu sua seleção comemorar o título: a Iugoslávia. O que, nos tempos de hoje, nem vale: eram vários países em um, sendo que três deles disputaram a atual edição: Croácia, Eslovênia e Sérvia.

A vitalidade de Jonas Valanciunas, estrela lituana de apenas 22 anos e o quinto reboteiro do Mundial, com 8,6

A vitalidade de Jonas Valanciunas, estrela lituana de apenas 22 anos e o quinto reboteiro do Mundial, com 8,6

28 – É a média de idade da Lituânia, o time mais velho entre os semifinalistas. O restante? França e Sérvia empatam com 26 anos, enquanto os Estados Unidos têm 24. Este talvez seja o dado mais relevante para colocar em perspectiva a campanha brasileira, com uma seleção de 31 anos. Todas essas quatro potências já têm uma base armada para o próximo ciclo olímpico.

23,8 – Surpreendentemente, o ala Klay Thompson é o jogador americano que mais tempo fica em quadra no Mundial, com 23,4 minutos, contra os 23 cravados de Kyrie Irving. No total, isso representa apenas três minutos a mais (164 a 161). O pivô Andre Drummond, convocado basicamente como apólice de seguro num eventual embate com a Espanha que agora jamais vai acontecer, somou 38 minutos, quase uma partida de Fiba inteira (6,3 por partida).

22,1 – O quanto a França arremessa de três pontos por jogo, o maior número entre os quatro semifinalistas, mesmo que eles tenham, de longe, o pior aproveitamento (ridículos 31,6%). EUA, Lituânia e Sérvia estão todos na casa de 19 chutes de longa distância por rodada, com os lituanos, claro, tendo a melhor pontaria: 40%. Culpa do pivô Darjus Lavrinovic, que tem acertado surreais 62,5% de seus arremessos, e do armador Adas Juskevicius (57,1%). O Brasil se despediu do torneio com 16,9 tentativas e 37,3% de acerto.

20 – Erros para a Espanha em arremessos de três pontos em sua derrota para a França, tendo tentado 22 disparos. Ok, é um número que pertence muito mais fase anterior, mas, nestes tempos de redes sociais em ebulição por conta desse processo chamado “Festa da Democracia”, todo mundo parece acreditar que jornalismo é manipulação, né? Então tomem aqui a prova mais clara. (Na verdade, o número é fundamental para explicar a classificação francesa, com uma linha defensiva assustadora, que arrepiou os espanhóis: um time desse nível acertar apenas 9,1% de seus chutes de fora? #sacrebleu).

13,9 – Dos 48 jogadores que ainda podem jogar o Mundial nesta reta final, Miroslav Raduljica, quem diria, é o cestinha, com 13,9 pontos. Logo em sua cola vem o Anthony Davis, mas pode chamar de Monocelha, com 13,7. Passaram quatro equipes que não dependem tanto assim de um jogador para carregar o ataque. Verdade seja dita: era o mesmo caso do Brasil. Entre os 20 principais pontuadores, em média, do torneio, apenas Kenneth Faried, com 13,0, se junta ao sérvio e a seu compatriota nessa. Desta forma, José Juan Barea ao menos pode acrescentar esta linha em seu currículo: “*Cestinha da Copa do Mundo de basquete 2014, com 22,0 pontos – só não perguntem, por favor, qual foi a campanha do meu time”.

Batum está com cara de que queria fazer pelo menos uns 15 pontinhos por jogo, vai...

Batum está com cara de que queria fazer pelo menos uns 15 pontinhos por jogo, vai…

9,9 – Por falar em cestinhas, esta é a média de pontos de Nicolas Batum no torneio. O ala do Blazers, acreditem, lidera a seleção francesa nesse quesito. Joffrey Lauvergne tem 9,4, Thomas Heurte, 8,4, Boris Diaw, 7,9, e por aí vamos… Incrível.

4 – A França falhou em marcar que 70 pontos em quatro de seus sete jogos na competição. Se formos descartar os dados computados contra Egito e Irã, restaria apenas uma partida, então, em que cruzaram essa… Nada fantástica marca. E foi contra quem? Justamente a Sérvia, seu adversário das semis, vencendo por 74 a 73. Mas, ‘bora lá repetir todo mundo: “Cada jooooogo é uma históooooria”.

1 – Apenas um time não tem sequer um atleta com contrato de NBA em seu elenco: a Sérvia. Raduljica jogou o campeonato passado pelo Bucks, foi trocado para o Clippers e acabou dispensado, como já foi amplamente divulgado, embora a turma em geral insista em ignorar isso. O ala Bogdan Bogdanovic foi draftado pelo Phoenis Suns neste ano, em 27º, mas vai seguir sua carreira na Europa, pelo Fenerbahçe, talvez por mais dois anos, antes de pensar numa transferência. No clube turco, terá a companhia de Nemanja Bjelica, jogador já selecionado pelo Minnesota Timberwolves. Quem sabe Flip Saunders não decide dar uma chance para o ultratalentoso ala-pivô num futuro próximo? Sem Kevin Love, há vagas. E aqui vale um destaque importante: é muito tentador escrever que a Sérvia não tem sequer um jogador de NBA. Porque, a julgar pela cobertura geral do Mundial, só importa quem joga nela, né? Só o selo de aprovação da liga atestaria a qualidade de um atleta. Aí vem a Sérvia, e… Pumba.

0 – Nenhum jogador naturalizado vai disputar as semifinais. Quem chega mais perto disso é o Kyrie Irving, que nasceu na Austrália, mas se mudou com o pai, mais um desses ciganos e jogadores americanos, aos dois anos de idade. Sábia decisão a dele, já que os Boomers têm dono: Patty Mills, e ninguém tasca. Sem contar que, em 2020, será a vez de Dante Exum. Ah, a França tem suas importações também, mas em outras circunstâncias. Tanto Florent Pietrus como Mickael Gelabale procedem de Guadalupe, que fica no Caribe, mas ainda é território francês. O ala reserva Charles Kahudi é de Kinshasa, no Congo, mas fez toda a sua carreira no país latino, algo mais que recorrente.


A Espanha chora mais uma vez
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Giancarlo Giampietro

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Geração dourada realmente reunida. Torneio em casa, hora de celebrar com a torcida, e os grandes astros dos Estados Unidos nem estavam por perto, mesmo. A Espanha com a confiança lá em cima. E vem uma derrota chocante.

Aconteceu sete anos atrás, no EuroBasket 2007, voltou a ocorrer neste ano na Copa do Mundo, num filme que os irmãos Gasol e toda a família real espanhola do basquete não esperavam rever tão cedo. Sete anos atrás, eles foram desbancados pela Rússia de Andrei Kirilenko, Viktor Khryapa – e dos importados JR Holden e David Blatt, claro. Agora foi a vez de perderem para a França por 65 a 52, fazendo, sem brincadeira, Madri chorar. Vocês sabem que cronistas esportivos adoram carregar na tinta, ser piegas, e tal. Neste caso, o dramalhão especial foi real. Quem não estava atônito no ginásio estava ocupado com prantos, mesmo.

Difícil dizer qual revés é o pior, mais dolorido: perder a decisão como anfitrião, ou cair tão cedo no torneio? Desconfio que a segunda, até pela sensação para eles de que é o final de uma era e de que os campeões deles não mereciam um desfecho desse jeito – depois de um título mundial em 2006, duas pratas olímpicas e dois troféus continentais em 2009 e 2011. Para os jogadores, no calor da quadra, outro fator não pode ser subestimado: a crescente rivalidade com os franceses. Se você acha que o basqueteiro brasileiro se deprimiu nesta semana, espie só como andam os espanhóis nas redes sociais – horas depois do revés, os tópicos mais comentados eram dominados pelo tema. Sinta o peso:

A orelha do técnico Juan Orenga está ardendo, com a mídia de lá pegando muito mais pesado do que o pessoal por aqui. Pudera: o cara não tem apenas um, mas dois Gasols no garrafão. São quatro armadores de primeiro escalão no elenco. Jogando em casa. Não havia outro resultado aceitável que não o ouro ou, pelo menos, uma derrota dramática para os Estados Unidos.

Porque, dãr, se no EuroBasket os americanos não jogam, no Mundial o Team USA não falta. Acontece que, apara eles, a aura do seu rival, que lhe bateu em Pequim e Londres, estava exaurida, depois de ausências se acumularem: LeBron, Durant, Carmelo, Paul, Westbrook, Love, Griffin, Aldridge e, caceta, até George. Então aí está: o sentimento entre os espanhóis foi que, a partir do momento que Durant anunciou que não iria mais defender sua seleção, o favoritismo havia mudado de lado. Que eles seriam, mesmo, os grandes candidatos ao título. Sentimento reforçado pelos acontecimentos da fase de grupos.

Eles só esqueceram de combinar tudo isso com a França, time que já haviam surrado na primeira fase e que estava também com uma longa lista de ausências. Eles contam cinco baixas, dois titulares absolutos entre eles: Tony Parker e Joakim Noah + Nando De Colo, Alex Ajinça e Ian Mahinmi. Se fossem mais honestos, contariam apenas quatro, já que o Mahinmi não deveria contar. ; )

Se cada jogo é uma história, como brasileiros e sérvios provaram mais cedo, não havia motivo para os Bleus entrarem em quadra em Madri sem acreditar em melhor sorte. Daí que, após a chocante vitória, Boris Diaw disse tudo: “Nós tínhamos a motivação para vencer, e eles tinham a motivação para não perder”. O Diaw é uma figuraça. Fácil falar desse jeito quando seu time saiu vencedor, né? Mas, segundo o que consta, o ala-pivô francês está cheio dessas sacadas, inteligente pacas.

O líder e poeta Boris Babacar Diaw-Riffiod

O líder e poeta Boris Babacar Diaw-Riffiod

Em termos de motivação, os franceses mostraram que estavam imbatíveis, mesmo. Abraçaram o plano tático desenhado por Vincent Collet – que, se antes do Mundial não estava na sua lista de melhores técnicos do mundo, agora não pode faltar –, competiram para valer, ignoraram as circunstâncias desfavoráveis (não se importaram com uma arbitragem evidentemente tendenciosa/caseira, por exemplo), relevaram quaisquer desfalques e fizeram uma partidaça.

Vai ser difícil encontrar uma exibição tão boa na defesa como a que esses caras fizeram no fechamento das quartas de final. Os Bleus simplesmente seguraram a Espanha em 52 pontos. Isso dá 13 pontos por período, por 10 minutos. Isto é, 1,3 ponto por minuto, para um time que conta com Pau Gasol, Juan Carlos Navarro, Rudy Fernández, Sérgio Rodríguez, José Calderón e tantos outros luminares ofensivamente. Absurdo, sufocante.

O que pega é o seguinte: tirando Rudy Gobert (que pede um texto próprio, antes da semifinal contra a Sérvia, prometo), a França pode nem ter muita estatura. Mas eles têm envergadura, que é a medida que mais importa, na verdade. Diaw, Batum, Gelabale, Gobert, Forent Pietrus, Lauvergne: eles são muito compridos. É braço para todo lado, fechando linhas de passe, desencorajando as assistências, apressando e amedrontando arremessos. Eles não forçam turnovers, não defendem de modo adiantado, mas atrapalham muito a conclusão dos lances. Não subestime isso de modo algum. Afeta até mesmo um adversário qualificado como a Espanha, a ex-favorita ao ouro.

La Bomba estourou contra a Espanha

La Bomba estourou contra a Espanha

Os donos do ginásio acertaram apenas 32,3% de seus arremessos de quadra. Isso é praticamente inclassificável, considerando as circunstâncias. Pau Gasol marcou 17 pontos em 31 minutos, porque é Pau Gasol. O restante do seu time? Apenas 35 pontos! Sim, 12 atletas totalizaram 35 pontos, menos de 3 pontos por cabeça. Marc Gasol e Serge Ibaka, dupla que, na NBA, ganha mais de US$ 25 milhões por temporada, acertaram apenas dois de 14 arremessos.

Atingindo esses números na defesa, nem tem problema atacar de maneira horrorosa. Não é que a França tenha feito uma exibição de gala. Seu ataque só aproveitou 39,3% dos arremessos. Mas estava tudo dentro do plano. Digo: obviamente prefeririam acertar mais (risos). Mas a ordem óbvia era girar a bola, trocar passes, gastar o cronômetro o máximo possível. Um ataque controlado, de abordagem para lá de sistemática e para lá de curiosa – e que merece mais atenção.

Se você for pegar o nível de capacidade atlética que os franceses apresentam em seu elenco, de primeira sai a ideia de que poderiam formar um dos times para correr mais no torneio. Mas não tem nada disso. Eles gostam de um bom e velho ugly basketball. Em francês, deve dar algo como basket-ball de la m…e. É um jogo muito feio, arrastado, que vai te exigir o máximo de paciência, que vai te extrair a alegria. Mas foi mais ou menos deste modo como eles se tornaram campeões europeus no ano passado, tendo batido os espanhóis na semifinal, inclusive. Sem Tony Parker, decidiram levar essa proposta ao extremo. E, pelo menos por uma notite em Madri, deu mais que certo.

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A pergunta engraçadona que todo mundo fez ao final do jogo: “Quem precisa de Tony Parker quando se tem um Thomas Heurtel?”

Muito original, né? Mas pode me incluir nessa: foi realmente a primeira coisa que bateu na telha quando o armador do Baskonia resolveu roubar toda a cena nos tensos minutos finais do confronto, quando os espanhóis ainda alimentavam o sonho de uma virada. O jogador de 25 anos anotou 9 de seus 13 pontos nos quatro últimos minutos, quando voltou para a quadra para no lugar de Antoine Diot.

Heurtel, no caminho certo

Heurtel, no caminho certo

Quem deve ter comemorado: o italiano Marco Crespi e a diretoria do Baskonia, que vão receber para as próximas Euroliga e Liga ACB um jogador muito mais confiante. Huertel é muito talentoso com a bola. Foi um dos eleitos pelo time basco para substituir Marcelinho Huertas, desde que o brasileiro foi levado pelo Barcelona. Para um armador, porém, nunca foi muito afirmativo em quadra. Após um jogo desses, justamente no país aonde joga durante a temporada, improvável passar incólume.

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Como o veterano e espirituoso Marc Stein, jornalista do ESPN.com, disse: “Vai ser difícil encontrar um jogador de basquete que tenha vivido um ano mais feliz do que Boris Babacar Diaw-Riffiod”. Com esse nome já não tem quem fique triste. Mas, se for para ganhar o EuroBasket, seu primeiro título da NBA, voltar a bater a França e, no meio da jornada, assegurar mais US$ 15,5 milhões em contrato e um vale Royale with Cheese do McDonald’s mais próximo, melhor ainda.

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A semifinal de sexta-feira tem, então, França x Sérvia. Respectivamente os segundo e terceiro e colocados do Grupo A, duas equipes vencidas pelo Brasil na primeira fase. Sorteio camarada o da Fiba… Quem vencer, para quem chegou agora, pega o time que sair de EUA x Eslovênia.

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Não é a primeira vez que falamos de carma nesta Copa do Mundo, mas, enquanto as seleções não pararem de manipular a tabela, vamos insistir: essa é a segunda derrota em dois jogos da Espanha contra a França desde que se enfrentaram nas Olimpíadas de 2012. Naquela ocasião, vocês vão se lembrar, houve uma grande suspeita de que teriam entregado um jogo para o Brasil na fase de grupos de modo que pudessem controlar a posição em que ficariam na tabela. A ideia era cair do outro lado da chave dos Estados Unidos. No meio do caminho, escolheram, então, encontrar os franceses. Que ficaram pês da vida com a história. Teve soco de Nicolas Batum em Rudy Fernández e muito mais em quadra. Agora estamos aqui, comentando esse desfecho inesperado e um tanto trágico.


Duelo com a Sérvia escancara buraco na base brasileira
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Giancarlo Giampietro

Raduljica, sete anos depois, volta a enfrentar Brasil no mata-mata

Raduljica, sete anos depois, volta a enfrentar Brasil no mata-mata

Quando a bola subir na quarta-feira, pelas quartas de final da Copa do Mundo, não será a primeira vez que o armador Stefan Markovic e o pivô Miroslav Raduljica vão enfrentar o Brasil num mata-mata de torneio Fiba. Sete anos atrás, ainda adolescentes, no Mundial Sub-19 eles levaram a melhor contra em uma semifinal que acabou em vitória tranquila dos balcânicos, 89 a 74.

Para quem clicou imediatamente no link acima, já deu para ver os dois ficaram, respectivamente, 26 e 23 minutos, em quadra, contribuindo com 12 pontos, 7 assistências e 6 rebotes. Números regulares. Mas vale o destaque, mesmo, estatístico daquele jogo é a quantidade de brasileiros presentes na seleção nacional que derrubou a Argentina no domingo passado: 0. Isso mesmo: ze-ro.

José Neto está na seleção principal em 2014. Dos garotos, poucos chegaram perto

José Neto está na seleção principal em 2014. Dos garotos, poucos chegaram perto

Quer dizer, se formos considerar o assistente técnico José Neto, temos ao menos um – ele era o treinador daquele time. Daquela geração era de 1988-89, dos quais foram pinçados os 12 representantes para aquela campanha (?) histórica, hoje todos eles com 25 e 26 anos,  nenhum jogador conseguiu se desenvolver a ponto de entrar na lista final de Rubén Magnano para competir por uma medalha na Espanha.

Quem chegou mais perto disso foi o ala-pivô Rafael Mineiro, que disputou o Campeonato Sul-Americano deste ano, como peça integral da rotação, com médias de 6,2 pontos e 4,8 rebotes. Da seleção B, Raulzinho e Rafael Hettsheimeir foram chamados para compor o grupo principal.

Embora não tenha conseguido dar o grande salto, o talentoso Mineiro é um caro caso de atleta que conseguiu alguma continuidade em sua carreira internacional desde o Mundial Sub-19. Desde, então, ao menos conseguiu jogar três Sul-Americanos, mais que o grande nome daquela categoria: Paulão Prestes. O pivô participou só de um Sul-Americano – ironicamente, em 2006, anterior ao torneio de base. Os problemas físicos de Paulão estão bem documentados, guiando uma trajetória de altos e baixos. Foi muito bem cotado na Espanha, acabou draftado pelo Minnesota Timberwolves (algo muito difícil e não pode se perder de perspectiva), mas se lesionou demais e teve problemas com a balança. Chegou a ser pré-convocado por Magnano em duas ocasiões e hoje é a grande aposta do Mogi, ao lado de Shamell.

De resto, temos o ala Betinho em São José, com média de 13,6 pontos, 2,0 assistências e 32,5% nos três pontos em sua carreira no NBB, o ala-pivô Rodrigo César no Uberlândia e o pivô Romário no Macaé. Outro que chega ao NBB agora é o armador Carlos Cobos, de dupla nacionalidade (Espanha e Brasil), criado na base do Unicaja Málaga ao lado de Paulão, e que também não conseguiu se firmar na Liga ACB. Ele acabou de acertar com o Franca de Lula Ferreira, que ao menos vai fazendo esse trabalho de prospeção, tentando recuperar alguns dos garotos espalhados por aí.

Contando: foram citados, então, seis atletas daquele time sub-19, 50%. O restante, para termos uma ideia, é até difícil de rastrear. Luiz Gomes, que hoje é um dos motores por trás do Mondo Basquete – um site bem bacana para você visitar –, fez esse trabalho hercúleo no ano passado, já constando uma geração verdadeiramente perdida.

Thomas Melazzo, fora do basquete

Thomas Melazzo, fora do basquete

Cauê Freias, autor da cesta da vitória contra a Austrália de Patty Mills nas quartas de final, e Bruno Ferreira, o Biro, estão no Caxias do Sul e devem disputar a Liga Ouro, Segunda Divisão do NBB. Houve quem tenha parado e largado o esporte: o ala Thomas Melazzo, que tinha um potencial absurdo, hoje é personal trainer, aparentemente vivendo em Salt Lake City, terra do Utah Jazz. Se alguém souber do paradeiro dos demais, por favor, caixa de comentários aberta abaixo.

Dia desses, no Twitter, o mesmo Luiz Gomes estava especulando a respeito, apontando algumas promessas  de então e hoje na elite. Muitos deles classificados para os mata-matas de uma Copa do Mundo, na elite. A Sérvia já escalou o ala-pivôs Marko Keselj e Milan Macvan na fase decisiva do Mundial de 2010, para se ter uma ideia. No time de hoje, tem Markovic e Raduljica e ainda conta com mais cinco jogadores que teriam idade para disputar aquele torneio, mas só ganhariam visibilidade mais tarde.

Já a França apresenta quatro nomes de seu time sub-19 que bateu o Brasil na disputa pelo bronze: o armador Antoine Diot, o ala Edwin Jackson, o pivô Kim Tillie e um certo Nicolas Batum. O pivô Alexis Ajinça certamente estaria na Copa do Mundo, não tivesse pedido dispensa. Até mesmo os Estados Unidos, com sua produção de talentos incomparável, tem um representante de 2007 aqui: Stephen Curry! Daquele elenco, destacam-se também nomes como DeAndre Jordan (Clippers), Patrick Beverley (Rockets) e Michael Beasley (Marte).

Entre os demais quadrifinalistas da Copa, para ser justo, é preciso dizer que a Espanha só tem um atleta daquela jornada: o ala Victor Claver. Lituânia e Turquia? Nenhum. A Eslovênia não havia se classificado.Mas também é preciso dizer uma coisa sobre os lituanos: sua atual seleção conta com cinco jogadores nascidos depois de 1988 (o ano-limite para inscrição naquele Mundial): Adas Juskevicius, Sarunas Vasiliauskas, Mindaugas Kuzminskas, Donatas Motiejunas e Jonas Valanciunas – os dois últimos simplesmente as maiores apostas dessa tradicional potência. Já os turcos têm três: o caçula Cedi Osman, de apenas 19, além de Furkan Aldemir (cujos direitos na NBA pertencem ao Sixers) e Baris Hersek.

Nessa categoria, de atletas de 26 anos ou mais jovens, também se enquadram os argentinos Facundo Campazzo, Nícolas Laprovíttola, Tayavek Gallizzi, Matías Bortolín e Marcos Delía. A Austrália contou com seis: Dante Exum (19), Brock Motum, Cameron Bairstow (23), Matthew Dellavedova, Ryan Broekhoff (24) e Chris Goulding (25, este convocado para aquele Mundial Sub-19). Já os Estados Unidos possuem apenas um jogador nascido antes de 88: Rudy Gay, e só.

No Brasil, com 22 anos, Raulzinho é a figura solitária. Rafael Luz acabou preterido no último corte, enquanto Augusto Lima dançou já no Sul-Americano. Uma decisão bastante sensata poupou Bruno Caboclo dessa. Já Lucas Bebê foi deixado na geladeira, depois da escapada do ano passado. Ao menos o filho do Raul vem sendo utilizado com regularidade por Rubén Magnano, contribuindo para valer hoje – e ao mesmo tempo ganhando uma experiência extremamente valiosa para o futuro. Agora, fora isso, a seleção que joga na Espanha, a mais velha do Mundial, é apenas para agora e agora.

Obviamente que a base do elenco de Magnano é fortíssima, não sobram vagas. Como acontece com a Espanha. Agora, na periferia do plantel, será que não dava para encaixar? Depois de uma vitória contra a Argentina, na iminência de um confronto com a Sérvia, pode ter gosto de chope aguado todas essas lembranças. Nesta semana, as preocupações dos envolvidos com o jogo ficam realmente direcionadas só para a quadra. Fora dela, porém, nos escritórios da CBB, o tema já deveria estar na mesa há tempos. Sem precisar que a figura até folclórica de Raduljica, nesta quarta-feira, servisse como recado.


Armadores brilham, mas pivôs também ajudam em vitória brasileira
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Giancarlo Giampietro

Huertas comandou a seleção no quarto período em dura, mas importante vitória

Huertas comandou a seleção no quarto período em dura, mas importante vitória

Olhando de primeira, a França não é um time que você vá julgar como de “garrafão forte”, de “referências no jogo interno” etc. Mas a verdade, mon Dieu, é que eles têm um conjunto de gente explosiva e loooooonga, comprida, de muita envergadura, mesmo. Um pacote atlético que dificultou ao máximo a vida dos pivôs brasileiros no jogo de estreia na Copa do Mundo de basquete.

Justamente os pivôs, o ponto forte da seleção de Magnano. Atração nos amistosos, o quarteto Spliter-Nenê-Varejão-Hettsheimeir foi limitado a apenas 19 pontos neste sábado, em Granada. Se fôssemos analisar este número num vácuo, pareceria uma tragédia. Derrota na certa, né? Acontece que os “baixinhos” contra-atacaram dessa vez, liderando o Brasil para uma importante vitória por 65 a 63.

Não foi bonito – faltam mais passes no ataque, muito mais movimentação fora da bola, tecla que vendo batida há tempos. Não foi fácil – e, tirando Irã e Egito, dificilmente esse panorama vai se alterar, até pelo problema citado. Mas já valeu para levar a melhor num confronto direto, que de cara deixa a equipe em boa posição pensando na classificação geral do grupo e no emparelhamento dos mata-matas.

Por falar em matar, Marcelinho Huertas, depois de um acidentado primeiro tempo, apareceu de modo decisivo na segunda etapa. O armador anotou oito pontos nos últimos quatro minutos, encarando a defesa francesa. Em situações de pick-and-roll, os adversários priorizaram descaradamente a contenção dos grandalhões brasileiros. Huertas soube, então, aproveitar os espaços para entrar no garrafão e usar seu arsenal de tiros em flutuação para machucá-los. Algo que fez a diferença, para atenuar o drama de novas falhas nos lances livres,  com quatro bolas desperdiçadas nos dois minutos finais (sem contar a última de Marquinhos).

Raulzinho ataca Rudy Gobert, seu companheiro de liga de verão pelo Utah Jazz (no ano passado)

Raulzinho ataca Rudy Gobert, seu companheiro de liga de verão pelo Utah Jazz (no ano passado). Crédito: Gaspar Nóbrega/Inovafoto

O veterano do Barcelona foi quem carregou o time nos instantes derradeiros, terminando com , mas foi o jovem Raulzinho quem segurou as pontas entre os segundo e terceiro períodos. Extremamente combativo, importunou Thomas Heurtel e, especialmente, o lento-quase-parando Antoine Diot, ajudando a defesa brasileira a mudar o ritmo da partida.

A França havia começado de modo impositivo. Boris Diaw deitou e rolou contra Nenê, flutuando no perímetro. Nicolas Batum estava com a munheca em dia. Rudy Gobert veio do banco para dominar o garrafão por alguns minutos. Chegaram a abrir nove pontos de vantagem. A partir das trocas, um festival de substituições que mata qualquer diretor de transmissão, perderam rendimento, mas muito por conta do abafa promovido pelos brasileiros.

A seleção realmente brigou pela bola. Algo que é elementar, oras, mas nem sempre acontece – e pondo isso de maneira geral, sem ser algo especificamente direcionado para o time de Rubén Magnano. Contra atletas como Gelabale, Batum, Diaw, Pietrus, Gobert, é preciso inteligência, mas igualmente não podem faltar intensidade e determinação.

Nesse ponto, foi muito bom ver a postura de Raul, que oscilou tanto na fase preparatória, mas respondeu ao desafio no primeiro jogo para valer. Foi tão bem, que Larry nem precisou ser acionado (apenas 3min51s para o americano). No ataque, o armador do Murcia também também teve o pulso firme: não cometeu nenhum desperdício de bola em 17min29s de ação. Terminou com seis pontos e, segundo a estatística oficial, sem nenhuma assistência. Mas isso é piada: houve pelo menos um momento em que serviu a Splitter no contra-ataque, num passe que teria de ser computado. Foi de Raul o maior saldo de cestas brasileiro: +10, seguido pelos +8 de Varejão. Energia traduzida da melhor forma.

A vibração de Marquinhos nesta foto de Gaspar Nóbrega diz muito sobre a intensidade brasileira. Incomum, não?

A vibração de Marquinhos nesta foto de Gaspar Nóbrega diz muito sobre a intensidade brasileira. Incomum, não?

Do incansável Alex, já esperávamos isso. Fez o que pôde para tentar limitar Nicolas Batum, que terminou com 13 pontos e 4/10 nos arremessos. É difícil marcar o ala fora da bola, devido a sua velocidade e impulsão. No ano a mano, o ala do Portland Trail Blazers não conseguiu produzir contra o brasileiro. Já o empenho de Marquinhos vale como uma grata surpresa, convenhamos. Não é tão comum vê-lo com tanta vitalidade em quadra. Muito mais no ataque, partindo para a cesta, em vez de estacionar no perímetro para algumas bolinhas marotas de três – na defesa ainda é propenso a alguns lapsos daqueles. De qualquer forma, esse espírito fogoso veio em boa hora para o flamenguista, para fazer frente a Gelabale, um ala discreto, mas que causa impacto com sua envergadura e presença física.

Até porque a rotação de laterais brasileiros vai se encerrar por aí. Marcelinho Machado foi chamado por Magnano no segundo quarto, e o que a França fez? Nas três primeiras posses de bola, atacou o camisa 4 sem pestanejar. Primeiro com Gelabale de costas para a cesta: dois pontos. Depois, com Edwin Jackson, mais baixo e explosivo, em corte frontal, forçando a falta. Depois, Machado conseguiu um desarme, impedindo que Gelabale recebesse a bola, mas foi com uma ajudinha de Varejão para diminuir espaços.

Varejão, aliás, foi o melhor dos pivôs hoje. Muito menos pelos 8 pontos marcados em 21 minutos do que pelo alvoroço de sempre que ele apronta em quadra, sempre ativo nos rebotes, ressuscitando diversos ataques falhos brasileiros (foram cinco apanhados na tábua ofensiva). A agilidade do carioca também impressiona quando ele faz o combate na dobra num pick-and-roll e consegue se recuperar sem deixar que seu homem ganhe terreno.

Nenê coletou 8 rebotes, mas cumpriu um primeiro jogo quém das expectativas, visivelmente incomodado com os movimentos dos atléticos defensores franceses vindo do lado contrário (não foi um privilégio seu:  Splitter também levou tempo para entender a melhor forma de enfrentá-los, terminando com 6 pontos e 3 rebotes). O pivô do Washington Wizards acertou apenas 2 de 6 chutes de quadra, sendo bloqueado pelo menos em duas ocasiões. Além disso, cometeu quatro turnovers e simplesmente não conseguia frear Diaw do outro lado.

Quando o ala-pivô francês, um craque, atacaou  mais perto da cesta, o são-carlense e, principalmente, Splitter tiveram um pouco mais de sucesso. Em geral, porém, o atleta do Spurs foi soberano em suas ações internas, com 6/10 nos chutes de dois, somados a suas cinco assistências em 29min51s. Com Diaw em quadra, a França teve saldo positivo de 6 pontos, registre-se.

Coletivamente, no entanto, os pivôs brasileiros foram valiosos para controlar a batalha dos rebotes, um ponto-chave para este confronto: 42 a 30. Mais importante: os franceses apanharam apenas quatro rebotes ofensivos contra 16 dos vencedores. Considerando que, no geral, o Brasil acertou apenas 37,7% de seus arremessos (16/42, sendo 5/15 dos três pontos), esse número ganha uma relevância considerável. Isto é: ainda que a pontuação da linha de frente tenha sido baixa, essa não é toda a história.

Então vale revisar um pouco a coisa: os protagonistas na vitória foram os armadores. Mas os valentes grandalhões também deram um belo dum empurrão, fazendo o serviço sujo de modo competente.

Varejão na briga por mais um rebote, deixando a bola viva no ataque (improdutivo) brasileiro

Varejão na briga por mais um rebote, deixando a bola viva no ataque (improdutivo) brasileiro


Falatório olímpico: a Espanha, a ira francesa, os amados argentinos e um Ingles
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Giancarlo Giampietro

“Este torneio não é nenhuma despedida”, Luis Scola, ainda vivinho da silva.
>> A próxima geração argentina não chega perto da que se acostumou a derrotar a Seleção Brasileira na última década, mas isso não quer dizer eles vão embora, de uma vez, desde já. O cabeludo, que já se virou muito bem “sozinho”, insiste que ainda joga. Valeu, Scola, amigão.

Manu de saída?

Manu Ginóbili de saída?

“Morro por Manu. Manu morre por mim. Sei que disse durante a temporada da NBA que seria nossa última vez, mas, se ganharmos uma medalha, estou certo de que vamos tentar mais uma vez. Isso é como as drogas. É incrível”, Andrés Nocioni, viciado em vitórias.
>> O Chapu acabou não ganhando a medalha. Mas, se o seu raciocínio valer também para correr atrás do prejuízo, esse guerreiro pode cruzar o caminho brasileiro em novas ocasiões. A ver.

“Ferida bem funda… Não vou dormir… Gosto amargo… Trabalhei por dez anos para este jogo…”, Manu Ginóbili, deprimido.
>> Palavras usadas pelo craque do Spurs para comentar a derrota na disputa do bronze para a Rússia. Aos 35 anos, esse, sim, pode ter se despedido da seleção argentina. Detalhe: os jogos da Argentina bombaram em San Antonio.

“Seria um pouco arrogante se eu dissesse que somos um modelo para a USA Basketball. Mas acho que fizemos um baita trabalho durante uma década e estou muito orgulhoso do que conquistamos. E muitas equipes começaram a manter um grupo de jogadores, uma base, para atuarem juntos”, Ginóbili.
>> Desafio de Magnano CBB agora é manter sua base, com uma troca ou outra…

“Gosto de ver a Argentina jogar. Na verdade, usamos algumas de suas jogadas ofensivas no Celtics”, Doc Rivers, observando tudo atentamente em Londres.
>> Pensando em Rajon Rondo como um Pablo Prigioni 10.0, só pode dar certo.

“Queria dar uma boa razão para ele se jogar no chão”, Nicolas Batum, num ato de fúria.
>> Pirado na derrota da França para a Espanha pelas quartas de final, o ala do Blazers deu um soco nas partes baixas de Juan Carlos Navarro nos segundos finais e, com a cabeça ainda pelando, ainda bancou a agressão nas entrevistas seguintes. Na verdade, ele usa o termo “flop” no fim, que seria o nosso “cavar falta”, fazer teatro para iludir a arbitragem. E pensar que Batum sempre foi criticado por ser um rapaz muito quietinho em quadra.

“Pergunte a Rudy Fernández o que ele fez com o Tony Parker no Eurobasket”, Vincent Collet, técnico da França.
>> Olho por olho, dente por dente (admitam, há quanto tempo vocês não ouviam essa?). O desprezo – e baita frustração, claro – dos franceses após a derrota atingiu até mesmo o treinador, que em nenhum momento censurou o soco de Batum em Navarro ou o tranco de Ronny Turiaf em Fernández, segundos antes. Rivalidade é pouco.

“Mais uma lição de vida. Pessoas honestas nem sempre vencem”, Kevin Seraphin, o prodígio da seleção francesa.
>> Mais tarde, no Twitter, foi a vez de o ala-pivô do Wizards dar sua estocada. Imagino que o garotão e Nenê terão uma coisa ou outra para fofocar quando se reencontrarem nas vizinhanças da Casa Branca.

­“O que é um pouco assustador e injusto sobre os torneios europeus é que você tem todas essas táticas de jogar por um saldo de pontos ou jogos. Na NBA, como existem as séries, não há nada disso. Mas aqui as coisas estão acontecendo em tempo real, num ambiente de competição, e não gostamos de ver isso. Diria que a maioria não faz, mas existem aqueles que jogam com o regulamento. Nunca faria isso sob nenhuma circunstância. Mas alguns fazem”, David Blatt, técnico da Rússia.
>> As pitadas do experiente e vitorioso treinador, formado no basquete universitário do seu país, mas que construiu sua carreira na Europa, já calejado de resultados suspeitos.

“Vou para a cama porque me deixa triste ler alguns dos comentários. Para aqueles que acreditam em nós, OBRIGADO!”, Rudy Fernández, via Twitter.
>> Não vou disfarçar, tá? No QG 21, a combinação “Rudy” + “Fernández” caiu muito de cotação, podendo agora significar muitas vezes “chorão” ou “chato pra caraca”. Durante as Olimpíadas, no mesmo jogo, o ala Fernández variava entre vítima e valentão com uma velocidade e cara-de-pau impressionantes, com seu topete de astro pop, caras e bocas.Vejam sua atuação dramática na final contra os norte-americanos:

“Muchas gracias! Mais uma medalha de prata!”, José Calderón, armador espanhol.
>> A Espanha lutou tanto por essa medalha de prata, que vale a euforia. Calderón, na verdade, não faz parte do time dos vilões, assim como Pau Gasol. Segundo consta, por diversas fontes, é um tremendo boa praça. Os desdobramentos olímpicos não podem encobrir toda a trajetória da geração igualmente dourada do país, como defendeu o “Fantasy-maníaco” Julio Gomes Filho no domingo. Mas, para muita gente, blogueiro incluso, o que se passou entre a primeira fase e os mata-matas de Londres-2012 compõe mais que uma notinha de rodapé.

“Nunca vou esquecer de que lugar eu vim, mas estou orgulhoso de vestir o uniforme da Espanha e representar este país”, Serge Ibaka, aquele que usa a camiseta de “Air Congo” em torneio de enterradas da NBA.
>> Vamos discutir mais a respeito durante a semana. Aguardem.

Brett Brown e Joe Ingles

Brett Brown faz campanha por Ingles

“Mesmo que eu tenha crescido nos Estados Unidos, sempre estive ao lado de nigerianos. Cresci numa comunidade nigeriana. Quando estou em casa, meus pais não falam comigo em inglês. Nós comemos comida nigeriana”, Ike Diogu, cestinha do time africano.
>> De novo, mais adiante. Mas não creio que Ibaka fale em espanhol com seus familiares congoleses.

“Agora sou parte da fábrica da sociedade do basquete. Essa boa gente me deu a maior honraria para técnicos na Rússia, e nenhum estrangeiro jamais ganhou uma ordem dessas. Isso diz tudo”, David Blatt, novamente.
>> Blatt construiu um time muito interessante na Rússia, explorando ao máximo as características e talentos de seus atletas. Como publicou o jornalista Adrian Wojnarowski, do Yahoo norte-americano, pode ser que chegue o dia em que ele ganhe sua chance na NBA.

“Acho que a NBA vai prestar atenção em Joe, especialmente depois destas Olimpíadas. Joe tem um corpo parecido com o de Tayshaum Prince. É longo, canhoto, multifacetado como um ala, evoluiu na defesa e agora tem orgulho em marcar as pessoas. Vocês viram seu espírito competitivo aqui. Ele só vai subir”, Brett Brown, técnico da Austrália e assistente do Spurs, sobre o ala Joe Ingles.
>> Ingles não chega a ser um Nemanja Bjelica, mas… Já tinha uma predisposição para gostar do ala, observando-o aqui e ali pela Liga ACB: seu estilo é muito vistoso, versátil, do tipo de cara que cai nas graças por cá. O nome ajuda também, obviamente. Mas parece claro que o futuro do australiano é jogar na NBA. Não estranharia, aliás, se fosse fazer companhia a Mills no próprio Spurs, por razões óbvias

PS: como os brasileiros não falaram após a derrota para a Argentina, não vamos peneirar nada a respeito deles. Não faria sentido ter um começo, um meio, mas sem fim nesta seção. A cobertura do Bruno Freitas em Londres e do UOL Esporte dá conta do recado.